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p.11: “Enquanto Marx emigra da Alemanha para a França, Engels é enviado à Inglaterra
para ali fazer o aprendizado dos negócios. Entra em contato com a realidade da grande
indústria capitalista. O choque provocado por esse encontro com as contradições da
sociedade burguesa determinará o curso de seus pensamentos para o resto de seus dias”.
p.12: Fora o Esboço genial de Engels (redigido ao fim de 43) que impeliu Marx ao
estudo da Economia política. Em 1842, enquanto Engels já se declara comunista
Marx anuncia seu estudo sério para “criticá-lo adequadamente”.
p.13: Embora cada um ao seu modo, o itinerário de Marx e Engels segue esse esquema:
“da crítica da religião à crítica da Filosofia; da crítica da Filosofia à crítica do Estado; da
crítica do Estado à crítica da sociedade, isto é, da crítica da política à crítica da
Economia política, que termina na crítica da propriedade privada”. Engels e Mehring
afirmam que Marx nada conhecia de economia política até 1843. Plekhanov e Pierre
Naville relativizam essa tese por causa da influência de Smith sobre o jovem Hegel.
p.15: Na análise das leis sobre o roubo de lenha o problemas das classes sociais já se
põem (direito de propriedade x direito das pessoas). “E ele pressente numa
disposição penal que atribui ao proprietário o trabalho do ladrão para compensar suas
perdas, a chave principal de sua futura teoria da mais-valia: é o trabalho forçado não-
retribuído que é a fonte das ‘porcentagens’, isto é, do interesse, isto é, do lucro”.
p.16: Marx descobre os problemas econômicos quando lida com os problemas do roubo
de lenha e da miséria dos vinhateiros do Mosela. Descoberta da classe trabalhadora
como “precondição” da sociedade burguesa. Embate com a propriedade privada, mas
não se vincula ao comunismo. Se coloca a estudar as filosofias do Estado em Rousseau,
Montequieu, Maquiavel e historiadores da Revolução Francesa.
p.17: O ambiente francês foi o fator determinante para a virada comunista de Marx. Em
A questão judaica Marx “junta o dinheiro à propriedade privada como fonte da
alienação humana”. Em CFDHI ele coloca o proletário como autor da libertação
universal.
p.18: Constatação de que os problemas teóricos exigem resolução prática. A teoria deve
ser tornar uma força material apropriando-se das massas (trabalhadores) e as massas
devem se apropriar da teoria. Rompendo com as suas cadeias, o proletário rompe com
todas as cadeias da sociedade. [Assim o faz porque se a sociedade é baseada na
propriedade privada, quem está fora e quer romper com estado atual das coisas, precisa
romper a própria propriedade]. Mas essa possibilidade de revolução do proletário é vista
sob o ponto de vista humanista de vincado cariz feuerbachiano (abstrato, a-histórico e
moralizante) e não como um sujeito histórico/social que exige condições reais para sua
libertação real.
p.19: Não obstante, está posto o elo entre teoria e proletário. Disso ele começa a estudar
o proletário desde que chega a Paris. “Mas Engels compreende que o comunismo é o
produto necessário das condições sociais criadas pela civilização moderna”.
p.27: Comentários sobre os erros de leitura que supõem que há, de maneira mecânica, o
aumento da consciência de classe junto com o desenvolvimento industrial. E, junto
dessa, o florescimento das condições subjetivas para o levante. M&E sabiam que não
era assim (prefácio de 1892 d’A situação da classe trabalhadora na Inglaterra)
p.30: O estudo da EP leva Marx ao acerto de contas com suas influências. Os resultados
são: Manuscritos, A sagrada família e A Ideologia alemã. Os Manuscritos são
formados por extratos e comentários de obras econômicas (Smith, Pecqueur, Loudo,
Buret, Sismondi, Mill e Chevalier) e de uma crítica à filosofia de Hegel. “Eles tratam
sucessivamente do salário, do lucro, da renda fundiária, do trabalho alienado em relação
com a propriedade privada, da propriedade privada em relação com o trabalho e com o
comunismo, das necessidades, da produção e da divisão do trabalho, assim como do
dinheiro”. Primeiro tratamento sócio-economico do conceito de alienação (que toma
de Hegel, Schelling [Habermas identificou esse conceito neste autor. Nota 5] e
Feuerbach)
p.31: Marx reconfigura o conceito de alienação. Antes era fundado numa antropologia.
Agora surge de uma análise sócio-política. Nos Manuscritos a sociedade é definida
como alienada porque o trabalho é alienado. Marx identificou a sociedade e o homem
ao trabalho a partir de Hegel (o espírito como atividade) e da leitura dos economistas
(teorias do valor).
p.32: Nas anotações sobre Mill, partindo da moeda como meio de circulação ele a
identifica como “instrumento de alienação, para chegar às relações de alienação que
substituem as relações humanas”. O comunismo filosófico se torna sociológico.
Parte de um estado de coisas reais (trabalho alienado e seus corolários) e visa sua
superação. “E Marx precisa já que isso pressupõe, por um lado, a socialização dos
meios de produção, a supressão da propriedade privada e, por outro lado, um grau de
desenvolvimento elevado das forças produtivas”. Essa é a principal contribuição de
Marx e Engels.
p.33: O ponto de partida dos Manuscritos é a propriedade privada e a pobreza que se
segue dela (os clássicos partem da riqueza). “A análise do salário se efetua nos
Manuscritos econômico-filosóficos sobre a base da teoria clássica de Adam Smith e
Ricardo, influenciada por Malthus”. A concorrência entre operários empurra o salário
para baixo. Mas isso não é uma lei da natureza, mas resultado da “separação dos
operários de seus meios de produção”. As três fases de alteração do salário. A única
favorável ao trabalhador é quando a demanda por mão-de-obra supera sua oferta.
p.35: ... enquanto tal possa ser conduzida com eficácia”. Parte mais consagrada dos
Manuscritos: a análise do trabalho alienado. Relação de alienação entre trabalho e
religião. Antes a raiz da alienação era a propriedade privada. Agora ela a encontra no
trabalho alienado, “isto é, na divisão do trabalho e na produção mercantil”. Marx
denuncia mais que a alienação do produto e dos meios de produção. Ele analisa a
alienação das necessidades (a especulação que um homem cria no outro).
p.37: “Ele não apreendeu ainda o que havia de racional na teoria clássica, sobretudo na
de Ricardo. Suas análises econômicas se ressente disso inevitavelmente”. Em A sagrada
família não há temas econômicos propriamente. Interessantes são as passagens sobre
Proudhon porque iluminam o debate de 1847. “Proudhon permanece ainda priosoneiro
das hipóteses de base da Economia Política que ele combate” (Marx), não obstante
reconhece o mérito deste na crítica da propriedade privada.
p.39: Passagem de uma análise fenomenológica para uma análise genética. (Citação
indireta de Emilio Agazzi. La formazione dela metodologia di Marx). “O comunismo
não é um ideal sobre o qual a realidade se deve remodelar. Chamamos comunismo o
movimento real que supera a situaçãoo atual” (Marx). Três contribuições para o
pensamento econômico de Marx n’A ideologia Alemã: 1. “visão mais dialética do
capitalismo e do comércio mundial”. O desenvolvimento do comércio não é só a
alienação e a venalidade universal. É o rompimento com a estreiteza dos quadros locais
e o desenvolvimento dos homens de forma, relativamente, ilimitada.
p.40: “A riqueza espiritual real do individuo depende da riqueza de suas relações reais”
(Marx). 2. O “desenvolvimento universal das necessidades” que a sociedade moderna
lançou as bases e o comunismo deve realizar. Relação com as coisas de maneira rica
(diferente do que aparece nos Manuscritos). 3. O modo de distribuição da riqueza. A
ideia de que “a cada um segundo sua necessidade” já se encontra n’A ideologia alemã.
p.41: A regra da distribuição não pode ser a da capacidade (do trabalho). “Concepções
que admitem a sobrevivência da produção mercantil mesmo em sociedade comunista
são em todo caso estranhas à teoria marxista”.
p.44: Crítica a identidade entre oferta e procura de Say pois isso torna incompreensível
as crises de superprodução. A crítica básica de Marx é que a análise do valor prende
a investigação na abstração, enquanto “a concorrência é a realidade”. Destarte “é pois
obrigada a considerar a realidade como acidental e a abstração somente como real”.
A denuncia do viés de classe na teoria do salários de Ricardo (que define a
determinação do salário como o básico para subsistência) que exclui as finalidades
espirituais.
p.45: Crítica da desvalorização da renda bruta feita por Ricardo, que só valoriza a renda
liquida (rendimentos e lucros). Esse desprezo de Ricardo significa o desprezo pelo
trabalhador e a hipervalorização do lucro. Não obstante defende Ricardo de Say e
Sismondi afirmando que o humanismo é exógeno à economia política e Ricardo
apreender de modo certo a “realidade do modo de produção capitalista, que outros
autores se esforçam por velar”. No comentário a Mill continua a censura a Ricardo
que se volta à uma lei abstrata (lei do valor) desfazendo da realidade. Mas aqui a lei
abstrata já é tomada como “um movimento do real” (Marx) porque os custos de
produção só podem determinar o preço nos momentos de equilíbrio de mercados.
p.46: As notas de 44 iluminam como a teoria do valor é entendida nos Manuscritos e na
Sagrada Família. Valor é abstrato e o preço é concreto. N’A Sagrada Família o tempo
de trabalho entra na determinação dos custos de produção, mas não reduz o primeiro ao
segundo. Em 1845 Marx já intenta a escrever uma crítica da economia política “para
o qual os Manuscritos econômico-filosóficos de 1844 foram sem dúvida um primeiro
esboço”.
p.47: Foi no projeto de escrever essa primeira crítica que durante o exílio de Bruxelas
(1845) ele se dirigiu a Manchester para estudar a matéria e assim “descobriu o uso
social-revolucionário que escritores socialistas ingleses tinham podido fazer da teoria do
valor-trabalho, e das contradições que ela enfeixa em Ricardo”. Compreensão de que a
Economia política se desviou de Ricardo por razões apologéticas.
p.48: “Marx, que havia começado por considerar Ricardo como ‘cínico’, não podia
deixar de ser tocado pelo abandono também cínico dessa teoria do valor com fins de
conservação social”. N’A Ideologia Alemã (1846) Marx já aceita a teoria do valor-
trabalho. A VIRADA PARA A ACEITAÇÃO DA TEORIA DO VALOR-TRABALHO
SE DEU ENTRE 1845-46. “isso resulta antes de tudo do aprofundamento dos estudos
econômicos de Marx e...
p.49: ...de uma superação analítica das contradições que ele tinha antes acreditado
descobrir na teoria do valor-trabalho”. O problema que faz Marx pensar é que as
oscilações da oferta e da procura são muito patentes para serem dissolvidos na relativa
estabilidade do valor de troca. Mas se concentrar na oferta/procura corre-se o risco de
dissolver a economia política no acaso. Portanto, é preciso aceitar que as oscilações se
dão em torno de um eixo que são os custos de produção. “Marx formulou na mesma
época sua teoria do materialismo histórico, que é essencialmente um determinismo
sócio-econômico”.
p.50: Essa teoria diz que para se estudar a história deve-se partir das condições materiais
de vida. N’A Miséria da filosofia Marx já é um ricardiano no que diz respeito à
teoria do valor-trabalho (a determinação do valor pelos “gastos na manutenção dos
homens”).
p.52: “não se pode afirmar que para Marx todo trabalho social vivo tomaria
necessariamente a forma de trabalho abstrato criando valor...
p.53: e que o socialismo seria não a supressão da produção mercantil, mas sua
‘humanização’.
p.55: Três momentos da relação com Proudhon: (a) 43-44 marca a admiração e a
apropriação de sua crítica à propriedade privada. (b) O segundo momento é de decepção
pelo trato não crítico com a Economia Política Clássica, e os erros que disso se seguem
n’A Filosofia da miséria, e a adesão ao utopismo. (c) O terceiro é em 1867, que mantém
as críticas aos erros de Proudhon. Primeira obra econômica de Marx é a Miséria da
Filosofia pois pela primeira vez é dada a gênese, desenvolvimento e as condições de
perecimento dessa forma social.
p.57: Os trabalhos de Engels foram expostos para a Liga dos justos. A condição de
gênese do capital foi “a acumulação de capitais, facilitada pela descoberta da América e
pela importação pela Europa de seus metais preciosos” porque abaixou os salários e as
rendas da terra, aumentando os lucros. As manufaturas são criadas pelos comerciantes,
não pelos mestres feudais.
p.58: O modo de produção capitalista é uma novidade histórica. Ele implica o amplo
desenvolvimento das forças produtivas e a revolução de todas as relações sociais
estabelecidas. Ênfase no caráter revolucionário do modo de produção capitalista no
Manifesto.
p.59: O capitalismo também tem um papel civilizatório e cosmopolita. Mas louvar suas
capacidades é também expor suas contradições. A burguesia não pode se desenvolver
sem o desenvolvimento do proletariado. Para explicar é preciso partir do elemento mais
básico, a mercadoria.
p.60: “O valor da mercadoria é determinado pelo tempo de trabalho necessário à sua
produção”. Em nota Mandel indica que a distinção entre trabalho e força de trabalho e
tempo de trabalho e tempo socialmente necessário. Os trabalhadores, despossuídos dos
meios de produção têm de vender suas forças de trabalho para pode viver. Assim, a
força de trabalho vira mercadoria e têm seu “valor natural” (salário) nos meios de
subsistência. “Esse salário é mantido essencialmente nesse nível mínimo como
consequência da concorrência entre os operários”. Os níveis de salário se alteram com o
“ritmo de acumulação dos capitais”. Ou seja, em alta, os salários ficam acima do
mínimo e em períodos de “crise e desemprego” eles ficam abaixo do mínimo.
p.61: Não obstante há uma tendência absoluta à queda dos salários, “visto que se
encontram sempre meios para alimentar o trabalho com objetos mais baratos e cada vez
mais miseráveis, o mínimo dos salários diminui sem cessar”. Essa tese é a adesão a “lei
da baixa dos salários a longo prazo” QUE SERÁ CORRIGIDA POSTERIORMENTE.
p.62: O salários baixam relativamente (no que diz respeito a riqueza produzida) e
absolutamente (no sentido de que os trabalhadores recebem cada vez menos).
Formulação da lei de acumulação que diz que a parte do capital produtivo destinado
para máquinas é maior do que a que vai para os salários. Essa é uma tendência
necessária (esboço da lei do aumento da composição orgânica do capital. NESSA LEI
ESTÁ CALÇADA A TENDÊNCIA DAS BAIXAS DA TAXA MÉDIA DE LUCRO).
p.65: Essa organização se transforma em luta política pelo salário e, depois, pela
abolição do salário, que supõe a associação dos trabalhadores na socialização dos meios
de produção. Isso só será possível a partir de um alto grau do desenvolvimento das
forças produtivas que propicia a satisfação das necessidades e o livre desenvolvimento
individual.
p.66: Crítica a Talcott Parsons no que diz respeito ao método de entender a sociedade.
p.67: “A incapacidade de apreender o caráter contraditório dos ‘sistemas sociais’, e a
fortiori dos ‘sistemas econômicos’, é a mais importante das três fraquezas do esquema
de Talcott Parsons”.
p.68: Parte final das críticas a Parsons. Ao final ele é descrito como um apologista do
capitalismo.
p.69: cap. 5: O problema das crises periódicas. Episódios de Marx e Engels entre
1848 e 1850 (revoluções trabalhadoras e repressões. Volta à Alemanha e novo exílio.
Abertura e interdição da Neue Rheinische Zeitung).
p.72: junto com os estudos sobre o ciclo econômico Marx se pôs a estudar as “relações
entre os interesses econômicos imediatos e as tendências políticas. Em As lutas de
classe na França 1848-1850 Marx “formulou pela primeira vez explicitamente a ideia
de apropriação coletiva dos meios de produção”. Nestes anos os estudos econômicos
tornaram-se mais minuciosos e menos gerais.
p.74: “Mas como a prosperidade é acompanhada de uma especulação cada vez mais
desenfreada, é a especulação e não a superprodução que parece ser a causa da crise.
Marx e Engels retificam a esse proposito uma impressão superficial e insistem sobre o
fato de que a crise é sempre em ultima analise crise de superprodução”. Análise da
importância dos fenômenos monetários e seu papel nas crises.
p.76: ... continentais”. As insuficiências das análises dos mecanismos pelos quais a crise
se apresenta leva Marx e Engels a errarem na predição das crises que acreditam que
podem ocorrer entre 1852 e 1855, mas só ocorre em 1857. Essas insuficiências eram:
(1) a diferença entre crises monetárias como reflexo de crises de superprodução e crises
monetárias “autônomas” ligadas ao “padrão-ouro”. (2) “A duração do ciclo é apreendida
de maneira puramente empírica e não em relação com a duração de reprodução do
capital fixo”.
p.77: O padrão de comparação com o clico de crise é o período 1843-1847 nos artigos
da NGR e a análise monetária nos artigos do New York Daily Tribune.
p.78: O erro sobre a crise 1855 pode ser justificado porque realmente houve uma crise
parcial causada pela baixa exportação de algodão para a Austrália. De 100 milhões de
libras que a Grã-Bretanha exportava, mais de 40% iam para a Austrália e para os EUA.
p.79: Em 1855 a guerra da Crimeia teve papel forte para que não ocorresse a crise. “Os
fornecimentos ao exército e o desenvolvimento da indústria de guerra compensaram
amplamente o recuo das exportações para a Austrália”. A análise do superaquecimento
em 1856 é o lhe permite prever a crise de 1857-58. “É no curso do estudo da crise de
1857-1858 que Marx descobre pela primeira vez as relações entre a duração do ciclo e a
duração de reprodução do capital fixo”.
p.81: Marx tem duas ideias sobre as tendências de crise. A primeira é o ciclo de
reprodução do capital fixo e a segunda é o “atraso que a ‘procura solvável’ das massas
deve necessariamente tomar sobre a capacidade de produção global da sociedade”.
p.83: O intento de escrevê-la vem desde 1851 (carta de 2 abril a Engels) mas a redação
só começou em Setembro de 1857. O primeiro texto só sai em 21 de janeiro de 1859. A
ideia norteadora da crítica da economia política pode assim ser resumida: “ demonstrar
o caráter especificamente social e de maneira alguma absoluto do modo de produção
capitalista a partir do seu fenômeno mais simples: a mercadoria”.
p..84: Apesar de não ter encontrado ressonância e de seu caráter abstrato, CPCEP
(Contribuição para a crítica da Economia Política) “tem a maior parte das contribuições
específicas de Marx ao desenvolvimento da teoria econômica, que ele elaborou
detalhadamente nos Grundrisse , obra que permaneceu desconhecida do publico até
depois da Segunda Guerra Mundial” A obra é um “aperfeiçoamento” da teoria do
valor-trabalho dos clássicos e um aperfeiçoamento das próprias teorias de Marx. Nas
obras até então Marx não distinguia entre trabalho e força de trabalho, por isso não tinha
ainda feito a análise do mais-valor. Da mesma forma, desconhecia a diferença entre
“valor de troca dos preços de produção, nem estes dos preços de mercado”.
p.85: Em CPCEP descobre a distinção entre trabalho abstrato (“fração do tempo de
trabalho social globalmente disponível numa sociedade de produtores de mercadorias,
separados uns dos outros pela divisão social do trabalho, que é produtor do valor de
troca) e trabalho concreto. Um formador de valor de troca e outro de valor de uso.
“Marx considera essa análise da mercadoria como a finalização de mais de um século e
meio de evolução da Economia Política clássica”.
p.86: 4 críticas a Ricardo. 1. Como se mede o valor da força de trabalho em uma troca
justa entre capital e trabalho? Se o trabalhador precisasse de uma jornada inteira para se
manter, não haveria mais-valor. Mas como meia jornada é suficiente, o mais-valor surge
desse mesmo processo de produção.
p.88: A força de trabalho é uma mercadoria porque é um valor de troca para seu
portador e seu valor de troca já está determinado antes mesmo da venda. SEU VALOR
NÃO DEPENDE DO VALOR DE USO. Porque há uma diferença entre o valor da
força de trabalho e o produtor da força de trabalho? Por causa da divisão das sociedades
em classes (que detém a posse dos meios de produção) onde uma transforma a força de
trabalho e os meios de produção em ingredientes do capital.
p.89: Teoricamente esse é o problema entre a diferença entre o valor de troca e o valor
de uso da força de trabalho. Historicamente diz respeito à constituição da classe
trabalhadora e do despojamento de grande parcela da população da posse dos meios de
produção. Condições para que o dinheiro se torne capital e o trabalho se torne trabalho
assalariado: 1. Separação e oposição entre a condição subjetiva do trabalho e suas
condições objetivas e os meios de vida necessários a subsistência.
p.92: No ano de 1860 Marx se ocupa da polêmica contra Karl Vogt. O projeto só é
retomado, segundo Mandel na carta anteriormente citada. HOJE SABEMOS QUE EM
61 ELE VOLTA A REDIGIR A CONTINUAÇÃO DE CPCEP. O aperfeiçoamento
da teoria da moeda. “O aperfeiçoamento da teoria monetária por Marx não é senão uma
aplicação lógica da teoria do valor-trabalho à moeda”.
p.93:Uma vez que a moeda é feita de metais preciosos, ela não é simplesmente um meio
de troca, mas é também ela uma mercadoria e portadora de valor de troca determinada
“pelas condições matérias de sua própria produção”. Por isso a teoria que “faz depender
a alta e a baixa dos preços de um aumento ou de uma redução da massa monetária em
circulação, não pode ser válida quando se trata de moedas fundadas em metais
preciosos”. Em situações de baixa geral dos preços a massa monetária tende a
entesouramento. Em situações de alta, mais metais preciosos entram em circulação.
Distinção da lei que governa a circulação de metais para a do papel moeda (signos
monetários): “Enquanto a quantidade do ouro em circulação depende dos preços das
mercadorias, o valor dos bilhetes de papel em circulação depende ao contrário de sua
própria quantidade”.
p.95: Seguem as críticas. As máquinas não produzem valor, mas economizam trabalho.
As máquinas conservam o valor. Mas sem o trabalho vivo não há realmente produção
de valor.
p.98: A teoria de Marx não é uma teoria estática, mas dinâmica entre desigualdades:
como da trocas de iguais surge a desigualdade. “É antes de tudo a troca entre o Trabalho
e o Capital que tem esta dupla qualidade”
p.99: O progresso técnico se dá pela concorrência entre Capital e Trabalho mas também
pela concorrência entre os capitalistas. Críticas da Sra. Joan Ronbinson: a ideia de
que o valor das mercadorias seja algo natural delas.
p.100: Todos os críticos não entenderam o nível de abstração com o qual Marx opera. O
que Marx quer entender é como funciona o modo de produção capitalista continuamente
sem paradas abruptas? “Afirmando que o valor de troca é constituído por trabalho
humano abstrato, Marx não ‘escolheu uma teoria’ para tentar ‘demonstrar a exploração
dos operários pelo capital’. Ele ofereceu uma resposta a esta questão. Formulando as
objeções deles à sua teoria, seus críticos não somente deixaram de opor uma resposta
coerente a sua. Eles em geral nem mesmo apreenderam a questão...”
p.101: Godelier afirma que é possível uma teoria do valor em uma sociedade socialista.
Mandel recrimina como erro.
p.102: Godelier entende o capitalismo não pela criação do mais-valor, mas pela sua
apropriação privada.
p.106: Além das já aludidas, nos Grundrisse há a melhoria das categorias: “A distinção
exata do capital constante (cujo valor é conservado pela força de trabalho) e do capital
variável (cujo valor é aumentado) (pág. 289); a representação do vaaalor de uma
mercadoria como a soma de três elementos: capital constante, capital variável, e mais-
valia (c+v+mv) (principalmente págs. 219-243); o aumento da massa anual da mais-
valia pela diminuição do ciclo de circulação do capital (págs. 417-8); a divisão da mais-
valia em mais-valia absoluta e mais-valia relativa (págs. 311-2) e mesmo sob forma de
supertrabalho absoluto e supertrabalho relativo (págs. 264-5); toda teoria da distribuição
equitativa da taxa de lucro (págs. 217-362) etc”. Não há nos Grundrisse a lei da
queda tendencial da taxa de lucro nem o “problema da reprodução”. Ênfase na carta
de Marx a Engles de 14 de janeiro de 1858 onde relata que teve contato com alguns
volumes da obra de Hegel.
p.107: Mandel pensa que a exposição por pares dialéticos (valor de uso – valor de troca,
por exemplo) se devem a influência de Hegel. Foi a aplicação do método dialético as
pesquisas econômicas que permitiram as maiores descobertas de Marx. “É graças a esse
método que ele coloca os fenômenos econômicos num contexto global (o modo de
produção, as relações de produção), movido por suas contradições internas. É graças ao
mesmo método que ele pode nitidamente apreender o caráter historicamente
determinado, e limitado somente a um período da história humana, dos fenômenos da
economia mercantil e das ‘categorias que são seu reflexo”. Marx fala da mais-valia
na troca como algo possível, mas como fraude e característico do período pré-
capitalista.
p.109: Mas a economia de tempo é diferente do tempo medido pelos valores de troca.
Todos os trabalhos são diferentes quantitativa e qualitativamente. Mas medidos pelos
valores de troca os trabalhos só podem diferenciar-se quantitativamente, posto que
qualitativamente são iguais. “Nos níveis mais produtivos da troca, os homens não
trocam nada a não ser seu tempo de trabalho supérfluo; ele é a medida de sua troca, que
não se estende aliás senão aos produtos supérfluos. Na produção fundada sobre o
capital, a existência de tempo de trabalho necessário é condicionada pela criação do
tempo de trabalho supérfluo. O capitalismo aumenta o número de pessoas no trabalho
necessário para gerar trabalho supérfluo.
p.110: Por isso sua tendência de criar a população supérflua (exercito industrial de
reserva), que baixa os salários e, por isso, contribui no aumento do mais-valor. O
desenvolvimento do trabalho supérfluo só é objeto de gozo de uma classe que domina a
outra que produz. Mas essa é essa mesma contradição que lança a possiblidade de sua
superação. A expansão do tempo de trabalho necessário implica a necessidade do
supertrabalho. E esse, por sua vez forja as condições do tempo livre. Essa é a “missão
civilizadora” do capital. Com o aumento das forças produtivas ele reduz ao mínimo o
tempo de trabalho necessário e assim liberta o individuo para o “desenvolvimento
universal das possibilidades de cada individuo”.
p.111: “O desenvolvimento do capital fixo, que parece ser a ‘missão histórica’ do modo
de produção capitalista, é, ele próprio, indicio e reflexo do grau de riqueza social”. O
desenvolvimento do capital fixo é um grande fato porque implica que parte considerável
da produção, ao invés de ser aplicada ao consumo imediato, pode ser reenviada à
produção e assim aumenta sua produtividade. Isso é prova de certa abundância.
p.115: “Ele não opõe à realidade existente uma realidade ideal, para a qual as condições
não existem ainda, mas devem precisamente ser criadas pelo desenvolvimento do
capitalismo; mas ele não idealiza tampouco essa realidade existente. Ele não nega que a
miséria seja miserável, porque ela é produto de uma fase de evolução historicamente
inevitável. Esse caráter duplo da concepção marxista da ‘necessidade histórica’ é
nitidamente visível nos Grundrisse, onde se encontram algumas das condenações mais
brutais ao capitalismo, ao lado das páginas que reconhecem francamente seus méritos
do ponto de vista do progresso geral das sociedades humanas”. O capitalismo cria
capitalistas e trabalhadores. A ideia de um capitalismo de Estado é um absurdo.
p.119: Mas Marx não acreditava cegamente na força da técnica. Sempre teve na mais
alta conta que as forças produtivas podem se converter em forças destrutivas. O
desenvolvimento das forças produtivas é a interiorização das relações sociais e aptidões
cientificas dos agentes sociais. O que solapa as críticas de Touraine e Arendt.
p.120: “...a sociedade humana se reorganize de maneira tal que possa cercar cada
criança dos mesmos cuidados infinitos com quais ela prepara hoje submarinos ou
foguetes interplanetários”.
p.125: Os estudos de Marx e Engels sobre o modo de produção feudal está hipotecado
aos estudos sobre o comércio exterior da Grã-Bretanha. “Os mercados orientais
desempenhavam um papel crescente de saída para a indústria britânica. A expansão das
exportações britânicas provocou perturbações profundas na sociedade oriental [...]
Apaixonados pelas revoluções, quer elas se produzam leste ou a oeste, Marx e Engels se
puseram a estudar a estrutura das sociedades assim abaladas.”.
p.143: cap.9: O acabamento da teoria dos salários. A teoria do salários de Marx que
aparece em Trabalho assalariado e capital, Miséria da filosofia e no Manifesto
comunista está errada porque se apoia em um pressuposto ricardiano. “A teoria
ricardiana dos salários inspira-se amplamente em Malthus, e tem em conta um
movimento de oferta e procura de mão-de-obra essencialmente estimulado pelo
processo demográfico”. Ou seja, quanto mais alto o salário, mais pessoas, mais mão-de-
obra = queda do salário. Quanto mais baixo o salário, menos pessoas, menos mão-de-
obra= aumento do salário. O resultado desse movimento tende a equilibrar o nível dos
salários no médio para sobrevivência de acordo com a demanda da indústria.
p.146: Nota 5: “É interessante constatar que o jovem Marx utiliza aqui a palavra
‘proletariado’ não como idêntica à classe operária, mas como designando,
exclusivamente, os desempregados, por analogia com o antigo proletariado romano”
A ideia marxiana de que quanto mais o trabalhador produz menos ele consome é uma
conclusão da teoria da acumulação do capital pela substituição de trabalhadores por
máquinas e da baixa dos salários. “O fato de que o salário não pode aumentar numa
dada situação senão fazendo baixar o lucro está, já então, claramente destacado no
segundo manuscrito de 1844”. Então, em 44 aa teoria dos salários em Marx parte da
acumulação do capital, não do dado demográfico.
p.148: “[...] o estudo das flutuações cíclicas e da atividade sindical na Grá-Bretanha que
o levou a visões mais corretas” porque o mínimo fisiológico não é tão mínimo assim.
Dos Grundrisse em diante a teoria dos salários se mantém.
p.149: “E algumas páginas adiante, ele indica que o capital tem a tendência de impelir o
operário a substituir as suas ‘necessidades naturais’ (fisiológicas) por necessidades
‘historicamente criadas’”. ESSAS SÃO AS DETERMINAÇÕES NOS QUAIS SE
ARTICULAM O NÍVEL DOS SALÁRIOS: “De um lado, a acumulação do capital; a
substituição do trabalho vivo por máquinas; o crescimento da produção do trabalho,
tudo isso tende a fazer baixar o salário nominal (uma mesma quantidade de víveres ou
de mercadorias em geral é, agora, produzida num lapso de tempo mais reduzido) e o
próprio salário real (sob a pressão do desemprego crescente) . Mas, por outro lado, a
acumulação do capital implica a criação de novos ramos industriais, portanto a criação
de empregos novos, assim como a criação de novas necessidades, e a propagação dessas
necessidades em meios cada vez mais amplos. Dessa maneira, ela tende a aumentar o
valor da fôrça de trabalho (porque êsse valor inclui, agora, o preço de novas
mercadorias, devendo satisfazer essas novas necessidades) do mesmo modo que o seu
preço (quando o desemprego se reduz) . Os movimentos reais dos salários não são, pois,
mais determinados por leis mecânicas e simples, mas dependentes da interação dialética
dêsse duplo efeito da acumulação do capital sôbre o valor da fôrça de trabalho”.
150: Os limites da força de trabalho: (1) físico e (2) histórico-social. (1) O limite físico
diz respeito aos meios mínimos de subsistência que o trabalhador precisa para
sobreviver. “O limite mínimo do valor do trabalho”. (2) "Paralelamente a êsse elemento
puramente fisiológico, o valor do trabalho' é determinado pela maneira de viver usual a
cada país. Isso não somente consiste na existência física, mas na satisfação de certas
necessidades nascentes das condições sociais nas quais os homens vivem e foram
educados”.
p.161: “A transição de Hegel para Marx é, em todo ponto de vista, uma transição para
uma ordem diferente de verdade, que não pode ser interpretada em termos de Filosofia.
Veremos que todos os conceitos filosóficos da teoria marxista são categorias sociais e
econômicas, quando as categorias sociais e econômicas de Hegel são todas conceitos
filosóficos. Mesmo os primeiros escritos de Marx não são filosóficos. Exprimem a
negação da filosofia, se bem que o façam, ainda, em linguagem filosófica”.
p.162: Marx se coloca fora da Filosofia porque não quer superar a ideia de propriedade
privada, mas a propriedade privada real pela ação, não só pelo pensamento. Os
Manuscritos não são um texto acabado, mas uma primeira síntese que Marx absorve e
modifica.
p.163: “É, precisamente, a luz do conceito de trabalho alienado que as contradições, que
encerram os Manuscritos de 1844, podem ser mais claramente reveladas”. O trabalho
alienado é o terceiro passo de Marx. Antes ele passa pela alienação da religião na Tese,
pela alienação no direito da propriedade privada na Crítica da filosofia do direito de
Hegel.
p.164: A economia encobre as relações sociais miseráveis e estas podem ser explicadas
pelo conceito de trabalho alienado. O trabalho alienado diz respeito à uma sociedade
estratificada em classes.
p.165: E, outra passagem o trabalho alienado é descrito não mais como um processo
histórico determinado, mas na própria natureza humana (Gattungswesen), como sua
negação. A concepção antropológica de alienação se alinha a uma abordagem filosófica.
Mandel indica uma contradição entre a concepção sócio-histórica da alienação e a
concepção antropológica.
p.167: menção a controvérsia gerada pela publicação dos Manuscritos que foram
assumidos nos meios revisionistas e Althusser.
p.185: “A alienação não é ‘suprimida’ por um acontecimento único, assim como não
apareceu de um só golpe. Ela se enfraquece progressivamente, assim como apareceu
progressivamente. Ela não está de qualquer maneira ancorada na ‘natureza humana’ ou
na ‘existência humana’, mas nas condições específicas do trabalho, da produção e da
sociedade humanas. Pode-se pois entrever e precisar as condições necessárias a seu
desaparecimento”.
p.187: “[...] a realidade soviética na época stalinista era tal que o conceito de trabalho
alienado aí provocaria uma identificação inevitável com a corrente imagem dessa
realidade”.
p.188: Cap.11: Desalienação progressiva pela construção da sociedade socialista, ou
então Alienação inevitável na “sociedade industrial”? “A deformação ideológica e
mistificadora da teoria marxista da alienação tem assim fontes sociais específicas, na
realidade de nossos dias”.
p.189: “Uma analise da teoria marxista da alienação não está pois, completa enquanto
não permite formular uma teoria marxista da desalienação progressiva, não a defende
com sucesso do mito da ‘alienação inevitável’ no seio de toda ‘sociedade industrial’”.
p.192: “Retenhamos em todo caso isto: para Marx, o fenômeno da alienação é anterior
ao capitalismo. Ele está ligado ao desenvolvimento insuficiente das forças produtivas, à
economia mercantil, à economia monetária e à divisão social do trabalho. Tanto tempo
quanto sobreviverem esses fenômenos, a sobrevivência de uma certa forma de alienação
humana é inevitável”.
p.211: Fim.
A ideia central é que todo o esforço de Marx é que, uma vez constatado que a alienação
é um fenômeno real e historicamente determinado, Marx se colocou a estudar as
mediações pelos quais ela opera, suas consequências e a possibilidade de sua operação.
Isso só foi possível porque ele rompera com a alienação enquanto conceito
antropológico.