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A QUESTÃO AGRÁRIA

BRASILEIRA EM TEMPOS DO
GOLPE DE 2016
DJONI ROOS
DOUTOR EM GEOGRAFIA
PROF. CURSOS DE GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ (UNIOESTE)
GRUPO DE PESQUISA DE GEOGRAFIA DAS LUTAS NO CAMPO E NA
CIDADE (GEOLUTAS)
ESTRUTURA
• Questão agrária;
• Preâmbulo do golpe;
• A face agrária do golpe;
• Os ataques aos direitos dos povos do campo;
• Ataques consolidados: os retrocessos;
• As consequências do Agrogolpe;
A QUESTÃO AGRÁRIA BRASILEIRA
COMPLEXIDADE DA QUESTÃO AGRÁRIA
Quase 50% têm
menos de 10 ha.
Ocupam 2,36%
da área.
Menos de 1%
têm área acima
de 1.000 ha
cada. Ocupam
44% das terras.
Gini/2014: 0,860

- Terras apropriadas irregularmente (grilagem/ilegalidade quase 400 mi. ha);


- 175,9 milhões de hectares improdutivos no Brasil (Atlas Terra BR 2015);
- Núcleo da questão agrária brasileira (fragilidade no controle, declaração);
PREÂMBULO DO GOLPE
• Neoliberalismo, violência criminalização dos movimentos camponeses (Governos
Collor, Itamar e FHC);
• Uma das fases significativas para o entendimento do campo brasileiro é aquela compreendida entre a
década de 1990 e o início da de 2000. Trata-se de um período em que as políticas neoliberais, assentadas
num conjunto de medidas econômicas elaboradas no final da década de 1980 no marco do Consenso
de Washington e impostas por instituições internacionais de controle como: o Fundo Monetário
Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM), protagonizaram a condução do Estado brasileiro.
Tais políticas neoliberais alçadas no Brasil pelo governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992),
tornaram-se mais proeminentes a partir de 1995, quando Fernando Henrique Cardoso (FHC/PSDB)
assumiu a presidência.
• Sucateamento do INCRA, vultosos subsídios à agricultura “empresarial”, privatização do patrimônio
público, extinção do Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária (PROCERA), rápida
emancipação dos assentamentos, reforma agrária de mercado, violência e criminalização dos
movimentos sociais (MP nº 2.109-52, de 24 de maio de 2001 proíbe a vistoria e desapropriação de
imóveis rurais ocupados pelos movimentos camponeses, chacinas etc.), em detrimento do acirramento
da questão agrária a reforma agrária sequer foi pauta do governo, criação do MDA em 1999 (Raúl
Jungmann).
• Governos Lula e Dilma: apaziguamento e contra reforma agrária;
• Consolidação e expansão do MDA (termos orçamentários - de R$ 4,2 bilhões para R$ 28,9 bilhões, quase 7 vezes – equipe e
também de leis para definir conceitos como: Educação do Campo, agroecologia e agricultores familiares). Neste contexto, além
de terem sido priorizadas ações diretas junto aos assentados da reforma agrária e aos agricultores familiares tradicionais, se
priorizou o atendimento também a diversos segmentos sociais até então praticamente invisíveis às políticas de desenvolvimento
rural (extrativistas, pescadores artesanais, povos ribeirinhos, povos da floresta, quilombolas e grupos indígenas), os quais
passaram a ter acesso aos recursos das distintas políticas públicas. “Novos” personagens entraram em cena no processo de
desenvolvimento rural do país e tendo seus direitos reconhecidos e garantidos.
• MDA, definiu um conjunto de políticas orientadas por um objetivo estratégico: fortalecer a agricultura familiar do país como
forma de inclusão social e de fortalecimento da cidadania.
• Expansão e fortalecimento do PRONAF (quase todos municípios, PRONAF Agroindústria; PRONAF Agregar; PRONAF Florestal;
PRONAF Alimentos; PRONAF Pesca; PRONAF Agroecologia; PRONAF Turismo Rural; PRONAF Mulher; PRONAF Jovem Rural;
PRONAF Semiárido; e PRONAF máquinas e equipamentos.)
• Programa de Aquisição de Alimentos (PAA, 2003); Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE, 2009); Programa Nacional
de Segurança Alimentar e Nutricional (2003); Programa Nacional de Habitação Rural (PNHR), programa Terra Forte, censo
agropecuário valorizando a agricultura camponesa, criação do NEAD;
• Competia ao MDA a coordenação e execução de todas as políticas públicas destinadas à promoção do desenvolvimento rural
sustentável; à realização da reforma agrária; à promoção e fortalecimento da agricultura familiar do país; à implementação da
produção orgânica e agroecológica; e à promoção da segurança alimentar e nutricional da população brasileira.
• Plano Safra da Agricultura Familiar;
• R$ 2,3 bilhões (2002/2003), R$ 5,4 bilhões (2003/2004) R$ 30 bilhões (2016/2017);
• 2º Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA);
• Meta 1: assentar 400 mil novas famílias; resultado: 157.469 novas famílias assentadas;
• Regularização fundiária como política oficial do governo Lula;
• Produção de commodities em grande escala como “salvador” da economia brasileira;
• Roberto Rodrigues e Kátia Abreu no MAPA (orçamento do MAPA aumentou 9 vezes de R$ 20,5 bilhões para
R$ 187,7 bilhões), políticas de desenvolvimento econômico favorecendo a agricultura em grande escala;
• Plano Agrícola e Pecuário salta de R$ 18,9 bilhões (2002/2003) para R$ 27,15 bilhões (2003/2004) e R$ 185
bilhões (2016/2017);
• MP da grilagem (MP 422/08 e 458/09) – Terra Legal; Código Florestal (anistia aos desmatadores);
• Aumento da concentração fundiária;
• Ataques/criminalização do PAA, Operação Agro-fantasma no Paraná em 2013 (prisões determinadas por
Moro), agricultores absolvidos em 2017;
▪ Resultado eleitoral de 2014 levou às duas casas legislativas o Congresso mais conservador desde a
ditadura militar (bancada ruralista, evangélica, da mineração etc.);
A FACE AGRÁRIA DO GOLPE
O Golpe de 2016 é também um golpe ruralista latifundiário
O AGROGOLPE

• Protagonismo do agronegócio latifundiário (grandes proprietários de


terras e multinacionais do setor agrário), foi o fundamento político para
realização do golpe que tirou Dilma Rousseff;
• Metade da câmara é ruralista;
• Mais da metade do Senado é ruralista.
• O apoio político sustentado por cerca de 260 deputados e senadores
que compõem a bancada ruralista no congresso federal constituíram a
base política/parlamentar para o golpe (FPA compôs 50% dos votos);
Na primeira votação para abertura de investigação contra Temer 51% e na
segunda 55% dos votos a favor de Temer foram da bancada ruralista.
Isto impediu a abertura de investigação contra o então Presidente pelos
crimes de corrupção. É o caráter rural/agrário do golpe de Estado.
A PAUTA “POSITIVA” DOS RURALISTAS COM O GOLPE
FRENTE PARLAMENTAR DA AGROPECUÁRIA (FPA)
INSTITUTO PENSAR AGROPECUÁRIA (IPA)
27 DE ABRIL DE 2016
• Como demonstração do rompimento com a atual política, eivada de ideologias contrárias ao setor, e da busca pela
retomada do desenvolvimento econômico, que continuará sendo capitaneada pelo setor agropecuário, as medidas
imediatas passam pela garantia da ordem pública e da segurança jurídica. E, de imediato, pela melhoria do ambiente
de negócios, visando principalmente à retomada do sistema de crédito ao setor, proporcionando o amplo acesso a
recursos financeiros no Brasil (públicos e privados) e no Exterior.
• Assim, destacadas as medidas iniciais que nortearão a retomada do crescimento do segmento produtivo rural, e
por consequência a retomada do desenvolvimento do país, é primordial o fortalecimento do Ministério da
Agricultura, que passará a gerenciar todo o processo de reorganização do setor. No comando dessa pasta, é
imprescindível a presença de um líder diferenciado, que tenha conhecimento profundo do setor e
que tenha, principalmente, estreito relacionamento com as entidades representativas e com as
lideranças políticas. Essa é condição indispensável para que tenha o necessário apoio a fim de implantar todas as
mudanças que o setor mais exitoso da nossa economia necessita.
• Propõe a extinção do MDA reincorporando ao Ministério da Agricultura (MAPA);
• Transferência de programas de apoio à agricultura familiar para o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), de
modo que o governo amplie as suas atenções no favorecimento ao agronegócio e aos grandes proprietários rurais;
• A extinção da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB);
• Propõe a supressão de qualquer limite para a compra de terras por estrangeiros;
• Respeito ao marco temporal;
• Revisão das demarcações de áreas indígenas/quilombolas, bem como de desapropriações para fins de reforma agrária;
• Revisão das funções do INCRA e do sistema de cadastramento das propriedades rurais;
• Transformar o CONAMA em órgão consultivo, em vez de deliberativo;
• Fazer ajustes e concluir a votação da lei sobre terceirização, PLC 30/2015;
• Adaptar a legislação trabalhista à realidade do campo;
• Estabelecer diferenciação entre trabalho escravo, condições degradantes de trabalho e jornada exaustiva;
• Estabelecer limitações aos auditores do trabalho e às edições de Normas Regulamentadoras do Trabalho (NRs);
• Mudanças na Constituição para permitir que o exército atue reprimindo os movimentos sociais rurais, em especial o
MST;
• Reivindica a nomeação de um ruralista como ministro da Agricultura (omite que foi o próprio setor que emplacou
Katia Abreu, notória senadora ruralista e presidente licenciada da CNA).
• Inviabilização da demarcação de Terras Indígenas, pela aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215
(que transfere a competência de demarcá-las para o Congresso);
• Excluir benefícios das comunidades tradicionais na regulamentação da lei de acesso aos recursos genéticos e
conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade;
• Enfraquecer o licenciamento ambiental (transferência para esfera estadual);
• “Acabar” com o trabalho escravo (readmitindo formas análogas à escravidão que já haviam sido banidas da
legislação brasileira; restringindo a atuação dos fiscais do Ministério do Trabalho nas fazendas);
• A agenda negativa dos ruralistas vai além e também pretende suprimir os poderes deliberativos do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (Conama), fragilizar a legislação sanitária que estabelece condições para a
comercialização de produtos agropecuários que possam colocar em risco a saúde dos consumidores e reduzir
controles sobre a comercialização e o uso de agrotóxicos (defensivos fitossanitários), entre várias outras
barbaridades.
MODIFICAR A LEI PARA LEGALIZAR A BURLA
• O lobby do agronegócio latifundiário vê no governo Temer um aliado na promoção de seus desejos mais agressivos,
antissociais e desumanos.
• Os artigos 184 e 191 da Constituição Federal de 1988, penaliza os empregadores rurais e proprietários de terras
que violam as leis trabalhistas, ignoram as proteções ambientais ou não utilizam sua propriedade de maneira
socialmente benéfica.
• Consequentemente, a constituição estipula que tais comportamentos perversos garantem a expropriação para fins
da reforma agrária;
• Desfaçatez com que a bancada ruralista abordou o novo presidente da República é exemplar da situação
degradante em que se encontra o país. Nem mesmo a destruição do estado e a depressão econômica que assola
trabalhadores e empresas são capazes de estimular segmentos da elite brasileira, como os grandes proprietários
de terra, a construírem agendas para enfrentar os verdadeiros problemas do país, em vez de apenas
favorecerem interesses pessoais/corporativos em detrimento do conjunto da sociedade.
O AGRONEGÓCIO COMEMORA
• Após a aprovação do Impeachment da presidente Dilma Roussef, tomou posse como presidente interino do país, no dia
12.05.2016, Michel Temer. Neste mesmo dia foi publicada a Medida Provisória 726 (MP 726) que extinguiu o
Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), ao mesmo tempo em que se fundem as atividades do antigo
Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) com as atividades agrárias na nova estrutura institucional denominada de
Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDSA).
• O escárnio adicional: em 27/05/2016, com o Decreto Nº 8.780 transferiu toda antiga estrutura do MDA e suas
principais atribuições: Reforma agrária, políticas de agricultura familiar e demarcação de terras indígenas e
quilombolas, para a Casa Civil, comandada por Eliseu Padilha (dono de terras, de empresa que arrenda terras para uma
usina eólica, acusado de grilagem de terras no MT, interessado direto no assunto que ele passa a comandar). É o
Agrobanditismo.
• Nomeação em 12/05/2016 do senador sojeiro e grileiro Blairo Maggi (PP-MT), para o MAPA.
• As lideranças do agronegócio comemoraram os atos de Michel Temer. A Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) foi
explícita: “Primeiros sinais do governo Temer são positivos para o agronegócio, diz SNA”.
• O presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Carlos Corrêa Carvalho, também elogiou o governo
interino e defendeu revisão das leis trabalhistas e construção de uma malha viária que ligue o Centro-Oeste (a produção
de grãos) aos portos do Norte e Nordeste. (Tem uma Amazônia e a Caatinga no meio do caminho. No começo, um
restinho de Cerrado.)
OS ATAQUES AOS DIREITOS DOS POVOS
DO CAMPO
• O agronegocio latifundiário realiza uma sequência de ataques aos direitos dos povos do campo e
ao patrimônio público nacional. Tais ataques se materializam numa infinidades de ações legislativas (PL,
PEC etc.) contra a realização da reforma agrária, contra a demarcação das terras dos povos
originários/tradicionais (indígenas, quilombolas etc.). Uma ofensiva contra as conquistas de direitos
daqueles que estão na frente de expansão do capital agronegócio (camponeses e comunidades
tradicionais em geral). São propostas que visam:
• Destruir as possibilidades de realização da reforma agrária (e, se possível, reverter as experiências já
consolidadas – titulação, titulômetro etc.);
• Barrar a demarcação de territórios indígenas e quilombolas (e, se possível, reverter às demarcadas e/ou
abrir espaço à exploração econômica pelo grande capital);
• Legalização do roubo e a privatização das terras públicas, permitindo a regularização de até 2.500 ha na
Amazônia legal. Implicações na área rural e urbana (lei 13.465/2017, MP da GRILAGEM aprovada);
• Bloqueio integral das políticas de Reforma Agrária (extinção do MDA, PAA etc.);
• Corte no orçamento geral dos órgãos de execução da política fundiária (INCRA) e indígena (FUNAI) ao
ponto de impossibilitar o trabalho destas instituições em processos de desapropriação ou homologação
de terras;
• Nomeação de cargos para os órgãos que administram a política agrária e agrícola de pessoas
comprometidas com o agronegócio latifundiário e contra reforma agrária (ex.: INCRA PR);
• Ataques generalizados aos direitos das populações camponesas e originárias, rompendo com as
conquistas em nome da “segurança jurídica” ao investimento do capital na agricultura o que
significa insegurança jurídica aos povos do campo;
• Impunidade aos assassinos de líderes dos movimentos sociais (desde agosto de 2016 até novembro
de 2017, 99 líderes camponeses, indígenas e negros foram assassinados);
• Liberação quase que irrestrita do uso dos agrotóxicos e transgênicos (Pacote do veneno, um
conjunto de projetos de lei que buscam esfacelar a atual Lei de Agrotóxicos, abrindo de vez a
porteira para a farra dos venenos num país que já possui o título de maior consumidor de
agrotóxicos do mundo). A despeito dos PLs que querem liberar ainda mais o uso dos agrotóxicos,
o governo federal antecipa-se em uma medida administrativa passando o controle das informações
sobre os agroquímicos para o MAPA, excluindo da tarefa a ANVISA e o IBAMA. Isso significa uma
redução drástica no controle dos agroquímicos afetando ainda mais a saúde e o ambiente;
• Mudança da lei que penaliza a ocorrência de trabalho escravo (Portaria do ministério do trabalho nº
1.129/2017 que muda o conceito de trabalho escravo contemporâneo, liberando os crimes de super
exploração e degradação do trabalhador – PL 3842/2012 Moreira Mendes PSD/RO que tenta proteger a
propriedade rural onde é encontrada exploração de trabalho análogo a escravidão, além dos cortes para
fiscalização);
• Permitir que o empregado rural possa receber remuneração de qualquer espécie, ou seja, não
necessariamente salário (comida, aluguel etc.). (Reforma trabalhista no campo, PL 6.442/2016, de autoria do
deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), pres. da FPA);
• Perdão das dívidas, multas e impostos bilionários do latifúndio/agronegócio. O roubo das contas públicas que
implica em negociações para amortizar as dívidas do agronegócio junto ao Estado;
• Liberação irrestrita para compra de terras por estrangeiros (enquanto a lei não é aprovada pressão sobre o
advogado da AGU para mudança de sua interpretação sobre a lei 5.709/1971 que limita tal prática;
• Possibilidade de privatização das fontes de água. Grandes multinacionais reunidas com alto escalão do
governo no que chamaram de “privatização do aquífero Guarani”;
• Criminalização dos movimentos sociais, enquadramento na lei antiterrorismo;
Em 2016, além dos esforços dos deputados e senadores para
desarquivar ou reavivar projetos esquecidos de interesse direto do
agronegócio, novas propostas pipocaram no legislativo e executivo.
Foram 11 novos projetos de Leis e 29 projetos de Decretos Legislativos
para reversão de conquistas e retomadas de terras.
Totalizando 40 ações de ataques aos camponeses, trabalhadores
rurais e povos originários.
ATAQUES CONSOLIDADOS: OS
RETROCESSOS
FIM DO MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO (MDA)
• Desmonte da estrutura institucional, especialmente de equipes técnicas responsáveis pela
implementação e gestão de diversas políticas desde o momento de criação do MDA. Além disso,
verifica-se a paralisação de ações que estavam em curso nas diversas áreas de atuação do ministério,
bem como a suspensão de pagamentos e repasses orçamentários e financeiros já garantidos no Plano
Safra da Agricultura Familiar para 2016-2017.
• Desestruturação do PAA: O PAA foi criado em 2003 e ao longo desses anos se transformou em
uma das principais políticas públicas para amplos setores da agricultura familiar, garantindo a compra
direta, sendo que a maior parte desses produtos adquiridos é destinada ao atendimento de escolas,
creches, hospitais, restaurantes comunitários, etc. Plano Safra da Agricultura Familiar 2016-2017 previu
R$ 500 milhões, sendo que R$ 170 milhões já haviam sido autorizados pela presidente afastada. No dia
31 de maio de 2016 o MDSA cancelou o repasse desses recursos para a CONAB, afetando milhares de
agricultores familiares e também muitos dos beneficiários.
FIM DO MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO (MDA)
• Fim da estrutura institucional para a diversidade: extinção de políticas públicas em prol dos
segmentos rurais historicamente excluídos, (povos e comunidades tradicionais, quilombolas, negros,
políticas de gênero, de juventude, das comunidades indígenas, etc.), praticadas pelo MDA durante os
governos do PT. Todo esse mosaico de ações sociais protagonizadas pelo MDA foi dizimado pela falta de
percepção e de compromisso com essas parcelas populacionais que passaram a ser também integrantes
das políticas de desenvolvimento rural..
• Programa Nacional de Habitação Rural: Inicialmente o governo interino cancelou o programa.
Devido às pressões das organizações sociais e sindicais o programa foi retomado, porém com diversas
modificações em relação ao que vinha sendo implementado. Por um lado, foi retirado o tratamento
diferenciado para os povos e comunidades tradicionais e para os beneficiários da reforma agrária e, por
outro, foram feitas novas normas para as contratações e construções. Tais medidas apresentaram como
resultado prático até o momento a paralisia do programa.
• Extinção da Ouvidoria Agrária Nacional, ataques a CONAB, enfraquecimento do
PRONAF, do PNAE, da ATER etc...
• O MDA representou uma das principais conquistas de quase 20 anos de pressão dos movimentos camponeses
sobre o Estado;
• O MDA trabalhou com os movimentos camponeses para estabelecer suas prioridades, criar e gerenciar
assentamentos e políticas públicas de estímulo a agricultura camponesa/familiar. Foi uma luta realizada contra o
MAPA,(1860), mais tradicional e poderoso. Entre os dois ministérios houve pouco diálogo, mas a existência dos
dois ajudou a legitimar e canalizar dois modelos de “desenvolvimento” para o Brasil rural;
• Nos últimos anos o MDA promoveu a agroecologia, enquanto o MAPA ajudou a maior monopolização do solo, a
monocultura, o uso generalizado de agrotóxicos, a exportação e a maior concentração do setor do agronegócio;
• Através do MDA o Estado foi usado para medir, promover e defender a agricultura familiar como um tesouro
nacional;
• A CONAB, criada em 1990 para assegurar um suprimento adequado de alimentos para a população atingiu
parcialmente seus objetivos incentivando a produtividade dos agricultores familiares. Isso ajudou o setor agrícola
familiar a produzir cerca de 70% do suprimento de alimentos domésticos do Brasil, empregando quase 75% dos
trabalhadores rurais. Isso realizado pela agricultura familiar em menos de 25% das terras agrícolas do país,
superando de longe a “função social” da grande lavoura, coorporativa e dedicada a exportação.
ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXT. RURAL PARA A REFORMA AGRÁRIA
INFRAESTRUTURA NOS ASSENTAMENTOS
RECONHECIMENTO E INDENIZAÇÃO DE
TERRITÓRIOS QUILOMBOLAS
PROMOÇÃO E FORTALECIMENTO DA AGRIC. FAMILIAR
ATER PARA A AGRICULTURA FAMILIAR
APOIO À ORG. ECONÔMICA E PROMOÇÃO DA
CIDADANIA DE MULHERES RURAIS
APOIO AO DESENV. SUSTENTÁVEL DE TERRITÓRIOS RURAIS
APOIO AO DESENV. SUST. DAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS
POVOS INDÍGENAS E COMUNIDADES TRADICIONAIS
CRÉDITO FUNDIÁRIO
PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS – PAA
DISTRIBUIÇÃO DE ALIMENTOS A GRUPOS TRADICIONAIS
Dívida Ativa da União e a ILEGALIDADE
Perdão das
dívidas dos
ruralistas.
Só com o
FUNRURAL
foram 15
bilhões.
As
negociações
são para
ampliação,
chegar quase a
Fontes: Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional e Incra. OXFAM. Terrenos da desigualdade 1 trilhão.
As 4.013 pessoas físicas e jurídicas detentoras de terra devem R$ 906
bilhões, uma dívida maior que o PIB de 26 estados.
MAIS ATAQUES....EM ANDAMENTO...

• Criminalização dos movimentos sociais (operação Castra – Lei de organizações criminosas, Projeto de
Lei (9.604/2018) que classifica o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e o Movimento
dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) como grupos terroristas. De autoria de Jerônimo Goergen (PP-
RS), em março conseguiu assinaturas necessárias para protocolar a urgência do PL na Câmara);
• Exclusão da agricultura familiar camponesa, dos quilombolas, indígenas e demais populações tradicionais
do censo agropecuário de 2018;
• Ataques a CPT, a batalha dos números dos conflitos agrários. “Observatório de conflitos agrários
proposto por Alceu Moreira recebe aval de ministro da Segurança Raúl Jungmann”;
Pesquisa reducionista com os dados que interessam a eles? Se contrapor a CPT que tem revelado as
entranhas e as dores do Brasil profundo.
AS CONSEQUÊNCIAS DO AGROGOLPE
Famílias assentadas 2017 = 00
PARANÁ: FAMÍLIAS ASSENTADAS 1981-2017
2800
2640
2600
2392
2400

2200
2058
2000

1800

1600
1456 1403
1400
1227
1200

1000 886 888


827 829 794
800 744

600 502
413 386
400 331 314 332
263 262
191 167 201 164
137 161
200
79 68 60
0 0 0 32 0 0 0 0
0

Fonte: DATALUTA - Banco de Dados da Luta pela Terra, 2018. GEOLUTAS/NERA - Org.: ROOS, 2018
11.000 FAMÍLIAS SEM-
TERRA ACAMPADAS/PR

• Latifúndios e terras
griladas no estado;
• Araupel e a Zattar no
Centro-Sul;
• Grupo Atalla no Norte;
• Áreas indígenas demarcadas no PR desde 2016: 00
• Dados atuais da CPT indicam 4,8 milhões de famílias camponesas sem-
terra no Brasil;
• Violência contra camponeses sem-terra, indígenas, posseiros etc. é a regra;
• Aumento de expedientes para “liberar” as terras: expulsões de famílias
diretamente pelo agronegócio latifundiário, e despejos de outras milhares de
famílias, pelo Estado, em cumprimento a ações judiciais favoráveis a supostos
proprietários e/ou grileiros.
• Entre os anos de 2012 e 2016 foram despejadas 52.737 famílias no campo brasileiro,
segundos dados do CEDOC da CPT.
• Em 2018, já houveram o despejo, entre outros, de 800 famílias em Canguaretama
(RN), 400 em Iranduba, Manacapuru e Novo Airão (AM), 140 em Capitão Enéas
(MG).
Dos 70 assassinatos em 2017, 40% correspondem a massacres. Ou seja,
28 mortes. Colniza (MT), Pau D’Arco (PA), Vilhena (RO) e Lençois (BA).
Desde 1993 foram assassinados no Assassinatos de camponeses
estado do Paraná:
1-Diniz Bento da Silva (1993); sem-terra no Paraná 1985-2017:

37
2-Vanderlei das Neves (1997);
3-José Alves dos Santos (1997);
4-Sebastião Camargo (1998);
5-Sétimo Garibaldi (1998);
6-Eduardo Anghinoni (1999);
7-Sebastião da Maia (2000)
8-Antônio Tavares (2000);
9-Paulo Sérgio Brasil (2003);
10-Anarolino Vial (2003); A violência sempre foi praticada pelo
11-Dogival José Viana (2003); latifúndio, para manter seus privilégios.
12-Elias de Meura (2004); Isto começou com os capitães do mato,
13-Eduardo Moreira da Silva (2004);
14- Valmir Mota de Oliveira (2007); depois jagunços, pistoleiros, e quando
15- Eli Dallenol (2008); esses não funcionam usam o aparato do
16-Vilmar Bordim (2016); e Estado.
17-Leonir Orback (2016)
▪ RETOMADA DOS
DESPEJOS VIOLENTOS;
• Fazenda Santa Maria –
Santa Terezinha do Itaipu;
• Fazenda do grupo Atalla
norte do Paraná;
• Zattar em Pinhão.

▪ AÇÕES ANTI-
INDÍGENAS
▪ Guaíra, Terra Roxa, Santa
Helena;

DA INÉRCIA AO RETROCESSO
• Os conflitos sociais são resultados de uma sociedade extremamente desigual. O Brasil é uma
das sociedades mais injustas e desigual do mundo, onde apenas seis bilionários concentram
mais riqueza do que 104 milhões de brasileiros;
• Os camponeses e povos tradicionais tem se organizado para lutar pelo cumprimento da lei e
contra a desigualdade que se expressa na sociedade e na propriedade da terra. Ninguém em sã
consciência tem cem mil hectares, dizendo que foi fruto de seu trabalho.
• No Brasil temos, segundo cadastro do INCRA (2014), cerca de 370 latifundiários que são
proprietários de áreas superiores a cem mil hectares cada um, começando pelo ministro
da agricultura, (Blairo Maggi), ou pelo Presidente do senado (Eunício Oliveira). Eles controlam
138 milhões de hectares;
• Isso seria suficiente e sobraria terra para os quatro milhões de famílias sem terra. Ou seja, para
uma reforma agrária no Brasil bastaria desapropriar apenas 370 famílias com mais de cem mil
hectares;
A QUESTÃO AGRÁRIA É O PRÓPRIO GOLPE
É PARTE ESTRUTURANTE DO GOLPE
• A violência é uma potência econômica. A crise, o golpe de Estado e o poder do agronegócio
latifundiário anunciam que as formas criminais de reprodução do capital serão uma marca de
nosso tempo;
• O atual governo é um governo dos setores mais atrasados do campo brasileiro, atrasado e sem
nenhum compromisso com a soberania e o desenvolvimento nacional.
• Importância do debate sobre um problema social, econômico e político tão profundo como a
questão agrária. A questão agrária não está relacionada somente com a luta pela
terra e o desenvolvimento da agricultura, ela está relacionada com uma série de
outras questões.
MUITO OBRIGADO!

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