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21/06/2018 Filosofia da insurreição - Revista Cult


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Filosofia da insurreição
Caio Liudvik 
5 de julho de 2012

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21/06/2018 Filosofia da insurreição - Revista Cult

O filósofo Jean-Paul Sartre (Reprodução)

Ao lado de Slavoj Zizek e Alain Badiou, o húngaro István Mészáros


(https://revistacult.uol.com.br/home/istvan-meszaros-e-sua-ardorosa-defesa-da-
humanidade/) talvez seja o maior nome do pensamento de esquerda hoje. Só isso
bastaria para tornar qualquer livro novo dele uma atração em si. E o que dizer quando
este livro é sobre um nome como Jean-Paul Sartre, um dos ícones da filosofia do
século 20 e encarnação suprema da figura do intelectual engajado nas lutas
emancipatórias dos pobres, das minorias, dos povos colonizados, do Terceiro Mundo?

A Obra de Sartre – Busca da Liberdade e Desafio da História (Ed. Boitempo, trad. Rogério
Bettoni e Lólio Lourenço de Oliveira, 332 págs., R$ 54) não é uma mera reedição, mas
sim uma versão revista e consideravelmente ampliada do livro originalmente
publicado por Mészáros em 1979, pouco antes da morte do próprio Sartre (1905-
1980).

Também foi naquele mesmo ano que, com A Condição Pós-Moderna, François Lyotard
celebrava, na França de Sartre, a morte das “grandes narrativas” totalizantes e
fundadas na fé no progresso humano rumo ao pleno reinado da igualdade, liberdade e
fraternidade.

A comparação com Lyotard não soa arbitrária se considerarmos o novo prefácio da


obra – a qual, aliás, tem lançamento simultâneo em inglês. Mészáros afirma –
retomando uma declaração sua de 1992, pouco depois da queda do Muro de Berlim e
do fim da União Soviética – que escolheu como tema de estudo o filósofo da liberdade
– ideia diretriz do existencialismo sartriano – devido ao débito que os marxistas
deveriam reconhecer para com Sartre: vivemos, diz ele, “numa era em que o poder do
capital é dominador, numa era em que, significativamente, a ressonante platitude dos
políticos é que ‘não há alternativa’, quer se pense na sra. [Margareth] Thatcher
[premiê britânica que, com Ronald Reagan, nos EUA, pôs o conservadorismo liberal no
centro do poder ocidental na virada aos anos 80], quer se pense em Gorbachev”, o
líder soviético da “perestroika”.

Ou, noutras palavras, Mészáros denuncia o sermão reacionário do “não há


alternativa” e o associa à estigmatização e “criminalização” da figura de Sartre,
sobretudo por sua suposta cumplicidade com o totalitarismo stalinista, considerado,
por sua vez, concretização política do ideário filosófico da “totalidade” das
metanarrativas.

“Sartre, hoje, na França, é uma pessoa bastante desconcertante até para ser
mencionada. Por quê? O que aconteceu foi que, em nome do privatismo e do
individualismo, eles se venderam totalmente aos poderes da repressão, uma
capitulação às forças do ‘não há alternativa’, e é por isso que Sartre é uma lembrança
terrível. Quando olhamos o passado dessas pessoas sobre as quais falamos, ‘pós-
modernistas’ de uma grande variedade, percebemos que muitas vezes foram
politicamente engajadas. Mas seu engajamento foi superficial. Algumas delas, por

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volta de 1968, eram mais maoístas que os maoístas extremos na China e, agora,
adotaram a direita de maneira mais entusiasmada; ou, então, faziam parte do grupo
francês ‘Socialismo ou Barbárie’ [movimento progressista do qual Lyotard foi um dos
expoentes] e se tornaram mascates das mais estúpidas platitudes da pós-
modernidade”.

Essa opção de Mészáros adquire, portanto, uma importância estratégica por consagrar
a Sartre uma obra que, ainda mais com a nova edição, se torna indispensável para a
compreensão da filosofia do pensador húngaro Georg Lukács (1885-1971).

Autor do clássico História e Consciência de Classe (1923), Lukács não tinha com Sartre
uma relação das mais amigáveis – vide o panfleto polêmico Existencialismo ou
Marxismo; mesmo a propalada conversão de Sartre ao marxismo não o demoveu dessa
antipatia: Sartre, “em sua Crítica da Razão Dialética [1960], aceita Marx, mas quer
conciliá-lo com Heidegger [expoente do existencialismo alemão e persona non grata no
pós-guerra devido à adesão explícita ao nazismo]. A contradição é clara. Há um Sartre
número um no começo da página e um Sartre número dois no fim da mesma página.
Que confusão de método e de pensamento!”.

A posição de Mészáros, neste aspecto, é mais complexa e matizada. Longe de rótulos


como “irracionalismo” e filosofia “pequeno-burguesa”, o existencialismo sartriano é
visto por ele como uma das expressões mais contundentes de resistência intelectual e
política progressista ao império capitalista da reificação, da alienação e da perda de
sentido e de liberdade do indivíduo concreto soterrado sob uma cultura supostamente
individualista.

Há mesmo no livro uma tendência a heroicizar a figura de Sartre como outsider em


relação aos poderes institucionalizados – vide a célebre recusa do Prêmio Nobel, em
1964, e de cargos universitários –, ignorando, porém, que essa posição à margem
pode denotar uma outra forma de institucionalização e luta por poder no campo
intelectual.

Exemplo disso são os mecanismos de humilhação e ostracismo que se abateram sobre


o ex-amigo Albert Camus após a dramática ruptura entre os dois, no início dos anos
50, por conta do engajamento cada vez mais radical de Sartre junto aos
“companheiros de estrada” do Partido Comunista francês.

Essa decisão lhe custou também, aliás, outras amizades importantes, como a
de Merleau-Ponty – que se afasta denunciando o “ultrabolchevismo” do ex-parceiro
na revista  Les Temps Modernes.

Mészáros, de todo modo, exalta o exemplo de salutar intransigência “numa era


dominada pela evasão e pelo subterfúgio, pela acomodação e pela fuga; em suma, pela
autossegurança institucional reificada”, quadro assombrado, no limite, pelo risco de
um “suicídio coletivo”, tema apocalíptico recorrente nas obras do próprio autor de
Para Além do Capital e O Poder da Ideologia (ambos pela Boitempo), e em suas prédicas
contra o capitalismo em nossa era de crise globalizada.

Isso não implica adesão incondicional às teses existencialistas acerca da primazia da


subjetividade, do “para-si” humano, em relação ao “em-si” das coisas e ao
determinismo, seja biológico, seja psíquico (vide a recusa sartriana da psicanálise de
Freud) ou, ainda – e essa é a rota de colisão com o marxismo – histórico e econômico.

“Não adoto as ideias filosóficas de Sartre, mas compartilho plenamente de sua meta”,
afirma Mészáros, que reconhece um “verdadeiro companheiro de armas” no autor de
O Ser e o Nada. Este livro, salpicado de motivos niilistas e de alheamento da luta
política, recebe do crítico marxista dezenas de páginas de análise a mais cerrada e
honesta possível, mesmo ante teses as mais distantes do credo na luta de classes e na
reconciliação humana sob a égide do regime comunista.

Mesmo após abraçar o marxismo como “filosofia insuperável de nosso tempo”, o


filósofo do “inferno são os outros” (frase famosa da peça Entre Quatro Paredes, espécie
alegoria encenada de O Ser e o Nada)  não se libertou de um pessimismo que, no limite,
esvazia a mobilização concreta nas lutas da história.

Mas a tolerância de Mészáros, seu respeito e afeto pela pessoa e pela obra de Sartre,
mesmo nos extremos existencialistas da “Melancolia” (título original de A Náusea),
confirma as palavras de Franklin Leopoldo e Silva (USP), em texto incluído nesta
edição: o livro dá testemunho de uma “profunda afinidade política” e   “enorme
discordância filosófica”, paradoxo feliz por implicar “uma diferença produtiva, aquela
que ocorre entre figuras intelectuais comprometidas com a história e com a verdade,
no sentido concreto de que nessa relação se passa o drama da emancipação humana”.

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Distante de uma “sartrologia” academicista, Mészáros mostra o erro de dicotomia
rígida entre um “primeiro” e um “segundo” Sartre, antes e depois da experiência da
Resistência francesa e da vitória aliada na Segunda Guerra.  A periodização proposta
para as metamorfoses sartrianas “no interior de uma permanência” – a busca da
liberdade – é, nesse sentido, muito valiosa para a compreensão de continuidades e
rupturas entre os pólos contrastantes – mas sempre autorreferentes, enquanto
afrescos de uma personalidade intelectual poderosa e mutante e que se busca nos
objetos que investiga – de O Ser e o Nada (1943) e da Crítica da Razão Dialética, ou entre
A Náusea e O Idiota da Família, a magistral biografia sartriana sobre Flaubert.

Estamos longe também de qualquer conciliação forçada de Sartre com o marxismo ou


entre os termos da dificílima equação que Sartre investigou a vida toda,  mas que
legou não como resposta definitiva, mas como questão em aberto: a “busca da
liberdade” da singularidade existencial do indivíduo e o universalismo da condição
histórica ou do “desafio da história” – para evocarmos o subtítulo deste livro.

Mas é interessante o esforço do pensador em mediar uma aproximação pessoal e


intelectual entre Sartre e Lukács. Seu encontro com o francês, em 1957, teve esse
intuito. Se não alcançou completo êxito, a empreitada ao menos teve um efeito
concreto, pouco notado entre os comentadores sartrianos em geral: a mudança de tom
de Sartre com relação a Lukács em seu ensaio “Questão de Método” (quando levado
das páginas da Les Temps Modernes para a versão em livro, como prefácio da Crítica da
Razão Dialética).

Mézáros conseguiu convencer Sartre de que eram falsos os rumores de que Lukács
aderira ao governo estabelecido na Hungria pelos soviéticos após a repressão militar
ao levante de 1957.

“Naturalmente, as palavras furiosas e afrontosas de Sartre contra Lukács, já


publicadas na primeira versão de ‘Questão de Método’ em Les Temps Modernes, não
podiam ser apagadas. Mas, em nossa conversa, conforme contei a Lukács, Sartre
‘expressou um grande arrependimento, dizendo que se enganara tristemente, e me
prometeu que retiraria as palavras ofensivas quando o livro em si fosse publicado’, o
que de fato fez”.

Mészáros faz valiosas observações sobre uma das proezas maiores do existencialismo
sartriano: a articulação entre filosofia e literatura. Não se trata, como bem mostra, do
mero uso da ficção para ilustrar e popularizar teses abstratas, mas sim de uma
vocação, de um aspecto constitutivo  de um projeto intelectual que vê a filosofia como
“dramática por natureza”, ao mostrar que o homem é o que faz (ação está na
etimologia da palavra drama).

Trata-se, para ele, de uma filosofia da insurreição que, ante os mitos da sociedade
vigente, precisava contra-atacar também pela convocação dos poderes mitopoéticos
da imaginação.

Aliás, é muito interessante – e também raríssimo na bibliografia especializada – o


comentário de Mészáros sobre a importância dos mitos na dramaturgia sartriana, não
como uma recaída na nostalgia do arcaico – daí a oposição em relação a Lévi-Strauss,
num conflito que é tema de capítulo específico na obra –, mas como estratégia de
reinvenção.

“Reinvenção”, aliás, é central no universo de discurso e de pensamento sartriano,


conforme é demonstrado por Mészáros. Reinvenção, por exemplo, da idéia cristã de
inferno, em Entre Quatro Paredes – o inferno como o aqui e agora de nossa relação
claustrofóbica com os outros e com o status quo da sociedade – ou do tema grego de
destino na peça As Moscas.

Caio Liudvik é doutor em filosofia pela USP, autor de Sartre e o Pensamento Mítico
(Loyola) e tradutor de As Moscas (Nova Fronteira), de Sartre.

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