“O diálogo entre o tribunal permanente de revisão e os tribunais constitucionais nacionais: o mecanismo da opinião consultiva e o direito mercosurenho de terceira dimensão”. A autora chama atenção, inicialmente, para as diversas dimensões de direitos humanos/fundamentais, chamando atenção para os de terceira dimensão (ambientais/consumeiristas), numa perspectiva de solidariedade e fraternidade, que transcende o indivíduo, na medida em que expressam uma preocupação com o coletivo, com o bem-estar comum, sendo, portanto, chamados de direitos transindividuais ou direitos metaindividuais (difusos). O MERCOSUL, nesse sentido, vem buscando regulamentar instrumentos comunitários de proteção ao consumidor transfronteiriço, bem como que determinem a proteção do meio ambiente para as presentes e futuras gerações. Assim, se busca garantir uma série de políticas regionais de desenvolvimento sustentável que ao mesmo tempo zelem pelo estabelecimento de um padrão ou standard mínimo de proteção ao sujeito vulnerável da relação internacional de consumo. Necessidade de busca de soluções em nível global/transnacional para a questão ambiental, pois o comportamento ambiental de um país pode causar impactos de várias montas para diversos outros países; Os acordos comerciais firmados entre países, ou no âmbito comunitário do MERCOSUL e da UE frequentemente levam em consideração a questão da sustentabilidade, dada a necessidade de se levar em consideração o impacto provocado pelas atividades humanas ao meio ambiente. Agenda 2030 da ONU: preocupação com o consumo e a produção responsáveis, entre outras ações destinadas a enfrentar a mudança global do clima e a promover o desenvolvimento de uma agricultura sustentável, a disponibilização de energia limpa e acessível, o combate a pobreza, etc. Necessidade do MERCOSUL atentar para a questão ambiental, dada a diversidade biológica da região; Por conta disso, o CMC do MERCOSUL aprovou a decisão 26, que busca a) alcançar o adequado desempenho ambiental para a melhoria da competitividade e eficiência dos setores produtivos; otimizar os recursos naturais, matérias-primas e insumos; c) substituir materiais por outros menos contaminantes, a fim de minimizar a emissão de gases e resíduos; d) implementar e aplicar metodologias e tecnologias ambientais preventivas; e) desenvolver produtos e serviços que gerem menor impacto ambiental, etc. Histórico de formação do MERCOSUL. Ideia de cooperação latinoamericana, para solucionar os conflitos e desenvolver a economia se formou em 1979, com o Acordo Tripartite sobre Corpus e Itaipu. Assim, Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai formam, em 1991, por meio do Tratado de Assunção, o Mercosul, com o objetivo de alcançar as quatro liberdades de circulação (pessoas, mercadorias, serviços e investimentos estrangeiros), coordenar políticas macroeconômicas e harmonizar a legislação dos Estados-partes. No preâmbulo do Tratado de Assunção, a integração é mencionada como condição para a aceleração do desenvolvimento econômico, mediante o aproveitamento mais eficaz dos recursos disponíveis, a preservação do meio ambiente, e a ampliação da oferta e da qualidade dos bens e serviços disponíveis, como medidas destinadas a melhorar a qualidade de vida dos habitantes da região. A autora chama atenção para os problemas de assimetria política no MERCOSUL, que levam a outros de monta jurídica e econômica, como a uniformização das leis e o comércio internacional intra bloco. Falta de aplicação e interpretação uniformes do direito gerado no âmago do MERCOSUL. Para a autora, se cada juiz interpreta o direito do Mercosul conforme os seus próprios interesses nacionais e sem uma pauta de interpretação comum, a efetividade do sistema estará em risco e os destinatários diretos das decisões estarão submersos numa esfera de instabilidade e insegurança jurídica. (!) Existencia do TJ da UE que, por meio de questão prejudicial formulada por quaisquer magistrados do Bloco, verifica e decide qual norma comunitária deve ser aplicada ao caso concreto, sendo tal resposta vinculante a todos os membros da UE. Os efeitos desse TJ foram amplamente positivos, dado o surgimento de princípios do direito comunitário, como o efeito direto, a aplicabilidade imediata e a primazia do direito da União, contribuindo para o considerável estágio de desenvolvimento que a UE hoje apresenta. Em 2005, surge o Tribunal Permanente de Revisão (TPR) do Mercosul, sediado em Assunção, tendo quatro competências jurisdicionais, quais sejam, a) dar opiniões consultivas; b) intervir, por acesso direto, nas controvérsias que um estado possa ter contra outro; c) entender nos recursos de revisão de laudos arbitrais emitidos pelos tribunais arbitrais ad hoc; d) ditar medidas excepcionais e de urgência contra um estado parte, baseadas em eventual descumprimento das normas jurídicas do Mercosul, a fim de evitar danos irreparáveis ao estado peticionante. A primeira delas é a mais importante e a menos levada a cabo. A opinião consultiva constitui-se como um instrumento que tem por objetivo alcançar a unificação da interpretação do Direito mercosurenho, descobrindo o seu alcance e o sentido das normas regionais, para unificar critérios hermenêuticos e gerar um maior clima de previsibilidade e certeza jurídica, já que o Direito do bloco terá, por esta via, uma aplicação idêntica em todas as jurisdições nacionais onde produz os seus efeitos. Importância da OC: a pluralidade de interpretações à que fica submetido o direito mercosurenho conduz a uma falta de unidade interpretativa que poderia violentar princípios que sustentam o processo”, devido às contradições às quais se pode chegar. Afinal, quando as instancias nacionais podem interpretar a seu arbítrio os textos comunitários, existe o perigo de fracionar tal ordenamento e de que se gerem contradições que não conduzam aos resultados esperados. Reg. do Protocolo de Olivos: competência para fixar normas para que os estados parte solicitem OC ao TPR é do Conselho do Mercado Comum (CMC); Se a consulta provir dos estados parte em conjunto ou de um órgão decisório do Mercosul, como o CMC, o GMC e a Comissão de Comércio do Bloco, deve ser aplicado o Reg. do Prot. De Olivos, decisão 37/2003, o que é estendido ao Parlasur, embora este último não possua capacidade decisória. Por outro lado, se o Poder Judiciário dos Estados Partes quiserem solicitar OC ao TPR, deverão obedecer à Decisão CMC 02/2007, que prevê quais são os órgãos de cada Estado Parte que podem elevar OC ao TPR. No Brasil, o órgão competente é o STF. Objetos da OC: a OC deve se referir exclusivamente à interpretação jurídica do Tratado de Assunção, do Protocolo de Ouro Preto, dos protocolos e acordos celebrados no âmbito do Tratado de Assunção, das Decisões do CMC, das Resoluções do GMC e das Diretivas do CCM. Em suma, só podem tratar do Direito do Mercosul, devendo esse ser aplicado no caso concreto pelo juiz nacional, se tratar de pedido do PJ de algum estado parte. Juízes de inferiores instâncias podem encaminhar solicitações de OC, desde que figure como legitimado ativo o órgão do PJ definido pelo Estado-Parte para tanto. A regulamentação para tanto é competência dos próprios Estados-partes. No Brasil, esse procedimento é regulado pela Emenda Regimental 48, do STF. A OC não é um mecanismo obrigatório, como é a questão prejudicial na UE, bem como a resposta da OC não é vinculante, nem obrigatória. Preâmbulo do TA prevê que o desenvolvimento econômico do Mercosul deve observar a preservação do meio ambiente. Declaração Conjunta sobre Meio Ambiente, de 1991, trata sobre a conservação da diversidade biológica e dos recursos hidrobiológicos, prevenção de acidentes e catástrofes, tratamento de dejetos e produtos nocivos ou perigosos, desertificação, atividade humana e meio ambiente, insumos agrícolas, saneamento, resíduos sólidos, contaminação transfronteiriça, entre outros temas. Declaração de Canela, de 1992, estabeleceu posições comuns aos Estados partes sobre meio ambiente e desenvolvimento. Nesse mesmo ano, foi criada a Reunião Especializada em Meio Ambiente (REMA). Em 1995, foi criado pelo GMC o Subgrupo de Trabalho n° 6 sobre “Meio Ambiente”, com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável na região, mediante ações que garantam a transversalidade da temática ambiental no processo de integração, para adoção de medidas ambientais efetivas, economicamente eficientes e socialmente equitativas. Em 2001, foi firmado o Acordo-Quadro sobre Meio Ambiente do Mercosul, que é a principal norma ambiental do bloco. Tal acordo estabelece seis princípios gerais destinados à promoção do meio ambiente (rodapé), demonstra a preocupação com a tomada de medidas destinadas ao desenvolvimento sustentável para a melhoria da qualidade de vida da população e dá população e dá prioridade à cooperação entre os Estados para a prevenção para a prevenção do dano ambiental. Tal acordo recebeu um protocolo adicional, em 2004, prevendo medidas para que os Estados possam prestar auxílio recíproco quando ocorrer uma emergência que tenha consequências efetivas ou potenciais ao meio ambiente ou à população de seu território. Porém, desde então não houveram significativos avanços na legislação comunitária ambiental do Mercosul, não tendo o desenvolvimento esperado, e não regulando temáticas centrais para o contexto da região, como a responsabilidade civil internacional por danos ambientais transfronteiriços. Ainda, no que tange a matéria ambiental, não há muitas causas que registram uso da solução de controvérsias, e não houve, até o momento, nenhuma solicitação de opinião consultiva ao TPR sobre a temática. No direito do consumidor, por outro lado, a atividade do Mercosul tem se mostrado mais intensa. Em 1995, foi Criado o Comitê Técnico n° 7, com a tarefa de estabelecer propostas de harmonização legislativa que resultem em padrões elevados de proteção ao consumidor que atua no mercado integrado, tendo tal comitê já empregado diversas metodologias legislativas de hard e soft law. Em matéria de soft law, destacam se a Declaração Conjunta dos Presidentes de Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, de 2000, que prevê que os direitos humanos incluem, em seu bojo, os direitos do consumidor, e, nessa mesma feita, foi aprovada a Declaração dos Direitos Fundamentais dos Consumidores do Mercosul, que elenca a necessidade de proteção eficaz da vida, da saúde, da segurança do consumidor e do meio ambiente contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços. A título de hard law, a primeira matéria do Mercosul foi a Res. 126/94, que constitui o verdadeiro pedestal da política de proteção ao consumidor, na medida em que recomenda a adoção de normas que sejam compatíveis com os padrões internacionais e afirma que o processo de harmonização legislativa deve em consideração o consumidor como agente econômico vulnerável. Tal resolução, ademais, é a única norma mercosurenha que contém normas de DIPriv do Consumidor, pois indiretamente indica a lei do mercado de destino dos produtos e serviços como a aplicável aos conflitos envolvendo o consumidor transfronteiriço. Resoluções oriundas das propostas do CT n°7 – p. 153. No campo do conflito de normas, o CT n° 7 produziu o Protocolo de Santa Maria sobre Jurisdição Internacional em Matéria de Relações de Consumo, em 1996. Tal protocolo, dentre outras regras, adota o domicílio do consumidor como regra geral para estabelecer a jurisdição internacional, reconhecendo as dificuldades e os riscos de um processo judicial levado a cabo no estrangeiro. Porém, tal legislação não entrou em vigor por estar condicionada ao Regulamento Comum de Defesa do Consumidor. Em guisa de aplicação, está o Projeto de Decisão do CMC n° 15/2012, que visa abordar a condição do consumidor transfronteiriço passivo (aquele que não sai do domicílio de seu país para contratar) e ativo (consumidor turista). Ademais, permite o emprego da autonomia da vontade para a escolha da lei que regerá o contrato, limitando-a a um rol de direitos preestabelecidos, que ficam à disposição do , fazendo especial preferência pela escolha do direito do Estado de domicílio do consumidor, condicionando a efetividade da eleição realizada a que o direito escolhido seja mais favorável à parte vulnerável do contrato. Ainda, está em trâmite um projeto de Estatuto da Cidadania do Mercosul, que pretende aprofundar, em matéria consumerista, a legislação comunitária. Porém, como boa parte dessas normas não se encontra em vigor, o quadro de defesa do consumidor no Mercosul hoje é bem precário, o que é péssimo para a circulação financeira entre os Estados Partes, o que requer a atenção dos países do bloco, especialmente no que tange o consumo sustentável, dada a defasagem legislativa já apresentada em matéria ambiental. Por fim, a autora afirma que, no Mercosul, as opiniões consultivas podem ser a cristalização do sistema de precedentes, desde que, obviamente, passem a ser utilizadas.