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Impressão e acabamento:
Papelmunde, SMG, Lda.
La edição, Dezembro de 2009
ISBN: 978-989-8285-02-7
Depósito Legal n.O303572/09
Esta obra está protegida pela lei. Não pode ser reproduzida
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será passível de procedimento judicial.
MI.MÉ.SIS
ARTES E ESPECTÁCULO'
A análise fílmica não é uma actividade absolutamente nova, longe disso. Quase
poderÍa~os dizer, forçando um pouco a nota, que ela nasceu ao mesmo tempo que
o cinema': à sua maneira, os cronistas que relatavam as primeiras sessões do Cine-
matógrafo, ao comentar pormenorizadamente as «vistasanimadas» que descobriam,
já eram um tanto analistas (às vezes precisos, nem sempre muito exactos).
Desd<;:então os críticos especializados substituiram-nos; em alguns, a atenção
que prestam ao filme é tão aguda que se torna verdadeiramente analítica (não
é o bom crítico de cinema aquele que sabe dissociar a forma fílmica da história
contada?). Ainda mais recentemente, com a integração cada vez mais marcada do
cinema na instituição cultural (pelo prisma dos cineclubes, das salas de repertório,
das cinematecas) e principalmente no ensino, na escola, a tendência acentuou-se.
Hoje o cinema pertence ao patrimonio cultural; a televisão, a rádio e os jornais
discutem-no em pé de igualdade com as artes tradicionais; a Universidade, há algu-
mas décadas, acabou por descobri-lo. Em suma, nunca o cinema foi tão comentado
e estudado, e reside aí a principal razão do desenvolvimento sistemático, sobretudo
no âmbit? dessas instituições, de uma prática da análise do filme.
Com efeito, se tivéssemos permanecido ao nível das fichas filmográficas do
IDHEC I, como eram escritas por volta de 1950, ou mesmo nas (excelentes)críticas
redigidas por André Bazin para "Peuple et Culture", sem dúvida este livro não
teria razão de ser. O que nos permite tentar uma teorização da análise do filme é
antes do rpais o aparecimento, entre 1965 e 1970, de um contexto universitário ou
para-universitário, em estreita ligação com os primórdios de uma teoria moderna
do cinema, de um tipo de análise mais minuciosa, mais sistemática - a que às vezes
se chamou algo abusivamente "análise estrutural". A análise estrutural é apenas
um ponto de partida, logo ultrapassada por todos os lados, como veremos, mas
que ainda hoje desempenha o papel de uma espécie de mito condutor da análise
fílmica em geral (mesmo que só por ter obrigado os analistas a utilizar, a propósito
do filme, os conceitos e métodos das chamadas ciências humanas).
Em França, mais globalmente na Europa e na América do Norte, existe actu-
almente, nos departamentos universitários de ensino do cinema e nas instituições
de investigação um bom número de analistas "profissionais"; o seu trabalho é
publicado em Francês e Inglês, mas também em Italiano ou Espanhol, em revistas
especializadas, para um público principalmente universitário.
concretos para ser proveitoso em análises efectivas. Por fim, a esse objectivo prin-
cipal da nossa obra junta-se um outro (que não nos parece menos importante):
esperamos, com esta amostragem das melhores análises fílmicas, inspirar o gosto
de ler es~asanálises - às vezes longas, muitas vezes difíceis, mas às quais o leitor
terá sempre interesse em regressar. Esperamos assim que este livro - antes do mais
destinado a todos os que estudam cinema (ou que o ensinam, o que vai dar ao
mesmo) - possa satisfazer também o leitor simplesmente curioso em aprofundar
a sua reflexão sobre os filmes, tornando-a mais racional e documentada.
i
Os autores deste livro colaboraram também, com Alain Bergala e Marc Ver-
net, na redacção de uma obra anterior, Esthétique du Film, que complementa o
presente volume.
Em diversas ocasiões permitimo-nos, para questões teóricas que não podíamos
reapresethar em pormenor, remeter em nota de rodapé a essa obra.
Queremos agradecer, pela ajuda amigável que nos prestaram durante a redac-
ção do nosso manuscrito, especialmente pelas suas críticas às versões anteriores,
a André Gaudreault, Ratiba Hadj-Moussa, Roger Odin, Dana Polan, Francis
Vanoye e Marc Vernet. .
Por fim, temos de prestar uma homenagem particular a Raymond BeBour,
cujos trabalhos, decisivos para o reconhecimento da análise fílmica como parte
integrante da actividade teórica, permitiram a própria ideia deste livro; o nosso
título, deliberadamente próximo do seu Analyse du film, pretende também traduzir
essa homenagem.
9
CAPfTULO 1
A análise do filme, na acepção que lhe d~remos ao longo de toda está obra,
não é estranha a uma problemática de ordem estética ou linguística. O objectivo
da análi~e é apreciar melhor a obra ao compreendê-la melhor. Pode igualmente
ser um desejo de clarificação da linguagem' cinematográfica, sempre com um
pressuposto de valorização desta. i
Os métodos de análise que estudaremos neste livro fazem parte desse conjunto.
Consequentemente vamos considerar o filme como obra artística autónoma,
susceptível de engendrar um texto (análise textual) que fundamente os seus sig-
nificados em estruturas narrativas (análise rlarratológica) e em dados visuais e
sonoros (análise icónica), produzindo um efe~toparticular no espectador (análise
11
A ANÁLISE DO FILME
psicanalítica). Essa obra deve também ser encarada na história das formas, dos
estilos e da sua evolução.
Propomos então distinguir as análises de filmes intrínsecos daquelas queneces-
sitam um confronto da obra estudada com outras manifestações sociais. Para dar
um exemplo, a análise propriamente histórica de um filme deverá numa primeira
fase proceder ao estudo interno da obra, decompondo principalmente os elementos
de representação sócio-histórica observáveis nela. Mas será um estudo selectivo; não
levará em conta elementos sem qualquer função no mecanismo de representação
histórica; por exemplo, o facto deo filme ser a cores, ou em cinemascópio. Além
disso, deverá necessariamente confrontar os seus resultados com os outros tipos
de representação produzidos pela literatura, a imprensa, a publicidade, etc. -
Em Sociologie du cinéma, o historiador Pierre Sorlin, em Ossessione2 (Visconti, 1942), faz o
levantamento de todas as unidades que respeitam à representação da mulher, a imagem
do campo e a sua oposição à cidade, tal como o filme a constrói. Segundo a sua análise, a
cidade tem um enquadramento, e o campo não: "Os cineastas não vêem o campo, este
não lhes é perceptível, só lhe conseguem discernir características periféricas ou transitivas
(aquilo que passa por ele). ~ essa cegueira que interessa ao historiador das sociedades,
pelo que ela lhe ensina do universo da produção cinematográfica na Itália de 1942".
2 Os filmes que não tiveram estreia comercial portuguesa em sala surgirão no texto com o
seu título original. As dúvidas relativamente aos títulos originais dos filmes estreados podem ser
dissipadas através do Índice de filmes citados. (N. do T.)
12
1. PARA UMA DEFINiÇÃO DA ANALISE DO FILME
Como é natural, esta ideia deve ser posta em causa mal a formulámos. Em
primeiro lugar, porque é algo simplista. Decerto cada analista deve habituar-se
à ideia de que precisará mais ou menos de construir o seu próprio modelo de
análise, unicamente válido para o filme ou o fragmento do filme que analisa; mas
ao mesmo tempo, esse modelo será sempre, tendencialmente, um possível esboço
de modelo geral, ou de teoria; isso é, no fundo, uma cOllsequência directa do que
acima dissemos sobre a consubstancialidade da análise e da teoria. Todo o analista
tem vocação para se tornar teóriço, se não o for já à partida, e a multiplicação
das análises singulares tem muitas vezes como causa ou objectivo o desejo de
aperfeiçoar ou contestar a teoria.
Pode~os mencionar, como exemplo de sintoma dessa tendência para o geral a partir do
singulàr, os títulos de dois livros que constituem recolhas de análises singulares e textos
metodológicos sobre pontos particulares: L'Ana/ysedu fi/m, de Raymond Bellour, e Théorie
du fi/m, obra colectiva com a direcção de Jacques Aumont e Jean-Louis Leutrat.
que consegue utilizar essa faculdade interpretativa, mas que a mantém num quadro
tão estritamente verificável quanto possível.
É escusado dizer que raras vezes esse ideal é atingido, e que o analista fica
sempre algo "imobilizado" entre a vontade de se cingir exactamente aos factos,
com o risco de apenas parafrasear o filme, e o desejo de dizer qualquer coisa de
essencial sobre o seu tema, com o risco de deformar os factos ou de os deslocar
abusivamente numa determinada direcção.
No seu artigo "Por uma semio-pragmática do cinema", Roger Odin propôs a hipótese de
que cada filme pode originar, senão uma infinidade, pelo menos um grande número de
análises, e que o próprio texto do filme funcionaria como um limitador relativamente
a essa possibilidade de multiplicação: o filme, em suma, não proporia qualquer análise
particular sobre si mesmo, e apenas interditaria certas abordagens. "Não só um filme
não produz sentido por si, como tudo o que ele pode fazer é bloquear um certo número
de investimentos significantes".
Estaformulação tem a vantagem de definir o filme como garante - e único garante - da
pertinência da análise, e do não-delírio do analista.
A história do cinema é rica em filmes que ocasionaram interpretações amplamente diver-
gentes, e até francamente contraditórias; é o caso de numerosas obras de Luis Buriuel:
Nazarin (1958),EIAngel exterminador (1962),O Fantasma da Liberdade (1974);assim como
de Pier Paolo Pasolini: O Evangelho segundo S. Mateus (1964), Teorema (1968), Saló ou os
120 Dias de Sodoma (1974).
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1. PARA UMA DEFINiÇÃO DA ANÁLISE DO FILME
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A ANÁLISE DO FILME
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1. PARA UMA DEFINiÇÃO DA ANÁLISE DO FILME
Não nos é possível reproduzir em pormenor toda a análise que se segue a esta
declaração de princípios. A prancha de fotos e esquemas anexa, feita pelo próprio
Eisenstein, permite compreender rapidamente como o autor executa o seu programa
de análise. Reparamos, por exemplo, nos planos lI, III, IV; V e VI, no surgimento
e nas transformações de um tema plástico, claramente sublinhado como tal pelos
esquemas; o tema do arco circular. Os esquemas fazem igualmente sobressair de
modo muito claro a importância formal concedida, por exemplo, às direcções dos
movimentos no enquadramento, assim como à direcção dos olhares para fora de
campo (veja-seespecialmente os planos I, lI, IlI, IV e V). Ou ainda esse elemento,
bastante realçado pelo texto, da alternância de par e ímpar, particularmente nos
planos sobre as personagens.
O que sobretudo surpreende nesta análise é o seu carácter extremamente
formal; Eisenstein dedica-se muito ao pormenor da composição dos planos,
aos enquadramentos, ao lado plástico da sucessão dos quadros, etc. - o que
pode parecer surpreendente a propósito de um filme de que se louvou pri-
meiramente, em todas as épocas, a força lírica e o entusiasmo revolucionário.
Mas a análise é muito convincente: trata-se precisamente de demonstrar que o
lirismo, o entusiasmo (comunicativo), e por fim a eficácia política do filme, só
se alcanÇfm com um trabalho formal minucioso, que obedece a leis próprias
cuja transgressão, longe de conduzir o cinema a um maior realismo, apenas o
torna banal. Se Eisenstein perde tanto tempo a destacar aqueles arcos circulares,
aquelas verticais e horizontais, aqueles grupos pares e ímpares, é somente para
melhor fazer ressaltar, no seu lugar politicamente eformalmente exacto, o plano
da bandeira vermelha (XIII):
Depois de se ter dividido em pequenas velas, a grande vela volta a juntar-se; mas desta
vez já não é uma vela, mas a bandeira que flutua sobre o "Potemkine". Qualidade nova
do fragmento: ele é simultaneamente estático e dinâmico- o mastro vertical está imóvel,
a bandeira flutua ao vento. Formalmente, o plano XIII repete o XI. Mas a substituição
da vela pela bandeira transforma o princípio da união plástica em princípio da união
ideológico-temática. Já não é uma simples vertical que une plasticamente os diversos
elementos da composição - é o estandarte revolucionário que une o couraçado, os
barcos e a margem.
dos seus filmes. No próprio Eisenstein, este texto é talvez o que vai mais longe
numa abordagem tão sistemática (e ele costumava aplicar as suas qualidades de
analista à pintura ou à literatura). Com os seus limites e os seus defeitos, pois muito
haveria a objectar, senão quanto ao método, pelo menos a alguns comentários de
pormenor, ele surge hoje em dia como um dos protótipos, dos "antepassados", da
análise fílmica.
3 Muitos críticos que se tornaram famosos, e cineastas não menos famosos, participaram assim
na redacção dessas fichas; para mencionar alguns nomes: Jean Collet, Gilbert Salachas, Claude
Miller, Chris Markere até Jean-Luc Godard.
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1. PARA UMA DEF;INIÇÃO DA ANÁLISE DO FILME
24
1. PARA UMA DEFINiÇÃO DA ANALISE DO FILME
I
25
A ANÁLISE DO FILME
Jean Gabin e Jaequeline Laurent em Foi Uma Mulher que o Perdeu, de Mareei Carné (1939).
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1. PARA UMA DEFINiÇÃO DA ANÁLISE DO FILME
muitos aspectos da análise do filme. Mas é impottante sublinhar já, como exem-
plo último do carácter multiforme da análise, uma coincidência, amplamente
sobredeterminada em termos históricos, entre a publicação dos primeiros textos
fundadores da semiologia do cinema, a introdução na universidade dos estudos
cinematográficos, e o surgimento de novas gerações de cineastas cinéfilos, tudo
factores que incentivam o estudo pormenorizado dos filmes, proporcionando-lhes,
além disso, um lugar de actualização e uma legitimação cultural.
Mas esses estudos principiantes logo esbarraram num problema que, por res-
peitar à única base material do ensino, não foi menos crucial: o da inacessibilidade
das cópias dos filmes. Seria simplista concluir que essa penúria, mais ou menos
relativa, de filmes a ver fora das condições de recepção numa sala de cinema seria
a única causa da proliferação de análises a filmes isolados; é mais provável que a
raridade dos filmes, juntamente com a possibilidade (também ela relativamente
nova) de os visionar em mesas de montagem ou projectores "analíticos" explique
em patte que, relativamente a outras abordagens possíveis, a análise tenha então
ocupado tanto terreno.
Nesse período - que talvez se tenha encerrado com a renovação do interesse
pelos estudos históricos, a criação ou a transformação das cinematecas, a consti-
tuição de ficheiros e catálogos de filmes - a teoria e a análise, para dizer o mínimo,
viveram em harmonia. Muitas vezes a análise foi simultaneamente vivida como
o momento empírico e o momento heurístico da teoria: momento e meio de
verificação das teorias, mas também da sua invenção ou do seu aperfeiçoamento
(voltaremos ao assunto em 8.1).
Talvez possamos encontrar o signo, emblema dessa conivência, na pausa
na imagem. O que no filme surge ao primeiro contacto como mais resistente à
análise é o tempo: o facto de o filme desfilar no projector cujo fluxo, imparável,
da projecção não controlamos, ao contrário do que acontece com um livro que
folheamos. É precisamente esse carácter inelutável do desfile que a pausa na ima-
gem vem romper, ao permitir, de uma forma que para alguns é às vezes abusiva,
introduzir uma palavra ou um discurso no que normalmente o proíbe: a imagem
em movimento e sonora.
É evidente que uma análise não se resume à pausa na imagem (por isso dizemos
que esta é o emblema daquela, e não o seu método ou essência): é porém inegável
que é a partir da possibilidade dessa pausa que o objecto-filme se torna plena-
mente analisável: mesmo não podendo recorrer efectivamente a ela, é a partir de
elementos reconhecíveis na pausa na imagem que podemos construir as relações
lógicas e sistemáticas que são sempre o objectivo da análise.
31
A ANÁLISE DO FILME
32
I CAPfTULO 2
Instrumentos e técnicas
daanálise
I
1. FILME E METAFILME:
N.Â.O-IMEDIAÇAo DO TEXTO FÍLMICO
1.1. o filme e a sua transcrição
Mais a~ndaque para qualquer outra forma de produção artística, a análise do filme
necessita recorrer a diferentes fases, a documentos diversos, a "instrumentos".
Conforme já mencionámos, as condições próprias do espectáculo cinematográfico
são, psicologicamente, muito particulares. Sentado no escuro, num estado de inevi-
tável passividade, o espectador não domina a sucessão das imagens, e rapidamente é
o
submergido pela cadência da projecção; a todo momento o filme oferece-lhe uma
importante quantidade de informações sensoriais, cognitivas e afectivas. É certo
que, ao ver o mesmo filme várias vezes, podemos conseguir memorizar com mais
fidelidade certos pormenores, relatar com poucos enganos os principais momen-
tos da evolução narrativa, referir com uma certa precisão determinada passagem
visualmente impressionante. Diariamente os melhores críticos de cinema provam
que a perspicácia crítica é aperfeiçoável, e que os olhos e ouvidos podem educar-se
e requintar-se. É preciso ver e rever os filmes que se analisa, e é inimaginável um
trabalho analítico não fundamentado em pelo menos três visões do filme.
Dito isto, naturalmente a visão, e mesmo a revisão, não é tudo. Num certo sen-
tido, quase se pode dizer que entre o objecto dá análise do filme e o objecto-filme
percebido imediatamente pelo espectador na Jala de cinema só existem relações
bastante longínquas. É que, seja qual for a abordagem escolhida, o objectivo da
análise é elaborar uma espécie de "modelo" do filme (no sentido cibernético, e
não no normativo, como é evidente), e que PO( consequência, tal como qualquer
objecto de pesquisa, o objecto da análise do filme exige ser construído. Alguns
teóricos chegaram mesmo a fazer uma distinçã6 radical entre o filme, unidade do
espectador e o filme, unidade analítica. i
Num artigo de 1973 intitulado "Le défilement" [O Desfile], Thierry Kuntzel distinguiu
claramente o "filme-película", o "filme-projecção" e o terce~ro estado do filme que é
aquele que diz respeito ao analista. "0 fí/mico em questão na análise fílmica não reside
no movimento, nem na fixidez, mas entre ambos, no engendramento do filme-projecção
pelo filme-película, na negação desse filme-película pelo filme-projecção (... )"
filme" de que trata a análise é nada mais nada menos que a dificuldade, e mesmo a
impossibilidade, de analisar um filme sem recorrer a artefactos intermediários, eles
próprios já parcialmente "analíticos", que permitem fugir às limitações do desfile.
Vamos agora enumerar os mais importantes desses artefactos, desses "ins-
trumentos", mas antes queremos insistir ainda nessa relação da análise com o
"próprio filme".
Em relação ao analista de textos literários, de pinturas, de peças de teatro e
de obras musicais, o analista de filmes encontra-se de facto numa situação bas-
tante particular; diversamente do quadro ou da representação teatral, não existe
"original" fÍlmico (a não ser talvez o negativo do filme, ao qual só têm acesso os
técnicos de laboratório); mas inversamente, e ao contrário do texto literário ou
musical, o filme resiste mal à reprodução, que tende a deformá-lo: uma peça de
Corneille mal impressa continua igual a si mesma, mas um filme de Dreyer numa
cópia escurecida tt.ansforma-se irremediavelmente. É portanto evidente - e merece
ser amplamente sublinhado num momento em que o suporte magnético se torna
cada vez mais predominante nos estudos fílmicos - que é preciso ver Cleopatra,
de ]oseph Mankiewicz, em 70 mm, e que Playtime - Vida Moderna, de ]acques
Tati, talvez nunca mais seja visível na sua versão original.
Essaexigência que aqui recordamos tem essencialmente valor de princípio, e a maioria
dos analistas costuma trabalhar ou com cópias mais ou menos fiéis, ou com cópias
magnéticas, sem falar de instrumentos ainda menos imediatos, que abordaremos. De
igual modo a análise de um quadro pode, durante certo tempo, satisfazer-se com uma
reprodução. Em ambos os casos, o que usamos como suporte da análise conserva a
mesma qualquer coisa da própria obra; mas em ambos os casos, é preciso que nos
aproximemos o mais possível do original.
I
2. INSTRUMENTOS DE DESCRIÇAo
De mddo geral podemos dizer que os elementos essenciaiscomummente descritos
numa análise do filme são os da narração, da realização, 'Üucertas características
da imagem - e que é raro encontrar descrições sistemáticas da banda sonora de
um filme. ,Vamos ater-nos, portanto, a esses instrumentos mais frequentes.
35
A ANÁLISE DO FILME
8 Henri Diamant Berger, Cinémagazine, 9 de Setembro de 1921, citado por Jean Giraud, Le
Lexique du cinéma français des origines à 1930, Paris (CNRS), 1958.
9 Para todas estas noções, ver Esthétique du film, capítulos 1 e 2.
36
2. INSTRUMENTOS E TtCNICA DA ANÁLISE
37
Muriel, de Alain Resnais, 1963 »
»
PLANO IMAGEM SOM z
»-r
CAMARA RulDOS Vi
N••
DESCRITIVO
DURAÇAo (grandeza, ângulos, DIALOGOS (in/off) + m
(cor, conteúdo, movimento)
movimento) MÚSICA
O
6 1,8seg. - Cor-de-Iaranja-castanho. -G.P. A seguir havia a loja de malhas '~ la Grãce de Dieu. Pássaros O
(510) - Duas gavetas em forma de alvéolo, sobrepostas, - Rosto ligeiramente ::!J
contendo talheres prateados. à esquerda. Picado r
de ângulo menos s:m
acentuado.
-Fixo.
7 1,83 sego - Banco. -G.P. - Mas não vejo essaloja, era uma
- Copos brilhantes sobre um vidro diante de um espelho - 30. direita. Picado.
reflexos alterados -Fixo.
- Fixo.
10 5,62 sego - Negro e vermelho. -P.A. (Empregado): Morei trinta anos neste bairro. Não
(515) - Três personagens: um de costas em primeiro plano, - 30. esquerda. é por terem caído aqui bombas que já não me
dois de frente em segundo plano. Um está atrás de -Fixo. lembro da minha rua.
um balcâo de bar, os outros à frente. Candeeiro ligado
(garrafa de uísque e abajur escocês vermelho). Cenário
pintado atrás do empregado.
- O empregado fala mexendo a cabeça. A segunda
personagem ao fundo abana a cabeça.
2. INSTRUMENTOS E TÉCNICA DA ANÁLISE
Imediações de Neuville-sur-Oise - exterior dia 222. Plano geral (no eixo contrário): o mesmo
213.Plano de conjunto: asredondezas dos lagos caminho. Elesafastam-se, com eleatrás, sempre
(o "Domaine desJeunes").Uma paisagem ondu- em silêncio.
lante, com ervajá amarelecida, e arbustos pouco 223. Plano geral: o caminho já nem sepercebe,
abundantes. Fabien e Blanche afastam-se. com as ervas. Blanche, à frente, e Fabien avan-
214.Plano geral: o cimo de uma pequena colina; çam em silêncio para a câmara. Saem de campo
algumas rochas afloram na relva. Blanche à frente, pela direita, deixando o campo vazio
e Fabien entram em campo pela frente, à por um momento.
esquerda; páram sobre as rochas, contemplam 224. Plano geral: muro em pedra à beira de um
a paisagem: uma fila de árvores, ao fundo do caminho. Blanche e Fabien aproximam~se do
plano. muro pela direita. Fabien faz um degrau com
Blanche. Ah, mas é o Oise ... as mãos para que Blanche suba ao muro, que
214. Plano de conjunto em panorâmica, da ele escala a seguir. Passam para uma espécie
esquerda para a direita (com teleobjectiva), pela de jardim, ou bosque, elevado relativamente
paisagem que Blanche e Fabien vêem. Um rio ao caminho (o parque de Neuil/y).*
ladeado de árvores (o Oise),hortas, uma aldeia 225. Plano geral: Blanche e Fabien, caminhando
ao fundo (Jouy-Ie-Moutier). numa mata de vegetação rasteira, da esquerda
Blanche (off) .... além! Hem? para a direita, acompanhados em panorâmica.
Fabien (off). Sim! Ali, atrás das árvores! Progridem sempreno maior silêncio,semseolhar.
215. (=213), sobre o par. Detêm-se: Fabien senta-se no chão, enquanto
Blanche fica de pé, a olhar para cima.
Fabien. E ele dá uma volta. Ali conseguimos
perceber. Ele dá uma volta assim (estende o 226. (Contracampo): árvores, o sol, através da
braço, rodando à direita sobre si mesmo), estás a ramagem (pequena panorâmica da esquerda
ver, vira ali 110 baixio, junto a ... para a direita).
216. Plano de conjunto. Cergy-St-Christophe, 22Z Plano aproximado de tronco: Blanche,
visto (ao longe) da pequena colina; muitas de mãos na cintura, sempre olhando para
árvores em primeiro plano. cima, a cabeça toda inclinada para trás, com
ar comovido.
Fabien (off) .... onde tu moras, ali, Saint-
-Christophe! 228. (Contracampo): nova panorâmica pelas
Blanche (off). Ah sim! Vê-se a torre do Belvé-
árvores e céu; o vento agita as folhas. Ainda o
dere!
mais profundo silêncio.
Fabien (off). Sim ...
229. Plano aproximado de tronco: Blanche,
ainda de mãos nas ancas; ele vira a cabeça e o
21Z (=215), sobre o par.
peito, regressa à posição inicial.
Fabien. (continua a rodar. Agora está de frente
230. Plano aproximado de peito: Fabien, sen-
para a câmara). Depois continua assim ...
tado, busto a três quartos, filmado da esquerda,
218.Plano de conjunto: a paisagem descrita por de rosto voltado para a câmara olha para cima
Fabien; em primeiro plano as árvores, ao longe à direita (para Blanche).
Cergy-Pontoise (panorâmica da esquerda para
231. (=229) Blanche. Ela vira-se mais ainda,
a direita seguindo a descrição de Fabien).
depois volta a olhar na direcção da câmara,
Fabien (off) .... ele dá a volta toda em círculo de lágrimas nos olhos, enquanto Fabien, que se
assim, passa diante de Cergy-Préfecture, até ao
levantou, entra em campo pela esquerda.
pé da torre E.D.F.
Fabien (surpreso,um pouco incomodado, também
219. (=217), sobre o par. ele comovido). Estás a chorar? (passa por trás de
Fabien (vira-se completamente, em sentido Blanche, fica à direita)
contrário, até nos virar novamente as costas, e Blanche. Não! (desvia-se dele)
aponta uma direcção à esquerda). Conheço um
Fabien. É do sol?
caminho muito agradável na margem, mesmo
junto ao Oise ... Blanche. Não, não sei do que é... (afasta-se
220. Plano geral: Blanche e Fabien caminham bruscamente para a esquerda, acompanhada em
numa vereda de terra ladeada de arbustos; a panorâmica pela câmara, que deixa Fabien).Talvez
câmara acompanha-os numa panorâmica da este silêncio ou ... ou a hora, porque ... sabes
direita para a esquerda, epercebemos então que quando o sol começa a pôr-se, sente-se sempre
os dois estão à beira do Oise. Um barco passa uma angústia ... (Suspiro) E eu sinto-me bem ...
atrás deles, muito lentamente. (Sorri) Mesmo bem de mais! (Secauma lágrima).
221. Plano geral: O caminho tornou-se mais Fabien (off). Como assim, de mais?
estreito, um atalho invadido pelas ervas, aper-
tado entre osarbustos. Blanche,à frente, eFabien * Fim da terceira bobina de dezanove minutos e
avançam para a câmara em silêncio. trinta segundos.
39
. A ANÁLISE DO FILME
mas também nas sequências musicais dos filmes de Busby Berkeley ou de Stanley
Donen, ou ainda em filmes como Madame de... ou La Ronde, de Max Ophuls, a
descrição pode rapidamente perder-se nos turbilhões dos movimentos de câmara
e nos arabescos dos movimentos das personagens. De igual modo, um filme cons-
truído em longos planos quase fixos, como Gertrud, de Carl lh. Dreyer, coloca
problemas específicos: aqui são as personagens que, a todo o momento, entram
ou saem de campo, causando reenquadramentos constantes, embora mínimos;
a realização assenta em gestos e olhares que tendem para fora-de-campo - e a
mudança de plano, mais rara, é apenas um elemento entre outros, que a descrição
não tem motivo para privilegiar.
Assim, essetipo de decomposição é operativa sobretudo para os filmes realizados
conforme os cânones do "estilo clássico", com planos de uma duração média (8
a 10 segundos), ligados por uma figura claramente reconhecível, e em função de
uma realização que se centra alternativa e igualmente nas diversas personagens.
Mesmo com estas limitações, a decomposição por planos é um instrumento
interessante. No mínimo, ela constitui um utensílio de referência, que permite por
exemplo ajuizar se a cópia de que dispomos para o filme estudado está completa
e conforme ao original.
Estas questões de "filologia" fílmica são importantes, principalmente no que respeita
ao cinema mudo. Com efeito, muitos filmes desse período foram realizados em várias
versões, destinadas à exportação para diferentes países, ou remontados, abreviados,
"escortanhados" de várias maneiras pelos produtores e exploradores. Na maioria dos
casos é impossível determinar com certeza a montagem original desejada pelo autor; o
analista deverá então esforçar-se por confrontar as diversas cópias existentes (nas cine-
matecas onde isso for possível) e fazer o levantamento das diferenças verificadas. Foi o
que fizeram, entre outros, Eric Rohmer para a sua decomposição do Fausto de Murnau,
Michel Bouvier e Jean-Louis Leutrat para a decomposição de Nosferatu, de Murnau, Charles
Tesson para a decomposição de Vampyr, de Dreyer, etc. Para nos ficarmos pelos grandes
clássicos, filmes como Nascimento de uma Nação, de Griffith, Outubro, de Eisenstein,
Metropolis, de Fritz Lang, existem actualmente em várias cópias diferentes, e o analista,
impossibilitado de poder restabelecer um improvável estado original, deve estar pelo
menos consciente do problema.
2.2.llsegnnentação
O que hoje se convencionou chamar a "segmentàção" respeita a uma relação do
que, na linguagem crítica corrente, se designa as "sequências"de um filme (narrativo).
li Alain Robbe-Grillet, Glissements progressifs du plaisir, Paris, Éd. de Minuit, 1974. Claude
Bailblé, Michel Marie, Marie-Claire Ropars, Muriel, Paris, Galilée, 1974.
40
2. INSTRUMENTOS E TÉCNICA DA ANÁLISE
Foi sobretudo para minorar estas dificuldades que Christian Metz, num dos
seus primeiros artigos, propôs com a designação "grande sintagmática", entretanto
celebrizada, uma tipologia mais exacta das ordenações sequenciais nos filmes de
ficção. Mais adiante indicaremos os principais tipos propostos por Metz; por
agora fixemos, no que tange à delimitação propriamente dita dos segmentos, o
seguinte:
- Primeiramente, a "grande sintagmática" só tem a ver com a banda-imagem;
ela assenta portanto na hipótese implícita de que todas as mudanças de sequência
(ou, mais precisamente, de segmento) coincidem com mudanças de plano, o que
nem sempre é evidente, por exemplo quando o som de um dado segmento se
prolonga no segmento seguinte.
- Os critérios de delimitação são múltiplos; Metz considera segmento autó-
nomo de um filme qualquer passagem desse filme não interrompida "por uma
mudança importante no curso do enredo, nem por um sinal de pontuação, nem
pelo abandono de um tipo sintagmático em favor de outro". Se o critério dos sinais
de pontuação não é ambíguo (embora tenha pouco interesse geral, como acabá-
mos de ver), a aplicação dos outros dois é mais delicada. A noção de "mudança
importante" é bastante vaga, embora muitas vezes praticável. Quanto ao terceiro
critério, o abandono de um tipo de sintagma em favor de outro, ele remete para
a tipologia dos segmentos.
- Em conclusão, o modelo da "grande sintagmática" não fornece, quanto à
delimitação dos segmentos, soluções instantâneas. Em praticamente todos os casos
de aplicação concreta que se tentaram com ele, tropeçamos em dificuldades ou
incertezas. Não obstante, as categorias que ele emprega possuem, na maioria dos
42
2. INSTRUMENTOS E TÉCNICA DA ANÁLISE
casos, grande poder de sugestão, e essa tipologia continua a ser uma referência muito
útil, que' é necessário saber adaptar aos casos particulares que encontramos.
Vejamos então os diversos tipos de segmentos que Christian Metz descreve,
e a questão da estrutura interna desses segmentos. A tabela dos diferentes tipos
de segmentos é construída, no artigo de Metz, pela aplicação de uma série de
dicotomias sucessivas, baseadas em critérios :lógicos. O quadro seguinte resume
essas operações:
I
"
Segmentos autonomos
.
Smtagmas ~l'. OglCOS
a-Cfono ; S.~
Intagmas crono 1'.
OglCOS
/~
Alternantes: Não-alternantes:
2. Sintagma 3. Sintagma
paralelo em chaveta
Sucessão: Simultaneidade:
Sintagmas narrativos .4. Sintagma
~ ~ descritivo
Alternantes: Nã~ernantes:
5. Sintagma
alternado
6. Cena
/~
Sem elIpses: Com elIpses:
7. Sequência
43
A ANALISE DO FILME
! I
Geraldine Chaplin e Isabel Mestres em Elisa, Vida mia, de Carlos Saura (1977).
está no quarto, acabou de ter uma "visão" relativa à história de assassinato que o
pai lhe contara durante ó passeio, e passamos então a uma longa panorâmica sobre
o campo, e depois a Luis, a trabalhar no escritório. Definimos assim quatro blocos
de extensão desigual (planos 1-35,36-129, 130-140, 141-171). O critério mais óbvio
para continuar a segmentá-los é de ordem diegética: o segundo bloco, por exemplo,
é marcado pela espécie de enclave que constitui a "visão" (ou alucinação?) de Elisa
(planos 62-66); o terceiro, aparentemente, pela "visão" do assassinato (138-139); o
quarto sobrepõe várias dessas passagens "oniriformes". Por fim, obteríamos uma
46
2. INSTRUMENTOS E TÉCNICA DA ANÁLISE
segmentação ainda mais apurada em função dos lugares diegéticos representados 14.
Assim, o primeiro plano representa uma vista de conjunto de uma planície vazia,
atravessada por um carro que vem do horizonte, e constitui um primeiro segmento
em si. Os planos 2-6 mostram o percurso do çarro até ao pátio interior da quinta
(2.° segm~nto). No plano 6 as personagens entram na casa, atravessam um apo-
sento e dirigem-se à cozinha (planos 6-19, 3.° segmento). No plano 20 Elisa entra
no escritório do pai (e principia um dos temas musicais); vai ler o manuscrito que
aí encontra (planos 20-30, 4.° segmento); no plano seguinte encontramo-nos de
novo no pátio da quinta, chega o pai (planos 31-35, 5.° segmento), etc.
Não nos alongaremos com este exemplo. Apenas queríamos sugerir, primei-
ramente, a dificuldade que existe, logo que nos afastamos minimamente do
"classicisl1lO"mais estritó, na utilização imediata das categorias de segmentos
definidas pela "grande sintagmática"; depois, a importância de uma adequação
dos critérios de segmentação adoptados ao objectivo pretendido. As fases sucessivas
que traçámos para dividir o começo de Elisa, Vida mía, que passam de fragmentos
muito grahdes do filme para fragmentos cada vez mais redluzidos,de certa maneira
conduzem de uma "macro-segmentação", correspondente aos três grandes blocos
narrativos (da ordem da "sequência" no sentido que essa palavra tem na linguagem
corrente), para uma "micro-segmentação", que procura determinar as articulações
mais ínfimas (e é claro que a última segmentação que esboçámos ainda podia
prosseguit muito tempo).
47
A ANÁLISE DO FILME
48
2. INSTRU'MENTOS E TÉCNICA DA ANÁLISE
pIo, era preciso indicar que o gesto de Beniard se inscreve numa série anterior
em que 'o vimos, por inserts muito rápidos, a preparar o café (planos 7, 17,28,32)
na cozinha, enquanto Hélene acompanhava um cliente: além disso, até então,
só tínhamos visto as mãos de Bernard, e $-al lhe apercebêramos o rosto, num
plano fugaz (plano 30, 1 segundo). No plano analisado, seria necessário referir o
quanto:a realização sublinha a extrema mobilidade das personagens, o facto de
não pararem quietos, a perturbação de Hélêne (irritada com a descontracção de
BernarCl?Angustiada pelo regresso de Alph,onse?), para não falar das numerosas
informilções fragmentadas ou misteriosas comunicadas pelo diálogo (quem é
Muriel? Quem é esse "ele" que está para chegar?).
.
- Etn seguida, e correlativamente, a desctição, como qualquer transcodificação,
. I
é selectiva, como há pouco sublinhámos; II1asalém do mais, uma imagem - este
é um lugar comum da semiologia visual - possui sempre vários níveis de signifi-
cação. No mínimo a imagem sempre veicula elementos informativos e elementos
simbólicos (nem sempre é impermeável a fronteira entre esses dois níveis que os
semiólogos costumam distinguir). Ao descrever uma imagem, a primeira tarefa
do analista é identificar correctamente os elementos representados, reconhecê-los,
nomeá~los. Esse nível do sentido literal, da "denotação", parece evidente, mas na
I '
verdade os "sem~s" visuais têm limites culturais bem precisos: pensemos simples-
mente; no apartamento onde decorre o plano 33 de Muriel, e nas dificuldades
que teria, sem dúvida, um filmólogo japdnês ou bambara para compreender a
estrutura e a funcionalidade daquele espaçb (veja-se, pelo contrário, a dificuldade
que m~itas vezes experimentamos para entender a estrutura da casa nos filmes de
Ozu). ;Quanto ao nível "simbólico", é ainda mais clara e francamente convencio-
nal, e ia sua leitura correcta, mesmo no estádio da simples descrição, exige uma
familiflridade real com o vestuário, o pano de fundo histórico, os simbolismos do
universo diegético que o filme descreve.
Equivale a dizer que não existe, em matéria de descrição de planos, uma receita
milagrosa, e que, mais claramente do que nunca, a descrição é aqui um primeiro
estádio da análise. No capítulo 5 voltaremos a estas questões da análise da imagem
e do sbm, e proporemos algumas abordagens.
I
2.4. (luadros, gráficos, esque01as
I '
11 2 Casa deGigi Gigi 22-24 sequência vocalizações Gigi chega à casa da sua avó Mamita, que lhe recorda
(ext. int.) Mamita /mãe off/ ser o dia de visita à tia Alicia.
111 3 Em Paris /Honoré/ 25 plano Little Girls Um cabriolé cruza a praça e pára diante de um prédio
Casa de Gaston autónomo variação luxuoso.
(ext.)
4 Casa de Gaston Gaston 26 plano Anunciam a Gaston Lachaille a visita do seu tio. Ele
(int.) fornecedor autónomo acaba de resolver uns assuntos e sai.
criado
5 Casa de Gaston Honoré 27-28 sequência O encontro de tio e sobrinho, que partem de cabriolé
(ext.) Gaston por Paris.
6 Em Paris Honoré 29-40 cena It's a Bore Honoré gaba os encantos da vida (Paris, o vinho, as
Gaston depois por mulheres, a alta-roda). Gaston replica que tudo o
Honoré/Gaston aborrece. Faz parar o cabriolé.
IV 7 Casa deGigi Gaston 41-48 cena Gaston chega à casa de Mamita. Falam de Gigi. Gaston
(ext. int.) Mamita espanta-se com as "lições" que Alicia lhe dá.
V 8 Casa de Alicia Alicia 49-64 sequência Gigi chega a correr à casa de Alicia. Lição de boas
(ext. int.) Gigi maneiras (como comer com requinte). Conversa sobre
o casamento.
2. INSTRUMENTOS E TÉCNICA DA ANÁLISE
2
5
Poster erótico
Violette
r.-
na cela
1
de olhos vendados
1
de vermelho
"Violência sexual"
10 Uma mulher, de olhos vendados de vermelho,
•
está encerrada numa jaula.
11 Sonia também está numa jaula.
Tema do "mjllício"
19 Escorpião
21, 22, 27 Fogo
32-43 Sangue e vidro partido
"Violência sexual"
45 Marie-Eve, estendida na mesa da violação
47 Marie-Eve, ensanguentada, na banheira (C)
49 Marie-Eve sobre uma grade
50 Mulheres em jaulas: têm os olhos vendados (a' e b)
55 Duehemin morto
I '~ssass~nato"
\
57 Foto de Violette, ensanguentada
61 Mare-Amoine morto, na água
~ ~
62 Violette na cela de olhos vendados de vermelho
51
A ANÁLISE DO FILME
Por fim, vamos mencionar um último exemplo de esquema, às vezes útil para a
análise da realização, do enquadramento, etc.: a "planta" da colocação das câmaras
numa determinada sequência. Eis como Edward Branigan reconstitui as colocações
sucessivas da câmara numa cena de Flores do Equinócio, de Yasujiro Ozu.
(Dizemos bem: "reconstitui". Com efeito, esta "planta" pressupõe uma uni-
dade do. plano diegético, que na prática se obtém a custo de inúmeras pequenas
"batotas" de pormenor nas disposições relativas dos objectos e das personagens
de uns planos para os outros - o que geralmente impedle que se atribua à câmara
uma posição absolutamente certa; esse tipo de esquema é portanto útil sobretudo
para evidenciar as posições relativas das colocações sucessivas da câmara).
~vedação
I
/é\ I,
"iQVÇ7
\ I
)<' I
_--c~
I' I
.: I /1
I\'-t--~
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HlRAYAMA &' ESPOSA
--------------1'
.v
,
I
ê árvores
_----rI
":--__
-----'
I
,...,
@
PASSEIO DA FAMÍLIA
PLANTA 2.S
53
A ANÁLISE DO FILME
3.2. O fotograma
Entre as operações que acabámos de citar a propósito da análise oral, há uma
que, de modo mais fundamental que as outras, se considera típica da análise fílmica:
a pausa na imagem. Esse gesto, que consiste em cristalizar momentaneamente o
desfile fílmico, realça duplamente o fotograma 16: em primeiro lugar ao suprimir
pura e simplesmente a dimensão sonora do filme (não existe "pausa no som"!), e
em, seguida, ao suprimir o que desde sempre se tem como essencial da imagem
do filme, isto é, o movimento.
De um ponto de vista teórico geral, o fotograma é um objecto paradoxal.
Num sentido ele é a citação mais literal que se possa imaginar de um filme, visto
ser retirado do próprio corpo desse filme; mas ao mesmo tempo ele testemunha a
paragem do movimento, a sua negação. Se bem que realmente integre o "corpo"
do filme, o fotograma não é feito para ser percebido normalmente, e o desfile do
filme no projector foi muitas vezes descrito como se "anulasse" os fotogramas em
favor da imagem em movimento. Esse estatuto paradoxal revela-se na maioria
dos fotogramas individuais de um filme, que conservam, de forma esbatida, "tre-
mida", parcialmente ilegível, algo do movimento da imagem fílmica (como bem
54
2. INSTRUMENTOS E TÉCNICA DA ANÁLISE
I
Aqui, naturalmente, tal como com a pausa na imagem, é preciso ser prudente. O
fotograma é apenas um medíocre instrumento de trabalho para tudo o que respeita ao
aspecto narrativo de um filme (relativamente ao qual ele desempenha sobretudo uma
função de memória auxiliar), e um instrumento claramente perigoso se procurarmos
utilizá-lo para interpretar o filme em termos de personagens e psicologia. Os gestos,
mímicas e situações fixadosmais ou menos arbitrariamente pela pausa transformam-se
profundamente, ao ponto de às vezes lhes percebermos o sentido ao contrário.
Mais do que uma discussão demorada, um exemplo ilustra estes diversos pontos,
positivos e negativos. Temos, nas páginas seguintes, 14 fotogramas do plano 33
de Muriel, de Alain Resnais, que mais atrás (2.3) tentámos descrever.
Além desse uso como apoio da própria análise (idealmente o mais importante),
o fotograflla também é utilizado - é a sua função mais visível, senão a mais impor-
tante - como ilustração da maior parte das análises publicadas. Aqui, novamente,
a substituição da fotografia de cena pelo f~tograma marcou uma viragem na
relação com os filmes. A fotografia de cena caracteriza-se geralmente pelo seu
"bom aca'bamento", pela sua "perfeição" técnica; pelo contrário, o fotograma é
por vezes esbatido, falta-lhe sempre certa nitidez. Ele depende inteiramente do
estado material da cópia de que foi retirado. Por pouco que provenha de um plano
em movitp.ento, facilmente fica ilegível. Por fim, relacionamo-lo sempre, mais ou
menos conscientemente, com o próprio filme, visto em projecção, que o espectador
sente (se a cópia e a projecção forem boas ... ) ser sempre nítido e preciso. O leitor
desprevenido muitas vezes o julga uma ilustração de menor qualidade. Se apesar
de tudo is~oele é hoje (também na imprensa) a :ilustração mais frequente dos textos
sobre film.es,isso deve-se obviamente ao seu suposto grau de fidelidade elevado.
Os fotogramas utilizados para fins de ilustração são em geral seleccionados
pela sua legibilidade (e secundariamente por critérios "estéticos"). Mas outro
critério é igualmente importante, embora m~nos explícito: o fotograma usado
como ilustração de uma análise deve ser "eloquente"; por outras palavras, existe
a tendência para escolher o fotograma mais típico (de um dado filme, de uma
dada cena, até de um dado plano) - isto é, mais uma vez a renunciar em parte ao
que constitui o estatuto teórico privilegiado do fotograma, o seu "anonimato". É
para contrariar esse risco de uma selecção preocupada em demasia com princípios
estéticos du com uma espécie de mais-valia semiológica, que alguns analistas se
impõem regras mais ou menos arbitrárias a esse respeito.
55
A ANÁLISE DO FILME
56
2. INSTRUMENTOS E TÉCNICA DA ANÁLISE
, ~
I
..j
57
A ANÁLISE DO FILME
4. INSTRUMENTOS DOCUMENTAIS
De modo geral, abordaremos aqui um conjunto de dados factuais exteriores
ao filme e susceptíveis de ser utilizados na análise. A primeira questão que se põe
é a legitimidade da sua utilização. As posições a esse respeito são extremamente
variadas: alguns analistas, por princípio, excluem quase totalmente do seu campo
de investigação qualquer dado que não decorra estritamente de uma considera-
ção interna e autónoma do filme; no outro extremo, há quem só encare a análise
alimentada e rodeada de dados históricos. Essas duas posições extremas parecem-
-nos explicar-se sobretudo pela história: a tendência para privilegiar o estudo
interno, imanente do filme, foi decerto uma reacção legítima contra os excessos
da "crítica de intenções" que, de uma forma ou de outra, tende a só compreender
um filme segundo um saber exterior a ele (cf 1.3.). Pelo contrário, a tendência
mais recente para inscrever a análise numa perspectiva histórica mais ampla deve
ler-se sem dúvida como uma reacção contra o excessivo a-historicismo de certas
58
2. INSTRUMENTOS E TÉCNICA DA ANÁLISE
Todavia, certos elementos têm mais a ver com a "carreira" do filme: primeira-
mente com a sua carreira económica, com todos os elementos relativos à distribui-
ção, aos números de espectadores e receitas, à quantidade de cópias distribuídas,
ao tipo de rede de exibição, etc. Mas o essencial, para o analista, continua a ser
o conjunto de elementos críticos sobre o filme: críticas surgidas na imprensa,
especializada ou não (a diferença às vezes é bastante significativa), na altura da
estreia; mas também o conjunto do discurso suscitado por determinado filme,
e que, no caso de alguns filmes célebres, acaba por rodear tão completamente a
obra que quase a substitui. Tornou-se muitíssimo difícil, por exemplo, estudar O
Mundo a Seus Pés, O Couraçado Potemkine ou Ladrões de Bicicletas esquecendo os
. quilos de literatura que esses filmes originaram. Talvez seja a propósito de filmes
como esses, sobre os quais a massa do discurso crítico, e a espécie de consenso
geral que este cobre, são particularmente constrangedoras, que uma política de
"tábua rasa" pode melhor compreender-se -livre de exercer uma crítica rigorosa
do discurso crítico, logo que a análise esteja feita. Como é natural, entre essas
fontes "secundárias" figuram em destaque as análises já realizadas sobre o filme
que se aborda; o uso dessas análises depende inteiramente da,natureza do projecto
analítico: o género "tese universitária" obriga a tomar em consideração o corpus
mais vasto possível de análises já publicadas, mas fora da instituição universitária
podemos eventualmente julgar que mais vale "recomeçar do zero".
Os estudos cinematográficos são ainda suficientemente escassos (se os compararmos,
por exemplo, à quantidade de trabalhos publicados sobre a pintura) para que um analista
possa sempre,.a propósito de certo filme, encontrar um ponto de vista inédito, ou propor
um método novo - em vez de retomar e aprofundar as hipóteses emitidas antes dele. É
mesmo relativamente raro ver uma análise que prolongue (ou critique) deliberadamente
uma outra (podemos lamentá-lo),
60
CAPfTULO 3
A análise textual:
um modelo controverso
I ,
1. .A:NALISE TEXTUAL E ES RUTURALISMO
i
Não é possível nem necessário resumir e~ poucas linhas aquilo a que se cha-
mou o estruturalismo. Mas nos anos 60 o termo acabou por tornar-se um rótulo
que servia um pouco "para tudo", e que se colou, justificada ou abusivamente, a
muitas obras intelectuais. É o caso, em especial, de muitos aspectos da teoria e
da análise fílmica, e é por isso que abrimos este capítulo com uma consideração
muito breve do estruturalismo em geral. '
61
A ANÁLISE DO FILME
"O que importa, tanto no plano especulativo como no plano prático, é a evidência dos
desvios, muito mais do que o seu conteúdo; assim que existem, eles formam um sistema
utilizável como uma grelha que se aplica, para o decifrar, a um texto cuja ininteligibilidade
inicial dê a aparência de um fluxo indistinto, e no qual essa grelha permite introduzir cortes
e contrastes, isto é, as condições formais de uma mensagem significante" (ênfase nossa).
Claude Lévi-Strauss, La Pensée sauvage [O Pensamento Selvagem].
62
3. A ANÁLISE TEXTUAL: UM MODELO CONTROVERSO
dizer 'sobretudo que a banda-imagem mereceu uma consideração mínima (o que no caso de
um filme tão "visual" é obviamente perturbante). Desse modo, a análise procede seguindo
o desenrolar cronológico do filme; os elementosjulgados significativos são organizados em
sisterras de oposições/diferenças. O essencial da empresa (e a sua faceta mais tipicamente
estruturalista) consiste na "negação metodológica da existência de um sentido último",
que os autores substituem por significações concebidas "em termos de relações entre
os elementos significantes no interior de uma linguagem". O estabelecimento de um tal
sistema de relações pode, quando muito, apoiar certas tentativas de interpretação.
64
3. A ANÁLISE TEXTUAL: UM MODELO CONTROVERSO
Mais precisamente, são pelo menos três os problemas concretos que as noções
de código colocam à análise:
- Primeiro, é preciso reafirmar que nem todos os códigos são idealmente iguais (e
são-no menos ainda na prática); a própria universalidade do conceito torna-se
aqui heterogeneidade: dizer que se vai estudar um filme em termos de código
nada significa: tudo depende dos códigos que se escolha seguir. .
- Depois, um código nunca se apresenta no estado "puro", e por uma razão teórica
essencial: se o texto fílmico é o lugar da efectuação do código, também é o da
sua constituição: um filme contribui para criar um código, tanto quanto o aplica
ou utiliza. Logo, muitas vezes é difícil "isolar" concretamente um código.
- Por fim, na própria medida do valor artístico intrínseco do filme analisado, a
noção de código perde mais ou menos a sua pertinência, devendo os "grandes"
filmes muitas vezes a reputação aos seus efeitos de originalidade, de ruptura;
assim, a análise" de código" seria sobretudo adequada ao filme de série, ao
filme "médio" (categoria de que nem a existência é evidente).
É o reflexo desse interesse e dessas dificuldades que vamos encontrar nas análises
que se referem à noção de código.
68
3. A ANÁLISE TEXTUAL: UM MODELO CONTROVERSO
69
A ANÁLISE DO FILME
Adieu Philippine,
fotografia de cena.
Raymond Bellour também é levado a uma revisão geral da noção no seu texto
sobre Gigí de Vincente Minnelli (sintomaticamente intitulado "Segmentar/Ana-
lisar"), que mencionámos em 2.4. Também aqui tem lugar uma decomposição
integral do filme, e também com objectivo mais teórico do que propriamente
analítico. Ao interrogar-se sobre algumas dificuldades encontradas (apesar do
elevado grau de "classicismo" do filme), Bellour constata que "a decomposição
segmental determinada pela inscrição múltipla do significado de denotação
temporal no significante fílmico só parcialmente coincide (às vezes mais, às vezes
menos) com a evolução da intriga e a sucessão das acções narrativas". Ele propõe
então considerar simultaneamente, no filme narrativo clássico, unidades "supra-
-segmentais", que correspondem a "unidades de argumento" (ideia já pressentida
por Metz a propósito de Adieu Philippine) e unidades "sub-segmentais", isoladas
no filme por mudanças "menores" dentro dos segmentos (por exemplo, a apari-
ção ou desaparição de uma personagem). Essas propostas têm um vasto alcance
teórico (são mais ou menos válidas para qualquer filme narrativo); e sobretudo
demonstram claramente que a grande sintagmática é de facto um aspecto (um
código) da segmentação dos filmes, limitado por um lado (supra-segmental)
pelos códigos narrativos, e por outro lado (sub-segmental) pela multiplicidade
de códigos que começam a funcionar à medida que, afinando-se a segmentação
em unidades cada vez mais reduzidas, nos aproximamos de pequenos fragmentos
textuais, com poucos significantes (foi evidentemente essa mesma ideia, de uma
passagem sem solução de continuidade das grandes unidades de argumento para
unidades diegéticas cada vez mais pequenas, que sugerimos no exemplo esboçado
sobre Elisa, Vida mía - cf. capo 2, 2.2.).
70
3. A ANÁLISE TEXTUAL: UM MODELO CONTROVERSO
,
À parte estes dois estudos inaugurais, existem muitas aplicações, quer da grande
sintagmática, quer do modelo utilizado por Raymond Bellour em Gigi; não sabemos
de nenhuma que traga inovações relativamente às duas análises que acabámos de
citar, e a (~upra/sub-) segmentação de um filme,é sempre usada (quando o é) como
meio, pelo menos implícito, de categorizaçãoestilística. Na maioria das vezes a
análise é tkmbém acompanhada de considerações mais gerais sobre a validade do
código: o que vale igualmente para praticamente todas as análises" de c6digo" de
filmes int({ressadas noutros códigos. ,
Citemos, como exemplo bastante preciso, b trabalho de Michel Marie sobre
Muriel, de'Alain Resnais. Parte de um trabalho:colectivo sobre o filme que analisa
sob vários ilspectos, trata-se de um capítulo sobre os seus "códigos sonoros". Duas
observações que encetam essa análise parecemtnos de importância geral:
- "Partlf=ularizara análise sobre o eixo sonoro não pressupõe a autonomia - mesmo
relativa - desse eixo"; de igual modo, uma das conclusões da análise é que a música
não tem função autónoma no filme, só tendo significado relativamente ao todo;
- Deve! falar-se de "códigos sonoros" no plural; estes respeitam ao mesmo
tempo a problemas tão variados como a analogia sonora, a composição sonora, a
relação so~-imagem ("a composição audiovisual"), enfim os diversos problemas da
palavra no filme: esse eixo de código é pois tudo menos unitário. Evidentemente
a escolha desse ângulo de estudo não é comparável à da segmentação; tomados
no seu conjunto, também na sua multiplicidade, os códigos sonoros revelam
muito mais',sobre o filme do que a sua decomposição em segmentos. A análise
dos modos ,de intervenção mUsical (problema secundário da composição musi-
cal) desem\)oca assim numa concepção do todo do filme submetido a estruturas
abstractas eXtremamente fortes. A análise da gravação de som é ainda mais rica,
no seu exame da pós-sincronização (portanto da relação do filme com um certo
realismo representativo) e dos sons fora-de-campo.
Todavia,' boa parte do trabalho do autor consiste em definir e classificar em
quatro grandes grupos os ditos "códigos sonoros": uma tarefa que não dissimula
a sua essência teórica.
Seria longa, com efeito, a lista dos estudos de filmes que se apresentam como
"de código"; e que depressa extravasam a perspectiva particular apresentada no
início, para abordar transversalmente quer outros aspectos do filme, aparentemente
relacionados) quer mais frequentemente o próprio código.
Em ''I: ~vidence et le (ode", texto dedicado à análise de um curto segmento (12 planos)
de A Beira do Abismo, de Howard Hawks (1946),Raymond Bellour adopta deliberadamente
como objeeto um fragmento breve, de estrutura simples (uma cena, no sentido da grande
sintagmática), de conteúdo visual mínimo (uma s~rie de campos-contracampos). Ao
concentrar-se no diálogo no jogo dos olhares, ele mostra como a montagem desse seg-
mento, baseado na interacção da voz e do olhar entre os dois protagonistas, segue uma
certa lógica, a da montagem hollywoodiana "clássica".Masaqui interessa menos ao analista
o código particular estudado do que o modo como o ci'nemahollywoodiano, tão codificado
como outro qualquer, disfarça a sua codificação sob ~ aparência da "evidência".
4. ANÁLISE TERMINADA,
ANÁLISE INTERMINÁVEL
4.1. A utopia da análise exaustiva
No cerne da próp~ia definição de análise textual encontra-se, como vimos,
a questão da finalização da análise, da sua adequação a uma obra repleta de
significações (e de sistemas de significação). Em todas as abordagens da análise
textual, a análise exaustiva de um texto foi sempre considerada uma utopia; algo
que se pode imaginar, mas que não tem lugar no real. Diremos antes, de maneira
menos negativa, que ela é o horizonte da análise - e, tal como o horizonte, vai se
afastando à medida que avançamos.
Esse ponto teórico, no qual todos os autores convergem, tem grande impor-
tância prática: ele sugere com efeito que nunca poderemos terminar uma análise
("saturar" o texto-tutor). Por muito que às vezes a análise seja longa (algumas são
muito volumosas), e mesmo que se debruce sobre um texto breve, (um fragmento
de filme), ela nunca esgota o seu objecto.
Um exemplo simples. Uma das análises mais longas já publicadas sobre um único filme
é a de 5tephen Heath acerca de A Sede do Mal, de Orson Welles. Recentemente outro
investigador, John Locke, assinalou que, no primeiro plano do filme (esse célebre e
virtuoso movimento de câmara que apresenta simultaneamente a problemática do
casal e a da fronteira), vê-se durante alguns fotogramas uma sombra que pode ser a
de Orson Welles/Quinlan. Esse pormenor não muda "tudo"; ele obriga não obstante
a importantes ajustes em termos narratológicos (se Quinlan está presente na pri-
meira cena, mesmo que fora-de-campo, ele sabe mais do que podíamos imaginar), e
sobretudo em termos de análise da enunciação (visto que essa sombra é também a
de um realizador, Welles, que costumava "assinar" os filmes com marcas de ausência/
presença). Ou de como uma análise perfeitamente concluída, como a de Heath, pode
sempre ser "relançada".
I
particular, tanto quanto o acesso a meios de visionamento 17. Em compensação,
era forçosb que essa preocupação com o pormenor tomasse uma forma comple-
tamente diversa nos primórdios (fim dos anos 60) da análise textual; enquanto
hoje é tão simples ver e rever um filme quando se dispõe de uma cópia em vídeo,
é difícil ithaginar que, há algumas décadas, o analista em potência não tinha
outro meib de aceder ao filme que queria analisar, senão ir vê-lo e revê-lo a
uma sala de cinema, tomando notas durante la projecção. O famoso artigo de
Raymond ,Bellour sobre um fragmento de Os Pássaros, de Hitchcock, baseia-se
numa decomposição em planos estabelecida a partir da listagem técnica final,
fornecida pela distribuidora, e em notas escritas nas projecções; de igual modo,
Le Ftetus aftral, o livro já citado sobre 2001, baseia-se num comentário falado,
gravado n~ma projecção do filme ... Podemos imaginar as dificuldades inerentes
a uma tal prática (e também os erros que ela inevitavelmente causará). Quando
se foi tornando possível, pouco a pouco, trabalhar numa mesa de montagem
ou com uty projector analítico, tendo ao dispor cópias dos filmes estudados,
a exigência de precisão, tantas vezes prejudicada, pôde enfim manifestar-se. A
possibilidatle de tudo verificar, de "nada esq~ecer", substituía as capacidades
, (limitadas) de memorização e o necessário cursivo das notas escritas durante
a projecção. O fragmento do filme tornava-se objecto ideal, relativamente
manejável.
2) Além Idisso,e devido a esse mesmo ganho de precisão, o fragmento de filme
rapidamente foi visto como um sucedâneo proveitoso, do ponto de vista analítico,
do filme in~eiro: uma espécie de amostra, de antecipação, a partir da qual (um
pouco como na química) poderíamos analisar o todo do qual ele é retirado. A ideia
é flagrante em Eisenstein, obcecado por aquilo a que chama a "organicidade" da
obra. Mas a mesma preocupação paira sobre as primeiras análises de inspiração
"textual": a :análise do fragmento.é sempre, para lá do seu objecto imediato, a
metonímia de uma operação mais vasta (análise do filme inteiro, estudo estilístico
de um autor; reflexão sobre a análise em geral).
Assim, Raymond Bellour escolheu para o seu estudo um excerto de Os Pássaros que
não só possui suficiente homogeneidade e grande regularidade de construção, como
também lhe permite descrever, designando-os por rimas, efeitos de simetria, repetição
e homologia que são constitutivos do cinema de Hitchcock em geral (e mesmo de todo
o cinema clássico).
Outros exemplos seriam ainda mais claros: a análise por Jacques Aumont de sequências
de A Linha 'Geral e Ivan, o Terrível, de Eisenstein, servem expressamente para apreciar, à
escala dos filmes das quais são extraídas, a consistência do sistema teórico eisensteiniano.
Da mesma forma, a análise de um fragmento de Muriel por Marie-Claire Ropars procura
avaliar o "tr:abalho da escrita" no filme integral.
17 Mesmo assim, notemos que Eisenstein descreve um fragmento que não existe em qualquer
das cópias do filme actualmente conhecidas - incluindo a cópia, conforme à montagem original,
que foi re~taurada nos anos 60!*
* A sequênda ressurgiu por fim na versão restaurada (sob a direcção de Enno Patalas) lançada
em 2005, (N. do T.)
I
73
A ANÁLISE DO FILME
74
3. A ANÁLISE TEXTUA~: UM MOPELO CONTROVERSO
i
Sequência 9 de Abuso de Confiança, d~ Henri Decoi~ (1937).
I i
o estudo de fragmentos é uma das razões importantes d6 sucesso deste modelo
I
textual. Não é decerto qualidade de somenos permitir que!o analista tenha a sen-
o sação de trabalhar com rigor e precisão sobre ~m objecto limitado e manejável,
potencialml~nte explicando a obra inteira.! :
O problema prático essencial apresentado pela análise de fragmentos de filmes
é obviamen,te a própria escolha desse fragmentd. Os critér,os e as motivações são
tão diversos como os analistas, mas muitas vez~s parece-nps reconhecer, na base
da escolha, I[osseguintes critérios implícitos: 1, [
estilística do filme. l
mas escolher um excerto (suficientemente longo) que demonstre a diversidade
!
I
I
A ANÁLISE DO FILME
a longa cena da conversa que o precede 18; de Cavalgada Heróica, de John Ford
(1939), Nick Browne aproveita uma cena na estalagem, de aparência bastante
anódina, etc. Em todos os casos, a densidade formal parece ser preferida à
densidade diegética.
Talcritério formal é particularmente sensível no caso (pouco frequente, é certo) de análi-
ses comparativas de fragmentos de filmes: assim, por exemplo, Michel Marie "sobrepõe"
duas sequências, de Hotel do Norte, de Mareei Carné (1938) e de Souvenirs d'en France, de
André Techiné (1975) a fim de demonstrar certas características da planificação clássica
e das suas transformações no cinema modernista.
Em certas análises em que não são os filmes que interessam (ou que interessam
essencialmente), mas géneros ou épocas, os critérios formais desse tipo tornam-se
ainda mais determinantes na escolha dos fragmentos.
No seu trabalho sobre o cinema francês dos anos 30, Michêle Lagny,Marie-ClaireRopars e
Pierre Sorlin propõem ter em conta aquilo a que chamam "configurações estruturais", ou
seja, a simultaneidade, em certas passagens de filmes, de marcas formais reconhecíveis:
uma frequência importante de marcas de enunciação, uma mudança visível de regime
de implicação sequencial, uma forma excepcional de temporalidade interna, etc. Esses
'critérios levam-nos por exemplo a privilegiar a sequência 9 de Abuso de Confiança, de
Henri Decoin, que apresenta um modelo bastante complexo de organização temporal,
inusitado nesse filme, que encadeia uma montagem !'durativa" (a viagem de comboio),
uma passagem contínua (chegada ao hotel particular do "Pai"),e duas montagens alter-
nadas consecutivas. Esta escolha baseada em critérios formais não é "formalista", pois
"essa organização complexa intervém no momento em que a personagem feminina
.(... ) acede a um domínio do olhar que as sequências anteriores lhe haviam recusado,
propondo-a, pelo contrário, como objecto a olhar".
qual se centra boa parte da análise desse filme pelo mesmo Bellour, parece desmentir a nossa afirma-
ção; mas trata-se de um filme com estrutura particular, quase inteiramente constituído por "cenas
emblemáticas". Iremos abordar com mais pormenor a lógica dessa análise (capítulo 6, 3.1.).
76
3. A ANÁLISE TEXTUAL: UM MODELO CONTROVERSO
I
77
A ANÁLISE DO FILME
Para o analista é o fascínio dos inícios: condensado em si mesmo, o filme expõe as suas
cadeias significantes - a ordem sucessiva - na simultaneidade. Muito mais do que o
"sentido", é a flutuação do sentido, a hesitação da leitura, o que me retém. (... ) O início
permanece o lugar mais "moderno" - plural- do texto".
79
A ANÁLISE DO FILME
Por real que seja o problema levantado por Noguez (especificidade da análise
de certos filmes - mas porquê limitar-se ao "experimental"?), parece-nos haver nele .
um mal-entendido quanto ao "textual", implicitamente relacionado com a noção
de "texto literário", e que o "texto" no sentido da análise textual pode muito bem
ser composto de códigos essencialmente visuais, com uma incidência muito ténue
de códigos narrativos.
2) Ela favoreceria o gosto da dissecção pela dissecção. Dominique Noguez,
que foi um dos críticos mais constantes dos excessos da semiologia, fustigou com
humor essa libido decorticandi que prejudica, segundo ele, o exercício mais nobre
da libido creandi e da libido jruendi. Quanto a isso só podemos concordar, e
constatar com Noguez os efeitos desastrosos, não da decomposição dos filmes (às
vezes muito útil, como já dissemos), mas do seu uso impróprio. Com demasiada
frequênda, sem ideia do que se procura, o plano-a-plano, o "corte de salsichas" (a
expressão é de Christian Metz) fazem as vezes de análise, e pior ainda, pretendem
passar por garantia "científica". Como diz Raymond BeBour:
80
3. A ANÁLISE TEXTUAL: UM MODELO CONTROVERSO
i
"(... ) O belo, que sempre se julgou desafiar a ariálise e no fim devolver a obra à inde-
finição romântica da sua superação, é precisamente o que a análise encontra quando
desvenda o equilíbrio sempre desfeito, sempre reconstruído, de um conjunto de formas
e estrutyras que definem a'obra (esseobjecto do prazer estético) como lugar de beleza,
e que a determinam, numa completa reversibilidade lógica, como lugar do desejo"
(L'Ana/Y$e du fi/m, p. 82).
81
-I ,
CAPfTUL04
A aná!lise do filme
como, narrativa
I
Como já observámos, a narrativa fílmica é um aspecto que depende de códigos
particulare~; esses códigos merecem ser tratados à parte, por dois tipos de razões
aliás relacionadas: I
- a imensa maioria dos filmes projectados e~ público são, em maior ou menor
grau, narrativos. Polémicas muitas vezes azedas 9puseram defensores e adversários
do cinema narrativo; não deixa de ser verdade que, no estado actual da indústria de
I .
1. ANÁLISE TEMÁTICA,
ANÁLISE DE CONTEÚDOS
1.1. "Temas" e "conteúdos" l
I
Na sua forma trivial, a análise temática é a m<l;isgeneralizada das abordagens ao
filme. O "assunto" de um filme é pretexto de cortversas quotidianas, mas também
de muitas cHticas jornalísticas que não são mais'do que a paráfrase dos seus prin-
cipais "temas". É a mesma abordagem que, no s~u ponto tp.ais anémico, serve de
base ao uso televisivo de filmes como suportes de debates. E ainda ela que sustenta.
muitos debates tradicionais de cineclube. Com um pouco mais de teoria (apoiada
na "teoria do reflexo", cara à estética marxista), manifesta-se em programações do
tipo "o cinema e a condição operária", "cinema e ~pressão da mulher", etc. A noção
de tema desfruta aliás de uma importante existência institucional, e não faltam
opúsculos escolares sobre o "tema" da cidade, do:absurdo, do mal, do dinheiro ou
da revolta...• É então muito naturalmente que essl abordagem temática se mantém,
cada vez qu~ a instituição educativa tenta prestar atenção às mensagens fílmicas;
hoje não existe manual de história que não cohvoque, como se esses filmes só
falassem disso, As Vinhas da Ira, de John Ford, Ácercada crise dos anos 30, ou A
Grande Ilusão, de Jean Renoir, a propósito da gJerra de 14-18.
I 83
A ANÁLISE DO FILME
Uma ideia tão generalizada, tão "espontânea", não podia deixar de surgir
na área da análise fílmica. Quando em 1961-62 um colectivo de universitários
resolveu lançar-se no estudo minucioso de um filme contemporâneo que os tivesse
marcado pela sua ambição estética e moral, consagraram mais de metade do seu
trabalho a uma abordagem "conteudista". O livro resultante (sobre Hiroshima Meu
Amor, de Alain Resnais) divide-se em três partes: 1. A produção e a distribuição
do filme, e a reacção do público, 2. "Hiroshima, filme de temas", e 3. "Hiroshima
e a linguagem cinematográfica".
Entre os temas estudados: "O Amor e a Morte", por Edgar Morin; "O Tempo, Dialéctica da
Memória e do Esquecimento", por Bernard Pingaud; "A Mulher, um Novo Tipo Feminino",
por Edgar Morin; "A Imagem da Mulher Através do Cinema", por Jacqueline Mayer; "A
Heroína de Hiroshima: uma Mulher Moderna", por Francine Vos; "Verosimilhança, Coe-
rência e Riqueza Psicológica", por Francine Robaye.
84
4. A ANÁLISE DO FILME COMO NARRATIVA
puramente temáticos (a cidade e o campo, a Lei do Pai, etc.), outras (acerca da "dureza
dos lugates", a "diagonal do tempo", a palavra "de~viada") concedem grande atenção ao
material fílmico, figurativo e sonoro. '
85
A ANÁLISE DO FILME
- segundo uma ordem oculta: Scottie comete o crime luciférico do orgulho, e desobedece
ao Plano Divino do qual.é o principal executante;
- segundo a ordem estética/de criador: a visão de um perseguido inalcançável, a quem
dois perseguidores dão caça, inscreve no ecrã a construção ternária característica de
. todos os suspenses hitchcockianos; ela expõe igualmente um conflito estético vivido pelo
autor perante a concepção e a realização da sua obra. Tudo no talento do artista exige
o máximo de perfeição, "donde o temor reconhecido, nessa sequência de abertura, de
não conseguir apanhar o fantasma fugitivo da beleza ideal".
- segundo a ordem psicanalítica: nos telhados de São Francisco, Scottie corre em vão
atrás da voluptuosidade da sensação única; a sombra que ele persegue é o seu duplo,
reminiscência do estado fetal; "de maneira inconsciente, mas ardente, ele aspira à delícia
das impressões primeiras".
que às vezes dele fizeram investigadores anglófonos. Assim, num artigo de 1977,
"Propp in Hollywood", John Fell descobre "sequências" proppianas em vários filmes
americanos" de género", como O Beijo Fatal, de Robert Aldrich, Rio Bravo e Ter ou
Não Ter, de Howard Hawks, Vidas Tenebrosas, de Josef von Sternberg, etc. - mas
descobre, depois de lhes tentar encontrar também as esferas de acção de Propp, que
estas são definidas de forma demasiado inflexível para se aplicar verdadeiramente
a personagens de ficção fílmicas, mesmo que algo estereotipadas.
Menos cauteloso, Peter Wollen, num estudo de Intriga Internacional (1959), de Hitch-
cock (1976),tenta descrever as acções do filme de maneira a que sigam o esquema de
Propp.lnfelizmente, tal adaptação só se pode fazer tomando enormes liberdades, quer
com a narração quer com asfunções proppianas. Por exemplo, Wollen interpreta a entrada
de Roger Thornhill no Oak Bar, no início do filme, como transgressão de uma interdição
(função n.O3), com o pretexto de que "a mãe de Thornhill o proibira de beber muito" (o
que não é dito no filme: só ficamos a saber que ela não gosta de que o filho beba). Para
mais, Thornhill é raptado antes de ter tido tempo de beber fosse o que fosse, de modo
que nada transgride ... De igual modo, quando os dois acólitos de Van Damm tentam
que Thornhill caia na falésia (o que a rigor equivaleria ao "dano" proppiano), Wollen vê
nisso um exemplo da função n.O15, a "transferência do herói de um reino para outro".
Poderíamos multiplicar os exemplos (assim, quase sempre que o herói parte para algum
lado - o Oak Bar,Chicago, as Nações Unidas, o Monte Rushmore - Wollen assinala uma
"partida do herói de sua casa",função n.O11... ). Não surpreende que Wollen reconheça,
no final da sua análise, ter achado "extraordinariamente fácil" a adaptação das funções de
Propp à Intriga Internacional. De facto, uma interpretação tão laxista dessasfunções deve
poder cobrir praticamente qualquer ficção - com um ganho analítico bem reduzido.
muito geral,:os indícios podem combinar-se de forma mais ou menos livre entre
si, e com as !funções; entre funções cardinais e eatálises, existe sempre uma rela-
ção deimplkação simples (uma catálise implic~ sempre uma função cardinal à
qual se vincula). O problema essencial é (tal como em Propp) o das "relações de
solidariedad~" entre funções cardinais. :
Nesse pdnto, Barthes limita-se a expor algurhas hipóteses de trabalho emiti-
das por outJos investigadores. Como Claude Bremond, que na sua "Lógica dos
Possíveis Nahativos", tenta oferecer uma espécielde gramática narrativa, baseada
em sequênciks elementares de três funções (abertura de um processo, actualização
!
89
A ANÁLISE DO FILME
90
4. A ANÁLISE DO FILME COMO NARRATIVA
ADJUVANTE
r
SUJEITO ~ OPONENTE
A lista dos actantes deriva, até certo ponto, da de Propp (o destinador agrupa,
por exemplo, o doador e o mandatário; o oponen;te reúne o vilão e o falso herói,
etc.); mas diferencia-se profundamente desta ppr se aplicar não a determinado
corpus de narrativas, mas a qualquer "micro-universo" .coerente: por exemplo, aos
mitos e narrativas míticas, e também a qualquer texto narrativo, conquanto seja
um micro-universo. Quanto ao significado exacto dos seis termos da tabela, não
vamos demorar-nos a explicá-lo; o eixo que une o Sujeito ao Objecto é o do desejo
(da procura), e o que une o Destinador ao Destinatário é o eixo da comunicação:
para o resto; dois exemplos dados pelo próprio Greimas explicam suficientemente
o sentido dos termos:
- o primeiro exemplo é o do "filósofo clássico", cujo desejo é um desejo de
saber, e que se representa pela estrutura seguinte:
o Espírito
i
o filósofo ~ a Matéria
91
A ANALISE DO FILME
a classe operária
t
o Homem a burguesia
••
Em princípio, toda a narrativa é descritÍvel nestos termos actanciais. Na prática
é raro que um único esquema actancial represente a integralidade de uma nar-
rativa; logo que esta seja algo longa e complexa, só se pode descrever com vários
esquemas, correspondendo cada um a uma definição particular do eixo do desejo
(e do eixo da comunicação).
Num artigo de 1974,Alan Williams tentou aplicar este modelo a uma análise de Metropolis,
de Fritz Lang. Bem depressa ele depara com a obrigação de considerar vários "heróis"
(vários Sujeitos) à medida que a sua descrição avança. Assim, o primeiro segmento do
filme estabelece os operários como Sujeito, o eixo do desejo, definido no filme pela sua
condição alienada, levando-os a desejar como Objecto o controlo da suacondição (o poder
político). O segundo segmento institui Freder como Sujeito, e ao revelar-lhe a existência
de um mundo laboral que ele desconhece, situa como Objecto o conhecimento desse
mundo operário. Mais tarde, quando Freder regressa ao escritório do pai, Joh Fredersen,
este é ao mesmo tempo Oponente do Sujeito Freder na sua procura de saber, e Sujeito,
ele também, relativamente a um outro desejo: o controlo, e mais tarde a eliminação,
dos operários. Mais tarde ainda, será Maria o Objecto de um desejo amoroso por parte
de Freder. E por aí em diante (naturalmente, a cada um desses pares Sujeito/Objecto
correspondem os quatro outros actantes previstos pelo esquema).
Num livro posterior, Du Sem [Do Sentido (1970)],Greimas dedica-se mais direc-
tamente ainda ao problema do significado; ele postula a existência de um modelo
susceptível de descrever a articulação do sentido de maneira universal no interior
de qualquer micro-universo semântico. É o famoso "quadrado semiótico":
..•
«'-----------------
SI --------------
t
S2
Neste esquema, os termos de base SI e 52 estão ligados por uma relação de
contrariedade (são contrários semânticos, por exemplo, o Bem e o Mal). Os ter-
mos SI e S2 os opostos respectivos dos dois primeiros; as setas indicam relações de
pressuposição. Este esquema representa uma taxinomia de termos de base, que
desempenha o papel de morfologia e de sintaxe fundamental da narrativa: uma
narrativa pode sempre ser descrita como uma sucessão de operações "sintácticas"
segundo este modelo (por exemplo 51 ~ SI ~ 52), estando cada um dos termos
obviamente investido de um valor "local" quanto ao conteúdo; o modelo, que
comporta operações orientadas (pelas setas), só permite certas operações, e não
admite outras.
92
4. A ANÁltlSE DO FILME COMO NARRATIVA
IGNOtNCIA~
t
CULPA
93
A ANÁLISE DO FILME
p;:~fh:da ~o(~===============~.Consumação
pesca de
peixes
tI tI "pesca" de
mulheres
Desejo sexual Casamento
94
4. A ANÁLISE DO FILME COMO NARRATIVA
,
I
95
A ANÁLISE DO FILME
informar-nos sobre o saber sem nos informar sobre o ver), em compensação torna-se
essencial no cinema. Aí reside a origem de todas as dificuldades de aplicação do
trabalho de Genette na análise de filmes. Para melhor as sublinhar, utilizaremos
um exemplo que se deve ao analista norte-americano Brian Henderson; este esboça
I
uma aplicação sistemática de todas as categorias de Genette à narrativa fílmica (e
declara que ela é "muito fácil"!). Eis como Henderson aborda a questão do modo
da narrativa com o exemplo de O Vale Era líerde, de John Ford:
"Huw,! já mais velho, é o narrador de O Vale Era Verde - e é literalmente a sua voz que
escutamos; mas tal não resolve a questão do modo. Quase nunca vemos as coisas na pers-
pectiva do jovem Huw. O Vale é não-focalizado no sentido em que nenhuma sequência,
e muiio menos o filme integral, é filmada do ponto de vista de alguma personagem. É
de foc'alização variável, porque muitas vezes adopta, durante um plano ou mais, o ponto
de vista de uma personagem - nuns casos por motivos dramáticos, noutros de maneira
oportunista, para obter alguma imagem forte ou uma visualização eficaz da acção. A
chegada de Huw à escola é filmada de modo não-focalizado; ele é pequeno e tímido,
mas n~nhuma personagem o vê assim. Quando Huw abre a porta, Ford corta para o
ponto de vista que ele tem das raparigas da turma, com ar hostil, e depois dos rapazes,
mais afastados, e de aparência ainda mais hostil (na verdade os dois planos não podem
corresponder ao ponto de vista de Huw). Ford corta então para um plano do professor,
do po~to de vista de Huw, mas quando este é chamado ao quadro o seu ponto de vista
é substituído por outro que corresponde mais ou menos ao da turma. Mais tarde alguns
planos da zaragata no pátio são filmados do ponto de vista de uma rapariguinha que
tomou o partido de Huw, mas que de resto não tem importância como personagem. Ford
dá-nos alguns planos do ponto de vista de Huw para registar a primeira impressão da
escola, e depois procede de maneira não-focalizada, ou variavelmente focalizada, para
apresentar os acontecimentos aí vividos".
Brian Henderson, "Tense, Mood and Voice in Film", pp. 13-14.
Esta ditação algo longa parece-nos útil, em primeiro lugar, para mostrar uma
vez mais a complicação que acarreta a menor descrição de um fragmento fílmico,
mas sobretudo porque demonstra claramente a flutuação que uma aplicação
literal do ,conceito de focalização a uma narrativa fílmica sempre produz: se nos
referirmos às definições de Vanoye, o filme de Ford, no qual o narrador só diz o
que sabe uma personagem (Huw) deveria ser de focalização interna; porém, como
demonstril a descrição que Henderson faz de uma sequência particular, a relação
da narrativa fílmica com o que vê a dita personagem varia constantemente (sem
contar que às vezes é praticamente impossível decidir: cf. o que é observado sobre
o momento em que Huw abre a porta). Encontramo-nos no cerne do problema:
deve-se, na análise de uma narrativa fílmica, estabelecer como critério o saber
da personagem, ou o que ela vê? Ambos apresentam dificuldades: de maneira
geral o saber de uma personagem define-se menos claramente num filme do que
num romance (o filme é sempre mais "behaviourista": é-lhe mais fácil mostrar
comportamentos do que interioridade); quanto ao ver, ele varia muito, mesmo
no interior dé cada sequência, e elegê-lo como critério da focalização da narrativa
conduziri'tl, na maior parte dos casos, a um regime de focalização muito variável
(quase a cada plano ... ). Não estamos de acordo, em particular, com a observação
optimista de Francis Vanoye, segundo a qual o "filme narrativo corrente" estaria
quase sempre em focalização zero ou em focalização externa (pois é muito raro que
numa sequência, principalmente com diálogos, não exista pelo menos um plano
que se possa relacionar ao ponto de vista de. uma personagem).
97
A ANÁLISE DO FILME
3 4
5 6
Alguns investigadores tentaram encontrar uma solução geral para este problema.
Mencionemos apenas (mau grado as suas dificuldades) a ideia, de François Jost,
da distinção entre focalização e o que ele designa por "ocularização" - a qual nos
parece pelo menos ter o interesse de definir a focalização unicamente em termos
de saber respectivo do narrador, das personagens e do espectador. É de resto o
mesmo problema que levanta Francis Vanoye quando constata, a propósito de
uma breve análise de A Condessa Descalça, de Joseph L. Mankiewicz, que "não
há sobreposição nem convergência dos dois centros (a imagem e o som)", e que
pode muito bem haver uma focalização externa na imagem para uma personagem
em focalização interna no som. A maior parte das análises concentrou-se num
ou noutro destes dois aspectos (geralmente o ponto de vista, ligado ao olhar das
personagens e ao enquadramento, logo ao "olhar" do narrador); vamos referi-lo,
antes de voltar à problemática da enunciação.
98
4. A. ANÁLISE DO FILME COMO NARRATIVA
7 8
9 10
11 12
termo de Gérard Genette), isto é, das relações entre o narrador e a história contada.
Como se situa temporalmente a narração em relação à história (será ela anterior,
posterior, simultânea - ou "intercalada"?); a instância narradora será ou não interna
à diegese? Por fim, qual o grau de presença do narrador na narrativa?
Para designar todas essaspossibilidades, de que forneceu uma primeira tipologia,
Genette cunhou um vocabulário especializado (homodiegético/heterodiegético,
por exemplo); mas de forma alguma dispomos de um método geral para a análise
do filme em termos de vozes narrativas. Limitar-nos-emos a dar dois exemplos:
É óbvio que O Mundo a Seus Pés se presta exemplarmente bem a este tipo de
interrogação: ele é com efeito um filme-inquérito, no qual a vida de uma perso-
nagem nos é contada por um lado por diversas testemunhas "intra-diegéticas",
e por outro através do percurso da personagem do jornalista, que vai "cosendo"
esses vários testemunhos; e por fim por um narrador omnisciente que organiza o
conjunto (como sucede em qualquer narrativa). Para lá da definição destes diversos
níveis de enunciação, o estudo de Ropars consiste em analisar-lhes as relações, a
partir dos sinais de cada um deles no texto fílmico.
De modo deliberadamente paradoxal, para fazê-lo ela opta por concentrar-se
nos dois momentos do filme que "ignoram tanto a representação dos narradores,
como a presença do inquiridor": o prólogo e o epílogo, ambos situados em Xanadu,
a fabulosa residência de Kane, respectivamente no momento da sua morte e aquando
da dispersão das suas colecções. Ropars aproveita a análise do prólogo para deter-
minar "a existência de um falante soberano" - expressão pela qual é designada
"a origem dessa voz não fonética, só perceptível na organização da montagem,
e que cumpre uma função análoga à do eu implícito que acompanha qualquer
objecto de narrativa" (e que em geral chamamos narrador abstracto), voz que é
conveniente distinguir do locutor (emissor de palavras que efectivamente se ouvem
na banda sonora). O trabalho de análise dos 22 planos do prólogo consiste então
em descobrir-lhes os signos dessa "fala". Assim, por exemplo, Ropars determina
elementos de repetição entre planos, que afirmam implicitamente a capacidade da
montagem de "trabalhar na descontinuidade espácio-temporal", e de "estabelecer
(... ) uma continuidade que só depende da palavra, e não mais da imitação do
real". Da mesma forma examina ao pormenor os planos "documentais" sobre o
parque de Xanadu, para concluir que eles se encontram "submetidos a um sistema
de escrita que os conta, em vez de os descrever".
Naturalmente o epílogo é, no seu conjunto, ainda mais rico do ponto de vista
da análise da enunciação, visto que é aí que se "confirma, na sua soberania, o papel
102
I
filme, onde seguimos a personagem sem que apareça alguém a dizer quem o vê;
e só a posteriori, a partir do final, é que compreendemos que ele era olhado ... O
analista interessa-se por esta "anomalia" de uma relação narrador/personagem que
é "sublinhada sem por isso adquirir a forma de um direccionamento ou mudança
brusca do olhar" (mudança evidentemente impensável, já que o olho que vê é o
da própria personagem: daí a "monstruosidade" de que fala Simon).
A análise da posição do narrador ainda está nos primórdios (e cada análise
que se realiza é ainda muitas vezes uma tentativa de teorização geral). O estudo
da temporalidade narrativa é sem dúvida o aspecto mais simples dessa questão
(pelo menos na medida em que as relações temporais surjam assinaladas na banda
sonora); o da posição do narrador (e dos narradores internos à história) continua a
ser, até hoje, o estudo de tantos casos particulares quanto de filmes analisados.
Ainda mais embrionária está a análise da outra vertente do problema da enun-
ciação: o das relações entre o filme e o seu destinatário, o espectador. Desenvolvido
desde há alguns anos nas disciplinas literárias, o estúdo das estratégias de leitura
("reader's response theory") tem escassas aplicações filmológicas, e a relação do
filme com o espectador tem sido quase exclusivamente estudada em termos psi-
canalíticos.
Excepção notável é o já citado artigo de Roger Odin, "L'entrée du spectateur dans la
fiction" (sobre o início de Passeio ao Campo). A análise segue, passo a passo, o desenrolar
do começo do filme (o genérico, com as suas legendas sobre um fundo de água a correr,
os dois cartões de introdução dos produtores, porfim os dois primeiros planos diegéticos
do filme). A análise realça os vários elementos que, nesse início, se dirigem mais ou menos
explicitamente ao espectador, e as"diferentes posições espectatoriais correspondentes:
assim, durante o genérico, as legendas sobre fundo de água instituem dois "posiciona-
mentos" do espectador perante o filme (ler vs. ver); este conflito opõe o genérico ao seu
filme, o qual se baseia num outro posicionamento do espectador, previsto pelo efeito-
-ficção; mais adiante, os dois cartões deixam o espectador numa posição intermédia
entre o leitor de um genérico e o leitor de uma ficção; etc. Notemos, todavia, que nessa
análise trata-se sempre de um "arquiespectador", cuja posição é descrita como variável
em função dos elementos inscritos no texto, mas única por só descrever um trajecto de
leitura (se bem que Odin pareça sugerir que em certas partes do texto os conflitos entre
os diversos posicionamentos que ele induz podem causar diferentes respostas efectivas
por parte de um espectador real).
104
CAPfTULO 5
A análise da imagem
edosom
3) por fim, em caso disso, que de igual modo convoque, e adapte, um método
extrafílmico de análisé, mantendo-se consciente dos limites de uma tal
transposição. Em conclusão, não podemos proporcionar nenhum "truque",
nenhuma receita, mas apenas citar exemplos - conseguidos - dessa atitude
na prática.
Antes de apresentar esses diferentes exemplos de análises da imagem arbi-
trariamente divididos, sempre por razões de facilidade didáctica, entre análise
do enquadramento e do espaço narrativo, e análise da plástica e da retórica da
imagem, julgamos útil, como a propósito do texto e da narrativa, explorar em
algumas páginas o território da análise das artes visuais e sonoras, principalmente
da pintura e da música.
1. O CINEMA E A PINTURA
A comparação entre o cinema, a pintura e a música é tão antiga como os
primeiros discursos sobre o filme; não vamos aqui prolongar esse exercício retó-
rico mas traçaremos alguns pontos de encontro possíveis entre a análise fílmica
e as análises de obras picturais e musicais. Estas têm uma longa tradição, quase
tão rica como a análise da narrativa literária, e podem consequentemente, com
toda a legitimidade, servir como disciplinas de referência para a análise do filme.
É evidente que a análise plástica e rítmica tem um papel muito importante no
estudo de um filme experimental. Por outro lado, o modelo pictórico atravessa
toda a história do cinema, do mau gosto estético das primeiras Paixões, ao "novo
realismo" contemporâneo.
Recordemos de passagem, como prova, as citações de David por Abel Gance no seu
Napoleão (1927),as referências à pintura flamenga em A Quermesse Heróica, de Jacques
Feyder (1934), o fascínio de Eisenstein por EI Greco, o de Eric Rohmer pela pintura
romântica do século XIX, sem falar de Godard, cuja obra inteira é assombrada por certos
pintores e certas questões ligadas à representação pictural: as citações de Renoir, Klee,
Picasso, a partir de O Acossado, O Soldado das Sombras e Pedro, o Louco, passando por
Goya e Rembrandt em Paixão.
É claro que é impossível explicar todas as formas de análise dos últimos sécu-
los. Como em muitos outros domínios, o século xx teve tendência a considerar
na sua integralidade um corpus cada vez mais colossal, que depressa ultrapassou
os limites da nossa própria cultura para incluir as artes do mundo inteiro; se
aproximações formais como a de Arnheim, que já abordaremos, se mantiveram
relativamente raras, assistimos em compensação a um florescimento de métodos
críticos, históricos e analíticos na linha da "iconologia" de Erwin Panofsky, que
combina precisamente a consideração do contexto histórico das obras (em espe-
cial fontes externas, por exemplo escritas, susceptíveis de as clarificar) e a análise
formal e composicional. Mais uma vez, o cinema só indirectamente é herdeiro
da pintura, e por isso estas abordagens analíticas apenas pela sua inspiração geral
nos podem ser úteis (haveria aliás um interessante paralelismo a observar entre a
análise do filme e a análise da pintura nas décadas mais recentes, com tentativas
de "semiologização" da análise pictórica que não deixam de corroborar alguns dos
problemas da significação no cinema).
106
5. A ANÁLISE DA IMAGEM E DO SOM
É claro que não pretendemos com esta citação muito breve esgotar a substância
do livro de Arnheim, mas apenas assinalar o género de ensinamentos que podemos
107
A ANÁLISE DO FILME
23 Concurso anual criado pela Academia Francesa em 1663, destinado à atribuição de bolsas
de estudo na Académie de France em Roma aos artistas mais promissores nas artes plásticas, arqui-
tectura e composição musical. Muito prestigiado e popular, o Prix de Rome cessou, na pintura,
em 1968. (N. do T.)
108
5. A,' ANÁLISE DA IMAGEM E DO SOM
Picasso,Pesca Noeturna em Antibes, 1939. Nova Iorque. MJseu de Arte Moderna, Col. Simon Guggenheim.
109
A ANÁLISE DO FILME
110
5. A ANÁLISE DA IMAGEM E DO SOM
Poucos filmes se prestam, de forma tão clara como Fausto, de Murnau, a uma
análise composicional e plástica; e por isso são poucas as análises que alcançam
esse grau de concentração em tais problemas.
Já tínhamos encontrado essa preocupação num analista algo particular: Eisenstein. Nele
a análise fílmica (o mais das vezes a propósito dos seus próprios filmes) integra-se numa
reflexão muito mais ampla - que também envolve a realização (principalmente nos seus
cursos no V.G.I.K.*) e sobretudo a pintura (seria preciso citar aqui as suas numerosíssimas
descrições ou análises de quadros) - e por fim na construção de um sistema estético
abrangente, que engloba todas as artes plásticas.
111
A ANÁLISE DO FILME
112
5. A ANALISE DA IMAGEM E DO SOM
I
Tchelovek s Kinoapparatom
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[O Homem da Câmara de Filmar), de Dziga Vertov (1929).
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113
A ANALISE DO FILME
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5. A ANÁLISE DA IMAGEM E DO SOM
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1I5
A ANÁLISE DO FILME
Esta é de facto uma análise da imagem, sem nada de uma análise textual, nem
de uma análise da narrativa.
Da mesma forma, em várias análises de pormenor do seu livro sobre Dreyer,
David Borwell refere com insistência, como já assinalámos, casos de trabalho
"autónomo" da câmara em relação à narrativa - isto é, casos nos quais o ponto
de vista adoptado pela câmara, e as suas variações (especialmente nos chamados
"movimentos de câmara"), são mais ou menos independentes da posição das
personagens.
Numa análise muito rigorosa de Vampyr, e particularmente de A Paixão de Joana d'Arc,
Bordwell refere muitos casos, minuciosamente descritos (com o auxílio de fotogramas
belíssimos, deve dizer-se), em que a câmara ocupa uma posição, eventualmente móvel,
que é determinada antes do mais por uma lógica espacial e não por uma lógica narrativa,
e que pode abrir uma perspectiva, ou, pelo.contrário, optar por só mostrar determinado
espaço detrás de toda uma série de efeitos ópticos, portas, cortinas, etc. Bordwelldemons-
tra muito bem que esse tratamento do ponto de vista está relacionado com o do espaço
fora-de-campo, e com a ameaça potencial que este incessantemente representa nesse
filme de terror. Assim, "o tempo e o espaço narrativos já não vêm colados ao tempo e
ao espaço da câmara. Da lógica causal da narrativa, a câmara limita-se a registar certos
efeitos - pânico, sombras ou morte (... ) E do espaço da história, o enquadramento recorta
o seu próprio 'argumento', que às vezes se afasta bastante da dominante dramática".
116
5. A ANÁLISE DA IMAGEM E DO SOM
ll7
A ANÁLISE DO FILME
118
5. A ANAlisE DA IMAGEM E DO SOM
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119
A ANALISE DO FILME
120
5. A ANÁLISE DA IMAGEM E DO SOM
ou, em termos cénicos, os dois foras-de-campo laterais. Estes alargam o espaço cénico
e reforçam a frontalidade de cada plano individual".
Não iremos mais além ne~ta análise de La Chinoise que apoia estas primei-
ras observaçõeS noutras, baseadas em séries posteriores de planos, e as inscreve
numa reflexão mais teórica sobre a relação entre diegese e "cinescrita" no sentido
eisensteiniano do termo. Ela tinha o mérito de se interessar pelo estudo de uma
alternância não-clássica que desnatura a função habitual do fora-de-campo: a
primeira série sobre Guillaume (Léaud) funciona segundo o modelo canónico do
modo de instituição de uma realidade, e a segunda, em contrapartida, não possui
qualquer realidade cénica: ela joga com a repetição de um mesmo processo de
metaforização da cena política, localizável no conjunto do filme.
Também estiaanálise tinha como objecto a construção de um espaço cénico
independentemente de qualquer referência narrativa.
121
A ANALISE DO FILME
Com estes três fragmentos sucessivos, temos três variantes, três amostras de
um mesmo sistema de representação, aquele que se baseia na postulação de um
certo espaço referencial apercebido como real, através de uma construção abstracta,
convencional, assente nUm duplo conjunto de procedimentos: os da profundidade e
os do raccord e da sutura. Para esta grande unidade de princípio, a individualização
de cada momento e de cada cena é apenas questão de escala: o espaço é mais ou
menos penetrável, mais ou menos isotrópico, mais ou menos contínuo. Não que
as diferenças se anulem: assim, o espaço "mundano" do espectáculo e da mentira,
o apartamento de Genevieve, opõe-se fortemente ao espaço íntimo onde se joga
a verdade, em casa de Christine; mas há uma preocupação singular de garantir
uma denotação espacial coerente e clara.
124
5. A ANÁLISE DA IMAGEM E DO SOM
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Plano 325 de Nosferatu, eine Symphonie des Grauens, de F.W. Murnau (1922).
126
5. A ANALISE DA IMAGEM E DO SOM
i
Plano 259 Plano 443
O que ela contempla é o mar, e o vazio. Essas imagTns, após uma abertura com
íris, permanecem delimitadas por uma máscara, qs autores indicam que se a
abertura com íris pode figurar o aumento da luz a pa~tir da obscuridade, também
pode lembrar eS$aindiscrição ou esse voyeurismo cujb motivo tantas vezes se ins-
creve nos contos i fantásticos românticos (por exempl~, em O Homem de Areia30).
O fantástico liga-se aqui a um certo retiro, e "essa fuga anónima equivaleria ao
movimento que ~liferea aparição do monstro, tal corlto ele costuma ser descrito".
A máscara traz assim algo de inquietante - como se ~a sua sombra se refugiasse o
marginal. A sua aliança com os planos aproximados das personagens que olham,
ou com os enqu~dramentos "assinalados" (como a ptimeira imagem do filme, o
plano picado de Uma torre) faz com que a presença ~ó se torne sobretudo signi-
' Imagem
ficante (na i) d"e um In ' d"IZIveIque a ameaça, ou
I d o pressentimento
' que a
assombra". Para Bóuvier e Leutrat, a composição de cehas telas de Friedrich, como
Falésias de Cal nd Ilha de Rügen, oferece o equivaleritclde uma máscara fílmica: o
primeiro plano dÁservas e árvores compõe uma formalcircular sombria que rodeia
as falésias branca~ recortadas sobre o mar. Eles observab que o filme propõe várias
vezes ao espectad<>fo revezamento do olhar e um charbamento a cada plano: "mas
a estranheza conquista esses planos onde o olhar par~ce só afrontar o infinito, e
se perde, imóvel çomo o de um morto (planos 259, 4!43), ou fascinado, sujeito à
vertigem (269) oU ao horror (384)". :
No capítulo 5 lOSautores expandem a súa análise de~safunção muito particular
da máscara e da íris no filme. Numerosos planos aproximados de personagens a
olhar são revestidos por uma máscara: a fragmentação que essaproximidade implica,
assim como a eliminação do fundo e da profundidade de campo, é reforçada por
esse sinal, "de modo que esses planos não contribuem para escorar a unificação
cenográfica, e não pedem necessariamente um contracampo". O perigo não reside
num determinado ponto de vista que permita relativizar a distância ao Outro. Nas
Íris, "a ameaça que emana de uma impessoalidade difusa na atmosfera, dissolvida
no ambiente, arranja maneira de se fixar, parece surgir do próprio marginal, para
onde se teria retirado a presença anónima que lhe está na origem".
Um exemplo:
Um plano em picado revela, desde a primeira imagem do filme, por trás de um campanário
que desfigura o enquadramento, a vila ao fundo. No extremo oposto, o filme termina
com um contra picado da silhueta do castelo em ruínas a recortar-se sobre o céu. Nessa
última imagem já não existe máscara nem ameaça; em compensação, desde a primeira,
essaameaça iminente, mas oculta, confirmaria pela emoção uma divisão essencial e trá-
gica. A sombra circular das máscaras e íris,figurando uma ameaça à identidade, de certa
forma avalia a autonomia concedida às personagens. Graças a esses efeitos de máscara
nasce o pressentimento do tema, e impõe-se a atribuição a um poder anónimo, centro
absoluto, irradiante, dessa dependência aterradora.
128
5. A ANÁLISE DA IMAGEM E DO SOM
lembrando mais uma aparição: o efeito é sem dúvida menor que nos planos já descritos
(222 e seguintes); isso deve-se a que agora apenas um arco branco assume a função de
foco. A aparência torna-se aparição, e certas imagens revestem um carácter quase aluci-
natório, como o rosto de Nosferatu, diagonallivida na chanfradura, única parte iluminada
do caixão, ou as fachadas degradadas, sem espessura, da casa do vampiro, ou ainda a
perspectiva exageradamente centrada dos caixões transportados numa rua.
129
A ANÁLISE DO FILME
Plano 3 I Plano 4
esse poder (o terror). Por fim, o quarto plano mostrl os passageiros, dispostos no
paquete, numa composição reminiscente de tantos ~uadros, m\ls complicada por
dois ligeiros movimentos: um veleiro atravessa a partd superior do enquadramento,
e a câmara desliza lentamente para diante. Essas du~s características - picturali-
dade da composição e importância do movimento db câmara -' são as duas bases
unanimemente reconhecidas do "estilo Murnau", e tndrew não tem dificuldade
em encontrar-lhes a "aplicação" e o "desenvolvimen~o" no resto do filme.
Naturalmente, só deixamos aqui um breve relance, talvez involuntariamente
caricatural, do procedimento desta análise. É inútil referir que percorrer assim
um filme, a partir de quatro imagens formuladas c.omo síntese emblemática, é
aventuroso, e só se pode tentar se houver boas razões para supor uma enorme coe-
rência plástica e estilística desse filme. Na maioria dbs casos, o'uso de metáforas
(ou de figuras pertencentes ao registo metafórico) é ;infinitamente mais restrito,
mais localizado e menos "orgânico", do que Andre* supõe neste caso. Logo, é
impossível transmitir recomendações gerais para esté tipo de análise - que, mais
explicitamente interpretativo do que outros, exige! também mais ptudência e
subtileza. No máximo, podemos vincar que a melhQr segurança, aqui e não só,
continua a ser o conhecimento histórico dos estilos fíl.picos: só ele permite apreciar
a verosimilhança de determinada hipótese relativa aQemprego do nível figuraI.
I
131
A ANÁLISE DO FILME
133
A ANÁLISE DO FILME
136
5. A ANÁLISE DA IMAGEM E DO SOM
, I
Assim, por trás da diversidade heterogénea das qitações musicais, encontramos
em A Casa Tellier uma grande riqueza de situações e estatutos. A canção-tema é
a música flexível por excelência, de uma plasticida,de e servilismo ilimitados; de
dominante melódico-sentimental, ela cria ligações entre passado, presente e futuro,
por oposição ao ritmo fálico da dança pot-pourri, enquanto o objectivo do tema-
-cântico é intr6duzir a ruptura que marca o Ave verum, "genial inclusão que, após
a audição integral e a descoberto do tema-cântico, transfere maciçamente, sem
aviso prévio, 01 centro de gravidade para essa inesp~rada nova música".
138
5. A ANALIsE DA IMAGEM E DO SOM
i
No que toca à palavra, instância rainha da banda sonora, ela tem originado
sobretudo uma abordagem narratológica: as análises,interessaram-se essencialmente
pelo estatuto narrativo dos enunciados verbais: diálogos in ou ojf, comentário
extra-diegétic6, voz interior, voz no flashbaek. Com efeito, logo que se considera
a fala nos filmes, sobrevém uma grande divisão entre os conteúdos semânticos
dos enunciados verbais e todas as outras características. Estuda-se os conteúdos
semânticos ao, mesmo tempo que a narração de que são um dos principais ele-
mentos. Parece difícil estudar uma personagem de )filme sem convocar o que esta
diz nesse filme';a palavra costuma desempenhar uni papel estruturante na própria
organização da narrattiva. I
Ainda na sua'análise da banda sonora de Muriel, Michel Marie debruça-se sobre o sistema
da fala do filme. Ele observa que Muriel é um filme "tagarela", cujas personagens utili-
zam abundantemente a linguagem, mas não primordialmente com função dramática:
repetem colagens prosaicas de conversas, inúteis para a progressão da intriga. O autor
estuda as categorias lexicais presentes no filme: "De que se fala em Muriel?", e faz surgir
sob o campo semântico dominante do alimento (as refeições) o da destruição e da tor-
tura. Ele analisa igualmente a frequência das estruturas repetitivas, as rupturas de tom
e de ritmo, a abundância de lugares-comuns e o conjunto de registos verbais: diálogos,
micro narrativas, comentário em voz of{, canção, serrilão violento e sincopado. Destas
constatações desprende-se uma certa especificidade da fala fílmica, por oposição à fala
teatral (necessariamente dramática, embora através de uma estratégia antidramática).
I
estás a dizer]; elementos que sublinham a conversa;no final da frase: quoi [quê!],
va [vá], etc.
O diálogo é'sistematicamente acompanhado de gestos abundantes, sustentados,
que funcionam de forma ilustrativa (Irénée, interpretado por Fernandel, mostra
o assado de porco); como manifestação de afectos (Irénée seca uma lágrima e
aproxima o roho, franzindo o sobrolho); como r~guladores (muitos gestos de
braço e movimentos de dedo a acompanhar o fluxo Verbal, aceno da cabeça, gesto
de Irénée a agarrar o braço do tio para conseguir a ~ua atenção). A representação
do actor chega laosgestos hiperbólicos (esticament~ dos braços no momento das
"exéquias tropicais da família") e mesmo emblemáticos (sinal de cruz irónico por
ser efectuado numa situação pouco ortodoxa: et, à I 'heure qu' il est, elle estpeut-être
à l'agonie [a est~s horas, ela é capaz de estar a agonizar] (muito teatral, ele passa
o dedo indicaqor pelo pescoço) Tranchée!... [Dec~pitada!] (mais grave) Adieu
[Adeus], Gra/zi/ani! ... (faz o sinal da cruz). \
Com o auxílio de ferramentas da "pragmática conversacional", Vanoye procura
delimitar, no s~u estudo seguinte, as característicds específicas da conversação
fílmica; para tanto ele confronta quatro situações cohversacionais diferentes: dois
excertos de film~s de ficção (de Pialat e Rohmer) e doi~excertos de filmes-inquérito,
baseados em entrevistas (de Godard e Perrault) com!graus de complexidade cres-
centes: de um plano com duas personagens a um segmento mais longo, montado,
com vários lugares e personagens. ,
O fragmento de France/tour/détourldeux/enjants (6. andamento) põe em cena
0
\
A ANÁLISE DO FILME I
Michel que o põe à prova, para convencer Nelly. Vanoye, porém, pergunta com
razão "o que é feito do lugar do espectador?". Haverá identificação com a perso-
nagem principal encarnada pela estrela (Depardieu)? Nessa perspectiva, se Loulou
perde a face aos olhos de Nelly e Michel, não a perde aos olhos dos espectadores
simpatizantes, para quem Michel é um "burguês" odioso; inversamente, certos
espectadores podem ficar do lado de Michel (ou de Nelly), julgando Loulou sem
apelo como "parasita social"...
A análise incide principalmente sobre os diálogos e a interacção comunicacio-
nal, mas também convoca parâmetros especificamente fílmicos: a grandeza e a
duração dos planos, a presença do locutor na imagem, a lógica da montagem, e
mais globalmente a relação da palavra gravada com a imagem.
Esse tipo de análise do diálogo fílmico e da conversação pode também
agir retrospectivamente sobre certas investigações de pragmática do discurso,
proporcionando-lhes corpus de novos exemplos e situações específicas. É certo
que o material verbal próprio do cinema coloca problemas que não se encontram
automaticamente nas gravações em bruto de "conversas autênticas" e, nesse caso,
as investigações sobre o cinema podem desempenhar um papel decisivo.
143
•
•
•
•
CAPfTULO 6
Psicanálise
eanáli$edofilme
! A "'"
1. PORQUE A PSICANALISE?
I
do interior da teoria, pela própria teoria. O que, neste ponto, permanece menos
evidente, é a razão do recurso à psicanálise freudiana, a maior parte das vezes
através da remodelagem que lhe trouxe a teoria lacaniana do sujeito - e apenas
a ela. Existem, efectivamente, muitas outras teorias do sujeito (como as que são
desenvolvidas hoje, de forma muito activa, no quadro da psicologia cognitiva).
Se, nos estudos filmológicos recentes (a "segunda semiologia do cinema", para
retomar a expressão do próprio Metz), foi o modelo psicanalítico que amplamente
a conduziu, tal é devido a uma série de razões que esquematizaremos assim:
- mais do que qualquer outra teoria do sujeito, a psicanálise freudo-Iacaniana
interessa-se pela produção do sentido na sua relação com o sujeito falante e
pensante; não é por acaso que, sistematicamente, os textos de Fretid a que
Lacan e os seus discípulos mais fazem referência sãoA Interpretação dos Sonhos
e O Chiste e a sua Relação com o Inconsciente, ou seja, aquelas onde se trabalha
mais directamente a relação sentido latente/sentido manifesto;
- mais do que qualquer outra teoria do sujeito, ela interessa-se pela questão do
olhar e do espectáculo; uma obra como Clefs pour l'imaginaire [Chaves para
o Imaginário], de Octave Mannoni (um dos mais próximos discípulos de
Lacan), aborda frontalmente a questão da relação do sujeito espectador com
as suas produções imaginárias que são a peça de teatro ou o filme; foi pela
pluma de psicanalistas da Escola Freudiana (sociedade fundada por Lacan),
como André Green ou ]ean-Louis Baudry, que pudemos ler as primeiras
comparações sistemáticas entre o dispositivo do cinema como espectáculo
e a estrutura do sujeito;
- foi pela integração de certos elementos da teoria lacaniana que se desenvol-
veu, por volta de 1970, a teoria da ideologia com Althusser e os seus alunos;
muito explicitamente, num célebre artigo de 1970, "Ideologia e Aparelhos
Ideológicos de Estado", Althusser tenta ligar o conceito marxista de ideologia
ao mecanismo da constituição do sujeito; tendo em conta a importância do
marxismo nos estudos críticos deste período, encontra-se aí um elemento
suplementar de peso no recurso ao modelo lacaniano;
- finalmente, a teoria lacaniana do sujeito apoia-se, explicitamente, em modelos
linguísticos (ela foi muitas vezes considerada - é verdade que no seu início, e
de forma por vezes pouco convincente - como parte integrante do movimento
estruturalista); existiria aí portanto uma espécie de "princípio do menor
deslocamento": menos distância entre linguística e "lógica do significante"
lacaniana do que em relação à psicologia cognitiva experimental, por exemplo
(a qual, em contrapartida, está bem mais próxima da linguística generativa
- como se vê pela actual geração de psicolinguistas).
Naturalmente, estas razões que damos, e outras que poderíamos considerar,
são outras tantas "previsões do passado", e não pretendem reconstituir uma lógica
consciente. Conviria aqui acrescentar que a análise de filmes, acerca da qual já
dissemos o quanto, em todo este período, se encontrava próxima do movimento de
teorização, não foi alheia a esse recurso à psicanálise - com a qual, precisamente,
partilha certas atitudes analíticas de base.
146
6. PSICANÁLISE E ANÁLISE DO FILME
148
6. PSICANÁLISE E ANÁLISE DO FILME
Não nos passa pela cabeça condenar urbi et orbi este tipo de trabalho que utiliza
a psicanálise. No fim de contas, não faltam à história da arte, e à da psicanálise,
tentativas de expl~caçãoda criação artística por determinações psicológicas (émesmo
um dos grandes ~ugares comuns herdados do romantismo). Mas esse é indubita-
velmente um terreno extremamente escorregadio, onde o rigor é raro, e onde as
hipóteses mais imprudentes e menos sustentadas parecem ser a regra. Quanto ao
diagnóstico que s~pode formar sobre personagens de ficção, ele revela-segeralmente
tanto mais inofensivo e anódino quanto os filmes e as personagens a respeito dos
quais é feito foram precisamente calculados com essa intenção (e também aí, com
referência a modelos exagerada e afrontosamente simplificados).
I
3. PSICANÁLISE E TEXTUALIDADE
Como no início indicámos, a utilização da psicanálise no estudo dos filmes
parece-nos derivar de uma relação essencial entre semiologia do cinema e teoria
psicanalítica (que deve distinguir-se rigorosamente, digamo-lo de passagem, da
psicanálise enquanto terapia - a qual é, socialmente falando, o aspecto principal).
O que a descrição plano por plano e as primeiras análises textuais de filmes tinham
mostrado, foi a existência de fenómenos extremamente localizados, de momentos
pontuais ou quase, no interior do significante fílmico, e onde o sujeito espectador
era afectado de forma mais precisa e directa.
Um exemplo clássico, mas crucial, é o dos olhares. Certamente, não foi preciso esperar
pela análise textual para reconhecer a importância do raccord de olhar (encontra-se uma
definição muito ',Iara num artigo de Jean-Luc Godard escrito em 1956, "Montage mon
beausouci"). No entanto, a minuciosa descrição da montagem sobre um olhar numa
sequência de Os Pássaros contribuiu enormemente para mostrar (ou para descobrir - já
que na época foi ilma verdadeira descoberta, inclusive, plausivelmente, para Raymond
Bellour) que este procedimento cristalizado e que tinha reputação de "transparente"
assentava de facto em fenómenos de crença e de identificação certamente repetitivos
e habituais, mas apesar disso complexos na sua natureza.
150
I 6. PSICANÁLISE E ANÁLISE DO FILME
I
A Grande Esperança, de John Ford (1939).
De ~orma mais alargada, ess~ análise é importante por Jr sido uma das primeiras a
demonstrar a existência, nos textos à partida mais transparentes, de um "subtexto"
estruturado tão rigorosamente (e por vezes mesmo mais) quanto o texto manifesto.t:
Hollywoodem par
actualmente um ponto generalizadamente adquirido, e muitas análises de filmes, de
UI'" f.,.m dl"o um. d" 'u" .,eml,,,,, . 151
A ANÁLISE DO FILME
152
6. PSICANÁLISE E ANÁLISE DO FILME
I
3.2. As identificações secundárias
Uma outra abordagem estaria menos centrada na identificação das grandes
matrizes simbóliFas inscritas no texto do que numa a:pálise dos filmes em termos
de identificação. ' .
Há pouco relembrámos uma das bases da teorização do "dispositivo" cinema-
tográfico, a saber? a noção de "identificação primária'i; esse fenómeno, constante,
é acompanhado, teoricamente, por outros fenómenos de identificação, mais con-
tingentes, mais evanescentes até, em todo o caso mais amplamente dependentes da
relação de cada irtdivíduo-espectador com a situação fiecionaI. Essas identificações
"secundárias" reo,obrem, pelo menos superficialmente, o que a crítica de cinema
descobriu desde há muito: que o filme suscita no espectador afectos, simpatia,
antipatia, e que essesafectos são frequentemente dirigidos às personagens enquanto
tais (daí a ideia, rebatida nos debates de cineclubes, e singularmente simplificadora,
de que nos identificaríamos necessariamente com esta ou aquela personagem - de
preferência o "bom", enquanto o "mau" suscitaria a nossa aversão). É claro que,
pondo em jogo o micro-detalhe da nossa relação com o texto fílmico, ela depende
da análise fílmica ~equase unicamente dela: é difícil enCararverdadeiramente uma
teorização geral d~s identificações secundárias, pelo menos uma teorização que
falasse do filme, e:não da subjectividade em geral).
Não existe qualquer análise publicada sob forma ~scrita que se centre nesta
questão - por uma razão evidente: a identificação é um fenómeno subjectivo, em
todos os sentidos da palavra. É pouco provável que se possa descrever, neste ou
naquele filme particular, índices de identificação absolutos (válidos para qualquer
espectador, para o espectador em geral). Em contrapartida, parece-nos que, embora
ao que sabemos isso nunca tenha sido verdadeiramente tentado, se poderiam loca-
lizar os "micro-circuitos da identificação no texto de superfície" (Alain Bergala)
- ou seja os elementos textuais que induzem à iderttificação. Naturalmente a lista
desses elementos está sujeita a caução, mas poder-se-ia numa primeira aproximação'
constitui-la a partir do que se sabe (ou supõe) sobre a identificação no cinema. É
claro, por exemplo, que as identificações secundárias têm como suporte privile-
giado certos elemerttos da narração, essencialmente 1) as personagens, ou mais
exactamente os tr~ços constitutivos das personagens, e 2) as situações, ou mais
exactamente os acontecimentos unitários que constituem a situação - mas que,
no cinema, esses el~mentos narrativos se tornam pretexto para a identificação na
medida em que são visualizados. '
Se leio, por exemplo, The 8;g Sleep, de Raymond Chandler, poderei, pela descrição que dele
é feita, identificar certos traços da personagem de Philip Marlowe: a sua tendência para a
ironia e para a auto-ironia notória em determinadas réplicas do romance ou, a outro nível
completamente diferente, as indicações dadas sobre o seu consumo de uísque, etc. - e
153
A ANÁLISE DO FILME
Seria sem dúvida muito interessante tentar fazer este género de levantamento,
apesar de todos os seus perigos (tal poderia mesmo constituir um excelente exer-
cício de análise em situação pedagógica). Deveria igualmente ser muito instrutivo
estudar um filme sob este ângulo, à luz do que se pode saber das determinações
da sua produção. Um caso particularmente claro aqui é o de Hitchcock, que se
vangloriou muitas vezes de fazer" direcção de espectadores", portanto de prever
as reacções do público a este ou aquele elemento: o trabalho analítico consistiria
portanto neste caso em tentar reconstituir o "cálculo" das identificações, e estimar
a sua eficácia. Inútil sublinhar que seria um empreendimento em que a prudência
nunca seria demasiada, pois afloramos permanentemente o risco de cair numa
crítica de "intenções", com todas as armadilhas que a acompanham.
quer vedeta, e o,nde ela se exibe exibindo o seu talento. Vedeta de cinema? Sim,
mas primeiramente vedeta de music-hall. No filme burlesco, dois casos de olhar
para a câmara: o primeiro é aquele em que se faz do público testemunha, pelo
olhar e pela palavra, para comentar ironicamente, como no teatro de fantoches,
a acção ou o car<Ícterde um parceiro. Aqui, a interpelação directa do espectador
é uma chamada a testemunhar, uma referência a um terceiro. O segundo caso
possível só difert do primeiro por permanecer mudo e não provocar da parte do
espectador a me~ma reacção em relação à personag~m. É o olhar de Laurel que
não compreende o que se passa e que parece pedir aj~da ou a solução ao público.
Esse olhar para a câmara é um breve encontro entre vedeta e espectador em que
aquela, de forma perversa, se oferece a dissipar-se, encontro falhado, desencontro
entre a vedeta presente na rodagem e ausente na projecção, e o público ausente
da rodagem mas presente na projecção. O parceiro implicado por esse olhar para
a câmara, longe de ser o indivíduo espectador real, é efectivamente um parceiro
colectivo (o público) e imaginário (o outro público). Se existe ênfase, é nesta relação
que exclui o espectador que está na sala.
Marc Vernet resume assim a cadeia que liga o actor ao espectador: vedeta-
-metapersonagem -personagem -público diegético -metapúblico- público real-
-espectador: estrutura em espelhos desalinhados, estrutura em casca de cebola,
que não deixa de lembrar, no seu funcionamento, a situação conhecida de qualquer
indivíduo, "em particular na experiência da nostalgia em que contemplo com
deleite essa persoqagem que eu era, que acreditei que era, que teria podido ser, que
já não sou, que ta,lveznunca tenha sido e onde contudo gosto de me reconhecer.
Figura reenviada ~o passado, do Ideal do Eu, que Freud define como o substituto
do narcisismo perdido da infância". '
O "olhar para a câmara" é igualmente um olhar ambíguo porque é fruto de um com-
promisso entre Ó bom e o maU encontro. Também o encontramos no filme clássico, em
duas situações diegéticas opostas: o encontro amoroso e o encontro com a morte. O
exemplo canónÚ:o para o encontro amoroso, aos olhos de Marc Vernet, é a célebre cena
de Laura (Otto p'reminger, 1947) em que o herói se encontra face a face com a heroína.
Laura, toda vestida de branco, regressa miraculosamente do campo quando ajulgávamos
morta e surpreende o inspector McPherson em casa dela, onde este se instalou com
todo o à-vontade. Num primeiro grande plano, Laura oferece à câmara o seu rosto e um
olhar muito espantado, mas nitidamente dirigido para a objectiva. Seguir-se-ão outros
dois planos em que esse olhar se deslocará para fora-de-campo, para pouco a pouco
restabelecer uma direcção "normal". O extraordinário é que nos planos com que estes
alternam, McPhe'rson olha efectivamente para fora-de-campo e portanto as duas direc-
ções de olhar não ligam de maneira alguma, o que apenas reforça a ideia de um encontro
entre a heroína e o espectador que ainda não a viu em todo o filme. Há algo de oferta
nesse grande plano que vem preencher, com uma agradável surpresa, uma ausência da
imagem. Mas a realização insiste de forma bastante pesada em duas coisas: por um lado
Laura é alguém que volta, um fantasma, uma vez que ela foi assassinada antes do início
do filme (ou pelo menos é aquilo em que o espectador aci'editou até este ponto). O seu
vestuário fá-Ia aliás parecer-se tanto com um espectro como com uma noiva. Por outro
lado, os planos precedentes serviram para acentuar a mono mania do detective, o facto
de ele estar a cair de sono enquanto vai consumindo doses de uma grande garrafa de
uísque. Toda a gerte se belisca para se persuadir de que não está a sonhar. Por fim, não
devemos ignorar a continuação: Laura, de regresso, será duramente submetida ao olhar
frio e um tanto sá,dico do inspector: inelutável alternância do Desejo e da Lei. t. apenas
nessa vacilação, nessa inversão que se pode apreender o papel e o efeito do "olhar para
a câmara". O espectador, é um papel interpretado pelo sujeito.
, I
I
155
A ANÁLISE DO FILME
157
A ANÁLISE DO FILME
158
I I
Mulvey analisa por fim, com alguns exemplos, as soluções encontradas, concretamente,
no cinema clássico,para fazer abortar esse"perigo" escondido na imagem feminina. Assim
o filme negro é visto como reencenação do trauma primitivo (descoberta da ausência do
pénis da mãe) na forma transposta de cenas de sadismo. Um cineasta como Josef von
5ternberg encontra a solução do lado do fetichismo (o herói masculino, literalmente,
não vê a mulher), etc.
159
A ANALISE DO FILME
160
.CAPíTULO 7
Análise de filmes
e história do cinema:
verificação de uma análise
161
A ANÁLISE DO FILME
162
7. ANÁLISE DE FILMES E HISTÓRIA DO CINEMA: VERIFICAÇÃO DE UMA ANÁLISE
I
beur (Jean-Pierre Melville, 1955)... Dudley Andrdv chega a evocar o tom geral
de filme negro que domina o filme, traduzido pelo sbnho de Poiccard de ir para o
sul de Itália, coPl a namorada e o dinheiro, que lentbra os sonhos de "segurança
além-fronteira", a do México, de tantos anti-heróis dos anos 40.
Andrew evota, de seguida, "a sombra filosófica" do filme e lembra que Michel
Poiccard foi percebido como uma "reencarnação do Roquentin de Sartre, do
Meurseault de <!:amuse dos heróis perversos de Genet", o que lhe permite, através
da filiação exis~encialista, estender as referências cinematográficas para fora da
América e trazê'-Ias para solo francês. Belmondo seria uma ressurgência da per-
sonagem encarnada por Gabin, a fumar e a percorr~r o quarto nas suas últimas
horas em Foi Uma Mulher que o Perdeu, ou a brincar com o urso de peluche da
namorada. A relação é ainda mais pertinente com O Cais das Brumas, onde, como
desertor, ele espera evadir-se num barco com Michêle Morgan, mas é abatido no
último momento. Andrew vê nessa filiação o percu~sode um modelo histórico
I
cuja origem residiria no cinema expressionista alemão.
I
"Gabin impôs um estilo de representação poderoso e t,aciturno nos filmes pessimistas
que precederam a 11Guerra Mundial. Ele construía os seus papéis com atitudes que em
grande medida eram adoptadas do expressionismo alemão, mas dominava o seu próprio
corpo, só se permitindo soltá-lo uma vez em cada filme', Ele é o modelo que Bogart iria
encarnar na América durante a guerra, transmitindo a sua contenção a Dana Andrews,
Fred MacMurray e ao catatónico Richard Widmark. É um~ tradição que regressa a França
com O Acossado". '
~ I
Estas referências intertextuais são usadas pelo menos de dois modos. O primeiro,
mais persuasivo, i acentua o impacte estético e filosó,fico do seu próprio esforço
"ligando-o ao filme negro de baixo calibre com as sua~ infernais cogitações sobre a
morte e o amor"; o segundo, que cita romancistas, pintores e compositores célebres
(Françoise Sagan, Maurice Sachs, Jean Genet, Malraux, Renoir, Picasso, Mozart,
Bach, Brahms ... ), diz mais respeito à textura do filme do que à sua estrutura.
Segundo Andrew, Godard "salpica a sua tela" com esses nomes para variar o tom e
o interesse das ceflas, para conservar o drama num espaço vivo e cultural. Ele será
assim o primeiro a referir nomes como Renoir e Faulkner, a mostrar o "Romeu e
Julieta" de Picass~, a brincar com a arte, irreverente, isto é, com desenvoltura. A
espiral deste turbilhão de referências provém quer dos filmes de série B, quer da
literatura existencial; mas o que é profundamente original é a energia do filme,
o facto de todas Jssas lembranças, citações, paródias, homenagens, procedimen-
tos que dependem do passado, serem reaproveitadas num tempo discursivo e
utilizadas no presente. E nisso que, em O Acossado, Godard reinventa: tudo nele
parece exprimir-se pela primeira vez. Daí a perfeita c;onciliação de uma estética
da simulação e da autenticidade: o caminho para a expressão sincera passa inevi-
tavelmente, ao contrário dos filmes clássicos de autor (os de Bergman e Fellini)
por rituais preexi~tentes, e o acto livre de fazer um filme num momento histórico
preciso liga-se a esses rituais que é quase impossível evitar.
um imperador romano, assina cheques nas costas do seu escravo e liquida os últi-
mos vestígios do humanismo europeu.
Ao ir buscar Fritz Lang para interpretar o criador; Godard acrescenta à obra
de Moravia uma dimensão fundamental, ausente do romance. Lang é o artista
livre que recusou todos os compromissos, tendo resistido à ditadura nazi como à
maquinaria hollywoodiana. Ele encarna a figura do Sábio, do homem de cultura
que cita Dante, Hõlderlin, Brecht e Corneille; Godard assimila-o à figura de
Homero.
Estes dois breves exemplos demonstram a necessidade absoluta de inscrever a
análise de O Desprezo num momento preciso da história do cinema, como ponto
cimeiro da Nouvelle Vague e constatação do desaparecimento da maior parte da
produção "clássica".
165
A ANÁLISE DO FILME
Com base nas suas primeiras observações (visionamento detalhado de várias centenas de
filmes), André Gaudreault e Tom Gunning foram levados a propor "dois modos de práticas
fílmicas": o primeiro designa-se "sistema de atracções mostrativas" e o segundo "sistema
de integração narrativa". O sistema de atracção mostrativa teria um conhecimento muito
fraco do regime da narração fílmica. A sua unidade básica seria o plano, considerado em
si uma micronarrativa autónoma.
Inversamente; o sistema de integração narrativa foi o que permitiu que o cinema seguisse
um processo gradual de narrativização. O discurso fílmico foi colocado ao serviço da his-
tória a transmitir: os diversos elementos da expressão fílmica mobilizaram-se, a todos os
níveis, para fins narrativos; quer fossem elementos pre-fílmicos, relativos à composição
da imagem, ou as diversas operações de montagem.
O que em primeiro lugar distingue o sistema de integra'ção narrativa daquele que viria a
ser o seu sucessor é precisamente o seu papel de transição entre o cinema mais mostra-
tivo de antes de Griftith e o cinema a que se chamaria clássico, e no qual a narrativização
domina completamente.
168
7. ANÁLISE DE FILMES E HISTÓRIA DO CINEMA: VEffilFICAÇÃO DE UMA ANÁLISE
gos reconhecíveis logo nas primeiras lexias são os mesmos que intervêm no texto,
inteiro. Mas essa leitura metodologicamente "perfeita" não é menos questionável,
pois comporta explicitamente a sua parte de interpretação (sobretudo na leitura
do código simbólico, e mais exactamente na localização do tema da castração).
Podemos certamente imaginar outra leitura igualmente conseguida da mesma
novela, mas centrada noutro elemento c;: noutra interpretação.
De maneira geral, quanto mais uma análise fica próxima da simples descrição,
mais a sua verificação é fácil e segura; as análises rápidas, em termos formais ou
estilísticos, de filmes pertencentes a corpus alargados - tal como os que há pouco
mencionámos - são menos sujeitas a caução do que as análises textuais que fazem
amplo apelo à interpretação de níveis figurais ou simbólicos; ou até do que as
análises que utilizam "instrumentos" tão imprecisos e pouco directivos como o
"quadrado semiótico" de Greimas, por exemplo.
para abordar um dado filme dá a entender q~e se tem boas razões para pensar
que essa aproximação é adequada para ele; aléi,n do mais, nem sempre é possível
ajuizar rapidamente o que outro método poderia proporcionar. Logo, este conselho
metodológico é sobretudo um princípio a ter presente ao começar uma análise:
não convém precipitarmo-nos numa abordagem aparentemente promissora, sem
termos a certeza de que não existiam outras possibilidades para o mesmo filme.
Uma maneira mais realista de avaliar um método consiste em examinar os
resultados 'que ele permitiu obter quando apli~ado, e ponderar a amplitude e a
exactidão dos resultados que podemos esperar. I
Os factos que enumerámos são, por agora, outras tantas informações faetuais
decerto interessantes, mas que só de maneira muito tênue se ligam a uma qualquer
análise do filme. Nisso consiste o mais difícil. Muitíssimos autores de análises
fílmicas, mais ou menos conscientes da necessidade de não fechar a análise em si
mesma, recorreram, com maior ou menor precisão, a investigações desse gênero.
Por outro lado, ê raro que esses factos contextuais/históricos sejam verdadeira-
mente utilizados no decurso da análise e, paradoxalmente, ê ainda mais raro vê-los
empregados para justificar ou verificar uma análise. É muito frequente servirem
como "garantia" formal, muito mais do que como provas ou indícios.
174
7. ANÁLISE DE FILMES E HISTÓRIA DO CINEMA: VERIFICAÇÃO DE UMA ANÁLISE
176
7. ANÁLISE DE FILMES E HISTÓRIA DO CINEMA: VERIFICAÇÃO DE UMA ANÁLISE
177
A ANÁLISE DO FILME
178
CAPíTULO 8
Objectivo da análise:
à guisa de conclusão
Uma questão., a que até aqui não. demo.s atenção., agindo. co.mo. se fo.sse evidente
que se devia fazer análise de filmes, não. po.de deixar de ser co.lo.cada no. final
deste percurso.: para que serve a análise de filJlles? Ou mais precisamente (não.
estando. a sua utilidade imediata necessariame~te em causa): em que estratégias
de co.njunto intervém ela, co.mo. e po.rquê?
No.te-se1que, pelo. caminho., já respo.ndemo.s em parte a estas perguntas, po.r
exemplo. ao.'insistir (no. capítulo. 3) no.s laço.s entre análise textual e estruturalista
- desse mo.lio. assinalando. o. o.bjectivo. teórico. da análise - o.u ainda ao. destacar
o. seu papel [no. trabalho. histórico. (capítulo. 7). Este último. capítulo. não. pro.cura
tanto. justifi~ar a no.ssa empresa co.mo. reunir o.bservações espalhadas no. livro e,
so.bretudo., ~brir algumas no.vas perspectivas, sintetizando.-as claramente.
I "
1. A ANALISE, ALTER EGO DA TEORIA
, I
Já insistiJ:no.s muitas vezes no. seguinte: não. existe análise "pura", "abso.luta",
nem méto.do. "universal" de análise. Analisamo.s sempre um filme em função. de
pressupo.sto.s teórico.s - mesmo. que estes não. sejam no.meado.s, e até inco.nscien-
teso Po.r o.utras palavras, não. existe análise fílmICa que não. assente, pelo. meno.s
em parte, numa certa co.ncepção. teórica, pelo. meno.s implícita, do. cinema. Co.m
certeza isso. não. quer dizer que to.das as análises aspirem à teo.ria, mas nenhuma
co.nsegue evitá-la to.talmente.
Um exemplo. quase extrema é farnecida pela livra de Alfred Guzzetti sabre Deux ou trais
choses que je sais d'elle Uá citada). Não. só a analista segue aí sistematicamente a fia da
texto., parecendo. enxertar-lhe a seu camentária de mada semi-impravisada, cama além
disso. evita cuidadasamente (e de maneira deveras excepcianal tenda em canta que a
tradição. nas textas universitárias americanas é farnecer a maiar número. passível de
referências) as alusões a textas teóricas da cinema. Num texto. de mais de 200 páginas,
não. encantramas mais da que uma dúzia delas, e sei:npre muita breves.
Não.é menas certa que esselivra tem uma perspectiva teórica muita precisa: a análise centra-se
expressamente na relação. entre idealagia e estética, e muitas vezes o.analista tama partida
quanta ao.canteúda, a qualidade e a densidade da discursa palítica da filme; para ele, a filme
"fala" de mada quase transparente, nãa-prablemática (uma pasiçãa, sabema-Ia, que tem
antecedentes, mas de que a mínima que se pade dizer é que não. étearicamente neutra).
i
No. caso. dali análises o.nde o.desígnio. teórico. é explicitado., po.demo.s distinguir
três tipo.s de relações entre a análise e a teo.ria: a primeira po.de funcio.nar, relati-
vamente à segunda, co.mo. verificação., invenção. o.Udemo.nstração..
I
179
A ANÁLISE DO FILME
I
"" .ti' 1.#
2. ANALISE, ESTILISTICA E POETICA
I
explicar a criação dos filmes, a sua génese ou, mais prosaicamente, a sua produção ..
É obviamente uma questão que compreende vários aspectos:
1. O aspecto propriamente criador: a análise permitirá restituir, pelo menos
de forma aproximativa, algo do processo de criação? A resposta parece dever ser
negativa, visto. que o processo, mais ou menos misterioso por natureza, é ainda
, complicado pela multiplicidade de determinações que na indústria do cinema pesam
sobre ele. No entanto, sem conseguir explicar absolutamente a criação de um filme,
a análise pode levar a colocar questões semelhantes às que um cineasta coloca - em
especial, claro, a análise dos elementos da realização (c£ capo5). Vamos deixar bem
claro que não se trata de forma alguma, para nós, de pretender ter acesso ao que
se passou "na cabeça" do cineasta; pelo contrário, opomo-nos a qualquer leitura
de um filme - analítica ou não - que assente em supostas "intenções" do autor;
mesmo supondo que essas intenções tenham sido perfeitamente claras e explícitas
para o próprio cineasta (o que é raro), nada garante que que o filme corresponda
a essas intenções, que além disso o analista não pode ter a certeza de conhecer.
Trata-se então, para o analista, de se colocar por sua vez (e acrescentaremos: no
seu lugar, que não é o de um cineasta) questões de ordem criadora.
A questão-chave aqui é a do "porquê?": porquê tal enquadramento, tal movimento de
câmara, tal corte num plano de pormenor, etc. Mais uma vez, a análise nunca dará a
.resposta a essa questão, mas, por exemplo, uma comutação imaginária (perguntar-se
o que aconteceria se, no lugar de uma panorâmica, o cineasta utilizasse a montagem de
dois planos) muitas vezes permite encontrar algumas respostas possíveis.
Para sermos completamente claros, acrescentemos ainda que, se parte das inten-
ções do cineasta está destinada a permanecer inacessível ao analista, inversamente
este é livre de desenvolver o seu trabalho sem se sentir constrangido pelos limites
da intencionalidade do criador. Com isto respondemos a uma objecção habitual
às análises, especialmente textuais, a que se censura agarrar-se a pormenores que
ninguém percebe no desenrolar do filme, ou a elementos que é pouco verosÍmil
terem sido realmente desejados pelo cineasta, etc. É preciso afirmar com clareza que
o analista tem perfeitamente o direito de usar tais elementos, conquanto a sua análise
permaneça coerente - já que, mais uma vez, ele está num lugar diferente do criador,
e livre de tratar como bem entender tudo o que julgue presente no texto.
2. Noutro sentido, a análise pode ajudar a que nos interroguemos sobre a pro-
dução de um filme, ao analisar, com o apoio do material possível, as etapas visíveis
dessa produção. Aqui, o problema de base é sem dúvida a adaptação - estereótipo
de qualquer reflexão de inspiração literária sobre o cinema, e tema ainda hoje de
inúmeros trabalhos universitários. Ora essa questão, que tem pouco interesse
quando se deixa ficar (como ainda é frequente) numa abordagem do conteúdo,
pode, no quadro de uma análise bem conduzida, contribuir para esclarecer tanto
a génese de uma adaptação particular, como a natureza dessa "transcodificação"
que é a adaptação.
O problema foi exposto com grande clareza por Marie-C1aire Ropars no seu "Étude de
genese" de uma cena de Muriel, de Alain Resnais.Tendo procedido a uma análise dessa
cena e construído um sistema textual que a explica, Ropars confronta esse sistema com
o guião de Jean Cayrol que o filme adapta, e também com a planificação antes da mon-
tagem (documento portanto utilizado na rodagem). As modificações localizadas de um
para o outro texto são para o analista matéria para confirmar - ou corrigir - a análise
182
8. OBJECTIVO DA AN~L1SE: A GUISA DE CONCLUSÃO
Além dl.essevalor "criador", e num terreno talvez mais seguro, podemos avançar
que a análise é um meio importante de progredir na definição de uma estilística
fílmica . .Ai, noção de estilo, em matéria de filmes, surgiu no período "autorista" da
crítica de cinema: em críticos como Alexandre Astruc ou Eric Rohmer (e também
nos primeiríssimos textos de Raymond BeBour, por exemplo), exprime-se o desejo
de definir ilrealização em geral, a partir das características formais das obras -logo,
de definir1um "autor de filmes" pelo seu tratamento da realização, o seu "olhar",
a sua "distância" do mundo. É obviamente uma definição particular do estilo,
como característica individual ligada a uma cpncepção do mundo, quando não
ligada a Ulpa moral ou a uma metafísica. Em relação a essa abordagem, a análise
desempenha um papel importante: caracteriz~r o estilo de Lang, por exemplo,
por "um ~erto olhar", (como faz Michel Mourlet) tende à banalidade; é muito
mais convincente descrever esse olhar em termos de enquadramentos, ângulos,
iluminaçõ~s e montagem. . !
Hoje o~ estudos estilísticos tomaram uma orientação sensivelmente diferente
(cf capo 7, 11.2.), e estão essencialmente ligados à definição e ao estudo de vastos
corpus historicamente diferenciados. Não se data de renunciar a definir estilos
individuai~, mas de os definir com maior obJectividade, com o apoio de uma
caracterização mais firme e precisa dos "estilds" dominantes, relativamente aos
quais cada1cineasta se singulariza, conscienterJente ou não.
O caso de Fritz Lang, que há pouco evocámos, ~I muito esclarecedor. Fetichizado por
diferent~s fracções do movimento autorista, da Pr~sence du cinéma e dos macmahonistas
até aos derradeiros proponentes americanos da política dos autores (Peter Bogdanovich),
Lang é um cineasta cuja carreira irregular, vária$ vezes interrompida e relançada, em
nada se presta a uma avaliação unitária. A definiçãp de uma temática languiana revela-se
particularmente difícil(ostemas do "destino" ou d~ "vingança",geralmente associados ao
seu nom~, são na verdade o que alimenta géneros inteiros, do western ao filme negro) -
mas o mesmo poderíamos dizer de um hipotético bstilo languiano, tanto no seu período
alemão c,omo no americano. Certas características, a frontal idade do enquadramento, o
lado "sóbrio" e equilibrado da composição, são-lhe habituais, mas costumam combinar-
-se com outras dificilmente associáveis apenas a Lang.
I
A análi~.~ com exactidão das formas fílmicas é muito importante. Só ela pode
obrigar a roplper radicalmente com o subjectivismo e o impressionismo das descri-
ções estilísticas demasiado assentes na fé, como assistimos a propósito de Hawks,
Lang, Pre1l1inger e Nicholas Ray.
i " ""
3. A ANALISE COMO REVELADOR IDEOLOGICO
Já evocáhtos (cap. 1) aqueles debates de cinedube do pós-guerra, em que um
filme costurpava interessar em função do seu suposto conteúdo, e muitas vezes pela
apreciação ideológica desse conteúdo. Os autores deste livro, como a maioria dos
cinéfilos da sua geração, recordam-se de numerosos debates em torno, por exem-
plo, do juíz~ ideológico que conviria fazer sobre determinado filme americano (do
género: lhe (forse Soldiers- Os Cavaleiros, de John Ford - será um filme fascista?);
183
A ANALISE DO FILME
33 Ver, sobre a primeira posição, Jean-Patrick Leber, Cinéma et Idéologie,Editions Sociales, 1971,
e para a segunda, os textos editoriais dos Cahiers du Cinéma e da Cinéthique entre 1969 e 1971.
184
8. OBJECTIVO DA AN~L1SE: A GUISA DE CONCLUSÃO
Acrescentaremos, para terminar este ponto, que uma análise que visa apreciar
ideologicamente .um filme deve interrogar-se, talvez mais que outra qualquer,
sobre a recepção desse filme: os efeitos, pretendidos ou não, produzidos por
determinado filme, e os malentendidos e polémicas que suscita passam a fazer
parte da sua leitura.
4. O PRAZER DA ANÁLISE
I
I
Com o título desta parte temos consciência de apresentar o que pode começar
por parecer um paradoxo. A noção de prazer, 'no cinema como noutros campos,
não está em geral associada à de trabalho; é,lsem dúvida, um dos aspectos da
divisão social-técnica do trabalho nas sociedades industriais, o de separar cada vez
mais claramente o trabalho do lazer, este considerado, na ideologia dominante,
como o lugar exclusivo do prazer. !
É precisamente nesse mundo do lazer, do entretenimento, que geralmente se vê
os filmes (e a indústria do cinema é uma das indústrias do entretenimento). Ora, a
análise fílmica, seja qual for a sua forma exacta, tem sempre como característica,
por natureza, obrigar a uma reflexão e a uma revisão. Essas duas características
não poderiam ser mais antagónicas das principais características do consumo do
filme como divertimento, que é irreflectido e único. Se, como já notava Barthes
em 5/Z, reler um livro é sempre uma pequena transgressão numa sociedade onde
o gesto "normal" é atirar com o livro após tê-lo consumido, rever um filme é
também um gesto deliberado, que pode, certamente, ser de ordem puramente
fetichista (como no caso de certos filmes" de culto", de Casablanca a Festival Rocky
de Terror), mas que vai na contracorrente da ideia, dominante, de que um filme
novo vale mais do que um filme antigo.
A releitura, a revisão, e mais ainda essas revjsões informadas e activas que são'
as análises, produzem então uma abordagem muitíssimo diversa aos filmes, já não
baseada na fruição imediata e consumidora, ma.sno saber. O que queremos subli-
nhar é que essa abordagem, socialmente e subjectivamente diferente da abordagem
"normal", não deixa de produzir um certo tipo de prazer específico.
Primeiro há o que se deve chamar o prazer do saber. A actividade cognitiva
é uma das funções importantes do cérebro humano, e como qualquer função
psicológica, implica uma satisfação "extra" quando se exerce correctamente. No
caso da análise fílmica, é certo que muitas vezes ela se baseia (não só, claro) num
fantasma de domínio: o analista almeja possuir a obra, extorquindo-a se necessário
ao cineasta, para fazê-la sua ao recriá-la a seu bel-prazer!
As escolhas dos temas seriam aqui muito elucidativas: dedicar-se a um filme de narrativa
complexa e/ou enigmática, como 2007, Muriel ou as obras de Robbe-Grillet, decerto é em
parte desejar provar(-se) que se pode "superá-lo", "reduzi-lo", dominá-lo intelectualmente
- e talvez explicar o fascínio que exerce.
a
Quando se trata de um grande clássico, é às vezes originalidade da leitura que se torna
o objectivo da análise; esse aspecto torna-se muito evidente no caso de análises de
filmes geralmente desprezados (filmes de género, séries B, monos de toda a espécie).
Por fim, nunca mais acabaríamos de inventariar os casos em que a escolha do filme ana-
lisado pretende consolidar ou expor uma teoria (cf. atrás, em 1.)- assim multiplicando
a primazia do saber.
185
A ANÁLISE DO FILME
186
8. OBJECTIVO DA ANÁLISE: A GUISA DE CONCLUSÃO
188
8. OBJECTIVO DA ANÁL;ISE: A GUISA DE CONCLUSÃO
repetir uma evidência: não se pode ficar eternamente na dissecção, nem contentar-
-se em utilizar o que não passa de um traço do filme; nem que seja pelo próprio
interesse da análise, é preciso ver os filmes nas condições para as quais eles foram
concebidos (cf capo 2, 1.).
Afloramos aqui, outra vez, um ponto muito mais geral, ligado à perturbação
dos nossos hábitos de visão e consumo pelo videogravador, mas já, antes deste,
pela televisão. Cada vez mais o amador vai formando a sua "cinemateca" com
cassetes; cada vez mais ele tende a olhar os filmes por fragmentos, e também a
confrontá-los uns com os outros. Como, por outro lado, a televisão é também
uma ocasião de confrontos imprevistos, pelo slalom selvagem através da história
do cinema que ela nos propõe diariamente; como, por fim, a imagem electrónica,
com as suas possibilidades de deformação quase. infinitas, impõe uma nova con-
cepção do enquadramento como "paginação", percebemos que os nossos hábitos
de visão estão a mudar mais depressa e mais radicalmente do que nunca desde a
invenção do cinema.
É por isso muito importante, na análise oral (que costuma ser uma análise
pedagógica), levar em conta esta situação. É essencial, para todos os professores que
tenham de pratipr a análise de filmes, estar conscientes das diferenças gigantescas
que existem, entre indivíduos e entre camadas sociais, na relação com as imagens
em movimento. É um lugar comum dizer que a maioria das crianças em idade
escolar passa várias horas diante do televisor. Podemos ficar desolados (embora o
passadismo de nada sirva), e a hiperfrequentação da televisão tem os seus inconve-
nientes (muitas vezes experimentados por professores a quem se concede a mesma
atenção flutuante que a um locutor da TV); mas para a análise fílmica, e de modo
geral, para a propensão ao olhar analítico, é um instrumento de potencial ainda
subaproveitado. O papel do professor é aqui múltiplo e complexo, pois deve ao
mesmo tempo, e contraditoriamente, aceitar essa relação dos seus alunos com a
televisão (e dela tirar partido como de uma verdadeira base cultural), mas também
ajudá-los a descobrir um outro modo de visão, aquele que o cinema exige (visão
ininterrupta, atenta, a única que permite ver e apreciar um filme - os "grandes"
filmes como os outros). A análise de filmes (principalmente de filmes importan-
tes), com características estilísticas atraentes, é sem qualquer dúvida uma das vias
privilegiadas dessa educação do olhar.
I.. .• I.
6. ANALISE DO FILME, ANALISE AUDIOVISUAL
Não queríamos concluir sem uma última observação, na verdade mais prospec-
tiva que outra coisa. Aquilo de que falámos ao longo deste livro, e os exemplos que
citámos, njsultam de uma concepção, e de uma prática, inevitavelmente datadas
- mesmo se continuam a estar próximas de nós no tempo, e ainda actuais, até.
Mas achamos importante, em primeiro lugar, afirmar que não há qualquer razão
para que a actividade analítica que descrevemos se detenha nas fronteiras do filme
de ficção tradicional; a análise de filmes publicitários, videoclips e programas
televisivos.já vai sendo objecto de investigação e ensino; decerto que esta prática
I
nova, atenta ao surgimento de novas formas e novos dispositivos, conduzirá a novas
alterações teóricas. Percebe-se que não podemos dizer mais.
Depoi~ - e ficamo-nos por aqui - é possível (mesmo que não necessariamente
provável) que, por maneiras que não podemos prever, a análise fílmica (ou seja, a
análise através do filme) se torne por fim algo çiiferente da utopia recorrente que,
nos últimds 15 ou 20 anos, se tem manifestado na escrita de tantos analistas. Talvez
a próxima obra sobre a análise do filme seja difundida em cassetes de vídeo ...
I
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191
-
Bibliografia
CAPÍTULO 1
1. ANÁLISE E OUTROS DISCURSOS SOBRE o FILME
1.1. Os' diversos tipos de discurso I
Christian METZ; Langage et Cinéma, Larousse, 1971, reed., Albatros, 1977, capítulo 1
«A l'inté,rieur du cinéma, le fait filmique» e capítulo 2 «A l'intérieur du fait filmique,
le cinéma». ,
Pierre SORLIN, Sociologie du cinéma, Paris, Aubier-Montaigne, 1977, terceira parte,
«Analyse filmique et histoire social», capo 1, Les cadres de l'analyse, pp. 151-197.
1.2. Análise e crítica
Cinéma 83, n.O300, Dezembro de 1983 e Cinéma 84, n.O301, Janeiro de 1984, inquérito
"La critique en question", especialmente Joel Magny "Flux et reflux", pp. 10-17 e
inquérito sobre o ofício de crítico.
André BAZIN, Qu'est-ce que le cinéma?, Cerf, 1978, várias reedições.
André BAZIN, Le Cinéma français de l'occupation et de la résistance,col. «10118»,Paris,
U.G.E., 1975.
André BAZIN, Le Cinéma de la cruauté, Paris, Flammarion, 1975.
Serge DANEY, La Rampe, Cahier critique, 1970-1982, Paris, Cahiers du cinéma-
-Gallimard, 1983.
Serge DANEY, Ciné-Journal, 1981-1986, Paris, Cahiers du cinéma, 1986.
1.3. Análise e teoria
Raymond BELLOUR, L' A~alyse du film, Paris, Albatros, 1980, «D'Une histoire»,
pp.9-41.
Colectivo (com a direcção de Jacques AUMONT e Jean-Louis LEUTRAT), lhéorie du
film, Paris, Albatros, 1980.
CinémAction, n.O 20, Agosto de 1982, «1héories du cinéma», com a direcção de Jo1:1
Magny, Paris, L'Harmattan, 1982.
1.4. Análise e interpretação
Roger ODIN, «Dix années d'analyses textuelles de films», bibliographie analytique,
Linguistique et Sémiologie, 3, Lyon, 1977.
Roger ODIN, «Pour une sémio-pragmatique du cinéma», Iris, voU, n.O 1, Paris, 1983,
pp.67-82.
Maurice DROUZY, Luis BuflUel, architecte du rêlJe,Paris, Pierre Lherminier, Filmédi-
tions, 1978.
Marcel OMS, Don Luis Bunuel, «7e art», Paris, Éd. du Cerf, 1985.
2. DIVERSIDADE DAS ABORDAGENS ANALíTICAS
Lev KULECHOV, Kuleshov on Film, ed. e trad. Ronald Levaco, Berkeley, University of
California Press, 1974.
"L'Effet Koulechov", Iris, Vol. 4, n.O 1, Paris, 1986.
Raymond]. SPOTTISWOODE, Grammar o/ Film, Londres, 1935.
J. M. L. PETERS, L'Éducation cinématographique, Paris, UNESCO, 1961.
2.1. Um cineasta perscruta a sua obra
Serguei M. EISENSTEIN, "Eh! De la pureté du langage cinématographique", Sovietskoie
Kino, ~934, n.O5, in Cahiers du Cinéma, Março de 1969.
Raymond BELLOUR, «Les Oiseaux: analyse d'une séquence», Cahiersdu Cinéma, n.O216,
Outubro de 1969, reproduzido em L' Analyse du film, Albatros, 1980.
I
193
A ANÁLISE DO FILME
CAPÍTULO 2
I. O FILME E A SUA TRANSCRIÇAo
Raymond BELLOUR, "Le texte introuvable", in L' Analyse du film, op. cito
1hierry KUNTZEL, "Le défilement», Revue d'esthétique, 1973, op. cito
Michel MARIE, "Description-Analyse», in Ça/Cinéma n.O7-8, Maio de 1975, número
especial "Christian METZ"; tradução espanhola com 5 páginas de quadros, Video-
-Forum, n.O4, Novembro de 1979, Caracas, Venezuela.
Bertrand AUGST, "1he Defilement into the Look", Camera Obscura, n.O2.
2. INSTRUMENTOS DE DESCRIÇAo
2.1. A decomposifão plano a plano
Michel MARIE, "Découpage", in Lectures du film, Paris, Albatros, 1976, várias reedi-
ções.
Revista L' Avant-scene cin/ma, especialmente os números consagrados aos seguintes fil-
mes: India Song, n.O225, Pépé Le Moko, n.O269, Volpone, n.O189, Les yeux sans visage,
n.O 188, Morangos Silvestres, n.O331, À Beira do Abismo, n.OS 329-330, L' Ami de mon
amie, n.O366, etc.
Raymond RAVAR (com direcção de), "Tu nas rien vu à Hiroshima!», Institut de Sociologie,
Université Libre de Bruxelles, 1962.
Louis DELLUC, Drames de cinéma, éd. du Monde Nouveau, Paris, 1923, reedição Ciné-
mathêque Française, fixada por Pierre Lherminier.
194
BIBLIOGRAFIA
Pierre BAUDRY, "Découpage plan par plan d'Intolértfnee», in Cahiers du Cinéma, n.OS231
a 234, 1971.
Michel MARIE, «Découpage apres montage de Mudel», in Muriel, Histoire d'une reeher-
ehe, Paris, Galilée, 1974.
Jean CAYRbL, Muriel, Paris, Le Seuil, 1963.
Philippe DESDOUITS et aI., "Oetobre" d'Eisenstein, continuité photogrammatique intégrale,
Cinéma~heque Universitaire, Paris, 1980.
Éric ROHMER, L'Organisation de I 'espacedans le "Faust" de Murnau, coI. «10/18», Paris,
UGE,1977.
Charles TE$SON, Découpage de Vampyr de Carl Dreyer, L' Avant-scene cinéma, n.O228,
e Le Méi:anisme du film dans "Vampyr" de Dreyer, tese de doutoramento de 3.° ciclo,
Université de Paris-III, 1979. '
Carl1h. DREYER, Oeuvres cinématographiques, 1926-1934, Cinématheque Française,
Paris, 1983, capítulo 2 consagrado a Vampyr, «~e scénario, le découpage et le film»,
por Charles Tesson. I
195
A ANÁLISE DO FILME
CAPÍTULO 3
1. ANÁLISE TEXTUAL E ESTRUTURALISMO
Claude LÉVI-STRAUSS, La Pensée sauvage, Paris, Plon, 1962.
Claude LÉVI-STRAUSS, Anthropologie structurale, Paris, PIon, 1958. - Anthropologie
structurale,l1, Paris, Plon, 1973.
Roman JAKOBSON, Essais de linguistique générale, Paris, ed. de Minuit, 1963. - Essais
de linguistique générale, IL Paris, ed. de Minuit, 1973.
Jean-Paul DUMONT e Jean MONOD, Le Frxtus astral, Paris, Christian Bourgois,
1970.
Roland BARTHES, Mythologies, Paris, Le Seuil, 1957. - S/Z, Paris, Le Seuil, 1970.
Christian METZ, Langage et Cinéma, Paris, Larousse, 1971, reed. Albatros 1977.
Jacques AUMONT et aI., Esthétique du film, Paris, Nathan-Université, 1983, capo 4.
2. O FILME COMO TEXTO
Julia KRISTEVA, Séméiotiké, Recherches pour une sémanalyse, Paris, Le Seuil, 1969.
Roland BARTHES, ''Analyse textuelle d'un come de Edgar Allan Poe", in Semiotique
narrative et textuelle (com a direcção de François Rastier e Claude Chabrol), Paris,
Larousse, 1973.
1hierry KUNTZEL, "Le travail du film" (acerca do prólogo de Matou.'), in Communi-
cations, n.O 19, 1972.
Marie-Claire ROPARS, Le Texte divisé, Paris, PUF, 1981.
3. AS ANÁLISES FÍLMICAS EXPLICITAMENTE DE CÓDIGO
Christian METZ, "La grande syntagmatique de la bande-images", in Essais 1, op. cito
Raymond BELLOUR, "Segmemerlanalyser", in L' Analyse du film, op. cito
Michel MARIE, "Un film sonore, un film musical, un fiIm parlam", in Muriel, histoire
d'une recherche, op. cito
Raymond BELLOUR, "L'évidence et Ie code~',in L' Analyse du film, op. cito
4. ANÁLISE TERMINADA, ANÁLISE INTERMINÁVEL
Stephen HEATH, in Screen 16, 1 e 2, 1975, op. cit., e "Systeme-récit", in Ça Cinéma
n.O 7/8, 1975.
Raymond BELLOUR, "Les Oiseaux: analyse d'une séquence", Cahiers du Cinéma n.O216,
republicado em L' Analyse du film, op. cito
Jacques AUMONT, Montage Eisenstein, Paris, Albatros, 1979.
Marie-CIaire ROPARS, ''Autour d'une analyse séquemielle: Ie travail de I' écriture", in
Muriel, histoire d'une recherche, op. cito
Raymond BELLOUR, "Psychose, névrose, perversion", in L' Analyse du film, op. cito
Michel MARIE, "De la premiere communion au mariage", in lhéorie du film, op. cito
Michêle LAGNY et aI., Générique des années 30, op. cito
Michele LAGNY et aI., ''Analyse d'un corpus filmique extensible: les films français des
années 30", in lhéorie du film, op. cito
196
BIBLIOGRAFIA
CAPÍTULO 4
1. ANÁLISE TEMÁTICA, ANÁLISE DE CON+EÚDOS
Roger ODIN, "Rhétorique du film de famille", ilfl "Rhétoriques, sémiotiques", Révue
d'esthétique, 1979, 1-2, coI. "10/18", Paris, UGE.
Marc VERNET, "Cinéma et narration", in Esthétique du film, op. cito (cap. 3).
Raymond RAVAR (com a direcção de), "Tu n'as rien vu à Hiroshima", op. cito
Michel DELAHAYE, "Jacques Demy ou les racines du rêve", Cahiers du Cinéma, n.O 189,
Abril de 1967 e "La Saga Pagnol", Cahiers du Cinéma, n.O213, Junho de 1969. Fran-
çois Steudler e Myriam Tsikounas, "Images de l'alcool au cinéma", Cahiers de I1REB,
n.O7, Setembro de 1984. I
197
A ANÁLISE 00 FILME
CAPÍTULOS
1. O CINEMA E A PINTURA
Dominique NOGUEZ, Une renaissancedu cinéma, le cinéma "underground" américain,
Paris, Klincksieck, 1985.
Jacques AUMONT, "Godard Peintre", in Jean-Luc Godard, Les Films, Revue belge du
cinéma, Verão de 1986, n.O 16.
Denis DIDEROT, Traité du Beau e Essai sur la peinture, Marabout-Université, Verviers,
Bélgica, 1973. .
Rudolf ARNHEIM, Versune psychologiede l'art, Paris, Seghers, 1973. - lhe Power 0lthe
Center, University of California Press, 1982.
Eric ROHMER, L'organisation de l'espacedans le "Faust"de F W Murnau, col. "10/18",
Paris, UGE, 1977.
2. A ANÁLISE DA IMAGEM FÍLMICA
Jacques AUMONT, "Vertov et la vue", in Cinémas et réalités, CIEREC travaux XLI,
Université de Saint-Étienne, 1984. - "Notes sur un fragment de La Chinoise, de
Godard", Sémiologiques, Linguistique et sémiologie, n.O 6, Presses universitaires de
Lyon - "L'Espace et la Matiere", in lhéorie du jilm, Paris, Albatros, 1980.
David BORDWELL, lhe Films olCarl-lheodor Dreyer, University ofCalifornia Press,
Berkeley, 1981.
Marie-Claire ROPARS, "L'ouverture d'Octobre ou les conditions théoriques de la révo-
lution", in Octobre, écriture et idéologie, Paris, Albatros, 1976.
Michel BOUVIER e Jean-Louis LEUTRAT, Nosferatu, Paris, Gallimard, Cahiers du
Cinéma, 1981.
Dudley ANDREW, "The Gravity of Suntise", Quarterly Review 01Film Studies, vaI. 2,
n.O3, Agosto de 1977.
198
BIBLIOGRAFIA
CAPÍTULO 6
1. PORQUÊ A PSICANÁLISE?
Adolfo FER:NANDEZ-ZOILA, Freud et les psyehanalyses, Paris, Nathan-Université,
1986. .
Sigmund FREUD, La Scienee des rêves, Paris, PUF, 1971. - Le Mot d'esprit et sesrapports
avee l'ineonscient, col. «Idées», Paris, Gallimard, 1971.
Octave MANNONI, Clefi pour l'imaginaire, Paris, Le Seuil, 1969.
Louis ALTHUSSER, «Idéologieet appareils idéologiques d'État», La Pensée, n.O 151,
Junho de 1970.
Jean-Louis 13AUDRY,L'Effet-Cinéma, Paris, Albatros, 1978.
2. ALGUMAS AMBIGUIDADES DA RELAÇÃO COM A PSICANÁLISE
Dominique FERNANDEZ, Eisenstein, Paris, Grasset, 1975.
Donald SP9TO, lhe Dark Side o/ Genius: lhe Life o/ Alfred Hiteheoek, Nova Iorque,
Litde, Brown and Co., 1983.
Marc VERNET, "Freud: effects spéciaux. Mise en scene: USA", in Communieations, 23,
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Fernando CESARMAN, L'CEil de Bufíuel, Paris, éd. du Dauphin, 1982.
3. PSICANÁLISE E TEXTUALIDADE
Christian METZ, Le Signifiant Imaginaire, col. «l0/18», Paris, UGE, 1977, reed. 1984.
Colectivo, Young Mister Lineoln de John Ford, Cahiers du Cinéma, n.O 233, Agosto de
1970 e Nick Browne, «Relire Young Mister Lincoln», in Le Cinéma amérieain, Analyses
defilms, t. I.
Raymond BELLOUR, "Le Blocage symbolique», in Communieations, 23, reed. L'Analyse
desfilms, op. cito
Alain BERGALA, «Le film et son spectateuf», in Esthétique du film, op. cit., capo 5.
Marc VERNET, «Le regard à la caméra», Iris, n.O2, 1983. - «Figures de l'absence 2: la
voix off», Iris, n.O 5. 1985. - «Le personage de film», Iris, n.O7, 1986.
Jean-Pierre Oudart, «La suture», Cahiers du Cinéma, n.OS 211 e 212, Abril et Maio de
1969.
Stephen HEATH, «Notes on Surure», Sereen, vol. 18, n.O4, 1977-1978.
Philippe ARNAUD, "Proces de Jeanne d'Arc, Visions", in Robert Bresson, Paris, Cahiers
du Cinéma, 1986.
Laura MULVEY, <,visual Pleasure and Narrative Cinema». Sereen, vol. 16, n.O3, Outono
de 1975.
Murielle GAGNEBIN, Du divan à I' éeran, montages cinématographiques, montages inter-
prétatijs, col. «Le fil rouge», Paris, PUF, 1999.
i
199
A ANÁLISE DO FILME
CAPÍTULO 7
1. ANÁLISE DE ESTRUTURAS IMANENTES OU ANÁLISE DE FENÓ-
MENOS HISTÓRICOS
Dudley ANDREW, '~u début du soufHe: le culte et la culture d' À bout de souffle", in
Revue belge du cinéma, n.O 16, op. cito
Dudley ANDREW, Místs o/ Regret, Culture and Sensíbílíty ín Classíc Fench Fílm, Princ-
eton, Princeton University Press, 1995.
Sobre Atalante, A Fera Humana, La Chíenne, A Grande Ilusão, Les Enfants du Paradís, Foí
Uma Mulher que o Perdeu, O Cais das Brumas, etc.
Michel MARIE, "Un monde qui s'accorde à nos désirs", in Revue belge du cinéma, n.O 16,
op. cito
André GAUDREAULT e Tom GUNNING, "Le cinéma des premiers temps: un défi à
l'histoire du cinéma?", Actes du colloque de Cerisy, Paris, Publications de la Sorbonne,
1989.
André GAUDREAULT, com a direcção de, Ce que je voís de mon ciné, La représentatíon
du regard dans le cinéma des premíers temps, Paris, Méridiens-Klincksieck, 1988.
Inclui 1he Bíg Swallow, How It Feels to Be Run Over, Eclipse de soleil en pleíne lune, Un
drame dans les aírs, Ce que l'on voít de mon síxíeme, Un coup d'oeíl par étage, etc.
Andrée MICHAUD e Alain LACASSE, '~mbitions et limites d'une filmographie", in
Les Premiers Ans du cinéma françaís, actes du Ve. colloque de l'institut Jean Vigo,
Perpignan, 1985.
David BORDWELL, Janet STAIGER e Kristin THOMPSON, 1he Classícal Hollywood
Cinema, Fílm Style and Mode o/ Productíon to 1960, Londres, Routledge and Kegan
Paul, 1985.
Michêle LAGNY, Pierre SORLIN, Marie-Claire ROPARS, Geneviêve NESTERENKO,
Généríque des années 30, Paris, Presses universitaires de Vincennes, 1986.
François GARÇON, De Blum à Pétaín, Paris, Cerf, 1984.
Raymond CHIRAT, Le Cinéma français des années 30, Paris, Hatier, 1983. - Le Cinéma
français des années de guerre, idem, 1983.
Jean-Pierre BERTIN-MAGHIT, Le Cinémafrançaís sous Víchy, Paris, Albatros, 1980.
Jacques SICLIER, La France de Pétaín et son cinéma, Paris, Henri Veyrier, 1981.
Noel BURCH, Pour un observeur lontaín. Forme et sígnificatíon dans le cinéma japonaís,
Paris, Cahiers du Cinéma-Gallimard, 1982.
Jean-Louis LEUTRAT, L' Allíance brisée. Le Western des années 1920, Lyon, Institut
Lumiêre et Presses universitaires de Lyon, 1985.
2. GARANTIA E VALIDAÇÁO DE UMA ANÁLISE
Jean-Louis LEUTRAT, "lI était trois fois", Revue belge du cinéma, n.O 16, op. cito
Roger ODIN, "lI était trois fois, numéro deux", mesmo número.
Pierre SORLIN, "Rossellini témoin de la résistance italienne", Mélanges André Latreille,
Lyon, Audin, 1972.
CAPÍTULOS
Jean-Patrick LEBEL, Cínéma et ídéologíe, Paris, Éd. Sociales, 1971.
Alfred GUZZETTI, Two or 1hree 1híngs I Know About Her, analysis of a film by Godard,
Cambridge, Harvard University Press, 1981.
Michêle LAGNY, Pierre SORLINe Marie-Claire ROPARS, La Révolutíon jigurée, Paris,
Albatros, 1977.
Marie-Claire ROPARS, Le uxte dívísé, "Écritures", Paris, PUF, 1981.- "Étude de Genêse",
in Muríel, Hístoíre d'une recherche, op.cit.
Michel COLIN, "La dislocation", in 1héoríe du jilm, Paris, Albatros, 1980. - "Coréfé-
rences dans The Adventures of Dollie", in D. W Griffith, Publications de Sorbonne,
Paris, L'Harmattan, 1984.
Kristin THOMPSON, Eísensteins 'Ivan the Terríble': A Neoformalist Analysís, op. cito
200
BIBLIOGRAFIA
Michel MOURLET, Sur un art ignoré, Paris, La Table Ronde, 1965, reed. com o título
La Mise en scenecomme langage,.Paris, Henri Ve}'jrier,1987.
BIBLIOGRAFIA SELECTIVA
Esta bibliografia selectiva apenas cita os livros e as recolhas de artigos que contêm
análises 4e filmes que estudam em pormenor os títulos citados. Não citámos as
monografias sobre autores e os livros de teoria geral, salvo raras excepções (as quais
se justificam pelo desenvolvimento de partes an~.líticas consagradas a um ou vários
filmes). Um índice precisa os realizadores e datas, remetendo ao número da referência
atribuído nesta bibliografia. Renunciámos a forneder uma bibliografia de artigos publi-
cados separadamente em revistas, pois esta teria a)cançado mais de 1000 referências;
contentámo-nos em citar alguns números especiais dedicados à análise de filmes, na
íntegra ou parcialmente. I
, i
I. LIVROS CONSAGRADOS A ANALISES DE FILMES
1. AGEL (Jerome), lhe Making o/ Kubrick's 2001, ~ova Iorque, Signet Books, 1970.
2001: A Space Odyssey (2001, Odisseia no Espaço).
2. ALLEN (Robert) e GOMERY (Douglas), Film flistory, lheory and Practice, Nova
Iorque, Knopf, 1985.
Sunrise (Aurora).
3. ANDREW (Dudley), Film in the Aura o/ Art, Princeton University Press, 1984.
Broken Blossoms (O Lírio Quebrado) - Sunrise (Aurora)- L'Atalante (Atalante) - Meet
John Doe (Um João Ninguém) - La Symphonie pastorale (Sinfonia Pastoral)- Le Journal
d'un curéde campagne (Diário de um Pároco de Aldeia) - Henry V (Henrique V).
4. ARNAUD (Philippe), Robert Bresson, Paris, Cahiers du Cinéma, colecção «Auteurs»,
1986
Au Hasara Balthazar (PeregrinaçãoExemplar) - Le Proces de Jeanne d'Arc
5. AUMONT (Jacques), Montage Eisenstein, Paris, Albatros, 1979.
Gueneralnaia Linnia (A Linha Geral) - Ivan Grozni (Ivan, O Terrível)
6. BAILBLE (Claude), MARIE (Michel), ROPARS (Marie-Claire), Muriel, histoire
d'une recherche,Paris, Galilée, 1974.
Muriel, ou le temps d'un retour (Muriel).
7. BLUESTONE (George), Noveis into Film, University of California Press, 1957.
lhe Informer (O Denunciante) - Wuthering Heights (O Monte dos Vendavais)- Grapes
ofWrath (As Vinhas da Ira) - lhe Ox-Bow Incident (ConsciênciasMortas) - Madame
Bovary (Madame Bovary).
8. BORDWELL (David) e THOMPSON (Kristin), FilmArt, an Introduction, Reading,
Addison-\Vesley, 1979.
Citizen Kane (O Mundo a Seus Pés) - Our Hospitality (A Lei da Hospitalidade) -Un
Condamné à mort s'est échappé (Fugiu um Condenado à Morte).
9. BORDWELL (David), lhe Films o/ Carl lheodor Dreyer, Berkeley, Los Angeles,
University' of California Press, 1981.
La Passion de Jeanne d'Arc (A Paixão deJoana d:Arc) - Vampyr - Vredens Dag (Dia
de Cólera) '- Ordet (A Palavra) - Gertrud (Gertrud).
10. BORDWELL (David), STAIGER (Janet), THOMPSON (Kristin), lhe Classical
Hollywood Cinema, Film Style and Mode of Production to 1960, Nova Iorque, .
Columbia University Press, 1985.
11. BORDWELL (David), Narration in the Fiction Film, University ofWisconsin Press,
1985.
Rear Window (A Janela Indiscreta) - His Girl Friday (O Grande Escândalo) - Brone-
nosets Potiomkin (O Couraçado Potemkine) - La Strategia del Ragno (A Estratégia da
Aranha) - Sunrise (Aurora) - Lady Windermere's Fan - lhe Killers (Assassinos) - La
201
A ANÁLISE DO FILME
Guerre est finie (A GuerraAcabou) - Novi Vavilon ['~ Nova Babilónia'1- Pickpocket
(O Carteirista).
12. BOUVIER (Michel) e LEUTRAT Qean-Louis), Nosferatu, Paris, Gallimard-Cahiers
du Cinéma, 1981.
13. BROWNE (Nick), lhe Rhetoric o/ Film Narration, Ann Arbor, UMI Research Press,
1982.
Stagecoach (CavalgadaHeróica)- 1he 39 Steps (Os 39 Degraus)- Au Hasard Balthazar
(PeregrinaçãoExemplar).
14. BURCH (Noel), Praxis du cinéma, Paris, Gallimard, 1969, reed. 1987.
Nana - Pickpocket (O Carteirista) - Une simple histoire.
15. BURCH (Noel), Pour un observateur lointain, forme et signification dans le cinéma
japonais, Paris, Gallimard-Cahiers du Cinéma, 1982.
Hana Chirinu ['~s Flores Caídas''].
16. CASETTI (Francesco), Dentro lo sguardo, 11film e il suo spettatore, Milão, Bompiani,
1986.
Fury (Fúria) - EI - Citizen Kane (O Mundo a Seus Pés) - Cronaca di un amore
(Escândalo de Amor) - Le Grand Alibi.
17. CHATEAU (Dominique) e JOST (François), Nouveau Cinéma, nouvelle sémiologie,
essai d'analyse des films d'Alain Robbe-Grillet, Paris, col. «10-18»,U.G.E., 1979, reed.
Éd. de Minuit, 1986.
L'Homme qui ment (O Homem que Mente) - L'Éden et apres - Trans-Europ Express
(Trans-Europa Expresso)- L'Immortelle.
18. CHION (Michel), La V'oixau cinéma, Paris, Cahiers du Cinéma- Éd. de l'Étoile,
. 1982.
Das Testament des Dr. Mabuse (O Testamento do Doutor Mabuse) - Psycho (Psico)-
Sansho Dayu (O Intendente Sansho).
19. CHION (Michel), Le Son au cinéma, Paris, Cahiers du Cinéma- Éd. de l'Étoile,
1985.
Trafic (Sim, Senhor Hulot)- Le Plaisir (O Prazer).
20. CHION (Michel), Écrire un scénario, Paris, INA-Cahiers du Cinéma, 1985.
Pauline à la Plage (Paulina na Praia) - To Have and Have Not (Ter e Não Ter) -Das
Testament des Dr. Mabuse (O Testamento do Doutor Mabuse) - Sansho Dayu (O
Intendente Sansho).
21. CHION (Michel),jacques uti, Paris, Cahiers du Cinéma, colecção «Auteurs», 1987.
Jour de fête (Há Festa na Aldeia)- Les Vacances de Monsieur Hulot (As Férias do
Sr. Hulot) - Mon Onele (O Meu Tio) - Playtime (Playtime - Vida Moderna) - Trafic
(Sim,. Senhor Hulot).
22.COHEN (Keith), Film and Fiction, Yale University Press, 1979.
La Chute de La Maison Usher (A Queda da Casa Usher)- L' Année derniere à Marien-
bad (O Último Ano em Marienbad).
23. DAYAN (Daniel), Western Gra.ffiti,]eux d'images etprogrammation du spéctateur dans
la Chevauchéefantastique, de john Ford, Paris, Clancier-Guénaud, Bibliotheque des
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Stagecoach (Cavalgada Heróica)
24. DONDA (Ellis), Metafore di una visione, Roma, Ed. Kappa, 1983.
Zemlia ['~ Terra'1 - Nosferatu - La Passion de Jeanne d'Arc (A Paixão de Joana
d'Arc) - Anna Karenina (Anna Karenina) - Suspicion (Suspeita) - Rebel Without a
Cause (Fúria de Viver) - La Terra Trema.
25. DOUCHET Qean), Alfred Hitchcock, Paris, L'Herne. Cinéma, 1967, reed. 1987.
Vertigo (A Mulher que Viveu Duas \fezes)- North by Northwest (Intriga Internacio-
nal) - Psycho (Psico)-1he Birds (Os Pássaros).
26. DUMONT Qean-Paul) e MONOD Qean), Le Fa!tusAstral, Paris, Christian Bourgois,
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2001: A Space Odyssey (2001, Odisseia no Espaço).
202
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Dark Passage (O Prisioneiro do Passado), Lady in the Lake (A Dama do Lago), Halloween
(O Regresso doMaI), Wolfen (Cidade em Pânico), The Window (O Que Viram osMeus
Olhos), Dragonwyck (O Castelo de Dragonwyck), Rebecca (Rebecca), A Letter to 1hree
Wives (Carta a Três Mulheres)
Colecções de ntonografias de análise crítica: .
É o mais notável fenômeno editorial desde a primeira edição de A Análise do Filme em
1988.
Quase em simultâneo apareceram a colecção «Long métrage» na Bélgica, dirigida por
Patrick Leboutte e a colecção «Synopsis» na Nathan, dirigida por Francis Vanoye;
e duas colecções mais efémeras: «Films», Lyon, L'Interdisciplinaire, e <<Imagepar
image», Paris, Hatier.
Colecção «Long métrage», edição Yellow Now; 15 títulos publicados desde 1988, entre
os quais: Les Vacances de Monsieur Hulot (As Férias do Sr. Hulot), de Jacques Tati, por
Jacques Ke'rmabon, 1988; À nos Amours (Aos Nossqs Amores), de Maurice Pialat, por
Alain Philippon, 1989; Viaggio in Italia (Viagem a Itália), de Roberto Rossellini, por
207
A ANÁLISE DO FILME
Alain Bergala, 1990; La Mamain et la Putain (£1 Mãe e a Puta), de Jean Eustache,
por Colette Dubois, 1990; Man Hunt (Feras Humanas), de Fritz Lang, por Bernard
Eisenschitz, 1992; Bande à part, de Jean-Luc Godard, por Barthélemy Amengual,
1993; Vampyr, de Carl Th. Dreyer, por Jacques Aumont, 1993; La Chienne, de Jean
Renoir, por Jean-Louis Leutrat, 1994.
Colecção «Synopsis", 128 páginas, ed. Nathan; 35 títulos publicados desde 1989: La Regle
du jeu (£1Regra do jogo), City Lights (Luzes da Cidade), Citizen Kane (O Mundo a Seus
Pés), M (Matou!), Barry Lyndon (Barry Lyndon), Rear Window (£1janela Indiscreta), Le
Mépris (O Desprezo), 11Gattopardo (O Leopardo), Les 400 Coups (Os 400 Golpes), Les
Fnfants du Paradis, Senso (Sentimento), Det Sjunde Inseglet (O Sétimo Selo), Bronenosets
Potiomkin (O Couraçado Potemkine), Some Like It Hot (Quanto Mais Quente Melhor),
Blow Up (Profissão: Repórter), Mon Onele (O Meu Tio), Un Chien Andalou e L:Âge
d'Or, La Grande Illusion (A Grande Ilusão), Hiroshima mon amour (Hiroshima Meu
Amor), FI, Partie de Campagne (Passeio ao Campo), Mujeres ai borde de un ataque de
nervios (Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos), jules etjim Oules ejim), Manhattan
(Manhattan), Land and Freedom (Terra e Liberdade), F La Nave Va (O Navio), Ugetsu
Monogatari (Contos da Lua Vaga), À bout de souffle (O Acossado), À nos amours (£1os
Nossos Amores) ...
Entre as colecções estrangeiras, uma britânica, outra norte-americana:
Colecção «Film Classics", British Film Institute, entre os quais Citizen Kane [O Mundo
a Seus Pés}, por Laura Mulvey (1992), Olympia, por Taylor Downing (1992), Singin'
in the Rain [Serenata à Chuva}, por Peter Wollen (1992), L:Atalante [Atalante}, por
Marina Warner (1993), In a Lonely Place [Matar ou Não Matar}, por Dana Polen
(1993), L'Avventura [A Aventura}, por Geoffrey Nowell-Smith (1997), Pépé le Moko,
por Ginette Vincendeau (1998) 80 páginas.
Colecção «Wisconsin/Warner Bros Screenplay Series", desde 1979; por exemplo: 1he jazz
Singer [O Cantor dejazz}, editado com uma introdução por Robert L. Caringer. Uma
colecção preciosa para o estudo do processo de produção dos filmes.
208
Índice dos filmes citados
I
Abaixo se apresenta a lista, por ordem alfabética dos títulos dos filmes citados no texto.
Para cad:'lfilme estreado em Portugal se dão entre parênteses o título original, o nome
do realizador e o ano de realização. A seguir indicam-se sucessivamente: as páginas onde
o filme é citado; em itálico, as páginas de eventuais ilustrações; e a negrito os números
das obras da nossa bibliografia final nas quais o filme é porventura analisado.
A
À Beira do Abismo (lhe Big Sleep, Howard Hawks, 1946): 36, 78, 172; 53-54-55.
Abuso de Confiança (Abus de confiance, Henri Decoin, 1937): 81-83; 82-83; 53.
Acossado (O) (À bout de souffle, Jean-Luc Godard, 1959): 42, 43, 119, 181-183; 70.
Adieu Philippine, Jacques Rozier, 1962: 74-76, 157, 202; 75-76; 68.
Adventures o/ Dollie (lhe), David W. Griffith, 1908: 202.
Aleluia (Hallelujah, King Vidor, 1929): 154. I
209
A ANÁLISE DO FILME
210
fNDICE DOS FILMES CITADOS
L
Ladrões de Bicicletas (Ladri di bicieletti, Vittotio De,sica, 1948): 63; 48.
Laura (Laura, Otto Pteminger, 1947): 173-174.
Linha Geral (A) (Gueneralnaia Linnia ou Staroie i Novoie, Serguei M. Eisenstein, 1926-
-1929): 80; 5, 62.
Loulou (Loulou, Maurice Pialat, 1980): 157-158.
L'uomo dalla çroce,Roberto Rossellini, 1943: 199.
M
Madame de ... (Madame de... , Max Ophuls, 1953): 40.
Maior Império do Mundo (O) (I Mongoli, André De,Toth, 1961): 183.
Malvado Zaroff (O) (lhe Most Dangerous Game, Ernest B. Schoedsack e Irving Pichel,
1932): 60, 84-86, 100; 55, 65.
Matou! (M, Fritz Lang, 1931): 72-73, 100, 155; 44.
Merrópolis (Metropolis, Fritz Lang, 1926): 41, 102. I
Meu Tio (O) (Mon Onele, Jacques Tati, 1958): 153. i
Minha Noite em Casa de Maud (A) (Ma Nuit Chez ~aud, Eric Rohmer, 1969): 157; 68.
Morangos Silvestres (Smultronstãllet, Ingmar Bergman, 1957): 36.
Mortalmente Perigosa (Gun Crazy, Joseph H. Lewis, 1949): 182.
Mulher que Viveu Duas Vezes (A) (vertigo, Alfred Hitchcock, 1958): 94-95; 25.
Mulher Rebelde (A) (lhe Revolt 0/ Mamie Stover, Raoul Walsh, 1956): 177.
Mundo a Seus Pés (O) (Citizen Kane, Orson Welles, 1940): 30, 63, 81, 113-114, 156,
195-196; 8, 16,55,64.
Muriel (Murielou Le temps d'un retour, Alain Resnais, 1963): 41, 49-51, 57, 77, 80, 86,
154-155,205,210; 58-59-60; 6.
N .
Napoleão (Napoléon, Abel Gance, 1927): 40, 119.
Nascimento de uma Nação (Birth o/a Nation, David W. Griffith, 1915): 41; 62.
Nazarin, Luis 'Bunuel, 1956: 13.
Nosferatu, eine Symphonie des Grauens, Friedrich W. Murnau, 1922: 41, 63,83,140-145,
203; 141-142-143; 12, 24,45, 53.
o
Olvidados (Los), Luis Bunuel, 1950: 165; 166.
Ossessione,Luchino Visconti, 1942: 8, 43; 48.
Outubro (Oktiabr, Serguei M. Eisenstein, 1927): 36, 40-41, 60, 84, 86, 88, 131-133,
207-208; 132; 35-36.
p
Paixão (Passion,Jean-Luc Godard, 1982): 119, 193; 70.
Paixão de Joana d'Arc (A) (La PassiondeJeanne d:Arc, Carl1h. Dreyer, 1928): 130; 9, 24.
Pássaros (Os) (lhe Birds, Alfred Hitchcock, 1963): 14, 68, 79-80, 167; 25; 39, 54.
Passeio ao Campo (Partie de campagne,Jean Renoir, 1936-1946): 85, 104-105, 115; 51, 53.
Pépé le Moko, Julien Duvivier, 1937: 36; 37.
Pays de la terre sans arbre (Le), Pierre Perrault, 1980: 157.
Pedro, o Louco (Pierrot le/ou, Jean-Luc Godard, 1965): 119; 70.
Prazer (O) (Le Plaisir, Max Ophuls, 1952): 149, 151-153; 19.
Playtime - Vida Moderna (Playtime, Jacques Tati, 1967): 34; 21.
Providence (Providence, Alain Resnais,1977): 151.
Psico (Psycho,Alfred Hitchcock, 1960): 81; 18, 25, 541 64.
Q
Quarto Mandamento (O) (lhe Magnificent Ambersons, Orson Welles, 1942): 156.
400 Golpes (Os) (Les 400 Coups, François Truffaut, 1959): 22.
Queda de um Corpo (A) (lhe Harder lhey Fall, Mark Robson, 1956): 182.
Quermesse Heróica (A) (La Kermesse hérofque, Jacques Feyder, 1934): 119.
2ll
A ANÁLISE DO FILME
R
Rebecca (Rebeeea, Alfred Hitchcock, 1940): 27.
Regra do Jogo (A) (La Regle du jeu, Jean Renoir, 1939): 135-139, 157; 131, 138; 44, 51, 53.
Rendez-vous Champs-Élysées, Jacques Houssin, 1937: 189; 37.
Revak, o Rebelde (Revak -lo sehiavo di Cartagine, Rudolph Maté, 1959): 183.
Rio Bravo (Rio Bravo, Howard Hawks, 1959): 97.
Ritmo Louco (Swing Time, George Stevens, 1936): 173.
Roma, Cidade Aberta (Roma, città aperta, Roberto Rossellini, 1945): 197-199; 198.
Ronde (La), Max Ophuls, 1950: 40.
Rosa Púrpura do Cairo (A) (1he Purple Rose o/Cairo, Woody Allen, 1985): 9, 173.
S
Saga o/ Anatahan (1he), Josef von Sternberg, 1953: 149.
Saló ou os 120 Dias de Sodoma (SaIO o le 120 giornate di Sodoma, Pier Paolo Pasolini,
1975): 13.
Schpountz (Le Sehpountz, Marcel Pagnol, 1938): 157-158; 68.
Sede do Mal (A) (Toueh o/ Evil, Orson Welles, 1958): 78-79, 86; 55, 59.
Sem Consciência (1he Enforeer, Bretaigne Windust e Raoul Walsh, 1951): 182; 55.
Sexto Homem (O) (Baeklash, John Sturges, 1955): 165.
Sinal do Pagão (O) (Sign o/ the Pagan, Douglas Sirk, 1954): 183.
Soldado das Sombras (O) (Le Petit Soldat, Jean-Luc Godard, 1960): 119.
Sole sorge ancora (ll), Aldo Vergano, 1945: 199.
Sob os Telhados de Paris (Sous les toits de Paris, René Clair, 1930): 154.
Souvenirs d'en Franee, André Téchiné, 1974: 81; 53.
Suspeita (Suspicion, Alfred Hitchcock, 1941): 136; 24, 55, 59.
T
Teorema, Pier Paolo Pasolini, 1968: 13.
Ter e Não Ter (To Have and Have Not, Howard Hawks, 1945): 97; 20.
Territoire des autres (Le), Gérard Vienne e François Bel, 1971: 153.
Testamento do Doutor Mabuse (O) (Das Testament des Dr. Mabuse, Fritz Lang, 1933):
159-160; 18,20.
39 Degraus (Os) (1he 39 Steps, Alfred Hitchcock, 1935): 103-104; 13.
Turbilhão (Whirlpool, Otto Preminger, 1949): 182.
U
Último dos Homens (O) (Der letzte Mann, Friedrich W Murnau, 1924): 57; 45.
Último Comb?io de Gun Hill (O) (Last Train from Gun Hill, John Sturges, 1959):202; 53.
Uma Mulher E Uma Mulher (Une Femme est une /emme, Jean-Lue Godard, 1962): 193; 70.
Un pilota ritorna, Roberto Rossellini, 1942: 199.
V
Vale Era Verde (O) (How Green Was My Valley, John Ford, 1941): 107-108.
Vampyr, Carl Th. Dreyer, 1932: 41, 130; 9, 41, 46.
Viagem a Itália (Vt'aggio in Italia, Roberto Rossellini, 1953): 184-185.
Vidas Tenebrosas (Underworld, Josef von Sternberg, 1927): 97.
Vinhas da Ira (As) (1he Grapes o/Wrath, John Ford, 1940): 92; 7.
Violência e Paixão (Gruppo di Jamiglia in un interno, Luchino Visconti, 1975): 86; 34.
Volpone, Maurice Tourneur, 1940: 36.
y
}éux sans Vt'sage(Les), Georges Franju, 1960: 36.
Z
Zero em Comportamento (Zéro de eonduite, Jean Vigo, 1933): 20-22.
212
Índice
Introdução 7
CAPfTULO 1 .
Para uma definição da análise dlo filme
1. A ANÁLISE E OUTROS DISCURSOS SOBRE O FILME •.••.••.•••••..••.•• 11
1.1. Os dive~sos tipos de discurso sobre o filme 11
1.2. Análise e crítica '. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.3. Análise e teoria, análise e singularidade do filme. ........................ 14
1.4. Análise .e interpretação :. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
CAPfTUL02
Instrumentos e técnicas da anáUse
1. FILME E METAFILME: NÃO-IMEDIAÇÃO DO TEXTO FíLMICO .•..•.•••• 33
1.1. O filme e a sua transcrição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
1.2. Os instrumentos da análise fílmica ............................. 34
2. INSTRUMENTOS DE DESCRIÇÃO ••.•••••.•••.•.•••.•••..•••..••••..•• 35
2.1. A decomposição plano a plano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.2. A segmentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 40
2.3. A descrição de imagens do filme 47
2.4. Quadros, gráficos, esquemas ................................... 49
3. INSTRUMENTOS CITACIONAIS .••.••••.••••••.••..•••••.••••.•••••.•• 54
3.1. O excerto de filme 54
3.2. O fotograma 54
3.3. Outros meios de citação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
4. INSTRUMENTOS DOCUMENTAIS. • • • . • • • • • • • • • • . • • • • • • • • . . • • • • . • • • • • • 58
4.1. Elementos anteriores à difusão do filme. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4.2. Elementos posteriores à difusão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
213
A ANÁLISE DO FILME
CAPfTUL03
A análise textual: um modelo controverso
I.ANÁLISETEXTUALEESTRUTURALISMO .••••..••.••..••.••...•••••.. 61
1.1. Alguns conceitos elementares. ......................................... 61
1.2. A análise estrutural 62
2. O FILME COMO TEXTO ......•.••.••..••.•.••..•...•.•••.•••..•••••.. 64
2.1. As manifestações da noção de texto.: ,. . . 64
2.2. A análise textual de filmes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
3. AS ANÁLISES FíLMICAS EXPLICITAMENTE DE CÓDIGO. . • . . . . . . • • . • • • • 67
3.1. O alcance prático da noção de código 67
3.2. Análise fílmica, análise de códigos 68
CAPfTUL04
A análise do filme como narrativa
1. ANÁLISE TEMÁTICA, ANÁLISE DE CONTEÚDOS •••••. . •••••••. . . . . . ••• 83
1.1. "Temas" e "conteúdos" . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
1.2. A análise temática 85
2. ANÁLISE ESTRUTURAL DA NARRATIVA E ANÁLISE DE FILMES ....••..• 86
2.1. Propp e a análise do conto maravilhoso. . . . . . . . . . . ....................... 86
2.2. Aperfeiçoamentos da análise estrutural das narrativas. ...................... 88
2.2.1. As funções segundo Banhes 89
2.2.2. A acção segundo Banhes 90
2.2.3. A narração segundo Banhes '.' . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 90
2.3. Greimas e a análise semântica das narrativas . . . . . . . ....................... 91
3. A ANÁLISE DA NARRATIVA COMO PRODUçAo:
A PROBLEMÁTICA DA ENUNCIAÇAo .•••.•.••.•.•.••.•....•..••..••••• 95
3.1. A problemática da enunciação .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
3.2. Gérard Genette: narrativa e narração: a focalização 96
3.3. Ponto de vista das personagens, ponto de vista do narrador 99
3.4. A questão da "voz" narrativa 101
CAPfTULO 5
A análise da imagem e do som
1. o CINEMAEAPINTURA •.......••.•..••.••.••..••.••.••••••......... 106
1.1. A análise pictórica: alguns exemplos 107
1.1.1. Os salões de Diderot 107
1.1.2. A percepção visual segundo Rudolph Arnheim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 107
1.1.3. Pesca Nocturna em Antibes (Picasso, 1939)
analisado por Rudolph Arnheim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 108
1.2. Fausto, de Murnau, analisado por Eric Rohmer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 109
214
fNDICE
2.AANÁLISEDAIMAGEMFÍLMICA 111
2.1. O enquadramento e o ponto de vista:
Tchelovek s Kinoapparatom [O Homem da Câmara de Filmar] 111
2.2. A análise da imagem e a montagem, a relação campo/fora-de-campo . . . . . . . . . .. 116
2.2.1. A montagem em Outubro, de Eisenstein . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 116
2.2.2. A montagem e o fora-de-campo em La Chinoise, de Jean-Luc Godard . . . .. 119
2.3. O espaço narrativo: A Regra do Jogo, de Jean Renoir ..... . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 121
2.4. Plástica e retórica da imagem: a máscara e a íris
em Nosferatu, eine Symphonie des Grauens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 125
2.5. A imagem e a figura: Aurora, de F. W. Murnau . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 130
3. A ANÁLISE DA BANDA DE SOM 132
3.1. O exemplo da música , 132
3.2. A análise do som fílmico: a noção de banda sonora e os seus limites. . . . . . . . . . .. 133
3.3. A análise da música fílmica ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 135
3.4. A análise dos ruídos, dos ambientes e dos diálogos 137
3.5. A análise da fala e da voz. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 139
3.5.1. A análise dos diálogos de filmes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 140
3.5.2. A análise da voz nos filmes 142
CAP[TUL06
Psicanálise e análise do filme
1. PORQUÊAPSIcANÁLIsm 145
2. ALGUMAS AMBIGUIDADES DA RELAÇÁO COM A PSICANÁLISE. . . . . . . .. 147
3. PSICANÁLISE E TEXTUALIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 149
3.1. O Édipo, a castração, o "bloqueio simbólico" 150
3.2. As identificações secundárias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 153
3.3. Psicanálise e narratologia: narrador, personagem, espectador 154
3.4. O espectador no texto: a "sutura" 156
3.5. As análises feministas nos E.U.A. 158
CAP[TUL07
Análise de filmes e história do cinema:
verificação de uma análise
1. ANÁLISE DE ESTRUTURAS IMANENTES OU
ANÁLISEDEFENÓMENOSHlSTÓRICOS 161
1.1. Análise de filmes e intertextualidade 161
1.1.1. OAcossado, a autenticidade e a referência. . .. 162
1.1.2. O Desprezo, monumento funerário do cinema clássico 163
1.2. A análise de corpus alargados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 166
1.2.1. A investigação das origens (o cinema dos primeiros tempos) . . . . . . . . . . . .. 166
1.2.2. O cinema hollywoodiano (D. Bordwell, J. Staiger, K. Thompson) .. 167
1.2.3. "Genérico dos anos 30" . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 168
1.2.4. 1895 filmes constituem o western dos anos 20? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 169
1.2.5. Análise de corpus alargados, história e estudo de códigos 170
2. GARANTIAS EVALIDAÇAo DE UMA ANÁLISE ..••••.•••...•••••.•.•••• 171
2.1. Critérios "internos" 171
2.2. Critérios "externos" .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 172
2.3. Análise do filme e história social:
Roma, Cidade Aberta ou Rossellini, testemunha da resistência italiana. . . . . . . . .. 176
215
A ANÁLISE DO FILME
CAP[TUL08
Objectivo da análise: à guisa de conclusão
l.AANÁLISE,ALTEREGODATEORIA 179
1.1. A análise como verificação da teoria '. . . . . . .. 180
1.2. A análise como invenção teórica 180
1.3. A análise como demonstração 180
2. ANÁLISE, ESTILÍSTICA E POÉTICA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 181
3. A ANÁLISE COMO REVELADOR IDEOLÓGICO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 183
4.0PRAZERDAANÁLISE 185
5. A ANÁLISE COMO APRENDIZAGEM ••..••••.•••..•.••.•.••••••.•.....• 189
5.1. Análise oral 189
5.2. Análise de grupo 190
6. ANÁLISE DO FILME, ANÁLISE AUDIOVISUAL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 191
Bibliografia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 193
Índice dos filmes citados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 209
,
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216
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J.
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