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Sociedade
Amazonas

A Funai e a farsa da política dos


"índios isolados"
por Felipe Milanez — publicado 27/01/2016 05h55

Antropóloga Barbara Arisi relata o conflito no Vale do Javari (AM) e critica


a falta de diálogo entre o governo e os povos indígenas da região
Divulgação/Associação Indígena Matís

Após conflito com "isolados", índios Matis ocupam sede da Funai em Atalaia do Norte
(AM) e cobram diálogo com o órgão federal

Barbara Arisi é antropóloga, professora de


etnologia indígena da Universidade Federal
da Integração Latino-Americana (Unila) e trabalha há uma década junto aos Matis, povo
que vive no Vale do Javari, no Amazonas.

Sua dissertação sobre a relação dos Matis com os indígenas em isolamento voluntário
Korubo é referência para se pensar a política pública sobre os “índios isolados” e o
respeito aos povos indígenas (pode ser acessada no repositório da UFSC).

No ano passado, os Matis contataram um grupo Korubo classificado como “isolado” pela
Funai — uma classificação que, como mostra o trabalho de Arisi, tem um sentido
diferente para os Matis.

Essa aproximação diplomática entre os povos que possuem diferentes relações com o
Estado brasileiro foi envolta de conflitos e tensões, intensificadas nos últimos anos e
resultando em mortes de ambos os lados.

Os Matis, que nesse momento ocupam a sede da Funai no município amazonense de

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Abaixo, artigo escrito por Arisi para a coluna, um texto fundamental para se avançar no
debate sobre a política indigenista do órgão e o respeito aos direitos dos povos
indígenas.

Índios Matis reivindicam participação nas decisões a respeito dos Korubos, povo
em isolamento voluntário que entrou em contato com a etnia e a Funai em 2014

Funai e sua política de índios ignorados

Por Bárbara Arisi

A Funai costuma se congratular por realizar uma política indigenista inovadora,


propagandeada como sendo única no mundo, destinada a proteger os povos indígenas
que vivem em isolamento (ou isolamento voluntário como o movimento indígena
prefere referi-los).

A verdade é, porém, que essa política não tem sido efetiva para proteger os "isolados".
Mas tem sido eficaz em ignorá-los e jogar o problema de sua sobrevivência e autonomia
para debaixo do tapete.

Os povos indígenas que vivem em isolamento estão em situação de extrema


vulnerabilidade e risco, numa floresta que vem sendo devastada por grandes projetos
financiados com dinheiro público.

No caso do Vale do Javari, no Amazonas, isso ocorre tanto no lado brasileiro, quanto no
peruano da fronteira, além da exposição de ambos a incursões do narcotráfico. Os
governos dos dois países não têm políticas de defesa dos interesses indígenas, embora
sejam considerados “de esquerda”.

O governo brasileiro tem apenas promovido, de forma assistencialista, mais


dependência por parte dos povos indígenas em relação ao Estado. Além disso, os
governos de Dilma Rousseff e de Evo Morales, na Bolívia, investem no que vendem
como "desenvolvimento" da região às custas da extração de madeira e petróleo, o que
vem causando desmatamento, especialmente acelerado no Peru de Ollanta Humala.

No Vale do Javari, rio que divide Peru e Brasil, está localizada a segunda maior terra

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Trata-se de uma vasta área de floresta bastante preservada onde vivem cerca de 5.750
índios que têm contato com os demais brasileiros e também onde se encontra a maior
população de índios considerados "isolados" do mundo.

Nesse cenário de extrema beleza natural – onde foram gravados diversos


documentários para canais internacionais como National Geographic e BBC – vem
sendo travada uma guerra entre dois povos que possuem uma longa história em
comum: os Matis e os Korubo.

Ambos os povos são conhecidos internacionalmente e popularizados, graças aos


diversos filmes e reportagens feitos a seu respeito.

Os Matis mantém contato com o governo brasileiro desde 1976, quando a Funai
auxiliou a Petrobrás a realizar perfurações para avaliar a existência (ou não) de petróleo
na região. A frente de atração na época foi de tal forma improvisada que sequer o
motor do peque-peque funcionava. Nessa ocasião, estima-se que dois terços da
população matis tenha morrido como decorrência do contato.

Em 1996, os Matis aceitaram participar de outra frente de atração, dessa vez destinada
a contatar os índios Korubo que viviam próximos ao local onde a Funai planejava
instalar um frente de vigilância da terra indígena na confluência dos rios Ituí e Itacoaí,
para evitar invasão de caçadores e madeireiros.

Hoje, os Matis e outros povos indígenas trabalham em situação de penúria


administrativa de recursos e precariedade, junto a outros servidores do governo
brasileiro, nessa frente de proteção, onde também é realizado o atendimento de saúde
para o pequeno grupo de índios Korubo contatado em 1996.

O ano de 2016 começou intenso no Vale do Javari. Nessa última semana, o movimento
indígena ocupou a sede da Funai no município de Atalaia do Norte e exigiu a renúncia
do responsável local, a fim de conseguir o diálogo entre o órgão federal e os índios.

Como é costume, os servidores que estão na ponta do atendimento sofrem as


consequências de uma política pública mal planejada e gerida a partir de Brasília,
distante das bases.

Os índios Matis querem ser ouvidos pela Funai, sobretudo porque dois homens de seu
povo foram mortos pelos isolados em dezembro de 2014, possivelmente ocasionando a
morte de outros tantos Korubo que ainda viviam em isolamento.

É hora da política de ignorar os índios voltar a ser aquilo que foi conquistado pelos
sertanistas e servidores da Funai em 1987. Uma política que não ignora os índios, mas
protege os povos em isolamento. Os Matis querem participar das decisões sobre os
vizinhos Korubo, de quem são também parentes.

O movimento indígena pede agora que exista um diálogo efetivo dos servidores de
Brasília e das coordenações locais com o movimento indígena. O diálogo parece ser o
primeiro passo para o fim de uma política de “índios ignorados”.

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