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DESAFIOS PARA AFIRMAR A LUSOFONIA NA GEOGRAFIA FÍSICA E AMBIENTE

Análise multitemporal da degradação ambiental da Lagoa da Pindoba –


Feira de Santana, Bahia, Brasil
Tayana Borges Moraes (a), Rosângela Leal Santos (b), Lia Carelli (b), E. P. Santos (a)
(a)
Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS/Departamento de Tecnologia:
tayanabmoraes@gmail.com; erlitec.agri@hotmail.com
(b)
Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS/PPGM; rosangela.leal.uefs ; carelli27@gmail.com

Resumo
Com o crescimento da população e consequente expansão urbana, o sistema lacustre da cidade de
Feira de Santana foi comprometido, muitas lagoas perderam a potabilidade, enquanto outras
foram aterradas e ocupadas indiscriminadamente pela população de baixa renda. Esse trabalho
busca acompanhar a evolução da degradação da Lagoa da Pindoba, de caráter perene, cujo nível
de antropização vem aumentando desde a década de 70, com a crescente urbanização e a
migração das populações rurais para os centros urbanos. Buscou-se, através da análise
multitemporal de fotografias aéreas de 1972, 1986, 1992, 2000 e 2013, acompanhar a delimitação
do espelho de água, afetado pela ocupação do seu entorno, e sua repercussão no limite da área de
proteção permanente do entorno da lagoa, determinado pela legislação brasileira nos últimos 45
anos.

Palavras chave: Lagoas; Semiárido; Feira de Santana; Análise Multitemporal; Degradação


ambiental.

1. Introdução

A gestão do espaço físico dos vários usos da água se dá a partir da bacia hidrográfica. Ao se estudar
uma bacia hidrográfica é possível compreender os impactos das atividades humanas sobre a
quantidade e qualidade da água, como resultado das mudanças ambientais que incidem sobre os
fenômenos e atividades naturais (ADÔRNO, 2012).

Em Feira de Santana (Bahia-Brasil), aliado ao fato da área urbana situar-se no divisor de água de 3
bacias hidrográficas de grande importância regional (Jacuípe, Subaé e Pojuca) onde também se
situam as nascentes de duas delas (Subaé e Pojuca), temos o desenvolvimento de um sistema lacustre,
que foi incorporado pelo crescimento da cidade e vem sofrendo profundos impactos decorrentes da
ocupação irregular do seu entorno (LOBÃO e MACHADO, 2005). Estas lagoas foram transformadas
em "áreas sujeitas a regras específicas (ASRE) na subcategoria de Áreas de Proteção de Recursos
Naturais (APRN)", através do Código Municipal de Meio Ambiente, pela Lei complementar nº
1.612/92, em consonância com a Lei Orgânica municipal (Lei nº 37/90) (FEIRENSES, 2016). E de
acordo com os parâmetros estabelecidos na Resolução 357/2012, do Conselho Nacional de Meio
Ambiente (CONAMA) essas lagoas deveriam ser classificadas como água doce de Classe 2.

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Nessa perspectiva, o presente trabalho busca identificar e analisar os impactos ambientais que vêm
ocorrendo no sistema lacustre da cidade de Feira de Santana ao longo de quarenta e cinco anos, em
específico na extensão do seu espelho d’agua, assim como suas repercussões na legislação ambiental.

2. Localização e características gerais do município

A cidade de Feira de Santana (Figua 1A) está localizada na região intermediária entre a zona da mata
(úmida) e o semiárido (sertão), caracterizando-se como uma área climática de transição, com
temperatura média anual de 24ºC, recebendo precipitações no período de março a agosto e nos meses
de setembro a dezembro, com média pluviométrica anual de 837,3mm (Figura 1B).

Figura 1 – Localização da área de estudo e gráfico termo pluviométrico de Feira de Santana: (a) localização da
Lagoa da Pindoba em Feira de Santana (Bahia, Brasil); (b) gráfico termo pluviométrico de Feira de Santana
(Bahia/Brasil) - 1993-2017. Fonte: (a) BAHIA, 2003; (b) https://pt.climate-data.org/location/4472/

Com altitude média de 230m, é uma área pouco acidentada, caracterizando-se como uma região de
tabuleiros pouco dissecados, onde formações tercio-quaternárias areno-argilosas (Formação Capim
Grosso), depositaram-se semi-horizontalmente sobre o embasamento grandemente fraturado, o que
possibilitou, entre outras coisas, a instalação de uma drenagem pouco significativa, pela grande
capacidade de infiltração dos sedimentos (Figura 2) (DUARTE et al, 2006).

Considerando a pluviometria média de 837,3mm/ano, sobre a área do tabuleiro, com cobertura


sedimentar (aproximadamente 414 km² da área urbana) isso corresponderia a uma quantidade de água
de 330,4 x 106 m3/ano. Considerando o balanço hídrico, cerca de 63% dessa água é consumida pela

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evapotranspiração, 32% irá escoar e 5% irá se infiltrar, o que representaria, em termos absolutos um
valor de infiltração de 16,5 x 106 m3/ano, a qual alimentaria o lençol freático (ANJOS e BASTOS,
1968; DUARTE et al, 2006).

A implantação do sistema lacustre decorreu da desorganização de uma pretérita rede de drenagem que
foi desorganizada quando da remobilização da falha de Salvador em processos neotectônicos
(ALMEIDA, 1992; SANTOS, 1993).

(a) (b)

(c) (d)
Figura 2 – Esboço da rede de drenagem de Feira de Santana: (a) Rede de drenagem do município de Feira de
Santana. Em amarelo a área urbana; (b) Detalhe da área urbana (amarelo) com sobreposição da rede drenagem.
Observa-se a existência do sistema lacustre, integrado ao sistema fluvial; (c) Imagem altimétrica do sensor
PALSAR, apresentando a integração do sistema lacustre ao sistema fluvial através de canais de escoamento
superficial. Em destaque as lagoas de São Jose (acima), da Lagoa da Pindoba (ao centro) e da Lagoa da Tabua
(canto inferior esquerdo); (d) Sistema fluvial-lacustre com sobreposição do traçado urbano.

Escolheu-se como área de estudo o sistema formado pela Lagoa de São José, Lagoa da Pindoba e Lagoa da

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Tabua, sendo que, nesse trabalho, iremos nos concentrar apenas na lagoa mais afetada que é a da Lagoa da
Pindoba (TEIXEIRA, 2010). Esse sistema fluvio-lacustre situa-se na zona mais ao norte da cobertura
sedimentar e limítrofe da área urbana. O escoamento nessa área se faz praticamente na direção NW-SE,
com gradiente hidráulico médio de 0.5%. A oeste da lagoa da Tabua há uma inversão do escoamento para
SW, provavelmente em virtude da estrutura geológica, sendo este um fenômeno local. As lagoas
funcionam como o principal exutório das águas subterrâneas, drenando durante quase todo ano (exceto o
período das chuvas) as águas do aquífero livre.

3. Método e materiais

O problema ambiental se difunde na interrelação sere humano x natureza, mas também engloba um
quadro maior das próprias relações dos homens entre si. Assim, consideramos que os problemas
ambientais perpassam por uma análise integrada dos dados ambientais, sociais e econômicos da
comunidade que habita determinado locus. Adotou-se como técnica de estudo a análise multitemporal
de fotografia aéreas correspondente aos períodos de 1972, 1985, 1992, 1999 e 2013.

As fotografias aéreas de 1972, 1985 e 1992 foram digitalizadas em scanner de alta resolução em
formato *.TIFF. As fotografias de 1999 já estavam no formato digital e foram fornecidas pela
Prefeitura Municipal de Feira de Santana. A fotografia aérea de 2013, também em formato digital, foi
fornecida pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER). O
processamento foi realizado no aplicativo de domínio público SPRING (versão 4.3.3 e 5.4.3),
desenvolvidos pelo Instituto Nacional de Pesqusias Espaciais (INPE). As imagens altimétricas são
provenientes do sensor PALSAR do satélite ALOS e foi utilizada para gerar os produtos altimétricos.

4. Resultados

A lagoa da Pindoba sempre foi um importante objeto de estudo dos recursos hídricos, principalmente
porque a mesma situa-se na área do entorno da Universidade Estadual de Feira de Santana, sendo
estudada em função da sua biodiversidade e sua complexidade ambiental, abordando estudos
interdisciplinares das áreas da Geografia, Biologia, Botânica, dentre outros (DUARTE et al, 2001,
LOBÃO e MACHADO, 2005; OLIVEIRA et al, 2007; TEIXEIRA, 2010). Sua proximidade com o
bairro do Novo Horizonte, um bairro eminentemente de baixa renda e periférico, tanto social como
econômico e politicamente, com problemas de saneamento e relegado pela gestão municipal, o qual
cresceu em suas margens, com uma população que inicilamete utilizava a lagoa como meio de
subsistência, seja com instalação de olarias, seja pela pesca, acabou por comprometer esse corpo

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lacustre. Por outro lado, sua distância do centro urbano, fez com que essa ocupação ocorresse
deforma mais lenta e gradual, além do fato de que uma grande extensão do seu lado sul constituir área
limítrofe do campus universitário (Figura 3).

Verifica-se na Figura 3 a variação do espelho d’água no decorrer dos anos, o qual vem reduzindo
gradativamente, principalmente pelas ações de aterro e ocupação humana no seu entorno. Sendo os
corpos hídricos determinados como Áreas de Proteção Permanente (APP) pelo Código do Meio
Ambiente (Lei Complementar Nº 1.612/92) este estabeleceu áreas mínimas de proteção e
preservação, no entorno destes corpos hídricos, fluviais ou lacustres, com natureza perene ou
intermitente. Essa lei determina essa área como de 30 m para lagos e lagoas, 50m para olhos d’água e
nascentes e prioriza algumas lagoas da área urbana o município de Feira de Santana como áreas de
Proteção Permanente num limite de 100m a partir do maior espelho d’água na horizontal.

Figura 3 - Variação do espelho de água da Lagoa da Pindoba em diferentes períodos de tempo (1972, 1985,
1992, 2000 e 2013) e sua interferência na determinação da Área de Proteção Permanente da lagoa.

Cabe salientar que, em Feira de Santana as Lagoas da Pindoba, da Tabua e Salgada, tem estabelecido
uma área de proteção de 50m, a partir do seu espelho d’água. Na figura 3 vemos a variação da
extensão da área de proteção, em relação ao espelho de água. Na figura 2 (d), já é possível observar o
quanto a expansão urbana se apossou da APP. Considerando o regime fluvial da região semiárida,
com uma grande variação sazonal,a legislação não é suficiente para determinar qual o real traçado da
APP, desde que não existe especificado qual o real limite do espelho d’água. Isso implica em
discussões dissonantes entre forças jurídicas, políticas e econômicas com interesses diversos na

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ocupação da APP, criando uma área de tensão social e ambiental quanto à delimitação da APP, e seu
real significado, inclusive para a própria população que ocupa seu entorno.

5. Considerações finais

A expansão urbana é um fenômeno de longa data que ameaça a qualidade e a quantidade de bacias
hidrográficas. Com a remoção da vegetação, a exposição do solo e sua consequente
impermeabilização, ocorre, com o tempo e nível de ocupação, o comprometimento do aqüífero pela
formação de áreas impermeáveis. O monitoramento para conservação das APP’s deve ser constante.
Cabem às instâncias públicas a responsabilidade de manter, proteger e, acima de tudo, educar a
população do entorno dessas áreas, buscando a proteção dos aqüíferos e seus manancias, onde a
precipitação é menos eficazmente absorvida e devolvida à aquíferos de águas subterrâneas. Torna-se
determinante compreender a interação entre a evolução de urbana e os sistemas hidrológicos, para
antecipar o futuro com base nas alterações de entendimento em adaptações urbanas e pressões
selectivas. Dessa forma, se poderá, num futuro, vislumbrarmos alterações hoje necessárias, resolução
CONAMA em vigor.

6. Bibliografia
Adôrno, E. V. (2012) Avaliação da Influência de Aspectos Socioambientais do Alto da Bacia do Rio Subaé
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