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Letras

Literatura brasileira e portuguesa I


Teleaula 1
O Arcadismo: características e principais autores
portugueses e brasileiros
Prof.ª Amanda Crispim Ferreira
Valerio
Doutoranda em Letras (UEL)
Mestre em Estudos Literários (UFMG)
Graduada em Letras (UEL)
OBJETIVO:

Pretende-se que ao final da aula o aluno


reconheça as características do movimento
literário Arcadismo, bem como seus principais
representantes em Portugal e no Brasil.
ARCADISMO: Simplicidade para contrapor os
excessos barrocos

O pastor descuidado , William Holman Hunt


(Inglaterra -1851 )
ARCADISMO: principais características

Neoclassicismo: retorno aos clássicos greco-romanos


e renascentistas (Homero, Camões, Petrarca;);
Retomada dos ideais clássicos: o Belo, o Bem e a
Verdade. Arte é imitação da natureza.
Convencionalismo amoroso: não há preocupação em
expressar os sentimentos, mas em seguir o modelo
(pseudôminos pastoris);
ARCADISMO: principais características
Antropocentrismo;
Busca pelo equilíbrio, simplicidade e pela clareza de
ideias;
Presença de elementos da cultura greco-latina.
Influência da burguesia francesa – Revolução
Francesa.
Ideal Iluminista: razão, ciência, conhecimento
humano (renovação do ensino);
Fugere urbem: rejeição à Aurea mediocritas: vida simples
urbanização; reflexão sobre a vida materialmente, mas rica em
simples e natural. (Bucolismo) realizações espirituais, ou seja, ser
Carpe diem: aproveitar a vida pobre e feliz no campo é melhor
enquanto é possível. que ser rico e triste na cidade.

Princípios latinos

Locus amoenus: natureza, local


Inutilia truncat: cortar o
de equilíbrio e paz interior. inútil, eliminar o rebuscamento
Barroco.
ATIVIDADE 1

Aponte 2 diferenças entre o Barroco, estética que


predominou no século XVI, e o Arcadismo.
ARCADISMO EM PORTUGAL

Fundação da Arcádia Lusitana (1756);


Marquês de Pombal: presença dos ideais iluministas e
declínio do poder da Igreja sobre o ensino (laicização);

O balanço de Nicolas Lancret


( França – 1730)
MANUEL DU BOCAGE
( 1765 – 1805)
Pseudônimo Elmano Sadino. Foi um Publicações: Idílios Marítimos
dos poetas dissidentes da Nova (1791); Rimas – 3 volumes (1791-
Arcádia. É considerado um dos 99, 1804); Parnaso bocagiano
grandes nomes da poesia (poesias eróticas, burlescas e
portuguesa, ao lado de Camões, de satíricas).
quem era discípulo.

MANUEL DU BOCAGE
Poesia lírica: transição entre o Poesia satírica, libertina e erótica –
apego às convenções árcades e a levou-o à prisão e à criação de uma
antecipação do estilo romântico figura lendária. Fazia a crítica ao
(razão x sentimento). poder, união dos dogmas da Igreja
ao poder absolutista.
VÍDEO

Bocage, Por Detrás da História

http://fr.youtube.com/watch?v=pYaubAfQqd0
BOCAGE – SATÍRICO / ERÓTICO

Não lamentes, oh Nise, o teu estado;


Puta tem sido muita gente boa;
Putíssimas fidalgas tem Lisboa,
Milhões de vezes putas têm reinado:

Dido foi puta, e puta dum soldado;


Cleópatra por puta alcança a coroa;
Tu, Lucrécia, com toda a tua proa,
O teu cono não passa por honrado;
Essa da Rússia imperatriz famosa,
Que inda há pouco morreu (diz a Gazeta),
Entre mil porras expirou vaidosa.

Todas no mundo dão a sua greta;


Não fiques, pois, oh Nise, duvidosa,
Que isto de virgo e honra é tudo peta.
BOCAGE: LÍRICO /PRÉ-ROMÂNTICO

Ó retrato da Morte! Ó noite amiga,


Por cuja escuridão suspiro há tanto!
Calada testemunha de meu pranto,
De meus desgostos secretária antiga!

Pois manda Amor que a ti somente os diga


Dá-lhes pio agasalho no teu manto;
Ouve-os, como costumas, ouve,
enquanto
Dorme a cruel que a delirar me obriga.
E vós, ó cortesãos da escuridade,
Fantasmas vagos, mochos piadores,
Inimigos, como eu, da claridade!

Em bandos acudi aos meus clamores;


Quero a vossa medonha sociedade,
Quero fartar o meu coração de horrores.
ATIVIDADE 2:
Observe o poema de Bocage a seguir e analise-o, apontando as
características do poeta presentes no texto:
A frouxidão no amor é uma ofensa,
Ofensa que se eleva a grau supremo;
Paixão requer paixão, fervor e extremo;
Com extremo e fervor se recompensa.

Vê qual sou, vê qual és, vê que diferença!


Eu descoro, eu praguejo, eu ardo, eu gemo;
Eu choro, eu desespero, eu clamo, eu tremo;
Em sombras a razão se me condensa.

Tu só tens gratidão, só tens brandura,


E antes que um coração pouco amoroso,
Quisera ver-te uma alma ingrata e dura.

Talvez me enfadaria aspecto iroso,


Mas de teu peito a lânguida ternura
Tem-me cativo e não me faz ditoso.
ARCADISMO NO BRASIL: Entre o local e o
mundial
Séc. XVIII: Ciclo do ouro em Minas Gerais favoreceu o
desenvolvimento cultural e intelectual na região;
Inconfidência mineira: influência dos ideias iluministas
fizeram com que os jovens brasileiros quisessem
também lutar por liberdade;
O contexto brasileiro influenciou a produção, fazendo
com que nossos poetas se afastassem um pouco dos
modelos mundiais.
VÍDEO

Inconfidência mineira

https://www.youtube.com/watch?v=9BJM9eosN0o
ARCADISMO NO BRASIL: Entre o local e o
mundial
Das cabeças dos jovens brotavam ideais revolucionários para
conquistar a independência e os mais belos poemas árcades.

A mais importante das


reuniões dos conjurados,
por Pedro Américo.
ARCADISMO NO BRASIL: principais autores

Entre os autores árcades brasileiros, destacam-se:

Cláudio Manuel da Costa (lírica e épica)


Tomás Antônio Gonzaga (lírica e satírica)
Basílio da Gama (épica)
Santa Rita Durão (épica)
Silva Alvarenga (lírica )
TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA (1744 – 1810)

É autor de duas importantes obras poéticas: uma


satírica, Cartas chilenas, 13 poemas nos quais critica
alegoricamente Luís da Cunha Menezes, governador de
Minas Gerais entre 1783 e 1788, e outra lírica, Marília de
Dirceu, que o tornou mais conhecido. No caso, Gonzaga (o
Dirceu) celebrizou versos amorosos dirigidos à sua amada,
Maria Joaquina Doroteia de Seixas (a Marília).
CARTAS CHILENAS (1787-1788)

Ah! pobre Chile, que desgraça esperas!


Quanto melhor te fora se sentisses
As pragas, que no Egito se choraram,
Do que veres que sobe ao teu governo
Carrancudo casquilho, a quem rodeiam
Os néscios, os marotos e os peraltas!
Seguido, pois, dos grandes entra o chefe
No nosso Santiago junto à noite.
A casa me recolho e cheio destas
Tristíssimas imagens, no discurso,
Mil coisas feias, sem querer, revolvo.
Por ver se a dor divirto, vou sentar-me
Na janela da sala e ao ar levanto
Os olhos já molhados. Céus, que vejo!
Não vejo estrelas que, serenas, brilhem,
Nem vejo a lua que prateia os mares:
Vejo um grande cometa, a quem os doutos
Caudato apelidaram. Este cobre
A terra toda co’ disforme rabo.
MARÍLIA DE DIRCEU (1792)
Lira III, Parte III

Tu não verás, Marília, cem cativos


Tirarem o cascalho, e a rica, terra,
Ou dos cercos dos rios caudalosos,
Ou da minada serra.

Não verás separar ao hábil negro


Do pesado esmeril a grossa areia,
E já brilharem os granetes de ouro
No fundo da bateia.
Não verás derrubar os virgens matos;
Queimar as capoeiras ainda novas;
Servir de adubo à terra a fértil cinza;
Lançar os grãos nas covas.

Não verás enrolar negros pacotes


Das secas folhas do cheiroso fumo;
Nem espremer entre as dentadas rodas
Da doce cana o sumo.
Verás em cima da espaçosa mesa
Altos volumes de enredados feitos;
Ver-me-ás folhear os grande livros,
E decidir os pleitos.

Enquanto revolver os meus consultos.


Tu me farás gostosa companhia,
Lendo os fatos da sábia mestra história,
E os cantos da poesia.
Lerás em alta voz a imagem bela,
Eu vendo que lhe dás o justo apreço,
Gostoso tornarei a ler de novo
O cansado processo.

Se encontrares louvada uma beleza,


Marília, não lhe invejes a ventura,
Que tens quem leve à mais remota idade
A tua formosura.
VÍDEO

Sobre a personagem Marília

http://www.youtube.com/watch?v=Gqj6SlT8Gzw
BASÍLIO DA GAMA (1741-1795)

Em 1769 publica o poema épico O Uraguai, criticando os


jesuítas e defendendo a política do Marquês de Pombal que
o transforma em oficial da Secretaria do Reino. A crítica
recaía no fato de que os jesuítas não defendiam os índios,
apenas pretendiam falsamente libertá-los e usar a mão de
obra indígena para proveito próprio.
O URAGUAI (1769)
A morte de Lindóia (Canto IV)
Este lugar delicioso, e triste,
Cansada de viver, tinha escolhido
Para morrer a mísera Lindóia.
Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva, e nas mimosas flores,
Tinha a face na mão, e a mão no tronco
De um fúnebre cipreste, que espalhava
Melancólica sombra. Mais de perto
Descobrem que se enrola no seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia, e cinge
Pescoço e braços, e lhe lambe o seio.
Fogem de a ver assim sobressaltados,
E param cheios de temor ao longe;
E nem se atrevem a chamá-la, e temem
Que desperte assustada, e irrite o
monstro,
E fuja, e apresse no fugir a morte.
Porém o destro Caitutu, que treme
Do perigo da irmã, sem mais demora
Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes
Soltar o tiro, e vacilou três vezes
Entre a ira e o temor. Enfim sacode
O arco, e faz voar a aguda seta,
Que toca o peito de Lindóia, e fere
A serpente na testa, e a boca, e os dentes
Deixou cravados no vizinho tronco.
Açouta o campo co'a ligeira cauda
O irado monstro, e em tortuosos giros
Se enrosca no cipreste, e verte envolto
Em negro sangue o lívido veneno.
Leva nos braços a infeliz Lindóia
O desgraçado irmão, que ao despertá-la
Conhece, com que dor! no frio rosto
Os sinais do veneno, e vê ferido
Pelo dente sutil o brando peito.
Os olhos, em que Amor reinava, um dia,
Cheios de morte; e muda aquela língua,
Que ao surdo vento, e aos ecos tantas vezes
Contou a larga história de seus males. (...)
Moema, de Victor Meirelles (1866 - Brasil)
CONCLUSÃO

Nesta aula pudemos conhecer as características do


Arcadismo e seus principais representantes em Portugal e
no Brasil.
RESUMO

Nesta aula trataremos das características do Arcadismo,


bem como seus principais representantes em Portugal e
no Brasil.

PALAVRAS-CHAVE: Arcadismo; poetas árcades


portugueses; poetas árcades brasileiros.
REFERÊNCIAS
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo:
Cultrix, 1997.
CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira. São Paulo:
Cultrix, 1989.
GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. São Paulo: Saraiva de
bolso, 2013.
MASSAUD, Moisés. História da Literatura Brasileira. São Paulo:
Cultrix, 1983.
________________. A Literatura portuguesa. São Paulo: Cultrix,
2008.
________________. A Literatura
portuguesa através dos textos. Cultrix,
1986.

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