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SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM

CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)

Professor PDSc. José Eduardo Telles Villas


UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro
2015

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 1/162


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Capítulo 01 – Estado da Arte

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ÍNDICE

1.1 Histórico ............................................................................................................... 07


1.2 Evolução dos Sistemas de Corrente Contínua ................................................... 08
1.3 Aplicações Potenciais de Corrente Contínua...................................................... 08
1.4 Comparação Técnica entre Sistemas CCAT e CAAT....................................... 09
1.5 Principais Desvantagens...................................................................................... 09
1.6 Transmissão em CCAT........................................................................................ 10
1.7 Custo das Estações Conversoras......................................................................... 10
1.8 Custo das LT’s de CCAT..................................................................................... 11
1.9 Requisitos de Área para a SE Conversora......................................................... 18
1.10 Cronograma de Implantação de um Sistema CCAT........................................ 18
1.11 Confronto entre Conversoras a Estado Sólido e Válvulas a Mercúrio........... 22
1.12 Características das Principais SE’s Conversoras de CCAT........................... 26
1.13 Índices de Confiabilidade de Estações a Vapor de Mercúrio / Estado Sólido 27
1.14 Aplicações Potenciais de CCAT no Brasil....................................................... 31
1.15 Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico........................................................... 31
1.16 Bibliografia ........................................................................................................... 33

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1. ESTADO DA ARTE

1.1 Histórico

• Primórdios:

Descobertas Básicas das Leis em Corrente Contínua

• Primeiras Aplicações Práticas em Corrente Contínua:

- Telégrafo suprido por Baterias e usando Circuitos de Terra

- Iluminação Pública

• Razões que Limitaram a Transmissão em Corrente Contínua

Basicamente, a força eletromotriz (f.e.m) gerada em uma máquina em corrente


contínua é função de sua velocidade e da quantidade de fluxo. A velocidade da
máquina não pode crescer indefinidamente, face aos problemas relacionados ao
aumento da força centrípeta e os esforços introduzidos nos enrolamentos nas ranhuras.
Quanto ao fluxo, este está associado a um valor de densidade máxima de corrente por
barra no coletor. O aumento do quantitativo destas barras implica no aumento do
diâmetro da máquina e, por consequência, de sua inércia. Deste modo, as tensões das
máquinas evoluíram até o limite de 23 kV, apresentando para valores de tensões
superiores a este limite restrições de ordem técnica-econômica. Essas restrições
representaram obstáculos impedindo o aumento das cargas a serem conectadas no
sistema de transmissão, por razões de limites de quedas de tensão impostas.

O Sistema Thury foi idealizado no final do século XIX para, através da associação
série de várias máquinas geradoras em c.c, aumentar significativamente a f.e.m
equivalente, visando, desse modo, ampliar a capacidade de atendimento a um número
maior de consumidores. Entretanto, face à inexistência de disjuntores em corrente
contínua, à época, e devido à presença de coletores, as máquinas em corrente contínua
demandarem elevados requisitos de manutenção, aspectos quanto à confiabilidade e
disponibilidade de energia achavam-se prejudicados, tornando esta solução cara e não
confiável.

• Ascendência da Transmissão em Corrente Alternada

As facilidades introduzidas pelo transformador, onde a tensão gerada pelas máquinas


em c.a era ampliada pela relação de transformação de ampères-espiras entre o primário
e o secundário deste equipamento, tornou possível atender aos centros de carga,
normalmente distantes dos centros de geração, através de uma contínua evolução do
nível de tensão e da potência a ser transmitida nas LT’s, função de uma demanda
sempre crescente de energia, como resultado do aumento da população e da
dependência do mundo de energia.

Desse modo, as tensões de transmissão atingiram, em escala mundial, nas 4 (quatro)


últimas décadas, níveis de 230, 345, 440, 500 e 765 kV, sendo que, em caráter
experimental, diversas pesquisas estão sendo realizadas em 1200 kV e 1500 kV.

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• Problemas Atuais da Tecnologia de Corrente Alternada

Com o advento de tensões crescentes, principalmente para tensões iguais ou acima de


750 kV, problemas relacionados a fenômenos corona passam a ser de destaque, assim
como os níveis básicos de isolamento a manobra (“BSL – Basic Switching Level”)
demandados pelos equipamentos, face as magnitudes dos níveis de sobretensões dos
surtos de manobra resultantes para esses níveis de tensão e os custos elevados
associados.

1.2 Evolução dos Sistemas de Corrente Contínua

Apresenta-se a seguir a evolução temporal da tecnologia em Sistemas de CCAT.

1882 - Marcel Deprez, França – Sistema em 2 kV, 15 kW, 40 km.


1890 a 1911 - Thury – Sistema em 14 kV, 630 kW, 40 km.
1930 - Tecnologia das Válvulas a Mercúrio
Linha Experimental na Suécia, perto de Gotemburgo: 90 kV, 6,5 MW,
50 km.
1954 - Sistema Sueco de Gotland via Cabo Submarino em 100 kV, 20 MW,
96 km.
Início das Pesquisas no Material de Silício
1958 - Início do desenvolvimento do Tiristor
1960 - 1º Tiristor Comercial (500 V/40A)
1954 a 1975 – Capacidade Instalada de Sistemas em C.C.: 20 p a r a 7.000 MW.
1975 a 1980 – Capacidade Instalada de Sistemas em C.C.: 7.000 p a r a 15. 000 MW.
1985 - 25.000 MW.
2000 - 65.000 MW.
2014 - 115.000 MW.

1.3 Aplicações Potenciais de Corrente Contínua

Como aplicações potenciais da tecnologia de transmissão de Corrente Contínua,


são visualizados os seguintes cenários:

• Transmissão em Longas Distâncias

• Transmissão Submarina a Longas Distâncias

• Subtransmissão via Cabos em Áreas Metropolitanas

• Ligação Assíncrona entre 2 Sistemas

• Reforço de Interligação entre 2 Sistemas

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1.4 Comparação Técnica entre Sistemas CCAT e CAAT


Uma comparação técnica entre as 2 (duas) alternativas de transmissão de energia, em
CAAT e CCAT, permite inferir as seguintes vantagens para esta última tecnologia:

• Maior Potência por Condutor

• Construção mais Simples da LT

• Não possui Corrente Capacitiva

• Não possui Efeito Pelicular

• A Terra pode ser usada como Retorno

• Menor Corona e Rádio-Interferência especialmente em Tempo Adverso

• Operação Síncrona não é Necessária


• Limite de Estabilidade em Regime Permanente não é Afetado pela Distância

• Facilidade e Rapidez de Controle do Fluxo de Potência


• Não há Contribuição de Curto no Sistema CAAT.

• Efeito Estabilizador das Oscilações no Sistema CAAT.


• Maior Confiabilidade de uma Linha Bipolar de CCAT em comparação com uma
Linha de Circuito Duplo CAAT.

1.5 Principais Desvantagens


As principais desvantagens de um Sistema de CCAT são listadas a seguir:
• Custo dos Equipamentos Conversoras

• Necessidade de Suprimento de Potência Reativa localmente face as Conversoras


representarem uma Carga Indutiva vista da Fonte

• Conversoras geram Harmônicos

• Pouca Capacidade de Sobrecargas das Conversoras

• Custo das Estações Conversoras em relação às SE’s Convencionais

• Necessidade de Referência de Tensão na Estação Inversora

• Não Disponibilidade Comercial de Disjuntores CCAT para Operação Interligada

• Problemas de Interferência em Sistemas de Comunicação em Circuitos Vizinhos

• Problemas de Corrosão, Saturação de Núcleo de Transformadores e Risco de Potencial


Transferido via Sistemas de Transmissão e Distribuição durante Operação Monopolar

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1.6 Transmissão em CCAT

Sistemas de Transmissão em CCAT aéreos podem ser competitivos ou atraentes


para distâncias de transmissão superiores a 600 km. Apresenta-se a seguir a
capacidade de Transmissão por Bipolo por Tensão de Transmissão.

Capacidade de
Tensão de Transmissão Transmissão
(por Bipolo)

± 400 kV 800 a 1.000 MW


± 500 kV 1.000 a 2.000 MW
± 600 kV 2.000 a 3.000 MW
± 750 kV 3.000 a 4.000 MW
± 1200 kV 4.000 a 10.000 MW

1.7 Custo das Estações Conversoras


O Quadro abaixo apresenta, em termos percentuais, o custo de uma Estação
Conversora, com relação aos principais equipamentos que a compõem.

% (excluindo
Custo das Conversoras
reservas)
Válvulas 40,0
Transformadores das Conversoras 15,0
Reatores de Alisamento 5,0
Chaves, Medidores, Sensores de C.C. 4,0
Controles 10,5
Filtros C.A. 5,5
Filtros C.C. 1,5
Engenharia 3,0
Treinamento e Seguro 1,5
Transporte 1,0
Instalação 12,0
Comissionamento 1,0
100,0%

Custo por SE Conversora de 2 x 500 MW:

Custo de Edificações: U$ 4 x 106


Custo de Serviços Auxiliares: U$ 3 x 106
Custo Total: U$ 70/kW

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1.8 Custo das LT’s de CCAT

O Custo das LT’s de CCAT em termos de seus principais componentes é


apresentado a seguir, em termos percentuais.

Custo das LT’s de CCAT (%)


→ Condutores 41,0
→ Estruturas 20,0
→ Fundações 8,0
→ Isoladores 6,0
→ Cabo Terra 2,0
→ Aquisição da Faixa 6,0
→ Estudos 9,0
→ Miscelâneos 8,0
100,0

O custo do Eletrodo de Terra em ambos os Terminais das Estações Conversoras


representa 1,5% do Custo Total da L.T.

A Figura 1.1 apresenta os modos de Operação de um Sistema em CCAT. A


Figurax1.2 relaciona os Custos comparativos para Transmissão Aérea para
ambas as tecnologias em análise: CAAT e CCAT. O Efeito da Variação de
Custos na Determinação do Ponto Crítico para LT’s CCAT em relação à LT’s
de CAAT é mostrado na Figurax1.3.

A Figurax1.4a apresenta Configurações de Torres Típicas em CCAT: Torres


Metálicas Estaiada e Auto-Portante, e na Figura 1.4b, as Configurações de
Torres Típicas em CAAT. Na Figura 1.5 acha-se indicado uma Configuração
típica de uma Torre da LT para os Eletrodos de Terra, e nas Figurasx1.6xe 1.7, são
apresentados, respectivamente, Eletrodos de Terra do tipo Circular (Toroidal) e o
de Haste Profunda.

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Figura 1.1 – Modos de Operação do Sistema CCAT.

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Figura 1.2 – Custos Comparativos para Transmissão Aérea em CAAT e CCAT.

Figura 1.3 – Efeito da Variação de Custos na Determinação do Ponto Crítico para LT’s
CCAT em relação a LT’s de CAAT.

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Torre Metálica Estaiada Torre Metálica Autoportante

Figura 1.4a – Configuração de Torres Típicas em CCAT.

Torre Metálica Estaiada Torre Metálica Autoportante

Figura 1.4b – Configuração de Torres Típicas em CAAT.

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Figura 1.5 – Configuração de uma Torre da LT para os Eletrodos de Terra.

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Figura 1.6 – Eletrodo de Terra: Circular (Toroidal).

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Figura 1.7 – Eletrodo de Terra: Haste Profunda.
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1.9 Requisitos de Área para a SE Conversora

A Figura 1.8 apresenta os Componentes Principais de uma Estação CCAT. A


Figura 1.9 mostra o Arranjo Físico do Sistema de CCAT de Square Butte (EUA) e
a Figura 1.10, o Diagrama Unifilar correspondente.
Do ponto de vista de área para a SE Conversora, relaciona-se a seguir, por
equipamentos/grupos de equipamentos, os requisitos em termos percentuais.

(%)
• Sala de Controle, Almoxarifado, Oficinas, Laboratório, etc 54,0
• Pátio de Corrente Alternada 28,0
• Pátio de Corrente Contínua 6,0
• Transformadores das Conversoras 3,0
• Filtros de C.A. 3,0
• Válvulas 2,5
• Filtros de C.C. 2,5
• Reator de Alisamento 1,0
100,0

1.10 Cronograma de Implantação de um Sistema de CCAT

O Quadro abaixo apresenta o cronograma de atividades e sua evolução temporal para


implantação de um Sistema de CCAT.

Atividade Mês 6 Mês 12 Mês 18 Mês 24 Mês 30 Mês 36 Mês 42

1 - Ante-Projeto

2 - Projeto do Sistema CCAT e Especificações

3 - Projeto da SE/Ordens de Compra

4 - Fundações - Construção

5 - Instalação de Equipamento, Cablagem

6 - Comissionamento

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Figura 1.8 – Componentes Principais de uma Estação CCAT.

Figura 1.9 – Arranjo Físico do Sistema de Square Butte (EUA).

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Figura 1.10 – Diagrama Unifilar do Sistema Bipolar de Square Butte.

A Figura 1.11 apresenta uma Conversora a 6 Pulsos suprido por um transformador, sendo
mostrados os enrolamentos primário e secundário e as impedâncias associadas a estes
enrolamentos. Cabe assinalar, que face ao contínuo chaveamento representado por
comutações dos tiristores, as solicitações nestes enrolamentos são de tal ordem que
demandam um projeto especial do transformador para atender às solicitações resultantes.

Na Figura 1.12 são mostrados diversos tipos de arranjos de construção das válvulas de 12
Pulsos. A Figura 1.13 apresenta uma Válvula Quadrangular Típica para o Tiristor.

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Figura 1.11 – Conversora a 6 Pulsos.

Figura 1.12 - Construção da Válvula de 12 Pulsos.

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Figura 1.13 - Válvula Quadrangular Típica – Tiristor.

1.11 Confronto entre Conversoras a Estado Sólido e Válvulas a Mercúrio


Quando comparadas ambas as tecnologias, as Válvulas a Tiristores apresentam, em
relação às Válvulas a Mercúrio, vantagens essenciais, como:

• Falha de um Tiristor não implica na Saída de Operação do Equipamento


• Característica Modular da Conversora a Estado Sólido permite Expansão e
Versatilidade na Operação.
• Exigências quanto ao Resfriamento e Controle de Temperatura nas Válvulas a
Mercúrio
• Necessidade de um Equipamento de Despressurização para que o arco do
Conversora nas Válvulas a Mercúrio possa se estabelecer

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Apenas no aspecto indicado a seguir, as Válvulas a Mercúrio apresentam uma
vantagem em relação à de Tiristores:
• Possibilidade de Condução no Sentido Inverso das Válvulas a Mercúrio.

Nas Figuras 1.14 e 1.15, respectivamente, são mostrados diversos Projetos


comissionados em CCAT a Válvulas a Mercúrio e os Projetos Comissionados em
CCAT a Tiristores.

As Figuras 1.16a e 1.16.b apresentam arranjos físicos para Estações CCAT para
Válvulas a Mercúrio e para Válvulas a Tiristores, respectivamente. Assinala-se a
redução de área face à supressão dos filtros de harmônicos de ordem 5ª e 7ª.

A Figura 1.17 mostra como são formados, a partir dos cristais de Germânio ou
Silício (elementos tetravalentes), os dispositivos semicondutores dos tiristores do
tipo P ou do tipo N, por adição de impurezas (dopagem) formados por Metais
Trivalentes (Alumínio, Boro, Índio) e Pentavalentes (Arsênio, Fósforo,
Antimônio), respectivamente.

A Figura 1.18 mostra, de forma simplificada, um esquema das Válvulas a Vapor


de Mercúrio. Nas Figuras 1.19 e 1.20 são apresentados os modos de operação das
Válvulas a Vapor de Mercúrio, bloqueado e conduzindo, respectivamente.

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Figura 1.14 – Projetos Comissionados em CCAT - Válvulas a Mercúrio.

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Figura 1.15 - Projetos Comissionados em CCAT – Tiristores.

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Figura 1.16a – Válvulas a Mercúrio. Figura 1.16b - Válvulas a Tiristores.

1.12 Características das Principais SE’s Conversoras de CCAT

As características das principais SE´s Conversoras de CCAT do ponto de vista de


tipo da válvula, número de pulsos, isolamento e refrigeração da válvula são
indicadas no Quadro abaixo:

Tipo de Isolamento Refrigeração Número de


Sistema
Válvula da Válvula da Válvula Pulsos

PACIFIC-INTERTIE Mercúrio Ar Ar, Água 6

NELSON RIVER - BIPOLO 1 Mercúrio Ar Ar, Água 6

EEL RIVER Tiristor Ar Ar 12

CABORA BASSA Tiristor Ar Ar 6

SQUARE BUTTE Tiristor Ar Ar 12

NELSON RIVER - BIPOLO 2 Tiristor Ar Ar, Água 12

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1.13 Índices de Confiabilidade de Estações a Vapor de Mercúrio / Estado Sólido

Disponibilidade de Energia na SE (%)


Sistemas CCAT:
1975 1976 1977 1978
Vapor de Mercúrio (a) (b) (a) (b) (a) (b) (a) (b)
Pacific-Intertie - 85 - 91 - 93 - 93
Nelson River -Bipolo I 93 94 74 74 70 70 79 79

Válvulas de Tiristores (a) (b) (a) (b) (a) (b) (a) (b)
Eel River 98 98 97 97 98 98 97 97
Cabora Bassa - - - - 97 97 99 99
Vancouver - Polo II - - - - 92 92 88 88
Square Butte - - - - 81 96 97 98
Nelson River - Bipolo II - - - - - - 94 94

(a) - SE Conversora e LT CCAT


(b) - Somente SE Conversora

Equipamento com Maior Índice de Falhas:


Tempo de Interrupção
• Sistemas de Controle Reduzido
• Transformadores Conversores 168 horas
• Reatores de Alisamento 30 dias

Figura 1.17 - Tecnologia de Válvulas a Vapor de Mercúrio.


Cristais: Germânio ou Silício (Metais Semicondutores Tetravalentes)
"Dopagem": Adição de Impurezas formadas por Metais:
→ Pentavalentes: Arsênio, Fósforo, Antimônio (Elementos Tipo N)
→ Trivalentes: Alumínio, Boro, Índio (Elementos Tipo P)

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Figura 1.18 - Válvulas a Vapor de Mercúrio.

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Figura 1.19 - Válvulas a Vapor de Mercúrio: bloqueada.

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Figura 1.20 - Válvulas a Vapor de Mercúrio: conduzindo.

600

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1.14 Aplicações Potenciais de CCAT no Brasil

Visualizam-se as seguintes aplicações potenciais da tecnologia de CCAT no


Brasil, conforme indicado na Figura 1.21, algumas delas já em fase de
implantação, como a do Sistema de Madeira (± 600 kV) e o Sistema de Belo
Monte (± 800 kV), na Amazônia.

→ Interligação Norte-Nordeste ± 600 kV

→ Sistema Bipolar ± 750 kV da Região Amazônica


• Marabá – Recife
• Marabá – Salvador
• Marabá – Belo Horizonte
→ Interligação Brasil – Argentina ± 600 kV
→ Suprimento Mato Grosso do Sul ± 250 kV
→ Interligação Complexo Hidroelétrico do Rio Uruguai com a Usina
de Itaipu 50 Hz ± 600 kV
→Transmissão Subterrânea nas Grandes Regiões Metropolitanas

1.15 Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico

Os seguintes temas tem sido objeto de pesquisa e desenvolvimento (P&D)


tecnológico visando um desempenho mais otimizado e confiável de Sistemas em
CCAT, sendo alguns deles já em fase operacional ou em aplicação:
• Compactação dos Terminais das Conversoras com utilização de isolamento a
SF6
• Aumento da Capacidade das Válvulas das Conversoras
• Melhoria da Confiabilidade dos Sistemas de Comunicação, Proteção, Controle
e Medição
• Melhoria do Desempenho e Confiabilidade dos Filtros de Harmônicos e
Disjuntores de CCAT.
• Implantação de Esquemas de Transmissão com Múltiplos Terminais
• Utilização de Pára-Raios de Óxido de Zinco (ZnO)
• Utilização de Sistemas de Compensação Estática
• Efeito dos Fenômenos Corona e Campo Elétrico na Faixa de ± 600 kV a
±x1.000 kV
• Desenvolvimento do Foto-Tiristor

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Figura 1.21 - Possíveis Interligações CCAT.

(*) - Valores Indicados: Potenciais Hidroelétricos

→ Interligações Possíveis

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1.16 Bibliografia

1 – Direct Current Transmission – Volume I – Edward Wilson Kimbark, DSc. –


B.P.A – Edition Wiley-InterScience.

2 – HVDC Ground Electrode Design – Electric Power Research Institute –


EPRI EL-2020 – Project 1467-1 – Final Report – August/1981.

3 – Curso de Transmissão de Corrente Contínua – Promon – 1986.

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Capítulo 02 – Análise da Ponte Conversora

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ÍNDICE

2.1 Característica do Sistema a ser Analisado .................................................................... 39


2.2 Circuito Equivalente para a Ponte Conversora............................................................ 39
2.3 Operação Ideal – Sem Ângulo de Ignição (α) e Comutação (µ) ................................... 40
2.3.1 Válvulas 1 e 2 Conduzindo ............................................................................................. 41
2.3.2 Válvulas 3 e 2 Conduzindo ............................................................................................. 42
2.3.3 Válvulas 1, 3 e 2 Conduzindo Simultaneamente .......................................................... 43
2.3.4 Formas de Onda das Correntes i1(t) e i3(t).................................................................... 45
2.4 Operação Ideal ................................................................................................................ 47
2.4.1 Valor Médio da Tensão na Saída do Retificador a Vazio ........................................... 47
2.4.2 Formas de Onda da Tensão Vd para diferentes Valores de (α) .................................. 49
2.4.3 Relação entre o Ângulo de Ignição (α) e o Ângulo de Fase (desprezando a
Comutação) ...................................................................................................................... 51
2.4.4 Operação Real (Considerando o Controle de Ignição (α) e a Comutação (µ))........... 53
2.4.5 Valor Final de Tensão C.C. na Saída do Retificador ................................................... 54
2.5 Circuito Equivalente para o Retificador ....................................................................... 54
2.6. Equação de Regulação..................................................................................................... 55
2.7 Equação de Regulação para o Retificador e o Inversor............................................... 56
2.8 Limites de (α) e (ɣ) .......................................................................................................... 57
2.9 Bibliografia ....................................................................................................................... 67

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2 Análise da Ponte Conversora

2.1 Característica do Sistema a ser Analisado

As principais características do sistema a ser analisado são apresentadas abaixo:

• A Alimentação C.A. das Conversoras é feita através de um Sistema Trifásico de


Fem's senoidais, balanceadas e de sequência positiva.
A Conversora é conectada a estas fontes através das indutâncias de dispersão dos
transformadores.

• Um Reator é instalado no Lado C.C. de modo a fazer com que a corrente seja
perfeitamente constante.

• As válvulas que formam a Conversora apresentam resistência nula no sentido


de condução e infinita no caso oposto.

• A Ignição das válvulas ocorre em intervalos iguais a 1/6 do ciclo (60°).

2.2 Circuito Equivalente para a Ponte Conversora

O circuito equivalente para a Ponte Conversora está representado na Figura 2.1,


sendo apresentadas abaixo as expressões consideradas para as forças eletromotrizes
das fases do gerador e as tensões entre fases aplicadas na Conversora.

• Número das Válvulas:

Sequência com que estas são disparadas (Início de Condução)

• Fem’s Fase Neutro: EA = Em.cos.(ω.t + 60º) ...(1)


EB = Em.cos.( ω.t - 60º)
EC = Em.cos.( ω.t - 180º)

• Tensões entre Fases: EAC = 3 . Em .cos.⎛⎜ω.t + 30 o ⎞⎟ ...(2)


⎝ ⎠
EAB = 3 . Em .cos.⎛⎜ω .t − 90 o ⎞⎟
⎝ ⎠
= 3 . Em .sin .ω .t
ECB = 3 . Em .cos.⎛⎜ω .t + 150o ⎞⎟
⎝ ⎠

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 39/162


Figura 2.1 – Circuito Equivalente para a Ponte Conversora.

2.3 Operação Ideal - sem Ângulo de Ignição (α) e Comutação (µ)

A Figura 2.2 apresenta o Circuito Equivalente para a Ponte Conversora numa


condição de operação ideal sem Ângulo de Ignição (α) e Comutação (µ), estando as
Válvulas 1 e 2 Conduzindo.

Figura 2.2 – Circuito Equivalente para a Ponte Conversora: Válvulas 1 e 2


Conduzindo.

40/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


2.3.1 Válvulas 1 e 2 Conduzindo

Para esta condição, as equações de correntes e tensões no Lado C.A (nas fases)
e no Lado C.C (nas válvulas) estão indicadas abaixo.

Equações de Correntes:

• Nas Fases:
ia(t)= -ic(t)= Id(t) ...(3)
ib(t) = 0

• Nas Válvulas:
i1(t) = i2 (t)= Id(t) ...(4)

i3(t)= i4(t) = i5(t) = i6(t) = 0

Equações de Tensões:

• Na Inversora:
V = V − V = 3 . Em . cos (ω . t + 30º )
do c a ...(5)

• Na Retificadora (Válvulas):

V (t ) = V (t ) =0
1 2
V (t ) = E = 3 . Em . cos (ω . t − 90º )
3 BA
V (t ) = E = 3 . Em . cos (ω . t − 150 º ) ...(6)
4 CA
V (t ) = V ( t ) = − V (t )
5 4 d
V (t ) = E = 3 . Em . cos (ω . t + 150 º )
6 CB

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 41/162


2.3.2 Válvulas 3 e 2 Conduzindo:

Supõe-se agora, para a mesma condição de operação ideal da Conversora (sem


Ângulo de Ignição (α) e Comutação (µ)), que as Válvulas 3 e 2 estejam conduzindo,
como indicado na Figura 2.3. As equações correspondentes de correntes e tensões no
Lado C.A (nas fases) e no Lado C.C (nas válvulas) estão indicadas abaixo.

Figura 2.3 – Circuito Equivalente para a Ponte Conversora: Válvulas 1 e 3


Conduzindo.

Equações de Correntes:

• Nas Fases:
ib(t) = -ic(t) = Id(t) ...(7)
ia(t) = 0

• Nas Válvulas:
i2(t) = i3(t) = Id(t) ...(8)
i1(t) = i4(t) = i5(t) = i6(t) = 0

Equações de Tensões:

• Na Inversora:
V = V − V = 3 . Em . cos (ω . t + 150º ) ...(9)
do b c

42/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


• Na Retificadora (Válvulas):
V (t ) = E
1 BA
V (t ) = V (t ) = 0
2 3
V (t ) = E ...(10)
4 CA
V (t ) = E
5 CB
V (t ) = V ( t )
6 5

2.3.3 Válvulas 1, 3 e 2 Conduzindo Simultaneamente

Das 2 (duas) condições retratadas anteriormente (válvulas 1 e 2 conduzindo e


válvulas 3 e 2 conduzindo), tem-se, necessariamente, uma condição em que as
válvulas 1, 3 e 2 conduzem simultaneamente, como indicado nas Figuras 2.4 e 2.5.
As equações correspondentes de correntes e tensões no Lado C.A (nas fases) e no
Lado C.C (nas válvulas) estão indicadas abaixo.

Da Figura 2.4, tem-se que face à presença da reatância de comutação do


Transformador e da Fonte de C.A, a corrente não pode variar instantaneamente.

Figura 2.4 – Circuito Equivalente para a Ponte Conversora: Válvulas 1,


2 e 3 Conduzindo.

Assim, para um dado instante de tempo Y e considerando o circuito apresentado na


Figura 2.4, tem-se:
e +e e E
V =V = A B
=− C
= m . cos ω . t ...(11)
A B 2 2 2

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 43/162


i1(t)= id(t) – i3 (t) ...(12)
di (t ) di (t )
3 1 ...(13)
eB + e A = L . −L .
c dt c dt

de (13):
di1 (t ) di3 (t )
=− ...(14)
dt dt

de (14) em (13):
di (t )
3
eB − e A = 2 . L . ⇒ eB − e A = 3 . Em . sin ω . t
c dt
I3 di (t ) 3 . Em t
∫o
3
dt
=
2. L ∫α ω sin(ω.t ). dt
/
c

3 . Em
→ i3 (t ) = . (cos α − cos ω.t ) = I . (cos α − cos ω.t ) ...(15)
2 . ω .L S2
c
→ i1 (t ) = I d (t ) − i3 (t ) = I d − I S 2 . (cosα − cosω.t ) ...(16)

As equações (15) e (16) representam as formas de ondas das correntes i1(t) e i3(t)
das correntes nas válvulas 1 e 3. Estas formas de ondas são apresentadas de forma
esquemática na Figura 2.5, tanto através de suas componentes como da composição
destas (Figura 2.6).

44/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


.
.
Figura 2.5 – Formas de Ondas das Componentes e das Correntes nas
e 3 da Ponte
Válvulasde1 Ondas
Figura 2.5 – Formas Conversora. e das Correntes nas
das Componentes
Válvulas 1 e 3 da Ponte Conversora.
2.3.4 Formas de Onda das Correntes i1(t) e i3(t)
2.3.4 Formas de Onda das Correntes i1(t) e i3(t)
As formas de ondas das correntes nas válvulas 1 e 3 são agora apresentadas no
As formasdas
contexto ondas grandezas
dedemais das correntesde interesse, considerand
nas válvulas 1 e 3 são intervalos
o osagora de temponoe
apresentadas
disparo (α), dedecomutação (µ) e de extinção ( ). Como se pode
os ângulos
contexto das de
demais grandezas interesse, considerando δ
os intervalos de tempo e
os ângulosdessa
constatar de disparo (α),a corrente
figura, se de comutação (µ) e 1de(i1(t)),
na válvula extinção δ ). Comorazão,
por (qualquer não
se pode
extinguirdessa
constatar se uma
figura, do
(caracterizan falha de
a corrente válvula da
naextinção válvula),
1 (i1(t)), corrente nesta
pora qualquer razão, nãopode
atingir a (caracterizando uma falha de extinção da válvula), aoscorrente
valores bastante elevados, cabendo lembrar que tiristores não são
extinguir nesta pode
projetados
atingir a valores bastante sobrecorren
para suportar elevados, cabendo lembrar que os tiristores não dano
tes superiores a 10% sob pena de são
nestes
irreversívelpara
projetados (ruptura por
suportar avalanche da barreira
sobrecorrentes - Efeito
superiores a 10% Hall).sob pena de dano
irreversível nestes (ruptura por avalanche da barreira - Efeito Hall).

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 45/162


Figura 2.6 – Formas de Ondas das Correntes nas Válvulas 1 e 3 da Ponte
Conversora.

46/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


2.4 Operação Ideal

2.4.1 Valor Médio da Tensão na Saída do Retificador a Vazio

Ainda nessa condição idealizada de operação da Conversora, têm-se as seguintes


expressões para cálculo do valor médio da tensão na saída da retificadora e
correspondente forma de onda como indicado na Figura 2.7.

2.4.1.1 Sem Controle de Ignição (α)

1 T2
V =
do ∫ f (t ). dt
(T − T1)
2
T1

...(17)
1 0
= ∫π e . dθ
π /3 − / 3 AC

...(18)

3 3 2
V = . .E = 1,35 . E = 2,34 E ...(19)
do π 3 φφ φφ φN

onde:

Em - Tensão de Pico Fase-Neutro da Tensão C.A.


E - Tensão Eficaz Fase-Fase da Tensão C.A.
φφ
E - Tensão Eficaz Fase-Neutro da Tensão C.A.
φN

Figura 2.7 – Forma de Onda da Tensão na Saída do Retificador.

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 47/162


2.4.1.2 Com Controle de Ignição (α)

A Figura 2.8 apresenta a forma de onda da Tensão na Saída do Retificador


considerando o controle de ignição (α).

Figura 2.8 – Forma de Onda Ideal da Tensão na Saída do Retificador com o


Controle de Ignição (α).

1 0+α
V = ∫π e . dθ
do π / 3 − /3 AC
...(20)
3 α
= ∫π 3. Em . sinθ . dθ
π − / 3+α

3. 3 α
V = Em ∫ sinθ . dθ
do π a −π / 3
...(21)
α
=V ∫ sinθ . dθ
do a −π / 3

V = V . cos α ...(22)
do do

Da Figura 2.8 pode-se constatar que o intervalo de variação do Ângulo de Ignição


(α) é de:

0 0 ≤ α ≤180 0 → t = t r → α =180 0

t = ta →α= 00

A impossibilidade de se obter Ângulos de Ignição (α) maiores prende-se ao fato de


que, entre t = ta e t = tr, a f.e.m. eB(t) > eA(t).

48/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


Do exposto, derivam-se 2 (duas) conclusões:

1ª Conclusão: O efeito do Ângulo de Ignição (α) é reduzir o valor da Tensão Média


Vd desde (+Vd a -Vd).

2ª Conclusão: possibilidade de Reversão de Potência no Elo C.C.

Retificador: +Id; +Vd (α = 0o) → Pd = + Vd . Id


Inversor: +Id; - Vd (α = 180o) → Pd = - Vd . Id ...(23)

2.4.2 Formas de Onda da Tensão Vd para Diferentes Valores de (α)

As formas de onda ideais da Tensão na Saída do Retificador Vd para diferentes


Ângulos de Ignição (α) são apresentadas nas Figuras 2.9 e 2.10.

Figura 2.9 - Formas de Onda ideais da Tensão na Saída do Retificador para


Diferentes Valores do Ângulo de Ignição (α).

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 49/162


Figura 2.10 – Formas de Onda ideais da Tensão na Saída do Retificador para
Diferentes Valores do Ângulo de Ignição (α).

50/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


2.4.3 Relação entre o Ângulo de Ignição (α) e o Ângulo de Fase (desprezando a
Comutação)

A Figura 2.11 apresenta, de forma esquemática, as Formas de Onda da Tensão e da


Corrente na Entrada do Retificador (Lado C.A) para Diferentes Valores do Ângulo
de Ignição (α). Como se pode observar dessa figura, à medida que se varia o Ângulo
de Ignição (α), verifica-se um correspondente deslocamento da componente
fundamental da corrente na Fase Φa em relação à f.e.m da Fase Φa.

Usando-se o Princípio de Conservação de Energia, tem-se:

Supondo a Conversora sem perdas, a Potência C.A. suprida a Conversora deve ser
igual a Potência C.C.
Em
PCC = PCA ∴ Vd . Id = 3. Ia1 . cos Ø ...(24)
2

Pela Análise de Fourier da Onda de Corrente na Fase Φa, tem-se para a


componente fundamental da corrente Ia1:
6
Ia1 = . Id ...(25)
π
Em ⎛ 6 ⎞
Id . Vdo . cos α . . ⎜⎜ . Id ⎟⎟ . cos Ø
2 ⎝ π ⎠
⎛ 3 3 ⎞ Em 6
Id . ⎜⎜ . Em ⎟⎟ . cos α = 3. . . Id . cos Ø
⎝ π ⎠ 2 π
cos α . = cos Ø∴α = Ø ...(26)
α = 90o – corrente reativa: Conversora suprido com Potência Reativa Indutiva
proveniente do Sistema C.A.

• Potencia fornecida a Conversora

- Potência Ativa: como (α) pode assumir valores maiores que 90º há reversão de
potência.
- Potência Reativa: tanto a Retificadora como a Inversora absorvem potência
reativa indutiva → Onda de Corrente atrasada da Onda de
Tensão.

Do exposto acima, conclui-se que a Conversora (tanto a Retificadora como a


Inversora) representa para a fonte c.a uma carga indutiva. Desse modo, visando
maximizar a transmissão de potência ativa no Sistema Elétrico e o consequente
transporte na LT CCAT, devem ser instalados bancos de capacitores no barramento
que se acha conectada a Conversora, visando a correção do fator de potência.
Cumpre assinalar que muitas dessas unidades dos bancos de capacitores serão
utilizadas como componentes dos Filtros de harmônicos.

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 51/162


Figura 2.11 – Formas de Onda da Tensão e da Corrente na Saída do Retificador
para Diferentes Valores do Ângulo de Ignição (α).

52/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


2.4.4 Operação Real (Considerando o Controle de Ignição (α) e a Comutação (µ)

Devido à presença das indutâncias da Fonte C.A. e do Transformador da


Conversora, a corrente não pode variar instantaneamente. Assim, para Operação
Real da Conversora, ou seja, considerando-se o Ângulo de Ignição (α) e o Ângulo
de Comutação (µ), têm-se para forma de Onda real da Tensão na Saída do
Retificador a indicada na Figura 2.12.

Figura 2.12 – Forma de Onda real da Tensão na Saída do Retificador


considerando o Ângulo de Ignição (α) e o Ângulo de Comutação (µ).

A área hachureada A2 representa a queda de tensão devido ao processo de


comutação (face à presença das indutâncias no Sistema Elétrico), e pode ser calculada
como:
⎛ e +e ⎞ ⎛ −e ⎞
⎜ e − c
δ δ
A= A = ⎜ e − A B ⎟ . dθ = ⎟ . dθ
2 ∫α ⎜ B 2 ⎟ ∫α ⎜ B 2 ⎟
⎝ ⎠ ⎝ ⎠ ...(27)
3 . Em δ 3
= ∫α senθ . dθ = . Em . (cos α − cos δ )
2 2

A Queda de Tensão Média é calculada dividindo esta queda de tensão pelo seu
período de ocorrência (igual ao tempo de condução ente 2 válvulas):
A 3 3
ΔV = 2
= . Em . (cos α − cos δ )
do π /3 2 .π

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 53/162


V
ΔV = do
. (cos α − cos δ ) ...(28)
do 2

2.4.5 Valor Final de Tensão C.C. na Saída do Retificador

Tem-se, pois, 3 (três) situações distintas para cálculo do Valor Final de Tensão C.C.
na Saída do Retificador, a saber:

2.4.5.1 Sem Atraso (Comutação Ideal: µ = 0) e sem Retardo - Ângulo de Disparo (α)

V =V ...(29)
d do

2.4.5.2 Sem Atraso (Comutação Ideal: µ = 0) e com Retardo - Ângulo de Disparo (α)

V = V . cos α ...(30)
do do

2.4.5.3 Com Atraso (Comutação Real: µ ≠ 0) e com Retardo - Ângulo de Disparo (α)

ΔV
V =V . cos α − ΔV = do . (cos α + cos δ ) ...(31)
d do d 2

2.5 Circuito Equivalente para o Retificador

O Circuito Equivalente para o Retificador é obtido com base nas expressões de Vd e


Id, como se demonstra a seguir e se indica na Figura 2.13.

V ΔV ⎛ cosα − cos δ ⎞
ΔV = do
. (cosα − cos δ )∴ do
= ⎜ ⎟ ...(32)
do 2 V ⎝ 2 ⎠
do

I
I =I . (cosα − cos δ )∴ d
= (cosα − cos δ ) ...(33)
d s2 I
s2

ΔVd Id
de (33) e (34) : = ...(34)
Vdo 2. I s2

Vdo
Vd = Vdo . cos α − ΔVd =Vdo . cos α − .Id ...(35)
2. I s 2

3 3 . Em / π
V = V . cos α − . Id ...(36)
d do 2 3 . Em / 2 .ω . LC

54/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


3 .ω . LC
V = V . cos α − . Id ...(37)
d do π
V = V . cos α − RC . I d ...(38)
d do

sendo:

3 .ω . LC
R = - Resistência Equivalente de Comutação ...(39)
C π

Figura 2.13 – Circuito Equivalente para o Retificador.

2.6 Equação de Regulação

Se na equação V = V . cos α − RC . I d , admitir-se:


d do
- o Sistema C.A. um Barramento Infinito → Em = constante

- o Ângulo de Disparo sem alteração → α = constante


pode-se traçar-se um gráfico Vd x Id, como o indicado na Figura 2.14.

ΔV - função de reatância indutiva


d
do Sistema C.A

Figura 2.14 – Equação de Regulação do Retificador.

A resistência de comutação Rc representa o efeito de queda de tensão devido à


comutação, porém sem que nela seja dissipada qualquer potência.

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 55/162


2.7 Equação de Regulação para o Retificador e Inversora

As equações de Regulação tanto para o Retificador como para a Inversora são


apresentadas a seguir, em função dos Ângulos de Ignição (α) e (β), ou de Extinção
(γ ) .

Retificador: Inversor:

V = V . cosα − RC . I d −V = V . cos β + RC . I d
d do do do
... (40)
+V = V . cos γ − RC . I d
do do

A Figura 2.15 apresenta o Circuito Equivalente para a Inversora.

Figura 2.15 – Circuito Equivalente para a Inversora.

A Figura 2.16 mostra o Circuito Equivalente completo para o Sistema de CCAT:


Retificador – LT CCAT – Inversora.

Figura 2.16 – Circuito Equivalente completo para o Sistema de CCAT: Retificador – LT


CCAT – Inversora

56/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


Os limites dos Ângulos de Comutação (α) e de Extinção (ɣ) são apresentados abaixo
para a Conversora (Retificador e Inversora).

2.8.1 Limites do Ângulo (α)


→ Desprezando-se o Efeito de Comutação:

V = V . cos α ...(41)
d do

para operação como Retificador: 0 < α ≤ 90º → Vd e I d > 0 ,


o Ângulo de Ignição pode ser no máximo até 90º.

para operação como Inversora 90º < α ≤180º → Vd < 0 e I d > 0

o Ângulo de Ignição pode ser no máximo até 180º.


→ Considerando-se o Efeito de Comutação:
cosα − cosδ
Da equação Vd = Vdo . , tem-se: ...(42)
2
- para operação como Retificador:

⎛ µ ⎞ → V e I > 0 ...(43)
0 < α ≤ ⎜ 90 º − ⎟ d d
⎝ 2 ⎠

- para operação como Inversora:

µ ⎞ µ
⎜ 90 º − ⎟ < α ≤ ⎜180º − − γ 0 ⎟ → Vd < 0 e I d > 0
⎛ ⎛ ⎞ ...(44)
⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠

γ0 - Ângulo de extinção mínimo para desionização do arco (1º a 8º)

Face à presença de harmônicos nas ondas de tensão, há necessidade de se prever um


intervalo de tempo para a extinção completa da válvula e a ignição da válvula
subsequente.

αmín – Limite mínimo para o Ângulo de Ignição (5º): Valor mínimo para α, de modo a
evitar assimetria no disparo da válvula

As válvulas são formadas por um conjunto série – paralelo de tiristores, existindo


capacitâncias virtuais entre estes, que atrasam o sinal de ignição enviado para cada
tiristor, causando assimetria no disparo da válvula.

Para eliminar este problema, instalam-se circuitos “snubber” (capacitâncias) de


modo a tornar este retardo em um valor pré-fixado e dota-se o sistema de controle
com um ângulo de disparo para α mínimo.

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 57/162


A Figura 2.17 apresenta, para uma melhor visualização, a variação do Ângulo de
Disparo α.

α = π − δ = π − (α + µ )

Figura 2.17 - Variação do Ângulo de Disparo α

A Figura 2.18 apresenta as formas de Onda de Tensão no Lado C.A (na entrada do
Retificador - Fase ϕa) e no Lado CC (tensão na saída do Retificador) e as formas de
Onda de corrente no Lado C.C (corrente na saída do Retificador e nos tiristores) e
no Lado C.A (na entrada da Retificadora – Fase ϕa).

As Figuras 2.19 e 2.20 apresentam as formas de Onda de Tensão no Lado CC nos


tiristores 1 e 2.

A Figura 2.21 apresenta as formas de Onda de Tensão no Lado C.A (na entrada do
Retificador - Fase ϕa) e no Lado CC para a Conversora operando como Inversora
(α = 120º e µ = 15º).

58/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


A Figura 2.22 mostra a sequência de condução dos tiristores durante um ciclo
completo. As Figuras 2.23 a 2.26 apresentam as formas de Ondas de Tensão na
saída da Conversora e nos tiristores (1, 2 e 3) operando este como Retificador e as
Figuras 2.27 a 2.29, de forma análoga, porém na operação da Conversora como
Inversora.

Tensão C.A.

Neutro

Tensão C.C.

Corrente
C.C. nos
Polos

Corrente nos
Tiristores

Corrente na
Fase ϕa

Figura 2.18– Formas de Ondas de Tensão C.A e C.C e de Corrente C.A e C.C

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 59/162


Tensão C.A

Neutro

Tensão C.C

Corrente no
Tiristor 1

Figura 2.19 – Forma de Onda de Tensão no Tiristor 1

Figura 2.20 – Forma de Onda de Tensão no Tiristor 3

60/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


Figura
Figura 2.21
2.21 –– Ondas
Ondas de
de Tensão
Tensão Lado
Lado C.A
C.A ee CC Inversora (α
CC -- Inversora 15º)
120º ee µµ == 15º)
(α == 120º

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 61/162


Figura 2.22 – Sequência de Condução dos Tiristores durante um Ciclo Completo

62/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


Figura 2.23 – Tensão na Saída do Retificador

Figura 2.24 – Tensão no Tiristor 1.

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 63/162


Figura 2.25 – Tensão no Tiristor 2

Figura 2.26 – Tensão no Tiristor 3.

64/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


Figura 2.27 – Tensão na Saída da Inversora.

Figura 2.28 – Tensão no Tiristor 1 – Conversora Operando como Inversora.

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 65/162


Figura 2.29 – Tensão no Tiristor 2 – Conversora operando como Inversora.

66/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


2.9 Bibliografia

1 – Direct Current Transmission – Volume I – Edward Wilson Kimbark, DSc. – B.P.A –


Edition Wiley-InterScience.

2 – HVDC Ground Electrode Design – Electric Power Research Institute – EPRI EL-
2020 – Project 1467-1 – Final Report – August/1981.

3 – Curso de Transmissão de Corrente Contínua – Promon – 1986.

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 67/162


68/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)
Capítulo 03 – Controles para Sistemas em Corrente Contínua
CCAT

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 69/162


70/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)
ÍNDICE

3.1 Meios Básicos de Controle ......................................................................................... 73


3.1.1 Formas de Mudança na Tensão C.A ........................................................................ 73
3.1.2 Variações dos Ângulos (α) e (γ) ................................................................................. 74
3.2 Velocidades dos Controles ......................................................................................... 74
3.3 Limitações do Controle Manual ................................................................................ 74
3.3.1 Formas de Variação da Tensão C.C ......................................................................... 74
3.3.2 Premissas da Análise do Controle Manual .............................................................. 74
3.4 Métodos de Controle de Potência de um Sistema de CCAT .................................. 76
3.4.1 Bases de Comparação entre os 2 (Dois) Métodos .................................................... 77
3.5 Características Desejadas para o Controle de um Sistema de CCAT ................... 77
3.6 Razões para Manter o Fator de Potência Elevado .................................................. 78
3.6.1 Do Ponto de Vista da Conversora ............................................................................... 78
3.6.2 Do Ponto de Vista do Sistema de CAAT.................................................................... 78
3.6.3 Fator de Potência Elevado no Retificador ................................................................ 78
3.6.4 Fator de Potência Elevado na Inversora ................................................................... 78
3.7 Características de um Sistema Real de Controle ..................................................... 79
3.7.1 Características Individuais do Retificador e da Inversora ..................................... 79
3.7.2 Operação do Retificador quando há Variação da Corrente Id ............................... 80
3.7.3 Queda de Tensão Alternada na Entrada da Inversora ............................................ 80
3.7.4 Queda de Tensão na Entrada do Retificador............................................................. 81
3.7.5 Alteração da Corrente de Referência – Sequência de Operação ............................ 82
3.7.6 Características Combinadas do Retificador e da Inversora ................................... 82
3.8 Operação das Conversoras como Retificador e Inversora ...................................... 82
3.8.1 C.C - Controle de Corrente Constante ..................................................................... 84
3.8.2 C.E.A- Controle do Ângulo de Extinção ................................................................... 85
3.9 Bibliografia ................................................................................................................... 87

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 71/162


72/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)
3. Controles para Sistemas de Corrente Contínua CCAT

A Figura 3.1 mostra um Circuito Equivalente de um Sistema CAAT – CCAT, sendo


expressas abaixo as equações de tensão na saída da Retificadora e da Inversora
assim como a resistência total de c.c do circuito.

Vdr = Vdo(1) . cosα - Tensão Interna no Retificador

Vdi = Vdo(2) . cosγ - Tensão Interna na Inversora

Rd = Rc1 + R − Rc2 - Resistência C.C.

Figura 3.1 – Circuito Equivalente de um Sistema CAAT – CCAT.

A Corrente na LT CCAT é expressa por:


V −V Vdo(1) . cos α − . Vdo(2) . cos γ
I d = dr di = ...(1)
Rd Rc1 + R − Rc2

3.1 Meios Básicos de Controle

Da equação (1), verifica-se que há 2 (duas) formas de variação da corrente na LT


CCAT:
• Alteração dos valores das Tensões C.A. de Alimentação as quais definem os
valores de Vdo(l) e Vdo(2).
• Alteração do Ângulo de Ignição (α) para o Retificador e o Ângulo de Extinção (γ)
para a Inversora.

3.1.1 Formas de Mudança na Tensão C.A.

A alteração da corrente por variação da tensão C.A. pode ser feita através:
• Controle da Excitação dos Geradores
• Ação dos Tapes nos Transformadores das Conversoras

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 73/162


3.1.2 Variações dos Ângulos (α) e (ɣ)

A variação destes ângulos ocorre por atuação no Sistema de Geração dos Pulsos.

3.2 Velocidades dos Controles

O tempo de resposta das variações dos controles tanto da Tensão (C.A) como dos
Ângulos é apresentado abaixo:
• Controle da Excitação dos Geradores
O tempo de resposta está condicionado a constante de tempo em vazio da máquina
(T’d0).
• Tempo para mudança de Tapes: 5 a 6 segundos por estágio
Os transformadores normalmente são dotados de tapes, numa faixa de ± 10% (8
posições com variações de 1,25% cada, para cima e para baixo da tensão nominal).
• Tempo para variação dos Ângulos (α) e (γ): 1 a 10 ms
Embora exista esta diferença nos tempos de resposta, os 2 (dois) métodos são
utilizados em conjunto.
Utiliza-se o Controle de Ignição (α) para uma ação rápida seguida por variação do
tape do transformador da Conversora.

3.3 Limitações do Controle Manual

3.3.1 Formas de Variação na Tensão C.C

Relaciona-se a seguir as formas de variação da Tensão C.C:


• curto-circuito ou outros distúrbios no Sistema C.A. de Alimentação
• Falta na Linha CCAT.
• Faltas nas Conversoras

3.3.2 Premissas da Análise do Controle Manual


A análise é feita com base na característica de regulação para um Ponto qualquer da
LT CCAT. Seja o Ponto P um ponto escolhido no meio da LT CCAT para
estabelecer-se as equações de regulação vista do Retificador e da Inversora,
conforme assinalado na Figura 3.2.

74/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


Figura 3.2 - Análise da Característica de Regulação para um Ponto P da LT CCAT.

Da figura acima; tem-se:

d
(
c1 1
)
V = V dr − + R + R . I = V
d do(1)
. cos α − (Rc1 + R1 ) . I
d
...(2)

V = Vdi + (− R + R ) . I = V . cos α − (R − R 2 ) . I ...(3)


d c2 2 d do(2) c2
d

supondo-se:
Vdo , Vdo , α e γ − constantes
(1) (2)
A Figura 3.3 permite efetuar-se uma análise da Característica de Regulação para o
Ponto P da LT CCAT, supondo-se variações a menor das Tensões de Entrada na
Retificadora e na Inversora, respectivamente, em degraus de 12,5%, como resultado
de perturbações seja no Lado C.A como no Lado C.C.
RETIFICADORA
Vd INVERSORA
100% V1(i)
100%
87,5%
N V2(i) INVERSORA
87,5%
C A
75,0% V3(i)
D B
75,0%
V1(r)

V2(r) RETIFICADOR

V3(r)

0,5 Id(n) 1,0 Id(n) 1,5 Id(n) 2,0 Id(n)

Figura 3.3 - Análise da Característica de Regulação para um Ponto P da LT CCAT


Variação das Tensões de Entrada na Retificadora e Inversora.

O Ponto N nesta figura representa a Intersecção das Características do Retificador e


da Inversora V1(r) e V1(i). A Corrente Normal é dada por Id = Id (n).

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 75/162


Ocorrendo uma redução de 12,5 % na Tensão Alternada da Inversora V2(i) e
mantendo-se as demais variáveis constantes (tensão na retificadora e ângulos α e γ
constantes), obtém-se, da Figura 3.3, o novo Ponto de Operação A, tendo-se como
resultado:
Tensão de Operação: 87,5% da Tensão Nominal Vd (n) → Consequência: Id = 1,5. Id (n)

Uma nova redução de 12,5% na Tensão Alternada da Inversora V3 (i) e mantendo-se


as demais variáveis constantes, obtém-se, da Figura 3.3, o novo Ponto de Operação
B, tendo-se como resultado:
Tensão de Operação: 75,0% da Tensão Nominal Vd (n) → Consequência: Id = 2,0. Id (n)

Supondo o mesmo processo acima, só que agora a redução de 12,5 % ocorre na Tensão
Alternada da Retificadora V2 (r), obtém-se, da Figura 3.3, o novo Ponto de Operação
C, tendo-se como resultado:
Tensão de Operação: 87,5% da Tensão Nominal Vd (n) → Consequência: Id = 0,5. Id (n)

Para uma redução de 25,0% na Tensão Alternada da Retificadora V3 (r) e mantendo-


se as demais variáveis constantes, obtém-se, da Figura 3.3, o novo Ponto de Operação
Q, tendo-se como resultado:
Tensão de Operação: 75,0% da Tensão Nominal Vd (n) → Consequência: Id = 0

Conclusões:

1 - A corrente Id é muito sensível às variações das Tensões de Alimentação do


Retificador e da Inversora.

2 - Tais flutuações nas Correntes Id são inadmissíveis devido ao risco de:


• Falha de Comutação na Inversora.
• Sobrecarga nas Válvulas e consequentes Danos.

3 - Necessidade de um Controle bastante rápido.

3.4 Métodos de Controle da Potência de um Sistema CCAT

A potência a ser transmitida pela LT CCAT é função da carga, sendo esta variável e
ditada por:
- ciclo diário (carga leve/intermediária/pesada);
- ciclo dia de semana/fim de semana;
- variações sazonais (estações do ano);
- natureza da carga (comercial, residencial, industrial, híbrida).

Assim, a potência a ser transmitida, para se ajustar à carga, deve ser variável. Para
obter-se esta variação pode-se:

76/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


• Manter a Corrente Constante e variar a Tensão na LT CCAT.
• Manter a Tensão Constante e variar a Corrente na LT CCAT.

3.4.1 Bases de Comparação entre os 2 (Dois) Métodos

As bases de comparação para que se possa efetuar a escolha de 1 (um) dentre os 2


(dois) métodos de controle de potência de um Sistema CCAT são:

• Limitação de Corrente Id devido a variações da Tensão C.A. dos Sistemas de


Alimentação ou na Tensão C.C. devido a faltas na LT CCAT ou nas Conversoras.

• Minimização das Perdas.

3.4.1.1 Sistema com Controle de Tensão Constante

As principais características desse Sistema de Controle são apresentadas abaixo:

• Correntes elevadas de curto-circuito tendo em vista a LT CCAT apresentar apenas


resistência para a sua limitação.

• As Perdas função de corrente (Joule) seriam menores devido a Corrente Id


depender da potência a ser transmitida.

• As Perdas função da Tensão (Corona e outras) seriam mais elevadas, porém este
tipo de perda é menos significativa que às funções da Corrente.

3.4.1.2 Sistema com Controle de Corrente Constante

Para esse Sistema, tem-se como principais características:


• Abertura de circuitos poderiam ocasionar sobretensões elevadas, mas na prática
esta condição é pouco frequente.
• Apresenta, em termos ideais, uma Corrente de Curto igual à Corrente Nominal.
Na prática chega a ser da ordem de 2 (duas) vezes a Corrente Nominal, devido ao
transitório resultante das descargas dos bancos de capacitores presentes.
• Os valores das Perdas Joule são constantes independentemente de se estar
transmitindo a Potência Nominal ou não.

Conclusão: As limitações das Correntes nas Válvulas fazem com que o Método da
Corrente Constante seja o escolhido.

3.5 Características Desejadas para o Controle de um Sistema de CCAT

As principais características desejadas para o Controle de um Sistema de CCAT


são apresentadas abaixo:

• Limitação da Corrente Máxima de modo a evitar danos nas Válvulas e outros


dispositivos → Id =constante;

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 77/162


• Limitação das flutuações de Corrente (Id) quando da ocorrência de flutuações na
Tensão (C.A.) de Alimentação → Ld = constante (presença do reator de
alisamento no Sistema CCAT);

• Conservar o f.p. tão alto quanto possível → α ↓ , β↓ (valores de α e β baixos).

• Evitar Falhas de Comutação no Inversor → γ (necessidade de se dotar o


mín
Sistema de Controle de um valor de ângulo γ mínimo).

• No caso de Válvulas constituídas por Associação Série de Tiristores, permitir que


a Tensão Anodo-Catodo atinja um dado valor o suficiente para causar a ignição
simultânea de todos os elementos → α mín (necessidade de se dotar o Sistema de
Controle de um valor de ângulo α mínimo).

3.6 Razões para Manter o Fator de Potência Elevado

3.6.1 Do Ponto de Vista da Conversora

• Reduzir os esforços nas Válvulas e Circuitos Amortecedores.


• Manter a Potência das Conversoras tão elevada quanto possível para uma dada
Corrente e Tensão.

3.6.2 Do Ponto de Vista do Sistema CAAT

• Minimizar as quedas de tensão para os Terminais C.A. da Conversora a medida


que a carga aumenta.
• Minimizar a variação de Corrente e as Perdas na Linha CCAT para a
Conversora.
O fator de potência (f.p) pode ser elevado adicionando-se Capacitores "Shunt".
Como desvantagens citam-se o custo desses equipamentos e a necessidade de
dispositivos de Manobras (chaves/disjuntores).

3.6.3 Fator de Potência Elevado no Retificador


1
f . p = cos Ø = (cosα + cos (α + µ )) ...(4)
2
• O Ângulo (α) deve ser o menor possível.
• Devido à necessidade de disparo simultâneo de todos os Tiristores de uma
Válvula Multianodo α = α mín ≅ 5º

3.6.4 Fator de Potência Elevado na Inversora


1
f . p = cos Ø = (cos β + cos (β + µ )) ...(5)
2
• De modo a evitar falha de Comutação γ = γ mín ≅ 8º

78/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


3.7 Características de um Sistema Real de Controle

3.7.1 Características Individuais do Retificador e da Inversora

O estudo do Sistema de Controle é feito com base nas Características de Regulação


do Retificador e da Inversora para um dado ponto ao longo da Linha CCAT.

Supondo os Terminais do Retificador o Ponto escolhido P, as equações de


regulação pertinentes para o Retificador e a Inversora são apresentadas abaixo,
estando ambas as equações representadas na Figura 3.4.
Vdo = Vdo(1) . cosα − Rc1 . I d ...(6)

V = V . cos γ + R − R . I , supondo R > R ...(7)


do do( 2)  c2 d c2 

Vd (α) = cte
A

CARACTERÍSTICA
DO RETIFICADOR
E
E'
CARACTERÍSTICA DA
V1 (i)
INVERSORA ( ) = cte

O O'
Id
REAL

IDEAL

Figura 3.4 - Análise das Características de Regulação do Retificador e da Inversora.


Ponto P: Terminais do Retificador

Desta figura tem-se o Ponto E como o de Operação do Sistema CCAT, podendo ser
constatado:
- Retificadora: controla a Corrente (Sistema de Pulsos).
- Inversora: controla a Tensão (através do tapes dos transformadores das
Conversoras).

A reta vertical AEO corresponde a uma situação idealizada do controle de corrente


constante. Na realidade, existe um retardo representado pelo tempo da medição da
corrente que transita na LT CCAT e da comparação deste sinal com a corrente de
referência. Do resultado destes, têm-se uma emissão do sinal correspondente pelo
gerador de pulsos, para variação do ângulo de disparo ( α ) visando ao ajuste da
corrente desejada. A reta inclinada AE’O’ representativa da situação real do
controle de corrente constante no sistema em estudo.

O Ponto E’ representa o novo Ponto real de Operação.

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 79/162


Cumpre assinalar que os Reatores de Alisamento (Ld) a serem instalados em série na
LT CCAT têm por objeto amortecer as variações rápidas das correntes nas
mesmas facilitando o trabalho dos Reguladores.

3.7.2 Operação do Retificador quando há Variação na Corrente Id

Podem-se visualizar 2 (duas) situações para o valor medido da Corrente Id que


transita na LT CCAT:

• Valor medido de Id é menor que a Corrente de Comando:

O Regulador atua no Sistema de Geração de Pulsos fazendo com que os mesmos


adiantem a referência de tempo, isto é, o Regulador diminui o ângulo de ignição
(α). Em consequência a Tensão do Retificador aumenta e a Corrente Id também
aumenta até atingir um valor igual ao de Comando ou de Referência.

• Valor medido de Id é maior que a Corrente de Comando:

Neste caso o Sistema de Geração de Pulsos é atrasado de modo a aumentar o


ângulo de ignição (α). A Tensão do Retificador diminui e em consequência a
Corrente Id também diminui ate atingir um valor igual ao de Comando ou de
Referência.

3.7.3 Queda de Tensão Alternada na Entrada da Inversora

A análise a seguir é feita considerando-se uma queda de tensão alternada na Entrada


da Inversora ΔVdi como representado na Figura 3.5. Com a queda de tensão ΔVdi, o
novo Ponto de Operação passa de E para E’. Em adição, tem-se:
• A Corrente Id permanece substancialmente constante.
• Potência é reduzida na proporção da Tensão.
• O Transformador da Inversora, através da mudança de tapes, tenderia retomar o
valor de Tensão Vd ao valor original sendo evidente que haverá um limite de tape
acima do qual não será mais possível esta compensação.

Vd
(α) = cte
RETIFICADOR

E
ΔVdi

E'
INVERSORA

ΔIi

Figura 3.5 - Análise das Características de Regulação do Retificador e da Inversora


Terminais do Retificador – Queda de Tensão na Entrada na Inversora.

80/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


3.7.4 Queda de Tensão Alternada na Entrada do Retificador
Supondo agora que a queda de tensão ΔVdr tenha ocorrido na Entrada no
Retificador, como indicado na Figura 3.6, a ocorrência de uma Queda de Tensão
A-A’ na Retificadora leva a uma condição operativa em que a nova Curva
Característica (A’B’O) não intercepta mais a Característica do Inversor (E’E).
A Corrente e a Tensão C.C. se anulam após um transitório definido pelos
Capacitores/Reatores. Numa condição menos crítica, grandes variações de Id
podem ocorrer.
• Conclusão: De modo a evitar uma grande variação de Corrente e Potência causada
pela Queda de Tensão Alternada, a Inversora é equipada com um
Regulador de Corrente operando a um valor menor que do
Retificador.
Vd
= mín = cte
A
V = V1

B
E' RETIFICADOR
ΔVdr
E
= cte
A' INVERSORA

B'
= mín
V = V2

Id
O

Figura 3.6 - Análise das Características de Regulação do Retificador e do Inversor


Terminal do Retificador – Queda de Tensão na Entrada no Retificador.

A Figura 3.7 reanalisa a questão anterior da queda de tensão na Entrada do


Retificador, onde a Inversora está equipada com um Regulador de Corrente
operando a um valor menor que o do Retificador. Como se pode observar, o novo
Ponto de Operação passa a ser E’.
Vd
= mín
A V = V1

ΔVdi E
mín
A'

INVERSORA
E'

CORRENTE DE REFERÊNCIA
PARA O RETIFICADOR

Id
O
ΔId

CORRENTE DE REFERÊNCIA
PARA A INVERSORA

Figura 3.7 - Análise das Características de Regulação do Retificador e da Inversora


Terminal do Retificador – Variação da Tensão de Entrada da
Inversora.

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 81/162


ΔId - Margem de Corrente (= 15% Id) de modo a atender eventuais erros nos
Aparelhos de Medição e Controle.
E’- novo Ponto de Operação.
Inversora: controla Corrente;
Retificador: controla Tensão.

• Conclusão: Tanto Vd como Id foram diminuídos, havendo diminuição na Potência


C.C. transmitida, porém evitando a Perda Total da Potência a ser
transmitida.

3.7.5 Alteração da Corrente de Referência - Sequência de Operação


A sequência de operação para variar a Corrente de Referência é apresentada a seguir:
• Para aumentar a Corrente Ordem, primeiro aumenta-se a Corrente Ordem do
Retificador e posteriormente a da Inversora.
• Para diminuir a Corrente Ordem do Retificador, primeiro reduz-se a da
Inversora e posteriormente a do Retificador.

3.7.6 Características Combinadas do Retificador e da Inversora

As seguintes características são comuns tanto para a Retificadora como para a


Inversora:
• Dada à necessidade de haver reversão de potência num Sistema de Transmissão
CCAT, uma mesma Estação Conversora deve operar como Retificador ou como
Inversora.
• A inversão de Potência é realizada em termos de inversão de Tensão C.A. e não
da Corrente.
• Durante as reversões de potência e tensão, a capacitância da LT CCAT deve ser
incialmente descarregada e depois carregada com a tensão oposta. O Tempo de
Reversão é dado por:

C . Δ Vd
T = ...(8)
Δ Id
onde:
- Δ Vd - variação da Tensão C.C.
- Δ Id - Margem da Corrente.
- C - Capacitância da LT CCAT.

3.8 Operação das Conversoras como Retificador e Inversora

A Figura 3.8 apresenta as características dos Controles para o Retificador e a


Inversora em um Sistema de Transmissão CCAT: controle dos Ângulos de Ignição
(α) e Extinção (γ ) e controle de Corrente Constante Id.

82/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


Característica para a Conversora I Característica para a Conversora II

Figura 3.8 - Sistema de Transmissão CCAT - Características dos Controles para o


Retificador e a Inversora.

A Figura 3.9 mostra os lugares geométricos dos controles em estudo discriminados


sucintamente abaixo. Uma análise detalhada de cada um destes 3 (três) controles é
feita em sequência.

• CIA - Controle do Ângulo de Ignição

Responsável pelo segmento quase horizontal da Característica de Controle de


uma Conversora operando como um Retificador.

• C.C. - Corrente Constante

Responsável pelo segmento quase vertical.

• CEA - Controle de Ângulo de Extinção

Responsável pelo segmento quase longitudinal da Característica de Controle de


uma Conversora operando como Inversora.

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 83/162


Figura 3.9 - Controles das Conversoras – Retificador – Inversora.

3.8.1 C.C. – Controle de Corrente Constante – ver Figura 3.10

• Medição da Corrente Id
• Comparação de Id com um Valor de Referência o qual é a Corrente de Comando
Id(0).
• Amplificação do Sinal de Erro expresso por (Id(0) - Id)
• Sistema de Produção de Pulsos envia sinal para atrasar ou avançar o Ângulo (α)
de modo a aumentar ou diminuir a Tensão Vd e em consequência manter a
Corrente na Linha Id igual a Corrente de Comando.

ΔId - a Conversora
pode operar como
Retificadora ou
Inversora usando o
mesmo Sistema de
Controle C.C.

Figura 3.10 - Análise do Controle de Corrente Constante – C.C. - Diagrama de


Blocos da Lógica de Controle.

84/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


3.8.2 CEA - Controle de Ângulo de Extinção – Figuras 3.11 e 3.12

A Figura 3.11 apresenta a variação máxima do Ângulo de Ignição (α), em termos do


instante máximo a ser disparado o sinal para ignição dos tiristores, sendo possível
atender ainda a equação (15) de modo a assegurar que não existe risco de reignição
da válvula que está se extinguindo (desionização com sucesso do arco elétrico).

Figura 3.11 - Análise do CEA - Controle do Ângulo de Extinção (γ ) - Cálculo do


Tempo Máximo para Ignição do Inversor.

O instante t1 associado ao valor de αmáx é determinado com base nas seguintes deduções:
- Corrente de Comutação:

3 . Em
i3 (t ) = . cos α − cos ω . t ...(9)
2 .ω . L
C

ω . t = α =π − β - Início da Comutação ...(10)


1

ω. t = α + µ =π −γ - Término da Comutação ...(11)


2

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 85/162


para γ = γ - valor nominal para o Ângulo de Extinção
n
3 . Em
I = . cos ω . t + cos γ ...(12)
d 2 .ω . L 1 n
C

3 . Em . cos ω . t 1 + cos γ = 2 .ω . L . I = 2 .ω . L . I ...(13)


n c d c d

− 3 . Em . cos ω .t 1 = 3 . Em . cos γ − 2. X c . I d
n
2. X
→ cos ω .t1 = cos β = cos γ − c .I ...(14)
n 3 . Em d
e finalmente:
1
t = . (π − β ) ...(15)
1 ω
onde:
t - Tempo para o qual a Ignição da Inversora deverá ocorrer para proporcionar um
1
Ângulo de Extinção igual ao desejado γ ( n).
A Figura 3.12 apresenta um Diagrama de Blocos da Lógica do Controle do CEA -
Controle de Ângulo de Extinção ( γ ) , com base na equação (14).

Figura 3.12 - Análise do CEA - Controle de Ângulo de Extinção (γ)


Diagrama de Blocos da Lógica do Controle.

86/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


3.9 – Bibliografia

1 – Direct Current Transmission – Volume I – Edward Wilson Kimbark, DSc. – B.P.A –


Edition Wiley-InterScience.

2 – HVDC Ground Electrode Design – Electric Power Research Institute – EPRI EL-
2020 – Project 1467-1 – Final Report – August/1981.

3 – Curso de Transmissão de Corrente Contínua – Promon – 1986.

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 87/162


88/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)
Capítulo 04 – Harmônicos nos Sistemas CAAT e CCAT

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 89/162


90/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)
ÍNDICE

4.1 Harmônicos Característicos no Lado CAAT................................................... 93


4.1.1 Forma de Onda de Corrente ............................................................................. 93
4.1.2 Análise de Fourier da Forma de Onda de Corrente C.A. .............................. 94
4.1.3 Harmônicos da Corrente C.A. .......................................................................... 96
4.2 Harmônicos Característicos no Lado CCAT................................................... 100
4.2.1 Harmônicos Característicos de Tensão ........................................................... 100
4.2.2 Magnitude dos Harmônicos Característicos de Tensão ................................. 100
4.2.3 Harmônicos Característicos de Corrente ........................................................ 101
4.2.4 Circuitos utilizados para os Cálculos das Correntes Harmônicas C.C ........ 101
4.2.5 Harmônicos de Tensão C.C. ............................................................................ 102
4.3 Harmônicos Não Característicos ...................................................................... 103
4.3.1 Causas ................................................................................................................. 103
4.3.2 Amplificação de Harmônicos e Instabilidade Harmônica ............................ 104
4.4 Efeitos Principais dos Harmônicos nos Sistemas CAAT e CCAT ................ 104
4.5 Interação entre Conversoras e o Sistema CAAT............................................. 105
4.5.1 Características da Conversora como Carga para o Sistema CAAT ............. 105
4.5.2 Ângulo de Deslocamento entre a Onda de Corrente e a Onda de Tensão..... 105
4.5.3 Melhoria do Fator de Potência ......................................................................... 105
4.5.4 Métodos de Melhoria do Fator de Potência .................................................... 105
4.6 Harmônicos Característicos nos Lados CAAT e CCAT................................. 106
4.6.1 Geração de Harmônicos por uma Ponte Conversora ..................................... 106
4.7 Ressonâncias Série e Paralelo ........................................................................... 108
4.8 Filtros “Shunt” e Série ...................................................................................... 110
4.9 Estudo de Penetração de Harmônicos.............................................................. 111
4.10 Bibliografia ......................................................................................................... 114

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 91/162


92/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)
4 Harmônicos nos Sistemas CAAT e CCAT

4.1 Harmônicos Característicos no Lado CAAT

4.1.1 Forma de Onda de Corrente

A Figura 4.1 apresenta as formas de onda de corrente nas Fases ΦA, ΦB, ΦC de um
Sistema de CCAT.
Como se podem constatar, estas formas de ondas apresentam um conteúdo
harmônico, o qual pode ser quantificado através da aplicação da Série de Fourier,
visto serem estas ondas de natureza periódica. Para este cálculo, são estabelecidas as
seguintes premissas:
Premissas de Cálculo:

• Tensão C.A. de alimentação é senoidal, balanceada e de sequência positiva.


• Corrente Contínua é absolutamente constante sem "ripple" visto admitir-se um
Reator de Alisamento de valor infinito de indutância (Ld) conectado em série na
LT CCAT.
• As Válvulas têm suas ignições em intervalos de tempo iguais e igual a 1/6 do ciclo.
• Tempo de Condução das Válvulas: ω = (2. π )/3

Figura 4.1 – Forma de Onda da Corrente nas Fases ΦA, ΦB, ΦC.

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 93/162


• Definição da Onda de Corrente i (θ ):

π π
i (θ )= I d para − < θ < ...(1)
3 3
2π π π 2π
i (θ )= 0 para − <θ< − e + <θ< ...(2)
3 3 3 3
2π 2π
i (θ )= − I d para − π < θ < − e <θ<π ...(3)
3 3

4.1.2 Análise de Fourier da Forma de Onda de Corrente C.A.

A Análise de Fourier da onda de corrente C.A é feita representando a função


periódica em termos de componentes senoidais de diferentes frequências.
A
[
F (θ )= o + ∑ ∞h = 1 Ah . cos (h .θ ) + Bh . sen (h .θ )
2
] ...(4)

1
. ∫0 F (θ ) . dθ

A0 = ...(5)
π
1
. ∫0 F (θ ). cos (h .θ ). dθ

Ah = ...(6)
π
1
. ∫0 F (θ ). sen (h .θ ). dθ

Bh = ...(7)
π
onde:
A0 - Valor Médio da Função F
Ah , Bh - Componentes Retangulares do Harmônico de Ordem h.
Fasor correspondente:
Ah − j Bh = C h | φ ...(8)
h

C h = A 2 + B 2 = Valor de Pico ...(9)


h h

⎛ − Bh ⎞
θ h = tan −1 . ⎜⎜ ⎟⎟ ...(10)
A
⎝ h ⎠
Face à forma de onda da corrente i (θ ) , tem-se 2 (dois) Pulsos: o Positivo e o
Negativo.
- Análise do Pulso Positivo:

Em relação à simetria, as funções periódicas podem ser classificadas como sendo:


→ Função Par : simetria no eixo y;
→ Função Ímpar: simetria no centro.

94/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


Para o pulso em questão, a função é do tipo par, logo:
Bh = 0 (não há termos em senos, só cosenos) ...(11)
1 +π 1 +ω / 2
Ah = ∫π F (θ ) . cos (h .θ ). d θ = ∫ω 1 . cos (h .θ ). d θ =
π − π − /2
...(12)
2 ⎛ ω ⎞
. sen ⎜ h . ⎟
π .h ⎝ 2 ⎠

A0 1 +ω / 2 ω
= ∫ω dθ = ...(13)
2 2 .π − /2 2 .π
portanto:
2 ⎛ ω ω 1 2 .ω 1 3 .ω ⎞ ...(14)
F + (θ ) = . ⎜ + sen . cos θ + . sen . cos 2 .θ + . sen . cos 3.θ + ... ⎟
π ⎝ 4 2 2 2 3 2 ⎠
para o período de condução ( ω ) de 2 válvulas:

2 .π 3 2 .π ...(15)
ω = → sen . = sen.π = 0
3 2 3
Não há Harmônicos de 3ª ordem nem seus múltiplos!

- Análise do Pulso Negativo:

Podem ser utilizados 2 (dois) Métodos:

- 1º Método: Utilização das Equações da Série de Fourier


- 2º Método: Defasagem de π radianos a Função.

Para o 2ª Método:

1) Defasa-se de π radianos a Componente Fundamental


Defasa-se de ± h. π radianos nos demais Harmônicos

. h é par: cos ( θ ± h .π ) = + cosθ ...(16)


. h é ímpar: cos ( θ ± h .π ) = − cosθ ...(17)

→ Harmônicos de Ordem Ímpar possuem o sinal trocado!

2) Inverter o Pulso o que significa inverter o Sinal de cada Termo.

2 ⎛ ω ω 1 2 .ω 1 3 .ω ⎞ ...(18)
F + (θ ) = . ⎜ + sen . cos θ − . sen . cos 2 .θ + . sen . cos 3.θ + ... ⎟
π ⎝ 4 2 2 2 3 2 ⎠

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4 ⎛ ω 1 3 .ω 1 5 .ω ⎞ ...(19)
F (θ ) = F + (θ ) + F − (θ )= . ⎜ sen . cosθ + . sen . cos 3.θ + . sen . cos 5 .θ + ... ⎟
π ⎝ 2 3 2 5 2 ⎠
2 .π 3 2 .π
como ω = → sen ( ) . ( ) = sen .π = 0 ...(20)
3 2 3

A expressão final da forma de corrente na Fase ΦA é fornecida abaixo:


2 3 ⎛ 1 1 1 1 ⎞
iφ a = . Id . ⎜ cosθ − . cos 5.θ + . cos 7 .θ − . cos11.θ + . cos13.θ − ...⎟ ...(21)
π ⎝ 5 7 11 13 ⎠

4.1.3 Harmônicos da Corrente C.A.

As Figuras 4.2 a 4.9 apresentam os conteúdos harmônicos de ordem 5, 7, 11, 13, 17,
19, 23 e 25, respectivamente, em função dos Ângulos de Ignição (α ) e de
Comutação (µ ). Como se pode constatar destas figuras, para cada ordem h de
harmônico, à medida que os ângulos notáveis (α ) e (µ ) aumentam, o conteúdo
harmônico diminui, visto a onda se assemelhar cada vez mais a uma função do tipo
senoidal.

Ângulo de Comutação (Graus)


Figura 4.2 – 5º Harmônico - Conversora de 6 Pulsos
Função dos Ângulos Notáveis [1].

96/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


Ângulo de Comutação (Graus)
Figura 4.3 – 7º Harmônico - Conversora de 6 Pulsos
Função dos Ângulos Notáveis [1].

Ângulo de Comutação (Graus)


Figura 4.4 – 11º Harmônico - Conversora de 6 ou 12 Pulsos
Função dos Ângulos Notáveis [1].

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Ângulo de Comutação (Graus)
Figura 4.5 – 13º Harmônico - Conversora de 6 ou 12 Pulsos
Função dos Ângulos Notáveis [1].

Ângulo de Comutação (Graus)


Figura 4.6 – 17º Harmônico - Conversora de 6 Pulsos
Função dos Ângulos Notáveis [1].

Ângulo de Comutação (Graus)


Figura 4.7 – 19º Harmônico - Conversora de 6 Pulsos
Função dos Ângulos Notáveis [1].

98/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


Ângulo de Comutação (Graus)
Figura 4.8 – 23º Harmônico - Conversora de 6 ou 12 Pulsos
Função dos Ângulos Notáveis [1].

Ângulo de Comutação (Graus)


Figura 4.9 – 25º Harmônico - Conversora de 6 ou 12 Pulsos
Função dos Ângulos Notáveis [1].

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 99/162


4.2 Harmônicos Característicos no Lado CCAT

4.2.1 Harmônicos Característicos de Tensão

Na Figura 4.10 acha-se representada a forma de Onda da Tensão na saída do


Retificador. Relaciona-se a seguir os fatores que influenciam os Níveis de
Conteúdos dos Harmônicos na Onda de Tensão na Saída do Retificador:
• número de Pulsos da Ponte Conversora
• reatância do Transformador da Conversora
• reatância do Reator de Alisamento
• impedância da LT CCAT.
• Ângulo de Ignição (α) e Ângulo de Extinção (γ) da Ponte Conversora
• presença de Filtros C.C.
• nível de Corrente transmitida na LT CCAT.
• Modo de Operação do Sistema de CCAT (Monopolar, Bipolar, Homopolar)
• resistividade elétrica aparente do solo

A expressão da Onda Harmônica de Tensão Vd(h) na Saída do Retificador é


calculada por:

ah 2 + bh 2
Vd(h ) = ...(22)
2
Vd(h) - Valor eficaz do Harmônico de Tensão de Ordem h

onde:
Vdo ⎡ ⎛ µ ⎞ ⎤ ⎡ µ ⎤
a(h ) = 2
.{ + (h − 1) . cos ⎢(h + 1).⎜α + ⎟ ⎥ . cos ⎢(h + 1). ⎥
h −1 ⎣ ⎝ 2 ⎠ ⎦ ⎣ 2 ⎦
...(23)
⎡ ⎛ µ ⎞ ⎤ ⎡ µ ⎤
− (h − 1) . cos ⎢(h − 1).⎜α + ⎟ ⎥ . cos ⎢(h − 1). ⎥ }
⎣ ⎝ 2 ⎠ ⎦ ⎣ 2 ⎦

Vdo ⎡ ⎛ µ ⎞ ⎤ ⎡ µ ⎤
b(h ) = 2
.{ + (h − 1) . sin ⎢(h + 1).⎜α + ⎟ ⎥ . sin ⎢(h + 1). ⎥
h −1 ⎣ ⎝ 2 ⎠ ⎦ ⎣ 2 ⎦
...(24)
⎡ ⎛ µ ⎞ ⎤ ⎡ µ ⎤
− (h − 1) . sin ⎢(h − 1).⎜α + ⎟ ⎥ . sin ⎢(h − 1). ⎥ }
⎣ ⎝ 2 ⎠ ⎦ ⎣ 2 ⎦

4.2.2 Magnitude dos Harmônicos Característicos de Tensão

Valores de 100 a 20.000 V em ambos os terminais (Retificadora e Inversora) podem


ser gerados para uma determinada frequência. Entre ambos os Terminais
Retificador e da Inversora existe uma diferença de tensões harmônicas para uma
determinada frequência, podendo resultar em desde poucas dezenas a valores na
faixa de 2 kV.

100/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


Figura 4.10 - Forma de Onda da Tensão C.C na Saída do Retificador.

4.2.3 Harmônicos Característicos de Corrente

Estas Correntes são calculadas considerando-se o Circuito Equivalente (do Lado


C.C) visto dos terminais da Conversora.

- substitui-se a Inversora por um curto-circuito e calcula-se a impedância vista pela


Conversora entre os Pontos A e B conforme indicado na Figura 4.11. Para cada
frequência o Sistema CCAT apresentará um dado valor de impedância Z(h).

- o valor eficaz da Corrente Harmônica de Ordem ‘h’ é obtido por:


I(h) = V(h) / Z(h) ...(25)

4.2.4 Circuitos utilizados para os cálculos das Correntes Harmônicas C.C.

a) Arranjo Físico:

b) Circuito Equivalente:

Figura 4.11 - Forma de Onda da Tensão C.C na Saída do Retificador [1].

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4.2.5 Harmônicos de Tensão C.C.

Utilizando-se das equações (22) a (24), obtém-se os Níveis de Conteúdos


Harmônicos para a forma de Onda da Tensão na Saída do Retificador para cada
ordem de harmônico de interesse (6, 12, 18, 24, ...), em função dos Ângulos de
Ignição (α ) e de Comutação (µ ). Como se pode constatar das Figuras 4.12 a 4.15,
para cada ordem h de harmônico, à medida que os ângulos notáveis (α ) e
(µ ) aumentam, o conteúdo harmônico diminui, visto a onda se assemelhar cada
vez mais à uma função do tipo senoidal.

Ângulo de Comutação (Graus)

Figura 4.12 – 6º Harmônico - Conversora de 6 Pulsos Função dos Ângulos Notáveis [1].

Ângulo de Comutação (Graus)


Figura 4.13 – 12º Harmônico - Conversora de 6 ou 12 Pulsos Função dos Ângulos
Notáveis [1].

102/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


Ângulo de Comutação (Graus)
Figura 4.14 – 18º Harmônico - Conversora de 6 Pulsos Função dos Ângulos Notáveis [1].

Ângulo de Comutação (Graus)

Figura 4.15 – 24º Harmônico - Conversora de 6 ou 12 Pulsos Função dos Ângulos


Notáveis [1].

4.3 Harmônicos Não Característicos

4.3.1 Causas
Os harmônicos não característicos são múltiplos não inteiros da frequência
fundamental, sendo as principais causas de geração dos harmônicos não
característicos listadas abaixo:

• Disparo não simétrico das Válvulas devido a desequilíbrio de tensão ou


distorção nas formas de Onda dos Harmônicos, sendo os pulsos com
espaçamento diferente de 60°.

• Circuitos Geradores de Pulso não são perfeitos e em consequência erros da


ordem de ± 1,5º para a Inversora já foram registrados.

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 103/162


• Presença de Correntes Harmônicas no Sistema CAAT de 3º harmônicos e seus
múltiplos ímpares.

• Desequilíbrios entre as impedâncias no Sistema CAAT de alimentação das


Conversoras.

4.3.2 Amplificação de Harmônicos e Instabilidade Harmônica

A amplificação de harmônicos e o consequente resultado de instabilidade


harmônica se devem aos seguintes fatores:

• Harmônicos não Característicos são adicionados aos Harmônicos Característicos


resultando em novas Distorções Harmônicas.

• o Sistema de Controle pode se estabilizar após várias oscilações produzindo


elevados valores de Corrente Harmônicas.

• ou então pode entrar em oscilação levando o Sistema a uma instabilidade


harmônica total.

• o problema se torna mais acentuado se o Sistema CAAT e o Filtro apresentarem


uma ressonância paralela a uma frequência correspondente a um dos Harmônicos
Não Característicos.

4.4 Efeitos Principais dos Harmônicos nos Sistemas CAAT e CCAT

Os principais efeitos dos Harmônicos nos Sistemas CAAT e CCAT são


apresentados a seguir:

• Aquecimento, perdas adicionais e eventualmente danos em Motores, Geradores,


Transformadores e Bancos de Capacitores.
• Aceleração do Processo de envelhecimento do dielétrico em Transformadores e
Capacitores Estáticos.
• Perda de precisão e eventual queima em Transformadores de Medição e
Medidores.
• Diminuição na potência e no conjugado desenvolvido por Motores.
• Mau funcionamento da Proteção, Equipamentos de Telecomando e
Telecomunicação.
• Interferência em Sistemas de Comunicação (Telefonia principalmente) na faixa
de Freqüência de 100 a 4000 Hz.
• Interferência em Equipamentos sensíveis como Computadores, Sensores
Voltimétricos, etc. (Circuitos de Sinalização para Tração: 500 Hz).
• Instabilidade no Controle da Conversora.
• Possibilidade de ocorrência de Ressonância com o Sistema para uma dada
frequência (acarretando sobretensões).

104/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


4.5 Interação entre Conversoras e o Sistema CAAT

4.5.1 Características da Conversora como Carga para o Sistema CAAT

• Não apresenta um fator de potência unitário.

• Injeta Correntes Harmônicas no Sistema.

4.5.2 Ângulo de Deslocamento entre a Onda de Corrente e a Onda de Tensão

Se a Onda de Tensão ou de Corrente é distorcida, o ângulo de deslocamento é


medido em relação a diferença de fases entre as componentes fundamentais
dessas 2 (duas) ondas.

A Componente Fundamental da Onda de Corrente está atrasada com relação a


correspondente componente da Onda de Tensão, a Conversora absorve potência
reativa.

4.5.3 Melhoria do Fator de Potência

As principais vantagens da melhoria do Fator de Potência das Conversoras são:

• Utilização mais efetiva das Conversoras fazendo uso das Potências Nominais das
Válvulas.
• Redução dos efeitos de Esforços nas Válvulas e no Sistema de Amortecimento
Elétrico.
• Minimização da Corrente Nominal e das Perdas no Sistema de Transmissão de
energia para a Conversora.
• Limitação do valor de Regulação de Tensão junto ao Barramento C.A. das
Conversoras

FP = F.Distorção x F.Deslocamento ...(26)

4.5.4 Métodos de Melhoria do Fator de Potência

Para melhoria do fator de potência das Conversoras são utilizados os seguintes


recursos:

• Equipamentos Estáticos de Compensação Reativa (Reator e Capacitor Controlado


a Tiristores);
• Banco de Capacitores "Shunt";
• Utilização de várias Conversoras conectadas em série (Pontes) em substituição a
uma única Conversora Equivalente (apresenta como desvantagem a necessidade
de utilização de diferentes Sistemas de Controles, Sistema de "By-Pass" de
Diodos, etc.);
• Na Área Industrial, utilização de Pontes Semi Controladas (neste caso a
Conversora opera ou como Retificadora ou como Inversora).

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 105/162


4.6 Harmônicos Característicos nos Lados CAAT e CCAT

4.6.1 Geração de Harmônicos por uma Ponte Conversora

• Conversoras geram Harmônicos nos Lados de CAAT e CCAT.

• Ordem dos Harmônicos Característicos produzidos por uma Conversora de ‘p’


Número de Pulsos. Lado C.C. → p.h; Lado C.A. → p.h ±1

• Amplitude dos Harmônicos diminui à medida que aumenta a Ordem do


Harmônico ‘h’: (Ih/h).

Nº de Pulsos Lado C.C. Lado C.A.


(p) (Ordem do Harmônico) (Ordem do Harmônico)
p.h p.h ± 1
6 0, 6, 12, 18, 24 ... 1, 5, 7, 11, 13, 17, 19, 23, 25 ...

12 0, 12, 24 ... 1, ... , 13, ... , 23 ... , 25 ...

Quanto a ordem dos harmônicos (h) gerados, têm-se:


- 1, 4, 7, 10, 13 ... → harmônicos de sequência positiva;
- 2, 5, 8, 11, 14 ... → harmônicos de sequência negativa;
- 3, 6, 9, 12, 15 ... → harmônicos de sequência zero.

A Figura 4.16 apresenta as formas de ondas de Harmônicos de sequência positiva e


negativa e a Figura 4.17, os de sequência zero.

Como se constata da Figura 4.16 para o harmônico de frequência fundamental


(primeiro harmônico - ordem h = 1) visto do eixo das ordenadas Y: inicialmente
passa a onda da Fase ΦA, depois a onda da Fase ΦB e após a onda da Fase ΦC.

Para o segundo harmônico (ordem h = 2), tem-se que, visto do mesmo referencial
citado acima (Eixo Y): inicialmente passa a onda da Fase ΦA, depois a onda da
Fase ΦC e após a onda da Fase ΦB. Ou seja, ocorre a inversão das Fases ΦB e ΦC
para o caso do 2º harmônico (e seus afins 5, 8,...).

Quanto aos harmônicos de ordem 3 (e seus múltiplos 6, 9, ...), a Figura 4.17


apresenta as suas formas de onda para as 3 (três) fases do sistema trifásico,
podendo-se constatar que elas se acham em fase.

106/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


Figura 4.16 - Forma de Onda do 2º Harmônico.

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 107/162


Figura 4.17 - Forma de Onda do 3º Harmônico.

4.7 Ressonâncias Série e Paralelo

Há 2 (dois) tipos de ressonância em um Sistema Elétrico: a série e a paralela. Em


ambas, ocorre um casamento de impedâncias, com magnitudes iguais e sinais
opostos. A Figura 4.18a apresenta um caso exemplo de ressonância série. A

108/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


impedância equivalente do Sistema Elétrico a uma dada frequência vista do
barramento onde se acha conectado o transformador da Conversora é suposta
capacitiva, igualando-se à impedância indutiva desse transformador a essa dada
frequência.

O resultado é uma impedância nula vista da fonte geradora de harmônicos, tendo-


se como consequência, sobrecorrentes injetadas nesse local para o Sistema
Elétrico.

A Figura 4.18b apresenta o caso da ressonância paralela, em que a impedância


equivalente do sistema elétrico a uma dada frequência apresenta a mesma
magnitude com sinal oposto à impedância equivalente dos filtros em conjunto
com os bancos de capacitores conectados no barramento, achando-se todas estas
impedâncias em paralelo. O resultado é uma impedância infinita vista da fonte
geradora de harmônicos, acarretando sobretensões no Sistema Elétrico.

Ambas as condições conduzem a riscos de danos irreversíveis (queimas) nos


equipamentos que se acham conectados nos barramentos, sendo necessária a
realização de estudos específicos visando à identificação das condições operativas
no Sistema Elétrico que possam acarretar tais ocorrências e implementação de
medidas que impeçam estas ocorrências (através de restrições operativas associadas
a manobras de equipamentos e/ou uso de esquemas de proteção/bloqueio
adequados).

Figura 4.18 – Sistema Equivalente para Estudo de Ressonâncias.

Cumpre assinalar que, para análise da resposta em frequência do Sistema Elétrico


Z(ω), há necessidade de se efetuar o estudo para diferentes configurações de
evoluções temporais do Sistema Elétrico até um dado ano horizonte, e para cada
ano, serem realizadas simulações para diversas condições operativas tanto em
regime quanto sob condições de perturbação, considerando, para cada caso, o tipo
de geração (mínima ou máxima) e os regimes de cargas associados (leve,
intermediária e pesada), assim como levar-se em conta a manutenção programada
de máquinas/transformadores e demais equipamentos de compensação reativa.

A Figura 4.19 apresenta uma resposta típica em frequência de um Sistema Elétrico


Z(ω) para uma dada condição operativa.

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 109/162


Figura 4.19 – Resposta Típica em Frequência de um Sistema Elétrico Z(ω) para uma
dada condição operativa do Sistema Elétrico em estudo [1].

4.8 Filtros “Shunt” e Série

A Figura 4.20 apresenta 2 (dois) tipos de Filtros “Shunt” de Harmônicos: o de


Sintonia Única e o de Sintonia Dupla e os comportamentos das respostas das
impedâncias harmônicas Z(ω) destes Filtros. Uma descrição de cada um destes
equipamentos é feita a seguir.

Filtro de Sintonia Única:

Também denominado de Filtro de Passa Baixa (“Low Pass”), é dimensionado para


apresentar uma baixíssima impedância Harmônica a uma dada frequência e para
as demais frequências, um valor bastante elevado.

Filtro de Sintonia Dupla:

Também denominado de Filtro de Passa Alta (“High Pass”), é dimensionado para


apresentar uma elevada impedância Harmônica para uma dada faixa de
frequências e, para as frequências de ordem superior, um valor bem mais baixo.
As respostas das impedâncias harmônicas Z(ω) tanto do Filtro “Shunt” como do
Sistema Elétrico equivalente são obtidas para uma extensa variação da frequência.
A Conversora injeta as correntes harmônicas no Sistema Elétrico, sendo as
mesmas desviadas consoantes às naturezas dos Filtros conectados no barramento
de interesse, por um mecanismo ditado por divisor de corrente, face o paralelismo

110/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


existente entre estes. Em relação ao custo, o capacitor é responsável por 60% do
valor dos Filtros de Harmônicos, sendo o seu correto dimensionamento bastante
relevante.

O Filtro Série, instalado na LT CCAT em ambos os terminais, é modulado em 2


(dois) componentes, visando aumentar sua confiabilidade, em caso de avaria em
um. São denominados em Sistemas de Potência, de Reatores de Alisamento, e em
Sistemas Industriais, de Bobinas de Choque. Apresentam baixo Fator de
Qualidade (relação X/R) e valor de indutância da ordem de 1 Henry, e sua
principal finalidade é apresentar uma elevada impedância às correntes injetadas
pela Conversora, visando evitar flutuações na corrente c.c. que transita na LT
CCAT.

(a) (b)

(a) (b)
Figura 4.20a) Tipos de Filtros “Shunt” de Harmônicos- Sintonia Única/Sintonia Dupla.
b) Resposta em Frequência dos Filtros – Z(ω) [1].

4.9 Estudo de Penetração de Harmônicos

A Figura 4.21 representa o circuito equivalente resultante para cálculo da


penetração harmônica no Sistema Elétrico.
Para cada corrente harmônica de uma dada ordem gerada pela Conversora, são
calculados, para todos os barramentos do Sistema Elétrico, as correntes e tensões
harmônicas, visando avaliar se são atendidos, consoantes critérios estabelecidos
por Normas baseadas na experiência internacional de sistemas em operação ou

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 111/162


fixados pelas Concessionárias, os seguintes parâmetros que espelham a qualidade
da energia transmitida:
- Distorção Harmônica Individual Df e Total DT da Onda de Tensão:
Considerando-se todo o espectro de harmônicos gerados, seu cálculo é dado por:


DT = ∑ Df ...(27)
f =0

- Fator TIF (“Telephone Influence Factor”):

Expressa o efeito da forma de onda da corrente ou tensão que transita na LT, no


ruído telefônico, sendo calculado por:

∑ (k f . p f .V f ) 2
TIF =
f =0
...(28)

∑ f =1V f2
sendo:
kf – Fator de Acoplamento (5.f para o Fator C-Message e f/800 para o Psofométrico)

p f – Fator de Ponderação C-Message (ou para o Psofométrico/1000)

V f – Valor eficaz da tensão na LT na frequência f

f – frequência, em Hz.

- Produto I.T:

Representa a raiz quadrada do somatório do produto de correntes de várias


frequências, cada uma multiplicada pelo Fator TIF associado à frequência em tela.

I .T = ∑ f =1
(T f . LIf ) 2 ...(29)

sendo:
T f – valor do TIF para a frequência f
I f – valor eficaz da corrente a frequência f

Os fatores de ponderação psofométricos ou C-Message, expressam, em relação às


variações com a frequência, as seguintes variáveis:
- a sensibilidade do ouvido humano;
- a resposta do aparelho telefônico;
- o acoplamento mútuo existente entre a LT e o circuito telefônico.

O fator psofométrico é usado nos E.U.A e no Canadá e o fator C-Message, na


Europa, sendo que a máxima ponderação ocorre a 1000 Hz para o primeiro e 800
Hz para o segundo.

112/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


Nos estudos de penetração de harmônicos, os diversos componentes do Sistema
Elétrico, listados abaixo, são representados como:
- LT´s: por modelos de parâmetros distribuídos, sendo as reatâncias capacitiva e
indutiva variáveis segundo as ordens dos harmônicos e os parâmetros
internos da resistência e da indutância calculados considerando o Efeito
Pelicular nos Condutores;
- Transformadores: pela reatância de dispersão variável segundo as ordens dos
harmônicos, e um fator que possa corrigir o efeito da
distribuição da corrente nos enrolamentos função da frequência;
- Geradores: pela reatância subtransitória da máquina, variável segundo as ordens
dos harmônicos.
- Cargas: não são consideradas nos estudos iniciais, visando à maximização dos
resultados dos estudos, sob uma ótica conservativa.

1 1
Y = e Y = ...(30)
hF Z hS Z
hF hS

Z .Z
hF hS
V = .I ...(31)
h Z +Z hC
hF hS

V Z
h hF
I = = . I
hS Z Z +Z hC ...(32)
hS hF hS

V Z
h hS
I = = .I ...(33)
hF Z Z +Z hC
hF hF hS

Figura 4.21 – Circuito Equivalente para Cálculo da Penetração Harmônica.

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 113/162


4.10 Bibliografia

1– Direct Current Transmission – Volume I – Edward Wilson Kimbark, DSc. – B.P.A –


Edition Wiley-InterScience.
2– HVDC Ground Electrode Design – Electric Power Research Institute – EPRI EL-2020 –
Project 1467-1 – Final Report – August/1981.
3– Curso de Transmissão de Corrente Contínua – Promon – 1986.

114/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


Capítulo 05 – Utilização do Retorno pela Terra
ou pelo Mar em LT’s CCAT

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 115/162


116/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)
ÍNDICE

5.1 Razões Técnicas .......................................................................................................... 119


5.2 Características dos Sistemas de CCAT e CAAT ...................................................... 119
5.3 Problemas Criados pelo Sistema de CCAT utilizando Retorno pela Terra ........... 119
5.4 Medidas Adotadas para Mitigação dos Problemas .................................................. 120
5.5 Características das Correntes de Retorno pela Terra em C.A. e em C.C. ............. 121
5.6 Fenômenos do Aquecimento e Eletrosmose .............................................................. 126
5.7 Corrosão Eletrolítica ................................................................................................... 136
5.8 Bibliografia... ................................................................................................................ 142

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 117/162


118/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)
5. Utilização do Retorno pela Terra ou pelo Mar em LT’s CCAT

5.1 Razões Técnicas

As principais razões técnicas para utilização do retorno pela Terra (ou pelo Mar)
em LT’s CCAT são listadas a seguir:
• O custo de 2 (dois) Eletrodos de Aterramento nas 2 (duas) SE's Terminais
acrescido do custo da LT entre a SE e o Eletrodo é menor que o custo de um
retorno metálico.
• Para transmissão em longas distâncias, a resistência dos 2 (dois) Eletrodos
Terminais é maior que a resistência longitudinal do retorno metálico, o que
reduz as perdas Joule.
• Os investimentos com as Instalações podem ser feitos em Estágios:
- No Primeiro Estágio utiliza-se a instalação monopolar com retorno pela terra;
- No Segundo Estágio instala-se a 2a LT passando-se a operar na forma
Homopolar.
- No Terceiro e último Estágio a circulação da corrente nas 2 (duas) LT’s
CCAT é feita em sentido contrário (Modo Bipolar) de modo que a corrente
que circula pela Terra é desprezível. A Figura 5.1 apresenta os 3 (três) modos
de operação acima descritos.
• Em caso de perda de uma LT, o Sistema de CCAT volta a operar no estágio
Monopolar mantendo a metade de sua capacidade transmissora.
• Um Sistema de CCAT com apenas 2 (dois) condutores tem a mesma capacidade
que uma Linha CAAT de Circuito Duplo com 6 (seis) condutores.

5.2 Características dos Sistemas de CCAT e CAAT

Apresenta-se a seguir as principais diferenças entre as características dos Sistemas


de CCAT e CAAT.
• O retorno pela terra no Sistema CAAT só se faz por ocasião de curtos-circuitos à
terra que são desligados em poucos ciclos pelo sistema de proteção.
• O retorno pela terra no Sistema CCAT pode ser usado em caráter permanente,
em condições desequilibradas ou em emergências, caracterizando em todos os
casos um retorno de grande duração.

5.3 Problemas Criados pelo Sistema de CCAT utilizando Retorno pela Terra

Dos problemas resultantes da utilização da tecnologia de transmissão em CCAT,


tem-se:
• Corrosão eletrolítica do metal do próprio Eletrodo ou em instalações metálicas
instaladas nas zonas da influência do Eletrodo.
• Potenciais de passo e toque nas imediações do Eletrodo ou em instalações
metálicas que interceptam diversas linhas equipotenciais na zona de influência do
Eletrodo.

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 119/162


• Ressecamento do solo por Aquecimento ou Eletrosmose o que pode aumentar a
resistência do Eletrodo de Terra e, por consequência, as perdas Joule.
• Influência na sinalização de estradas de ferro.
• No caso de LT’s CCAT com retorno pelo mar, leituras de bússolas magnéticas
podem ser influenciadas em condições especificas.
• Saturação dos Núcleos dos Transformadores nas SE’s de C.A., devido à
circulação de correntes C.C. pelos seus neutros, causando perdas e geração de
harmônicos.

5.4 Medidas Adotadas para Mitigação dos Problemas

Visando mitigar os problemas sinalizados no item anterior, devem ser observados


os seguintes cuidados quando para os locais de Instalação de Eletrodos de Terra,
os quais devem atender simultaneamente as seguintes condições:

- O Local de instalação do Eletrodo de Terra deve ser distante de 8 a 80 km da


SE Conversora visando:

• evitar a saturação dos Núcleos dos Transformadores com neutros


aterrados na malha da SE.
• evitar a corrosão dos contrapesos do sistema de aterramento das Torres
das LT’s de C.C. e C.A. que chegam até a SE.

- O Local de Instalação do Eletrodo deve estar afastado pelo menos a cerca de 10


km de qualquer instalação metálica importante em contato com o solo, tais
como: ferrovias, polidutos, cabos subterrâneos, fundações extensas.

- O Local deve ter resistividade elétrica aparente do subsolo na faixa de 10 a


100 ohms.metro, de modo a facilitar a obtenção de resistência de aterramento
na faixa de décimos de ohm.

- A natureza geológica do solo deve ser cuidadosamente estudada para se


determinar a continuidade dos extratos de terreno de baixa resistividade
elétrica e evitar que as correntes de retorno aflorem em locais impróprios,
criando problemas de circulação de corrente de terra e elevação de potenciais
em zonas inadequadas.

- Os gradientes de potencial de terra em diversas distâncias do Eletrodo de


Terra devem ser no máximo, semelhantes aos criados pela circulação da
corrente natural da Terra.

- O Local de Instalação do Eletrodo de Terra deve ser de fácil acesso para que se
consiga realizar uma manutenção a custos razoáveis. A Figura 5.2 mostra as
Áreas de Influência do Sistema de Transmissão em CCAT.

120/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


5.5 Características das Correntes de Retorno pela Terra em C.A. e em C.C.

A corrente C.A. que retorna pelo solo segue exatamente o trajeto da LT CAAT,
com as seguintes características:

• este retorno se restringe a um volume que pode ser visualizado como uma superfície
cilíndrica de eixo na superfície do solo e raio (De) com algumas centenas de metros.

• para frequências industriais e áudio, o valor de (De) pode ser calculado como se
segue:

ρ
De = 659 ...(1)
f

• pode-se dizer que a corrente C.A. se difunde no solo nas proximidades do


condutor de modo a tornar mínima a energia armazenada no campo
eletromagnético dos condutores. A Figura 5.3 mostra o caso típico de Elevação
de Potencial de Terra resultante quando da ocorrência de um defeito em uma
SE e o caminho de retorno da corrente de falta, circunscrita ao longo da diretriz
da LT até o neutro da SE Remota.

• A corrente C.C. procura as camadas de menor resistividade sem nenhuma


vinculação com o trajeto das LT’s de CCAT. A Figura 5.4 mostra os caminhos
percorridos pela corrente C.C, ditados pelos extratos de menor resistividade
elétrica do solo.

• como o campo magnético das Linhas CCAT não é variável pode-se dizer que a
corrente se difunde no solo de modo a tornar mínima a resistência de
aterramento.

A corrente C.A. difunde-se no solo formando superfícies equipotenciais que


inicialmente seguem a geometria do eletrodo aproximando-se de esferas em
distâncias maiores. A corrente C.C. difunde-se no solo inicialmente segundo a
forma do Eletrodo de Terra procurando em seguida os caminhos de menor
resistividade. A Figura 5.5 apresenta o Sistema de Aterramento de uma Torre
de Transmissão e de um poliduto localizado nas imediações deste, sendo
indicadas as curvas equipotenciais resultantes quando de difusão para a terra da
parcela da corrente sob falta e o comportamento de ambos os Eletrodos como
Carga/Descarga (Anodo/Catodo).

A Figura 5.6 apresenta o Circuito Equivalente de 2 (Duas) Hastes Enterradas,


podendo-se observar que, face a proximidade entre estas, tem-se um forte
acoplamento mútuo resistivo causado pela superposição das superfícies
equipotenciais resultantes da difusão das parcelas de corrente para a terra que
percorrem estas hastes. A Figura 5.7 apresenta um perfil típico de Elevação de
Potencial de Terra numa SE sob Defeito e a Figura 5.8, as situações de risco no
Interior dessa SE (retratados pelos potenciais de passo, toque e transferido –
malha). A Figura 5.9 mostra os Circuitos Elétricos Equivalentes para o Ser
Humano, utilizado em estudos de aterramentos de Instalações, consoantes
Normas Técnicas. A Figura 5.10 mostra, para efeito de estudo, um caso de

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 121/162


potencial transferido via Blindagem de um Cabo Subterrâneo Aterrado numa
SE sob Defeito.
A d.d.p. entre 2 (Duas) SE’s conectadas via Fio-Piloto acha-se indicada na
Figura 5.11. Cumpre assinalar que esta d.d.p deve ser, no máximo, igual a 1,6 kV,
visando a não acarretar danos aos cabos/equipamentos instalados nestas SE’s.

HOMOPOLAR BIPOLAR MONOPOLAR

Figura 5.1 - Modos de Operação do Sistema de Transmissão em CCAT.

Figura 5.2 - Áreas de Influência do Sistema de Transmissão em CCAT.

Figura 5.3 - Elevação de Potencial de Terra em uma SE sob defeito – CAAT.

122/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


Figura 5.4 - Transmissão em CCAT nos Modos de Operação Homopolar e Monopolar.

Figura 5.5 - Sistema de Aterramento de uma Torre de Transmissão e um Poliduto


localizado nas Imediações - Curvas Equipotenciais e Comportamento de
ambos os Eletrodos como Carga/Descarga (Anodo/Catodo).

Figura 5.6 - Circuito Equivalente de 2 (Duas) Hastes Enterradas.

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 123/162


Figura 5.7 - Elevação de Potencial de Terra numa SE sob Defeito.

Figura 5.8 - Situações de Risco no Interior de uma SE sob Defeito.

Figura 5.9 - Circuitos Elétricos Equivalentes para o Ser Humano.

Figura 5.10 - Potencial Transferido via Blindagem de um Cabo Subterrâneo Aterrado


numa SE sob Defeito.

124/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


Figura 5.11 - d.d.p. entre 2 (Duas) SE’s conectadas via Fio Piloto.

Da Figura 5.12, extraída da Norma IEC- 479, para a corrente C.A com frequências de 50/60
Hz é possível caracterizar 4 (quatro) Zonas para Correntes de Choque entre mão e pé:
Zona 1: não há nenhuma Reação;
Zona 2: não há nenhum Efeito Fisiológico perigoso;
Zona 3: não acontece, em geral, nenhum Dano Orgânico. Para tempos longos, ocorrem
contrações musculares, dificuldade de respiração e perturbações reversíveis no
coração (sendo limitada pelas Curvas b e c);
Zona 4: ocorrem os Efeitos referidos na Zona 3, no entanto, a probabilidade de fibrilação
ventricular aumenta cerca de 5% (Curva 2) à 50% (Curva 3), e acima de 50%
além da Curva 4.

Figura 5.12 - Zonas de Efeito de C.A. (50/60 Hz) em Adultos - Norma IEC – 479.

A análise das curvas da Figura 5.13 para corrente elétrica x frequência, permite inferir as
seguintes conclusões:
- Curva 1: apresenta o limite convencional das intensidades da corrente elétrica do choque
que não resulta em nenhuma percepção;
- Curva 2: apresenta o início da percepção para 50,0% das Pessoas;
- Curva 3: apresenta o início da percepção para 99,5% das Pessoas;
- Curva 4: apresenta a corrente de largar (“let-go current”) para 99,5% das Pessoas;
- Curva 5: apresenta a corrente de largar (“let-go current”) para 50,0% das Pessoas;
- Curva 6: apresenta a corrente de largar (“let-go current”) para 0,50% das Pessoas.

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 125/162


Figura 5.13 – Efeito de Baixas Correntes em Função da Frequência.

5.6 Fenômenos do Aquecimento e Eletrosmose [3,4,5,6]

A Eletrosmose é um fenômeno segundo o qual as moléculas de água migram para


longe ou se aproximam do Eletrodo de Terra seguindo o fluxo de corrente,
constituindo-se no principal responsável pela alteração das resistividades elétrica e
térmica do solo nas imediações do Eletrodo com possíveis danos a esta instalação
devido ao aumento da densidade de corrente em determinadas seções.

O Eletrodo de Terra está no potencial mais elevado e também a maior temperatura.


Para pontos mais afastados do Eletrodo, o fluxo de energia elétrica através das
superfícies equipotenciais decresce, sendo acompanhado de um aumento
correspondente do fluxo de energia térmica, de tal modo que o total da energia
aplicado permanece constante.

5.6.1 Aquecimento do Solo

5.6.1.1 Condução de Calor em Meio Homogêneo

A expressão para cálculo da temperatura do solo nas imediações do Eletrodo de


Terra ao longo do tempo (Aquecimento) é apresentada abaixo.

g ⎛ 1 ⎞ ⎛ ∂Ti , j ,l (t ) ⎞
∇ 2Ti , j ,l (t ) + = ⎜ ⎟.⎜ ⎟ ...(2)
kT ⎝ α ⎠ ⎜⎝ ∂t ⎟⎠
sendo:

Ti,j,l(t) - temperatura no tempo t, em oC


g - calor dissipado por dissipação térmica, em W/m3
kT - condutividade térmica do solo, em W/oC.m
α - difusividade térmica do solo, em m2/s
t - tempo, em s.

126/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


5.6.1.2 Análises Simplificadas (em regime estacionário) elaboradas por terceiros [1,2,3]
As seguintes hipóteses foram feitas em análises simplificadas por terceiros [1, 2, 3] para
cálculo do Aquecimento do Solo ao redor de um Eletrodo de Terra.
• No cálculo da temperatura final é suposto o campo térmico paralelo e proporcional ao
elétrico (desprezada transmissão de calor solo-ar).
• A taxa inicial de elevação da temperatura junto ao Eletrodo de Terra é suposta igual à
taxa de produção de calor dividida pela capacidade térmica do solo.
• Admitida a elevação da temperatura junto ao Eletrodo de Terra traduzida por uma
função do tipo exponencial.

5.6.1.3 Causas de Erros


Nas hipóteses acima, as seguintes causas de erros podem ser assinaladas:
- Para Eletrodo de Terra de grandes dimensões, a transmissão do calor solo-ar é
mecanismo essencial para definir a temperatura do solo ao seu redor.
- O campo elétrico na superfície é paralelo a esta, sendo o campo térmico quase
ortogonal. Desprezar-se este mecanismo acarreta erros da ordem da temperatura em
regime estabilizado.
- Quanto a variação da temperatura do solo junto ao Eletrodo de Terra na fase inicial, o
método é, em princípio correto (para meio homogêneo e isótropo).
- O aumento de temperatura é traduzido pela derivada inicial num intervalo de tempo
muito curto (menos de 1 dia), não sendo correto o ajuste de uma “exponencial” a
partir da derivada inicial;
- A variação de temperatura em função do tempo é muito diferente de uma exponencial,
sendo o ajuste por este tipo de função inaplicável;
- Os parâmetros do solo, mesmo em solo homogêneo, são fortemente afetados pela
temperatura;
- Os parâmetros do solo são, em geral, não uniformes.

5.6.1.4 Comportamento Real

Na Figura 5.14 acha-se representado o crescimento da Temperatura do Solo x


Tempo durante o processo de Aquecimento quando da operação da Conversora
utilizando a propagação da corrente via solo.

Figura 5.14 - Crescimento da Temperatura do Solo x Tempo

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 127/162


Da equação de Aquecimento, pode-se obter, como indicado na Figura 5.15, a
expressão para cálculo do Aquecimento para um Nó Interior:

g ⎛ 1 ⎞ ⎛ ∂Ti , j ,l (t ) ⎞
∇ 2Ti , j ,l (t ) + = ⎜ ⎟.⎜ ⎟
kT ⎝ α ⎠ ⎜⎝ ∂t ⎟⎠
...(3)

onde:

∂Ti , j ,l (t + Δt ) Ti , j ,l (t + Δt ) − Ti , j ,l (t )
≈ ...(4)
∂t Δt

tem-se:

Ti , j ,l (t + Δt ) = (α .Δt ) . (φe .Ti +1, j ,l (t ) + φw .Ti −1, j ,l (t ) +


+ φn .Ti , j +1,l (t ) + φs .Ti , j −1,l (t ) + φo .Ti , j ,l +1 (t ) +
g ⎞
φu .Ti , j ,l −1 (t ) + ⎟⎟ + (1 − α .Δt.Δ ) . Ti , j ,l (t ) ...(5)
kT ⎠

Figura 5.15 - Cálculo do Aquecimento para um Nó Interior.

5.6.2 Eletrosmose - Formulação Proposta [4,5,6]

A Figura 5.16 mostra a Região de Interesse para cálculo da Eletrosmose. A Figura 5.17
representa Elementos infinitesimais de amostras do solo. A Figura 5.18 indica a relação entre a
quantidade de vapor de água escoada x tempo. A Figura 5.19 mostra as variações com
temperaturas de valores de vapor saturado de água. Na Figura 5.20, acha-se indicado, de forma
esquemática, a umidade u no solo junto ao Eletrodo de Terra em função da distância x à
superfície do Anodo e do tempo t.

128/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


Figura 5.16 - Região de Interesse para cálculo da Eletrosmose [4].

Influência da Componente de Pressão de Vapor d´Água na


Velocidade de Migração da Água:

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 129/162


Figura 5.17 – Elementos infinitesimais
de amostras do solo. Figura 5.18 – Relação entre a quantidade de
vapor de água escoada x tempo.

F ma (t ).a ma (t ).v
Δp = = = ...(6)
S S S. t

Δp.S.t Δp.S.t Δp.S.t


v= = = ...(7)
ma (t ) µa .Va (t ) v
d .V (t )
vc a
onde:
Δp - Diferença de pressão entre 2(dois) nós
consecutivos
(i e i+1), em bar.
F - Força exercida sobre a superfície de água, em N.
S - Área infinitesimal, em m².
ma(t) - Massa de água a um dado instante (t), em kg.
a - Aceleração do fluxo de água, em m/s².
v - Velocidade do fluxo de água, em m/s.
t - Tempo, em s.
µ a - Massa específica da água, em kg/m³.
Va(t) - Volume de água disponível no instante t, em m³.
Curva 1 – Pressão de vapor saturado de água em (mb)
vd /ve - Relação entre viscosidades dinâmica e
Curva 2 – Densidade de vapor saturado água em kg/m³ cinemática da água.

Figura 5.19 – Variações com temperaturas de valores de vapor saturado de água.

130/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


5.6.2.1 Curvas Temporais de Distribuições Espaciais da Umidade [2,3]

I- corrente injetada no solo de valor


moderado (a partir de t = 0)

Uo - umidade (suposta uniforme) do solo antes


do início de aplicação da corrente (t<0)

Figura 5.20 - Umidade u no solo junto ao Eletrodo de Terra em função da distância x à


superfície do Anodo e do tempo t.

5.6.2.3 Casos Analisados [4]

• diâmetro do Eletrodo: 600,0m


• diâmetro do Condutor: 0,6m
• profundidade da instalação: 2,7m
• temperatura ambiente do Solo: 18oC
• umidade inicial do Solo: 18,0%
• coeficiente de convecção do ar: 1,0W/m.oC
• temperatura ambiente do ar: 18oC

Diversas situações foram analisadas, sendo denominadas de casos base a saber:


• Caso Base 1: Solo suposto Homogêneo sem a influência da Eletrosmose.
• Caso Base 2: Solo suposto Homogêneo sob a influência da Eletrosmose.
• Caso Base 3: Solo suposto Homogêneo sob a influência apenas da Termodifusão.
• Caso Base 4: Solo não Homogêneo representado por Dupla Camada (relações ρ1 /ρ2
: 0,1 e 10).
• Caso Base 5: Solo não Homogêneo representado por Dupla Camada (relações ρ1 / ρ2
: 0,5 e 1,7).

Em cada caso base foram investigadas a influência das seguintes variáveis no fenômeno
em causa:
Caso Base 1 - Solo Homogêneo sem Influência da Eletrosmose
• Influência da Condutividade Térmica do Solo (kT) - Caso 1A.
• Influência da Difusividade Térmica do Solo (α) - Caso 1B.
• Influência do Coeficiente de Convecção do Ar (hc) - Caso 1C.
• Influência da Temperatura Ambiente do Ar (Tar) - Caso 1D.
• Influência Transmissão do Calor do Solo para o Ar - Caso 1E.
• Influência do Aquecimento do Solo por Radiação - Caso 1F.
Solar e Troca de Calor por Irradiação

Caso Base 2 - Idêntico ao Caso Base 1, sob efeito da Eletrosmose


• Influência da variação do Coeficiente de Hidraulicidade - Casos 2A a 2C.
• Influência da variação do Coeficiente Eletrosmótico - Caso 2D.

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 131/162


• Influência da componente de Pressão de Vapor de Água.

Caso Base 3 - Idêntico ao Caso Base 1, sob efeito da Termodifusão


• Influência da Termodifusão nos valores das grandezas de interesse (umidade,
temperatura, resistividade elétrica, etc.) do solo.
Os resultados dos estudos são apresentados nas Figuras 5.21 a 5.37 a seguir:

Figura 5.21 - Representação do Eletrodo de Terra em Anel no computador [4].

25
Tem peratura ( oC )

20

15

10

0
0 240 480 720 960

Horas de Operação Contínua


Cenário de Curta Duração
Cenário de Longa Duração
Figura 5.22 - Caso Base 1.

Pe r fil de Gr adie nte de Pote ncial Perfis de Densidades de Corrente


Solo Hom ogê ne o: ρ = 100 Ω .m Solo Homogêneo: ρ = 100 Ω .m
70,0
0,8
60,0
Gr adie nte (V /m )

0,7 Z=3, 05m

50,0 0,6
Z=3, 1 0m

Z=3, 20m
40,0 0,5
J (A/m 2 )

Z=3, 30m

30,0 Z=3m 0,4


Z=3, 40m

Z=3, 50m
20,0 0,3 Z=3, 60m

10,0 0,2 Z=3, 70m

Z=3, 80m
0,0 0,1 Z=3, 90m

280,0 294,8 299,8 304,8 309,8 338,0 0,0 Z=4, 00m

296 297 298 299 300 301 302 303 304


X ( m e tr os )
X (m e tros )

132/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


Figura 5.23 - Caso Base 1 - Perfil de Gradiente de Potencial e Densidades
de Corrente na Vizinhança do Eletrodo de Terra.

Evolução da Tem peratura no Hot-Spot


Solo Hom ogêneo: ρ = 100 Ω .m

100
80
Temperatura ( oC )

____
k T = 2,60
60
____
40 k T = 0,26

20 ____
k T = 4,00
0
0 2400 4800 7200 9600
Horas de Operação Contínua

Figura 5.24 - Caso 1A - Variação da Condutividade Figura 5.25 - Caso 1A - Perfis de Temperatura do
Térmica do Solo (kT) - Cenário de Solo a Diferentes Profundidades.
Longa Duração.

Figura 5.26 - Caso 1.A - Perfis de Temperatura do Solo a Diferentes Profundidades.

Evolução da Tem peratura no Hot-Spot


Evolução da Temperatura no Hot-Spot
Solo Hom ogêneo: ρ = 100Ω .m
Solo Homogêneo: ρ = 100 Ω .m Espessura da Cam ada Convecção - Zh c =0,26m
30
30
Temperatura ( oC )

25
C)

25
___ h c = 1,50
o

20 __ α = 7,74 * 10 -9 20
Temperatura (

15 15 ___ h c = 1,00
__ α = 7,74 * 10 -8
10 10
5 ___ h c = 0,50
5 __ α = 7,74 * 10 -7
0
0
0 2400 4800 7200 9600
0 2400 4800 7200 9600
Horas de Operação Contínua Horas de Operação Contínua

Figura 5.27 - Caso 1B - Influência da Difusividade Figura 5.28 - Caso 1C - Influência do Coeficiente
Térmica do Solo (α ). de Convecção (hc).

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 133/162


Perfis de Temperaturas após 9600 horas Evolução da Tem peratura no Hot-Spot
Solo Homogêneo: ρ = 100 Ω .m, Zh c =0,26m Solo Hom ogêneo: ρ = 100 Ω .m , h c = 0,5W/m 2.oC
Plano Z=0,0m
20,20 30

25

C)
20,15
Temperatura ( oC)

o
20,10 20

Temperatura (
_ _ _  h c   =  1 ,5 0 __
20,05 Zh c =  0 ,26m
_ _ _  h c  =  1 ,0 0
15
20,00 __
_ _ _  h c  =  0 ,5 0 10 Zh c =  0 ,00m
19,95
5
19,90
0
19,85
0 2400 4800 7200 9600
280,00 295,67 301,50 307,33 319,50 560,00
X ( metros ) Horas de Operação Contínua

Figura 5.29 - Caso 1C - Influência do Coeficiente de Figura 5.30 - Caso 1C - Influência da


Convecção (hc). Espessura da Camada de
Convecção (Zhc) no Hot-Spot.

Figura 5.31 - Caso 1F - Influência da Radiação Solar e Irradiação no Aquecimento do Solo.

Eletroosm ose, Solo Hom ogêneo - Hot-Spot Eletroosm ose, Solo Hom ogêneo - Hot-Spot
u =18%, ρ = 100 Ω .m , α = 7,74.10-7m 2/s,
u =18%, ρ = 100 Ω .m , α = 7,74.10-7m 2/s,
Ke =0,5.10-9m 2/s.V - k h =10-7m /s
Ke =0,5.10-9m 2/s.V - k h =10-7m /s
100
20
Temperatura ( C)

80
15
o
Umidade (%)

__ 60
s/Pvapsat __
s/Pvapsat
10
40
__ __
c/Pvapsat c/Pvapsat
5 20

0 0
200 400 600 800 1000 1200
200 400 600 800 1000 1200
Horas de Operação Contínua Horas de Operação Contínua

Variação da Umidade Variação da Temperatura

Figura 5.32 - Caso 1F - Influência da Radiação Solar e Irradiação no Aquecimento do Solo.

134/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


Eletroosm ose, Solo Hom ogêneo - Hot-Spot
Eletroosmose, Solo Homogêneo - Hot-Spot u =18%, ρ = 100 Ω .m , α = 7,74.10-7m 2/s,
u =18%, ρ = 100 Ω .m, α = 7,74.10-7m 2/s, Ke =0,5.10-9m 2/s.V - k h =10-7m /s
Ke =0,5.10-9m 2/s.V 1000
1,2
800

Resistividade ( Ω .m)
k h (x 10 -7 m/s)

1,0
0,8 600
__
__
s/Pvapsat s/Pvapsat
0,6
400
0,4 __
c/Pvapsat __
c/Pvapsat
0,2 200
0,0
0
200 400 600 800 1000 1200
200 400 600 800 1000 1200
Horas de Operação Contínua Horas de Operação Contínua

Figura 5.33 - Variação do Coeficiente de Figura 5.34 - Variação da Resistividade Elétrica.


Permeabilidade.

Eletroosmose, Solo Homogêneo - Hot-Spot Eletroosm ose, Solo Hom ogêneo - Hot-Spot
u =18%, ρ = 100 Ω .m , α = 7,74.10-7m 2/s, u =18%, ρ = 100 Ω .m , α = 7,74.10-7m 2/s,
Ke =0,5.10-9m 2/s.V - k h =10-8m /s Ke =0,5.10-9m 2/s.V - k h =10-8m /s
20 120
100
Temperatura ( oC)

15
Umidade (%)

__ 80
s/Pvapsat
10 60
__
 s/Pvapsat
__
c/Pvapsat 40 c/Pvapsat
__  

5
20
0 0
100 200 300 400 500 600 700 800 900 100 200 300 400 500 600 700 800 900
Horas de Operação Contínua Horas de Operação Contínua

Figura 5.35 - Variação da Umidade. Figura 5.36 - Variação da Temperatura.

Figura 5.37 - Caso 2B - Migração da Umidade em função do tempo na vizinhança do


Eletrodo de Terra - Plano Z = 3,0m.

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 135/162


5.7 Corrosão Eletrolítica

5.7.1 Conceitos Básicos

a. A umidade do Solo forma um meio eletrolítico típico no qual existem


diferentes íons.

Quando um metal é posto em contato com um meio eletrolítico pode ocorrer


corrosão devido:

- passagem da corrente C.C. em Terminal CCAT;

- passagem da corrente natural da Terra;

- diferença de potencial de contato entre 2 (dois) metais;

- uma parte do metal é posta em contato com íons de tipos diferentes;

- uma parte do metal é posta em contato com íons de mesmo tipo, porém em
concentrações diferentes.

b. Quando a corrente se dirige de um metal para um meio eletrolítico o metal é


chamado "Anodo".

Quando a corrente se dirige do meio eletrolítico para o metal o mesmo é


chamado “Catodo”.

Os metais em contato com o meio eletrolítico liberam íons positivos que são
arrastados pela corrente que deixa o metal. Dessa forma um Anodo perde parte
de sua massa metálica.

Os íons que se difundem no meio eletrolítico combinam-se com os íons


negativos.

c. Os cátodos metálicos geralmente não sofrem corrosão pois a corrente que


chega ao Eletrodo de Terra não arrasta seus íons positivos.

d. Quando a corrente passa diretamente entre 2 (dois) metais em contato ou entre


um metal e um condutor não metálico em bom contato com o metal não
existe corrosão eletrolítica pois a condução se faz por meio de elétrons e não
de íons.

e. Um Eletrodo de Terra num Sistema CCAT pode funcionar como Catodo ou


como Anodo dependendo da direção da corrente de terra.

A inversão da corrente não reverte o processo da corrosão, pois os íons


positivos deslocados já se terão combinado formando compostos químicos
instáveis.

Porém se a reversão de corrente for muito rápida a taxa de corrosão decai


sensivelmente.

136/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


f. Se dois metais estão em contato apenas o de maior valor na série
eletroquímica sofre corrosão protegendo o outro.

5.7.2 Controle da Corrosão Eletrolítica

Os principais objetivos do controle da corrosão eletrolítica são:

• Manter os objetos metálicos bem afastados de Eletrodos de Terra em uma


região onde a densidade de corrente em (A/m2) seja compatível com a perda de
massa tolerável para a instalação metálica.

• Proteger os Eletrodos de Terra metálicos com camadas de coque compactadas


ou utilizar condutores não metálicos como grafite.

• Proteger o Condutor com uma camada isolante que impeça sua operação como
Anodo.

5.7.3 Proteção Catódica Tipo Drenagem Forçada por Corrente Impressa

Consiste na utilização de uma Fonte C.C de polaridade negativa no metal de forma


a que a corrente entre no metal transformando-o em um Catodo. A corrente
circulará pelo metal e retornará a terra pelo aterramento da Fonte que
funcionará como Anodo.

Por ser possível utilizar maiores quantidades de correntes, este método pode ser
aplicado em qualquer eletrólito, incluindo os imersos em alta resistividade
elétrica.

5.7.4 Proteção Catódica Tipo Drenagem Galvânica-Anódica por Anodos de Sacrifício

Um condutor de zinco, alumínio ou magnésio é enterrado no solo nas


proximidades do condutor de ferro ou chumbo que se deseja proteger contra
corrosão. O conjunto forma uma bateria natural não necessitando de Fontes
Externas.
Este método, para obter-se uma grande eficiência, a resistividade elétrica do meio
solo tem que ser muito baixa e a quantidade de anodos elevada. Além disso, face à
limitação da vida útil do anodo devido ao consumo de sua própria massa, há
necessidade de substituição periódica dos anodos.

5.7.5 Revestimentos Protetores

A principal finalidade dos revestimentos é a da formação de uma barreira isolante


entre o metal e o meio eletrolítico, de modo a impedir a formação das pilhas de
corrosão devido à interrupção do fluxo de corrente do tubo para o solo.

Um bom revestimento protetor para tubulações metálicas enterradas ou


submersas deve apresentar as seguintes características:

- resistência à água (baixa absorção de umidade);


- resistência elétrica (boas características dielétricas);
- adesão ao material metálico (longa vida para o revestimento);

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 137/162


- estabilidade química;
- resistência às ações mecânicas do meio;
- estabilidade a variações das temperaturas;
- ductilidade (absorção das tensões e esforços, principalmente os de flexão);
- durabilidade;
- fácil aplicação.

Quanto a natureza dos revestimentos, estes são de 3 (três) tipos:


• revestimentos orgânicos;
• revestimentos inorgânicos;
• revestimentos metálicos.

Um resumo destes revestimentos é apresentado a seguir.

5.7.5.1 Revestimentos Orgânicos

A maior parte dos revestimentos utilizados em tubulações são de natureza


orgânica, podendo ser classificados em 3 (três) tipos:

- pintura industrial:

usada em grande escala para tubulações aéreas, e em menor escala, para as


submersas de fácil acesso com vistas a manutenção;

- revestimento com borracha:

usada em indústrias químicas sendo os processos por vulcanização ou por


colagem;

- revestimento para tubulações enterradas ou submersas:

são usadas altas espessuras de revestimento sendo estes do tipo:

• de polietileno;
• de esmalte de piche de carvão (“coal-tar”);
• asfáltico;
• fitas plásticas em forma helicoidal;
• espuma rígida de poliuretano;
• com epóxi piche de carvão (usado em solos de elevada resistividade elétrica).

5.7.5.2 Revestimentos Inorgânicos

Consistem na interpolação de uma película não metálica e inorgânica entre o


meio corrosivo e o metal que se quer proteger. Os mecanismos de proteção podem
ser por barreira ou por inibição anódica.

Os principais tipos de revestimentos inorgânicos são:

- anodização;
- cromatização;
- fosfatização;

138/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


-revestimento com argamassa de cimento.

5.7.5.3 Revestimentos Metálicos

Os mecanismos de proteção dos revestimentos metálicos normalmente utilizados


são por barreira, passivação ou proteção catódica.

Consistem na deposição de uma camada metálica intermediária entre o meio


corrosivo e o metal que se quer proteger. Os revestimentos metálicos mais comuns
são:

- Cladização:

Consiste na fixação na tubulação, através de solda por explosão, de chapas de


metais resistentes à corrosão;

- Lining:

Consiste no recobrimento da tubulação por solda de pequenas chapas de metal


resistente à corrosão;

- Imersão a quente ou galvanização:

Larga utilização na indústria, consistindo na imersão da tubulação em um banho


fundido;

- Metalização:

Deposição por meio de uma pistola, de metais de baixo ponto de fusão (zinco,
alumínio, chumbo e estanho) sobre a superfície da tubulação;

- Eletrodeposição:

Deposição eletrolítica na superfície da tubulação de metais que se encontram sob a


forma iônica através de um banho, passando a superfície a atuar como um catodo
de uma célula eletrolítica (processo inverso da anodização).

As Figuras 5.38 e 5.39 apresentam, respectivamente, os Eletrodos de Terra


utilizados para o Sistema de Nelson River (EUA), em Anel Circular (Toroidal) e o
do Sistema de Cabora Bassa - África do Sul, em Haste Profunda.

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 139/162


Figura 5.38 - Eletrodo de Terra em Anel Circular (Toroidal) - Nelson River (EUA).

140/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


Figura 5.39 - Eletrodo de Terra em Haste Profunda - Cabora Bassa – Moçambique.

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 141/162


5.8 Bibliografia

1 – E.W.Kimbark, Direct Current Transmission, J.W & Sons, NY, 1971.

2 – EPRI EL-2020, Project 1467-1 – HVDC Ground Electrode Design, IEC-1981.

3 – H.Greiss et al – HVDC Ground Electrode Heat Dissipation – IEEE Pas.– Vol. PWRD-2
Oct. 87.

4 – Aquecimento do Solo na Vizinhança de um Eletrodo de Terra de um Sistema de CCAT


Considerando a Interação entre Fenômenos Elétricos, Térmicos e Eletroosmóticos -
Coordenação dos Cursos de Pós- Graduação em Engenharia - COPPE - Tese de Doutorado
– José Eduardo Telles Villas – 30/10/2000.

5 – Calculation of Electric Field and Potential Distribution into Soil and Air Media for a
Ground Electrode of an HVDC System, IEEE Transactions on Power Delivery, vol.18, no.
3, pp. 867 -873, July,2003.

6 – Soil Heating around the Ground Electrode of a HVDC System by Interaction of Electrical,
Thermal and Electroosmotic Phenomena, José Eduardo Telles Villas and Carlos Medeiros
Portela, IEEE Transactions on Power Delivery, vol.18, no. 3, pp. 867 -873, July,2003.

7 – Common Ground Electrode Design for ± 500 kV and ± 800 kV DC Systems, Fan Chen,
Jinliang He, Bo Zhang, Rong Zeng, Jie Zhao Xiaolin Li and Jinzhuang Lv, IEEE
Transactions on Power Delivery, Manuscript received in June,11, 2008, pp. 1 - 9.

142/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


Capítulo 06 – Eletrodos de Terra em Sistemas CCAT

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 143/162


144/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)
ÍNDICE

6.1 Introdução ..................................................................................................................... 147


6.2 Atividades do Empreendimento .................................................................................. 147
6.3 Critérios de Projeto ...................................................................................................... 149
6.4 Avaliação das Condições de Segurança ...................................................................... 149
6.5 Medidas Corretivas....................................................................................................... 150
6.6 Aspectos Construtivos .................................................................................................. 150
6.7 Cronograma das Atividades ........................................................................................ 151
6.8 Resistência do Eletrodo de Terra ................................................................................ 151
6.9 Redução de Resistência do Eletrodo de Terra ........................................................... 152
6.10 Expressões Aproximadas de Cálculo .......................................................................... 156
6.11 Principais Variáveis de Influência............................................................................... 157
6.12 Distribuição da Corrente em Cada Seção do Eletrodo de Terra …...…………….. 159
6.13 Bibliografia ................................................................................................................... 161

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 145/162


146/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)
6 Eletrodos de Terra em Sistemas CCAT
6.1 Introdução

O projeto do Eletrodo de Terra em um Sistema CCAT representa um


empreendimento complexo e de prazo longo. As várias atividades envolvidas ao
longo do projeto são interativas e necessitam ser adequadamente coordenadas. Essas
atividades e suas principais características são descritas a seguir.

6.2 Atividades do Empreendimento

6.2.1 Fase 01 – Projeto Preliminar

A fase de Projeto Preliminar consiste na seleção dos locais e dos tipos de Eletrodos
de Terra, as quais devem ser feitas concomitantemente. Eletrodos com geometria
circulares (toroidais) apresentam diversas vantagens, face à facilidade e economia na
construção e flexibilidade que apresentam para ajustes no seu projeto e concepção,
com inegáveis reflexos futuros na manutenção e controle da densidade de corrente
que circula ao longo dos mesmos.

6.2.2 Fase 02 - Protótipo dos Eletrodos de Terra e Programa de Testes

Os modelos matemáticos normalmente usados para representar os desempenhos dos


Eletrodos de Terra na difusão da corrente, fornecem somente resultados
aproximados, devido às diferenças das características da resistividade do solo nas
imediações dos Eletrodos. Um Protótipo dos Eletrodos de Terra e um Programa de
Testes devem ser realizados.

Estes protótipos devem representar as seções dos Eletrodos de Terra finais, face às
dificuldades de realização de um modelo à escala reduzida, sendo normalmente
escolhido Eletrodos com geometrias lineares. Assinala-se que a magnitude da
corrente a ser injetada nos estudos deve estar aquém do valor de densidade de
corrente máxima a ser difundida de 1 A/m2 no solo, visando minimizar o fenômeno
da Eletrosmose. A Figura 6.1 mostra um Modelo de Protótipo para os Eletrodos de
Terra.

Figura 6.1 - Modelo de Protótipo dos Eletrodos de Terra.

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 147/162


Quanto ao Programa de Testes, estes devem cobrir, no mínimo, os seguintes aspectos:

a- Passos Iniciais:

• seleção dos locais para o protótipo dos Eletrodos de Terra nas áreas reservadas
para os Eletrodos finais;

• levantamento e tratamento dos dados do solo;

• seleção dos equipamentos, sensores e instrumentação para monitoração;

• definição das dimensões dos Eletrodos de Terra, profundidade de instalação e


corrente a ser injetada;

b- Testes:

Grandezas a serem monitoradas para os Eletrodos de Terra (Anodo e Catodo):

• corrente, tensão e resistência para a terra;

• corrente em cada alimentador;

• potencial e gradientes de potencial na superfície do solo, umidade do solo para


locais adequados principalmente próximos a interface Eletrodos-solo;

• temperaturas do solo.

Essa atividade inclui a Fase de Especificação dos Equipamentos do Protótipo,


projeto, sua construção, operação e análise dos resultados obtidos.

6.2.3 Fase 03 - Dados Adicionais e Projeto dos Eletrodos de Terra

Esta fase inclui uma definição dos dados geológicos e geofísicos, especificação final
dos materiais dos Eletrodos de Terra e os métodos para as suas construções.

6.2.4 Fase 04 - Projeto Detalhado dos Eletrodos de Terra

O projeto e construção dos Eletrodos de Terra dependem essencialmente das


seguintes características:

- modos de operação do Sistema CCAT (monopolar, bipolar ou homopolar);

- corrente nominal;

- tempo de vida útil admitido para a instalação;

- elevação máxima da temperatura;

- gradientes de potencial máximo e potenciais de passo e toque toleráveis;

Esta fase inclui a construção, levantamento de dados durante a escavação, medidas


corretivas adicionais e testes de aceitação.

148/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


6.3 Critérios de Projeto

Os seguintes critérios são adotados para projeto de Eletrodos de Terra:

- controle do fenômeno da Eletrosmose, limitando a densidade da corrente nas


interfaces dos Eletrodos/solo a l A/m2;

- controle da corrosão, levando-se em conta a vida útil da instalação (25 anos) e o


tempo admitido para operação prolongada do Sistema CCAT no modo
monopolar;

- controle dos potenciais de toque, passo e transferido produzidos a valores


inferiores aos suportáveis pelo ser humano.

Os 2 (dois) primeiros itens representam caráter de efeitos a longo prazo com sérios
reflexos na segurança da instalação.

6.4 Avaliação das Condições de Segurança

As condições de segurança para o ser humano constituem um dos aspectos básicos


do projeto do Eletrodo de Terra, devendo as seguintes investigações serem
realizadas:

• análise de defeitos à terra no Sistema CAAT;

• análise de defeitos no Sistema CCAT (Conversora e Bipolo).

Nesses estudos, as seguintes grandezas devem ser monitoradas:

• elevações de potenciais de terra das SE’s e dos Eletrodos de Terra (valores


máximos e formas de onda);

• potenciais de toque e passo no interior e imediações das SE's e dos Eletrodos de


Terra (valores máximos e formas de onda);

• valores das correntes nos enrolamentos dos Transformadores das Conversoras.

Investigações realizadas e publicadas na literatura técnica especializada mostram que:

- as formas de onda dos potenciais de toque e passo são praticamente idênticas à


forma de onda da elevação de potencial de terra;

- defeitos no Lado C.A acarretam elevações de potenciais de terra não muito


distintas das obtidas para SE’s convencionais em C.A.

- defeitos no Lado C.C acarretam elevações de potenciais de terra com formas de


onda compostas por componentes C.A, harmônicos e componente C.C. O nível
desses componentes depende das condições pré-defeito e da localização do
defeito;

- devido à elevada extensão dos Eletrodos de Terra, verifica-se uma queda de


potencial substancial nos cabos de distribuição dos Eletrodos, que, se
desprezada resulta numa estimativa errônea dos potenciais e das elevações de
potenciais de terra com impactos severos na segurança;

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 149/162


- as impedâncias dos Eletrodos de Terra, devido aos harmônicos, são
substancialmente maiores que as resistências C.C. A omissão da dependência da
frequência dos Eletrodos de Terra acarreta igualmente numa estimativa errônea
dos potenciais e das elevações dos potenciais de terra;

Deve-se assinalar que durante condições desequilibradas, o nível de conteúdo


harmônico se eleva devido à ineficácia dos Filtros de Harmônicos;

- a tolerância do ser humano a correntes C.C é maior do que C.A. Entretanto, a


presença de harmônicos de baixa ordem no conteúdo da corrente, mesmo que
em pequenas percentagens, resulta numa redução drástica da corrente suportável
pelo ser humano.

6.5 Medidas Corretivas

Quando a resistividade elétrica do solo adjacente aos Eletrodos de Terra varia


muito, algumas medidas corretivas devem ser tomadas visando equilibrar a
distribuição de corrente nos alimentadores de cada seção dos Eletrodos, assim
como reduzir as elevadas densidades de corrente nas interfaces dos Eletrodos/solo
que excedam o limite especificado como critério do projeto (l A/m2).

Também os gradientes de potenciais elevados devem ser controlados, por meio de


algumas ações simples tomadas antes ou após a construção dos Eletrodos de Terra.

Dentre as medidas corretivas, as mais eficazes são:

• dividir os Eletrodos de Terra em seções isoladas, por meio de discos de material


isolante convenientemente dispostos;

• substituir parte do solo adjacente aos Eletrodos de Terra por outro de menor
resistividade, retirado dos mesmos locais de instalação destes;

• utilizar resistores série nos alimentadores de mesma seção.

6.6 Aspectos Construtivos

Um Eletrodo de Terra do tipo circular raso é basicamente uma forma toroidal de


seção quadrada enterrado a aproximadamente 3 m de profundidade. Face à limitação
do valor da densidade de corrente a ser injetada no solo, existe a necessidade de que
a superfície lateral do Eletrodo de Terra seja grande.

Supondo a injeção de 3000 A com uma densidade média de 0,5 A/m2, é necessária
uma superfície de 6000 m2. No caso da seção do Eletrodo de Terra ser de 0,5 m x 0,5
m, o perímetro da seção terá 2,0 m e assim o Eletrodo deverá ter 3000 m de
perímetro e consequentemente 477 m de raio.

Para obter-se esta superfície com material resistente à corrosão, usualmente é


empregado o coque por ser de baixa resistividade elétrica e baixo custo em relação
a outros materiais resistentes à corrosão. Para a transferência de corrente dos
condutores isolados de cobre para o coque são empregadas usualmente hastes de
grafite ou de ferro-silício, sendo a última de menor custo.

Visando a monitoração da densidade de corrente que se difunde pela superfície


lateral do Eletrodo de Terra durante sua operação, divide-se o Eletrodo em seções e

150/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


efetua-se a medição da corrente que se difunde no solo. A divisão das seções é feita
pela descontinuidade do coque através de inserção de um material de relativamente
alta resistividade como, por exemplo, fibra-cimento.

A alimentação dessas seções ocorre através de um laço de condutores a partir de um


barramento conectado à LT do Eletrodo de Terra.

Adicionalmente, ao longo do Eletrodo de Terra, são instalados sensores de umidade


e de temperatura para controle das condições do Eletrodo durante operação
prolongada.

Na Figura 6.2 é mostrada a Planta e Cortes de um Eletrodo de Terra com as


características citadas acima. A sua construção é uma obra de razoável porte, sendo a
escavação do solo necessária à sua construção função das características do solo.
Como estimativa inicial, para um Eletrodo de Terra do tipo circular raso de raio da
ordem de 500 m, o volume de escavação é de 50.000 m3 e o volume de coque
correspondente da ordem de 750 m3.

6.7 Cronograma das Atividades

O cronograma visualizado para as atividades prevê um período aproximadamente de


3,5 anos para término do empreendimento, conforme Tabela 6.1.

Tabela 6.1 - Cronograma do Projeto e Construção


Tempo (anos)
Atividade
1 2 3 4
• Seleção do Local
• Testes no Protótipo
• Dados Adicionais e Projeto
• Construção e Testes

6.8 Resistência do Eletrodo de Terra

A resistência do Eletrodo de Terra é um parâmetro concentrado vista por toda a


superfície do Eletrodo. Quando o Eletrodo de Terra injeta corrente no solo,
formam-se superfícies equipotenciais em suas imediações. Essas superfícies
equipotenciais têm valores crescentes de potencial nas proximidades do Eletrodo e
atingem um valor constante (V) em toda a superfície do Eletrodo. A relação entre
a tensão produzida na superfície do Eletrodo e a corrente injetada, caracteriza a
resistência do Eletrodo de Terra.

Para cálculo do potencial na superfície do Eletrodo de Terra, deve-se proceder ao


cálculo do somatório do campo elétrico da terra remota até a superfície do
Eletrodo de Terra de raio (r). Embora, na realidade, a terra remota seja atingida a
algumas centenas de metros da superfície do Eletrodo de Terra, faz-se o somatório
até o infinito para maior rigor de cálculos.

A intensidade do campo elétrico em um Ponto (P) genérico do solo de um Eletrodo


de Terra conforme indicado na Figura 6.3 é dada pela seguinte expressão:

E = ρ.J ...(1)

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 151/162


onde:

E - intensidade do campo elétrico, em V/m

ρ - resistividade elétrica aparente do solo, em Ω.m

J - densidade de corrente na superfície equipotencial do solo que passa pelo Ponto


P, em A/m2

sendo:

J=I/S ...(2)

onde:

I - corrente injetada no solo pelo Eletrodo de Terra, em A

S - área da superfície equipotencial que passa pelo Ponto P, em m2

Logo:

ρ.I
E= ...(3)
2. π .2

ρ.I d  ρ.I
∞ ∞
V = − ∫ E .d = − .∫ 2 = ...(4)
r
2. π r  2. π .

onde:

V - potencial na superfície do Eletrodo de Terra, em V

r - raio do Eletrodo de Terra, suposto esférico, em m

 - distância da superfície do Eletrodo de Terra ao Ponto P ao nível do solo, em m

6.9 Redução de Resistência do Eletrodo de Terra

Pela expressão (4), pode-se observar que uma parcela expressiva do potencial (V) na
superfície do Eletrodo de Terra é causada pelo campo elétrico nas proximidades
do mesmo. Esse fato cria uma forma de se reduzir a resistência do Eletrodo, tendo
como ideia básica a de conseguir-se que, para a mesma corrente total injetada, a
superfície do Eletrodo de Terra atinja potenciais menores.

Isso pode ser obtido envolvendo-se o Eletrodo de Terra com um material de


resistividade muito baixa (ρ1 ) e de espessura (b), conforme Figura 6.3.

Nesse caso, o potencial na superfície do Eletrodo de Terra é dado por:

⎛ c ∞
I d d  ⎞⎟ I ⎛ ρ ρ − ρ1 ⎞
V1 = . ⎜ ρ1 .
∫ + ρ 2 .
∫ = . ⎜ 1 + 2 ⎟ ...(5)
2. π ⎜  2 2 ⎟
 ⎠ 2 . π ⎝ r c ⎠
⎝ r c

onde:

152/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


V1 - potencial na superfície do Eletrodo de Terra, em V

ρ1 - resistividade elétrica do material que envolve o Eletrodo de Terra, em Ω .m

c - raio da camada que envolve o Eletrodo de Terra de resistividade (ρ1 ), em m

ρ 2 - resistividade aparente do solo, suposta uniforme em todas as direções, em


Ω .m

r,  - conforme definidos anteriormente

Expandindo a expressão (5), tem-se:

⎛ I . ρ1 I . ρ1 ⎞ I . ρ 2
V1 = ⎜⎜ − ⎟⎟ + = Vr (ρ1 ) − Vc (ρ1 ) + Vc (ρ 2 ) ...(6)
⎝ 2 . π . r 2 . π . c ⎠ 2 . π . c

onde:

Vr (ρ1 ) - potencial que seria obtido na superfície do Eletrodo de Terra real, se o


mesmo estivesse em um meio homogêneo de resistividade (ρ1 ) até a
Terra Remota.
Vc (ρ1 ) - potencial que seria obtido na superfície de um Eletrodo de Terra fictício,
com geometria semelhante ao anterior, porém com raio igual à superfície
da camada envoltória, supondo-se o Eletrodo de Terra fictício em um
meio homogêneo de resistividade (ρ1 ) até a Terra Remota.
Vc (ρ 2 ) - idêntico ao anterior, porém supondo-se o Eletrodo de Terra em um meio
homogêneo de resistividade (ρ 2 ) até a Terra Remota.

logo:

Vr (ρ1 ) − Vc (ρ1 ) - diferença de potencial entre a superfície do condutor real e a


superfície da camada de recobrimento.
Vc (ρ 2 ) - diferença de potencial entre a superfície da camada de
recobrimento e a terra remota.

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 153/162


Figura 6.2 – Eletrodo de Terra do Tipo Circular Raso.

154/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


Com base em (6), o valor de resistência do Eletrodo de Terra pode ser calculado
por:

V1 ⎛ ρ1 ρ1 ⎞ ρ2
R1 = = ⎜⎜ − ⎟⎟ + = R r (ρ1 )− R c (ρ1 )+ R c (ρ 2 ) ...(7)
I ⎝ 2 . π . r 2. π .c ⎠ 2 . π . c

onde:

R1 - resistência do Eletrodo de Terra levando em conta o efeito da camada


envoltória de resistividade elétrica (ρ1 ) e raio (c).

R r (ρ1 ) - resistência do Eletrodo de Terra, com seu raio real, considerado


instalado em um meio infinito de resistividade elétrica (ρ1 ) .

R c (ρ1 ) - resistência do Eletrodo de Terra fictício, com raio igual a superfície da


camada envoltória, considerado instalado em um meio infinito de
resistividade elétrica (ρ1 ) .

R c (ρ 2 ) - idêntico ao anterior, porém supondo-se o Eletrodo de Terra em um meio


homogêneo de resistividade elétrica (ρ 2 ) até o infinito.

Na prática, o condutor que forma o Eletrodo de Terra é geralmente recoberto por


uma camada de coque. Essa camada tem uma dupla função: redução do potencial
na superfície do Eletrodo e da corrosão eletrolítica do material que o constitui.

Figura 6.3 - Efeito da Camada que envolve o Eletrodo de Terra na Distribuição de


Potencial em sua Superfície e Imediações [1].

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 155/162


6.10 Expressões Aproximadas de Cálculo

As expressões a seguir permitem um cálculo preliminar da resistência do Eletrodo


de Terra em função de sua geometria básica. A Figura 6.4 apresenta os tipos de
Eletrodos de Terra considerados para análise.

Linear Cilíndrico Anel Estrela com (n) Braços

Figura 6.4 - Geometrias de Eletrodos de Terra analisadas [1].

Eletrodo Linear Cilíndrico:

para h << ...(8)

Eletrodo em forma de Anel:

...(9)

Estrela com (n) Braços:

...(10)

onde:

n N(n )
3 0,53
4 1,45
6 3,42

sendo:
b = d. h ...(11)

onde:
R - resistência do Eletrodo de Terra, em Ω
d - diâmetro do condutor, em m
h - profundidade do Eletrodo de Terra, em m
ρ - resistividade aparente do solo, em Ω .m

156/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


 - extensão total do Eletrodo de Terra, em m.

6.11 Principais Variáveis de Influência

A resistência do Eletrodo de Terra depende da sua geometria, da resistividade do


solo e da resistividade elétrica da camada do coque.

A resistividade do solo é muito influenciada, entre outros fatores, pela umidade.

Quando de operação monopolar prolongada do Sistema CCAT, o solo pode perder


sua umidade devido a 2 (dois) fatores básicos:

• Eletrosmose
• Aquecimento

6.11.1 Eletrosmose

A Eletrosmose é um fenômeno segundo o qual as moléculas de água migram para


longe ou se aproximam do Eletrodo de Terra seguindo o fluxo de corrente,
constituindo-se no principal responsável pela alteração das resistividades elétrica e
térmica do solo nas imediações do Eletrodo com possíveis danos a esta instalação
devido ao aumento da densidade de corrente em determinadas seções.

Diversas investigações experimentais realizadas demonstraram que a densidade da


corrente no solo capaz de provocar o fenômeno de Eletrosmose em um nível
crítico é de 9,8 A/m2. O valor recomendável para a densidade da corrente a ser
adotado no projeto dos Eletrodos de Terra é de l A/m2.

6.11.2 Aquecimento

Existe uma relação entre a elevação do potencial do Eletrodo de Terra em relação


à Terra Remota e a elevação da temperatura do solo em contato com ele.

À título ilustrativo apresenta-se, a seguir, uma relação das grandezas análogas


relacionadas a este fenômeno:
• Potencial → Elevação de temperatura
• Corrente → Fluxo de calor
• Resistividade elétrica → Resistividade térmica
• Superfície equipotencial → Superfície da mesma temperatura

O Eletrodo de Terra está no potencial mais elevado e também a maior


temperatura. Para pontos mais afastados do Eletrodo, o fluxo de energia elétrica
através das superfícies equipotenciais decresce, sendo acompanhado de um
aumento correspondente do fluxo de energia térmica, de tal modo que o total da
energia aplicado permanece constante.
Dessa análise resultam as seguintes expressões:
Ve2
θe = ...(12)
2. λ .ρ
sendo:

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 157/162


Ve - Potencial do Eletrodo de Terra em relação a Terra Remota, em V.
θ e - Elevação de temperatura do Eletrodo de Terra e do solo próximo em relação à
temperatura ambiente, em ºC
ρ - Resistividade elétrica do solo, em Ω.m
λ - Condutividade térmica do solo, em W/m.ºC
O valor de θ e máximo admissível somado à temperatura ambiente deve ser menor
que 100ºC para evitar a ebulição da água no solo.
Supondo-se ( λ ) com o valor de 1 W/m.ºC e a temperatura ambiente de 25ºC,
variando-se ( ρ ) obtém-se os valores máximos de potencial admissíveis no
Eletrodo de Terra, para evitar-se aquecimento do solo, conforme indicado na
Tabela 6.2:

Da Tabela anterior constata-se que a elevação da temperatura do solo obriga a que a


máxima elevação de potencial de terra do Eletrodo de Terra seja mantida em
valores baixos, menores que 1 kV. Entretanto, deve-se assinalar que na expressão
anterior, não foi considerada a dissipação do calor pelo ar, sendo a análise feita
bastante conservativa.

Adicionalmente, as constantes de tempo térmicas dos Eletrodos de Terra são


re1ativamente longas, quando comparadas com o período previsto para operação
monopolar. A elevação de temperatura no Eletrodo de Terra durante esse modo
de operação prolongado do Sistema CCAT é bem inferior ao valor de
temperatura que acarreta ebulição da água no solo, não sendo esse fenômeno,
portanto, determinante no projeto dos Eletrodos de Terra.

Assim sendo, devido às imprecisões do cálculo teórico da elevação da temperatura,


e pelo fato da condutividade térmica do solo não ser uniforme e não levar em
conta a dissipação de calor para o ar e nem a movimentação da água de
percolação, a forma mais apropriada para a determinação da elevação de
temperatura é por ensaios com Eletrodos de Terra Protótipos.

Cumpre assinalar que na Referência [2] os problemas acima assinalados foram


adequadamente tratados tendo sido desenvolvido um modelo cujos casos de
análise e simulações constam dessa referência, tendo sido apresentados no
capítulo anterior, os principais resultados de interesse. Vale destacar que o
Sistema de Três Gargantas na China utilizou essa referência para construção dos
Eletrodos de Terra do seu Sistema em CCAT [5].

158/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


6.12 Distribuição da Corrente em Cada Seção do Eletrodo de Terra

Um Eletrodo de Terra circular raso instalado em um solo uniforme, por ser uma
superfície equipotencial, dissipa uniformemente no solo, ao longo do seu
perímetro, a corrente total injetada.

Como o solo não é uniforme, principalmente em se tratando das dimensões


usualmente ocupadas pelos Eletrodos de Terra (da ordem de 1 km2) verifica-se a
necessidade de se determinar com precisão a distribuição da corrente ao longo do
perímetro do Eletrodo, para um correto dimensionamento face à limitação dada
pelo critério de densidade máxima de corrente difundida no solo de modo a se
evitar o fenômeno de Eletrosmose.

Para uma melhor monitoração da densidade de corrente pelo solo, divide-se o


Eletrodo de Terra em seções. Assim, cada seção difunde uma parcela da corrente
total no solo. Pode-se, portanto, associar a cada seção uma resistência, cujo valor é
basicamente ditado pela resistividade do solo mais próxima à seção
correspondente.

Com base nesse modelo, tem-se que a corrente numa dada seção será tanto maior
quanto menor for a resistividade elétrica do solo na região da seção em relação ao
valor médio calculado com base nos valores de resistividades elétricas locais de
todas as seções.

Pode-se, portanto, ser determinado um fator de ponderação que multiplicado à


corrente total injetada pelo Eletrodo de Terra fornece a corrente prevista para
cada seção.

seja:
I
C= ...(13)
L

onde:

C – densidade linear de corrente, em A/m


I - corrente total injetada pelo Eletrodo de Terra, em A
L - comprimento total do Eletrodo de Terra em m ...(14)

e:
ρm
Si = ..(15)
ρi

onde:

Si - fator de ponderação para a seção i do Eletrodo de Terra

ρ m - resistividade local média de todas as seções, em Ω .m


ρ i - resistividade local da seção “ i ” do Eletrodo de Terra, em Ω .m

Logo:

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 159/162


i i = C . S i . li ...(16)

li - comprimento da seção “ i ” do Eletrodo de Terra, em m


C, Si - já definidos anteriormente

Conhecendo-se a área lateral de cada seção do Eletrodo de Terra e a corrente


difundida nestas seções, podem-se determinar as densidades de corrente que se
difundem no solo nas diversas seções do Eletrodo de Terra.

As Figuras 5.38 e 5.39 do capítulo anterior foram apresentadas, respectivamente, 2


(dois) exemplos de Eletrodos de Terra, um utilizado para o Sistema de Nelson
River, em Anel Circular (Toroidal), e o outro, no Sistema de Cabora Bassa, em
Moçambique, em Haste Profunda, sendo essa configuração de Eletrodo de Terra
aplicável quando a primeira camada do solo apresenta uma resistividade elétrica
muito superior à da segunda camada.

160/162 SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT)


6.13 Bibliografia

1 – Direct Current Transmission – Volume I – Edward Wilson Kimbark, Sc.D – BPA.


Wiley- Interscience – John Wiley & Sons – Book.

2 – Aquecimento do Solo na Vizinhança de um Eletrodo de Terra de um Sistema de


CCAT Considerando a Interação entre Fenômenos Elétricos, Térmicos e
Eletroosmóticos - Coordenação dos Cursos de Pós- Graduação em Engenharia -
COPPE - Tese de Doutorado – José Eduardo Telles Villas – 30/10/2000.

3 – Calculation of Electric Field and Potential Distribution into Soil and Air Media for
a Ground Electrode of an HVDC System, IEEE Transactions on Power Delivery,
vol.18, no. 3, pp. 867 -873, July,2003.

4 – Soil Heating around the Ground Electrode of a HVDC System by Interaction of


Electrical, Thermal and Electroosmotic Phenomena, José Eduardo Telles Villas and
Carlos Medeiros Portela, IEEE Transactions on Power Delivery, vol.18, no. 3, pp.
867 -873, July,2003.

5 – Common Ground Electrode Design for ± 500 kV and ± 800 kV DC Systems, Fan
Chen, Jinliang He, Bo Zhang, Rong Zeng, Jie Zhao Xiaolin Li and Jinzhuang Lv,
IEEE Transactions on Power Delivery, Manuscript received in June,11, 2008, pp. 1
- 9.

SISTEMAS DE TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA EM ALTA TENSÃO (CCAT) 161/162


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