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A PRESENÇA DA CÓPIA NA ESCOLA: ESTRATÉGIA PARA Quando pretendemos colocar em prática um plano, convém pensar em

ENSINAR OU RITUAL MECÂNICO? estratégias. Devemos ter claros os objetivos que queremos alcançar com
tal plano. Assim, para que a cópia seja estratégia de ensino coerente,
Resumo: O presente artigo compreende um estudo acerca da presença convém que tenhamos objetivos claros. A cópia na escola deve ter
da cópia na escola. Seu objetivo foi mostrar como esta estratégia é usada finalidades objetivas, pois, se usada de forma velada, não conseguiremos
pelos professores em meio a determinada interação didática. O trabalho alcançar os objetivos, uma vez que estes estarão perdidos em meio a
tem como propósito mostrar que nem sempre a cópia pode ser utilizada tanto trabalho mecânico.
como estratégia de ensino, uma vez que deve haver objetivos claros para
usá-la em sala de aula, para não se tornar uma atividade mecânica, O presente artigo divide-se em cinco partes: na primeira discutiremos
exaustiva e sem finalidade. sobre a presença da cópia na escola; na segunda, as funções que a cópia
pode e exerce na escola; na terceira seção, mostraremos o porquê da
1- Introdução cópia na sala de aula e por último exporemos nossas considerações finais.
Comumente há o questionamento de pesquisadores quando o assunto é o Para tal intento, utilizamos a pesquisa bibliográfica a partir do tema
uso da cópia como estratégia de ensino. Muito se questiona se essa proposto, com o propósito de investigar o uso da cópia na instituição de
estratégia pode ser utilizada como recurso didático. Se utilizada de ensino/sala de aula.
maneira adequada e variada, a cópia pode servir no processo de ensino.
Entretanto, podemos perceber que, na maioria das vezes, esta é usada de Se reconhecermos que a cópia é somente uma das atividades que
maneira mecânica, ou seja, os estímulos e respostas são os mesmos, contribuem para a aquisição da escrita, se a incluirmos como recurso para
caindo em um ensino comportamentalista. A cópia envolve estímulos e resolver problemas de produção, se não esperarmos que o resultado seja
respostas motoras, tendo como produto, a reprodução dos estímulos cópia fiel do modelo e apreciarmos as diferenças como expressão da
textuais. De acordo com Mizukami (1998) o comportamento é atividade intelectual dos nossos alunos no processo de reprodução; então,
modelado/moldado a partir de algum estímulo, caracterizando assim, uma podemos dar lugar à cópia no processo de ensino.
metodologia tradicionalista, mecanicista.
2- A presença da cópia na escola
A cópia está arraigada de tal forma na metodologia de alguns professores As pesquisadoras Ana Claudia da Silva e Rosemeire Carbonari (1998)
que, mesmo os alunos das escolas estaduais, particulares e municipais fizeram uma pesquisa em quinze escolas, em salas de 3ª, 5ª e 8ª séries,
terem à sua disposição livros didáticos, os professores ainda fazem uso da em que constatou-se que a cópia é fortemente utilizada para que os
cópia em suas respectivas aulas. A desculpa de muitos, quando se trata alunos desenvolvam habilidades motoras e de memorização ortográfica.
da cópia, é que, às vezes, os livros, os materiais os quais os alunos têm Foram constatados 366 episódios de cópia, sendo que a maioria ocorreu
acesso, não têm determinado texto, determinada atividade pedagógica, em escolas estaduais. Dentre esses episódios, foram constatadas diversas
logo, fazem uso da cópia como forma de transmissão desses textos, como funções as quais a cópia exerce. Às vezes, em um mesmo episódio, a
nos dizem Carbonari e Silva (1998). cópia pode exercer mais de uma função.

Sabemos é claro que, muitas vezes, os professores procuram incrementar Na pesquisa realizada pelas professoras Carbonari e Silva (1998),
suas aulas, suas atividades, levando outros materiais. Contudo, não é diversas foram as funções as quais a cópia pode exercer, entretanto, uma
necessário que esses complementos sejam copiados pelos alunos, uma delas nos chama a atenção: a cópia como recurso disciplinar e/ou punitivo.
vez que algumas escolas disponibilizam impressões aos professores para Considerando a cópia como punição ou meio para manter a disciplina de
diminuir a perca de tempo. Levar materiais extras é de grande valia, mas uma sala de aula, podemos fazer uma analogia à abordagem
fazer com que os alunos os copiem é, na maioria das vezes, perca de comportamentalista, cujo objetivo era modelar o comportamento dos
tempo. alunos de acordo com as aspirações do docente.
Quando falamos em sala de aula comportada, nos vem à mente uma sala a revisão sobre a metodologia, que de acordo com Libâneo (1995, p. 177)
na qual os alunos respeitam o professor, fazem a lição, ficam quietos. Hoje
em dia, as salas de aula são dinâmicas. O mundo é dinâmico. Somos a Na escola, a aula é a forma predominantemente de organização do
todo o momento, bombardeados por informações e nossos alunos chegam processo de ensino. Na aula se criam, se desenvolvem e se transformam
à sala agitados, prontos para expor aquilo que ouviram e viram fora da as condições necessárias para que os alunos assimilem conhecimentos,
escola. Assim, o professor inevitavelmente, perde de certa forma o habilidades, atitudes e convicções e, assim, desenvolvem suas
controle da classe, pois todos falam ao mesmo tempo (no mínimo 30, se capacidades cognoscitivas.
pensarmos em escolas públicas).
Uma aula para ser considerável boa, deve propiciar meios com os quais os
Mas, voltando à sala de aula disciplinada, nos questionamos como os alunos possam criar, assimilar, transformar e desenvolver conhecimentos,
professores há algum tempo atrás, conseguiam manter a disciplina de sua uma vez que a escola é, efetivamente, o lugar no qual são oferecidas tais
sala. Quem pode nos responder essa indagação é Mizukami (1998, p.20) condições. Entretanto, professores usam a cópia em suas aulas de
maneira a reduzir esse conceito de aula. Não é copiando que os alunos
Os modelos são desenvolvidos a partir da análise dos processos por meio aprendem a ler e escrever, mas sim em situações reais de comunicação.
dos quais o comportamento humano é modelado e reforçado. Implicam Situações contextualizadas que levem o aluno a saber ler e escrever não
recompensa e controle, assim como o planejamento cuidadoso das só na escola, mas fora dela também.
contingências de aprendizagem, das sequências de atividade de
aprendizagem, e a modelagem do comportamento humano, a partir da 3- As funções que a cópia pode exercer
manipulação de reforços, desprezando os elementos não observáveis ou
subjacentes a este mesmo comportamento. No estudo feito pelas pesquisadoras Ana Claudia da Silva e Rosemeire
Carbonari (1998), foi possível verificar as funções que a cópia exerce,
A citação acima revela como muitos professores há tempos atrás, como;
conseguiam manter a disciplina dos alunos em suas aulas através da
manipulação, modelagem do comportamento. Desta forma, podemos - recurso didático-pedagógico: neste tipo de recurso, a cópia se
muito bem associar a cópia ao comportamentalismo das seguintes formas: manifesta através, por exemplo, dos exercícios de treino ortográfico, cuja
primeiro, se não houver objetivos a serem alcançados com a cópia e finalidade principal é fazer com que o aluno memorize a correta grafia das
segundo, se a cópia exercer efetivamente a função disciplinadora. Será palavras, reduzindo, assim, sua margem de erro na produção de um texto
que é copiando que se aprende a escrever bem? Certamente não, pois a escrito. Porém, como se trata de um exercício puramente mecânico,
cópia leva à mecanização, ao desenho de símbolos (palavras), à muitas vezes, os alunos acabam copiando vocábulos errados, pela falta de
codificação e não à reflexão. Escrever, assim como ler, é exercício que atenção.
envolve raciocínio e experimentação e não apenas codificação e
decodificação. A cópia é uma prática que sem dúvidas, faz parte da - recurso “técnico- instrumental”: utilizada como esse recurso, a cópia é
atmosfera escolar, contudo, fora dela, a cópia ocupa um espaço pequeno. um instrumento de transmissão e circulação dos diversos tipos de textos.
Copiamos receitas, números de telefones, endereços, pensamento de
determinado autor. Porém, não é copiando que aprendemos a escrever - forma de preenchimento de tempo: os casos em que a cópia exerce a
textos. função de preenchimento de tempo ocorrem, basicamente, quando o
Muitos professores não mudaram sua metodologia. Muitas escolas (assim professor é obrigado a adiantar aula em outra sala e, a fim de deixar seus
como muitos professores) acreditam em um ensino tradicional, ou seja, no alunos ocupados, solicita a um aluno que passe um texto na lousa ou
qual o aluno é passivo. Contudo, na contemporaneidade, o professor deve mesmo quando o professor não preparou sua aula.
ter uma visão mais ampla dos conceitos de ensino e aprendizagem. Ao
rever sua visão sobre o ensino e aprendizagem, o professor deve envolver
- recurso disciplinar e/ou punitivo: a cópia utilizada como este recurso, Percebemos que os professores, de certa forma, tendem a seguir um
serve para “acalmar os alunos”, ou mesmo como castigo. Este tipo de modelo de ensino tradicional, mesmo sendo ultrapassado, no qual
recurso está associado à utilização da cópia como recurso de Mizukami (1986) relata que
preenchimento de tempo, pois enquanto os alunos estão copiando as
inúmeras atividades do livro didático o professor consegue manter a A reprodução dos conteúdos feita pelo aluno, de forma automática e sem
disciplina da sala. variações, na maioria das vezes, é considerada como um poderoso e
suficiente indicador de que houve aprendizagem e de que, portanto, o
- registro de conteúdo: designa-se aqui, a cópia de textos e exercícios produto está assegurado. A didática tradicional quase que poderia ser
contidos em materiais que o aluno tem à sua disposição, geralmente no resumida, pois, em “dar a lição” e em “tomar a lição” (p.15).
livro didático adotado. Nesses casos, muitas vezes, ocorrem várias
funções concomitantemente, ao passo que causa uma falsa impressão de Se na escola há materiais, geralmente os livros didáticos, à disposição dos
produção, de trabalho cumprido. alunos, a cópia de seus conteúdos se tornam unidades de ensino
incoerentes, pois os alunos têm acesso aos livros, os pertencem. Em
Essas funções não se encontram necessariamente isoladas. A cópia pode muitas escolas, a quantidade de livros é inferior ao número de alunos,
exercer, e efetivamente exerce, mais de uma função concomitantemente. entretanto, não justifica a prática constante da cópia, ao passo que o
professor pode formar grupos e usar os livros didáticos existentes na
4- Por que da cópia? escola para determinada série.
Às vezes nos perguntamos o porquê de várias coisas. Em relação à cópia,
não é diferente. Mas podemos dar uma, mas não a única, resposta a essa A cópia pode sim, ser usada como estratégia de ensinar, desde que seja
questão. Muitas vezes os professores são orientados a prepararem seus usada de forma diversificada, para que não se torne algo mecânico e
próprios materiais. Assim, utilizam a cópia como recurso “técnico- cansativo. Deve haver um objetivo a ser alcançado com a cópia. Por
instrumental”, uma vez que somente ele possui o material. De acordo com exemplo, qual seria a contribuição que a cópia traria a um aluno que teve
CARBONARI; SILVA (1998, p. 100) de copiar duas páginas de exercícios do livro didático pela balbúrdia
causada na sala de aula? Nenhuma, pois esse aluno não estará
É nas escolas estaduais que a cópia desempenha uma quantidade mais produzindo, apenas reproduzindo por obrigação.
diversificada de funções. Um mesmo episódio, em alguns casos, possui Muitos professores acreditam que, com a cópia, os alunos podem diminuir
mais de uma finalidade, como se verifica nos exercícios de treino os erros ortográficos. Porém, é somente em práticas significativas que o
ortográfico, que não são usados somente para treinar ortografia, mas aprendizado de uma língua acontece. “O domínio de uma língua, repito, é
também para “acalmar os alunos”, preencher tempo e até mesmo para o resultado de práticas efetivas, significativas, contextualizadas”
corrigir pronúncia de palavras ditas incorretamente. (POSSENTI, 2002, p. 19). Sendo a cópia um exercício mecânico, alguns
alunos acabam copiando vários vocábulos de forma errada, pois não
Mas nas escolas estaduais, não existem os livros didáticos, os quais prestam atenção ao que se copia. De acordo com Possenti (2002, p.49)
pertencem aos alunos? Então para que fazê-los copiarem conteúdos que
eles já têm acesso? Essas indagações podem ser respondidas da Falar é um trabalho (certamente menos cansativo que outros). Ler e
seguinte maneira escrever são trabalhos. A escola é um lugar de trabalho. Ler e escrever
Sob pretexto de que o livro não pertence aos educandos, por ele são trabalhos essenciais no processo de aprendizagem. Mas, não são
geralmente ser doado pela FAE, os professores os submetem à prática exercícios. Se não passarem de exercícios eventuais, apenas para
constante da cópia de grande parte das lições e exercícios que nele avaliação, certamente sua contribuição para o domínio da escrita será
constam. Tal procedimento se dá em todas as séries, mas ocorre praticamente nula.
principalmente na 3ª e na 5ª. (CARBONARI; SILVA, 1998, 101)
O que Possenti (2002) quis dizer na citação acima é que a escola é um
lugar de trabalho e que ler e escrever são trabalhos. No entanto, se ler e pois a realização sonora da palavra escrita não implica necessariamente a
escrever não passarem de exercícios eventuais e sem fins, sua consciência daquilo que está sendo reproduzido. Agindo dessa forma, a
contribuição será mínima, ao passo que é a partir de situações escola, em vez de formar leitores críticos, capazes de se moverem
contextualizadas e pensadas, que o domínio da leitura e da escrita se livremente dos significados específicos para os gerais, dos significados
efetiva. A cópia usada de forma inadequada faz com que os alunos superficiais e literais para os implícitos, forma apenas leitores acríticos.
apenas reproduzam o que leem na lousa/quadro ao invés de produzirem.
Vários são os alunos que sabem copiar o que o professor passa na lousa, Percebemos certa incoerência entre a proposta da escola e as práticas
porém, não sabem ler, pois o exercício de copiar se tornou tão frequente, pedagógicas, pois em seus planejamentos e replanejamentos, a escola
que ele não consegue atribuir sentido àquilo que é copiado. Copiar para propõe formar indivíduos críticos, aptos a se afirmarem no mundo.
esse aluno se tornou algo tão mecânico, que ele nem precisa pensar,
refletir sobre aquilo que é copiado. Ao mesmo tempo em que se propõe formar indivíduos críticos, como
demonstram os planejamentos anuais, a escola, paradoxalmente, faz uso
Os professores devem pensar em maneiras corretas de inserir a cópia em de recursos didáticos que levam à automatização dos alunos e, quando
suas aulas. Talvez essa fosse uma das melhores soluções, uma vez que a tenta reverter esse quadro, esbarra nas dificuldades apresentadas pelos
maioria acha que a cópia propicia bons resultados ao ensino e à próprios educandos em aceitar um novo tipo de postura, já que têm
aprendizagem dos alunos. De nada valerá a cópia de três páginas de incorporado outro comportamento (CARBONARI; SILVA, 1998, p. 112).
exercícios do livro didático se o aluno não for capaz de produzir por si
mesmo um bom texto. A cópia, em algumas circunstâncias, torna-se Mais uma vez caímos na questão do comportamento, do condicionamento.
necessária, mas com muita cautela. Os alunos, por estarem acostumados com o modo de aprender instaurado
pela escola, pelos professores, não sabem como agir perante situações
4.1- Algumas reflexões acerca da cópia nas quais são exigidas capacidades e habilidades que neles não foram
construídas. Portanto, repito, é de extrema importância para a escola e
Na escola, para os professores, pensarem, refletirem, planejarem, replanejarem
sempre suas aulas, seus métodos, se realmente o desejo for formar
A cópia está de tal forma disseminada na instituição escolar que, em sujeitos autônomos, críticos, com capacidade de responderem às
alguns casos, tem chegado a substituir até mesmo o precário trabalho de exigências cobradas dentro e fora da escola. Para formarmos
leitura, incluindo aquele caracterizado pela simples emissão de voz do alunos/sujeitos críticos é de suma importância refletir sobre nossas
aluno, em que não ocorre produção de sentido (CARBONARI; SILVA, próprias práticas.
1998, p. 109).
Ao falarmos da cópia, logo nos vem à cabeça a produção textual. A cópia
A citação acima retrata muito bem a situação da cópia nas escolas. Muitas não leva o aluno a redigir textos, ao passo que para produzirmos textos é
vezes, a cópia substitui a leitura em sala de aula, uma vez que os alunos necessário criarmos textos e não reproduzir modelos fiéis. Entretanto, ao
apenas reproduzem o que lhe é solicitado sem a menor preocupação em copiarmos um texto, um número de telefone etc., não é permitido pular
ler o que se copia. frases, mudar letras, esquecer pontos, vírgulas, mas sim, reproduzir de
Quanto à cópia e a leitura são apropriadas as palavras de CABONARI; forma fiel o que pretendemos copiar para que não mudemos o sentido do
SILVA (1998, p. 111) que está sendo copiado, afinal, estamos copiando algo que alguém
escreveu.
Tomando-se os atos de leitura e escrita como forma de conhecimento do
homem e do mundo, a atividade motora de copiar não leva o aluno a Muito se fala sobre o fracasso escolar, de que muitos alunos saem da
atribuir valores ao que transcreve, pois ele não reflete sobre o que copia. escola sem saber ler e escrever. Isso é verdade. Há um grande número de
Também a leitura oral mecanicista não contribui para tal conhecimento, alunos que terminam o ensino médio, mas não sabem interpretar um texto
e muito menos redigir um texto de maneira adequada. uma vez que somente o professor tem conhecimento do que foi escrito
É papel fundamental de a escola formar leitores e escritores, pois são pelo aluno. Os professores acabam falsificando a produção de textos- já
habilidades extremamente cobradas fora e dentro da escola. Todavia, isso que são produzidas redações- causando nos alunos a impressão de
quase não ocorre, uma vez que muitos professores continuam ensinando estarem escrevendo textos.
a partir de métodos, concepções que quase não obtém resultados
significativos. Como nos diz Trevisan (1998) Podemos pensar em qualquer tipo de texto: oral ou escrito. Mas em se
tratando do escrito, caracterizamos como algo social, com função e
A metodologia frequentemente utilizada pelos professores do ensino estrutura próprias. Na escola, a produção de textos é muito escassa,
fundamental escolar tem se apoiado exclusivamente, na organização talvez, o resultado desse fracasso pode vir da concepção de texto do
formal da aula, isto é, na utilização da metodologia como mera seleção e professor (muitos acham que texto é um aglomerado de frases
organização sequenciada de passos (atividades cronometradas) para se organizadas e com sentido) e de sua metodologia. Para desenvolver
chegar a um fim, ou seja, para se chegar ao cumprimento do conteúdo qualquer atividade na sala de aula, o professor deve esclarecer o propósito
programático (p.35-36). de tal atividade, para que os alunos atribuam sentido àquilo.

Em se tratando de “metodologia como mera seleção e organização de É necessário mudar o processo de ensino da língua escrita, pois hoje se
passos para se chegar a um fim”, logo relacionamos a cópia a essa tem um novo conceito de leitura e escrita, e de letramento, que vai além do
concepção de metodologia, pois os professores utilizam a cópia para conceito de alfabetização. De acordo com Soares (2001, p.3), letramento
chegar a alguns fins: treinar a coordenação motora, melhorar a caligrafia significa o estado e condição de quem não só sabe ler e escrever, mas
(pois acreditam que seguindo modelos os alunos podem “introjetar” as exerce as práticas sociais de leitura e escrita na sociedade na qual vive.
formas corretas de se escrever- mesmo os professores sabendo que há
variações linguísticas), manter a disciplina da sala e como meio punitivo. Uma pessoa letrada, portanto, não é apenas aquela que sabe ler e
escrever, pelo contrário, é aquela que sabe fazer uso da leitura e da
Voltando a produção textual, sabemos que a cópia nada mais é do que a escrita nas práticas sociais de sua vida. É necessário desenvolver a
reprodução fiel de determinado texto. Será que a cópia auxilia na produção competência da leitura, ou seja, formar leitores proficientes, e da escrita,
textual? De que forma? formando escritores críticos de todos os tipos de textos.
De acordo com Geraldi (1997, p. 137)
Primeiramente, devemos fazer a distinção entre redação e texto. Segundo
Geraldi (1997), as redações seriam textos produzidos na e para a escola; para produzir um texto (em qualquer modalidade) é preciso que:
já os textos seriam produzidos na escola, porém com intenções. a) se tenha o que dizer;
Será que quem copia produz redações ou textos? Para que se redigem b) se tenha uma razão para dizer o que se tem a dizer;
redações? E textos? Qual é o critério de produção de ambos? c) se tenha para quem dizer o que se tem a dizer;
A resposta para o motivo da produção de redações na escola é unânime: d) o locutor se constitua como tal, enquanto sujeito que diz o que diz para
para obter nota e “verificar” a escrita dos alunos. Contudo, a temática é quem (ou, na imagem wittgensteiniana, seja um jogador no jogo);
sempre a mesma, quando não é “Minhas férias”, é o “Dia das mães” etc. e) se escolham as estratégias para realizar (a), (b), (c) e (d).
Essa redação só será lida pelo professor que terá como trabalho corrigir os
diversos erros (já que os alunos apenas copiam modelos considerados São os aspectos acima mencionados que são levados em consideração
corretos, ao invés de produzirem) e atribuir-lhe uma nota. Muitas vezes o no ato de produzir um texto. Contudo, para redigir uma redação, o aluno
aluno não tem nem o trabalho de ler as anotações feitas pelo professor. não leva em consideração estes aspectos, pois já sabe que somente o
Na maioria dos casos, após a correção do docente, o aluno logo joga esse professor lerá seu “texto”.
“texto” no cesto de lixo. Provavelmente o aluno tomará uma atitude
dessas, pois ele não vê um propósito para a realização daquela atividade, Além disso, muitas redações produzidas em sala de aula são feitas de
forma a agradar o professor. Em outras palavras, às vezes o aluno nem que é solicitado. Além disso, essas “máquinas” são falíveis, pois distorcem
teve férias maravilhosas (se o tema for “Minhas férias”), mas é obrigado a algumas palavras, cometendo erros ortográficos e gramaticais.
realizar tal atividade, pois todos estão fazendo e ele também precisa de
nota. Assim, os alunos se apropriam de textos copiados anteriormente Referências bibliográficas
com a mesma temática e acabam transcrevendo no papel e entregando
para o professor. A atividade então se torna artificial para o aluno, já que CARBONARI, Rosemeire e SILVA Ana Claudia da. Cópia e leitura oral:
na verdade ele não teve uma experiência efetiva de férias. estratégias para ensinar? In: CHIAPPINI, Ligia (coord.) Aprender e ensinar
com textos didáticos e paradidáticos. São Paulo: Cortez, 2001.
5- Considerações finais GERALDI, João Wanderley. Portos de passagem. 4ª Ed.- São Paulo:
Com base no que discutimos anteriormente, podemos constatar que a Martins Fontes, 1997.
escola e os professores em sua maioria, continuam persistindo em um LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Ed Cortez, 1995.
ensino tradicional, visando apenas a transmissão de conteúdos. LUCKESI. C.C. Avaliação da aprendizagem Escolar, 17. ed, São Paulo,
Cortez 1998.
Não queremos aqui dizer que o uso da cópia em sala de aula é um crime. MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo.
Pelo contrário, queremos refletir sobre essa prática, pois ela, a cópia, pode São Paulo: EPU, 1986.
sim ser usada como estratégia de ensino. Para que a cópia seja POSSENTI, S. Por que (não) ensinar gramática na escola. 9 reimp.
trabalhada de modo a propiciar a aprendizagem dos alunos, ela deve ter Campinas: Mercado das Letras, 2002.
um objetivo, um propósito, como qualquer atividade que pretendemos SOARES, Magda. (2001). Letramento: um tema em três gêneros. 2ª ed. B.
aplicar em nossos alunos. H.: Autêntica.
TREVISAN, Z. As malhas do texto. São Paulo: Clíper Editora, 1998.
Os professores podem tomar como exemplo as escolas particulares, uma
vez que nelas os alunos fazem pouco uso da cópia, pois usam os CLEBER FERREIRA GUIMARÃES FERREIRA
Graduado em Letras (português/inglês) pela Faculdade de Presidente Prudente, UNIESP (2013), pós-
chamados “livros consumíveis”, que diminuem o trabalho e o tempo de graduando (lato sensu) em Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e Literatura pela Uniasselvi e
copiar. Além disso, nas escolas público-estaduais do Estado de São Paulo Mestrando em Educação na Universidade do Oeste Paulista, UNOESTE . Professor tutor presencial do
curso de Letras na Anhanguera, polo de Mirante do Paranapanema, SP.
há os cadernos dos alunos, os quais pertencem aos alunos. O caderno do
aluno na rede estadual de São Paulo veio para facilitar o ensino, diminuir o
exaustivo trabalho de copiar extensos textos. Assim, os alunos resolvem
os exercícios no próprio caderno do aluno sem que haja o trabalho de
estar copiando textos, atividades no caderno a parte.

A cópia por ser algo meramente mecânico, pode acabar fazendo com que
nossos alunos sejam moldados, ou seja, condicionados a copiar. A prática
da cópia pode ser relacionada com a concepção de ensino
comportamentalista, na qual, segundo Mizukami (1986) o professor molda
o comportamento do aluno através de exaustivas atividades repetitivas.
Nessa concepção de ensino, o professor tem a responsabilidade de
manusear e planejar o processo de aprendizado de forma que o aluno
aprenda igualmente. O aluno é visto como máquina, uma vez que todos
devem ter o mesmo comportamento. Dessa forma, se a cópia for utilizada
de maneira indevida, o professor fará com que seus alunos se tornem
“máquinas de cópias xerográficas”, as quais apenas reproduzem aquilo o

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