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GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES
INTERNACIONAIS
Instituto de Estudos Estratégicos
Ensaio Acadêmico
1.1 Idealismo
Essa corrente teórica não considera a guerra como instrumento: “a guerra é produto
de uma ‘falha de entendimento’2, os indivíduos, e, portanto, os Estados não a
desejam; as nações que, por alguma razão, não compartilham do interesse comum
na paz seriam irracionais e imorais”. Propõe, então, a criação de estruturas
institucionais internacionais, onde os Estados teriam um espaço de interação para a
resolução de conflitos sem recorrer ao uso da força, reconstituindo a ideia de
segurança coletiva – este seria o projeto da Liga das Nações como instituição
internacional da resolução diplomática de conflitos.
Carr não menospreza a utopia, pelo contrário, ele acha que “o desejo é o pai do
pensamento”, porém não se deve parar apenas na fase do desejo, pois um
pensamento focado apenas nessa fase é um pensamento ingênuo, imaturo. Por
outro lado, um pensamento focado apenas na análise é um pensamento de velhice;
o pensamento maduro deve combinar desejo + análise.
1 CARR, Edward Hallett, Vinte Anos de Crise: 1919 – 1939, pag 11. Brasília, Editora Universidade
de Brasília, 2001
2 CARR, Edward Hallett, Vinte Anos de Crise: 1919 – 1939, pag 37. Brasília, Editora Universidade
de Brasília, 2001
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comunidade, promove o seu próprio interesse” 3, derivando daí uma certa obrigação
ética de agir conforme haja mais benefícios para a comunidade como um todo.
3 CARR, Edward Hallett, Vinte Anos de Crise: 1919 – 1939, pag 59. Brasília, Editora Universidade
de Brasília, 2001
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O Livre comércio seria uma alternativa mais viável que os conflitos armados porque
se acreditava que a partir dele todos lucrariam. Entretanto, o liberalismo se mostrou
com expansão indeterminada, passando a visar a eliminação da concorrência. Logo,
a ideia de que o interesse individual é o mesmo do interesse do conjunto passou a
ser cada vez menos utilizado, pois nessa competição o interesse individual estava
acima da impossibilidade de prejudicar o próximo. Estabeleceu-se uma ideia de bem
comum que não se mostrou na prática, uma vez que passou a ser um disfarce para
os interesses de um pequeno grupo dominante do sistema internacional.
1.2 Realismo
Carr ressalta que “os três princípios essenciais, implícitos na doutrina de Maquiavel,
são as pedras fundamentais da filosofia realista” 4. Destaca-se em um primeiro
momento que a história é determinada por uma lógica de causa e consequência. O
“esforço intelectual” visa à compreensão da história, mas não é viável que haja a
44CARR, Edward Hallett, Vinte Anos de Crise: 1919 – 1939, pag 85. Brasília, Editora Universidade
de Brasília, 2001
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Quanto a Thomas Hobbes, filósofo e teórico inglês no século XVII, também se pode
perceber a profunda influencia que possui na corrente realista. Em sua obra O
Leviatã, de 1651, ele analisa o estado de natureza humano. Devido possuírem
vontades e em um determinado momento desejarem a mesma coisa, os homens
disputariam uns com os outros. Assim, a guerra e consequentemente a
demonstração de força seriam as formas para obter esses bens, como também para
obter a sobrevivência. Logo, o homem em seu estado de natureza é inclinado à
barbárie. Nesse sentido, conclui-se que Hobbes considera que as relações entre os
homens é anárquica e é exatamente dessa maneira que os realistas enxergam o
cenário internacional. A arena das Relações Internacionais, de acordo com esse
esquema interpretativo, reproduz o cenário hobbesiano de incerteza e guerra
perpétua de todos contra todos, no pré-civilizacional estado de natureza. Composto
por Estados soberanos, o Sistema internacional é palco propício para diversos
conflitos entre eles, a fim de manter sua soberania e sobrevivência. As estratégias
no âmbito da segurança são, então, de fundamental importância para os realistas.
5 CARR, Edward Hallett, Vinte Anos de Crise: 1919 – 1939, pag 85. Brasília, Editora Universidade
de Brasília, 2001
6 CARR, Edward Hallett, Vinte Anos de Crise: 1919 – 1939, pag 18. Brasília, Editora Universidade
de Brasília, 2001
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guerra, o que acaba gerando uma concorrência de poderio dos Estados. Há ainda a
questão da governabilidade, já que não existe nada acima dos Estados que possa
estabelecer a ordem. Carr afirma que “embora preponderante em termos lógicos,
não nos dá as fontes de ação que são necessárias até mesmo para o
prosseguimento do pensamento”7.
7 CARR, Edward Hallett, Vinte Anos de Crise: 1919 – 1939, pag 117. Brasília, Editora Universidade
de Brasília, 2001
8 CANAL RURAL, Crise no Brasil afeta acordo entre União Europeia e Mercosul.
9 FOLHA DE SÃO PAULO, Temer é gravado por dono da JBS em conversa sobre Cunha.
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internacionais. Uma das mais duras críticas ao atual governo brasileiro é a de não se
preocupar com suas relações exteriores como deveria. Talvez a crise econômica, e
sobretudo política, do Brasil exija uma maior “concentração de forças” na política
doméstica, subtraindo a pouca influência que a diplomacia exerce desde
acontecimentos recentes10.
É necessário que o Brasil assuma uma postura de saída dessa crise nos ambientes
externos e organizações multilaterais defendendo os seus interesses de Estado,
algo próximo do que já foi feito quando o país firmou a criação do Mercosul 11, junto
com a Argentina, o Uruguai e o Paraguai, e conforme foi se destacando como maior
influência no bloco. Da mesma forma que essa organização, no qual segurança
alimentar e energética são de extrema importância, representa uma alternativa às
organizações internacionais ao se apresentar com uma face de soberania sul-
americana, tratando com prioridades assuntos relativos a esses próprios Estados.
11 Embora tenha assumido, também, uma postura idealista ao fazer parte de um grupo de países que fundavam
uma organização internacional e multilateral. O mesmo pode ser inferido das evoluções políticas e
econoômicas do Mercosul, com a criação de um parlamento e do anseio por uma cadeira como membro efetivo
do Conselho de Segurança da ONU.
3. Considerações finais
Em conforme com o que foi apresentado, é crucial para que o Brasil, embora incline-
se ora para o idealismo, ora para o realismo, que assuma um plano de política
externa definitivo de interesse puramente nacional seja com a Europa ou com a
China, em confronto à quase paralisia atual da diplomacia brasileira.
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4. Referências Bibliográficas
CARR, Edward Hallett, Vinte Anos de Crise: 1919 – 1939. Brasília, Editora
Universidade de Brasília, 2001.
CANAL RURAL, Crise no Brasil afeta acordo entre União Europeia e Mercosul,
2017. Disponível em: http://www.canalrural.com.br/noticias/noticias/crise-brasil-afeta-
acordo-entre-uniao-europeia-mercosul-67925, acessado em 28 de junho de 2017.
FOLHA DE SÃO PAULO, Temer é gravado por dono da JBS em conversa sobre
Cunha, 2017. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/05/1884926-
audio-mostra-temer-dando-aval-a-compra-do-silencio-de-cunha-diz-jornal.shtml,
acessado em 28 de junho de 2017.