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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA


FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

DISCENTES: Felipe Desconzi (Vespertino)


DOCENTE: Profª Dra. Regina Claudia Laisner
DISCIPLINA: Teoria Política

RESENHA CRÍTICA – MICHAEL WALZER

No primeiro capítulo de seu livro “Esferas da Justiça: uma defesa do pluralismo e da


igualdade”, Michael Walzer tem por finalidade responder o seguinte questionamento: qual
concepção mais se aproxima de uma justiça distributiva e qual a melhor forma de se realizar
essa distribuição? Também aponta que essa é composta por uma vasta gama de ideologias,
concluindo que buscar uma unanimidade entre elas é deixar de entender o tema. Assim,
desenvolve sua tese de que a concepção pluralista é a mais adequada, uma vez que abarca
uma série de possibilidades de distribuição e apresenta a igualdade complexa como a forma
mais próxima de se diminuir a desigualdade social.
Primeiramente, o autor define o conceito de bens sociais como aqueles fundamentais
para a vida social e comunitária, como a educação, o poder político, a propriedade, entre
outros. A partir de então, afirma que a nossa sociedade se apresenta como uma comunidade
distributiva, onde nossos direitos e posses, sejam eles políticos, econômicos ou materiais,
consistem em uma fração de um todo, distribuída entre os membros da sociedade. Além disso,
alega que para se ter uma distribuição justa é preciso conhecer os significados dos bens
sociais na sociedade, uma vez que cada cultura estabelece quais são seus bens mais
importantes e quais os motivos das distribuições estão vinculados aos seus significados.
Em seguida, o autor descreve a forma como ocorrem as transferências na sociedade,
por meio da teoria dos bens, que analisa a oposição da ideia de igualdade simples, sistema de
justiça distributiva que busca dar a todos as mesmas condições por meio da repartição de
bens, e da complexa, que propõe que a distribuição dos bens se dê de acordo com os
significados sociais, garantindo as diferenças.
O autor baseia essa teoria em alguns preceitos básicos, como: todos os bens são sociais
e sua valoração é feita por critérios da sociedade, podendo variar de uma comunidade para
outra; a relação com bens sociais compõe a própria identidade dos seres humanos; a
distribuição dos bens está atrelada ao significado que eles têm como bens sociais; e deve
haver uma autonomia relativa entre diferentes esferas de bens sociais.
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Após essas definições, o autor apresenta exemplos que ilustram o sistema de igualdade
simples como incapaz de lidar com a complexidade de uma organização capitalista de
distribuição dos bens sociais. Pois, devido à distribuição desses, emergiria o conflito social,
decorrente de três possíveis tensões: a alegação de que um monopólio é injusto; a alegação de
que um predomínio é injusto; e a alegação de que tanto o predomínio quanto o monopólio são
injustos. Logo, reformas ou revoluções buscariam solucionar as demandas por justiça pela
tentativa de controle e dissolução de monopólios. Deste modo, Walzer aponta para a
igualdade complexa como mais indicada, por apresentar um foco distinto, onde ao invés da
tentativa de controlar os monopólios sobre bens sociais predominantes, busca-se combater o
próprio predomínio.
Por fim, Walzer conclui apontando a vantagem da igualdade complexa, no sistema de
justiça distributiva, por ser capaz de englobar a complexidade inerente de uma sociedade que
desenvolve suas relações em várias esferas, onde cada uma apresenta um valor.
Assim como Rawls, Walzer também busca a diminuição da desigualdade na
sociedade, porém diferente do primeiro, compreende que o sistema de justiça distributiva se
apresenta muito mais complexo, e desse modo, uma divisão racional dos bens acaba sendo
muito simplista e falha, uma vez que os bens sociais apresentam diferentes significados para
cada sociedade.
Além disso, é interessante a problemática que Walzer apresenta sobre o poder político.
Segundo o autor, são necessários agentes para a realização de distribuições, e esses podem ser
os mais diversos, desde indivíduos até o próprio mercado. Porém, para se garantir uma justiça
distributiva e impedir que uns se sobressaiam sobre os demais, é necessário um Estado que
exerça seu poder política para atingir tal fim. Deste modo, o próprio Estado passa a exercer o
monopólio sobre um bem social, o poder político, e consequentemente resulta no surgimento
de conflitos sociais que buscam obter o controle desse bem, dando continuidade ao ciclo de
conflitos sociais e mostrando como a busca pelo monopólio é característica da sociedade, o
que dificulta nossa crença de que algum dia existirá uma verdadeira igualdade de bens sociais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

WALZER, Michael. Esferas da Justiça: uma defesa do pluralismo e da igualdade. São


Paulo: Martins Fontes, 2003.

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