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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

JOÃO MARCONDES DA SILVA NETO

FONOGRAMA: TRANSFORMAÇÕES HISTÓRICO-CULTURAIS E


TENDÊNCIAS TECNOLÓGICAS NO MERCADO DA MÚSICA POPULAR
BRASILEIRA (1902-2007)

São Paulo
2009
JOÃO MARCONDES DA SILVA NETO

FONOGRAMA: TRANSFORMAÇÕES HISTÓRICO-CULTURAIS E


TENDÊNCIAS TECNOLÓGICAS NO MERCADO DA MÚSICA POPULAR
BRASILEIRA (1902-2007)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Educação, Arte e História da Cultura da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito
parcial à obtenção do título de Mestre em Educação,
Arte e História da Cultura.

Orientador: Prof. Dr. Arnaldo Daraya Contier

São Paulo
2009
S586f Marcondes, J. Silva Neto
Fonograma: Transformações histórico-culturais e tendências
tecnológicas no mercado da música popular brasileira (1902-2007)
João Marcondes da Silva Neto - 2009
239 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Educação, Arte e História da


Cultura) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2009.
Orientadora: Prof. Dr. Arnaldo Daraya Contier
Bibliografia: f. 224 - 227.

1. Música. 2. Arte. 3. Entretenimento. 4. Fonograma.


5. Mercado Fonográfico. I. Título.

CDD 781.640981
JOÃO MARCONDES DA SILVA NETO

FONOGRAMA: TRANSFORMAÇÕES HISTÓRICO-CULTURAIS E


TENDÊNCIAS TECNOLÓGICAS NO MERCADO DA MÚSICA POPULAR
BRASILEIRA (1902-2007)

Dissertação apresentada à Universidade


Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial
para a obtenção do título de Mestre em Educação,
Arte e História da Cultura.

Aprovado em

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Arnaldo Daraya Contier - Orientador


Universidade Presbiteriana Mackenzie

Prof.ª Dr.ª Ingrid Hötte Ambrogi


Universidade Presbiteriana Mackenzie

Prof. Dr. Dr. Celso Mojola


Faculdade Carlos Gomes
Aos meus pais, Lúcia Marton e João Marcondes. A Lílian, que
incentiva com companheirismo e amor.
AGRADECIMENTOS

Ao Doutor Arnaldo Daraya Contier - ser humano formidável, elegante, de conhecimento


estonteante - que compreendeu as sutilezas deste projeto, e me ajudou a torná-lo
possível;

Aos membros da banca examinadora;

A Capes, que contemplou minha dedicação com uma bolsa de estudos;

Ao Mack-Pesquisa; que viabilizou recursos de apoio à pesquisa.

Aos Professores;

Aos colegas, cito Daniella Basso, que me auxiliou na revisão textual. Ao José Luís, que
dividiu comigo experiências sobre Cinema e Psicologia;

Ao grande amigo Wagner Barbosa, compositor, que me auxiliou na digitalização dos


fragmentos musicais; Ao grande amigo Joca Freire, inspirador, companheiro;

A minha família, tios, tias; ao meu avô Antônio que me inspira com força e fé; a minha
avó Helena que nos deixou inesperadamente e não pode acompanhar outro passo em
minha carreira; aos meus avós João e Tereza (in memorian) - queridos padrinhos -
saudade;

Ao meu irmão Luís Henrique, que muito amo, companheiro de guerra e paz;

A minha irmã, Maria Luísa, linda;


A todos os amigos, compositores, intérpretes, que munem o amor gigantesco que sinto
pela arte, pela música, pelo conhecimento, e que me fazem enxergar caminhos, novas
possibilidades.
RESUMO

Estudo que observa linearmente as principais modificações do mercado fonográfico


brasileiro, entre 1902 e 2007. Classificando fontes primárias, fonogramas, na
estruturação do conhecimento. Contempla em seu histórico, o princípio do mercado
fonográfico brasileiro. As modificações ocorridas entre o século XIX e XX para os
musicistas de forma geral. Ilustra num segundo momento, os perfis de musicistas, dos
instrumentos e sua função no fonograma, da constituição da música popular brasileira.
Apresenta as principais modificações do produto fonográfico. E propõe uma forma para
trabalhar artisticamente com as tecnologias disponíveis no mercado fonográfico.

Palavras-chave: Música, Arte, Entretenimento, Fonogramas, Mercado Fonográfico.


ABSTRACT

The study notes that line the main Brazilian phonographic market changes, between
1902 and 2007. Classifying primary sources, phonograms, the structuring of knowledge.
Includes in its history, the principle of the Brazilian phonographic market. The changes
between the XIX and XX century for musicians in general. Illustrates a second time, the
profiles of musicians, instruments and their role in the phonogram, the formation of
Brazilian popular music. Presents the main changes to the product phonographic. It
proposes a way to work artistically with the technologies available in the phonographic
market.

Keywords: Music, Art, Entertainment, Phonograms, phonographic market.


LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Imagem de Thomas Edison em sua biblioteca


particular............................................................................ 17

FIGURA 2 Fonógrafo de Edison de 1877........................................... 17

FIGURA 3 Fonógrafo de Edison aprimorado, comercializado.......... 18

FIGURA 4 Émile Berliner................................................................... 21

FIGURA 5 Gramofone de 1888.......................................................... 22

FIGURA 6 A casa Edison e seu tempo – Humberto Franceschi...... 41


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................... 10

A) JUSTIFICATIVA........................................................................................ 10

B) OBJETIVOS.............................................................................................. 12

1) OBJETIVO CENTRAL.............................................................................. 12

2) OBJETIVOS SECUNDÁRIOS................................................................... 12

C) CRITÉRIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS............................................ 13

D) DEBATE ATUAL SOBRE A PRODUÇÃO CIENTÍFICA........................ 15

E) CORPUS..................................................................................................... 16

I O SURGIMENTO DOS MEIOS DE REGISTRO E REPRODUÇÃO


SONORA. OS PRINCIPAIS INVENTORES. E OS FONOGRAMAS..... 17

1 THOMAS EDISON E A INVENÇÃO DO FONÓGRAFO.......................... 17

2 O GRAMOFONE, ÉMILE BERLINER, E A GRAVAÇÃO EM DISCOS DE


ZINCO.......................................................................................................... 21

3 ELDRIDGE JOHNSON E A INVENÇÃO DOS DISCOS DE CERA....... 24

4 ADEMAR NAPOLEON PETIT E A INVENÇÃO DO DISCO DUPLA


FACE........................................................................................................... 25

5 FONOGRAMAS.......................................................................................... 26

5.1 OS PRINCIPAIS PRODUTOS DO MERCADO FONOGRÁFICO............... 27

5.1.1 CILINDROS................................................................................................. 27

5.1.2 DISCOS OU CHAPAS................................................................................ 28

5.1.3 EP (COMPACTO)....................................................................................... 31

5.1.4 LP, LONG PLAY........................................................................................ 31

5.1.5 FITA K7...................................................................................................... 33


5.1.6 CD, COMPACT DISC................................................................................ 33

5.1.7 MP3 E A LIVRE DIFUSÃO........................................................................ 34

II A TECNOLOGIA E OS MEIOS DE REGISTRO E REPRODUÇÃO


SONORA NO BRASIL. O PIONEIRISMO COMERCIAL DE
FREDERICO FIGNER. E O AVANÇO DAS MULTINACIONAIS............ 36

1 O FONÓGRAFO. O “EXOTISMO” DA “MACHINA FALANTE”............. 36

2 FREDERICO FIGNER E A CASA EDISON................................................ 38

3 HAGEN, O PRIMEIRO TÉCNICO DE SOM E GRAVAÇÃO NO BRASIL 40

4 O AVANÇO DAS MULTINACIONAIS NO MERCADO FONOGRÁFICO


BRASILEIRO............................................................................................... 44

III CLASSIFICAÇÃO DOS FONOGRAMAS DA MÚSICA POPULAR


BRASILEIRA (1902 – 2007)....................................................................... 46

1 FASE MECÂNICA (1902 - 1927)................................................................ 46

1.1 PRIMEIRA FASE MECÂNICA ENTRE 1878 E 1901................................ 46

1.2 SEGUNDA FASE MECÂNICA, ENTRE 1902 E 1927.............................. 48

1.2.1 FONOGRAMAS CLASSIFICADOS............................................................ 49

2 FASE ELÉTRICA (1927 A 2007)................................................................ 64

IV USO DOS RECURSOS MUSICAIS E TECNOLÓGICOS


INESLORADOS NA CONSTRUÇÃO DE UM FONOGRAMA DA
MÚSICA POPULAR BRASILEIRA............................................................. 215

1 AS DINÂMICAS CONTRASTANTES E O PADRÃO RÁDIO.................. 215

2 O USO DO PANORAMA............................................................................ 217

3 O USO DO METRÔNOMO NA PRODUÇÃO DE FONOGRAMAS........ 219

4 ARRANJO E INSTRUMENTAÇÃO........................................................... 220

CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................... 222

BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA............................................................ 224


BIBLIOGRAFIA DE CONSULTA............................................................... 226

ANEXO...................................................................................................... 228
INTRODUÇÃO

A) JUSTIFICATIVA

O mercado fonográfico influencia as manifestações musicais do mundo Ocidental desde


seu advento, que no Brasil remete as primeiras décadas do século XX.

A invenção do fonógrafo, no ano de 1877, encadeou um processo de transformação na


realidade sócio-cultural dos musicistas, do final do século XIX aos dias de hoje.

A possibilidade de registrar e reproduzir sons fez da música mais que um meio de


expressão artística. Com o fonograma a música popular se tornou produto comercial. A
comercialização de objetos que guardam os sons trouxe a música a locais inóspitos
antes invisitáveis.

A possibilidade comercial fez da música popular um meio para proliferação de idéias e


ideais, contemplou a expressão popular das nações e registrou as modificações
culturais, década a década, nos países de intensa miscigenação como o Brasil e os
Estados Unidos da América.

Com o advento do mercado fonográfico ocorreu um processo que culminou na


profissionalização de musicistas de perfil popular. Registrando em áudio obras que
cairiam certamente em esquecimento pela ausência do conhecimento global da
tradição escrita, de grafar alturas e durações em pauta.

Estes autores intuitivos do final do século XIX, início do século XX podem ser
conhecidos hoje pela presença do mercado fonográfico.
Os mecanismos de registrar e reproduzir sons, cujo mercado fonográfico usufrui,
continuam em um processo acelerado de evolução, de aperfeiçoamento. Não foram
poucos os sistemas do final do século XIX ao dias de hoje, haja vista os reprodutores:
fonógrafos, gramofones, grafanolas, rádio, vitrolas toca discos, toca fitas, e o atual toca
CDs e mp3. Os registradores: fonógrafo, gramofone, rolo, fita ADAT, fita DAT, fita k-7 e
o atual meio digital.

O fonograma, termo originado como objeto do registro sonoro do aparelho fonógrafo, foi
revestido década a década com embalagens atrativas, coloridas e diferenciadas. A
cada período a embalagem, do agora produto fonográfico, encontrou formas únicas e
de importância comercial cada vez maior.

O conteúdo do fonograma, no entanto, foi o que mais modificou. Apresentando


variações no campo da instrumentação, forma, estilo e gênero. Com cada possibilidade
tecnológica a qualidade técnica, gradativamente evoluiu, tornando a apreciação mais
real.

Com os avanços tecnológicos recursos musicais se modificaram variantes surgiram. A


duração cada vez maior dos fonogramas, por exemplo, ampliou a forma estrutural da
composição popular. Padrões são identificáveis. Dinâmicas por textura e acréscimos de
instrumentos constituíram os arranjos. Os avanços tecnológicos possibilitavam novas
arregimentações perceptíveis década a década.

A produção fonográfica possibilitou um intercâmbio cultural inimaginável, promovendo o


início do processo que culminou na globalização.

O fonograma está incorporado definitivamente à cultura artística ocidental. Foi


comercializado em diferentes formatos: em cilindro, disco 78 RPM compacto simples e
duplo, LP, fita-k, CD e mp3. O fonograma compôs álbuns sem perder individualidade.
O presente estudo visa compreender as principais modificações tecnológicas e
estruturais ocorridas em mais de um século da história fonográfica brasileira, para
propor uma metodologia tecnológica para criação artística.
B) OBJETIVOS

1) OBJETIVO CENTRAL

Estabelecer, através de levantamento histórico, parâmetros para constituir um


fonograma artístico no mercado brasileiro atual. Ressaltando recursos tecnológicos e
musicais inexplorados. Trabalhando com contrastes em padrões identificados.

2) OBJETIVOS SECUNDÁRIOS

 Constituir um panorama histórico sobre o mercado fonográfico no Brasil.

 Classificar fonogramas entre 1902 e 2007 avaliando conceitos técnicos e musicais.

 Identificar padrões fonográficos.

 Compreender as principais modificações que o mercado fonográfico exerceu para o


musicista de forma geral.

 Mapear a gama de profissões que surgiram diante do advento do mercado


fonográfico.

 Identificar perfis do músico popular.

 Localizar e descrever de maneira funcional, os principais instrumentos utilizados no


mercado fonográfico brasileiro.
 Identificar selos e gravadoras que fazem parte do mercado fonográfico brasileiro.

C) CRITÉRIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

A constituição metodológica instrui-se na classificação das fontes primárias,


fonogramas, e nas fontes bibliográficas disponíveis que abordam o mercado fonográfico
brasileiro.

O fonógrafo, a introdução no Brasil no século XIX, e o histórico do mercado fonográfico


brasileiro, baseiam-se no livro de José Ramos Tinhorão Música Popular - do
Gramofone ao Rádio e TV. Esta fonte indica fonogramas iniciais, possibilidades
comerciais no surgimento da Casa Edison, e o pioneirismo de Frederico Figner (1866 –
1947).

O livro A Casa Edson e seu tempo, de Humberto M. Franceschi, documenta o advento


do mercado fonográfico no Brasil. Estabelece diretrizes para a escolha dos fonogramas
das primeiras décadas do século XX. Franceschi determina os pioneiros inventores:
Thomas Edison (1847 – 1931), Émile Berliner (1851 – 1929), Eldridge Johnson (1867 –
1945) e Napoleon Petit (1856 -?), e como seus inventos modificaram a forma de pensar
do mundo ocidental.

Em seu histórico o livro A Casa Edison e seu tempo retrata a cultura brasileira do
início do século XX. Oferece dados contrastantes sobre o principal personagem do
advento do mercado fonográfico brasileiro: Frederico Figner. Da primeira gravadora A
Casa Edison e do avanço das multinacionais na década de 1930: Columbia, Odeon, e
Universal.

Ambas as referências bibliográficas definem indiretamente o conceito de fonograma,


suas possibilidades comerciais, roupagens e objetos comercializados.
Os fonogramas, como fontes primárias, são essenciais para observar as principais
modificações no mercado brasileiro. A partir da seleção de registros, da música popular
do Brasil, entre 1902 e 2007 aspectos como arregimentação, tempo, formato,
instrumentação, qualidade sonora e contexto são classificados.

Os fonogramas foram apreciados em um fone de ouvido profissional AKG K-44.

A classificação dos fonogramas obedece aos seguintes parâmetros:

1. Nome da composição e autor.


2. Nome do intérprete.
3. Nome da gravadora ou selo
4. Ano: Data de lançamento ou gravação do fonograma
5. Época da gravação: fase mecânica ou elétrica?
6. Caráter: Instrumental ou vocal
7. Gênero: Espécie e origem.
8. Instrumentação: Instrumentos que compõe o arranjo.
9. Forma: Seções da composição.
10. Tempo de duração em segundos.
11. Intensidade: apresenta dinâmica sim ou não.
12. Caráter da música: Modal, tonal ou atonal.
13. Métrica
14. Descrição do fonograma.

Os fonogramas foram escolhidos ao acaso, sem atribuição de juízo de gosto e


independentemente do gênero, estilo, caráter ou instrumentação. Estes fonogramas
foram recolhidos dos acervos do MIS – Museu da Imagem e do Som, da Casa Edison
e Seu Tempo de Humberto Franceschi, e dos acervos particulares de Francisco
Ribeiro, e do próprio autor. Sua classificação identifica nos dados obtidos padrões
artísticos e tecnológicos.
São dois fonogramas entre 1902 e 1910, dois fonogramas entre 1911 e 1920, dois
fonogramas entre 1921 e 1930, quatro fonogramas entre 1931 e 1940, quatro
fonogramas entre 1941 e 1950, e quatro fonogramas entre 1951 e 1959. A partir de
1960, onde as modificações e o uso de recursos tecnológicos são com maior
freqüência, foi selecionado um fonograma por ano até o ano de 2007. Totalizando,
enfim, sessenta e seis fonogramas.

Estes fonogramas classificados servem de base para formular uma proposta artística
para a confecção de um fonograma. Como eixo a música popular.

D) DEBATE ATUAL SOBRE PRODUÇÃO CIENTÍFICA

As pesquisas sobre mercado fonográfico se concentram nos campos da antropologia e


sociologia, oferecendo um parâmetro não linear sobre esse fenômeno cultural.

Essas pesquisas pinçam aspectos como gênero, artista e movimento musical. Isolados,
de maneira aleatória, não esclarecem a realidade e as transformações que os músicos
e o mercado encontraram no passar de um século. Ainda não observam as variantes
tecnológicas e estruturais no campo da música popular, da profissionalização.

As pesquisas perceptivelmente se estabelecem por juízo de gosto, sem passar por uma
perspectiva musical, circunstância artística valorativa.

As poucas pesquisas com enfoque em música não pautam o fonograma, buscando


compreender o instrumentista, a intérprete, o compositor em suas formas de execução e
criação. Descontextualizados não esclarecem o fenômeno mercado fonográfico. São
trabalhos que avaliam o primor técnico individual de artistas.
Numa perspectiva global o presente trabalho é inédito e vem oferecer um panorama
sobre a produção fonográfica no Brasil.

As inovações tecnológicas que transformaram os fonogramas do mercado brasileiro,


nunca foram classificadas. A documentação existe, os fonogramas, fontes primárias,
extraídas de discos de 33 ½ RPM, 78 RPM, EP, LP e CD.

A classificação oferece parâmetro para estabelecer uma proposta artística para o uso
da tecnologia e recursos musicais inexplorados no campo da música popular.

Outro foco contemplado pelas pesquisas científicas, o fenômeno da livre difusão, do


estabelecer de selos independentes, é citado em bibliografias no campo da sociologia.
Sem oferecer, no entanto, um paralelo analisando o mercado fonográfico e o processo
que culminou nessa tendência.

A nova proposta do fazer artístico no mercado fonográfico é inédita. Expondo recursos


tecnológicos e musicais ainda inexplorados, ou utilizados com zelo no campo da música
popular, no mercado brasileiro de maneira geral.

E) CORPUS
CAPÍTULO I – O SURGIMENTO DOS MEIOS DE REGISTRO E
REPRODUÇÃO SONORA. OS PRINCIPAIS INVENTORES. E OS
FONOGRAMAS

1 THOMAS EDISON (1847 – 1931) E A INVENÇÃO DO FONÓGRAFO

O inventor Thomas Alvo Edison, nascido em Milan, Ohio nos Estados Unidos, no dia 11
de fevereiro de 1847, não imaginava que seu invento o fonógrafo iria transformar as
relações comerciais no campo da música na cultura Ocidental.

Fig. 1: Imagem de Thomas Edison em sua biblioteca


particular.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Edison

Fig 2: Fonógrafo de Edson de 1877


Fonte:pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Edison
No ano de 1877 no laboratório de Menloo Park, em Orange, no estado norte-americano
de Nova Jersey o fonógrafo registrava seus primeiros sons. Dessas primeiras
gravações um registro ainda existe, Edison recitando “Maria tinha um cordeirinho”.

Seu invento, um de seus mais importantes, foi patenteado nos Estados Unidos, em 19
de fevereiro de 1878, sob o n. º 200251.

Poucos acreditavam nas possibilidades que aquele aparelho propiciara. Tamanho


espanto é de se surpreender no mundo de hoje, no entanto no final do século XIX a
possibilidade de registrar sons era algo incomum, impensável.

A invenção do fonógrafo foi tão inovadora que ao apresentado à Academia de Ciências


gerou espanto tão grande que o concessionário do inventor Thomas Edison foi acusado
de ventriloquismo.

Alguns membros incrédulos por natureza ao invés de examinar o fato físico


procuraram deduzi-lo a partir de considerações morais e dele tirar analogias;
prontamente ouviu-se na sala um rumor que parecia acusar a Academia de se
deixar ludibriar por um hábil ventríloquo... (FRANCESCHI, Cartas anexadas).

[...] os incrédulos não se deram por vencidos. Eles mesmos quiseram fazer a
experiência. Só assim aceitariam em definitivo o fato de a palavra (registrada)
poder ser reproduzida... (FRANCESCHI, Cartas anexadas).

Fig. 3 Fonógrafo de Edison aprimorado,


comercializado

Fonte: pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Edison
O fonógrafo, em pouco tempo, se tornou, pelo exotismo, uma forma rentável. Os
proprietários de tais máquinas, que num espaço de dois anos, eram comercializadas
nas principais lojas, cobravam por audições públicas.

Edison não tinha pretensão de gravar música com seu invento, pensava em uma
função científica, segundo Franceschi também “na gravação de discursos políticos”, na
comunicação.

Mas foi no campo da música popular que as gravações estavam destinadas a fazer as
maiores revoluções. E não demorou, para que a visão comercial de um indivíduo
fizesse do experimento laboratorial de Edison uma forma lucrativa.

Em um curto espaço de tempo lucrava-se com a exibição paga da máquina falante. A


seguir com a venda da própria máquina e em terceiro plano com a comercialização de
fonogramas em cilindros.

Na Europa: Itália, Alemanha, Inglaterra e França os primeiros fonogramas registrados


eram de cantores eruditos de ópera, acompanhados ao piano. No Estados Unidos
registrava-se, assim como no Brasil, a música popular urbana.

O fonógrafo era constituído por um cilindro de couro recoberto por uma folha de
estanho, montado sobre um eixo horizontal provido de manivela em uma das
extremidades, ao acionada permitia à agulha ligada a um diafragma riscar a superfície
do estanho conforme a vibração provocada pelas ondas sonoras.

Na reprodução, a velocidade imposta à manivela precisava ser exatamente a da


gravação, do contrário o som surgiria distorcido e infiel ao corpo sonoro registrado
originalmente. Essa questão ainda inviabilizava a comercialização em larga escala.

A máquina posteriormente perderia a manivela e seria alimentada por uma bateria


elétrica, que possibilitava a precisão necessária no registro e na reprodução sonora.
Os cilindros eram inicialmente fixos. Pouco tempo depois, em 1889, o fonógrafo foi
aperfeiçoado e os cilindros removíveis passaram a ser comercializados nos Estados
Unidos, algo que ocorreria no Brasil apenas em 1897.

Foi de Charles Summer Tainter (1854 – 1940), mecânico da oficina de Edison, a


primeira evolução nos cilindros removíveis no ano de 1888. Registrou a espécie de
fonógrafo de cilindros removíveis como Grafofone, para não ferir patente de Edison. No
ano seguinte, o próprio Edison aperfeiçoou seu invento com cilindros também
removíveis.
2 O GRAMOFONE, ÉMILE BERLINER (1851–1929), E A GRAVAÇÃO EM
DISCOS DE ZINCO

Em 1891, Edison já tinha um rival Émile Berliner o futuro inventor do disco.

Émile Berliner nasceu em Hanôver, Alemanha, em 3 de maio de 1851.

Importante inventor, radicado nos Estados Unidos, especialista em química e muito


interessado por acústica, aprimorou o registro de sons ao inventar o processo de
gravação horizontal.

Segundo Humberto Franceschi Berliner descobrira o método de gravar sons em discos


de zinco, cobertos por uma película gordurosa e impermeável.

Fig. 4: Émile Berliner


Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Émile_Berliner

[...] depois de gravado, era imerso em ácido. O ácido reagia sobre os traços
feitos pela agulha de gravação deixando no zinco um sulco, fino e raso com
profundidade homogênea (FRANCESCHI, 2004 p. 47).

No seu recente invento o gramofone, aparelho que agora reproduzia discos de áudio
registrado, Berliner se concentrou na principal questão da difusão comercial. A
preocupação referente à duplicação era determinante para que o invento obtivesse
êxito comercial.
Baseou-se no princípio do negativo e construiu matrizes em cobre a partir do disco
original gravado em zinco e homogeneizado com ácido.

Fig. 5: Gramofone de 1888

Fonte:
www.img.lx.it.pt/.../images/gramofone_1888.jpg

Os primeiros gramofones comercializados no final do século XIX apresentavam uma


manivela que dependia de força humana. O manual instruía o possuidor do gramofone
a posicionar o cotovelo para que se obtivesse velocidade uniforme. Logo em seguida, a
manivela seria substituída pela propulsão elétrica, via bateria, assim como nos
fonógrafos.

O gramofone num período de uma década substituiria o fonógrafo no Brasil. As


gravações em discos obtinham maior qualidade no registro e reprodução. Melhor
propagação nos quesitos intensidade e definição. Levava-se em conta também à
praticidade do disco ante o cilindro.

A confecção da matriz foi ponto chave para o sucesso da técnica de Berliner. Segundo
Humberto Franceschi, “Berliner guardou a todo custo as técnicas que desenvolvera”.

Os discos eram produzidos inicialmente a base de vulcanite, composto de borracha


vulcânica, inaugural, mas que em pouco tempo de acordo com o peso da agulha
desgastava-se.
Berliner baseou-se na confecção de botões para atingir seu produto final, constituído a
partir de goma laca, negro de fumo e flocos de algodão. O disco de Berliner possuía
sete polegadas.

Logo entusiastas com visão comercial fundariam o que conhecemos hoje como
gravadoras empresas, que inicialmente comercializavam aparelhos, máquinas falantes.
Comercializariam subseqüentemente fonogramas.

Num curto período a necessidade de novos registros fonográficos fez destes


comerciantes “produtores comerciais”. Contratavam artistas, pagavam a comissão
sobre a gravação. E as comercializavam com lucros consideráveis.

Num primeiro momento gravava-se o que havia de disponível, o sucesso entre os


salões. Na segunda década do século XX já é possível afirmar que os produtores
comerciantes aguçavam e percebiam os fonogramas mais rentáveis e fariam deles
prioridade. Solicitavam ao artista popular algo similar a uma composição de sucesso, ao
que já havia sido feito.

O objetivo de atingir êxito comercial definiria o encaminhamento do produto fonográfico


da música popular brasileira.
3 ELDRIDGE JOHNSON (1867 – 1945) E A INVENÇÃO DOS DISCOS DE
CERA

Eldridge Johnson, mecânico, americano de Nova Jersey foi grande colaborador de


Emile Berliner, foi quem desenvolveu os motores para os primeiros gramofones
comercializados.

Como pesquisador percebeu que os problemas de qualidade na reprodução que o


gramofone apresentava vinham dos discos e não do processo de gravação e do próprio
gramofone.

O sucesso de Johnson está relacionado ao avanço que concebeu na duplicação dos


discos.

Segundo Humberto Franceschi, Johnson passou a fazer experiências empregando um


processo que combinava a gravação vertical do cilindro com a gravação de corte lateral
do disco de Berliner.

Levou dois anos para completar sua experiência que obteve amplo sucesso. Johnson
conseguiu melhorar a qualidade do áudio registrado em disco.

Assim com a matriz aperfeiçoada as cópias comercializáveis adquiriram qualidade. Para


época, notáveis. Ampliando vendas na comercialização de fonogramas, e do próprio
reprodutor gramofone.

Ainda ao lado de Berliner fundou a Victor Talking Machine Company precursora da


comercialização e fabricação de discos na América do Norte.

A Victor foi uma das primeiras gravadoras no mundo.


4 ADEMAR NAPOLEON PETIT (1856 -?) E A INVENÇÃO DO DISCO
DUPLA FACE

Ademar Napoleon Petit, nascido na Suíça, no ano de 1856, inventor, desenvolveu o


disco de dupla face, no princípio do século XX. Os fonogramas retirados das matrizes
eram impressos numa prensa sobre ambos os lados.

No Brasil uma face do disco apresentava um conteúdo, música específica do país


enquanto na outra face algo da cultura erudita ou popular, óperas italianas, música
característica francesa, alemã e norte-americana.

Todos os países agora tinham acesso ao que fora registrado em outras nações, outras
circunstâncias culturais.
5 FONOGRAMAS

O termo fonograma advém do registro sonoro do aparelho registrador fonógrafo. Surge


provavelmente do aportuguesar do “phonogrammas”, palavra do inglês. No Brasil
ganhou destaque noticiado por Frederico Figner, pioneiro do mercado musical
brasileiro.

José Ramos Tinhorão cita anúncio do mesmo Figner que afirmara possuir “o único
laboratório de fonogramas nacionais dos populares cançonetistas Cadete e Baiano”, em
1901.

O termo fonograma é empregado no Brasil a partir do viés comercial dos fonógrafos,


aparelhos reprodutores e dos cilindros removíveis.

Os primeiros fonógrafos (com intuito comercial) apareceram no Rio de Janeiro


em 1897, importados por James Mitchel. Nesse mesmo ano terminou o
fonógrafo de exibição. Começava a era das gravações de cilindro para venda.
(A casa Edison e seu tempo, 2007 p. 31).

O cilindro foi o primeiro meio de comercialização de fonogramas. A seguir vieram os


discos de 78 RPM, 32 ¼ RPM, EP, LP, FITA K-7, CD, e MP3.

Década a década o termo fonograma passa a coexistir com o termo faixa, empregados
como sinônimos.

O fonograma apresenta duração estável oscilando entre dois minutos, e quatro minutos
e dez segundos, nas seis primeiras décadas (1897 – 1902; 1902 – 1950) do século XIX
e XX no Brasil. A partir de 1950, no advento dos discos LP “long play”, os fonogramas
apresentam duração livre, um minuto, seis minutos, tal qual for à necessidade da
arregimentação.
5.1 OS PRINCIPAIS PRODUTOS DO MERCADO FONOGRÁFICO

No Brasil a partir de 1897, como visto anteriormente, os fonogramas começaram a ser


comercializados. A primeira forma de comercialização foi através do cilindro. Objeto
móvel registrado e executável no aparelho reprodutor fonógrafo.

5.1.1 CILINDROS

O cilindro no Brasil ganhou o codinome “Punhos”, provavelmente por sua semelhança a


punhos cerrados.

O custo da produção de um cilindro comercializável no Brasil girava em torno de 2$500


(dois mil e quinhentos réis), divididos em 1$500 pelo cilindro e 1$000 para o cantor que
gravara. O cilindro era comercializado por 5$000 (cinco mil réis), obtendo ao
comerciante produtor lucro de cem por cento.

Neste período inicial a matriz era o objeto comercializado. A partir de 1901, segundo
Franceshi, ao surgirem no mercado os cilindros moldados, a produção de cilindros
atingiu escala comercial, com matrizes e réplicas. Existiam na época cinco espécies de
cilindro, todos importados.

São eles segundo Franceshi: 1) Standard - utilizado a partir de 1889 com gravação de
dois minutos máximos. 2) Concerto – utilizado a partir de 1889 para gravações
exclusivamente. 3) ICS – utilizado a partir de 1901 para cursos de línguas, inovadores
para o período. 4) Amberol – utilizado a partir de 1908 – possibilita gravação em
duzentos sulcos por polegada com quatro minutos de duração. 5) Ambero Azul – a
partir de 1912 com gravação de até quatro minutos.
Segundo José Ramos Tinhorão a comercialização dos cilindros no Brasil, objeto do
mercado fonográfico, durou apenas sete anos, entre 1897 a 1904, sem nunca atingir
êxito comercial. O advento do disco extinguiria o cilindro e o fonógrafo, e o dataria como
artefato de curiosidade:

Com o início da produção de discos em massa, a partir de 1904 – o que seria


facilitado pela fraca expansão dos fonógrafos de cilindro, olhados até então no
Brasil mais como curiosidade[...] ( “Música Popular – do Gramofone ao Rádio e
TV”, p. 23).

Ao contrário, aliás, do que ocorreria na Europa, onde os interesses em torna


das gravações em cilindro se tornaram tão importantes, ainda no século XIX,
que o disco só conseguiu se impor no fim do primeiro decênio do século (XX)
(“Música Popular – do Gramofone ao Rádio e TV”, p.23).

Humberto Franceshi oferece outra visão em comparação ao texto de José Ramos


Tinhorão, afirmando que o cilindro coexistiu comercialmente com os discos por pelo
menos duas décadas, entre 1897 e 1915: “O cilindro permaneceu, presente, com
produção significativa, por toda a primeira década do século XX e boa parte da segunda
(“A casa Edison e seu tempo”, p. 43).

5.1.2 DISCOS OU CHAPAS

A partir de 1902 os discos passam a coexistir documentados no primeiro catálogo


brasileiro, o da Casa Edison, com os cilindros.

Este catálogo registrou duzentos e vinte e oito gravações, fonogramas produzidos entre
cilindros dos fonógrafos, e chapas, discos executados pelo Gramofone. Nessas
gravações constam cançonetas e discursos. Gêneros musicais como dobrado, lundu,
modinha e polca.
O gramofone surge no Brasil em 1900. Figner percebera em uma de suas viagens a
América do Norte que o gramofone “tocava mais alto” tinha mais amplitude. Tratou
assim de importá-lo e iniciar pioneiramente sua comercialização.

Como visto, o gramofone utilizava o disco do método de Berliner, consistia na produção


de uma matriz em cobre. Como visto, o disco original gravado em zinco era utilizado
como matriz negativa, e executado em setenta rotações por minuto, aproximadamente.

O repertório acessível da música popular alavancou o sucesso do disco no mercado


fonográfico brasileiro:

[...] repertório eminentemente popular, os discos alcançaram em poucos anos


uma tal difusão, que a posse de um gramofone – condição para gozar esse
prazer de contar com a música mediante o simples rodar uma manivela -
tornou-se um ideal das famílias de porte médio de todo o Brasil”. (“Música
popular – do gramofone ao Rádio e TV, p. 27).

Esse repertório era de música popular urbana brasileira, oriunda da cidade capital Rio
de Janeiro. Principal centro urbano do início do século XX no Brasil.

Os primeiros discos comercializados no Brasil eram de face simples, não foi duradoura
sua comercialização, ocorreu por apenas dois anos.

Em janeiro de 1902, Figner, pioneiro do comércio de fonogramas no Brasil, propôs e


conseguiu que os discos postos no mercado brasileiro fossem, e não deixassem de ser
prensados em dupla face.

Os discos de dupla face, ou compacto duplo, surgem no Brasil mediante proposta de


Prescott a Figner, oferecendo exclusividade e um terço dos direitos de patente da
espécie de disco para o Brasil.
Os discos variavam entre sete e dez polegadas. Tinham até nove minutos de duração,
com a soma de ambos os lados.

Os discos, primeiramente, eram registrados no Brasil e duplicados na Europa. A partir


de 1913, em abril, com a Casa Edison de Figner, o Brasil poderia contar com a primeira
fábrica de discos instalada na América Latina, na capital brasileira de então, Rio de
Janeiro:

[...] Figner ganhava a possibilidade não apenas de controlar a qualidade, mas


de baratear o custo industrial dos discos, ganhando ainda em velocidade, ao
livrar-se da espera das remessas, via marítima, em longas viagens da Europa
até o Rio (“Música Popular – Do gramofone ao Rádio e TV”, p. 29).

A partir de 1924, segundo o mesmo Tinhorão, nos Estados Unidos os engenheiros da


Victor Talking Machine partiram para nova etapa no campo das gravações e
reprodução de sons: “[...] criando em primeiro lugar as vitrolas ortofônicas, e mais tarde
as chamadas eletrolas - acionadas eletricamente (“Música Popular – Do gramofone ao
Rádio e TV”, p. 29)”.

A partir desse dado, da década de 1920, é possível considerar que os inventores do


mercado fonográfico passam de indivíduos a funcionários inventores representados
pelas grandes empresas. Não é possível identificar a partir deste período o inventor. E
sim, a empresa financiadora do invento.

Nesta mesma década o advento da gravação elétrica traria avanços de qualidade, que
são classificados a seguir com os fonogramas apresentados. O disco ainda era objeto
dos novos aparelhos, e adquiriria os formatos EP e LP.
5.1.3 EP (COMPACTO)

EP significa disco expandido. É um objeto do mercado fonográfico de duração oscilante


entre dez e vinte minutos. Apresentando de quatro a seis fonogramas, faixas. Reunindo
inicialmente no Brasil fonogramas independentes, lançados anteriormente no formato
de disco individual.

Evolui dos compacto simples disco de dois fonogramas e do compacto duplo de quatro
fonogramas dois em cada face do disco.

Apresentava na década de 1950 capas embalagem com apenas a imagem do artista e


nome dos fonogramas.

O EP se singularizou no decorrer das décadas do mercado fonográfico brasileiro como


espécie demonstrativa. Onde o artista, o selo, ou a gravadora, experimentam a
aceitação do público mediante o repertório de fonogramas propostos.

5.1.4 LP, LONG PLAY

LP, iniciais para Long Play. Disco de longa duração. Trouxe ao mercado fonográfico
brasileiro o conceito de álbum. Fonogramas reunidos, oscilando entre nove e quatorze,
comportando aproximadamente de trinta a quarenta minutos de música.

Os discos “Long Play” foram o produto mais importante do mercado fonográfico


brasileiro, a partir da década de 1950 até meados da década de 1990.
Esses discos inicialmente, como o objeto EP, eram compilações de fonogramas. Onde
a gravadora coletava dos discos individuais seus maiores sucessos, agora embalados
com capa, imagem do artista, título do álbum, pequenos dados técnicos, como
produção, e nome das composições e respectivos autores.

Seguindo este diagrama é possível citar o LP de 10 polegadas: Noel Rosa na voz de


Araci de Almeida - com imagem de Noel pintada por Di Cavalcanti, fotografia de Araci
de Almeida, título, datado em 1951.

O LP começa a ser produzido, ao invés de resultado de uma compilação, a partir da


metade da década de 1950. Os artistas eram contratados das gravadoras ODEON,
RCA, BMG, VICTOR, após RCA/VICTOR, CONTINETAL, ELENCO, PHILIPS entre
outras, para produzir um álbum.

Estes álbuns apresentariam a equipe técnica necessária na produção dos fonogramas.


Entre os quais direção de produção, direção artística, arranjador, equipe de arte gráfica,
direção musical e direção de estúdio, técnicos de gravação e mixagem.

Da década de 1950 até o final da década de 1970, três produtos permeariam o


mercado fonográfico brasileiro: 1) o disco compacto duplo, com dois fonogramas. 2) o
disco EP, com até cinco fonogramas. 3) o disco LP, com até quatorze fonogramas.

A partir da década de 1980, a fita K7 surgiria como novo produto do mercado


fonográfico no Brasil.
5.1.5 FITA K-7

A fita K-7 surge desenvolvida inicialmente pela marca PHILIPS. É, de certa maneira, a
evolução das fitas de rolo eletromagnéticas, típicas das gravações de estúdio,
registradores.
Possibilitava, pela primeira vez na história do mercado fonográfico, que um indivíduo
qualquer criasse compilações caseiras e de fácil manipulação.

Ordenando como fosse de agrado, extraindo um ou dois fonogramas de sua preferência


de um determinado disco, outro fonograma de um segundo ou terceiro disco. Com
artistas e gêneros contrastantes postos sucessivamente.

A fita K-7 começou a ser comercializada em série pelo mercado fonográfico do Brasil no
final da década de 1980, com fonogramas pré-determinados como um álbum.

Trouxe consigo o conceito de música portátil, através do uso do toca fitas modelo walk-
man.

5.1.6 CD, COMPACT DISC

O CD - Compact Disc - ingressou no mercado fonográfico brasileiro


contemporaneamente ao advento do plano real, na década de 1990.

Seu desenvolvimento e estruturação como disco de plástico com aparência metálica


deu-se na década de 1980. E foi apresentado como meio revolucionário no prenúncio
do áudio digital.
O CD possibilita duração de até oitenta minutos de música, o que lhe renderia o dobro
tempo médio de um disco vinil, LP. Sua estrutura, pequena e facilmente manipulável,
tomaria o posto do LP como principal objeto da comercialização fonográfica no Brasil.
Sua constituição é de álbum, assim como o LP.

O formato CD virgem trouxe, juntamente ao mercado de computadores, a possibilidade


de formar compilações próprias, ainda no final da década de 1990.
A fita K7 perde espaço como objeto do mercado fonográfico. Os walkmans cedem
espaço aos diskmans, tocador de cd portátil.

A transformação desses fonogramas em arquivos de computador possibilitaria a seguir


as trocas de fonogramas entre indivíduos livremente.

5.1.7 MP3 E A LIVRE DIFUSÃO

O uso da internet, a rede de computadores interligados, deu aos fonogramas liberdade


para que transitassem através do correio eletrônico e dos sítios digitais.

O fenômeno da livre difusão ainda está em curso. Iniciou em 1998 com o lançamento
de um software denominado Napster. Que transformava o fonograma extraído de um
Cd compact disc em um arquivo digital, em bits, séries numéricas comuns aos
computadores.

Na década de 2000 o disk-man perde espaço para os tocadores de áudio digital no


formato MP3.

Esses tocadores como o Ipod da Macintosh, o MP3 Player da Sony, possibilitam o


arquivamento de centenas de músicas, fonogramas sem corpo físico - arte visual, ficha
técnica – como ocorria nos extintos cilindros do início do século XX.

O acesso dos fonogramas pela primeira vez na história do mercado fonográfico é


aleatório e randômico e perpassa cada indivíduo.
CAPITULO II - A TECNOLOGIA E OS MEIOS DE REGISTRO E
REPRODUÇÃO SONORA NO BRASIL. O PIONEIRISMO COMERCIAL
DE FREDERICO FIGNER. E O AVANÇO DAS MULTINACIONAIS

1 O FONÓGRAFO E O EXOTISMO INICIAL


O pioneirismo da introdução do fonógrafo como artefato de curiosidade no Brasil cabe
ao menos a dois personagens. As primeiras gravações realizadas no Brasil foram feitas
através do fonógrafo de Edison na penúltima década do século XIX.

A primeira aparição do fonógrafo no Brasil data de 1879, em Porto Alegre, apenas dois
anos após o invento ser anunciado, patenteado. Trazido e exibido por Eduardo Perris
segundo consta no livro “Palco, salão e Picadeiro” de Atos Damasceno, citado por José
Ramos Tinhorão no livro Música Popular – do Gramofone ao Rádio e TV.

Num segundo momento foi trazido pelo Comendador Carlos Monteiro de Souza. Sendo
utilizado para exibições na corte brasileira. Foi da família real o primeiro registro sonoro
de que se tem notícia de um brasileiro cantando:

[...] a notícia do Jornal do Comércio, de 13 de novembro de 1889, revela que


„o Príncipe do Grão-Pará falou e o Príncipe D. Augusto solfejou‟, a este neto
mais moço do Imperador D. Pedro II deve ser creditado o título de primeiro
brasileiro a ter a voz gravada, cantando (“Musica Popular - do Gramofone ao
Rádio e TV”, p. 16)

Essas gravações não tinham apreso técnico, nem intuito comercial. Vozes aleatórias,
principalmente com o cunho da curiosidade e demonstração foi o motivo dos primeiros
registros.

Simplesmente girava-se a manivela captando a vibração, reproduzindo a seguir


inúmeras vezes o momento registrado. Os primeiros fonógrafos que chegaram nas
terras brasileiras tinham cilindros fixos.

A machina falante como era nomeada no Brasil teve suas primeiras aspirações
comerciais pelo viés da demonstração. Cobrava-se por pequenas audições que
ocorriam em casas de música, espaços públicos em calçadas e coretos.
Foi Frederico Figner, pioneiro, que surge a seguir, que experimentou as grandes
possibilidades comerciais do fonógrafo no Brasil. Inspirado no que ocorria na última
década do século XIX na Europa e nos Estados Unidos.

Suas primeiras gravações, através do fonógrafo, foram realizadas em espaços sem


quaisquer preocupações. O interesse inicial de Figner estava restrito a classe alta,
exclusivamente na aquisição dos aparelhos que comercializava. Não havia interesse na
comercialização exclusiva de fonogramas, algo que seria a seguir.

A partir de 1897 os primeiros fonógrafos apenas reprodutores começaram a ser


vendidos por Figner no Brasil. Foi James Mitchel, segundo Franceschi, que fez a
intermediação de importação entre Estados Unidos e Brasil.

Para viabilizar a comercialização de reprodutores eram necessários fonogramas,


cilindros móveis, que Figner tratou de providenciar. Os primeiros cilindros
comercializáveis continham gravações norte-americanas e européias. A seguir
começaria a produção no “laboratório de fonogramas brasileiros”.

Como a venda dos cilindros dependia da comercialização dos fonógrafos e vice-versa.


Figner apressou-se em estabelecer uma rede de revendedores e distribuidores. Todos
filiados a Casa Edison, fundada em 1902 por Frederico Figner.

2 FREDERICO FIGNER E A CASA EDISON

Frederico Figner, thecoslovaco de origem judaica. Nasceu em Milevsko u Tabor, na


Boêmia, em dois de dezembro de 1866. Deixou seu país aos quinze anos de idade
imigrando para os Estados Unidos. Atuou, por necessidade, em diferentes ramos
profissionais.
Em 1891, nos Estados Unidos, quando o fonógrafo passou a ser um artigo comercial,
produzido em escala industrial, e não apenas artefato de curiosidade, Figner comprou
um fonógrafo e uma caixa de rolos e passou a propagandista do invento de Edison.
Viajou para a América do Sul, fixando-se no Brasil.

Desembarcou no Pará, em fins do mesmo ano. Figner anunciava apresentações em


locais públicos, com entrada paga. Demonstrava cilindros trazidos dos Estados Unidos
com a “voz dos principais artistas do mundo”.

Passou por várias regiões do país. Fixou-se no principal centro urbana da época, o Rio
de Janeiro, capital da primeira república.

Figner, como pioneiro, compreendeu rapidamente o futuro do fonógrafo e dos registros


fonográficos, embora neste período tivesse no Brasil certa concorrência:

O primeiro a compreender, no então, que as máquinas falantes estavam


destinadas a tornar-se em breve um artigo industrial e comercial de largo
consumo foi mesmo o pioneiro Frederico Figner (Música Brasileira – do
gramofone ao Rádio e TV, p. 20).

Figner abriu sua loja na Rua do Ouvidor nº. 105, em 1897, no Rio de Janeiro, a partir do
momento que sua percepção comercial aguçada compreendeu a transformação e o
advento do mercado fonográfico brasileiro. Agora a exibição do fonógrafo daria vez à
comercialização dos mesmos e de seus cilindros, fonogramas. Estes cilindros, como
visto anteriormente, eram gravados amadorísticamente pelo próprio Figner, em salas
sem preocupação acústica.

O advento do disco faria do gramofone artefato comum de apreciadores de música.


Seria ainda representação de status, para classe média cafeicultora ascendente da
década de 1900.
A qualidade dos fonogramas fez permanentes as modificações tecnológicas. Figner
manteve constante intercâmbio com cada inventor, invento e empresas financiadoras
da Europa e Estados Unidos.

Figner encomendou o primeiro especialista em gravações, financiando sua chegada,


espaço para instalação e de todo material necessário para confecção de matrizes
fonográficas.

3 HAGEN, O PRIMEIRO TÉCNICO DE SOM E GRAVAÇÃO NO BRASIL

Encaminhado por Prescot, Hagen, alemão de origem, chegou ao Brasil entre 1901 e
1902, após Figner firmar contrato com a Zonophone.

As gravações agora já não eram feitas em placas de estanho, sistema do fonógrafo, e


sim através de uma massa similar à argila, cera onde os sulcos mais profundos
possibilitavam uma melhor confecção do negativo, fotolito, que prensava os discos
comercializados em gomalaca.

Prescot encaminhou matéria-prima para registrar cem discos de concerto, do tamanho


dez polegadas, e duzentos e cinqüenta discos de sete polegadas. Cada matriz geraria
250 discos que totalizariam 25 mil discos de dez polegadas, com cerca de 25
centímetros, e 62 mil e quinhentos discos de sete polegadas, cerca de dezenove
centímetros cada.

As primeiras instalações, prenúncios de estúdios de gravação eram precárias. Figner


cedeu um espaço de cerca de 30 metros quadrados. Os instrumentistas, intérpretes
eram ordenados na sala de forma a estabelecer um padrão sonoro aceitável. Os
musicistas ficavam misturados para que ressaltasse o que era de importância maior.

Não havia um preparo na sala por elementos acústicos, por exemplo. Nem existia no
Brasil um estudo específico nas primeiras décadas do século XX.

Em referência à viagem de nosso especialista, compreendemos que o Sr.


pagará sua viagem de Berlim ao Rio, ida e volta em primeira classe, e que
também retirará sua Aparelhagem da Alfândega sem nenhuma despesa para
nós e que fornecerá casa e alimentação durante sua permanência no Brasil, e
que providenciará material musical e intérpretes para suas gravações [...] O Sr.
deve compreender que o processo de gravação é secreto e peço que dê
condições ao Sr. Hagen de manter segredo sobre a aparelhagem e o processo
(A Casa Edison e seu tempo, 2007, p. 89).
A possibilidade de gerar matrizes, do novo sistema de gravação em cera, estabelecia
autonomia à replicação. E a quantidade de discos, agora produtos comerciais,
aumentava ano a ano.
Fig. 6: Banda de Corpo de Bombeiros - 2003

Fonte: A casa Edison e seu tempo – Humberto Franceschi

Entre os primeiros músicos e intérpretes registrados por Hagen destacam-se Baiano,


Cadete, e a Banda do Corpo de Bombeiros. Estes todos já registrados através do
fonógrafo por Figner na Casa Edison.

As primeiras matrizes eram enviadas a Alemanha, em Hamburgo, onde os discos eram


duplicados. Existia todo um cuidado, as matrizes não podiam ser manipuladas
excessivamente, e nem expostas ao calor. Prescot alerta Figner em carta de 29 de
janeiro de 1902, extraída dos arquivos de imagem de Humberto Franceshi:

Talvez pela distância da Europa, pelas condições diferentes e pelo clima, ele
(Hagen) não faça todas as gravações tão boas quanto a 1527. (gravação
realizada em território americano e estabelecida como padrão de qualidade)
Mesmo assim, estou certo que o Sr. ainda temtará vender as gravações. Eu
calcularia que mão mais de 5 a 10% das gravações seriam invendáveis (A Casa
Edison e seu Tempo, pg. 39).
Hagen nas primeiras gravações elaborava formas intuitivas para resolver questões do
processo de gravação. O aparelho registrador ficava no centro, ou postado em uma
pequena sala ao lado. O orifício captador direcionado registrava os sons.

Todas as gravações iniciais de Figner, que seriam lançadas em pouco tempo pela Casa
Edison, foram feitas em uma edícula construída nos fundos da loja do nº 105 na Rua
Ouvidor, e não no nº 107, que era a sede Original da Casa Edson.

Não havia ainda microfone, aparelho transdutor que transforma sinal mecânico em
elétrico, artefato que surgiria na década de 1920. Os primeiros discos não obtiveram a
qualidade esperada, não pelo processo de gravação tão pouco pelo clima do país como
sugeria Prescot. O principal problema em busca de resolução estava na duplicação do
disco.

Não havia, nesse período, uma preocupação com o que seria gravado. Registrava-se
aquilo que era tocado cotidianamente. “Isto é Bom” cançoneta de Xisto Bahia, cantada
por Baiano, em um cilindro é tida como a primeira gravação comercial brasileira.

Esta gravação está entre outras tantas realizadas por Figner. É possível que seja a
primeira gravação selada, e estabelecida no primeiro catálogo de 1902 do que é
considerada a primeira gravadora brasileira: a Casa Edison.

Ainda não havia parâmetros para a questão dos direitos autorais. As gravações
rodavam o mundo, nos países ocidentalizados, sem leis, diretrizes e bases valorativas.
O autor, compositor de uma canção registrada não gozava de direitos, nem controle
das replicações do fonograma. Existia uma troca entre os registros sonoros dos países,
a principal fábrica de discos estava localizada na Alemanha e alimentava toda a Europa
e América.
O executante, em fase de profissionalização, recebia pelo trabalho momentâneo. Em
1897 Figner, chamava cantores de serenata para gravações pagando mil-réis por
canção registrada, e vendia os cilindros únicos por cinco mil-réis, segundo Humberto
Franceschi.

4 O AVANÇO DAS MULTINACIONAIS NO MERCADO FONOGRÁFICO


BRASILEIRO
Figner esteve à frente como pioneiro e principal personagem do mercado fonográfico
brasileiro até o final da década de 1920. Em 1913, segundo Tinhorão, Figner fundou a
fábrica de discos Odeon, no Rio de Janeiro. Cita que a seguir criou pólos de distribuição
fonográfica nas principais cidades brasileiras de então.

Humberto Franceschi reporta em seu livro A casa Edison e seu tempo, que o primeiro
disco fabricado no Brasil foi desenvolvido no dia 21 de dezembro de 1912. A fábrica
Odeon como nomeada teve sua fundação segundo Franceschi no mesmo ano,
contrastando por meses com a datação imposta pelo outro autor.

A partir do emprego do sistema de gravação elétrica as marcas nacionais como a Casa


Edison sumiriam, dando lugar as multinacionais. Na década de 1930, a Odeon deixaria
de ser representada pela Casa Edison para se firmar como selo multinacional em
atuação no Brasil.

Esse fenômeno transcorreu pelo avanço das multinacionais do disco Victor e Columbia.

Com o avanço das multinacionais Figner, segundo Franceschi, foi obrigado a entregar
seu estúdio de gravação, as ceras registradas, tal qual a fábrica de discos. Na década
de 1930 após perder a Odeon para a matriz fundou uma nova gravadora a Parlophon,
lançou artistas e alimentou o mercado fonográfico carioca por cerca de uma década.

Perdeu pelo direito de patente a Parlophon para as multinacionais, enfim Figner teve
seu poderio restrito a comerciante de disco.

As multinacionais desde a década de 1930 monopolizam o mercado fonográfico


brasileiro, lançam artistas, estabelecem padrões estéticos e normas culturais.
A livre difusão, fenômeno que descorre a partir de meados da década de 2000, trouxe
para as gravadoras uma nova circunstância sem boas previsões. O compartilhamento
de arquivos via internet, de fonogramas registrados, obras tecnicamente conservadas
por leis e diretrizes autorais, ocorre livremente. Basta um computador disponibilizar em
um site, por um email um arquivo mp3 ou similares, que muitos computadores tem
acesso ao conteúdo sem tributos.

As gravadoras consideram esse fenômeno como pirataria digital. Não há


comercialização por esses usuários, apenas compartilhamento de fonogramas sem
corpo físico.

CAPITULO III – CLASSIFICAÇÃO DOS FONOGRAMAS DA MÚSICA


POPULAR BRASILEIRA (1902–2007)

1 FASE MECÂNICA (1878-1927)


1.1 PRÉ-HISTÓRIA FONOGRÁFICA: PRIMEIRA FASE MECÂNICA
ENTRE 1878 E 1901

Pouco tempo se passou desde a divulgação do invento de Thomas Edison e o início do


uso comercial no campo da música popular do fonógrafo.

O fonógrafo chegou ao Brasil em 1879, apenas um ano após sua apresentação pública
e o registro de sua patente.

Nas gravações iniciais registradas no Brasil entre 1879 e 1891 destacam-se poemas e
textos. A música ainda não surgira como “filão”.

Em 1891, Frederico Figner, desembarca no Brasil na cidade de Belém do Pará, com o


intuito de apresentar o novo invento ao mercado brasileiro. Encantado com a grande
diversidade da cultura do país, Figner inicia gravações pequenas apenas para exibição.
Vedetes, artistas de cabarés e teatro revista foram seus primeiros alvos. Anunciava a
terceiros, apresentação de cilindros com as principais vozes de artistas do Brasil e do
mundo.

Conforme notícia do Jornal Pátria Mineira sob o título O fonógrafo, do dia 26 de maio de
1892 noticiava as maravilhas no recém invento:

Mr. Figner, portador do prodigioso invento de seu patrício Edison


esteve alguns dias na cidade exibindo as maravilhas da máquina
que fala, canta e reproduz fielmente quanto ao pé dela foi
pronunciado (Música Popular do gramofone ao Rádio e TV, p. 18).
No Brasil, o pioneiro Frederico Figner estava destinado a colher os primeiros frutos do
mercado fonográfico. Em 1897 começou a vender fonógrafos com preços que giravam
entre 25$000 até 75$000, como visto, importados por James Mitchel. Neste mesmo ano
Figner, iniciou o ciclo de gravações com intuito de comercialização fonográfica de
artistas brasileiros.
Figner comercializava seu produto com estabelecimentos comerciais, e era possível
encontrar na capital Rio de Janeiro da última década do século XIX fonógrafos ativados
por moedas, em mercearias e bares. Fonógrafos que portavam de três a nove cilindros,
com fonogramas brasileiros, europeus e norte-americanos. Segundo Humberto
Franceschi:

Em diversos pontos da cidade do Rio de Janeiro, especialmente em locais de


ajuntamento forçado, como os de espera de condução, intalaram-se mediante
pagamento, fonógrafos para divertimento do cidadão comum (A casa Edison e
seu tempo, p. 32)

Em 1895 Figner já tinha um concorrente um português de nome Arthur Augusto Villa


Martins, que segundo Humberto Franceschi associou-se a Arnaldo Castilho Natividade
de Castro, trabalhando exatamente no mesmo ramo de Figner. Apresentação e
comercialização de fonógrafos.

As primeiras gravações registraram gêneros presentes na cultura brasileira de então


como lundus, modinhas e maxixes. Gêneros urbanos europeus, recém chegados no
Brasil como polkas, schotishes e mazurcas.

As gravações iniciais eram feitas sem o menor cuidado, em casas, em salas, praças
públicas e pequenos teatros. E bastava posicionar o diafragma do fonógrafo e sair
cantando ou falando.

1.2 SEGUNDA FASE MECÂNICA, ENTRE 1902 E 1927


Em 1900, segundo Humberto Franceschi, Figner publicou o 1º catálogo que continham
fonogramas, fonógrafos (máquinas falantes), e outras “bugigangas”. Este catálogo foi
publicado com o nome de Casa Bogary.

O ano de 1902, data da publicação do 1º catálogo da Casa Edison, pode ser


determinado como ponto de partida da comercialização fonográfica no Brasil. Nesses
fonogramas destacam-se os gêneros: modinha, marcha, polka, dobrado, valsa, maxixe,
mazurka, shotts, cançonetas, lundus e música estrangeira erudita. As gravações deste
primeiro catálogo curiosamente anunciavam “gargalhadas inglesas” como fonogramas
comercializáveis, assim como “Discursos arrebatadores e eloqüentes”.

Os principais artistas deste primeiro catálogo são Cadete (1874 – 1960), Baiano (1870
– 1944), e a Banda do Corpo de Bombeiros. Bastava atingir sucesso nas ruas, praças,
coretos, e salões, que as composições eram registradas em fonogramas
comercializados em cilindros, e a partir de 1904, como visto anteriormente, em matrizes
que geravam discos dupla face.

A seguir são classificados fonogramas que ilustram a segunda fase das gravações
mecânicas.

1.2.1 FONOGRAMAS CLASSIFICADOS

PRIMEIRO FONOGRAMA
A) Nome da composição e autor: Isto é bom de Xisto Bahia
B) Nome do intérprete: Baiano
C) Nome da gravadora ou selo: Casa Edison, Odeon.
D) Ano do registro: 1902
E) Época da gravação: Fase mecânica.
F) Caráter: Vocal
G) Gênero: Lundu
H) Instrumentação: Violão e voz
I) Forma: A B (refrão) A B (refrão) A B (refrão)
J) Tempo de duração: 2:53.
K) Intensidade: Não apresenta variações de dinâmica.
L) Caráter da música: Tonal.
M) Métrica: Binária
N) Descrição:

Xisto de Paula Bahia (1841 – 1894), nascido em Salvador BA. Compositor, cantor,
violonista, teatrólogo. De formação intuitiva. Autor de Isto é bom, primeira música
gravada e catalogada no histórico primeiro catálogo brasileiro, da Casa Edison de 1902.
Iniciou sua atuação como violonista e cantor de um teatro em Salvador.

Baiano, Manuel Pedro dos Santos (1870 – 1944), nascido em Santo Amaro da
Purificação BA. De formação intuitiva. Intérprete do fonograma Isto é bom, um dos
cantores mais populares do início do século XX, gravou este que é considerado o
primeiro disco brasileiro do catálogo de 1902 da Casa Edison. Sua voz também é
reconhecida na apresentação dos fonogramas algo de praxe entre 1902 até a década
de 1920. Não utiliza voz empostada, tem interpretação mais despojada.

Casa Edison - fundada por Frederico Figner em 1900 foi à primeira gravadora
brasileira, atuou primordialmente nas três primeiras do século XX. Seu primeiro
catálogo foi impresso em 1902 comercializando reprodutores fonógrafos e gramofones,
cilindros e discos. Representou o selo Odeon, parceria européia, até 1927, quando foi
excluído da companhia. Fundou a seguir o selo Parlaphon que durou apenas cinco
anos. Em 1932 a Casa Edison afasta-se definitivamente dos negócios de discos.

Lundu - dança e canto de origem africana, introduzido no Brasil por escravos vindos de
Angola. Resultado do batuque africano, do qual proveio. O lundu pode ser
caracterizado em três fases: como dança africana de sensualidade no século XVII,
como dança de salão estilizado do século XVIII e XIX, e letrado, no século XIX, como
lundu-canção com conteúdo contestador e humorado.

Violão – Instrumento da família das cordas de origem moura, proveniente do alaúde.


Harmônico e melódico. Apresenta caixa de ressonância acinturada (em oito) com tampo
e fundo chato, braços com trastes - elemento metálico transversal ao braço, que na
incidência dos dedos sobre as cordas modifica sua altura, mãos com tarraxas nas quais
são presas e afinadas seis cordas que ficam dispostas até o cavalete. Tem tessitura,
extremo entre o som mais grave e mais agudo, de três oitavas, e pode surgir com dois
tipos de encordoamento: nylon ou aço. Sua execução é dedilhada. Ao instrumentista
executante dá-se o nome violonista.

Compasso binário - ocorre quando os pulsos se agrupam de dois em dois


fragmentando uma estrutura musical. O primeiro tempo apresenta acento forte,
enquanto o segundo fraco. É representado pelo número dois entre a terceira e a quinta
linha da pauta.

Dinâmica - parâmetro musical que mede intensidade. Termo físico decibel. Na


execução instrumental estabelece parâmetro para a expressão. As dinâmicas por
textura ocorrem com o acréscimo de instrumentos dentro de um fonograma. A dinâmica
por intensidade ocorre quando os mesmos instrumentos que compõem o fonograma
passam a tocar com maior intensidade.

Melodia – Trecho da Seção A


O fonograma é anunciado por um locutor, com texto ilustrativo que determina o título do
fonograma, o intérprete, e a gravadora, este, por exemplo, como: “Isto é bom cantado e
acompanhado ao violão por Eduardo das Neves para Casa Edison Rio De Janeiro”.

Música com forma “AB”. Apresenta característica intuitiva. Varia apresentando um texto
na seção A e um refrão na seção B.

Sem arranjo específico o violão cadencia livremente até o momento que o cantor sente-
se pronto para começar. Não há preocupação com a quadratura musical, elemento que
dita pergunta e resposta estruturando a composição de dois em dois pares de
compasso, ou proporcionais quatro e quatro.

A gravação é mono, um canal central sem efeito panorâmico. Ouve-se todo emissor
sonoro centralizado, no caso a voz e violão. A sala tem sonoridade aberta, brilhante, é
possível ouvir pequenos retornos acústicos na voz, sinal de ambiência, elemento
refletor de uma inflexão sonora.

SEGUNDO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Zinha de Patápio Silva


B. Nome do intérprete: Patápio Silva
C. Nome da gravadora ou selo: Casa Edison, Odeon.
D. Ano do registro: 1907
E. Época da gravação: Fase mecânica
F. Caráter: Instrumental
G. Gênero: Polca
H. Instrumentação: Flauta transversal e piano.
I. Forma: A A B B’ A C C’ A (forma rondó)
J. Tempo de duração: 2:25
K. Intensidade: Apresenta dinâmica, variação entre seção.
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: binária
N. Descrição:

Patápio Silva (1880 – 1907), natural de Itaocara RJ. Flautista e compositor. Filho de
um barbeiro radicado em Cataguases MG, desde pequeno se interessou por música.
Por volta do quatorze anos, estudou solfejo e teoria musical e começou a tocar em
bandas de música. Transferiu-se para o Rio de Janeiro por volta de 1900, indo trabalhar
como tipógrafo. Na capital impressionou, por seu virtuosismo e capacidade
interpretativa, o flautista Duque Estrada Meyer, professor do Instituto Nacional de
Música, que aceitou preparar Patápio para prova de admissão. Aprovado, concluiu em
dois anos um curso de seis. Foi contratado pela Casa Edison de Frederico Figner onde
realizou gravações entre 1904 e 1907. Seu primeiro disco registra o Noturno nº 1 do
compositor europeu Frederic Chopin (1810 – 1849). Compôs a primeira geração de
chorões a registrar músicas no mercado fonográfico.

Odeon inicialmente um selo, uma marca, licenciada pela Casa Edison, que produzia
com apoio tecnológico europeu discos executáveis em gramofones.

Polca (ou Polka) dança de salão em compasso binário, geralmente em tonalidade


maior e andamento rápido, originária da Boêmia (hoje República Tcheca). Chegou a
Paris em meados da década de 1830, difundindo-se por todo mundo ocidental, onde se
tornou a principal dança de salão do século XIX. Chegou ao Brasil no ano de 1845,
quando foi apresentada pela primeira vez num teatro carioca. Tornou-se um dos pilares
do estilo interpretativo do choro, e de gêneros como o tango brasileiro e o maxixe.

Flauta Transversal – Instrumento de sopro da família das madeiras. Melódico.


Concebido de metal possui quatorze chaves que combinadas tapam e liberam orifícios
que diferenciam suas alturas emitidas. Sua tessitura tende para a região médio agudo,
com três oitavas aproximadamente. Ao instrumentista executante dá-se o nome
flautista.

Piano – Instrumento de cordas percutidas. Melódico e harmônico. De origem italiana foi


concebido inicialmente no início do século XVIII por Bartolomeo Cristofori (1655 –
1731). Apresenta corpo em madeira em dois formatos (armário e calda). Seu sistema
de teclas quando acionadas percutem as cordas através de martelos. Tem tessitura de
sete oitavas e meia, cobrindo as regiões grave, médio e agudo. Ao instrumentista
executante dá-se o nome pianista.

Forma rondó tanto na música quanto na poesia a forma rondó baseia-se na repetição.
Na música uma seção, geralmente a primeira, se repete por três ou quatro vezes,
intercalando uma nova seção. Por exemplo:

A (primeira seção) – tema na tônica em dó maior


B (segunda seção) – tema em tom contrastante, por exemplo, fá maior
A (primeira seção) – re-exposição do tema no tom original
C (terceira seção) – tema, segundo episódio em tonalidade contrastante, lá maior.
A (primeira seção) – re-exposição do tema no tom original, terminado por vezes por
uma coda, seção final.

Melodia – Trecho da Seção A


Este fonograma foi apresentado por um locultor como “Zinha, polca executada por
Patápio Silva para Casa Edison, Rio de Janeiro”.

Esta gravação acompanhada ao piano mostra uma das composições de Patápio. Na


interpretação o flautista trabalha sutilmente com andamentos, em pequenos
rallentandos de final de fraseado e acellerandos, quase imperceptíveis.

Gravação mono. O piano tem um timbre um pouco indefinido nos primeiros compassos
da gravação, pela falta de sustentação, parece soar até como um violão. Percebe-se
pela ambiência que o piano está postado a certa distância, um pouco à direita.

O estilo interpretativo mostra o princípio da expressão do choro. O acompanhamento de


polca praticamente mantém-se em ostinato, figura rítmica ou melódica de repetição
constante.

TERCEIRO FONOGRAMA
A) Nome da composição e autor: Atraente de Chiquinha Gonzaga
B) Nome do intérprete: Grupo de Chiquinha Gonzaga
C) Nome da gravadora ou selo: Casa Edison, Odeon
D) Ano do registro: 1911
E) Época da gravação: Fase mecânica
F) Caráter: Instrumental
G) Gênero: Polca
H) Instrumentação: Flauta, violão e piano.
I) Forma: Intro A A A A B B A A C C A A B B A A C C (forma rondó)
J) Tempo de duração: 3:30
K) Intensidade: Não apresenta dinâmica.
L) Caráter da música: Tonal.
M) Métrica: Binária.
N) Descrição:

Chiquinha Gonzaga (Francisca Hedwiges de Lima Neves Gonzaga, 1847 – 1935),


natural do Rio de Janeiro RJ. Compositora, regente e pianista. Considerada por muitos
o maior nome feminino da música popular brasileira. Participou ativamente como
compositora e instrumentista da formação do estilo e gênero choro. Contemporânea de
Joaquim Antônio da Silva Callado (1848 – 1880), grande admirador e amigo. Chiquinha
compôs inúmeras polcas e tangos brasileiros, seu primeiro sucesso foi à polca Atraente
de 1877, presente neste fonograma. Vislumbrou uma nova possibilidade profissional
aos musicistas do final do século XIX com o teatro musicado no Brasil. Sofreu com o
preconceito de gênero sexual e de classe, sobrepôs com seu talento. Conseguiu um
número considerável de editorações, forma pré-mercado fonográfico que os musicistas
detinham para se estabelecer profissionalmente. Tinha conhecimentos da tradição
escrita, embora conservasse encanto, sua obra concentra-se na música popular.

Melodia – Trecho da Seção A


Este fonograma foi anunciado por um locutor como: “Atraente, polca, executada pelo
grupo de Chiquinha Gonzaga, disco da Casa Edison, Rio de Janeiro”.

No início é possível reconhecer o rangido da agulha sobre a superfície do disco. A


qualidade, a evolução no processo de gravação nem sempre pode ser avaliada.
Provavelmente este fonograma foi digitalizado a partir de um disco consideravelmente
desgastado. A falta de preocupação com o acervo histórico extinguiu as matrizes.

O pulso se mantém inconstante durante toda a peça, oscila de maneira a acelerar. O


piano não tem definição de timbre, é possível reconhece-lo apenas pelo título, haja vista
a autora é exímia pianista. O reconhecimento também é possível pela espécie da
execução de acompanhamento. O violão se mantém na região grave fraseando de
forma a contrapor a melodia principal.

Percebe-se a ambiência do registro sonoro, o instrumento solista, flauta, encontra-se à


frente, como de costume. Os acompanhantes foram postados na sala a certa distância.
A gravação ainda é mono.

QUARTO FONOGRAMA
A) Nome da composição e autor: Pelo Telefone de Donga e Mauro de Almeida
B) Nome do intérprete: Baiano e o Corpo de Choros.
C) Nome da gravadora ou selo: Casa Edison, Odeon.
D) Ano do registro: 1917
E) Época da gravação: Fase mecânica
F) Caráter: Vocal
G) Gênero: Maxixe
H) Instrumentação: Clarinete, Violão, Cavaquinho, e vozes.
I) Forma: Introdução A B B A C Introdução A C (2x inteiro) Introdução
J) Tempo de duração: 4:07
K) Intensidade: Apresenta dinâmica por textura.
L) Caráter da música: Tonal.
M) Métrica: Binária.
N) Descrição:

Donga (Ernesto Joaquim Maria dos Santos, 1890 – 1974) natural do Rio de Janeiro RJ.
Compositor e violonista. Seu pai músico amador executava o instrumento de sopro
bombardino em bandas de coreto. Sua mãe fora a famosa Tia Amélia, que promovia
festas e memoráveis encontros de música, onde se tocava choro e samba. Donga teve
como primeiro instrumento o cavaquinho, pouco tempo depois passou ao violão, que o
consagrou como instrumentista do grupo Oito Batutas. Compositor de mais de cem
obras, é cultuado como um dos pais do gênero samba. Pelo Telefone é considerado por
muitos um marco para o samba, embora ritmicamente se assemelhe ainda ao maxixe.

Mauro de Almeida (1882 – 1956), natural do Rio de Janeiro RJ. Teatrólogo, jornalista e
letrista. Entrou para a história da música popular brasileira pela autoria de Pelo
Telefone, umas das composições mais polêmicas pelo reclame de co-autores, entre os
quais João da Bahiana (1887 – 1974) e Sinhô (1888 – 1930). Dentre sua pequena obra
musical têm-se conhecimento de poucas canções, como por exemplo, O malhador com
Donga e Pixinguinha.
Samba como termo, tem origem africana de Angola, corruptela de semba, dito
umbigada. O samba, tal conhecemos hoje, surgiu no Rio de Janeiro através da
miscigenação cultural, onde os negros segregados constituíam batuques festivos,
cantando e tocando. O samba foi lançado como gênero em 1917, nomenclaturado
comercialmente como algo novo, produto urbano. É possível afirmar que o samba se
fixa como gênero a partir da gravação da composição Jura de Sinhô (1888 – 1930).

Maxixe dança urbana, surgida no Rio de Janeiro por volta da década de 1870, foi
constituída no momento em que a polca dança européia de salão, passou a ser
executada pelos primeiros conjuntos de choro de Antonio Callado (1848 – 1880).
Ritmicamente fundiu-se ao lundu, dança africana, e será a seguir matriz primordial do
gênero samba.

Introdução – seção instrumental de medida a partir de quatro compassos, onde se


introduz a tonalidade e estética musical - preparação para o canto ou primeira seção
musical.

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma apresentado por um locutor como: “Pelo telefone, samba carnavalesco,
gravado por Baiano e Corpo de Choros, para Casa Edison, Rio de Janeiro”.

Fonograma datado como marco do samba brasileiro. O “primeiro samba” registrado


pelo mercado fonográfico ainda apresenta características do maxixe.
A característica percussiva do samba, com instrumentos em todas as regiões grave,
médio e agudo ainda não surgem no fonograma. Resta a divisão do intérprete, que
trabalha com rallentandos, técnica interpretativa que diminui progressivamente e
proporcionalmente o pulso da música, como meio de expressão do texto.

O clarinete dobra a melodia, uníssono com a voz, seguindo fielmente a interpretação.


Ouve-se uma introdução, algo comum para época. Os instrumentos estão bem
ordenados, é possível identificar todos os instrumentos que permeiam o fonograma com
total clareza. O coro apresenta pequenas aberturas de vozes.

A organização sugere que já exista algum tipo de direção externa a gravação. Um


indivíduo ordenando o que está sendo registrado em fonograma. A gravação ainda é
mono.

QUINTO FONOGRAMA
A) Nome da composição e autor: Urubu Malandro Motivo Popular, domínio
público
B) Nome do intérprete: Oito Batutas.
C) Nome da gravadora ou selo: Casa Edison, Victor.
D) Ano do registro: 1923
E) Época da gravação: Fase mecânica
F) Caráter: Instrumental
G) Gênero: Samba
H) Instrumentação: Flauta, cavaquinho, violões, banjo, e reco-reco.
I) Forma: Intro A B B A C Intro A C (2x inteiro) Intro
J) Tempo de duração: 3:08
K) Intensidade: Usa dinâmica, crescendo e decrescendo.
L) Caráter da música: Tonal.
M) Métrica: Binária.
N) Descrição:

Oito Batutas, grupo instrumental, criado em 1919 por Donga (1890 – 1974) e
Pixinguinha (1897 – 1973). Sua formação inicial tinha na flauta Pixinguinha, China
(1888 – 1927) no violão e piano, Donga e Raul Palmieri (1887 – 1968) nos violões,
Nelson Alves (1895 – 1960) no cavaquinho, José Alves (1899 - ?) no bandolim, Jacó
Palmieri (?) no pandeiro e João Tomás (?) e ou Luis de Oliveira (?) no reco-reco.
Posteriormente a formação adquiriu novos membros alternantes entre os quais o
violonista João Pernambuco (1883 – 1947). Registrou fonogramas no Brasil e na
Argentina para o selo Odeon. Apresentaram-se no Brasil, América Latina e Europa. A
seguir a partir da década de 1930, influenciados pelas jazz-bands americanas, formata-
se como orquestra.

Victor - gravadora Victor Talking Machine Company, empresa norte-americana,


financiadora de inventos em prol do mercado fonográfico. Uma das pioneiras no
comércio de Vitrolas. A Victor dedicou-se inicialmente no Brasil as gravações
distribuídas em parceria com a Casa Edison, atuando como selo. Num segundo
momento fundiu-se a RCA, criando a RCA-Victor, defendendo seus próprios interesses
no Brasil a partir da década de 1930.

Choro - a partir da década de 1920 pode-se compreender o choro como gênero


musical. Constituído sob influência das danças européias, compactadas e diluídas num
repertório novo, por autores de uma segunda safra. A primeira safra fora liderada por
Joaquim da Silva Calado (1848 – 1880), que tocava de forma abrasileirada as danças
européias. Participaram desse primeiro momento a pianista Chiquinha Gonzaga (1847
– 1935), o flautista Viriato Figueira (1851 – 1883), o cavaquinista Pedro de Assis (1880?
– 1934?), entre outros. Estabelecido, o choro tem como característica a linguagem
improvisada no qual se emite uma melodia solista composta, enquanto os demais
instrumentistas norteiam contracantos puramente improvisados. Esses contracantos
dialogam com a melodia principal. Este fonograma fixa como registro histórico a
instrumentação básica do choro com violões, cavaquinho, instrumento solista, e ritmo,
geralmente um pandeiro

Banjo (Banjo americano) – instrumento de cordas pinçadas. Harmônico ou melódico.


Composto de uma armação circular, de madeira ou PVC, onde se insere uma pele
geralmente de couro, podendo variar para o formato pele de nylon. A quantidade de
cordas oscila entre quatro e seis. Tem tessitura média de três oitavas. Apresenta cordas
presas entre tarraxa e cavalete, com braço repleto de trastes. Sua origem é norte-
americana, embora haja fontes que indiquem a África como origem real.

Cavaquinho – instrumento da família das cordas, pinçadas. Harmônico e melódico. É


composto de uma caixa de ressonância acinturada, (em oito) com tampo e fundo chato
ambos em madeira. Braço com trastes seguido de mão com tarraxas onde são presas
quatro cordas, que ficam sobre o instrumento, ligadas ao cavalete. Apresenta tessitura
de duas oitavas.
Trombone - Instrumento musical de sopro da família dos metais. Melódico. Concebido
de metal, o seu tubo é cilíndrico pode possuir pistão embora sua forma mais comum
apresente vara, para a escolha das alturas. Sua tessitura tende para a região médio
grave, com duas oitavas e meia de tessitura aproximadamente.

Reco-reco (raspador, catacá) – instrumento de percussão de altura não definida.


Rítmico. Composto de um pedaço de bambu com sulcos transversais que são
friccionados com uma pequena haste e madeira ou metal.

Melodia – Trecho da Seção A

A partir da década de 1920 a apresentação por um locutor dos fonogramas cai em


desuso.

Identificado por Humberto Franceschi como gênero choro. O choro, no entanto, é um


estilo de interpretação musical que compõe uma gama de gêneros que permeiam sua
execução. Entrar nesse mérito não faz parte dos objetivos secundários desse trabalho,
embora é importante ressaltar que o gênero que se ouve é samba interpretado com o
estilo choro.

Os timbres deste fonograma apresentam notável evolução. Os violões, o cavaquinho e


a flauta atingem qualidade sonora que beiram o real. Existe um ruído que
provavelmente vem do desgaste da agulha sobre o disco.

A interpretação da composição apresenta muitas variações. Esse choro de três partes


tem sempre a primeira parte e a segunda pré-determinadas, enquanto a terceira é uma
variação sem forma estabelecida.
O instrumento solista ainda se encontra no centro do diafragma. Na gravação, esta sala
aparenta ter sonoridade fechada. Os timbres ficam definidos, captando o que é
característica de cada um. O fonograma tem registro melhor de altura.

É possível perceber que os instrumentos de acompanhamento estão à distância, e o


momento que o cavaquinho se aproxima do diafragma de captação ou para ele é
direcionado, por volta de 2:41. A gravação ainda é mono.

2 FASE ELÉTRICA (1927 A ATUALIDADE)


O início das gravações eletromagnéticas representou para Brasil uma fase de
aprimoramento estético. A fase das gravações mecânicas registrou uma música em
formação. Gêneros sem instrumentação definida, ou com instrumentação definida, mas
impossível de ser registrada. Arranjos sem característica específica. Utilizando formas
composicionais livres ou baseados na música erudita, a forma rondó, comum no estilo
choro.

A música urbana brasileira continua sua transformação nos anos vinte, e início da
década de trinta, do século XX. Encadeando o período denominado pelos historiadores
como Época de Ouro, entre 1929 e 1945.

Os gêneros passam apresentar características específicas, assim como interpretação e


arranjo. A evolução no processo de gravação deu voz a novos interpretes, a novas
formas de interpretação.

A gravação eletromagnética exigia precisão. Os vozeirões do bel-canto das décadas de


dez e vinte perderiam lugar. Cantores com voz pequena se destacariam. Os valores
mudam no campo da interpretação.

Uma imensa quantidade de novos talentos surgira. Havia agora um novo mercado. As
Rádios necessitavam de novos artistas, programas de auditório, gravações e
apresentações.

Nomes como: Ary Barroso (compositor, arranjador), Noel Rosa (compositor e


intérprete), Lamartine Babo, Braguinha, Assis Valente, Ismael Silva, Vadico, Silvio
Caldas, Mário Reis, Moreira da Silva, Radamés Gnatalli, e muitos outros, davam seus
primeiros passos na carreira artística.

Especificamente as gravações elétricas chegaram ao Brasil, no final da década de


vinte, embora seu advento remeta ao ano de 1927. As gravações, agora, eram feitas
em rolos fitas eletromagnéticas. Há melhora em qualidade, embora seja complexo
precisar a data da mudança de sistema de gravação no Brasil.

O sistema eletromagnético é formado por aparelhos transdutores que através de um


diafragma, transformam ondas sonoras, sinais mecânicos em sinais elétricos. Bobinas
movem-se com a percepção da onda sonora, gerando um sinal registrado.

Nas gravações eletromagnéticas a amplitude podia ter maior variação. Regulagens da


voz fizeram do timbre e não da potência um trunfo. Se observarmos os principais
cantores da década de 10 e 20, cito Baiano, Cadete, Orlando Silva e Francisco Alves,
todos têm em comum a potência vocal.

Na década de 30, Mário Reis surge cantando com uma rítmica diferente, num fio de
voz. A potência dá lugar à expressão. Sua voz pequena marcou época, influenciou uma
geração que viria a seguir. A gravação elétrica ampliou a definição dos harmônicos
característicos de cada instrumento. Os matizes começaram a ser perceptíveis.

Os discos comercializados ainda eram duplos, dupla face, e continham no máximo dois
fonogramas, na terceira e quarta década do século XX. Capas apenas para proteção, e
o disco etiquetado com o nome e o selo dos fonogramas.

A partir da década de 50, aumentam as preocupações com a roupagem. Discos longos.


Long Play, LP. Com capas, encartes, fotos. A imagem do artista era agora primordial.

Os discos de vinil agora apresentavam de dez a doze fonogramas, com quarenta


minutos de música, passíveis de extensão a até sessenta minutos. Embora os discos
sejam, nas décadas que viriam aos tempos atuais, coleções de fonogramas. Não se
pensava o disco como um todo.Os discos LP tomaram conta do mercado fonográfico
brasileiro e mundial até meados da década de 90. Neste período, como visto, ainda
comercializava-se discos compactos, e fitas k-7, equipamento eletromagnético de fácil
portabilidade. Os walk-mans, toca-fitas.
Na década de noventa, o advento do cd (compact disc) fez do mercado fonográfico um
dos mais rentáveis do mundo. O cd trouxe novas características. Fácil de ser
manipulado, barato, e durável. A qualidade sonora melhorou no campo da gravação, na
reprodução a quem afirme que existem diferenças consideráveis na definição. Embora
a percepção humana não capte tais diferenças com precisão.

No final da década de noventa, a portabilidade instituída pelo computador e seus


arquivos trouxe uma nova realidade para o mercado fonográfico. Artistas, gravadoras,
distribuidoras e lojistas ainda se adaptam as novas circunstâncias comerciais. As
gravadoras enfrentam a maior crise de todos os tempos, vendas em baixa, pirataria e
livre difusão. Artistas a possibilidade de divulgar sua arte em sites de relacionamento
como o “My space” e similares, sem precisar de um intermediador. Aos lojistas
aproximarem-se da internet com o comercio “online” de fonogramas parece uma boa
saída. Tudo ainda está em processo desencadeado nos último dez anos, e qualquer
conclusão sobre o fenômeno é precipitada.

O principal arquivo distribuído digitalmente é o nomenclaturado MP3, sigla par Moving


Experts Group, originalmente MPEG. Cabe ao número 3 explicar o nível de
desenvolvimento que o arquivo se encontra, neste caso terceira geração do MPEG. O
arquivo MP3 compacta o arquivo de áudio comum em até 12 vezes, sem perdas na
comparação com o CD.

O MP3 faz do fonograma um ser sem corpo físico, sem capa, sem visualização. É
possível ter acesso aleatório e randômico ao material musical, cada indivíduo constrói
seu próprio repertório de fonogramas para apreciação.

Supracitado, o fonograma, mais uma vez, é individual assim como os comercializados


nos extintos cilindros.
FONOGRAMAS:

SEXTO FONOGRAMA
A) Nome da composição e autor: Brincando de Ratinho
B) Nome do intérprete: Ratinho
C) Nome da gravadora ou selo: Victor.
D) Ano do registro: 1930
E) Época da gravação: Fase elétrica
F) Caráter: Instrumental
G) Gênero: Samba
H) Instrumentação: Cavaquinho, violão, clarinete, violão tenor.
I) Forma: A A B B A C C A A B B A C C A A (forma rondó)
J) Tempo de duração: 3:00
K) Intensidade: Sem dinâmica.
L) Caráter da música: Tonal.
M) Métrica: Binária.
N) Descrição:

Ratinho (Severino Rangel de Carvalho, 1896 – 1972) natural de Itabaiana PB.


Instrumentista e compositor. Foi pioneiro entre os instrumentistas nordestinos
executando sopro a se destacar no mercado fonográfico brasileiro, mais tarde se
destacariam K-ximbinho (1917 – 1980) e Severino Araújo (1917), por exemplo. A
carreira de Ratinho como grande instrumentista foi ofuscada ao assumir e se dedicar
quase que exclusivamente a dupla sertaneja com Jararaca (José Luís Rodrigues
Calazans, 1896 - 1977), nomeada Jararaca e Ratinho.

Violão tenor – instrumento de cordas pinçadas, de origem moura. Harmônico e


melódico. Intermediário entre o cavaquinho e o violão. Composto de uma caixa de
ressonância acinturada (em oito) com tampo e fundo chato ambos em madeira, braço
com trastes e mão com tarraxas nas quais são presas quatro cordas dispostas sobre o
instrumento até o cavalete. Apresenta tessitura aproximada de três oitavas.
Clarinete – Instrumento musical de sopro da família das madeiras. Melódico.
Concebido de madeira ou ebonite em forma cilíndrica. Apresenta de 17 a 27 chaves
com as quais suas combinações tapam ou liberam orifícios. Sua tessitura tende para a
região médio agudo, com três oitavas e meia aproximadamente.

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma apresenta um conjunto de choro, com o clarinete como solista.


Acompanhado por instrumentos harmônicos. Os instrumentos têm sonoridade definida.
Nesta gravação é possível destacar a perda da sonoridade opaca, em comparação
restrita a fase mecânica. O fonograma permanece mono.

É possível afirmar que este fonograma foi gerado através do processo de gravação
elétrica. A definição melhora na região aguda. Capta-se uma sobra de agudo, uma
região maior de capitação, como numa sala de característica aberta.

Esta fase introduz o microfone, aparelho transdutor que transforma sinais mecânicos
em elétricos. O aparelho reprodutor ainda é o gramofone. O pulso oscila de acordo com
a interpretação do solista. A gravação permanece mono.

SÉTIMO FONOGRAMA
A) Nome da composição e autor: Filosofia de Noel Rosa e André Filho
B) Nome do intérprete: Mário Reis
C) Nome da gravadora ou selo: Casa Edison, Parlaphon.
D) Ano do registro: 1933
E) Época da gravação: Fase elétrica
F) Caráter: Vocal
G) Gênero: Samba
H) Instrumentação: Voz, coro, violão, piano, surdo, reco-reco, trompetes,
trombone e clarinetes.
I) Forma: Introdução A B C D | Interlúdio | A | Coda
J) Tempo de duração: 3:00
K) Intensidade: Dinâmica por textura.
L) Caráter da música: Tonal.
M) Métrica: Binária.
N) Descrição:

Noel Rosa (Noel de Medeiros Rosa, 1910 -1937) natural do Rio de Janeiro RJ.
Compositor, cantor e violonista. Nascido na Vila Isabel, conhecido como o “Poeta da
Vila”. Noel Rosa em sua breve carreira compôs cerca de quatrocentas canções, entre
sambas, marchas e valsas. Em seu nascimento sofreu um processo de parto via
fórceps que lhe resultou um afundamento no maxilar. Não teve formação musical
tradicional. Prestou faculdade de medicina, abandonando três anos após seu início.
Estudioso, e de classe média, gostava mesmo é de conviver com boêmios, sambistas e
marginalizados. Com fama de bom violonista foi convidado a ingressar no Bando dos
Tangarás, famoso grupo de serenatas carioca da década de 1920 e 1930. Em 1929
escreveu as primeiras composições, em 1930, conheceu o primeiro sucesso o samba
Com que roupa?. Foi personagem da maior polêmica musical brasileira que se tem
notícia, com o também compositor Wilson Batista (1913 – 1968). Suas canções foram
interpretadas por contemporâneos e subjacentes como: Araci de Almeida (1914 –
1968), Mario Reis (1907 – 1981), Chico Buarque (1944), Francisco Alves (1898 – 1952),
Ivan Lins (1945), Paulinho da Viola (1942) entre outros. Faleceu prematuramente aos
26 anos por complicações da sua saúde debilitada pela tuberculose.

André Filho (Antônio André de Sá Filho, 1906 – 1974) natural do Rio de Janeiro RJ.
Compositor, cantor e instrumentista. Órfão, foi criado pela avó materna, que incentivou
o estudo da música. Aos oito anos começou a estudar música pela tradição escrita com
um professor particular, aprendendo ritmo e harmonia. Participou ativamente do
mercado fonográfico como arranjador e autor de jingles para as gravadoras Philips e
Pharlapon. Têm mais de cento e cinqüenta composições, a mais famosa delas a
marcha Cidade Maravilhosa sucesso de 1934, gravada na Odeon por Aurora Miranda
(1915 – 1989). Esteve internado por problemas psíquicos na década de 1940, se
afastando das atividades musicais.

Parlaphon selo de gravação da Casa Edison criado por Frederico Figner (1866 – 1947)
pós-intervenção da Odeon.

Trompete – Instrumento musical de sopro da família dos metais, sua estrutura atual
remete ao século XVIII. Melódico. Concebido de metal torneado, em pouco mais da
metade de seu comprimento, com restante cônico terminando em campânula.
Apresenta três pistões. Sua tessitura tende para a região médio aguda, com três
oitavas de tessitura aproximadamente.

Surdo – instrumento brasileiro calcado nos tambores de origem africana, percussão


sem altura definida. Rítmico. Possui uma forma cilíndrica com até um metro de altura.
Há em ambas extremidades peles de nylon ou couro afinadas com tarraxas. Sua pele é
percutida com baquetas com ponta aveludada.

Interlúdio – seção intermediária ocorre no centro da construção da forma. De caráter


instrumental, traz variedade, para uma canção de caráter vocal. Apresenta de quatro a
dezesseis compassos.
Coda – em contexto fonográfico é uma seção de finalização que ocorre no final da
construção da forma. De caráter instrumental concluinte. Apresenta até oito compassos
de duração.

Melodia – Trecho da Seção A

Extraído do acervo da série Revivendo. Neste fonograma os instrumentos estão


postados em uma sala grande.

Arranjada, a música apresenta contracantos constantes e forma estruturada, bem


definida. Tocados em dinâmica piano, o registro do fonograma capta uma sonoridade
opaca. Quando solistas, o grupo instrumental toca numa dinâmica forte o que registra
timbres mais fiéis. O motivo está na forma que os instrumentos estão postados na sala.
A gravação ainda é mono.

A percussão surge utilizando marcação, provavelmente tocada por um surdo. Ainda


temos um reco-reco ou um prato e faca que surge esporadicamente tocando ostinatos
como em 1:49, por exemplo. A instrumentação cresce por textura a dinâmica se
sobrepõe, cada vez mais instrumentos fazem parte do fonograma.

Maria Reis conseguiu status no mercado fonográfico brasileiro não pela potência vocal,
mas pela interpretação marcante, sincopada, bem ritmada. Nos períodos anteriores,
utilizar o Bell canto, técnica de voz empostada e potente, era necessário pela pequena
sensibilidade do sistema mecânico.

No sistema elétrico, a capacidade maior de registrar sons abriu possibilidades para


cantores de voz pouco potente. Compositores cantariam no futuro, fenômeno que surge
com Noel Rosa (1910 – 1937), e será seguido com Chico Buarque (1944) e Tom Jobim
(1927 – 1994).

A voz de Mário Reis, embora pequena, tem timbre qualificado. É possível compreender
sua pronúncia claramente, assim como os sons que emite. É considerado um precursor
na forma de cantar, tendo influenciado João Gilberto (1931), que surgiria a seguir como
precursor da bossa nova e do jeito “cool” de se cantar.
OITAVO FONOGRAMA

A) Nome da composição e autor: Por especial favor de Ary Barroso


B) Nome do intérprete: Carmen Miranda
C) Nome da gravadora ou selo: Victor
D) Ano do registro: 1934
E) Época da gravação: Fase elétrica
F) Caráter: Vocal
G) Gênero: Marcha
H) Instrumentação: Voz, violão, piano, tarol, chimball, bumbo, trompetes,
trombones e saxofones.
I) Forma: Introdução A A B B A A | interlúdio | A | Coda
J) Tempo de duração: 2:27
K) Intensidade: Dinâmica por textura.
L) Caráter da música: Tonal.
M) Métrica: Quaternária
N) Descrição:

Carmem Miranda (Maria do Carmo Miranda da Cunha, 1909 – 1955) natural de Marco
de Canavezes - Portugal. Cantora, atriz e dançarina. Naturalizou-se brasileira. Marcou
época como estereotipo brasileiro no exterior. Iniciou sua carreira incentivada por Josué
de Barros (1888 – 1959), de quem interpretou Chora Violão em um festival com fins
filantrópicos. Em seguida começou a se apresentar em programas de rádio, que em
grande quantidade surgiram no período do final da década de 1920 e início da década
de 1930. Em 1929, Carmem, foi contratada pela gravadora RCA Victor. Emplacou
sucessos no Brasil. Em 1939, Carmen Miranda foi contratada para realizar shows na
Brodway, e posteriormente filmes em Hollywood. Tornou-se a única sul-americana a ter
as mãos e pés marcados na calçada da fama em Los Angeles, EUA. Ao retornar foi
acusada de americanizada pelo público brasileiro. Sua voz brilhante e afinação precisa
encantaram o mundo, e fez dessa artista uma das principais que o Brasil já produziu.
Ary Barroso (Ary de Resende Barroso, 1903 – 1964) natural de Ubá MG. Compositor,
pianista, locutor e apresentador. De sólida formação musical, iniciou sua carreira
artística no Rio de Janeiro no cinema Íris, tocando nos saguões de espera e em filmes
mudos. Integrou orquestras e jazz bands na década de 1920. A partir de 1928 teve
suas primeiras composições gravadas, cantou a Bahia e exaltou o Brasil, são mais de
duzentas e cinqüenta composições. Fundamentou o estilo do samba exaltação. Sua
obra fora registrada por três gerações Francisco Alves (1898 – 1952), Silvio Caldas
(1908 – 1998), Aracy de Almeida (1914 – 1988), Carmen Miranda (1909 – 1955),
Elizeth Cardoso (1920 – 1990), Elis Regina (1945 – 1982) entre outros.. Nos Estados
Unidos compôs trilhas para filmes e peças musicais.

Marcha - também chamada marchinha pelo tom alegre, gênero quaternário. Ritmo com
origem militar marchante, a marcha se consolidou viva no Brasil como música dos
cordões e blocos de ruas, dos foliões de maneira geral. Um primeiro e famoso exemplo
de marcha urbana Ó abre alas de Chiquinha Gonzaga (1847 – 1935), do ano de 1889.
A marcha no século XX foi matriz de outros gêneros de música como o frevo e o
samba-enredo.

Tarol (caixa clara, maracacheta) – instrumento de percussão sem altura definida.


Rítmico. Possui forma cilíndrica e tem corpo feito de madeira ou metal, com pele de
nylon presa por tarraxas. Possui bordões de metal transversais, ao percutidos por
baquetas vibram ampliando a sonoridade em fricção com a pele.

Chimball – instrumento de percussão sem altura definida. Rítmico. Conjunto de pratos


de cobre presos por ferragens. Sua execução ocorre com baquetas.

Saxofone – instrumento de sopro da família das madeiras. Melódico. Concebido em


Paris no século XIX por Adolf Sax, apresenta estrutura de metal torneado, apresenta 23
chaves que combinadas movimentam o ar soprado pela boquilha, que possui uma
palheta de madeira. Surge basicamente em quatro variáveis de acordo com sua região
de tessitura: saxofone barítono, grave; saxofone tenor, médio grave; saxofone alto,
médio agudo; saxofone soprano, agudo. Quaisquer têm tessitura média de três oitavas.

Melodia – Trecho da Seção A

Extraído do acervo Revivendo, Carmen Miranda Raridades. Este fonograma registra


timbres definidos. O arranjo completo apresenta contracantos contrapondo a melodia
principal, e um interlúdio com variações da melodia original.

A instrumentação apresenta a percussão como fator determinante do pulso constante.


A direção de estúdio e arranjo sugere uma profissionalização em elevação.

O arranjo tem vozes abertas nos metais e madeiras. A presença maciça da percussão
demonstra a melhora nos recursos de captação.

A voz solista está centralizada, assim como os demais instrumentos. Com destaque, no
entanto pela proximidade do diafragma do aparelho transdutor. A gravação ainda é
mono. A influência da sala é pequena se comparada aos fonogramas anteriores.

A duração comercial do fonograma estabelece preocupação com o tempo de


reprodução, principalmente com o advento da rádio.
NONO FONOGRAMA

A) Nome da composição e autor: Palpite Infeliz de Noel Rosa


B) Nome do intérprete: Araci de Almeida
C) Nome da gravadora ou selo: RCA/Victor
D) Ano do registro: 1936
E) Época da gravação: Fase elétrica
F) Caráter: Vocal
G) Gênero: Samba
H) Instrumentação: Voz, coro, violão, cavaquinho, flauta, clarinete, agogô,
tamborim, pandeiro e surdo.
I) Forma: Introdução A B A B | interlúdio A B | A | Coda
J) Tempo de duração: 3:02
K) Intensidade: Dinâmica por textura.
L) Caráter da música: Tonal.
M) Métrica: Binária.
N) Descrição:

Araci de Almeida (Araci Teles de Almeida, 1914 – 1988) natural do Rio de Janeiro RJ.
Cantora. Iniciou a carreira aos dezenove anos em uma rádio educadora. Sua carreira
fonográfica começou em 1934 na gravação de Em plena folia de Julieta de Oliveira
(1909? – 1983?). Foi imortalizada como principal intérprete da obra de Noel Rosa (1910
– 1937) em vida e postumamente. A primeira canção de Noel que registrou em disco foi
o samba Riso de Criança, em 1935. Destacou-se com uma das principais cantoras da
Era do Rádio, período entre 1930 e 1950. Canta sob influência do Bell canto, voz
empostada.

Agogô – instrumento de percussão sem altura definida. Rítmico. De origem africana.


Possui duas ou mais campânulas de tamanhos diferentes, ligados por metal em “v”,
percutidas por baqueta.
Tamborim – instrumento de percussão sem altura definida. Rítmico. É formado por um
pequeno aro de metal, plástico ou madeira. Coberta por uma pele de couro ou nylon,
presa por tarraxas. É percutido com os dedos ou por uma baqueta.

Pandeiro – instrumento de percussão sem altura definida. Rítmico. Apresenta


variações no tamanho e no material de construção. Tem um corpo em formato de aro
em madeira ou plástico, utiliza pele de couro ou nylon presa por tarraxas. É percutido
com as mãos.
Melodia – Trecho da Seção A

Extraído do acervo Revivendo digitalizado. As gravações do fonograma com


instrumentos de percussão neste período ocorrem de forma experimental. Embora os
timbres se apresentem com definição, a massa sonora da percussão faz com que o
som soe embolado. A percussão nesta fase elétrica registra o gênero urbano tal como
era executado informalmente, o pulso pouco oscila. Este fonograma permanece mono.

O cavaquinho está tocando mais livre. Os contracantos e contrapontos, linhas guias,


são frutos de arranjo pré-determinado por um indivíduo organizador, um arranjador. O
coro abre vozes intuitivamente. O fonograma tem força pela execução bem ordenada.

A digitalização ruim traz ruídos provavelmente inexistentes no fonograma original.


DÉCIMO FONOGRAMA

A) Nome da composição e autor: Cabuloso de Radamés Gnatalli


B) Nome do intérprete: Trio Carioca
C) Nome da gravadora ou selo: Victor
D) Ano do registro: 1937
E) Época da gravação: Fase elétrica
F) Caráter: Instrumental
G) Gênero: Samba.
H) Instrumentação: Piano, clarinete, bateria com vassoura.
I) Forma: A A B C A D A
J) Tempo de duração: 3:12
K) Intensidade: Dinâmica por textura.
L) Caráter da música: Tonal.
M) Métrica: Binário (um trecho quaternário)
N) Descrição:

Radamés Gnatalli (1906 – 1988) natural de Porto Alegre RS. Compositor, arranjador,
regente e pianista. De formação musical sólida, Radamés iniciou seus estudos musicais
ainda menino, com a mãe a pianista gaúcha Adélia Fossati Gnatalli. O pai também,
musicista, imigrante italiano foi clarinetista e regente. Estudou no Conservatório de
Porto Alegre, aprimorando-se em teoria musical, harmonia e solfejo, piano e violino. Por
volta de 1929 radicou-se no Rio de Janeiro onde passou a dialogar com a música
brasileira urbana carioca, como o samba e o choro. Viu na música popular perspectiva
para teu trabalho, atuou intensamente como arranjador para a rádio, e como arranjador
e diretor musical de fonogramas, discos. Foi responsável pela modernização da
orquestração brasileira. Com seu Trio Carioca e o Sexteto Radamés revisionou a
estética do choro, trazendo seu conhecimento erudito para a prática do estilo popular.

Trio Carioca formado inicialmente por Radamés Gnatalli no piano, e pelos violonistas
Iberê Gomes e Romeu Ghispsman. No fonograma classificado a formação é de trio,
porém com bateria, piano e clarinete. Nesta que é considerada a segunda formação do
Trio Carioca, apresentam-se Radamés Gnatalli (1906 – 1988) no piano, Luciano
Perrone (1908) na bateria e Luiz Americano (1900 – 1960) no clarinete.

Bateria – instrumento de percussão, sem altura definida. Rítmico. Conjunto de


tambores, e pratos. Os tambores são compostos de madeira com peles de nylon presas
com tarraxas em ambas as extremidades, são eles, dispostos do grave para o agudo:
bumbo, surdo, ton-ton e caixa. A caixa apresenta esteira. As ferragens seguram os
pratos de cobre. Podem ser tocados por baquetas de madeira ou vassourinhas com
partes metálicas.

Melodia – Trecho da Seção A

Fonograma de qualidade sonora notável. Em comparação com os timbres de piano


apresentados anteriormente, o salto é magnífico. O pianista Radamés Gnatalli nesta
execução usufrui toda tessitura do instrumento, sem que o piano perca definição,
clareza.

A gravação peca em qualidade quando o piano assume a região grave, dando a


sonoridade um grave embolado. O clarinete em todas as três regiões apresenta timbre
claro. O arranjo apresenta sonoridade moderna para o estilo do choro da época.
Dialoga, sem dúvida, com a música erudita.
DÉCIMO PRIMEIRO FONOGRAMA

A) Nome da composição e autor: Lamento de Pixinguinha


B) Nome do intérprete: Pixinguinha e seu conjunto.
C) Nome da gravadora ou selo: Victor
D) Ano do registro: 1941
E) Época da gravação: Fase elétrica
F) Caráter: Vocal
G) Gênero: Polca.
H) Instrumentação: Flauta, clarinete, trompete, violão, cavaquinho, agogô, e
bateria.
I) Forma: Introdução A A B B A A Coda
J) Tempo de duração: 3:15
K) Intensidade: Dinâmica por textura.
L) Caráter da música: Tonal.
M) Métrica: Binária.
N) Descrição:

Pixinguinha (1897 – 1973) natural do Rio de Janeiro RJ. Compositor, orquestrador,


flautista e saxofonista. De família grande, ao todo quatorze irmãos, o pai era músico
amador, tinha um grande arquivo de choro e promovia grandes encontros de chorões
em sua casa. Outros de seus irmãos eram músicos, com um deles Pixinguinha
aprendeu cavaquinho. Teve especificamente um professor de música com quem
aprendeu sobre a tradição da música escrita. Em 1911, aos quatorze anos ingressou
como instrumentista no mercado fonográfico tocando com o grupo Carioca o tango O
Morcego. Foi fundamental na formação do gênero samba, assim como na proliferação
do choro. Fundou em 1919 seu mais célebre e consagrado grupo Os Oito Batutas. Foi
arranjador e produtor da RCA/Victor, arranjador e regente da orquestra Columbia no
Brasil. Como compositor seus maiores êxitos comerciais são Carinhoso, Muito melhor,
Rosa e Lamentos. Têm mais de duzentas composições editadas. Em 1940, Heitor Villa–
Lobos selecionou Pixinguinha como um dos nomes mais relevantes da música popular
brasileira para se apresentar no Congresso Panamericano de Folclore.

Melodia – Trecho da Seção A

Postados lado a lado na sala os instrumentos, deste fonograma mono, têm timbres
claros. É possível identificar facilmente os instrumentos, o que não ocorre em parte dos
fonogramas anteriores. A mesma questão de sobra de graves ocorre, provavelmente
pelo ataque, execução próxima ao diafragma, gerando efeito de proximidade.

A forma musical, do estilo choro, apresenta outra estrutura. A qualidade da estrutura do


arranjo também ressalta, contracantos claros. Provavelmente todo arranjo foi construído
previamente.

A questão do andamento oscilante, presente nos fonogramas das décadas de 10 e 20


do século XX, está amenizada com a presença de instrumentos exclusivamente
rítmicos no fonograma.
DÉCIMO SEGUNDO FONOGRAMA

A) Nome da composição e autor: Diz que vai vai de Hannibal Cruz


B) Nome do intérprete: Odete Amaral.
C) Nome da gravadora ou selo: Victor
D) Ano do registro: 1942
E) Época da gravação: Fase elétrica
F) Caráter: Vocal
G) Gênero: Maxixe
H) Instrumentação: Voz, coro, flauta, violão de 6 e 7 cordas, cavaquinho,
pandeiro e surdo.
I) Forma: Introdução A B A B A Interlúdio A A
J) Tempo de duração: 2:42
K) Intensidade: Dinâmica por textura.
L) Caráter da música: Tonal.
M) Métrica: Binária.
N) Descrição:

Hannibal Cruz (1899 - ?) natural do Rio de Janeiro. Compositor. De formação musical


intuitiva. Iniciou a carreira artística no mercado fonográfico brasileiro como compositor
em canções registradas por Carmem Miranda (1909 – 1955) e Odete Amaral (1917 –
1984). Compôs em parceria com Vicente Paiva (1908 – 1964).

Odete Amaral (1917 – 1984) natural de Niterói RJ. Cantora. De formação musical
intuitiva, iniciou sua carreira artística atuando na Rádio Guanabara. Em 1936 gravou o
primeiro disco para Odeon. Em seguida levada por Ary Barroso (1903 – 1964), diretor
artístico da RCA-Victor, assina seu primeiro contrato. Em 1938 casa-se com o cantor
Ciro Monteiro (1913 – 1973). Registrou ao longo de sua carreira cerca de cento e
cinqüenta fonogramas, distribuídos em discos compactos e LP. Cantou basicamente
sambas, marchas e derivados com voz empostada, influência do Bell canto.
Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma de sonoridade límpida concentra todas as execuções instrumentais no


centro. A gravação é mono, e fora registrado em uma mesma sala. A execução é
simultânea.

Os instrumentos posicionam-se na perspectiva do fonograma pela proximidade ou


afastamento do diafragma captador. É possível imaginar uma constituição em que a voz
esteja postado a frente do microfone, o coro cerca de um metro atrás, e o corpo
instrumental dois metros atrás do anterior.

A flauta na introdução está postada proximamente ao diafragma captador, do início até


por volta de dez segundos. Num segundo momento, improvisando contracantos, a
flauta posta-se a certa distância, como, por exemplo, em 1:29. Novamente se aproxima
no interlúdio em torno de 1:55. O movimento do instrumentista dentro da sala posta sua
execução na gravação.

Este fonograma apresentado encerra-se em fade out, técnica que retira


progressivamente volume do corpo sonoro apresentado. Esta técnica é posterior. No
disco original não existe esta intervenção. Este processo foi gerado sob esse
fonograma na recente digitalização.
DÉCIMO TERCEIRO FONOGRAMA

A) Nome da composição e autor: Senhor do bomfim de Herivelto Martins


B) Nome do intérprete: Trio de Ouro
C) Nome da gravadora ou selo: Victor
D) Ano do registro: 1947
E) Época da gravação: Fase elétrica
F) Caráter: Vocal
G) Gênero: Samba canção
H) Instrumentação: Vozes, violão, baixo acústico, piano, cordas (Violino,
viola e violoncello), e flautas transversais.
I) Forma: Introdução A B C B D A B C B
J) Tempo de duração: 3:01
K) Intensidade: Dinâmica por textura.
L) Caráter da música: Tonal.
M) Métrica: Binária.
N) Descrição:

Herivelto Martins (Herivelto de Oliveira Martins, 1912 – 1992) natural de Engenheiro


Paulo de Frontin RJ. Compositor e cantor. De formação musical intuitiva, iniciou a
carreira artística no Rio de Janeiro. Aos vinte anos teve a primeira composição
registrada no mercado fonográfico, o samba Da cor do meu violão. Em 1934 iniciou sua
atuação como cantor no trio Tupi. Compôs mais de duzentas canções entre sambas e
marchas. Foi interpretado, entre muitos outros, por Araci de Almeida (1914 – 1988),
Francisco Alves (1898 – 1952) e Orlando Silva (1915 – 1978). Foi fundador do Trio de
Ouro.

Trio de Ouro formado em 1937 o trio vocal composto por Herivelto Martins (1912 –
1992), Dalva de Oliveira (1917 – 1972) e Nilo Chagas (1917 – 1973) gravou cerca de
quarenta discos compactos. O primeiro deles data de 1938 cantando o samba Na Bahia
de Herivelto Martins com participação especial de Carmen Miranda (1909 – 1955). O
trio diluiu-se em 1964, tendo se apresentado por todo Brasil e em turnês internacionais.
Ambos os cantores impostam a voz no ato de cantar.

Samba-canção: variação do gênero matriz samba. O samba-canção tem como


principal característica à melodia, lânguida e de fácil aceitação. Apresenta na letra uma
temática geralmente de desalento amoroso, ou desencanto. Com andamento lento,
contrapondo a estética geral do samba.

Violino – instrumento da família das cordas, execução friccionada. Melódico. É


composto de uma caixa de ressonância acinturada, diferente dos violões, com tampo e
fundo de madeira arredondada, braços desprovidos de trastes, mãos com tarraxas nas
quais são presas quatro cordas que ficam dispostas sobre o instrumento até o cavalete.
Sua tessitura é de três oitavas aproximadamente. Sua execução é mediante um arco de
crina que friccina as cordas ou em pizzicato com os dedos pinçando.

Viola – instrumento da família das cordas friccionadas. Melódico. É composto de uma


caixa de ressonância acinturada maior que a do violino, com corpo e fundo
arredondado em madeira, braço desprovido de trastes, mão com tarraxas onde são
presas quatro cordas, dispostas sobre o instrumento até o cavalete. Apresenta três
oitavas de tessitura. A execução de suas cordas é idêntica ao violino, arco com crina e
pizzicato.

Violoncello (Cello) - instrumento da família das cordas friccionadas. Melódico. É


composto de uma caixa de ressonância acinturada maior que a do violino e violna, com
corpo e fundo arredondado em madeira, braço desprovido de trastes, mão com tarraxas
onde são presas quatro cordas, dispostas sobre o instrumento até o cavalete.
Apresenta execução com arco de crina ou pizzicato, com tessitura de três oitavas e
meia.

Contrabaixo Acústico – instrumento da família das cordas friccionadas. Melódico. É


composto de uma caixa de ressonância acinturada maior que a do violoncello, com
corpo e fundo arredondado em madeira, braço desprovido de trastes, mão com tarraxas
onde são presas quatro cordas, dispostas sobre o instrumento até o cavalete.
Apresenta três oitavas e meia, e na música popular geralmente é tocado pinçado.

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma, ainda da década de 1940, apresenta poucas modificações técnicas em


sua estrutura musical. A qualidade sonora é coesa com a tecnologia existente. Embora
os instrumentos estejam centralizados, os timbres são identificáveis. Em nenhum
momento se confundem na estrutura do fonograma. Muito se deve ao arranjo bem
estruturado, e pautado em tradições de escrita onde se observam região de execução
instrumental, intensidade, e expressão. A atuação de um regente-arranjador é notória.

No registro fonográfico o corpo instrumental está postado em uma sala enquanto as


vozes estão em outra, captados por dois microfones, um para cada corpo sonoro. A
gravação é simultânea. O fonograma é encerrado bruscamente com a técnica de fade
out, no entanto mal sucedida, atribuída a uma interferência contemporânea no processo
de digitalização.
DÉCIMO QUARTO FONOGRAMA

A) Nome da composição e autor: La paloma de Yradier versão Pedro de


Almeida
B) Nome do intérprete: Cascatinha e Inhana
C) Nome da gravadora ou selo: Todaamérica
D) Ano do registro: 1950
E) Época da gravação: Fase elétrica
F) Caráter: Vocal
G) Gênero: Moda
H) Instrumentação: Vozes, violinos, violão, acordeom, triângulo.
I) Forma: Introdução A A B B C | Interlúdio | B B C
J) Tempo de duração: 3:54
K) Intensidade: Apresenta dinâmica na mudança de forma.
L) Caráter da música: Tonal.
M) Métrica: Quaternária.
N) Descrição:

Pedro de Almeida não constam dados bibliográficos sobre o autor, que é compositor e
criador de importantes versões e adaptações de músicas do idioma espanhol.

Cascatinha (Francisco dos Santos, 1919 – 1996) natural de Araraquara SP. Cantor. De
formação musical intuitiva, iniciou sua atuação profissional no interior de São Paulo,
cantando em duplas sertanejas modinhas, valsas e canções românticas. Ana e
Francisco se conheceram em 1941 casaram e iniciaram a dupla que os consagrou. O
maior sucesso da dupla a música Índia rendeu ao mercado fonográfico que os
promoveu uma vendagem de três milhões de discos até a década de 1990.

Inhana (Ana Eufrosina da Silva Santos, 1923 - 1981) natural de São José do Rio Preto
SP. Cantora. De formação também intuitiva, Ana iniciou sua carreira musical cantando
em um conjunto formado por seus irmãos.
Todaamerica gravadora iniciou sua atuação no mercado fonográfico brasileiro no final
da década de 1940. Seus registros concentram-se no campo da música caipira, embora
tenha lançado discos de outros gêneros, estilos, entre outros da cantora Elizeth
Cardoso (1920 – 1990).

Acordeom (sanfona, acordeão) – instrumento de vento, sopro que movimenta palhetas


através do uso de um fole. Harmônico e melódico. Seu som é obtido através das teclas
e botões sincronizados com o movimento singular e contínuo do fole. As teclas têm
alturas individuais, os botões apresentam acordes, tríades geralmente, e baixos, como
alturas individuais.

Triângulo – instrumento de percussão sem altura definida. Rítmico. Possui um corpo


triangular de metal em aço, ferro ou alumínio. É percutido com baqueta do mesmo
material.

Moda: termo designado em Portugal para caracterizar canção de canto e melodia. No


Brasil caracteriza um tipo de canção rural. Divide-se em três tipos de temática: a saga
de boiadeiros e lavradores, anedotário caipira e histórias trágicas de amor e morte.
Surge em métrica quaternária e ternária dependendo da região em que se enraíza.

Compasso quaternário quando os pulsos se agrupam de quatro em quatro


fragmentando uma estrutura musical. Pode-se considerar o quaternário como
agrupamento de dois compassos binários. O primeiro tempo apresenta acento forte, o
segundo fraco, o terceiro menos forte, e o quarto novamente fraco. É representado pelo
número quatro entre a terceira e a quinta linha da pauta.

Melodia – Trecho da Seção A


Lançada em disco 78 RPM. Com muita delicadeza, o fonograma estabelece com
qualidade sonora um padrão estético grandioso. Vozes afinadas, bem organizadas pelo
arranjo de um orquestrador com conhecimento calcado na tradição escrita.

O fonograma ainda é mono, registrado simultaneamente. O grupo instrumental


provavelmente está separado, através do uso de dois microfones. Violão e vozes estão
no mesmo patamar, enquanto violinos, acordeom e triângulo estão mais afastados.
DÉCIMO QUINTO FONOGRAMA

A) Nome da composição e autor: João Valentão de Dorival Caymmi


B) Nome do intérprete: Dorival Caymmi
C) Nome da gravadora ou selo: Odeon
D) Ano do registro: 1953
E) Época da gravação: Fase elétrica
F) Caráter: Vocal
G) Gênero: Samba/samba-canção
H) Instrumentação: Voz, violão, cavaquinho, metais (trompete, trombone),
madeiras (saxofones alto e tenor), cordas (violino, viola e violoncelo),
contrabaixo acústico e bateria.
I) Forma: Introdução A | interlúdio | B C B’ C’ | interlúdio | C’ C’
J) Tempo de duração: 3:01
K) Intensidade: Apresenta dinâmica por textura
L) Caráter da música: Tonal.
M) Métrica: Binária.
N) Descrição:

Dorival Caymmi (1914 – 2008) natural de Salvador BA. Compositor, cantor e violonista.
Seu pai, funcionário público, músico amador, ensinou a Caymmi as primeiras lições de
música. Na década de 1930 começou a compor, sua primeira música que se tem notícia
é No sertão, de 1933. Ao longo de sua carreira expôs um repertório enxuto de apenas
oitenta composições, todas registradas em fonogramas pelo autor. Visitaram sua obra
Carmen Miranda (1909 – 1955), para quem em 1938 compôs O que é que a baiana
tem? - trilha do filme Banana da Terra do diretor Wallace Downey (? - 1967) -, Nelson
Gonçalves (1919 – 1998), Dick Farney (1921 – 1987) e Francisco Alves (1898 – 1952).
Seus filhos Nãna (1941), Danilo (1948) e Dory Caymmi (1943) são também, importantes
intérpretes de sua obra. Gravou um disco ao lado de Antônio Carlos Jobim, que lhe
conservava admiração.
Odeon gravadora européia representada no Brasil pela Casa Edison como selo, nas
três primeiras décadas do século XX. A partir de 1930 instalou-se atuando no Brasil por
cinqüenta anos, em todos os gêneros musicais. A partir de 1980 aglutinou-se como
subsidiária da gigantesca multinacional EMI.

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma foi registrado em dois canais simultâneos, um para o corpo


instrumental e o segundo para o intérprete. Constituído sobre um arranjo orquestral,
tipicamente influenciado pela estética do arranjo norte-americano com metais e
madeiras, tocando blocos de acordes. Atua neste caso um orquestrador arranjador, de
cultura erudita, que rege determinando crescendos e decrescendos do corpo
instrumental.

A estrutura do arranjo, com introdução instrumental, apresentação da composição,


interlúdio instrumental, recapitulação da composição, geralmente um refrão, segue. O
registro fonográfico permanece mono.

A sonoridade está em transformação. A década de cinqüenta marca uma mudança


drástica no advento dos discos LP, e de novas tecnologias, como a sobreposição de
camadas no processo de gravação de um fonograma.
DÉCIMO SEXTO FONOGRAMA

A) Nome da composição e autor: Sebastiana de Rosil Cavalcanti.


B) Nome do intérprete: Jackson do Pandeiro
C) Nome da gravadora ou selo: Odeon
D) Ano do registro: 1954
E) Época da gravação: Fase elétrica
F) Caráter: Vocal
G) Gênero: Xaxado
H) Instrumentação: Voz, coro, cavaquinho, acordeom, violão, contrabaixo,
agogô e xequerê.
I) Forma: Introdução A B (refrão) C B (refrão) | interlúdio | A B (refrão) C B
B (refrão)
J) Tempo de duração: 2:03
K) Intensidade: Apresenta dinâmica por textura.
L) Caráter da música: Tonal
M) Métrica: Binária
N) Descrição:

Rosil Cavalcanti (1915 – 1968) natural de Macaparana PE. Compositor, ator e


radialista. Sem formação musical tradicional. Rosil iniciou sua carreira musical com a
dupla Café com Leite em 1942, dividida com Jackson do Pandeiro. Trabalhou como
radialista e redator da rádio Caturité em Campina Grande na Paraíba. Teve suas
composições registradas por Jackson do Pandeiro (1919 - 1982), Luiz Gonzaga (1912 –
1989), Genival Lacerda (1931), Gal Costa (1945) e Gilberto Gil (1942). Seu principal
sucesso foi o xaxado Sebastiana, registrado no áudio deste fonograma.

Jackson do Pandeiro (José Gomes Filho, 1919 – 1982) natural de Alagoa Grande PB.
Com base na oralidade aprendeu música, iniciou tocando zabumba e pandeiro. Em
1932 mudou para com a família para Campina Grande, assumiu o nome artístico de
Jack do Pandeiro. Em 1953 muda-se para o Rio de Janeiro, e logo no primeiro ano alça
sucesso com a música Sebastiana. Jackson registrou em fonogramas mais de
quatrocentas composições, distribuídas em dezenas de discos.

Xaxado dança originária do alto sertão de Pernambuco, masculina e dançada em


círculo. Como gênero urbano teve como principal divulgador o cantor, compositor e
sanfoneiro Luiz Gonzaga (1912 – 1989). Similar ao baião.

Xequerê (Agbê, afoxé) – instrumento de percussão afro-brasileira, sem altura definida.


Rítmico. Constituído por uma cabaça de diferentes tamanhos, envolta por um trançado
de linhas contendo pequenos búzios, sementes ou contas de plástico. Toca-se
chacoalhando.

Melodia – Trecho da Seção A

O fonograma apresenta, embora, em outro gênero e estética, estrutura similar ao


classificado anteriormente. Perpassa-se uma estrutura obrigatória, com introdução,
exposição da composição, interlúdio, e reapresentação da composição.

Sugere um registro fonográfico realizado com dois microfones, em dois canais. Um


apenas para a voz solista e coro, outro para o corpo instrumental. O registro ainda é
mono, e a definição dos timbres é clara. Não há ambiência excessiva atuante, o que
sugere um espaço com freqüências controladas, estúdio de aquário.
DÉCIMO SÉTIMO FONOGRAMA

A) Nome da composição e autor: Baião de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira


B) Nome do intérprete: Donato e seu conjunto, LP Chá Dançante.
C) Nome da gravadora ou selo: Odeon
D) Ano do registro: 1956
E) Época da gravação: Fase elétrica
F) Caráter: Instrumental
G) Gênero: Baião
H) Instrumentação: Acordeon, piano, triângulo, agogô, pandeiro, zabumba.
I) Forma: Introdução A B A B C A B A B | Coda
J) Tempo de duração: 2:41
K) Intensidade: Sem dinâmica.
L) Caráter da música: Modal.
M) Métrica: Binária.
N) Descrição:

Luiz Gonzaga (Luiz Gonzaga do Nascimento, 1912 - 1989) natural de Exu PE. Cantor,
compositor e sanfoneiro. Nomeado Reio do Baião, Luiz Gonzaga iniciou seu
aprendizado musical a partir de 1930, no batalhão militar de Minas Geraes. Já conhecia
música intuitivamente, no entanto no ambiente teve as primeiras noções de teoria e
solfejo. No início da década de 1940 comprou uma sanfona, e estudou com Xavier
Pinheiro (?) e Antógenes Filho (?). A partir daí iniciou a carreira com o instrumento que
o imortalizaria. Participou de programas de calouro como o de Ary Barroso (1903 –
1964), e a seguir foi contratado pela gravadora Victor onde registraria grande parte de
seus fonogramas. Em 1945 provocou uma transformação na música popular brasileira
ao lançar o gênero Baião, espécie de coco urbanizado, com instrumentação de
triângulo, zabumba e sanfona. Em seu repertório gêneros como o maxixe, o coco, o
xaxado, a polca, o xote, e o próprio baião.
Humberto Teixeira (1915 – 1979) natural de Iguatu CE. Compositor. Iniciou sua
carreira estudando flauta em uma orquestra. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1931,
como compositor obteve êxito vencendo o concurso de músicas carnavalescas do
periódico o Malho. Em 1945, Orlando Silva (1915 – 1978) registrou em disco duas de
suas composições. Conheceu neste mesmo ano seu parceiro de inúmeros sucessos, o
sanfoneiro Luiz Gonzaga (1912 – 1989). Em 1956 fundou junto com João de Barro, o
Braguinha (1907 - 2006) a Academia Brasileira de Música Popular. Intérpretes como
Carmélia Alves (1923), Elba Ramalho (1951), Maria Bethânia (1946) registraram suas
canções no mercado fonográfico brasileiro.

João Donato (João Donato de Oliveira Neto, 1934) natural de Rio Branco AC. Pianista,
acordeonista, arranjador, cantor e compositor. Jovem foi presenteado com um
acordeom iniciando com este instrumento seus estudos musicais, a seguir consolidou
seus estudos ao piano. Em 1945 mudou com a família para o Rio de Janeiro. Iniciou a
carreira musical aos quinze como instrumentista do conjunto do flautista Altamiro
Carrilho (1924). Em 1956 lançou seu primeiro LP Chá Dançante produzido por Tom
Jobim (1927 – 1994). Como compositor auxiliou, minimizou e sintetizou a estética da
bossa-nova. Flerta com o jazz nas improvisações e composições.

Baião gênero musical urbano, embora concentre raízes nordestina, similar ao coco e ao
xaxado. Foi nomenclaturado a partir da composição homônima de Humberto Teixeira e
Luiz Gonzaga, datada de 1946. Os principais expoentes do gênero são Carmélia Alves
(1923), Luiz Gonzaga (1912 – 1989), Claudete Soares (1937), Luiz Vieira (1928),
Dominguinhos (1941) entre outros.

Zabumba – instrumento de percussão, sem altura definida. Rítmico. É um tambor de


corpo estreito, de grande diâmetro. Composto por uma pele de couro ou nylon em
ambos os lados presos por tarraxas. É executado por duas baquetas uma aveludada
que marca o pulso, chamada maçaneta, a segunda denominada bacalhau, geralmente
de nylon.
Melodia – Trecho da Seção A

O fonograma foi gravado simultaneamente, embora não conste o dado técnico no agora
LP. Os instrumentos parecem captados no mesmo ambiente por quatro microfones, em
quatro canais, um específico para o acordeom, um específico para o piano, e dois sobre
a percussão, em forma de “over”, captando a ambiência, que atua de forma menos
acentuada sobre o piano e o acordeom.

Os timbres têm definição excelente, algo que a partir da década de cinqüenta é


constante, obrigatório por padrão de produto de mercado. É o primeiro fonograma,
entre os classificados, que finaliza em fade out, saída cadenciada com a técnica de
abaixar o volume progressivamente, algo inovador, surgido na metade da década de
1950.
DÉCIMO OITAVO FONOGRAMA

A) Nome da composição e autor: Chega de Saudade de Tom Jobim e Vinícius de


Moraes
B) Nome do intérprete: Elizeth Cardoso, no LP Canção do amor demais.
C) Nome da gravadora ou selo: Odeon
D) Ano do registro: 1958
E) Época da gravação: Fase elétrica
F) Caráter: Vocal
G) Gênero: Samba
H) Instrumentação: Voz, coro, violão, piano, baixo acústico, flauta, trombones,
clarinete, harpa, cordas (violino, viola e violoncello), bateria e pandeiro.
I) Forma: Introdução A A’ B C Interlúdio B C
J) Tempo de duração: 3:28
K) Intensidade: Dinâmica por textura.
L) Caráter da música: Tonal.
M) Métrica: Quaternária.
N) Descrição:

Tom Jobim (Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, 1927 – 1994) natural do Rio
de Janeiro. Cantor, compositor, arranjador, instrumentista e maestro. De formação
musical calcada na tradição escrita, Jobim consolidou-se internacionalmente como o
modernizador da música popular brasileira. Iniciou sua carreira artística atuando em
bares e casas noturnas no Rio de Janeiro como pianista. Em 1953 atuou transcrevendo
música para editoras de partitura, a seguir foi convidado para atuar como arranjador e
diretor artístico da gravadora Continental. Em 1954 compôs o primeiro sucesso lançado
em disco no mercado fonográfico, o samba canção Teresa da Praia entoado por Lúcio
Alves (1927 – 1993) e Dick Farney (1921 – 1987). Em 1956, por intermédio do jornalista
Lúcio Rangel (1914 – 1979), conheceu Vinícius de Moraes (1913 – 1980) com quem
compôs grandes sucessos. A carreira internacional de Tom Jobim foi consolidada com
a gravação de dois LPs dedicados a sua obra, pelo cantor singular norte-americano
Frank Sinatra (1915 – 1998).

Vinícius de Moraes (Marcus Vinícius da Cruz de Melo Moraes, 1913 – 1980) natural do
Rio de Janeiro RJ. Poeta, letrista e cantor. De formação musical intuitiva. Sua primeira
composição registrada no mercado fonográfico foi em 1932, o foxtrote, gênero
quaternário norte-americano, Loura ou Morena em parceria com os irmãos Haroldo
(1915 – 1994) e Paulo Tapajós (1913 – 1990). Dedicou-se a carreira de diplomata
radicando-se nos Estados Unidos e França. Em 1956 retornou ao Brasil, ano da
montagem da sua peça Orfeu da Conceição com cenário de Oscar Niemayer (1908) e
música de Tom Jobim (1927 – 1994) com quem idealizaria o movimento da Bossa
Nova. Compôs alguns de seus principais sucessos ao lado de Edu Lobo (1943), Baden
Powell (1937 - 2000) e Toquinho (1946).

Elizeth Cardoso (Elizeth Cardoso Valdez, 1920 – 1990) natural do Rio de Janeiro RJ.
Cantora. De formação musical intuitiva, Elizeth foi descoberta pelo bandolinista Jacob
do Bandolim (1918 – 1969) exercendo atividades cotidianas. Passou por programas da
Rádio Nacional e Rádio Tupi. Gravou seu primeiro disco compacto em 1950 por
intermédio de Ataulfo Alves (1909 – 1969). Nessa década conheceu seus primeiros
sucessos, e foi convidada para interpretar as canções da dupla: Vinícius de Moraes
(1913 – 1980) e Tom Jobim (1927 – 1994).

Bossa Nova estilo musical deflagrado no final da década de 1950, inicialmente remetia
a uma forma de cantar e tocar. Contextualizado na classe média carioca, a bossa nova
apresentou para a música brasileira nomes como Nara Leão (1942 – 1989), Carlos Lyra
(1939), João Gilberto (1931), Tom Jobim (1927 – 1994) e Vinícius de Moraes (1913 –
1980). Flertava com o cool jazz norte americano, a música francesa e o samba, gênero
tipicamente brasileiro.

Harpa instrumento de cordas, um dos mais antigos que sobrevivem na música ocidental
nos dias de hoje. É composta por uma série de cordas de espessuras e comprimentos
diferentes esticadas num triângulo. Melódico e harmônico. Cada corda representa uma
nota. Sua tessitura é de aproximadamente cinco oitavas e meia.

Melodia – Trecho da Seção A

Os fonogramas da segunda metade da década de 1950 demonstram uma melhora


acentuada no resultado sonoro. Obviamente a tecnologia evoluiu, microfones com
captação de dinâmicas, ainda mais sensíveis as alturas, captando com êxito
freqüências extremas. As salas de gravação evoluíram percebe-se uma sonoridade
mais definida, sem atuação direta de ambiências características de uma sala sem um
tratamento acústico ideal, com elementos absorsores e refletores.

Os instrumentos deste fonograma seguem centralizados, mono, não há divisão de dois


canais estéreos, esquerda e direita, compatíveis a percepção humana. Essa
perspectiva será a mudança mais drástica na indústria fonográfica na década de 1960.
Os instrumentos terão possibilidades de posicionamento diante de uma perspectiva
panorâmica, alguns habitarão a esquerda, outros a direita. E a partir da década de 1980
trafegarão pela perspectiva perceptiva humana.
DÉCIMO NONO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Alguém me disse de Evaldo Gouveia e Jair


Amorim.
B. Nome do intérprete: Anísio Silva, no LP Alguém me disse.
C. Nome da gravadora ou selo: Odeon
D. Ano do registro: 1960
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Bolero
H. Instrumentação: Voz, violão, baixo acústico, bateria, bongô, cordas (Violino,
viola e violoncelo), metais (trompete com surdina).
I. Forma: Introdução A B A B’ | Interlúdio | A B’ | Coda
J. Tempo de duração: 2:56
K. Intensidade: Dinâmica por textura.
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Quaternária.
N. Descrição:

Evaldo Gouveia (Evaldo Gouveia de Oliveira, 1930) natural de Iguatu CE. Cantor e
compositor. Não tem formação musical tradicional. Iniciou sua carreira artística em 1949
em Fortaleza CE, acompanhando conjuntos ao violão. Em 1950 teve suas primeiras
composições registradas no mercado fonográfico. Seu primeiro sucesso Eu e Deus foi
registrado na voz de Nora Ney (1922 - 2003) em 1957 pela gravadora Continental.
Compôs sambas, boleros e sambas-canção, sempre de caráter romântico e
melancólico. Foi interpretado por Ângela Maria (1928), Dalva de Oliveira (1917 – 1972),
Agnaldo Rayol (1938), Cauby Peixoto (1931) entre outros.

Jair Amorim (Jair Pedrinha de Carvalho Amorim, 1915 – 1993) natural de Leopoldina
ES. Compositor, jornalista e locutor. Sem formação musical tradicional, Jair destacava-
se nas composições. Chegou ao Rio de Janeiro em 1941, culto, foi contratado para
compor letras para versão de música estrangeira. Seus principais parceiros foram
Evaldo Gouveia e José Maria de Abreu (1911 – 1966), este último seu parceiro mais
prolifero. Foi interpretado no mercado fonográfico por Dick Farney (1921 - 1987),
Agostinho dos Santos (1932 – 1973), Dircinha Batista (1922 – 1999) entre outros.

Anísio Silva (1920 – 1989) natural de Cartité BA. Cantor e compositor. Sem formação
musical tradicional, Anísio chegou ao Rio de Janeiro aos vinte cinco anos. Com
repertório calcado em sambas-canção, boleros e samba-fox conquistou um grande
público com sua voz impostada potente e expressiva. Foi o primeiro artista brasileiro a
atingir menção fonográfica do chamado disco de ouro, pelo sucesso do compacto duplo
contendo Sempre Contigo e Sonhando Comigo, respectivamente dos compositores
Willian Duba (?) e Fausto Guimarães (?). Anísio colecionou sucessos ao longo de sua
carreira por seu repertório e estética romântica.

Bolero gênero latino que em meados da década de 1940 foi assimilado pelo repertório
fonográfico brasileiro. Tem influência espanhola, mas se desenvolveu realmente na
confluência e dialogismos das danças africanas em território latino. O primeiro grande
sucesso internacional do gênero foi à canção Bessame Mucho, em 1941. Muitos
compositores utilizam o gênero para delinear seu repertório entre eles Tom Jobim (1927
– 1994) e Chico Buarque (1944) com Anos Dourados, Chico Buarque (1944) com As
Vitrines, Cristovão Bastos (1946) e Aldir Blanc (1946) com Resposta ao tempo.

Bongô – instrumento de percussão, sem altura definida. Rítmico. De origem afro-


cubana, é formado por dois tambores pequenos de tamanhos diferentes. Seu corpo é
de madeira, com pele de couro presa por tarraxas. É percutido com os dedos.

Surdina – acessório utilizado nos instrumentos da família dos metais como trombone e
trompete, ao encaixado na campânula do instrumento modifica seu timbre, alterando a
sonoridade original. Existem mais de cinco tipos de surdina.
Melodia – Trecho da Seção A

Os fonogramas da década de 1960 atingem estética definitiva no parâmetro timbre. Os


instrumentos têm corpo sonoro perfeito, idêntico ao que se ouve de forma acústica.

Surge a direção artística, referenciada nos discos LP. Aliada a direção musical ou de
estúdio, e arranjos. Funções responsáveis pela constituição estética do produto
fonográfico.

A definição do fonorama sugere: cada instrumento foi captado individualmente, exceto


as cordas, que foram captadas como corpo instrumental. O fonograma ainda tem
característica mono.
VIGÉSSIMO FONOGRAMA

A) Nome da composição e autor: Meditação de Newton Mendonça e Tom


Jobim
B) Nome do intérprete: Luis Eça e Astor, LP Cada qual melhor.
C) Nome da gravadora ou selo: Odeon
D) Ano do registro: 1961
E) Época da gravação: Fase elétrica
F) Caráter: Instrumental.
G) Gênero: Samba, estilo bossa-nova.
H) Instrumentação: Piano, bateria, reco-reco, clave, baixo acústico,
trombone, metais (trompetes e trombones), madeiras (saxofones).
I) Forma: Introdução A A B A | A A | Interlúdio | B A | Coda
J) Tempo de duração: 3:50
K) Intensidade: Dinâmica por textura.
L) Caráter da música: Tonal.
M) Métrica: Binária.
N) Descrição:

Newton Mendonça (Newton Ferreira de Mendonça, 1927 – 1960) natural do Rio de


Janeiro RJ. Compositor, pianista, violonista e gaitista. De formação musical sólida.
Newton estreou artisticamente como pianista da Orquestra de Waldemar em 1950.
Conheceu Tom Jobim (1927 – 1994) em 1942, este que seria seu principal parceiro,
com quem realizou alguns dos principais sucessos da Bossa Nova como Meditação,
Desafinado e Samba de uma nota só. Faleceu precocemente aos trinta e três anos.

Luis Eça (Luiz Manizi da Cunha, 1936 – 1992) natural do Rio de Janeiro. Pianista,
arranjador e compositor. Conhecedor da tradição escrita iniciou seus estudos musicais
aos cinco anos de idade utilizando o piano como meio. Aperfeiçoou-se com bolsa do
governo brasileiro no exterior no final da década de 1950. Estreou profissionalmente em
casas noturnas cariocas tocando repertório de jazz e música brasileira. Fez parte da
primeira geração da bossa nova, entre 1958 e 1962. Fundou o Tamba Trio que
acompanhou cantoras e registrou discos na mistura de música brasileira e americana, o
samba-jazz instrumental. O trio teve em sua formação original Luiz Eça piano e
arranjos, Bebeto Castilho (1933?) flauta e contrabaixo acústico e Hélcio Milito (1931) na
bateria. Produziu discos de intérpretes como Silvia Telles (1934 – 1966) e Milton
Nascimento (1942).

Astor (Astor Silva, 1922 – 1968) natural do Rio de Janeiro RJ. Instrumentista,
arranjador, regente e compositor. Iniciou seus estudos musicais ainda criança, sua
carreira profissional foi inicada na década de 1940, trabalhando em cassinos e dances.
Foi convidado a seguir para participar da Orquestra de Severino Araújo (1917).
Escreveu arranjos e dirigiu musicalmente discos de nomes da música brasileira como
Elza Soares (1937). Registrou seus próprios discos com seu grupo instrumental e em
parceria com Luiz Eça.

Clave – instrumento de percussão de origem afro-cubana, sem altura definida. Rítmico.


Constituído por dois paus de madeira arredondados de mesmo formato. Sua execução
consiste na fricção entre os dois objetos.

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma é o primeiro entre os selecionados que trabalha com a perspectiva


panorâmica, estéreo. Distribuem-se os instrumentos entre os dois lados da percepção
humana. Por exemplo, neste fonograma a esquerda posiciona-se o piano e a bateria
com vassouras. À direita o baixo acústico, o trombone, e os metais. No centro o reco-
reco e a clave. Mesmo distribuídos panoramicamente, nunca comercialmente o
fonograma perde balanceamento entre direita e esquerda. Quando ocorre é
considerado um erro grave para as diretrizes que regem o meio fonográfico.

Essa mudança de perspectiva acompanha a nova tecnologia, de rádios tocadores de


LP, toca discos, que agora possuem duas caixas acústicas de uso panorâmico. Basta
lembrar que os reprodutores até então, rádios, gramofones, tinham apenas um ponto de
emissão sonora.

Os timbres são perfeitos. Alguns dos instrumentos foram captados com microfone
individual com a técnica de sobreposição de camadas.

A estética do fonograma representa dialogismo entre a cultura norte-americana e


brasileira.
VIGÉSSIMO PRIMEIRO FONOGRAMA

A) Nome da composição e autor: Inquietação de Ary Barroso


B) Nome do intérprete: Luiz Bonfá, LP O Violão e o Samba.
C) Nome da gravadora ou selo: Odeon
D) Ano do registro: 1962
E) Época da gravação: Fase elétrica
F) Caráter: Instrumental/Vocal.
G) Gênero: Samba, estilo bossa-nova.
H) Instrumentação: Vozes, Violão, bateria, agogô, baixo acústico, e reco-
reco.
I) Forma: Introdução A A B A C | Interlúdio (vocal) B A | Coda
J) Tempo de duração: 2:27
K) Intensidade: Dinâmica por textura.
L) Caráter da música: Tonal.
M) Métrica: Binária.
N) Descrição:

Luiz Bonfá (Luiz Floriano Bonfá, 1922 – 2001) natural do Rio de Janeiro RJ. Violonista,
compositor e cantor. Instrumentista de virtuosismo técnico, Luiz Bonfá iniciou sua
carreira musical em 1945, como violonista e vocalista do grupo Trio Campesino.
Integrou formações instrumentais diversas, participando inclusive da primeira
montagem em 1956 do Orfeu da Conceição de Vinícius de Moraes (1913 – 1980).
Participou como violonista do memorado show de lançamento internacional da Bossa
Nova, em 1962, no Carnegie Hall em Nova York. Radicou-se nos Estados Unidos entre
1964 e 1966. Compôs mais de cem canções, interpretadas no Brasil por Dick Farney
(1921 – 1987), Djavan (1949) e Ângela Maria (1928), no exterior por George Benson
(1943) e Sarah Vaughan (1924 – 1990). Entre os parceiros ilustres está Tom Jobim
(1927 – 1994) com quem assina a toada Correnteza.
Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma apresenta perspectiva panorâmica, estéreo. O violão está ao lado


esquerdo, junto com reco-reco e agogô. Ao lado direito está o baixo acústico. A bateria
está postada em ambos os lados. As vozes, duas, cada qual postada de um lado da
perspectiva panorâmica. O violão utiliza câmara de eco de mola, ambiência artificial que
simula reverberação de ambientes reais.

Na estrutura do fonograma, curiosamente as vozes da canção letrada são utilizadas


como interlúdio, invertendo os valores estruturais apresentados anteriormente.

Provavelmente o fonograma foi registrado em duas etapas. Na primeira gravou-se a


percussão, bateria, violão e baixo. Na segunda etapa registraram-se as vozes. O LP
tem direção artística de José Ribamar (?).
VIGÉSSIMO SEGUNDO FONOGRAMA

A) Nome da composição e autor: Sonho de Maria de Marcos Valle e Paulo


Sérgio Valle.
B) Nome do intérprete: Tamba Trio.
C) Nome da gravadora ou selo: Pharlaphon
D) Ano do registro: 1963
E) Época da gravação: Fase elétrica
F) Caráter: Vocal.
G) Gênero: Samba, estilo bossa-nova.
H) Instrumentação: Vozes, piano, bateria, baixo acústico e flauta.
I) Forma: Introdução A A B C D | Interlúdio | B C D | Coda
J) Tempo de duração: 3:31
K) Intensidade: Dinâmica por textura.
L) Caráter da música: Tonal.
M) Métrica: Binária.
N) Descrição:

Marcos Valle (Marcos Kostenbader Valle,1943) natural do Rio de Janeiro RJ.


Compositor, cantor, instrumentista e arranjador. Iniciou sua carreira em 1961 com um
trio com Edu Lobo (1943) e Dori Caimmy (1943). Em 1962 registrou seu primeiro LP
intitulado Samba demais. De formação musical sólida, compôs o grupo de Sérgio
Mendes (1941) em excursão pelos Estados Unidos. Têm mais de cento e cinqüenta
canções registradas. Com a canção Samba de Verão alcançou o 2º lugar nas paradas
de sucesso norte-americano no final da década de 1960.

Paulo Sérgio Valle (Paulo Sérgio Kostenbader Valle,1940) natural do Rio de Janeiro
RJ. Compositor. Sem formação musical tradicional, Paulo Sérgio formado em direito,
começou a escrever letras para seu irmão Marcos Valle (1943) em 1961. Em 1963 sua
canção Sonho de Maria foi registrada pelo Tamba Trio, a seguir compôs Samba de
Verão, ainda com Marcos Valle, que atingiu mais de oitenta gravações por todo o
mundo. Tem como outros sucessos à canção Preciso Aprender a ser só e Terra de
Ninguém, ambas com Marcos Valle. Recebeu em 2001 o prêmio Multishow de música
pela canção Se eu não te amasse tanto assim em parceria com Herbet Vianna (1961),
registrada no mercado fonográfico em 1999 por Ivete Sangalo (1972).

Tamba Trio grupo instrumental formado em 1962 tinha como participantes Luiz Eça
(1936 – 1992) no piano, Bebeto Castilho (1933?) ao baixo e Hélcio Milito (1931) na
bateria. Sua formação é inspirada nos trios norte-americanos de composição
instrumental idêntica. O Tamba Trio diferenciava-se pela identidade, muito conhecida
pelos arranjos requintados de Luiz Eça. Sua performance mesclava temas tradicionais
ornamentados e novas composições. O grupo se apresentava de forma solo e como
acompanhante de intérpretes como Maysa (1936 – 1977) e Leni de Andrade (1943).

Pharlaphon - gravadora inicialmente representa por Frederico Figner, pós-avanço das


multinacionais, tem origem inglesa, britânica. A Parlaphon foi uma das empresas que
fundidas geraram a EMI. Atuou no Brasil a partir da década de 1930.

Melodia – Trecho da Seção A

Embora predecessor o fonograma apresenta caráter mono, todos os instrumentos estão


centralizados. O que indica um grau de experimentalismo, ainda sem padronização.

Todos os timbres têm definição. A estética e construção estrutural seguem os


parâmetros determinados pela indústria fonográfica.
Este fonograma possivelmente teve captação individual, separadas por duas etapas. A
primeira apresenta a gravação da estrutura pelo trio: piano, baixo acústico e bateria. Na
segunda etapa flauta e vozes. Utilizando a tecnologia de sobreposição de camadas. A
flauta surge apenas para o interlúdio, não interage em contracantos pré-elaborados.
Essa opção institui no fonograma um estilo mais limpo.
VIGÉSSIMO TERCEIRO FONOGRAMA

A) Nome da composição e autor: Quintessência de J. T. Meirelles


B) Nome do intérprete: Meirelles e os copa 5, LP O som
C) Nome da gravadora ou selo: Polygran/Universal
D) Ano do registro: 1964
E) Época da gravação: Fase elétrica
F) Caráter: Instrumental, improvisado.
G) Gênero: Samba, estilo bossa-nova.
H) Instrumentação: Piano, baixo acústico, bateria, saxofone tenor e
trompete.
I) Forma: A A B A | A A B A (improviso de trompete) | A A B A (improviso
de piano) | A A B A (improviso de saxofone) | A A B A | coda
(desdobrado) | A’
J) Tempo de duração: 4:14
K) Intensidade: Dinâmica na execução instrumental, interação.
L) Caráter da música: Tonal.
M) Métrica: Binária.
N) Descrição:

J. T. Meirelles (João Theodoro Meirelles, 1940 – 2007) natural do Rio de Janeiro RJ.
Saxofonista, flautista, maestro, compositor, arranjador e educador. Iniciou os estudos
musicais aos oito anos de idade. Profissionalmente começou tocando saxofone no
grupo de João Donato. Ao escrever o arranjo da canção Mais que nada, sucesso de
Jorge Benjor (1942) de 1963, a Companhia Brasileira de Discos (hoje Universal Music)
convidou J. T. Meirelles para participar de seu quadro de artistas. Em 1963 formou os
Copa 5, que registrou em 1964 o LP O som com composições e arranjos de Meirelles.
Atuou como arranjador e produtor de artistas como Clara Nunes (1942 – 1983), Luiz
Gonzaga Junior (1945 – 1991), Edu Lobo (1943), Miúcha (1937) e Roberto Carlos
(1941) entre outros. Viveu no exterior grande parte de sua carreira, registrando discos e
lecionando improvisação brasileira.
Meirelles e os Copa 5 formado em 1963 para registrar o primeiro disco de J. T.
Meirelles. O grupo é considerado um marco do samba-jazz no Brasil, lançado em dois
LPs pela Universal em 1964 e 1965, intitulados respectivamente como O som e O novo
som. Sua formação original inclui JT. Meirelles (1940 – 2007) no saxofone, Manoel
Gusmão (1934) no baixo-acústico, Pedro Paulo (1938) no trompete, Luiz Carlos Vinhas
(1940 – 2001) no piano e Dom Um Romão (1925 – 2005) na bateria. Participaram
ocasionalmente e em formações posteriores Eumir Deodato (1943), Edison Machado
(1934 – 1990), Roberto Menescal (1937) e Waltel Blanco (1935).

Universal gravadora multinacional iniciou atuação no Brasil ao adquirir a Sociedade


Interamericana de Representações (Sinter) futura CBD, que trabalhava no campo da
música popular já no início da década de 1950. A Sinter foi responsável pelo
lançamento do primeiro LP brasileiro. Aglutinou outros selos atuantes no mercado
nacional como o Phillips e o selo Elenco. Foi chamada no Brasil de CBD-Polygram,
após, apenas Polygran, e a partir da década de 1990 no Brasil, definitivamente
Universal Music.

Melodia – Trecho da Seção A

Embora predecessor o fonograma é mono. Instrumentos centralizados. Apresenta


estética e estruturação jazzística, com apresentação do tema, improviso(s) e
recapitulação do tema. Sua instrumentação também faz referência ao jazz em
dialogismo com os gêneros brasileiros.

A execução e captação são coletivas, executa-se e capta-se num mesmo momento.


Considerada no fichamento técnico do disco como gravação “Ao vivo”. Foi produzido,
com menção no disco, pelo maestro Armando Pittigliani (1934).
VIGÉSSIMO QUARTO FONOGRAMA

A) Nome da composição e autor: Carcará de João do Valle e José Candido


B) Nome do intérprete: Maria Bethânia
C) Nome da gravadora ou selo: BMG.
D) Ano do registro: 1965
E) Época da gravação: Fase elétrica
F) Caráter: Vocal
G) Gênero: Samba.
H) Instrumentação: Voz, vozes, violão, baixo acústico, bateria e flauta.
I) Forma: A B A’ B A B A | interlúdio recitado | A
J) Tempo de duração: 2:44
K) Intensidade: Dinâmica na execução instrumental.
L) Caráter da música: Tonal.
M) Métrica: Binária.
N) Descrição:

João do Vale (João Batista do Vale, 1934 – 1996) natural de Pedreiras MA. Compositor
e cantor de formação musical intuitiva, sem estudo formal. João do Vale, de família
humilde, trabalhou como ajudante de pedreiro para ganhar sustento. Chegou ao Rio de
Janeiro em dezembro de 1950 viajando na boléia de caminhões, em pouco tempo
começou a conviver com artistas da rádio para apresentar suas composições. Foi
registrado no mercado fonográfico brasileiro primeiramente por Zezé Gonzaga (1926 -
2008) em 1952, e por Marlene (1924) no ano seguinte. Em 1964 estreou como cantor
do Zicartola, famoso bar do compositor Cartola (1908 – 1980) e sua esposa Dona Zica
(1913 – 2003), onde nasceu à idéia do show Opinião que contou com a participação do
próprio João do Valle, Zé Kéti (1921 – 1999) e Nara Leão (1942 – 1989). Neste
espetáculo João do Valle atingiu êxito absoluto com a canção Carcará na voz da
iniciante intérprete Maria Bethânia (1946). Compôs mais de cem canções registradas no
mercado fonográfico, predominantemente no gênero baião.
Maria Bethânia (Maria Vianna Telles Veloso, 1946) natural de Santo Amaro da
Purificação BA. Cantora. Iniciou a carreira artística em 1963 atuando na peça Boca de
Ouro de Nelson Rodrigues. Aos 18 anos estreou no Rio de Janeiro com o show Mora
na Filosofia, conheceu Nara Leão, e a substituiu no espetáculo Opinião, obtendo
consagração pela forma expressiva de cantar. Ainda em 1964 gravou o primeiro
compacto simples com as músicas Carcará e É de manhã. A seguir viriam os LPs Maria
Bethânia, Maria Bethânia canta Noel, Edu Lobo e Maria Bethânia. Destacou-se em
festivais, e é reconhecida como uma das maiores intérpretes da música brasileira, de
voz firme e afinação próxima da perfeição.

BMG gravadora multinacional sigla para Bertelsmann Music Group. Iniciou sua atuação
no Brasil na década de 1960, na década de 1990 foi incorporada a gravadora Sony.

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma não apresenta perspectiva “estéreo”. Instrumentos centralizados.


Composição de caráter social, sua estrutura não tem definição específica, algo similar a
um repente. Na estrutura há crescente na força da execução instrumental, traz uma
perspectiva não linear se comparada a grande gama dos fonogramas classificados
anteriormente. Recorre a gravação “Ao vivo”, simultânea.

No arranjo, a flauta faz frases livres, improvisadas. O violão, baixo acústico e bateria
fazem acompanhamento. Na estrutura o interlúdio, onde Maria Bethânia recita um verso
de caráter social, apresenta caráter modulatório. Subindo paralelamente de meio em
meio tom, recurso explorado para dinâmica crescente. Ainda há atuação de câmara de
eco, suscitando uma ambiência inexistente na sala de gravação.
VIGÉSSIMO QUINTO FONOGRAMA

A) Nome da composição e autor: Canto de Ossanha de Baden Powell e Vinícius


de Moraes.
B) Nome do intérprete: Baden Powell e Vinícius de Moraes, LP Os Afro-Sambas
C) Nome da gravadora ou selo: Polygran/Universal
D) Ano do registro: 1966
E) Época da gravação: Fase elétrica
F) Caráter: Vocal
G) Gênero: Samba.
H) Instrumentação: Vozes, flauta, violão, bateria, baixo, acústico, ganzá,
pandeiro, metais (trombone), madeiras (saxofones).
I) Forma: Introdução (tacet) | A A B C D A’ C D | interlúdio | C D C D’
J) Tempo de duração: 3:27
K) Intensidade: Dinâmica na execução instrumental, e uso de recurso
tecnológico.
L) Caráter da música: Tonal.
M) Métrica: Binária.
N) Descrição:

Baden Powell (Baden Powell de Aquino, 1937 – 2000) natural do Rio de Janeiro RJ.
Violonista, arranjador e compositor. Iniciou ainda criança o aprendizado musical, filho
de músico amador, Baden teve sólida formação violonística, foi aluno de Meira (1909 –
1982) e teve influência de Dilermando Reis (1916 – 1977) e Aníbal Sardinha (1915 –
1955), o Garoto. Estudou na Academia Brasileira de Música no Rio de Janeiro, além de
composição com o maestro Moacir Santos. Aos 15 anos iniciou sua carreira de
instrumentista profissional em boates cariocas, a seguir compôs orquestras e grupos
instrumentais. Em 1959 gravou seu primeiro LP, intitulado Apresentando Baden Powell
e seu Violão. No mesmo ano conheceu Vinícius de Moraes (1913 – 1980) com quem
comporia a obra Os Afro-sambas. Outro habitual parceiro de Baden Powell foi o singular
letrista Paulo César Pinheiro (1949). Baden Powell ainda atuou como arranjador como
no LP de 1960 de Alaíde Costa (1935) Alaíde Jóia Moderna.

Ganzá (chocalho, ovinho) – instrumento de percussão, sem altura definida. Rítmico.


Concebido por um número grande de materiais, basicamente de corpo oval ou tubular,
com extremidades fechadas, guardando em sue interior artefatos, pedras, chumbinhos
ou sementes. Toca-se chacoalhando.

Introdução Tacet – forma de arranjo instrumental onde cada instrumento ingressa


progressivamente construindo neste caso o fonograma.

Melodia – Trecho da Seção A

Este registro fonográfico de Canto de Ossanha expõe várias texturas. Utiliza a


perspectiva panorâmica, estéreo, espalhando os instrumentos pela percepção humana.
Ao lado esquerdo estão violão, ganzá, pandeiro e a voz solista feminina. Ao lado direito
estão à voz solo de Vinícius de Moraes, a bateria e o contrabaixo acústico. A flauta e as
vozes do coro estão centralizadas.

O registro começa em crescendo respeitando a entrada de instrumentos. A gravação


sugere sobreposição de camadas em oito canais. Na mixagem, o técnico constrói
sensações aumentando e abaixando a intensidade do coro e corpo instrumental no
refrão. Artifício utilizado de forma original.

A estrutura do fonograma, com introdução e interlúdio, é similar ao estabelecido


anteriormente nos fonogramas apresentados.
VIGÉSSIMO SEXTO FONOGRAMA

A) Nome da composição e autor: Ponteio de Edu Lobo e Capinam


B) Nome do intérprete: Edu Lobo, Marilia Medalha, MomentoQuatro e Quarteto
Novo, LP Edu.
C) Nome da gravadora ou selo: Continental/Warner
D) Ano do registro: 1967
E) Época da gravação: Fase elétrica
F) Caráter: Vocal
G) Gênero: Baião.
H) Instrumentação: Vozes, violões, viola brasileira, baixo acústico, flauta,
saxofone, ganzá, triângulo, palmas, zabumba, bateria, sino e caxixi.
I) Forma: Intro | A A B C C | interlúdio | A A B C C | interlúdio 2 | A’ A’ B C C |
interlúdio 3 | C C C C’
J) Tempo de duração: 3:17
K) Intensidade: Dinâmica por textura.
L) Caráter da música: Tonal.
M) Métrica: Binária.
N) Descrição:

Edu Lobo (Eduardo de Góes Lobo, 1943) natural do Rio de Janeiro RJ. Compositor,
instrumentista, arranjador e cantor. Iniciou aos oito anos os estudos musicais,
primeiramente no acordeom. Veio a seguir a se interessar pelo violão, instrumento que
definiu como principal. Em 1961 estreou profissionalmente em trio ao lado de Marcos
Valle (1943) e Dori Caymmi (1943). No ano seguinte gravou compacto duplo com as
canções de sua autoria Balancinho, Sofri, amor e Amor de Ilusão. Iniciou a parceria com
Vinícius de Moraes (1913- 1980) com quem fez Arrastão vencedora do I Festival
Nacional de Música Popular Brasileira. Arrastão interpretada pela estreante Elis Regina
(1945 – 1982) projetou Edu Lobo nacionalmente. Engajado, compôs com Ruy Guerra
(1931) e Capinam (1941). Nos tempos de exílio, motivado pela ditadura militar presente
no Brasil pós 1964, escolheu os Estados Unidos como morada onde se aperfeiçoou em
arranjo. Tem Chico Buarque (1944) como principal parceiro.

Capinam (José Carlos Capinam, 1941) natural de Esplanada BA. Letrista, poeta,
escritor, publicitário e jornalista. Sem formação musical tradicional, em 1960 mudou-se
para Salvador BA, dando início à faculdade de Direito e ao curso de Teatro. Em 1963
escreveu e estreou em peça musicada por Tom Zé (1936), intitulada Bumba-meu-boi.
Após o golpe militar precisou se retirar da faculdade de Direito mudando-se para São
Paulo, onde conheceu o letrista Gianfranesco Guarnieri (1934 - 2006), e os
compositores Geraldo Vandré (1935) e Edu Lobo (1943). Envolveu-se ativamente nos
movimentos musicais da década de 1960.

Marília Medalha (1944) natural de Niterói RJ. Atriz, cantora e compositora. Estreou
profissionalmente em 1965 na montagem paulistana da peça Arena Canta Zumbi de
Augusto Boal (1931 - 2009) e Gianfrancesco Guarnieri (1934 - 2006). Em 1967 foi
vencedora do III Festival de Música Popular Brasileira (TV Record) interpretando o
baião Ponteio. No mesmo ano registrou para o mercado fonográfico seu primeiro LP,
homônimo. Como compositora tem parcerias com Vinícius de Moraes (1913 – 1980)
com quem dividiu o show e LP Como dizia o poeta – Vinícius, Toquinho e Marília
Medalha de 1970.

MomentoQuatro quarteto formado em 1966 por Zé Rodrigues, que mudaria o nome


artístico para Zé Rodrix (1947 - 2009), Ricardo Sá (Ricardo Villas, 1949), Maurício
Mendonça (Maurício Maestro, 1947) e David Tygel (?). Em 1967 participou da defesa
do baião Ponteio, em 1968 gravou um único LP para a Universal Music, após dissolveu-
se.

Quarteto Novo primeiramente Trio Novo foi constituído para acompanhar o cantor
Geraldo Vandré (1935) em turnê nacional. Composto por Heraldo do Monte (1935),
Théo de Barros (1943) e Airto Moreira (1941). Num segundo momento o grupo
convidou Hermeto Paschoal (1936) para formar enfim o Quarteto Novo, que registrou o
LP homônimo em 1967. Único do grupo, este disco é um marco fonográfico da música
brasileira instrumental mesclando elementos da música nordestina, métricas ímpares a
linguagem improvisada.

Continental - gravadora brasileira que atuou no cenário nacional nas décadas de 1950
e 1960. Foi adquirida pela Warner Music Group.

Warner - gravadora iniciou sua atuação no Brasil no ano de 1976, multinacional do


disco, adquiriu a Continental e seus fonogramas na década de 1990.

Viola brasileira (viola caipira, viola sertaneja) – instrumento da família das cordas,
dedilhadas, pinçadas. Melódico ou harmônico. Composto por uma caixa de ressonância
acinturada em oito nos mais variados tipos de madeira. Com tampo e fundo chato,
braço com trastes, mãos com tarraxas que prendem dez cordas que perpassam todo o
corpo do instrumento até o cavalete. Apresenta tessitura de duas oitavas e meia.

Sino - instrumento de percussão, com altura definida. Melódico, efeito. Composto por
uma madeira que suspende uma barra de ferro ou alumínio com variações de altura
selecionadas de acordo com o tamanho do objeto. Executado por uma baqueta de
mesmo material.

Caxixi – instrumento de percussão, sem altura definida. Rítmico. Constituído de uma


cesta feita de cana ou cipó de titara, com fundo de folha-de-flanders, contendo grãos de
chumbo, sementes ou pedras. É percutido chacoalhando.

Palmas – execução rítmica entre as palmas das mãos humanas.

Melodia – Trecho da Seção A


Este registro fonográfico engrandece a constituição instrumental e estrutura do arranjo
da música popular urbana brasileira. Com a participação do antológico grupo Quarteto
Novo, de Hermeto Paschoal, Heraldo do Monte, Airto Moreira e Théo de Barros.

Sua estética dialogista promove o encontro da música regional e da execução


instrumental contemporânea. O arranjo apresenta variações temáticas, oscilando em
texturas e instrumentações. Apresenta andamento em aceleração suscitando o último
crescendo do registro fonográfico. O fonograma é desenvolvido em motivos claros,
cada momento oferece uma nova perspectiva.

O fonograma é mono, instrumentos centralizados. Mesmo centralizados, os


instrumentos tem sonoridade definida, clara. A execução instrumental é impecável,
propõe-se aqui uma nova estética.

Este registro fonográfico foi gravado em oito canais, e utilizou a técnica de


sobreposição de camadas.
VIGÉSSIMO SÉTIMO FONOGRAMA

1. Nome da composição e autor: Parque Industrial de Tom Zé


2. Nome do intérprete: Tropicália, no LP Panis et circenses.
3. Nome da gravadora ou selo: Polygran/Universal
4. Ano do registro: 1968
5. Época da gravação: Fase elétrica
6. Caráter: Vocal
7. Gênero: Marcha/Funk (espécie).
8. Instrumentação: Vozes, violão, bateria, baixo elétrico, metais (tuba,
trombone e trompete com e sem surdina), madeiras (saxofone e flauta),
intervenções sonoras (Vozes em ambiência e aplausos).
9. Forma: Introdução A A B B’ B” C D D (refrão) | interlúdio | A A B B’ B” C D D
D D’
10. Tempo de duração: 3:16
11. Intensidade: Dinâmicas na execução instrumental.
12. Caráter da música: Tonal.
13. Métrica: Quaternária.
14. Descrição:

Tom Zé (Antônio José Santana Martins, 1936) natural de Irará BA. Compositor, cantor,
ator e arranjador. De formação musical tradicional, Tom Zé foi violoncelista de
orquestra, e membro fundador do Grupo de Compositores da Bahia. Em 1964
participou na capital baiana do espetáculo Nós, por exemplo e Nova bossa velha, velha
bossa nova ao lado de Gilbeto Gil (1942), Caetano Veloso (1942), Gal Costa (1945) e
Maria Bethânia (1946). Em 1965 foi com o grupo para São Paulo, em 1968 participou
do IV Festival de Música Popular Brasileira da TV Record. No mesmo ano registrou o
disco Tropicália ao lado dos mesmos que o acompanharam no show de 1964,
agraciado pelos arranjos de Rogério Duprat (1932 -2006). Foi considerado inovador
demais, e não atingiu o mesmo êxito na época de seus contemporâneos e
conterrâneos. A partir da década de 1990 atingiu êxito internacional, se tornando
unanimidade na Europa e Estados Unidos.

Rogério Duprat (1932 - 2006) natural do Rio de Janeiro RJ. De sólida formação
musical, estudou violoncelo como instrumento, contraponto e harmonia para o
desenvolvimento da composição e da orquestração. Responsável pela remodelação
estética do arranjo brasileiro no final da década de 1960 e início da década de 1970, em
LPs como Tropicália, LP coletivo, e Construção de Chico Buarque. Flertava em seus
arranjos com a música erudita, com dinâmicas acentuadas e contrastantes. Criou mais
de 40 trilhas para filmes, atuou ainda como diretor artístico e produtor musical de
gravadoras como a Odeon.

Tropicalismo - movimento musical do final da década de 1960, liderados por Caetano


Veloso (1942), que participara: Gal Costa (1945), Maria Bethânia (1946), Gilberto Gil
(1942), Capinam (1941), Tom Zé (1936), Julio Medaglia (1938), Rogério Duprat (1932),
Jorge Mautner (1941) entre outros. Consistia em certa antropofagia, ressaltando e
respeitando os contrastes culturais brasileiros em diálogo com a cultura estrangeira.
Dialogou com a poesia concreta paulista de Augusto de Campos (1931) e Décio
Pignatari (1927).

Baixo elétrico – instrumento da família das cordas, de origem norte-americana.


Melódico. É composto por um corpo de madeira maciça em diferentes formatos, braço
longo com trastes onde ficam presas quatro cordas entre mãos, com tarraxas, e ponte,
com função de cavalete. Sua sonoridade é amplificada através de captadores,
equipamento transdutor que transforma força mecânica em sinal elétrico amplificado em
caixas acústicas.

Funk gênero de origem norte americana, similar ao soul. Quaternário. Cujo reflexo
dançante apela por acentuação no segundo e quarto tempos.
Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma utiliza a perspectiva panorâmica, estéreo. Os instrumentos estão


distribuídos na percepção humana. Ao lado direito estão os metais, à esquerda as
madeiras. Centralizados estão as vozes, a bateria, o baixo e o violão. As intervenções
constituídas no fonograma vozes oscilantes e palmas perpassam a percepção humana,
surgindo de lado a lado. As técnicas estão sendo experimentadas e desenvolvidas
neste período.

Essas intervenções foram desenvolvidas por Rogério Duprat (1932 – 2006), dialogando
com a música erudita. O enredo traz cenas cotidianas, ruídos explorados na
constituição do arranjo. Embora não abandone a estrutura mais comum do arranjo da
música popular urbana brasileira, traz uma constituição estética diferenciada.

Utilizou técnica de sobreposição de camadas. Numa gravação em oito canais. Embora


a execução aparente em certos momentos ter sido realizada “ao vivo”. Os timbres têm
definição.
VIGÉSSIMO OITAVO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Atrás do trio elétrico de Caetano Veloso


B. Nome do intérprete: Caetano Veloso.
C. Nome da gravadora ou selo: Continental/Warner
D. Ano do registro: 1969
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Frevo canção.
H. Instrumentação: Vozes, baixo elétrico, bateria, guitarras, intervenções
eletrônicas, vozes e palmas (como intervenção aleatória).
I. Forma: Introdução A A B A A B | interlúdio (solo de guitarra) | B A A B
J. Tempo de duração: 2:43
K. Intensidade: Dinâmica por textura.
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Quaternária
N. Descrição:

Caetano Veloso (Caetano Emanuel Viana Teles, 1942) natural de Santo Amaro da
Purificação BA. Cantor, compositor e escritor. Músico de formação intuitiva. Interessou-
se por artes desde a infância flertando com as Artes Plásticas, a Música e o Cinema.
Em 1959, um amigo do ginásio apresentou-lhe um disco de João Gilberto (1931)
cantando no fonograma histórico o samba, de estilo bossa nova Chega de Saudade,
quis então aprender violão. Iniciou profissionalmente cantando em bares com a irmã
Maria Bethania (1946). Sua primeira atividade musical memorada foi à composição da
trilha da peça O boca de ouro de Nelson Rodrigues (1912 – 1980). Foi idealizador do
show Nós, por exemplo ao lado de Gal Costa (1945), Tom Zé (1936), Gilberto Gil (1942)
e Maria Bethânia (1946). Mudou-se para São Paulo, em 1965 conheceu João Gilberto
(1931) partiu para o Rio de Janeiro para acompanhar sua irmã. Teve sua primeira
composição registrada no mercado fonográfico por Bethânia, É de manhã lançada pela
RCA/Victor. Gravou seu primeiro compacto simples em 1966. A partir daí destacou-se
como líder do tropicalismo, construiu uma carreira artística sólida, reconstruindo sua
linguagem álbum a álbum, buscando “algo que parece nunca chegar”.

Frevo canção gênero quaternário, originário do frevo instrumental dançante do Recife


PE. Introduzido no mercado fonográfico por Capiba (1904 – 1997), circunstância
medida que valeria uma pesquisa específica, aprofundada. Muitos compositores
populares desenvolveram em suas obras este gênero, entre os quais Caetano Veloso
(1942), Chico Buarque (1944) e Tom Jobim (1927 – 1994).

Guitarra elétrica – instrumento da família das cordas, execução pinçada. Melódico e


harmônico. Predecessor do violão, baseado em sua estrutura e afinação. Possui corpo
maciço com madeiras e modelos variados. Possui braço com trastes seguido de mão
com tarraxas nas quais são presas seis cordas que atravessam o instrumento até a
ponte, similar ao cavalete. Utiliza equipamento captador, transdutores, de dois a três,
similares ao contrabaixo elétrico. É um instrumento multe timbres, sendo possível
conceber várias sonoridades

Melodia – Trecho da Seção A

O fonograma utiliza perspectiva panorâmica, estéreo. A guitarra solista está totalmente


para o lado esquerdo. Enquanto o grupo instrumental, a guitarra base, o baixo elétrico e
a bateria estão postados ao lado direito. Caetano Veloso constrói sensações novas com
a possibilidade de gerenciar dobras de sua própria voz, via sobreposição de camadas.
As intervenções sonoras, vozes e ruídos, não respeitam o pulso constante do
fonograma gerando uma sensação diferente.

Este registro fonográfico fora registrado em duas etapas. A primeira com a captação do
grupo instrumental base. Numa segunda etapa, através de sobreposição de camadas, a
guitarra solista foi registrada, assim como as vozes extras de Caetano, e as
intervenções sonoras ruidosas.

A voz de Caetano Veloso após o interlúdio cresce artificialmente. Surge num crescendo
típico de um movimento de canais de uma mesa de som, acompanhado de ruídos
elétricos.
VIGÉSSIMO NONO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Conversa de Botequim de Vadico e Noel Rosa


B. Nome do intérprete: Moreira da Silva, no LP Conversa de Botequim.
C. Nome da gravadora ou selo: Odeon, EMI.
D. Ano do registro: 1970
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Samba de breque.
H. Instrumentação: Voz, violão, baixo acústico, pandeiro, caixinha de fósforos,
bateria, metais (trompete, trombone) e madeiras (saxofones, flauta e
clarinete).
I. Forma: Introdução | A A B | A A B | A A | Coda
J. Tempo de duração: 2:13
K. Intensidade: Dinâmica por textura.
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Binária.
N. Descrição:

Vadico (Osvaldo Gogliano, 1910 – 1962) natural de São Paulo SP. Compositor,
pianista e arranjador. De sólida formação musical, iniciou sua carreira como pianista.
Aos 18 anos venceu em São Paulo um concurso com a marcha Isso mesmo é que eu
quero. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1930, onde atuou como pianista, compositor
e arranjador. Conheceu Noel Rosa em 1932 (1910 – 1937) com quem desenvolveu
parceria prolífera. Em turnê nos Estados Unidos, acompanhando o lendário Bando da
Lua e Carmem Miranda (1909 – 1955), foi convidado para atuar como orquestrador em
filmes de Hollywood e musicais da Broadway. Ao retornar, atuou basicamente como
orquestrador e arranjador para o mercado fonográfico brasileiro e para as rádios de
então.

Moreira da Silva (Antônio Moreira da Silva, 1902 – 2000) natural do Rio de Janeiro, RJ.
De formação intuitiva, iniciou sua carreira musical em 1920 atuando em bares e casas
noturnas. Apenas em 1931 gravou seu primeiro compacto simples pela Odeon.
Notabilizou-se por fazer intervenções faladas em meio a breques improvisados nos
sambas que interpretava. A primeira aparição deste estilo interpretativo no mercado
fonográfico brasileiro surgiu em 1937 no samba, interpretado por Moreira, Jogo
Proibido. Este estilo de samba ficou marcado em sua carreira como elemento
primordial, comentários sarcásticos e bem humorados são recitados em quase todo
breque.

Samba de Breque - estilo de samba cujo acompanhamento pára freqüentemente


enquanto o intérprete recita versos ora improvisados, ora textualmente pré-elaborados.
Surgiu na década de 1930 por intervenções de Moreira da Silva (1902 – 2000).
Anteriormente Ismael Silva (1905 – 1978) e Noel Rosa (1910 – 1927) criaram algo
similar no samba de ambos A razão dá-se a quem tem, cujo um verso se sobrepunha a
outro de maneira a comentar o fato.

Caixinha de fósforos – instrumento de percussão, sem altura definida. Rítmico. Uma


caixa composta por papel, onde se guardam fósforos, palitos. Artefato cotidiano, que
nas mãos de sambistas, como Moreira da Silva (1902 – 2000) e Elton Medeiros (1930),
foi transformado em instrumento musical.

Melodia – Trecho da Seção A

O fonograma utiliza perspectiva panorâmica, estéreo. O violão está postado ao lado


direito, assim como os metais. Ao lado esquerdo estão as madeiras. Ao centro a voz,
pandeiro, caixinha de fósforos e bateria. O baixo acústico está sutilmente à direita.
Este registro utilizou três etapas em gravação de oito canais. Na 1ª etapa ocorreu a
gravação da base, violão, baixo, bateria e percussão. Na 2ª etapa as intervenções
instrumentais. E na 3ª, e última etapa, a voz solista. Na finalização ocorreu acréscimo
de câmera de eco na voz solista.
TRIGÉSSIMO FONOGRAMA

1. Nome da composição e autor: Construção de Chico Buarque.


2. Nome do intérprete: Chico Buarque, no LP Construção.
3. Nome da gravadora ou selo: Polygram/Universal
4. Ano do registro: 1971
5. Época da gravação: Fase elétrica
6. Caráter: Vocal
7. Gênero: Samba
8. Instrumentação: Voz, coro, violão, baixo, bateria, agogô, cuíca, orquestra
(metais, madeiras, cordas e percussão - tímpanos).
9. Forma: Introdução | A A B B’ C | A A B B’ C | Interlúdio | A’ | D (citação)
10. Tempo de duração: 6:24
11. Intensidade: Dinâmica na execução instrumental, predominantemente nas
intervenções do corpo instrumental orquestra.
12. Caráter da música: Tonal.
13. Métrica: Binária.
14. Descrição:

Chico Buarque (Francisco Buarque de Hollanda, 1944) natural do Rio de Janeiro, RJ.
Compositor, cantor, e escritor. De formação intuitiva, aprendeu tirando músicas de
ouvido algo na rádio entre os sambas de Noel Rosa (1910 – 1927) e Ismael Silva (1905
– 1978). Filho do historiador Sérgio Buarque de Hollanda (1902 – 1982), Chico conviveu
ativamente com a cultura brasileira, erudita e popular. Embora nascido no Rio de
Janeiro, foi em São Paulo que cresceu e se interessou por música. Passou uma
temporada na Itália ainda adolescente. Aos 18 anos compunha seus primeiros sambas,
em 1964 foi convidado a musicar a peça Morte e Vida Severina de João Cabral de
Mello Neto (1920 – 1999). Participou de festivais da canção da TV Record, tendo
vencido com a marcha A Banda, de sua autoria, a 2ª edição. Desenvolveu ao longo de
sua carreira, uma forma sólida que mescla textos crônicos, com música bem elaborada.
Interagiu e desenvolveu parcerias com Edu Lobo (1943), Tom Jobim (1927 – 1994) e
Vinícius de Moraes (1913 – 1980), Francis Hime (1939) e Toquinho (1946). Tem mais
de quatrocentas canções registradas no mercado fonográfico brasileiro.

Cuíca – instrumento de percussão, sem altura definida. Rítmico. Descendente do


tambor onça africano, que buscava afugentar e atrair animais dessa espécie.
Construído de diferentes tamanhos e medidas, de metal ou madeira em formato
cilíndrico. Em uma das extremidades insere-se uma pele que possui presa no centro
uma vareta de bambu, chamada gambito, que quando friccionada através de um pano
úmido produz sua sonoridade.

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma no início utiliza perspectiva mono, instrumentos da base centralizados


tal qual a voz. Em torno de 1:29, os instrumentos da orquestra surgem fazendo
interferências estéreos, atuando com a perspectiva panorâmica. Em primeiro lugar
surge o violino, em seguida metais e cordas distribuídos na percepção espacial
humana. Metais e madeiras postados ao lado direito, cordas ao lado esquerdo. Postado
à direita, o tímpano cumpre função de marcação.

Este fonograma foi registrado em três etapas. A base, com os instrumentos do corpo
instrumental violão, bateria, baixo e percussão, foram gravados primeiramente. A seguir
a voz e coro. Na terceira etapa gravou-se o corpo instrumental orquestral regido por
Rogério Duprat (1932 – 2006).

Este fonograma constrói passo a passo uma saga, sua estrutura permeia toda a
construção estética da música de Chico Buarque. Utiliza as inovações tecnológicas
para gerar sensações. O arranjador Rogério Duprat constituiu as intervenções
orquestrais posteriormente, sob o arranjo de base. Usufruiu a tradição escrita.

Este fonograma extravasa o tempo comum de duração de um produto fonográfico


comercial que oscila entre 2:20 e 4:10 sob o padrão rádio.
TRIGÉSSIMO PRIMEIRO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Ironia Paulinho da Viola


B. Nome do intérprete: Paulinho da Viola, no LP A dança do solidão
C. Nome da gravadora ou selo: Odeon, EMI.
D. Ano do registro: 1972
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Samba
H. Instrumentação: Voz, pandeiro, cavaquinho, surdo, tamborim, caixinha de
fósforos, palmas e clarinete.
I. Forma: Introdução | A A B A B A A | Coda
J. Tempo de duração: 2:38
K. Intensidade: Dinâmica por textura.
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Binária.
N. Descrição:

Paulinho da Viola (Paulo Cesar Batista de Faria, 1942) natural do Rio de Janeiro, RJ.
Compositor, cantor e instrumentista. De formação intuitiva, e de família de músicos,
Paulinho da Viola, filho do violonista César Faria (1919 – 2007), construiu sua carreira
sem se ludibriar por tendências mercadológicas comuns no Brasil a partir da década de
1970, sua estética está atrelada ao samba tradicional e ao choro. Foi vencedor do
Festival da Record em 1969 com a canção Sinal Fechado. Fez parte dos conjuntos A
Voz do Morro e Os Cinco Crioulos, com sambistas de renome como Zé Keti (1921 –
1999), Nelson Sargento (1924) e Elton Medeiros (1930) entre outros. Foi convidado em
1963 a participar da ala de compositores da Escola de Samba Portela, no Rio de
Janeiro. Tem mais de trezentas canções registradas no mercado fonográfico por sua
voz e na de intérpretes variados.
Melodia – Trecho da Seção A

Utiliza perspectiva panorâmica, estéreo. Ao lado esquerdo estão postados pandeiro,


tamborim e clarinete. Ao direito cavaquinho e caixinha de fósforos. Centralizadas estão
as palmas e a voz.

A constituição é informal, tradição oral institui este fonograma. A execução é simples,


sem ornamentações excessivas. A intervenção do sopro é melódica em uníssono com a
voz, ornamenta-se em pequenos apoios.

Provavelmente o fonograma foi registrado em oito canais executados simultaneamente.


Foi dirigido pelo maestro Lindolfo Gaya (1921 – 1987), consagrado arranjador de
fonogramas da música popular urbana brasileira, mas não apresenta seus arranjos
habituais com sopros e cordas.
TRIGÉSSIMO SEGUNDO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Nem é bom falar de Ismael Silva, Francisco


Alves e Noel Rosa, Adeus de Noel Rosa e Ismael Silva.
B. Nome do intérprete: Ismael Silva, no LP Se você jurar.
C. Nome da gravadora ou selo: RCA / Victor
D. Ano do registro: 1973
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Samba
H. Instrumentação: Vozes, violão, cavaquinho, acordeom, baixo, pandeiro,
surdo, bateria, flauta, trombone.
I. Forma: Introdução A B A | Interlúdio | A2 B2 A2 A2
J. Tempo de duração: 2:24
K. Intensidade: Dinâmica por textura.
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Binária
N. Descrição:

Ismael Silva (Milton de Oliveira Ismael Silva, 1905 – 1978) natural de Niterói, RJ.
Cantor e compositor. Sem formação musical tradicional, Ismael Silva tem a carreira
relacionada ao samba do bairro Estácio de Sá, no Rio de Janeiro. Foi fundador da
primeira escola de samba no ano de 1928 a Deixa Falar. Sua primeira composição data
de 1920 o samba Já desisti. Conheceu os primeiros sucessos na voz de Francisco
Alves (1898 – 1952), que comprava seus sambas, e posteriormente até comprava a
parceria, algo comum para época. Compôs ao lado de Noel Rosa (1910 – 1937) e
Nilton Bastos (1899 – 1931) seus maiores sucessos.

Francisco Alves (Francisco de Morais Alves, 1898 – 1952) natural do Rio de Janeiro.
Cantor e compositor. De formação intuitiva, de voz empostada, Francisco, conhecido
também como Chico Viola, iniciou a carreira artística em 1918, em 1919 lançou seu
primeiro disco pelo selo Popular interpretando a marcha O pé de anjo e o samba Fala
com meu louro. Foi o cantor que mais registrou discos na história fonográfica brasileira
até a década de 1950. Ainda foi o primeiro cantor a registrar um fonograma no sistema
elétrico pela Odeon no Brasil no ano de 1927. Faleceu precocemente vítima de um
acidente fatal na Rodovia Presidente Dutra no trecho paulista.

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma apresenta perspectiva panorâmica, estéreo, os instrumentos estão


distribuídos na percepção humana. A voz do intérprete e compositor está centralizada,
assim como o coro feminino, o baixo elétrico, o cavaquinho, o violão e a bateria. À
esquerda estão postados o trombone e a flauta, executados como contracanto a
melodia principal. À direita está o acordeom. A cuíca surge à direita na percepção
humana, no entanto a ambiência atua de maneira a deslocá-la, como em uma sala
separada, como vimos, efeito gerado por reverberação.

O fonograma acaba pelo processo de fade out. Funciona através da manipulação de


um canal geral que orienta artificialmente a amplitude de todos os instrumentos.

Na constituição do fonograma observa-se a atuação de um arranjador, através dos


contracantos dispostos nos sopros, dobrados ocasionalmente com o acordeom.
TRIGÉSSIMO TERCEIRO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: O Rancho da Goiabada de João Bosco e Aldir


Blanc.
B. Nome do intérprete: João Bosco, no LP Galos de Briga.
C. Nome da gravadora ou selo: BMG
D. Ano do registro: 1974
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Marcha
H. Instrumentação: Voz, coro, violão, tarol, surdo, prato, caixinha de fósforo,
saxofones, clarinete, trombone, tuba, bombardino e trompetes.
I. Forma: Introdução (Vocal) | A B | A B | Introdução (Vocal)
J. Tempo de duração: 4:11
K. Intensidade: Dinâmica por textura.
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Quaternária.
N. Descrição

João Bosco (João Bosco de Freitas Mucci, 1946) natural de Ponte Nova MG. Cantor,
compositor e violonista. Iniciou seu aprendizado ao violão no ano de 1958. De formação
intuitiva, João Bosco se interessava por jazz, bossa nova e tropicalismo. Teve como
primeiro parceiro o poeta Vinícius de Moraes (1913 – 1980) com quem compôs O
Mergulhador, Rosa dos Ventos entre outras. Tem como marca o violão intenso,
marcado ritmicamente por dedilhados e conduções diferenciadas. Atingiu sucesso na
voz de Elis Regina (1945 – 1982) com a canção Bala com Bala em parceria com Aldir
Blanc (1946). Em 1973 gravou seu primeiro disco homônimo, consolidando a parceria
com Aldir.

Aldir Blanc (Aldir Blanc Mendes, 1946) natural do Rio de Janeiro RJ. Compositor e
escritor. Começou a compor aos dezesseis anos, cursou medicina, mas enveredou para
a música ainda jovem, obteve êxito como letrista. Em 1970 conheceu o primeiro
sucesso na voz do MPB4, o samba Amigo é pra essas coisas parceria com Sílvio da
Silva Junior (1947). Conheceu João Bosco (1946) ainda em 1970, com quem dividiu
seus maiores sucessos. Em 1982 a parceria foi diluída, e Aldir começou a compor com
outros parceiros como Djavan (1949), Moacir Luz (1958), Maurício Tapajós (1943 –
1995) e principalmente Guinga (1950). Suas composições foram registradas por alguns
dos maiores intérpretes da música brasileira.

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma apresenta perspectiva panorâmica estéreo. Na percepção humana o


pandeiro está postado a esquerda. A direita há uma caixinha de fósforo. Os sopros
estão distribuídos, no centro a tuba, à direita clarinetes dobrando a melodia principal
com a voz. Dois corpos instrumentais separados atuam harmonicamente em momentos
como contínuo, cama harmônica, em outros momentos como contrapontos, melódicos.
O prato está à direita, o surdo centralizado.

A sonoridade do fonograma remete aos corpos instrumentais de bandas de coreto


presentes na cultura brasileira desde o século XIX. A constituição do arranjo é regional,
típica dos grupos desta formação como a Banda do Corpo de Bombeiros do final do
século XIX início do século XX. É um arranjo constituído formalmente, não há traços da
influência americana, no que se refere à sonoridade densa de arranjos instrumentais,
como no fonograma supracitado João Valentão de Dorival Caymmi (1914 – 2008).
TRIGÉSSIMO QUARTO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Um a zero de Pixinguinha e Benedito Lacerda


B. Nome do intérprete: Radamés Gnatalli, LP Sexteto
C. Nome da gravadora ou selo: Odeon/EMI
D. Ano do registro: 1975
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Instrumental
G. Gênero: Choro
H. Instrumentação: Dois pianos, contrabaixo acústico, bateria, guitarra e
acordeom.
I. Forma: A’ A’ B C A B C Coda
J. Tempo de duração: 2:24
K. Intensidade: Dinâmica
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Binária
N. Descrição

Sexteto Radamés Gnatalli grupo instrumental, tem sua origem no quarteto Continetal
(1949), criado por Radamés Gnatalli (1906 – 1988), no grupo destaca-se ao piano,
Luciano Perrone (1908) na bateria, José Meneses(1921) no violão e Vidal (?)
contrabaixo. Em 1950 Chiquinho do Acordeom (1928 – 1993) entrou para o grupo para
acompanhar a cantora Elizeth Cardoso (1920 – 1990). Em meados da década de 1960
a pianista Aída Gnatalli (?) completou o sexteto. Em 1975 lançaram o LP Radamés
Gnatalli Sexteto.

Melodia – Trecho da Seção A


Este fonograma utiliza perspectiva panorâmica, estéreo. Os instrumentos estão
distribuídos na percepção, a guitarra está à esquerda, junto ao 1º piano, a direita está o
acordeom e o segundo piano, centralizados estão à bateria e o contrabaixo acústico.

A estrutura do choro Um a zero apresentada aqui pelo intérprete perpassa erudição.


Sua forma original aparece diluída em intervenções instrumentais, ora a melodia está
no piano, ora no acordeom, ora na guitarra. Em dado momento as vozes se encontram
em conjunto sinuoso. O fonograma acaba com a técnica do fade out, dado técnico
comum a partir da década de 1970 no Brasil.
TRIGÉSSIMO QUINTO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Canto das três raças de Paulo César Pinheiro e
Mauro Duarte
B. Nome do intérprete: Clara Nunes, LP Canto das três raças.
C. Nome da gravadora ou selo: Odeon/EMI
D. Ano do registro: 1976
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Samba.
H. Instrumentação: Voz, coro, violão, cavaquinho, surdo, bateria, atabaque,
ganzá, reco-reco de madeira, cuíca, pandeiro, tamborim e agogô.
I. Forma: Introdução (tacet) A B C D C A B C D C
J. Tempo de duração: 4:23
K. Intensidade: Dinâmica por textura.
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Binária
N. Descrição

Clara Nunes (Clara Francisca Nunes, 1942 – 1983) Natural de Caetanópolis MG.
Cantora. Filha de pai cantador e violeiro de folia de reis em Minas Geraes, Clara, órfã
desde muito cedo, foi criada pela irmã Dindinha. Cresceu ouvindo cantoras brasileiras
como Elizeth Cardoso (1920 – 1990) e Dalva de Oliveira (1917 – 1972). Aos dezesseis
anos iniciou sua carreira profissional em Belo Horizonte MG, cantando em programas
de TV. Em 1965 mudou-se para o Rio de Janeiro, e após alguns testes foi contratada
pela Odeon para registrar seu primeiro disco. É considerada a maior intérprete do
samba, tendo cantado Mauro Duarte (1930 – 1989), Paulinho da Viola (1942), Candeia
(1935 – 1978) e Chico Buarque (1944), embora seu primeiro LP de 1966 esteja repleto
de boleros e sambas-canção.

Mauro Duarte (Mauro Duarte de Oliveira, 1930 – 1989) natural de Matias Barbosa MG.
Cantor, compositor e ator. De formação musical intuitiva, desde que se radicou em
Botafogo no Rio de Janeiro envolveu-se com Blocos Carnavalescos. O samba constitui
seu trabalho. Teve sua primeira composição gravada em 1960 por Miltinho (1928).
Integrou os grupos Os cinco Crioulos e Rosa de Ouro. Em 1970 conheceu Clara Nunes
(1942 – 1983) que viria a ser sua maior intérprete. Entre seus parceiros estão Paulinho
da Viola (1942), Dona Ivone Lara (1921) e Noca da Portela (1932).

Lindolfo Gaya (Lindolpho Gomes Gaya, 1921 – 1987) natural de Itararé SP.
Arranjador, compositor, instrumentista e diretor musical. De formação sólida, calcada na
tradição erudita. Atuou como arranjador e diretor musical em mais de duzentos e
cinqüenta fonogramas da música popular brasileira para a gravadora RCA/Victor e
Odeon.

Atabaque – instrumento de percussão, sem altura definida. Rítmico. É um tambor de


madeira em forma cônica, com pele de couro em uma das extremidades, presa
geralmente por cordas ou tarraxas. Percute-se com as mãos.

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma utiliza a perspectiva panorâmica, estéreo, para distribuir os


instrumentos na percepção humana. O arranjo utiliza a técnica de introdução tacet.
Num primeiro momento a direita surge o atabaque, a seguir a esquerda ingressa o
violão, subseqüentemente compõem o arranjo o agogô à esquerda, o cavaquinho à
direita, o surdo centralizado, o reco-reco de madeira a direita, o coro masculino
distribuído em ambos os pólos, finalizando ingressam tamborim a esquerda, unindo ao
ganzá, a cuíca e o pandeiro à direita.
Não há construção formal nesta arregimentação ou estruturação gráfica em partitura, a
construção é totalmente intuitiva.

Sobre a voz da intérprete está inserida uma reverberação artificial que surge e
progressivamente vai aumentando do início do canto, aos onze segundos, até o ápice
do uso da técnica em um minuto e seis segundos. A partir desse ponto o uso da
reverberação artificial na voz é contínua, mantendo-se estável.
TRIGÉSSIMO SEXTO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Somos todos iguais esta noite de Ivan Lins e
Vitor Martins
B. Nome do intérprete: Ivan Lins, LP Somos todos iguais esta noite
C. Nome da gravadora ou selo: Odeon/EMI
D. Ano do registro: 1977
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Bolero.
H. Instrumentação: Voz, coro, piano, acordeom, contrabaixo elétrico, bateria,
cordas (violino, viola e violoncello), bongô, clarinete e saxofones.
I. Forma: Introdução A A B B A A B B B B
J. Tempo de duração: 3:07
K. Intensidade: Dinâmica por textura e intensidade.
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Quaternária.
N. Descrição

Ivan Lins (Ivan Guimarães Lins, 1945) natural do Rio de Janeiro RJ. Pianista, cantor e
compositor. De formação musical intuitiva, aos 18 anos começou a tocar bossa nova e
jazz ao piano. Em 1968 começou sua carreira artística no Festival Universitário da TV
Tupi. Seu primeiro sucesso foi Madalena em parceria com Ronaldo Monteiro de Souza
(1945) na voz de Elis Regina (1945 – 1982). Em 1970 lançou pela Philips seu primeiro
LP Agora. Tem parcerias com Celso Viáfora (1959) e Chico Buarque (1944). É um
compositor de grande sucesso nos Estados Unidos e Europa.

Vitor Martins (1949?) natural do Rio de Janeiro RJ. Letrista. Em 1973 começou a atuar
com Ivan Lins, compôs em parceria sucessos como Somos todos iguais esta noite e
Começar de Novo. Em 1991, com o intuito de incentivar a nova safra de compositores
da Música Brasileira, fundou a gravadora Velas ainda com o parceiro Ivan Lins. Foi
gravado por Elis Regina (1945 – 1982), Simone (1949) entre outros.

Gilson Peranzzetta (Gilson José de Azevedo Peranzzetta, 1946) natural do Rio de


Janeiro RJ. Instrumentista, compositor e arranjador. De formação musical sólida
calcada na tradição escrita, iniciou a carreira musical em 1964 com Ivan Lins (1945),
atuando como arranjador e diretor musical.

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma apresenta perspectiva panorâmica, “estéreo”. Os instrumentos estão


distribuídos, a direita se concentra a bateria e o bongo, os clarinetes e o saxofone. O
contrabaixo está centralizado assim como o piano. O acordeom solista da introdução
está postado a esquerda. A voz e o coro estão centralizados. As cordas à direita.

Este fonograma incide para a direita, ou seja, o grosso do seu instrumental pende para
um lado. Existe construção de dinâmica pela textura, do entrar e sair de instrumentos,
no entanto os instrumentos trabalham com a dinâmica expressiva pelo uso da
intensidade. O arranjo construído foi estruturado formalmente, pautado. O fonograma
termina em fade out.
TRIGÉSSIMO SÉTIMO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Cartomante de Ivan Lins e Vitor Martins


B. Nome do intérprete: Elis Regina, LP Transversal do tempo.
C. Nome da gravadora ou selo: Universal
D. Ano do registro: 1978
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Funk
H. Instrumentação: Voz, piano elétrico e rhodes, guitarra, baixo elétrico, bateria.
I. Forma: Intro A B A B C C’ C’’ C’’’
J. Tempo de duração: 4:23
K. Intensidade: Dinâmica por textura e intensidade.
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Quaternária.
N. Descrição

Elis Regina (Elis Regina Carvalho Costa, 1945 – 1982) natural de Porto Alegre RS.
Cantora. Gravou seu primeiro disco compacto simples aos quinze anos de idade com
as músicas Dá Sorte e Sonhando. Ficou conhecida nacionalmente após vencer o
Festival Nacional de Música Popular Brasileira interpretando Arrastão de Edu Lobo
(1943) e Vinícius de Moraes (1913 – 1980). Começou parceria de shows com Jair
Rodrigues (1939), e o Jongo Trio que rendeu três LPs intitulados Dois na bossa.
Revelou-se ótima intérprete com um repertório contrastante, inédito e atual. Lançou em
seus discos compositores como Renato Teixeira (1945), Ivan Lins (1945) e João Bosco
(1946). É cultuada como a maior cantora brasileira de todos os tempos.

César Camargo Mariano (Antônio Cesar Camargo Mariano, 1943) natural de São
Paulo SP. Compositor, instrumentista, arranjador e produtor. Iniciou seu aprendizado de
forma intuitiva. Sua atuação profissional começou em conjuntos de baile típicos da
época. Em 1962 estreou no mercado fonográfico criando os arranjos do disco Claudette
é dona da bossa da cantora Claudete Soares (1937). Atuou em conjuntos instrumentais
como Sabá Quarteto e Octeto César Camargo Mariano, que renderam discos históricos.
Em 1971 foi convidado para produzir o novo show de Elis Regina (1945 – 1982), com
quem se casou e atuou até o fim precoce da carreira da intérprete. Desenvolveu uma
linguagem moderna de arranjo e acompanhamento.

Piano elétrico e Rhodes, teclado – instrumento sintetizador de timbres acionado por


teclas. Harmônico ou melódico. De origem americana, é composto de teclas e corpo em
material plástico, na parte interna, possui um sistema elétrico que simula timbres e
combinações sonoras artificiais. Apresenta tessitura de cinco a sete oitavas e meia.

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma apresenta perspectiva panorâmica, estéreo. A perspectiva centraliza a


voz da intérprete, o baixo, e o piano. À esquerda estão guitarra e bateria. O piano atua
com efeito de cordas, “cama harmônica” na direita da perspectiva humana.

A gravação foi registrada “Ao Vivo”, simultaneamente, sem uso da técnica de


sobreposição de camadas e edições posteriores.

O arranjo, constituído formalmente por César Camargo Mariano (1943), trabalha por
textura com muitas nuances, oscilando dinâmicas entre pianíssimo e fortíssimo. A partir
da parte C, onde o refrão está instituído, o arranjo eleva-se por modulação de semitom
em 2:10 e 2:20. Depois da segunda modulação a tonalidade mantém estável.
TRIGÉSSIMO OITAVO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Na hora da sede de Luís Américo e Braguinha


B. Nome do intérprete: Clementina, LP Clementina.
C. Nome da gravadora ou selo: EMI
D. Ano do registro: 1979
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Samba
H. Instrumentação: Voz, coro, cavaquinho, pandeiro e surdo.
I. Forma: Introdução A A B A A B B’
J. Tempo de duração: 2:49
K. Intensidade: Dinâmica por textura.
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Binária.
N. Descrição

Clementina de Jesus (Clementina de Jesus da Silva, 1901 – 1987) natural de Valença


RJ. Cantora e compositora. De formação musical intuitiva. Clementina de Jesus é filha
de violeiro e mestre de capoeira, desde criança foi influenciada pela mãe que entoava
cânticos de trabalho, partido-alto, ladainhas e jongos. Participou de blocos
carnavalescos e Escolas de Samba tal qual a Portela. Foi descoberta pelo poeta
Hermínio Bello de Carvalho (1935) em 1964. A seguir ingressou no conjunto Rosa de
Ouro com quem gravou dois LPs, em 1965 e 1967. Em 1968 gravou o LP Gente da
Antiga com João da Baiana (1887 – 1974) e Pixinguinha (1897 – 1973). Cantou em seu
repertório, com sua voz rústica, jongo, samba de roda e partido-alto.

Braguinha (Carlos Alberto Ferreira Braga, 1907 – 2006) natural do Rio de Janeiro RJ.
Compositor, cantor e produtor. De formação musical intuitiva, Braguinha filho de classe
média alta carioca, adotou ao longo da carreira o codinome João de Barro, buscando
preservar sua família. Fez parte do histórico Bando dos Tangarás, grupo atuante na
década de 1930, que teve como integrantes entre outros: Almirante (1908 – 1980) e
Noel Rosa (1910 – 1937). Foi com o grupo que Braguinha estreou no mercado
fonográfico em 1929, com fonogramas pelos selos Odeon e Parlaphon.

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma não faz uso da perspectiva panorâmica, “estéreo”. Os instrumentos


estão postados no centro, um sobre o outro. A instrumentação minimalista faz com que
tudo tenha definição, sem que uma execução de um instrumento interfira diretamente
sobre outra. Não existe um arranjo formal, pautado, a construção é intuitiva.

Em um fonograma como este o que se busca de fundamental é a representatividade da


intérprete e de seu valor cultural.
TRIGÉSSIMO NONO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Sentinela de Milton Nascimento e Fernando


Brant
B. Nome do intérprete: Milton Nascimento e Nana Caymmi, LP Sentinela.
C. Nome da gravadora ou selo: Universal
D. Ano do registro: 1980
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Toada
H. Instrumentação: Vozes solistas, coro de monges beneditinos, cordas
(violinos, viola e violocello), bateria, violão, piano, baixo-elétrico, órgão,
teclado e guitarra
I. Forma: Intro A B C Interlúdio C C Coda
J. Tempo de duração: 7:36
K. Intensidade: Dinâmica por textura e intensidade.
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Quaternária.
N. Descrição

Milton Nascimento (1942) natural do Rio de Janeiro. Cantor, compositor e


instrumentista. Criado em Três Pontas MG, de formação musical intuitiva, Milton
impressiona pela sua criatividade e característica interpretativa ímpar. Começou sua
carreira profissional como crooner, terminologia designada para cantor principal em
conjuntos de baile, em 1955. Estreou no mercado fonográfico com o disco do conjunto
Quarteto Sambacana no LP Muito pra frente, em 1965. Sua primeira música registrada
em fonograma foi a Canção do Sal no disco de Elis Regina (1945 – 1982) de 1966. Em
1967 despertou interesse nacional no II Festival Internacional da Canção (TV Globo)
com as canções de sua autoria Morro Velho, Travessia e Maria, Minha Fé. Ainda em
1967 gravou seu primeiro disco homônimo com arranjos do pianista Luiz Eça (1936 –
1992). Sua estética despertou o interesse de músicos do jazz americano, como Wayne
Shorter (1933) e Herbie Hancook (1940). Milton foi líder deflagrador do movimento
Clube da Esquina (1970), que entre outros nomes revelou Wagner Tiso (1945), Lô
Borges (1952) e Fernando Brant (1946).

Fernando Brant (Fernando Rocha Brant, 1946) natural de Poços de Caldas MG.
Letrista. De formação intuitiva, compositor letrista, Fernando começou sua carreira
compondo em parceria com Milton Nascimento (1942) que conheceu em 1960. Foi com
a composição Travessia, em parceria com Milton Nascimento, que obteve seu primeiro
sucesso nacional, registrado a seguir por Elis Regina (1945 – 1982) e pelo próprio
Milton. Têm composições de sucesso registradas no mercado fonográfico tais quais
Maria, Maria, Sentinela, Canção da América, Nos Bailes da Vida, todas com Milton
Nascimento, e Para Lennon e McCartney com Lô Borges (1952) e Macio Borges (1946).

Nana Caymmi (Dinahir Tostes Caymmi, 1941) natural do Rio de Janeiro RJ. Cantora.
De formação intuitiva e de família musical, iniciou no mercado fonográfico no disco do
pai, Dorival Caymmi (1914 – 2008), cantando a cantiga Acalanto em 1960. Gravou seu
primeiro LP em 1963, intitulado Nana com arranjos de Oscar Castro Neves.
Questionada pela afinação, Nana é muito elogiada por suas interpretações, cantando
com emoção e sensibilidade o repertório brasileiro. Nana registrou discos de bolero,
samba-canção, além do repertório praiano quase que completo de seu pai, Dorival
Caymmi.

Wagner Tiso (Wagner Tiso Veiga, 1945) natural de Três Pontas MG. Compositor,
pianista, maestro, arranjador e diretor musical. De formação musical sólida calcada na
tradição escrita, Wagner começou sua carreira atuando como pianista em conjuntos de
baile. Atuou como arranjador e diretor musical de discos de Milton Nascimento (1942),
Maysa (1936 – 1977) e Ney Matogrosso (1941). Como instrumentista trabalhou com
Paulo Moura (1933) e Edison Machado (? – 1990). Fez parte do movimento Clube da
Esquina. Atua neste fonograma como arranjador e diretor musical.
Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma constituído numa duração ampla para o padrão comercial estabelecido,
traz em sua estrutura nuances no campo da instrumentação, dinâmicas, e forma.

Inicia com uma introdução vocal de monges beneditinos, que transita sutilmente nos
pólos perceptíveis. A seguir surge uma reza entoada por Nana Caymmi (1941). O
arranjo propõe um ostinato rítmico na bateria que se manterá por todo fonograma, a
perspectiva é estéreo.

A bateria está distribuída, algumas peças estão à direita como o prato chimball. Os
tambores que compõe a bateria perpassam direita e esquerda na perspectiva. A
guitarra está à direita. O órgão está centralizado, assim como o violão e a voz solista. O
piano está sutilmente a esquerda.

Neste fonograma trechos se sobrepõe pioneiramente, divididos em três partes distintas:


corpo sonoro de banda, monges beneditinos e voz a capela. No final enquanto o corpo
sonoro da banda diminui progressivamente, as vozes beneditinas aumentam
progressivamente criando uma sensação de contraste. O arranjo foi constituído
mesclando oralidade e tradição escrita, há um arranjo base desenvolvido em estúdio, e
intervenções posteriores de um arranjador de posse do conhecimento escrito.
QUADRAGÉSSIMO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Se o violeiro toca de Almir Sater e Renato


Teixeira
B. Nome do intérprete: Almir Sater, LP Rasta Bonito
C. Nome da gravadora ou selo: Continental
D. Ano do registro: 1981
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Moda
H. Instrumentação: Voz, viola, violão, piano, teclado e baixo fretless.
I. Forma: Introdução A A’ B Interlúdio A’ B
J. Tempo de duração: 3:35
K. Intensidade: Dinâmica por textura.
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Ternária
N. Descrição

Almir Sater (Almir Eduardo Melke Sater, 1956) Campo Grande MS. Cantor, compositor,
ator e violeiro. De família de músicos intuitivos, Almir iniciou seu aprendizado na
sanfona, apenas aos vinte anos definiu como instrumento artístico a viola caipira, que
aprendeu intuitivamente ouvindo discos de Tião Carreiro (1934 – 1993). Com breve
carreira de músico acompanhante, em 1980 teve sua composição Sonhos Guaranis
registrada em fonograma por Sérgio Reis (1940). Ficou conhecido nacionalmente
quando sua composição Luzero foi escolhida como tema do programa televisivo Globo
Rural. Gravou seu primeiro disco em 1981, obtendo êxito comercial. Atuou como ator
em novelas, como o sucesso Pantanal da extinta TV Manchete.

Renato Teixeira (Renato Teixeira de Oliveira, 1945) natural de Santos SP. Cantor e
compositor. De formação intuitiva, Renato iniciou sua carreira artística atuando como
radialista no Vale do Paraíba, na cidade de Taubaté. No final da década de 1960 abriu
um estúdio de jingle publicitário. Participou do III Festival da Música Popular Brasileira
de 1967, com a música Dadá Maria, de sua autoria, interpretada por Gal Costa. Em
1977 alcançou aclamação popular com a gravação de Elis Regina (1945 – 1982) de sua
composição Romaria. Compôs alguns de seus maiores sucessos com Almir Sater
(1956).

Baixo fretless - instrumento da família das cordas, de origem norte-americana.


Melódico. É composto por um corpo de madeira maciça em diferentes formatos, braço
longo, sem trastes, onde ficam presas quatro cordas entre mãos com tarraxas e ponte,
com função de cavalete. Sua sonoridade é amplificada através de captadores, como
vimos, equipamento transdutor que transforma força mecânica em sinal elétrico
amplificável em caixas acústicas. O baixo fretless é realização do contra-baixista norte-
americano Jaco Pastorius (1951 – 1987).

Compasso ternário quando os pulsos se agrupam de três em três fragmentando uma


estrutura musical. O primeiro tempo apresenta acento forte, enquanto os demais fracos.
É representado pelo número três entre a terceira e a quinta linha da pauta.

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma trabalha contidamente com a perspectiva panorâmica. O violão de


cordas de aço e o piano estão levemente postados a direita. O contrabaixo fretless está
levemente postado a esquerda. Teclado e voz estão centralizados. Sutilmente o arranjo
intuitivo constrói uma estrutura expressiva, o pulso oscila com rallentando em
momentos de resolução melódica. A panorâmica fechada não interfere na compreensão
da execução instrumental individual. Todos os instrumentos têm clareza e definição no
aspecto timbre.
A estrutura do arranjo remete ao padrão já detectado, clichê, de introdução,
apresentação do tema, segundo tema, interlúdio, e reapresentação do tema.
QUADRAGÉSSIMO PRIMEIRO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Forró em Santa Luíza de Sivuca e Glorinha


Gadelha
B. Nome do intérprete: Sivuca, LP Sivuca.
C. Nome da gravadora ou selo: EMI
D. Ano do registro: 1982
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Instrumental
G. Gênero: Bolero - Forró
H. Instrumentação: Voz, guitarra, pandeiro, triângulo, zabumba, acordeons,
contrabaixo e teclado.
I. Forma: Introdução A A B B A A B B A B B A A
J. Tempo de duração: 2:23
K. Intensidade: Dinâmica por textura.
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Binária
N. Descrição

Sivuca (Severino Dias de Oliveira, 1930 – 2006) natural de Itabaiana PB. Sanfoneiro,
arranjador e compositor. Iniciou seu aprendizado musical intuitivamente, ao mudar-se
para Recife foi empregado na Rádio Clube de Pernambuco. Atuando em orquestra teve
suas primeiras lições de teoria musical. Estudou harmonia durante três anos com o
maestro Guerra Peixe (1914 – 1993). Mudou-se para São Paulo em 1949. Em 1951
gravou seu primeiro disco no formato compacto simples interpretando Tico Tico no
Fubá de Zequinha de Abreu (1880 – 1935) e Carioquinha no Flamengo de Waldir de
Azevedo (1923 – 1980) e Bonfiglio de Oliveira (1891 – 1940). Atuou como
instrumentista e arranjador. Como compositor seu maior êxito comercial é a valsa João
e Maria em parceria com Chico Buarque (1944). Seu trabalho reclina para a música
nordestina, em gêneros como baião, forró e xote.
Glorinha Gadelha (Glória Gadelha, 1947) natural de Sousa PB. Cantora e compositora.
De formação intuitiva, começou sua carreira em 1968, apresentando-se no programa A
Grande Chance da extinta TV Tupi. Sua primeira aspiração fonográfica ocorreu no
disco de Dom Um Romão (1925 – 2005) cantando a música Amor em Jacumã. Em
1981 lançou seu LP de maior destaque Bendito Fruto com a participação de Elba
Ramalho (1951) e Hermeto Paschoal (1936).

Forró: gênero similar ritmicamente ao xaxado, ao baião e ao coco de embolada.


Designa-se forró o gênero urbano encontrado no mercado fonográfico a partir de 1970.
A instrumentação aceita teclado, sanfona, baixo, guitarra e bateria. Tem letras de
caráter sensual e andamento acelerado.

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma trabalha com a perspectiva panorâmica, estéreo. A guitarra está a


esquerda, o acordeom solista está centralizado assim como o contrabaixo, a zabumba
e o pandeiro. O triângulo está à direita, um segundo acordeom está postado a
esquerda.

A construção do fonograma é intuitiva, não apresenta arranjo construído formalmente


pautado. E foi registrado através da técnica de sobreposição de camadas.
QUADRAGÉSSIMO SEGUNDO

A. Nome da composição e autor: Trem das cores de Caetano Veloso


B. Nome do intérprete: Caetano Veloso, LP Prisma
C. Nome da gravadora ou selo: Warner Chapell
D. Ano do registro: 1983
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Baião
H. Instrumentação: Voz, assovio, violões, baixo, bateria e piano elétrico.
I. Forma: Introdução A A’ B A’’ Interlúdio B’
J. Tempo de duração: 2:22
K. Intensidade: Dinâmica por textura
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Binária
N. Descrição

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma trabalha com a perspectiva panorâmica, estéreo. O violão de aço está
postado a esquerda na percepção humana, os demais instrumentos estão agrupados
no centro. O violão de aço arpejando a esquerda parece uma intervenção livre,
deslocada do corpo sonoro principal. O motivo é a disposição na percepção e seu
volume. A idéia de separar um instrumento do bloco principal intenciona dar movimento
à composição do fonograma.
A gravação foi constituída por sobreposição de camadas. O fonograma é finalizado com
queda progressiva e artificial do volume, fade out.
QUADRAGÉSSIMO TERCEIRO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Sonífera Ilha de Titãs


B. Nome do intérprete: Titãs, LP Sonífera Ilha
C. Nome da gravadora ou selo: Warner Chapell
D. Ano do registro: 1984
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Pop Rock
H. Instrumentação: Voz, coro, bateria, guitarra base, guitarra solo, baixo
elétrico, piano elétrico e percussão.
I. Forma: Introdução A B B Interlúdio A B B B B Coda
J. Tempo de duração: 2:54
K. Intensidade: Dinâmica por textura e intensidade.
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Quaternária.
N. Descrição

Titãs formado no ano de 1982 em São Paulo é um dos grupos mais representativos do
Brock, movimento que na década de 1980 deflagrou um novo estilo de música
composta no Brasil. Esta formação registrou o primeiro disco da banda, homônimo, em
1984: Arnaldo Antunes (1960), Branco Mello (1962), Charles Gavin (1960), Marcelo
Fromer (1961 – 2001), Nando Reis (1963), Paulo Miklos (1959), Sérgio Britto (1959) e
Tony Belloto (1960). O grupo transitou ao longo da carreira por influências que vão da
jovem guarda ao ska, do rock progressivo ao tropicalismo. Perdeu alguns integrantes
Arnaldo Antunes e Nando Reis hoje administram carreiras individuais, e Marcelo Fromer
faleceu num acidente de trânsito fatal.

Pop Rock estilo musical deflagrado na década de 1980, onde bandas jovens surgiram
em um movimento não organizado absorvido como novo produto comercial do mercado
fonográfico. Tipicamente a métrica deste estilo é quaternária em andamentos variados.
A temática varia entre questões sociais e canções de cunho amoroso. Destacam-se
grupos como Paralamas do Sucesso, Titãs, Legião Urbana, Ultraje a Rigor, Barão
Vermelho, Engenheiros do Hawaí entre outros. Artistas como Lulu Santos, Lobão e
Cazuza.

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma apresenta perspectiva panorâmica, estéreo, com uma distribuição onde
estão centralizadas a voz solista, o baixo e a bateria, a esquerda está à guitarra base e
o piano elétrico. A guitarra solista está à direita. O coro dobrado surge postado
horizontalmente captado por dois canais, a direita e esquerda distribuídos.

A estrutura de arregimentação é intuitiva e não recorre à tradição escrita. O coro


apresenta vozes em uníssono e oitavas, que reforça a tese de construção intuitiva. A
forma é similar a construções anteriormente classificadas.
QUADRAGÉSSIMO QUARTO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Nos Barracos da Cidade de Gilberto Gil e


Liminha
B. Nome do intérprete: Gilberto Gil, LP Dia dorim noite Neon
C. Nome da gravadora ou selo: Som Livre
D. Ano do registro: 1985
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Reggae
H. Instrumentação: Voz, coro, guitarras, baixo elétrico, piano elétrico, bateria
eletrônica, trombone e trompete.
I. Forma: Introdução A A B A A B Interlúdio B B
J. Tempo de duração: 4:09
K. Intensidade: Dinâmica por textura
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Quaternária
N. Descrição

Liminha (Arnolpho Lima Filho, 1951) natural de São Paulo SP. Instrumentista,
compositor e produtor musical. De formação musical intuitiva, iniciou sua atuação
artística nos Festivais da TV Record e Excelsior, acompanhando o conjunto Os
mutantes. Integrou o grupo de 1971 a 1975. A partir da década de 1980, atuou como
produtor musical nos trabalhos de Gilberto Gil (1942) e de grupos de rock como os
Titãs, entre outros.

Reggae - gênero quaternário de origem jamaicana deflagrado no final da década de


1960. Nas décadas seguintes adquiriu importância internacional com Bob Marley (1945
– 1981), principal ícone do gênero, e o movimento rastafári como estilo de vida. Foi
incorporado no Brasil pela Tropicália, e por grupos remanescentes do final da década
de 1980, como Cidade Negra e Skank, posteriormente com Tribo de Jah e Natiroots.
Bateria Eletrônica instrumento eletrônico que copila sons percussivos, alterando
timbres, compondo conduções rítmicas, com andamentos variados.

Som Livre - gravadora surgida na década de 1980 compõe o grupo Roberto Marinho,
que gere a TV e Rádio Globo, sua especialidade é música para massa, divulgou em
seus primeiros catálogos música sertaneja e pagode.

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma utiliza perspectiva panorâmica, estéreo, distribuindo os instrumentos


musicais nos extremos da percepção humana. A voz está centralizada. A guitarra base,
que executa acordes está postada, suavemente à esquerda. A segunda guitarra solista
está suavemente à direita. Os registros do piano elétrico, dois no total, estão nos
extremos, um totalmente à direita, e o segundo totalmente à esquerda. Os trombones
estão centralizados. A bateria divide-se, chimball à direita, bumbo e caixa centralizados.
Os tambores médios, ton-ton, estão suavemente à esquerda.

Na década de 1980, os engenheiros de som, responsáveis pela captação, gravação e


finalização do objeto fonográfico, tendem a gerar experimentos. Neste fonograma, pela
primeira vez dentre os fonogramas selecionados, um instrumento é manipulado pela
perspectiva, como se houvesse movimento. Isso ocorre nos tambores médios, ton-ton,
entre 15 e 18 segundos ainda na introdução, movendo-se da esquerda para a direita.
A construção do fonograma institui pré-elaboração, calcada nas tradições de escrita. As
constantes texturas, e acréscimos de metais levam a essa consideração.
QUADRAGÉSSIMO QUINTO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Romance Laranjinha de Djavan


B. Nome do intérprete: Djavan, LP Meu Lado
C. Nome da gravadora ou selo: Som Livre
D. Ano do registro: 1986
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Xote
H. Instrumentação: Voz, violão, piano elétrico, acordeom, baixo elétrico,
bateria, triângulo, gonguê, e guitarra.
I. Forma: Intro A A’ B B Interlúdio A A’ B B Coda
J. Tempo de duração: 3:21
K. Intensidade: Dinâmica por textura
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Binária.
N. Descrição

Djavan (Djavan Caetano Viana, 1949) natural de Maceió AL. Cantor, compositor e
arranjador. De formação musical intuitiva Djavan, construiu uma linguagem própria em
suas canções. Mesclando rítmica atrativa com textos livres, elementos naturais e de
subjetividade. De voz firme e afinada, surgiu no cenário musical brasileiro em 1975, no
Festival Abertura da TV Globo com a música de sua autoria Fato Consumado. Em
seguida, Djavan lançou seu primeiro trabalho um compacto duplo que reunia suas
canções de então. Em 1976 gravou seu primeiro LP Djavan A voz e o violão, contendo
sucessos como Flor de Lis. Suas canções foram temas de novela, construindo uma
carreira prolífera com discos e shows nacionais e internacionais.

Xote: gênero binário de origem nordestina, citações perpassam a década de 1940,


como data possível para a proliferação do gênero como artefato urbano do mercado
fonográfico. Apresenta métrica par, binária. Sua organização rítmica impõe o segundo
tempo como forte. Apresenta instrumentação urbana com zabumba, triângulo, agogô,
violão e acordeom. Podendo conter ainda bateria e contrabaixo. A temática se volta
para relações amorosas introspectivas ou bem-humoradas.

Gonguê (cowbell) – instrumento de percussão, sem altura definida. Rítmico. De origem


africana, introduzido no Brasil, pelos negros da nação iorubá. O instrumento é
composto por uma campânula grande de ferro fundido, ligado por um cabo do mesmo
material. É percutido por uma baqueta de madeira ou metal.

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma apresenta perspectiva panorâmica, estéreo, os instrumentos estão


dispostos na percepção humana de maneira horizontal. A voz está centralizada. O
violão está postado levemente à direita. O piano elétrico à esquerda. O acordeom, o
contrabaixo e a bateria estão centralizados. O triângulo está postado a direita.

Um instrumento de efeito, possivelmente o piano elétrico atua nos dois pólos com o
princípio de gravação estéreo. Na entrada do gongue, instrumento de percussão,
percebe-se um movimento na sua execução, caminha pelo panorama da direita para a
esquerda a partir de 2:30.

A construção deste fonograma é intuitiva, embora se perceba um preparo, uma pré-


elaboração estética. A finalização é por meio de fade out.
QUADRAGÉSSIMO SEXTO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Alagados de Paralamas do Sucesso


B. Nome do intérprete: Paralamas do Sucesso, LP D
C. Nome da gravadora ou selo: BMG
D. Ano do registro: 1987
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Pop Rock
H. Instrumentação: Voz, guitarras, baixo elétrico, bateria, tamborim, ganzá e
congas.
I. Forma: Intro A A B Interlúdio1 A A B Interlúdio2 B B Interlúdio3 B’
J. Tempo de duração: 5:01
K. Intensidade: Dinâmica por textura e intensidade.
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Quaternária.
N. Descrição

Paralamas do Sucesso formado em solo brasiliense, o trio, originalmente composto


por Herbert Vianna (1961) nas guitarras e voz, Bi Ribeiro (1961) no contrabaixo elétrico
e Vital Dias (1961) na bateria, registrou seu primeiro LP Cinema Mudo em 1983, já com
João Barone (1962) assumindo a bateria. Um dos primeiros grupos deflagradores do
movimento não organizado de pop-rock da década de oitenta, responsável por angariar
Legião Urbana e Capital Inicial. O grupo mescla em suas influências o SKA, gênero
quaternário latino afro-cubano, e o rock. Com letras bem humoradas e músicas de fácil
aceitação auditiva, os Paralamas atingiram o público brasileiro com guitarras
distorcidas, alteradas artificialmente, e perfil dançante. Por uma fatalidade, um acidente
tirou a mobilidade de Herbert Vianna, o que gerou uma pausa nas atividades do grupo,
no entanto hoje atuam normalmente, com Herbert movendo-se em cadeira de rodas.

Congas – instrumento de percussão, sem altura definida. Rítmico. De origem afro-


caribenha, tem o formato similar ao ataque, de quem provem. Apresenta um corpo em
madeira industrializada, padronizado, sendo o atabaque mais artesanal. Na parte
superior há uma pele de couro presa com tarraxas, onde se percute com ambas as
mãos. Geralmente tocadas em trios uma aguda, uma intermediária e uma grave.

Melodia – Trecho da Seção A

Fonograma considerado longo pelo padrão comercial rádio. Este fonograma trabalha
com a perspectiva panorâmica, estéreo, o baixo está centralizado assim como a voz.
Guitarras distribuem-se entre direita e esquerda na percepção humana. À esquerda há
uma guitarra com efeito, no lado direito há uma guitarra solista com efeito. O ganzá e o
tamborim estão para a esquerda, enquanto as congas estão para a direita.

Não existe neste arranjo qualquer construção formal, baseada na tradição escrita. O
que se percebe é uma construção intuitiva fruto do trabalho de estúdio ainda aliado a
ensaios coletivos. O fonograma é finalizado com fade out, diminuição progressiva e
artificial nos volumes.
QUADRAGÉSSIMO SÉTIMO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Comida de Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e


Sérgio Britto.
B. Nome do intérprete: Marisa Monte, LP Marisa Monte.
C. Nome da gravadora ou selo: EMI
D. Ano do registro: 1988
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Pop Rock
H. Instrumentação: Voz, piano elétrico, baixo elétrico, guitarra, trompete,
bateria e percussão (Agogô, timbal).
I. Forma: Introdução A B C Interlúdio B C Interlúdio2 A’
J. Tempo de duração: 4:13
K. Intensidade: Dinâmica por textura e intensidade.
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Quaternária.
N. Descrição

Arnaldo Antunes (Arnaldo Antunes Filho, 1960) natural de São Paulo SP. Cantor,
compositor e poeta. De formação musical intuitiva, iniciou sua atuação artística no
mercado fonográfico com o grupo Aguilar e Banda Performática na década de 1980,
com quem gravou, no mesmo ano, um LP homônimo. Em 1982 ingressou no grupo
Titãs com quem seguiu carreira até 1992. Em 1993 lançou seu primeiro disco solo
Nome, e passou a dedicar-se assiduamente a poesia. Interage sobre a influência do
concretismo e da arte multimídia.

Marcelo Fromer (1961 – 2001) natural de São Paulo SP. Guitarrista, compositor. De
formação intuitiva, iniciou sua carreira musical em 1982 no grupo de rock Titãs atuando
como guitarrista e compositor. Faleceu tragicamente, postumamente foi homenageado
com um disco repleto de suas composições, no ano de 2002, pelo grupo Titãs.
Sérgio Britto (Sérgio de Britto Álvares Affonso, 1959) natural do Rio de Janeiro.
Tecladista, compositor e cantor. Iniciou sua carreira musical em 1982 no grupo de rock
Titãs atuando como tecladista, cantor e compositor. Foi um dos integrantes
responsáveis pela modificação estética do grupo, passando ao longo dos anos por
diversas vertentes do rock. Sua música Epitáfio do disco de 2001 dos Titãs, intitulado A
melhor banda de todos os tempos da última semana, levou o grupo a vender
novamente cem mil cópias com um trabalho inédito. Essa mesma canção mereceu
regravação da cantora tropicalista Gal Costa (1945).

Marisa Monte (Marisa de Azevedo Monte, 1967) natural do Rio de Janeiro RJ.
Cantora, compositora e produtora. Iniciou seus estudos musicais na infância ao piano,
aprendendo noções de partitura e teoria musical. Na adolescência estudou canto lírico,
a seguir na Itália aperfeiçoou-se sobre mesmo foco. No país europeu iniciou
apresentações em bares e casas noturnas apenas com repertório popular brasileiro,
onde mais se identificou. Em 1989 lançou seu primeiro disco, homônimo, auxiliado pelo
produtor e compositor Nelson Motta (1944). Suas primeiras composições foram ouvidas
no disco seguinte Mais, de 1991, parcerias com Carlinhos Brown (1962), Arnaldo
Antunes (1960), ambos que com quem formaria nos anos 2000 o grupo Tribalistas, e
Nando Reis (1963). Marisa Monte é atuante no resgate e divulgação de compositores
do samba tendo produzido discos de Jair do Cavaquinho (1922 – 2006) e Velha Guarda
da Portela.

Timbal (timbau, atabaque industrializado) – instrumento de percussão, sem altura


definida. Rítmico. Composto por uma madeira compensada em formato cônico, com
pele de nylon na extremidade superior presa por tarraxas. É percutido com as mãos.

Melodia – Trecho da Seção A


A construção do fonograma utiliza o panorama como recurso técnico, efeitos se
espalham pela perspectiva estéreo. A guitarra está inicialmente centralizada, num
segundo momento posta-se a esquerda. O contrabaixo e o trompete estão
centralizados, o piano está à esquerda, o agogô surge para a direita, o timbal à
esquerda.

O arranjo foi constituído informalmente, não há recorrência a tradição escrita, execução


pré-determinada. Os músicos registraram simultaneamente sua participação no
fonograma. Apenas o piano tem uma sonoridade que remete a uma sobreposição de
camadas, neste caso uma gravação adicionada posteriormente em estúdio.

QUADRAGÉSSIMO OITAVO FONOGRAMA


A. Nome da composição e autor: Pais e Filhos de Legião Urbana
B. Nome do intérprete: Legião Urbana, LP Quatro Estações
C. Nome da gravadora ou selo: EMI
D. Ano do registro: 1989
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Pop
H. Instrumentação: Voz, guitarras, violão de aço e baixo elétrico, bateria.
I. Forma: Introdução A B A’ B’ C (refrão) D D’ Interlúdio C C’ E Coda
J. Tempo de duração: 5:08
K. Intensidade: Dinâmica por textura
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Quaternária.
N. Descrição

Legião Urbana iniciou sua trajetória em 1983 em solo brasiliense. Sua primeira
formação, a registrar um LP, disco homônimo Legião Urbana de 1984, tinha como
integrantes: Renato Russo (1960 – 1996) nos vocais e violões, Dado Villa-Lobos (1965)
na guitarra, Marcelo Bonfá (1965) na bateria e Renato Rocha (1961) no contrabaixo
elétrico. Renato Rocha participou apenas dos dois primeiros LPs se afastando a seguir.
O agora trio, comandado por Renato Russo, se destacara no cenário musical nacional
por suas letras com teor politizado, canções de amor e crônicas intensas. Em 1996
Dado e Bonfá, anunciaram a dissolução do grupo, pós-morte de Renato Russo vítima
de complicações do vírus HIV, que tratava desde 1990.

Melodia – Trecho da Seção A


O fonograma utiliza a perspectiva panorâmica, estéreo. A voz, a bateria, o contrabaixo
e o violão estão postados no centro, gravados em canais mono. A guitarra base foi
gravada em um canal estéreo, que lhe permite soar aberta nos pólos opostos. A
guitarra solo surge por volta de 2:30 no lado esquerdo da percepção humana,
movendo-se para a direita por volta de 3:00, alternando sua localização posteriormente
na perspectiva panorâmica.

O fonograma não apresenta construção formal, de um arranjo pré-elaborado. Não


recorre assim, a tradição escrita. O fonograma utiliza o recurso do fade out para
finalização.

QUINQUAGÉSSIMO NONO FONOGRAMA


A. Nome da composição e autor: Loa de Lisboa de Alceu Valença
B. Nome do intérprete: Alceu Valença, LP Andar Andar
C. Nome da gravadora ou selo: EMI
D. Ano do registro: 1990
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: ijexá
H. Instrumentação: Voz, assovio, congas, sino, moringa, piano elétrico, teclado,
baixo fretless, violão aço e ganzá.
I. Forma: Intro A A B A A interlúdio B’ A A A A
J. Tempo de duração: 3:28
K. Intensidade: Dinâmica por textura
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Quaternária.
N. Descrição

Alceu Valença (Alceu Paiva Valença, 1946) natural de São Bento do Una PE. Cantor e
compositor. De formação musical intuitiva Alceu Valença, justifica suas raízes
nordestinas, seu regionalismo, em seu trabalho autoral fortemente influenciado por
Jackson do Pandeiro (1919 – 1982). Suas primeiras referências musicais foram Orlando
Silva (1915 – 1978), Sílvio Caldas (1908 – 1988) e Dalva de Oliveira (1917 – 1972). Em
1969, estudante de direito, foi contemplado com bolsa de estudos na Universidade
Americana Harvard, onde permaneceu por quase um ano. Nos Estados Unidos realizou
shows universitários tocando música regional brasileira. Em seu retorno ao Brasil
concluiu a faculdade de direito, e a partir daí dedicou-se exclusivamente a música.
Participou de festivais, e estreou no mercado fonográfico com um LP em parceria com
Geraldo Azevedo (1945) em 1972 que apresentaram sucessos como Táxi Lunar,
Caravana e Talismã.

Ijexá gênero musical de origem afro-brasileira. Desenvolveu-se intensamente no Brasil


em manifestações do candomblé, em nações de origem nigeriana, escravos vindos ao
Brasil e radicados em Salvador BA. De métrica quaternária, o ijexá, tem ritmo
cadenciado, ficou caracterizada no mercado fonográfico brasileiro em composições
urbanas como Sina de Djavan (1949) e Beleza Pura de Caetano Veloso (1942).

Moringa – instrumento de percussão, sem altura definida. Rítmico. Concebido de


cerâmica em formato de cabaça, com dois orifícios um superior e o segundo
centralizado verticalmente no instrumento. É percutido com as mãos.

Melodia – Trecho da Seção A

O fonograma utiliza perspectiva panorâmica, estéreo. A voz está centralizada, assim


como o contrabaixo fretless e o sino. À esquerda está à conga aguda, à direita a conga
grave, o ganzá e o violão. À esquerda o piano elétrico. O teclado gerencia uma cama
harmônica, um acorde, em ocasiões uma nota, que se mantém sucessivamente e
transitando pelo panorama.

Na voz é utilizado o recurso da reverberação artificial, a voz adquire assim


característica sombreada. Não há arranjo pré-determinado em pauta, grafado,
registrando um pensamento pré-estabelecido. O fonograma encerra-se com o uso da
técnica de fade out.

QUINQUAGÉSSIMO FONOGRAMA
A. Nome da composição e autor: Violeiros de Djavan
B. Nome do intérprete: Djavan, LP Coisa de Acender
C. Nome da gravadora ou selo: Epic
D. Ano do registro: 1991
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Baião
H. Instrumentação: Voz, violões, baixo, bateria, triângulo, reco-reco, gunga,
congas, ganzá, efeitos, teclado e flauta.
I. Forma: Intro A B A B C C (refrão) A B C C interlúdio C C’ C’
J. Tempo de duração: 4:49
K. Intensidade: Dinâmica por textura
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Quaternária.
N. Descrição

Gunga – instrumento de percussão, sem altura definida. Rítmico. Concebido como um


chocalho feito com latinhas cheias de semente, presas em uma tornozeleira. Toca-se
no movimento de dança das pernas.

Efeitos – instrumento de percussão, sem altura definida. Não tem função rítmica,
apenas de preenchimento, buscando sensações estéticas. São instrumentos como
unha de gato, pau-de-chuva e guaiá, alguns exemplares.

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma apresenta perspectiva panorâmica, estéreo. O violão está registrado


em um canal duplo, postado ao centro pela soma dos canais dados a lados opostos. O
teclado surge à esquerda, a flauta a direita. O bumbo da bateria, som mais grave
emitido pelo instrumento, está centralizado, assim como a caixa com vassouras e o
chimball. Os violões de aço surgem centralizados. A conga aguda está postada a
direita, a conga grave a esquerda. O ganzá surge centralizado, quando conduz na
seção C está para a esquerda. O reco-reco e o triângulo estão à direita.

O arranjo tem construção intuitiva, sem bases na pré-elaboração pautada. O arranjo foi
construído em estúdio, parte a parte, através da sobreposição de camadas. Embora a
preocupação estética remeta a uma pré-elaboração, a construção é eminentemente
intuitiva. O fonograma finaliza com uma parada brusca.

QUINQUAGÉSSIMO PRIMEIRO FONOGRAMA


A. Nome da composição e autor: O canto da cidade de Tote Gira e Daniella
Mercury
B. Nome do intérprete: Daniella Mercury, LP O canto da cidade
C. Nome da gravadora ou selo: Columbia
D. Ano do registro: 1992
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Axé
H. Instrumentação: Voz, teclados, guitarra, baixo, ganzá, bateria, timbal, caixas
e repiniques.
I. Forma: Intro A (refrão) A B B C B A A Interlúdio B C A A Coda
J. Tempo de duração: 3:24
K. Intensidade: Dinâmica por textura
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Quaternária.
N. Descrição

Tote Gira (?) não constam dados sobre este compositor.

Daniella Mercury (Daniela Mercuri de Almeida Póvoas, 1965) natural de Salvador BA.
Cantora e compositora. De formação musical intuitiva, Daniella Mercury iniciou sua
atuação artística no estudo da dança, balé clássico e jazz. Atuou aos treze anos em
bares de Salvador, foi vocalista da banda Cheiro de Amor e Companhia Clic, com quem
gravou dois LPs em 1988 e 1990. Em 1991, partiu para carreira solo obtendo sucesso
já em seu primeiro LP. O fonograma Swing da cor elevou seu trabalho nacionalmente.
Daniella é um marco para o advento do gênero axé, embora em seus recentes
trabalhos aproximara-se da música brasileira, da canção mais intimista.

Axé termo provindo do idioma ioruba que designa energia positiva e força. Como
gênero musical urbano tem origem afro-brasileira. Sua estrutura é ritmicamente similar
ao ijexá. Desenvolveu-se na Bahia, despontando na década de 1990, conquistando a
seguir todo Brasil no canto de Daniella Mercury (1965). Adquiriu contexto popular, com
letras de sensualidade e composições relativamente simples. Prima pela visualidade,
com musas incentivando danças. Têm como ícones o grupo É o tcham, Ivete Sangalo
(1972), Banda Eva e Cheiro de Amor.

Repinique – instrumento de percussão, sem altura definida. De origem brasileira, da


família dos tambores, apresenta forma cilíndrica de madeira ou metal com até cinqüenta
centímetros de altura, apresenta pele de nylon presa por oito tarraxas. É percutido por
uma mão desprovida de baquetas e pela outra com baqueta de madeira.

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma apresenta perspectiva panorâmica, estéreo, registrado através de


sobreposição de camadas. Na introdução a guitarra transita na percepção humana de
forma circular, de um lado para o outro. Num segundo momento a guitarra se estabiliza
a direita. A voz está centralizada, assim como o baixo elétrico. A bateria está
parcialmente centralizada, no entanto os tambores médios, denominado tons, e os
pratos estão à direita. O repinique está à direita. Os teclados estão parcialmente no
centro, um teclado se posta à direita com contracantos, outro a esquerda. O ganzá está
à direita.
A constituição do fonograma perpassa certa pré-elaboração. A forma apresenta uma
pequena introdução instrumental, uma seção A refrão apresentada sem rítmica
definida. A construção segue ao adquirir ritmo constante. Pequenos contracantos do
teclado postado a direita permeiam todo o fonograma. A finalização do arranjo é de
uma pausa brusca.

QUINQUAGÉSSIMO SEGUNDO FONOGRAMA


A. Nome da composição e autor: Clube de esquina n.º 2 de Milton Nascimento,
Lô Borges e Márcio Borges.
B. Nome do intérprete: Milton Nascimento, CD Ângelus.
C. Nome da gravadora ou selo: Warner Chapell
D. Ano do registro: 1993
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Toada / Samba
H. Instrumentação: Voz, baixo fretless, teclado, piano, bateria, clave, violão,
agogô, tamborins, efeitos, e bongô.
I. Forma: Intro A A’ B A A’ B Interlúdio B A A’ B’
J. Tempo de duração: 5:51
K. Intensidade: Dinâmica por textura e intensidade.
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Quaternária.
N. Descrição

Lô Borges (Salomão Borges Filho, 1952) natural de Belo Horizonte MG. Cantor e
compositor. De formação musical intuitiva, Lô Borges iniciou sua carreira artística na
banda Beavers, formado com seus irmãos e o amigo Beto Guedes (1951), tocavam
composições influenciadas pelos The Beatles. A seguir Lô Borges foi um dos
fundadores do Clube da Esquina, movimento realizado em Belo Horizonte, com quem
estreou em LP homônimo em 1972. Gravou em 1973 seu primeiro LP solo, que não
obteve êxito para os padrões comerciais. Desenvolveu intenso trabalho composicional
ao lado de Milton Nascimento (1942), Samuel Rosa (1966), Fernando Brant (1946),
Ronaldo Bastos (1948) e Beto Guedes.

Marcio Borges (Marcio Hilton Fragoso Borges, 1946) natural de Belo Horizonte MG.
Letrista. De formação musical intuitiva, é considerado ao lado de Fernando Brant (1946)
o letrista mais importante do movimento Clube da Esquina. Em 1964, estreou no
mercado fonográfico como letrista das canções Paz do amor que vem, Gira-girou, e
Crença, todas com Milton Nascimento. Não têm discos individuais lançados pelo
mercado fonográfico, embora suas canções possam ser ouvidas no trabalho individual
de Milton Nascimento (1942), Beto Guedes (1951) e Lô Borges (1952).

Toada gênero quaternário resultado da confluência entre danças européias e danças


africanas. É uma forma do romance lírico brasileiro, canção breve geralmente de estrofe
e refrão. Sua temática é preferencialmente de amor. Como música característica ocorre
em todo eixo centro-sul do Brasil. Como música urbana fixa no cancioneiro nacional a
partir da década de 1970 quando ingressa no mercado fonográfico na obra de artistas
como Milton Nascimento (1942) e Lô Borges (1952).

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma apresenta perspectiva panorâmica, “estéreo”. Sugere um registro por


sobreposição de camadas. O baixo está postado ao centro, assim como a voz. O piano
está à esquerda na percepção humana. A clave também, no entanto, seu
distanciamento do ponto central é maior, comparativamente poder-se-ia dizer que numa
perspectiva visual o piano está sessenta por cento à esquerda enquanto a clave está
cerca de noventa por cento a esquerda. O teclado está centralizado, embora seu
registro ocorra em duas vias. A bateria pende para o lado direito, o agogô está do lado
direito, opondo-se ao bongo que está a esquerda da perspectiva humana. Os tamborins
estão distribuídos igualmente à direita e a esquerda.
Na constituição do arranjo existe uma preocupação acentuada com as nuances de
intensidade e timbre. A dinâmica oscila de pianíssimo á fortíssimo em determinados
momentos do fonograma. A dinâmica é dada parcialmente pelos músicos, cada qual em
sua específica execução, e auxiliada pelo técnico de som que na chegada do
pianíssimo por volta de 1:18 movimenta os sinais de volume, fader. O fortíssimo é
atingido por volta dos 4:43. O intérprete acompanha tais nuances sem usufruir de
recursos tecnológicos.

Não houve uma pré-elaboração pautada, e sim uma pré-elaboração estética, onde o
artista define de forma instrutiva o objetivo a ser atingido.

QUINQUAGÉSSIMO TERCEIRO FONOGRAMA


A. Nome da composição e autor: Salva meu coração de Zezé di Camargo
B. Nome do intérprete: Zezé di Camargo e Luciano, LP Volume 4
C. Nome da gravadora ou selo: Columbia
D. Ano do registro: 1994
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Sertanejo
H. Instrumentação: Vozes, baixo, bateria, violão, teclado, pandeirola, ganzá,
guitarra e cordas (violinos, viola e violoncello)
I. Forma: Intro A B C(refrão) B’ Interlúdio C B’ Coda
J. Tempo de duração: 3:44
K. Intensidade: Dinâmica por textura e intensidade.
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Quaternária.
N. Descrição

Zezé di Camargo (Mirosmar José di Camargo, 1963) natural de Pirenópolis GO. Cantor
e compositor. De formação intuitiva, iniciou-se na música aprendendo oralmente
acordeom. Dedicou-se ao canto, e formando dupla com seu irmão Emival, apresentou-
se por todo estado de Goias, compondo a dupla Camargo e Camarguinho, desfeita
após acidente fatal que tirou a vida de Emival. A seguir formou a dupla Zezé e Zazá
com quem registrou discos compactos. Lançou a seguir dois LPs solo, no entanto só
obteve sucesso nacional ao fazer dupla com Luciano, e lançar a canção É o amor, de
sua autoria. Compôs canções de amor de sucesso a partir de 1990 nas vozes de
Leandro e Leonardo, e Maria Bethânia (1946).

Zezé di Camargo e Luciano dupla sertaneja, formada em 1991 pelos irmãos Mirosmar
e Wendel, respectivamente. Em cerca de quinze anos de carreira, venderam mais de
vinte milhões de discos nos formatos LP e CD. Basicamente interpretam em seu
repertório canções de amor, embora tenham flertado com o protesto em tema como a
violência. Dividiram palco com grandes artistas da música brasileira tais quais Maria
Bethânia (1946), Chico Buarque (1944), e as dulpas Chitãozinho e Xororó, Leandro e
Leonardo.

Sertanejo gênero de origem brasileira é resultado da confluência mercadológica entre a


música caipira e a música folk norte-americana. Ocorre metricamente em compassos
ternários e quaternários. Sua instrumentação recorre a instrumentos tipicamente norte-
americanos, como guitarra elétrica, baixo elétrico, bateria e teclados. Nota-se também a
presença de violões, acordeom e viola caipira. E saxofone melodioso, tipicamente
influenciado pelo pop instrumental americano de Kenny G (1956).

Pandeirola – instrumento de percussão, sem altura definida. Rítmico. É uma espécie


de pandeiro, porém sem pele e em forma de meia lua, podendo ainda ser retangular ou
mesmo redondo. Pode ser concebido de madeira ou plástico, com platinelas de metal
ao seu redor. É percutido com as mãos.

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma trabalha com a perspectiva panorâmica, estéreo. Fonograma estável,


balanceado entre direita e esquerda. As vozes estão centralizadas, assim como o baixo
e o violão. As cordas abertas em dois canais atuam em uma perspectiva horizontal
atuando em ambos os lados igualmente. A bateria tem grande parte de suas peças
centralizadas, a esquerda estão seus tons (tom-tom). O ganzá está postado a
esquerda, a pandeirola ao centro. A guitarra tende para a esquerda, assim como o coro.
A construção musical é pré-determinada em arranjo pautado. Todos os instrumentos
estão posicionados adequadamente no panorama.
QUINQUAGÉSSIMO QUARTO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Pelados em Santos de Dinho


B. Nome do intérprete: Mamonas Assassinas, LP e CD homônimo.
C. Nome da gravadora ou selo: EMI
D. Ano do registro: 1995
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Bolero / Rock
H. Instrumentação: Voz, guitarras, baixo elétrico, teclados, bateria e trompetes.
I. Forma: Intro A A B Interlúdio B Interlúdio
J. Tempo de duração: 3:22
K. Intensidade: Dinâmica por textura
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Quaternária.
N. Descrição

Mamonas Assassinas grupo que despontou no cenário nacional no ano de 1995.


Traziam em suas composições um texto repleto de dualidades, humor e sarcasmo.
Composto pelo vocalista e principal compositor Dinho, Samuel Reoli no contrabaixo,
Júlio Rasec nos teclados, Sérgio Reoli na bateria e Bento Hinoto nas guitarras. Músicos
de formação intuitiva atingiram sucesso nacional em 1995 com a divulgação de seu
primeiro e único disco, vendas de cerca de dois milhões e meio de cópias em CD e LP.
Fatalmente um acidente tirou a vida de todos os integrantes no ano de 1996.
Melodia – Trecho da Seção A

Fonograma que utiliza a perspectiva panorâmica, “estéreo”. A bateria está distribuída


no panorama, o chimball e bumbo estão centralizados, a caixa e o tom 1 estão a direita,
enquanto o tom 2 e o surdo estão a esquerda. Num segundo momento a caixa surge
centralizada.

São dois trompetes um em cada lado. A guitarra base está levemente deslocada para a
esquerda. A guitarra distorcida quando surge está centralizada.

A arregimentação tem perfil informal, não recorrendo assim à tradição escrita. Tudo
executado foi previamente construído em ensaios coletivos, sem uma organização
formal.
QUINQUAGÉSSIMO QUINTO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Não sou mais disso de Zeca Pagodinho e


Jorge Aragão
B. Nome do intérprete: Zeca Pagodinho, CD Deixa Clarear
C. Nome da gravadora ou selo: Universal
D. Ano do registro: 1996
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Samba
H. Instrumentação: Voz, violão, cavaquinho, banjo brasileiro, teclado, baixo
elétrico, bateria, pandeiros de nylon, repique de mão, rebolo e surdo.
I. Forma: Introdução A B C A B C A Coda
J. Tempo de duração: 3:47
K. Intensidade: Dinâmica por textura
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Binário.
N. Descrição

Zeca Pagodinho (Jessé Gomes da Silva Filho, 1959) natural do Rio de Janeiro RJ.
Cantor e compositor. De formação musical intuitiva, Zeca destacou-se no meio do
samba por sua capacidade de improvisar versos de acordo com a temática do partido
alto, estilo de samba improvisado que possui um refrão com um tema central onde os
partideiros improvisam versos espontâneos. Foi assíduo freqüentador do bloco do
Cacique de Ramos, movimento de sambistas da década 1980 ocorrido no Rio de
Janeiro. Sua primeira participação no mercado fonográfico foi no LP, de 1983, Suor no
Rosto de Beth Carvalho (1946). Em 1986 registrou seu primeiro disco, homônimo, com
sambas de sua autoria e interpretações. Na década de 1990 consolidou-se como o
principal cantor de sambas no Brasil, emplacando sucessos sucessivos.
Jorge Aragão (Jorge Aragão da Cruz, 1949) natural do Rio de Janeiro. Cantor,
cavaquinista e compositor. De formação musical intuitiva, ainda na juventude tocou em
conjuntos de baile. Participou ativamente do bloco Cacique de Ramos. Na década de
1970 teve composições registradas em fonograma por Elza Soares (1937) e Beth
Carvalho (1946), conheceu seu primeiro sucesso com o samba Malandro. Integrou o
conjunto Fundo de Quintal, com quem registrou apenas o primeiro LP de 1980. A seguir
partiu para carreira solo onde se consolidou como um dos principais cantores do
gênero.

Banjo Brasileiro instrumento brasileiro adaptação do banjo norte-americano.


Harmônico. Consiste na adaptação do braço de um cavaquinho sobre um corpo de
banjo. É composto de corpo circular em madeira ou fibra, com pele animal presa por
tarraxas em arco metálico. Braço com trastes, que prendem quatro cordas sobre o
corpo do instrumento, ligando tarraxas ao cavalete. Apresenta tessitura de duas
oitavas. Suas cordas são percutidas por palheta.

Repique de Mão instrumento de origem brasileira da família dos tambores. Rítmico.


Provém do repinique. Possui pele de nylon em apenas uma de suas extremidades. Tem
formato cilíndrico de até 50 centímetros de altura. É percutido com ambas as mãos.

Rebolo instrumento de origem brasileira da família dos tambores. Rítmico. Possui


formato cilíndrico com pele de couro ou nylon com estopa presa num aro com tarraxas
em apenas uma das extremidades. É percutido com ambas as mãos. Mais grave que o
repinique.

Melodia – Trecho da Seção A


Fonograma que utiliza perspectiva panorâmica. Os instrumentos estão distribuídos na
percepção humana. A voz solista está centralizada. Dois pandeiros de nylon, um a
direita e o segundo a esquerda. A bateria está distribuída igualmente, chimball à
esquerda, bumbo centralizada, pratos à direita, tambores médios ton-ton, centralizados.
Contrabaixo elétrico centralizado. Teclados à direita e esquerda. O violão surge
sutilmente à direita. O cavaquinho está sutilmente à esquerda. O banjo brasileiro
totalmente à direita.

Não há movimento de instrumentos pelo panorama. A partir de postados permanecem


no mesmo local por todo fonograma.

A constituição final do fonograma respeitou duas etapas, uma intuitiva na constituição


da base, a segunda praticada por um arranjador que gerou intervenções, finalização e
contracantos escritos, executados pelo violão e teclado.
QUINQUAGÉSSIMO SEXTO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Não enche de Caetano Veloso


B. Nome do intérprete: Caetano Veloso, CD Livro
C. Nome da gravadora ou selo: Mercury
D. Ano do registro: 1997
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Ijexá
H. Instrumentação: Voz, timbal, trombones, trompetes, pandeiro, bateria, baixo
elétrico, e guitarras.
I. Forma: Intro A A’ B A’’ Interlúdio A (instrumental) A’’’ Coda
J. Tempo de duração: 3:31
K. Intensidade: Dinâmica por textura
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Quaternária.
N. Descrição

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma apresenta estruturação e perspectiva panorâmica, “estéreo”. A voz e o


contrabaixo estão centralizados, assim como o surdo. Os trombones e trompetes estão
distribuídos na percepção “estéreo”. Os trompetes estão à esquerda, os trombones
estão à direita. A guitarra está à esquerda. Os atabaques tendem para a esquerda,
balanceando com o pandeiro que está à direita. Uma segunda guitarra está à direita.

O fonograma é fruto de sobreposição de camadas, onde se registra uma base


harmônica e uma voz guia, e os demais instrumentos assim como a voz são registrados
posteriormente. É fruto de uma estrutura pré-elaborada, pré-estabelecida em arranjo
formal, pautado na tradição escrita.
QUINQUAGÉSSIMO SÉTIMO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Saudade da Minha Terra de Goiá e Belmonte


B. Nome do intérprete: Ivan Vilela CD Paisagens
C. Nome da gravadora ou selo: Independente
D. Ano do registro: 1998
E. Época da gravação: Fase elétrica
F. Caráter: Instrumental
G. Gênero: Moda
H. Instrumentação: Viola caipira, violão e violino.
I. Forma: Intro A B Interlúdio A B Interlúdio A B Interlúdio B Interlúdio
J. Tempo de duração: 3:28
K. Intensidade: Dinâmica por textura.
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Ternária.
N. Descrição

Góia (Gerson Coutinho da Silva, 1935 – 1980) natural de Coromandel MG. Compositor,
cantor e radialista. De formação musical intuitiva, Góia iniciou sua carreira em 1953
quando se radicou em Goiânia dando início ao Trio da Amizade, primeiro grupo de
Goiânia a registrar músicas para o mercado fonográfico brasileiro. Compôs sucessos
como Saudade de Goiás, Baile do Adeus e Saudade da Minha Terra.

Belmonte (Pascoal Zanetti Todorelli, 1937 – 1972) natural de Barra Bonita SP. Cantor e
compositor. De formação musical intuitiva, Belmonte atuava artisticamente formando
dulpa com Amaraí (1940). Formada na segunda metade da década de 1960, a dupla,
gravou cerca de sete LPs. Belmonte compôs ao lado de Góia (1935 – 1980) o sucesso
do cancioneiro sertanejo Saudade da Minha Terra, registrada entre outros por
Chitãozinho e Xororó e Maria Bethânia (1946).
Ivan Vilela (Ivan Pinto Vilela, 1962) natural de Itajubá MG. Violeiro, cantor, compositor e
arranjador. De sólida formação musical, Ivan é graduado, pós-graduado, em
composição musical pela Universidade de Campinas. Iniciou a carreira artística aos 18
anos com o Grupo Pedra e depois com o grupo Água Doce que faziam pesquisa sobre
a música mineira. Seu trabalho instrumental mescla a música caipira num dialogismo
incessante com a música erudita. Seu disco Paisagens venceu o prêmio APCA (sigla
para Associação Paulista dos Críticos de Arte) na categoria instrumental, melhor
conjunto de câmara.

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma utiliza timidamente a perspectiva “estéreo”, o violão está levemente


postado a direita, a viola e o violino estão centralizados. Percebe-se neste registro
fonográfico que os timbres pela proximidade panorâmica se confundem. O segundo
motivo é a proximidade de alturas e a região de tessitura dos instrumentos que
permeiam o fonograma.

Este fonograma foi estruturado pela tradição escrita, pautado e registrado em


fonograma de maneira conjunta, sem sobreposição de camadas.

A partir da década de oitenta surgem no mercado fonográfico os primeiros discos com


perfil independente. Poucos ainda. A partir do final da década de noventa os discos
independentes se popularizaram, pelos avanços tecnológicos e pelo barateamento dos
equipamentos de registro fonográfico.
QUINQUAGÉSSIMO OITAVO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Se eu não ti amasse tanto assim de Herbert


Vianna e Paulo Sérgio Valle
B. Nome do intérprete: Ivete Sangalo, CD Homônimo
C. Nome da gravadora ou selo: Universal
D. Ano do registro: 1999
E. Época da gravação: Fase elétrica/digital
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Balada
H. Instrumentação: Voz, violões, piano elétrico, teclados, contrabaixo elétrico e
bateria
I. Forma: Introdução A B B (refrão) Interlúdio A B B
J. Tempo de duração: 4:10
K. Intensidade: Dinâmica
L. Caráter da música: Tonal
M. Métrica: Quaternária
N. Descrição

Ivete Sangalo (1972) natural de Juazeiro BA. Cantora e compositora. De formação


musical intuitiva, desde criança cantava entoando sucessos de Clara Nunes (1942 –
1983). Aos vinte anos estreou com banda própria, ganhando prêmios de cantora
revelação em Salvador BA. Foi convidada a participar como vocalista da Banda Eva,
com quem gravou seis discos. Em 1999 partiu para carreira solo, lançando disco
homônimo pela Polygram/Universal. Acumulou sucessos de venda, e em dez anos de
carreira solo tem cerca de seis milhões de discos vendidos.
Melodia – Trecho da Seção A

Fonograma que utiliza perspectiva panorâmica. Os instrumentos estão distribuídos no


centro e extremos da percepção humana. A voz está centralizada. Os violões, um a
direita e outro a esquerda. O contrabaixo elétrico está centralizado. A bateria distribuída
proporcionalmente entre direita e esquerda. O teclado surge em todos os pontos da
percepção humana manipulado para gerar sensações subjetivas.

O contrabaixo elétrico em sua execução se coloca representativamente como coração,


participando ativamente como representação do texto da canção. O teclado exerce
função de cama, simulando cordas em crescendo e decrescendo.

A execução do prato da bateria caminha por todo o fonograma da direita para


esquerda, técnica utilizada por engenheiros de som para enfatizar uma característica da
música, neste caso como o pulsar de um coração. No entanto, é válido observar que
mesmo com a movimentação o fonograma não perde em nenhum momento o
balanceamento entre esquerda e direita. Preocupação essa intensa para produtos do
mercado fonográfico.

O fonograma utiliza crescendos e decrescendos, como artifício emotivo, e demonstra


em sua constituição uma pré-elaboração em seu processo de construção.
QUINQUAGÉSSIMO NONO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Você e eu de Carlos Lyra e Vinícius de


Moraes
B. Nome do intérprete: Emílio Santiago CD Bossa Nova
C. Nome da gravadora ou selo: Epic
D. Ano do registro: 2000
E. Época da gravação: Fase elétrica/digital
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Samba estilo bossa-nova
H. Instrumentação: Voz, flautas, trombones, violão, piano, baixo acústico,
bateria, cordas (violino, viola e violoncello).
I. Forma: Introdução A B Interlúdio B Coda (introdução com variações)
J. Tempo de duração: 3:47
K. Intensidade: Dinâmica por textura.
L. Caráter da música: Tonal
M. Métrica: Binária
N. Descrição

Carlos Lyra (Carlos Eduardo Lyra, 1939) natural do Rio de Janeiro. Cantor, compositor
e violonista. De formação musical seccionada, intuitiva, porém fundamentada em
parâmetros da tradição escrita. Começou a compor em 1954, iniciando sua trajetória
artística. Em 1955 Silvinha Telles (1934 – 1966) registrou uma de suas composições
Menina, de sua primeira safra. Foi um dos precursores do movimento da bossa nova.
Compôs em parceria com Vinícius de Moraes (1913 – 1980) e Ronaldo Bôscoli (1929 –
1994), por exemplo. Em Tom Jobim (1927 – 1994) despertara grande admiração. Tem
mais de cento e cinqüenta músicas registradas no mercado fonográfico.

Emílio Santiago (Emílio Vitalino Santiago, 1946) natural do Rio de Janeiro. Cantor. De
formação musical intuitiva, iniciou sua atuação artística cantando em festivais na
década de 1970. Em 1973 gravou seu primeiro disco um compacto simples. Seu
primeiro LP foi gravado apenas em 1975, registrando interpretações de canções de
gêneros brasileiros com teor romântico. Venceu uma série de prêmios, e festivais, em
destaque o festival MPB Shell da TV Globo. Canta com voz possante um repertório
bastante diversificado.

EPIC – gravadora australiana iniciou atuação no Brasil na década de 1990.

Melodia – Trecho da Seção A

Fonograma que utiliza perspectiva panorâmica. Os instrumentos estão distribuídos pela


percepção humana. A voz solista está centralizada. As cordas estão distribuídas, as
graves tendem para a direita, violoncelo e viola, enquanto as cordas agudas violinos
tendem para esquerda. Os trombones tendem para a direita. A bateria tende para a
direita, com o bumbo, no entanto, centralizado. O violão está à esquerda. O contrabaixo
acústico está centralizado. O piano tende para a direita.

Os instrumentos depois de postados não se movem na perspectiva panorâmica,


permanecendo assim por todo fonograma na mesma localidade. A gravação respeita o
processo de sobreposição de instrumentos.

O fonograma apresenta um arranjo pré-elaborado calcado nas tradições escritas. A


forma tradicional, com introdução, interlúdio e finalização, permanece.
SEXAGÉSSIMO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: A chegado do Zé do Né na lagoa de dentro


de Cordel do Fogo Encantado
B. Nome do intérprete: Cordel do Fogo Encantado, CD Homônimo
C. Nome da gravadora ou selo: Rec Beat
D. Ano do registro: 2001
E. Época da gravação: Fase elétrica/digital
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Moda
H. Instrumentação: Voz, gonguê, sintetizador e rabeca.
I. Forma: Intro A
J. Tempo de duração: 1:18
K. Intensidade: Dinâmica por textura.
L. Caráter da música: Modal.
M. Métrica: indefinida
N. Descrição

Cordel do Fogo Encantado grupo vocal e instrumental fundado em 1997 em


Arcoverde PE, composto por: José Paes de Lira, o Lirinha, pandeiro e voz; Clayton
Barros, violão e voz; Emerson Calado, Nego Henrique e Rafa Almeida na percussão e
voz. Mescla em sua estética poesia, arte regional como o samba de coco, o reisado, a
embolada e a música de cantadores, e a música popular urbana brasileira e
internacional. Foi contemplado em disco produzido por Naná Vasconcelos com o
prêmio APCA de revelação na categoria banda.

Nana Vasconcelos (Juvenal de Holanda Vasconcelos, 1944) natural do Recife PE.


Instrumentista (percussionista), compositor e produtor. De formação intuitiva, iniciou sua
carreira musical atuando em cabarés e casas noturnas recifenses. A partir de um
convite de Gilberto Gil (1942) atuou em turnês do próprio artista. Radicou-se no Rio de
Janeiro atuando em dois discos de Milton Nascimento (1942). É respeitado
internacionalmente por seu trabalho como percussionista. Produziu LPs e CDs com
perfil experimental.

Sintetizador – instrumento eletrônico de combinação e manipulação de sinais acústicos


e elétricos. Rítmico, melódico e harmônico.

REC BEAT – gravadora independente, selo brasileiro, nordestino, que iniciou atuação
no final da década de 1990. Registra em seu catálogo música regional com misturas de
rock.

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma tem perfil experimental. Os instrumentos participantes transitam por


todo o panorama da perspectiva “estéreo”. Estabelece sensação de movimento numa
perspectiva visual. O cowbell se movimenta bruscamente. A seguir o sintetizador surge
no extremo direito e move-se freneticamente da direita para a esquerda. A voz se
movimenta bruscamente, como se caminhasse. Tudo conduzido gera um estado pré-
estabelecido de movimentação e confusão.

O fonograma é resultado de manipulação de registros sonoros. A voz foi registrada em


ambiente aberto, um cantador sem qualquer preparo tradicional. Num segundo
momento, registrou-se o cowbell e a rabeca, esta que foi manipulada através de um
sintetizador, equipamento digital que manipula sons reais, invertendo a onda, impondo
crescendo e decrescendo o volume.

Não há qualquer pré-elaboração pautada, ou figurada em arranjo pré-determinado.


SEXAGÉSSIMO PRIMEIRO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Só tinha de ser com você de Tom Jobim e


Vinícius de Moraes
B. Nome do intérprete: Fernanda Porto CD homônimo
C. Nome da gravadora ou selo: Trama
D. Ano do registro: 2002
E. Época da gravação: Fase elétrica/digital
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Drum’n’bass
H. Instrumentação: Voz, sintetizador e violão.
I. Forma: Intro A A B C A A B C
J. Tempo de duração: 4:16
K. Intensidade: sem dinâmica.
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Quaternária
N. Descrição

Fernando Porto (Maria Fernanda Dutra Clemente Porto, 1965) natural de Serra Negra
SP. Cantora e compositora. De formação musical calcada na tradição escrita, Fernanda
estudou canto lírico, e iniciou sua carreira musical em 1990 nos palcos das principais
capitais brasileiras. Nesta década começou a se interessar por música eletrônica, e na
fusão com a música brasileira. Em 2002 lançou seu primeiro CD com composições
próprias e interpretações de clássicos do cancioneiro brasileiro, mesclando suas
diversas influências. Remasterizado pelo DJ Patife e programado e executado pela
própria artista, seu primeiro disco alcançou sucesso na Europa, vendendo cerca de
vinte mil cópias. Seu segundo disco contou com a participação de Chico Buarque
(1944), entoando de sua autoria a canção: Cotidiano (de 1971).
Drum’n’ bass é um estilo de música eletrônica que surgiu em meados da década de
1990 na Inglaterra, com andamento acelerado que funde elementos acústicos a
eletrônicos. Em português traduze bateria e baixo. Tem perfil dançante.

Trama – gravadora brasileira, independente, fundada do final da década de 1990. Sua


atuação flerta com a música pop americana.

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma não trabalha com a perspectiva “estéreo”. Os instrumentos estão


centralizados. Em alguns momentos a reverberação artificial sugere uma abertura no
panorama, que na realidade não ocorre. Por volta de 2:01 uma nova programação
surge do lado esquerdo da percepção, gerando por um momento uma abertura
panorâmica.

Não há pré-elaboração estrutural pautada. O que há é uma construção de programação


eletrônica. O fonograma acaba com a técnica do fade out.
SEXAGÉSSIMO SEGUNDO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Pisa no pilão de Xérem


B. Nome do intérprete: Cris Aflalo, CD Só Xérem
C. Nome da gravadora ou selo: Independente
D. Ano do registro: 2003
E. Época da gravação: Fase elétrica/digital
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Xote
H. Instrumentação: Vozes, guitarra, violões, agogô, estalo de dedos, zabumba,
triângulo, ganzá, e flauta.
I. Forma: Intro A (refrão) B interlúdio A B interlúdio 2 B’ A B Coda
J. Tempo de duração: 2:34
K. Intensidade: Dinâmica por textura.
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Binária.
N. Descrição

Xerém (1911 – 1979) natural de Recife CE. Cantor e compositor. De formação musical
intuitiva, iniciou carreira artística cedo em uma trupe artística familiar. Apresentou-se na
rádio, em programas de TV e registrou cerca de quarenta e cinco discos. O auge de
sua produção foi entre as décadas 1930 e 1950.

Cris Aflalo (1976) natural de São Paulo. De formação musical intuitiva, iniciou sua
carreira atuando em bares e casas noturnas. No ano de 2003 estreou com um álbum
em formato CD, intitulado Só Xerem que se destaca pelo regionalismo com gêneros
como xote, baião e coco.

Independente – a partir do início do século XX, com a praticidade dos sistemas de


gravação digital, de replicação e produção visual, artistas constroem seus próprios
álbuns, abrindo de vez um mercado alternativo, que dava seus primeiros clarões na
década de 1980.

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma utiliza perspectiva panorâmica, “estéreo”. Os instrumentos estão


distribuídos na percepção humana. A voz está centralizada, as vozes extras quando
surgem trazem a voz masculina à direita e a dobra feminina a esquerda. A voz central
quando cantarola é manipulada pela percepção, vagando pelo pólo esquerdo e direito.
A flauta está postada como contracanto a esquerda em 1:08, no entanto se move para
o centro em 1:18 e a direita em 1:21. Em 1:27 a flauta está centralizada no momento do
interlúdio. A zabumba também se move na percepção, seu som grave de tambor está
para a esquerda. O triângulo está à esquerda, o estalo de dedos está centralizado, a
guitarra está à esquerda. O ganzá surge à esquerda. O agogô se move de quatro em
quatro toques na percepção panorâmica, depois se mantém a direita.

Todas essas variações criam uma sensação de movimento, no entanto nunca se perde
o balanceamento entre os lados. O arranjo estrutural, no que se refere a forma, foi
previamente concebido, determinado em linguagem pautada.
SEXAGÉSSIMO TERCEIRO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Imperial de Wilson das Neves e Paulo César


Pinheiro
B. Nome do intérprete: Wilson das Neves, CD Brasão de Orfeu
C. Nome da gravadora ou selo: Quelé
D. Ano do registro: 2004
E. Época da gravação: Fase elétrica/digital
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Samba
H. Instrumentação: Voz, coro, trombone, violão, cavaquinho, piano, baixo
elétrico, bateria e tamborins.
I. Forma: Introdução A A B A B Interlúdio Coda
J. Tempo de duração: 4:07
K. Intensidade: Dinâmica por textura.
L. Caráter da música: Tonal
M. Métrica: Binária
N. Descrição

Wilson das Neves (1936) natural do Rio de Janeiro. Cantor, compositor e baterista. De
formação musical intuitiva, estruturou seu conhecimento com a atuação musical
profissional em orquestras e grupos de baile. Aos 21 anos estreou como baterista da
Orquestra de Permínio Gonçalves. Seu primeiro LP foi lançado, em 1968, intitulado Elza
Soares e o baterista Wilson das Neves. Como instrumentista gravou e tocou com os
principais nomes da música brasileira, entre os quais Chico Buarque (1944), com quem
ainda atua. Lançou dois discos como compositor e cantor, basicamente com sambas
que homenageiam e demonstram sua grande ligação com a Escola de Samba Império
Serrano.

Quelé – selo da gravadora Biscoito Fino. Especializado em samba, seus discos são
fruto de financiamento cultural, via lei Rouanet
Melodia – Trecho da Seção A

Fonograma que utiliza perspectiva panorâmica. Os instrumentos estão distribuídos na


percepção humana. Centralizada está a voz. O cavaquinho está totalmente à esquerda.
O violão está à direita. O contrabaixo está centralizado, assim como a bateria. Existem
tamborins dois à esquerda, e dois à direita. O coro de vozes captadas individualmente
distribui-se entre direita e esquerda. O trombone está sutilmente à direita.

Este fonograma foi registrado através de sobreposição de camadas, está calcado em


um arranjo pré-elaborado delimitando aspectos como forma e introdução. Não há
contracantos pré-determinados.

Os instrumentos postados não se movem na perspectiva panorâmica.


SEXAGÉSSIMO QUARTO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: WWW.sem de Zé de Riba


B. Nome do intérprete: Zé de Riba, CD Reprocesso
C. Nome da gravadora ou selo: Urban Jungle
D. Ano do registro: 2005
E. Época da gravação: Fase elétrica/digital
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Embolada
H. Instrumentação: Vozes, pandeiros, sintetizador, baixo e zabumbas.
I. Forma: Intro A A’ B A A’ B Coda
J. Tempo de duração: 3:50
K. Intensidade: Dinâmica por textura.
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Binária.
N. Descrição

Zé de Riba (José Ribamar de Araújo, 1960) natural de Dom Pedro MA. Cantor e
compositor. De formação musical intuitiva, Zé de Riba iniciou sua atuação artística
como pandeirista de embolada. Atuou em peças teatrais. Teve como maior incentivador
Jackson do Pandeiro (1919 – 1982), que guarda como referência estética. Duas de
suas canções foram gravadas no CD Seda Pura de 2001, pela cantora Simone (1949).
Registrou seu primeiro disco em 2005, misturando regionalismo com música eletrônica.

Embolada gênero rural de canto improvisado ou não, comum ao norte e nordeste


brasileiro. Na embolada as palavras se misturam quase que numa só respiração. Pode
ocorrer em forma de desafio, onde dois indivíduos discutem um tema pré-determinado.
Apresenta métrica binária, com instrumentação geralmente de pandeiros ou um
conjunto de violas. A melodia é repetitiva, e não há preocupação harmônica.
Urban Jungle – gravadora brasileira do início do século XXI que atua também com
administração de carreiras de artistas. Flerta em seu catálogo com a música eletrônica
em fusão com a música popular brasileira.

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma utiliza a perspectiva panorâmica estéreo. Há movimento panorâmico


entre os instrumentos que fazem parte do registro fonográfico. A voz e o pandeiro estão
centralizados, enquanto a zabumba apresenta sua sonoridade aguda, bacalhau, à
esquerda. O som grave da zabumba está postado a direita da percepção humana. Uma
segunda zabumba surge a esquerda a partir de 2:00. O contrabaixo elétrico que surge
em 2:08 e está centralizado. Os efeitos de programação são constantemente
manipulados surgem a direita e dissipam-se a esquerda ou vice-versa. Em outros
momentos ficam alternando direita e esquerda, dando sensação de movimento tabelar.

Este fonograma não recorre à tradição escrita, não há registro pautado ou pré-
elaboração. O intérprete cantou ao pandeiro gerando gravação definitiva, as demais
ocorrências foram sobrepostas, inseridas posteriormente.
SEXAGÉSSIMO QUINTO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: Lembre de Joca Freire e João Marcondes


B. Nome do intérprete: Joca Freire, CD Amigo Samba
C. Nome da gravadora ou selo: CPC UMES
D. Ano do registro: 2006
E. Época da gravação: Fase elétrica/digital
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Samba
H. Instrumentação: Voz, flautas, violões, violão de 7 cordas, cavaquinho, piano
elétrico, pandeiro, reco-reco, tamborim, ganzá e surdo.
I. Forma: Introdução A B A B Coda
J. Tempo de duração: 2:20
K. Intensidade: Dinâmica por textura.
L. Caráter da música: Tonal
M. Métrica: Binária
N. Descrição

Joca Freire (João Carlos Cardoso Freire, 1964) natural de São José dos Campos SP.
Cantor, compositor e violonista. De formação musical intuitiva, iniciou sua carreira
atuando em bares e casas noturnas do Vale do Paraíba. Registrou três CDs
independentes entre 2000 e 2005, sendo que um contém apenas poesias musicadas de
Cassiano Ricardo (1895 – 1974), poeta modernista.

João Marcondes (João Marcondes da Silva Neto, 1984) natural de São Paulo SP.
Compositor, arranjador, produtor e diretor musical, instrumentista e letrista. De sólida
formação musical, iniciou seus estudos musicais ao piano aos cinco anos de idade.
Tem três discos lançados como compositor, trabalhando com estéticas alternativas.

CPC-UMES – gravadora brasileira financiada por órgãos estudantis, trabalha com


samba, choro e música brasileira cancioneira.
Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma utiliza perspectiva panorâmica. Os instrumentos estão distribuídos na


percepção humana. A voz está centralizada. O violão base está sutilmente à direita. O
cavaquinho e o violão de sete cordas estão a esquerda. O piano elétrico e o violão solo
estão à direita. O pandeiro está à direita, assim como o tamborim e o reco-reco. O
ganzá surge centralizado. As flautas na introdução e contracantos permanecem
centralizadas.

Os instrumentos postados não se movem na perspectiva panorâmica.

O fonograma foi constituído com pré-elaboração estética, com gravação de arranjo pré-
determinado constituído formalmente calcado nas tradições escritas.
SEXAGÉSSIMO SEXTO FONOGRAMA

A. Nome da composição e autor: De batuque na cozinha de Chico Saraiva e


Mauro Aguiar
B. Nome do intérprete: Chico Saraiva CD Saraivada
C. Nome da gravadora ou selo: Biscoito Fino
D. Ano do registro: 2007
E. Época da gravação: Fase elétrica/digital
F. Caráter: Vocal
G. Gênero: Samba
H. Instrumentação: Vozes, violões, tamborim, prato e faca, bateria, baixo
fretless, alfaia, xequerê e gonguê.
I. Forma: Intro A B C A B C D Interlúdio C D D’ A’
J. Tempo de duração: 3:28
K. Intensidade: Dinâmica por textura e
L. Caráter da música: Tonal.
M. Métrica: Quaternária.
N. Descrição

Chico Saraiva (Francisco Saraiva da Silva, 1973) natural do Rio de Janeiro RJ.
Compositor, violonista, arranjador e produtor musical. De formação musical sólida,
Chico Saraiva iniciou seus estudos musicais ao violão, tendo a prática do violão erudito
como ferramenta. Em 1992 ingressou na Faculdade de Música da Universidade de
Campinas, onde concluiu bacharelado. Chico atuou como instrumentista de projetos
como A Barca, grupo de pesquisa da música tradicional brasileira, acompanhando
cantoras e em projetos instrumentais como o trio Água. Atuou intensamente no cenário
da música instrumental. Em 2003 venceu o VI Prêmio Visa - Edição Compositores, com
canções de caráter experimental letradas por Paulo César Pinheiro (1949), Luiz Tatit
(1951) e Mauro Aguiar (1968). Gravou como resultado deste trabalho o disco Trégua.
Mauro Aguiar (Mauro Martins Aguiar, 1968) natural do Rio de Janeiro RJ. Cantor,
compositor e letrista. De formação musical intuitiva, iniciou sua atuação artística em
grupos vocais. Sua atuação de maior destaque refere-se às letras para canções de
Guinga (1950), Rodrigo Lessa (1962), José Miguel Wisnik (1948) e Chico Saraiva
(1972). Suas composições já foram interpretadas por Leila Pinheiro (1960) e Simone
Guimarães (1966).

Prato e faca – instrumento de percussão, sem altura definida. Rítmico. Utensílio


doméstico, que nas mãos de afro-brasileiros tornou-se instrumento musical. Prato
geralmente de cerâmica grossa, e faca de metal. No mercado fonográfico foi registrado
primeiramente por João da Bahiana (1887 – 1974) cantor e compositor de jongos e
sambas-de-roda.

Biscoito Fino – gravadora brasileira surgida na metade da década de 1990.


Especializada em música brasileira e erudita.

Melodia – Trecho da Seção A

Este fonograma recorre à perspectiva panorâmica, “estéreo”. Não há movimento


panorâmico. O violão surge centralizado, o tamborim está à esquerda, o prato e faca
está a direita. A voz solo está centralizada, a voz responsável pelo contracanto e pelo
canto da repetição está sutilmente postada a direita. A bateria está postada sutilmente à
esquerda, embora o prato de condução esteja à direita. O baixo está centralizado. O
violão solo que surge no interlúdio está postado a direita. No final, surgem duas alfaias,
uma em cada pólo, o gonguê está levemente à direita.
O fonograma tem pré-elaboração na forma estrutural, pautada. O fonograma foi
registrado com um perfil ao vivo de violão, voz guia, bateria e baixo fretless. Num
segundo momento foram acrescidas as percussões.
CAPITULO IV – USO DOS RECURSOS MUSICAIS E TECNOLÓGICOS
INESPLORADOS NA CONSTRUÇÃO DE UM FONOGRAMA SOB VIÉS
ARTÍSTICO PARA A MÚSICA POPULAR BRASILEIRA

1 AS DINÂMICAS CONTRASTANTES E O PADRÃO RÁDIO

Desde os primórdios da produção fonográfica brasileira, os recursos tecnológicos


desenvolvidos no exterior foram utilizados apenas para melhorias no produto comercial:
fonograma. Os produtos do mercado fonográfico estabeleceram diretrizes artísticas
algumas muito questionáveis.

Nas mais diferentes roupagens, em álbuns, ou em MP3, o fonograma atuou


insistentemente com concepção e existência individual. Adquiriu tempo estável para
execução em rádios, neste caso, interagindo intercalado com narrações e anúncios,
com grau sugestivo de lucratividade comercial.

Independentemente da circunstância que o fonograma fora produzido, sendo ele fruto


das grandes gravadoras, multinacionais, ou concebidas em estúdios particulares, de
selos independentes, nos dias de hoje o resultado tecnológico buscado é exatamente o
mesmo, com sonoridade limpa, com brilho, e calcado nos padrões supracitados. Salve
o conteúdo, mais questionável nos grandes aportes culturais, o produto fonograma
artisticamente é idêntico.

Os fonogramas apresentam padrão comercial 0db (zero decibel), conceito técnico que
nivela o fonograma para veiculação em meios de comunicação, rádio e tele-difusão.

Como sugestão artística, por exemplo, cada instrumento possui uma região de
dinâmica, medida em decibel. Em parâmetros subjetivos, é possível executar um
instrumento como o violão acusticamente em cinco ou seis graus de dinâmica.
Essa ótica é conflituosa com o padrão rádio. Se tocar um violão, por exemplo, em
pianíssimo, o padrão 0db não será atingido. Na realidade nem um décimo desse padrão
será obtido. Em alguns momentos o contraste, traz a expressão artística que se busca.
Para o padrão comercial, no entanto, a expressividade do fonograma é supérflua.

O uso da dinâmica fundamenta o fonograma artístico. Obviamente este fonograma


precisará de mais atenção para ser apreciado, compreendido e diluído.

Se os instrumentos fazem do fonograma um objeto totalmente expressivo, a dinâmica é


artisticamente um valor fundamental.

Um fonograma produzido hoje oscila apenas via dinâmicas por textura, de maneira
subjetiva oscilando entre uma mezzo forte e forte. Em parâmetros físicos, uma variação
máxima de dois decibéis.
2 O USO DO PANORAMA

O uso da perspectiva panorâmica surgiu na década de 1960 no Brasil, dando a


possibilidade de manipular em dois pólos, direita e esquerda, estéreo, o áudio captado
na constituição do fonograma.

Como na percepção humana, o uso de dois pólos, localiza os instrumentos dentro de


um imaginado campo visual. Se um violão está 100% à esquerda, visualmente o
cérebro localiza o emissor sonoro num extremo, se o contrabaixo está a 50% à
esquerda, visualmente ficará em uma posição intermediária, se a bateria está no ponto
zero, assim como a voz ficará centralizada, se o piano está 50% a direita, visualmente
ficará em posição intermediária, se a flauta transversal estiver 100% a direita,
visualmente estará nesse mesmo extremo.

O uso do panorama, constituído no mercado fonográfico, também prima pela


visualidade. Primordialmente, para que cada instrumento imponha suas características,
sem perder, no geral, o conceito de um todo, de um fonograma.

O fonograma comercial, por norma técnica, não pode em nenhuma hipótese surgir
desbalanceado, ou seja, ambos os lados precisam dividir precisamente a massa sonora
que o compõe. Assim, no padrão comercial, ao colocar um instrumento no extremo
esquerdo, é preciso refletir, compensar no extremo oposto.

A perspectiva panorâmica quando utilizada desbalanceadamente, é considerado um


erro crasso num fonograma de padrão comercial do mercado fonográfico. Pauta-se
nesse elemento grande valor artístico. Não há necessidade, para um fonograma de
construção não comercial, obedecer tantas diretrizes e normas tecnológicas.
O fonograma artístico, como um todo pode trafegar desproporcionalmente dentro da
perspectiva panorâmica, constituindo sensações de movimento, de confusão, de
desordem, e de reorganização.

No mercado fonográfico, como observado, alguns elementos trafegam sobre a


perspectiva panorâmica desde meados da década de 1980. Objetivando exatamente
conceber sensações subjetivas em torno do fonograma. É claro, que mesmo com o
movimento, o fonograma do mercado fonográfico não perde balanceamento.

Atuar quebrando certos paradigmas gera uma referência estética artística. O


experimentalismo tecnológico se sobrepõe aos clichês comerciais.
3 O USO DO METRÔNOMO NA PRODUÇÃO DE FONOGRAMAS

Metrônomo, medida de tempo, aparelho desenvolvido no século XIX, por um relojoeiro


nomeado Johann Mälzel (1772 – 1838), tem a função de medir andamentos através de
um pulso regular, constante. Proporcionalmente se compara a medida dos segundos,
sessenta batidas por minuto. Mensura tempos entre trinta e duzentos e quarenta pulsos
por minuto aproximadamente.

O mercado fonográfico brasileiro instituiu, a partir da década de 1960, com o advento


da técnica de sobreposição de camadas, o metrônomo como ferramenta de gravação.
Mede-se o pulso constante para gravações posteriores, facilitando na sincronização das
camadas.

Identificado um padrão, é de grande valia ter a possibilidade de alternar andamentos.


Acelerar e diminuir proporcionalmente o pulso constante. Parar bruscamente o pulso.
Retomar em outro andamento. Não utilizar pulso constante em dado momento.

A produção atual de fonogramas utiliza metrônomo, independente da circunstância


mercadológica, da grande ou pequena difusão.

Trabalhar com o tempo sem um padrão constante traz ao objeto musical, ao fonograma,
uma variedade primordial para um pensamento artístico.
4 ARRANJO E INSTRUMENTAÇÃO

A duração comercial de um fonograma do mercado brasileiro atual oscila entre dois e


quatro minutos, compreendendo uma estrutura completa.

A introdução, caso haja, por exemplo, não pode ser maior que trinta segundos. Nos
fonogramas onde a introdução extrapola este tempo, cortes ocorrem nos meios de
comunicação, como interferência comercial.

O interlúdio não pode ser longo, para que a idéia da música, do texto permaneça, para
que haja assim interesse do ouvinte, para que o ouvinte não disperse. Questiona-se no
interlúdio a capacidade de comunicação da música ou seção instrumental, ou a falta de
capacidade de apreciação da música ou seção instrumental.

A finalização, coda, quando instrumental, precisa intercalar letra, como a última


mensagem que o texto aborda.

Observa-se dentro de uma estrutura padrão, clichê, que os fonogramas ocorrem dentro
apenas de duas formas estruturais:

Primeira forma:
Introdução | Apresentação da música | Interlúdio | Reapresentação da música |
Coda

Segunda Forma:
Introdução | Apresentação da música | Reapresentação da música | Coda

Os padrões detectados desde o princípio do século XX, conflitam com um conceito


artístico que busca o novo, o experimento dentro dos recursos musicais, e por que não
dos tecnológicos.
Um fonograma, tecnologicamente, nos dias de hoje, pode oscilar entre 1 segundo e
oitenta minutos - se utilizar o viés do disco que expõe tal limitação, e entre 1 segundo
ao infinito se utilizar apenas o viés digital, mp3, por exemplo. Essas possibilidades
contrastam, desrespeitando diretrizes comerciais.

Um fonograma pode ter vários momentos. Crescer e decrescer. Interromper


bruscamente. Alterar a forma, andamento, instrumentação. Combinar timbres,
manipular sons eletronicamente, atuar artisticamente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Obviamente que o mercado fonográfico e os meios divulgadores precisam de um


padrão. Pela logística, se cada indivíduo constituir um fonograma de uma maneira livre,
como o mercado faria para assimilar as individualidades?

O pensamento acima descrito institui o fonograma como objeto comercial, que


necessita de divulgação para movimentar o mercado fonográfico.

O fonograma é constituído em sete etapas bem definidas:

1) Definição de nicho de mercado.


2) Seleção de tendências musicais.
3) Formatação de um produto.
4) Produção estética musical do produto.
5) Produção visual do produto.
6) Divulgação de um fonograma nos meios de comunicação.
7) Comercialização atualmente nos formatos CD, MP3 e DVD.

Independente do momento da história fonográfica brasileira, o fonograma, ou o objeto


portador do fonograma, foram tratados como produto instituído. A proposta descrita não
tem valor mercadológico, nem intuito comercial.

O fonograma, como vimos, oferece parâmetros e possibilidade inerentes na construção


de um novo pensamento artístico. Muitos desses parâmetros tecnológicos já foram
utilizados pelo mercado fonográfico com zelo, ou como artifício na concepção de um
produto.
Uma nova forma, uma nova estética, independe de valores comerciais, de tendências
de mercado, e clichês culturais. Cada fonograma aqui classificado é artístico para sua
época, para cada pessoa, para cada momento. Agora o momento é do próximo passo.
BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA

ALMEIDA, Renato. História da Música Brasileira. Rio de Janeiro: Sem menção, 1932.

ANDRADE, Mário de. Pequena História da Música. 9ª edição. Belo Horizonte: Itatiaia
Limitada, 1987.

__________, Dicionário Musical Brasileiro. Belo Horizonte – Rio de Janeiro: Editora


Itatiaia, 1999.

CARDOSO, André. A música na corte de Dom João VI. São Paulo: Editora Martins
Fontes, 2008.

CRAVO ALBIN, Ricardo. Dicionário Houaiss Ilustrado – Música Popular Brasileira – Rio
de Janeiro: Editora Paracatu, 2006.

DINIZ, André. O rio musical de Anacleto de Medeiros. Rio de Janeiro: Editora Zahar,
2007.

FRANCESHI, Humberto M. A Casa Edson e seu tempo. Rio de Janeiro: Editora Sarapuí
e Biscoito Fino, 2004.

MARCONDES S. N, João & FERRONATO. Cristiane. Instrumentos musicais no Brasil:


Uma abordagem didática. São Paulo. Editora BAC 2006.

MARIZ, Vasco. História da música no Brasil. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira,


1983.

PINTO, Alexandre Gonçalves. O Choro: reminiscências dos chorões antigos. Rio de


Janeiro, sem menção, 1936.
TINHORÃO, J. Ramos. História Social da Música Popular Brasileira. São Paulo: Editora
34, 1998

_________________. Música Brasileira – um tema em debate. Rio de Janeiro – Rio de


Janeiro: Editora 34, 1966.
_________________. Música Popular – do Gramofone ao Rádio e TV. Rio de Janeiro:
Editora Ática, 1981.
BIBLIOGRAFIA DE CONSULTA

ALMEIDA, Renato. A formação moderna do Brasil. Rio de Janeiro: sem menção, 1923.

ALVARENGA, Oneyda. Dicionário Musical Brasileiro. Belo Horizonte, Itatiaia, 1999.

CARVALHO, Ilmar. Choro carioca: perspectiva sócio-histórica. Revista Vozes: n.9 1972.

CASCUDO, Luís Câmara. Dicionário de Folclore Brasileiro. São Paulo: Global, 2002.

CERNICHIARO, Vincenzo. História della musica nel Brasile. Milão, Fratelli Riccione,
1926.

DAMIÃO, José Pedro. Tradicionais bandas de música. Recife: sem menção, 1970.

DIAS, Paulo A. F. São Paulo corpo e alma. São Paulo: Assoc. Cultural Cachuera!,
2003.

DICIONÁRIO, Grove de música. Edição concisa / editado por Stanley Sadie; editora-
assistente, Alison Latham; tradução. Eduardo Francisco Alves. – Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1994.

EFEGÊ, Jota. Figuras e coisas da música popular brasileira. Vols. 1 e 2. Rio de Janeiro:
Funarte, 1978 e 1980.

Enciclopédia da Música Brasileira: popular, folclórica e erudita. São Paulo: Art Editora:
Publifolha, 1998.

FRANCESHI, Humberto M. Registros sonoros por meios mecânicos no Brasil. Rio de


Janeiro: Studio HMF, 1984.
HENRIQUE, Luís. Instrumentos Musicais. 3ª edição. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbemkian, 1999.

KIEFER, Bruno. História da Música Brasileira – Dos primórdios ao início do Século XX.
4ª edição. Porto Alegre: Movimento, 1977.

MANN, Henrique. Som do Sul – A História da Música do Rio Grande do Sul no Século
XX. Porto Alegre: Tchê, 2002.

PAGANO, Letícia. A música e sua história. 2ª edição. São Paulo: Ricordi Brasileira,
1968.

RIBEIRO, Maria de Lourdes Campelo. Aspectos da Música do Rio Antigo. Rio de


Janeiro, edição própria, 1976.
ANEXO
Índice de Fonogramas – Arquivos em MP3

1. 1902 – Eduardo das Neves – Odeon – Casa Edison

Música: Isto é bom (Xisto Bahia)

2. 1907 – Patápio Silva – Odeon

Música: Zinha (Patápio Silva)


Gênero: Polca

3. 1911 – Grupo Chiquinha Gonzaga – Odeon

Música: Atraente (Chiquinha Gonzaga)


Gênero: Polca

4. 1917 – Baiano – Odeon

Música: Pelo Telefone (Donga – Mauro de Almeida)


Gênero: Samba

5. 1923 – Os oito batutas – Victor

Música: Urubu Malandro (Motivo Popular)


Gênero: Choro

6. 1930 – Ratinho – Victor

Música: Brincando (Ratinho)


Gênero: Choro
7. 1933 – Mário Reis – Columbia

Música: Philosofia (Noel Rosa – André Filho)


Gênero: Samba

8. 1934 – Carmen Miranda – Victor

Música: Por Especial Favor (Ary Barroso)


Gênero: Marcha

9. 1936 – Noel Rosa – RCA Victor

Música: Palpite Infeliz (Noel Rosa)


Gênero: Samba

10. 1937 – Trio Carioca – Victor

Música: Cabuloso (Radamés Gnatalli)


Gênero: Choro

11. 1941 – Pixinguinha – Victor

Música: Lamento (Pixinguinha)


Gênero: Polca

12. 1942 – Odete Amaral - Victor

Música: Diz que vai vai (Hanibal Cruz)


Gênero: Polca
13. Trio de Ouro – Victor

Música: Senhor do Bomfim (Herivelto Martins)


Gênero: Samba canção

14. 1950 – Cascatinha e Inhana – Primeiro anos e grandes sucessos – Todaamérica

Música: La paloma (S. Yradier – Versão: Pedro de Almeida)


Gênero: Moda

15. 1953 – Dorival Caymmi – Odeon

Música: João Valentão (Dorival Caymmi)


Gênero: Samba

16. 1954 – Jackson do Pandeiro – Odeon

Música: Sebastiana (Rosil Cavalcanti)


Gênero: Xaxado

17. 1956 – Donato e seu Conjunto – Chá Dançante

Música: Baião (Luiz Gonzaga – Humberto Teixeira)


Gênero: Baião

18. 1958 – Elizeth Cardoso – Odeon

Música: Chega de Saudade (Tom Jobim - Vinícius de Moraes)


Gênero: Samba
19. 1960 – Anísio Silva – Alguém me disse – Odeon

Música: Alguém me disse (Evaldo Gouveia – Jair Amorim)


Gênero: Bolero

20. 1961 – Luis Eça e Astor – Cada qual melhor – Gravadora Odeon

Música: Meditação (Newton Mendonça e Tom Jobim)


Gênero: Samba

21. 1962 – Luís Bonfá – O Violão e o Samba – Gravadora Odeon

Música: Inquietação (Ary Barroso)


Gênero: Samba

22. 1963 – Tamba Trio – Odeon

Música: Sonho de Maria (Marcos Valle – Paulo Sérgio Valle)


Gênero: Samba

23. 1964 – Meirelles e os copa 5 – O som – Gravadora Universal

Música: Quintessência (J. T. Meirelles)


Gênero: Samba, estilo Bossa Nova.

24. 1965 – Maria Bethânia – BMG

Música: Carcará (João do Valle – José Candido)


Gênero: Samba
25. 1966 – Baden Powell e Viníciusde Moraes – Os Afrosambas - Universal

Música: Canto de Osanha (Baden e Vinícius)


Gênero: Samba

26. 1967 – Edu Lobo, Marilia Medalha e Quarteto Novo – Warner

Música: Ponteio (Edu Lobo – Capinam)


Gênero: Baião

27. 1968 – Tropicália – Panit et circencis – Universal

Música: Parque Industrial (Tom Zé)


Gênero: Marcha/Funk

28. 1969 – Caetano Veloso - Warner

Música: Atrás do trio elétrico (Caetano Veloso)


Gênero: Frevo Canção

29. 1970 – Moreira da Silva – Conversa de Botequim – Gravadora EMI

Música: Conversa de Botequim (Vadico – Noel Rosa)


Gênero: Samba

30. 1971 – Chico Buarque – Construção – Gravadora Polygran

Música: Construção (Chico Buarque)


Gênero: Samba
31. 1972 – Paulinho da Viola – A dança da solidão – Gravadora Odeon

Música: Ironia (Paulinho da Viola)


Gênero: Samba

32. 1973 – Ismael Silva – Se você jurar – Gravadora RCA Victor

Músicas: Nem é bom falar (Ismael Silva – Francisco Alves e Noel Rosa)
Adeus (Ismael Silva – Noel Rosa)

33. 1974 – João Bosco – Galo de Briga – Gravadora BMG

Música: O Rancho da Goiabada (João Bosco – Aldir Blanc)


Gênero: Marcha

34. 1975 – Radamés Gnatalli – Sexteto Gravadora Odeon

Música: Um a Zero (Pixinguinha – Benedito Lacerda)


Gênero: Choro

35. 1976 – Clara Nunes – Canto das três raças – Gravadora EMI

Música: Canto das três raças (Paulo César Pinheiros – Mauro Duarte)
Gênero: Samba

36. 1977 – Ivan Lins – Somos todos iguais esta noite – Gravadora

Música: Somos todos iguais esta noite (Ivan Lins – Vitor Martins)
Gênero: Marcha
37. 1978 – Elis Regina – Transversal do tempo – Gravadora Universal

Música: Cartomante (Ivan Lins – Vitor Martins)


Gênero: Funk

38. 1979 – Clementina – Clementina – Gravadora EMI

Música: Na hora da sede (Luís Américo – Braguinha)


Gênero: Samba

39. 1980 – Milton Nascimento – Sentinela – Gravadora Universal

Música: Sentinela (Milton Nascimento e Fernando Brant)


Gênero: Toada

40. 1981 – Almir Sater – Rasta Bonito – Gravadora Continental

Música: Se o violeiro toca (Almir Sater – Renato Teixeira)


Gênero: Moda

41. 1982 – Sivuca – EMI

Música: Forró em Santa Luzia (Sivuca – Glorinha Gadelha)


Gênero: Bolero - Forró

42. 1983 – Caetano Veloso - - Gravadora Warner Chapell

Música: Trem das cores (Caetano Veloso)


Gênero: Baião
43. 1984 – Titãs – Titãs – Gravadora Warner Chapell

Música: Sonífera Ilha


Gênero: Pop/Rock/SKA

44. 1985 – Gilberto Gil – Dia dorin noite neon – Gravadora Som Livre

Música: Nos Barracos da Cidade (Gilberto Gil – Liminha)


Gênero: Reggae

45. 1986 – Djavan – Meu Lado – Gravadora Som Livre

Música: Romance (Laranjinha)


Gênero: Xote

46. 1987 – Paralamas do Sucesso – BMG

Música: Alagados (Herbert Vianna – Bi Ribeiro – João Barone)


Gênero: Pop Rock

47. 1988 – Marisa Monte – Marisa Monte - EMI

Música: Comida (Arnaldo Antunes – Sérgio Britto – Marcelo Fromer)


Gênero: Pop

48. 1989 – Legião Urbana – Quatro Estações – EMI

Música: Pais e Filhos (Legião Urbana)


Gênero: Pop
49. 1990 – Alceu Valença – Andar andar

Música: Loa de Lisboa (Alceu Valença)


Gênero: Ijexá

50. 1991 –Djavan – Coisa de Acender - EPIC

Música: Violeiros (Djavan)


Gênero: Baião

51. 1992 – Daniella Mercury – O canto da cidade – Columbia

Música: O Canto da cidade (Tote Gira – Daniella Mercury)


Gênero: Axé

52. 1993 – Clube de Esquina n.º 2 – Ângelus – Warner Chapell

Música: Clube da Esquina n.º 2 (Milton Nascimento – Lô Borges e Marcio Borges)


Gênero: Toada - Samba

53. 1994 – Zecé di Camargo e Luciano – 4º disco – Columbia

Música: Salva meu coração (Zezé di Camargo)


Gênero: Sertanejo

54. 1995 – Mamonas Assassinas – Gravadora EMI

Música: Pelados em Santos (Dinho)


Gênero: Bolero – Rock
55. 1996 – Zeca Pagodinho – Gravadora Universal

Música: Não sou mais disso (Zeca Pagodinho e Jorge Aragão)


Gênero: Samba

56. 1997 – Caetano Veloso – Livro – Gravadora Mercury

Música: Não enche (Caetano Veloso)


Gênero: Ijexá

57. 1998 – Ivan Vilela – Independente

Música: Saudade da minha terra (Goiá e Belmonte)


Gênero: Moda

58. 1999 – Ivete Sangalo – Universal

Música: Se eu não ti amasse tanto assim (Herbert Vianna – P. S. Valle)


Gênero: Balada

59. 2000 – Emílio Santiago – Epic

Música: Você e eu (Carlos Lyra e Vinícius de Moraes)


Gênero: Samba, estilo bossa nova

60. 2001 – Cordel do Fogo Encantado – Rec Beat

Música: A chegada do Zé do Né na lagoa de dentro (Cordel do Fogo Encantado)


Gênero: Moda
61. 2002 – Fernanda Porto – Fernanda Porto – Gravadora Trama

Música: Só tinha de ser com você (Tom Jobim – Vinícius de Moraes)


Gênero: Drum‟n‟Bass

62. 2003 – Cris Aflalo – Só Xerém – Independente/Tratore

Música: Pisa no Pilão (Xerém)


Gênero: Xote

63. 2004 – Wilson das Nevers – Brasão de Orfeu – Quelé

Música: Imperial (Wilson das Neves – Paulo César Pinheiro)


Gênero: Samba

64. 2005 – Zé de Riba – Reprocesso – Gravadora Urban Jungle

Música: www.sem (Zé de Riba – Romildo Soares)


Gênero: Baião

65. 2006 – Joca Freire – Amigo Samba- CPC Umes

Música: Lembre (Joca Freire – João Marcondes)


Gênero: Samba

66. 2007 – Chico Saraiva – Saraivada – Gravadora Biscoito Fino

Música: De batuque da cozinha (Chico Saraiva – Mauro Aguiar)


Gênero: Samba

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