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Capítulo 1
Com Baudelaire notamos não termos saído tanto de nosso presente. Não há
tempo sem particularidades, sendo estas, pessoais. É o que o define de forma
concreta, definitiva e efêmera. Um retrato de Paris, São Petersburgo, Rio de Janeiro
e o contato com os projetos que as modelavam como barro fresco, são mais que
imagens e teorias, pois vão para além do tempo cronológico. Há, neste exemplo, o
olhar dos pobres que nos chega por Baudelaire. Transeuntes de toda ordem e gosto,
e tudo mais que já foi dito e visto antes. Não se perderam ou deixaram de transitar.
Estão todos ali: as cidades são contemporâneas quando são nossas.
Com o século XXI, estas e novas avenidas, bulevares e guetos continuam a
esparramar-se, porém, temos dificuldade nova em mensurá-las. Aos olhos de uma
pretensa lógica acadêmica somam-se concreto, placas indicativas e sugestivas,
fibras óticas e frequências variadas. A cidade explode como cultura e os olhos de
uma época.
Culmina na máxima proferida por Sartre de que “o inferno são os outros”. As
vias de acesso são vias de contrastes e não possuem uma direção única. Vias de
mão dupla. Há mais intensidade e diversidade naquilo que se vê; e o que se vê,
fisicamente pode não estar ali, pois é também, subjetivo e virtual. Da intensidade e
identidade pelo que se é, as experiências são palpáveis através de outros meios e
sentidos somados àqueles legados pelo XIX.
Porém, existe um lançar-se em direção a vida, diferente daquilo que Martin
Heidegger e seu conceito dasein (Ser-aí), concluiu. A condição de “estar” e “ir” se faz
por clicks e toques em aparatos tecnológicos. Esta é a portabilidade que nos foi
legada por Steve Jobs. Heidegger encarava a nossa condição finita, que, bem ou
mal, sua cidade lhe permitia. A tecnologia expandiu, e o finito consegue ser infinito,
devido a amplitude constantemente atualizada pela vida e ação humana. Assim, as
diferenças que agora são livros abertos e atualizados instantaneamente produzem
um caleidoscópio existencial que define conhecimento, verdades e ações.
Como dinâmica produtiva capitalista e liberal nada mais natural. Esta inova e
destrói, cumpre sua égide expressa pela frase de Karl Marx, presente na obra
“Manifesto do Partido Comunista”, que “tudo que é sólido, desmancha no ar”.
Interligaram-se produção e consumo em tal escala, que é difícil não participar disto
nas atividades mais corriqueiras do dia a dia. Esta via estava nas letras escritas de
Adorno e Horkheimer. Produção e consumo para os frankfurtianos é o elo da cultura
como índice de controle e padronização.
Propagandas bem elaboradas ou modismos de diversos gostos, orientados
aos consumos dos mais variados produtos, podem definir ciclos produtivos afetando
regiões pela busca de matérias-primas específicas. Afetam-se modos de vidas
arraigados. Mudam-se pessoas e comunidades. Isto não é novidade, mas a
dinâmica e o ritmo são vertiginosos.
A cidade expressa uma mistura musicalmente semelhante ao jazz. É
democrática, popular e erudita, inovadora, única, mas como “gravação”, que pode
ser ouvida e assistida para além do evento; seu ritmo é sincopado e de notas
quebradas. Possui fãs de diversas classes, idades, origens étnicas e gêneros.
Nossas identidades estão neste ritmo. O jazz é diverso pelas influências. É ritmo
identitário.
Este processo produz o sujeito pós-moderno, conceptualizado como
não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade
torna-se uma “celebração móvel”: formada e transformada continuamente
em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos
sistemas culturais que nos rodeiam. É definida historicamente, e não
biologicamente. O sujeito assume identidades diferentes em diferentes
momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu”
coerente. Dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em
diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo
Capítulo 2
Tal relação entre a tecnologia aplicada e o resultado obtido pode tanto ser
uma diretiva discriminada em um projeto, mas também é uma incógnita, pois ao
oferecer e potencializar elementos formativos e cognitivos aos estudantes, não
significaria ter a certeza de que todas as variáveis possam ser antecipadas.
Formariam novos homens, e estes, novos outros homens.
Escolas inclusivas tem de ter e ser o perfil de uma instituição pública. Isto
refere-se não só ao público como aos objetivos oferecidos a este. Neste perfil
destacado acima – contemporâneo a tecnologia e reativo as necessidades
estruturais de uma região onde a escola estiver locada -, o vínculo particular/geral e
geral/particular é premente e necessário. Como princípios que devem ser
respeitados podemos apontar três para destes não nos esquecermos:
- Ser capaz de atuar com autonomia;
- Ser capaz de interagir em grupos socialmente heterogêneos;
- Ser capaz de utilizar instrumentos e recursos de maneira interativa.
O conjunto é a ossatura de um projeto geral, contudo, os ditos instrumentos e
recursos são particularizados e compreendem a nossa narrativa e entendimento da
história. As tecnologias de comunicação e informação refletem-se nos processos de
desenvolvimento e socialização evidenciando a relação entre o ser e o fazer.
Condicionam-se pela variável tecnologia. Na educação isto reflete-se na questão
cognitiva, social e educacional. Na vida poderia ser chamada de alteridade, pois
estar no lugar do outro é também querer ser o passado o presente e o futuro. Diz,
Castells, citado por Cesar Cool et al:
Cabe então entender que tipo de tecnologia se faz presente e o que esta
torna possível. Três elementos materiais aí se destacam: o projeto tecnológico, o
técnico-pedagógico e as práticas de uso.
O projeto tecnológico é uma locução entre a estrutura física – estruturação de
laboratórios de informática e conexão banda larga –, softwares e desdobramento de
ações possíveis pela rede mundial. Esta última inserção faz referência sobre a Web
2.0 que possibilita a experimentação, reflexão e geração de conhecimento
individuais e coletivos. O que isto nos diz é que qualquer projeto tecnológico-
pedagógico tem que primeiro ter um know-how sobre aquilo que de fato tem mãos
para poder melhor utilizá-los (ou ter noção de qual proposta é realmente viável e
possível).
Tal percepção nunca será exclusivamente uma competência do Estado,
entendido como política-pública, ou do educador, que orientará e mediará este
processo. A relação é íntima, por isso, caso o uso de tais tecnologias carente de
alguma infraestrutura crucial, sua execução estará sempre aquém do desejável.
A outra variável é o aluno. Este deve ser visto como agente em um ambiente
virtual. Como foram apontadas algumas premissas das TICs, estas seriam pontos de
partida para entendermos tal dinâmica que se faz concomitante ao aspecto
tradicional da educação no Brasil.
As mudanças que seriam de fácil prognóstico se dariam no processo de
socialização educacional, nas concepções epistemológicas e nos projetos de vida,
ampliadas devido as novas abordagens oferecidas a estes estudantes.
A socialização educacional vincularia uma didática mais participativa visto que
qualquer produção pode influenciar e ser influenciada por outras experiências
similares, estejam estas sendo produzidas no ambiente escolar comum aos
estudantes ou com outras instituições de ensino.
Esta transição pode ser percebida pela evolução dos conceitos. Marshall
McLuhan ao cunhar o termo “Galáxia Gutemberg” apontava para a individualização
do sujeito devido a prensa e a tipografia. A alfabetização conduziu os sujeitos ao eu
que fala além da oralidade e dos nós que ouvimos para além das convenções
simplistas e discricionais de espaço e tempo. Mas esta transmutou-se conduzindo-
nos a “Galáxia Marconi”. Os sentidos expandem-se e interligam-se. Mass Media e
supercultura popular.
Os nacionalismos existem por redundâncias políticas, mas não como
condições de vivências, como já apresentado neste artigo. Como a ideia de
pertencimento pode ser afetada por transformações tecnológicas – com McLuhan
temos a prensa, tipografia e a televisão, por exemplo – não há como negligenciar um
posicionamento crítico aos novos aparatos tecnológicos e a inserção, ou, melhor
dizendo, encaminhamento, dos estudantes nesta dimensão.
O que deve sempre ser evidenciado é que neste processo, esta ocorrerá
invariavelmente seja com ou sem a participação da escola ou da educação como
projeto e processo na vida do sujeito.
Já as concepções epistemológicas referem-se a como produzir – ferramentas
disponíveis, metodologias diversas e amplos conteúdos, que apresentariam
qualquer possibilidade de interação extremamente variadas. Textos, vídeos, áudios,
imagens e diálogos estão ao alcance de um click. Estes podem ser discriminados,
mesclados, resultando em novas abordagens, significando a heterogeneidade do
conhecimento e, dos estudantes envolvidos.
Esta aproximação entre sujeitos e conteúdos resultaria em uma visão mais
ampla sobre as possíveis ações que estes poderiam ter em suas vidas. As
perspectivas vygotskyana e freiriana se complementariam neste processo didático-
pedagógico exatamente por sempre enfatizarem a relação entre cultura e interação
social como pilares para o desenvolvimento psicológico dos indivíduos.
Estes elementos nos dão a escola como cidade – a metáfora exposta no
primeiro capítulo. É dinâmica, ampla, cartesiana e ilógica. Varia conforme o meio e
age sobre este mesmo, transformando-o. Multifacetada por ser interligada com o
universo, expõem a crítica da pessoa e do coletivo. Uma aula precisa ser a diretriz
para as certezas e incertezas. Que estejam dispostas as ferramentas, não só os
aparatos tecnológicos mas também, os corpos docentes e discentes.
Amputa-se a certeza e valoriza-se a experiência amparada não somente por
uma simples condição de replicar, mas pelo criar, e assim, replicar. Não se
negligencia a teoria porque é necessário também saber fazer a tecnologia e isto
deve ser distendido em uma visão ampla, pois permite a autonomia do sujeito.
Incorpora-se a fala como expressão que cria o mundo e a si mesmo. Ludwig
Wittgenstein, Maurice Merleau-Ponty e Manuel Castells são alguns discricionários
deste aporte. A fala é a síntese do universo e este, é o conjunto e as partes de todas
as coisas.
Nossos estudantes são definidos como nativos digitais. Isto significa que
estes já são a tecnologia em rede. Não é mais a rede que tece as pessoas e sim
estes que a ampliam por aquilo que são. Falas globais e interligadas.
Conclusão
Referências:
COLL, Cesar et al. Psicologia da Educação Virtual. Artmed Editora SA, São
Paulo, 2010.
BURKE, Peter. O que é História Cultural. Zahar, 2ªed., Rio de Janeiro, 2008.
COSTA LIMA, Luiz (org). Teoria da cultura de massa, 8ª ed. Paz e Terra, São
Paulo, 2011.