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REVISAO NOGOES BASICAS DO METABOLISMO DE FARMACOS* Eliezer J. Barreiro*, Joaquim Fernando M. da Silva e Carlos Alberto M. Fraga Faculdade de Farmacia - Universidade Federal do Rio de Janeiro - CP 68006 - 21944-390 - Rio de Janeiro - RJ Recebido em 9/10/95; accito em 19/1/96 BASIC NOTIONS OF DRUG METABOLISM. Drugs are biochemical unstable entities that elicit the required pharmacological response and thereafter are excreted. The absorption, distribution, and imination of a drug are complex and interrelated, in which the chemical changes in the original structure, induced by enzymes of the liver and other organs, play an important role. The study of metabolic transformation of drugs can permit the prediction of the major structural alterations in the nature of the pharmacological profile, thei duration of action and their toxi a representing an important tool to the complete understanding of the complex relationships be- tween the physicochemical properties of a substance and its biological activity. Keywords: medicinal chemistry; metabolism of drugs; enzymatic induction. INTRODUGAO (© emprego da expresso metabolismo de femacos comporta alguma polémica na literatura'. Alguns autores consideram ‘como metabolismo o estudo do destino total do férmaco na biofase, incluindo-se as etapas de absorgio, distribuiglo,, biotransfomagio e excregio!. Outros consideram como metabo- lismo apenas a biotransformagio do férmaco, compreendendo as modifieagies quimicas, enzimaticamente promovidas, que © Féemaco softe na biofase®, distinguindo, portanto, o aspecto, farmacocinético que envolve os fendmenos de’ absorgio/ distribuigdo do férmaco nos diferentes compartimentos da biofase, Atualmente, o termo metabolismo € empregado para escrever as transformagées enzimaticas de_substancias endégenas (e.g., acetilcolina), enquanto biotransformagio compreende a metabolizagao de xenabioticos (e.g, féemacos)”. Neste trabalho, consideraremos como metabolismo dos férma- 0s os processos enzimaticamente catalisados capazes de produzir modificagbes estruturais no firmaco. Neste contexto, 2 classificagio de Williams, de 1959, para as fases do metabolismo, seré adotada. Este autor denominou biotranstor~ magao, a primeira fase do metabolismo (fase 1) de um férmaco, nna biofase, englobando reagbes de oxidagbes, redugbes hideSlises. A fase 2 do metabolismo compreende, segundo este autor, a etapa de conjugacio, envolvendo reagbes de glicu- ronidagio, sulfatagio, acilagio, metilagdo © a formagio de autos com glutationa Raramente uma substincia orginica, ffrmaco ou nio, sobrevive & agdo cataitica dos diversos sistemas enziméticos presentes nas eélulas dos organismos vivos. Considerando-se que 0 arsenal terapéutico atual compreende uma expressiva aioria de substancias organicas, pode-se antecipar que dificil- ‘mente um medicamento,sintético ou nfo, de natureza organica,, resistiré 8 ago das enzimas da biofase® ‘Um f4rmaco tem sua utiidade terapéutica medida em funga0 dda ago benéfica que exerce sobre um dado sistema biol6gico, Esta, por sua vez, depende da quantidade do férmaco adminis- ttada capaz de atingir, na concentragio necesséiia, o sitio de aio desejado. Portanto, 0 estudo do metabolismo dos firmacos, s€ toma essencial para o completo conhecimento de fatores, farmacocinéticos relevantes a0 uso adequado e seguro dos *Contribuigdo #10 do LASSBIo - LaboratGro de Avaliagio e Sinese ‘de Substincias Bioativas ‘QuiMica Nova, 116) (1996) ‘érmacos. Em termos experimentais, 0 estudo do metabotismo de Farmacos exige o emprego de técnicas analiticas sensiveis © cficazes, aliadas a procedimentos de extragio cficientes © ‘quanttaivos, de infimas quantidades de substincias de flufdos biolégicos, de mancira a permitir a elucidagdo inambfgua da cstrutura quimiea dos metabélitos de um férmaco, inclusive ‘quanto’ definigdo de cenros estereogénicos, quando presentes. Estes metabolites, para seem adequadamente isolados e terem suas estrturas elicidadas, precisam ser teoricamente prevists, fem termos estruturais, antecipando informag6es sobre as Proptiedades fisico-qutmicas, de maneira a permitir a Facionalizagio da escolha do método de isolamento quali- e {quanttativamente adequado*. Por outro lado, 0 conhecimento previo das provaveis mudangas estruturais que um determinado {érmaco pode sofrer na biofase permite que se antecipem dados sobre sua provavelestabilidade frente ao método de isolamento escolhido, gerantindo sua eficéeia em termos quantitaivos. [Nesta 6tica, 0 conhecimento das bases teéricas das etapas de biotransfomagio e conjugacdo, fases 1 ¢ 2, que compreendem ‘0 metabolismo dos férmacos, em termos moleculares, se torna Prioritirio e essencial. Neste trabalho seré dada énfase aos xpectos moleculares do metabolismo dos féemacos. ‘As transformagdes enzimaticamente promovidas na estratura auttmica dos férmacos podem acarretar profundas alteragSes na resposta biolégica, uma vez que modifieagoes moleculares, ainda que singelas, podem alterar significativamente o farma: c6foro, dificultando sua interago com o biorteceptor original, ou ainda, favorecendo novas interagBes com outrss biomacro- rmoléculas, correspondendo a novos e distintos efeitos biol6- cos, algumas vezes responséveis pelos efeitos deltérios de lun farmaco’, Neste sentido, a Organizagio Mundial da Saide (OMS) recomenda que 0s estudos do metabolismo dos farmacos constituam parte obrigatoriamente integrante dos programas de avaliago pré-clinica ¢ clinica de quaisquer novos medicamentos" 'Em termos estrutuais, os férmacos, em sua grande maioria, podem ser considerados como micromoléculas orgénicas, lipossohiveis, poifuncionalizadas. Estas caracteristcas conti- ‘buem para que apresentem diferentes sitios reativos frente 3s inimeras enzimas da biofase. Como consequancia desta pluri reatividade, um determinado férmaco produz, néo raramente, distintos metabslitos, visto a diferenga na cinética relativa das diferentes enzimas envolvidas no metabolismo. O estudo molecular do metabolismo dos férmacos permite que © antecipe, & luz das diferengas de reatividade quimica dos distintos sitios metabolicamente Iabeis, um nivel de hierarquizagao na formagio destes diferentes metabstitos,, prevendo-se, antecipadamente, aqueles majortérios. Por outro, lado, 0 conhecimento das bases moleculares do metabolismo dos Térmacos permite que se introduzam, racionalmente, determinadas modificagdes estruturais de maneira 8 aprimorar sua biodisponibilidade ou efieécia (pr6-férmacos)* FASES DO METABOLISMO: FASE I. © quadro 1 ilustra as principais possibilidades que um férmaco pode softer nas transformagdes metabélicas. O primeiro caso ilustra que o Farmaco originalmente inate (prs- farmaco) sofreu ativaggo metabélica fornecendo, apés, sua biotransformagdo, a substincia terapeuticamente util. O segundo caso ilustra a possbilidade de o férmaco originalmente administrado produzir metabélito de estrutura similar, biolo- gicamente ativo, porém com propriedades farmacol6gicas Gistintas do frmaco-mie, geralmente responsével pelos efeitos {Gxicos observados com 0 seu emprego. Esta situagdo depende ‘enormemente da esteutura original do férmaco administado, que em fungao disto pode sofrer biotransformagdes que produzam espécies Iibeis capazes de reagie covalentemente com biomacromoléculas da biofuse (exemplos desta situagdo sero discutidos neste trabalho). No terceiro caso ilustrado no quadro 1, 0 férmaco original conduz a um metabslito inativo (ce. bioinativagio metabslica) com propriedades adequadas para sua exeregio pela via renal, Esta situagdo representa uma situagdo ideal, infetizmente rara, Quadro 1. Metabolismo de Farmaco inativo Metabalito ative (Bioativagao) Metablito ative (mesma atividade ou no) (Toxicidade) Metabslito inativo (Bioinativagao) Férmaco ative Pérmaco ative (© estudo do metabolismo dos femacos permite: 8) estabelecer a cinética de formasao e as estruturas quimicas de seus metabélitos; b) determinar a velocidade ¢ o sitio de absorgio majortétio; ©) determinar os nfveis de concentragio e depésito,plasmatico € tecidual, tanto do férmaco como de seus metabélitos, permitindo estabelecer sua meia-vida na biofase 4) determinar a principal via de eliminaglo; ©) determinar os sitios moleculares metabolicamente vulnerd- veis e correlaciong-los com aqueles farmacoforicamente mais relevantes 8 atividade; 1) compreender as interagbes metabélicas de um determinada firmaco com outro, administrado simultaneamente ou em associagdo; 2) elucidar as eventuais vias de “reabsorgio” metabstica, quando houver, hy determinar a toxicidade dos metabélitos ¢ correlacions-los ‘com a estrutura quimica; i) fornecer novos compostos protétipos para atividades Farmacol6gicas distintas daguela do férmaco original 5 férmacos, assim como outros agentes quimicos (solventes industisis, praguicidas, aditivos de alimentos industializados ete.) estranhos ao organismo (i.e., xenobisticos) so metabo- lizados por distintos sistemas enzimdticos. Dentre estes, 0 principal, sistema enzimético envolvido no metabolismo dos firmacos? compreende as enzimas microssBmicas hepéticas, em que se destacam uma hemeproteina oxidativa denominada citocromo Paso € uma flavoproteina, NADPH-Citocromo ¢ redutase, que, associadas a lipfdeos, formam o sistema MFO (mixed function oxidases, oxidases de fungio mista). Embora seja 0 figado o principal sitio de metabolizacao dos férmacos, outros érgios ¢ tecidos podem biotransformar férmacos (e.g. trato gastrintestinal, pulmies, tins). ‘A primeira etapa do metabolismo dos medicamentos - fase 1 se caracteriza por envolver reagées redox ou hidroliicas, responsiveis pela conversio do firmaco lipofilico em um primeiro metabdlito mais polar. Esta etapa, na maioria das vezes envolve © Cit.Pag hepstico, ¢ compreende, basicamente, a insergio de um somo de oxigénio, origindrio de uma molécula de O2, na estrutura do féemaco (Figura 1)". Figura 1. Mecanismo de mouexigenuo eatalizada por eoerome Posy © sistema citocromo Paso € composto por diversas ‘soentimas, eodifieadas pela superfamilia de gens CYP? Esta superfamfia é dividida em familias e subfamiis, sendo que, em humanos, as principais subfamiias envolvidas com 0 metabolismo de fdemacos 850 a8 CYP 1A, 2A-Fc 3A. A biotransformagio oxidativa da cafefna (1), por exemplo, € ‘mediada por diferentes isofarmas de citocromo Pasy (CYP 1A2 ©3A). A isoforma 1A2 € responsével pela formagao de Paraxantina (2), enquanto que 8 3A esté envolvida com a boxidagto da posigko 8, levando 8 formagéo do Acido 1,3,7 trimetitrico (3) Figura 2)!" Figura 2. Metabolismo oxiduivo da cafeins Observa-se anda a existéncia de polimorfismo genético neste sistema enzimético, justifcando a existéncia de individuos com baixa taxa de metabolizagio de certs Firmacos, enquanto que para outros apresentam comportamento normal. Esta diferenga acarreta Quimica NOVA, 19(6) (1996) variagdo individual nas reagdes txicas a determinado férmaco, (© complexo enzimatico do citocromo Pysy pode ser cencontrado tanto em organismos procaristicos, na forma de fenzimas soliveis no citoplasma celular, como em organismos feucatidticos, em que se encontea ligado as membranas ccolulares. Apesar das diferengas de propriedades entre as tenzimas procariticas © as euearisticas,Verifica-se a existencia, tem ambos 0s tipos, de duas regides com alto grau de conserva- Quadro 2. Processos microssimicos de biotransformacio ‘#0 de sequéncia de aminodcidos: as regives de ligagio com 0 Erupo heme (ligado a apoenzima através de um resfduo cisteina) © com 0 oxigénio molecular’ ‘Varias reagées de bioconversio de diferentes grupos funcionais podem ocorrer na fase 1 do metabolismo, Entre os processos.microssmicos encontram-se aqueles deseritos n0 quadro 2", enguanto que os nlo-microssOmicos esto ilustrados no quadro 3", 1agBes catalisadas por citocromo Pasa Carbono HI Hidroxilagao alifitica Ree R oH Hidroxilagao benzfica Rar Hidroxilagao altlica ROR Hidroxilagio 0. a heterostomo x7 SR Hidroxilagio aromatic Ark AOH Q Epoxidagio AY RaeeeRy Nitrogénio ‘Aminas primérias RNH; RNHOH. ‘Aminas secundérias RiRNH R,R:NOH ‘Aminas tercidrias| RRR RiR:RIN-O| ‘Amidas RCONHR’ RCON(R)OH Enxofre Sulfetos SR" RSOR’ ‘Sulf6xidos SOR’ RSOR’ Redusdes ‘Azo RANK: + R'NH: Nitro R-NH: Cetonas RCOR’ RCHOHR’ ‘QUIMICA NOVA, 196) (1996) ‘Quadro 3, Principais blotransformagées nio-microssomics Féirmaco Metabélito RCHOH RCHO RCHO RCOaH R(CHD:COH RCO3H —__RCH:NH: RCO ~_RCOR’ RCH(OWR RCH:CHLR’ Enise 0s provessos oxidativos ndosmicrossOmicos de fase 1, encontram-se as oxidag6es de dlcoois por agio de desidroge” rases hepéticas (LAD) também presentes nos pulmbes e tins!” Por agio destas enzimas os aleéois primérios (e.., etanol) produzem aldefdos. Estudos de cinética relativa indicaram que 05 dleoois primérios so muito mais rapidamente oxidados que 05 dleoois secundérios, que formam compostos cetOnicos como produtos. Este processo é o principal caminho de inativaga0 ‘metabélica das prostaglandinas (PG) (e.g. PGE», 4), autaccides o grupo dos eicosansides que sofrem a agao da prostaglandi esidrogenase (PGDH), enzima plasmatica responsivel pela oxidagl0 do alcool alflico em C-15, produzindo um derivado inativo (5), que por sua vez & substrato de uma segunda enzima capaz de feduzir a insaturagio em C-13 fornecendo (6), que subsequentemente softe agao de oxidases de dcidos graxos (vide infra) e produz.o principal metabélito de fase 1 desta classe Figura 3" Figura 3. Bioinanvagao de prostaglandinas Compostos aldeidicos sao oxidados pelo sistema enzimatico nfo-micross6mico denominado alde(do-desidrogenase (LDD), produzindo 0 fcido carboxflico correspondente, No plasma ocorrem reagdes de metabolizagio de écidos alquil-carboxilicos por ago de B-oxidases. Estas enzimas sio capazes de promover a cistio oxidativa das ligagBes C-Cyps das, cadeias alifaticas de dcidos graxos produzindo bis-homélogos inferiores (e.g. 7, Figura 3)" Um complexo’enzimético, cobre-dependente, nio-microsso- rico, capaz de promover a cisio oxidativa da ligagio C-N de taminas primarias € a monosminooxidase (MAO). Este complexo enzimatico é largamente encontrado nas mitocOndrias de diversas, Siulas de mamifers (eg. figado,rins, pulmo, vasos sanguineos, misculo cardfaco, mucosa intestinal e plasma), participando da inativagdo de diversas aminas biogénicas. Como exemplo, temas 2 serotonin (8), que, sendo substrato da MAO, produz 0 deido 3- indolilacético correspondente (9), que & diagnéstico, quando on dosado na urna, para antecipar a fase psiesica de pacientes com psicose maniaco-depressiva (Figura 4)! “of — sof™ Oly Serfonina (8) ® Figura 4. Conversio de serotonins (8) a deido S-hidroxi3 indolactico (9) pela ago da MAO. ReagSes nfo-oxidativas que ocorrem nos. microssémos compreendem a redugio de grupamentos nitwo (NO3) e diazo (NEN). O sistema microssOmico responsivel por estas reacies ‘o-oxidativas 6 dependente de NADPH-citocromo C redutase!” irmacos que possuam grupamento nitro-aromaticos produzem, por agio deste sistema enzimético, derivados anilinicos como ilusted a bioteansformago do cloranfenicol (10) (Figura 5)", ~Ofm OL a x Figura 5. Metabolismo do cloranfenica! (10). Alguns compostos nitrados podem produzir como principal rmetabélito a correspondente hidroxilamina, substrato para enimas conjugativas da fase 2 (vide infra). Embora este produto de metabolizagio de substincias nitro-arométicas seja ‘menos frequente, interfere na via metabolica de alguns agentes, antifiingicos, como 0 derivado nitrofurdnico funcionalizado (citrofural, 11) mostrado na figura 6" on Seamciity —eseyge Reco w w Figura 6. Farmagao de hidvoxitamina (12) durante metabolism de nltrofural (11) A redusio de diazo-compostos por asio de enzimas micros- smicas foi descoberta com estudo das propriedades antibacterianas da sulfamidocrisoidina (13)!". Este composto representa o primeiro pr6-férmaco conhecido, sendo inativo in viiro. Esta substincia softe processo de bioativagio metabélica por alo de azo-redutases produzindo, in vivo, @ sulfanilamida (Ud), responsével pela agdo antibacteriana manifestada por antagonismo competitivo com © écido_para-aminobenz6ico (PABA) na biossintese do dcido félico (Figura 7) oy Oprr©) 307%, Pleura 7. Bivativacao da eulfamidacrizoidina (13) produsindo « sulfanilamida (14), ‘ulvica NOVA, 1916) (1996) As redugGes nio-microssOmicas conhecidas no metabolism dos Férmacos representam vias secundérias de metabolizacdo fem que intervém processos de redugoes de compostos cet6- nicos e insaturados, ‘Além dos processos redox, © metabolismo em sua fase 1 ‘compreende ainda reagdes hidrolfticas que podem ocorrer tanto no figado quanto no plasma, Estas reagdes so catalisadas por hidrolases ¢ transformam ésteres, amidas e outras fungdes, derivadas de Scidos carboxflicas (e.g., dcidos hidroximicos, Inidrazida, carbamatos e nitrias) em metabslitos polars. Alguns ‘exemplos de férmacos com esses grupos funcionais, como a lidocaina (15) e derivado (16) estio ilustrados na figura 8!" Oe — Ol. Conk Gls ng! bn Lew Ca Figura 8. Exemplos de biotransformacées por hidrlise enimatica [As hhidrolases de ésteres, denominadas esterases, esto presentes no trato gastrintestinal, plasma, flora microbiana Intestinal e algumas especticas em determinados tecidos (e.g, Aacetileolinesterase no sistema nervoso central SNC). AS esterases plismaticas tém sido largamente exploradas na Tiberagio de formas latentes de férmacos derivados de dcidos carboxiicos (e.g, penicilinas (17), Figura 9)”. o Figura 9. Conversdo da sultamicilina (17) @ ampicilna (18) € cdo penicilamice-sulfona (19). ‘A exemplo das esterases, as amidases, responséveis pela hidrolise enzimética de amidas, encontram-se.largamente istribufdas no plasma e trato gastrintestinal, onde desempenham ‘importantes funges na digestio. Ambos 0s tipos de enzimas hidroliticas sio sensiveis a efeitos estéricos ¢ eletrOnicos, permitindo a previsio de hidrlises cineticarsente favorecidas eri funglo, por exemplo, de menores resirigges estéicas. O estudo da hidrotise de ésteres da cocaina (20) indicou que se pode prever & seletividade da reagio enzimética em fungi0. do. menor impedimento estérico existente entre dois ésteres de um mesmo substrato; estes estudos contribuiram significativamente para o desenvolvimento de novos agentes anestésicos (Figura 10)!" ‘Quimica Nova, 1916 (1006) Hac" 03M HeNK cout 5 Ni 0:00 a Figura 10. Hidvilise diferenciada da cocaina (20). A petidina (21), poderoso agente analgésico central sem propriedades hipno-narcéticas, foi desenvolvida por modifica- hes moleculares sucessivas do protétipo morfina (22), & Iostrov-se estivel frente a esterases plésmaticas em razio da natureza neopentilice do éster em sua estrutura™, Em contrast este féemaco pode ser facilmente hidrolisado por agio de esterases hepéticas inespecificas, indicando que estas enzimas so estericamente menos exigentes do que as isoenzimas plismaticas (Figura 11). A hidr6lise de amidas, carbamatos, hiidrazidas, imidas, urefdas € passo de biotransformagao Frequente no metabolismo de férmacos, sendo geralmente mais lenta que dos correspondentes ésteres (ef. Figura 8) sh Peiainn 1) Mortnn (2) Figura 11, Esiraara da petidina (21) € da morfina (22) Por outro lado, derivados de cidos hidroximicos (RCONHOH) produzem 0 fcido carboxilico correspondente através da ago de enzimas hidroliticas do plasma, deter minando para este grupo funcional enorme labilidade metabdlica que depende, entretanto, do eventual impedimento estérico em Fungo da natureza do substituinte do dtomo de nitrogénio, Diversos derivados de dcidos hidroximicos apresentam propriedades inibidoras da enzima 5-lipoxigenase (S-L0)", responsével pela bioformagio de leucotrienos, classe de icosandides com importantes propriedades bronco. constritoras ¢, consequentemente, com potencial terapéutico pra emprego no tratamento da asma. Entretanto, em fungio da labilidade metabélica devido a presenga do grupamento acido hidroxami-co, essencial no mecanismo de agio desta classe de inibidores de’S-LO, o interesse dos pesquisadores neste grupo de substincias foi reduzido™. HIDROXILACAO DE SISTEMAS AROMATICOS: ‘OXIDOS DE ARENOS"™? © estudo do metabolismo de férmacos com unidades arométicas, especialmente grupos fenilas, permitiu identificar se a participagio de uma espécie intermediaria Iabil denominada dxido de areno. A participagio destas espécies pode ser exemplificada pelo estudo do metabolismo do fenobarbital (23). Este derivado barbitdrico, largamente cempregado na terapeutica, na primeira etapa de metabolizacao hepitica produz 0 derivado para-hidroxilado (28). Este metabélito regiosseletivamente formado origina-se pela oxida- 40 enzimética do anel aromatico, através do sistema MFO, conduzindo ao 6xido de areno ou epéxido correspondente (24). edifrio softe rearranja regivespecifico de hidreto TIH-shift") conduzindo 20 composto para-hidroxilado (25) Além de hidreto, pode ocorrero rearranjo de cloreto ou grupos nitro em 6xidos'de areno. O rearranjo NIH ¢ favorecido pela Presenca de substituintes que nao estabilizam 0 carbocétion, Intermediério formado; por sua vez, substituintes que estabilizam 0 carbocétion tendem a seguir mecanismo de hidroxiagSo diferente (Figura 12) ‘Uma reagio competitiva que pode ocorrer com 0 éxido de b-Q-Sk-9 Figura 12, Mecanismos exemplos de formate de dxides de arenas areno intermedifrio comprende o ataque de uma hidrolase sobre o anel oxirdnico tenso, produzindo o diol correspondente, como ilustrado para o benzopireno (26) que produz 0 derivado 27) (Figura 13). CO CO ooo — FOO Figura 13, Formacao de dis a partir de didas de arenos. ETAPA DE CONJUGAGAO: FASE 2 DO METABOLISMO De mancira geral, os metabélitos de fase 1 apresentam Coeficiente de partiga0 inferior ao do frmaco original, depen- dendo do nivel de variagio estrutural do férmaco, inclusive {quanto a0 peso molecular. Entretanto, a maior polaridade destes metabélitos de fase 1 nio é suficiente para assegurar sua ‘liminagao pela principal via de exerego dos frmacos, a renal Portanto, estes metabslitos sofrem reagdes subsequentes de cconjugag30 com pequenas moléculas endégenas de alta polari- dade, formando conjugados altamente bidrossoliveis, que so ‘exeretados pela urina, preferencialmente, ou na bile. ‘A figura 14 ilustra as principais reagdes, de conjugagio envolvidas no metabolismo dos férmacos''?, Cabe aqui destacar as reagBes de metilagio acetilagio, que embora nio, aumentem a polaridade do metabdlito, contribuem para a sua bioinativagdo, uma vez que grupos funcionsis importantes para as interagies Férmaco-receptor se encontratao protegidos. Outra feagio de fase 2 relevante & a conjugagio com glutationa, tripeptideo sulfidrilico (GSH), que promove reagdes de bioinativagio de eletrfilos bioldgicos (vide infra). Conjugado Reagio de fase 2 ‘Grupo funcional presente no Imetabolito de fase 1 HOC. 10 _ Glicuronidasio O11, COOH, NH», CH Hho XR ‘on Sulfatagto OH, Nit ROSO\H, RNHSOH i licina N H " cos Wr Conjugacto com Grupos eletrotnicas (Gxidos de areno, wy Ne slutationa cpéxidos,carbocétions, enonds) ° Ny cosH 4 ‘Aeetilagio OF, Nie R-OAe, R-NHAc Meiiagio (OH, Nii, SH, N heterocielico OMe, RNHMe Figura 14, Reagies de fase 2 46 ‘Quimica NOVA, 19(6) (1996) IMPORTANCIA DO METABOLISM PARA A ‘TOXICIDADE DOS FARMACOS 0 estudo do metabolismo das acetanilidas analgésicas (e.g, peracetamol (28) e fenacetina (29) € bastante representativo dda importincia do conhecimento das etapas de biotransfor- ‘magtio que um Firmaco sofre na biofase em relagdo aos efeitos, colaterais que pode causar, Estes analgésicos apresentam efeitos, fadversos distintos no figado, embora apresentem enorme semelhanga estrutural. O paracetamol causa necroses agudas © graves a0 tecido hepética, detectadas desde 1966, e integra 2 {érmula de cerca de 20 formulagbes farmacfuticas no Brasil” ‘A fenacetina, embora seja 0 derivado éter correspondente a0 paracetamol, tem sido reponsével por graves nefropatia, denominadas “nefrites andlgesicas", razio pela qual foi proserita em alguns pafses. Considerando-se que estes farmacos lo geralmente empregados por auto-medicago, em que a dose fe a frequéncia de utilizagio nfo so sujeitas a posologia determinada, os efeitos adversos podem se manifestar mais, ravemente, A controvérsia que se observa no emprego destes, derivados analgésicos resulta das diferentes possibilidades ‘metabdlicas que estes frmacos podem sofrer na biofase. Como alguns modelos animais empregados para o estudo do rmetabolismo destas férmacos nio se comparam precisamente a0 metabolismo humano, 8, resultados destes estudos, Ccontinuam nio sendo definitivos®® (© estudo do metabolismo destes derivados indica a impor- ‘ncia do conhecimento da estrutura e mecanismo de formag3o de todos os intermedisrios participantes da biotransformagdo ddos firmacos de maneira a permitir determinar-se, no plano molecular, aqueles responsiveis, eventualmente, por efeitos benéficos e tGxicos. © paracetamol ou acctaminofeno (28) ‘roduz, por acio do citocromo Paso, a iminoguinona (30), cujo Mecanismo de formagdo foi objeto de intensa polémica entre 0s especialistas de metabolismo do férmacos"*. Resultados Iniciais do estudo do metabolismo do paracetamol (28) permit am que inicialmente fosse proposta a transformagio de um Gerivad N-hidroxiado (31) que, por desidratagio subsequent, produziria (30). Posteriormente Verificou-se que esta hipstese ro era correta, sendo atualmente aceito que o mecanismo para a formagio de’(30) envolve a transferéncia de dois elétrons. Este mecanismo explica, também, a formagio de outros ‘metabélites do paracetamol como o eatecol (32) (Figura 15). Mitchell ¢ colaboradores verificaram que a iminoquinona (30) pode sofrer reagies de conjugacio envolvendo bionucle- Gfilos presentes no figado, especialmente com o glutationa””. (© ataque nucleo‘flico deste sobre as espécies eletroflicas {ransitrias, como a iminoquinona (30) bioformada a partir do paracetamol (28), conduz & formagio do aduto glutationa- paracetamol, reduzindo consideravelmente sua concentragao na biofase. Entretanto, a principal razio da toxidez hepética do paracctamol reside no “stress” causado nos hepatScitos, condu- Zindo a significative aumento das reagbes de peroxidagio lipidica e alteragdo da homeostase de fons Ca°*, por redugio dos niveis de GSH. Foi ainda observado, com relagio toxidade hepética do paracetamol, que algumas enzimas envolvidas na regulagio da concentragio de Ca"* intracelular podem reagir com a iminoquinona (30), formando adutos Inreversiveis que agravam a toxidez deste férmaco. A com- preensio deste mecanismo de toxider permitiu a proposta de oblengio de novos andlogos mais seguros, e.g, 33. Outro analgésico da classe das acetanitidas a fenacetina (29), que possui em sua estrutura a fungio para-hidroxila Presente no paracetamol sob a forma do éter etflico corte ondente. Esta sutil diferenga estrutural & suficiente p: eliminar a hepatotoxicidade, visto que ao se formam, dire tamente, espécies reativas transitérias como a iminoquinona (0). Eniretanto, a protecio do principal sitio de metabolizagio do andlogo paracetamol conduz a que um novo caminho ‘QuIMICA NOVA, 19(6 (1096) when tyes phan Lew © _ ~ -_ ‘so Figura 15, Metaboliomo do paracetamol (28), metabélico opere na fenacetina, produzindo agora substincias, extremamente nefrotéxicas, como a para-fenetidina (34) Figura 16)”. ¢ Hy how ww eo - 8 & be soca — Figura 16, Metabolismo da fenacetina (29), Estes exemplos provam que 0 bloqueio de uma via ‘metabslica identificada como toxic6fora em um férmaco no assegura, no novo derivado estruturalmente relacionado, sua inocuidade, indicando que alteragées estruturais guiadas pelo metabolismo exigem prudéncia quando de seu emprego como estratégia de modulago do perfil farmacoterapeutico de um firmaco. Cabe destacar que a fenacetina (29), conforme ilustram as reagbes de biotransformagdes do quadro 2, pode produzir 0 proprio paracetamol (28), através da reagto de O- Aesetilagdo catalisads pelo sistema citocromo Pyxp , © que se ‘mostrou ser, neste caso, rota minoritéia, IMPORTANCIA DOS INTERMEDIARIOS REATIVOS NOS ESTUDOS DO METABOLISMO © estudo do metabolismo da lidocaine (15), férmaco com propriedades antiarritmicas e anestésicas locais de largo emprego terapéutico, evidenciou a importincia do conhecimen- to do mecanismo de formagio para completa elucidagio estrutural dos metabslitos*, Este férmaco produz, como importante metabslito urindrio, 0 derivado conjugado de (38) Os estudos do metabolismo deste férmaco provaram que a bioformagso de (35) deve-se 20 envolvimento de uma espécie iminica intermedisri (36), capaz de softer reagao de ciclizaga0, nucleofilica intramolecular, A bioformagio da espécie iminica intermediria (36) decorre de etapa de -hidroxilagdo regios- seletiva da subunidade dietlamina presente na lidocaina (15), seguindo-se de eliminagao. Cabe observar que a presenga dos, grupamentos bis-orfo-metilas na estrutura da lidocaina € fesponsdvel pela resistencia deste farmaco d ago das amidases, plasméticas, que ocorre minoritariamente (Figura 17). 7 ay ~ Sy - Sh. -% a . . Figura 17, Metaboticmo da lidocaina (5). Uma segunda espécie reativa envolvida no metabolismo dos farmacos so os intermedidrios do tipo iminoquindnicos. Estes, compostos contribuem para a biodestruigo do proprio, citocromo Paso por produzirem radicais-livres reatives, sendo considerados como aulénticas armadilhas de radicais livres radical scavenger”). Evidéncia recente do envolvimento estas espécies reativas no metabolismo de férmacos compre- ende a mitoxantrona (37), férmaco antitumoral contendo 0 dcleo antracenodiona, simetricamente substitufdo, cujo principal metabolito & © derivado diidropiperazinico-efclico, G8), produto da reagio de adigdo nucleoffica intramolecular do tipo 1,4 do étomo de nitrogenio da cadeia lateral sobre a espécie bis-iminoquindnica transitéria, formada por desidroge- nagio enzimética de (37). Como consequéncia, felizmente benéfica, desta via metabélica, observou-se que a formagao de (@8) reduzia consideravelmente o efeito hepatotdxico de (37), comum muitos quimioterdpicos desta classe, sendo este Féemaco menos tGxico do que outros agentes antineoplésicos ‘do grupo dos antibidticos antraciclinicos (Figura 18) t gg Myo ow Le ae L 08 yet uf Ti el Figura 18, Metabolismo de mitoxantrona (37). 0 emprego de derivados quinolinicos substituides como agentes antimaldricos pode ser ilustrado pela cloroquina (39) Este composto da classe das 4-aminoguinolinas tem potente jo antimalérica, contra diferentes cepas de Plasmodium: entretanto, seu uso permitiu detectar-se reagies de fotossensi- bilidade graves, decorrentes da bioformagio de espécies iminoquinénicas transitérias (40), reativas, produzidas por prototropia. Estes intermedidrios podem interfeir com diversos 0a sistemas redox da biofase produzindo as reagBes de forossensibi- lidade observadas em alguns individuos (Figura 19)". eae ee No SO co es fh Figura 19, Cloroquina (39) ¢ seu metabivo (40) METABOLISMO E ESTEREOSSELETIVIDADE © estudo do metabolismo da fenitosna (41)™, introduzida na terapéutica na década de 40, como férmaco anticonvulsivante, largamente empregado para o tratamento e controle da epilep: sia, ilusta a importincia da estereosseletividade enzimética nos processos de biotransformagdo. Este férmaco apresenta um ftomo de carbono pré-quiral (C-5), com dois substicuintes Fenila que sio substratos para a ado hidroxilativa do citocromo Paso produzindo como metablito de fase | 0 derivado mono para- hidroxilado (42) correspondente™. Em razao da quiralidade das enzimas envolvidas nas etapas de biotransformagdo dos firmacos, observa-se processo enantiotopicamente seletivo na ‘etapa de mono-hidroxilagdo enzimstica, com oxidagio preferen- cial de um Unico substituinte fenila do earbono pré-quiral da fenitoina, resultando na produsio de metabélitos sticamente ativos. O estudo do metabolismo da fenitoina permitiy abser- var-se, ainda, que no homem 0 proceso oxidative ocorre preferencialmente no anel pr6-S, com seletividade relativa de 10:1, produzindo como principal metabolito de fase 1 0 S(-)-5 (-hidroxifenil)-S-fenilidantoina (8-42), excretado pela urn sob a forma do glicuronato correspondent. Quando este estudo foi realizado em cles, verificou-se distinta enantiosseletividade, espécie dependente, visto que desta vez 0 principal metabdlito turinério identificado foi 0 glieuronato derivado do R(4)-5- (hidroxifenil)-5-fenilidantoina (R-42) (Figura 20). Outro cexemplo ilustrative da enantiosseletividade enzimética da biotransformagio de férmacos pode ser observado com 0 ‘metoprolol (43), antagonistaseletivo de veceptores adrensrgicos do tipo 8, empregado para o tratamento da hipertensio, Este firmaco apresenta 0 carbono benzilico pré-quiral ( -CHsHx), sendo empregado terapeuticamente sob a forma racémica, Produz como metabélitos de fase 1, por ago do sistema microssomico hepdtio, os correspondentes élcoois secundrios benzflicos (44) como mistura de digstereoisomeros de mesma configuragdo (1'R.2R) (Figura 20)" ‘As enzimas hidroliticas também catalisam reagSes de biotransformagio de modo estereosseletivo. Yang ¢ colaborado- res” descreveram os resultados dos estudos sobre a hidrélise estereosseletiva de rac-O-acetil-oxazepam (45) pela agio de esterases de microssomos hepiticos e de eérebro humand, mos- trando que as enzimas produzem o (R)- ¢ 0 (S)-oxazepam (46), respectivamente, com seletividade oposta, dependendo do te ido. Estes resultados sio significativas pois na sistema nervoso central se forma predominantemente 0 enantiémero (S)-0xa zepam, que € 0 eutoméro, responsivel pelas propriedades se- dntes,o que justifica 0 emprego terapéutico da forma racémica do éster de oxazepam como pré-firmaco (Figura 21)". A IMPORTANCIA CLINICA DO ESTUDO DO METABOLISMO DOS FARMACOS 0 estudo do metabolismo dos farmacos provou que podem ocortercertos desvios metabélicos devido is variagSes diversas, ‘Quimica Nov, 19(6) (1996) ere fare QO a) en oy, ao ote". O (Srenanpam 46) Figura 2, Metabolismo entercosseletvo de rac-O-aceioxacepan (4). da fungio hepitica, dependendo do estado de satide de cada paciente, Desta forma, em determinadas infecgdes ow in- Festagées que causam comprometimento da fungio hepstica do paciente, 0 uso de quimioterspicos com baixo indice tera- peutico deve ser feito criteriosamente, de forma a prevenir 0 Seu agravamento. Por outro lado, 0 emprego crdnico de medicamentos, estratégia terapéutica comum no controle de diversos quadros Patol6gicos, pode induzir alteragées da funcéo hepatica de determined paciente, resultando em respostas de indugso enzimatica™ em que © metabolismo torna-se exacetbado, ou contrariamente.na inibigio da fungio enzimética hepética™ ‘Ambas as possibilidades resultam em efeitos indesejéves, visto alterarem a fisiologia hepstica, podendo modifica a capacidade de produgio de hormdnios esterides, essenciais no contedle de diversas fungdes fisiol6gicas, aigm de resultarem em rmodificagdes imprevisiveis na velocidade de metabolizagdo dos medicamentos,alterando, significtivamente,o tempo de meia vida na biofase. Como ifustragdo podemos citar 0 emprego do fenobarbital (37), usado em certos quadros de epilepsia menor. Lafont e colaboradores, em 1968", idemtticaram 0 composto, (47) como metabéiito de pacientes intoxicados pelo uso continuado do férmaco. Estes autores racionalizaram a formagio desta fenibutirolactona (47) como decorréncia dss propriedades indutoras de enzimas hepstias que o fenobarbital Possui (Figura 22). Ouiro indutor enzimético conhecido € 0 Alcool etilico capaz de induzir, ativando, diferentes sistemas enziméticos do figado, ‘QUIMICA NoVA, 19(6) (1886) _eutdmeros CO;Gtewvaticn °’ ‘0 - Hs Goieronideo Fenobarbital (QD « Figura 22. Metabolismo de fenobarbital (37) em pacientes intoseudos por este firmaco © que resulta em aceleragdo da velocidade de metabolizagi0 dos medicamentos, reduzindo, em geral, sua meia-vida. Estes eleitos sfo particularmente relevantes quando se empregam ‘medicamentos que em subdoses plasmaticas podem ter sua cficdcia comprometida. Desta forma, o emprego de antibidticos, ‘ou outros quimioterdpicos capazes’ de promoverem respostas de resisténcia, em individuos dependentes do dlcool, deve ser feito com eritério, uma vez. que, quando em subconcentragoes, plasméticas eficazes, facilitem o desenvolvimento de resistencia, por parte do agente patol6gico. Uma situagdo dramética, que pode ser considerada, consiste no tratamento de infecgdes em individuos com epilepsia adquirida, © com lesbes hepéticas causadas pelo abuso do Sleool. Este triste quadro, ndo raro em, fossa populagdo, demonstra a importancia do conhecimento da fungao hepatica, em determinadas eircunstincias, como forma criteriosa de efetuar-se assisténcia farmacéutica eficiente © adequada as necessidades de sade da populagio. CONCLUSOES AA titulo de conclusbes deste trabalho, pode-se ressaltar, pelos diversos exemplos ilustrados, que o estudo do metabolis- tno dos firmacos, inclusive no plano molecular, contibui de forma significativa para assegurar 0 emprego correto e seguro «de um medicamento. Por outro lado, seu conhecimento permite aber informagbes sobee a bioformagao de espécies metabolicas capazes de apresentar efeitos terapéuticos distntos ou idénticos mas superiores ao férmaco original. Esta particularidade do estudo do metabolismo dos frmacos permitiu que novos ‘medicamentos fossem introduzidos na terapéutica, resultantes do estudo da atividade de metabslitos principais de alguns férmacos” (intr-alia: oxifembutazona, agente anti-inflamat6- rio ndo-esterdide;hicantona, potente agente esquistossomicida). © conhecimento e a racionaizagio dos efeitos deletérios dos medicamentos somente podem ser completamente elucidados pelo estudo do metabolismo, que ganha nova importincia agora pelo reconhecimento das diferengas terapéuticas de enantio Imeros, denominados eutémeras “quando responsiveis pelas propriedades terapéuticas de mistura racémica ¢ distémero {quando inativos™, Estes fatos influenciaram organismos inter facionais de regulamentagio do uso dos medicamentos. a promoverem campanhas de licenciamento exclusivo dos , exigindo rigorosos estudos de metabolismo dos novos férmacos. dando nova dimensdo da sua importancia nestas vésperas do século 21 AGRADECIMENTOS Os autores agradecem as bolsas do CNPq (EIB, CAME) e & FUIB/UFRJ (JFMS), REFERENCIAS, 1. 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