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Gabriel Fontenelle Micas - Intervenção em Crise - 13/0009083 - Marcelo Tavares e Merilane

Fichamento nº4 de Texto de Meleiro e Bahls (2004)

O presente texto busca abordar a o conceito de suicídio, assim como seus conceitos correlatos,

como intenção, ideação suicida, tentativa de suicídio, instinto, motivação, vontade, necessidade,

impulso, etc. Ao longo do texto, são expostas diferentes formas de abordagem a esse tema,

proporcionando ao leitor, assim, a visão de que ainda se carece um concesso conceitual nessa área de

pesquisa. Devido à brevidade desta presente resenha, irei comentar apenas em 2 tópicos trazidos no

texto que me chamaram a atenção.

Um dos pontos é sobre a origem do comportamento suicida, que possui diferentes fatores. Se

faz extremamente necessário o cuidado em relação ao reducionismo encontrado em diferentes áreas de

saber e, no momento que estamos lidando com um indivíduo que pode se matar caso não consigamos

ver amplamente todos os fatores de seu sofrimento, essa necessidade se faz mais urgente ainda.

Felizmente, essa perspectiva é consoante em relação à atual visão da Política de Saúde Mental no

Brasil, aonde, diante de um indivíduo multidimensional, se faz necessária uma equipe

multiprofissional para melhor atendê-lo. Infelizmente, também é necessária a constatação de que,

apesar dessas perspectivas terem sido conquistadas legislativamente nas últimas décadas, ainda

existirá, por um bom tempo, um legado sócio-histórico de antigas visões reducionistas que ainda

perduram no tecido social. Um exemplo seria a redução de todo um sofrimento biopsicossocial à

questão biológica de uma doença, perspectiva inaugurada por Pinel, ao desacorrentar os loucos.

Vemos isso nas mídias, nas conversas no dia-a-dia, e até dentro dos serviços do CAPS. Digo isso por

experiência própria, em um grupo de escuta que participo no CAPS II Paranoá. Os próprios usuários

questionando a necessidade de ir ao grupo de escuta, sendo que apenas precisam do remédio. Os

usuários sempre falando de seu sofrimento como apenas uma doença, não vendo os outros fatores.

Assim sendo, acredito necessária a pontuação de que, mesmo com a proposição neste texto e com as
conquistas político-legislativas no sentido de uma visão multidimensional do sofrimento, se faz

necessária uma luta constante no dia-a-dia para alterar o tecido social construído durante de séculos.

É importante ressaltar os pontos trazidos sobre o relacionamento com o sofrimento: a

existência de uma baixa tolerância e aceitação do sofrimento, o que acaba por interferir na própria

regulação emocional, causando um sentimento de falta de controle, algo muito como em pessoas com

o comportamento suicida. Numa visão sócio-histórica, percebemos facilmente: vivemos em uma

sociedade extremamente hedonista, aonde é glorificado o consumo, o prazer e status-social, os três a

qualquer custo e a curto-prazo, independente das futuras consequências individuais e coletivas. E

aonde, no outro lado da mesma moeda, é evitada a conversa e, se quer, a ponderação sobre a morte e

sofrimento. Através da ótica evolucionista, também enxerga-se uma predisposição genética da espécie

para tanto, aonde a busca a qualquer custo por prazer, e a fuga de estímulos desagradáveis, garantiu a

sobrevivência e perpetuação da espécie. No entanto, conforme Tavares & Werlang (2012), um

posicionamento de resolução de crise, enxergando-a como um desafio e possibilidade de aquisição de

um equilíbrio psicodinâmico de maior qualidade, confere uma menor possibilidade de

desenvolvimento de vulnerabilidades futuras para o usuário. Assim, se faz necessária a aquisição de

recursos cognitivos e emocionais em relação a alguns aspectos da vida. O que entendo por serem tais

recursos cognitivos e emocionais? O bem-estar é uma busca primordial do ser humano, porém,

conforme Wallace & Shapiro (2006), quando o baseamos apenas na busca incessante por eventos e

estímulos prazerosos, e fuga dos desagradáveis, estaremos bastante suscetíveis à ansiedade e ao medo,

devido ao fato de, fatalmente, tais objetos desaparecerem ou surgirem, respectivamente. Sendo assim,

apesar de ser extremamente saudável viver os prazeres da vida, e evitar a dor, não devemos basear

nosso bem-estar nisso: se faz necessário o reconhecimento da transitoriedade de eventos da vida, para

desenvolvermos uma melhor resiliência a eventos estressores, como ressaltado em Meleiro e Bahls

(2004). Dessa forma, almeja-se uma visão de mais contentamento em relação a vida, através do

cultivo de uma mente balanceada, conforme melhor explicitado em Wallace & Shapiro (2006).

Existirá, assim, um melhor entendimento da inevitável existência de sofrimento na vida, não


acreditando dramaticamente que a vida está sendo injusta consigo, e preservando, assim, uma atitude

básica em relação à crise de menos negação e resistência à mudança.

Referências:

Meleiro, A. M. A. S., & Bahls, S. C. (2004). O comportamento suicida. Meleiro A., Teng.C.T., &

Wang Y.P., (org). ​Suicídio: estudos fundamentais. São Paulo: Segmento Farma Editores, 13-36.

Tavares, M. & Werlang B. S. G. (2012). O conceito de crise na Clínica da Intervenção em Crise.

Viana, T. D. C., Diniz, G. S., Costa, L. F., & Loyola, V. M. Z. (org). ​Psicologia clínica e cultura

contemporânea. Brasília: Liber Livros, 470-493.

Wallace, B. A., & Shapiro, S. L. (2006). Mental balance and well-being: building bridges between

Buddhism and Western psychology. ​American Psychologist, 61(7), 690.

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