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Número especial com os discursos

da 153.a Conferência Geral


Semi-anual de outubro de 1983
jM WmW M AIGREJA d e
Jw mSmJm'W Ê áÈ W M JESUS CRISTO
JANEIRO DE 1984 SANTOS
PBMA0416PO DOSÚLTIMOS
São Paulo - Brasil DIAS

A Primeira Presidência
Spencer W. Kimball
índice por Assunto
Marlon G. Romney
Gordon B. Hinckley
O ra d o re s d e s ta O s a s s u n to s a s e g u ir fo ra m
Conselho dos Doze:
Ezra Taft Benson c o n fe r ê n c ia e m a b o rd a d o s n o s d is c u rs o s q u e
Mark E. Petersen o rd e m a lfa b é tic a : c o n s ta m d a p á g in a in d ic a d a :
Howard W Hunter
Thomas S. Monson Asay, Carlos E. 23 Amor 6
Boyd K. Packer Ashton, Marvin J. 100
Marvin J. Ashton
Anjos 50
Bruce R. McConkie Benson, Ezra Taft 8, 73 Arrependimento 73
L. Tom Perry Bradford, William R. 112 Ativação 69
David B. Haight Cannon, Elaine 141 Casamento 129
James E. Faust
Neal A. Maxwell Didier, Charles 40 Compromisso 100
Dunn, James M. 59 Escrituras 13,120
Comitê de Supervisão:
M. Russel Ballard Dunn, Paul H. 44 Expiação 112
Loren C. Dunn Faust, James E. 13 Fé 8,82
Rex D. Pinegar Humildade 31
Charles Didier
Featherstone, Vaughn J. 63
George P. Lee Goaslind, Jack H. 55 Joseph Smith 87
Haight, David B. 69 Jesus Cristo 8, 40
“ Executivo do
“ International M agazine” : Hales, Robert D. 108 Juventude 63
M. Russel Ballard, Hanks, Marion D, 36 Livre Arbítrio 36,141
Editor; Hinckley, Gordon B. 6, 77, 82, Mulheres 129, 135
Larry A. Hiller,
125, 129 Obra Missionária 55, 59
Editor Gerente:
David Mitchell, Hunter, Howard W. 105 Oração 18
Editor Associado; Komatsu, Adney Y, 47 Paternidade 23,105
Bonnie Saunders, Maxwell, Neal A. 87 Paz 92
Seção Infantil;
Roger Gylling,
McConkie, Bruce R. 120 Perdão 96, 108
Desenhista. Monson, Thomas S. 31 Perseguição 125
Packer, Boyd K. 26 Pessoas Idosas 44
Executivo de A Liahona:
José Maria Carleto,
Perry, L. Tom 18 Pornografia 77
Diretor Responsável; Petersen, Mark E. 50 Primária 138
Paulo Dias Machado, Peterson, H. Burke 96 Serviço 116
Editor; Richards, Franklin D. 92 Templos 47
Victor Hugo da C. Pires,
Assinaturas; Scott, Richard G. 116 Tribulação 26
Orlando Albuquerque, Smith, Barbara B. 135 Unidade 6
Supervisor de Produção. Young, DwanJ. 138 Vida Pré-mortal 26

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redação e da equipe internacional do “ International Magazine". Colaborações espontâneas e matérias dos correspondentes
estarão sujeitas a adaptações editoriais.
Redação e Administração: Av. Prof. Francisco Morato, 2.430 - Telefone (011) 814-2277.
ÍNDICE

2 Relatório da 153? Conferência Semi-anual de A Igreja de Jesus C risto dos


Santos dos Últim os Dias.
Sessão Matutina de Sábado
5 Apoio dos O ficiais da Igreja
6 “ Se Vós Não Sois Um” Presidente Gordon B. Hinckley
8 Jesus Cristo: Nosso Salvador e Redentor Presidente Ezra Taft Benson
13 A Pedra Angular de Nossa Religião Élder James E. Faust
18 “ Pai Nosso Que Estás nos Céus” Élder L. Tom Perry
23 Entrevistas de Pais e Filhos Élder Carlos E. Asay
26 O M istério da Vida Élder Boyd K. Packer
Sessão Vespertina de Sábado
31 Rótulos Élder Thomas S. Monson
36 Arbítrio e Am or Élder Marion D. Hanks
40 Am igo ou Inim igo Élder Charles Didier
44 “ HonraTeu Pai e T u a Mãe Élder Paul H. Dunn
47 A Casa do Senhor Élder Adney Y. Komatsu >

50 Veio O Anjo M orôni! Élder Mark E. Petersen


Sessão do Sacerdócio
55 Nossa Responsabilidade de Levar o Evangelho aos Confins da Terra
Élder Jack H. Goaslind Jr.
59 As Bênçãos da Obra M issionária James M. Dunn
63 “ Chamado Como por Uma Voz do Céu" Élder Vaughn J. Featherstone
69 Tornar-se Um Arrem essador de Estrelas Élder David B. Haight
73 Que Classe de Homens Devereis Ser? Presidente Ezra Taft Benson
77 Não Vos Deixeis Enganar Presidente Gordon B. Hinckley
Sessão Matutina de Domingo
82 Deus Conceda-nos Fé Presidente Gordon B. Hinckley
87 Joseph Smith, o Vidente Élder Neal A. Maxwell
92 Sede Pacificadores Élder Franklin D. fíichards
96 Remover o Veneno do Ressentim ento Élder H. Burke Peterson
100 Com prom isso Élder Marvin J. Ashton
Sessão Vespertina de Domingo
105 A Preocupação dos Pais com os Filhos Élder Howard W. Hunter
108 “ A Vossa Tristeza se Converterá em A le gria " Élder Robert D. Hales
112 Como Saber Élder William R. Bradford
116 O Poder Que Faz a Diferença Élder Richard G. Scott
120 O Que Pensais do Livro de Mórmon? Élder Bruce R. McConkie
125 Sigamos Avante! Presidente Gordon B. Hinckley
Reunião Geral das Mulheres
129 Vivei à A ltura de Vossa Herança Presidente Gordon B. Hinckley
135 Uma Época de Poder Barbara B. Smith
138 Preparar-se para Ensinar os Filhos do Senhor Dwan J. Young
141 Arbítrio e Responsabilidade Elaine Cannon
145 Notícias da Igreja
148 Calendários de 1984
P a rtic ip a ç ã o A d ic io n a l: Na sessão matutina de sábado, as orações foram proferidas pelo Élder Royden G.
Derrick e Bispo J. Richard Clarke; na sessão vespertina de sábado, pelo Élder Yoshihiko Kikuchí e Bispo Victor
L, Brown; na sessão do sacerdócio pelo Élder G. Homer Durham e Élder Angel Abrea; na sessão matutina de
domingo, pelo Élder J. Thomas Fyans e Élder Robert E. Wells; e na sessão vespertina de domingo, pelo Élder
Theodore M. Burton e Élder Rex C. Reeve Sr.
A s fo to g r a fia s d e s te n ú m e ro foram tiradas pelos Serviços Fotográficos de Comunicações Públicas: Eldon K.
Linschoten, fotógrafo-chefe: Jed A. Clark, Michael M. McConkie e Martin Mayo,
Relatório da 153.a Conferência
Geral Semi-anual de
A Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos Últimos Dias.
Sermões e procedimentos dos dias primeiro e
segundo de outubro de 1983, no Tabernáculo da Praça
do Templo, Cidade do Lago Salgado, Utah.

“ Aos santos dos últimos dias de todo o ra Presidência ao abrir a conferência geral de
mundo e aos homens e mulheres de boa von­ outubro.
tade de toda a parte: Nós vos saudamos em “ Afirmamos diante de todos os ho­
nome do Senhor, ’ ’ dizia o Presidente Gordon mens, nossa crença em Deus, o Pai Eterno, e
B. Hinckley, segundo conselheiro na Primei­ em seu Filho, Jesus Cristo, e no Espírito San­
to. Esta é a nossa primeira Regra de Fé e o
fundamento de toda nossa obra.”
A seguir, o Presidente Hinckley comen­
tou que “ estamos particularmente contentes
por ter conosco... este extraordinário homem
que apoiamos como profeta de Deus, nosso
profeta, vidente e revelador, nosso amigo e lí­
der, o Presidente Spencer W . Kimball.”
Tanto o Presidente Kimball como o Pre­
sidente Marion G. Romney, primeiro conse­
lheiro na Primeira Presidência estiveram pre­
sentes na sessão de abertura de sábado, pri­
meiro de outubro, e também numa das ses­
sões de domingo. Nenhum dos dois usou da
palavra devido às suas condições de saúde.
As cinco sessões gerais da conferência —
sábado pela manhã e à tarde, sessão do sacer-

Presidente Spencer W. Kimball, à esquerda acima,


embora fisicamente debilitado devido à enfermidade,
assistiu a duas sessões da conferência. Próxim o a ele
está o Presidente Gordon B. Hinckley, Segundo
Conselheiro na Primeira Presidência. Em frente,
estão Élder Franklin D. Richards, do Primeiro
Quorum dos Setenta, Élder J. Thomas Fyans e Élder
Carlos E. Asay, da Presidência do Prim eiro Quorum
dos Setenta.

2 A LIAHONA
dócio no sábado à noite, domingo pela ma­ das por todos os Estados Unidos. As sessões,
nhã e à tarde — foram dirigidas pelo Presi­ excetuando a sessão do sacerdócio, foram
dente Hinckley, segundo conselheiro na Pri­ igualmente transmitidas por uns dois mil sis­
meira Presidência, e Presidente Ezra Taft temas de televisão por cabo, via satélite West
Benson, presidente do Quorum dos Doze. Star 5, Transponder 12X. Além disso, foram
Os assuntos principais da conferência transmitidas por circuito fechado telefônico
foram: (1) Conselhos sobre ensino familiar e para mil cento e cinqüenta e três locais em di­
reativação pela Primeira Presidência e Quo­ versas partes do mundo, inclusive Austrália,
rum dos Doze; (2) apoio do Élder Richard G. Filipinas, Coréia, República Dominicana,
Scott do Primeiro Quorum dos Setenta como Porto Rico e Canadá. Uma ou mais sessões
novo membro da presidência deste quorum, foram transmitidas também para uma rede
devido à designação para o cargo de presiden­ especialmente formada de emissoras de tele­
te do Templo de Washington (D .C .) do Élder visão e rádio nos Estados Unidos, da qual
Franklin D. Richards, até então presidente quarenta e quatro emissoras de televisão e
sênior do Primeiro Quorum dos Setenta; (3) quarenta e duas estações de rádio apresenta­
apoio da Irmã Ann Stoddard Reese como se­ ram parte da conferência como serviço de in­
gunda conselheira na presidência geral da So­ teresse público. Videotapes da conferência
ciedade de Socorro, após a desobrigação da estão disponíveis em espanhol, português,
Irmã Shirley W. Thomas desse cargo, por italiano, japonês,francês, sueco, dinamar­
passar a servir com seu marido, o presidente quês, holandês, finlandês, alemão e norue­
da Missão Austrália Melboume. guês, para serem enviados a unidades da Igre­
As sessões de conferência foram televi­ ja em áreas em que a conferência não pode ser
sionadas via satélite West Star 4, Transpon- vista ou ouvida de outra maneira.
der 12D, para mais de seiscentos pontos de re­
cepção em sedes de estaca da Igreja espalha­ Os Editores.

JANEIRO DE 1984 3
4 A LIAHONA
SESSÃO M ATUTINA DE SÁBADO,
1? de outubro de 1983

Apoio dos Oficiais


da Igreja
Presidente Gordon B. Hinckley
Segundo Conselheiro na Prim eira Presidência

m virtude de seu recente chamado pa­ Com exceção dos irmãos que acabamos

E ra servir como presidente do Templo


de Washington D.C., apresentamos
agora a desobrigaçâo honrosa do Élder
Franklin D. Richards como um dos Presiden­
de apoiar, não houve modificações nas Auto­
ridades Gerais ou oficiais gerais da Igreja des­
de a última conferência geral. É proposto,
portanto, que apoiemos todas as Autorida­
tes do Primeiro Quorum dos Setenta. Ele ser­ des Gerais e oficiais gerais da Igreja, confor­
viu como o presidente sênior deste quorum me presentemente constituídos.
desde sua organização. Todos a favor, manifestem-se, levan­
Tendo também em vista o chamado da tando a mão.
Irmã Shirley W. Thomas para auxiliar seu Se houver alguém contrário, manifeste-
marido em suas responsabilidades como pre­ -se pelo mesmo sinal. Obrigado.
sidente da Missão Melbourne Austrália,
anunciamos sua desobrigaçâo honrosa do
chamado de segunda conselheira da presi­
dência geral da Sociedade de Socorro.
Todos os que desejarem juntar-se a nós
num voto de agradecimento e apreço ao Él­
der Richards e Irmã Thomas pelo seu notável
serviço, por favor, manifestem-se, levantan­
do a mão. Obrigado.
É proposto que o Élder Richard G. Scott
seja chamado como um dos presidentes do
Primeiro Quorum dos Setenta, preenchendo
a vaga criada com a desobrigaçâo do Élder
Franklin D. Richards.
Todos a favor, queiram manifestar-se,
levantando a mão.
Se houver alguém contrário, manifeste-
-se pelo mesmo sinal.
É proposto também que a irmã Ann
Stoddard Rees substitua a Irmã Shirley W.
Thomas como segunda conselheira da presi­
dência geral da Sociedade de Socorro.
Todos a favor, queiram manifestar-se, Presidente Gordon B. Hinckley, Segundo conselheiro
na Primeira Presdiência, e Presidente Ezra Taft
levantando a mão.
Benson, presidente do Quorum dos Doze,
Se houver alguém contrário, manifeste- cumprimentam-se afetuosamente, enquantos os
-se pelo mesmo sinal. Irmãos se reúnem para uma sessão da conferência.

JANEIRO DE 1984 5
“Se Vós Não Sois Um ”

Presidente Gordon B. Hinckley


Segundo Conselheiro na Prim eira Presidência

“Havendo unidade, não haverá poder


sob os céus capaz de deter o progresso contínuo
deste reino grandioso. ”

embros da Igreja em todo mundo e pode medir a influência deles sobre os ou­

M homens e mulheres de boa vontade


em toda parte: Saudamo-vos em
nome do Senhor, ao nos reunirmos de todas
as partes do mundo e darmos início a esta
tros? Se procurássemos uma única expressão
que o caracterizasse, suponho que seria a pa­
lavra amor.
Leio de meu caderno de notas, uma de­
grandiosa conferência de A Igreja de Jesus claração sua proferida no dia 23 de outubro
Cristo dos Santos dos Últimos Dias. de 1980, a uma vasta audiência de irmãos e ir­
Desejamos afirmar a todos que cremos mãs chineses, em Taipei, Taiwan. Dizia ele
em Deus, o Pai Eterno, e em seu Filho, Jesus naquela ocasião:
Cristo e no Espírito Santo. Esta é a nossa “ De algum modo, o Senhor me conce­
primeira regra de fé e o ajicerce de toda a deu desde o nascimento um espírito de amor.
nossa obra. Eu tinha amor a meus companheiros de mis­
Estamos especialmente felizes e honra­ são. Eu tinha amor a meus adversários no jo ­
dos em ter conosco aquele a quem apoiamos go de basquete, quando menino. Sempre tive
como o profeta de Deus, nosso profeta, vi­ amor a todos os povos do mundo. Tenho
dente e revelador, nosso amigo e líder, o Pre­ amor a vocês.”
sidente Spencer W . Kimball. Se nos falasse esta manhã, estou certo de
Sentimos muito que sua saúde não lhe que seria esse o teor de sua mensagem. Essa
permita dirigir-nos a palavra. N o passado, grandiosa manifestação de amor tem sido a
ouvimo-lo falar muitas vezes deste púlpito, e química de sua liderança extraordinária. Sua
a lembrança de seus grandiosos testemunhos vida é uma lição para todos nós, uma lição do
continua a nos encorajar e fortalecer. Quem poder assombroso do amor.

6 A LIAHONA
Ainda que seu corpo esteja cansado e O Senhor disse: “ E se vós não sois um,
fraco, a Igreja em todo o mundo sente a força não sois meus.” (D&C 38:27.)
dessa liderança. É um agente que nos une co­ Essa grandiosa unidade é o marco da
mo seguidores do Senhor Jesus Cristo. Todos verdadeira Igreja de Cristo. Manifesta-se en­
os sumos conselhos da Igreja reconhecem sua tre nosso povo no mundo inteiro. A o sermos
influência unificadora. um, somos dele.
Somos gratos pela presença do Presi­ E assim, dando início a esta grandiosa
dente Romney, primeiro conselheiro na Pri­ conferência da qual se irradiará pelo mundo
meira Presidência. Ele tem igualmente pro­ afora o sentimento de amor, oramos para que
blemas de saúde. Pudesse ele falar, tenho cer­ sejamos abençoados pelo Senhor. Oramos
teza de que prestaria testemunho desse gran­ em favor de nosso querido profeta a quem
dioso e tocante poder na vida e caráter de nos­ amamos e honramos. Oramos um pelo ou­
so Presidente. Presto-vos testemunho disso. tro, para que possamos prosseguir unidos e
Tenho certeza de que cada membro dos D o­ fortes. Se assim fizermos não haverá poder
ze, dos Setenta e do Bispado Presidente pode­ sob os céus capaz de deter o progresso contí­
ria fazer o mesmo. nuo deste reino grandioso. Oro para que ja­
Agradeço a cada membro dos conselhos mais enfraqueçamos na fé, e em nossa devo­
e quoruns que constituem as Autoridades Ge­ ção, em nosso amor ao Senhor e sua obra, e
rais da Igreja. Agradeço-lhes seu amor e leal­ em nosso desejo de servir unidos para o pro­
dade, sua fé e devotamento, sua unidade de gresso de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos
propósito e ação, sob a diretriz de nosso Pre­ dos Últimos Dias. Em nome de Jesus Cristo.
sidente. Amém.

Presidente Gordon B. Hinckley, segundo conselheiro na Primeira Presidência, dirigiu a maioria das sessões da
conferência.

JANEIRO DE 1984 7
Jesus Cristo:
Nosso Salvador e
Redentor

Presidente Ezra Taft Benson


do Quorum dos Doze Apóstolos

‘‘Somente Jesus Cristo é inigualavelmente qualificado


para proporcionar a esperança, confiança e
força de que necessitamos para sobrepujar o mundo
e superar asfraquezas humanas. ”

omo membros de A Igreja de Jesus paz interior nesta vida e esperança no mundo

C Cristo dos Santos dos Últimos Dias,


precisamos confiar plenamente no Se­
nhor Jesus Cristo, a quem aceitamos como o
vindouro?
Nossa resposta a estas perguntas deter­
mina se encaramos o futuro com coragem,
Filho de Deus e como o Salvador da humani­ esperança e otimismo, ou com apreensão, an­
dade. Nós o consideramos o Caminho, a Ver­ siedade e pessimismo.
dade e a Vida. E até que o mundo viva seus Esta é minha mensagem e testemunho:
ensinamentos, continuaremos aflitos sobre o Somente Jesus Cristo é inigualavelmente
futuro e nossa capacidade de enfrento os de­ qualificado para proporcionar a esperança,
safios que a mortalidade nos traz. confiança e força de que necessitamos para
O princípio fundamental de nossa reli­ sobrepujar o mundo e superar nossas fra­
gião é fé no Senhor Jesus Cristo. Por que é quezas humanas. A fim de conseguí-lo, te­
prudente concentrarmos nossa confiança, mos de colocar nossa fé nele e viver suas leis e
nossa esperança e certeza numa única figura? ensinamentos.
Por que crer nele é tão necessário para termos Por que fé no Senhor Jesus Cristo?

8 A LIAHONA
Jesus Cristo foi e é o Senhor Deus Oni­ sus se submetesse a todas as dificuldades e
potente. (Vide Mosiah 3:5.) Ele foi escolhido provações da mortalidade. Assim, tornou-se
antes de nascer. Ele foi o Criador Todo-Po- sujeito a “ tentações,... fome, sede, e cansa­
deroso dos céus e da terra. Ele é a fonte da vi­ ço” . (Mosiah 3:7.)
da e luz de todas as coisas. Sua palavra é a lei A fim de qualificar-se como Redentor de
que governa tudo no universo. Todas as coi­ todo os filhos de nosso Pai, Jesus teve de ser
sas criadas e feitas por ele estão sujeitas ao seu perfeitamente obediente a todas as leis de
infinito poder. Deus. Por ter-se submetido à vontade do Pai,
Jesus Cristo é o Filho de Deus. ele cresceu de “ graça em graça, até receber a
Ele veio a esta terra em época predeter­ plenitude” do poder do Pai. Assim, ele obte­
minada por meio de um nascimento real que ve “ todo poder, tanto nos céus como na ter­
preservou sua divindade. De sua natureza fa­ ra” . (D&C 93:13, 17.)
ziam parte os atributos humanos de sua mãe Assim que compreendermos essa verda­
mortal e os divinos atributos e poderes de seu de sobre Aquele a quem adoramos como o
Pai Eterno. Filho de Deus, entenderemos mais facilmente
Sua singular herança o tomou herdeiro como Ele tinha poder para curar doentes, sa­
do honroso título: O Filho Unigênito de Deus rar todas as formas de doença, reviver os
na carne. Como Filho de Deus, herdou pode­ mortos e fazer com que os elementos lhe obe­
res e inteligência que nenhum ser humano ja­ decessem. Até mesmo os demônios, a quem
mais teve ou terá. Ele foi literalmente Emma- ele expulsou, eram-lhe sujeitos e reconheciam
nuel, que significa “ Deus conosco” . (Vide sua divindade.
Mateus 1:23.) Como o grande Legislador, ele promul­
Apesar de ser o Filho de Deus enviado à gou leis e mandamentos para o beneficio de
terra, o plano divino do Pai requeria que Je­ todos os filhos de nosso Pai Celestial. Na rea-

Presidente Ezra Taft Benson, à esquerda, presidente do Quorum dos Doze, com Élder Mark E. Petersen.

JANEIRO DE 1984 9
lidade, sua lei cumpriu todos os convênios an­ suas próprias palavras:
teriores com a casa de Israel. Ele disse: “ Pois eis que eu, Deus, sofri estas coisas
Eis que eu sou a lei e a luz. Voltai a mim por todos, para que, arrependendo-se, não
vossos olhos, perseverai até o fim, e vivereis; precisassem sofrer; ... Sofrimento que me
porque a todo aquele que perseverar até o fez, mesmo sendo Deus, o mais grandioso de
fim, dar-lhe-ei a vida eterna. (3 Néfi 15:9.) todos, tremer de dor e sangrar por todos os
Sua lei requeria que toda a humanidade, poros, sofrer, tanto corporal como espiritual­
independente de sua posição na vida, se arre­ mente — desejar não ter de beber a amarga
pendesse e fosse batizada em seu nome e rece­ taça e recuar.” (D&C 19:16, 18.)
besse o Espírito Santo como poder santifíca- Como era característico de toda sua ex­
dor para purificar-se do pecado. A obediên­ periência mortal, o Salvador submeteu-se à
cia a essas leis e às ordenanças permitirá que vontade de nosso Pai e bebeu da amarga taça.
todo indivíduo apareça sem culpa diante Sofreu as dores de todos os homens no
dele no dia do julgamento. Quem o faz é Getsêmani, para que não precisassem sofrer,
comparado ao homem que edifica sua casa desde que se arrependessem.
sobre alicerce seguro, de modo que nem mes­ Submeteu-se à humilhação e insultos de
mo “ as portas do inferno... prevalecerão seus inimigos sem reclamar ou retaliar.
contra eles” . (3 Néfi 11:39.) E, finalmente, suportou a flagelação e a
Nós O honramos apropriadamente co­ vergonha pungente e brutal da cruz. E só en­
mo a Rocha de nossa salvação. (Vide 2 Néfi tão se submeteu voluntariamente à morte.
4:30.) Como disse:
A fim de prezarmos e sermos gratos pelo “ Ninguém ma tira de mim, mas eu de
que ele realizou em nosso favor, devemo-nos mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e
lembrar destas verdades vitais: poder para tornar a tomá-la. Este manda­
Jesus veio à terra para fazer a vontade de mento recebi de meu Pai.” (João 10:18.)
nosso Pai. Ele é a Ressurreição e a Vida (João
Ele veio sabendo que tomaria sobre si o 11:25).
peso de todos os nossos pecados. Esse poder de retomar a própria vida foi
Sabia que seria pregado numa cruz. possível por Jesus Cristo ser Deus — o pró­
Nasceu para ser o Salvador e Redentor prio Filho de Deus. Por causa de seu poder de
da humanidade. superar a morte, toda a humanidade irá res­
Ele foi capaz de realizar sua missão, suscitar. “ Porque eu vivo, ... vós vivereis.”
porque era o Filho de Deus e tinha o poder (João 14:19.)
de Deus. Nós reverenciamos o seu nome — deve­
Estava disposto a cumprir sua missão ras, até mesmo os títulos sagrados que repre­
porque nos ama. sentam seus feitos!
Nenhum ser mortal tinha o poder ou ca­ Ele é nosso Grande Exemplo.
pacidade de redimir todos os outros mortais Ele foi perfeitamente obediente ao Pai
de sua condição perdida e decaída, e ninguém Celestial e demonstrou-nos como abandonar
poderia entregar a vida voluntariamente e, o mundo e manter nossas prioridades na devi­
dessa forma, proporcionar uma ressurreição da ordem.
universal a todos os outros mortais. Devido ao seu amor a nós, ele mostrou-
Somente Jesus Cristo era capaz e se dis­ -nos como superar nossas pequenas fraquezas
pôs a realizar esse ato redentor de amor. e demonstrar afeição, amor e caridade em
Talvez jamais entendamos ou com­ nossso relacionamento com outras pessoas.
preendamos na mortalidade, com o ele reali­ Ele é o Pão da Vida. (João 6:35.)
zou o que fez; porém, não podemos deixar de Através de jejum, oração e serviço ao
compreender p o r que ele o fez. próximo, ele mostrou-nos que “ nem só de
Tudo o que realizou foi motivado por pão viverá o homem” (Mateus 4:4), mas deve
seu amor abnegado e infinito por nós. Ouvi ser alimentado pela palavra de Deus.

10 A LIAHONA
Ele, “ como nós, em tudo foi tentado, Não há, na realidade, condição humana
mas sem pecado” (Hebreus 4:15), e, portan­ — seja sofrimento, incapacidade, deficiência
to, pode socorrer aos que são tentados. (He­ mental ou pecado — que ele não possa com­
breus 2:18.) preender ou que seu amor não possa tocar no
Ele é o Príncipe da Paz — O supremo indivíduo.
Confortador. (Isaías 9:6.) Ele implora hoje: “ Vinde a mim, todos
Como tal, tem poder para confortar o os que estais cansados e oprimidos, e eu vos
coração angustiado, transpassado por angús­ aliviarei.” (Mateus 11:28.)
tia ou pecado. Ele proporciona um tipo espe­ Ele é nosso Advogado, Mediadora. Juiz.
cial de paz que nenhum meio humano pode Por ser Deus, ele é perfeitamente impar­
oferecer. Ele disse: cial, age com justiça e misericórdia. Ele pode
“ Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou: simultaneamente defender-nos e julgar nosso
não vo-la dou como o mundo a dá. Não se destino.
turbe o vosso coração, nem se atemorize.” Ter fé nele é mais que o simples reconhe­
(João 14:27.) cimento de que ele vive. É mais que uma pro­
Ele é o Bom Pastor. (João 10:11.) fissão de fé.
Possui todos os atributos da natureza di­ A fé em Jesus Cristo consiste em confiar
vina. É virtuoso, paciente, bondoso, longâni- plenamente nele. Como Deus, ele tem infini­
mo, gentil, manso e caridoso. Se formos fra­ to poder, inteligência e amor. Não existe pro­
cos ou deficientes em quaisquer dessas quali­ blema humano que não seja capaz de re­
dades, ele está pronto a nos fortalecer e com­ solver. Por ter-se sujeitado a todas as coisas,
pensar. ele sabe como ajudar-nos a superar nossas di­
Ele é um Conselheiro Maravilhoso. ficuldades diárias.
(Isaías 9:6.) Ter fé nele significa acreditar em que,

JANEIRO DE 1984 11
apesar de não entendermos todas as coisas, tos, não estaremos demonstrando fé nele.
ele as entende. Devemos, portanto, buscá-lo Imaginai como este mundo seria dife­
em todo pensamento, não duvidando, não rente, se toda a humanidade fizesse como ele
temendo. (D&C 6:36.) disse: “ Amarás o Senhor teu Deus de todo o
Ter fé nele significa confiar que ele tem teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o
pleno poder sobre todos os homens e todas as teu pensamento... Amarás o teu próximo co­
nações. Não há mal que ele não possa coibir. mo a ti mesmo.” (Mateus 22:37, 39.)
Todas as coisas estão em suas mãos. A terra é Qual, então, é a resposta à pergunta: “ O
sua, é seu próprio domínio. Contudo, ele per­ que fazer acerca dos problemas e dilemas que os
mite o mal, para que possamos escolher entre indivíduos, comunidades e nações enfrentam
o bem e o mal. hoje em dia?” Aqui está sua receita simples:
Seu Evangelho é a receita perfeita para “ Crede em Deus; acreditai que ele existe
todos os problemas humanos e males sociais. e que criou todas as coisas, tanto no céu como
Mas seu Evangelho só surtirá efeito, na terra; acreditai que ele tem toda a sabedo­
quando aplicado em nossa vida. Devemos, ria e poder, tanto nos céus como na terra;
portanto, banquetear-nos “ com as palavras acreditai que o homem não pode entender to­
de Cristo; sim, pois eis que as palavras de das as coisas que o Senhor pode.
Cristo (nos) ensinarão todas as coisas que (de­ “ Além disso, acreditai que deveis arre­
vemos) fazer” . (2 Néfi 32:3.) pender-vos de vossos pecados, abandoná-los
A menos que acatemos seus ensinamen- e humilhar-vos diante de Deus, pedindo com
sinceridade de coração que ele vos perdoe; e
agora, se acreditais em todas estas coisas,
procurai fazê-las.” (Mosiah 4:9-10.)
Como membros da Igreja, temos “ a
obrigação de fazer do Filho do Homem sem
pecado o nosso ideal — o único Ser perfeito
que andou sobre a terra.
“ O mais sublime exemplo de nobreza.
“ Divino por natureza.
“ Perfeito em seu amor.
“ Nosso Redentor.
“ Nosso Salvador.
‘ ‘O Filho imaculado de nosso Pai Eterno.
“ A Luz, a Vida, o Caminho” . (David
O. McKay, Improvement Era, junho 1951,
p. 478.)
Eu o amo de toda a minha alma.
Humildemente testifico que ele é, hoje,
o mesmo Senhor amoroso, cheio de compai­
xão, como quando trilhava os caminhos
poeirentos da Palestina. Ele está perto de seus
servos nesta terra. Ele ama e se preocupa com
cada um de nós. Disto podeis ter certeza.
Ele vive hoje como nosso Senhor, Mes­
tre, Salvador, Redentor e Deus.
Richard B. Lindsay, recém-nomeado diretor Que Deus nos abençoe a todos, para que
administrativo do Departamento de Comunicações creiamos nele, o aceitemos, adoremos e con­
Públicas da Igreja. Nos últimos cinco anos, o Irmão
fiemos nele sem reservas, e o sigamos é minha
Lindsay serviu com o diretor de Assuntos Especiais
(Relações do Governo) para a Igreja, cargo que humilde oração.
continuará ocupando. Em nome de Jesus Cristo, Amém.

12 A LIAHONA
A Pedra Angular de
Nossa Religião

Élder James E. Faust


do Quorum dos Doze Apóstolos

“O Livro de Mórmon é a prova confirmadora do


nascimento, vida e crucificação de Jesus e de sua obra
como Messias e Redentor. ”

empos atrás, tive em mãos o livro pre­ mes H. Moyle contar numa reunião sacra­

T dileto de minha mãe — um exemplar


do Livro de Mórmon bastante gasto
pelo uso. Praticamente toda página estava
mental, que ouvira Martin Harris e David
Whitmer, duas das testemunhas do Livro de
Mórmon, confirmarem seu testemunho a res­
marcada; a despeito do manuseio cuidadoso, peito desse livro. Junto com Oliver Cowdery,
algumas folhas tinham os cantos dobrados, e haviam testificado na época da primeira edi­
a capa estava puída. Ninguém precisava di­ ção do Livro de Mórmon, “ que um anjo de
zer-lhe que se pode chegar mais perto de Deus Deus baixou dos céus, trouxe e mostrou-nos
lendo o Livro de Mórmon do que qualquer ou­ as placas, de maneira que vimos as gravações
tra obra. Ela já estava perto dele. Lera o livro, sobre as mesmas... e testemunhamos que es­
estudara-o, orara a respeito dele e ensinava com tas coisas são verdadeiras” . ( “ O Depoimento
ele. Como jovem, tive em mãos este mesmo li­ de Três Testemunhas” , Livro de Mórmon.)
vro, procurando ver, através dos olhos dela, as Quando James H. Moyle visitou David
grandes verdades nele contidas, das quais testi­ Whitmer, este era um ancião, estava fora da
ficava sempre e que tanto amava. Igreja e vivia numa cabana de troncos em
Quando garoto, na Ala Cottonwood, Richmond, Missouri. Neste mesmo edifício,
impressionou-me profundamente ouvir Ja­ James H . Moyle declarava, em 22 de março de

JANEIRO DE 1984 13
1908, a respeito dessa visita a David Whitmer: de ter sido enganado, e se tudo não teria sido
“ Dirigi-me a sua humilde morada... e uma fraude, mas ele respondeu: ‘N ão.’ (Cita­
disse-lhe que... como um moço que começa­ do em Gordon B. Hinckley, James Henry
va a vida, eu desejava saber diretamente M oyle, Salt Lake City: Deseret Book Co.,
dele... o que sabia a respeito do Livro de M ór­ 1951, pp. 366-67.)
mon e do testemunho que prestara ao mundo Contudo, o Livro de Mórmon não me
sobre o livro. Contou-me com toda solenida­ cedeu sua profunda mensagem como um le­
de de seus avançados anos, que o testemunho gado gratuito. Duvido de que alguém consiga
que prestara ao mundo e que fora publicado obter um bom entendimento desse grande li­
no Livro de Mórmon era verdadeiro, palavra vro sem sincera intenção e um coração com­
por palavra, e que jamais se desviara ou nega­ prometido. Devemos indagar não só se é ver­
ra qualquer coisa dele, e que nada no mundo dadeiro, como fazê-lo em nome de Jesus
poderia separá-lo da sagrada mensagem que Cristo. Diz Morôni: “ Eu vos exorto a per-
lhe fora confiada. Como ainda imaginava se guntardes a Deus, o Pai Eterno, em nome de
não era possível que houvesse sido Cristo, se estas coisas não são verdadeiras; e,
enganado... fi-lo contar-me cada pormenor se perguntardes com um coração sincero e
do que acontecera, submetendo-o a inúmeras com real intenção, tendo fé em Cristo, ele vos
perguntas. Ele descreveu com minúcias o lu­ manifestará sua verdade disso pelo poder do
gar na mata, o grande tronco que o separava Espírito Santo.” (Morôni 10:4.)
do anjo, e que realmente viu as placas das Dizia Joseph Smith, o tradutor do Livro
quais foi traduzido o Livro de Mórmon, que de Mórmon: “ Declarei aos irmãos que o L i­
as manuseara e que ouvira a voz de Deus de­ vro de Mórmon era o livro mais correto de to­
clarar que a tradução das placas era correta. dos na terra e a pedra angular de nossa reli­
Perguntei-lhe se havia alguma possibilidade gião, e que um homem se achegaria mais a

14 A LIAHONA
Deus seguindo seus preceitos do que os de É importante saber o que o Livro de
qualquer outro livro.” (History o f the Mórmon não é. Não é primordialmente his­
Church, 4:461.) tória, embora grande parte dele seja históri­
O dicionário define pedra angular como co. A página de rosto declara tratar-se de um
“ o elemento fundamental de uma ciência ou relato tirado dos anais de povos que viveram
doutrina” . nas Américas, antes e após a época de Cristo.
O Livro de Mórmon é uma pedra angu­ Foi “ escrito por mandamento, e também pe­
lar, porque estabelece e associa princípios e lo espírito de profecia e de revelação... E tam­
preceitos eternos, desenvolvendo doutrinas bém para convencer ao judeu e ao gentio de
básicas de salvação. É a mais preciosa jóia de que Jesus é o Cristo, o Deus Eterno, manifes-
nossas sagradas escrituras. tando-se a todas as nações.”
Ele é a pedra angular por outras razões, George Q. Cannon declarou que “ o Li­
ainda. Na já mencionada promessa de M orô­ vro de Mórmon não é um manual de geogra­
ni — isto é, de que Deus manifestará a veraci­ fia. Não foi escrito para ensinar verdades geo­
dade do Livro de Mórmon a todo aquele que gráficas. O que nos informa sobre a situação
perguntar sinceramente, tendo fé em Cristo de vários países ou cidades... é usualmente
(Morôni 10:4) — temos um elo-chave numa um simples comentário incidental ligado às
corrente contínua. partes doutrinárias ou históricas da obra” .
O testemunho confirmador do Livro de (Juvenile Instructor, janeiro de 1890, p. 18.)
Mórmon convence que “ Jesus é o Cristo, o O que, então, é o Livro de Mórmon? É a
Deus Eterno” (página de rosto do Livro de prova confirmadora do nascimento, vida e
Mórmon) e também atesta espiritualmente: crucificação de Jesus e de sua obra como
(a) o chamado divino de Joseph Smith; e (b)
que ele realmente viu o Pai e o Filho. Com is­
to firmemente assegurado, segue-se com cla­
reza que uma pessoa pode receber uma con­
firmação de que Doutrina & Convênios e Pé­
rola de Grande Valor são verdadeiras escritu­
ras companheiras da Bíblia e do Livro de
Mórmon.
Tudo isto confirma a restauração do
Evangelho de Jesus Cristo e a missão divina
de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Úl­
timos Dias, dirigida por um profeta vivo que
recebe revelação contínua. Dessas verdades
fundamentais pode fluir a compreensão de
outros princípios salvadores da plenitude do
evangelho.
Além disso, o Livro de Mórmon é uma
pedra angular necessária de nossa própria fé
individual. Afirma o Presidente Ezra Taft
Benson: ‘ ‘Tenho notado na Igreja a diferença
de discernimento, visão, convicção e espírito
entre os que conhecem e amam o Livro de
Mórmon e aqueles que não lhe dão importân­
cia. Esse livro é um excelente crivo.” (New
Era, maio de 1975, p. 19.) Compreender o Li­
vro de Mórmon pode realmente ajudar a fir­
Élder Rex D. Pinegar, do Primeiro Quorum dos
mar devidamente a fé individual em Jesus Setenta, conversa com visitantes da conferência fora
Cristo. do Tabernáculo, na Praça do Templo.

JANEIRO DE 1984 15
Messias e Redentor. Diz Néfi a respeito do L i­ que Joseph Smith, rapaz iletrado, pudesse in­
vro de Mórmon: “ Todos os extremos da ter­ ventar as grandes verdades que ele contém,
ra, ouvi estas palavras e acreditai em Cristo; produzir seu grande poder espiritual ou falsi­
e, se não acreditardes nestas palavras, acredi­ ficar o testemunho de Cristo que nele existe.
tai em Cristo. Se acreditardes em Cristo, acre- O próprio livro testifica ser ele a palavra sa­
ditareis nestas palavras, porque são as pala­ grada de Deus.
vras de Cristo.” (2 Néfi 33:10.) Acaba de vir à luz nova evidência da di­
Néfi e Jacó, seu irmão, constituem com vindade do Livro de Mórmon. Arecém-des-
Isaías três poderosas vozes pré-messiânicas coberta carta de Lucy Mack Smith, mãe de
proclamando a primeira vinda de Jesus. Joseph, datada de 23 de janeiro de 1829 e diri­
Isaías é citado intensivamente por Néfi, por gida a Mary Pierce, sua cunhada, é uma con­
ser o principal profeta do Velho Testamento firmação adicional do Livro de Mórmon. A
que profetizou a vinda do Messias. carta foi escrita um ano antes da publicação
O Livro de Mórmon confirma a veraci­ do Livro de Mórmon e relata alguns aconteci­
dade da Bíblia. (Vide 1 Néfi 13:40.) É uma mentos da época e conteúdo do livro, além de
prova “ ao mundo (de) que as santas escritu­ outros dados históricos.
ras são verdadeiras” . (D&C 20:11.) Ele pre­
Com auxílio da computação moderna, foi
diz o estabelecimento da plenitude do evange­
possível acrescentar à Versão do Rei Tiago da
lho da paz e salvação. Foi escrito a fim de nos
Bíblia um índice, com remissões recíprocas a
dar princípios e diretrizes para nossa jornada
outras escrituras. Por meio dessas referên­
eterna.
cias, encontramos inúmeras evidências con-
Uma das supremas mensagens do Livro
firmadoras de que Joseph Smith traduziu o
de Mórmon e, de fato, do Velho Testamento
Livro de Mórmon com o auxílio e o poder de
e toda a história humana, é que a humanida­
Deus. Em praticamente todas as páginas, en­
de não consegue alcançar a perfeição sozi­
contramos numerosas referências que o li­
nha. Outra mensagem ressoa alto e claramen­
gam doutrinariamente à Versão do Rei Tiago
te de suas páginas, a freqüentemente impopu­
da Bíblia. Por outro lado, muitas declarações
lar e aparentemente dura injunção — “ arre­
que parecem fragmentárias na Bíblia, estão
pendei-vos ou perecereis” . Quando os povos
mais completas no Livro de Mórmon e Dou­
do Livro de Mórmon acatavam essa mensa­
trina & Convênios.
gem profética, eles floresciam. Quando a es­
queceram, pereceram. Referências a ensinamentos constantes
Diz Paulo aos gálatas: “ A lei nos serviu também no Velho Testamento e em o Novo
de aio, para nos conduzir a Cristo.” (Gálatas são tão numerosas em todo o Livro de M ór­
3:24.) Os registros mantidos pelos profetas do mon, que logicamente se chega à conclusão
Livro de Mórmon — e partes do que agora é a definitiva através da lógica, de que o intelecto
humano seria incapaz de haver inventado tu­
Bíblia, trazidas do continente oriental — ser­
viram, segundo Abinadi, para “ neles conser­ do. Mais importante que a lógica, porém, é a
var viva a lembrança de Deus e de seu dever confirmação do Santo Espírito de que a his­
para com ele” . (Mosiah 13:30.) Assim, pois, tória do Livro de Mórmon é verdadeira.
o Livro de Mórmon é um mestre que nos con­ Todas as escrituras são unânimes ao tes­
duz a Cristo. (Vide Mosiah 13:27-32.) tificarem de Jesus. Jacó, um profeta do Livro
A prova para se entender esse livro sa­ de Mórmon, lembra-nos de ‘ ‘não ter nenhum
grado é essencialmente espiritual. A obsessão dos profetas escrito ou profetizado, sem que
pelo conhecimento secular ao invés do discer­ tenha falado sobre esse Cristo” . (Jacó 7:11.)
nimento espiritual tomará difícil desvendar Falando das escrituras, diz o salmista: “ Lâm­
suas páginas. pada para os meus pés é tua palavra, e luz pa­
Para mim, é inconcebível que Joseph ra o meu caminho.” (Salmo 119:105.)
Smith pudesse ter escrito, sem ajuda divina, O Livro de Mórmon incentiva somente a
essa obra complexa e profunda. É impossível retidão. Por que, então, foi tão hostilizado?

16 A LIAHONA
Em parte, sem dúvida, por sua origem de pla­ de foi ferido. E ele responderá: “ Eu sou Jesus
cas de ouro entregues a Joseph Smith por um que foi crucificado. Sou o Filho de Deus.”
anjo. As placas foram vistas e manuseadas (D&C 45:51-52.)
por testemunhas escolhidas, mas não expos­ Testifico pela convicção segura, prove­
tas publicamente. E quem sabe, também por niente do testemunho do Espírito, que é pos­
afirmar ser obra de antigos profetas aqui do sível conhecer as coisas que foram reveladas,
continente americano. com mais certeza que vendo-as. Podemos
O grande valor do Livro de Mórmon foi obter um conhecimento mais absoluto do que
atestado pelo próprio Salvador, o qual afir­ os olhos podem perceber ou os ouvidos po­
ma em 3 Néfi 11: ‘ ‘Esta é a minha doutrina, e dem ouvir. O próprio Deus aprovou o Livro
é a doutrina que o Pai me deu.” (Vers. 32.) de Mórmon, dizendo: “ Assim como vive o
E declara mais o Redentor: ‘ ‘Eis que vos vosso Senhor e vosso Deus, a tradução é ver­
dei o meu evangelho.” (3 Néfi 27:13.) Como dadeira.” (D&C 17:6.)
testemunha especial, testifico-vos que Jesus é Agora enxergo mais claramente com os
o Cristo e que as profecias de Néfi e Isaias so­ olhos de meu próprio entendimento o que mi­
bre sua vinda realmente se cumpriram .Como nha mãe via em seu precioso, gasto exemplar
Néfi, nós “ falamos de Cristo, nos regozija­ do Livro de Mórmon. Oro que consigamos
mos em Cristo, pregamos a Cristo, profetiza­ viver de maneira que possamos merecer e al­
mos de Cristo” . (2 Néfi 25:26.) cançar um testemunho do Livro de Mórmon
Testifico que o Salvador voltará e que e acatar suas grandes verdades. Testifico que
em sua segunda vinda alguns dirão: “ O que a pedra angular de nossa religião continua fir­
são essas feridas em tuas mãos e teus pés?” me em seu lugar, suportanto o peso da verda­
Então ele mostrará as feridas em suas mãos, de movendo-se por toda a terra. Em nome de
pulsos e pés, e eles perguntarão quando e on­ Jesus Cristo. Amém.

JANEIRO DE 1984 17
“Pai Nosso,
Oue Estás nos Céus”

Élder L. Tom Perry


do Quorum dos Doze Apóstolos

" Como pais, é claramente nosso dever e


privilégio ensinar nossos filhos a orarem. E a oração
familiar habitual estabelece o padrão. ”

m dos privilégios especiais que temos bios. Por causa de sua designação, o presi­

U como Autoridades Gerais, é o de visi­


tar as estacas de Sião. De trinta a qua­
renta vezes por ano, hospedamo-nos na casa
de diferentes presidentes de estaca. Temos o
dente permanecera na área, para cuidar do
rebanho e guiá-lo. Ele não considerava a si­
tuação irremediável. Através de sua energia,
esforço e grande entusiasmo, a estaca come­
privilégio de sermos hóspedes nos melhores çava a se recuperar.
lares deste mundo. A o aproximar-se o fim-de-semana, os
Gostaria de contar-vos uma de minhas filhos regressavam ao lar, de carro ou avião,
recentes experiências, quando fui designado para prestar tributo ao pai pelos anos de servi­
para uma conferência de estaca, a fim de de­ ço fervoroso. Deparei-me com um espírito
sobrigar um presidente que vinha servindo há muito especial nesse lar. A família era bastan­
vários anos. Tratava-se de uma estaca muito te unida. Eles gostavam de estar juntos!
difícil de administrar. Localizada perto de um A o ficar de pé para falar na sessão final
de nossos grandes centros urbanos, ela vinha da conferência, sentada à minha esquerda,
perdendo muitos membros. A indústria havia encontrava-se toda a família com lágrimas es­
chegado ali e, com seu crescimento, muitos correndo-lhes pelas faces, prestando home­
membros haviam-se mudado para os subúr­ nagem ao pai naquela grandiosa ocasião.

18 A LIAHONA
Após o término da conferência, fui con­ mo se estivessem operando uma máquina, ou
vidado para jantar com a família antes de ir ao ajoelham-se com humildade e desejo sincero
aeroporto e voltar para casa. Assim que a fa­ de receber as bênçãos de Deus? É assim que
mília se reuniu ao redor da mesa, o pai pediu deveríamos agir, cultivar um espírito de devo­
que todos se ajoelhassem, para fazerem a ora­ ção e confiança em Deus, dedicando-nos a ele
ção familiar. Foi ajoelhado em oração fami­ e procurando obter suas bênçãos.” (Journal
liar que percebi o poder daquela família. Eles o f Discourses, 21:118.)
compreendiam o relacionamento que tinham O Presidente Heber J. Grant, referindo-
com Deus, o Pai Eterno. Compreendiam o re­ -se ao assunto, disse: “ Tenho pouco ou ne­
lacionamento que tinham com seus pais terre­ nhum receio pelo menino ou menina, o rapaz
nos, com os irmãos e irmãs. Devido à irman­ ou a jovem que, honesta e conscientemente,
dade existente na família, era-lhes fácil esten­ ora a Deus duas vezes por dia e suplica a
der a mão da amizade a amigos e vizinhos. orientação do seu Espírito. Sei que, quando a
Ser hóspede em tantos lares nos últimos tentação surgir, eles terão força para
anos, convenceu-me de que existe um espírito sobrepujá-la por meio da inspiração que lhes
especial, quando a família ora unida. será concedida.” (GospelStandards, p. 26.)
Nossos profetas têm-nos aconselhado, Como pais, é claramente nosso dever e
repetidamente, a fazermos da oração familiar privilégio ensinar nossos filhos a orarem, e a
uma pàrte regular da nossa adoração diária. oração familiar habitual estabelece o padrão.
O Presidente John Taylor perguntava aos Orar é uma confraternização com Deus.
santos: “ Vocês oram com seus familiares? E, Uma associação espiritual como essa traz
quando oram, o fazem mecanicamente, co­ bênçãos infindáveis. Acredito que as famílias

Élder Jaeob de Jager, centro, do Primeiro Quorum dos Setenta, conversa com o Élder G. H om er Durham, à
esquerda, membro da Presidência do Quorum, e com o Élder Angel Abrea, à direita, membro do mesmo
Quorum.

JANEIRO DE 1984 19
que oram juntas entendem o significado e o curaram decidir como deveriam dirigir-se à
alento que o Salvador tentava proporcionar pessoa do presidente do nosso país. Sugeriu-
aos seus seguidores, oferecendo-lhes sua ins­ -se chamá-lo de “ Sua Alteza, o Presidente dos
pirada oração, quando sua missão terrena es­ Estados Unidos da América e Protetor da
tava prestes a findar. Sua Liberdade.”
“ Não peço que os tires do mundo, mas O Presidente Washington solicitou:
que os livres do mal. “ Simplesmente me chamem de Sr. Presiden­
“ Não são do mundo, como eu do mun­ te.” (The American People, West and West,
do não sou. 1948, Allyn and Bacon.)
‘ ‘Santifica-os na verdade: a tua palavra é Quando o Senhor ensinou a seus discí­
a verdade. pulos a maneira correta de orar, ele disse:
“ Assim como tu me enviaste ao mundo,
“ E, quando orares, não sejas como os
também eu os enviei ao mundo.
hipócritas; pois se comprazem em orar em pé
“ Eu não rogo somente por estes, mas
nas sinagogas, e às esquinas das ruas para se­
também por aqueles que pela sua palavra hão
rem vistos pelos homens. Em verdade vos di­
de crer em mim;
go que já receberam o seu galardão...
“ Para que todos sejam um, como tu, ó
Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles “ Portanto, vós orareis assim: Pai nosso,
sejam um em nós, para que o mundo creia que estás nos céus, santificado seja o teu no­
que tu me enviaste.” (João 17:15-18,20-21.) me.” (Mateus 6:5, 9.)
O Presidente Heber J. Grant certa vez Em outras orações proferidas pelo Sal­
nos aconselhou, dizendo: vador, o termo “ Pai” também é usado. “ Q
“ N o momento em que o homem deixa Deus, Pai Eterno” é como o Senhor nos ins­
de suplicar a Deus por seu espírito e orienta­ truiu a abençoar o sacramento. (Ver D&C
ção, toma-se logo um estranho para com ele e 20:77) usando o termo "P a i” , compreende­
sua obra. Quando o homem deixa de orar pe­ mos o relacionamento que temos com ele. Ele
lo espírito de Deus, começa a confiar na sua é nosso Pai Eterno, e nós somos seus filhos.
própria razão e gradualmente se afasta do es­ Ensinemos aos nossos filhos como se dirigi­
pírito de Deus, assim como um amigo queri­ rem ao Senhor em oração.
do se toma um estranho por falta de corres­
Segunda. Usemos a linguagem sagrada
pondência e contato.” (Improvement Era,
da oração. Devemos sempre nos dirigir à Dei-
agosto de 1944, p. 481.)
dade, fazendo uso dos pronomes “ tu, ti, teu,
A oração reveste-nos do poder de nos
tuas e teus” . O Presidente Stephen L. Ri­
achegarmos ao nosso Pai Celestial. Isto é tão
chards deu-nos este sábio conselho:
importante, que um dos princípios funda­
mentais que ensinamos aos nossos filhos é o “ Temos constatado certa negligência
de como orar. no ensino quanto à maneira apropriada de
Posso incentivar-vos a considerardes a orar. Eu próprio tenho ficado abismado no
oração como assunto de debate nas reuniões campo missionário ao ouvir missionários cha­
familiares? Poderia dirigir vosso ensino so­ mados para proferir uma oração. Eles pare­
bre a oração para pelo menos quatro áreas cem não ter tido nenhuma experiência ou ins­
principais? trução quanto à linguagem que devem usar.
Primeira. O modo de orar ao Nosso Pai “ ... Acho, meus irmãos, que seria uma
Celestial. Ouço tantas pessoas proferindo boa prática ensinarmos nos quoruns e nas au­
orações e fico perguntando-me a quem se es­ las, assim como nos lares, a linguagem da ora­
tão dirigindo. ção — ‘teu, tua, teus, tuas ’ , em vez de ‘ ‘você” .
A saudação é tão complicada, que acho Sinto-me sempre constrangido ouvindo nosso
difícil entender o ser a quem dirigem a ora­ Pai Celestial, nosso Senhor sendo chamado,
ção. Penso agora na ocasião do primeiro de “ você” . É surpreendente o número de ve­
Congresso dos Estados Unidos, quando pro­ zes que isto acontece... Penso que devemos

20 A LIAHONA
observar isso e aproveitar toda oportunidade “ Gostaríamos de dizer aos irmãos que
possível para ensinarmos a sagrada e reverente procurem achegar-se ao Senhor secretamente
linguagem da oração.” (Conference Report, em seus aposentos, que o invoquem em seus
outubro de 1951, p. 175.) campos. Segui as instruções do Livro de M ór­
Ensinemos nossos filhos a usarem a lin­ mon e orai por vossas famílias, por vosso ga­
guagem da oração. do, vossos rebanhos, vossas manadas, vosso
Terceira. Façamos orações que expres­ milho e por tudo quanto possuis; pedi as bên­
sem gratidão. Semanas atrás, pediram-me çãos de Deus sobre todo o vosso trabalho e
que abençoasse um garoto que estava tendo sobre tudo a que vos dediqueis.” (Ensina­
problemas. Depois da bênção, enquanto me mentos do Profeta Joseph Smith, p. 241.)
preparava para sair, a mãe do jovem disse- O Presidente Brigham Young também
-lhe: “ Filho, agradeça a bênção que recebeu nos aconselhou:
antes que ele se vá.” Em vez de se dirigir a “ Novamente, suponhamos que uma fa­
mim, ele abaixou a cabeça, cruzou os braços e mília deseje reunir-se para orar: O que seria
agradeceu ao Pai Celestial. Quão observado- ordeiro e apropriado? Chame o cabeça da fa­
ras são as crianças! mília sua esposa e filhos,' e quando ele orar em
A o ter a oportunidade de me ajoelhar voz alta, todos os presentes que tenham idade
em oração, com minha esposa, todas as noi­ suficiente para compreender, devem repetir,
tes e manhãs, meu coração está sempre reple­ mentalmente, as palavras, à medida que fo ­
to de gratidão pelas bênçãos e privilégios de rem proferidas. E por que isso? Para que to­
desfrutar de sua companhia. Também sou dos sejam um.
grato pelas bênçãos que recebo através dos “ Se pedirem com fé, as pessoas recebe-
meus filhos, convivendo com eles e observan­
do seu crescimento e progresso.
Quando estamos ajoelhados em oração,
somos tocados por um sentimento de grati­
dão ao Senhor pelas muitas bênçãos que dele
recebemos diariamente.
Quão abençoados somos, sabendo
quem ele é. Quão abençoados somos como
povo pelo dom do evangelho. Fico assombra­
do com tudo o que ele criou para nosso uso e
benefício e com o privilégio de usufruir desta
experiência terrena. Meu coração é grato, es­
pecialmente nesta época de colheita, quando,
ao revolver a terra, dela extraio muito mais
batatas naquele pequeno naco que plantei há
poucos meses, ou quando colho uma espiga
de milho e vejo como aquelas duas ou três se­
mentes colocadas no solo, agora produzem
cem vezes mais. A o viajar e observar as bele­
zas da criação, as montanhas, as planícies fér­
teis, os riachos cintilantes ou os poderosos
oceanos, quão grato me sinto pelas bênçãos
recebidas. Quando nos ajoelharmos em ora­
ção familiar, ensinemos nossos filhos a ex­
pressarem gratidão ao Senhor pelas muitas
bênçãos que nos concede.
Junto aos Irmãos na sessão da conferência, a partir
Quarta. Nossas súplicas ao Senhor. Cer­ da esquerda, as presidências gerais da Sociedade de
ta ocasião, o Profeta Joseph Smith declarou: Socorro, Moças e Primária.

JANEIRO DE 1984 21
haverá os momentos de abençoada solidão,
de proximidade com nosso Pai Celestial, de
liberdade das coisas e problemas do mundo.
“ Quando nos ajoelhamos em oração fa­
miliar, os filhos ao nosso lado, também ajoe­
lhados, estão adquirindo hábitos que perma­
necerão com eles por toda a vida. Se não re­
servamos tempo para nossas orações, o que
estamos realmente dizendo a nossos filhos é:
‘Bem, afinal de contas, isso não é tão impor­
tante assim. Se vocês já estão atrasados para a
escola ou para o serviço, não há problema,
oraremos quando for conveniente.’ A menos
que se faça um planejamento, nunca parecerá
ser oportuno.
“ Por outro lado, como é maravilhoso
estabelecer esses costumes e hábitos no lar, de
modo que, mais tarde, quando os pais visita­
rem os lares de seus filhos já casados, todos
juntos se ajoelharão com naturalidade, para
orar do mesmo modo que sempre fizeram.”
(O Milagre do Perdão, pp. 243-44.)
Sou grato pelos meus filhos que ensinam
a meus netos as bênçãos que advêm da ora­
ção. Acho que a primeira palavra que ouvi
dos lábios de Terry, Ester, Audrey e Tomas
rão; e que todos peçam precisamente, em foi “ Am ém ” , repetidas com grande prazer e
pensamento, como aquele que faz a oraçào. entusiasmo. Depois, foi “ Pai Celestial” . O
Que todos se esqueçam dos cuidados do início da instrução terrena deles tem sido ensi­
mundo; que a cozinha cuide de si mesma, as­ nar-lhes quem são e como podem comunicar-
sim o celeiro, os rebanhos e manadas; e, se fo ­ -se com seu Pai Celestial. Tenho certeza de
rem destruídos enquanto orais, sede capazes que se dará o mesmo com Benjamim, Mi-
de dizer sinceramente: ‘Eles são do Senhor; chael e Justin, assim que tiverem idade sufi­
ele mos deu e eu o adorarei; reunirei minha ciente para aprenderem a se dirigir ao seu Pai
família e invocarei o nome do meu Deus.’ Celestial em oração.
“ Deixando os negócios e seus cuidados Não creio que haja maior ensinamento
de lado e atendendo estritamente à adoração que possamos dar aos nossos filhos do que o
na sua época, senão primeiro, logo estareis do poder da oração. Devemos estabelecer o
unidos e capazes de sujeitar qualquer princí­ exemplo, e nos ajoelhar em companhia de
pio maligno. Se todos estiverem ligados desta nossos filhos perante o Senhor e proporcio­
maneira, não vedes que forma uma forte cor­ nar-lhes a paz e a certeza de saberem que são
rente de fé?” (Journal o f Discourses, 3:53.) filhos de nosso Pai Celestial.
Ensinemos nossos filhos a orarem em Comprometamo-nos, hoje, a viver de
busca de coragem, oportunidades, consolo, modo tal, que possamos dirigir-nos ao Se­
paz, compreensão e não por coisas mate­ nhor, de consciência tranqüila para suplicar-
riais. Ensinemo-los a orar: “ Seja feita a tua -lhe que nos guie e oriente, e expressar-lhe gra­
vontade, assim na terra como nos céus.” tidão pelas bênçãos que nos tem concedido.
(Mateus 6:10.) Que o poder da oração abençoe os nos­
O Presidente Kimball nos aconselha: sos lares, eu oro em nome de Jesus Cristo.
“ Sempre haverá tempo para orar. Sempre Amém.

22 A LIAHONA
Entrevistas
de Pais e Filhos

Élder Carlos E. Asay


da Presidência do Primeiro Quorum dos Setenta

Orientação para aprimoramento das entrevistas


de pais e filhos, como meio de envolver,
ensinar e abençoar nossosfilhos.

lguns anos atrás, falando com uma de Fico a pensar se nossa conduta ao apli­
minhas filhas, eu disse: car princípios sãos — até mesmo entrevistan­
“ Querida, está na hora de uma do nossos filhos — não é, às vezes, um tanto
entrevista.” Sua reação não demonstrou ne­ seca e insensível. É possível que, na ânsia de
nhum estusiasmo, e concluí que me tornara fazermos ou cumprirmos o que espera a Igre­
maçante. Então, em vez de submetê-la a uma ja, entremos em conflito com o propósito?
conversa formal, convidei-a para sair de car­ Não é possível que, obcecados pela forma, es­
ro comigo e, parando num certo local, ambos queçamos a família? Se este for o caso, talvez
nos deliciamos tomando um refresco com devamos perguntar a nós próprios se, dentro
sorvete. Durante todo esse tempo, eu lhe fa­ de nós, estamos ‘ ‘cheios de ossos de mortos ’ ’ .
zia perguntas e ela respondia livremente. Ela (Mateus 23:27.)
nem percebeu que estava sendo entrevistada Quando penso em desempenho maçan­
— pelo menos foi isto que pensei. Semanas te, lembro-me dos antigos que modificaram a
mais tarde, falando com ela novamente, dis­ lei menor. Multiplicaram os rituais, as ceri­
se-lhe que precisava entrevistá-la. Dessa vez, mônias e os símbolos, a ponto de adorar-se
ela prontamente perguntou: “ Com refresco e mais a lei em si do que ao Senhor. Na realida­
sorvete ou a seco?” de, abusaram tanto da lei, que esta acabou

JANEIRO DE 1984 23
desviando o povo do Messias, em vez de en­ lho. Agora, tomava-se essencial que fosse
caminhá-lo a ele. posta à prova e se revelasse mais que mera de­
O desempenho aceitável, acho eu, é “ re­ voção da boca para fora.
frescado” e “ adoçado” pela água viva que A indagação decisiva de Alma foi:
flui de Jesus Cristo. É uma atuação que se ba­ “ Guardarás meus mandamentos?”
seia em ensinamentos inspirados, tais como: Desconheço o que passou pela mente de
“ Nosso objetivo deve ser o de glorificar Helamã ao preparar-se para dar a respos­
a Deus, e não ser influenciado por qualquer ta final. Ele tinha conhecimento da necessida­
outro motivo senão o de construir seu reino. ” de de honrar seus pais e respeitar a autoridade
(Joseph Smith 2:46.) do sacerdócio. Suas ações anteriores compro­
“ O maior dentre vós será vosso servo.” vavam este fato. Quero crer que a resposta de
(Mateus 23:11.) Helamã partiu mais do desejo sincero de ser
“ ... Porque a letra mata e o espírito vivi- obediente, do que por temor à autoridade.
fica.” (II Coríntios 3:6.) Amor profundo a Deus e ao pai transpare­
“ Mas, quando tu deres esmola, não sai­ cem em suas palavras: “ Sim, guardarei teus
ba a tua mão esquerda o que faz a tua mandamentos de todo o meu coração.” (A l­
direita.” (Mateus 6:3.) ma 45:2-7.)
Todo desempenho vivificante é isento de
É maravilhoso quando um pai é capaz
formalismo, insensibilidade e tendências
de fazer com que seus preceitos concordem
egoistas, sendo realizado por santos que fa­
perfeitamente com a expectativa de Deus.
lam e agem de acordo com os sentimentos de
Aparentemente, Alma havia alcançado essa
seu coração e do espírito do Senhor que neles
condição, pois Helamã estava pronto e dis­
há. (Ver 2 Néfi 4:12.)
posto a obedecer-lhe de todo o coração.
A entrevista de Alma com Helamã é um
Essa entrevista breve, informativa e ins-
exemplo clássico de desempenho estimulante
piradora deve ter agradado muitíssimo a A l­
e agradável. É um breve diálogo com três per­
ma. Conseguira não apenas comunicar-se de
guntas, entre pai e filho, que leva quarenta e
coração paia coração e de alma para alma
cinco segundos. De acordo com o registro,
com seu filho, como este lhe declarara aberta­
Alma estava prestes a encerrar seu ministério.
mente sua fé e penhorara sua devoção.
Ele sabia que precisava escolher alguém para
assumir a responsabilidade de profeta e guar­ Para culminar o diálogo, Alma, sob a
dião dos registros. inspiração do espírito, profetizou e concedeu
Helamã foi o escolhido. Portanto, Alma esta bênção: “ Bendito sejas; o Senhor far-te-
dirigiu-se ao filho e perguntou-lhe: “ Crês nas -á prosperar nesta terra.” (Alma 45:8.)
palavras que te falei a respeito daqueles regis­ Fico a pensar se as entrevistas que temos
tros que foram conservados?” com nossos filhos são inspiradoras e edifican­
Sem hesitar, Helamã respondeu: “ Sim, tes como a de Alma e Helamã. Achei signifi­
eu creio.” Ele poderia muito bem ter dito: cativo como o pai se dirigiu ao filho; o filho
“ Sim, acredito nas escrituras e sim, acredito não foi chamado para ser inspecionado ou fa­
em tudo o que me ensinaste.” zer um relatório. Acho estimulante que a con­
A segunda pergunta de Alma foi simples: versa tenha sido direta e sem nenhuma argu­
“ Crês em Jesus Cristo, aquele que há de vir?” mentação; não se tratava de algo forçado e
Outra vez, sem demora, Helamã responde: ensaiado. Acho admirável que o comprome­
“ Sim, creio em todas as coisas que falaste.” timento tenha sido obtido sem sondagem, ar­
Que grande tributo ao pai! Ele falara de tifício ou pressão. E acho belíssimo concluir o
Cristo, regozijara-se emCristo, pregara a Cris­ pai a entrevista dando uma bênção.
to, e ensinara o filho a conhecer em que fonte Não é este o desempenho ou padrão de
deveria procurar o perdão de seus pecados. comunicação que deveríamos seguir? Refiro-
Até esse ponto da entrevista, as pergun­ -me aos princípios expostos, e não necessaria­
tas do pai verificavam a crença básica do fi­ mente à forma.

24 A LIAHONA
Uma ocasião, chegando tarde em casa
após um compromisso, minha mulher exter­
nou certo receio com um de nossos filhos. Ela
preocupava-se que na mente dele não se fixa­
ra a idéia de cumprir missão, e me falou a res­
peito. Seu cuidado certamente chamou mi­
nha atenção e perguntei-lhe onde ele estava.
Disse-me que estava em seu quarto, pronto
para se deitar. Dirigi-me imediatamente ao
quarto dele e sentei à borda da cama. Quando
lhe perguntei se poderíamos conversar por al­
guns momentos, ele respondeu: “ Claro!”
Já era tarde. Ele estava cansado e eu
também. Por isso, percebi que não consegui­
ríamos nada com uma conversa prolongada.
Então, seguindo a técnica direta de Alma e
Helamã, a conversa foi mais ou menos assim:
“ — Filho, você ainda planeja cumprir
missão?”
“ — Sim,” — respondeu ele. “ — sem­
pre planejei cumprir missão e não mudei de
idéia.”
“ — Filho, você está a par do que qualifi­
ca um jovem para a missão? Você sabe o sig­
nificado da palavra “ dignidade” ?”
Sim, papai, eu sei. Compreendo o Élder Teddy E. Brewerton, do Prim eiro Quorum dos
Setenta.
que é requerido e os padrões de dignidade que
precisam ser satisfeitos.”
Então eu disse: “ — Obrigado, filho. Te­ portantes e têm o seu lugar. N o entanto, fazê-
nho uma pergunta final: Você é puro e digno -las e comunicá-las não deve tornar-se um fim
de servir? Se recebesse um chamado hoje, es­ em si, São meios de cativar, meios de ensinar e
taria em condições de aceitá-lo?” meios de abençoar. Todos devemos empe-
Houve um silêncio profundo, e então ele nhar-nos em fazê-lo com o propósito de sal­
respondeu: “ — Não é fácil. A tentação é real var e exaltar almas.
e encontra-se em toda a parte. Mas, desde que Agradeço a Deus por minha mulher e fi­
o senhor me perguntou, eu sou puro e digno lhos; eles fazem da minha vida algo muito sig­
de servir.” nificativo. Agradeço a Deus pela Igreja res­
Foi uma experiência maravilhosa, bela, taurada, pelos profetas vivos que me propor­
espontânea e santificante. Agradeci a meu fi­ cionam programas inspirados para o benefí­
lho, dei-lhe um beijo, afirmei-lhe que o ama­ cio daqueles que me cercam. Sou grato pelo
va e dei-lhe boa-noite. Voltei ao meu quarto e evangelho que provém da fonte de águas vi­
disse à minha mulher que tudo estava em or­ vas — do próprio Jesus Cristo. Mas, oro hu­
dem e que ela agora poderia dormir. mildemente para que seja abençoado, a fim
Percebo a grande sabedoria que existe de não confundir meios e fins ou me tomar
no conselho da Igreja de incentivar os pais no obcecado pela atuação, à custa do espírito
desempenho e prática de certas coisas. Há vir­ fundamental a todos os mandamentos. Que
tude em promover a noite familiar, em orar nossas entrevistas, nossas orações e toda nos­
como família, conforme o Élder Perry men­ sa comunicação com os filhos sejam santifi-
cionou, em dar uma bênção paterna e em en­ cantes e livres de aridez e de “ ossos de mor­
trevistar os filhos. Todas estas coisas são im­ tos” , eu oro em nome Jesus Cristo. Amém.

JANEIRO DE 1984 25
O Mistério da Vida

Élder Boyd K. Packer


do Quorum dos Doze Apóstolos

“A vida não começa com o nascimento mortal


Antes de vir para a mortalidade,
vivíamos numa forma espiritual Somos
espiritualmente filhos de Deus. ”

G
ostaria de relatar-lhes um incidente O tempo passou rapidamente e, hoje,
ocorrido há muitos anos. Dois de ambos têm seus próprios filhos que lhes dão
nossos filhos, ainda pequenos, esta- lições da vida. H oje são eles que observam
vam brincando de lutar no tapete. Haviam seus garotos crescerem, assim como nós os
chegado àquele ponto entre o riso e o choro, observávamos. Como pais, estão aprenden­
quando, cuidadoso, coloquei o pé entre eles e do algo que não lhes podia ser ensinado como
fiz o mais velho ficar sentado no tapete, en­ filhos. Quem sabe agora compreendam o
quanto o erguia, falei: “ Ei, seus macaqui­ quanto seu pai os amava. Quem sabe agora
nhos, acho bom vocês pararem.” também compreendam por que iniciamos as
Para minha surpresa, ele cruzou os bra- preces com: “ Pai nosso, que estás no céus.”
cinhos e, magoado, com olhos cheios de lá­ Muito em breve, seus filhos terão cresci­
grimas, protestou: “ Eu não sou macaco, pa­ do e, por sua vez, terão seus próprios filhos,
pai. Eu sou gentel” repetindo-se assim o infindável ciclo da vida.
Os anos não apagaram o extraordinário Existe, na costa oeste do país, uma enor­
sentimento de amor que tive por meus garo­ me estátua esculpida por Ernesto Gazzeri,
tos. Meu filho ensinou-me uma profunda li­ que ilustra em mármore o ciclo da vida a que
ção, e várias vezes, no decorrer dos anos, suas me refiro. Representados em mármore, estão
palavras voltaram-me à mente: “ eu não sou crianças, adolescentes, namoradinhos, pes­
macaco, papai. Eu sou gente\" soas maduras e idosas, olhando um recém-

26 A LIAHONA
-nascido. Mais atrás, no entanto, estão duas Outros tão miseráveis!
figuras, dando as costas ao grupo. Um casal Alguns tão bonitos e outros com defei­
idoso, apoiado um no outro, abandona trô­ tos deploráveis.
pego o círculo familiar. Alguns são talentosos e outros retar­
Entramos nesta vida por meio do nasci­ dados.
mento e, no devido tempo, desaparecemos Por que a injustiça, a morte prematura?
atrás do véu da morte. A maioria jamais per­ Por que a negligência, o pesar, a dor?
cebe a razão de estar aqui. Por que o divórcio, o incesto, a perver­
O que representa a estátua é perfeita­ são, o abuso e a crueldade?
mente óbvio; o escultor, porém, denominou- Se existe ordem e sentido na vida, isto é
-a “ O Mistério da Vida” . raramente visível naquilo que os mortais fa­
Há épocas em que, como na ocasião de zem uns aos outros e a si mesmos.
um nascimento, fazemos uma pausa contem­ Por outro lado, vemos devoção, sacrifí­
plando com assombro o que a natureza nos cio, fé, humildade; vemos humanidade na mais
tem a dizer. Vemos padrões de criação tão sublime expressão de coragem e heroísmo.
bem organizados, tão belos, que nos inspi­ Quando finalmente o mistério da vida se
ram sentimentos profundos de reverência e desvendar, o que veremos?
humildade. Então, quando prestes a desco­ Conheço um homem que estudou para
brir o significado da vida, somos interrompi­ o ministério. Então, pouco antes de sua orde­
dos pelas coisas loucas, incontroláveis que a nação, acabou desistindo, porque ainda ha­
humanidade está fazendo a si mesma. via tantas perguntas sem resposta. Ele ainda
São tantas as perguntas sem respostas. se considerava um cristão devoto, embora
Por que as injustiças da vida? um tanto desiludido. Achou uma outra pro­
Alguns são tão ricos! fissão, casou-se e estava criando sua família,

JANEIRO DE 1984 27
quando nossos missionários o conheceram. a morte, por que é tão estranho que tenhamos
Fez um estudo superficial das doutrinas vivido antes do nascimento?
da Igreja, achando-as toleráveis. Os funda­ O mundo cristão, em geral, aceita a idéia
mentos da cristandade eram evidentes. Estava de que nossa condição na ressurreição será
mais interessado, porém, nos programas e ati­ determinada por nossos atos nesta vida. Por
vidades que trariam benefícios a sua família. que, então, não conseguem aceitar que certas
Foi só depois de batizado que fez a des­ condições nesta vida sejam determinadas por
coberta de sua vida. Para sua surpresa, cons­ nossas ações anteriores à vida mortal?
tatou que os programas da Igreja se funda­ As escrituras ensinam a doutrina da vida
mentavam num alicerce sólido de doutrina. pré-mortal. Mas, por suas próprias razões, o
Ele não fazia idéia da profundidade, extensão Senhor nos responde a certas perguntas com
e estatura de nossa teologia. Quando transfe­ fragmentos espalhados pelas escrituras. Cabe
riu seu interesse dos programas para o estudo a nós encontrá-los e merecê-los. Deste modo,
do Evangelho de Jesus Cristo, encontrou res­ coisas sagradas ficam ocultas ao insincero.
postas que satisfizeram plenamente às per­ Dentre os muitos versículos que revelam
guntas que o haviam impedido de aceitar a a referida doutrina, citarei duas frases curtas
ordenação como clérigo. do testemunho de João, na Seção 93 de Dou­
Uma doutrina lhe era completamente trina & Convênios. A primeira, falando de
nova. Apesar de ser um estudioso da Bíblia, Cristo, diz claramente:
não a descobrira ali até haver lido as outras ‘ ‘Ele era no princípio, antes de o mundo
revelações. A Bíblia, então, tomou-se clara, e ser.” (D&C 93:7.)
ele pôde entendê-la. A outra, referindo-se a nós, fala com
A doutrina é tão lógica, tão razoável, e igual clareza:
explica tantas outras coisas, que sua rejeição “ Vós também no princípio estáveis com
por parte do mundo cristão nos espanta. E o Pai.” (D&C 93:23.)
uma parte tão essencial da equação da exis­ Fatos essenciais sobre nossa vida pré-
tência, que, quando deixada de fora, o misté­ -mortal foram revelados. Apesar de incom­
rio da vida simplesmente não pode ser des­ pletos, desvendam o mistério da vida.
vendado. Quando compreendemos a doutrina da
A doutrina é simplesmente esta: A vida vida pré-mortal, sabemos que somos filhos
não começa com o nascimento mortal. Antes de Deus.
de vir para a mortalidade, vivíamos numa Que vivemos com ele em forma espiri­
forma espiritual. Somos espiritualmente fi­ tual antes da mortalidade.
lhos de Deus. Sabemos que esta vida é uma prova, que
Os cristãos antigos tinham conhecimen­ a vida não começou com o nascimento e nem
to dessa doutrina da vida pré-mortal. Duran­ vai terminar com a morte.
te quase 500 anos, assim foi ensinada. Mais Então, a vida começa a fazer sentido; a
tarde, porém, foi rejeitada como heresia por ter significado e propósito, mesmo em meio a
um clero que caíra em completa apostasia. toda confusão e caos que os homens criam
Uma vez rejeitadas, a doutrina da vida para si próprios.
pré-mortal e a da redenção dos mortos, o mis­ Imaginai-vos assistindo a um j ogo de fute­
tério da vida jamais poderia ser desvendado. bol de equipes do mesmo nível. Uma das equi­
Tornaram-se como um homem tentando en­ pes foi treinada a obedecer a todas as regras. A
fiar um punhado de pérolas num cordão cur­ outra, a fazer exatamente o contrário. Estão
to demais. Não há meio de juntá-las todas. decididas a roubar e desobedecer a qualquer re­
Por que a idéia de tempos vividos como gra de conduta desportiva no jogo.
espíritos, antes da mortalidade, parece tão es­ O jogo termina empatado, mas tem de
tranha? As doutrinas cristãs proclamam a continuar, até que um dos lados ganhe defini­
ressurreição, no sentido de que voltaremos a tivamente. Dentro de pouco tempo, o cam­
viver após a morte. Se voltaremos a viver após po vira um lamaçal.

28 A LIAHONA
Jogadores de ambos os lados são lança­ para o bem deles que permite que o jogo con­
dos na lama. As trapaças da equipe adversá­ tinue. Grandes benefícios poderão resultar
ria transformam-se em brutalidade. dos desafios que enfrentam.
Jogadores são carregados para fora do Ele aponta os jogadores sentados no
campo. Alguns estão seriamente machuca­ banco, vestidos, ansiosos por entrar no jogo.
dos; outros, comenta-se em voz baixa, foram “ Quando cada um deles tiver entrado, quan­
feridos mortalmente. Não é mais um jogo, e do tiver enfrentado o dia paira o qual se prepa­
sim uma batalha. rou e treinou tão arduamente, então, e só en­
A ira e a frustração chegam ao extremo. tão, darei fim ao jo g o .”
“ Por que permitir isso? Nenhuma equipe po­ Até lá, pode não importar qual equipe
de vencer. Isso precisa parar.” pareça estar ganhando. A contagem do mo­
mento não é vital. Como sabeis, existe jogo
Suponhamos que, num confronto com
dentro de jogo. Não importa o que está acon­
o patrocinador do jogo, vós exigis que essa
tecendo à equipe, cada jogador terá sua vez.
batalha sem sentido e fútil termine, afirman­
Os jogadores da equipe que seguem as re­
do que é um despropósito. E perguntais se ele
gras não ficarão eternamente em desvantagem,
não tem um pouco de consideração pelos jo ­
apesar de sua equipe parecer estar perdendo.
gadores?
No campo do destino, nenhuma equipe
Ele responde calmamente que não vai estará em eterna desvantagem por obedecer às
interromper o jogo. Que vós estais engana­ regras. Poderá ser encurralada, explorada e,
dos. Que existe um grande propósito nisso, temporariamente, até derrotada. Mas os joga­
que simplesmente não entendestes. dores individuais dessa equipe, independente
Ele vos explica que esse esporte não é pa­ da contagem, talvez já sejam vitoriosos.
ra espectadores, mas para os participantes. É Cada jogador será posto à prova de

JANEIRO DE 1984 29
acordo com suas necessidades; como cada tudo faz sentido. Sabemos que garotas e me­
um reage é a prova. ninas não são macacos, nem seus pais, e nem
Quando o jogo finalmente terminar, vós e ninguém desde o principio da geração.
eles vereis o propósito disso tudo; e talvez até Somos filhos de Deus, criados à sua
mesmo expressareis gratidão por estardes no imagem.
campo durante a parte mais feia da disputa. Nosso relacionamento de pai e filho é
Não creio que o Senhor esteja tão deses­ claro para Deus.
perançado com a situação atual do mundo. O propósito da criação desta terra é
Ele poderia pôr um fim a tudo isso, a qualquer claro.
momento. Mas não o fará! Não, até que todo A prova por que passamos na mortali­
jogador tenha uma oportunidade de passar dade é clara.
pela prova para a qual se preparou antes de A necessidade de um Redentor torna-se
existir esse mundo, antes de vir para a morta­ evidente.
lidade. Quando realmente compreendemos esse
A mesma prova em tempos dificeis pode princípio do evangelho, vemos um Pai Celes-
surtir efeitos opostos nos indivíduos. Três tialeumFilho,vemosa expiação e a redenção.
versículos do Livro de Mórmon, que é um ou­ Compreendemos por que as ordenanças
tro testamento de Cristo, nos ensinam que: e os convênios são necessários.
“ E assim terminou o trigésimo primeiro Compreendemos a necessidade do batis­
ano do reinado dos juizes sobre o povo de N é­ mo por imersão para a remissão dos pecados.
fi; e tinha havido guerras, derramamento de Compreendemos por que, participando do sa­
sangue, fome e aflições entre eles pelo espaço cramento, estamos renovando os convênios.
de muitos anos. Falei superficialmente sobre a doutrina
“ E tinha havido crimes, contendas, dis- da vida pré-mortal. É impossível nos apro­
sensões e toda a sorte de iniqüidade entre o fundarmos mais nestes breves discursos de
povo de Néfi; no entanto, por amor aos jus­ conferência. Oxalá tivéssemos um dia ou
tos, sim, em virtude das orações dos justos, mesmo uma hora para falarmos sobre isso.
eles foram poupados. Asseguro-vos que os programas e ativi­
“ Mas eis que, por causa da longa dura­ dades desta Igreja, estão alicerçados sobre
ção da guerra entre os nefitas e lamanitas, doutrinas profundas e extensas que respon­
muitos endureceram seus corações; e muitos dem às perguntas da vida.
se enterneceram, em virtude de suas aflições, O conhecimento do Evangelho de Jesus
de modo que se humilharam perante Deus Cristo é motivo de regozijo.
com a mais profunda humildade.” (Alma As palavras alegria e regozijo aparecem
62:39-41.) nas escrituras repetidamente. Os santos dos
Certamente conheceis pessoas cuja vida, últimos dias são um povo feliz. Quando co­
repleta de adversidade, foi amadurecida, for­ nhecemos a doutrina, a paternidade e mater­
talecida e refinada por causa dela, enquanto nidade tornam-se uma obrigação sagrada, e a
outras, que passaram pela mesma provação, procriação da vida um sagrado privilégio. O
tornaram-se amargas calejadas e infelizes. aborto seria inconcebível. Ninguém pensaria
A vida não faz sentido sem o conheci­ em suicídio, e as fraquezas e problemas dos
mento da doutrina da vida pré-mortal. homens desapareceriam. Nós temos motivo
A idéia de que a vida começa com o nas­ para regozijar-nos e realmente o fazemos, até
cimento mortal é absurda. Se acreditamos mesmo devemos celebrar.
nisso, a vida não tem explicação. “ A glória de Deus é inteligência, ou em
A noção de que a vida termina com a outras palavras, luz e verdade.” (D&C 93:36.)
morte é ridícula. Não podemos enfrentar a vi­ Que Deus nos abençoe e a todos os que
da, se pensamos assim. ouvirem sua mensagem. Que possamos rego­
Quando compreendemos a doutrina da zijar-nos em sua luz! Dele eu presto testemu­
vida pré-mortal, então as peças se encaixam e nho, em nome de Jesus Cristo, Amém.

30 A LIAHONA
SESSÃO VESPERTINA DE SÁBADO,
1? de outubro de 1983

Rótulos

Élder Thomas S. Monson


do Quorum dos Doze Apóstolos

“ O homem vê o que está diante dos olhos, porém


o Senhor olha para o coração. ”

Galeria Nacional, na Praça Trafalgar esperança de que os visitantes as leiam so­

A em Londres, Inglaterra, é um dos


maiores museus de arte do mundo in­
teiro. A galeria orgulhosamente anuncia sua
Sala Rembrandt e Recanto Constable, e in­
mente após haverem admirado as obras e fei­
to sua própria avaliação.”
As plaquetas informativas em quadros as­
semelham-se à aparência de certos homens —
centiva todos a admirarem as obras-primas de freqüentemente enganosa. Declarou o Mestre
Turner. Os visitantes vêm de todas as partes a certo grupo: “ A i de vós, escribas e fariseus hi­
do mundo, e saem de lá elevados e inspirados. pócritas! pois que sois semelhantes aos sepul­
Durante uma recente visita à Galeria cros caiados que por fora realmente parecem
Nacional, surpreendeu-me encontrar expos­ formosos, mas interiormente estão cheios de
tos em local de destaque excelentes retratos ossos de mortos e de toda a imundícia.
pintados e paisagens sem indicação do autor. . exteriormente pareceis justos aos ho­
Depois, notei um placa que dizia: mens, mas interiormente estais cheios de hipo­
“ Esta mostra foi tirada do grande nú­ crisia e de iniqüidade.” (Mateus 23:27-28.)
mero de obras expostas numa área pública Existem igualmente aqueles que aparen­
mas um pouco negligenciada da Galeria — o tam ser pobres, sem talentos e destinados à
piso inferior. Destina-se a incentivar os visi­ mediocridade. Uma clássica plaqueta apare­
tantes a admirar as pinturas, sem muita preo­ cia abaixo de um quadro do garoto Abraão
cupação com quem as pintou. Em alguns ca­ Lincoln, postado diante da humilde cabana
sos nem mesmo o sabemos com certeza. em que nascera, uma simples cabana de tron­
“ Os dados nas plaquetas muitas vezes cos. As palavras eram: “ Mal abrigado, mal
influenciam, quase que inconscientemente, vestido, mal alimentado.” Por trás dela, es-N
nosso julgamento; por isso, as informações condia-se, sem ser expresso, o verdadeiro ró­
foram deliberadamente deixadas de lado, na tulo do rapaz: “ Destinado à glória imortal. ’ ’

JANEIRO DE 1984 31
-nascido deitado numa humilde manjedoura.
Nada pôde descrever esse evento. Com o nas­
cimento do infante em Belém, emergiu uma
grande dádiva, um poder mais forte do que ar­
mas, um tesouro mais duradouro que as moe­
das de César. Aquela criança, nascida em
condições tão precárias, seria o “ Rei dos reis e
Senhor dos senhores” (ITim . 6:15), oprome-
tido Messias — mesmo Jesus Cristo, o Filho
de Deus.
Como menino, Jesus foi encontrado no
templo “ assentado no meio dos doutores,
ouvindo-os e interrogando-os.
“ E todos os que o ouviam admiravam a
sua inteligência e respostas.” E quando (José e
sua mãe) o viram, “ maravilharam-se” . (Ver
Lucas 2:46-48.) Aos doutores do templo, o ra­
paz deve ter parecido um menino intelectual­
mente brilhante, mas não o “ Filho de Deus e
futuro Redentor de toda a humanidade” .
As palavras messiânicas do Profeta
Isaías têm um sentido todo especial: “ Não ti­
nha parecer nem formosura; e, olhando nós
para ele, nenhuma beleza víamos, para que o
desejássemos.” (Isaías 53:2.) Assim era a des­
crição profética do Senhor.
Diz o poeta: Matèus registra a aparente necessidade
Ninguém conhece o valor de um rapaz, daquele punhado de pecadores iníquos que
É preciso esperar e ver. buscavam destruir o Senhor, de conspirar
Mas todo homem de alto renome, com o traidor Judas, para que lhes apontasse
Rapaz costumava ser. Jesus no meio dos discípulos. Esses versículos
Noutra época e lugar distante, Samuel deprimentes dos escritos sagrados atormen­
deve ter-se parecido com outro garoto qual­ tam o leitor: “ E o que o traía tinha-lhes dado
quer de sua idade, quando ministrava ao Se­ um sinal, dizendo: O que eu beijar é esse,
nhor perante Eli. Ouvindo a voz do Senhor, prendei-o.
chamando-o quando dormia, Samuel pensou “ E logo, aproximando-se de Jesus: Eu
que fosse o idoso Eli e respondeu: “ Eis-me te saúdo. Rabi. E Beijou-o.
aqui.” (I Samuel 3:4.) Todavia, depois de “ Jesus, porém, lhe disse: Amigo, a que
contar o fato a Eli e este informá-lo de que fo ­ vieste? Então, aproximando-se eles, lança­
ra o Senhor quem chamara, Samuel seguiu o ram mão de Jesus, e o prenderam.” (Mateus
conselho de Eli e, na vez seguinte, respondeu 26:48-50.)
com as memoráveis palavras: “ Fala, porque O beijo de um traidor identificara o
o teu servo ouve.” (I Samuel 3:10.) Em segui­ Mestre. Agora Judas usava seu próprio rótu­
da, o registro informa que “ crescia Samuel e lo de inevitável vergonha e opróbrio.
o Senhor era com ele... Às vezes, cidades e povos são identifica­
“ E todo o Israel, desde Dã até Berseba, dos por rótulos especiais, tal como uma fria e
conheceu que Samuel estava confirmado por velha cidade no oeste do Canadá que os mis­
profeta do Senhor.” (I Samuel 3:19-20.) sionários apelidaram de “ Kingston de
E os anos foram passando, inexoravel­ Pedra” . Mesmo com missionários trabalhan­
mente, e cumpriu-se a profecia com o recém- do o tempo todo, em seis anos haviam logra-

32 A LIAHONA
do apenas uma conversão. Ninguém se bati­ culo vicioso de derrota. Depois fiz circular a
zava em Kingston. Basta perguntar aos mis­ notícia: “ Logo será aberta nova cidade para a
sionários que serviram lá. Em Kingston, os obra de proselitismo. A mesma cidade em
dias eram marcados na folhinha como numa que Brigham Young converteu e batizou qua­
prisão. A transferência para outro lugar — renta e cinco pessoas em trinta dias.” Os mis­
fosse qual fosse — era o sonho supremo dos sionários especulavam qual seria, e nas cartas
missionários. semanais pediam-me que os transferisse para
Enquanto eu orava a respeito e pondera­ esse Shangri-lá. Deixei passar algum tempo.
va essa triste situação, pois minha responsabi­ Então escolhi cuidadosamente quatro missio­
lidade como presidente de missão, na época, nários — dois novos e dois experientes — pa­
exigia que eu orasse e ponderasse essas coisas, ra a grande aventura. Os membros do peque­
minha mulher chamou-me a atenção para um no ramo prometeram apoiá-los, e os missio­
trecho do livro História do Profeta Brigham nários empenharam sua vida. O Senhor hon­
Young para Crianças de Deta Petersen Nee- rou ambos os compromissos.
ley. Leu-me em voz alta como Brigham Dentro de três meses, Kingston tomara-se
Young chegara a Kingston, Ontário, num dia a mais produtiva cidade da Missão Canadense.
frio e nevoso. Trabalhou ali cerca de trinta Us prédios de pedra cinzentos continuavam
dias, batizando quarenta e cinco almas. (Salt de pé, a cidade não mudara em nada, a popu­
Lake City: Deseret News Press, 1959, p. 36.) lação continuava a mesma. O que mudara foi
Eis a resposta. Se o missionário Brigham a atitude — o rótulo da dúvida cedera lugar
Young pôde batizar tanta gente, os missioná­ ao rótulo da fé.
rios de hoje poderiam também. O presidente do Ramo de Kingston usa
Sem maiores explicações, retirei os mis­ seu próprio rótulo de identificação. Gustav
sionários de Kingston, a fim de quebrar o cír­ Wacker viera do Velho Mundo e falava inglês

JANEIRO DE 1984 33
com forte sotaque germânico. Jamais possuí­ filhos, cuidavam paternalmente dos muitos
ra ou dirigira um carro. O ponto alto de seu membros da Igreja que os visitavam. Um lí­
dia de trabalho era quando aparecia um mis­ der culto e sofisticado de Ottawa disse-me:
sionário para cortar cabelo. Nunca lhes co­ “ Gosto de visitar o Presidente Wacker. Saio
brava um centavo. Pelo contrário, enfiava a de lá espiritualmente reanimado e decidido a
mão no bolso e lhes dava todas as gorjetas do viver sempre achegado ao Senhor.”
dia. E se estivesse chovendo, como acontece Será que o Pai Celestial honrou tama­
freqüentemente em Kingston, mandava os nha fé? O ramo prosperou. A congregação já
missionários para casa de táxi, enquanto ele não cabia mais no prédio alugado e mudou-se
próprio, no fim do dia, trancava a pequena para uma linda e modemacapela própria. As
barbearia e saía a pé — debaixo de chuva. orações do Presidente Wacker e sua esposa
Quando me encontrei com Gustav Wac- foram atendidas, e puderam cumprir missão
ker pela primeira vez, percebi que seu dízimo na Alemanha, sua terra natal, e mais tarde
era bem maior do que se poderia esperar dele. outra no belo Templo de Washington. En­
Minha explicação de que o Senhor não nos tão, faz apenas três meses, Gustav Wacker
exige mais que dez por cento de dízimo caiu concluiu sua missão mortal e faleceu tranqüi­
em ouvidos atentos, mas não consegui con­ lamente nos braços de sua companheira eter­
vencê-lo. Respondeu simplesmente que gos­ na. Somente um epitáfio me parece acertado
tava de pagar ao Senhor tudo o que pudesse. para esse servo fiel e obediente: “ Quem hon­
Chegava mais ou menos à metade do que ga­ ra a Deus, por Deus será h o n r a d o (V e r I Sa­
nhava. Sua mulher era da mesma opinião. muel 2:30.)
Essa maneira incomum de pagar o dízimo Um rótulo comum e suportado com re­
continuou enquanto pôde trabalhar. lutância — “ deficiente” .
Gustav e Margarete Wacker fizeram de Anos atrás, o Presidente Spencer W.
seu lar um céu. Não sendo abençoados com Kimball compartilhou com o Presidente Gor­
don B. Hincldey, Élder Bruce R. McConkie e
comigo uma experiência sua por ocasião da
escolha de um patriarca para a Estaca Shreve-
port Louisiana. Contou como entrevistara,
buscara e orara para saber a vontade do Se­
nhor quanto à escolha. Por alguma razão, ne­
nhum dos candidatos sugeridos era o homem
certo para esse cargo, na ocasião.
O dia foi passando. Começou a reunião
da noite. Subitamente, o Presidente Kimball
se voltou para o presidente da estaca e per­
guntou quem era determinado irmão sentado
mais para o fundo da capela. O presidente da
estaca respondeu que se chamava James W o-
mack, ao que o Presidente Kimball retrucou:
‘ ‘Ele é o escolhido pelo Senhor como patriar­
ca da estaca. Por favor, peça-lhe que me espe­
re na sala do sumo conselho após a reunião.’ ’
O presidente da estaca, Charles Cagle,
ficou assombrado, pois James Womack não
■era visto como homem normal. Sofrerá feri­
mentos horríveis na II Guerra Mundial, per­
dendo ambas as mãos e um braço, além de
grande parte da visão e audição. Ninguém
queria admiti-lo no curso de Direito quando

34 A LIAHONA
voltou da guerra; mesmo assim, foi o terceiro qualquer um que abençoar. Garanto que se­
de sua turma na Universidade Estadual de rei a pessoa mais baixa que jamais se sentará
Louisiana. James Womack simplesmente se diante de você.
recusava a usar o rótulo de “ deficiente” . O Presidente Kimball contou que, quan­
Naquela noite, quando o Presidente do o nome de James Womack foi apresenta­
Kimball informou ao Irmão Womack que fo ­ do para apoio na conferência da estaca, “ as
ra escolhido pelo Senhor para ser o patriarca mãos dos membros levantaram-se num entu­
da estaca, houve um prolongado silêncio na siástico voto de aprovação.”
sala. Depois ele disse: “ Irmão Kimball, pelo A palavra do Senhor ao Profeta Sa­
que sei o patriarca deve colocar as mãos sobre muel, quando Davi foi designado como futu­
a cabeça de quem abençoa. Como vê, não te­ ro rei de Israel, era um rótulo adequado à
nho mãos para pôr na cabeça de ninguém.” ocasião. Sem dúvida ocorreu a todo membro
Bondosa e pacientemente, o Presidente fiel o pensamento: “ O homem vê o que está
Kimball pediu-lhe que se postasse atrás da ca­ diante dos olhos, porém o Senhor olha para o
deira dele. Depois, mandou: “ Agora, Irmão coração.” (I Samuel 16:7.)
Womack, incline-se para a frente e veja se Qual fio de ouro percorrendo a tapeça­
consegue tocar o alto de minha cabeça com o ria da vida é a mensagem do rótulo de um co­
que lhe resta dos braços.” ração humilde. Isto se deu com o menino Sa­
Para grande alegria desse irmão, conse­ muel, foi a experiência de Jesus, o testemu­
guiu tocar o Presidente Kimball e exclamou ju­ nho de Gustav Wacker e, marcou o chamado
biloso: — Consegui tocá-lo! Consegui tocá-lo! de James Womack. Seja também este o rótu­
— Logico que consegue tocar-me, — re­
lo que identifica cada um de nós: “ Aqui es­
bateu o Presidente Kimball. — E se conse­ tou, Senhor.”
guiu comigo, conseguirá tocar igualmente Em nome de Jesus Cristo. Amém.

JANEIRO DE 1984 35
Arbítrio e Amor

Élder Marion D. Hanks


do Primeiro Quorum dos Setenta

“Deus nos ama e acredita em nós,


e sempre fez e fará tudo o que pode para nos ajudar,
mas não interferirá em nosso livre arbítrio. ”

ostaria de falar nesta manhã sobre o tras mensagens. “ Sinto muito” , seria uma

G valor de nosso livre arbítrio e do amor


que o preservou para nós e que deve­
ria motivar e dirigir o uso que dele fazemos.
Muitos anos atrás, foi-me apresentada
delas, ou então: “ Como tenho sido tolo.”
A situação do mundo atual mostra que o
impensável poderia acontecer; mas não é nes­
se tipo de cataclismo que estou pensando, e
uma idéia que a princípio me pareceu mero sim em nosso dia-a-dia e relações cotidianas.
exercício de imaginação ou, talvez, um bom Aqueles que amam deveriam manifestar seu
pretexto para uma história. Mas desde aí, ve­ afeto enquanto há oportunidade de fazê-lo.
nho pensando nela vez por outra ao viajar pe­ Se esperamos pelo tempo em que todas as im­
lo mundo, muitas vezes separado de meus fa­ perfeições foram corrigidas e todas as frustra­
miliares e entes queridos. ções se foram, não estamos sendo sábios.
Suponhamos que todos no mundo rece­ Ressentimento, orgulho, egoísmo ou impa­
bessem simultaneamente a notícia da iminên­ ciência podem fazer-nos perder o que a vida
cia do inconcebível — a civilização que co­ deve e pode ser, e é para aqueles que amam e
nhecemos está por terminar. servem. Adiar o amor até uma época de per­
O que aconteceria? feita ausência de sofrimento ou desconforto é
Bem, em primeiro lugar, as ruas vira- um grande erro; ela não virá. Não é para este
riam um turbilhão de pessoas frenéticas em mundo.
busca de um telefone para conversar com al­ Devemos, sim, procurar e esforçar-nos
guém. Todas as linhas estariam ocupadas e seriamente para corrigir e melhorar nossa
todas as cabinas assediadas por gente queren­ própria atitude e conduta. Deus assim orde­
do dizer a alguém: “ Eu te amo” , além de ou­ nou. Ele nos ama e acredita em nós, e sempre

36 A LIAHONA
fez e fará tudo o que pode para nos ajudar, não quis resguardar-nos dos perigos da liber­
mas não interferirá em nosso livre arbítrio. dade, do direito e responsabilidade de optar.
“ Nós o amamos a ele” , diz a escritura “ por­ Tão profundo é seu amor e tão precioso esse
que ele nos amou primeiro.” (I João 4:19.) princípio, que ele, consciente das conseqüên­
Ele não nos ama por nós o amarmos; ele nos cias, exigiu que escolhêssemos. Lúcifer não
ama incondicionalmente. Mas o amor dele tinha amor no coração, nenhum conceito real
não se propõe a nos negar ou limitar nosso da liberdade ou respeito por ela. Não tinha
privilégio de escolher, ou nossa responsabili­ confiança no princípio nem em nós. Defendia
dade de assumir nossa escolha e sofrer as con­ a salvação forçada, a sobrevivência imposta,
seqüências dela. Na verdade, está escrito que uma estada na terra sem vontade própria.
ele chora, vendo a insensatez de alguns de Ninguém se perderia, argumentava. Mas pa­
seus filhos obstinados e desobedientes: recia não entender que ninguém tampouco se
“ Eis teus irmãos; eles são a obra de mi­ tornaria mais sábio, ou então mais forte, mais
nhas próprias mãos, e eu lhes dei sabedoria no compassivo, mais humilde ou mais grato,
dia em que os criei; e no Jardim do Éden dei ao mais criativo com seu plano.
homem o livre arbítrio.” (Moisés 7:32.) Nós sabíamos, antes de deixar o estado
“ E ... o Deus do céu olhou o resto do po­ pré-mortal, que a liberdade é precária, difícil.
vo e chorou.” (Moisés 7:28.) Sabíamos que o amor nos tomaria vulnerá­
Possuímos esse arbítrio com Deus antes veis ao sofrimento, dor e desapontamento.
da existência do mundo. N o conselho celeste Mas sabíamos também que as alternativas do
do qual falam as escrituras, foi apresentado a amor e liberdade de escolha não podem pro­
Deus um outro plano: Foi permitido a Lúci- ver o clima para o crescimento e capacidade
fer expor o seu programa. É vital para nós em criativa, capaz de, eventualmente, nos pro­
nossa liderança e em nossos relacionamentos, porcionar uma mordomia semelhante à de
recordar que Deus nos amou a tal ponto, que nosso Pai. O amor abnegado do Primogênito

JANEIRO DE 1984 37
de nosso Pai em espírito ajudou-nos a enten­ terrena, ele vem combatendo incessantemen­
der quando ele se apresentou voluntariamen­ te os filhos de Deus.
te para nos redimir, ciente do preço que teria Uma cena que nos faz hesitar é retratada
de pagar pessoalmente, mas também da im­ no Livro de Moisés:
portância eterna para todos nós. “ Satanás... tinha uma grande corrente
Optamos então e, conseqüentemente, na mão que cobria toda a face da terra com
continuamos escolhendo nesta terra. um véu de escuridão; e ele olhou para cima e
Recentemente, ouvi uma encantadora riu, e seus anjos se rejubilaram.”
jovem, recém-saída da adolescência falar nu­ Mas também está escrito:
ma conferência de estaca. Era seu primeifo “ E... anjos... (desceram) do céu, dando
discurso. Jamais conhecera uma família real­ testemunho do Pai e do Filho; e o Espírito San­
mente sua. Passara por muitos lares temporá­ to desceu sobre muitos.” (Moisés 7:26-27.)
rios, cometera muitos erros, sofrerá muito, A luta pelas almas dos homens conti­
sem esperança. Então um casal de mais idade nua. Nós continuamos escolhendo.
da Igreja a conheceu, deu-lhe amor e a ensi­ O Pai amoroso que pagou preço tão alto
nou. Seu discurso bem preparado, foi espiri­ para preservar nosso arbítrio dentro e fora
tuoso e interessante, mas, quando pôs as no­ deste mundo, embora empenhado ao máxi­
tas de lado e prestou testemunho chorando, mo em ajudar-nos a usá-lo bem, deixou claro
tornou-se mágico: a quem cabe a responsabilidade agora:
“ Ninguém nunca me ajudou a entender “ Hoj e te tenho proposto a vida e o bem,
que eu tinha algum valor, que eu era especial e a morte e o mal;
em algum sentido. Então os missionários me “ Porquanto te ordeno hoje que ames ao
falaram de Jesus Cristo e do seu amor e de Senhor teu Deus, que andes nos seus cami­
Deus, que o enviou. Ensinaram-me que Jesus nhos, e que guardes os seus mandamentos e
morreu por mim — por mim. Eu tenho valor! os seus estatutos, e os seus juízos, para que vi­
Eu tenho valor! Ele morreu por mim.” vas e te multipliques...
A lição do grande amor e sabedoria de “ Os céus e a terra tomo hoje por teste­
Deus parece perdida para muitos que estão munhas contra vós, que te tenho proposto a
nesta terra por causa de sua escolha, não sabe­ vida e a morte, a bênção e a maldição: esco­
mos por quê. Nossa responsabilidade é ajudá- lhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua se­
-los. Mas nós próprios precisamos orar eesfor- mente.” (Deuteronômio 30:15-16, 19.)
çar-nos seriamente para não obscurecermos Está escrito que “ Deus amou o mundo
seusentido.Senão amarmos de verdade e não de tal maneira que deu o seu Filho unigênito,
crermos realmente no livre arbítrio, tendere­ para que todo aquele que nele crê não pereça,
mos a impor nossa vontade aos outros no que mas tenha a vida eterna.” (João 3:16.) Esse
acharmos melhor para eles. Se amarmos de santo Filho morreu por nós e deu-nos o mara­
verdade não o faremos, mesmo correndo o vilhoso exemplo de sua vida; e nada em sua vi­
risco de insucesso. Instruções, regras, treina­ da toca meu coração com maior impacto, que
mento e disciplina são, logicamente, essen­ a maneira escolhida por ele de viver entre nós:
ciais. O exemplo de amor e paciência divina de “ Vistocomoos filhos, (istoé, nós) parti­
nosso Pai deve servir-nos de motivação para cipam da carne e do sangue, também ele par­
nos esforçarmos ao máximo ensinando, per­ ticipou das mesmas coisas...
suadindo, incentivando, ajudando. “ Porque, na verdade, ele não tomou a
Em questões de consciência e fé, porém, natureza dos anjos, mas tomou a descendên­
jamais procuraremos impor nossa vontade e cia de Abraão.
privar os outros de seu arbítrio, se realmente “ Pelo que convinha que em tudo fosse
os amamos. Este seria, afinal, o caminho de semelhante aos irmãos, para ser misericor­
Satanás. Ele continua tendo neste mundo dioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de
permissão para apregoar seu método rebelde. Deus, para expiar os pecados do povo.
Desde seu encontro com a primeira família “ Porque naquilo que ele mesmo, sendo

38 A LIAHONA
tentado, padeceu, pode socorrer aos que são
tentados.” (Hebreus 2:14, 16-18.)
É por causa desse amor que agora “ não
temos um sumo sacerdote que não possa
compadecer-se das nossas fraquezas; porém
um que, como nós, em tudo foi tentado, mas
sem pecado.” (Hebreus 4:15.)
Ele conhece nossas fraquezas, com­
preende nossas tentações. Não veio como an­
jo, mas como ser de carne e sangue, para que
pudesse ser um advogado misericordioso e
fiel para nós diante do Pai.
Nossa atitude individual em relação aos
outros seria mais condigna, se realmente “ co­
nhecêssemos suas fraquezas” e procurásse­
mos de fato ser um fiel e misericordioso sumo
sacerdote, ou professora da Sociedade de So­
corro, ou amigo, ou esposa ou marido?
A intensidade e integridade do amor de
Deus e de Cristo ultrapassam nosso entendi­
mento, mas estamos aqui para aprender e
precisamos tentar.
Neste mundo só Cristo foi sem pecado; é
por isso que a fé precisa ser acompanhada
sempre do arrependimento como primeiro
princípio. O plano de Deus e sagrado dom de transportado de avião para casa, a fim de ser
Cristo prepararam o caminho para melhorar­ operado.
mos, crescermos, mudarmos, aprendermos Por volta da hora prevista para sua che­
sabedoria, misericórdia e piedade. Do uso sá­ gada em casa, telefonei para lá. Houve uma
bio do livre arbítrio procedem todas as outras breve demora; depois, minha mulher atendeu
qualidades boas e todas as bênçãos. e falou em voz baixa e calma: “ Seus quatro
Estou plenamente convencido de que genros estão em torno dele para abençoá-lo.
qualquer ato, programa ou regra planejado Paul o ungiu, e John está para proferir a bên­
ou realizado sem o fundamento do amor, ção. Ele estava preocupado com sua ausên­
sem o espírito de amor ou que limite o arbítrio cia. Esta é a primeira administração que rece­
dos filhos de nosso Pai Celeste, não é digno be sem ser de seu pai — mas agora está tran­
do reino de Deus ou de seus líderes e povo. qüilo . ” Juntei-me a eles na oração da bênção,
Repetidamente ele tem protegido nosso de joelhos, num solitário quarto de hotel do
arbítrio eterno, ajudando-nos, assim, a nos lado oposto do mundo, num quarto que subi­
qualificar através da oposição e em face de al­ tamente me pareceu cálido e confortante.
ternativas, para a doce bênção de serviço cria­ Não importa o que aconteça ou não em
tivo eterno. Entretanto, nós temos de optar nossa vida, num dia em que as linhas telefôni­
— e arcar com a responsabilidade. cas estejam particularmente ocupadas; deve­
Isto tudo me afetou simultaneamente de mos sempre pensar no amor que temos e ex-
maneira muito pessoal há pouco mais de um temá-lo, manifestá-lo aos que nos são mais
ano, em Manila, Filipinas, quando um telefo­ caros e a todos os demais, e ao nosso santo
nema de minha mulher informou, no meio da Salvador e seu Pai.
noite, num quarto de hotel, que nosso único Poderíamos muito bem cantar: “ As­
filho sofrerá grave acidente que lhe ameaçava sombro me causa o amor que me dá Jesus.”
a mobilidade e talvez a vida. Estava sendo Em nome de Jesus Cristo. Amém.

JANEIRO DE 1984 39
Amigo ou Inimigo

Élder Charles Didier


do Primeiro Quorum dos Setenta

“Precisamos qualificar-nos como amigos


de Deus, ter o mesmo propósito, ser advogados
e fortes defensores de sua causa. ”

esde o princípio da humanidade, o le dia. Aparentemente era um processo muito

D homem tem dividido seu mundo em


dois campos, amigos e inimigos, vi­
sando gratificar seu orgulho, ambição e exer­
efetivo, não deixando margem a enganos.
Não existem muitas alternativas para a
pergunta: “ Amigo ou inimigo?” Só existem
cer poder, domínio ou compulsão sobre os duas possibilidades. Pode-se, é óbvio, fingir
adversários. ser amigo com medo de perder a vida, mas no
Os líderes militares canonizaram a ex­ fim, o resultado é quase sempre o mesmo. Ve­
pressão “ amigo ou inimigo” , imaginando di­ remos que existe certa analogia entre o pro­
versos meios de sua rápida identificação. A n ­ cesso de seleção usado pelo homem natural e
tigas histórias bíblicas nos falam desse proces­ a maneira de encontrar o homem potencial­
so seletivo. A o terminar uma batalha, os mente divino.
efraimitas procuraram escapar por vaus do Desde os primórdios da humanidade, a
Jordão. Infelizmente, esses vaus já estavam história mostra que um dos expedientes do
ocupados pelos gileaditas, seus inimigos, que homem tem sido e continua sendo criar divi­
precisavam distingüir quem era amigo ou ini­ sões artificiais e desencadear guerras santas
migo. Por isso perguntavam aos fugitivos: por causa de diferenças raciais, religiosas,
“ És tu efraimita? E dizendo ele: Não; culturais ou divergências políticas, e justificar
“ Então lhe diziam: Dize pois, Chibolete; tais crimes contra a humanidade em nome do
porém ele dizia: Sibolete, porque o não podia Senhor.
pronunciar assim bem.” (Juizes 12:5-6.) Hoje, neste mundo tão complexo, con­
E essa pronúncia errada significava a vinha lembrarmo-nos da legítima mensagem
morte. Quarenta e dois mil pereceram naque­ do próprio Cristo contra as constantes lutas e

40 A LIAHONA
um holocausto final, quando declara: “ Amai “ Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós
os vossos inimigos, bendizei os que vos maldi­ que a amizade do mundo é inimizade contra
zem, fazei o bem aos que vos têm ódio e orai Deus? Portanto, qualquer que quiser ser ami­
pelos que vos maltratam e perseguem.” (3 go do mundo constitui-se inimigo de Deus.”
Néfi 12:44.) (Tiago 4:1-4.)
Entretanto, a questão pessoal mais inci­ Quem é inimigo de Deus? Uma escritura
siva que devemos considerar é se nossa rela­ o define concisamente:
ção com a Deidade é de amigo ou de inimigo. “ Porque o homem natural é inimigo de
Se bem compreendida, devido a suas implica­ Deus, tem-no sido desde a queda de Adão e
ções eternas, essa relação poderá proporcio­ se-lo-á para sempre.” (Mosiah 3:19.)
nar vida eterna; se mal entendida, mal usada, Depois de ouvir essa grave declaração,
mal aplicada, mal interpretada ou desvirtua­ ficamos imaginando se o homem consegue
da, pode trazer a morte temporal bem como a abandonar essa natureza carnal e a crença de
morte espiritual. que esta terra é seu supremo bem, fornecen­
Tiago nos adverte: do-lhe alimento, abrigo, conforto, prazer, jo ­
“ Donde vêm as guerras e pelejas entre gos e até mesmo deuses. Conseguirá desco­
vós? Porventura não vêm disto, a saber, dos brir pela fé que é o nosso Pai Celeste que
vossos deleites, que nos vossos membros constitui o eterno bem, sabendo cultivar sua
guerreiam? amizade?
“ Cobiçais, e nada tendes: sois invejosos “ Porque pela graça sois salvos, por
e cobiçosos, e não podeis alcançar; combateis meio da fé; e isto não vem de vós; é dom de
e guerreais, e nada tendes, porque não pedis. Deus.” (Efésios 2:8.)
“ Pedis e não recebeis, porque pedis mal, Quem é, pois, um verdadeiro amigo de
para o gastardes em vossos deleites. Deus?

JANEIRO DE 1984 41
O Presidente David O. McKay explicou deve infligir, assim como uma criança se sub­
o processo: “ O homem mais semelhante a mete a seu pai.” (Mosiah 3:19; grifo nosso.)
Cristo é o verdadeiramente grande. Um dos reais propósitos da vida é tor-
“ O que pensais sinceramente de Cristo narmo-nos amigos do Mediador, nosso Sal­
em vosso coração, determinará o que sois, vador e Redentor; não apenas entender sua
determinará em grande parte quais serão os missão mas também apoiá-la e depois qualifi­
vossos atos.” (Conference Report, abril de car-nos para sermos chamados de amigo, dis­
1951, p. 93.) cípulo, e para entrar na presença do Pai.
“ Escolhendo (Jesus Cristo) como nosso “ E vos dou estas palavras para que pos-
ideal, criamos em nós o desejo de ser como ele sais compreender e saber como adorar, e sa­
é, de ser solidários com ele.” ( Conference ber o que adorais, para que venhais ao Pai em
Report, abril de 1951, p. 98.) meu nome, e no devido tempo recebais a sua
Tornar-se amigo de Deus é possível devi­ plenitude.” (D&C 93:19.)
do ao Mediador, o Príncipe da Paz, Jesus Profetas e apóstolos testificam da im­
Cristo, o Filho de Deus. Consideremos agora portância de Cristo ser nosso amigo. O teste­
alguns ensinamentos adicionais do Profeta munho do Presidente Spencer W . Kimball,
Benjamim: “ Porque o homem natural é ini­ na conferência geral do ano passado, enter­
migo de Deus, tem-no sido desde a queda de neceu meu coração, quando concluiu sua
Adão e se-lo-á para sempre a não ser que ceda mensagem testificando:
ao influxo do Espírito Santo, se despoje do “ Sei que Jesus Cristo é o Filho de Deus
homem natural, tornando-se santo pela ex- vivente e que foi crucificado pelos pecados do
piação de Cristo, o Senhor, chegando a ser mundo. Ele é meu amigo, meu Salvador, meu
como criança, submisso, manso, humilde, Senhor e meu Deus. Oro de todo o coração
paciente, cheio de amor e disposto a se sub­ que os santos guardem seus mandamentos,
meter a tudo quanto o Senhor achar que lhe tenham consigo o seu Espírito e ganhem uma
herança eterna com ele na glória celestial.”
(A Liahona, janeiro de 1983, p. 10.)
Para podermos dizer “ ele é nosso ami­
g o ” , precisamos qualificar-nos como seus
amigos, ter os mesmos propósitos, ser advo­
gados e bravos defensores de sua causa.
A amizade de Davi e Jônatas, baseada
no convênio de serem fiéis ao Senhor, pode-
-nos ensinar uma grande lição. Gostaria de
compartilhar convosco algumas qualidades
dessa amizade.
“ A alma de Jônatas se ligou com a alma
de Davi; e Jônatas o amou, como à sua pró­
pria alma.” (I Samuel 18:1.)
“ Então Jônatas falou bem de Davi a
Saul, seu pai.” (I Samuel 19:4.)
“ E disse Jônatas a Davi: Vai-te em paz;
o que nós temos jurado ambos em nome do
Senhor dizendo: O Senhor seja entre mim e ti,
e entre a minha semente e a tua semente, seja
perpetuamente.” (I Samuel 20:42.)
Como pessoas, particularmente quando
adolescentes, que espécie de amigos escolhe­
mos, adotamos, dedicamos confiança e con­
vivemos? Somos suficientemente fortes para

42 A LIAHONA
recusar-nos a ser amigos do mundo e seus re­ cação para sermos amigos de Cristo e seu Pai
presentantes? Temos força suficiente para dependem de quão fielmente vivemos o evan­
aceitar a amizade de Cristo? Ser amigo é ser gelho no lar e quão diligentemente transmiti­
complacente e render-se a padrões inferiores mos seus ensinamentos a nossos filhos.
ou ater-se aos padrões de Cristo e defendê- “ Não permitireis que vossos filhos an­
-los? Consideramos a amizade mútua como dem famintos ou desnudos, nem que trans-
um meio de manter e desenvolver nosso teste­ gridam as leis de Deus e briguem e disputem
munho de Cristo?” Banqueteai-vos com as entre si e sirvam ao d iabo,... o inimigo de to­
palavras de Cristo; sim, pois eis que as pala­ da justiça.” (Mosiah 4:14.)
vras de Cristo vos ensinarão todas as coisas Nosso desafio é escolher o certo, decla­
que devereis fazer.” (2 Néfi 32:3.) As condi­ rar que somos amigos de nosso Pai Celeste. O
ções estão estabelecidas; o modelo aí está. convênio que fizemos no batismo é um con­
Então por que não se tomar seu discípulo trato de nos tornarmos amigos de Deus.
sendo sua testemunha? Por que nutrir um Abraão foi “ chamado o amigo de
constante dilema mental? Comprometei-vos Deus” . (Tiago 2:23.) Profetas e apóstolos de­
a serdes um amigo dele! pois dele até a nossa dispensação têm sido
O mesmo desafio se nos apresenta, ao amigos de Deus. Se ainda não o sois, agora é o
ensinarmos nossos filhos a criar uma ligação momento de vos tomardes amigos de Deus.
eterna de amizade e amor. “ Mas vos mandei Temos conhecimento das escrituras, do teste­
que criásseis os vossos filhos em luz e verda­ munho dos profetas. Eu sei que meu Reden­
de.” (D&C 93:40.) Tratamos nossos filhos e tor vive. Quero poder chamá-lo de meu ami­
filhas como filhos de Deus? Ensinamo-los pe­ go, e ser chamado de amigo dele. Possamos
lo exemplo? Oramos com eles? Vamos à Igre­ todos ser dignos de ser seus discípulos, seus
ja com eles? Realizamos regularmente a noite amigos, eu oro em nome de Jesus Cristo.
familiar? Nosso progresso espiritual e qualifi­ Amém.

JANEIRO DE 1984 43
“Honra a Teu Pai
e a TítaMãe”

Élder Paul H. Dunn


do Primeiro Quorum dos Setenta

" Tratemos os idosos como gostaríamos


de ser tratados. ”

ão 15 horas na Cidade do Lago Salga­ inventarem a água?” Que golpe!

S do. Podeis imaginar a confusão que rei­


na em muitas casas, com todos queren­
do decidir o canal ou estação que querem ou­
vir? Tendo eu próprio interesse por esportes,
Bem, falando de idade, alguém indagou:
“ Você sabe quando está ficando velho?” Res­
pondi que não. Então ele explicou:
‘ ‘A gente sabe quando está ficando velho:
não pude deixar de pensar, sentado aqui, em • Quando, depois de tudo pronto, você per­
alguns sábios conselhos de meu pai. Penso cebe que seria melhor desmanchá-lo outra
que este é um lugar apropriado. vez.
“ Paul,” dizia ele, “ lembre-se: Um dia • Quando fica um pouco sem fôlego ao esco­
para a Igreja, seis dias para divertir-se. Pro­ var os dentes.
babilidade de ir para o céu — seis a um.” • Quando sabe todas as respostas, mas nin­
Também comentou: “ Sempre que pas­ guém lhe pergunta nada.
so por nossa pequena igreja, gosto de fazer- • Quando seus pés precisam de sapatos orto­
-lhe uma visitinha, para que, quando eu for pédicos.
levado para lá, o Senhor não pergunte: • Quando a cicatriz do apêndice toca seus
‘Quem é ele?’ ” joelhos.
Um dia, ao comemorarmos o aniversá­ • Quando, em lugar de cosméticos, você co­
rio de uma de minhas netas, ela estava no meu meça a pensar em tintura de cabelo.
colo, como as netas costumam fazer, e está- • Quando, sentado numa cadeira de balan­
vamos conversando sobre idade, sabedoria e ço, acha difícil pô-la em movimento.
experiência, quando de repente ela me pespe- • Quando, saindo do chuveiro, fica contente
gou a pergunta: ‘ ‘Vovô, você nasceu antes de que o espelho esteja embaçado.

44 A LIAHONA
• Quando, ao levantar pela manhã e ter um
pé calçado e o outro não, não sabe dizer se
está saindo ou indo para a cama.”
Bem, talvez, vossos sinais sejam diferen­
tes, mas, a despeito de nossos melhores pla­
nos e esforços, não escaparemos de envelhe­
cer. Como viveremos esses anos da terceira
idade depende de cada um de nós.
Para os que se encontram na idade de
ouro, ela só deveria ser odiosa, caso signifi­
casse a cessação de crescimento, o fenecimen-
to de sonhos, a morte de sentimentos. E essas
coisas, afinal, não têm nada a ver com crono­
logia e tudo com o coração. Douglas McAr-
thur observou certa vez: “ Vivam com entu­
siasmo! Ninguém fica velho desertando seus
ideais. Os anos enrugam a pele, mas abando­
nar o entusiasmo enruga a alma. Somos tão
moços quanto nossa fé, tão velhos quanto
nossa dúvida, tão jovens quanto nossa auto­
confiança, tão velhos quanto nosso medo,
tão jovens quanto nossa esperança, tão ve­
lhos quanto nosso desespero.” buições espirituais de nossos profetas passa­
A história está repleta de pessoas que fo ­ dos, e nas do Presidente Kimball, hoje.
ram ficando melhores com a idade. Miche- Winston Churchill tinha sessenta e cinco
langelo só começou seu monumental afresco anos, quando, durante a II Guerra Mundial,
na Capela Sistina aos sessenta e nove anos de empenhou seu sangue, forças, lágrimas e suor
idade. Quando faleceu, aos noventa, conti­ ao povo britânico. Albert Schweitzer tinha
nuava atarefado com suas poesias, pinturas e mais de oitenta ao andar pela África Equato­
esculturas. rial, cuidando de doentes, trabalhando em
Goethe, gênio da literatura germânica, seus manuscritos e tocando Bach ao piano.
só terminou seu clássico Fausto aos oitenta e Bem, gostaríeis de dizer-me: “ Mas essa
um. Começara-o quarenta anos antes, mas, gente era e é extraordinária, dotada além do
quando retomou o trabalho, havia aprimora­ comum.” Eu, porém, vos digo que o maior
do seu discernimento e refrescado a imagina­ talento de cada um deles era o entusiasmo, a
ção pela vivência da vida. capacidade de enfrentar cada novo dia com
Herbert Hoover empreende a tarefa de gosto e interesse e não permitir que a desola­
coordenar o fornecimento de víveres para ção da alma tomasse alento e sufocasse a vi­
trinta e oito países, aos setenta e dois anos. da. Ralph Waldo Emerson colocou-o dessa
Foi o representante dos Estados Unidos na maneira: “ Não contamos os anos de um ho­
Bélgica, com oitenta e quatro. mem até que ele não tenha mais nada para
Thomas Edison continuava seus inventos contar.” (John Bartlett, Familiar Quota-
após os noventa anos. Benjamim Franklin era tions, p. 609.)
importante figura política e um excelente diplo­ Àqueles que têm o privilégio de terem
mata, com mais de setenta e cinco anos. vivendo consigo pais e avós idosos, aconse­
Minha própria mãe, com mais de oitenta lho que se lembrem das incontáveis bênçãos
e cinco, continua pintando e cuidando do jar­ que nos trazem os idosos. Lembrai-vos das
dim. Seus quadros são bastante requisitados. admoestações do Senhor. Primeiro em P ro ­
Moisés ultrapassava os oitenta quando diri­ vérbios:
giu os israelitas. Pensai nas grandes contri­ ‘ ‘O omato dos mancebos é a sua força; e a

JANEIRO DE 1984 45
beleza dos velhos as cãs.” (Provérbios 20:29.) za” parece ter sido invertida. Nunca antes se
Depois, em Jó: deu tamanha ênfase à juventude e beleza.
“ Com os idosos está a sabedoria, e na Embora a mocidade e beleza sejam atributos
abundância de dias o entendimento. desejáveis, a idade e experiência podem ser
“ Com ele está a sabedoria e a força; con­ um bem precioso.
selho e entendimento tem.” (Jó 12:12-13.) E embora nossa moderna tecnologia da
E em seguida temos registrado em Sal­ era do computador haja prolongado e favo­
mos a preocupação: ‘ ‘Não me rejeites no tem­ recido sobremaneira a vida dos mais idosos,
po da velhice; não me desampares, quando se não tenho certeza se conseguiu substituir ou
for acabando a minha força.” (Salmo 71:9.) melhorar o toque pessoal. Das escrituras que
Em minha atual posição, muitas pessoas acabo de citar, podemos tirar três importan­
de idade avançada me procuram, em busca tes conclusões:
de conselho sobre como fazer com que seus Primeiro, há vantagens em ser velho.
familiares se interessem por eles. Li numa ve­ Segundo, podemos aprender da sabedo­
lha revista um caso assim. Não mencionava o ria e discernimento que a idade avançada e a
autor, apenas estas palavras de um observa­ experiência oferecem; e
dor entristecido: Terceiro, pessoas idosas são capazes, pro­
‘ ‘Meu vizinho é um ancião maravilhoso. dutivas e úteis e não devem ser desprezadas.
Continua muito alerta e ativo. Naquela ma­ Àqueles que perguntam se temos a obri­
nhã especial acordou mais cedo que o costu­ gação de acatar essas conclusões, a resposta
me, tomou banho, barbeou-se, enfiou suas do Senhor à pergunta de Caim: “ Sou eu
melhores roupas. Hoje, sem dúvida, pensa­ guardador do meu irmão?” (Gênesis 4:9), é
va, eles aparecerão. um retumbante sim! Disse ele: ‘ ‘Amarás o teu
“ Não fez a caminhada diária até o posto próximo como a ti mesmo.” (Mateus 19:19.)
de gasolina para conversar com os outros ido­ A questão final, suponho, deve ser:
sos da vizinhança, a fim de estar em casa “ Como cumprir isso?” Por que vós e eu com
quando chegassem. relação aos amigos e familiares idosos, não
“ Ficou sentado na varanda donde se via começamos a:
a estrada, para vê-los chegando. Certamente 1. Pedir-lhes conselhos.
não deixariam de aparecer. 2. Visitá-los ou telefonar-lhes regular­
“ Desistiu da cochilada após o almoço, mente.
pois queria estar acordado quando chegassem. 3. Incluí-los em nossas atividades.
“ Tinha seis filhos. Duas filhas e seis ne­ 4. Deixá-los falar de suas experiências.
tos casados viviam num raio de uns seis ou se­ 5. Cuidar de que sejam supridas suas ne­
te quilômetros. Fazia tanto tempo que não vi­ cessidades básicas.
nham visitá-lo. Mas hoje era uma data espe­ 6. Providenciar que sejam devidamente
cial. Sem dúvida, hoje apareceriam . atendidos, quando doentes.
“ N o jantar, recusou-se a cortar o bolo e Aproveitemos a convivência com pais,
pediu que deixassem o sorvete no congelador. avós, bisavós, amigos e vizinhos idosos. Es-
Queria esperar e comer pelo menos a sobre­ tendamo-lhes nossa mão amiga à nossa pró­
mesa com eles. pria maneira, não com piedade, mas com
“ Por volta das nove horas foi para o amor. Consideremos mais uma vez, irmãos e
quarto e aprontou-se para dormir. Suas últi­ irmãs, este conselho do Senhor: “ Honra a teu
mas palavras, antes de apagar a luz: ‘Prometa paieatuam ãe” , para que os dias deles — e os
chamar-me quando eles chegarem.’ nossos — se prolonguem sobre a terra. (Ver
“ Sabe, era seu aniversário. Fazia noven­ Êxodo 20:12; grifo nosso.)
ta e um anos.” Finalmente, tratemos os idosos como
Em nossa moderna era de sofisticação e gostaríamos de ser tratados. Lembrai-vos de
progresso, vemos, um pouco perturbados, que o nosso dia está chegando. Em nome de
que a velha máxima de “ idade precede a bele­ Jesus Cristo. Amém.

46 A LIAHONA
A Casa do Senhor

Élder Adney Y. Komatsu


do Primeiro Quorum dos Setenta

“Se não recebermos todas as ordenanças


do templo e obedecermos aos mandamentos,
não poderemos receber a plenitude das
bênçãos do sacerdócio, e tampouco a exaltação. ”

os últimos meses, vimos o término e toístas construíam muitos santuários e tem­

N dedicação de vários templos da Igreja

— um em Atlanta, Geórgia;
Apia, Samoa; um em Nuku’Alofa, Tonga; e
plos no Japão, mas era a primeira vez que via
uma igreja cristã construindo um templo. As
umreligiões
em cristãs são conhecidas como constru­
toras de lindas capelas e catedrais, mas nunca
outro em Santiago, Chile. Outros se encon­ soubera da existência de um templo cristão.
tram ainda em fase de projeto e construção, Das muitas igrejas que professam o cristianis­
além dos muitos em funcionamento nas di­ mo, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos
versas partes do mundo. Últimos Dias é a única que edifica templos.
Sou grato pelo meu atual chamado espe- O construtor foi informado de que o tem­
cialcomopresidentedoTemplodeTóquio.É plo seria um edifício sagrado, uma casa santa
uma grande alegria e privilégio poder conver­ para realização da gloriosa obra de salvação de
sar com os santos que chegam a esse sagrado vivos e mortos, na qual seriam realizados batis­
edifício, a fim de participar de suas bênçãos. mos e outras ordenanças pelos mortos, a fim de
Por que a Igreja edifica e mantém tem­ proporcionar a união eterna de marido e mu­
plos? lher, pais e filhos, tanto dos vivos como dos
Esta foi a pergunta do construtor do mortos, e onde famílias inteiras seriam seladas
Templo de Tóquio, ao iniciar a obra uns cinco por todo o tempo e eternidade.
anos atrás. Observou que os budistas e xin-
JANEIRO DE 1984 47
A instrução ao Profeta Joseph Smith foi novamente foram forçados a fugir para sal­
muito clara, ao receber esta revelação no dia 2 var a vida.
de agosto de 1833, três anos apenas após a or­ Depois de aproximadamente cinco
ganização da Igreja, sobre a construção de anos, o Profeta Joseph Smith recebeu mais
um templo: esta revelação:
“ Na verdade vos digo que é do meu de­ “ Pois não há lugar nenhum na terra em
sejo que a mim seja construída uma casa na que ele possa vir para vos restaurar outra vez
terra de Sião, de conformidade com o mode­ aquilo que se perdeu, ou aquilo que ele levou,
lo que vos dei. mesmo a plenitude do sacerdócio.
“ Sim, que seja construída rapidamente, “ Pois não existe na terra uma fonte ba­
com o dízimo do meu povo. tismal, onde os meus santos possam ser bati­
“ Eis que este é o dízimo e o sacrifício que zados pelos mortos —
eu, o Senhor, exijo de suas mãos, que a mim se “ Pois essa ordenança pertence à minha
construa uma casa para a salvação de Sião — casa, e não pode ser aceitável a mim a não ser
em dias de penúria, quando não podeis cons­
‘ ‘Para que seja para os santos um lugar de
truir uma casa a mim...
ações de graça, um lugar de instrução para to­
‘ ‘E na verdade vos digo que seja esta ca­
dos aqueles que forem chamados à obra do mi­
sa construída em meu nome, para que nela
nistério, nos seus diversos chamados e ofícios:
eu possa revelar ao meu povo as minhas or­
“ Para que se aperfeiçoem na compreen­
denanças;
são do seu ministério, em teoria, em princí­
“ Pois à minha igreja me digno revelar
pio, e em doutrina, em todas as coisas concer­
coisas que têm sido conservadas ocultas desde
nentes ao reino de Deus na terra, as chaves do
antes da fundação do mundo, coisas que di­
qual foram conferidas sobre vós.
zem respeito à dispensação da plenitude dos
“ E se o meu povo a mim construir uma
tempos.” (D&C 124:28-30, 40-41.)
casa em nome do Senhor, e não permitir que Nesta revelação, registrada na seção 124
nela entre coisa alguma impura para profaná-
de Doutrina & Convênios, há referência à
-la, a minha glória sobre ela descansará:
“ plenitude do sacerdócio” . O que isto quer
“ Sim, e a minha presença aí estará, pois dizer e como se obtém? Ensina o Profeta Jo­
entrarei nela, e todos os puros de coração que seph Smith: “ Se um homem recebe a plenitu­
a ela vierem, verão a Deus. de do sacerdócio de Deus, deve obtê-la da
“ Mas, se ela for violada, eu não entrarei mesma forma que Jesus Cristo a alcançou, is­
nela, e a minha glória aí não estará; pois eu to é, guardando todos os mandamentos e
não entrarei em templos impuros.” (D&C obedecendo a todas as ordenanças da casa do
97:10-17.) Senhor.” (Ensinamentos do Profeta Joseph
Embora na época a Igreja contasse com Smith, p. 300.)
muito poucos membros, todos eles se sacri­ O Presidente Joseph Fielding Smith en­
ficaram grandemente, e o Templo de Kir- sina mais: “ Se quiserdes salvação em sua ple­
tland foi terminado e dedicado. O Senhor nitude, isto é, exaltação no reino de Deus, de
apareceu em glória aceitando o templo. modo a vos tomardes seus filhos, tereis que ir
Moisés, Elias e Elaías apareceram igualmen­ ao templo do Senhor e receber essas sagradas
te, a fim de conferirem suas chaves e dispen- ordenanças naquela casa, que não podem ser
sações. (Ver D&C 110.) obtidas em nenhum outro lugar. Nenhum
Todavia, antes de dar realmente início às homem receberá a plenitude da eternidade,
obras no Templo de Kirtland, os santos tive­ da exaltação sozinho; nenhuma mulher rece­
ram de fugir dos ataques da populaça. O tem­ berá esta bênção sozinha; porém, homem e
plo caiu nas mãos de homens ímpios e, con­ mulher, quando recebem o poder selador no
forme foi dito na revelação, quando foi pro­ templo do Senhor... passarão para a exalta­
fanado o Senhor o rejeitou. Os santos procu­ ção e hão de continuar e tornar-se como o Se­
raram construir um templo no Missouri, mas nhor. E este é o destino dos homens, isto é o

48 A LIAHONA
que o Senhor deseja para seus filhos. ” (D o u ­
trinas de Salvação, 2:44.)
Está claro, pois, que, se não formos ao
templo do Senhor e recebermos todas as or­
denanças e obedecermos aos mandamentos,
não poderemos receber a plenitude das bên­
çãos do sacerdócio e tampouco a exaltação.
Estas maravilhosas bênçãos estão ao nosso
dispor através da obra do templo.
Sou membro da Igreja quase toda mi­
nha vida. Fui batizado aos dezessete anos e
ordenado ao Sacerdócio de Melquisedeque
aos vinte e um. Quando ainda moço, servi em
muitos cargos e tive muitas boas experiências
na Igreja que me ajudaram a conhecer muitos
conceitos que promoveram minha fé e teste­
munho. Entretanto, nunca senti ser membro
pleno da Igreja até haver levado minha noiva
ao templo e lá recebido o novo e eterno con­
vênio, e as bênçãos e conhecimento da obra
que nele se realizam.
Fui o primeiro de minha família a bati-
zar-se na Igreja, e assim, tenho a responsabili­
dade de realizar a obra vicária no templo por
meus antepassados que não tiveram a oportu­
nidade de ouvir o evangelho, enquanto vivos Élder Yoshihiko Kikuchi, do Prim eiro Quorum dos
Setenta.
na terra. Tenho também a responsabilidade
de ensinar o evangelho aos meus filhos e insti-
lar em seu coração e mente a importância da zar, não restando nada para uma festa de ca­
obra do templo. Minha mulher e eu temos qua­ samento ou lua-de-mel. Quando seus acom­
tro filhos, o mais velho dos quais é casado e tem panhantes souberam disso, deram do pouco
dois filhos — nossos netos, muito queridos por que tinham para presentear o casal com uma
nós. Nossos filhos nasceram dentro do convê­ deliciosa lua-de-mel de um dia em Tóquio.
nio, como também nossos netos. A coisa mais Estes jovens não só gozaram as bênçãos do
preciosa que poderia dar a meus filhos ou netos templo, como também se deleitaram e apre­
nesta vida, ou o mais valioso legado que pode­ ciaram a generosidade de seus irmãos e irmãs.
ria deixar-lhes é o testemunho da veracidade do Sem dúvida se aplica a eles o ensinamento de
evangelho e a importância da obra genealógica Paulo aos efésios, quando diz: ‘ ‘Assim que já
e do templo, que nos une a todos pelas gerações não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas
afora em amor e felicidade. concidadãos dos santos e da família de
Muita gente no mundo empreende lon­ Deus.” (Efésios 2:19.)
gas viagens com grande sacrifício pessoal pa­ Tenho o firme e permanente testemu­
ra ir a um templo. Sei que nosso Pai Celeste nho da importância desta obra e das bênçãos
está atento aos seus justos desejos e os aben­ que pode proporcionar a nossa vida. Externo
çoa abundantemente por seus esforços. Re­ minha gratidão por esse testemunho e pela
centemente chegou ao templo de Tóquio um pequena parte que agora exerço no ensino da
grupo de Okinawa — mil e quatrocentos qui­ genealogia e obra d a templo. Que todos se­
lômetros de avião — entre eles um casal de jam abençoados por receber a plenitude das
noivos para casar-se. Os dois tiveram de gas­ bênçãos da Casa do Senhor, eu oro em nome
tar todo dinheiro que conseguiram economi­ de Jesus Cristo. Amém. k ; s io l

JANEIRO DE 1984 49
Veio o Anjo Morôni!

Élder Mark E. Petersen


do Quorum dos Doze Apóstolos

“ O Livro de Mórmon fo i restaurado nestes dias,


por ministração angélica e por ordem do próprio Deus. ”

az mais ou menos duas semanas, come­ Muita gente já não mais acredita no mi­

F moramos um dos mais importantes


aniversários na história da Igreja. Foi
no dia 21 de setembro de 1823 que o Anjo
Morôni apareceu pela primeira vez ao jovem
nistério dos anjos. Mas Deus sim! Ele vem
usando esse meio de comunicação desde os
dias de A d ão. Haveria algum motivo para não
continuar fazendo em nossos dias?
profeta Joseph Smith, em sua casa na zona Anjos ministraram a numerosas pes­
rural de Palmyra, Nova York. soas, transmitindo mensagens do Senhor,
Lembrando-o hoje, declaramos nosso tanto nos tempos do Velho como do Novo
solene testemunho a toda a humanidade de Testamento.
que M orôn i realmente veio! É um fato, ver­ Abraão andou e conversou com anjos.
dade firme e inabalável. Morôni veio! Um anjo assistiu Israel por ocasião do Êxodo.
Como um anjo de Deus, um mensageiro (Ver Êxodo 14:19.) Um anjo combateu um
dos céus, esse glorioso personagem visitou exército invasor nos dias do Profeta Isaías.
Joseph Smith de forma física. Nâo foi um so­ (Ver Isaías 37:36.) Quando Daniel foi lançado
nho, nem qualquer espécie de acontecimento na cova dos leoes, um anjo cerrou a boca de­
místico. les, salvando-lhe a vida. (Ver Daniel 6:22.)
F o i uma visitação. Dois seres físicos se Gabriel, o anjo, anunciou à virgem Ma­
encontraram — com Morôni, pessoa ressur- ria, em Nazaré, que ela seria a mãe do Salva­
reta de carne e ossos, emergindo do véu eter­ dor. (Ver Lucas 1:30-33.) O mesmo anjo in­
no e realizando repetidas e inesquecíveis visi­ formou ao pai de João Batista do nascimento
tas ao rapaz do campo, Joseph Smith. (Ver iminente dele. (Ver Lucas 1:13.)
Joseph Smith 30:54.) Quando José e Maria e o Infante divino

50 A LIAHONA
fugiram para o Egito, foram guiados por um ra em sua época um profeta de Deus. Ele e seu
anjo; depois da morte do iníquo Rei Herodes, pai, Mórmon, foram historiadores do povo
foi ele quem lhes disse que poderiam voltar que habitou esta terra em outros tempos. Eles
para casa. (Ver Mateus 2:13; 19-20.) escreveram a história do seu povo, gravando-
Falando da santidade das crianças pe­ -a sobre placas de ouro, a fim de que resistisse
quenas, disse o Salvador: “ Vede, não despre­ aos rigores do tempo, pois teria suma impor­
zeis algum destes pequeninos, porque eu vos tância nos últimos dias.
digo que os seus anjos nos céus sempre vêem a A fim de preservá-la em segurança, M o­
face de meu Pai que está nos céus.” (Mateus rôni a encerrou numa caixa feita de pedra que
18:10; grifo nosso.) enterrou. Alguns críticos consideram isso
Na hora de sua crucificação, Jesus pode­ muito estranho, mas teria sido mais estranho
ria ter chamado doze legiões de anjos para so- se não o fizesse. Por quê?
corrê-lo, quisesse ele evitar a taça amarga. Porque sua maneira de agir estava de
(Ver Mateus 26:53.) Então, existem ou não pleno acordo com um tradicional costume de
anjos? Jesus o teria dito, se não existissem? várias nações do mundo para preservar e pro­
Em sua ressurreição, um anjo afastou a teger seus documentos preciosos.
pedra da entrada do sepulcro . As mulheres o vi- Durante muitos séculos, gravaram-se re­
ram e ouviram-no falar. (Ver Mateus 28:2, 5.) gistros em metal. Alguns deles foram recupe­
rados até agora, como as preciosidades en­
A o prestar seu último testemunho aos
contradas desde a Coréia até Sri Lanka, da
perseguidores, o rosto de Estêvão brilhava
antiga Assíria e Pérsia até a índia, de Java a
como o de um anjo. (Ver Atos 6:15.)
Bangkok, na Itália, na Grécia e nas cavernas
Um anjo libertou Pedro da prisão. (Ver
de Qumram, na Palestina, onde foram en­
Atos 5:19.) Paulo refere-se às línguas dos ho­
contrados os pergaminhos do Mar Morto.
mens e dos anjos. (Ver I Cor. 13:1.)
As escrituras ensinam claramente que o
propósito do ministério dos anjos é “ chamar
os homens ao arrependimento... declarando
a palavra de Cristo aos vasos escolhidos do
Senhor, para que dêem testemunho dele” .
(Morôni 7:31.) E isto é bastante pertinente no
caso de Morôni.
O Senhor ensina ainda que, se os anjos
deixaram de aparecer no decorrer dos tem­
pos, é por causa da descrença e espírito de
apostasia entre os homens. Mas, havendo fé,
o ministério dos anjos prosseguirá, enquanto
a terra existir ou “ houver no mundo um ho­
mem para ser salvo” . (Morôni 7:36.)
Como o Senhor desejava salvar a humani­
dade, mesmo até o fim, revelou a João, o Re­
velador, que, nos últimos dias, anjos volta­
riam a voar pelos céus como emissários do
Onipotente. João viu que um desses anjos
voaria dos céus para a terra, trazendo de volta
a esta o evangelho eterno, que estivera perdi­
do durante séculos para a humanidade. (Ver
Apocalipse 14:6.)
Esse anjo era Morôni, o qual vivera na
América uns mil e quinhentos anos antes e fo­

JANEIRO DE 1984 51
Nem todos esses registros foram grava­ das juntas. Algumas foram feitas de obsidia-
dos sobre ouro. Os povos antigos usavam na, apresentando lindos entalhes interna e ex­
também placas de prata, bronze, cobre, ternamente. Destinavam-se a guardar várias
chumbo e, em alguns casos, até mesmo esta­ coisas preciosas. De caixas de pedras maiores
nho, que não se provou ser muito resistente, que foram encontradas, sabe-se que se desti­
pois oxida com mais facilidade que alguns ou­ navam para estocagem de cereais.
tros metais. Na América Central e no México, têm
Uma das mais apregoadas dessas desco­ sido descobertas dezenas de caixas de pedra,
bertas foi a do rolo de cobre encontrado com grandes e pequenas, algumas igualmente be­
os outros pergaminhos do Mar Morto, na Pa­ las, entalhadas por dentro e por fora.
lestina. Ele continha, igualmente, antigos es­ Ninguém mais precisa continuar alimen­
critos sagrados. tando ceticismo acerca de registros antigos
O Rei Dario, que lançou Daniel na cova feitos sobre metal para maior durabilidade,
dos leões (ver Daniel 6), escrevia seus registros nem quanto ao fato de serem guardados em
em folhas de ouro ou prata que eram guarda­ caixas metálicas ou de pedra.
das em caixas de pedra e enterradas no chão, Certamente havia registros sobre metal
exatamente como fez Morôni. Seus registros nos tempos antigos. Certamente eram de ou­
já foram traduzidos e publicados. Para asse­ ro, prata, cobre e chumbo! Certamente mui­
gurar que pudessem ser lidos algum dia, Da­ tos datam da época em que Léhi saiu de Jeru­
rio escrevia em três idiomas diferentes. salém e, sem dúvida, esse costume foi levado
O antigo rei assírio Sargão II teve a mes­ por ele para a América!
ma idéia, só que usava metais diversos para O último dos antigos profetas america­
seus livros — ouro, prata, bronze, cobre e nos foi Morôni. Ele e Mórmon, seu pai, com­
mesmo estanho. Gravava também em alabas- pilaram os anais sagrados de seu povo cobrin­
tro. Desejava preservar seus registros a todo do mil anos e incluindo o registro de um povo
custo para a posteridade. Então, o que fez? mais antigo ainda, os jareditas, que chegaram
Como Dario e Morôni, guardou-os em caixas a este continente vindos da Torre de Babel.
de pedra muito bem feitas e enterrou-os nos Os registros jareditas estavam gravados em
alicerces de seu palácio. Esses registros fo­ vinte e quatro placas de ouro sólido.
ram, igualmente, traduzidos e publicados. Após a destruição de seu povo, e sendo o
Um livro composto de dezenove finas fo­ único sobrevivente de terríveis batalhas que se
lhas de ouro, encontrado na Coréia em 1965, travaram, Morôni também fez uma caixa de
contém parte da escritura budista escrita em pedra, nela guardou o registro feito por ele e
chinês. As finas placas desse valioso registro seu pai, e a enterrou no chão como medida de
medem aproximadamente vinte e cinco centí­ segurança, exatamente como haviam feito
metros de lado, presas por argolas para que Dario e Sargão. Ali deveria ficar até o dia em
possam ser abertas e fechadas como um livro. que o Senhor decretasse sua retirada.
As placas descobertas em 1964, em Nestes tempos modernos, a simples
Pyrgi, na Itália, tinham cerca de dezenove menção de anjos produz escárnio e risos de
centímetros de altura, com aproximadamente alguns ouvintes críticos, que afirmam serem
metade de largura, e descreviam em caracteres as ministrações angélicas coisas do passado,
fenícios a dedicação de um santuário da deusa se é que existiram.
Astarote. Datam aproximadamente de 500 Asseguram também que não existe mais
A .C ., mais ou menos a mesma época de Léhi. revelação dos céus, tampouco apóstolos e
É interessante que alguns desses antigos profetas na terra, visto que pertenceram à
registros foram escondidos em caixas de pe­ época de Pedro e Paulo. Ensinam que a Bí­
dra especialmente confeccionadas para isso, blia contém o necessário para qualquer caso e
como a de Morôni, algumas talhadas em um é um guia perfeito para a salvação. Esque-
único bloco, outras feitas de placas cimenta­ cem-se de que a escritura é objeto de tantas in-

52 A LIAHONA
terpretações quantas denominações e credos divino episódio, uma revelação moderna dos
existem no mundo, e eles chegam às centenas. céus, um renovado esforço do Todo-Podero-
Nós afirmamos que existe revelação ho­ so para apresentar o evangelho de seu Amado
je em dia! Que existem apóstolos e profetas Filho às nações de hoje.
na terra agora! São inspirados e falam de fato Só existe um único evangelho de Cristo.
a palavra de Deus. Maravilhosas e repetidas Estava de posse desse anjo voando no meio
visitações angélicas aconteceram nos tempos dos céus, e que o trouxe de volta à terra como
modernos, quando Deus voltou a estabelecer restauração celeste de divinas verdades. E re­
sua Igreja divina na terra, após um longo pe­ petimos — esse anjo foi Morôni.
ríodo de trevas. De que maneira ou forma ou por meio
Morôni cumpriu duas profecias bíbli­ de que método Môroni restaurou o evange­
cas, ao visitar Joseph Smith. João, o Revela­ lho eterno? Foi por algum meio tangível?
dor, viu um anjo voando pelo céu, trazendo o Amós, o antigo e inspirado vidente do
evangelho eterno de volta à terra. (Ver A p o ­ Senhor, ensinava que Deus opera através de
calipse 14:6-7.) Diz ainda que esse anjo voaria profetas. Dizia, de fato, que Deus não faz na­
“ na hora do juízo (de Deus)” (Apocalipse da sem antes revelar seu plano aos seus ser­
14:7), o que só pode significar os últimos dias. vos, os profetas. (Ver Amós 3:7.)
Isto o torna um acontecimento estritamente Então, como agiria Deus para trazer no­
moderno. vamente à terra o evangelho nos tempos mo­
Ele veio como foi predito, e Morôni era dernos? Nela não havia profetas aos quais
esse anjo. Sua vinda deu início a uma nova pudesse falar. O mundo já nem mais cria ne­
dispensação do evangelho de Cristo, direto de las. Se o Senhor não fizesse alguma coisa —
Deus, sem nenhuma relação com qualquer nem mesmo enviasse seu anjo à Terra para
outro movimento religioso. Era um novo e restaurar o evangelho — sem os serviços de

JANEIRO DE 1984 53
um profeta vivo, como conseguiria realizar de pedra, exatamente como fizeram o Rei
seu divino propósito? Como poderia consu- Dario e o Imperador Sargão em seus dias.
mar-se a visitação angélica predita para os úl­ Tendo ocultado o registro, Morôni foi
timos dias, se não houvesse profeta para agora chamado por Deus para recuperá-lo e
recebê-la? entregá-lo ao novo profeta, a fim de que fosse
Deus só podia fazer uma coisa, isto é, le­ publicado. Dessa maneira, devolveu o evan­
vantar um novo profeta para esse fim em par­ gelho à terra, pois o registro continha o evan­
ticular, e isto ele o fez na pessoa do Profeta gelho em sua simplicidade e plenitude. O re­
Joseph Smith Jr., que vivia nos arredores de gistro estava ali, era a palavra de Deus e veio à
Palmyra, Nova York, em 1823. Foi a este jo ­ luz por obra de Deus. Era um poderoso mila­
vem que o Anjo Morôni veio. gre de Deus.
E como o anjo entregou o evangelho a Assim, pois, Morôni cumpriu, visitando
Joseph Smith, devolvendo-o, assim ao co­ Joseph Smith, duas profecias bíblicas: o capí­
nhecimento público? tulo 14 de Apocalipse e o capítulo 29 de
O profeta Isaías o explica. N o capítulo Isaías. Ele veio à terra em forma de um anjo.
vinte e nove de seu livro, ele fala de um antigo Entregou a Joseph Smith as placas de ouro
registro que seria revelado nos últimos dias, contendo o registro que havia preparado por
numa época que precederia a restauração da ordem direta do Deus Onipotente. Ele é uma
Palestina como campo fértil. (Vers. 17.) Esse nova testemunha do Senhor Jesus Cristo; de­
registro se apresentaria em forma de livro, a clara, como faz a Bíblia, que Jesus de Nazaré
respeito de um povo que fora destruído subi­ é de fato o Filho de Deus, nosso Salvador e
tamente. (Veja Vers. 5.) Redentor. O livro está à disposição de toda a
Certas palavras desse livro, prediz humanidade. Um milhão de exemplares são
Isaías, seriam levadas a um homem erudito publicados anualmente em mais de uma vin­
que as rejeitaria. Então, diz ele, o livro pro­ tena de línguas.
priamente dito seria entregue a um homem Assim, mais uma vez testificamos que o
inculto, que agora sabemos ser Joseph Smith, Livro de Mórmon é verdadeiro. É a palavra
que se enquadra na descrição de Isaías, pois do Deus Todo-Poderoso, restaurado nestes
tinha pouquíssima instrução formal. Em suas dias por ministração angélica e por ordem do
mãos, afirma Isaías, esse livro seria publicado próprio Deus. Testificamos que Morôni veio
ao mundo pelo poder maravilhoso de Deus, como um anjo, em 21 de setembro de 1823,
tornando-se uma obra maravilhosa e um as­ revelando seu antigo registro e que o fez como
sombro. (Ver Isaías 29:11-12, 14; Joseph servo de Jesus Cristo. Antes de sua publica­
Smith 63-65.) ção, permitiu que doze cidadãos americanos
Esse livro era o mesmo volume prepara­ modernos, de boa reputação, examinassem
do em outros tempos por Mórmon e Morôni, as placas de ouro, a fim de que pudessem tes­
contendo as simples e maravilhosas verdades temunhar que as viram ou manusearam.
do evangelho em sua plenitude, conforme ha­ Testificamos que Joseph Smith foi de
viam sido ensinadas pelos antigos profetas fato um profeta moderno de Deus, levantado
americanos. Foi chamado de Livro de M ór­ especialmente para o propósito descrito.
mon . Foi este livro que Morôni colocou ao al­ E testificamos, com toda solenidade,
cance do mundo através do Profeta Joseph que Jesus Cristo de Nazaré é o Filho de Deus,
Smith. Assim, esse registro contendo o evan­ nosso Salvador, nosso Redentor, nosso Cria­
gelho eterno restaurou ao homem as verdades dor. Testificamos ainda que somos seus ser­
salvadoras necessárias à salvação, que só se vos ordenados e falamos pelo poder que ele
alcançam através de Cristo. restaurou e nos conferiu nestes dias. E testifi­
Morôni ocultara esse registro debaixo camos, com toda solenidade, que a obra em
do solo uns quatrocentos anos depois de Cris­ que estamos empenhados é realmente verda­
to, e sabia exatamente onde recuperá-lo. deira, em nome do Senhor Jesus Cristo.
Enterrou-o depois de encerrado numa caixa Amém.

54 A LIAHONA
SESSÃO D O S A C E R D Ó C IO ,
1? de outubro de 1983.

Nossa Responsabilidade
de Levar o Evangelho
Até os Confins da Terra

Élder Jack H. Goaslind Jr.


do Primeiro Quorum dos Setenta

As instruções do Senhor continuam em vigor:


“Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda
a criatura. ” (Marcos 16:15.)

oucos anos atrás, havia uma série po­ abordado, escolheu exatamente este: “ Ide

P pular de palestras intituladas a “ Últi­


ma Preleção” . Conhecidos membros
SUD eruditos eram convidados a escolher um
por todo mundo, pregai o evangelho a toda a
criatura.” (Marcos 16:15.) E os discípulos
partiram e “ pregaram por todas as partes,
assunto que consideravam tão importante cooperando com eles o Senhor, e confirman­
que bem poderia ser o tema do último discurso do com os sinais que se seguiram” . (Marcos
que lhes fosse permitido fazer. A escolha dos 16:20.)
assuntos proporcionou-nos certos pontos de Oro nesta noite que eu seja capaz de co­
vista muito interessantes. Ocorreu-me que mentar a última preleção do Senhor, ensinan-
nosso Senhor, depois da ressurreição, mas an­ do-vos, portadores do sacerdócio, segundo
tes da ascensão, também fez uma “ última os convênios, e motivando-vos a reagir como
preleção” profundamente significativa a seus discípulos do Senhor, com fé e inabalável de­
discípulos. De todos os assuntos de seu vasto dicação. Espero particularmente que os jo ­
acervo de sabedoria eterna que poderia ter vens do Sacerdócio Aarônico percebam a im-

JANEIRO DE 1984 55
portância do que vou falar, porque é a eles excetuando a expiação propriamente dita —
que caberá a principal responsabilidade de le­ em nossa obra de salvar nossos semelhantes.
var o evangelho aos confins da terra. Na verdade, foi-nos dito: “ Se não forem sal­
A vida de Deus — a vida eterna, exalta­ vadores dos homens, serão como o sal que
da que todos almejamos — é inerentemente perdeu o seu sabor.” (D&C 103:10.)
dedicada à salvação das almas. “ Proporcio­ O Senhor não deixou ao acaso a execu­
nar a imortalidade e vida eterna ao homem” é ção dessa obra sagrada. Por meio de convê­
a “ obra e... glória” de Deus. (Moisés 1:39.) nios sagrados, ele impõe essa responsabilida­
E é proporcionando as condições necessárias de a todos os membros do seu reino, capaci­
para a salvação de seus filhos que Deus se glo- tando-nos simultaneamente a cumprir esse
rifica, progride e expande seus domínios. convênio. Até mesmo as crianças e jovens têm
(Ver D&C 132:31.) esse sagrado dever e igual poder de fazê-lo.
Paulo diz que Deus “ quer que todos os O Élder John A . Widtsoe ensinava que
homens se salvem” . (I Timóteo 2:4.) Para em nosso estado pré-mortal “ nós concorda­
nosso Pai Celeste, “ o valor das almas é gran­ mos ... em ser salvadores não só de nós mes­
de” (D&C 18:10), e “ a redenção da(s) sua(s) mos como mensuravelmente, salvadores de
alma(s) é caríssima” . (Salmo 49:8.) Por isso toda a família humana... A execução do pla­
Deus enviou seu Filho, o Salvador e Reden­ no tomou-se assim não só a obra do Pai e do
tor, para romper os laços da morte e expiar os Salvador, mas também a nossa” . (Utah G e-
pecados dos homens carnais e decaídos. O nealogical and Historical Magazine, outubro
Senhor sofreu a dor de todos os homens para de 1934, p. 189.) Entendemos, como notou o
que todos eles pudessem vir a ele, desde que se Presidente George Albert Smith, que “ não
arrependessem. (Ver D&C 18:11-12.) podemos receber o favor beneficente de nos­
Nosso encargo de proclamar arrependi­ so Pai Celeste que nos é concedido, o conhe­
mento a todos os povos é conseqüência direta cimento da vida eterna, e retê-lo egoistica-
da expiação eterna e infinita. (Ver D&C mente, pensando que assim seremos aben­
18:10-14.) É ensinando o evangelho e minis­ çoados. Não é o que recebemos que enriquece
trando as ordenanças que a expiação se toma nossa vida, mas o que damos” . (Conference
atuante na vida de uma pessoa. Conforme diz Report, abril de 1935, p. 46.) Portanto,
Paulo: “ Como pois invocarão aquele em “ aqueles que recebem a mensagem estão
quem não creram? e como crerão naquele de obrigados,” diz o Élder Widtsoe, “ pelo imu­
quem não ouviram? e como ouvirão, se não tável acordo celebrado antes da organização
há quem pregue?” (Romanos 10:14.) deste mundo... (a) fazerem tudo que pude­
Jesus Cristo exemplificou pessoalmente rem para levá-la à atenção de outros ” . (Pries-
como devemos cumprir esse chamado. thoodandChurch Government, pp. 318-19.)
Anunciou o propósito de seu ministério, ci­ Essas solenes promessas pré-mortais são
tando Isaías em seu primeiro sermão público renovadas e confirmadas sobre nós nas orde­
na sinagoga de Nazaré. nanças de salvação. No batismo, por exem­
“ O Espírito do Senhor é sobre mim, plo, fazemos convênio de “ servir de testemu­
pois que me ungiu para evangelizar os pobres, nhas de Deus em qualquer tempo, em todas as
enviou-me a curar os quebrantados de cora­ coisas e em qualquer lugar em que (nos encon­
ção, a apregoar liberdade aos cativos, e dar tremos), mesmo até a morte” . (Mosiah 18:9.)
vista aos cegos; a pôr em liberdade os oprimi­ A promessa é que o Senhor derramará “ seu
dos; a anunciar o ano aceitável do Senhor.” Espírito com mais abundância sobre vós” .
(Lucas 4:18-19.) (Mosiah 18:10.) E aò participar do sacramen­
As condições de nosso discipulado im- to renovamos esses convênios, com a promes­
põem-nos missão idêntica, pois ele disse: “ As sa de que se formos fiéis, teremos sempre co­
obras que me vistes fazer, essas mesmas fa­ nosco o seu Espírito. (Ver D&C 20:77.)
reis.” (3 Néfi 27:21.) Nós temos o necessário Novamente, somos “ dotados com o po­
poder para fazer tudo o que fez o Salvador — der do alto” em lugares santos, o qual nos ca-

A LIAHONA
pacita a sairmos “ entre as nações” . (D&C Precisamos entender que recebemos
38:32-33.) Na dedicação do Templo de Kir- uma comissão divina de Deus e que, negligen-
tland, Joseph Smith orou: “ Pai Santo, que os ciando-a, pomos em risco nossa salvação.
teus servos possam sair desta casa armados Disse o Presidente Spencer W . Kimball: “ Se
com o teu poder, e que teu nome esteja sobre não fizermos nosso dever com respeito ao ser­
eles, e toda glória ao redor deles, e que os teus viço missionário, estou certo de que Deus nos
anjos zelem por eles; responsabilizará pelas pessoas que podería­
“ E que deste lugar levem, em verdade, mos ter salvo, tivéssemos cumprido nosso de­
extremamente grandes e gloriosas novas aos ver.” (Ensign, outubro de 1977, p. 5.) Isto
confins da terra.” (D&C 109:22-23.) ecoa a grave doutrina de Jacó: “ Nós magnifi-
Obedecendo aos mandamentos e cum­ camos nosso oficio para o Senhor, tomando
prindo esses convênios, somos santificados, sobre nós a responsabilidade de responder
purificados e nascemos do Espírito, toman- pelos pecados do povo, se não lhe ensinásse­
do-nos vasos dignos de receber o Santo Espíri­ mos com diligência a palavra de Deus; e assim
to e os dons associados do Espírito que têm de trabalhando com toda nossa força, seu san­
acompanhar esta obra se quisermos ter suces­ gue não mancharia nossas vestimentas; do
so. O cumprimento dos mandamentos, expli­ contrário, o seu sangue cairia sobre nossas
ca Morôni, “ traz a remissão dos pecados.” vestimentas e não teríamos sido achados sem
“ E a remissão dos pecados produz a hu­ mancha no último dia.” (Jacó 1:19.)
mildade e a brandura de coração; e por causa Eis a advertência. Está em jogo nosso
da humildade e brandura de coração vem a bem-estar eterno, como também o bem-estar
visitação do Espírito Santo, o Consolador, eterno de nossos irmãos e irmãs não-mem-
que nos enche de esperança e perfeito amor. ’ ’ bros. Por outro lado, as promessas para nos­
(Morôni 8:25-26.) sa diligência são gloriosas. Sabemos que:
O amor, portanto, é prova de nossa pró­
pria conversão e se manifesta na preocupação
com a salvação alheia. Dizia Jacó aos nefitas:
“ Desejo a felicidade de vossas almas. Sim,
minha ansiedade por vós é grande.” (2 Néfi
6:3.) Os filhos de Mosiah “ desejavam que a
salvação fosse declarada a toda criatura, por­
que não queriam que nenhuma alma pereces­
se” . (Mosiah 28:3.)
Esse amor, ou caridade, é nosso maior
trunfo. João reconhecia que “ a caridade lan­
ça fora o temor” (I João 4:18). Esse temor e
essa relutância são o maior obstáculo que nos
impede de sentir a alegria do serviço missio­
nário. É também exercendo aquela “ fé que
opera por caridade” (Gálatas 5:6) que pode­
mos valer-nos do poder espiritual, porque
Deus “ obra com poder, de acordo com a fé
dos filhos dos homens” . (Morôni 10:7.)
Conforme sabia Morôni, esse perfeito
amor é resultado direto da remissão dos peca­
dos. Por isso é imperativo para “ reter a re­
missão de vossos pecados de dia para dia”
(Mosiah 4:26) que supramos as necessidades e
carências de nossos irmãos, tanto temporal
como espiritualmente.

JANEIRO DE 1984 57
quanto ao rumo a seguir. Não é mero convite
permissivo que nos faculta divulgar a mensa­
gem do evangelho em caráter voluntário, ou
se acharmos conveniente fazê-lo. O decreto é
mandatório. Não temos nenhuma escolha se
quisermos conservar as boas graças de
Deus.” (Conference Report , outubro de
1970, p. 54.)
Rapazes, entendeis agora por que o Pre­
sidente Spencer W . Kimball disse que “ todo
jovem deve cumprir missão” ? (Ensign, outu­
bro de 1974, p. 8.) Não é uma opção: é vossa
obrigação. E vós, casais de mais idade, sabeis
que o Presidente Kimball disse claramente
que tendes igualmente essa responsabilidade?
(Ver Teachings o f Spencer W. Kimball, p.
551.) Diz ele: “ Está na hora de partir.” ( G o
Ye into A li the World, texto do filme produ­
zido pelo Departamento de Produção Cine­
m atográfica da Universidade Brigham
Young, p. 2.) Este serviço beneficia tanto a
vós como a Igreja e os não-membros que re­
cebem vossa mensagem. Somos gratos pelo
crescente número de rapazes e casais que es­
tão cumprindo missão. Asseguramo-vos que
não existe coisa mais importante do que vos
* Trazer almas ao Senhor é “ a coisa de preparardes para uma missão, estudando se­
maior valor para ti” . (D&C 16:6.) riamente as escrituras, conservando-vos mo­
* Proclamando o evangelho, “ farás o ralmente limpos e pautando vossa vida tem­
maior bem aos teus semelhantes, e promove- poral e espiritual pelo firme propósito de
rás a glória daquele que é o teu Senhor” . cumprir missão.
(D&C 81:4.) Tenho procurado ensinar-vos de acordo
com vossos convênios como membros da
* Aqueles que procuram estabelecer
Igreja e portadores do sacerdócio. Exorto-
Sião “ terão o dom e o poder do Espírito San­
-vos a pedirdes ao Senhor, em oração, um tes­
to” . (1 Néfi 13:37.)
temunho do convênio que assumistes de pre­
* Os servos fiéis serão “ coroados com gar o evangelho. Então, à medida que guar-
honra, glória, imortalidade e vida eterna” . dardes “ todos os mandamentos e convênios
(D&C 75:5.) pelos quais estais ligados” , o Senhor fará
Irmãos, gostaria de dizê-lo clarae incisiva­ com que “ os céus estremeçam a vosso
mente. Trabalhar pela salvação dos outros é es­ favor” . (D&C 35:24.)
sencial para nossa própria salvação. Não po­ Sei que a responsabilidade e oportunida­
deis magnificar plenamente vosso chamado de de de prestar serviço missionário é a coisa
acordo com o juramento e convênio do sacer­ mais valiosa que podemos fazer. As bênçãos
dócio sem vos empenhardes ativamente nessa precisam ser experimentadas para serem
obra de salvação, pois o sacerdócio é-vos con­ apreciadas.
ferido como um instrumento de serviço. Concluo com a indagação do Profeta
Dizia certa vez o Élder Bruce R. McCon­ Joseph Smith: “ Irmãos, não prosseguiremos
kie: “ Este chamado ao serviço missionário em tão grande causa?” (D&C 128:22.) Em
não nos deixa nenhuma opção ou escolha nome de Jesus Cristo. Amém.

58 A LIAHONA
As Bênçãos
da Obra Missionária

James M. Dunn
A la X I Valley View, Estaca H oliday Norte

“Sentia-me, como missionário, com mais energia,


mais entusiasta, mais otimista e mais confiante do que
em qualquer outra coisa que tenho feito na vida. ”

eus caros irmãos, repetindo um dito aprender das palestras missionárias. Ensi­

M popular entre os missionários atual­


mente, esta é uma experiência “ im­
pressionante” . Oro que a influência tranqüi-
nou-me os rudimentos do idioma espanhol. E
ensinou-me a colocar os pés no caminho
apropriado do serviço missionário e a voltar
lizadora esteja comigo, para que consiga ex­ meu coração para as coisas divinas.
pressar o que penso. Ele permitiu-me batizar nosso primeiro
A o partir para minha primeira missão converso. Mário já ouvira quase todas as pa­
quando jovem, não sabia praticamente nada lestras missionárias quando cheguei, mas meu
acerca da obra missionária. Tinha um frágil companheiro achou por bem que eu realizasse
testemunho do evangelho, mas cria que esta­ a ordenança. Dei duro para aprender a oração
va fazendo o que é certo. batismal em espanhol. Esforcei-me em corri­
Chegando em Montevidéu, Uruguai, fui gir minha pronúncia para que pudesse ser en­
designado companheiro do Élder Wayne G. tendido durante a sagrada ordenança.
Scheiss, meu primeiro companheiro sênior. Jamais me esquecerei de quando final­
Percebi imediatamente que ele se importava mente me vi de pé na pia batismal no Ramo
comigo. Nos breves três meses que passamos Deseret com Mário, com a mão erguida em
juntos, ensinou-me tudo que fui capaz de ângulo reto e dizendo: “ Habiendo sido comi-

JANEIRO DE 1984 59
tada ali, contudo, proporcionou-me uma
grande experiência. Terminada a reunião, o
presidente do ramo procurou-me dizendo:
— Por acaso é parente de Billy E. Dunn?
— Sou sim. É meu pai.
A o que ele disse: — Seu pai foi um de
meus companheiros missionários prediletos.
Servimos juntos na junta da missão. E nunca
esquecerei de quando o Presidente Murphy
nos mandou percorrer as ilhas no velho Ford
da missão.
E foi falando de suas reminiscências por
algum tempo, contando-me algumas expe­
riências missionárias com meu pai no Havaí
cinqüenta anos atrás. Por sua maneira de fa­
lar, seus olhos brilhantes e expressão sorri­
dente, parecia que aquilo tudo acontecera ha­
via poucos dias.
O relacionamento pessoal entre os mis­
sionários é uma das maiores bênçãos que usu­
fruímos em conseqüência desse serviço. A
amizade e influência positiva de um sobre o
outro podem ser eternas.
Uma das grandes emoções vividas pelo
missionário é ver o evangelho modificar a vi­
da de uma pessoa, de uma familia inteira —
sionado por Jesucristo...” “ Tendo sido co­ observar u’a mãe infeliz, um pai confuso, um
missionado por Jesus Cristo, eu te batizo...” rapaz ou moça desorientados encontrarem o
(D&C 20:73.) caminho que conduz à verdadeira felicidade e
Eu ouvira que pessoas eram comissiona­ finalmente à vida eterna.
das, a pintar quadros, ou a servir nas forças Nenhum missionário sem exceção, dei­
armadas. Mas quando compreendi que eu fo­ xou de influenciar a vida de muitos positiva­
ra comissionado pelo Salvador a batizar em mente, independente do número de conver­
seu sagrado nome para a remissão de peca­ sões que haja feito.
dos, senti um assomo de testemunho e orgu­ Com respeito a seus desafios pessoais,
lho e gratidão apossar-se de toda minha alma. todo missionário vos dirá, como eu agora,
Sabia que estava a serviço do mais importante que à medida que prossegue e exerce fé surge
Mestre de todos. Sabia que estava autorizado a mais extraordinária sensação espiritual: Um
a realizar aquela ordenança, e sabia que Má­ assomo de coragem, confiança e poder para
rio saiu da pia batismal limpo e puro, e aceitá­ superar-se, o conhecimento de que Deus está
vel ao nosso Pai Celeste. Sou grato ao meu com ele e de que não pode ser mal sucedido
companheiro por essa experiência. E sou gra­ com Deus ao seu lado — seja qual for o pro­
to pela comissão recebida do Senhor. blema ou até mesmo os resultados.
Em agosto deste ano, os jovens do Sa­ Tenho por experiência que enquanto ser­
cerdócio Aarônico de nossa ala receberam a vi como missionário de tempo integral, sentia-
designação de administrar o sacramento aos me com mais energia, mais entusiasmo, mais
residentes da casa de repouso local. Acompa­ otimismo e mais confiante do que em qual-
nhei-os para o caso de precisarem de alguma quer outra coisa que tenho feito na vida. Parti­
ajuda. Naturalmente, não precisaram. Tudo cularmente em conexão com minha mais re­
estava sob o mais perfeito controle. Minha es­ cente designação como presidente de missão,

60 A LIAHONA
sei que Deus me mandou realizar sua obra e sei cia um dia, vimos coladas na parede da sala
que a obra dele seria feita. Sei igualmente que enormes letras vermelhas recortadas e que di­
tive lá o melhor contingente de rapazes e mo­ ziam: “ Y Y o Tercero.”
ças da história do mundo para me ajudar e Perguntamos ao Carlos o que aquilo
ajudaram-se mutuamente a realizar coisas ex­ queria dizer e ele explicou: “ Bem, eu imagino
traordinárias no decorrer de nossa missão a coisa assim. Primeiro vem Deus. Depois
juntos. Amei a cada um deles cada dia que vem minha família e os outros. Em terceiro
raiou, e acalento as experiências de cada dia. lugar venho eu.” Jamais me esqueci deste
Os missionários não só ensinam mas grande ensinamento.
aprendem uns dos outros. Uma das coisas Em minha mais recente missão que cum­
que aprendi como jovem missionário foi que pri com minha esposa, Penny, e nossas seis fi­
a aptidão espiritual, exatamente como a apti­ lhas, viemos a amar e apreciar particularmen­
dão física e mental, exige certo preço que in­ te nossos missionários, tendo um apreço es­
clui abnegação. pecial por nossos missionários colombianos.
Depois de passar a companheiro sênior, Sei que o mesmo se pode dizer dos mis­
conheci em Montevidéu, Carlos Garcia, en­ sionários que servem por toda a parte em sua
tão com cerca de quatorze anos. Conhecemo- própria terra natal. São extraordinários.
-nos quando foi ouvir as palestras missioná­ Nossos missionários colombianos eram não
rias na casa de seus vizinhos, os Carabajals. só simpáticos, encantadores e inteligentes,
Carlos queria que ensinássemos também a mas também dedicados, capazes e eficientes.
sua família e arranjou um encontro nosso Com seu companheiro júnior norte-america-
com seus pais e irmãos mais novos. Ensina­ no, um missionário colombiano particular­
mos a família Garcia e vimo-los tomarem-se mente bem dotado batizou cinqüenta e duas
membros da Igreja. Visitando a casa dos Gar­ pessoas em um mês. Outra irmã colombiana

JANEIRO DE 1984 61
foi responsável pela conversão de quatorze com o Senhor. Que grande bênção será para
pessoas antes de ser membro da Igreja um vocês, para nós e para centenas de outros.
ano e receber seu chamado formal de missio­ Certa vez, um jovem missionário que
nária. Esses jovens voltavam da missão sem acabara de chegar a Bogotá para servir em
alarde. Muitos deles nem sabiam onde iriam nossa missão, comentou em nossa primeira
viver, pois seus pais haviam deixado claro que entrevista:
não haveria mais lugar para eles em casa — Bem, presidente, suponho que já sa­
quando voltassem. Não obstante, serviram be tudo sobre mim e meus problemas antes de
primeiro a Deus, crendo que ele cuidaria deles receber o chamado missionário e todos os
e de seu futuro. É impossível prestar o devido problemas que tive no CTM .
tributo a esses jovens. Meu único pesar com — Está enganado, élder, — respondi-
relação aos missionários colombianos é que -lhe. — Não sei de nada e francamente, a me­
não tivemos o triplo deles. nos que se trate de séria transgressão moral,
Às vezes, quando falamos de missão e nem quero saber. A única coisa que me im­
obra missionária, alguns rapazes se retraiam porta e, acredito, a única coisa que importa
por não se considerarem dignos. Lembrem-se ao Senhor é o que você fará daqui em diante.
de que ninguém lhes está apontando um dedo Sei que foi chamado por Deus para servir nes­
acusador. Seus líderes no sacerdócio — con­ ta missão e que é capaz de ser um poderoso e
sultores e bispos — não desejam ser juizes crí­ excelente defensor do Salvador. Aqui e agora
ticos. Eles querem ajudar. Se acharem que é sua real oportunidade de mostrar ao Senhor
precisam de ajuda quanto a dignidade, con­ e aos outros quem você realmente é e o que
versem com o consultor do quorum ou, se ne­
consegue fazer.
cessário, procurem o bispo e com ele decidam
Penso que o missionário ficou um pou­
a maneira de colocarem as coisas em ordem
co surpreso com minha resposta, que efetiva­
mente encerrou nossa entrevista.
Esse jovem trabalhou com entusiasmo e
energia em algumas das áreas consideradas
mais difíceis da missão. Ensinou, converteu,
batizou; passou a líder de distrito e líder de
zona. Deixou nossa missão merecedor de
meu maior respeito pelo que fez e pelo ho­
mem que se tomou.
Acima de todos os benefícios e bênçãos
do serviço missionário que acontecem na vida
do missionário — e que proporcionam paz e
consolo inigualáveis à alma — está o testemu­
nho que adquire, talvez não repentinamente,
mas linha sobre linha. (Veja Isaías 28:13.) Es-
se testemunho quero prestar-lhes agora como
missionário recém-chegado. Eu sei que Deus
vive. Sei que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus,
líder de toda a humanidade e a dimensão do
gênero humano. Ele é o Rei, nosso Conse­
lheiro e Amigo, merecedor de nossa mais pu­
ra e profunda adoração e digno de nossos me­
lhores esforços. Como missionários ansia­
mos por servi-lo de todo o coração, poder,
mente e força. (Veja D&C 4:2.) Em nome de
Jesus Cristo. Amém.

62 A LIAHONA
Chamado Como
por uma Voz do Céu

Élder Vaughn J. Featherstone


do Primeiro Quorum dos Setenta

“ Vocês, maravilhosos irmãos que presidem


o Sacerdócio Aarônico, vocês são mais importantes
para a Igreja do que jamais ousariam imaginar. ”

izia Benjamim Franklin: “ Penso que John Sonnenberg, um excelente repre­

D os talentos para a educação da juven­


tude são dom de Deus; e aquele a
quem são concedidos, sempre que houver
oportunidade de usá-los, é chamado incisiva­
sentante regional, contou esta experiência de
quando era um jovem dentista. O casal tinha
sete filhos, todos pequenos, e somente um
carro. Assim, quando a esposa ia à cidade, ti­
mente como por uma voz do céu.” nha de tomar ônibus. Certo dia, ela e os sete
E o Presidente Harold B. Lee contava: garotos esperavam o ônibus. Quando este
“ Alguém perguntou (a uma grande cantora chegou e parou, as crianças e sua mãe subi­
lírica que tinha muitos filhos) qual deles era ram, e a Irmã Sonnenberg depois de pagar a
seu predileto. Sua resposta revelou a profun­ passagem, foi colocando na caixa uma moe­
didade de seu verdadeiro senso maternal: da para cada um dos sete pequenos. Admira­
‘Meu filho predileto é o que está doente até fi­ do, o motorista indagou: “ Dona, são todos
car bom, ou o que está ausente até voltar.’ ” seus ou é um piquenique?”
(Church News , 13 de junho de 1964, p. 14.) “ São todos meus; não é um piquenique’ ’ ,
Este mesmo profundo interesse e cari­ foi a resposta.
nho deve ser a força motivadora de todo bis­ Nesta geração, tomar-se adulto não é
po e todo consultor. nenhum piquenique para o jovem. Exige es-

JANEIRO DE 1984 63
mil jovens participaram dessas atividades.
Certo bispo contou que um dos seus ra­
pazes não queria participar, ficando esticado
preguiçosamente na grama a alguns metros
do grupo. De vez em quando ria ou parecia
caçoar. Era como se não tivesse a mínima in­
tenção de cumprir missão. Naquela noite, du­
rante a reunião de testemunho em tom o da
fogueira, esse jovem levantou-se e disse:
“ Hoje de manhã não participei das oficinas
de preparação missionária, mas estava ouvin­
do, estava ouvindo. E tenho pensado, pensa­
do bastante.” Depois, com muita emoção
acrescentou: “ Tomei a decisão de sair em
missão.”
Um ano atrás em Flagstaff, Arizona,
realizou-se um banquete especial para os Es­
coteiros da Pátria. Eram mil, cento e cin­
qüenta. Quando John Wamick, diretor de
Relações Mórmons, solicitou que todos os
que se comprometessem a cumprir missão fi­
cassem de pé, os mil, cento e cinqüenta se le­
vantaram.
Mais tarde, um dos rapazes que era cató­
lico procurou o bispo, e disse-lhe:
tabilidade, padrões elevados, oração, e pais e — Não sou mórmon, mas comprometi-
consultores do Sacerdócio Aarônico que real­ -me a cumprir missão. O que devo fazer?
mente se importam com ele. Então o bispo propôs: — Vamos con­
Henry Eyring, renomado cientista e ex­ versar com seus pais.
celente mestre que faleceu recentemente, cos­ Durante a visita a essa família, ficou de­
tumava competir com seus alunos. Com mais cidido que ela ouviria as palestras dos missio­
de sessenta anos ainda praticava salto em dis­ nários. A família inteira, incluindo o Escotei­
tância e desafiava estudantes universitários ro da Pátria, é agora membro da Igreja.
para corridas de curta distância. A Organização das Moças e a dos Rapa­
Um dia, poucos anos antes de sua mor­ zes da ala estavam realizando uma festa de
te, ele encontrava-se no Edifício dos Escritó­ natação. O bispado compareceu de terno e
rios da Igreja. Seu cunhado, o Presidente gravata. Muitos dos jovens já haviam entra­
Spencer W . Kimball, saindo de seu escritório, do na água. Tudo parou enquanto um idoso
viu Henry Eyring no corredor usando uma sumo sacerdote proferia a oração de abertu­
bengala e indagou: ra. Enquanto ele orava, ouviu-se um baque
— Henry, porque usa essa bengala? na água. Conta um conselheiro do bispado:
— Classe, Presidente, classe. “ Como sempre sou um tanto prático, abri
Não admira que haja exercido tamanha um olho para ver quem era o irreverente que
influência na juventude de toda a Igreja. Ele nadava durante a oração. Um garoto latino
tinha “ classe” . de doze anos, que não sabia nadar, caíra não
N o acampamento do Sacerdócio Aarô­ sei como na parte mais profunda da piscina e
nico de Nauvoo, no verão passado, houve ofi­ estava-se afogando. Pulei na água de temo,
cinas especiais de preparação missionária, di­ sapatos e tudo, agarrei o garoto e ajudei-o a
rigidas pelos bispos. Cada rapaz recebeu seu sair. Ele ficou sentado na beirada e eu fiquei
próprio livro de preparação missionária. Dois esperando dentro da piscina. E o sumo sacer-

64 A LIAHONA
dote continuava orando, orando.” Faz alguns anos em Tracy Wigwan,
O conselheiro prossegue: “ Acho que o Terry, um diácono, participava de um acam­
garoto estaria afogado se houvéssemos espe­ pamento com pernoite. Era noite de lua
rado terminar a oração para socorrê-lo. ’ ’ De­ cheia. Tomando Terry pelo braço, seu con­
pois concluiu: “ Acho que devemos conservar sultor convidou: “ Vamos dar uma volta,
um olho aberto e estar prontos para o que for Terry.”
necessário para salvar nossos jovens. E a pro­ Depois de caminharem um pouco, afas­
pósito, o bispo não abriu os olhos, nem mes­ tando-se das cabanas, o consultor propôs:
mo quando pulei na piscina.” “ Terry, vamo-nos ajoelhar e orar.” Ajoelha­
Bispos, conservem os olhos abertos, ram-se juntos e oraram. Terminada a prece, o
com uma constante prece no coração para consultor perguntou:
que o Senhor lhes permita saber quando seus — Terry, você costuma orar?
jovens estão em apuros. — Não.
Um vendedor bateu à porta de uma ca­ — Terry, quer prometer-me que orará
sa. Lá dentro um rapaz martelava monotona­ todos os dias, pelo resto de sua vida?
mente o piano. O vendedor indagou-lhe: O menino respondeu: — Nunca fiz uma
— Sua mãe está em casa? promessa sem intenção de cumpri-la.
— O que o senhor acha? — foi a resposta. Ficou pensando a respeito e concluiu
Assim como essa mãe supervisionava o que orar estava certo. Era uma boa coisa. En­
estudo de música do filho, somos gratos aos tão disse ao consultor: “ Sim, vou orar pelo
grandes homens que conscienciosamente su­ resto de minha vida.”
pervisionam, cuidam e amam a juventude. Diz Terry, que cursou o colegial, depois

Élder Vaughn H. Featherstone, à esquerda, do Prim eiro Quorum dos Setenta, cumprimenta visitantes da
conferência.

JANEIRO DE 1984 65
foi zagueiro pela Universidade de Utah, onde Bmford Reynolds cumpriu sua palavra.
foi reconhecido como um dos melhores joga­ Tomei-me monitor-assistente de patrulha,
dores da seleção, e posteriormente passou a jo­ monitor de patrulha, assistente do monitor
gar pelos Pittsburgh Steelers: “ Mantive a pro­ sênior de patrulha, depois monitor sênior de
messa e venho orando todos os dias, de manhã patrulha. Ele acreditou em mim e teve um
e à noite.” E Terry está aqui presente hoje. profundo impacto em minha vida.
Um dos atos mais nobres e cristãos que Faz uns cinco anos, telefonei a Bmford
qualquer líder pode fazer é sair em busca das Reynolds, que na época era bispo e pedi:
ovelhas. Dizia o Élder Harold B. Lee: “ O — Será que poderia convidar-me a fa­
amor de uma pessoa mede-se pelo que ela dá, lar em sua reunião sacramental, num futuro
não pelo que recebe.” (Citação de um discur­ próximo?
so proferido pelo Élder Harold B. Lee em — Mas nós não devemos pedir isso a auto­
1968, no Departamento de Aventureiros-Ex- ridades gerais, — respondeu.
ploradores.) — Mas o irmão não está pedindo; quem o
René de Chardan, cientista francês, diz: faz sou eu, — retruquei. Então ele disse:
“ Algum dia, depois de havermos dominado — Seria ótimo se pudesse falar na Páscoa.
os ventos e as ondas, as marés e a gravidade,
Então preparei um discurso sobre a vida
domaremos para Deus as energias do amor e
do Salvador. Começando a falar, contei pri­
então, pela segunda vez na história do mun­
meiro aos membros da ala que homem mara­
do, o homem terá descoberto o fogo.” Assim
vilhoso o bispo tinha sido em minha vida; co­
é o amor de um grande homem em minha vi­
mo eu costumava ficar deitado no chão es­
da, Bruford Reynolds.
piando pela janela. Compartilhei com eles as
Quando tinha uns onze anos, eu costu­
grandes lições que me ensinou, a influência
mava todas as noites de terça-feira ficar es­
que teve em minha vida e como me fizera sa­
piando a reunião dos escoteiros pela janela do
ber que eu tinha jeito para a liderança. Depois
subsolo. Os escoteiros realizavam competi­
falei do quanto o amava. Depois passei a falar
ções de patrulha, acendiam fogo com peder­
do Salvador.
neira e fuzil, praticavam primeiros socorros,
Quando terminei meu discurso, levan­
instrução e jogos. Mal conseguia esperar a
tou-se dizendo:
época de me tomar um diácono e escoteiro.
Quando fui ordenado diácono, inscrevi- “ Não é costume falarmos depois de
-me também no escotismo. Bmford Rey­ uma autoridade geral, mas gostaria de contar
nolds era na época o consultor do quorum a parte da história que o Élder Featherstone
dos diáconos e também chefe dos escoteiros. desconhece.
Dois meses depois de ingressar na tropa, “ Durante algum tempo de minha fun­
fui à casa do Irmão Reynolds para cumprir os ção cómo consultor dos diáconos e chefe de
requisitos para passar à segunda classe. Termi- escoteiros, eu servia ainda em outro grupo de
nada esta parte, o Irmão Reynolds comentou: jovens. Ambos se reuniam às terças-feiras.
“ Vaughn, você tem bastante capacidade de li­ Os escoteiros às 19h30 e o outro grupo às
derança, mas não podemos aproveitá-la por 20h00. Então eu dava início à reunião dos es­
você ser tão arruaceiro nas reuniões da tropa. coteiros e depois saia para ir até a Ala Lincoln
Quando se emendar, precisaremos de você.” onde se reunia o segundo grupo. Às 20h30 eu
Pertencendo a uma família numerosa voltava para cuidar da última meia hora da
que além de pobre era inativa, eu recebia pou­ reunião dos escoteiros. O Élder Featherstone
ca atenção pessoal. Meu pai nunca me dissera era o meu monitor sênior e ficava encarrega­
que eu poderia ser alguém. Pensei bastante do do gmpo. E ele não foi o único que se dei­
em minha maneira de comportar-me. Decidi tou no chão para espiar pela janela do subso­
mudar. Na terça-feira seguinte, mal ousava lo! Eu costumava fazê-lo ao voltar da Ala
mexer os olhos. Fui quase tão perfeito quanto Lincoln. Queria ver o que se passava na mi­
sabia ser. nha ausência.

66 A LIAHONA
“ Uma noite houve um problema e con­ ocupará postos importantes nesta Igreja.’ ”
segui voltar para a reunião dos escoteiros só Dois anos atrás, decidimos organizar
poucos minutos antes das 21h00. Não parei uma reunião em homenagem a Bruford Rey­
para espiar pela janela, dirigindo-me direta­ nolds e outros líderes de jovens que nos dirigi­
mente para a sala dos escoteiros. A gente po­ ram na Ala Richards entre 1940 e 1950. A ca­
de descobrir muita coisa do que se passa na pela ficou repleta de homens que, quando
reunião de jovens escutando atrás da porta. meninos, pertenceram à ala. Coletamos con­
Foi o que fiz. O Élder Featherstone havia reu­ tribuições para adquirir alguns bonitos pre­
nido a tropa para o Minuto do Chefe de Esco­ sentes que lhes foram entregues e, usando um
teiros. Eu conseguia ouvir o que estava sendo retroprojetor, mostramos fotos dos rapazes e
falado. de algumas atividades daqueles anos. Fize­
“ De repente, ouvi passos atrás de mim. mos um rebuliço tanto em tom o de Bmford
Voltando-me, dei de frente com quatro co­ Reynolds como daqueles outros grandes ho­
missários de distrito que vinham fazer uma mens. Depois pedimos que falasse. Bmford
visita à nossa tropa. Imaginei o que não esta- Reynolds se pôs de pé e com os olhos mareja­
riam pensando vendo o chefe dos escoteiros dos de lágrimas disse: “ Acho que este é o me­
fora da sala, escutando atrás da porta. Não lhor dia de minha vida.”
sabendo o que dizer, simplesmente pus o de­ Refletindo sobre suas palavras, dei uma
do nos lábios em sinal de silêncio e depois ace­ olhada naquele grupo de ex-diáconos/esco-
nei para que se aproximassem. Todos fica­ teiros. Contei três que haviam sido presiden­
ram ouvindo, inclinados. Depois de alguns tes de estaca, dois que foram presidentes de
instantes, um deles disse: ‘Esse rapaz será um missão, diversos deles componentes de presi­
excelente líder lá fora no mundo, algum dia.’ dências de estaca, trinta e três que haviam si­
A o que respondi: ‘Não, algum dia ele do bispos ou conselheiros e um que é autori­

JANEIRO DE 1984 67
dade geral. Então pensei, talvez seja isto no um garoto transpôs os anos. Aproximei-me
que a vida se resume, poder olhar para trás e dele, sentei e pusemo-nos a conversar. Depois
ver os rapazes que se influenciou crescerem e eu disse:
se tomarem líderes no reino. “ Sei muito bem que já foi administrado,
Pouco tempo após essa reunião, recebi mas gostaria que eu me ajoelhasse e fizesse
um telefonema de Bmford Reynolds, o filho, uma oração?”
que também era bispo e me dizia: Ajoelhei-me e oramos juntos. Quando
“ Sabia que papai está no hospital? Ele terminei,meus olhos nadavam em lágrimas,
teve um grave ataque cardíaco. Está interna­ assim como os dele. Inclinei-me, beijei-o na
do no Hospital SUD e ficamos imaginando se testa e parti.
o senhor saberia disso.” Bmford Reynolds faleceu uma hora de­
Eu não sabia. Respondi que gostaria de pois. Eu fora um de seus garotos dizendo
visitá-lo mas que tinha de tomar um avião dali “ adeus” , pela última vez, a um grande con­
a uma hora. Não via como ir ao hospital antes sultor.
de partir. Então ele disse: Meu testemunho a todos vocês, maravi­
“ Não faz mal. Papai vai ter alta e voltar lhosos irmãos que presidem e dirigem o Sa­
para casa amanhã.” cerdócio Aarônico, é que vocês são mais im­
Disse-lhe então que lhe transmitisse meu portantes para a Igreja do que jamais ousa­
afeto e que iria vê-lo assim que voltasse. Des­ riam imaginar.
liguei o telefone, pensei por um momento e Em Isaías, pergunta o profeta: “ Guar­
resolvi que o resto poderia esperar. Apanhei da, que houve de noite?” (Isaías 21:11.) Esta
minha pasta, minhas passagens e fui para o geração de jovens serão os futuros archotei-
Hospital SUD. Quando entrei no quarto de ros, possivelmente no mais negro período do
Bmford Reynolds, nossos olhares se encon­ mundo. Por isso, lembrem-se, irmãos:
traram. O amor entre um grande homem e
O Deus dos grandesfeitos deu-me um archote
Que alto ergui no ar espesso, tenebroso;
A multidão com júbilo o aclamava,
Seguindo-me pela noite escura, sem estrelas,
A té que doido de orgulho e ébrio de vaidade,
Que o archote é que seguiam, esqueci-me.
E meu braço se cansou de carregá-lo;
Meus pés, exaustos, nas pedras tropeçaram;
Caí, na queda apagando a tocha ardente.
Mas eis que salta à frente um jovem forte,
Bradando alto ergue a tocha sufocada
A té que, bafejada por celestes ventos
Volta a inflamar a humana alma.
Deitado só nas trevas, os pés da multidão
Passando sobre mim, deixaram-me para trás.
E ali, na solidão das trevas aprendi a grande
verdade:
É a luz que o povo segue, seja quem f o r o ar-
choteiro.
(Tradução livre a aproximada de “ The
Torchbearer” , de autor anônimo.)

Uma grande verdade. Eles serão os ar-


choteiros. Sejamos nós os guardas. Em nome
de Jesus Cristo. Amém.

68 A LIAHONA
Tomar-se um
Arremessador de Estrelas

Élder David B. Haight


do Quorum dos Doze Apóstolos

“Existem dezenas de milhares de pessoas de bem


que seforam afastando pouco a pouco e agora esperam
que alguém lhes bata à porta. ”

egozijo-me com cada um de vós, por­ ção os homens e rapazes que classificamos

R tadores do sacerdócio, congregados em


centenas de capelas por este mundo
afora, sabendo que o que é dito aqui, nesta
como inativos, com isso levando a humanida­
de para um pouco mais perto da suprema paz
e felicidade da vida eterna.
noite, está em harmonia com a verdade e pro­ N o mês que passou recebi duas mensa­
moverá e apressará o cumprimento da antiga gens totalmente opostas. Uma foi o convite
e moderna profecia do plano de nosso Senhor formal para comparecer à cerimônia de jura­
e Salvador de ‘ ‘proporcionar a imortalidade e mento e investidura, em Washington, D.C.,
vida eterna ao homem” . (Moisés 1:39.) do mais novo e jovem membro do Tribunal
Uma grande obra foi-nos confiada. de Impostos dos Estados Unidos — nomea­
Meus comentários de hoje prendem-se aos ção feita pelo presidente dos Estados Unidos
nossos esforços para encontrar e recuperar e posto de prestígio e honra.
homens e famílias que se afastaram da parti­ Horas após o recebimento desse convite,
cipação ativa na Igreja. O coração devotado e fui procurado por um oficial de polícia que
mente disposta de cada homem e rapaz que me indagou se eu conhecia determinado mo­
nos ouve hoje, é instado a envolver-se vigoro­ ço. Respondi que sim, e quis saber por que
samente em sua responsabilidade eclesiástica mo perguntava. Esse moço dissera ao oficial
de trazer de volta à plena atividade e integra­ que me conhecia. Então tomei conhecimento

JANEIRO DE 1984 69
de um caso sórdido de drogas, imoralidade, porque tudo o que o homem semear, isso
furtos para pagar o alto preço das drogas, também ceifará” . (Gálatas 6:7.)
compra de favores sexuais ilícitos e vida numa Os rapazes são semeadores. Vós, mulhe­
vulgar casa de cômodos. Quando expressei res, sois semeadoras. Quem instrui e guia esses
desejo de ver e ajudar esse infeliz jovem, o po­ semeadores? Quem lhes mostra a semente certa
licial sugeriu que não o visitasse de imediato para colocar na taleiga de semear? Quem os en­
devido à sua condição emocional. sina a suspender a taleiga de semear no ombro?
Eu conhecia muito bem as famílias dos Quem ensina ao jovem semeador que vai ao
dois. Quando garotos, eram membros da mes­ campo pela primeira vez a época certa ou como
ma ala. Ambos receberam o Sacerdócio Aarô­ lançar as sementes? Esperamos que seja um pai
nico e tiveram os mesmos professores na Escola consciencioso, a mãe amorosa, professores e
Dominical. Em casa, os dois dispunham das es­ quoruns ou outros entes queridos que guiam
crituras, revistas e livros da Igreja. seus primeiros passos.

Um recebeu o Sacerdócio de Melquise- “ Quando não agimos preventivamente


deque, cumpriu missão, casou-se no templo e enquanto é tempo,” disse o Presidente Kim­
serviu num bispado enquanto terminava o ball, “ somos obrigados a agir redentoramen­
curso de Direito; e agora juiz, Stephen Jensen te mais tarde, porém com... resultados meno­
Swift estava sendo honrado pdo governo res e mais difíceis.” (Conferência da A M M ,
com um cargo na magistratura federal. 23 de junho de 1974, p. 7.) Salvando nossa ju­
ventude, salvamos gerações.
O outro jovem nunca mereceu ou obte­
ve as prometidas bênçãos do Sacerdócio de A Primeira Presidência e o Quorum dos
Melquisedeque. Poder freqüentar renoma- Doze preocupam-se sobremaneira com o cres­
das escolas particulares eclipsou seu interesse cente número de homens e rapazes— que exer­
pela missão. Não se casou, associou-se às pes­ cem tamanha influência sobre suas mulheres e
soas erradas, era agora um escamecedor dos famílias — que atualmente constam como ina­
princípios do evangelho por diferirem de seu tivos nos relatórios dos quoruns e alas.
modo de vida e, virtualmente, um proscrito Lembramos a vós todos que:
da família, sociedade e palavra de Deus. O es­ Todo homem inativo tem um bispo,
tilo de vida da sua família deixou de incenti­ presidente de quorum e mestres familiares.
vá-lo espiritualmente, por falta de interesse Toda mulher inativa tem um bispo, uma
pelas escrituras, noites familiares, oração fa­ presidente da Sociedade de Socorro e profes­
miliar e pessoal, e testemunhos de cunho reli­ soras visitantes.
gioso no lar. Toda garota inativa tem um bispo e uma
O nobre Juiz Stephen Swift está insta­ presidência das Moças.
lando sua família em Washington, D.C., e Todo rapaz inativo tem um bispo e um
aprendendo a envergar a toga de juiz federal. presidente de quorum.
Ele conta com nosso amor, admiração e ele­ O Presidente Harold B. Lee ensinava:
vado respeito. ‘ ‘Não há necessidade de nenhuma nova orga­
O outro moço necessita ainda mais do nização para cuidar das necessidades do po­
nosso amor — um amor diferente. Tenho fé vo. Basta pôr a funcionar o sacerdócio de
em que podemos recuperá-lo. Foi com respei­ Deus.” (Conference Report, outubro de
to a pessoas como ele que o Salvador falou: 1972, p. 124.)
“ Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas, Vossa atenção para com essa alarmante
e perdendo uma delas, não deixa no deserto tendência para a inatividade precisa tornar-se
as noventa e nove e não vai após a perdida até agora uma de nossas mais prementes priori­
que venha a achá-la?” (Lucas 15:4.) dades. O valor de todas as almas é grande a
Paulo ensina, pois tinha experiência vista de Deus, seja de não-membros, mem­
própria, que “ Deus não se deixa escarnecer; bros inativos ou membros ativos.

70 A LIAHONA
O evangelho nos ensina que todo mem­
bro da Igreja tem por obrigação fortalecer os
demais membros. O próprio Salvador ins­
truiu assim o Apóstolo Pedro: “ Mas eu ro­
guei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e
tu, quando te converteres, confirma teus ir­
mãos.” (Lucas 22:32.)

Já foram fornecidas aos presidentes de


estaca, com as instruções necessárias dos re­
presentantes regionais, diretrizes para os es­
forços de ativação dos quoruns do Sacerdó­
cio de Melquisedeque.

A fim de esclarecer e ressaltar os concei­


tos fundamentais da participação do quorum
do Sacerdócio de Melquisedeque, e ajudar os
quoruns a se valer de seus recursos humanos,
gostaria de ler-vos esta declaração da Primei­
ra Presidência e do Quorum dos Doze. Ela
orientará os presidentes de estaca, bispos e lí­
deres de quorum do Sacerdócio de Melquise­
deque na organização dos esforços locais pa­
ra alcançar, efetivamente, seus membros:
“ O Senhor deu instrução nas revelações
que os portadores do sacerdócio fossem orga­
nizados em quoruns. A presidência do quo­
rum é responsável pela participação ativa de para ensinar inativos devem ser designados
cada membro do quorum. O ensino familiar, pelo bispo como mestres familiares de famí­
pelo qual os membros do quorum devem ‘vi­ lias inativas escolhidas. Quando essas famí­
sitar a casa de cada membro’ (D&C 20:51), é lias houverem voltado à atividade, os mestres
um dos melhores instrumentos para se cuidar poderão ser encarregados de outras famílias
dos membros do quorum e fortalecê-los. inativas.
“ Quando um élder inativo ou em pers­
“ O bispo, como sumo sacerdote presi­
pectiva fica ao encargo de sumos sacerdotes e
dente e encarregado do comitê executivo do
for levado à reunião do sacerdócio por seu
sacerdócio da ala, que é o comitê do ensino
mestre familiar, ele poderá ficar com o grupo
familiar, deve, em consulta com os presiden­
de sumos sacerdotes ou com o quorum de él­
tes de quorum e líderes de grupo do Sacerdó­
deres, dependendo de suas necessidades. O
cio de Melquisedeque, designar aos quoruns e
bispo toma esta decisão em consulta com os
grupos famílias para fins de ensino familiar.
líderes de quorum e grupo do Sacerdócio de
Em geral, os membros recebem mestres fami­
Melquisedeque.
liares de seu próprio quorum. Todavia, ha­
“ Quando for apropriado que um élder
vendo necessidade especial, portadores inati­
em perspectiva receba o Sacerdócio de Melqui­
vos do Sacerdócio de Melquisedeque, élderes
sedeque, deverá ser ordenado élder e tomar-se
em perspectiva e suas famílias podem ser de­
membro do quorum dos élderes. A idade não é
signados ao quorum ou grupo mais capacita­
fator determinante na ordenação desses irmãos
do a integrar e ensiná-los. Os mestres familia­
ao Sacerdócio de Melquisedeque. Os homens
res apresentarão relatório à sua própria presi­
são ordenados aos ofícios do sacerdócio quan­
dência de quorum ou líder de grupo.
do seu chamado o requer e por inspiração e de
“ Irmãos que tenham um dom especial acordo com seu merecimento.”

JANEIRO DE 1984 71
Este bem ponderado pronunciamento uma estrela-do-mar de cada vez de volta ao
sobre a participação dos quoruns e membros mar, quando este durante a noite lança cente­
do Sacerdócio de Melquisedeque tem um nas à praia” . Afastou-se, observando triste­
propósito: Auxiliar os presidentes de estaca, mente “ os colecionadores de conchas... (e) os
bispos e lideres de quorum do Sacerdócio de caldeirões fumegantes nos quais... criaturas
Melquisedeque a organizarem suas forças sem voz eram cozidas em vida” .
eclesiásticas de forma a produzirem o máxi­ Na manhã seguinte Eiseley voltou à
mo na recuperação dos que se desviaram. praia. E lá estava o arremessador de estrelas.
Muitas estacas já iniciaram com entu­ “ Calado (Eiseley)... apanhou uma estrela-
siasmo esforços de ativação com resultados -do-mar ainda viva, arremessando-a lá longe
muito alentadores. Grande parte das alas e es­ nas ondas... ‘Agora entendo’ disse. ‘Chame-
tacas da Igreja podem contar seus sucessos — -me de arremessador (de estrelas) também.”
que são muitos. Os líderes de estaca e ala sa­ E a respeito do arremessar estrelas-do-
bem o que fazer: Ensino familiar inspirado, -mar de volta às ondas, diz ele: “ Era como se­
seminários de preparação para o templo, in­ mear — a semeadura de vida em escala gigan­
tegração com amor genuíno, designações tesca...” Viu o arremessador de estrelas abai­
eclesiásticas apropriadas — são todos ingre­ xar-se e arremessar mais uma. Eiseley j untou-
dientes imprescindíveis. Precisamo-nos orga­ -se a ele. E ficaram “ arremessando, arremes­
nizar e “ agir” . sando enquanto em torno deles bramiam as
Existem dezenas de milhares de pessoas águas insaciáveis” .
de bem que se foram afastando pouco a pou­ “ Sozinhos e minúsculos naquela imensi­
co e agora esperam alguém bater-lhes à porta. dão, lançavam de volta as estrelas vivas.” A r­
Os que se afastaram precisam sofrer uma mando os ombros, “ arremessavam... devagar,
conversão doutrinária e integração social por deliberadamente e bem. A tarefa não devia ser
alguém que se importa com eles. assumida levianamente” . (Loren Eiseley, The
Star Thrower, pp. 171-173, 184.) Cada mo­
Loren Eiseley caminhava pela praia
mento contava como se devessem resgatar a es-
num entardecer tempestuoso, “ com o vento
trela-do-mar que procuravam salvar.
uivando às suas costas e gaivotas gritando”
acima dele. Os turistas que chegavam à praia Nós necessitamos de arremessadores de
costumavam coletar moluscos de concha lan­ estrelas— arremessadores com visão e senso de
çados à costa, fervendo-os em grandes caldei­ discipulado com o Salvador, que sentem a ne­
rões para levar as conchas como lembrança. cessidade de salvar onde ainda existe vida, es­
Eiseley contornou uma ponta da praia para perança e valor, não permitindo que a vida se
afastar-se dos tais colecionadores e viu “ um esvaia numa praia inóspita, mas arremessan­
imenso arco-íris de incrível perfeição” . Perto do-a de volta ao meio a que pertence.
de seu extremo, “ discerniu uma figura huma­ Num mundo em que reinam o materia-
na... observando... alguma coisa na areia.” lismo, cinismo e desesperança, nós comparti­
“ Numa depressão da areia... uma estre- lhamos a mensagem de maior esperança — o
la-do-mar procurava com os tentáculos tesos, Evangelho de Jesus Cristo.
manter o corpo afastado do lodo sufocante... Sede arremessadores de estrelas! Então
(— Ainda está viva? — perguntou Eiseley.) entendereis melhor o mandamento de nosso
‘ ‘— Está, — (retrucou o homem envolto Senhor: “ Amarás o teu próximo como a ti
no arco-íris) e com um gesto rápido, delicado, mesmo.” (Mateus 19:19)
apanhou a estrela-do-mar e arremessou-a... Que Deus nos abençoe a todos em sua
bem longe no mar. divina obra de recuperação de almas, que
‘ ‘Talvez viva, ’ ’ comentou, ‘ ‘se a corrente nossa resolução seja firme, nosso empenho
que vai para fora for suficientemente forte. imediato e nossos sucessos sejam doces. Em
A princípio, Eiseley sentiu apenas a futi­ nome de Jesus Cristo, nosso Salvador.
lidade do esforço do homem, ‘ ‘arremessando Amém.

72 A LIAHONA
Que Classe de Homens
Deveremos Ser?

Presidente Ezra Taft Benson


do Quorum dos Doze Apóstolos

“É necessária uma mudança de atitude e conduta


por parte de alguns que se dizem membros da Igreja do
Senhor, mas agem de maneira anticristã. ”

eus amados irmãos, dei aos meus Tais ações são inconcebíveis, quando

M comentários o título de “ Que Clas­


se de Homens Deveremos Ser?”
Naturalmente o reconheceis como uma varia­
ção da pergunta que Jesus fez aos nefitas.
praticadas por um portador do sacerdócio.
São totalmente contrárias aos ensinamentos
da Igreja e do Evangelho de Jesus Cristo. Co­
mo portadores do sacerdócio, devemos imi­
(Ver 3 Néfi 27:27.) É uma pergunta oportuna tar o caráter do Salvador.
e que merece a consideração de todos os E como é o caráter dele?
membros do sacerdócio de Deus. Ele apontou as virtudes cardiais de seu
O tema foi induzido por relatórios que divino caráter numa revelação a todos os por­
recentemente chegaram ao meu conhecimen­ tadores do sacerdócio que servem em seu mi­
to sobre ações chocantes de alguns pais e ma­ nistério. Conheceis muito bem este versículo
ridos, envolvendo mesmo maus tratos à espo­ da seção 4 de Doutrina e Convênios, revelado
sa e filhos. um ano antes da organização da Igreja:
Ouvindo tais relatórios, perguntei-me: “ Lembra-te da fé, virtude, conhecimen­
“ Como pode um membro da Igreja — qual­ to, temperança, paciência, bondade frater­
quer portador do sacerdócio de Deus — ser nal, piedade, caridade, humildade e diligên­
culpado de crueldade para com sua própria cia.” (D&C 4:6.)
esposa e filhos?” São estas as virtudes que devemos emu-

JANEIRO DE 1984 73
lar. Este é o caráter cristão. de um portador do. sacerdócio.
Discutamos alguns desses traços de ca­ Disse certa vez o Presidente David O.
ráter. McKay: “ O homem incapaz de controlar
O portador do sacerdócio é virtuoso, o seu temperamento provavelmente não con­
que significa pensamentos puros e atos ínte­ seguirá controlar suas paixões; e indepen­
gros. Não abrigará luxúria em seu coração, dentemente de suas pretensões religiosas,
pois fazê-lo seria “ negar a fé” e perder o Es­ move-se na vida cotidiana muito próximo ao
pírito. (Ver D&C 43:23.) plano animal.” (Improvement Era, junho
Não cometerá adultério, “ nem (fará) de 1958, p. 407.)
coisa alguma semelhante” . (D&C 59:6.) Isto O portador do sacerdócio deve ser pa­
quer dizer fornicação, comportamento e ciente. A paciência é outra forma de autodo­
atos homossexuais, masturbação, molesta- mínio, a capacidade de postergar a gratifica­
mento de crianças ou qualquer outra perver­ ção e refrear as paixões. (Ver Alma 28:12.) O
são sexual. homem paciente não se permite uma conduta
A virtude tem grandes afinidades com a impetuosa para com seus entes queridos de
santidade — é um atributo da divindade. Um que mais tarde se arrependerá. Paciência é
portador do sacerdócio deve buscar ativa­ compostura sob tensão. O homem paciente
mente as coisas virtuosas e admiráveis, não o compreende as falhas alheias.
sórdido, degradante. A virtude há de adornar O paciente portador do sacerdócio será
seus pensamentos incessantemente. (Ver tolerante com os erros e falhas de seus entes
D&C 121:45.) queridos. Justamente por amá-los, não pro­
Sempre que um portador do sacerdócio curará neles defeitos, nem os criticará ou
abandona o caminho da virtude em qualquer acusará.
sentido, perde o Espírito e cai sob o domínio O portador do sacerdócio é bondoso. A
de Satanás. Então recebe o soldo daquele a pessoa bondosa é simpática e gentil com os
quem escolheu servir. Conseqüentemente, a outros. Tem consideração pelos sentimentos
Igreja às vezes é obrigada a tomar medidas alheios, é cortês e prestativa. A bondade per­
disciplinares, pois não podemos tolerar nem doa as fraquezas e falhas alheias.
perdoar ações ímpias e impenitentes. Percebeis como nos tomamos mais se­
Todo portador do sacerdócio tem de ser melhantes a Cristo, ao sermos mais virtuosos,
moralmente puro, para ser digno de portar a mais bondosos, mais pacientes e ao dominar­
autoridade de Jesus Cristo. mos melhor nossas emoções?
O portador do sacerdócio é comedido, O Apóstolo Paulo utilizou algumas ex­
isto é, moderado em suas emoções e palavras. pressões fortes para ilustrar que o membro da
Faz as coisas com moderação e não é dado a Igreja tem de ser diferente do homem do
exceder-se. Em suma, tem autodomínio. É mundo. Recomenda que nos “ revistamos de
senhor de suas emoções, e não o contrário. Cristo” , nos “ despojemosdo velho homem”
O portador do sacerdócio que amaldi­ e “ enverguemos o novo homem” . (Gálatas
çoa sua mulher, maltrata-a com palavras ou 3:27; Efésios 4:22, 24.)
atos, ou faz o mesmo a um de seus próprios O que isto significa para nós, irmãos do
filhos, é culpado de pecado hediondo. Na Bí­ sacerdócio?
blia revista por Joseph Smith, Paulo pergun­ Significa que precisamos tomar-nos co­
ta em Efésios 4:26, se é possível alguém irar-se mo Jesus Cristo é. Temos de emular sua ma­
sem pecar. neira de viver. Precisamos,«necessariamente,
Se o homem não consegue controlar seu “ nascer de novo” (João 3:3) e pôr de lado as
temperamento, é uma triste admissão de que concupiscências mundanas e antigo compor­
não domina seus pensamentos. Torna-se víti­ tamento, incompatíveis com o caráter cris­
ma de suas próprias paixões e emoções, que o tão. Devemos procurar que o Espírito Santo
levam a ações totalmente contrárias à condu­ modere nossas ações.
ta civilizada, quanto mais ao comportamento Como?

74 A LIAHONA
Ponderando o grave pecado que alguns nhecer a Cristo, pois não o conheceremos até
de nossos irmãos vêm cometendo, perguntei- nos tornarmos como ele é. Algumas pessoas,
me: “ Será que pediram ao Senhor que os aju­ como esse rei, precisam orar até que delas seja
dasse a vencer suas explosões temperamen­ arrancado esse “ espírito iníquo” para que
tais? Recorreram ao jejum e oração? Solicita­ possam encontrar a mesma alegria.
ram uma bênção do sacerdócio? Imploraram Alcançar uma vida reta e virtuosa está
ao Pai Celeste que moderasse suas emoções dentro da capacidade de cada um de nós,
pela influência do Espírito Santo?” desde que realmente o desejemos. Se não ti­
Jesus disse que devemos ter ‘ ‘ fome e se­ vermos esses traços de caráter, diz o Senhor:
de de justiça” . (3 N éfi 12:6.) Para isto, pre­ “ Pedi, e recebereis; batei, e ser-vos-á aber­
cisamos desejar seriamente uma vida reta e to .” (D&C 4:7.)
virtuosa. O Apóstolo Pedro nos diz que, possuin­
Cito-vos o exemplo de um homem cuja do essas qualidades, não seremos ‘ ‘estéreis no
existência mudou para uma vida mais cristã conhecimento de nosso Senhor Jesus
depois de desejar ardentemente tal mudança Cristo” . (II Pedro 1:8; grifo nosso.)
e haver recorrido ao Senhor. Conhecer o Salvador, pois, é ser como
O pai de Lamôni era um rei que tinha ele é.
uma inimizade mortal para com os nefitas. Deus nos abençoará para que sejamos
Um grande missionário de nome Aarão — como é seu Filho, desde que nos esforcemos
um dos filhos de Mosiah — fora à nação la- seriamente.
manita, a fim de pregar-lhes o evangelho. Ser semelhante a Cristo deveria consti-
Chegando ao palácio do rei, conseguiu en­ tuir-se numa justa aspiração de todo porta­
volvê-lo numa discussão sobre o propósito dor do sacerdócio. Deveríamos agir como ele
da vida. Depois que o rei se mostrou recepti­ agiria em nosso trato com os outros.
vo a sua mensagem, Aarão lhe falou de Cris­
to, do plano de salvação e da possibilidade
de vida eterna.
Esta mensagem impressionou o rei de
tal maneira, que perguntou a Aarão: “ Que
deverei fazer para conseguir essa vida eterna
da qual falaste? Sim, que deverei fazer para
poder nascer de Deus, arrancar este espírito
iníquo de meu peito e receber o Espírito de
Deus, enchendo-me assim de júbilo?” (A l­
ma 22:15.)
Aarão instruiu-o a recorrer a Deus, com
fé, para que o ajudasse a arrepender-se de to­
dos os pecados. O rei, ansioso de salvar sua
alma, fez como Aarão lhe ensinara:
“ 0 Deus,” orou, “ Aarão explicou-me
que existe um Deus e, se há um Deus, e se tu és
Deus, faz-me-lo saber e abandonarei todos os
meus pecados para conhecer-te.” (Alma
22:18; grifo nosso.)
Quero meus irmãos, que atenteis nova­
mente para as palavras desse homem humil­
de: “ A bandonarei todos os meus pecados pa­
ra conhecer-te.”
Irmãos, todos nós temos de abandonar
nossos pecados, se quisermos realmente co­

JANEIRO DE 1984 75
Diz o Senhor: fluência em vosso lar.
“ Se alguém quiser vir após mim, renun­ Bem, irmãos, falei claramente. Não
cie-se a si mesmo” , isto é, livre-se de toda im­ quero ofender ninguém, mas é preciso que
piedade e toda concupiscência mundana, haja uma mudança de atitude e conduta por
guarde os mandamentos. (Ver Mateus 16:24.) parte de alguns que se dizem membros da
Ele espera que seus discípulos o sigam Igreja do Senhor mas agem de maneira anti-
por suas ações. cristã.
Agora, gostaria de dizer uma palavrinha Como portadores do sacerdócio de
sobre nosso relacionamento com nossa espo­ Deus, precisamos ser mais semelhantes a
sa e familiares. Cristo em nossas atitudes e conduta do que
Vossa esposa é vossa mais preciosa e eter­ vemos no mundo. Precisamos ser caridosos e
na adjutora — vossa companheira eterna, e obsequiosos com os entes queridos, como
que deve ser tratada com carinho e amor. Cristo é conosco. Ele é bondoso, amoroso e
Há somente dois mandamentos nos paciente com cada um de nós. Não devería­
quais o Senhor manda que amemos alguém mos, pois, corresponder com o mesmo cari­
de todo o coração. O primeiro conheceis co­ nho para nossa esposa e filhos?
mo o Grande Mandamento: “ Amarás o Se­ Comecei com uma indagação: “ Que
nhor teu Deus de todo o teu coração, e de to­ classe de homens deveremos ser?” Sem dúvi­
da a tua alma, e de todo o teu pensamento.” da, conheceis a resposta do Senhor: “ Deve-
(Mateus 22:37.) reis ser como eu sou.” (3 Néfi 27:27; grifo
O segundo desses mandamentos é: nosso.)
“ Amarás a tua esposa de todo o teu cora­ Ele espera que sejamos como ele é. Espe­
ção, e a ela te apegarás e a nenhuma outra. ’ ’ ra que demonstremos em nosso viver os frutos
(D&C 42:22.) do Espírito, que são “ caridade, gozo, paz,
O que quer dizer amar alguém de todo longanimidade, benignidade, bondade, fé,
o coração? Significa com toda nossa emoção mansidão, temperança” . (Gálatas 5:22-23.)
e devotamento. Se amardes vossa esposa de Esses atributos cristãos devem caracteri­
todo o coração, sem dúvida não conseguireis zar todo portador do sacerdócio e permear
humilhá-la, criticá-la, apontar-lhe os defei­ cada lar SUD. É possível conseguir e precisa
tos, nem maltratá-la com palavras, mau hu­ ser conseguido, se quisermos ser dignos de le­
mor ou atos. var honradamente o seu nome.
O que quer dizer “ apegar-se a ela” ? Es­ Jamais na história da humanidade hou­
tar junto dela, ser-lhe fiel, fortalecê-la, dialo­ ve maior premência de os homens se unirem
gar com ela e externar-lhe vosso afeto. em sua determinação e ações de serem seme­
O mesmo se aplica a nossos familiares. lhantes a Cristo.
Nosso lar deve ser um refúgio de paz e alegria Segui-lo é emular seu caráter.
para os filhos. Certamente nenhum filho de­ Não saiamos desta reunião do sacerdó­
ve temer o próprio pai — em especial sendo cio sem o firme propósito de abandonar qual­
um portador do sacerdócio. O pai tem por quer ação estranha à natureza de Cristo.
dever tornar seu lar um local alegre e feliz. Is­ Resolvamos aplicar os atributos do Se­
to é impossível quando há implicâncias, desa­ nhor e nosso Salvador em nossa própria vida.
venças, contendas ou mau comportamento. Espelhemos em nossos semblantes, co­
Como patriarca em vosso lar, tendes a mo irmãos no sacerdócio, a sua imagem. (Ver
séria responsabilidade de assumir a liderança Alma 5:14, 19.)
dentro dele. Deveis criar um lar no qual possa “ Revistamo-nos de Cristo” !
habitar o Espírito do Senhor. Lembrai-vos Ele é o nosso Salvador, nosso Redentor
sempre desta declaração do Salvador: e nosso Grande Exemplo.
“ Aquele que tem o espírito de discórdia não é Este é meu fervoroso testemunho, ao in­
meu, mas é do demônio.” (3 Néfi 11:29.) Não vocar as bênçãos de Deus sobre cada um de
permitais nunca que o adversário tenha in­ vós, em nome de Jesus Cristo. Amém.

76 A LIAHONA
Não Vos Deixeis Enganar

Presidente Gordon B. Hinckley


Segundo conselheiro na Primeira Presidência

“Saí de entre os iníquos. Salvai-vos. Sede limpos, vós que


portais os vasos do Senhor. ” (D&C 38:42.)

eus irmãos, oro rogando a orienta­ gais. Apenas 4% já usaram maconha e 89%
ção do Santo Espírito. jamais fumaram um cigarro.” ( Christianity
Gostaria, primeiro, de dizer al­ Today, 18 de fevereiro de 1983, P. 35.)
gumas palavras aos rapazes aqui presentes. Como vêem, vocês que são membros da
Penso que cada um de vocês deseja ter suces­ Igreja não estão sós. Aqueles que consomem
so na vida. O fato de comparecerem a esta cigarros, bebibas alcoólicas e drogas procu­
reunião mostra seu interesse pelas coisas de ram fazer com que se considerem “ quadra­
valor. Li, recentemente, os resultados de um dos” por não aderirem. Mas o fato é que exis­
estudo sobre os estudantes do curso secundá­ tem dezemas de milhares iguais a vocês. A
rio nos Estados Unidos: “ A religião exerce maioria da juventude da Igreja se abstém des­
um papel preponderante na vida dos estudan­ sas coisas. E além deles há os milhares de estu­
tes secundários que conseguem as melhores dantes que tiram notas máximas e participam
notas e participam das atividades extracurri­ de atividades extracurriculares em suas esco­
culares, informa uma recente pesquisa. Essa las, 85% dos quais provêm de lares religiosos
pesquisa... abrangeu 55.000 alunos de 22.000 e 89% dos quais jamais fumaram um cigarro.
escolas públicas, particulares e religiosas em O fato é que vocês estão em companhia da
todo o país... Mostra que 85% dos melhores maioria dos melhores alunos que deixam es­
alunos provêm de lares em que vivem ambos sas coisas de lado.
os pais naturais e onde se pratica uma religião Congratulo-me calorosamente com vo­
formal. Quase 45*% vivem em comunidades cês, rapazes, aqui presentes em tão grande
rurais. Em 84% dos casos, os alunos que se número — diáconos, mestres e sacerdotes —
destacam são a favor do casamento tradicio­ pela vida virtuosa que estão levando. Congra-
nal e rejeitam o uso de cigarros e drogas ile­ tulo-me com vocês por sua força, sua cora-

JANEIRO DE 1984 77
gem de defender suas convicções. Congratu­ um servo de Deus que conhece sua obrigação
lo-me com vocês pela ambição justa de edu­ de manter sigilo e que os ajudará com seu
carem seu intelecto e suas mãos, de servirem problema. Não tenham receio de conversar
ao Senhor como missionários, de levarem com ele.
uma vida que será um crédito para vocês, sua Agora, enquanto falo ainda dos jovens,
família e para a Igreja da qual são membros. gostaria de abrir um parênteses e dizer uma
E enquanto me congratulo com vocês palavra sobre educação. Sinto um grande res­
por sua força de se absterem de bebidas al­ peito e apreço pelos professores. Noto com
coólicas, cigarros e drogas, nenhum dos quais agrado que existe um despertar público para a
lhes traria qualquer beneficio, mas só prejuí­ urgência de dar prioridade aos nossos recursos
zos, quero advertí-los quanto a um outro insi- e programas educacionais. Nós vivemos num
dioso e crescente mal — o sedutor chamariz mundo competitivo e os que agora se prepa­
da imoralidade. Vou falar claramente. Hoje ram, necessitarão da melhor instrução, sequi-
em dia, ouve-se falar muito de má conduta se­ serem estar qualificados para a sociedade na
xual entre os adolescentes. É demasiado o qual ingressarão em muito pouco tempo.
que existe nesse sentido entre a nossa própria N a Igreja, temos uma forte tradição
juventude. com referência à qualidade da cultura. N o de­
Qualquer rapaz que se entrega a atos se­ correr dos anos, temos dedicado uma parcela
xuais ilícitos, conforme definição nas doutri­ substancial do orçamento da Igreja à educa­
nas e padrões desta Igreja — e penso que to­ ção, tanto secular como religiosa. Como po­
dos entendem o que quero dizer — causa a si vo, temos apoiado o ensino público. Onde
próprio um dano irreparável e rouba à parcei­ existe uma necessidade comprovada, deve­
ra aquilo que ela jamais poderá recuperar. mos dar nosso apoio. Este pode representar
Não há nada de esperto nesse tipo de pretensa um investimento na vida de nossos filhos,
conquista. Não traz prêmios, vitórias nem sa­ nossa comunidade e nossa nação. Contudo,
tisfação duradoura. Traz somente vergonha, não devemos presumir que maiores recursos
pesar e remorso. Quem o faz engana a si pró­ são um remédio universal. É preciso analisar-
prio e rouba a jovem. E, roubando-a, afronta -se muito bem as prioridades e avaliar cuida­
o Pai Celeste, pois ela é uma filha de Deus. dosamente os custos. Sejamos liberais com
Bem sei que estou usando uma lingua­ nosso apoio, mas também prudentes com res­
gem forte e muito clara. Mas acho que a ten­ peito aos recursos do povo.
dência de nossos tempos exige linguaguem Dirigindo-me agora a vós, irmãos mais
forte e palavras claras. Jeová não falou ambi­ velhos, gostaria de tocar num assunto que tal­
guamente, quando disse: “ Não adulterarás. ’ ’ vez diga respeito a alguns de vós e ao qual se
(Êxodo 20:14.) Tampouco o Senhor, quando referiu tão eloqüentemente o Presidente Ben­
diz na revelação moderna: “ Não furtarás, son. É a responsabilidade de nos mantermos
nem cometerás adultério, nem matarás, nem isentos do que um autor chamou de “ lento
farás coisa alguma semelhante. ’ ’ (D&C 59:6.) desdouro do mundo” . Refiro-me às influên­
Antes de concluir este assunto, gostaria cias das quais falei aos rapazes, dos engano­
de acrescentar que, se houver aqui alguém sos e sedutores chamarizes que nos levam em
que pecou nesse sentido, existe o arrependi­ direção da imoralidade e anulam nossa eficá­
mento e existe perdão, desde que haja ‘ ‘triste­ cia como líderes do sacerdócio.
za segundo Deus” . (II coríntios 7:10.) Nem Em 1831, declarava o Senhor: “ Saí de en­
tudo está perdido. Todos vocês têm um bis­ tre os iníquos, Salvai-vos. Sede limpos, vós que
po, ordenado e designado pela autoridade do portais os vasos do Senhor.” (D&C 38:42.)
santo sacerdócio que, no exercício de seu ofí­ Em torno de nós revoluteia a constante e
cio, tem direito à inspiração do Senhor. Ele é crescente praga da pornografia. Os produto­
um homem experiente, um homem com­ res e fornecedores de obscenidades exploram
preensivo, um homem que tem no coração diligentemente uma mina que lhes garante lu­
um profundo amor à juventude de sua ala. É cros milionários. Alguns de seus produtos são

78 A LIAHONA
ardilosamente enganadores, destinados a ex­ Dart, editor de assuntos religiosos do Los A n ­
citar e estimular os mais baixos instintos. Mui­ geles Times, escreveu uma coluna em feverei­
tos homens que provaram do fruto proibido, ro passado na qual diz:
descobrindo depois que isto destruiu seu casa­ “ Uma pesquisa sobre influentes autores
mento, fez perder o respeito próprio e partiu o e executivos de televisão em Hollywood mos­
coração de sua companheira, chegaram à trou que são muito menos religiosos que o pú­
conclusão de que o caminho estúpido que se­ blico em geral e ‘divergem profundamente
guiram teve início com a leitura ou interesse dos valores tradicionais’ em assuntos como
por coisas pornográficas. Alguns que não co­ aborto, direitos dos homossexuais e sexo ex-
gitariam sequer de tomar um só trago de bebi­ tramarital... Embora quase todos os cento e
da ou fumar um cigarro são bem menos crite­ quatro profissionais de Hollywood entrevis­
riosos quanto à pornografia, vergando-se a tados tivessem formação religiosa, quarenta e
valores totalmente impróprios a alguém que cinco por cento deles dizem agora que não
foi ordenado ao sacerdócio de Deus. têm religião, e dos restantes cinqüenta e cinco
Representações de perversão sexual, por cento, apenas sete por cento confessam
violência e bestialidade tornam-se cada vez freqüentar algum serviço religioso possivel­
mais acessíveis aos que sucumbem aos seus mente uma vez ao mês.
engodos. Quando isso acontece, as ativida­ “ ‘Esse grupo tem sido o maior respon­
des religiosas vão perdendo sua atração, sável pela produção dos espetáculos cujos te­
porque as duas não se misturam, assim co­ mas e astros se tornaram o prato forte de nos­
mo água e óleo. sa cultura popular’ ...
Um estudo merecedor de reflexão foi re­ “ Oitenta por cento dos entrevistados
centemente publicado na revista Public Opi- não vêem nada de mal nas relações homosse­
nion, comentado por diversos autores. John xuais, e cinqüenta e um por cento não cónsi-

JANEIRO DE 1984 79
deram errado o adultério. Dos quarenta e no­ “ lhes sussurra aos ouvidos” . Como descre­
ve por cento que acham errado as relações ex- vem bem os meios sedutores e enganosos dos
tramaritais, apenas dezessete por cento o con­ promotores da imundícia, violência e mal.
sideram grave, diz a pesquisa. Quase todos — Irmãos, não estou sugerindo um boicote
noventa e sete por cento — são a favor do di­ público, mas, sim, que evitemos pessoalmen­
reito da mulher ao aborto, sendo que noventa te essas coisas. Existe tanta coisa boa, bela e
e um por cento o defendem com vigor. edificante na literatura, nas artes e na própria
“ Em comparação, outras pesquisas in­ vida que não deve restar tempo para o porta­
dicam que oitenta e cinco por cento dos ame­ dor do sacerdócio de Deus prestigiar, assistir
ricanos condenam o adultério, setenta e um ou adquirir aquilo que só serve para conduzi-
por cento acham errado o homossexualismo -lo “ cuidadosamente ao inferno” .
e praticamente 75 por cento do público consi­ Agora, gostaria de mencionar outro
deram que o aborto deve ser limitado a casos ponto. E talvez possa repetir umas poucas li­
excepcionais ou totalmente proibido.” (Los nhas que falei noutra ocasião:
Angeles Times, 19 de fevereiro de 1983, parte Parece-me que atualmente temos uma
2, página 5.) grande hoste de críticos. Alguns parecem
Eis as pessoas que, através dos veículos querer destruir-nos. Menosprezam o que
de entretenimento nos estão educando segun­ consideramos divino.
do seus próprios padrões, que, em muitos ca­ Cultivando a descoberta de defeitos, não
sos, são diametralmente opostos aos do evan­ vêem o majestoso avanço desta grande causa.
gelho. Além ainda destes que produzem pro­ Perderam a visão da centelha que, ateada em
gramas para a televisão estão os produtores Palmyra, agora inflama chamas de fé por toda
de pornografia pesada que procuram ardilo­ a terra, em muitos países e numerosos idio­
samente seduzir os suficientemente simpló­ mas. Usando os óculos do humanismo, dei­
rios ou carentes de autodisciplina a gastar di­ xam de enxergar que influxos espirituais, com
nheiro com seus produtos lascivos. reconhecimento da influência do Espírito
Nós não somos imunes a tais influên­ Santo, tiveram tanto a ver com os atos de nos­
cias. Séculos atrás, Néfi previu nossos dias e sos antepassados como os processos da men­
disse a respeito deles: te. Não se dão conta de que a religião concerne
“ Porque o reino do diabo deve ser sacu­ tanto ao coração como ao intelecto.
dido, e os que a ele pertencem devem ser Temos críticos que parecem querer “ ca­
aconselhados a se arrependerem, ou ele os tar” , numa imensa quantidade de informa­
agarrará com suas eternas correntes, e serão ções, aqueles pontos que humilham e dimi­
movidos à cólera e perecerão; nuem alguns homens e mulheres do passado
“ Pois que, nesse dia, ele assolará os co­ que tanto trabalharam no estabelecimento
rações dos filhos dos homens e os excitará a se desta grande causa. Eles encontram para suas
encolerizarem contra o que é bom. obras leitores que se deleitam em apanhar es­
“ E a outros pacificará, e os adormecerá sas ninharias, remoer e saboreá-las. Assim fa­
em segurança carnal, de modo que dirão: Tu- zendo, estão saboreando um picles, em lugar
do vai bem em Sião; sim, Sião prospera. Tu­ de deleitar-se com uma refeição deliciosa e
do vai bem. Assim o diabo engana suas almas nutritiva de diversos pratos.
e os conduz cuidadosamente ao inferno. Reconhecemos que nossos antepassados
“ E a outros ele lisonjeia, dizendo que eram humanos. Sem dúvida, cometeram er­
não há inferno; e diz-lhes: Eu não sou o dia­ ros... Mas foram erros pequenos, compara­
bo; ele não existe; e isso ele lhes sussurra aos dos com a maravilhosa obra que realizaram.
ouvidos, até os agarrar com suas terríveis cor­ Destacar os enganos e encobrir o bem maior é
rentes, das quais não há libertação.” (2 Néfi fazer uma caricatura. Caricaturas são diverti­
28:19-22.) das, mas também muitas vezes feias e deso­
Que palavras interessantes e descritivas nestas. Apesar de ter um sinal no rosto, um
— “ os conduz cuidadosamente ao inferno” e homem pode ter traços bonitos e vigorosos;

80 A LIAHONA
mas, se o sinal for indevidamente ressaltado prepararam para a merecerem...
em relação ás demais feições, o retrato deixa Não vos deixes enredar pelos sofismas
de ser autêntico. do mundo, que em sua maior parte são nega­
Somente um único homem perfeito já tivos e raramente, ou nunca, produzem bons
andou por esta terra. O Senhor vem usando frutos... Antes, confiai em Deus e vivei. (Ver
pessoas imperfeitas para edificar sua socieda­ Alma 37:47.)
de perfeita. Se alguma delas tropeça ocasio­ Irmãos, a Igreja é verdadeira. Aqueles
nalmente, ou se seu caráter apresenta alguma que a dirigem têm um único desejo, e este é o
leve falha, é mais maravilhoso ainda que ha­ de fazer a vontade do Senhor. Eles buscam sua
jam logrado tantos feitos... orientação em todas as coisas. Não existe uma
Eu não temo a verdade. Aceito-a de decisão significativa que afete a Igreja e seu
bom grado. Mas quero que todos os fatos se povo que seja tomada sem piedosa considera­
situem no devido contexto, com destaque pa­ ção, buscando diretrizes na fonte de toda a sa­
ra os elementos que explicam o grande pro­ bedoria. Segui a liderança da Igreja. Deus não
gresso e poder desta organização. permitirá que sua obra seja desencaminhada.
Irmãos, se vivermos merecedores de sua
Existe a promessa, dada sob inspiração do
inspiração, jamais haverá em nossa mente
Onipotente, expressa nestas belas palavras:
dúvida a respeito da veracidade desta obra e
“ Pelo seu Santo Espírito, sim, pelo inex­
da grande missão deste reino. Deus vos aben­
primível dom do Espírito Santo, Deus vos da­
çoe, rapazes e homens portadores do sacer­
rá conhecimento.” (D&C 121:26.)
dócio. Possa vosso exemplo despertar o inte­
Os humanistas que nos criticam, os pre­ resse e admiração de todos os que convivem
tensos intelectuais que nos humilham, só fa­ convosco, eu oro humildemente ao deixar-
lam por ignorarem essa manifestação... Não -vos meu testemunho da divindade desta obra.
a conhecem, porque não a buscaram e não se Em nome de Jesus Cristo. Amém.

JANEIRO DE 1984 81
SESSÃO M A T U T IN A DE D O M IN G O ,
2 de outubro de 1983.

Deus Conceda-nos Fé

Presidente Gordon B. Hinckley


Segundo conselheiro na Primeira Presidência

“Não existe obstáculo tão grande, nem desafio tão difícil,


que não possamos vencer com a fé. ”

Coro do Tabemáculo cantou “ A A l­ a esta obra. Sei que, às vezes, parece pesa­
va Rompe em Sião” e gostaria de usar da e parte dela até desnecessária. Mas o es­
O a maravilhosa letra escrita por Parley forço e labor produzem a força, e o serviço
P. Pratt à guisa do tema: traz alegria.
Agradeço-vos por vossa fé no pagamen­
A alva rompe em Sião e a verdadefaz volver; to do dízimo e ofertas, possibilitando, assim,
Depois da longa escuridão, depois da longa o crescimento e progresso desta obra pelo
escuridão mundo afora. Vós, entretanto, não necessi­
Bendito dia vai nascer! tais de agradecimentos. Pois todo aquele que
paga honestamente o dízimo, tem testemu­
N o céu refulge um sinal eis o Milênio do Se­ nho das bênçãos decorrentes, e pode testificar
nhor! que o Senhor abre as janelas dos céus, derra­
Jesus em glória celestial, Jesus em glória ce­ mando as bênçãos prometidas. (Ver Mala-
lestial quias 3:10.)
A o mundo desce com fulgor. Asseguro-vos, irmãos e irmãs, que a
(Hinos, n? 179.) obra está progredindo. Nos mais de oitenta
países em que se estabeleceu, está-se fortale­
Saúdo-vos com apreço por vossa dedi­ cendo. A fé do povo cresce, conforme com­
cação ao Senhor e vossa lealdade a esta gran­ prova sua crescente participação. A obra mis­
de causa. sionária continua a florescer. Nossos rapazes
Vejo os frutos da vossa fé e sinto grati­ e moças continuam a sair de casa, indo pelo
dão . Agradeço-vos pela energia que dedicais mundo prestando testemunho do Salvador e

82 A LIAHONA
da restauração de seu Evangelho eterno nesta Não menciono esses esforços num senti­
dispensação da plenitude dos tempos. (Ver do de vangloria, mas apenas para externar
D&C 124:41.) A obra de salvação pelos mor­ gratidão ao Senhor pelos meios, recursos e
tos, através do imenso programa genealógico vontade de nosso povo de ajudar em épocas
da Igreja e a abnegada obra de amor que se de crise.
realiza nos templos, prossegue num passo tissas obras de misericórdia foram fi­
nunca antes visto. nanciadas, em grande parte, pelo fundo de je­
Nosso povo está sendo mais fiel na fre­ jum. A despeito da necessidade crescente de
qüência às reuniões, e desde a última confe­ enfrentar desastres assim, além dos proble­
rência, um número bastante substancial deles mas provocados pela atual situação econômi­
teve oportunidade de demonstrar seu amor ca, as contribuições para o fundo de jejum
ao próximo, bem como a Deus. Nas enchen­ acompanharam as necessidades. Grato por
tes que tivemos nesta área, houve demonstra­ essa maravilhosa demonstração de fé, privan­
ções sem precedentes de solidariedade e servi­ do-vos de comer para ajudar os necessitados.
ço cristão. Um senhora que não é membro da Comunico também a dedicação de qua­
Igreja declarou ao ser entrevistada na televi­ tro novos templos desde junho deste ano. Pa­
são: “ Não sou mórmon, mas aprendi a co­ ra informação do ouvinte não-membro da
nhecer quem é o meu bispo.” Falou com ir­ Igreja, gostaria de explicar que o templo ocu­
restrito apreço de seus vizinhos que, sendo pa um lugar único e peculiar em nossa teolo­
quase todos mórmons, a ajudaram tão gene­ gia. Não é um local de culto público, dos quais
rosamente quanto uns aos outros. Não muito temos milhares espalhados pelo mundo. Os
longe daqui, há uma estaca na qual os mem­ templos são dedicados como casas especiais
bros de cada ala se encarregaram de reparar de Deus, nas quais se realizam algumas das
ou reconstruir as casas danificadas ou des­ mais sagradas e edificantes ordenanças asso­
truídas pela enchente. Centenas de milhares ciadas com o Evangelho de Jesus Cristo.
de sacos de areia foram enchidos e empilha­ Em junho, dedicamos um novo templo
dos. Não foram, logicamente, só membros em Atlanta, na Geórgia, foi a realização de
da Igreja que trabalharam, mas todos os en­ um sonho que começou há mais de um sécu­
volvidos elogiaram muito a organização da lo, quando, nos dias de miséria de nosso po­
Igreja que foi capaz de arregimentar suas for­ vo, foram enviados os primeiros missionários
ças com tanta rapidez e eficiência. aos estados sulinos. Uns poucos aceitaram
Um montante substancial de auxílio foi seu testemunho, enquanto muitos se levanta­
enviado ao povo de Tonga, após forte tufão ram acerbamente contra eles. Esses primeiros
que destruiu casas e plantações. Membros e missionários sofreram muita perseguição.
não-membros foram beneficiados com esse Alguns foram despidos e espancados; outros
auxílio. mortos por inimigos cheios de ódio. Mas eles
Os santos dos últimos dias brasileiros so­ perseveraram com fé. Com o tempo, milha­
correram seus compatriotas, mórmons e não- res e mais milhares filiaram-se à Igreja. Hoje,
-mórmons, que perderam casas e colheitas, a obra está forte e florescente nessa bela parte
quando enchentes devastaram grandes áreas de nosso país, onde contamos agora com cen­
do sul do país. tenas de fiéis congregações SUD.
Através do Programa de Bem-estar e Na época da dedicação do Templo de
com a cooperação da Kaiser Aluminum Atlanta, os testemunhos do povo — expres­
Company, que forneceu o transporte, pude­ sos em palavras ou apenas em lágrimas de
mos mandar suprimentos substanciais de gratidão — aliados a seus cantos de louvor e
mantimentos e remédios para socorrer fa­ graças, testificaram do vigor de sua fé e seu
mintos em Gana, na África. Vidas, e não amor a Deus.
poucas, foram literalmente salvas com esse Em agosto, estivemos dedicando tem­
auxílio. plos em Samoa e Tonga. Novamente, nossos

JANEIRO DE 1984 83
corações se regozijaram com o transbordar manhã. São jovens brilhantes, bem dotados e
de amor cristão que sentimos e observamos atraentes. Observando-os, não se pode ter
entre os maravilhosos santos polinésios. dúvida alguma quanto ao futuro desta obra.
Através de profetas antigos, o Senhor prome­ Fazem parte de uma maravilhosa geração,
teu que, nos últimos dias, se lembraria do seu cujo número aumenta constantemente e cuja
povo nas ilhas do mar. Temos testemunhado fé é contagiante.
o maravilhoso cumprimento dessas promes­ São encontrados não só nas áreas que
sas. Hoje, temos entre esse povo gentil e bon­ acabo de mencionar, mas por toda a parte em
doso, dezenas de congregações, escolas fortes que nossa obra se encontra estabelecida. São
e florescentes abençoando-os com os benefí­ a promessa segura do futuro da Igreja e de
cios da educação e, agora, belos templos do sua crescente força, e o cumprimento da sua
Senhor, para que possam receber as bênçãos missão. Além disso, serão uma bênção para o
só neles encontradas. país e povo ao qual pertencem, pois são todos
Faz apenas duas semanas, estivemos em jovens que ambicionam instruir-se. Acredi­
Santiago, no Chile, para a dedicação de outro tam no cultivo do intelecto, desenvolvimento
lindo templo. Para mim foi um milagre poder de seus dotes, na necessidade de dominar no­
estar com mais de quinze mil santos, reunidos vas tecnologias, em servir no mundo de tra­
para os serviços dedicatórios que se prolonga­ balho no qual viverão.
ram por três dias. O território do Chile esten­ São rapazes e moças virtuosos e sóbrios
de-se por milhares de quilômetros ao longo que aprenderam que seu corpo é um templo
do Pacífico, e nossos fiéis membros acorre­ do espírito de Deus e que não podemos cons­
ram de cidades tão distantes como Arica, no purcá-lo sem ofender a seu Criador.
extremo norte, e Punta Arenas, no extremo
São rapazes e moças de fé que têm co­
sul, a fim de se regozijarem com a maravilho­
nhecimento das escrituras. Conhecem o Ve­
sa bênção recebida — o erguimento e dedica­
lho Testamento e os grandes personagens que
ção dessa sagrada casa de Deus.
marcam suas páginas. Estão familiarizados
Entre eles, estavam o Irmão Ricardo com o Novo Testamento e desenvolveram
Garcia e sua esposa, o primeiro casal a bati­ amor ao Filho de Deus, o Senhor Jesus Cris­
zar-se, quando missionários foram manda­ to. Sua fé em Cristo se confirma e fortalece,
dos ao Chile, em 1956. Passados apenas vinte ao estudarem o maravilhoso testamento do
e sete anos, temos ali mais de cento e quarenta Novo Mundo, o Livro de Mórmon. São co­
mil membros da Igreja. nhecedores da palavra de Deus, dada através
Nós, que tivemos o privilégio de partici­ da revelação moderna. São estudantes que
par desses serviços dedicatórios, sentimos procuram adquirir instrução secular e religio­
nossa fé revigorada e maior afeição por nos­ sa, aprendendo pelo estudo e também pela fé.
sos irmãos e irmãs que amam ao Senhor e são São exemplos do poder do grande primeiro
leais a ele e seus mandamentos. princípio — a fé no Senhor Jesus Cristo.
Recentemente tive oportunidade de en­ A história desta Igreja é a história da ex­
contrar-me com quatorze mil alunos de semi­ pressão dessa fé. Iniciou-se com um rapaz do
nário e instituto, no Centro de Convenções de campo, em 1820, quando leu esta grande pro­
Long Beach. Eles vieram de diversas áreas do messa na Epístola de Tiago:
sul da Califórnia, simpáticos rapazes e belas
“ Se algum de vós tem falta de sabedoria,
mocinhas, na maioria estudantes do curso se­
peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e
cundário, que, cinco dias por semana, se reú­
o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada.
nem para uma aula de seminário às 6hl5min.
da manhã, realizada em prédio da Igreja per­ “ Peça-a, porém, com fé, não duvidan­
to da escola por um dedicado e eficiente pro­ do; porque o que duvida é semelhante à onda
fessor. Voltando do Chile, reuni-me com ou­ do mar, que é levada pelo vento e lançada de
tro grupo desses estudantes, às 6hl5min. da uma para outra parte.” (Tiago 1:5-6.)

84 A LIAHONA
Foi fé, a fé singela de um rapaz de qua­ ters junto ao Missouri. Doenças, disenteriae
torze anos que o conduziu ao bosque naquela gangrena causaram centenas de mortes.
manhã de primavera. Foi fé que o fez ajpe- Mas a fé susteve os sobreviventes. Enterra­
lhar-se, implorando entendimento. O fruto ram os entes queridos na ribanceira acima
maravilhoso dessa fé foi uma visão gloriosa e do rio, partindo na primavera de 1847 para o
bela, da qual esta grande obra não passa de oeste, e com a força da fé conseguiram subir
conseqüência. pelo Elkhon e vadear o Rio Platte, rumo às
Foi pela fé que se conservou digno das Montanhas Rochosas.
extraordinárias manifestações que se segui­ Foi pela fé que Brigham Young, con­
ram, trazendo de volta à terra as chaves, a au­ templando este vale, então estéril sob a incle-
toridade, o poder de restabelecer a Igreja de mência do sol, declarou: “ Este é o lugar.” E
Jesus Cristo nestes últimos dias. Foi pela fé novamente pela fé, quatro dias mais tarde
que esses maravilhosos anais de povos anti­ fincou a bengala no chão e disse: “ Aqui será
gos, esse testamento que chamamos de Livro o templo de nosso Deus.” A magnífica e sa­
de Mórmon foi trazido à luz pelo dom e poder grada casa do Senhor, situada ao lado deste
de Deus ‘ ‘para convencer ao judeu e ao gentio Tabernáculo, é um testemunho de fé, não só
que Jesus é o Cristo” . Foi pela fé que o pe­ da fé dos que a construíram, mas também da­
queno bando dos primeiros conversos, arros­ queles que agora a utilizam numa grande e
tando os próprios poderes do inferno, que abnegada obra de amor.
contra eles se levantaram, fortaleceram-se Dizia Paulo aos hebreus: “ Ora, a fé é o
uns aos outros, abandonaram o lar e a família firme fundamento das coisas que se esperam,
para divulgar a palavra, mudaram-se de N o ­ e a prova das coisas que se não vêem.” (He­
va York para Ohio, de Ohio para o Missouri, breus 11:1.) Todos os grandes feitos dos quais
e do Missouri para Illinois, em busca de paz e falei, foram a princípio somente o “ funda-
liberdade para adorar a Deus de acordo com
os ditames de sua consciência.
Foi com os olhos da fé que viram a bela
cidade, quando atravessaram os alagados de
Commerce, Illinois. Convencidos de que a fé
sem obras é morta, drenaram os brejos, tra­
çaram a cidade, construíram sólidas casas e
prédios para o culto e escolas e, coroando tu­
do isso, um magnífico templo, o mais belo
edifício de toda Illinois.
Renasceu a perseguição, movida por
turbas profanas e assassinas. Seu profeta foi
morto, seus sonhos desfeitos. Mais uma vez,
pela fé, congregaram-se segundo os padrões
por ele traçados e se organizaram para outro
êxodo.
Com lágrimas e o coração partido,
abandonaram suas casas confortáveis e suas
oficinas. Depois de um último olhar ao tem­
plo sagrado, voltaram os olhos com fé para o
oeste, para o desconhecido, ainda não explo­
rado; e com as neves do inverno caindo sobre
eles, cruzaram o Mississipi naquele fevereiro
de 1846, abrindo caminho pelos prados lama­
centos de Iowa.
Com fé, estabeleceram Winter Quar-

JANEIRO DE 1984 85
mento das coisas que se esperam, e a prova Numa época mais conturbada, o Senhor
das coisas que se não vêem” . Entretanto, disse a Thomas B. Marsh:
com visão, esforço e confiança no poder de “ Sê paciente nas aflições, não injuries
Deus operando através deles, transformaram aos que te injuriarem. Governa a tua casa
a fé em realidade. com brandura e sê constante...
Temos atrás de nós uma história glorio­ “ Vai onde quer que eu te mande e ser-te-
sa, ornamentada com heroísmo, tenacidade, -á dado saber pelo Consolador o que deverás
apego a princípios e inabalável fidelidade — fazer e onde deverás ir...
um produto da fé. À nossa frente, temos um “ Sê fiel até o fim, e eis que estou conti­
grandioso futuro que começa hoje. Não po­ go. Estas palavras não são de homem nem de
demos parar; não podemos retardar o passo homens, mas são minhas, mesmo Jesus Cris­
ou diminuir a marcha. to, teu Redendor, pela vontade do Pai.”
Num período tenebroso de nossa histó­ (D&C 31:9, 11, 13.)
ria, quando inimigos assacavam acusações Disse o Salvador a seus discípulos:
contra a Igreja, a Primeira Presidência emitiu “ Sede vós pois perfeitos como é perfeito
uma proclamação ao mundo na qual expôs as o vosso Pai que está nos céus.’ ’ (Mateus 5:48.)
dimensões desta obra, dizendo: “ Nossos mo­ Este é o nosso mandamento. Infeliz­
tivos não são egoístas, nem nossos propósitos mente não alcançamos a perfeição. Ainda es­
fúteis e materialistas; consideramos a raça tamos longe dela. Precisamos cultivar a fé pa­
humana — passada, presente e vindoura — ra reformar nossa vida, começando por onde
como seres imortais, cuja salvação é a nossa somos fracos e dali partindo para nossa obra
obra; e é a este trabalho, imenso como a eter­ de autocorreção, adquirindo, assim, gradual
nidade e profundo como o amor de Deus, e consistentemente mais força para viver co­
que nos devotamos agora e sempre. ” (A Pri­ mo deveríamos.
meira Presidência, 26 de março de 1907.) Com fé somos capazes de superar os as­
Com fé temos de seguir avante no cum­ pectos negativos da vida que constantemente
primento desse compromisso, tendo sempre procuram derrubar-nos. Com esforço, con­
em mente o quadro geral, sem, contudo, ne­ seguiremos desenvolver a capacidade de do­
gligenciar os detalhes. Esse grande quadro é o minar os impulsos que nos induzem a atos de­
retrato de toda a imensa missão da Igreja, gradantes e maus.
mas pintado pincelada por pincelada pela vi­ Com fé podemos disciplinar nossos ape­
da de todos os membros, cuja atuação con­ tites. Podemos alcançar aqueles cuja fé esmo­
junta se toma a obra da Igreja. receu e reanimá-la com a nossa própria fé.
Por isso, cada um de nós é importante. Jamais nos esqueçamos, irmãos e irmãs,
Cada um de nós é como que uma pincelada que cada um de nós é parte de um todo e que
no mural desse vasto panorama do reino de nossas ações maculam ou embelezam o mag­
Deus. Se houver espaços vazios, se houver nífico panorama do reino de Deus.
distorções, se houver áreas de colorido im­ Como nossos pais labutaram com fé,
próprio, então o quadro parecerá defeituoso movidos pela visão do destino desta obra,
a todos os que o contemplam. nós também o podemos. H á tanto o que fa­
Algum de nós ousará dizer que, com fé, zer, tantos melhoramentos a realizar, mas
não poderemos atuar melhor do que estamos nós somos capazes de consegui-lo, se andar­
agindo agora? mos na fé.
Não existe obstáculo tão grande, nem “ Se tiverdes fé como um grão de mos­
desafio tão difícil que não possamos vencer tarda, direis a este monte: Passa daqui para
com a fé. Vivemos num mundo que desafia acolá— e há de passar; e nada vos será impos­
os padrões do evangelho, os ridiculariza e faz sível.” (Mateus 17:20; grifo nosso.)
pouco das coisas sagradas. Haveremos de Assim declarou o Senhor.
transigir? Haveremos de injuriar aqueles que Deus nos conceda fé, eu oro humilde­
falam mal de nós? mente em nome de Jesus Cristo. Amém.

86 A LIAHONA
Joseph, o Vidente

Élder Neal A . Maxwell


do Quorum dos Doze Apóstolos

“Sou grato ao meu Senhor e Salvador, Jesus Cristo, por


haver chamado, dirigido e instruído Joseph... ”

urante toda a extensão da história hu­ época da tradução do Livro de Mórmon, não

D mana, nenhum profeta tem sido pes­


quisado com tamanha insistência,
profundidade e por mais tempo que Joseph
Smith Jr. E isto devido aos meios avançados
sabia ‘ ‘redigir bem uma carta, quanto mais di­
tar um livro como o Livro de Mórmon... (que
era) maravilhoso para mim, uma maravilha e
um assombro, tanto quanto para qualquer
de comunicação de hoje e o impacto global de outra pessoa” . (Preston Nibley, The fVitnes­
sua obra. ses o f the Book o f Mormon, p. 28.)
Quando ainda jovem, foi-lhe dito que Esse obscuro moço aparentemente se in­
“ seu nome seria conhecido por bem ou por terrompeu enquanto traduzia e ditava para
mal” no mundo inteiro. (Joseph Smith 2:33.) Emma — provavelmente no capítulo 4 de 1
Se não fosse proveniente de fonte divina, que Néfi, onde fala das "muralhas de Jerusalém”
afirmação audaciosa! N o entanto, os líderes — e disse-lhe: “ Emma, eu não sabia que Je­
religiosos contemporâneos dele, então muito rusalém tinha muralhas.”
mais conhecidos do que Joseph Smith, foram Mas a profunda inteligência de Joseph
esquecidos pela história, enquanto o nome estava sendo despertada e ampliada pelas
dele cresce constante e globalmente. palavras instruidoras do Senhor e dos profe­
Contudo, não hesitamos em concordar tas antigos, fluindo por sua consciência esti­
que, pelos padrões do mundo, Joseph não ti­ mulada. Na verdade, ele era o próprio vidente
nha instrução. Isaías o previu. (Ver Isaías previsto em outras eras por José do Egito!
29:11-12.) Joseph não teve o ensino hábil e (Ver 2 N éfi 3:6-7, 16-18.)
formal recebido pelo jovem Saulo aos pés de Na profética bênção paterna dada a Jo­
Gamaliel. (Ver Atos 22:3.) seph Smith Jr., em dezembro de 1834, Pai
Emma Smith declarou que Joseph, na Smith confirmava as promessas feitas ao an-

JANEIRO DE 1984 87
tigo José, proferindo mais outras bênçãos so- dia, segundo a carne, e para que possa conhe­
breo jovem filho, incluindo estas: “ Teu Deus cer, segundo a carne, como socorrer o seu po­
te chamou dos céus pelo nome... para fazer vo, de acordo com suas enfermidades.” (A l­
nesta geração uma obra que nenhum outro ma 7:11-12.)
homem senão tu poderia fazer.” O antigo Jo­ Iluminada foi também a prece implora-
sé “ cuidou de sua posteridade nos últimos tiva: “ E tudo o que pedirdes na oração, cren­
dias... E procurou diligentemente saber... do, o recebereis.” (Mateus 21 22.) Luz clara,
quem lhes levaria a palavra do Senhor, e seus preciosa e necessária foi acrescentada a estas
olhos viram a ti, meu filho: (Joseph Smith palavras através de Joseph:
Jr.) seu coração regozijou-se e sua alma ficou “ E tudo quanto pedirdes ao Pai, em meu
satisfeita” . nome, se pedirdes o que é direito e com fé, eis
O jovem Joseph ouviu ainda seu pai que recebereis.” (3 Néfi 18:20; grifo nosso.)
prometer: “ Hás de gostar do trabalho que o “ Aquele que pede em Espírito, pede de
Senhor te mandará fazer.” (Ver 2 Néfi 3:8.) acordo com a vontade de Deus; portanto, é fei­
Anteriormente, durante cerca de noven­ to de acordo com o que pedir.” (D&C 46:30.)
ta dias, Joseph traduzira — e com extraordi­ Não só verdades confirmadoras e expli­
nária rapidez — verdades e conceitos de cativas fluíram através de Joseph, mas tam­
imenso significado e muito além de seu enten­ bém rica linguagem e conceitos profundos.
dimento na época. Apenas algumas preciosi­ De Amon:
dades desse tesouro: “ Quão cegos e impenetráveis são os en­
Joseph, por exemplo, tinha condições tendimentos dos filhos dos homens, pois que
de apreciar devidamente que, através dele, se­ não procuram sabedoria nem desejam que
ria dado o único esclarecimento significativo ela os governe!
de uma das mais fundamentais e exigentes de­ “ Sim, são como um rebanho selvagem,
clarações de Jesus? que foge do pastor, que se espalha e é perse­
“ Em verdade vos digo que, se não vos guido.” (Mosiah 8:20-21.)
converterdes e não vos fizerdes como meni­ De Jacó:
nos, de modo algum entrareis no reino dos “ Haveis quebrantado os corações de
céus.” (Mateus 18:3.) vossas ternas esposas e perdido a confiança de
Pela tradução de Joseph Smith, recebe­ vossos filhos, por causa de vossos maus
mos estas assombrosas, esclarecedoras pala­ exemplos diante deles;... muitos corações pe­
vras, definindo o sentido real da submissão receram, transpassados por profundas feri­
santa e infantil: das.” (Jacó 2:35.)
“ Tomando-se santo pela expiação de De Amuleque, que acaba triunfando so­
Cristo, o Senhor, chegando a ser como crian­ bre a ambivalência:
ça, submisso, manso, humilde, paciente, “ Não obstante, endureci meu coração,
cheio de amor e disposto a se submeter a tudo pois fui chamado muitas vezes e não quis ou­
quanto o Senhor achar que lhe deve infligir, vir; portanto eu sabia a respeito destas coisas,
assim como uma criança se submete a seu embora não o quisesse saber.” (Alma 10:6.)
pai” . (Mosiah 3:19.) Teologia e beleza combinam-se, cons­
Paulo diz, igualmente, que desde haver tantemente nas páginas através de Joseph,
sido tentado, Jesus compreendia como so­ como quando o Cristo ressurreto apareceu no
correr-nos quando somos tentados. (Ver He­ Hemisfério Ocidental:
breus 2:18; 4:15.) Foi por intermédio de Jo­ “ E após (Jesus) haver dito estas pala­
seph Smith, no entanto, que nos vieram estas vras, ajoelhou-se também por terra; e eis que
palavras esclarecedoras de Alma: orou ao Pai, sendo que as coisas que disse em
“ E (Jesus) sofrerá penas, angústias e sua oração não podem ser escritas...
tentações de toda espécie... ele tomará sobre “ E não há língua que possa falar, nem
si as dores e enfermidades de seu povo... para homem que possa escrever, nem podem os
que suas entranhas se encham de misericór­ corações dos homens conceber tão grandes e

88 A LIAHONA
maravilhosas coisas como as que vimos e ou­ um irmão arrependido, em 1840, W . W.
vimos Jesus dizer; e ninguém pode calcular a Phelps:
extraordinária alegria que encheu nossas al­ “ É verdade que sofremos muito em con­
mas na ocasião em que o vimos orar por nós seqüência de sua conduta — a amarga taça, já
ao Pai.” (3 Néfi 17:15, 17.) cheia demais para um mortal tomar, trans­
bordou, quando você se virou contra nós. A l­
Estudando seriamente o Livro de M ór­
guém com quem nos aconselhamos tantas ve­
mon, somos admitidos a um maravilhoso
zes e gozamos muitas horas agradáveis pro­
mundo de complexidade e beleza, mesmo nos
porcionadas pelo Senhor — fosse um inimi­
refrões mais simples, embora poderosos, es­
go, nós o suportaríamos...
pirituais do livro. Recebemos aquilo de que
“ Entretanto, a taça foi esvaziada, a von­
mais necessitamos — embora continuando
tade de nosso Pai foi cumprida, e continuamos
sedentos por mais!
vivos, pelo que somos gratos ao Senhor...
Concedamos que sempre que as pala­ “ Ficarei feliz, mais uma vez... regozi­
vras celestes são filtradas por mentes e línguas jando-me com o pródigo que retoma...
mortais, elas sofrem certa diminuição. N o en­ “ Venha, querido irmão, a guerra aca­
tanto, como aconteceu com Néfi em outros bou. Amigos a princípio, amigos novamente
tempos, o mesmo se deu com Joseph Smith: por fim .” (History o f the Church, 4:163-64.)
Joseph Smith era imperfeito como os
“ Se acreditardes em Cristo, acreditareis
outros profetas? Certamente! Sem dúvida
nestas palavras, porque são as palavras de
podia identificar-se com estas palavras de um
Cristo; ele mas deu.” (2 Néfi 33:10.)
profeta antigo que traduziu: “ Não me conde­
Posteriormente, Joseph aprendeu a ex­ neis em virtude de minha imperfeição, nem a
ternar seus próprios pensamentos de forma meu pai por causa da sua... antes, dai graças a
inspiradora, como em sua carta de perdão, a Deus por vos ter manifestado nossas imper-

Élder A ngel Abrea, à direita, do Prim eiro Quorum dos Setenta, e visitantes da conferência.

JANEIRO DE 1984 89
feições, para que possais aprender a ser mais rante o dia do bebê de uma vizinha, o qual lhe
sábios do que nós fomos.” (Mórmon 9:31; devolvia à noite. Uma irmã mais velha do be­
ver também D&C 67:5.) bê, Margareth Mclntire, contou mais tarde:
Ele que traduziu as palavras instrutivas “ Uma noite, como ele não voltasse na
de que existe “ oposição em todas as coisas” hora habitual, mamãe desceu até a Mansão
(2 N éfi 2:11), entendeu, por experiência pró­ para ver qual o problema. Ali estava sentado
pria, que o processo de crescimento espiri­ o Profeta com o bebê envolto num pequeno
tual envolve princípios isométricos, a pres­ acolchoado de seda, embalando-o nos joe­
são do eu emergente contra a firme resistên­ lhos e cantando para ele, a fim de que se acal­
cia do antigo eu. masse, antes de sair.” (Ensign, janeiro de
1971, pp. 36-37.)
Terá Joseph Smith experimentado as
Era Joseph Smith um líder prestativo?
mesmas ansiedades no cumprimento de sua
Comprovadamente! Uma garota e seu ir-
missão como outros profetas? Sem dúvida!
mãozinho lutavam contra a lama, a caminho
Ele compreendia como se sentia Paulo, ao
da escola. O Profeta “ abaixou-se, raspou o
escrever:
barro pesado de nossos pequenos sapatos e,
“ Porque, mesmo quando chegamos à
tirando o lenço do bolso, limpou nossas faces
Macedônia, a nossa carne não teve repouso
manchadas de lágrimas. Depois de falar co­
algum; antes em tudo fomos atribulados; por
nosco com palavras gentis e animadoras,
fora combates, temores por dentro.” (II Co-
mandou-nos para a escola radiantes. ’ ’ (Juve-
ríntios 7:5; ver também II Coríntios 4:8.)
nile Instructor, 15 de janeiro de 1892, p. 67.)
Foi injustamente acusado como outros
A o fugir com Joseph de uma turba enfu­
profetas? Sim! Ainda hoje fragmentos de fa­
recida, um jovem conta: “ Doença e medo ha­
tos sãò assacados contra sua memória. Paulo
viam-me roubado as forças. Joseph teve de
foi acusado de louco e perturbado. (Ver Atos
decidir entre deixar-me para trás para ser cap­
26:24.) O próprio Jesus foi acusado de bebe­
turado pela turba, ou ajudar-me, pondo em
dor de vinho, possuído pelo demônio e de es­
risco a própria vida. Escolhendo a segunda
tar louco. (Ver Mateus 11:19; João 10:20.)
opção, ergueu-me sobre os ombros vigorosos
Contudo, apesar de todas essas coisas,
e carregou-me pela escuridão através do bre­
Joseph Smith adorava a obra para a qual fora
jo, descansando um pouco de vez em quan­
chamado. E amava seus companheiros! A o
do. Horas mais tarde, alcançamos a única es­
fazer designações individuais aos Doze, per­
trada e logo estávamos em segurança. Sua
cebemos seu afeto e humor gentilmente en­
força hercúlea permitiu-lhe salvar-me a
trelaçados:
vida.” (N ew E ra, dezembro de 1973, p. 19.)
“ John Taylor, acredito que podes pro­ Sendo ele próprio uma vítima da intole­
duzir mais no departamento editorial que rância, ficou profundamente magoado,
pregando. Podes escrever o que milhares vão quando queimaram um convento católico na
ler; enquanto que pregarás somente a uns Nova Inglaterra, e documentou: “ Sim, à vis­
poucos, de cada vez. Não temos ninguém ta do próprio lugar onde se acendeu a chama
mais a quem confiar o jornal, e mesmo dificil­ da Independência Americana.” (History o f
mente a ti, pois permites que saia com tantos the Church, 2:465.) Difamado até hoje, Jo­
erros.” (History o f the Church, 5:367.) seph declarou certa vez: “ Estou pronto a
Joseph Smith estava cheio de miseri­ morrer igualmente para defender os direitos
córdia, como prova a cura de muitos doen­ de um presbiteriano, um batista ou... qual­
tes com febre às margens de um rio, e onde quer outra denominação.” (History o f the
suas mãos não podiam chegar, ele mandou Church, 5:498.)
um lenço curador! (Ver History o f the Enquanto a maioria dos mortais não se
Church , 4:3-5.) dava conta da importância do ministério de
Chorando a morte de um filho recém- Joseph, o adversário seguramente sim!
-nascido, recebeu permissão para cuidar du­ Não surpreende que, ao ser assassina-

90 A LIAHONA
do, Joseph Smith Jr. continuava crescendo foi extraordinário, sim; porém, muito mais
espiritual e intelectualmente. Todavia, Jo­ importante que isso, ele foi um instrumento!
seph viveu o suficiente para “ traçar o plano Ainda agora se ouve o débil rufo distan­
de toda a obra que Deus te deu a fazer” , te, mas que se aproxima, dos tambores da his­
conforme é prometido na bênção de seu pai tória anunciando num crescendo o reconhe­
moribundo, em 1840. Agora, os confins da cimento mortal, quando todos haverão de ver
terra perguntam por seu nome. Não admira as “ coisas como realmente são” . (Jacó 4:13.)
que as últimas palavras de Brigham Young, Enquanto isso, os antigos anais traduzi­
ao morrer, fossem: “ Joseph, Joseph, Jo­ dos pelo jovem Joseph estarão conosco “ de
seph” (Joseph Fielding Smith, Essentials in geração em geração, enquanto durar a
Church History, p. 459.) terra” , (2 Néfi 25:22; ver também D&C 5:10.)
Assim, aqueles que injuriam Joseph Esses anais definem vidente como alguém
Smith não mudarão seu conceito perante o que consegue traduzir registros antigos, é um
Senhor (ver 2 Néfi 3:8) — apenas o próprio! revelador, e conhece as coisas passadas e fu­
Pelo contrário — conforme foi prometido a turas. (Ver Mosiah 8:15-17.)
Joseph Smith em 1834, na bênção paterna: Por isso, irmãos e irmãs, não hesito —
“ Milhares e dezenas de milhares virão a apenas regozijo — em declarar minha admi­
conhecer a verdade por meio do teu ministério, ração infinita por Joseph, o Vidente! Sou
e tu te regozijarás com eles no Reino Celestial; grato ao Pai por providenciar um vidente as­
(e) estarás postado no Monte Sião, quando as sim! Sou grato ao meu Senhor e Salvador, Je­
tribos de Jacó vierem clamando em alta voz do sus Cristo, por haver chamado, dirigido e ins­
norte, e com teus irmãos, os filhos de Efraim, truído Joseph!
os coroares em nome de Jesus Cristo.” Humildemente, presto apostólico “ lou­
Alguns talvez procurem explicar Jo­ vor ao homem que comungou com Jeová” ,
seph, adjetivando-o de extraordinário. Ele em nome de Jesus Cristo. Amém!

JANEIRO DE 1984 91
Sede Pacificadores

Élder Franklin D. Richards


da Presidência do Primeiro Quorum dos Setenta

“Precisamos assumir no dia-a-dia o papel


de pacificadores, para podermos gozar a paz
que ultrapassa todo entendimento. ”

eus caros irmãos e irmãs — sim, sois Doze reestruturaram o Primeiro Quorum dos

M todos irmãos e irmãs — o conselho


de meus Irmãos, bem como a bela
música e oração inicial, tornaram esta sessão
Setenta, na presidência do qual venho servin­
do nos últimos sete anos. Esta tem sido uma
experiência extraordinária; os quarenta e sete
sumamente edificante. componentes do nosso quorum serviram nos
Quando fui chamado como autoridade mais diversos cargos, tanto na sede da Igreja
geral há vinte e três anos, minha resposta nes­ como pelo mundo afora, e eu os elogio por
te lindo Tabernáculo foi: “ Nesta manhã, sua dedicação e bons serviços.
Presidente McKay, tenho amor no coração Conforme foi anunciado, fui chamado
ao senhor e aos irmãos que presidem os negó­ a servir como presidente do Templo de Was­
cios do reino de Deus, e tenho amor no cora­ hington, D.C., e minha esposa, Helen, como
ção a meus semelhantes. Posso dizer sincera­ superintendente.
mente que não tenho inimizade nem ódio Somos gratos pela confiança que o Pai
contra homem algum, e oro que o Senhor me Celestial, a Primeira Presidência e as autori­
sustenha nesta posição.” (Conference Re­ dades gerais nos demonstram. Aceitamos es­
port, outubro de 1960, p. 47.) sa designação com coração humilde e com­
Sim, o Senhor realmente me susteve nes­ promisso pleno de dedicarmos os melhores
sa posição, pelo que lhe sou muito grato. esforços à edificação do reino de Deus.
Na conferência geral de outubro de Estamos vivendo num período cheio de
1976, a Primeira Presidência e o Quorum dos guerras e rumores de guerras, de ódio, confli-

92 A LIAHONA
tos e contendas entre os povos. Parece-me gens dadas ao homem por Jesus Cristo é reco­
que a necessidade mais premente no mundo, nhecida como o Sermão da Montanha, que
hoje, é paz — não só entre as nações, mas contém praticamente todos os princípios bá­
também entre as famílias, na sociedade e no sicos do relacionamento humano.
mundo dos negócios. Parte desse sermão é designada como as
Da festa da Páscoa de mil e novecentos bem-aventuranças, que começam com a pa­
anos atrás, vem-nos esta grande mensagem lavra bem-aventurados. Essas bem-aventu­
de promessa e exortação de nosso Senhor e ranças estabelecem as condições que propor­
Salvador Jesus Cristo: “ Deixo-vos a paz, a cionam paz e felicidade. Nesse grande ser­
minha paz vos dou; não vo-la dou como o mão, o Salvador admoesta todos a serem pa­
mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, cificadores, dizendo: “ Bem-aventurados os
nem se atemorize.” (João 14:27.) pacificadores, porque eles serão chamados fi­
Jesus Cristo é chamado de o Príncipe da lhos de Deus.” (Mateus 5:9.) Bem-aventura­
Paz (ver Isaías 9:6), e sua mensagem é uma do quer dizer feliz, estimado e glorificado.
mensagem de paz ao indivíduo e ao mundo. O Nunca houve uma época em que mais
Evangelho de Jesus Cristo é o plano de vida que precisássemos de pacificadores do que hoje.
devolve a paz ao mundo, remove tensões inte­ Por isso, parece-me apropriado discutir como
riores e traz felicidade à alma humana. É a poderíamos contribuir para o estabelecimen­
maior filosofia de vida já dada ao homem. to de paz, pelo menos entre nosso círculo.
A missão de A Igreja de Jesus Cristo dos Já pensastes como podeis ser pacifica­
Santos dos Últimos Dias é estabelecer essa paz e dores? Gostaria de mencionar algumas possi­
felicidade no coração e no lar das pessoas. bilidades. Na verdade, nossas oportunidades
Sem dúvida, uma das maiores mensa­ são ilimitadas.

Élder Franklin D. Richards f o i desobrigado, na conferência, da Presidência do Prim eiro Quorum dos Setenta,
para cumprir seu novo chamado com o presidente do Templo de Washington D. C.

JANEIRO DE 1984 93
Certamente podemos todos ser pacifica­ Uma das moças observou: “ Acho que
dores em toda parte, principalmente no lar, éramos apenas uma família normal com pe­
demonstrando amor e boa vontade e contra­ quenos conflitos diários causados por nosso
balançando assim o mal da contenda, inveja e egoísmo. Mas, ao me esforçar com meus ir­
ciúmes. Havendo mal-entendidos entre pais e mãos e irmãs, muitos problemas foram elimi­
filhos, podemos incentivar ajustes de ambos nados, e lá em casa tem reinado um espírito
os lados. Podemos orar juntos em busca do bem melhor. Acredito que preciso continuar
espírito de paz. trabalhando nesse sentido, para que haja um
Divergências familiares podem causar clima de paz em nosso lar.”
sérios danos ao lar. Às vezes, marido e mu­ Outra moça informou: “ De fato, o cli­
lher destroem num clima de contenda sua ma em nosso lar vem sendo bem mais agradá­
própria felicidade, além da dos filhos. Os di­ vel, cooperativo e desprendido, desde que ini­
vórcios parecem estar sempre aumentando. ciei a experiência, mas a diferença maior se
Muitos deles, sem dúvida, poderiam ter sido deu em mim. Esforcei-me bastante para ser
evitados, se houvesse um pacificador presen­ um bom exemplo e uma pacificadora, e jul­
te nas horas de crise. go-me melhor a respeito de mim do que antes
da experiência. Fui tomada de uma maravi­
Há um exemplo que já mencionei e que
lhosa sensação de paz.”
me fala muito de perto, no qual diversos jo ­
Irmãos e irmãs, não gostaríeis de tentar a
vens se tornaram pacificadores no lar.
experiência do bispo em vosso lar, sendo pa­
Um bispo muito sábio reuniu em seu es­
cificadores por um mês? Conforme dizia o
critório diversos jovens e lhes propôs: “ Gos­
bispo: “ Quando houver divergências ou im­
taria de que me ajudassem numa experiência,
plicâncias entre os familiares, procurai ame­
provando o impacto e influência de uma pes­
nizar a situação, criando um clima de amor,
soa sobre a atmosfera familiar. Gostaria de
harmonia e prestimosidade. Quando estiver­
que, durante um mês, cada um de vocês fizes­
des irritados, controlai-vos e ajudai os outros
se o papel de pacificador em sua casa. Não
a se controlarem.”
comentem nada sobre isso com seus familia­
Eu vos prometo que as recompensas se­
res; sejam apenas gentis, amáveis e obsequio- rão sumamente gratificantes, se tentardes es­
sos. Sejam um bom exemplo. Quando hou­
sa experiência.
ver divergências ou implicâncias entre seus fa­ Outra maneira de sermos pacificadores
miliares, procurem amenizar a situação, tanto em casa como em nosso círculo social e
criando um clima de amor, harmonia e presti-
profissional, é evitar críticas. Já vos destes
mosidade.
conta de que toda vez que criticais, estais jul­
“ Quando estiverem irritados — e irrita­ gando?
ções acontecem em quase toda família — Dizia Jesus, no Sermão da Montanha:
controlem-se e ajudem os outros a se contro­ “ Não julgueis para que não sejais jul­
larem. Gostaria de que todo lar em nossa ala gados.
fosse ‘um pedacinho do céu na terra’ . N o fim “ Porque com o juízo com que julgardes
do mês, gostaria de que nos reuníssemos no­ sereis julgados.” (Mateus 7:1-2.)
vamente para ouvir o relatório de vocês.” Podemos ser igualmente pacificadores,
Foi um desafio real para esses jovens, e praticando e ensinando o perdão. Pergunta­
eles o venceram galhardamente. Por ocasião ram a Jesus quantas vezes se deve perdoar,
do relatório ao bispo, ouviram-se comentá­ ao que ele respondeu que devemos perdoar
rios como este. Um rapaz disse: ‘ ‘Eu não fazia sempre — perdoar “ setenta vezes sete” .
idéia de exercer tamanha influência em casa. (Mateus 18:22.)
A vida foi realmente diferente neste último Diz o Senhor nas revelações modernas:
mês. Fico imaginando se grande parte da con­ “ Como tendes perdoado mutuamente as
fusão e problemas que costumava haver não vossas ofensas, assim também eu, o Senhor,
eram causados por mim e minhas atitudes.” vos perdôo.” (D&C 82:1.)

94 A LIAHONA
Uma parte do perdão é esquecer. De cer­ Londres, disse o Presidente McKay: “ Se que-
ta forma, saber esquecer tem quase o mesmo reis paz, é vossa a responsabilidade de
valor de conseguir lembrar-se. obtê-la.” ( Church News, 11 de março de
Novamente, ao considerarmos as várias 1961, p. 15.)
áreas de atividades humanas e apreciarmos as Irmãos e irmãs, é importante sabermos
muitas insuficiências do homem, percebere­ que o evangelho tem de ser vivido para ser
mos o grande valor da paciência como parte plenamente compreendido e desfrutado o
importante de ser um pacificador. seu poder.
Às vezes somos mal compreendidos, Presto-vos testemunho de que, vivendo
mesmo pelas pessoas mais chegadas. Nesses os princípios do evangelho restaurado de Je­
casos, a paciência nos permitirá aceitar as cri­ sus Cristo, indivíduos, famílias, a sociedade,
ticas, merecidas ou não. A capacidade de ser bem como as nações, podem gozar paz.
paciente quando provocado, mostra que so­ Regozijo-me no conhecimento de que
mos seguidores dos ensinamentos do Salva­ Deus, o Pai, e seu Filho, Jesus Cristo, vivem e
dor de fazermos o bem e oferecermos a outra apareceram ao Profeta Joseph Smith, e que
face. (Ver Mateus 5:39, 44.) através deste foi restaurada a plenitude do
A paciência é, de fato, uma poderosa Evangelho de Jesus Cristo e o poder de agir
virtude, e pode ser desenvolvida à medida que em nome de Deus, e restabelecida na terra a
nos tornamos pacificadores e decidimos ser Igreja; e mais, que o Presidente Spencer W.
pacientes em nossa própria vida como na dos Kimball é um profeta vivo. Que possa ele go­
outros. zar das bênçãos mais escolhidas do Senhor e
Sou grato que o evangelho restaurado de possamos nós ter a coragem e o bom senso de
Jesus Cristo incorpore o extraordinário prin­ seguir seus conselhos e admoestação.
cípio da paciência. Sou imensamente grato Possa cada um de nós assumir o papel de
pela paciência que meu Pai Celeste tem tido pacificadores, para podermos gozar a paz
comigo. que ultrapassa todo entendimento, eu oro em
A o dedicar a capela de Hyde Park, em nome de Jesus Cristo. Amém.

JANEIRO DE 1984 95
Remover o Veneno do
Ressentimento

Bispo H. Burke Peterson


Primeiro conselheiro no Bispado Presidente

“A menos que seja removido, o veneno da


vingança ou de pensamentos ou atitudes de ressentimento
destruirá a alma que o abriga. ”

eus caros irmãos e irmãs, nesta ma­ ra as profundidades do inferno; contudo,

M nhã gostaria de expressar alguns


pensamentos que me vêm passando
pela mente há algum tempo. Tenho orado
quando conseguem livrar-se de suas garras,
podem subir às alturas celestiais. Tem impe­
dido muitos de alcançarem seu pleno poten­
para que o Espírito me faça entender e ser en­ cial; tem sido pedra de tropeço dos talentosos
tendido. e favorecidos. É um dos instrumentos mais
Quero falar de uma fraqueza que tem eficazes de Satanás. Estamos falando do não
obstado o progresso espiritual dos homens saber perdoar e não esquecer.
em todas as épocas. Ela afeta jovens e velhos, Existem muitos hoje que abrigam, no
ricos e pobres. Sua incidência não é limitada mais profundo recesso do coração, um can­
por fronteiras geográficas, nem por raça, cre­ cro, uma mágoa, um ressentimento ou des­
do ou condição social. Afeta alguns que pare­ gosto, ou até mesmo ódio por causa de expe­
cem fortes, e muitos dos que são fracos. En­ riências dolorosas com pessoas conhecidas.
venena o espírito de uma pessoa, a ponto de Alguns foram prejudicados nos negócios.
fazê-la fraquejar com seu poder debilitante. Outros foram magoados por vizinhos, paren­
Tem a capacidade de arrastar as criaturas pa­ tes ou amigos. Outros tantos foram engana-

96 A LIAHONA
dos ou traídos por alguém em quem confia­ Foi um sacrifício inútil, esse preço da
vam há muito. Algumas crianças, agora já vingança. Não teria sido muito melhor cuida­
crescidas, sentiram-se ofendidas por pais du­ rem imediatamente da extração de parte do
ros e ditatoriais. Existe um profundo abismo veneno da perna com um processo conhecido
entre alguns casais, causado por criticismo e de todos os habitantes da região?
conseqüente ressentimento. A lista de expe­ Conforme já disse, existem muitos ou­
riências penosas é longa, sim, longa demais. tros hoje que foram “ mordidos” — ou ofen­
Àqueles dentre vós que vêm cultivando má­ didos, se preferis — por outros. O que fazer?
goas ou ressentimentos do passado, mesmo O que fareis, quando alguém vos magoar? A
que pequenos, gostaria de contar um caso atitude segura, a atitude certa é olhar para
acontecido há algum tempo. dentro e iniciar imediatamente o processo de
Durante a maior parte de nossa vida, vi­ purificação. A pessoa sábia e feliz remove pri­
vemos no centro do Arizona. Faz alguns meiro as impurezas de dentro de si. Quanto
anos, um grupo de adolescentes da escola se­ mais tempo o veneno do ressentimento e ran­
cundária local foi fazer um piquenique no de­ cor permanecer no organismo, tanto maior e
serto, nas imediações da cidade de Phoenix. pior seu efeito maléfico. Enquanto culpamos
Como sabeis, a vegetação é muito escassa no os outros por nossa condição ou situação, e
deserto — composta quase só de alfarrobei- edificamos um muro de autojustificativas em
ras, espinheiros, com alguns cactos espalha­ torno de nós, diminui nossa resistência e ca­
dos aqui e ali. No calor do verão, encontram- pacidade de superarmos o problema. A me­
-se nessas moitas cascavéis como hóspedes in­ nos que seja removido, o veneno da vingança
desejáveis. Durante o piquenique e brincadei­ ou de pensamentos ou atitudes de ressenti­
ras daquele grupo de jovens, uma das garotas mento destruirá a alma que o abriga.
foi picada por uma cascavel que, como se sa­ Dizia Henry Home: “ Nenhum homem
be, injeta veneno no corpo da vítima.
Houve então o momento de decisão crí­
tica: começar imediatamente a extrair o vene­
no da perna da moça, ou perseguir a cobra
para matá-la. Tomada a decisão, a vítima e
seus companheiros saíram em perseguição ao
animal, que, esquivando-se habilmente, con­
seguiu iludi-los durante uns quinze a vinte mi­
nutos. Finalmente a descobriram e dela se
vingaram com pedradas.
Só então se lembraram da colega ferida!
Nessas alturas, o veneno tivera tempo de se
espalhar da superfície para as partes mais
profundas do pé e perna. Dentro de mais trin­
ta minutos, chegaram com ela no pronto-so-
corro do hospital.
Dias mais tarde, fui informado do aci­
dente e pediram-me que fosse visitá-la no hos­
pital. Entrando no quarto, deparei-me com
uma visão patética. Seu pé e perna eram man­
tidos em posição elevada, totalmente defor­
mados pelo inchaço. Os tecidos haviam sido
destruídos pelo veneno e, poucos dias mais
tarde, houve necessidade de amputar-lhe a
perna abaixo do joelho.

JANEIRO DE 1984 97
que deliberadamente feriu um outro, deixou Em outras escrituras, o Senhor diz que
de, ao mesmo tempo, infligir-se ferimento perdoaria e esqueceria os pecados daqueles
muito pior.” ( The N ew Dictionary o f que se arrependessem sinceramente. Muitas
Thoughts, p. 309.) vezes, nós é que queremos decidir quando a
A II Guerra Mundial testemunhou pessoa se arrependeu e quando a perdoare­
exemplos terríveis de desumanidades contra o mos. Foi-nos dito que a humanidade será jul­
homem. Quando a guerra terminou e se abri­ gada segundo o intento de seu coração. Ne­
ram os campos de concentração, havia muito nhum mortal consegue discernir o que vai no
ódio entre os sobreviventes trôpegos e esque­ íntimo de outro. Existe somente Um que o
léticos. Em um dos campos, chamou a aten­ pode. O papel de juiz é dele — não nosso. Se
ção um polonês que parecia tão robusto e sois propensos a criticar ou julgar, lembrai-
tranqüilo, que os observadores acharam que -vos de que nunca vemos o alvo que o homem
deveria ter sido preso havia pouco tempo. Fi­ persegue na vida. Nós vemos apenas onde ele
caram muito surpresos, ao verificarem que acerta.
estava ali havia mais de seis anos! Então, pen­ Em Morôni, lemos:
saram, de certo não vira seus familiares sofre­ “ E agora, meus irmãos, vendo que co­
rem as terríveis atrocidades tão comuns na nheceis a luz pela qual podeis julgar, luz essa
época. Interrogando-o, porém, souberam que é a de Cristo, tende cuidado para que não
que, chegando a sua cidade, os soldados ha­ julgueis erradamente; pois da mesma forma
viam alinhado contra uma parede sua mu­ que julgardes, assim sereis julgados.” (M orô­
lher, duas filhas e três filhos pequenos, ni 7:18.)
metralhando-os a seguir. Embora implorasse
Perdoar os erros alheios — imaginários
que o matasse também, mantiveram-no vivo
ou reais — muitas vezes beneficia mais a
por causa de seus conhecimentos e capacida­
quem perdoa do que ao perdoado. Quem ain­
de como tradutor.
da não perdoou uma maldade ou injustiça,
Aquele pai polonês contou: “ Tive de deci­ ainda não provou uma das sublimes satisfa­
dir naquela hora... se iria ou não odiar aque­ ções da vida. A alma humana raramente atin­
les soldados. Foi uma decisão realmente fácil. ge tamanho auge de força ou nobreza, como
Eu era advogado. Em minha profissão... ob­ quando elimina qualquer ressentimento e
servara o que o ódio consegue fazer ao corpo perdoa erros ou maldades. Ninguém pode ser
e à mente do homem. O ódio acabara de ma­ classificado como verdadeiro seguidor do
tar as seis pessoas mais importantes para mim Salvador, se não se encontra em vias de elimi­
neste mundo. Decidi então que passaria o res­ nar do coração e da mente todo resquício de
to de minha vida — fossem uns poucos dias má vontade, amargura, ódio, inveja ou ciú­
ou muitos anos — amando cada pessoa com me para com o próximo.
quem tivesse contato.” (George G. Ritchie e
Elizabeth Sherrill, Return from Tomorrow, O maior exemplo de alguém disposto a
p. 116.) perdoar pisava as praias da Galiléia há dois
mil anos. Ninguém foi mais injuriado e mal­
Diz o Senhor: “ Se perdoardes aos ho­
tratado do que ele. Diz o Presidente Spencer
mens as suas ofensas, também vosso Pai Ce­
W . Kimball a respeito do Salvador:
lestial vos perdoará a vós;
“ Se, porém, não perdoardes aos ho­ “ Durante toda a vida foi vítima de vile-
mens as suas ofensas, também vosso Pai vos zas. Como recém-nascido, teve que fugir pa­
não perdoará as vossas ofensas.” (Mateus ra salvar a vida, sendo avisado por um anjo...
6:14-15.) N o final de uma existência agitada, conti­
nuou exibindo uma dignidade tranqüila, dis­
E acrescentou: “ Pois aquele que não
creta e divina...
perdoa a seu irmão as suas ofensas, está em
condenação diante do Senhor; pois nele per­ “ Eles lhes deram empurrões e bofeta­
manece o pecado maior.” (D&C 64:9.) das. E nem uma só palavra amarga escapou

98 A LIAHONA
de seus lábios... Bateram-lhe no rosto e no mente, pregado na cruz e olhando para os sol­
corpo... Não obstante, permaneceu resoluto, dados e os acusadores, disse estas palavras
imperturbável. A o oferecer a outra face aos imortais: 'Pai, perdoa-lhes, porque não sa­
algozes, seguiu literalmente a admoestação bem o que fazem .' (Lucas 23:34.)” (O Mila­
que ele mesmo fizera... gre do Perdão, pp. 267-68.)
“ As palavras, também, são difíceis de Bem, irmãos e irmãs, eliminemos de
serem suportadas. As acusações e recrimina- nosso ser e purguemos de nossa alma — o ve­
ções e as blasfêmias lançadas sobre as coisas, neno de qualquer ressentimento ou amargu­
pessoas, lugares e situações sagrados para ele, ra, seja contra quem for. Arranquemos de
devem ter sido difíceis de suportar... no en­ nosso coração a relutância de perdoar e es­
tanto, continuou calmo, imperturbável. Não quecer; e em vez disso, aproximai-vos dos ho­
bajulou, não negou, não refutou. Quando mens no espírito do Mestre, mesmo aqueles
testemunhas falsas e mercenários foram pa­ “ que vos maltratam” . (Mateus 5:44.) Ore­
gos para mentir a seu respeito, não pareceu mos — antes, imploremos o espírito do per­
condená-los. Torceram-lhe as palavras e in­ dão. Procuremos o lado bom nos outros —
terpretaram erroneamente seus significados; não as falhas.
no entanto, não reclamou. Ele não fora ensi­ O Mestre sabia que a vida do homem se
nado a orar por aqueles ‘ ‘que vos maltratam e transformava mais depressa e seguramente
vos perseguem” ? (Mateus 5:44.) pelo amor que pelas criticas. Em I João 4:19,
“ Bateram-lhe e açoitaram-no. Puse­ está escrito: “ Nós o amamos a ele, porque ele
ram-lhe uma coroa de espinhos... Foi escar­ nos amou primeiro.”
necido e zombaram dele. Sofreu toda sorte de Testifico-vos da importância deste prin­
indignidades nas mãos de seu próprio povo... cípio de salvação, o princípio de perdoar e es­
Fizeram-no carregar a própria cruz... Final­ quecer. Em nome de Jesus Cristo. Amém.

JANEIRO DE 1984 99
Compromisso

Élder Marvin J. Ashton


do Quorum dos Doze Apóstolos

“Para colher os benefícios plenos da vida,


temos de encher nossos dias com compromisso a metas e
ideais meritórios. Não existe outra maneira. ”

ecentemente, tive oportunidade de mos quais foram as últimas palavras da mãe

R congratular-me com uma jovem mui­


to especial por sua formatura na fa­
culdade. Sabendo que alcançara essa meta
dele? Ela lhe disse: “ Seja alguém, A be.”
Não só é um sábio conselho, mas ex­
pressa os anseios de praticamente todo cora­
com extrema dificuldade, perguntei: “ Você ção de pai e mãe — que seus filhos sejam al­
se importaria em me dizer, numa só palavra, guém. Palavras simples, mas, oh! quão po­
como o conseguiu?” Enquanto ela pensava derosas: “ Ser alguém.” Fico tão contente
um pouco, passaram-me pela mente palavras que ela não tenha dito: “ Seja algo, A b e” ,
como coragem, determinação e fé. Então, pois existe uma diferença significativa. O di­
sem hesitar, ela respondeu: “ Élder Ashton, a cionário define alguém como “ pessoa de re­
palavra é compromisso.” levo” , enquanto algo é definido como
“ aquele que possui, que é rico” .
Quase todos os que já ouviram falar do A mãe de Abraão Lincoln conhecia o
grande líder norte-americano Abraão Lin­ filho, seu potencial e o caminho árduo que
coln, lembram-se do que disse a respeito de tinha pela frente; por isso, queria que se
sua mãe: “ Tudo o que sou, tudo o que espero comprometesse consigo mesmo a ser perse­
ser, eu devo ao meu anjo, minha mãe.” verante, imutável em sua vida, e na promo­
(Abraham Lincoln’s Philosophy o f Com - ção de atos de coragem e fé na vida de toda a
mon Sense, p. 60.) Mas, quantos de nós sabe­ humanidade.

100 A LIAHONA
Uma palavra de esperança é derramada “ Pois neles está o poder para assim fa­
sobre cada geração por aqueles que advogam zer, no que são seus próprios árbitros. Se os
uma vida exemplar, o cultivo de seus dotes e o homens fizerem o bem, de modo nenhum
cumprimento de seus compromissos. deixarão de receber a sua recompensa.
A verdadeira felicidade não é ter alguma “ Mas, o que não faz nada sem ser man­
coisa. A verdadeira felicidade é tornar-se al­ dado, e recebe mandamento com coração du­
guém. E isto só se consegue assumindo com­ vidoso, e indolentemente o observa, é conde­
promisso com ideais sublimes. Não podemos nado.” (D&C 58:27-29.)
ser uma pessoa de valor sem compromisso. A o buscarmos boas causas, precisamos
Compromisso é um termo que não con­ levar em consideração nossas próprias neces­
segue ficar só. É sempre preciso perguntar: sidades, mas igualmente viver de acordo com
“ Compromisso com quê?” Quando nos in­ os ensinamentos do evangelho.
tegramos nos programas da Igreja, convém Dizia o Presidente Spencer W . Kimball,
que estabeleçamos metas pessoais, a fim de no Seminário de Representantes Regionais,
podermos colher as bênçãos do auto-aprimo- em 3 de abril de 1975: “ Acredito nas metas,
ramento e de desempenho excelente nas de­ mas creio que o indivíduo deve estabelecer
signações recebidas. suas próprias. As metas devem sempre nos
“ Na verdade digo que os homens de­ obrigar a fazer um esforço. O sucesso não de­
vem-se ocupar zelosamente numa boa causa, ve ser necessariamente medido em termos de
e fazer muito de sua própria e livre vontade, e alcance ou não da meta, mas pelo progresso e
realizar muito bem; conquistas.”

Membros do Quorum dos D oze trocam idéias antes de uma sessão da conferência. A partir da esquerda: Élder
James E. Faust, Élder David B. Haight, e Élder Neal A . Maxwell (de costas).

JANEIRO DE 1984 101


A o estabelecermos as próprias metas, te­ quer ser, você está automaticamente em vias
mos de examinar nossas necessidades e capaci­ de tornar-se a pessoa que não quer ser.”
dade. O rumo que seguimos é muito mais im­ Todavia, precisamos compreender que
portante do que o ponto em que estamos no não se podem resolver todos os problemas da
momento. As metas devem-nos exigir o esforço vida de uma só vez. O compromisso de satis­
máximo durante o processo de alcançá-las. fazer nossas necessidades cotidianas e de al­
Examinar-se a si mesmo é muito difícil. cançar as metas imediatas nos proporcionará
Pesquisas mostram que a maioria das pessoas sucessos significativos. Lembrai-vos de que
creditam a si próprias os sucessos, mas lan­ Deus vos julgará pelo que fizerdes com todas
çam a culpa por seus malogros sobre causas as vossas possibilidades. É sábio e certo que­
externas ou outras pessoas. Quando enfrerf- rer tirar o máximo de cada oportunidade,
tarmos problemas, seria muito bom fazermos mas nem por isso devemos desanimar ou cho­
a mesma pergunta feita pelos apóstolos du­ rar por causa de um insucesso ou desaponta­
rante a Última Ceia: mento. Procurai decompor as metas grandes
“ E chegada a tarde, assentou-se à mesa em metas menores, mais fáceis de serem atin­
com os doze. gidas . Então a auto-estima crescerá, possibili­
“ E, comendo com eles, disse: Em verda­ tando compromisso com metas de maior
de vos digo que um de vós me há de trair. magnitude. O caminho do sucesso é longo e
“ E eles, entristecendo-se muito, come­ pontilhado de numerosos compromissos com
çaram cada um a dizer-lhe: Porventura sou metas dignas. A pessoa não se compromete
eu, Senhor?” (Mateus 26:20-22.) com metas de valor apenas falando ou to­
Quando nosso progresso parece imobili- mando a decisão. Implica num progresso diá­
zar-se, seria bom indagarmos quem é o culpa­ rio na direção dos objetivos estabelecidos.
do. Serei eu? Estou suficientemente compro­ Quando alguém está plenamente com­
metido com metas de valor? Tenho a necessá­ prometido, tornam-se evidentes novas forças
ria coragem, fortaleza e sabedoria para um e talentos. Surge auxílio de fontes inespera­
auto-exame — ou me inclino a verificar as fa­ das. Qual de nós ainda não aceitou uma de­
lhas alheias? signação, tremendo de medo, totalmente in­
William Clement Stone, um milionário capaz de assumir tamanha responsabilidade?
de Chicago, disse numa entrevista: “ Somente Mas, com interesse, esforço e obediência se­
se alguém tiver energia, resolução, ‘a necessi­ guimos avante — trabalhando duro e orando
dade de vencer’ , terá sucesso em qualquer freqüentemente. Terminada a tarefa, para
campo.” E prosseguiu, dizendo: “ Seja qual nossa surpresa nos saímos bem, e reconhece­
for a religião de vocês, leiam a Bíblia, o livro mos humildemente que nossa própria capaci­
mais inspirador de todos os tempos. E apren­ dade foi acrescida.
dam a utilizar o poder da oração.” Esse ho­ Dizia Goethe: ‘ ‘O que podes fazer ou so­
mem aprendera o valor do compromisso, ti­ nhar, comece-o. O arrojo tem em si capacida­
nha a “ necessidade de vencer” . Aprendera de, poder e magia.” (Fausto.) Nós acrescen­
igualmente a recorrer a Deus em busca de taríamos que o compromisso tem capacida­
orientação e ajuda. de, poder e magia em si.
Muitas pessoas são motivadas por metas As escrituras o dizem assim: “ Pois sei
espirituais. A questão é: “ Por quê?” É por­ que o Senhor nunca dá ordens aos filhos dos
que as faz sentir-se bem e por causa das pro­ homens sem antes preparar um caminho pelo
metidas recompensas, ou por medo de não vi­ qual suas ordens poderão ser cumpridas.” (1
verem os mandamentos? A melhor motiva­ Néfi 3:7.)
ção é sempre a positiva. Compromisso total A pessoa realmente comprometida não
com princípios evangélicos corretos propor­ vacila em face da adversidade. Até que ela se
ciona alegria, satisfação e vida abundante. comprometa, é possível hesitar, desviar-se
Dale Camegie comentou certa vez: “ Se pará outros caminhos ou ser ineficiente. Os
não estiver em vias de tornar-se a pessoa que membros de nossa Igreja que estão compro­

102 A LIAHONA
metidos a viver o Evangelho de Jesus Cristo que é bom seguindo o seu caminho.
não se deixam afetar pelos argumentos de Triste seria o dia em que, por exemplo,
nossos detratores. uma pessoa ou grupo por educação, atitude e
A cada semana que passa, nossos inimi­ desígnio fosse a uma partida de futebol e
gos estão-se tornando mais agressivos. Pare­ julgasse os participantes pela sujeira e man­
cem decididos a não só iludir os não compro­ chas em seus uniformes, em lugar de pelas jo ­
metidos entre nós como também desviar até gadas e gols conquistados. Ou que, em lugar
mesmo os eleitos. Eles criticam nossos líde­ de aplaudirem o artilheiro, ficassem remoen­
res; zombam do que consideramos sacro; ri­ do o fato de que, quando no ginásio, ele ficou
dicularizam ordenanças e convênios que sa­ de castigo por mau comportamento. A i da­
bemos serem verdadeiros e sagrados; delei­ queles que se deleitam com sujeira e o desa­
tam-se em descobrir e divulgar as eventuais gradável, em lugar de saborear os frutos.
falhas e fraquezas entre nossos líderes passa­ Comparai tais atitudes com a demons­
dos e atuais, em lugar de reconhecerem e trada por uma viúva idosa, conhecida nossa,
aproveitarem as verdades que ensinam. Em que, todas as manhãs vai ao templo, passa o
vez de se deleitarem com os frutos da árvore, dia participando das sessões e volta para casa
apontam apenas as cicatrizes em seu tronco. de ônibus, exausta, só porque, diz ela: “ Eu
Não vos enganeis. Deus não se deixa es­ amo a todos, mesmo aqueles que não posso
carnecer. (Ver Gálatas 6:7.) Não temos a mí­ ver.” Sua freqüência? “ Costumo ir todos os
nima intenção de contender com eles ou exi­ dias em que funciona. Às vezes, quando não
gir tempo igual para refutá-los. Convidamos estou muito bem, é difícil, mas vou assim
todos os dissidentes, bem como todos os ou­ mesmo.” A palavra é compromisso.
tros a abrirem os olhos e contemplarem as be­ Todos temos olhos, ouvidos e mentes
lezas e emoções disponíveis aos que buscam o para elevar, guiar e amar. O compromisso to-

JANEIRO DE 1984 103


tal com Deus e seus caminhos não nos permi­ Se professamos ser santos dos últimos
tirá participar de críticas destrutivas, retalia­ dias, comprometamo-nos a viver como san­
ção ou desgosto indevido. Devemos compro- tos dos últimos dias, seguindo Jesus Cristo
meter-nos a marchar ombro a ombro na ba­ como nosso Mestre dos mestres.
talha para salvar almas — sem destruir, con­ Nunca é tarde demais para nos compro­
denar ou menosprezar. metermos a viver plenamente o evangelho,
A conversão de Paulo foi acompanha­ enquanto estivermos aqui na terra. Todo dia
da de compromisso. Joseph Smith colocou devemos comprometer-nos ao sublime de­
seu compromisso acima da própria vida. sempenho cristão, porque o comprometi­
Desde o momento de sua primeira visão até mento com as verdades do Evangelho de Je­
o martírio, foi alvo de rancorosa persegui­ sus Cristo é essencial para nossa alegria e feli­
ção, insultos e ridículo; jamais, porém, vaci­ cidade eternas. A hora de comprometer-nos e
lou diante de tamanhas adversidades. Diz renovar nosso compromisso é agora.
ele em sua história: Lembro-me do garotinho que, caindo
da cama durante a noite, foi chorando para o
“ Contudo, era um fato ter tido eu uma
quarto da mãe. Quando ela perguntou: —
visão. Pensei desde aí, que me sentia como
Por que você caiu da cama? — a resposta foi:
Paulo, quando fez sua defesa perante o Rei
— Porque estava muito perto da beirada!
Agripa e relatou... (a) visão que tivera, quan­
do viu uma luz e ouviu uma voz; mas, no en­ Falando em termos gerais, tenho por ex­
tanto, poucos acreditaram nele; alguns di­ periência nestes anos todos, que aqueles que
ziam que ele era desonesto, outros que estava caem fora da Igreja, é porque ficaram muito
louco... Mas tudo isso não destruiu a realida­ na beirada dela.
de de sua visão. Ele tivera uma visão, sabia Resumindo, a diferença entre os com­
que a tivera... prometidos e os não-comprometidos é a mes­
“ Assim era comigo. Eu tinha realmente ma que entre as palavras quero e vou. Por
visto uma luz, e no meio da luz vi dois Perso­ exemplo: “ Eu quero pagar o dízimo, mas o
nagens, e eles em realidade falaram comigo; e dinheiro é tão pouco” , ou “ Eu vou pagar o
ainda que perseguido e odiado por dizer que dízimo” . “ Eu quero ir à reunião sacramen­
tivera uma visão, entretanto eraaverdade;... tal, mas me falta tempo” , ou “ Eu vou à reu­
Porque havia visto uma visão; eu o sabia, e nião sacramental” . “ Eu gostaria de ser um
compreendia que Deus o sabia, e não podia bom professor, mas as crianças são tão irre­
negá-lo, nem ousaria fazê-lo; pelo menos eu _ quietas” ou “ Eu serei um bom professor” .
sabia que, procedendo assim, ofenderia a Para colher os benefícios plenos da vida,
Deus, e estaria sujeito à condenação.” (Jo­ temos de encher nossos dias com compromis­
seph Smith 2:24-25.) so a metas e ideais meritórios. Não existe ou­
tra maneira. Induzidos a agir por esses com­
Certamente, nem o Apóstolo Paulo,
promissos, encontraremos maior progresso e
nem Joseph Smith vacilaram, embora en­
dimensão que por sua vez, nos levarão a uma
frentassem duras provações. Conforme já
vida produtiva aqui na terra e nos abrirão a
mencionei, na atualidade temos muitos lan­
porta para a vida eterna com nosso Pai que
çando sementes de dissensão e discórdia.
está nos céus.
Procuram, com meias-verdades e calúnias,
levar os membros da Igreja de Jesus Cristo a A palavra é compromisso. Para sermos
apostatarem. Às vezes fico imaginando quão alguém, precisamos estar comprometidos.
cristão será chamar alguém de anticristâo, re­ Deus é nosso Pai. Jesus é nosso Salvador e es­
ferindo-se à sua conduta. Aqueles firmemen­ ta é sua Igreja. Comprometamo-nos a viver
te comprometidos a viver o Evangelho de Je­ uma vida cristã, apesar do ambiente ou opo­
sus Cristo, não se deixarão confundir, iludir sição, eu oro no santo nome de Jesus Cristo,
ou transviar. nosso Redentor. Amém.

104 A LIAHONA
SESSÃO VESPERTINA DE DOM INGO
2 de outubro de 1983

A Preocupação dos Pais


com os Filhos

Élder Howard Hunter


do Quorum dos Doze Apóstolos

“Existem pais que se estão julgando com excessivo rigor,


permitindo que tais sentimentos destruam sua vida,
quando, na verdade, fizeram o melhor que podiam e assim
devem continuar fazendo, com fé. ”

s Autoridades Gerais têm o privilégio Para começar, sabemos que os pais

A de conhecer e conviver com membros


da Igreja em toda parte que sempre
viveram corretamente e criaram a família sob
conscienciosos procuram fazer o melhor que
podem, mas, mesmo assim, quase todos co­
metem erros. Ninguém se aventura a ser pai
a influência do evangelho. Esses membros sem logo descobrir que haverá muitos erros
têm usufruído as grandiosas bênçãos e conso­ pelo caminho. Nosso Pai Celestial sabe, sem
lação que advêm, quando, como pais, avós e dúvida, que, ao confiar seus filhos espirituais
bisavós, revivem um longo e bem sucedido es­ aos cuidados de pais jovens e inexperientes,
forço paternal. Isso, sem dúvida, é uma coisa haverá enganos e erros de julgamento.
que todos almejamos. Todo casal passa por muitas “ primei­
No entanto, muitos há na Igreja e no ras” experiências que o ajudarão a crescer em
mundo que se consideram culpados e indig­ sabedoria e entendimento; mas, a cada uma
nos, porque alguns de seus filhos se desvia­ dessas experiências, decorrem novas situa­
ram do rebanho. Minhas palavras, hoje, são ções, existindo a possibilidade de se cometer
dirigidas especialmente a esses pais e mães. erros. Com a chegada do primeiro filho, os

JANEIRO DE 1984 105


pais precisam decidir como ensinar e treinar, Se um dos pais comete o que se poderia
como corrigir e discipliná-lo. Logo chega o considerar errado, ou se, por outro lado, ja­
primeiro dia de escola e a primeira bicicleta. mais cometeu um erro — mas ainda assim o
Em seguida, o primeiro namoro do primeiro filho se afasta da família — em ambos os ca­
adolescente. O primeiro problema com o de­ sos, há várias idéias que eu gostaria de com­
sempenho escolar e, talvez, o primeiro pedido partilhar convosco.
de chegar em casa mais tarde à noite ou per­ Primeiro, esse pai não está sozinho. Nos­
missão para comprar um carro. sos primeiros pais sentiram a dor e o sofrimen­
Na verdade, raro o pai ou a mãe que não to de verem alguns de seus filhos rejeitarem os
comete erros ao trilhar o árduo caminho da ensinamentos de vida eterna. (Moisés 5:27.)
criação dos filhos, especialmente durante os Séculos mais tarde, Jacó conheceu o ciúme e
primeiros anos, quando ainda não têm muita os sentimentos hostis de seus filhos mais ve­
experiência e conhecimento. Mesmo depois lhos para com seu amado José. (Gênesis 37:1-
de adquirida certa vivência, a repetição dos -8.) O grande profeta Alma, cujo filho também
acontecimentos às vezes não os torna mais fá­ se chamava Alma, orou muito ao Senhor a
ceis de solucionar, nem diminui a possibilida­ respeito da rebeldia de seu filho e, sem dúvida
de de erros. ficou muito preocupado com a discórdia e ini­
Haverá maior responsabilidade do que qüidade que seu filho estava provocando en­
lidar eficazmente com o jovem? As variáveis tre os membros da Igreja. (Mosiah 27:14.)
que determinam o caráter e a personalidade Nosso Pai Celestial também perdeu muitos de
da criança são numerosas. Talvez seja verda­ seus filhos espirituais para o mundo; ele com­
de que os pais, na maioria dos casos, exerçam preende o que sentis no coração.
maior influência na formação da vida da Segundo, devemo-nos lembrar de que
criança; mas, freqüentemente, existem outras erros de julgamento são geralmente menos
influências muito significativas. Ninguém sa­ sérios do que os erros intencionais.
be até que ponto a hereditariedade influencia Terceiro, mesmo que o erro tivesse sido
a vida, mas, sem dúvida, irmãos e irmãs, ami­ cometido com pleno conhecimento e com­
gos e professores, vizinhos e chefes de tropa preensão, existe o princípio do arrependi­
de escoteiros exercem um efeito significativo. mento para nos libertar e dar consolo. Em vez
Sabemos, também, que as influências de ficarmos pensando sempre naquilo que
sobre uma criança não se restringem à heredi­ consideramos um erro, pecado, ou insucesso,
tariedade ou pessoas; os aspectos ambientais o que prejudica nosso progresso no evange­
também influenciam — como o lar e os brin­ lho e nosso relacionamento com a família e
quedos, o quintal e a vizinhança. Pátios de re­ amigos, seria melhor esquecermos. Como
creio e a bola de futebol, roupas e carros — com qualquer erro, podemos arrepender-
ou a ausência dessas coisas— tudo isso exerce -nos, sentindo-nos pesarosos e tentando corri­
influência sobre a criança. gir ou minimizar as conseqüências, até onde
Face às diversas influências e incontáveis pudermos. Devemos olhar o futuro com fé
decisões, cada qual com tantas alternativas a renovada.
serem consideradas e avaliadas, é normal que Quarto, não perder as esperanças quan­
os pais às vezes façam uma opção errada, ape­ to ao rapaz ou moça que se desviou. Muitos
sar de seu esforço em acertar. É quase impossí­ que pareciam completamente perdidos, vol­
vel sempre dizer e fazer a coisa certa. Acho que taram. Devemos orar sempre e, se possível,
todos nós concordamos em que, como pais, demonstrar aos filhos nosso amor e cuidado.
cometemos erros que tiveram efeitos negati­ Quinto, lembremo-nos de que nossa in­
vos na atitude ou no progresso da criança .P or fluência não foi a única que contribuiu para as
outro lado, embora os pais geralmente façam ações de nossos filhos, sejam elas boas ou más.
as coisas certas ou tomem as decisões certas, Sexto, saber que nosso Pai Celestial reco­
dadas as circunstâncias, os filhos, freqüente­ nhece nosso amor e sacrifício, nossa preocupa­
mente, reagem de modo negativo. ção e cuidado, ainda que não tenhamos êxito.

106 A LIAHONA
Muitas vezes os pais ficam angustiados. Mes­
mo assim, devem compreender que, depois de
lhes haverem ensinado os princípios corretos, a
responsabilidade final cabe aos filhos.
Sétimo, seja qual for a tristeza, a preo­
cupação, a dor e a angústia, procurar trans-
formá-la em algo proveitoso — talvez aju­
dando os outros a evitarem os mesmos pro­
blemas ou, quem sabe, desenvolvendo me­
lhor empatia pelos que enfrentam uma luta
semelhante. Por certo adquirimos uma visão
mais profunda do amor de nosso Pai Celes­
tial, quando, por meio da oração, descobri­
mos que ele nos compreende e quer que te­
nhamos esperança no futuro.
O oitavo e último ponto de que nos de­
vemos lembrar é que todo indivíduo é dife­
rente. Cada um de nós é único. Cada criança
é única. Assim como cada um de nós inicia o
curso da vida num ponto diferente, e possui
diferentes forças, fraquezas e talentos, toda
criança é dotada de suas próprias característi­
cas individuais. Não devemos supor que o Se­
nhor julgará c êxito de cada um, pela mesma
medida de outros. Como pais, freqüente­
mente presumimos que, se nosso filho não se perdido. Tenhamos orgulho das coisas boas e
sobressai em tudo, fomos um insucesso. É corretas que fizemos; rejeitemos e abandone­
preciso ter cautela ao julgar. mos aquilo que é errado em nossa vida; dirija-
Não nos equivoquemos; a responsabili­ mo-nos ao Senhor para obter perdão, força e
dade da paternidade é de grande importân­ consolo; depois, prossigamos.
cia. Os resultados de nossos esforços terão O bom pai é aquele que ama, aquele que
conseqüências eternas para nós e para aqueles se sacrifica, aquele que cuida, ensina e supre
a quem criamos. Todo aquele que se tom a pai ao filho com aquilo de que ele precisa. Se,
ou mãe, tem a estrita obrigação de proteger, apesar disso, o filho ainda desobedecer, cau­
amar e ajudar seus filhos a retornarem ao Pai sar problemas ou for mundano, é bem possí­
Celestial. Todos os pais devem entender que vel que, apesar dos pesares, o pai possa ser
o Senhor não considerará inocentes aqueles considerado um sucesso. Talvez existam fi­
que negligenciarem essas responsabilidades. lhos que desafiariam qualquer tipo de pais,
Depois do êxodo, enquanto Israel estava independente das circunstâncias. Do mesmo
no deserto, ao instmir o povo, Moisés disse- modo talvez existam outros que sejam uma
-lhes que os mandamentos do Senhor deviam bênção, uma alegria para praticamente qual­
ser ensinados pelos pais a seus filhos, no lar: quer pai ou mãe.
“ Estas palavras, que hoje te ordeno, es­ Minha preocupação, hoje, é que existem
tarão no teu coração: pais que se julgam com excessivo rigor, per­
“ E as intimarás a teus filhos, e delas fa- mitindo que tais sentimentos destruam sua vi­
larás assentado em tua casa, e andando pelo da, quando, na verdade, fizeram o melhor
caminho, e deitando-te e levantando-te.” que podiam e assim devem continuar fazen­
(Deuteronômio 6:6-7.) do, com fé. Que todos os pais encontrem ale­
Jamais deveremos deixar que Satanás gria em seus esforços com os filhos, é minha
nos iluda, fazendo-nos pensar que tudo está oração em nome de Jesus Cristo. Amém.

JANEIRO DE 1984 107


SESSÃO VESPERTINA DE DOMINGO

“A Vossa IHsteza se
Converterá em Alegria ”

Élder Robert D. Hales


do Primeiro Quorum dos Setenta

“O propósito do sofrimento é fortalecer e edificar-nos.


Pelo sofrimento aprendemos obediência. ”

xistem muitos tipos de pesar e sofri­ sem discutir e atacar-se um ao outro.

E mento: o sofrimento que causamos a


nós próprios; o sofrimento provenien­
te das enfermidades do corpo mortal e a afli­
Seu marido a amava, mas ela o magoava.
Ele tinha lágrimas nos olhos ouvindo o ataque
verbal da esposa. Como presidente de ramo de
apenas vinte e um anos, não agüentei mais e a
ção causada pela morte; o sofrimento que
nos prova e testa; o sofrimento que desenvol­ interrompi: “ Por que você magoa tanto a pes­
ve nossa força espiritual; o sofrimento que soa que mais a ama? Por que magoa um mari­
nos tom a humildes e leva ao arrependimento; do que faria qualquer coisa por você?”
o sacrifício expiatório do Salvador, o evento Fiquei abismado com a resposta: “ Oh,
mais importante da história do mundo. acho que discutimos e magoamos aqueles a
Mas, se o pesar e sofrimento fortalecem quem amamos, por serem justamente quem
nossa fé no Salvador Jesus Cristo, nossa “ tris­ mais podemos ferir.”
teza se converterá em alegria” . (João 16:20.) Nunca me esqueci desse incidente. Há
Trinta anos atrás, como recém-designa- verdade, muita verdade nisso. Somos incapa­
do presidente de ramo, estava entrevistando zes de magoar um estranho tanto quanto a
um homem e sua esposa. A esposa simples­ um ente querido. Sabemos exatamente o que
mente arrasou o marido: Ele não estava sus­ dizer e fazer para magoar nosso cônjuge,
tentando a família como era esperado; não pais, irmãos ou irmãs. Sabemos onde são
era o companheiro com o qual sonhara antes mais vulneráveis. Sabemos como nossas
do casamento; não conseguiam comunicar-se ações podem feri-los ao máximo.

108 A LIAHONA
Para muitos, parece ser uma prova de fé “ Todos esses partiram da vida mortal,
na vida ser ferido por aqueles que nos são na esperança de uma gloriosa ressurreição
mais achegados. Em Zacarias, está escrito através da graça de Deus, o Pai, e seu Filho
que, quando perguntarem a Jesus onde rece­ Unigênito, Jesus Cristo.
beu os ferimentos em suas mãos, ele dirá que “ Vi que estavam cheios de alegria e júbi­
foi “ ferido na casa de (seus) amigos” . (Zaca­ lo e regozijavam, porque o dia da sua liberta­
rias 13:6.) Não é verdade que Deus, nosso ção estava próximo.
Pai, e seu Filho sofrem quando pecamos? “ Estavam reunidos, aguardando o ad­
Quando não somos obedientes e não aceita­ vento do Filho de Deus no mundo espiritual,
mos o sacrifício expiatório do Senhor, não es­ para trazer-lhe a redenção das cadeias da
tamos ferindo aquele que mais nos ama? Cer­ morte.
ta vez, o Élder LeGrand Richards, que esta­ “ Seus restos mortais seriam restaurados
va sendo ajudado, muito a contragosto, a à sua forma perfeita, osso com osso, e os ten­
sentar numa cadeira de rodas, virou-se para dões e a carne voltariam a cobri-los, o espírito
uma autoridade geral mais jovem e disse: e o corpo seriam reunidos para nunca mais se
“ Você também ficará velho, se conseguir vi­ separarem, a fim de que pudessem receber a
ver bastante. ’’ Observo minha mãe de oitenta plenitude da alegria.
e dois anos, paralítica nos últimos oito anos, e “ Enquanto aquela vasta multidão espe­
meu pai, de oitenta e quatro anos, um artista, rava e conversava, regozijando-se por saber
cuja provação é sua vista fraca, e penso na que estava próxima a hora em que seriam li­
alegria que terão, quando receberem corpos bertados das cadeias da morte, o Filho de
imortais perfeitos. O sofrimento na mortali­ Deus apareceu, declarando liberdade aos ca­
dade produzirá um apreço maior pelas bên­ tivos que tinham sido fiéis.
çãos de um corpo ressurreto perfeito. Tam­ “ E pregou-lhes o evangelho eterno, a
bém, a alegria de servir nossos pais nessa oca­ doutrina da ressurreição e a redenção da hu­
sião em que precisam, traz-nos mais apreço manidade da queda e dos pecados indivi­
um pelo outro. duais, desde que houvesse arrependimento.”
(D&C 138:14-19.)
Foi-nos dito que, do nosso sofrimento,
Sim, existe o sofrimento que nos prova e
pesar e tristeza, surgirá a alegria. Às vezes não
testa. Jó, um homem perfeito, foi testado e
conseguimos compreender como o sofrimen­
provado por Satanás. Seus amigos pensaram
to mortal possa trazer bênçãos eternas. Jesus
que seu sofrimento era resultado do pecado.
disse aos seus apóstolos: “ Um pouco, e não
Mas as escrituras nos ensinam que: “ Jó não
me vereis... na verdade, na verdade vos digo
pecou nem atribuiu a Deus falta alguma. ” (Jó
que chorareis e vos lamentareis, e o mundo se
1:22.) Nem devemos nós atribuir a Deus falta
alegrará, e vós estareis tristes; mas a vossa
alguma por nossos próprios sofrimentos, ou
tristeza se converterá em alegria.” (João
presumir a razão do sofrimento alheio. O so­
16:16, 20.) Jesus comparou isso às dores e ao
frimento que nos fortalece não excederá a
sofrimento do parto da mulher.
nossa capacidade de perseverar até o fim.
“ Mas, depois de ter dado à luz, já se não Quando Joseph Smith se encontrava na
lembra da aflição.” (João 16:21.) Após acru- prisão de Liberty, clamou ao Senhor para re­
cificação, a terra sofreu terremotos, erupções ceber consolo, e o Senhor lhe disse: “ Se as
que causaram morte e destruição. (Ver Ma­ próprias mandíbulas do inferno escancara­
teus 27:51.) Como é que aqueles que passa­ rem a sua boca contra ti, saibas tu, meu filho,
ram por semelhante sofrimento poderiam ter que todas estas coisas te servirão de experiên­
compreendido a cena de alegria descrita pela cia e serão para teu bem .” (D&C 122:7.) Tais
visão do Presidente Joseph F. Smith, quando provações nos ajudam a desenvolver a espiri­
o Salvador visitou os espíritos dos mortos no tualidade que possivelmente jamais obtería­
mundo espiritual, enquanto seu corpo jazia mos, se as próprias mandíbulas do inferno
na sepultura? não escancarassem a boca contra nós. Preci-

JANEIRO DE 1984 109


samos não somente sobreviver, mas desenvol­ Deus, que viria expiar os pecados do mundo.
ver a capacidade de nos preocuparmos com os “ E tendo fixado minha mente nesse pensa­
outros, enquanto nós próprios sofremos. É mento, clamei em meu coração: Ó Jesus, Fi­
um elemento-chave em nosso crescimento es­ lho de Deus, tem misericórdia de mim, pois
piritual. À medida que nos perdermos a servi­ que sinto o fel da amargura e estou rodeado
ço do próximo, nos encontraremos. com as eternas correntes da morte.
Jesus deu-nos o exemplo perfeito no “ E eis que, tendo assim pensado, não sen­
Getsêmani, quando perdoou seus apóstolos ti mais dores; e também não fui mais ator­
que dormiam, enquanto ele suava sangue por mentado pela lembrança de meus pecados.
todos os poros por nossos pecados. Apenas “E oh, que alegria e que luz maravilhosa vi
perguntou: “ Então nem uma hora pudeste então! Sim, minha alma se encheu de tanta
velar comigo?” (Mateus 26:40.) Jesus tam­ alegria quanta havia sido a minha d or.” (Al­
bém expressou cuidado por sua mãe, enquan­ ma 36:17-20.)
to sofria na cruz. E, mesmo sofrendo ensinou É possível que, depois de cometer uma
o evangelho àqueles que sofriam ao seu lado. série de erros, percamos a confiança em nós
(João 19:26-27.) próprios e tenhamos uma péssima auto-ima-
Em minha primeira designação como gem do que somos e do que nos podemos tor­
autoridade geral recém-chamada, recebi uma nar. Talvez esqueçamos que somos filhos de
de minhas maiores lições na vida. A esposa de Deus e temos o potencial para viver com ele e
uma das autoridades gerais havia falecido al­ seu filho, se aceitarmos o sacrifício expiatório
guns dias antes. Ao entrar no avião, vi-o sen­ e obedecermos aos mandamentos. O primei­
tado bem na frente. Que grande lição! Como­ ro mandamento a que precisamos obedecer é
vido, disse a mim próprio: “ Como pode uma ter fé. Primeiro precisamos ter fé no Senhor
pessoa que está sofrendo, sair para ajudar os Jesus Cristo, fé em que ele vive, fé em que ou­
outros?” Ele me falou quão difícil era cum­ ve e responde às orações, fé em que nos per­
prir aquele compromisso; mas foi, socorreu e doará as transgressões, fé no sacrifício expia­
ajudou os outrós enquanto ele próprio sofria. tório de Cristo.
O sofrimento é universal; a maneira de Por que a expiação do Salvador é tão im­
reagir a ele é que é individual. Pode causar portante como princípio fundamental do
duas coisas: ser uma experiência fortalecedo- evangelho na Igreja e em nossa vida?
ra e purificante ligada à fé, ou tomar-se uma Jesus nasceu de pais celestes num mun­
força destrutiva na vida, se não tivermos fé no do pré-mortal. Ele foi o primogênito do Pai
sacrifício expiatório do Senhor. O propósito Celestial. Na mortalidade, seu nascimento
do sofrimento, no entanto, é fortalecer e edifi- em Belém, e sua vida que findou com o sacri­
car-nos. Pelo sofrimento, aprendemos obe­ fício supremo, foram profetizados por profe­
diência. Ele nos deve tornar humildes e nos tas antigos em todas as dispensações. Apenas
achegar a Deus como no caso do filho pródi­ ele poderia realizar o sacrifício expiatório —
go, que passou a dar apreço ao lar somente de­ tendo recebido do Pai poder sobre a morte,
pois de sair pelo mundo e sofrer por ter-se ele sobrepujou-a. O poder do sepulcro foi
afastado de seus entes queridos. (Ver Lucas anulado, e ele se tom ou nosso Salvador, Me­
15:11-32.) No caso dele, o sofrimento foi um diador, Mestre da Ressurreição — um meio
elemento vital para o seu arrependimento. de salvação e imortalidade para todos nós.
Quando o sofrimento é conseqüência do Todos seremos ressuscitados e nos tornare­
pecado, ele deve produzir o arrependimento. mos imortais por causa do sacrifício expiató­
Alma testemunhou a seu filho Helamã: “ E rio de Jesus Cristo.
aconteceu que, enquanto eu estava sendo as­ No estudo do sacrifício expiatório, qua­
sim atormentado e perturbado pela lembran­ se todos nós talvez tenhamos feito a seguinte
ça de tantos pecados, eis que me lembrei tam­ pergunta: “ Por que é tão fácil para o mundo
bém de ter ouvido meu pai profetizar ao povo acreditar que todos os homens morrem em
sobre a vinda de Jesus Cristo, um Filho de Adão e foram expulsos da presença de nosso

110 A LIAHONA
Pai Celestial e tão difícil entender como Jesus Assombro me causa o amor que me dá Jesus;
Cristo pode levar-nos de volta a ele?” As es­ Confuso estou pela graça de sua luz
crituras são bem claras nesse sentido. “ Por­ E temo ao ver que por mim sua vida deu;
que, como pela desobediência de um só ho­ Por mim, tão humilde, seusangue Jesus verteu.
mem (Adão), muitos foram feitos pecadores,
assim pela obediência de um, muitos serão Surpreso estou que quisesse Jesus baixar
feitos justos... para que, assim como o peca­ Do trono divino e minha alma resgatar
do reinou na morte, também a graça reinasse Que desse meu Mestre perdão a tal pecador,
pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cris­ Pra justificar minha vida com seu amor.
to nosso Senhor.” (Romanos 5:19-21.)
“ E tomará sobre si a morte, para poder Relembro que Cristo na cruz se deixou pregar;
soltar as cadeias da morte que prendem o seu Pagou minha dívida posso eu olvidar?
povo; e tomará sobre si as suas enfermidades, Não! Não! E p o r isso ao seu trono orarei
para que suas entranhas se encham de miseri­ A vida e tudo o que tenho eu lhe darei.
córdia... para que possa conhecer, segundo a
carne... para poder tomar sobre si os pecados Que assombroso é; Oh! Ele me amou
de seu povo e apagar suas transgressões, de E assim me resgatou.
acordo com o poder do seu livramento. ’’ (Al­ Que assombroso é! Assombroso sim!
ma 7:12-13.) (“ Assombro Me Causa” , Hinos n? 62.)
“ Pois eis que eu, Deus, sofri estas coisas
por todos, para que, arrependendo-se, não É minha oração que nosso pesar e sofri­
precisassem sofrer; mento fortaleçam nossa fé no Senhor Jesus
“ Mas, se não se arrependessem, deveriam Cristo, e que nossas tristezas se convertam em
sofrer assim como eu sofri.” (D&C 19:16-17.) alegria, em nome de Jesus Cristo. Amém.

JANEIRO DE 1984 111


Como Saber

Élder William R. Bradford


do Primeiro Quorum dos Setenta

O Livro de Mórmon esclarece “do que


precisamos ser salvos; dá-nos plena compreensão
do papel e necessidade de um Salvador”.

resto testemunho de que Deus existe. gítimos herdeiros da qualidade de vida que ele

P Ele é o nosso Pai. Somos seus filhos,


criados à sua semelhança. Somos sua
semente, e possuimos o potencial de nos tor­
narmos como ele é.
vive e a plenitude daquilo que ele possui.
Nosso Pai nos ensinou esse plano em
nossa vida pré-mortal. Concedeu-nos o livre
arbítrio, para que pudéssemos optar livre­
Para que isso ocorra, nosso Pai Celestial mente pela aceitação ou não do seu plano. O
elaborou um plano: Criar uma Terra na qual fato de estarmos aqui na terra, dotados de um
nossos espíritos nasceriam dentro de um cor­ corpo físico, é evidência de que o aceitamos.
po físico; um lugar onde poderíamos ter ex­ No entanto, outros filhos de Deus deci­
periências que nos ensinariam e poriam à pro­ diram não aceitar o plano. Liderados por Lú-
va; um lugar para desenvolvermos o poten­ cifer, rebelaram-se contra nosso Pai, procu­
cial divino que possuimos. Aqui, nós, a se­ rando obter poder e glória por meio da força.
mente de Deus, podemos amadurecer e nos Foram derrotados nessa tentativa e expulsos
tom ar os frutos da colheita da obra do Pai, a da presença do Pai. Encontram-se agora so­
qual é: ‘‘Proporcionar a imortalidade e a vida bre a terra destituídos de corpos físicos. São
etema ao homem.” (Moisés 1:39.) ainda liderados por Lúcifer, que se tom ou
O plano proporciona os meios necessá­ Satanás, o Diabo. Não têm interesse em de­
rios e as instruções para nos tornarmos como senvolver o potencial divino; pelo contrário,
ele é. Pela obediência podemos tomar-nos le­ empenham-se em influenciar o homem a fa­

112 A LIAHONA
zer uso indevido de seus recursos e a desobe­ vidoso, àqueles que fazem pouco caso e de­
decer às instruções de nosso Pai. Ainda mais boche, como imaginamos possa ter aconteci­
insidiosa é a implacável influência que exer­ do quando a mesma declaração veio dos lá­
cem para induzir o homem a não fazer nada bios de Noé, ocasião em que lhe exigiram
com seus recursos e a ignorar instruções. Pela uma resposta: “ Como sabes? Como Sabes?”
influência dele surgiram o pecado e a trans­ Declaro-a ao duvidoso que em sua ignorância
gressão: os pecados de comissão e os pecados do plano de Deus e escuridão de sua mente
de omissão. pode somente pensar: “ Como sabes? Como
Referimo-nos às instruções que nos con­ sabes?”
cedeu o Pai como mandamentos. É devido ao Aqui tenho o Livro de Mórmon, um ou­
pecado e à transgressão desses mandamentos tro testamento de Jesus Cristo. Este livro cus­
que o homem se tom a sensual, diabólico e de­ tou o sacrifício, até mesmo a vida de milhares,
caído. (Ver D&C 20:20.) para chegar às nossas mãos. Seu aparecimen­
“ Homem decaído” significa que está to é parte da maravilhosa restauração de Deus
sujeito à morte e à separação de Deus. Quan­ de seus recursos e instruções a seus filhos.
do o corpo físico morre, o corpo espiritual Agora que temos o Livro de Mórmon,
continua a viver apartado da presença de que foi inspirado, protegido e entregue pelo po­
Deus. Assim, a condição do homem decãído der divino às nossas mãos — agora que pode­
é morte e separação. mos lê-lo — constatamos, para nossa surpresa,
Declaro com toda sobriedade que isso que que uma de suas duas mensagens principais pa­
falei é verdade. Afirmo ao que deseja ouvir, ra nós é o registro de um povo decaído.
àqueles que também sabem ser verdade. De­ Neste livro, página após página, história
claro-o também, sem reservas, ao ouvido du­ após história, personagem após personagem,

Élder William R. B radford e Élder C eorge P. Lee, d o Primeiro Quorum dos Setenta.

JANEIRO DE 1984 113


somos ensinados que Deus existe; que ele or­ reição, isto é, a reunião do nosso corpo espiri­
ganizou os céus e a terra; que nós somos seus tual com um corpo físico renovado.
filhos e que ele é nosso Pai; que somos gera­ Sua obra foi um sacrifício expiatório que
dos à sua imagem e semelhança; que existe nos abre de novo o caminho para alcançarmos
um plano para nos tornarmos como ele é; que nosso potencial como a semente de Deus. Ago­
aquele que se rebelou contra o Pai foi lançado ra, ainda que nos tomemos decaídos, se nos ar­
à terra, tomando-se Satanás, o demônio, o rependermos e obedecermos aos mandamen­
pai das mentiras e transgressões; que o nosso tos, podemos voltar à presença de Deus.
Pai permitiu que nosso corpo de espírito vies­ ‘‘E tendo o homem caído, por si mesmo
se à terra para adquirir um corpo físico; que
nada pode merecer; mas os sofrimentos e a
aqui na terra, se desejarmos, podemos obede­
morte de Cristo expiam seus pecados por
cer aos mandamentos do Pai que nos qualifi­ meio da fé, do arrependimento etc.; ele que-
carão para retomarmos à sua presença e viver branta os laços da morte para que a sepultura
a vida gloriosa que ele vive. “ Mas pela trans­ não seja vitoriosa e para que o aguilhão da
gressão destas santas leis, o homem tomou-se m orte seja desfeito pela esperança da
sensual, diabólico e decaído.” (D&C 20:20.) glória;...” (A lm a22:14.)
Deveras, é com surpresa que descobri­ Se tivésseis um filho, vossa própria se­
mos que uma das duas principais mensagens mente, não desejaríeis que ele alcançasse a
do Livro de Mórmon é o registro de um povo plenitude de seu potencial? Quando ainda jo ­
decaído; mas essa surpresa transforma-se em vem, não lhe daríeis ensinamentos, instru­
gratidão ao compreendermos a verdade que ções, e mesmo mandamentos? Não seriam es­
Deus nos está explicando: “ Não podemos en­ ses mandamentos destinados a protegê-lo do
contrar a solução sem primeiro entendermos mal, e mesmo da morte?
o problema.”
Se, por desobediência a vossos ensina­
O problema é que o homem transgrediu mentos e mandamentos, esse filho caísse nu­
os mandamentos sagrados de Deus e tornou- ma situação da qual não tivesse poder para li­
-se homem decaído e sujeito a sofrer a morte e vrar-se, — uma situação na qual certamente
a separação etema da presença de Deus. morreria, da qual sem ajuda não pudesse vol­
Mas o Livro de Mórmon contém uma tar a vossa presença — não faríeis tudo em
segunda mensagem. Contém a solução. Con­ vosso poder para salvá-lo?
tém a plenitude do evangelho de Jesus Cristo. Deus é o nosso Pai. Somos seus filhos.
Assim como a doutrina do homem decaído Em nosso estado de homens decaídos,
expõe nossa condição de total decadência, o enviou-nos um Salvador — Jesus Cristo.
Evangelho de Jesus Cristo nos apre&enta ple­ Desde que todos pecam, não há nin­
namente como sobrepujar tal condição. É a guém que possa voltar ao Pai, exceto através
solução. de Jesus Cristo. Ele é o único dos filhos de
O plano de redenção é a parte central do Deus que não transgrediu as santas leis. Se ti­
Evangelho de Jesus Cristo. Deus deu a seus fi­ vesse, ele também se teria tornado um ho­
lhos mandamentos de que “ deveriam amá-lo mem decaído. Neste caso, quem seria o nosso
e serví-lo, o único Deus vivo e verdadeiro, e Salvador? Cristo, porém é sem pecado e nos
que ele deveria ser o único ser a quem deve­ redimiu sob condição de arrependimento e
riam adorar” . (D&C 20:19.) obediência.
Sua própria declaração nos chega em
Pela transgressão dessas leis sagradas forma de mandamento rígido:
veio a queda. “ Portanto, o Deus-Poderoso “ Portanto, ordeno que te arrependas e
deu o seu Filho Unigênito...” (D&C 20:21.) guardes os mandamentos que recebeste pela
Ele veio à terra e cumpriu sua missão; mão de Joseph Smith,...
cumpriu os requerimentos do plano de reden­ “ E é pelo meu poder onipotente que o
ção. A obra que ele realizou trouxe a ressur­ recebeste;” (D&C 19:13-14).

114 A LIAHONA
Não recebemos nós o Livro de Mórmon testemunho de mim, porque ele o visitará
de Deus pelas mãos de Joseph Smith, seu po­ com o Espírito Santo.” (3 Néfi 11:35.)
deroso profeta da restauração? Peço-vos que pondereis esta pergunta:
Cristo, falando à nação nefita conforme “ Como pode alguém entender o papel ou a
revelado no Livro de Mórmon, instrui-nos a necessidade de um Salvador, sem antes com­
respeito dos passos que devemos tomar para preender do que precisa ser salvo?”
sobrepujar nossa condição de homem decaí­ O Livro de Mórmon contém o registro
do. Ele disse: “ .. .E eu dou testemunho de que de um povo decaído. Explica como o homem
o Pai ordena a todos os homens, em todo lu­ chegou a essa condição que o sujeita à morte e
gar, que se arrependam e creiam em mim. separação de Deus.
“ E os que crerem em mim, e forem bati­ O Livro de Mórmon contém também a
zados, se salvarão; e são estes os que herdarão plenitude do Evangelho de Jesus Cristo. Expli­
o reino de Deus. ca claramente o que foi feito por nós e o que nós
“ E os que não crerem em mim, e não fo­ precisamos fazer para sobrepujar essa condi­
rem batizados serão condenados.” (3 Néfi ção decaída e retomar à presença de Deus.
11:32-34.) Agora, ó homem decaído, diante de ta­
Ser condenado, significa simplesmente manha prova, ainda ousas perguntar: “ Co­
parar de progredir, permanecer na condição mo sabes? Como sabes?”
de homem decaído. O Livro de Mórmon esclarece do que
Cristo continua: “ Em verdade, em ver­ precisamos ser salvos; dá-nos plena com­
dade, vos digo que esta é a minha doutrina, e preensão do papel e necessidade de um Sal­
dela vos dou testemunho pelo Pai; e todo vador. É mais um testemunho de Jesus Cris­
aquele que crê em mim, crê também no Pai, e to, o que eu proclamo e testemunho no sagra­
a todo aquele que crer em mim, o Pai dará do nome de Jesus Cristo. Amém.

JANEIRO DE 1984 115


O Poder que Faz a
Diferença

Élder Richard G. Scott


da Presidência do Primeiro Quorum dos Setenta

“Estou convencido de que quando amamos


incondicionalmente, quando nosso interesse primordial é
servir, o milagre do poder do evangelho se tornará
realidade em nossa vida. ”

ausou-me profunda humildade o cha­ mente essas impressões a fim de que penetrem

C mado que recebi para servir como um


dos presidentes do Primeiro Quorum
dos Setenta. Conversei com o Senhor a res­
peito e prometi-lhe que dedicaria tudo que te­
profundamente na consciência daqueles a
quem se destinam e lá se enraizarem perma­
nentemente. Que elas possam transmitir o
amor do Senhor e seu desejo de vos mostrar
nho a esse serviço. Roguei-lhe que me ajudas­ como obter a ajuda de que tão urgentemente
se a qualificar-me para receber sua inspiração necessitais para terdes propósito e felicidade
e apoio, para que possa fazer sua vontade na vida.
bem como a de seus servos. Não sei quem sois; talvez já tendes idade
Orei fervorosamente ao Senhor, para avançada e por causa de longo sofrimento fí­
que me orientasse e fizesse falar algo que be­ sico ou um crescente sentimento de solidão
neficie alguns de seus filhos aqui na terra. começastes a vos sentir amargurados e a ter
Após considerável esforço pessoal, tive várias pena de vós mesmos. Talvez sejais um rapaz
impressões e um sentimento sagrado de que ou moça enfrentando sérios desentendimen­
em algum lugar existem pessoas a quem posso tos dentro da família. Ou então um marido
prestar a ajuda do Senhor de que tanto preci­ separado da esposa, ou uma mãe enfrentan­
sam. Oro para que consiga transmitir fiel­ do a difícil tarefa de criar os filhos sem o

116 A LIAHONA
amor, compreensão e apoio de um compa­ dar o primeiro passo quando nosso próprio
nheiro. Ou talvez uma filha especial, obe­ coração anseia por companhia e compreen­
diente, que se preocupa porque seus sonhos são. Tais atos de serviço ao próximo, porém,
de ter um companheiro eterno parecem mais nos trazem a misericórdia e o amor de Jesus
difíceis de se concretizarem a cada dia que Cristo, nosso Mestre.
passa. Independentemente de quem sois, O livre arbítrio é uma dádiva divina, e
presto testemunho solene de que o Salvador Deus não o violará. É por causa do livre arbí­
vos conhece, que ele vos ama, e é sabedor de trio que devemos dar o primeiro passo. Nos­
vossas necessidades específicas. sos atos iniciais de bondade ou serviço ao pró­
Ele permite que outros o auxiliem em ximo nos abrem os canais de inspiração e po­
sua obra. E possa, hoje, eu ser esse instru­ der. Por outro lado, as trevas e o desespero
mento em sua mão. avançam quando a luz do amor e serviço en­
Compartilharei convosco um princípio fraquece ou se apaga dentro de nós. Senti­
de verdade, o qual, se aplicado, pode abrir a mentos de amargura e insatisfação se apos­
porta a todos os outros necessários para edifi- sam de nós, dando lugar a pensamentos e
car o vosso espírito. É um princípio que vos ações pouco amáveis, críticas destrutivas e até
dará o poder de fazer a diferença na qualida­ mesmo odiosas.
de de vossa própria vida. Lembro-me de um casal que me procu­
É o princípio do serviço, do auto-sacrifi- rou em busca de conselho. Ela estava na eta­
cio em benefício de outros necessitados. Bem pa final de um divórcio e ele amargurado e
sei que é difícil ajudar os outros quando esta­ ofendido. A magia do amor que dera tanto
mos magoados, injustiçados. Sei que é difícil significado e propósito ao namoro deles ha-

Élder Richard C. Scott, à esquerda, recém-chamado com o mem bro da Presidência do Primeiro Quorum dos
Setenta, com um membro do mesmo quorum, Élder Franklin D. Richards, à direita, e Élder James A .
Cullimore, centro, A utoridade Geral Emérita.

JANEIRO DE 1984 117


via desaparecido. Estava destruída a confian­ do o que podia; mas esses gestos justos eram
ça que um dia servira como um laço sagrado sempre destruídos pela expressão de senti­
para os unir. O feio emaranhado do egoísmo mentos egocêntricos. Em suas próprias pala­
estragulava aos poucos o pouco que restava vras: “ Eu não quero que ela se aproveite de
do respeito mútuo. mim.” Ela retinha em seu coração os senti­
Eu os ou vi separadamente. Primeiro um e mentos sinceros de gratidão pela ajuda dele
depois o outro. A história deles já era bem co­ com os filhos e no lar, e ficava calada. Falta­
nhecida. “ Eu a amo, mas não quero ser pisa­ va-lhes a coragem e a visão para se edificarem
d o.” “ Sou grata por aquilo que ele faz, mas um ao outro. Dois seres encurralados no fogo
se mostro o mínimo de gratidão, ele pensa cruzado de emoções intensas raramente con­
que todos os nossos problemas estão resolvi­ seguem pensar com clareza ou serem motiva­
dos. E eu fico outra vez por baixo. ’’ Seus pro­ dos de uma forma adequada. Necessitam de
blemas eram ainda agravados por pressões ajuda. A melhor fonte de ajuda é o Salvador.
econômicas. Mesmo assim, ao ouvir cada Oh, como eu oro para que façam uso dos
um, pude ver que os recursos aos quais se princípios discutidos, para atingir, erguer,
agarravam tenazmente, poderiam ter resolvi­ edificar e perdoar um ao outro.
do suas dificuldades financeiras, se os com­ Três coisas são necessárias para reparar
partilhassem abnegadamente. Percebi em as linhas de comunicação e curar os corações
ambos qualidades admiráveis. Tinham um que outrora expressavam tão profundo e pu­
sincero testemunho da verdade, o desejo de ro amor, respeito e confiança.
fazer o que é certo e uma vontade imensa de Primeiro, compreender os princípios
sentir-se em paz com o Senhor quanto às deci­ que trazem felicidade ao casamento. Esses fo-
sões que estavam para tomar. ram eloqüentemente expostos pelo presidente
Ele sempre tentara honestamente de­ Spencer W. Kimball em muitas de suas men­
monstrar amor e afeição, ajudando-a em tu­ sagens. Dois desses exemplos estão contidos
no livro intitulado: Marriage. (Ainda não tra­
duzido para o português. Nota do Tradutor.)
Segundo, disposição de viver dignamen­
te e procurar diligentemente obedecer aos
mandamentos de Deus. Isto permite que nos­
so coração e mente sejam tocados pela orien­
tação divina, e nosso esforço seja magnifica-
do pelo poder que vem do alto.
Terceiro, o desejo sincero, desprendido
de edificar o outro. Isto requer uma análise de
nossa vida pessoal, a fim de identificarmos e
mudarmos as coisas que devem ser mudadas
para que o amor e a confiança possam crescer
e amadurecer e florescerem os sentimentos de
perdão.
Isto .também requer uma disposição de
reconhecer tudo o que é bom e edificante no
cônjuge, e deixar de lado a concentração mi­
croscópica nas falhas e defeitos. O criticismo
é muitas vezes motivado pelo desejo de racio­
nalizar nossas próprias imperfeições e justifi­
car o rompimento dos sagrados convênios
do casamento.
Se quereis ser amados, amai os outros.
Se quereis ser compreendidos, mostrai com­

118 A LIAHONA
preensão aos outros. Se quereis encontrar quando não estamos preocupados com o que
paz, harmonia e felicidade, edificai os outros. vamos receber ou o que os outros vão dizer,
No entanto, se edificarmos o outro por ou se nossa própria carga será diminuída,
motivos egoístas, nossos atos não podem mas sim procurarmos edificar o outro desin­
produzir bons frutos. Não disse Jesus: teressadamente, o milagre do poder do evan­
“ Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante gelho se tornará realidade em nossa vida.
dos homens, para serdes vistos por eles: aliás Quando permitimos que o Senhor opere atra­
não tereis galardão junto de vosso Pai, que vés de nós em favor de outros, essa experiên­
está nos céus.” (Esmolas são atos justos.) cia sagrada liberta poder em nossa própria vi­
“ Quando pois deres esmola, não faças tocar da e milagres acontecem. Bem disse o Senhor:
trombetas diante de ti, como fazem os hipó­ “ Pois, se o fazeis ao menor destes, a mim o
critas... para serem glorificados pelos ho­ fazeis.” (D&C 42:38.)
mens. Em verdade vos digo que já receberam Respeito e amor devem ser conquistados
o seu galardão. e não há melhor meio de os conquistar do que
“ Mas quando tu deres esmola, não sai­ edificar âlguém.
ba a tua mão esquerda o que faz a tua direita. Começai agora empregando vossos me­
“ Para que a tua esmola seja dada ocul­ lhores esforços. Procurai estender a mão a al­
tamente; e teu Pai, que vê em segredo, te re­ guém. Então sentireis o poder do Senhor
compensará publicamente.” (Mateus 6:1-4.) fluindo dentro de vós. O respeito próprio re­
Estou convencido de que quando ama­ tornará, e podereis amar-vos novamente.
mos incondicionalmente, quando nosso inte­ Vossa vida voltará a ter propósito e será enri­
resse primordial é servir, edificar, construir, quecida, e recebereis poder para fazer a dife­
fortalecer sem pensar em si próprio, sem es­ rença em tudo que vos cerca.
perar recompensa por todo ato de bondade, Disso presto testemunho solene, em no­
generosidade e sincero esforço em ajudar; me de Jesus Cristo. Amém.

JANEIRO DE 1984 119


O Que Pensais
do Livro de Mórmon?

Élder Bruce R. McConkie


do Conselho dos Doze Apóstolos

“É a evidência divina, a prova de que Deus se


manifestou em nossos dias. ”

ois ministros de uma das maiores e Deus para ser um profeta e restaurar as verda­

D mais poderosas denominações pro­


testantes compareceram a uma con­
ferência de nossa Igreja, a fim de me ouvirem
pregar.
des de salvação, de modo claro e perfeito.
O Livro de Mórmon é um livro de escri­
turas sagradas, comparável à Bíblia. Contém
um registro dos feitos de Deus com os antigos
Após a reunião, em conversa particular habitantes das Américas. É um outro testa­
com eles, eu lhes disse que poderiam obter um mento de Jesus Cristo.
testemunho de que o Profeta Joseph Smith Contém a plenitude do evangelho, isto
era o profeta por meio do qual o Senhor havia é, é um registro dos assuntos do Senhor com
restaurado a plenitude do evangelho em nos­ um povo que possuía a plenitude do evange­
sa época e para nossos dias. lho, significando que no mesmo também se
Disse-lhes que deveriam ler o Livro de encontra um sumário e enumeração do que
Mórmon, ponderar suas eternas e grandiosas todos os homens devem saber e fazer para ob­
verdades e orar ao Pai em nome de Cristo, ter um galardão no reino celestial reservado
com fé, e que ele lhes revelaria a verdade do aos santos.
livro pelo poder do Espírito Santo. Assim como os ensinamentos e testemu­
Como é do conhecimento de toda pessoa nhos de Moisés, Isaías e Pedro se encontram
versada no evangelho, o Livro de Mórmon na Bíblia, paralelamente, as pregações e os
prova que Joseph Smith foi chamado por mesmos testemunhos inspirados de Néfi, Al-

120 A LIAHONA
ma e Morôni chegaram até nós pelo Livro de já leram o Livro de Mórmon, e eu já li o que
Mórmon. eles pensam dele.”
Este testemunho de Cristo na América Este relato ilustra um dos problemas que
foi escrito em placas de ouro, entregues a Jo­ encontramos ao apresentar a mensagem do
seph Smith por um ministrador angélico. Livro de Mórmon ao mundo. Existem pes­
Esse registro antigo foi então traduzido pelo soas sinceras e devotas em toda parte que ou­
dom e poder de Deus e hoje é publicado e co­ viram o que outras pessoas dizem sobre este
nhecido no mundo como o Livro de M órmon. livro de escrituras sagradas e, por isso, não o
Se este livro é o que alega ser — se o re­ lêem pessoalmente.
gistro original foi revelado por um santo an­
Em vez de beberem da fonte de onde
jo; se a tradução foi feita pelo poder de Deus e
fluem ribeiros límpidos de água viva, prefe­
não do homem; se Joseph Smith conversou
rem descer e abeberar-se nos turvos, enlama-
com anjos, teve visões e recebeu revelações— o
çados e envenenados ribeiros do mundo.
que é uma verdade estabelecida; se o Livro de
Mórmon é verdadeiro — então a veracidade e O fato evidente é que a própria salvação
divindade do Livro de Mórmon comprova a está em jogo neste caso. Se o Livro de Mór­
veracidade dessa obra grandiosa dos últimos mon é verdadeiro — se se trata de um livro de
dias, na qual estamos empenhados. escrituras sagradas: se contém o pensamento,
Tudo isso eu expliquei aos meus amigos a vontade e a voz de Deus para todos os ho­
protestantes. Um deles, uma pessoa acessível mens; se é um testamento divino do chamado
e simpática disse, um tanto indiferente, que profético de Joseph Smith — então aceitá-lo
leria o Livro de Mórmon. O outro ministro, e crer em suas doutrinas significa salvação, e
manifestando um espírito virulento, disse: rejeitá-lo e seguir um caminho contrário aos
“ Não o lerei. Temos pessoas entendidas que seus ensinamentos é condenação.

Élder R onald E. Poelman, à esquerda, do Primeiro Quorum dos Setenta, e visitantes da conferência.

JANEIRO DE 1984 121


Que esta mensagem soe em todo ouvido Contei-lhes a experiência anterior que ti­
anunciada por trombeta angélica; que ecoe vera com dois dos seus colegas e de como um
sobre toda a terra num infindável ressoar de deles se recusara a ler o Livro de Mórmon, di­
trovões sem fim; que penetre todo coração zendo que já fora lido por entendidos no as­
por meio daquela voz suave e mansa — aque­ sunto e que ele havia lido suas conclusões.
les que acreditarem no Livro de Mórmon e Então eu disse: “ O que será preciso fa­
aceitarem Joseph Smith como um profeta, zer para que os senhores leiam o Livro de
abrem assim a porta para a salvação; aqueles Mórmon e verifiquem por si próprios do que
que de todo rejeitarem o livro ou simplesmen­ se trata em vez de confiarem na conclusão de
te deixarem de captar sua mensagem e aceitar seus entendidos?”
os ensinamentos que contém, nem mesmo Um dos ministros, tomando meu exem­
começaram a trilhar aquele caminho estreito plar do Livro de Mórmon, deixou as páginas
e apertado que conduz à vida eterna. correrem entre os dedos, dizendo: “ Ah, sim,
Pouco depois da experiência com aque­ eu já li o Livro de M órm on.”
les dois ministros, outros dois clérigos da Num vislumbre espiritual momentâneo
mesma denominação compareceram a uma foi-me dado saber que sua leitura não fora
outra de nossas conferências, para me ouvi­ mais extensa do que acabara de fazer com as
rem pregar. E, novamente, após a reunião, ti­ páginas. Sem dúvida, se limitara a correr os
ve um encontro particular com eles.
olhos sobre alguns títulos e ler um ou dois ver­
A mensagem que dei foi a mesma. Usan­
sículos isolados.
do o Livro de Mórmon como guia, eles deve­
riam ler, ponderar e orar para obterem um tes­ Uma jovem atraente, convertida à Igre­
ja, cujo pai era ministro da mesma denomi­
temunho do Espírito quanto à veracidade e di­
nação a que pertenciam meus quatro amigos
vindade dessa grandiosa obra dos últimos dias.
protestantes, escutava minha conversa com
os dois últimos. Num dado momento, excla­
mou: “ Mas Reverendo, o sr. tem que orar a
respeito.”
Ele respondeu: “ Ora, e eu orei. Pedi: ‘0
Deus, se o Livro de Mórmon for verdadeiro,
mate-me’; mas ainda estou vivo.”
Meu impulso oculto foi retrucar: “ Mas
reverendo, o sr. tem que orar com fé!”
Este relato é outro exemplo do nosso
problema ao querer ensinar os que lêem o Li­
vro de Mórmon a fazê-lo, para que obtenham
o testemunho prometido pelo poder do Espí­
rito Santo.
O modelo encontramo-lo na experiência
de Oliver Cowdery. Ele desejava servir não só
como escrevente de Joseph Smith, mas tam­
bém traduzir diretamente das placas. Depois
de muito importuná-lo o Senhor permitiu ao
Irmão Cowdery que tentasse.
A autorização divina continha estas
condições: “ Lembra-te de que sem fé nada
podes fazer; portanto, pede com fé. Não
brinques com estas coisas; não peças o que
não deves... e de acordo com a tua fé, recebe-
rás.” (D&C 8:10-11.)

122 A LIAHONA
Oliver tentou traduzir mas não conse­ podemos brincar com coisas sagradas e esca­
guiu. Então veio a palavra divina: “ Eis que par à ira de um Deus justo.
não compreendeste; tu supuseste que eu to Das duas uma, o Livro de Mórmon é
daria quando não fizeste outra coisa senão verdadeiro ou falso; veio de Deus ou foi con­
pedir. ’’ Isto é, ele não fizera tudo o que estava cebido no inferno. Ele próprio declara sim­
a seu alcance; pensara que o Senhor o atende­ plesmente que todos os homens devem acei-
ria somente por haver pedido. tá-lo como escritura pura ou perderão a sua
‘‘Mas, eis que eu te digo, ’’ prossegue a pa­ alma. Não é nem pode ser mais outro tratado
lavra divina, “ deves ponderar em tua mente; sobre religião; ou veio dos céus ou do inferno.
depois me deves perguntar se é correto e, se for, E está na hora de todos os que buscam a sal­
eu farei arder dentro de ti o teu peito; hás de sen­ vação saberem por si próprios se o mesmo é
tir assim, que é certo.” (D&C 9:7-8.) do Senhor ou de Lúcifer.
Portanto, se o Livro de Mórmon é ver­ Gostaria, com vossa permissão, de pro­
dadeiro, aceitá-lo nos levará à salvação no por-vos uma prova e lançar um desafio. Es-
céu mais elevado. Por outro lado, se disser­ pera-se que todos os que se propõem a fazer
mos que é verdadeiro quando na verdade não esta prova tenham conhecimento das Escritu­
é, estamos com isso desviando homens do ca­ ras Sagradas, porque quanto mais soubermos
minho certo e certamente mereceremos ir pa­ a respeito da Bíblia, maior será nosso apreço
ra o pior dos infernos. pelo Livro de Mórmon.
H á muito já se foi o tempo para brincar Trata-se de uma prova tanto para o san­
com subterfúgios ou assacar epítetos ofensi­ to como para o pecador; é para o judeu e gen­
vos contra os santos dos últimos dias. Esses tio, para o cativo e o liberto, para o branco e o
são assuntos profundos, solenes e que mere­ preto, para todos os filhos de nosso Pai Celes­
cem consideração. Não devemos pensar que tial. Fomos todos instruídos a estudar as es­

JANEIRO DE 1984 123


crituras, a fim de entesourarmos a palavra do Perguntamos: que pensais, então, do
Senhor, e vivermos de toda a palavra que sai Livro de Mórmon? Quem poderá determinar
da boca de Deus. Esta, então, é a prova: seu efeito ou valor? Quantos mártires sofre­
Que toda pessoa faça uma lista de cem a ram a morte para trazê-lo à luz e levar a sua
duzentos assuntos doutrinários, procurando mensagem a um mundo iníquo?
conscienciosamente abranger todo o campo de Respondemos: é um livro, um livro sagra­
conhecimento do evangelho. O número de as­ do, um livro de escrituras sagradas e salvado­
suntos escolhidos dependerá da inclinação pes­ ras. É a voz que clama do pó, a voz que sussurra
soal e por extensão de cada assunto a tratar. mansamente da terra, falando de um povo de­
Em seguida, escreva cada assunto numa caído que desapareceu num infindável esqueci­
folha de papel, dividida em duas colunas; no mento, por abandonar o seu Deus.
alto de uma delas escreva: Livro de Mórmon, e É a verdade que jorra da terra enquanto
no alto da outra: Bíblia. a retidão observa dos céus. É a vara de José
Então, comece pelo primeiro versículo e nas mãos de Efraim, que guiará toda Israel —
frase do Livro de Mórmon e, continuando as dez tribos inclusive — de volta àquele que
versículo por versículo e idéia após idéia, ano­ seus pais adoraram. Contém a palavra que há
te a essência de cada versículo sob o título cor­ de coligar toda a casa de Israel e tomá-la ou­
respondente. Localize a mesma doutrina em tra vez uma nação sobre os montes de Israel
o Novo e no Velho Testamentos, anotando-a como foi nos dias de seus pais.
na coluna paralela. É um relato do ministério do Filho de
Deus às outras ovelhas no dia em que eles vi­
Ponderando as verdades aprendidas, ram a sua face e ouviram a sua voz e creram
não passará muito tempo até perceberdes que em sua palavra.
Léhi e Jacó ultrapassam Paulo no ensina­ E a evidência divina, a prova de que
mento sobre o sacrifício expiatório; que os Deus se manifestou em nossos dias. Seu prin­
sermões de Alma sobre a fé e o nascer de novo cipal propósito é convencer a todos os ho­
ultrapassam qualquer coisa que se encontra mens, ao judeu e ao gentio igualmente de que
na Bíblia; que Néfi dá uma explicação melhor Jesus é o Cristo, o Deus Eterno, que se mani­
da dispersão e coligação de Israel do que fa­ festou, pela fé, em todas as épocas e entre to­
zem Isaías, Jeremias e Ezequiel juntos; que as dos os povos.
palavras de Mórmon sobre a fé, esperança e Surgiu em nossa época provando ao
caridade possuem uma clareza, extensão e mundo que a Bíblia é verdadeira; que Jesus, o
impacto que até mesmo Paulo não conseguiu autor do sacrifício expiatório, é o Senhor de
alcançar; e assim por diante. todos; que Joseph Smith foi chamado por
Existe outra prova mais simples ainda que Deus como o foram os profetas da antigüida­
todos aqueles que procuram conhecer a verda­ de; que A Igreja de Jesus Cristo dos Santos
de podem fazer. Ela requer simplesmente que dos Últimos Dias é o lugar na terra onde po­
leiamos, ponderemos e oremos— tudo no espí­ demos encontrar a salvação.
rito de fé e de mente aberta. Para nos manter­ É o livro que trará a salvação ao mundo
mos vigilantes quanto à questão em pauta— ao e preparará os filhos dos homens para a ale­
lermos, ponderarmos e orarmos — devemo- gria e paz agora e aqui, e para a vida eterna.
-nos perguntar mil vezes: “ poderia homem al­ Como sói acontecer, sou um dos muitos
gum ter escrito este livro?” que souberam, por revelação do Espírito
Garanto, absolutamente, que entre a Santo à minha alma, que o Livro de Mórmon
primeira e a milésima vez que fizer essa per­ é verdadeiro. E, sabendo que serei responsá­
gunta, todo aquele que, sincera e genuina­ vel por este testemunho perante o grande Jeo­
mente procura a verdade, saberá pelo poder vá quando ele julgar todos os homens, testifi­
do Espírito que o Livro de Mórmon é verda­ co que assim como ele vive, o Livro de Mór­
deiro, isto é, o pensamento, a vontade e a voz mon é verdadeiro.
do Senhor ao mundo todo em nossa época. Em nome de Jesus Cristo. Amém.

124 A LIAHONA
Sigamos Avante!

Presidente Gordon B. Hinckley


Segundo conselheiro na Primeira Presidência

“Tomemos a resolução de ‘tentar mais arduamente viver os


padrões do evangelho... e cultivar em nossos corações sincero
amor ao próximo, tanto dentro como fora da Igreja \ ”

eus irmãos e irmãs. É costume ou­ conosco a forte sensação edificante de haver­

M virmos o presidente Kimball falar


no final da conferência. Mas devido
à sua idade e saúde debilitada, isto não vai ser
mos participado dela juntos. Foram dias glo­
riosos. O espírito do Senhor esteve conosco.
Temos todo motivo para nos sentirmos gra­
possível. Sei que gostaríeis de poder ouvi-lo tos. Tanto o nosso testemunho como a nossa
falar. Sei, também, que sou um substituto fé foram fortalecidos.
fraco. Foi maravilhoso que ele e o Presidente Ouvimos conselhos sábios daqueles que
Romney puderam estar aqui conosco. E só o nos dirigiram a palavra. Assim, espero que as
fato de vê-los, causou júbilo a muitos e mui­ leiamos quando esses discursos forem publi­
tos corações. cados, e saboreemos novamente, para o nos­
Durante o almoço, estivemos sentados so benefício, aquilo que foi dito.
ao lado de um irmão que agora é avô e nos Eles prestaram testemunho de nosso Pai
contou que seu netinho de quatro anos lhe ha­ Celestial e de seu Amado Filho, e o fizeram pe­
via perguntado dias atrás: “ Vovô, sabe por lo poder do Espírito Santo; e pelo mesmo po­
que o beija-flor faz zumbido?” E o avô res­ der falaram do Profeta Joseph Smith e dos
pondeu : Não sei. Por que? ” E o menino então frutos provenientes de sua fé, seu trabalho e
disse: “ É porque ele não conhece palavras.” chamado como servo do Senhor.
É bem provável que não nos lembremos Deram-nos conselhos sobre a vida, a fa­
de muitas palavras que foram ditas no decor­ mília, os afazeres. Todos nós nos fortalecere­
rer das reuniões desta conferência. Mas espe­ mos praticando na vida e no lar as coisas que
ro que sejamos capazes de nos lembrar do seu ouvimos.
“ zumbido” , do seu espírito. E que levemos Não temais pela Igreja. Falamos nesta

JANEIRO DE 1984 125


E depois: “ Pedimos apenas que nos jul-
gem por nossos frutos.”
O Mestre disse:
“ Por seus frutos os conhecereis. P or­
ventura colhem-se uvas dos espinheiros ou fi­
gos dos abrolhos?
“ Assim, toda a árvore boa produz bons
frutos, e toda árvore m á produz frutos maus.
“ Não pode a árvore boa dar maus fru­
tos; nem a árvore m á dar frutos bons.
“ Portanto, pelos seus frutos os conhe­
cereis.” (Mateus 7:16, 17, 18, 20.)
Estamos dispostos a nos deixar julgar
por esse padrão.
Certa ocasião, quando estávamos sob
ataque ainda mais intenso que hoje, o Presi­
dente Joseph F. Smith disse deste mesmo
púlpito:
“ Agradecemos a Deus por sua miseri­
córdia e bênçãos; e de certa forma devemos
gratidão àqueles que com tanto empenho se
têm oposto à obra do Senhor; pois graças a
toda essa oposição e lutas amargas contra o
nosso povo, o Senhor tem desenvolvido o seu
conferência sobre aqueles que nos criticam. poder e sabedoria, e trouxe o seu povo mais
Eles zombam do que nos é mais sagrado. ao conhecimento e favor das pessoas inteli­
Desprezam e ridicularizam aquilo que nos foi gentes da terra. Através dos próprios meios
concedido por revelação do Todo-Poderoso. usados por aqueles que se têm oposto à obra
Todo homem que procura divertir-se às cus­ de Deus, ele trouxe o bem a Sião.
tas do que é sagrado a outrem possui um cará­ Está escrito, porém, e acredito que seja
ter profundamente falho. É lamentável que verdade, que é mister que venham escânda­
alguém se rebaixe a esse ponto e outros o ou­ los, mais ai daquele homem por quem o es­
çam e achem graça. A simples cortesia exige cândalo vem! (Mateus 18:7); mas eles estão
que se respeite aquilo que é sagrado para nos­ na mão do Senhor, como nós estamos. Não
so vizinho e concidadãos. trazemos nenhuma acusação grave contra
O próprio Senhor declarou: “ Lembrai- eles. Estamos dispostos a deixá-los nas mãos
-vos de que aquilo que vem do alto é sagrado e do Todo-Poderoso para que trate deles, co­
deve ser mencionado com cuidado e por mo lhe parecer melhor. Nossa tarefa é traba­
constrangimento do Espírito.” (D&C 63:64.) lhar com retidão na terra, procurar conhecer
Conforme foi mencionado, existem al­ a vontade do Senhor e seus caminhos e as
guns que se arrogam a missão de menosprezar, grandes e gloriosas verdades que ele revelou
diminuir e destruir a fé dos fracos, com o péssi­ por instrumentalidade do Profeta Joseph
mo argumento de que não somos cristãos. Smith não somente para a salvação dos vivos,
Para todos esses temos uma resposta du­ mas para a redenção e salvação dos m ortos.”
pla, e tranqüila. Em primeiro lugar: “ Será (Doutrina do Evangelho, p. 308.)
que um verdadeiro seguidor de Cristo, um se­ E assim, deixemos de lado este assunto.
guidor daquele que foi o epítome do amor, Agora, vós que viajastes para assistir a
misericórdia e consideração, procuraria inju­ esta conferência, retornai a vossos lares com a
riar seu próximo?” resolução em vossos corações, e vós que parti-

126 A LIAHONA
cipastes da conferência por meio da transmis­ “ Quanto tempo podem permanecer im­
são via satélite, televisão e rádio resolvei tam­ puras as águas que correm? Que poder deterá
bém tentar mais arduamente viver os padrões os céus? Seria inútil querer o homem estender
do evangelho do qual ouvimos falar nesses seu débil braço para desviar do seu curso o rio
dias; diminuir nossa voz crítica e atitudes ne­ Missouri, ou fazê-lo ir correnteza acima, co­
gativas; buscar aquilo que há de bom no mun­ mo evitar que o Todo-Poderoso derrame os
do ; como empregados ,serhonestospara com seus conhecimentos dos céus sobre as cabeças
os empregadores na dedicação do nosso tem­ dos santos dos últimos dias.” (121:33.)
po e talentos; cultivar em nosso coração since­ Eu acreditei nestas palavras quando ou­
ro amor ao próximo, tanto dentro como fora vi o Presidente Grant lê-las. Acredito nelas
da Igreja; ser mais leais, como marido e mu­ agora também.
lher, um para com o outro em todos os senti­ Acredito sem qualquer dúvida meus ir­
dos. Que todo marido e portador do sacerdó­ mãos e irmãs que esta é a obra de Deus e que
cio trate sua companheira e filhos com amor e ele está derramando suas bênçãos de maneira
deferência; que cultivemos em nossos lares a maravilhosa e miraculosa sobre seu povo.
oração em família, fazendo da mesma o hábi­ Uma semana atrás, neste recinto, reali­
to em nossa vida; que sejamos honestos para zamos uma grande reunião para as mulheres
com todos os homens e caminhemos humilde da Igreja. E, além das aqui reunidas, haviami-
e obedientemente com Deus nosso Pai Celes­ lhares e milhares congregadas em mais de seis-
tial. Por isso oro humildemente. centos outros locais, para os quais os procedi­
Lembro-me de, quando garoto, aqui no mentos dessa reunião foram transmitidos via
Tabernáculo, ouvir o Presidente Heber J. satélite. Pensei no milagre, na maravilha dessa
Grant ler estas palavras, de Doutrina e Con­ grandiosa irmandade de mais de um milhão de
vênios, com a voz vibrante de convicção: m ulheres extrao rd in árias, devotadas ao

M embros d o Primeiro Quorum dos Setenta, Élder Gene R. C ook e Élder Charles Didier.

JANEIRO DE 1984 127


*w-sX*£-iC

Evangelho de Jesus Cristo que andam com fé de vaguear na solidão por um longo período e
no coração; mães, cujo mais elevado desejo é contemplar esta época em que seu registro de­
criar uma outra geração fiel de filhos e filhas veria aparecer:
que amem ao Senhor e estejam dispostos a “ Desperta e levanta-te do pó, ó Jerusa­
obedecer aos mandamentos do Mestre. lém; sim, e veste-te com tuas belas roupagens,
Ontem à noite, reuniram-se aqui os ho­ ó filha de Sião; fortalece tuas estacas, alarga
mens, o sacerdócio da Igreja, centenas de mi­ tuas fronteiras para sempre, para que não
lhares aqui e pelo mundo. Em mais de 1153 mais sejas confundida e sejam cumpridos os
outros locais, bem como em 600 sedes de esta­ convênios que o Pai Eterno fez contigo, ó Ca­
ca, aos quais os procedimentos daquela reu­ sa de Israel! Sim, vinde a Cristo, sede perfei­
nião foram transmitidos. E de novo disse a tos nele e negai-vos a todas as impurezas.”
mim próprio: ‘‘Que coisa gloriosa elaborou o (Morôni 10:31-32.)
Deus dos céus em beneficio de seu povo.” Se­ Quando, hoje, cantamos todos juntos o
jamos gratos. Não temamos. emocionante hino “ Que Firme Alicerce” ,
Vêm-me à mente estas grandiosas pala­ sua letra fez meu coração emocionar e regozi­
vras de uma das epístolas de Paulo a Timóteo: jar-se com a fé deste povo.
“ Porque Deus não nos deu o espírito de Presto-vos testemunho e invoco as bên­
temor. Mas de fortaleza, e de amor, e de mo­ çãos do céu sobre todos. Eu sei que Deus,
deração. nosso Pai Eterno vive. Sei que Jesus é o Cris­
“ Portanto, não te envergonhes do teste­ to, o Salvador e Redentor da humanidade.
munho de nosso Senhor.” (II Timóteo 1:7-8.) Sei que esta é a obra do Senhor, que sua Igreja
Gostaria de recomendar-vos estas pala­ está estabelecida sobre o alicerce de apóstolos
vras extraordinárias: “ Deus não nos deu o es­ e profetas, tendo Jesus Cristo por pedra an­
pírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e gular (ver Efésios 2:20). Eu sei estas coisas, e
de moderação. Portanto, não te envergonhes sei que vós também sabeis e, munidos desse
do testemunho de nosso Senhor.” Gostaria conhecimento, sigamos avante com nossa vi­
de ler, ao concluir esta grandiosa conferência, da, andando íntegros, alegres e com fé, eu oro
este desafio de Morôni, a nós. Encontra-se humildemente em nome de Jesus Cristo.
entre as últimas palavras que escreveu depois Amém.

128 A LIAHONA
REUNIÃO GERAL DAS MULHERES

Vivei à Altura
de Vossa Herança

Presidente Gordon B. Hinckley


Segundo Conselheiro na Prim eira Presidência

“Deus confiou às mulheres desta Igreja


uma responsabilidade na edificação do seu reino. ”

inhas queridas irmãs, é um privilé­ certeza de que não estais sós. Sois parte da
gio e honra estar convosco. maior agremiação ou irmandade que existe
Suponho que esta seja a maior reu­ na terra. Ela provavelmente inclui dois mi­
nião de mulheres que já houve na história da lhões de mulheres.
Igreja. Além de o Tabernáculo estar superlo­ Esta imensa congregação abrange meni­
tado, temos irmãs reunidas em mais de seis- nas e mulheres a partir dos dez anos. Estou
centas sedes de estaca, e muitas outras nos contente que as garotas de dez anos tenham
acompanham de casa pela televisão. Con­ sido incluídas. Dez anos é uma idade impor­
templando esta enorme congregação, pensei tante, uma idade muito bonita em que a me­
de mim para mim: “ Que dia proveitoso para nina que antes parecia ter apenas braços, per­
os cabeleireiros!” nas e um enorme apetite, passa a participar de
Sei que muitas de vós, ai fora, ficais soli­ uma influência refinadora que traz consigo
tárias de vez em quando. Algumas moças beleza e graça. É como a flor que desabrocha
descobrem que há apenas duas ou três garo­ com o calor do sol; uma época em que desper­
tas SUD nas grandes escolas que freqüentam. tam os poderes físicos e mentais; a ponte en­
Quem trabalha, possivelmente seja o único tre a infância e juventude.
membro da Igreja em sua empresa. E vós, Vocês sabiam que o grande historiador -
viúvas e algumas irmãs divorciadas, podeis -profeta Mórmon foi encarregado dos regis­
pensar que estais sozinhas. O número de par­ tros sagrados quando tinha apenas dez anos
ticipantes nesta reunião por certo dar-vos-á a de idade? O livro que temos hoje, esse sagra-

JANEIRO DE 1984 129


cia e adolescência para a maturidade dos vin­
te anos. Para vós, esta deve ser uma época de
fortaleza; é um tempo que exige disciplina da
mente e do corpo; é o tempo de preparação e
o Senhor disse: “ Se estiverdes preparados,
não temereis.” (D&C 38:30.)
É o tempo certo para estudar e educar-
-se. O mundo que vos espera será impiedosa­
mente competitivo. Agora é o tempo de vos
preparardes para possíveis futuras responsa­
bilidades.
A educação, entre nós, é uma tradição
que se vem transmitindo desde os primórdios
de nossa história. Acreditamos que nossa ju ­
ventude deve instruir-se, tanto as moças
quanto os rapazes. Brigham Young disse cer­
ta vez: “ Temos irmãs aqui que, tivessem elas
o privilégio de estudar, dariam tão boas mate­
máticas ou contadoras como qualquer ho­
mem.” (Journal o f Discourses, 13:61.)
Vós dispondes de enormes oportunida­
des de treinar vosso intelecto bem como vos­
do e maravilhoso testamento de Cristo, é um sas mãos. Certamente almejais casar-vos e ter
resultado da fidelidade com que Mórmon se a companhia de um bom marido. Mas nin­
desincumbiu de seu encargo. Jamais menos­ guém pode prever o futuro. Preparai-vos pa­
prezem a importância de alguém de dez anos. ra qualquer eventualidade. Não será preciso
Diz uma velha quadrinha popular que freqüentar uma universidade, se não for do
meninas são feitas de doçura, aromas e coisas vosso gosto. Existem maravilhosas escolas
bonitas. Muito mais importante, porém, é técnicas por este país afora capazes de apri­
que são a promessa do futuro. Através delas, morar vossos dotes e preparar-vos para futu­
acabam-se filtrando as qualidade de todas as ras responsabilidades.
gerações anteriores que devem tornar-se os É provável que a maioria de vós se case.
ossos e tecidos, o intelecto e espírito das gera­ Mas a instrução que tiverdes adquirido não
ções vindouras. será em vão, mas uma bênção para vós, não
importa se casadas ou solteiras.
A vocês, garotas, digo com toda força e Conservai-vos dignas para o casamento.
convicção: Sejam gentis, sejam fortes, sejam Estais numa idade que exige força para con­
bondosas, virtuosas e maravilhosas. Sinto servar essa dignidade. Nunca na história do
que de alguma forma o Senhor se referia tam­ mundo estivemos tão expostos às influências
bém a vocês, quando disse: “ Se... não vos fi- sedutoras que conduzem à degradação, peca­
zerdes como meninos, de modo algum entra- do e remorso. Os mercadores de pornografia
reis no reino dos céus.” (Mateus 18:3.) Chan- e certos produtores de entretenimentos são
ning Pollock, o talentoso escritor e teatrólo- tão astuciosos quanto o próprio inferno com
go, desejou certa vez, através de um seu per­ suas mercadorias enganadoras. Sua intenção
sonagem, que todos pudéssemos nascer ve­ é levar-vos a cair numa armadilha que só vos
lhos para depois irmos ficando mais moços e trará tristeza, remorso e sofrimento.
cada vez mais inocentes até que, ao morrer, Diz o Senhor: “ Que a virtude adorne os
fôssemos como criancinhas. teus pensamentos incessantemente, ’’ e depois
Gostaria, agora, de dizer algumas pala­ promete: “ Então tua confiança se tornará
vras a vós, moças, que já passastes da infân­ forte na presença de Deus...

130 A LIAHONA
“ O Espírito Santo será teu companhei­ Se, porém, houver aqui alguém que tro­
r o e o teu domínio um domínio eterno sem peçou, asseguro-vos que há perdão para a
medidas compulsórias que fluirá a ti para to­ pessoa sinceramente arrependida. Deus per­
do o sempre.” (D&C 121:45-46.) doará aquelas que reconhecem seus erros e
Gostaria de parafrasear um pronuncia­ demonstram pela retidão de sua vida a since­
mento da Primeira Presidência mais de qua­ ridade de seu arrependimento.
renta anos atrás: Gostaria de dirigir algumas palavras a
“ Quão gloriosa é aquela que leva uma vós, casadas. Gostaria que todas vós vos ti-
vida casta. Ela caminha sem medo em plena vesseis casado na casa do Senhor. Nosso Pai
luz do meio-dia, pois está isenta de enfermi­ nos céus, que ama seus filhos, concedeu-lhes
dade moral. Nenhum dardo de torpe calúnia um privilégio inestimável, isto é, o selamento
consegue feri-la, pois sua couraça não tem fa­ eterno do mais precioso de todos os relacio­
lha. Sua virtude não pode ser contestada por namentos.
nenhum justo acusador, pois leva uma vida Vós que contais com essa bênção inesti­
irrepreensível. Suas faces nunca coram de mável, vivei à altura dela. Lealdade é a própria
vergonha, pois não oculta nenhum pecado. É essência de vossos votos e convênios feitos no
honrada e respeitada por todos, pois está aci­ templo — lealdade ao companheiro, lealdade
ma de qualquer censura. É amada pelo Se­ para com os filhos, lealdade a Deus com quem
nhor, pois não tem mancha. As exaltações da fizestes solene convênio. Gloriosas e maravi­
eternidade aguardam sua chegada.” (Ver lhosas são as promessas àquelas que guarda­
Message o f the First Presidency, 3 de outubro rem seus convênios e andarem em obediência
de 1942.) aos mandamentos divinos. O senso de respon -

Irmã Camilla Kimball, à esquerda, esposa d o Presidente Spencer W. Kimball, com o Presidente Gordon B.
Hinckley e sua esposa.

JANEIRO DE 1984 131


sabilidade que os acompanha ameniza o casa­ ção dele começou a abrandar-se. Viu o que a
mento, proporciona uma influência santifi- Igreja fazia por ela e pelos filhos. Mudou de
cante ao lar, tornam mais preciosos os filhos vida. Humilhou-se. Foi batizado. Desde en­
que nascem dessa união e dão paz durante a vi­ tão já serviu como presidente de quorum, bis­
da e conforto na hora da morte. po, missionário e oficiante no templo.
Reconheço que muitas irmãs nesta imen­ Ninguém falhou até parar de tentar. E
sa congregação não tiveram possibilidade de não vos esqueçais de que o vosso exemplo no
casar-se no templo, ou porque o marido não é lar será um sermão muito mais persuasivo do
membro da Igreja ou ainda não se qualificou que qualquer outra pregação.
para entrar na casa do Senhor. A vós, gostaria Eu vos saúdo com todo calor e sincerida­
de dizer, sede pacientes, orai sempre; reprimi de, vós dedicadas e maravilhosas donas de casa.
vossa tendência a criticar; vivei de modo a que Só tenho respeito pelo título “ dona de casa” .
vosso companheiro veja em vós a bondade, a Recortei do Wall Street Journal este arti­
virtude e a força que vêm do evangelho. go intitulado “ O Mais Criativo Emprego do
Lembro-me de uma família que conheci M undo” :
há uns cinqüenta anos. A esposa era um “ Ele envolve bom gosto, moda, decora­
membro dedicado da Igreja. O marido não ção, recreação, educação, transporte, psico­
era membro, fumava e bebia. Ela esperava e logia, romantismo, arte culinária, desenho,
orava. Vivia à espera do dia em que o coração literatura, medicina, artesanato, arte, horti­
dele fosse tocado pelo Espírito do Senhor. Os cultura, economia, governo, relações comu­
anos foram-se somando, chegando a mais de nitárias, pediatria, geriatria, lazer, manuten­
uma década. Ela era um exemplo de bonda­ ção, compras, mala direta, legislação, conta­
de, alegria e fé. Passados muitos anos, o cora- bilidade, religião, energia e administração.
Qualquer pessoa capaz de manejar tudo isso
tem de ser alguém muito especial. E é. É a do­
na de casa.” (Junho de 1983.)
Agora uma palavra a vós, as não casa­
das. Seria uma maravilha se toda moça tives­
se oportunidade de casar-se com um homem
de bem para o qual pudesse olhar com orgu­
lho e prazer como seu companheiro para o
tempo e eternidade; só dela, para amar e cui­
dar, respeitar e ajudar.
Mas nem sempre é assim. Algumas m o­
ças, por razões inexplicáveis não têm oportu­
nidade de casar-se. A vós, eu gostaria de di­
zer, não desperdiceis vosso tempo e amargu­
reis vossa vida cultivando a estéril autopieda-
de. Deus vos deu talentos. Deu-vos a capaci­
dade de servir e preencher necessidades
alheias, abençoando a vida do próximo com
vossa bondade e interesse. Estendei vossa
mão a alguém em necessidade. Existem tan­
tos por aí.
Acrescentai conhecimento a conheci­
mento. Aprimorai vosso intelecto e aptidões
em algum campo de atividade. Inúmeras são
Presidente Gordon B. Hinckley, Segundo
as oportunidades à vossa espera, se estiverdes
conselheiro na Primeira Presidência, estava entre os preparadas para aproveitá-las. Praticamente
oradores na reunião geral das mulheres. todas as profissões honradas do mundo estão

132 A LIAHONA
agora abertas à mulher. Não penseis que por de de vossos filhos em termos de tempo, com­
serdes solteiras Deus vos abandonou. O mun­ panheirismo, amor e aquela orientação espe­
do necessita de vós. A Igreja precisa de vós. cial que só a mãe pode dar. Rogo também que
Tanta gente e tantas causas necessitam de vos abençoe com assistência irrestrita de vos­
vosso vigor, sabedoria e talentos. sos familiares, amigos e da Igreja, aliviando-
Orai sempre e não percais a esperança. -vos de parte do vosso fardo e ajudando-vos
Mas não vos deixeis obcecar pela ambição de nas horas extremas.
encontrar um companheiro. Essa obsessão só Sentimos, pelo menos um pouco, a soli­
servirá para tornar-vos menos cativantes ou en­ dão que ocasionalmente vos abate e as frus­
tão fará com que rebaixeis vossos padrões. Le­ trações que certamente enfrentais ao ter de li­
vai a melhor vida de que fordes capazes e o Se­ dar com problemas que às vezes ultrapassam
nhor em sua grande sabedoria e no devido tem­ vossas forças. Às vezes necessitais de manti­
po vos dará uma resposta a vossas orações. mentos para vossa mesa e confiamos em que
Dirijo-me brevemente a vós, mulheres, os bispos estejam presentes para fornecer-vos
obrigadas a trabalhar quando preferirieis fi­ essas coisas e outros serviços previstos pelo
car em casa. Sei que muitas de vós vos encon­ grandioso programa instituído pelo Senhor
trais nessa situação. Algumas foram abando­ em sua Igreja. Mas sabemos que muitas ve­
nadas e estão divorciadas, com filhos para zes, vossà maior necessidade é de compreen­
criar. Outras são viúvas com filhos ainda de­ são, apreço e companhia. Tentaremos culti­
pendentes. Eu vos honro e respeito por vossa var com mais empenho estas virtudes e exorto
integridade e espírito de independência. Oro as irmãs que estejam em posição de fazê-lo,
que Deus vos abençoe com forças e grande que cuidem com mais carinho das irmãs que
capacidade, pois necessitais de ambas. Vós se encontram nessas condições.
acumulais os encargos de provedoras da fa­ Agora, vós outras que trabalhais quan­
mília e donas de casa. Sei que é difícil e muitas do não é necessário, deixando os filhos aos
vezes desanimador. Oro que o Senhor vos cuidados de pessoas nem sempre bem qualifi­
abençoe com especial sabedoria e o notável cadas, ofereço uma palavra de advertência.
talento necessário para satisfazer a necessida­ Não acompanheis essa tendência que mais

JANEIRO DE 1984 133


e criadora dos filhos. O homem é o provedor
e protetor. Nenhuma legislação consegue al­
terar os sexos. Ela deve assegurar igualdade
de oportunidades, igualdade de remunera­
ção, igualdade de direitos políticos. Mas
qualquer legislação que procurar criar um se­
xo neutro daqueles que Deus fez homem e
mulher, trará mais problemas que benefícios.
Disto estou convencido.
Desejaria de todo coração que gastásse­
mos menos tempo falando de direitos e mais
sobre responsabilidades. Deus confiou às
mulheres desta Igreja uma responsabilidade
na edificação do seu reino. E isto concernente
a todos os aspectos de nossa grande e tripla
responsabilidade, que é: ensinar o evangelho
ao mundo; fortalecer a fé e promover a felici­
dade dos membros da Igreja; e, levar avante a
grande obra de salvação para os mortos.
Este é um tempo que requer vigor. Con­
cluo com estas palavras estimulantes de Mo­
rôni, escritas ao selar seu registro para ressur­
tarde vos trará remorsos. Se o objetivo de gir na dispensação da plenitude dos tempos:
vosso emprego é simplesmente conseguir di­ “ Desperta e levanta-te do pó, ó Jerusa­
nheiro para comprar um barco ou um carro lém; sim, e veste-te com tuas belas roupagens,
de luxo ou alguma outra coisa desejável po­ ó filha de Sião; fortalece tuas estacas, alarga
rém desnecessária, e com isto estais perdendo tuas fronteiras para sempre, para que não
a convivência com vossos filhos e perdendo a mais sejas confundida e sejam cumpridos os
oportunidade de criá-los, podereis acabar convênios que o Pai Eterno fez contigo, ó ca­
descobrindo que perdestes algo substancial sa de Israel!
em troca de uma sombra. “ Sim, vinde a Cristo, sede perfeitos nele
Concluindo, gostaria de dizer uma pala­ e negai-vos a todas as impurezas.” (Morôni
vra a todas as mulheres da Igreja. Não sei de 10:31-32.)
nenhuma doutrina que diga que nós escolhe­ Vesti vossas belas roupagens, ó filhas de
mos, quando viemos para a terra, se quería­ Sião. Vivei à altura de vossa grandiosa e mag­
mos vir como homem ou mulher. Essa esco­ nífica herança que o Senhor Deus, vosso Pai
lha foi feita pelo Pai Celeste em sua infinita Celeste, vos reservou. Elevai-vos acima do pó
sabedoria. Estou convencido de que ele ama do mundo. Sabei que sois filhas de Deus, fi­
suas filhas tanto quanto seus filhos. O Presi­ lhas com direito divino inato. Andai no sol de
dente Harold B. Lee observou certa vez que o cabeça erguida, sabendo que sois amadas e
sacerdócio é o poder pelo qual Deus opera honradas, e fazeis parte do reino e que vos es­
através de nós, homens. Eu gostaria de acres­ pera um grande trabalho que não pode ser
centar que a maternidade é o meio pelo qual feito por ninguém mais.
Deus concretiza seu grandioso desígnio de Graças sejam a Deus pelas maravilhosas
perpetuar a espécie. Tanto o sacerdócio como mulheres da Igreja. Plante ele em vossos co­
a maternidade são essenciais para o plano do rações o senso de orgulho por vossas capaci­
Senhor. Cada qual complementa o outro. dades e a convicção da verdade, que será co­
Um necessita do outro. Deus nos criou ho­ mo um leme para vos dirigir seguros através
mens e mulheres, cada qual com seu potencial de qualquer tormenta, eu oro humildemente
e atributos individuais. A mulher é a geradora em nome de Jesus Cristo. Amém.

134 A LIAHONA
Uma Epoca de Poder

Barbara B. Smith
Presidente Geral da Sociedade de Socorro

“Os princípios do evangelho são eternos e


apropriados, fornecendo respostas precisas às
nossas necessidades atuais. ”

residente Hinckley, Élder Maxwell, des são notáveis em sua diversidade e exigen­

P Élder Larsen, Presidente Young, Pre­


sidente Cannon, lindas garotas da Pri­
mária e Moças, e minhas queridas irmãs da
Sociedade de Socorro: Estamos reunidas para
tes em sua premência; todavia, ao procurar­
mos as respostas de modo inseguro, às vezes
omitimos o que está evidente. Porque, fre­
qüentemente, as boas soluções não se encon­
falar de coisas que possuímos em comum. tram tanto no desconhecido como naquilo
Ainda que nossas idades, etapas da vida e cir­ que conhecemos, mas não praticamos.
cunstâncias possam criar desafios diferentes, Quando o Senhor restaurou o evangelho
as palavras bíblicas do belo hino que o coro à terra em sua plenitude e pureza, organizou
acabou de cantar devem ser uma afirmação também a Igreja como uma forma de trans­
para todos nós, jovens ou mais idosos: “ O Se­ formar os preceitos em princípios vivos, a fim
nhor é a força da minha vida. ’’ (Salmos 27:1.) de ajudar os que crêem a se tomarem santos.
Espero que, através desta mensagem, te­ E isso aconteceu quando, como conversos,
nhamos manifestado e afirmado em nossos foram levados pela fé a pôr o preceito à pro­
corações a realidade de que os princípios do va; e no poder do Senhor viram metas serem
evangelho são eternos e adequados e que as atingidas, esperanças tomarem-se realidade,
verdades eternas fornecem respostas precisas e seu próprio poder se desenvolver.
às nossas necessidades atuais. Tais necessida­ Num relato pungente da Companhia de

JANEIRO DE 1984 135


Carrinhos de Mão Martin, surpreendida pe­ Vivemos numa época em que as rápidas
las neves de um inverno antecipado, no cami­ modificações de nossa estrutura social estão
nho da cidade de lowa para o Vale do Lago impelindo sobre nós enormes desafios. Deve­
Salgado, lemos o seguinte, escrito por Marga- mos lembrar que o trabalho das mulheres é im­
ret Dalglish: “ uma robusta garota escocesa portante e ainda deve ser feito. Os filhos espiri­
ficou pele e osso, mas ainda assim não desani- tuais de Deus devem provar a experiência da
nou.” Após passar, com dificuldade, por rios mortalidade, e isto quer dizer que os bebês de­
de lama e neve, sofrendo nevascas, fome, e vem ser desejados, nutridos, amados e cuida­
perda de entes queridos, ela estava entre dos. O Senhor deu às mulheres a principal res­
aqueles que ainda “ puxavam seus carros da­ ponsabilidade de estabelecer bons lares e famí­
nificados, andando desafiadoramente com lias bem cuidadas. Não importa quais sejam os
suas próprias pernas” quando finalmente en­ desafios, devemos encontrar os meios de reali­
traram no vale. zar esta obra inspiradora e eterna. ‘‘A boa vida
Embora as exigências feitas às mulheres familiar nunca é um acaso; é sempre uma reali­
pioneiras possam ter proporções mais herói­ zação” . Foi assim para as mulheres do passa­
cas do que as comumente enfrentadas pelas do, e é assim para nós hoje em dia. Nossa vida
mulheres de hoje, de certo modo comparti­ requer disciplina, lutar sem concessões e con­
lhamos todas as mesmas variações de proble­ versão dos preceitos em princípios vivos que
mas: doença, divórcio, drogas, morte, imo­ nos tomarão puros. Podemos verificar exem­
ralidade, insegurança econômica, corrupção, plos ao nosso redor nos dias de hoje.
solidão, depressão, o problema da mãe soltei­ Considere a irmã, recém-batizada, que
ra e assim por diante. Obstáculos com os aceitou o chamado de dar aula na Sociedade de
quais as mulheres sempre batalharam contra Socorro. Certo domingo de manhã, quando
o que agora precisam contender. ela não conseguiu condução, andou mais de de­
zessete quilômetros até a capela e deu a lição,
honrando dessa forma seu compromisso.
Uma presidente da Sociedade de Socor­
ro visitou uma irmã surda que era inativa e
descobriu que tal irmã ficava muito magoada
de ir às reuniões, mas nunca poder participar
dos debates. Quando a presidente saiu da­
quele lar, prometeu à irmã que, se ela fre­
qüentasse as reuniões da Sociedade de Socor­
ro, seria incluída nos debates. A presidente e
toda a junta aprenderam a fazer os sinais pe­
los quais os surdos se comunicam. Gratidão,
satisfação e aperfeiçoamento pessoal foi o
que resultou, quando as irmãs empregaram
esta nova habilitação para suprir a necessida­
de daquela irmã em especial.
O marido de uma irmã da Sociedade de
Socorro morreu num terrível acidente auto­
mobilístico, deixando a esposa e três crianças
pequenas sem meios de subsistência ou muita
segurança econômica. Avaliando as circuns­
tâncias, recursos pessoais e talentos, a corajo­
sa esposa elaborou um plano pelo qual pudes­
se completar os estudos e prover amparo fi­
nanceiro para a família nas horas em que as

í 36 A LIAHONA
crianças estivessem na escola. Através de eco­
nomia, disciplina e confiança no Senhor, as
necessidades da família foram satisfeitas.
Também se deu gentil atenção aos pais idosos
desta irmã.
Exatamente como o Senhor organizou a
Igreja, nós, que possuímos o evangelho, pre­
cisamos organizar nossa vida de modo que
possamos fazer o que deve ser feito, para nos
tomarmos “ cumpridores da palavra” (Tiago
1:22) e, conhecermos o poder do Senhor. Es­
te poder surge quando nos preparamos para
suas bênçãos, reconhecemo-las e utilizamos
seus dons para fazer de seus caminhos os nos­
sos caminhos.
No querido hino “ Ó Meu Pai” , Eliza R.
Snow celebra em palavras a continuidade das
relações familiares além-morte e relembra-
-nos de uma gloriosa reunião com nosso Pai e
mãe celestiais. Escritas para consolar uma
querida amiga, Zina Huntington, que perdeu
o pai e a mãe de maneira trágica, as conheci­
das linhas deste hino dão uma afirmação poé­
tica a uma grande verdade revelada pelo Pro­
feta Joseph Smith.
Presidente Geral da Sociedade de Socorro, Barbara
Considerando minuciosamente, pode­
B. Smith.
mos encontrar naquele simples incidente da
história da Igreja, alguns dos dons que Deus
tem dado para fortalecer as mulheres SUD: der e relacionar o infinito às nossas preocupa­
revelação da verdade, liderança do sacerdó­ ções imediatas.
cio, talentos individuais e oportunidades de Quaisquer que forem suas circunstân­
servir. Estes dons se encontram disponíveis a cias, esta pode ser sua época de poder, pois
todas as mulheres e podem dar-nos a força de um dos conceitos mais propulsores do evan­
triunfar sobre as mais difíceis circunstâncias e gelho é o de que o Salvador voltará novamen­
seguir avante em poder. te. E ele adverte: “ Eis que venho sem demo­
Ao prestar serviço de solidariedade a ra .” (Apocalipse 3:11.) Devemos viver com a
uma amiga, Eliza R. Snow usou seus talen­ constante expectativa de sua vinda. Estar pre­
tos, correspondeu à liderança do sacerdócio, paradas para recebê-lo é a atitude de nosso
e deu expressão memorável a uma verdade maior poder. Permitamos que este seja nosso
revelada. baluarte contra a tentação e a indolência. Que
Num sentido bastante real, quando Jo­ seja a causa de lermos as palavras do Salva­
seph Smith se ajoelhou no Bosque Sagrado e dor, de buscarmos nossos corações, e de ten­
formulou a pergunta ao Pai, o fez para cada tarmos viver cada princípio de retidão ensina­
um de nós. A resposta recebida por ele pro­ do por ele. Isto exigirá que amemos como ele
porciona um alicerce seguro das verdades ama. Então, é-nos dito que, quando ele che­
fundamentais sobre as quais devemos estru­ gar, nós o reconheceremos, pois seremos se­
turar nossa vida. Ele demonstrou também melhantes a ele. (Ver 1 João 3:2.)
que, através da oração pessoal, as verdades Que o Senhor seja nossa luz e nossa sal­
eternas atendem às necessidades individuais. vação, eu oro em nome de Jesus Cristo.
O poder eterno pode ajudar-nos a compreen- Amém.

JANEIRO DE 1984 137


Preparar-se para Ensinar
os Filhos do Senhor

D w an J . Y oung
Presidente Geral da Pritnária

“É somente através de ouvir a palavra e observá-la


manifestar-se em nossa vida que os filhos se familiarizam
com a voz do Bom Pastor. ”

;ro contar-lhes sobre uma menina e apta, pois sua preparação fora perfeita. O
íe era uma pianista bastante pro- maestro ergeu a batuta, e ela levantou os
issora. Quando ela ainda era muito olhos para prestar atenção ao seu sinal.
sua mãe sentava-se em sua compa­ Subitamente, deparou com o rosto de al­
nhia no banco do piano todos os dias, ensina- guém que conhecia. Desviou sua atenção de
vã-lhe as notas e encorajava-a a estudar, en­ modo que, quando o maestro lhe deu o sinal
quanto a menina aprendia aquelas primeiras para começar, ela não correspondeu. Sua men­
composições musicais. te ficou vazia; a memória desvaneceu-se; os de­
Logo esta sábia mãe decidiu que já havia dos gelaram; não era capaz de pensar nas notas
ensinado tudo o que sabia, e que sua filha de­ iniciais. O maestro deu-lhe o sinal mais uma
veria começar a receber instruções de um pro­ vez; nenhuma resposta. Finalmente depois de
fessor habilitado. A jovem foi constantemen­ uma pausa angustiante, alguém lhe passou a
te encorajada, e quando estava no ginásio, te­ música para que ela pudesse começar.
ve a oportunidade de tocar parte de um con­ Quando terminou a apresentação cor­
certo para piano, juntamente com uma or­ reu para fora do palco, completamente arra­
questra sinfônica. sada pelo que havia acontecido. Ela gostaria
Ao entrar na sala de espetáculos, na noi­ de que a terra se abrisse e a engolisse. Faria
te do concerto, estava emocionada, confiante qualquer coisa para não ter que encarar seus

138 A LIAHONA
pais, amigos, membros da orquestra, ou época de ganhar conhecimento e obter algu­
qualquer pessoa da audiência. De repente, ma sabedoria. É a época de compreendermos
num breve momento, toda sua vida parou, que não é suficiente apenas conhecer; deve­
pensou ela. Mas, obviamente, não foi assim. mos também influenciar o conhecimento
Ela teve que levantar-se e sair daquela sala de com sabedoria. E, finalmente, de acordo com
espetáculos. a definição do Senhor, é a época de aprender
Não havia morrido; o mundo não havia como amar-nos mutuamente.
parado. Na verdade, não há registro de que O Presidente Kimball diz que o Senhor
nem mesmo um compasso tenha sido omiti­ nos envia para realizarmos suas tarefas, pois é
do naquele dia tão significativo. Sei porque a melhor maneira de aprendermos sobre cari­
estava lá; eu era aquela garota. Toquei outras dade, ou seja, o perfeito amor de Cristo, o
composições e apresentei-me ante outras au­ amor que estimula e renova. A caridade é o
diências, porque minha professora me disse poder que transforma a vida humana. É o po­
que eu conseguiria. E meus pais lembraram- der que alivia o coração dolorido e renova a
-me de que eu deveria irem frente. A humilha­ alma. A caridade chega até nós através do Se­
ção ainda percorre meu ser, quando penso nhor e daqueles que percebem nossas necessi­
naquele dia. Todavia, vim a compreender dades. Entra em nossa vida, quando presta
que minha vida não terminou naquela noite, mos serviço afetuoso a alguém necessitado.
porque, embora tivesse sido preparada para Ter fé e compreender que cada um de
uma apresentação de piano, tinha sido tam­ nós é verdadeiramente um filho de Deus, dá
bém preparada de outras maneiras. Talvez certeza de nosso senso de valor. Estas são as
mais significativamente, os outros tenham- coisas importantes que ele nos pediu que ensi­
-me ensinado e preparado para reerguer-me e nássemos a nossos filhos.
tentar de novo.
Minha época de preparação foi cuida­
dosamente guiada por pessoas que me ama­
vam o bastante para incluir experiências com
princípios do evangelho. Estes ensinamentos
foram bem cultivados dentro de mim, de mo­
do que, quando chegou a época de sofrimen­
to e dificuldades, eu sabia que não estava so­
zinha. Sabia que valia mais a experiência da
vida do que o fato de tocar piano.
As escrituras nos dizem: “ Instrui ao me­
nino no caminho em que deve andar, e ... não
se desviará dele. ’’ (Provérbios 22:6.) Uma das
maiores designações dadas aos pais é ensinar
o evangelho aos filhos. Isto provê o que tem
sido chamado de “ um plano valioso” .
Este plano delineado pelo Senhor destina-
-se a impressionar-nos com o valor da vida hu­
mana e a profunda importância do indivíduo.
Revelou que existe um propósito na vida. Tal
propósito é que cada um de nós aprenda aque­
les atributos semelhantes aos de Cristo, os quais
nos tomarão dignos da vida eterna.
A mortalidade é a época de aprender a
andar pela fé. (Ver II Cor. 5:7.) É a época de
aprendermos a ser cumpridores da palavra e
não somente ouvintes. (Ver Tiago 1:22.) É a Dwan J. Young, Presidente Geral da Primária.

JANEIRO DE 1984 139


meus cordeiros’’, ‘‘Apascenta as minhas ove­
lhas” . (João 21:15-17.)
Nossa responsabilidade excede a nós mes­
mos e a nossos círculos familiares. Devemo-nos
esforçar para dar aos outros o mesmo testemu­
nho que temos cultivado em nossa própria al­
ma e oferecido a nossos filhos. Aonde quer que
sejamos chamados para servir, devemos lem-
brar-nos da responsabilidade de apascentar
suas ovelhas e dar-lhes um entendimento de seu
real valor e potencial eterno.
Em nossa vida diária, travaremos co­
nhecimento com vizinhos, lojistas, encana­
dores e construtores. Nossa vida cruza-se
com um número quase interminável de tipos
de pessoas. Como nosso comportamento
afetará estas pessoas na busca do propósito e
da fé? Espero que nosso exemplo seja parte
do que o Senhor chamou nossa atenção, ou
seja, apascentar suas ovelhas.
A época de preparar-se é agora. Na pa­
rábola das virgens sábias e néscias,o Senhor
nos lembra de que precisamos estar prepara­
dos para quando o Noivo chegar. (Ver M a­
Antes, porém, de podermos ensinar teus 25:1-13.) Precisamos renovar-nos para
nossos filhos, nós mesmos devemos com­ as tarefas diárias de viver o evangelho. Preci­
preender e viver os princípios. É vital que a samos aprender a orar, orando todos os dias.
criança aprenda através de nosso exemplo Precisamos aprender a ouvir a palavra do Se­
que o que dizemos é o mesmo que vivemos. nhor, estudando diariamente as escrituras.
As mães e os pais devem ler as palavras Afinal de contas, preparar-se para viver
do Senhor com seus filhos e debater as escri­ realmente o evangelho é muito semelhante a
turas constantemente. É apenas através de aprender piano. Não podemos aprender as
ouvir a palavra e observá-la manifestar-se em notas de longe. Nossas dedos devem tocar as
nossa vida que os filhos se familiarizam com a teclas repetidas vezes. Nossos professores de­
voz do Bom Pastor. Ao acariciarmos estas vem dirigir nossa experiência de aprendizado.
criancinhas, cantamos canções de ninar e Devemos dar às crianças as oportunidades de
conversamos sobre coisas importantes. Nos tomarem decisões, de dar amor e prestar ser­
braços gentis e macios do amor de uma mãe, viço, até que elas saibam como fazê-lo por si
os filhos podem vir a conhecer a voz do Se­ mesmas. Devemos mostrar-lhes como buscar
nhor. Então, anos mais tarde, quando sur­ a ajuda do Senhor para suportar a tristeza e a
gem as pressões da vida, a alma tem ao seu dor, buscando sua orientação e força confor-
dispor os ensinamentos e meios para sobre­ tadora.
pujar tudo. Agora é o tempo de cada um de nós pre­
Nós aprendemos e nos desenvolvemos; parar-se, a fim de ganhar a força necessária
ensinamos e preparamos nossos filhos; mas para cumprir nossos desafios individuais. Eu
uma responsabilidade extra dada a todos nós sei que o Senhor está ansioso de nos auxiliar,
é a de apascentar as ovelhas. Vocês lembrar - basta apenas nos voltarmos para ele. Oro pa­
-se-ão de que, quando Pedro recorreu ao Se­ ra que todos nós tenhamos a fé necessária pa­
nhor com suas declarações de fé e lealdade, ra sermos receptivos às suas inspirações, em
Jesus virou-se para ele e disse: ‘‘Apascenta os nome de Jesus Cristo. Amém.

140 A LIAHONA
Arbítrio e
Responsabilidade

Elaine Cannon
Presidente Geral das Moças

“Maturidade espiritual é o entendimento de que


não podemos culpar nenhuma outra pessoa pelas
nossas ações. ”

m bom homem recebeu uma designa­ Eis o que se pode chamar de liberdade de

U ção de sua ala para preparar o ban­


quete escoteiro. Trabalhou bastante,
fez suas escolhas e levou-as a cabo. As mesas
foram arrumadas, a comida estava prepara­
escolha: livre arbítrio. E é sobre isso que va­
mos falar por alguns minutos, arbítrio e res­
ponsabilidade. Devo acrescentar que, se che­
garmos a escolher manteiga para arranjos de
da e aproximava-se a hora do evento. mesa, não podemos esperar elogios pela de­
Sua esposa chegou mais cedo para veri­ coração. Possuímos o livre arbítrio, porém,
ficar todas as coisas. Tudo parecia em ordem, também temos que aceitar as conseqüências
mas, com sua experiência, achou que o am­ de nossas escolhas. Não é um assunto tão sé­
biente estava muito sem vida. Virou-se para o rio no caso de arranjos de mesa, mas tratan­
marido e disse: “ Tudo bem, querido, mas o do-se de vida, e vida após a morte, toma-se
que você vai usar como arranjos de mesa?” crítico.
Surpreso, ele olhou para todo o ambiente O arbítrio é um princípio eterno e está
e considerou gravemente o assunto por um mo­ implícito no processo da vida. Constante­
mento. Depois, então, com ânimo total, repli­ mente precisamos escolher entre os opostos:
cou: “ Manteiga, quadradinhos de manteiga!” bem ou mal. Satanás procurou destruir o livre

JANEIRO DE 1984 141


do arbítrio e o alicerce do plano de vida. So­
mos responsáveis por nossas próprias ações e
devemos explicações a Deus pelo que escolhe­
mos fazer com nossa vida. A vida é um dom
de Deus para nós, e o que fazemos com ela é o
nosso dom para ele.
Em Gálatas, lemos: “ Não erreis: Deus
não se deixa escarnecer; porque tudo o que o
homem semear, isso também ceifará.” (Gá­
latas 6:7.) Irmãs, traduzido em simples pala­
vras, isto significa que, se você pegar a extre­
midade de uma vara, automaticamente pega
a outra também. Quando você escolhe um
caminho, escolhe o lugar ao qual esse cami­
nho conduz.
Recordo-me muito bem de uma cena
impressionante que me proporcionou uma
perspectiva comovente de livre arbítrio e res­
ponsabilidade. Encontrava-me num dos an­
dares mais elevados de um hotel num vilarejo
Irmã Camilla Kimball, esposa do Presidente Spencer da Tailândia, olhando pela janela um grande
W. Kimball. número de belas crianças dirigirem-se para a
escola. Do meu privilegiado lugar, podia ver a
arbítrio do homem, e continua trabalhando escola a uma certa distância. As crianças sa­
aqui na terra para envolver o homem no peca­ biam que a escola estava lá, ainda que não pu­
do. (Ver Moisés 4:3-4.) dessem vê-la e, obviamente, não estavam cien­
A fim de usarmos sabiamente nosso ar­ tes de minha presença. Elas estavam graciosas
bítrio, precisamos de informações para po­ em seus uniformes escolares: saia ou calça curta
dermos agir de acordo com elas. Necessita­ marinho; camisa branca limpa e engomada; e,
mos de conhecer as leis da vida, com as bên­ naquele dia chuvoso, uma capa impermeável
çãos que as acompanham e as punições que as amarelo-canário. Assim sendo, algumas crian­
protegem. Quando conhecemos o evangelho, ças arrastavam negligentemente as capas atrás
os elementos do que podemos e não podemos de si; algumas poucas deixavam-nas abertas; e
fazer, efetuaremos melhores escolhas. outras vestiam-nas totalmente abotoadas, co­
As escrituras nos relembram: “ E conhe- mo uma armadura de Deus.
cereis a verdade, e a verdade vos libertará.” O caminho que elas seguiam por entre os
(João 8:32.) Nosso dever é buscar a verdade campos de arroz era bem calcado, mas exis­
plena e aplicá-la em nossa vida. Embora seja­ tiam grandes poças de lama, excelentes locais
mos livres para agir, não somos livres para de­ para se esconder entre os altos juncos, além
cidir o que é certo ou errado. Isto foi determi­ das tentações atrás de uma pequena loja ao
nado há várias eras. Podemos ridicularizar as lado do caminho.
coisas sagradas, desculpar nosso comporta­ As crianças viravam a esquina do hotel,
mento, expor nossas próprias idéias, concor­ grupo após grupo destes pequeninos da famí­
dar ou discordar, porém isto não muda nada. lia do Pai Celestial e, de acordo com seu arbí­
Não podemos alterar as leis de Deus, a sua trio, elas vadiavam, eram desviadas pela me­
verdade. Podemos escolher usar sabiamente nor distração, ou então empurradas em dire­
a verdade e atingir nossa meta, ou podemos ção à escola mais adiante. Agora o problema
recusar a aprender a verdade, rejeitar vivê-la, era exclusivamente delas; os pais não estavam
e então pagar a penalidade inevitável. por perto.
Responsabilidade é o produto natural Estava fascinada, observando as crian-

142 A LIAHONA
ças lidarem com seu ambiente. Alguns delibe­ pessoa por nossas ações. Alguns fatores po­
radamente pisoteavam as profundas poças de dem tornar mais difícil o nosso desempenho,
lama repetidas vezes e surgiam imundos. Ou­ de acordo com o plano de Deus para nós, mas
tros desviavam-se automaticamente da poça, ser responsáveis pela maneira como usamos
como se nem reparassem nela. Muitos não po­ nosso arbítrio significa ser responsáveis por
diam absolutamente resistir à tentação de, de­ nosso próprio comportamento.
vagarinho, tocar a lama com o dedão do pé. Uma das coisas que mais admiro em
Mais tarde, uma garotinha abaixou-se e nossa mãe Eva é seu poder absoluto de res­
tentou tirar a lama do sapato, depois tentou ponsabilidade pessoal. Quando foi chamada
limpar a mão, e então esfregou a mancha de por Deus no florido jardim, ela explicou que
suas roupas onde havia limpado a mão. É di­ Lúcifer a havia tentado com o fruto. Mas, en­
fícil limpar a lama. tão, admitiu: “ E eu comi.” (Moisés 4:19.)
Não é interessante? A vida vista de uma Jesus venceu graças à estrita obediência.
janela. Arbítrio e responsabilidade. As crianças Ele não cedeu às tentações de Satanás. E se fi­
fizeram suas escolhas, e assim fazemos nós. zermos o que o Senhor diz, não precisaremos
Somos semelhantes às crianças andando temer as conseqüências. “ Faça-se a tua von­
por um caminho num dia de chuva. Podemos tade e não a minha, ó Senhor” pode ser con­
pisar ou desviar-nos da lama da vida confor­ fortante em horas de provas ou decisões. Ir­
me desejarmos; todavia, com nossas escolhas mãs, Deus vive e nos ama. Ele vos ama! Sua
vêm as conseqüências. E rapidamente nos vontade, quando obedecida, significa sua
tornamos naquilo que estamos escolhendo máxima alegria para vocês.
ser para toda a eternidade. Todavia eu me preocupo, Irmãs. Algu­
Maturidade espiritual é o entendimento mas vezes imagino se conhecemos a vontade
de que não podemos culpar nenhuma outra de Deus, se sabemos o que é pernicioso e pe-

Elaine Cannon, Presidente Geral das Moças.

JANEIRO DE 1984 143


A Presidência Geral da Sociedade de Socorro, a partir da esquerda: Marian R. Boyer, primeira conselheira;
Presidente Barbara B. Smith; e A nn Stoddard Reese, segunda conselheira. A Irmã Reese substitui a Irmã
Shirley W. Thomas, desobrigada para acompanhar seu marido, R obert K. Thomas, recém-chamado como
presidente da missão da Austrália.

caminoso e por quê. Por outro lado, imagino Assim sendo, Irmãs, vamos amá-lo o su­
se temos a mais pálida noção das glórias que ficiente para sermos obedientes. Esta é a épo­
ele tem armazenadas para nos recompensar, ca de fortalecimento. Esta é a época de colo-
tanto aqui, como na vida futura, se formos carmo-nos como pessoas que fizeram convê­
obedientes. Pergunto-me se as mães têm real­ nios através do batismo e também no templo,
mente ensinado suas filhas a respeito da ver­ de sermos valentes e de sermos o esteio daque­
dade, arbítrio e responsabilidade. As filhas les que não são tão abençoados quanto nós.
estão compartilhando com as mães o seu pró­ Recentemente eu ponderava fervorosa­
prio saber? Os indivíduos e as famílias forta- mente esta grande responsabilidade que te­
lecem-se, quando nos ajudamos mutuamente nho agora — as moças necessitam de tantas
a crescer no evangelho de Jesus Cristo. diretrizes, proteção e amor. Nesta ocasião,
O senti-me incapaz, e ao comparar minhas fra­
tema escriturístico de 1984, aprovado
pelas Autoridades Gerais para as moças reci­ quezas com todas as pessoas maldosamente
tarem na classe todas as semanas, é: “ Eu irei e espertas existentes no mundo, confesso que
cumprirei as ordens do Senhor, pois sei que o me abati por um tempo. Porém, depois de
Senhor nunca dá ordens aos filhos dos ho­ orar com sinceridade, examinei profunda­
mens sem antes preparar um caminho pelo mente o âmago de meu ser, onde o Espírito
qual suas ordens poderão ser cumpridas.” (1 nos pode tocar, e eu soube, então, que não
Néfi 3:7; grifo nosso.) desistiria. Seja eu quem for, seja o que eu ti­
Podemos fazer o que se espera que fa­ ver de sobrepujar, serei alguém em quem o
çamos. Senhor possa confiar. Todos podemos usar
Nós não estamos sozinhas. Podemos sen­ nosso arbítrio desta maneira: ser alguém em
tir a força encorajadora do Salvador. Ele aju- quem o Senhor possa confiar.
dar-nos-á, à medida que nos esforçarmos em Ajamos assim! Em nome de Jesus Cris­
efetuar escolhas certas ao longo do caminho. to, amém.

144 A LIAHONA
NOTÍCIAS DA IGREJA

Nomeação de Conselheira da
Sociedade de Socorro

Ann Stoddard Reese, membro da ex-presidente geral Belle S. Spafford e


junta geral da Sociedade de Socorro há agora na da Irmã Smith. É filha de Blanche
quase trinta anos, foi apoiada segunda Stoddard, que serviu na junta geral da
conselheira na presidência geral da Sociedade de Socorro por vinte e quatro
Sociedade de Socorro, durante a sessão de anos. Ela era encarregada do comitê de
abertura da 153? Conferência Geral professoras visitantes da junta geral ao ser
Semi-anual da Igreja. chamada para um novo cargo.
Ela é sucessora da Irmã Shirley Ann Anteriormente, servira por vários anos no
Wilkes Thomas, que está servindo com seu comitê de Educação Maternal.
marido, Robert K. Thomas, designado Conta com a experiência de quinze
presidente da Missão Austrália Melboume. anos como presidente da Sociedade de
A Irmã Reese forma com Barbara B. Socorro em três diferentes alas ou distritos
Smith, presidente geral, e sua primeira de missão. Serviu ainda em diversas outras
conselheira, Marian R. Boyer, a presidência funções de ensino e liderança na Igreja,
geral da Sociedade de Socorro. enquanto sua família vivia no Texas,
A nova conselheira diz que aguarda Kansas, Colorado e Utah.
ansiosamente as ricas recompensas Nasceu em LeGrande, Oregon, onde
proporcionadas pela convivência com as seu pai, A. Lester Stoddard e sua família se
mulheres SUD em todo o mundo. “ É dedicavam aos negócios madeireiros.
muito gratifícante ver-se mulheres Quando menina, a serraria da família
dedicadas ajudando suas irmãs,” dizia. pegou fogo e seu pai transferiu-se para
“ Com as pressões e problemas de hoje, Utah, onde começou novo negócio nas
nossas mulheres precisam de Montanhas Uinta. A família vivia na Cidade
fortalecimento. Na Sociedade de Socorro do Lago Salgado e a Irmã Reese freqüentou
fortalecemo-nos mutuamente.” a Universidade de Utah antes de casar-se
A Irmã Reese serviu na junta geral da com Lester G. Reese. O casal têm três filhos
Sociedade de Socorro na gestão da sua casados e nove netos.

JANEIRO DE 1984 145


NOTÍCIAS DA IGREJA

Pronunciamento da
Primeira Presidência e do
Quorum dos Doze sobre
Ensino Familiar e Reativação
A Primeira Presidência e o Quorum havendo necessidade especial, portadores
dos Doze emitiram um comunicado inativos do Sacerdócio de Melquisedeque,
normativo com respeito ao ensino familiar élderes em perspectiva e suas famílias
do sacerdócio e esforços de reativação nas podem ser designados ao quorum ou grupo
alas e ramos da Igreja. mais capacitado a integrar e ensiná-los. Os
Alguns dos assuntos abordados no mestres familiares apresentarão relatório à
pronunciamento foram lidos pelo Élder sua própria presidência de quorum ou líder
David B. Haight, do Quorum dos Doze, de grupo.
durante a conferência geral: (1) a “ Irmãos que tenham um dom especial
designação de mestres familiares a para ensinar inativos devem ser designados
portadores do Sacerdócio de Melquisedeque pelo bispo como mestres familiares de
inativos e élderes em perspectiva e suas famílias inativas escolhidas. Quando essas
famílias; e (2) como fazer essas designações. famílias houverem voltado à atividade, os
mestres poderão ser encarregados de
Diz o comunicado: trabalhar com outras famílias inativas.
“ O Senhor deu instrução nas Quando um élder inativo ou em
revelações que os portadores do sacerdócio perspectiva ficar ao encargo de sumos
fossem organizados em quoruns. A sacerdotes e for levado à reunião do
presidência do quorum é responsável pela sacerdócio por seu mestre familiar, ele
participação ativa de cada membro do poderá ficar com o grupo de sumos
quorum. O ensino familiar, pelo qual os sacerdotes ou com o quorum de élderes,
membros do quorum devem ‘visitar a casa dependendo de suas necessidades. O bispo
de cada membro’ (D&C 20:51), é um dos toma esta decisão em consulta com os
melhores instrumentos para se cuidar dos líderes de quorum e grupo do Sacerdócio de
membros do quorum e fortalecê-los. Melquisedeque.
“ O bispo, como sumo sacerdote “ Quando for apropriado que um élder
presidente e encarregado do comitê em perspectiva receba o Sacerdócio de
executivo do sacerdócio da ala, que é o Melquisedeque, deverá ser ordenado élder e
comitê do ensino familiar, deve, em tornar-se membro do quorum dos élderes.
consulta com os presidentes de quorum e A idade não é fator determinante na
líderes de grupo do Sacerdócio de ordenação desses irmãos ao Sacerdócio de
Melquisedeque, designar aos quoruns e Melquisedeque. Os homens são ordenados
grupos famílias para fins de ensino familiar. aos ofícios do sacerdócio quando seu
Em geral, os membros recebem mestres chamado o requer e por inspiração e de
familiares de seu próprio quorum. Todavia, acordo com o seu merecimento.”

146 A LIAHONA
NOTÍCIAS DA IGREJA

Élder Richard
G. Scott -

Apoiado para a
Presidência do
Primeiro Quorum dos Setenta
O Élder Richard G. Scott, do Primeiro
presidente da Missão Argentina Norte.
Quorum dos Setenta, foi apoiado membro Quando moço, cumpriu uma missão de
da presidência desse quorum na sessão de trinta e um meses no Uruguai.
abertura da conferência geral semi-anual da Atualmente é diretor administrativo do
Igreja. Departamento Genealógico e administrador
Sua designação preenche a vaga criada executivo da Igreja para o sul do México e
pela desobrigaçâo do Élder Franklin D. América Central. Graduou-se pela
Richards como presidente do quorum. O Universidade George Washington em 1950
Élder Richards foi chamado para presidente em engenharia mecânica. Posteriormente
do Templo de Washington, D. C. completou curso de pós-graduação
O Élder Scott integra a presidência equivalente ao doutorado em engenharia
com os élderes J. Thomas Fyans, Carlos E. nuclear em Oak Ridge, Tennessee.
Asay, M. Russel Ballard, Dean L. Larsen, Tem usado seus profundos
Royden G. Derrick e G. Homer Durham. conhecimentos de engenharia mecânica e
Falando na última sessão da nuclear como consultor de empresas de
conferência, o Élder Scott disse que o novo serviços públicos e energéticos que estudam
chamado o deixara “ profundamente o possível uso de reatores nucleares.
humilde” . Durante doze anos integrou a equipe
“ Conversei com o Senhor a respeito e do Almirante Hyman G. Rickover, da
prometi-lhe que daria tudo que tenho a esse Marinha dos Estados Unidos,
serviço. Roguei-lhe que me ajudasse a assessorando-o no projeto de submarinos
qualificar-me para receber sua inspiração e nucleares. Participou da instalação da
apoio para que possa fazer sua vontade primeira usina elétrica nuclear e é co-editor
bem como a de seus servos.” de dois livros sobre a construção e uso
O Élder Scott foi apoiado membro dodessas usinas.
Primeiro Quorum dos Setenta a 2 de abril Natural de Pocatello, Idaho, nasceu a
de 1977. Antes de ser chamado a dedicar 7 de novembro de 1928, filho do casal
seus serviços integralmente à Igreja, era Kenneth Leroy e Mary Eliza Whittle Scott.
representante regional na área de É casado com Janene Watkins, com quem
Washington, D.C. e servira como tem cinco filhos.

JANEIRO DE 1984 147


Calendário de Freqüência ao Templo -1984

JANEIRO FEVEREIRO

03 — São Bernardo 01 — São Paulo / SP Taboão


04 — SP Perdizes / SP Leste I
02 — SP Ipiranga / Porto Alegre P. Alegre N/
05 — SP Ipiranga N. Hamburgo
06 — Santo Amaro / Santo André 03 — Santo Amaro / S. André / Porto Alegre /
07 — São Vicente / Santos Porto Alegre Norte / N. Hamburgo
11 — São Paulo / SP Taboão 04 — RJ Niterói / São Vicente
12 — SP Norte 07 — São Bernardo
13 — SP Oeste I
08 — SP Perdizes SP Leste
14 — RJ Andarai / Araraquara / Sorocaba 09 — SP Norte
17 — São Bernardo 10 — SP Oeste
18 — SP Perdizes / SP Leste 11 — RJ Andarai / Curitiba Bacacheri
19 — SP Ipiranga 15 — São Paulo / SP Taboão
20 — Santo Amaro / Santo André 16 — SP Ipiranga
21 — Campinas / Londrina / Madureira 17 — Santo Amaro / Santo André
25 — Feriado 18 — Campinas / Petrópolis / Vale Paraíba
26 — SP Norte 21 — São Bernardo
27 — SP Oeste 22 — SP Perdizes / SP Leste
28 — R. Janeiro / Curitiba Leste 23 — SP Norte
24 — SP Oeste
25 — Santos / Sorocaba / Marília
29 — São Paulo / SP Taboão

MARÇO ABRIL

01 — SP Ipiranga 03 — São Bernardo


02 — Santo Amaro / Santo André 04 — SP Perdizes / SP Leste
03 — São Vicente 05 — SP Ipiranga
05 — Porto Alegre / P. Alegre Norte / 06 — Santo Amaro / Santo André
N. Hamburgo 07 — Petrópolis / S. Vicente / Sorocaba
06 — I
São Bernardo / P. Alegre P. Alegre N / 11 — São Paulo / SP Taboão
N. Hamburgo 12 — SP Norte
07 — I
SP Perdizes SP Leste 13 — SP Oeste
08 — SP Norte 14 — RJ Andarai / Santos / Rio Claro
09 — SP Oeste 17 — São Bernardo
10 — Curitiba / Ponta Grossa 18 — SP Perdizes / SP Leste
14 — São Paulo / SP Taboão 19 — SP Ipiranga
15 — SP Ipiranga 20 — Santo Amaro / Santo André
16 — Santo Amaro / Santo André 21 — Feriado
17 — Campinas / RJ Andarai 25 — São Paulo / SP Taboão
20 — São Bernardo 26 — SP Norte
21 — SP Perdizes / SP Leste 27 — SP Oeste
22 — SP Norte 28 — RJ Niterói / Curitiba Leste
23 — SP Oeste
24 — R. Janeiro / RJ Madureira
28 — São Paulo / SP Taboão
31 — Santos / Sorocaba / Araraquara

148 A LIAHONA
Calendário de Freqüência ao Templo • 1984

MAIO JUNHO

01 — Feriado 01 — Santo Am aro / Santo André


02 — SP Perdizes / SP Leste 02 — Petrópolis / São Vicente / Santos
03 — SP Ipiranga 05 — São Bernardo
04 — Santo Amaro / Santo André 06 — SP Perdizes / SP Leste
05 — São Vicente / Marília 07 — SP Ipiranga
08 — São Bernardo 08 — SP Oeste
09 — São Paulo / SP Taboão 09 — Niterói / Sorocaba / Curitiba Norte
10 — SP Norte Férias do Templo
11 — SP Oeste 26 — São Bernardo
12 — RJ Madureira / Santos 27 — São Paulo / SP Taboão
16 — SP Perdizes / SP Leste 28 — SP Norte
17 — SP Ipiranga 29 — Santo Amaro / Santo André
18 — Santo Amaro / Santo André 30 — Londrina / Andarai / Curitiba Sul
19 — Campinas / Andarai / Joinville / Sorocaba
22 — São Bernardo
23 — São Paulo / SP Taboão
24 — SP Norte
25 — SP Oeste
26 — Rio de Janeiro / Araraquara

JULHO AGOSTO

04 — SP Perdizes / SP Leste 01 — SP Perdizes / SP Leste


05 — SP Ipiranga 02 — SP Ipiranga
06 — SP Oeste 03 — SP Oeste
07 — São Vicente / Santos 04 — São Vicente / Marília
10 — São Bernardo 07 — São Bernardo
11 — São Paulo / SP Taboão 08 — São Paulo / SP Taboão
12 — SP Norte 09 — SP Norte
13 — Santo Amaro / Santo André 10 — Santo Amaro / Santo André
14 — Madureira / Araraquara / Ponta Grossa 11 — Petrópolis / Rio Claro
18 — SP Perdizes / SP Leste 15 — SP Perdizes / SP Leste
19 — SP Ipiranga 16 — SP Ipiranga
20 — SP Oeste 17 — SP Oeste
21 — Campinas / Andarai / Sorocaba 18 — Campinas / Andarai
24 — São Bernardo 21 — São Bernardo
25 — São Paulo / SP Taboão 22 — São Paulo / SP Taboão
26 — SP Norte / P. Alegre / P. Alegre Norte / 23 — SP Norte
N. Hamburgo 24 — Santo Am aro / Santo André
27 — Santo Amaro / Santo André / P. Alegre / 25 — RJ Niterói / Santos / Sorocaba
P. Alegre Norte / Novo Hamburgo
28 — Rio de Janeiro / Curitiba Leste

JANEIRO DE 1984 149


Calendário de Freqüência ao Templo -1984

SETEMBRO OUTUBRO

01 — São Vicente 03 — SP Perdizes / SP Leste


04 — São Bernardo 04 — SP Ipiranga
05 — I
SP Perdizes SP Leste 05 — Santo Amaro / Santo André
06 — SP Ipiranga 06 — Niterói / São Vicente
07 — Feriado 09 — São Bernardo
08 — RJ Madureira / Curitiba 10 — São Paulo / SP Taboão
12 — São Paulo / SP Taboão 11 — SP Norte
13 — SP Norte 12 — Feriado
14 — SP Oeste 13 — Petrópolis / Santos
15 — Campinas / RJ Andarai / Araraquara 17 — SP Perdizes / SP Leste
18 — São Bernardo 18 — SP Ipiranga
19 — SP Perdizes / SP Leste 19 — SP Oeste
20 — SP Ipiranga 20 — Campinas / RJ Andarai / Sorocaba
21 — Santo Amaro / Santo André 23 — São Bernardo
22 — Sorocaba / Santos 24 — São Paulo / SP Taboão
26 — São Paulo / SP Taboão 25 — SP Norte
27 — SP Norte 26 — Santo Am aro / Santo André
28 — SP Oeste 27 — Curitiba Leste
29 — Rio de Janeiro

NOVEMBRO DEZEMBRO

01 — SP Ipiranga 01 — Petrópolis / S. Vicente / Marília


02 — SP Oeste 04 — São Bernardo
03 — Londrina / S. Vicente / Sorocaba / 05 — SP Perdizes / SP Leste
RJ Andarai 06 — SP Ipiranga
06 — São Bernardo
07 — SP Oeste
07 — SP Perdizes / SP Leste
08 — RJ Niterói / Santos / Curitiba Norte
08 — SP Norte
09 — Santo Amaro / Santo André 12 — São Paulo / SP Taboão
10 — RJ Madureira / Santos / Pta. Grossa / 13 — SP Norte
Curitiba Bacacheri 14 — Santo Amaro / Santo André
14 — São Paulo / SP Taboão 15 — Campinas / RJ Andarai / Sorocaba
15 — Feriado Férias do Templo
16 — SP Oeste / P. Alegre / P. Alegre Norte /
N. Hamburgo
17 — Campinas / Joinville / P. Alegre N /
N. Hamburgo
20 — São Bernardo
I
21 — SP Perdizes SP Leste
22 — SP Ipiranga
23 — Santo Amaro / Santo André
24 — R. Janeiro / Curitiba Sul / Vale do Paraíba
/ Araraquara
28 — São Paulo / SP Taboão
29 — SP Norte

150 A LIAHONA
Calendário Anual do Batistério -1984

NOME DA ESTACA DATAS

SÃO PAULO 07 JAN 1984 — 26 MAI 1984


SOROCABA *14 JAN 1984 — 07 JUL 1984
ARARAQUARA 14 JAN 1984 — *14 JUL 1984
SÃO VICENTE 21 JAN 1984 — 21 JUL 1984
SÃO PAULO PERDIZES 28 JAN 1984 — 28 JUL 1984
SANTO ANDRÉ 04 FEV 1984 — 03 NOV 1984
SÃO PAULO IPIRANGA 11 FEV 1984 — 04 AGO 1984
SÃO PAULO NORTE 18 FEV 1984 — 29 SET 1984
MARÍLIA *25 FEV 1984 — *04 AGO 1984
SÃO PAULO OESTE 25 FEV 1984 — 25 AGO 1984
SÃO PAULO LESTE *03 MAR 1984 — *18 AGO 1984
LONDRINA 03 MAR 1984 — 01 SET 1984
CURITIBA NORTE *10 MAR 1984 — 08 SET 1984
PONTA GROSSA 10 MAR 1984 — 14 JUL 1984
JOINVILLE 17 MAR 1984 — 18 AGO 1984
VALE DO PARAÍBA *17 MAR 1984 — *20 OUT 1984
CURITIBA SUL *24 MAR 1984 — 22 SET 1984
RIO DE JANEIRO 24 MAR 1984 — 24 NOV 1984

SÃO PAULO TABOÃO 31 MAR 1984 — 10 NOV 1984


SÃO PAULO/SANTO AMARO 07 ABR 1984 — 15 SET 1984
RIO CLARO *14 ABR 1984 — *11 AGO 1984
RJ MADUREIRA 14 ABR 1984 — 13 OUT 1984
CURITIBA LESTE 28 ABR 1984 — 27 OUT 1984
SÃO BERNARDO 05 MAI 1984 — *27 OUT 1984
BACACHERI 12 MAI 1984 — 11 AGO 1984
SANTOS *12 MAI 1984 — 20 OUT 1984
CAMPINAS 19 MAI 1984 — 17 NOV 1984
PETRÓPOLIS 02 JUN 1984 — 01 DEZ 1984
CURITIBA *09 JUN 1984 — 08 DEZ 1984
RJ NITERÓI 09 JUN 1984 — 06 OUT 1984
RJ ANDARAÍ 30 JUN 1984 — 15 DEZ 1984

Obs.: Um asterisco (*) significa que o horário de chegada ao tem plo é às 10 horas.

JANEIRO DE 1984 151


Autoridades Gerais úe
A Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos Últimos Dias
Prim eira P residência

SegurWo Consalheno
Presidência do Primeiro Quorum dos Setenta

J Thomas Pyans Carlos E Asay M RussbII Bailard Dean L Larser. Royden G Dernck G Homei Du'ham Richafd G Scoit

Membros Adicionais do Primeiro Quorum dos Setenta

F En*io BuSChe Yoshih«ko Kikuchi Ronald E Poelman Derek A CuthCen Roderi L Backman Re» C Reeve Sr F Buft(X'Howard íeddy E Brewenon Jack H Goaslmcl Ji Angel ADrea

Bispado Presidente Autoridades Gerais Eméritas


r Patriarca Emérito MemDros Eméritos do Primeiro Quorum dos Seiema

James A Cullimore Josapri Anderson John H Vandenberg O Leslie Slone

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