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19 de março de 2018

Análise no Censo Agropecuário sob a perspectiva de Gênero

Nós, pesquisadoras(es), professoras(es), assessorias técnicas, militantes, agricultoras


familiares e camponesas, estudantes, representações das mulheres da agricultura
familiar, populações do campo, das águas e das florestas, cidadãos e cidadãs viemos
por meio deste solicitar a produção de dados e informações do CENSO
AGROPECUÁRIO 2017/2018 à luz do debate sobre igualdade de gênero no meio rural,
conforme exposição de motivos a seguir descrita.

Analisar a produção agropecuária sob a perspectiva de gênero segue sendo um desafio


apesar dos inúmeros avanços obtidos na última década. Orientações e diretrizes no
âmbito das pesquisas censitárias em nível mundial, em especial o Programa Censo
Agropecuário Mundial (CAM) da FAO indicavam a possibilidade de melhor mensuração
do trabalho das mulheres na agropecuária ao propor a substituição do conceito de
subparcela proposto pelas diretrizes anteriores.

Para compreender melhor a realidade diversa das mulheres na agropecuária, nos


diferentes países, o CAM 2020 fortaleceu a integração da perspectiva de gênero e se
propôs um enfoque operativo para investigar a tomada de decisões e a propriedade
das mulheres, coletando informações sobre a 2ª pessoa na propriedade. Esta inovação
permite conhecer o papel da mulher na direção e coparticipação da propriedade e nas
decisões de produção.

Diferentes iniciativas foram fortalecidas com um processo permanente de


acompanhamento dessa agenda por parte da FAO Região América Latina e Caribe (FAO
RCL) a exemplo das iniciativas construídas no marco da Reunião Especializada da
Agricultura Familiar (Reaf) no Mercosul durante 2009 a 2015, envolvendo os países da
região, incluindo o Brasil. As recomendações adotadas pelos países foram
parcialmente incorporadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na
elaboração do questionário do Censo Agropecuário, apesar das dificuldades
financeiras e orçamentárias vivenciadas no contexto nacional no período recente.

À véspera da divulgação dos resultados da pesquisa sobre o cenário da agropecuária


brasileira, reascende-se a esperança de podermos ter dados e informações sobre a
participação das mulheres neste importante setor econômico, especialmente em
relação à terra, gestão no estabelecimento, produção e trabalho. Espera-se que os
dados do novo Censo Agropecuário permitam entender em que medida as mulheres
são proprietárias dos estabelecimentos bem como em que condições exercem a
administração deste, associado a aspectos relevantes da dinâmica das relações de
gênero em sua interface com o acesso aos bens naturais e a produção.

Conhecer a maneira pela qual as decisões são tomadas nas unidades produtivas, bem
como quais práticas produtivas são adotadas a partir das distinções sobre o perfil
familiar e de contratação da força de trabalho nos estabelecimentos agropecuários
permite-nos compreender o lugar de trabalho desta mulher nos estabelecimentos.
Aspecto este que ganhou destaque numa ampla literatura acadêmica que aborda os
conhecimentos e práticas de sistemas produtivos a partir das relações de gênero.

Igualmente relevante é a análise sobre as formas de trabalho feminina no meio rural


seja pela possibilidade de quantifica-lo, seja pela qualificação dessas relações, já que a
coleta nos possibilita entender a diferenças quanto à monetarização e o tipo de
atividades desempenhados pelas mulheres no campo.

Ademais o Censo 2017/2018 apresenta como possibilidade inovadora a análise com


recorte cor/raça abrindo novos caminhos para a avaliação das condições das mulheres
em relação ao estabelecimento e a diversidade do meio rural brasileiro.

Essas e outras questões podem, finalmente, ser refletidas no marco desta nova
pesquisa do Censo Agropecuário 2017, retomando-se a possibilidade de uma pequena
(mas importante) série histórica a contar de 2006/07.

Por fim é importante destacar que a análise desses aspectos viabilizam a realização de
abordagens comparativas entre os países da América Latina e Caribe, a exemplo do
mencionado programa FAO RALC para o aprimoramento das análises sobre as
relações de gênero das estatísticas agropecuárias e seus desdobramentos, tais como o
pprosseguimento do Atlas sobre la situación de la mujer rural y la implementación de
las políticas nacionales públicas de género en América Latina y el Caribe y los
Objetivos de Desarrollo Sostenibles e demais análises que resultam das variáveis
conforme a corresponsabilidade pelo estabelecimento.

Assim, visando manter um nível de coerência e construir uma série histórica três
elementos devem ser considerados para a tabulação dos dados:

1. Tipologia do ESTABELECIMENTO em relação ao Sexo do Produtor(a) – Bloco 2


(CARACTERÍSTICAS DO ESTABELECIMENTO AGROPECUÁRIO E DO(A)
PRODUTOR(A)
2. Tabulações Especiais relacionadas à identificação dos estabelecimentos da
agricultura familiar sob o recorte da Lei 11.326/06.
3. Variáveis derivadas dos estabelecimentos a partir do sexo do Produtor e sua
relação com a Força de Trabalho Bloco 9 (PRODUTOR E PESSOAS COM LAÇOS
DE PARENTESCO COM O MESMO, TRABALHADORES PERMANENTES,
TEMPORÁRIOS E PARCEIROS QUE TRABALHAVAM NO ESTABELECIMENTO NA
DATA DE REFERÊNCIA)

Considerando tais elementos, entendemos que as tabulações devam permitir,


minimamente, a identificação das seguintes variáveis em relação ao sexo do Produtor
(2-4) e as seguintes questões:

 Condição do produtor/a (2-1) em relação à área do estabelecimento (1-18) às


terras, por sexo e cor ou raça do responsável pelo estabelecimento
 Condição do produtor/a (2-1) em relação aos itens: 5; 6; 7; 8; 9;
 Área do estabelecimento (1-18) às terras X Qual é a finalidade principal da
produção agropecuária do estabelecimento (1-14)
 O produtor possui DAP (Declaração de Aptidão ao PRONAF)?
 De que forma o (a) Produtor(a) obteve suas terras/ambiente de produção
(admite múltipla marcação) (4-13)
 BLOCO 5 - CARACTERÍSTICAS DO ESTABELECIMENTO AGROPECUÁRIO
 BLOCO 9 - PRODUTOR E PESSOAS COM LAÇOS DE PARENTESCO COM O
MESMO, TRABALHADORES PERMANENTES, TEMPORÁRIOS E PARCEIROS QUE
TRABALHAVAM NO ESTABELECIMENTO NA DATA DE REFERÊNCIA)
 Identificação dos Estabelecimentos cujo produtor é uma mulher; identificar a
tipologia da produção e a área

Enfim, para dar seguimento à análise do Censo 2006/2007 apresentamos a demanda


abaixo listada:

1) Estabelecimento por sexo do responsável em relação à


 Área total do estabelecimento (quadro 1 quesito 18) e área média
 Condição do produtor em relação às terras/ Composição da área total do
estabelecimento, segundo a condição legal das terras, na mesma unidade de
medida de superfície declarada (quadro 3)
 Educação (quadro 2 quesito 8)
 Orientação técnica e sua origem (Quadro 5, quesitos 3 e 4)
 Financiamento (quadro 38)
2) Pessoas ocupadas por sexo por grupos de atividade econômica
3) Estabelecimento por sexo do responsável relacionado às Tabulações Especiais
relacionadas à identificação dos estabelecimentos da agricultura familiar sob o
recorte da Lei 11.326/06: número de estabelecimentos e área média
4) Identificação dos Estabelecimentos cuja direção dos trabalhos é casal (codireção)
relacionada à condição legal (casal), em relação à finalidade principal da
produção, tamanho de área, produtor e pessoas com laços de parentesco e
trabalhadores (quadro 9) e tabulação agricultura familiar
Considerando quesitos introduzidos no atual Censo:

 Estabelecimento por sexo e cor ou raça do responsável em relação à área média


 Estabelecimento por sexo e cor ou raça do responsável em relação à finalidade da
produção
 Estabelecimento por sexo e cor ou raça do responsável possui DAP
 Identificação dos Estabelecimentos cuja direção dos trabalhos é casal (codireção)
relacionada à condição legal (casal), em relação à finalidade principal da
produção, tamanho de área, e tabulação agricultura familiar

Considerando análises transversais na América Latina e Caribe – FAO:

 Estabelecimento por sexo e cor/ou raça do responsável no estabelecimento em


relação a “se faz agricultura ou pecuária orgânica?” (Quadro 5 quesito 10)
 Estabelecimentos cuja direção dos trabalhos é casal (codireção) em relação a
faz agricultura ou pecuária orgânica.

Assinam este documento

1. Miriam Nobre – militante da Marcha Mundial de Mulheres


2. Karla Hora – professora Doutora na Universidade Federal de Goiás
3. Andrea Butto – professora Doutora na Universidade Federal Rural de Pernambuco
4. Laetícia Jalil – professora Doutora na Universidade Federal Rural de Pernambuco
5. Aldenizia Maia de Oliveira - Esplar
6. Aldenizia Maia de Oliveira - Esplar
7. Alexsandra Bezerra da Silva - Coordenador do Colegiado Territorial da Mata Sul de
Pernambuco
8. Ana Cristina Souza de lima - Esplar
9. Ana Maria Dubeux Gervais - UFRPE
10. Analine Almeida Specht – mestranda na Universidade de Brasília
11. Antonia Simone Ferreira - ONG Caatinga - CPF 08262131460
12. Cleia Anice da Mota Porto, presidenta da ABRA e mestranda na Universidade de
Brasília
13. Dayse Batista dos Santos - professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Piau
14. Emely Christine Sulino de Melo – estudante pós graduação - Universidade Federal
de Pernanbuco
15. Fádia dos Reis Rebouças - Geografia/Unb - Grupo Cnpq Desenvolvimento,
Sociedade e Natureza (DSN) - Ministério do Meio Ambiente
16. Gema Galgani Silveira Leite Esmeraldo – professora doutora na Universidade
Federal do Ceará
17. Heloisa Helena Fonseca do Nascimento – Campus Rural de Marabá-IFPA
18. Isabel Cristina Pereira de Oliveira – UFRPE
19. Janaína Henrique dos Santos - Associação de Apoio as Comunidades do Campo do
RN
20. Janaína Henrique dos Santos - Associação de Apoio as Comunidades do Campo do
RN
21. Júlia Aires, consultora IICA / SDR-PI.
22. Linalva Cunha Cardoso Silva - Comissão Pastoral da Terra
23. Maitê Edite Sousa Maronhas - Recife - PE
24. Maria Helena Câmara Lira - UFRPE
25. Maria Virgínia de Almeida Aguiar, Núcleo de Agroecologia e Campesinato, UFRPE
26. Mauricélia de Sousa Silva (Celinha) - Rede Feminismo e Agroecologia do Nordeste
e Professora da Rede Municipal de Ensino. Só município de Triunfo PE
27. Mônica Cox de Britto Pereira - Doutora Professora Associada da Universidade
Federal de Pernambuco
28. Paula Vanessa Mesquita Queiroz – UFPE
29. Raimunda de Oliveira Silva - educadora popular e coordenadora pedagógica da
escola Escola nacional de formação da Contag
30. Renata Lúcia Souto - GT Mulheres da Articulação de agroecologia do Rio de
Janeiro
31. Sarah Luiza de Souza Moreira - MMM/GT Mulheres da ANA/Mestranda UnB
32. Silvana Maria de Lemos - Instituto agronômico de Pernambuco -
Silvanalemos@icloud.com
33. Tarcísio Augusto Alves da Silva. Universidade Federal Rural de Pernambuco.
34. Vanessa Schottz Rodrigues - Universidade Federal do Rio de Janeiro -
35. Viviane de Oliveira Barbosa - Profa. da Universidade Estadual do Maranhão e
Universidade Federal do Maranhão. Coorda. do Núcleo de Estudos, Pesquisa e
Extensão sobre África e o Sul Global (UEMA/UFMA)

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