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A ANTROPOLOGIA GREGA, HEBRAICA E CRISTÃ

A antropologia dualista platônica


A origem da visão dicotômica do ser humano remonta aos albores da
humanidade. Numa perspectiva teológica, encontra-se já presente na Índia e na Pérsia
antigas, anteriores ao desabrochar da filosofia grega. No âmbito helênico1 ela é
desenvolvida especialmente entre os pitagóricos2. Mas é com Platão que esta visão
recebe uma vigorosa formulação teórica, no campo propriamente metafísico. O
pensamento platônico teve um influxo decisivo na formação e no desenvolvimento da
filosofia, da cultura, da civilização e do ser mesmo do Ocidente europeu. No Brasil no
inicio do século XXI, continuamos precisando nos referir a Platão quando tentamos
falar significativamente sobre o homem, mesmo que se trate do homem visto à luz da fé
bíblico-cristã. A visão platônica influenciou e influencia muito ainda nos dias atuais. A
antropologia elaborada por Platão faz distinção entre idéia e coisas. As coisas pertencem
ao mundo sensível, caracterizado como mutável, temporal, caduco, descambando
facilmente para o ilusório. Já as idéias pertencem a um outro mundo, o da realidade
divina, eterna e imutável. A verdadeira realidade encontra-se unicamente além das
aparências sensíveis, no mundo das idéias. As coisas do mundo material não passam de
cópias muito imperfeitas deste mundo real. Certamente existe uma relação entre as
coisas e as idéias: estas são os arquétipos imitados por aquelas.
Os dois mundos estão presentes no homem: na alma (mundo das idéias) e no corpo
(mundo das coisas). O corpo, como coisas que é, participa imperfeitamente de uma
ideia, enquanto que a alma pertence ao mundo eterno e divino das idéias. É mediante a
alma que o homem participa, de maneira superior e mais profunda, do mundo das
ideias. Mediante a alma humana, o homem teria contemplado as idéias, numa existência
anterior. A alma incorruptível e imortal, preexistente ao corpo, perde uma vez
encarnada, o contato direto com o mundo das idéias, mas no encontro perceptivo com as

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Helenico esta relacionado à cultura grega. O helenismo é a difusão da cultura grega. Este foi o grande sonho de Alexandre III, o
Grande. Hellenizein do grego quer dizer falar grego.

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Pitágoras (580 a 500 AC). Oriundo da ilha de Samos fundou em Crotona, na Grécia, uma escola que teve grande influência não só
por suas doutrinas filosóficas como também pela sua ética pura e austera e por suas tendências políticas. A ideologia pitagórica
constitui um progresso indubitável em relação à ideologia jônica. Os pitagóricos não investigam de que são formadas as coisas, mas
sim o que são as coisas, e sua resposta é que as coisas são números. Aristóteles nos dá a razão dessa estranha afirmação: “Os
chamados pitagóricos se dedicaram às matemáticas e fizeram progressos nesta ciência, mas embebidos em seu estudo, acreditaram
que os elementos das matemáticas (os números) eram também os princípios de todos os seres”. Apoiados em seu princípio os
pitagóricos desenvolvem uma espécie de análise do número, cujos resultados aplicam na realidade. Os elementos do número são o
par e o ímpar. O número par, como divisível mais e mais, representa o infinito. O ímpar, por não ser divisível, representa o finito. A
unidade participa de ambos os elementos por ser, a sua vez, par e impar.

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coisas, imitações e participações das idéias, ela vai lembrando (reminiscência:
“anamnese”) o conhecimento anterior das coisas.
Alma e corpo devem ser tratados separadamente, pois pertencem a dois mundos
diversos, mas no homem concreto é necessário relacioná-los. Como? No “Fedon”, obra
do período médio de Platão a relação é apresentada de maneira fortemente negativa: a
alma se encontra prisioneira do corpo e dos sentidos: o corpo é limitador da alma; o
sábio (o filósofo verdadeiro) deseja a morte para se libertar do corpo. Na obra “Timeu”
e, sobretudo na obra “Leis”, obra esta inacabada, a relação alma-corpo é vista de
maneira bastante positiva: a alma é comparada ao marinheiro e o corpo ao navio. A
alma é apresentada como mediação entre o mundo sensível e mundo das idéias.
A doutrina dos dois mundos, com sua concretização antropológica na alma e no corpo,
comporta obviamente dois tipos bem diversos de conhecimento: a opinião (doxa) e a
ciência (episteme). Os cidadãos comuns são escravos das opiniões, os verdadeiros
filósofos são conduzidos pela ciência, razão pela qual afirmava Platão: o bem real dos
cidadãos da polis só poderá ser atingido na medida em que os homens abertos ao mundo
das idéias (os filósofos) detenham de fato o poder para decidir sobre os destinos da
pátria. Só o verdadeiro filósofo, conhecedor do mundo das idéias, da verdadeira
realidade, tem condições para enfrentar com radicalidade os problemas políticos,
desmascarando e superando as falácias próprias da opinião e do mundo sensível em
geral. Deixar-se conduzir pelas opiniões é condenar-se à escravidão. A humanização do
homem se torna possível quando a reta razão e o bem governam a sua existência,
ordenando (embora de maneira limitada) o mundo caótico e confuso próprio das
percepções sensíveis. Vejamos o esquema para entender a contraposição platônica:

IDEIAS MUNDO INVISIVEL IMUTAVEL ETERNO DISTINTO E TRANPARENTE

Coisas mundo sensível transitório temporal confuso e opaco

ORDENADO VERDADEIRO SER CIÊNCIA ALMA

caótico ser participado opinião corpo

Convém notar que no esquema proposto a acentuação do valor da alma leva a diminuir
ou negar a importância do corpo. É uma estrutura que tem penetrado fundo na
consciência cristã, no decurso dos séculos e que funciona frequentemente, revelando-se

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um obstáculo para a concretização das opções da Igreja atual pela salvação-libertação
integral do homem.

Dualismo cartesiano
O dualismo platônico e neoplatônico3 não foi o único a influenciar na vida e na reflexão
eclesiais. Descartes desenvolverá uma visão de ser humano rigorosamente dualista. O
corpo é simplesmente matéria espacial, substância extensa (ser-extensa), mera extensão
mensurável matemáticamente, enquanto que a alma ou espírito ou consciência é uma
substância pensante (res-cogitans). Na realidade o corpo não passa de uma máquina que
pode funcionar independentemente da alma. Esta não interfere na vida biológica do ser
humano, pois sua finalidade única é precisamente pensar.
As conseqüências desta antropologia são bem conhecidas: o sujeito (a consciência
humana) esta cortado da própria corporeidade e vice-versa. Ora, se o sujeito entra em
contato com outros sujeitos mediante o corpo, uma vez separado deste, fica igualmente
isolado dos outros sujeitos. Esta, assim, aberta a porta para o individualismo moderno
com suas seqüelas de dominação e opressão dos outros. A realidade ficará destarte
perigosamente cindida em pura subjetividade e pura objetividade. Divórcio nefasto que
ainda hoje perturba seriamente o diálogo entre ciências da natureza e ciências do
espírito; entre razão e fé e assim por diante. Divórcio funesto que conduzirá a
instrumentalização e manipulação destruidora do mundo da natureza. Divisão
dicotômica da realidade mais radical ainda que o dualismo platônico e neoplatônico, e
que reforçará a penetração deste na vida e na reflexão teológica eclesiais.

Dualismo moderado na vida e na teologia eclesiais


A Igreja nunca aceitou um tipo de dualismo que levasse a considerar a matéria e o corpo
como intrinsecamente maus. A fé no único Deus criador (Deus bom) bem como a fé na
encarnação real do Filho de Deus evitou sempre uma contaminação radical por parte do
dualismo. O magistério da igreja procurou defender a unidade fundamental do ser
humano, contra as separações e divisões dualistas antigas e modernas. Mas não pôde
impedir a sua infiltração na teologia, na espiritualidade e no conjunto da vida cristã,

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O Neoplatonismo foi uma corrente de pensamento iniciada no século III que se baseava nos ensinamentos de Platão e dos
platônicos, mas interpretando-os de formas bastante diversificadas. Apesar de muitos neoplatônicos não admitirem, o neoplatonismo
era muito diferente da doutrina platônica. O prefixo neo, inclusive, só foi adicionado pelos estudiosos modernos para distinguir entre
os dois, mas na época eles se autodenominavam platônicos. O neoplatonismo foi frequentemente usado como um fundamento
filosófico do paganismo clássico, e como um meio de defender o paganismo do cristianismo. Mas muitos cristãos também foram
influenciados pelo neoplatonismo, entre eles Santo Agostinho.
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embora na forma de um dualismo moderado. A penetração deste dualismo moderado
pode ser gráficamente representada da seguinte maneira:

ALMA ORAÇÃO TEORIA FÉ CRISTÃ IGREJA VIDA NO CÉU

Corpo ação práxis opções mundo vida terrestre


sociopoliticas
Frequentemente, tivemos a oportunidade de constatar, no trabalho pastoral, como
cristãos que são guiados por esta relação e que privilegiam a alma em detrimento do
corpo, têm dificuldade para aceitar que Jesus Cristo seja realmente homem “em tudo
como nós, exceto no pecado” (Hb 4,15). Observa-se este dualismo na teologia, na
catequese e na pregação cristãs, na visão de mundo, na política e nas realidades
socioeconômicas, na arte e na liturgia. Na realidade, não existe aspecto algum da
experiência e da reflexão cristãs que não tenha sido afetado, em graus diversos, por esta
visão.
Na GS (Gaudium et Spes) do Vaticano II, decerto, a visão de homem é decididamente
unitária, sendo criticada diretamente a atitude que despreza a vida corporal (GS n. 22).
A teologia judaico-cristã da criação elimina todo tipo de dualismo metafísico e supõe
uma visão de homem em que a unidade básica, embora reconhecendo a realidade das
suas diversas dimensões, e decididamente sublinhada. Na ótica judaico-cristã predomina
a relação integração inclusão, vejamos:

ALMA CORPO ORAÇÃO AÇÃO

A Antropologia teológica hoje


Não há dúvida – e o dia-a-dia o comprova – a humanidade continua sua busca do
sentido da vida e da história, do sentido da existência do cosmos e de tudo o que nele
existe, especialmente do próprio ser humano na complexidade da história do cosmos.
Multiplicam-se sem cessar artigos, livros, filmes, canções, obras de arte, que alimentam
o debate levando-se em conta a existência de Deus nesta trama misteriosa do mundo e
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da vida humana ou negando-a, ridicularizando-a e considerando toda e qualquer religião
como uma invenção prejudicial ao ser humano.
A Igreja cristã, porém, continua firme em sua fé e em sua missão, afirmando que o
mistério do ser humano só encontra sua verdadeira explicação e compreensão no
mistério do Verbo encarnado, isto é, no Filho de Deus que assumiu a condição humana
na história com o nome de Jesus de Nazaré (cf. GS 22). Para a Igreja o referencial
“Adama” (homem e mulher), portanto, é o ser humano 4 criado à imagem e semelhança
do próprio Deus (mistério da criação). Este ser humano, no uso de sua liberdade, assim
o ensina a Igreja, rompeu com o seu Criador (pecado original), Deus, porém, não
somente não o abandonou, mas deixou plasmado na natureza própria do ser humano a
necessidade de Deus e o impulso natural para buscá-lo. E ele concedeu à liberdade
humana a graça do chamado incessante para restabelecer a união homem-Deus, Deus-
homem. Depois de manifestar-se de muitos modos ao longo da história, quando chegou
à plenitude do tempo, na linguagem bíblica, Deus deu-lhe a maior prova de amor, o seu
próprio Filho divino em forma humana (cf. Hb 1, 1; 1Jo 4, 9-10), que viveu entre nós
com plenitude humana, como o ser humano perfeito, por ser ao mesmo tempo
“verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem”.
Portanto, assim crê a Igreja, é pelo Cristo que o ser humano é “justificado”
(recupera a justiça perdida pelo pecado). E é a partir dele, nele, com ele e por ele, que o
ser humano vive da graça do Pai, do Filho e do Espírito Santo: filiação (ao Pai),
fraternidade-amizade (do, no e pelo Filho), inabitação (no Espírito Santo). É em direção
a Cristo, o referencial humano-divino que, na liberdade, o ser humano procura alcançar
progressivamente e com o impulso da graça que ele nos alcançou, “o estado adulto, a
estatura de Cristo em sua plenitude” (Ef. 4,13). É este o cerne da Antropologia teológica
cristã.
É a partir do olhar antropológico-teológico que detectamos o que a Revelação diz
sobre o ser humano no contexto da obra da criação: uma criatura feita no tempo e que
não teve existência espiritual antes da corpórea para usufruir da felicidade neste mundo
e da glória de Deus na vida eterna feliz. Os textos bíblicos não pretendem apresentar
dados científicos, mas mostrar o propósito de Deus, no relacionamento dele com os
homens e, mais ainda, a sua experiência no mundo como ser humano em Jesus Cristo e,

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“Adam” (originado do húmus, do barro) denominação usada em Gênesis é um termo ambíguo já que pode ser traduzido para se
referir a um indivíduo como para o gênero humano, o ser humano. O mais comum, tanto no uso hebraico como cristão, foi aplicá-
lo a um indivíduo que passou a ser denominado de “Adão”. Isso ocasionou, portanto, a limitação de a “imagem e semelhança de
Deus” ao homem, fundamentando, em grande parte, o machismo judeu e cristão. Aconteceu que não se prestou suficientemente
atenção ao fato de que na tradução dos 70 para o grego a distinção é realizada corretamente. A tradução de Adam é Anthropos,
portanto, gênero humano e não um indivíduo. Ora, a partir dessa compreensão, fica claro que a mulher, integrante do gênero
humano, é antropos, portanto, imagem e semelhança de Deus igual ao homem.
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consequentemente, a identidade profunda e única do especificamente humano assim
enriquecido com a comunhão com Deus e que abre o ser humano definitivamente e de
modo privilegiado para a comunhão consigo mesmo, com os outros, com a natureza.
Este mesmo olhar de comunhão, assim plena, considera o homem como “imagem
e semelhança de Deus” e tem a Jesus como a imagem verdadeira do Pai, e nós, como
seu reflexo. E o ser humano como “imagem de Deus” (imago Dei), carrega em si
mesmo as marcas do Criador, do Filho Redentor e do Espírito Santificador,
principalmente em sua capacidade de conhecer e amar o Pai, por meio do Filho, no
amor do Espírito Santo e como co-criador e cooperador em seu Plano de Amor sobre o
mundo e a humanidade.

A estrutura básica do ser humano seegundo a fé


Um dos diferenciais da antropologia teológica judaico-cristã, em relação às outras
antropologias, é constituído por seu modo de entender e explicar o ser humano como
um organismo psicofísico resultado da estreitíssima união entre corpo, alma e espírito,
em constante tensão , aperfeiçoamento, complementaridade e busca de transcedência.
São Paulo, formado para ser rabino, em sua carta aos Tessalonicenses fala do ser
humano como corpo-alma-espírito: “Que o espírito, a alma e corpo de vocês sejam
conservados de modo irrepreensível para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 5,
23). É evidente que para ele a Antropologia não existia como discurso reflexivo e nem
no decorrer do longo tempo da elaboração e finalização dos textos que hoje constituem
a Sagrada Escritura dos judeus e a dos cristãos. Só posteriormente e muito lentamente,
com a influência da cultura grega, é que se chegou ao seu início e no ocidente ao seu
desenvolvimento.
Expliquemos um pouco, mas com os termos em hebraico, grego, latim e
português, esta visão trinitária da pessoa humana, segundo a visão hebraica e que Paulo
utiliza na carta aos Tessalonicenses:
a) Corpo (bâsar, sarx, caro = corpo de carne) é a nossa realidade fisica,
biológica);
b) Alma (nephesh, psychè, anima = dimensão psíquica, afetiva, intelectiva,
colitiva, relacional) é a dimensão vital similar a de todos os demais seres vivos, mas que
possui em si, a diferença da dimensão da auto-consciência, do afeto-relacionamento, da
liberdade, da vontade, do senso ético, da busca do bem, do belo, da verdade e da
felicidade;

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c) Espírito (ruach, pneuma, spiritus = dimensão transcentente espiritual), é a
dimensão exclusiva do ser humano, fruto da criação direta de Deus (sopro-ruach, ser
vivente em Deus e para Deus5), que assegura a possibilidade de comunicação e
comunhão dom Deus.
Esta reflexão é importante porque houve, na história do cristianismo, confusão
entre os intérpretes e estudiosos, alguns afirmando que Paulo tinha uma visão
tricotômica do ser humano, isto é, um composto de três partes separáveis, enquanto
outros defendiam a concepção dualista de corpo e alma. Na concepção hebraica as três
realidades se apresentam como dimensões autônomas, porém, formando uma unidade,
um todo. O refinamento da reflexão concluiu que a alma e o espírito são imortais, ao
passo que o corpo é corruptível, mas destinado à ressurreição, mesmo que de forma
espiritualizada, segundo a convicção cristã.
E como surgiu a visão do dualismo corpo e alma? Na reflexão tradicional e oficial
da Igreja cristã, o predomínio da cultura greco latina na teologia fez acontecer uma
fusão entre “alma e espírito”, por mais que muitas vezes apareçam distintas. Com isso,
quando, portanto, em teologia se fala em “alma”, entende-se por (ruach, pneuma,
spiritus-espírito). É, porém, preciso deixar sempre esclarecido, que no dualismo cristão
do ser humano como corpo e alma, obviamente está subentendida a visão trinitária, pois
se faz uma clara distinção entre nephesh-psychè-anima (alma) e ruach-pneuma-spíritus,
isto é, o sopro de Deus (espírito), que, porém, só é aceitável em nivel de fé revelada. É
exatamente aqui que se destaca ainda mais a unidade na dualidade entre corpo, alma
(incluindo o espírito), ao contrário da concepção maniqueísta que ensina a docotomia
estranguladora do ser humano, ao colocar, como na filosofia de Platão, o corpo como
uma prisão da alma, e que, portanto, o espírito (ruach-pneuma-spiritus) está, também
ele, encarcerado no corpo humano e dele precisa se libertar e, mais ainda, diz o
maniqueísmo, porque o corpo é obra do deus demônio, e por isso, deve ser desprezado e
massacrado, sobretudo, em sua realidade sexual.
O discurso filosófico e teológico sobre a estrutura antropológica cristã tradicional
do ser humano se plasmou nos escritos de são Tomás de Aquino. Ele, a partir do
dualismo clássico, não se fecha na cultura grega e diz que a alma (no sentido de
nephesh-psychè-ánima e, também, de ruach-pneuma-spiritus) é a “forma” do corpo,
podendo subsistir sem a matéria corporal, pois mantém sua operação intelectiva

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Adama-adão (originário do húmus ou barro), em hebraico, é um termo ambíguo, pois serve para denominar o ser humano como
espécie, isto é, o gênero humano, como para designar um determinado indivíduo. É preciso muito conhecimento para poder
distinguir no texto bíblico uma coisa de outra.

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apreendida mediante a operação sensorial, portanto do corpo vivo. Para ele, porém, o
ser humano é um todo unificado, prejudicado, porém, em sua harmonia pelo pecado.
Os documentos do Magistério da Igreja afirmam que a alma é espiritual e dotado
de imortalidade. Ora, se a alma é espiritual, não pode ser corrompida, pois sendo
espírito, dotado de existência própria, autônoma e independente da matéria, não se
extingue com a corrupção do corpo. Aqui, mas sem a explicitação que deveria existir,
está se falando da ruach, portanto, do espírito humano no sentido espiritual, mas que só
é aceitável, como já aludimos acima, para quem tem o dom da fé revelada. E este é um
dos importantes diferenciais da fé cristã, qaunto à antropologia, em relação a todas as
demais religiões e filosofias.

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