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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil

PV023 – TÓPICOS ESPECIAIS EM ENGENHARIA DE ESTRUTURAS


(MODELOS ESTRUTURAIS)

INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA (ISE)

Prof. Gerson Moacyr Sisniegas Alva


SUMÁRIO DA AULA
1- Introdução

2 - Modelos para a consideração da ISE

3 – Metodologia usual para a consideração da ISE

4 – Coeficientes de reação (vertical e horizontal) do solo

5 – Coeficientes de mola (Modelos A e B)

6 - Exemplos numéricos e análise de resultados

7 - Considerações finais
1 - INTRODUÇÃO
Interação solo-estrutura
Tema extremamente amplo

Abrange inúmeras situações de obras de engenharia em contato com o solo

Edifícios Estruturas de contenção


Pontes e viadutos Barragens
Túneis Pavimentos (transportes)

Motivo fundamental para o estudo da interação solo-estrutura


Reconhecimento de que as obras de engenharia RECALCAM
Se fossem possíveis recalques nulos, não existiram os efeitos da ISE

Ênfase da aula: ISE em estruturas de edifícios


Recalques de apoio causam esforços em estruturas
de edifícios ?
E.I 0,76 . E . I

Viga contínua em
concreto armado

4 cm
6 cm

Recalques aplicados
DEC
à estrutura
(kN)
(Compatibilidade de
deslocamentos)

DMF
(kN.m)

E = 25000 MPa (Concreto)


I = 3,60e09 mm4 = 3,60e–03 m4 (seção retangular 20 cm x 60 cm)
E . I = 9,0e13 N.mm2 = 9,0e4 kN.m2
E.I 0,76 . E . I

Viga contínua em
aço estrutural

4 cm
6 cm

Recalques aplicados DEC


à estrutura (kN)
(Compatibilidade de
deslocamentos)

DMF
(kN.m)

E = 200000 MPa (Aço estrutural)


I = 1,569e08 mm4 = 1,569e–04 m4 (perfil I 410 x 46,1)
E . I = 3,138e13 N.mm2 = 3,138e4 kN.m2
Cálculo convencional
Projetista estrutural Projetista de fundações
Cálculo e dimensionamento da Estimativa de recalques com base
estrutura com a hipótese de nas reações de apoio fornecidos
apoios indeslocáveis pelo projetista estrutural
Previsão de recalques: valores limites
e obtenção da pressão admissível

Os esforços na estrutura decorrentes dos recalques não são considerados


Não é realizada a compatibilidade de deslocamentos

Cálculo considerando a ISE


Os efeitos da deformabilidade do solo sobre a estrutura é considerada
há compatibilidade de deslocamentos
Os efeitos da rigidez da estrutura sobre os recalques é considerada
O que dizem as normas de projeto de estruturas
sobre a interação solo-estrutura?
“A análise estrutural deve ser feita a partir de um modelo estrutural adequado
ao objetivo da análise. Em um projeto pode ser necessário mais de um
modelo para realizar as verificações previstas nesta Norma.”
O modelo deve representar a geometria dos elementos estruturais, os
carregamentos atuantes, as condições de contorno, as características e
respostas dos materiais, sempre em função do objetivo específico da análise.
Em casos mais complexos a interação solo-estrutura deve ser
contemplada pelo modelo.
Item 14.2.2 da NBR 6118

“A análise estrutural deve ser feita com um modelo realista, que permita
representar a resposta da estrutura e dos materiais estruturais, levando-se
em conta as deformações causadas por todos os esforços solicitantes
relevantes. Onde necessário, a interação solo-estrutura e o
comportamento das ligações devem ser contemplados no modelo.”
Item 4.9.1 da NBR 8800

Que casos são mais complexos? Onde é necessário?


Pergunta motivadora

A hipótese de apoios indeslocáveis não é razoável na


maioria dos casos ?

Afinal, simplificações são importantes e inevitáveis na engenharia...


Sugestão: Leitura dos 168 casos de fissuração:
Prof. Eduardo Thomaz (IME-RJ)

http://www.ime.eb.br/~webde2/prof/ethomaz/fissuracao/sld001.html
SUMÁRIO DA AULA
1- Introdução

2 - Modelos para a consideração da ISE

3 – Metodologia usual para a consideração da ISE

4 – Coeficientes de reação (vertical e horizontal) do solo

5 – Coeficientes de mola (Modelos A e B)

6 - Exemplos numéricos e análise de resultados

7 - Considerações finais
2 - Modelos para a consideração da ISE
MODELO A

Duas análises independentes:


Análise estrutural

Análise recalques

Compatibilidade de deslocamentos
(situação final do equilíbrio)

Não há discretização da fundação


Fonte: Aoki e Cintra (2004)
Procedimento iterativo

Bastante empregado atualmente em projetos estruturais


MODELO B

Superestrutura e estrutura de fundação integrados


Há discretização da estrutura de fundação

Contorno:
Interface estrutura de fundação e maciço de solo

Fonte: Aoki e Cintra (2004)

Uso crescente nos escritórios de projeto

Fonte: TQS Informática


Discretização empregada em sapatas

Fonte: TQS Informática (Sistema SISEs) Discretização empregada em estacas


MODELO C

Um só corpo em equilíbrio:

Superestrutura
Estrutura de fundação
Maciço de solo

Contorno:
Superfície indeslocável
Fonte: Aoki e Cintra (2004)

Requer uso do método dos elementos finitos (bi ou tridimensionais)

Utilizado em meio acadêmico

Ainda pouco utilizado em escritórios de projetos


SUMÁRIO DA AULA
1- Introdução

2 - Modelos para a consideração da ISE

3 – Metodologia usual para a consideração da ISE

4 – Coeficientes de reação (vertical e horizontal) do solo

5 – Coeficientes de mola (Modelos A e B)

6 - Exemplos numéricos e análise de resultados

7 - Considerações finais
3 – Metodologia usual para a consideração da ISE

a) Etapa Inicial
Cálculo preliminar da estrutura supondo apoios indeslocáveis

b) Etapa Iterativa

Obtenção das reações de apoio

Previsão dos recalques

Obtenção de “coeficientes de mola” até a convergência


desejada
Razão entre cargas e recalques

Cálculo da estrutura com


“apoios elásticos”
SUMÁRIO DA AULA
1- Introdução

2 - Modelos para a consideração da ISE

3 – Metodologia usual para a consideração da ISE

4 – Coeficientes de reação (vertical e horizontal) do solo

5 – Coeficientes de mola (Modelos A e B)

6 - Exemplos numéricos e análise de resultados

7 - Considerações finais
4 – Coeficientes de reação (vertical e horizontal) do solo

Coeficiente de reação vertical: k v ou CRV

 : pressão vertical aplicada ao solo


kv  : recalque vertical

Métodos de obtenção do coeficiente de reação vertical:

1) Valores padronizados (tabelas/ábacos)


2) Ensaio de prova de carga em placa
3) Recalque vertical estimado
Teóricos (Teoria da elasticidade)
Semi-empíricos
1) Exemplo de valores padronizados (tabelas)

Coeficiente de reação vertical em função do tipo de solo


Tipo de solo Kv (KN/m3)
Turfa leve - solo pantonoso 5.000 a 10.000
Turfa pesada - solo pantonoso 10.000 a 15.000
Areia fina de praia 10.000 a 15.000
Aterro de silte, de areia e cascalho 10.000 a 20.000
Argila molhada 20.000 a 30.000
Argila úmida 40.000 a 50.000
Argila seca 60.000 a 80.000
Argila seca endurecida 100.000
Silte compactado com areia e pedra 80.000 a 100.000
Silte compactado com areia e muita pedra 100.000 a 120.000
Cascalho miúdo com areia fina 80.000 a 120.000
Cascalho médio com areia fina 100.000 a 120.000
Cascalho grosso com areia grossa 120.000 a 150.000
Cascalho grosso com pouca areia 150.000 a 200.000
Cascalho grosso com pouca areia compactada 200.000 a 250.000

Moraes (1976)
Valores de coeficiente de reação vertical (kv)placa (em kN/m3) obtidos em ensaio
de placa quadrada de 0,30 m de lado – vide manual TQS (2006)

Tipo de solo (kv)placa


Areia fina de praia 10.000 – 15.000
Areia fofa seca úmida 10.000 – 30.000
Areia média seca úmida 30.000 – 90.000
Areia compacta seca úmida 90.000 – 200.000
Areia pedregulhosa fofa 40.000 – 80.000
Areia pedregulhosa fofa 90.000 – 250.000
Pedregulho arenoso fofo 70.000 – 120.000
Pedregulho arenoso compacto 120.000 – 300.000
Rochas brandas ou alteradas
300.000 – 5.000.000
(saprófitos)

Calavera (2000) e Bowles (1997)


2) Obtido em ensaio de prova de carga em placa
Correções propostas por Terzaghi (1955) e apresentadas no manual TQS (2006)

 B  0,30
2
kv    .kv placa Areias
 2B  B é a menor dimensão
da fundação, em metros
 0,30
kv   .kv placa Argilas
 B 
Expressão proposta pelo American Concrete Institute - ACI 336.2R-88
(Reapproved 2002)
n
b
kv    .kv placa
B
b é a menor dimensão da placa
B é a menor dimensão da fundação
n é um coeficiente que varia entre 0,5 e 0,7
3) Obtenção do CRV pelo recalque estimado


kv  Pode conter dois tipos de simplificações

1) Quanto à estratigrafia do solo
Exemplos:
Homogêneo e semi-infinito
Homogêneo com espessura finita
Diversas camadas com espessuras finitas

2) Quanto à continuidade do meio


Exemplos:
Hipótese de WINKLER
Soluções de MINDLIN
1) Estratigrafia do solo
Exemplo de formulação considerando o solo como elástico, homogêneo e
semi-infinito:

Teoria da Elasticidade – adaptação da expressão de Boussinesq (1885)



.B. 1 2 . I  
 kv 
E
E  
B. 1 2 . I 
E e  = módulo de elasticidade e coeficiente de Poisson do solo
I = fator de forma da fundação
Forma Circular Quadrada L/B=2 L/B=5 L/B=10 L = maior dimensão
I 0,85 0,95 1,30 1,83 2,25 da fundação

Exemplo de formulação para considerar solos (areias) com diversas


camadas elásticas e homogêneas dentro do bulbo de tensões (2B):
Metódo de Schmertmann (1978)
2) Continuidade do meio
Hipótese de WINKLER
Carga
Fundação

Molas

Camada "indeformável")

Solo como um sistema de molas lineares e independentes entre si


Deformações apenas na região delimitada pela fundação
Pressões (tensões) no solo são proporcionais aos deslocamentos (recalques)

Principal vantagem: Principal desvantagem:


Simplicidade Não considera o efeito de cargas aplicadas
na vizinhança
Solução de MINDLIN
Meio tridimensional, homogêneo, isotrópico e semi-infinito
Cálculo do recalque em um ponto B qualquer
(carga concentrada)

R1  r 2  z  c 
2

R 2  r 2  z  c 
2

P1     3  4 81     3  4  z  c  3  4 z  c   2cz 6czz  c  


2 2 2 2
      
8E1     R1 R2 R1
3
R2
3
R2
5

Exemplo de aplicação: estimativa de recalques da base de estacas


Em uma sapata: soma de cargas concentradas

ndivx ndivy
t   
i1 j1
ij

Considerando o grupo de sapatas:


nsap ndivx ndivy

 t       ij,k 
k 1  i1 j1 
grupo de sapatas uma sapata
Consideração da estratigrafia do solo com a utilização das soluções de MINDLIN

Método de AOKI e LOPES (1975)


Encurtamento da camada 1

  w1  w 2

Encurtamento da camada 2

Técnica de STEINBRENNER:

  B1  C1   C2  D2 

Calculados com as soluções de MINDLIN


Observação: modelo mais geral para previsão de recalques

Recalque total:   i   c
i Recalque imediato ou elástico (ou não drenado)
Teóricos ou semi-empíricos
Consideração da estratificação do solo

c Recalque de adensamento
 c  p   s
p : adensamento primário
Ocorre devido à expulsão de água dos vazios do solo
 s : adensamento secundário
Fluência do solo após a dissipação das pressões neutras
Coeficiente de reação horizontal: k h ou CRH

ph ph = pressão horizontal aplicado ao solo


kh 
h h = recalque horizontal

Métodos de obtenção do coeficiente de reação horizontal:

1) Valores padronizados (tabelas)


2) Estimado em função do CRV
3) Conforme SPT

Grande aplicação em estacas e tubulões


SUMÁRIO DA AULA
1- Introdução

2 - Modelos para a consideração da ISE

3 – Metodologia usual para a consideração da ISE

4 – Coeficientes de reação (vertical e horizontal) do solo

5 – Coeficientes de mola (Modelos A e B)

6 - Exemplos numéricos e análise de resultados

7 - Considerações finais
5 - Obtenção dos coeficientes de mola (Modelos A e B)
Y

Exemplo: Fundações em sapatas

SISTEMA GLOBAL DE REFERÊNCIA

Modelo A: substituir os apoios (fundações) indeslocáveis por molas

Restrição em Y Coeficiente de mola à translação (recalque em Y)


Restrição ao giro em X Coeficiente de mola à rotação (momento X)
Restrição ao giro em Z Coeficiente de mola à rotação (momento Z)
z
Propriedades geométricas da base da sapata

CG x
B A base  A . B
A . B3 B . A3
Ix  Iz 
A 12 12

Coeficiente de mola (rigidez) à translação (recalque na direção Y)


k y  k v . A base
Para sapatas RÍGIDAS:

Coeficiente de mola (rigidez) à rotação (giro em torno de X)

k rx  k v . Ix
Coeficiente de mola (rigidez) à rotação (giro em torno de Z)
k rz  k v . Iz
Modelo B:
lançar 3 molas em cada nó da estrutura de fundação (contato com o solo)

Coeficiente de mola (rigidez) à translação (recalque na direção Y)

k y  k v . Ai Ai  Área de influência do nó
SUMÁRIO DA AULA
1- Introdução

2 - Modelos para a consideração da ISE

3 – Metodologia usual para a consideração da ISE

4 – Coeficientes de reação (vertical e horizontal) do solo

5 – Coeficientes de mola (Modelos A e B)

6 - Exemplos numéricos e análise de resultados

7 - Considerações finais
Exemplo 1: Determinação dos coeficientes de mola
Fundações em sapatas:
Pilares P1 e P3: 60x30cm
Pilar P2: 80x40cm
(flexão na maior inércia)

Dados do solo:
Areia pouco siltosa
E  50MPa   0,35
adm  0,20MPa
Hipóteses para o solo:
Homogêneo e semi-infinito
Hipótese de Winkler

P1 P2 P3 Modelo para ISE:


Modelo A
Pré-dimensionamento da base das sapatas
adm  0,20MPa 5,45mx5,05m para pilar central
3,95mx3,65m para pilares de extremidade

Cálculo do coeficiente de reação vertical


Teoria da Elasticidade (meio semi-infinito e homogêneo)
E: módulo de elasticidade do solo
E
kv 
 
: coeficiente de Poisson do solo
1  2 . B . I B: menor dimensão da fundação
I: Fator de forma da fundação
3,95mx3,65m 5,45mx5,05m 3,95mx3,65m

Sapata do pilar central (P2):

50000
kv   3

 
1  0,35 2  5,05  0,95
11887kN / m

Sapata dos pilares de extremidade (P1 e P3):

50000
kv   3

 
1  0,35 2  3,65  0,95
16433kN / m
Cálculo dos coeficientes de mola

3,95mx3,65m 5,45mx5,05m 3,95mx3,65m

Sapata do pilar central (P2):

A base  5,45  5,05  27,52m2

5,05  5,45 3
Iz   68,12m 4
12
k y  k v  A base  11887  27,52  327130 kN / m
k rz  k v  Iz  11887  68,12  809742 kN.m / rad
Cálculo dos coeficientes de mola

3,95mx3,65m 5,45mx5,05m 3,95mx3,65m

Sapatas do pilares de extremidade (P1 e P2):

A base  3,95  3,65  14,42m2


3,65  3,95 3
Iz   18,75m 4
12
k y  k v  A base  16433  14,42  236964 kN / m

k rz  k v  Iz  16433  18,75  308119 kN.m / rad


Lançar molas nos “pés” dos pilares

P1 P2 P3

(Exercício: programa FTOOL)

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