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O ATP
O trifosfato de adenosina (ATP) é a única forma de energia química que pode ser
convertida em outras formas de energia utilizáveis pelas células. A energia livre
resultante da hidrólise do ATP permite a contração muscular e, dessa forma, a geração
de força e trabalho. Durante o exercício, a taxa de utilização de energia pode aumentar
até 30 vezes. Um complexo conjunto de processos metabólicos está envolvido na
produção, no armazenamento e na utilização dos substratos capazes de gerar ATP,
atendendo à demanda energética do exercício físico.
O ATP não pode ser acumulado em grandes quantidades, sendo o estoque intramuscular
de apenas cerca de 24 mmol/kg de matéria seca, suficiente para cerca de 2 segundos de
contrações musculares no exercício máximo. Apesar da intensa utilização desse
composto, seus níveis intracelulares não caem mais que 30 a 40%, mesmo durante
exercício intenso, uma vez que é eficazmente ressintetizado a partir do ADP e do AMP.
Fosfocreatina
Em 1780, Carl Wilhelm Scheele descobriu o ácido láctico. Muitos anos mais tarde, em
1922, Otto Meyerhoff e Archibald V. Hill receberam o Prêmio Nobel por seus trabalhos
acerca da energética do catabolismo dos carboidratos no músculo esquelético, os quais
demonstraram que o ácido láctico é produzido por meio da glicólise na ausência de
oxigênio. Desde então, assumiu-se que em altas intensidades de trabalho muscular, em
que a disponibilidade de oxigênio torna-se limitada, aquele composto é formado, sendo
então dissociado em lactato e íons H+, o que seria responsável pela acidose metabólica
que se instala nessas situações, contribuindo para o desenvolvimento da fadiga. De fato,
uma correlação entre a formação de lactato, que por sua vez se correlaciona à
intensidade do exercício, e a diminuição do pH muscular é verificada. Entretanto,
trabalhos recentes demonstram que não parece se tratar de uma relação de causa e
efeito, visto que o ácido láctico possui uma baixa constante de dissociação (pKa) de seu
grupo carboxila (3,87).
Assim, apesar de a correlação entre a formação de lactato e a acidose metabólica
muscular, como demonstrada há diversas décadas, de fato existir, essa seria explicada
pelo aumento na demanda por ATP do músculo em contração, suprida pela glicólise e
pelo sistema da fosfocreatina. Nesse caso, o ATP é suprido por fontes não-
mitocondriais, e íons H+ provenientes da glicólise e da hidrólise do ATP se acumulam,
uma vez que deixam de ser utilizados na respiração mitocondrial. Ou seja, de acordo
com algumas evidências, a causa da acidose metabólica não seria meramente a liberação
de prótons, mas sim um desequilíbrio entre a taxa de liberação e a taxa de
tamponamento desses prótons. E, ainda, a fonte de H+ não seria a molécula de ácido
láctico formado na glicólise anaeróbica.