21/06/2018 Reverberações de Sartre

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Reverberações de Sartre
Paulo Henrique Pompermaier 
15 de agosto de 2016

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21/06/2018 Reverberações de Sartre

O filósofo Jean-Paul Sartre (Reprodução)

Em sua parábola “Diante da lei”, Franz Kafka constrói a história de um camponês

que, impedido de ter acesso à Lei pelo seu guardião, morre na esperança de penetrar
nos mistérios do direito. Assim como o juiz de O processo, a lei apresenta-se na
parábola como algo superior, autônomo, inatingível. Demolir essa construção
histórica é um dos objetivos do jurista e filósofo Silvio Luiz de Almeida em seu livro
“Sartre: direito e política”.

Fruto de sua tese de doutorado na USP, o autor reconstitui diversas fases do

pensamento de Sartre (https://revistacult.uol.com.br/home/tag/jean-paul-sartre/)
para apontar a importância do direito nas ideias sartrianas de liberdade e política.
Procura reconstituir o sujeito ontologicamente livre e indeterminado do filósofo
francês para, assim, desnaturalizar as construções jurídicas e apontar sua falta de
relação com qualquer ideal de justiça. Com três partes distintas, o livro de Silvio
percorre a obra de Sartre como um todo, relacionando leituras filosóficas com análises
históricas marxistas e posturas políticas.

Na primeiro parte, o autor explora a ontologia do autor de “O ser e o nada”. Explora

textos raros e pouco revisitados para lançar um olhar fenomenológico e existencialista
sobre a questão da liberdade. É do sujeito potencialmente livre, existência antes de
essência, que Silvio extrai considerações éticas e políticas. Na parte 2 Almeida adentra
o Sartre marxista, conectando sua visão do materialismo histórico com a ontologia da
primeira parte. Historiciza a existência desvelada na primeira parte, originando uma
leitura jurídica do capital, que, para o apresentador da obra, Alysson Leandro Mascaro,
é “a grande contribuição do autor”. A última parte, intitulada “Direito e política”,
apresenta diversos aspectos das reflexões de Sartre. Textos do pensador francês que,
unidos pela relação entre sua filosofia e sua postura política, refletem sobre a
burguesia, a relação entre violência e legalidade e até sobre o Golpe Militar no Brasil.

Se, de um lado o direito em “O processo” aparece como um arbítrio independente do

homem, do outro esses mesmos homens aceitam essa arbitrariedade, entregam sua
liberdade concreta a outras instâncias que os definem e restringem em estruturas
históricas. Sartre, para Silvio, é uma forma de relembrar o aspecto ético de ser
humano: definir-se, significar-se, através de suas ações no mundo, enquanto homem.
É essa ação ontológica, intrinsecamente política, um dos aspectos que o jurista
paulistano procura ressaltar, negando a rápida saída da alienação da consciência.
“Voltar a Sartre não é pensar o presente com os olhos do passado, mas pensar o
futuro como obra aberta”, como termina por refletir em seu prefácio ao asseverar a
atualidade do pensamento sartriano.

D E I X E O S E U CO M E N TÁ R I O

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