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Oliveira & Jesus

Consultoria | Treinamentos | Projetos

USO PROGRESSIVO DA FORÇA

CFGCM

www.oliveiraejesus.com.br/ead

Edição revista e atualizada


Fevereiro de 2018
USO PROGRESSIVO DA FORÇA
CONCEITOS BÁSICOS

Força é toda intervenção compulsória sobre o indivíduo ou grupos de indivíduos,


reduzindo ou eliminando sua capacidade de autodecisão.

Nível do uso da força é entendido desde a simples presença policial em uma intervenção
até a utilização da arma de fogo, em seu uso extremo (uso letal).

Ética é o conjunto de princípios morais ou valores que governam a conduta de um


indivíduo ou de membros de uma mesma profissão.

Uso progressivo da força consiste na seleção adequada de opções de força pelo policial
em resposta ao nível de submissão do indivíduo suspeito ou infrator a ser controlado.

O Estado investe na seleção de um cidadão, dando-lhe formação e treinamento de forma a


outorgar-lhe autoridade e poder para que possa ser reconhecido como um encarregado de aplicação
da lei. A autoridade e o poder dados a este cidadão e agora policial são muito grandes, e em nome de
uma vida, um policial, no desempenho de suas atividades, poderá até retirar a vida de outro cidadão.

Nas sociedades mais democráticas, observa-se que a autoridade dos representantes do


poder público está intimamente relacionada às suas obrigações, evidenciando que o uso da força está
cada vez mais subordinado ao interesse coletivo, servindo até mesmo como medidor de
desenvolvimento social.
Segue abaixo uma série de autores e estudiosos do assunto em pauta, como fonte de
referência bibliográfica:
Toda intervenção compulsória sobre o indivíduo ou grupos de indivíduos, quando reduz
ou elimina sua capacidade de autodecisão. (BARBOSA & ANGELO 2001, p.107)
Os países outorgam suas organizações de aplicação da lei à autoridade legal para usarem
a força, se necessário, para servirem aos propósitos legais de aplicação da lei. (ROVER 2000, p. 275)
O Estado intervém, com violência legítima, quando um cidadão usa a violência para ferir,
humilhar, torturar, matar outros cidadãos, de forma a garantir a tranquilidade. É a lógica da violência
legítima contendo a violência ilegítima. (SILVA 1994, p. 48)

Comentário
Entende-se, assim como Vianna (2000), que o termo utilizado por Silva (1994), violência
legítima não é o mais adequado. Por isso, é importante você empregar e conhecer o seguinte termo:
“uso legítimo da força”. Termo que melhor atende ao assunto, pois este exige padrões legais e éticos,
enquanto a expressão violência não se coaduna, no mínimo, com padrões éticos.
Portanto, se a polícia deixar de cumprir tais requisitos, o uso da força se caracterizará
como ilegítimo, sendo então, apontado como violência, truculência, abuso de poder entre outras
formas de desvios de procedimentos não concebíveis ao policial profissional, integrante de uma
organização que promove a paz social e como tal deve seguir os parâmetros legais.
Uso da força e a polícia
Parte dos problemas enfrentados hoje com relação ao abuso da autoridade policial, e sua
expressão última que é a brutalidade e a violência policial resultam da ausência de uma reflexão
substantiva sobre o emprego qualificado e comedido da força. A polícia é justamente um meio de
força comedida, que atua na legalidade e na legitimidade dadas pela conciliação na prática dos
requisitos do consentimento público. Não se pode pensar polícia que não seja neste intervalo, senão
não é polícia, é outra coisa qualquer que vigia, que bate, que oprime. Trecho de entrevista extraído do
site Consciência.
(Na sua experiência e na sua vivencia como policial você acredita que os policiais que
estão na ativa têm consciência da importância do legítimo uso da força? Do contrário, a que você
atribuiria o uso indevido da força no desempenho da função policial?)
As organizações policiais brasileiras recebem uma série de meios legais para capacitar
seus integrantes a cumprir seus deveres de aplicação da lei e preservação da ordem, sempre em busca
da paz. Sem estes e outros poderes, tal como aquele de privar as pessoas de sua liberdade, você não
conseguiria desempenhar a sua missão constitucional em defesa da sociedade. É bom estar atento às
palavras de Vianna (2000), quando afirma que embora a atividade policial possa ser descrita como
uma série de funções, como, por exemplo, fazer aplicar a lei ou preservar a ordem, ela pode também
ser definida como sendo uma função só, ou seja, responder a qualquer situação que aconteça no seio
da sociedade, em que a força deve ser usada, de modo a restabelecer uma situação de normalidade
temporária.
Você recebe do Estado a autorização para fazer uso da força e quando age, está fazendo-o
em nome dele. Sobre esse pensamento Rover (2000) lembra que:

Os Estados não negam a sua responsabilidade na proteção do direito à vida, liberdade e


segurança pessoal quando outorgam aos seus encarregados de aplicação da lei a autoridade legal para
a força e arma de fogo.

O policial tem o dever de aplicar a lei e de reprimir com energia a sua transgressão em
defesa da sociedade. A mesma sociedade da qual ele faz parte e de onde ele foi escolhido para se
juntar à força policial. A tarefa da polícia é delicada na medida em que se reconhece como
inteiramente legítimo o uso de força, para resolução de conflitos, desde que esgotadas todas as
possibilidades de negociação, persuasão e mediação (FARIA, 1999).

A polícia existe para servir à sociedade e para proteger os seus direitos mais
fundamentais. Cerqueira (1994, p. 1), acrescenta essa idéia ao relatar que “O sistema de justiça
criminal, no qual se inclui a polícia, atua fundamentalmente para garantir os direitos humanos, em
sentido estrito, e, portanto, a lógica de uso da força para conter a violência é perfeitamente
compreensível”.

A Força Policial por intermédio da sua atuação existe para assegurar que os direitos
fundamentais dos cidadãos, individual e coletivamente, sejam protegidos. O direito à vida deve ter a
mais alta prioridade. Rover (2000) afirma que o uso de força, principalmente o uso intencional e letal
de armas de fogo, deve ser limitado em absoluto aos casos de circunstâncias excepcionais. Ao atuar
dentro desse parâmetro de “proteger e socorrer”, você está amparado por uma série de legislações,
seja no âmbito internacional como nacional.

Legislação sobre o uso da força


É importante que você conheça os dois instrumentos internacionais mais importantes sobre o
uso da força e arma de fogo. São eles: Código de Conduta para Encarregados da Aplicação da Lei -
CCEAL e Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo - PBUFAF. Conheça-os a seguir:
Código de Conduta para Encarregados da Aplicação da Lei - CCEAL
É o Código adotado através da resolução 34/169 da Assembléia Geral das Nações Unidas, em
17 de dezembro de 1979. É um instrumento internacional, com o objetivo de orientar os Estados membros
quanto à conduta dos policias.
Esse código não tem força de tratado e busca criar padrões para que as práticas de
aplicação da lei estejam de acordo com as disposições básicas dos direitos e liberdades humanas. É
um código de conduta ética e se baseia no exercício do policiamento ético e legal. Consiste em oito
artigos, cada um acompanhado de comentários explicativos.

Resumidamente os artigos dizem que numa conduta adequada os policiais devem:


1° - Cumprir sempre o dever que a lei lhes impõe;
2° - Demonstrar respeito e proteção à dignidade humana, mantendo e defendendo os
direitos humanos;
3° - Limitar o emprego da força;
4° - Tratar com informações confidenciais;
5° - Reiterar a proibição da tortura ou outro tratamento ou pena cruel, desumano ou
degradante;
6° - Cuidar e proteger a saúde das pessoas privadas de sua liberdade;
7° - Proibir o cometimento de qualquer ato de corrupção. Também devem opor-se e
combater rigorosamente esses atos; e
8° - Respeito às leis e ao CCEAL e convoca a prevenir e se opor a quaisquer violações
destes instrumentos.

O artigo 3° do CCEAL trata diretamente do uso da força pela polícia. Ele estipula que os
encarregados da aplicação da lei só podem empregar a força, quando estritamente necessário e na
medida exigida para o cumprimento do seu dever.
É enfatizado pelo documento que o uso da força deve ser excepcional e nunca ultrapassar
o nível razoavelmente necessário para se atingir os objetivos legítimos de aplicação da lei. Neste
sentido, entende-se que o uso da arma de fogo é uma medida extrema.
Tendo em vista o contido no Código de Conduta sobre o uso de arma de fogo, qual é sua
idéia a respeito? Pensando em sua realidade e na sua experiência profissional, você acredita que o uso
da arma de fogo é uma medida extrema?

Objetivo do Código
O código tem por objetivo sensibilizar os integrantes das Organizações responsáveis pela
Aplicação da Lei, ou seja, sensibilizar você, policial, para a enorme responsabilidade que o Estado
lhes outorga.
Você é um sujeito de autoridade do Estado e como tal está investido de poder de grande
alcance, e a natureza de seus deveres coloca-o em situações de corrupção e violência policial, em
potencial. O documento afirma ainda que, expor abertamente esses perigos escondidos é o primeiro
passo para combatê-los efetivamente. A atitude policial tem uma forte relação com a imagem e
percepção da organização como um todo, carregando assim, alta expectativa com relação aos padrões
éticos mantidos dentro da Força Policial.
Um policial que excede no uso da força ou que seja corrupto, pode fazer com que todos
os policiais sejam vistos como violentos ou corruptos, porque o ato individual reflete como ato
coletivo da organização.
O policial protege e socorre a sociedade, e nesse sentido exige-se um grau de confiança
muito grande entre a Força Policial e a comunidade como um todo. Os padrões estabelecidos pelo
código devem fazer parte da crença de todo policial, e isto significa que esses valores devem estar
conscientemente incorporados na sua atuação policial do dia-a-dia.
Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo - PBUFAF
É o segundo instrumento internacional mais importante sobre o uso da força e arma de
fogo. Esses princípios foram adotados no oitavo Congresso das Nações Unidas sobre a “Prevenção
do Crime e o Tratamento dos Infratores”, realizado em Havana, Cuba, de 27 de agosto a 7 de
setembro de 1990.

Também não é um tratado, porém, objetiva proporcionar normas orientadoras aos


Estados membros na tarefa de assegurar e promover o papel adequado dos policiais, sendo que neste
curso, será tratado somente da Força Policial com relação ao uso da força.

Os PBUFAF estabelecem que os princípios contidos no documento devem ser


considerados e respeitados pelos governos no contexto da legislação e da prática nacional, e levados
ao conhecimento dos policiais, assim como de magistrados, promotores, advogados, membros do
executivo, legislativo e do público em geral.

O preâmbulo dos PBUFAF reconhece a importância e complexidade do trabalho dos


policiais, além de destacar seu papel de vital importância na proteção da vida, liberdade e segurança
de todas as pessoas. Acrescenta que ênfase especial deve ser dada à eminência da manutenção da
ordem pública e paz social, bem como da importância das qualificações, treinamento e conduta dos
encarregados da aplicação da lei.

Em suma, o presente instrumento destaca os seguintes pontos:


Os governos deverão equipar os policiais com vários tipos de armas e munições,
permitindo um uso diferenciado de força e armas de fogo;
A necessidade de desenvolvimento de armas incapacitantes não-letais para restringir a
aplicação de meios capazes de causar morte ou ferimentos;
O uso de armas de fogo com o intuito de atingir fins legítimos de aplicação da lei deve
ser considerado uma medida extrema;
Os policiais não usarão armas de fogo contra indivíduos, exceto em casos de legítima
defesa de outrem contra ameaça iminente de morte ou ferimento grave, para impedir a perpetração de
crime particularmente grave que envolva séria ameaça à vida, para efetuar a prisão de alguém que
resista à autoridade, ou para impedir a fuga de alguém que represente risco de vida.
Para efetuar o uso da arma de fogo, os policiais deverão identificar-se como tal, avisar
prévia e claramente a sua intenção de usar armas de fogo;
Para o uso indevido da força e armas de fogo, os governos deverão assegurar que o uso
arbitrário ou abusivo da força e armas de fogo pelo policial, seja punido como delito criminal, de
acordo com a legislação;

A responsabilidade de governos, superiores e o próprio policial quanto ao uso indevido da


força. Fique atento a isto!
Os dois instrumentos, embora não estejam sob forma de tratados, permitem o uso da
força para qualquer propósito policial legítimo, reforçando o ponto de vista segundo o qual a
atividade policial pode ser vista como a busca para resolver qualquer situação na sociedade na qual a
força pode ser usada.
Mas, além destes instrumentos internacionais existem os instrumentos nacionais que
corroboram com esses e devem ser de conhecimento de todos os policiais.
É bom que você como policial profissional esteja ciente da existência destes documentos
e como colocá-los em prática conforme as suas recomendações e orientações, sob pena de você estar
entre os policiais amadores, arbitrários e que só agem na ilegalidade.

Legislação brasileira
São vários os instrumentos nacionais que regulam o uso da força e arma de fogo pela
Força Policial. Veja: Código Penal

Código Penal contém justificativas ou causas de exclusão da antijuridicidade relacionadas


no artigo 23, ou seja, estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal e
exercício regular de direito, como se vê:

Exclusão de ilicitude
Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato:
- em estado de necessidade;
- em legítima defesa;
- em estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular de direito.

Código de Processo Penal


O Código de Processo Penal contém em seu teor dois artigos que permitem o emprego de
força por policiais no exercício profissional, são eles:

Art. 284. Não será permitido o emprego de força, salvo a indispensável no caso de
resistência ou tentativa de fuga do preso.(... )

Art. 293. Se o executor do mandado verificar, com segurança, que o réu entrou ou se
encontra em alguma casa, o morador será intimado a entregá-lo, à vista da ordem de prisão. Se não
for obedecido imediatamente, o executor convocará duas testemunhas e, sendo dia, entrará à força na
casa, arrombando as portas, se preciso; sendo noite, o executor, depois da intimação ao morador, se
não for atendido, fará guardar todas as saídas, tornando a casa incomunicável, e logo que amanheça,
arrombará as portas e efetuará a prisão.

Código Penal Militar


Código Penal Militar contém em seu teor, o artigo 42 relacionado com a polícia, no tocante
ao emprego de força, como se vê:
Exclusão de crime
Art. 42. Não há crime quando o agente pratica o fato:
1 - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento do dever legal;
IV - em exercício regular de direito.

Código de Processo Penal Militar

O Código de Processo Penal Militar contém, em seu teor, artigos relacionados com o
emprego de força na ação policial. Veja estes artigos na página seguinte.

Artigo 231 - Captura em domicílio


Se o executor verificar que o capturando se encontra em alguma casa, ordenará ao dono
dela que o entregue, exibindo-lhe o mandado de prisão. Parágrafo único. Se o executor não tiver
certeza da presença do capturando na casa poderá proceder a busca, para a qual, entretanto, será
necessária a expedição do respectivo mandado, a menos que o executor seja a própria autoridade
competente para expedi-la.

Artigo 232 - Caso de busca


Se não for atendido, o executor convocará duas testemunhas e procederá da seguinte
forma: sendo dia, entrará à força na casa, arrombando-lhe a porta, se necessário; sendo noite, fará
guardar todas as saídas, tornando a casa incomunicável, e, logo que amanheça, arrombar-lhe-á a porta
e efetuará a prisão.
Artigo 234 - Emprego de força
O emprego da força só é permitido quando indispensável, no caso de desobediência,
resistência ou tentativa de fuga. Se houver resistência da parte de terceiros, poderão ser usados os
meios necessários para vencê-la ou para defesa do executor e seus auxiliares, inclusive a prisão do
ofensor. De tudo se lavrará auto subscrito pelo executor e por duas testemunhas.

Comentário
Uma boa estrutura jurídica pode proporcionar uma orientação para o uso da força, embora
não ofereça uma solução implementável para um conflito a ser resolvido. O Sistema Jurídico
Brasileiro apresenta lacunas e imprecisões quanto à legalidade e limites permitidos do uso da força
(BARBOSA & ANGELO 2001). É necessário, portanto, que a Legislação Brasileira absorva em sua
legislação uma norma única que trate do assunto e oriente tanto a sociedade quanto os policiais
brasileiros.

Documentos sobre uso da força


A Polícia Militar de Minas Gerais publicou no ano de 1984 a Nota de Instrução n° 001/84
- que trata de maneira bem objetiva e clara “O uso de força no exercício do poder de polícia”. Este
documento apresenta um rol de orientações ao policial em suas intervenções legítimas com o
emprego de força e as consequências do excesso, senão veja:
“O policial militar pode e deve fazer uso da força, no desempenho de sua missão, de
forma tal que esse uso não vá além do necessário e chegue a configurar o excesso ou uma ação
policial violenta”
Outro documento produzido pela PMMG de importância para o uso da força são as
“Diretrizes Auxiliares de Operações n° 1” de 1994, nos seus itens “4. m. 2)” descreve doze
orientações aos policiais sobre o uso da força, na verdade são orientações dirigidas aos policiais
militares do Estado de Minas Gerais, mas podem e devem ser aplicadas por todos policiais
brasileiros.
A violência desnecessária gera outras violências que podem desencadear-se, inclusive,
com conseqüências maiores e incontroláveis;
A violência arbitrária revolta a vítima e os assistentes, projetando assim uma imagem
negativa e falsa da Polícia , por aquele fato isolado;
A ação policial bem-sucedida, sem excessos, projeta a Corporação e dignifica os autores
da ocorrência;
O policial deve estar apto, adestrado e preparado para enfrentar todas as situações, sem
omissões, indisciplina, pânico, corrupção ou excessos;

Não basta estar hígido, equipado e acompanhado para uma ação eficaz; é preciso estar
instruído e preparado para o desempenho das missões, evitando as surpresas e improvisações, causas
freqüentes das falhas e dos excessos;

A prática da violência, isolada ou em público, deve ser prontamente coibida, para não
servir de exemplo e estímulo a outras ações, em situações semelhantes;

Os fatos concretos que exigirem a ação pronta, enérgica e eficaz do policial-militar, sem
excessos, devem ser explorados imediatamente como exemplos para a tropa;

A observância dos princípios de abordagem, incluindo o planejamento prévio das ações,


aliada à execução correta das táticas de observação e de aproximação, supremacia de força, postura e
entonação de voz, atuação imparcial e isenta na condução das ações/operações policiais, constituem-
se em medidas preventivas que inibem a reação e a resistência;

A utilização da técnica de abordagem com imobilização não deve ser executada de


maneira indiscriminada, face ao constrangimento que causa, sendo justificável apenas nas
circunstâncias em que houver possibilidade de reação ou resistência à ação policial. (PMMG, 1994)

Ao analisar a legislação como instrumento do policial para o emprego do uso da força faz-se
necessário entender esta relação entre o policial e o uso da força, como verá na próxima página.
O policial e o uso da força
Ao fazer uso da força, o policial deve ter conhecimento da lei, deve estar preparado
tecnicamente, através da formação e do treinamento, bem como ter princípios éticos solidificados que
possam nortear sua ação. Ao ultrapassar qualquer desses limites não se esqueça de que você estará
igualando-se às ações de criminosos. Você deixa de fazer o uso legítimo da força para usar a violência e
se tornar um criminoso.
O policial é um cidadão que porta a singular permissão para o uso da força e das armas,
no âmbito da lei, o que lhe confere natural e destacada autoridade para a construção social ou para
sua devastação (Ricardo Balestreri).

Quando o policial está envolvido na solução de uma ocorrência policial, se outra medida
não restar, o uso devido e legal da força ou das armas estará submissa às situações de estrito
cumprimento do dever legal, estado de necessidade, ou à legítima defesa própria, de terceiros ou
putativa, conforme ressalta.

O uso legítimo da força não se confunde com truculência. Como assevera Balestreri:
A fronteira entre a força e a violência é delimitada, no campo formal, pela lei, no campo
racional pela necessidade técnica e, no campo moral, pelo antagonismo que deve reger a metodologia
de policiais e criminosos.

A aplicação da lei não é uma profissão em que se possa utilizar soluções padronizadas
para problemas padronizados que ocorrem em intervalos regulares. (ROVER 2000, p. 274).
Espera-se que você tenha a compreensão do espírito e a forma da lei, bem como saiba
como resolver as circunstâncias únicas de um problema particular. Trata-se de uma arte na aplicação
de palavras como negociação, mediação, persuasão e resolução de conflitos. No entanto, existem
situações em que para se obter os objetivos da legítima aplicação da lei, ou você deixa como está e o
objetivo não será atingido, ou você decide usar a força para alcançá-los.

Seja profissional e decida adequadamente conforme a ocorrência, partindo sempre de sua


conduta legal.

Em algumas ocorrências, o policial tem o dever de fazer o uso da força para que os
objetivos da aplicação da lei sejam alcançados, desde que não haja outro modo de atingi-los. Um
caso típico é quando um cidadão infrator coloca em risco a vida de pessoas atirando em suas
direções. Nessa situação o policial deve fazer o uso da força para neutralizar a ação do infrator.
Os países não apenas autorizaram seus encarregados da aplicação da lei a usar a força,
mas alguns chegaram a obrigar os encarregados a usá-la”. (ROVER 2000, p. 275)
As dificuldades que os chefes e dirigentes das Organizações Policiais enfrentam se
referem ao desenvolvimento de atitudes pessoais dos policiais que demonstrem a incorporação de
valores éticos, morais e legais, fazendo diminuir o comportamento impulsivo, substituído por reações
tecnicamente sustentadas que não colocarão em risco a população atendida, a imagem pública da
organização policial e do próprio policial.
É importante que você faça uma avaliação individualmente quando houver uma situação
em que surja a opção de uso da força. O policial somente recorrerá ao uso da força, quando todos os
outros meios para atingir um objetivo legítimo tenham falhado, justificando o seu uso.
O quinto princípio dos PBUFAF diz que o policial deve ser moderado no uso da força e
arma de fogo e a agir proporcionalmente à gravidade do delito cometido e o objetivo legítimo a ser
alcançado. Somente será permitido ao policial empregar a quantidade de força necessária para
alcançar um objetivo legítimo. O policial pode chegar à conclusão de que as implicações negativas
do uso da força em uma determinada situação não são equiparadas à importância do objetivo
legítimo a ser alcançado, recomendando-se, neste caso, que os policiais se abstenham de prosseguir.
A autoridade legal para empregar a força, incluindo o uso letal de armas de fogo em
situações em que se torna necessário e inevitável para os propósitos legais da aplicação da lei,
ROVER (2000, p. 271) lembra que isso cria uma situação na qual o policial e membros da
comunidade se encontram em lados opostos o que pode influenciar na qualidade do relacionamento
entre a Força Policial e a comunidade como um todo. No caso de uso da força ilegal e indevida, este
relacionamento será ainda mais prejudicado.
Uso indevido da força
O uso legítimo da força evidencia-se quando o policial aplica os princípios da legalidade,
necessidade, proporcionalidade e ética:
O princípio da legalidade é a observação das normas legais vigentes no Estado;
O princípio da necessidade verifica se o uso da força foi feito de forma imperiosa;
O princípio da proporcionalidade é a utilização da força na medida exigida para o
cumprimento de seu dever;
A ética dita os parâmetros morais para a utilização da força.
O não-atendimento a qualquer desses princípios caracteriza uso indevido da força pela
polícia. Não esqueça disto, policial!
Fica fácil concluir que o uso da força é uma das atividades desempenhadas pela polícia. Mas, cada
policial deve estar cônscio da importância da sua atividade para as políticas de segurança pública. É
necessário que a Força Policial tenha mecanismos de controle da atuação de seus integrantes para
evitar dissabores quanto ao abuso de poder.
Os PBUFAF relatam que os governos deverão assegurar que o uso arbitrário ou abusivo
da força e armas de fogo pelos policiais seja punido como delito criminal, de acordo com a legislação
internacional e nacional.
O uso arbitrário da força e arma de fogo pelos policiais constitui violação do direito
penal, bem como violações dos direitos humanos, cometidos por aqueles que são chamados a manter
e preservar esses direitos. O abuso do uso da força pode ser visto como uma violação da dignidade e
integridade humana. Caso aconteçam, as violações prejudicarão o frágil relacionamento entre a
Polícia e toda a comunidade a que serve.
Para restaurar com sucesso a confiança em um relacionamento abalado, deverá haver um
esforço genuíno por parte da Organização Policial. Sempre que existir uma situação de abuso alegado
ou suspeitado, deve haver uma investigação imediata, imparcial e total, com punição aos policiais
responsáveis.

Necessidade do uso da força


Quando você perceber a necessidade de usar a força para atender o objetivo legítimo da
aplicação da lei e manutenção da ordem pública, responda a algumas questões importantes que lhe
serão como guias.

A primeira é se a aplicação da força é necessária.


Para responder, o policial precisa identificar o objetivo a ser atingido. A resposta
adequada atende aos limites considerados mínimos para que se torne justa e legal a ação. Caso
contrário, o policial cometerá um abuso e poderá ser responsabilizado.

A segunda refere-se a um questionamento se o nível de força a ser utilizado é


proporcional ao nível de resistência oferecida.
Este questionamento sugere verificar se todas as opções estão sendo consideradas e se
existem outros meios menos danosos para se atingir o objetivo desejado. Neste momento, verifica-se
a proporcionalidade do uso da força, e caso não haja, estará caracterizado o abuso de poder.
O terceiro e último questionamento verifica se a força a ser empregada será por motivos
sádicos ou maléficos.
Busca-se verificar a boa fé por parte do policial e os seus princípios éticos. A boa fé
demonstra a intenção do policial, embora ele possa errar ao adotar uma opção equivocada, decorrente
de uma análise também equivocada.
Como já foi exposto anteriormente, vale ressaltar as conseqüências drásticas que a
violência policial ilegítima pode acarretar, levando-a a uma séria desordem pública, a qual a polícia
tem, então, que responder, podendo assim expô-la a situações perigosas e desnecessárias, fazendo
com que ela se torne mais vulnerável aos contra-ataques, conduzindo a uma falta de confiança na
própria polícia por parte da comunidade. E ainda, o policial será responsabilizado civil e
criminalmente pelo uso abusivo da força.
Responsabilidades pelo uso da força
Na rotina da Força Policial, os policiais agem individualmente ou em pequenos grupos.
Para cada intervenção policial existe o potencial de se fazer necessário o exercício de sua autoridade
e poderes. Procedimentos adequados de supervisão e revisão servem para garantir a existência de um
equilíbrio apropriado entre o poder discricionário exercido individualmente pelos policiais e a
necessária responsabilidade legal e política das Organizações Policiais como um todo (ROVER
2000, p. 272).
A responsabilidade cabe tanto aos policiais envolvidos em um incidente particular com o
uso da força e armas de fogo, como a seus superiores. Os chefes têm o dever de zelo, o que não retira
a responsabilidade individual dos encarregados por suas ações. (ROVER, 2000, p. 286).
É importante a compreensão de que o reconhecimento, pelo Estado, de sua
responsabilidade, apontando o erro de seu representante, não implica postura subalterna ou
desvalorização do agente da polícia( BARBOSA & ANGELO (2001). Mas sim, assume a mais nobre
das suas funções, que é a proteção da pessoa, célula essencial de sua existência abstrata, além de
cumprir importante papel exemplificador, fator de transformação e solidificação.

Conclusão
Neste primeiro módulo você estudou os principais conceitos relacionados ao uso da força
e os aspectos legais, internacional e nacional, que devem nortear a ação do policial. No próximo
módulo você estudará sobre os principais modelos existentes, utilizados pelas diversas polícias do
mundo, sobre gradação do uso da força.
Neste módulo são apresentados exercícios de fixação para auxiliar a compreensão do conteúdo.
O objetivo destes exercícios é complementar as informações apresentadas nas páginas
anteriores.

1. Você está no patrulhamento (deslocamento) motorizado, às 7:30h, com seu


companheiro e ouve pelo rádio da viatura, que nas proximidades do local onde você encontra-se há
dois homens portando substância semelhante à maconha. Ao abordar os suspeitos eles são positivos,
submissos às suas determinações e não oferecem resistência.
a) Liste as ações policiais que você adotaria em relação aos suspeitos e ao nível de força
utilizado.

b) Avalie seu desempenho profissional para a solução da ocorrência, tendo como parâmetro os
conceitos dos textos estudados até aqui.

2. Você viu neste módulo, dois importantes documentos internacionais sobre o uso da força.
Para facilitar a compreensão de seu conteúdo, faça uma síntese dos documentos, elencando três
aspectos que você julga importante de cada um.
3. Durante um deslocamento motorizado você e seu companheiro deparam-se com um grupo
de pessoas solicitando sua intervenção policial para coibir a ação de um homem com uma faca na
mão, que ameaça ferir uma senhora daquele grupo. Quando a sua equipe aborda verbalmente o
suspeito, ele mantém-se passivo, não oferece resistência física, contudo não acata às suas
determinações, fica simplismente parado. Ele resiste, mas sem reagir, sem agredir.

a) Descreva seu procedimento policial para solucionar a ocorrência. Utilize como


embasamento as legislações internacionais e nacionais estudadas até aqui.

b) Avalie seu desempenho profissional para solucionar a ocorrência, tendo como parâmetro as
legislações estudas.

4. Faça um paralelo entre a legislação internacional e nacional sobre o uso da força.

5. Liste as responsabilidades do policial ao fazer uso inadequado da força.

Uso da força pela polícia, além das telas apresentadas, o material complementar está
disponível para acesso e impressão.
Propostas de modelos de uso progressivo da força
Cada modelo criado possui um nome que geralmente está associado ao nome do autor
que o apresentou ou à sua origem, como se vê a seguir:

Modelo FLETC: Aplicado pelo Centro de Treinamento da Polícia Federal de Glynco (Federal Law
Enforcement Training Center), Georgia, Estados Unidos da América (EUA).
Modelo GILIESPIE: Apresentado no livro Police - Use of force - A Line Officer’s Guide”, 1998.
Modelo REMSBERG: Apresentado no livro: The Tactical Edge - Surviving High - Risk Patrol” -
1999.
Modelo CANADENSE: Utilizado pela Polícia Canadense.

Descrição dos modelos


Modelo FLETC
É um modelo gráfico em degraus com cinco camadas e três painéis. Em um dos painéis
está a percepção do policial em relação à atitude do suspeito. Em outro painel, a percepção de risco
para o policial, simbolizado por números em algarismos romanos e cores, que também correspondem
às camadas. No terceiro painel, encontramos as respostas (reação) de força possíveis em relação à
atitude dos suspeitos e percepção de riscos.
As setas duplas descrevem o processo de avaliação e seleção de alternativas. De acordo
com a atitude do suspeito e percepção de risco, haverá uma reação do policial, na respectiva camada.
Os níveis são crescentes de baixo para cima.
Comentário
O autor não considera a “presença policial” como um nível de força, vinculando o
primeiro nível com comandos verbais.Trata-se de um modelo de fácil adaptação a todas as
organizações policiais e pode ser utilizado perfeitamente pela polícia.
Veja na próxima página, a figura 1, que mostra o modelo FLETC.
Figura 1 - Modelo "FLETC de uso progressivo da força.

Fonte - GRAVES & CONNOR (1994, p.8); BARBOSA & ANGELO (2001, p.126)

Modelo GILlESPIE

É um modelo gráfico em forma de tabela, com cinco colunas


graduadas por cor e seis linhas básicas, divididas em comportamento do
agente e ação-resposta do policial. A atitude do suspeito é dividida em quatro
colunas que estão subdivididas respectivamente em situações diferentes
sobre a percepção do policial em relação a ele. Para a progressão de força,
possui cinco níveis, com subdivisões crescentes de respostas pelo policial,
que interagem entre si. O modelo correlaciona a atitude do suspeito com a
avaliação de risco, condição mental do policial e resposta de força a ser
utilizada.

Comentário
Para o autor, a verbalização é uma graduação de força que se interage
com outros níveis. Inicia- se no segundo nível de força e prossegue até o
penúltimo, antes de se usar a força letal. É um modelo complexo, porém bem
completo em suas opções de ação e reação. O policial que compreende a sua
dinâmica está apto a fazer o uso correto da força. Pode ser adaptado para uso
na Polícia Brasileira, com o devido treinamento, dada a sua complexidade.
Veja o modelo GILIESPIE (Anexo 1)
Modelo REMSBERG
Este modelo é concebido em forma de degraus em elevação. Os degraus mais baixos simbolizam os
níveis de força mais baixos e os mais altos, os níveis de força mais altos. O modelo não faz
correlações do nível de força com a ação do suspeito ou percepção de risco por parte do policial,
embora o autor observe este fato na sua teoria explicativa. São cinco níveis de força e cada um é
subdividido em sub-níveis que também estão em ordem crescente de baixo para cima. Para utilizar
esse modelo, o policial utiliza o degrau correspondente ao nível de força de resposta que os
níveis.
É muito simples e de fácil assimilação pelos policiais. No entanto, não é um modelo completo.
Faz apenas o escalonamento do uso da força.

Modelo REMSBERG

ATIRAR
APONTAR
SACAR
MÃO NA ARMA COMANDO VERBAL
INSTRUMENTO DE IMPACTO
USAR O BASTÃO AMEAÇA COM BASTÃO MOSTRAR O BASTÃO APRESENTAR O BASTÃO MÃO NO
BASTÃO AVISO VERBAL
KSSS
CHAVE DE PESCOÇO MEDIDAS DE CONTENÇÃO ATIVA MEDIDAS DE CONTENÇÃO PASSIVA PONTO DE
PRESSÃO PEGADA CONDUÇÃO
|PRESENÇA
POSTURA DEFENSIVA POSTURA ALERTA POSTURA
ABERTA
Figura 2 - Modelo "REMBERG" de uso progressivo da força.
Fonte - REMSBERG (1999, p.433)
Modelo CANADENSE
É composto por círculos sobrepostos e subdivididos em níveis diferentes. O círculo interno
corresponde ao comportamento do suspeito e o círculo externo à ação de resposta do policial. No círculo
interno, existem cinco subdivisões, para cada situação de ação do suspeito. É utilizada uma graduação de
tonalidades que vai da cor branca para a ação de menor ameaça do suspeito, até a cor preta, para a ação de
maior ameaça. O círculo externo corresponde à ação de resposta do policial que está graduada em sete níveis
diferentes. Cada nível interage com o outro através da mudança de cores. A mudança não é estanque, ou seja,
onde termina um nível de força, outros ainda estão disponíveis. São usadas sete cores para cada uma das
graduações de força.

Comentário
É um modelo muito prático, de fácil entendimento e memorização por parte do policial. Pode ser
facilmente adaptado pela Polícia Brasileira.

Modelo NASHVILLE

Este modelo possui um formato gráfico em forma de “eixo de coordenadas”. O eixo “x”
corresponde à atitude dos suspeitos e é dividido em cinco níveis. O eixo “y” corresponde aos quatro níveis de
força. A utilização do modelo é feita através da análise do gráfico formado pelo cruzamento dos dois eixos “x
e y”, que pode ser feita de duas formas. Uma mais severa e outra menos severa. Fazendo parte do gráfico,
como orientação, são colocados os fatores e circunstâncias que podem influenciar o policial para a escolha do
nível de força a ser utilizado.

Aula 3 - Análise comparativa dos modelos apresentados


Em essência, os modelos estudados são semelhantes entre si. Eles relacionam o uso progressivo da força pela
polícia à atitude demonstrada pelo suspeito.
Veja o quadro comparativo dos modelos apresentados (Anexo 2).
Alguns como os modelos “FLETC”, “GILIESPIE”, colocam uma avaliação de risco como parte integrante do
gráfico e outros não. Dos modelos estudados, três são interessantes para serem utilizados pela Polícia Brasileira,
por terem um conteúdo mais completo e reproduzirem bem a realidade operacional da polícia: modelos “FLETC”,
“GILIESPIE” e “CANADENSE”. Considera-se, porém, o modelo “CANADENSE”, o mais indicado, por
apresentar facilidade de aprendizagem e riqueza de conteúdo de forma gráfica.
A adoção de um modelo pela Polícia é perfeitamente viável. Servirá para orientar os policiais em seu dia-a-dia
operacional, dando-lhes um parâmetro mais perceptivo sobre quando, onde, como e porque fazer o uso da força.
Além do mais, uma vez utilizada a força, fornece um bom fundamento para a avaliação e acompanhamento do
processo por parte da organização policial, facilitando o planejamento, treinamento, supervisão e a revisão sobre o
assunto.
A divulgação ampla do modelo escolhido é o segredo para o sucesso de seu emprego. Na prática, o uso de um
modelo é realizado através da distribuição de cartões plastificados para policiais, através de cartazes colocados em
locais de reuniões, em salas de aula, durante o treinamento de abordagens, estudos de casos, dentre outros.

Aula 4 - Proposta de um modelo básico do uso progressivo da força


Sabendo que um “modelo de uso da força” é um recurso visual, destinado a auxiliar na
conceituação, planejamento, treinamento e na comunicação dos critérios sobre o uso da
força utilizado pelos policiais, deve-se seguir um modelo básico:

Figura 6 - Modelo básico do uso progressivo da força


O modelo apresentado é um gráfico em forma de trapézio com degraus em seis níveis, representados
por cores. De um lado (esquerdo) há a percepção do policial em relação a atitude do suspeito. Do outro lado
(direito) as respostas (reação) de forças possíveis em relação à atitude do suspeito.
A seta, que é dupla, descreve o processo de avaliação e seleção de alternativas. De acordo com a atitude
do suspeito, haverá uma reação do policial, na respectiva camada. Os níveis são crescentes de baixo para cima.
Relembrando que o uso efetivo da força depende da compreensão sobre as relações de causa e efeito
entre o policial e o suspeito, gerando uma avaliação prática e conseqüente resposta. Observando as ações do
suspeito dentro de um contexto de confrontação, o policial escolhe o nível mais adequado de força a ser usado, ou
não.
Na prática, sua resposta como policial será orientada pelo procedimento do suspeito. Ele decide o que
quer de você, e, com suas próprias ações ou pelo modo como se comporta, esse suspeito justificará a utilização de
certo nível de força pela polícia. Você deve empregar apenas a força necessária para controlá-lo.
Da base para o topo, cada nível representa um aumento na intensidade de força. Isto é, a escala se move
daquelas opções que são mais reversíveis para aquelas que são menos reversíveis; daquelas que oferecem menor
certeza de controle, para aquelas que oferecem maior certeza. Assim, quanto mais você sobe na escala de nível,
maior será a necessidade de se justificar posteriormente.
Uma vez que existam resistências e agressões em variadas formas e graus de intensidade, o policial terá
que adequar sua reação à intensidade da agressão, estabelecendo formas de comandar e direcionar o suspeito
provendo seu controle. Em contato com um suspeito que estáatentando contra sua vida, é claro que você não terá
que progredir nível por nível sua escala de força até você alcançar alguma forma de fazê-lo parar. O ideal é que
você fale antes e use a força somente se sua habilidade de negociar falhar. Existem, entretanto, circunstâncias em
que você poderá dizer nada além de “Pare!”.
Você pode mentalmente percorrer toda a escala de força em menos de um segundo e escolher a
resposta que lhe parecer mais adequada ao tipo de ameaça que enfrenta. Se sua manobra falha ou as
circunstâncias mudam, você pode aumentar seu poder, ampliando o nível de força de um modo consciente, ao
invés de agir com raiva ou medo. Essa avaliação entre as opções para a abordagem ajuda você a manter seu
equilíbrio tático.

Conclusão
Modelo Sistema de Níveis de forças Avaliação da Percepção de risco Formato
cores (alternativas) atitude do
FLETC Cinco cores Cinco níveis Comando suspeito
Cinco níveis Cinco níveis Gráfico em
representando verbais Controle de Submissa Profissional Tática forma de
níveis comantato Técnicas de Resistência Limiar de ameça degrau, com
diferentes do submissão Táticas passiva Ameça danosa cinco níveis e
GILIESPIE Quatro cores, Cinco níveis que Quatro níveis; Três níveis: Tabela com
representando interagem entre si: Cooperativo Não- Ameaça uso de cores.
níveis Presença Verbalização cooperativo esconhecida Tipo
diferentes de técnicas de mão Armas de agressivo de atividade
REMSBERG percepção do Cinco
Inexistente impacto
níveisArmas de
subdivididos desarmado
Inexistente criminal
Inexistente Gráfico em
em outros níveis: forma de
Presença Verbalização graus.
CANADENS Sete cores. Técnicas de mão
Sete níveis: Armas
Presença Cinco níveis: Não está presente Círculos
E Cada uma está policial Comandos Cooperativo Não- no modelo gráfico. sobrepostos
relacionada verbais Mãos livres (leve) combativo É colocado como
com o nível Mãos livres (+severo) Resistente obs.
NASHVILL Inexistente Quatro níveis: Inexistente, Inexistente, porém Eixo de
E Total submissão Passivo porém insere obs. insere obs. sobre coordenadas
Defensivo Agressão ativa Sobre fatores e fatores que “ y” x,

Agressão ativa agravada circunstâncias influenciam a


PHOENIX Inexistente Sete níveis: Ausência de Inexistente Inexistente Tabela com
resistência Intimidação duas colunas
psicológica Não-
submisso Resistência
Não se pode falar em melhor modelo e nem em único modelo. Cada modelo apresentado foi criado
para representar como cada estudioso, ou determinada polícia, observa e orienta a gradação do uso da força. Neste
módulo você teve a oportunidade de analisá-los. No próxima, seu estudo terá como foco os princípios básicos do
uso da força.
Aula 1 - Princípios básicos sobre o uso da força
Aspectos gerais
Apesar de não ser um tratado, os Princípios sobre o Uso da Força e Armas de Fogo têm
como objetivo proporcionar normas orientadoras aos Estados-membros, sendo o Brasil um deles, na
tarefa de assegurar e promover o papel adequado dos policiais na aplicação da lei.
Não resta a menor dúvida quanto à importância e complexidade do trabalho dos policiais,
onde destaca-se seu papel de vital importância na proteção da vida, liberdade e segurança de todas as
pessoas. Acrescenta-se que ênfase especial deve ser dada à qualificação, treinamento e conduta destes
policiais, tendo em vista seu contato direto com a sociedade quando das suas intervenções
operacionais. As organizações policiais recebem uma série de meios legais que as capacitam a cumprir
seus deveres de aplicação da lei e preservação da ordem. Sem este e outros poderes, tal como aquele de
privar as pessoas de sua liberdade, não seria possível à polícia desempenhar sua missão constitucional.
As organizações policiais devem equipar seus integrantes com vários tipos de armas e
munições, permitindo um uso diferenciado da força, procurando ainda disponibilizar armas
incapacitantes não- letais e equipamentos de autodefesa que possam diminuir a necessidade do uso de
armas de fogo de qualquer espécie.
Uso da força: questões antecedentes Antes de prosseguir, pare e reflita: quais os
questionamentos que um policial deve fazer a si mesmo antes de fazer o uso da força?

Antes de fazer o uso da força em uma intervenção policial, responda aos seguintes
questionamentos:

1. O emprego da força é legal?


Neste primeiro questionamento o policial deve buscar amparar legalmente sua ação,
devendo ter conhecimento da lei e estar preparado tecnicamente, através da sua formação e do
treinamento recebidos. Cabe ressaltar que vários são os casos em que ocorrem ações legítimas
decorrentes de atos ilegais. Como exemplo, podemos citar o caso do policial que durante uma
abordagem, tenta conseguir uma “confissão” do suspeito, à força, e em virtude disto, este policial é
desacatado. A prisão por desacato é uma ação legítima, contudo, ela ocorreu em virtude de um ato
ilegal, portanto o uso da força pela polícia é questionável posto que ela própria provocou a situação.

2. A aplicação da força é necessária?


Para responder, o policial precisa identificar o objetivo a ser atingido. Se a ação atende aos
limites considerados mínimos para que se torne justa e legal sua intervenção. Este questionamento,
ainda, sugere verificar se todas as opções estão sendo consideradas e se existem outros meios menos
danosos para se atingir o objetivo desejado.

3. O nível de força a ser utilizado é proporcional ao nível de resistência oferecida?


Está se verificando a proporcionalidade do uso da força, e caso não haja, estará
caracterizado o abuso de poder. Como exemplo podemos citar a ilegitimidade da ação quando o
policial não sabe a hora de parar, ou seja, o suspeito já se encontra dominado e ainda assim é
submetido ao uso da força que naquele momento passará a ser considerada desproporcional.

4. O uso da força é conveniente?


O aspecto referente à conveniência do uso da força diz respeito ao momento e ao local da
intervenção policial. Por exemplo, não seria conveniente reagir a uma agressão por arma de fogo, se
você estivesse em um local de grande movimentação de pessoas, tendo em vista o risco que sua reação
ocasionaria naquela circunstância, ainda que fosse legal, proporcional e necessário.

Princípios essenciais para o uso da força:

 Legalidade
 Necessidade
 Proporcionalidade
 Conveniência

Conforme previsto nos “Princípios Básicos para o Uso da Força e Armas de Fogo”, o policial
NÃO deve USAR arma de fogo, exceto:
Em caso de legítima defesa ou defesa de outra pessoa em situações de ameaça iminente de
morte ou ferimento grave;
Para impedir que se cometa crime particularmente grave que envolva séria ameaça à vida;
Efetuar prisão ou impedir a fuga de alguém que represente tal risco e resista à autoridade.
Os casos citados anteriormente dizem respeito à utilização das armas de fogo por policiais,
contudo, sem dispará-las com fins letais (sacar, apontar disparos de proteção, fixação pelo fogo para
evacuação).
Para fazer o uso da arma de fogo você deverá:

 Identificar-se como policial E

Avisar prévia e claramente sua intenção de usar armas de fogo, com tempo suficiente para
que o aviso seja levado em consideração. A NÃO SER QUE ,tal procedimento represente risco
indevido para os policiais ou acarrete risco de dano grave ou morte para terceiros.

OU
Seja totalmente inadequado ou inútil, dadas as circunstâncias da ocorrência.

Uso da força: ações indispensáveis

Ao utilizar sua arma de fogo durante uma intervenção operacional o policial deve lembrar-se de:

 Verificar se as características técnicas de alcance do armamento e munições utilizados


enquadram-se nos padrões adequados à situação real em que o tiro está sendo realizado.

 Identificar-se como POLÍCIA de forma clara e inequívoca, advertindo o agressor sobre


sua intenção de disparar, usando o comando verbal:

POLÍCIA! - Solte sua arma! - Se reagir, vou disparar!”


É preciso ainda considerar o tempo necessário ao acatamento do comando de forma que
seja dada ao agressor a oportunidade de desistir do seu intento criminoso e render-se.
As providências citadas na página anterior são obrigatórias, desde que, devido às
circunstâncias reais do caso, não afetem a segurança imediata dos policiais ou de outros envolvidos. O
policial insiste na ordem de forma firme e imperativa buscando estar sempre protegido e mantendo o
controle visual sobre o agressor.
Não disparar sua arma de fogo quando o cidadão infrator (agressor) simplesmente
desacatou a polícia, ou retruca, ou pondera a ordem, ou ainda, quando este tentar empreender fuga.

Prestar imediato socorro médico à pessoa ferida. Procurar minimizar os efeitos lesivos dos
disparos.

Informar a família e as instituições encarregadas de tutelar os Direitos Humanos sobre o


estado de saúde da pessoa ferida e onde ela será socorrida. A transparência na ação policial consolida a
credibilidade e legitimação quando se torna necessário o emprego da força.

Relatar detalhadamente o fato ocorrido registrando as providências adotadas antes e após o


uso da arma de fogo, mencionando a quantidade de disparos, as armas que atiraram e seus detentores.

Comentário
Assistência psicológica e jurídica
Os dirigentes nos diversos níveis e a instituição policial de forma geral deverão empenhar-
se em prestar assistência psicológica e jurídica aos servidores que tenham se envolvido em uso letal de
arma de fogo. O policial não pode vulgarizar os disparos de arma durante o serviço operacional
invertendo a premissa de que somente deve atirar como último recurso. De igual maneira ele deverá
contar com o amparo institucional, dando-lhe segurança e confiabilidade para que não se intimide
diante do confronto operacional sempre que agir dentro dos parâmetros profissionais preconizados.

Treinamento prático
O treinamento deve guardar semelhança com as situações vivenciadas na atividade de
proteção da sociedade e ser mais prático do que estático, devendo ainda ser contínuo e meticuloso,
colocando os policiais aptos ao desempenho de suas funções. As técnicas e táticas vivenciadas no
treinamento são os instrumentos que você tem para utilizar e fazer a diferença para tornar o confronto
desigual a seu favor, ajudando-o a solucionar os mais diversos tipos de intervenções policiais. Assim,
você deve dominar técnicas que lhe proporcionem o máximo de controle, com o mínimo de esforço e
dentro de uma estrutura tática e legal que se ajustem (taticamente aplicável e legalmente aceita).

Comentário
Questões éticas
É importante salientar as questões de natureza ética, que, juntamente com os princípios dos
direitos humanos, devem ser parte importante no treinamento, sendo que esta qualificação deve
preparar os policiais também para o uso de alternativas de força, incluindo a solução pacífica de
conflitos, compreensão do comportamento de multidões e métodos de persuasão, que podem reduzir
consideravelmente a possibilidade de confronto.

Utilização de arma de fogo


Sobre a utilização de arma de fogo, os policiais precisam estar devidamente treinados para
tal mister, devendo ainda, estarem orientados sob o ponto de vista emocional acerca do estresse que
envolve situações dessa natureza. O treinamento deve conter ainda aspectos relacionados aos fatos
ocorridos no cotidiano policial, aspectos estes que servem como exemplos quando da realização dessa
atividade, facilitando o trabalho dos policiais em novas intervenções de natureza semelhante.

Comentário
Uso arbitrário da força: violações
O uso arbitrário da força pelos policiais constitui violações do direito penal. Também
constituem violações dos direitos humanos, cometidas justamente pelos policiais que são os
responsáveis por manter e preservar esses mesmos direitos. O abuso da força pode ser visto como uma
violação da dignidade e integridade humana tanto dos policiais envolvidos como dos próprios
suspeitos ou infratores (alvos da intervenção), que agora passam a assumir a condição de vítimas. No
entanto, não importa como as violações sejam vistas, elas prejudicarão de fato o sensível
relacionamento entre a organização policial e toda a comunidade a que estiver servindo, sendo capazes
de causar "ferimentos" que levarão muito tempo para “cicatrizar”. É por todas as razões expostas
acima que o abuso não pode e não deve ser tolerado.

Indevido uso da força: responsabilidades


Cabe deixar bem claro que em um incidente particular com o uso indevido da força, a
responsabilidade recairá tanto sobre os policiais envolvidos quanto sobre seus superiores, pois, os
chefes têm o dever de zelar pela boa atuação dos policiais sob seu comando, sem que isso retire a
responsabilidade individual de cada policial por suas ações.

Deverão ser responsabilizados aqueles policiais que tendo o conhecimento de que outros,
sob o seu comando, estão ou tenham estado, recorrendo ao uso ilegítimo de força e também aqueles
que não tenham tomado todas as providências a seu alcance a fim de impedir, reprimir ou comunicar
tal abuso.

Não serão responsabilizados, no entanto, aqueles que se recusarem a cumprir uma ordem
ilegal para usar força ou armas de fogo ou comunicarem tal uso ilegal realizado por outros policiais.
Obediência a ordens superiores não será nenhuma justificativa quando os policiais souberem que o uso
da força era ilegal e tiverem oportunidade razoável para se recusarem a cumpri-la: Nessas situações, a
responsabilidade caberá também ao superior que tenha dado as ordens ilegais.

Justifica-se a conclusão de que o uso da arma de fogo seja visto como o último recurso. Os
riscos no uso da arma de fogo em termos de danos, ferimentos (graves) ou morte, assim como de não
apresentar nenhuma opção real após seu uso, transformam-na em última barreira na avaliação dos
riscos de uma situação a ser resolvida.

Pois que outros meios os policiais empregarão, se o uso da arma de fogo deixa de
assegurar que os objetivos da aplicação de lei sejam realmente atingidos?

Disparos de Armas de Fogo como Resposta aos Infratores


Faz-se necessário distinguir claramente, sob o enfoque prático, as diferenças existentes
entre os disparos de armas de fogo efetuados pelos policiais em resposta aos tiros contra eles
realizados pelos infratores. Observe atentamente o quadro a seguir:
CATEGORIA OBJETIVOS LOCAL DE PREOCUPAÇÃO COM
ATUAÇÃO TERCEIROS
POLICIAIS Junto à Sociedade TOTAL: qualquer pessoa do
Defender a vida das público atingida ou ferida é
extremamente grave e
pessoas. SERVIR E comprometedor.
CIDADÃOS Delinqüir Junto à Sociedade NENHUMA: o público
PROTEGER atingido facilita a fuga, pois
INFRATORES ocupará a Polícia com
socorrimento

Conclusão

As implicações do uso (letal) de armas de fogo podem ser, é claro, limitadas nos termos
legais.

No entanto, é bom que as consequências pessoais para os policiais envolvidos sejam


destacadas. Embora existam regras gerais de como os seres humanos reagem a acontecimentos
estressantes, a reação específica de cada pessoa depende, em primeiro lugar, da própria pessoa,
sendo após, ditada pelas circunstâncias particulares e únicas do acontecimento. O fato de que haja
aconselhamento psicológico disponível ao policial quando do acontecimento não elimina a profunda
experiência emocional que este policial sofre em consequência dos disparos de armas de fogo por ele
realizado, mas deve ser visto como a aceitação da gravidade do incidente. É preciso evitar a
vulgarização operacional de ações desta natureza.

Nos casos de morte, ferimento grave ou consequências sérias, um relatório


pormenorizado deve ser prontamente enviado às autoridades competentes, responsáveis pelo controle
e avaliação administrativa e judicial.
O abuso não deve ser tolerado. A atenção deve estar voltada para a prevenção destes atos,
mediante formação e treinamento regular apropriado e procedimentos de avaliação e supervisão
adequados. Sempre que existir uma situação de abuso legado ou suspeitado, deve haver uma
investigação imediata, imparcial e total. Os responsáveis devem ser punidos. As vítimas devem
receber atenção adequada de acordo com suas necessidades especiais durante toda a investigação.
Para que se possa restaurar com sucesso a confiança da sociedade pelo relacionamento abalado,
deverá haver um esforço genuíno por parte da organização policial.

Neste módulo são apresentados exercícios de fixação para auxiliar a compreensão do


conteúdo.
O objetivo destes exercícios é complementar as informações apresentadas nas páginas
anteriores.
1. Quais são as implicações éticas e legais do uso da força e de armas de fogo?

2. Quais os princípios essenciais para o uso da força?

3. De que forma o policial pode responder, para si mesmo, se o uso da força é necessário?

4. Explique o que significa dizer que o uso da força é conveniente.


5. Quando é permitido o uso da força e de armas de fogo pelo policial?

6. De que forma o uso da força potencialmente põe em perigo o relacionamento de uma


organização policial com a comunidade?
7. Explique a questão da responsabilidade no caso do uso indevido da força.

Aula 1 - Uso progressivo da força


Ao trabalhar na rua, o policial necessita trazer consigo um leque de respostas variadas
para situações de enfrentamento. Ter apenas uma ou duas respostas não será suficiente para enfrentar
uma agressão.

Uma vez que existam resistências e agressões em variadas formas e graus de intensidade,
o policial terá que adequar sua reação à intensidade da agressão, estabelecendo formas de comandar e
direcionar o suspeito provendo seu controle. (MOREIRA, 2001).

ROVER (2000) afirma que: “Os governos deverão equipar os EAL com uma série de
meios que permitam uma abordagem diferenciada ao uso da força e armas de fogo”.

Lembre-se
O uso legítimo da força pressupõe, como já foi dito, além dos princípios éticos, que seja
baseado na legalidade, necessidade e proporcionalidade.

Cada encontro entre o policial e o cidadão deve fluir em uma seqüência lógica e legal de
causa e efeito, baseada na percepção do risco por parte do policial e na avaliação da atitude daquele
que é o suspeito. Este fluxo deve ser uma constante, como um medidor de suas ações: aumento ou
intervenção, assim como de diminuição ou não-intervenção durante um confronto. Esta seqüência é
chamada de uso progressico da força.

O uso progressivo da força é a seleção adequada de opções de força pelo policial em


resposta ao nível de submissão do indivíduo suspeito ou infrator a ser controlado. O uso progressivo da
força pode também ser definido como uma ferramenta para ajudar na determinação de que técnicas ou
nível de força é apropriado para as várias situações que possam surgir. É uma lista de técnicas que
possuem uma graduação que vai das mais “fracas” ou menos violentas até as mais “fortes” ou mais
extremas, como a força letal. WILLIAMS (2001)

A aplicação progressiva da força compreende três elementos principais de ação: instrumentos, táticas e
uso do tempo (GRAVES & CONNOR (1994, p.3):

Os instrumentos incluem os tópicos disponíveis no currículo dos programas de


treinamento da organização policial tais como as armas e equipamentos disponíveis, os
procedimentos, perspectivas comportamentais, dentre outros;

As táticas incorporam os instrumentos às estratégias consideradas necessárias e viáveis no


contexto da iniciativa de repressão; e
O tempo é demonstrado pela presteza da resposta do policial às ações do indivíduo,
medida em termos da instantaneidade e da necessidade.

A ênfase do confronto situa-se nas “ações” do indivíduo suspeito ou infrator. A resposta


do policial será:

 Preventiva, baseada em sua experiência;


 Ativa, dentro dos limites da segurança e eficácia; e
 Reativa para prevenir ações agressivas por parte do transgressor.
 Sempre que o policial faz uma intervenção com o uso da força, principalmente
em seu uso extremo que é o uso letal de armas de fogo, deve ter uma prioridade em termos de
segurança: em primeiro lugar a segurança do público; em segundo lugar a segurança do policial; e em
terceiro lugar a segurança do indivíduo suspeito ou infrator.

Segundo VIANNA (2000), “A ordem de prioridades deve pressupor que a polícia, pela sua
própria condição, deve aceitar alguns riscos e estar certa de que o público em geral não será exposto ao
perigo e que o emprego de armas e métodos serão previamente avaliados para cada caso”.
A polícia está em segundo plano em relação à segurança do público visto que é paga e
treinada para enfrentar o perigo.
O uso progressivo da força consiste na avaliação de três situações diferentes:
Percepção do policial em relação ao indivíduo suspeito;
Alternativas do uso da força legal; e Resposta do policial.
O policial decide a respeito da utilização de força em relação à perspectiva de sua
percepção do indivíduo suspeito, dentro de circunstâncias que são tensas, incertas e rapidamente
envolventes.
Aula 2 - Níveis de força progressiva

O ponto central na teoria do uso progressivo da força é a divisão da força em níveis


diferentes, de forma gradual e progressiva. O nível de força a ser utilizado é o que se adequar melhor
às circunstâncias dos riscos encontrados, bem como a ação dos indivíduos suspeitos ou infratores
durante um confronto.

Os níveis de força apresentam seis alternativas adequadas do uso da força legal como
formas de controle a serem utilizadas pelos policiais, como se vê a seguir:

Nível 1 - Presença física


Nível 2 - Verbalização
Nível 3 - Controles de contato ou controle de mãos livres Nível 4 - Técnicas de submissão
(Controle físico)

Nível 5 - Táticas defensivas não-letais Nível 6 - Força Letal


Nível 1 - Presença física

A mera presença do policial uniformizado, muitas vezes, será o bastante para conter um
crime ou contravenção ou ainda para prevenir um futuro crime em algumas situações. Sem dizer uma
palavra, um policial alerta pode deter um criminoso passivo, usando apenas gestos. Isso pode ocorrer,
por exemplo, quando um policial se aproxima de uma “briga” em um show barulhento, em que não se
consegue ouvi-lo e os envolvidos cessam suas atitudes. Pois, a presença do policial é entendida
legitimamente como a presença da autoridade do Estado.

Nível 2 - Verbalização

Baseia-se na ampla variedade de habilidades de comunicação por parte do policial,


capitalizando a aceitação geral que a população tem da autoridade. É utilizada em conjunto com a
“presença física” do policial e pode usualmente alcançar os resultados desejados. As palavras podem
ser sussurradas, utilizadas normalmente ou gritadas dependendo da atitude do suspeito.

O conteúdo da mensagem é muito importante. A escolha correta das palavras, bem como
a intensidade a serem empregadas, traduz com precisão a eficácia da investida policial. Assegurado
desta postura, o policial terá mais chances de alcançar o seu objetivo. Por outro lado, há que se tomar
cuidado em situações mais sérias, onde deve se evitar comandos longos, ou seja, deve se usar
comandos curtos.

Este nível de força pode e deve ser utilizado em conjunto com qualquer outro nível de
força, sempre que possível.

O treinamento e a experiência melhoram a capacidade do policial para verbalizar. As


palavras- chaves na aplicação da lei serão negociação, mediação, persuasão e resolução de conflitos.
A comunicação é o caminho preferível para se alcançar os objetivos de uma aplicação da lei legítima
(ROVER).
Comentário
A verbalização é vista como um recurso positivo em meio a uma intervenção policial,
porém, nesta unidade, serão apontadas, não apenas as vantagens de se adotar a boa comunicação
como aliada, mas também situações simuladas, extraídas do seu dia-a-dia, para que você, policial, se
convença de que a verbalização é uma poderosa “arma”, que bem manejada, lhe trará resultados
efetivos em sua constante atuação policial.
Você deve procurar reduzir as possibilidades de confronto pela adequada utilização da
verbalização antes, durante e após o emprego de força. Veja alguns exemplos na próxima página.
Exemplo 1
Um policial foi chamado a um bar para separar uma briga entre dois homens. Ele acalmou
a todos e preparava-se para sair quando alguém gritou: “Eles começaram de novo!” O policial correu
até o balcão do bar e, quando dava a volta, viu um dos balconistas caído no chão e um jovem em cima
dele. Um brilho metálico na mão do jovem parecia ser uma arma de fogo, ou uma faca no pescoço do
balconista. O policial que já tinha sacado seu revólver, pronto para atirar (uma reação parecia ser
urgente), mas o policial teve tirocínio suficiente para fazer uma verbalização antes de usar sua arma
de fogo. Foi uma decisão da qual ele jamais se arrependeria. O balconista sofria uma crise epiléptica e
o jovem era o cozinheiro do bar que tentava, com uma colher, desenrolar a língua de seu colega.

Comentários sobre o Exemplo 1:


Ao proceder a abordagem verbal, explique, através de comandos, cada ação que o
suspeito deve realizar. Trate-o com dignidade e respeito utilizando linguagem profissional. Entenda
que o fato do suspeito olhar para você não é uma ofensa ou desafio.
Esteja sempre preparado, pois é difícil prever o que pode acontecer quando se ordena ao
suspeito: PARADO! POLÍCIA! Ele pode obedecer imediatamente sua ordem ou sair correndo feito
um louco ou, imediatamente, atirar. Qualquer que seja a reação, o momento é tenso, crítico e cheio de
riscos. Ao abordar verbalmente um suspeito esteja preparado para tudo.
Seja firme! Um comando enérgico pode evitar uma tragédia, impedindo o uso da força
física ou letal. A abordagem verbal estabelece quem você é e o que você quer que o suspeito faça. Se
o suspeito segue as suas ordens, sua segurança, a princípio, estará garantida e o controle será mantido
sem que haja necessidade do uso de arma de fogo.

Aborde verbalmente para que você não seja abordado.


Exemplo 2
Um homem foi considerado em atitude suspeita por uma dupla de policiais, pois agia
como tal, observando insistentemente um beco escuro. Os policiais então conduzem a viatura até o
suspeito e desembarcam para investigar. Ele não parecia muito suspeito, mas assim que colocaram o
pé para fora da viatura, o homem sacou uma espingarda com o cano serrado de seu paletó e abordou
os policiais verbalmente: "Larguem suas armas, ou estouro vocês”. Em desvantagem, os policiais não
estavam em condições de pronunciar qualquer comando. Um dos policiais foi tomado de refém por
muitas horas, com a arma apontada para sua cabeça, enquanto os outros negociavam o fim do
episódio.

Comentários sobre o Exemplo 2


Ao abordar algum suspeito, você estará mais seguro se proceder como se o suspeito fosse
reagir, ainda que haja indicações de que ele não resistirá, você não perderá nada em se resguardar
abordando de uma posição abrigada ou aproximando-se com cautela. Se possível, proceda da seguinte
maneira:

Efetue a abordagem verbal de um local abrigado

Dessa forma, se houver uma reação você estará protegido e em condições de se defender.

Esteja com a arma pronta na posição de busca “01” ou “02” conforme o nível de risco
determine.

Como regra mínima de segurança, caso entenda não ser necessário sacar a arma, você deve
desabotoar o coldre e “localizar” a arma colocando sua mão sobre a coronha. Dessa forma, se for
necessário sacar a arma, você não necessitará procurá-la. Caso a situação evolua e o uso da arma de
fogo seja recomendável, proceda conforme as orientações contidas no capítulo sobre uso da força.

Tome a iniciativa fazendo a abordagem verbal antes que o suspeito a faça.

Aquele que fala primeiro ganha importante proteção psicológica e, freqüentemente, física,
que poderá favorecer a solução da ocorrência. Empregue, durante todo o tempo, o pensamento tático,
pense no processo mental necessário para que o suspeito possa desferir uma agressão. Pense pró-
ativamente!
Comentário
Caso o suspeito desobedeça, não encerre os comandos. De preferência, com a cobertura
(reforço) de outros policiais, tente dominá-lo. Insista nos comandos! Há chance de que o suspeito não
esteja ouvindo por estar no meio do barulho da rua, ou dentro de um automóvel com o rádio ligado ou
ainda pode ser que ele tenha deficiência auditiva ou esteja sob efeito de álcool e outras drogas. Estando
em supremacia de força, juntamente com os colegas, em trabalho de equipe, tente dominá-lo
fisicamente. Enquanto procedem ao domínio físico, não interrompa os comandos para que ele pare de
resistir e se entregue!
Outros pontos importantes sobre a verbalização:
1. Atenção à linguagem
Uma atenção especial deve ser dada à linguagem. Alguns policiais acreditam que,
utilizando uma linguagem vulgar, “chula” e ameaçadora, desencorajam a resistência do suspeito.
Diálogos dessa natureza causam espanto e demonstram falta de profissionalismo. Além disso, uma
“ameaça verbal” pode desencadear uma reação e propiciar o agravamento da situação. O que se busca,
ao realizar a abordagem verbal, é a redução do uso da força e o controle do suspeito.

Considere ainda que a sua linguagem pode angariar antipatizantes que, possivelmente,
testemunharão contra você em qualquer processo, afirmando que houve agressão desnecessária e uso
abusivo da força (despreparo do policial).

2. Use sua autoridade


Seja firme e controle a situação. Dirija comandos claros, curtos e audíveis para cada atitude
que o suspeito deva tomar. Em geral, apenas um dos policiais deve falar: “Parado! Polícia!... Coloque
as mãos na cabeça!... Entrelace os dedos!... Vire de costas para mim!... Ajoelhe-se! Cruze a perna
... ”

3. Importância do contato visual


Procure sempre manter o contato visual com o abordado, fique abrigado, mas sem perdê-lo
de vista. Diga frases usando os verbos no modo imperativo, em tom alto de voz; demonstre convicção
e determinação no que está fazendo.

4. Nível da voz
Lembre-se de flexionar o nível de voz sempre que houver acatamento, abaixe o tom,
conquiste a confiança da pessoa abordada. Mas fique sempre atento ao recurso de elevar bruscamente
o tom de voz, caso perceba algo errado. A posição em que o policial empunha sua arma também ajuda
na verbalização, no sentido que ele tenha o recurso de apontá-la ou não, conforme o desenrolar do
caso, buscando sempre partir do nível mínimo de força e evoluir gradativamente.

5. Não entre em discussão


Caso o suspeito não acate, repita os comandos, insista com firmeza, procure não ficar
nervoso caso não seja acatado de imediato. Continue insistindo, mantenha seu profissionalismo e não
se exponha a riscos. Procure o diálogo, contudo evite discutir, não entre em “bate-boca”, resista à
tentação de ficar disputando na voz com o suspeito. Deixe que ele fale e após mantenha-se calmo,
insistindo em seus comandos firmes e imperativos demonstrando sua determinação. Faça perguntas
como: O que está acontecendo aqui?/ Por que você não acata minhas ordens?

Razões para reações passivas do suspeito


Considere as possíveis razões pelas quais o suspeito estaria resistindo passivamente, entre
outras:

Ele não te escuta ou não compreende (por deficiência auditiva, por efeito de álcool ou
outras drogas).

Ele não acata o seu comando como forma de meramente desafiar ou desmerecer a ação da
polícia, visando provocar o policial, conduzindo-o a uma situação vexatória ou de abuso de força (por
vezes buscando angariar simpatia de transeuntes).
Ele tem algo a esconder e tenta ganhar tempo e distrair a atenção dos policiais (por vezes
com a presença de comparsas).
Ele tenta ganhar tempo para empreender fuga ou reagir fisicamente contra os policiais.
Quaisquer que sejam as possibilidades, procure pensar taticamente; priorize a sua
segurança e evite cair na armadilha das provocações. Conduza o desfecho com isenção e
profissionalismo. Existe policial que leva este tipo de situação para o campo pessoal e perde o controle
mediante a mínima ponderação do suspeito. Este corre o sério risco de expor desnecessariamente sua
vida e as de seus companheiros, ou ainda, de cometerem atos de violência.
Faça o que deve ser feito. Adote todas as medidas legais que couberem ao caso em
particular, conduza sua atuação conforme preconizado no escalonamento do uso da força. Seja firme e
seja justo. Aja com ética, técnica e legalidade.

Não ameace ao suspeito


Nem diga nada que não possa cumprir, como por exemplo: “vou lhe dizer pela última vez”.
Se ele resolver testar seu blefe você perderá sua credibilidade. Por outro lado, se ele obedecer, esteja
preparado, não relaxe sua segurança! Esse pode ser o momento mais perigoso da abordagem.

Controle sobre as mãos do suspeito


Em todo o tempo, mantenha o controle sobre as mãos do suspeito. Elas são o mais provável
local de onde pode surgir uma agressão. Mantenha o controle sobre o suspeito, não permita que ele se
mova sem sua autorização. Se ele se movimentar levemente, a sua tendência será acostumar-se com a
movimentação e relaxar, aumentando os riscos. Saiba em todo o tempo a localização exata do suspeito.

Possibilidade de desafiar o local verbalmente


Considere a possibilidade, caso não saiba a localização exata de um suspeito escondido, de
“desafiar” o local verbalmente. Por exemplo, se durante uma busca em uma edificação você suspeitar
que alguém se encontra escondido dentro de um armário, você pode utilizar algo parecido como:
“Polícia! Você, dentro do armário, saia DEVAGAR, com as mãos para cima!”. Caso ele realmente
esteja dentro do armário ele poderá obedecer, permanecer escondido e até atirar através da porta.
Portanto, ao comandar, esteja em uma posição abrigada.
Quando você “blefar” um provável local de esconderijo se não houver uma resposta, você
terá, obrigatoriamente, que fazer a verificação antes de prosseguir.

Posição para algemar


A escolha da posição para algemar deve ser feita a partir de uma avaliação da situação e
do comportamento do suspeito. Pessoas cooperativas e que não ofereçam riscos não devem ser
abordadas e algemadas nas posições de joelho e deitada. Utilize, quando for o caso, posições de pé ou
apoiado na parede que são táticas mais razoáveis e adequadas.
Nível 3 - Controles de contato ou controle de mãos livres

Trata-se do emprego de talentos táticos por parte do policial para assegurar o controle e
ganhar cooperação. Em certas situações haverá a necessidade de dominar o suspeito fisicamente. Nesse
nível, os policiais utilizam-se primeiramente de técnicas de mãos livres para imobilizar o indivíduo.

Compreende-se em técnicas de condução e imobilizações, inclusive através de algemas.

Nível 4 - técnicas de submissão (controle físico)


Emprego da força suficiente para superar a resistência ativa do indivíduo, permanecendo
vigilante em relação aos sinais de um comportamento mais agressivo. Nesse nível, podem ser
utilizados cães, técnicas de forçamentos e agentes químicos mais leves. O indivíduo suspeito é
violento.
Nível 5 - Táticas defensivas não letais
Uma vez confrontado com as atitudes agressivas do indivíduo, ao policial é justificado
tomar medidas apropriadas para deter imediatamente a ação agressiva, bem como ganhar e manter o
controle do indivíduo, depois de alcançada a submissão. É o uso de todos os métodos não-letais,
através de gases fortes, forçamento de articulações e uso de equipamentos de impacto (cassetetes,
tonfa). Aqui ainda se enquadram todas as situações de utilização das armas de fogo, desde que
excluídos os casos de disparo com intenção letal (sacar e apontar a arma com finalidade de controle
intimidatório do suspeito, dentro dos procedimentos da verbalização).
Nível 6 - Força letal
Ao enfrentar uma situação agressiva que alcança o último grau de perigo, o policial deve
utilizar táticas absolutas e imediatas para deter a ameaça mortal e assegurar a submissão e controle
definitivos. É o mais extremo uso da força pela polícia, e, só é utilizado em último caso, quando todos
os outros recursos já tiverem sido experimentados. A possibilidade de se ter um equipamento ou arma
não-letal faz com que o policial tente utilizar outros meios que não esse. Caso contrário, sendo o
único recurso disponível, o policial poderá fazer um disparo letal.
Aula 3 - Tiro intimidativo
Embora este assunto fora ressaltado anteriormente, de maneira resumida, que esta
temática deve ser trabalhada de modo apurado para que você tenha uma melhor visão do que está
sendo proposto não apenas por meio de teorias, mas também por meio de supostas situações práticas
em que você, enquanto policial, poderá enfrentar no seu dia-a-dia. Por isso a razão de uma aula à
parte.
O policial no desempenho de suas atividades de polícia ostensiva e preservação da ordem
pública, pode e deve fazer uso da força, sempre que necessário, desde que seja sem excesso ou
arbitrariedade. Examinando sob esse ângulo, quando um policial DISPARA sua arma como recurso
operacional simplesmente para intimidar ou advertir o infrator acaba causando na sociedade sensação
de medo e insegurança. Tal atitude relaciona-se com policiais com pouca capacidade técnica e
contraria a essência do serviço policial, pois, a insegurança, neste caso, parte justamente daqueles que
têm o dever de proteger. A arma do policial que seria instrumento de segurança para a população,
passa a representar mais um risco para ela própria.

Verifica-se que a prática de disparos intimidativos efetuados por policiais despreparados,


trabalhando de forma amadora, provoca situações de alto risco para a sociedade cujas consequências
você verá a seguir, através de alguns exemplos instrutivos:
Exemplo 1
Durante uma operação de blitz em uma rua da região central da cidade, o policial
determinou que um motoqueiro parasse. Contudo, o condutor, inabilitado, nervoso por estar com a
moto emprestada de um amigo, tentou fugir. Momento em que o policial saca sua arma e grita para
que ele pare. Em seguida, efetua um disparo intimidativo no chão, que ricocheteia e acerta as costas
do motoqueiro vindo este a falecer devido ferimento causado pelo projétil.
Exemplo 2
Um grupo de policiais estava empenhado em capturar um andarilho que de posse de uma
foice estava perturbando as pessoas em uma zona rural; ao localizá-lo deitado debaixo de uma árvore,
o comandante da operação faz um disparo para o alto para acordá-lo, momento em que um outro
policial da equipe se assusta com o barulho do tiro e efetua um disparo contra o andarilho.
Exemplo 3
Durante policiamento a pé, o policial recebe mensagem, via rádio, tratando sobre as
características de um cidadão infrator que acabara de cometer um roubo a um transeunte. Ao avistar
uma pessoa com as características semelhantes, passadas anteriormente. Sendo assim, determinou que
este parasse, como não foi obedecido, efetuou disparo para cima vindo acertar uma pessoa que estava
na janela do terceiro andar de um prédio vizinho.
Exemplo 4
Infratores conhecidos disparam contra carro da polícia que os perseguia após assaltarem
uma loja comercial, os policiais revidam, e alguns tiros atingem o carro em fuga, o qual pertencia a
um cidadão que fora obrigado a entregar aos infratores a direção do veículo. Após os disparos dos
policiais contra tal veículo, o dono deste é atingido mortalmente por um dos disparos, pois estava
amarrado dentro do bagageiro do veículo.
Exemplo 5
Uma dupla de policiamento empenhada em solucionar uma briga generalizada dentro de
uma pizzaria, ao chegarem no local e diante da confusão formada, os policiais efetuam vários
disparos para cima, um dos projéteis ricocheteia no teto e atinge uma pessoa inocente.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos proclama que todos têm direito à vida, à liberdade e à
segurança pessoal. O direito à vida é o bem supremo que, se não assegurado, faz com que todos os
demais percam o sentido. Como policial, a sua missão primária é proteger e socorrer as pessoas
promovendo os direitos humanos e garantindo a inviolabilidade do direito à vida. Dessa maneira, a
decisão apropriada a respeito do uso da força letal é o mais crítico desafio enfrentado pela polícia.

O ideal é que toda ocorrência seja resolvida sem o uso da força utilizando, principalmente,
a verbalização. Porém, nem sempre isso é possível. Os princípios que irão dirigi-lo no uso da força são
a legalidade, necessidade, proporcionalidade e conveniência. O emprego da força pressupõe a busca de
um objetivo legítimo, e, você deve fazê-lo de forma moderada, agindo proporcionalmente à agressão
ou à ameaça de agressão, utilizando a quantidade de força necessária para controlar o suspeito.

Se você é ameaçado ou agredido com força letal, a resposta legal, necessária e proporcional
poderá ser reagir, utilizando força letal para controlar o agressor, defendendo a sua vida ou de uma
terceira pessoa.

O uso da FORÇA LETAL constitui-se em medida extrema e somente é justificado para a


legítima DEFESA DA VIDA!

Aula 4 - Triângulo da força letal

O triângulo da força letal é um modelo de tomada de


decisão designado para desenvolver sua habilidade para
responder a encontros de força, permanecendo dentro da
legalidade e de parâmetros aceitáveis.

Os três lados de um triângulo equilátero representam três


fatores: habilidade, oportunidade e risco. Clique nos
termos do triangulo e veja seus respectivos conceitos:

Habilidade
Capacidade física do suspeito de causar dano em um policial ou em outra pessoa inocente.
Isso significa, em outras palavras, que o suspeito possui uma arma capaz de provocar morte ou lesão
grave, como por exemplo, uma arma de fogo ou uma faca. Habilidade pode ainda incluir a capacidade
física, através de arte marcial ou de força física, significativamente superior à do policial.

Oportunidade
Diz respeito ao potencial do suspeito em usar sua habilidade para matar ou ferir
gravemente. Um suspeito desarmado, mas muito alto e forte pode ter a habilidade de ferir seriamente
ou matar uma outra pessoa menor e menos condicionada. A oportunidade, entretanto, não existe se o
suspeito está a 20 metros de distância, por exemplo. De igual modo, um suspeito armado com uma
faca tem habilidade para matar ou ferir seriamente, mas pode faltar oportunidade se você aumentar a
distância entre as partes, no caso, você e ele, ou na busca de um abrigo.

Risco
Existe quando um suspeito toma vantagem de sua habilidade e oportunidade para colocar
um policial ou outra pessoa inocente em um iminente perigo físico. Uma situação onde um suspeito

Comentário
Raciocinar sobre o triângulo da força letal pode auxiliá-lo a decidir. Além disso, ao lidar
com um suspeito não-cooperativo que está armado, você deve, em primeiro lugar, buscar um abrigo
para, então, lidar com ele. Em seguida deve aumentar a distância entre você e o agressor o que
dificultará o ataque. Em terceiro lugar, solicite cobertura. Não tente resolver a situação isoladamente.
Aumentar o número e qualidade (equipes especializadas) dos policiais no local pode desencorajar o
agressor. Em último caso, havendo risco demasiado para você e para a comunidade, avalie a
possibilidade de se retirar do local ou facilitar a fuga do agressor, pois “uma prisão sempre pode
aguardar uma nova oportunidade”, mas a perda de uma vida é irreversível! Estando protegido, e,
sendo possível, utilize a negociação e a persuasão determinando ao suspeito que se renda. Quando a
situação permitir, a verbalização deve ser combinada com a demonstração de força. O suspeito deve
entender a sua disposição e firme resolução em controlá-lo utilizando-se, inclusive, de força letal.
Aula 5 - Estudo das reações fisiológicas
O corpo humano sofre reações fisiológicas involuntárias que afetam as habilidades
motoras quando confrontado com situações de sobrevivência. Muitas dessas reações provocam efeitos
negativos na capacidade do policial de se defender em situações de vida ou morte. As habilidades
motoras combinam processos cognitivos e ações físicas que capacitam a pessoa a realizar tarefas
físicas, como, por exemplo, disparar uma arma. Conheça os tipos de coordenação motora e suas
respectivas características:

Coordenação motora grossa


Envolve a ação de grandes grupos musculares preparando a pessoa para lutar ou fugir.
Essas tarefas dependem de grande força e são provocadas em situações de alto estresse onde o
organismo processa adrenalina e outros hormônios.

Coordenação motora fina


Utiliza pequenos grupos musculares como os das mãos e dedos. Essas habilidades sempre
envolvem coordenação das mãos com os olhos, como, por exemplo, atirar. Essa tarefa requer um
nível baixo ou não existente de estresse para se obter um resultado ótimo. Em situações de alto
estresse, não é a melhor indicada.

Coordenação motora complexa


Envolve múltiplos componentes, como, por exemplo, coordenação olho/mão, tempo de
reação, equilíbrio e localização de alvo móvel. Técnicas de defesa pessoal que envolve defesa de faca,
projeções ao solo, posições de tiro defensivo são exemplos de coordenação motora complexa. Para
atingir um resultado ótimo nessas habilidades, os níveis de estresse devem estar baixos. Por isso, o
alto estresse encontrado em situações de sobrevivência, reduz a habilidade do policial para executar
ações que demandem coordenação motora complexa.
Durante situações que envolvam o uso de força letal, os policiais experimentam
aceleração do batimento cardíaco, deterioração da coordenação motora fina e complexa, dificultando
o manuseio de arma ou a adoção de posições de tiro. A elevação do batimento cardíaco afeta o
Sistema Nervoso de tal modo que prejudica a respiração e outras funções vitais involuntárias. O
organismo produz hormônios poderosos como a adrenalina e outras substâncias similares, que
aumentam o batimento cardíaco, a pressão do sangue e redireciona o sangue das extremidades
(dedos) para os grandes grupos musculares (peito, pernas e braços).

A coordenação e destreza das mãos reduzem drasticamente com a vasoconstrição.


Ocorrem ainda a redução da visão periférica e a visão se ajusta para focalizar objetos próximos. Tudo
isso dificulta a visão em profundidade e fazem com que o policial atire para baixo. Mantidas todas
essas reações descontroladas, o policial entrará em estado de pânico.

Uma das chaves para lidar com o estresse em situação de sobrevivência é controlar o
batimento cardíaco, o que pode ser feito respirando profundamente algumas vezes enquanto tenta
“relaxar” e manter o controle.

A respiração tática, como é chamada, proporciona mais oxigênio ao organismo, reduzindo


os batimentos cardíacos. A partir disso, percebe-se que as habilidades são melhoradas
consideravelmente e a ansiedade diminuída.

Direcionamento dos disparos realizados por policiais


Diante de uma situação como esta, não é possível, para a grande maioria dos policiais,
fazer disparos precisos, como por exemplo, nas mãos e nas pernas. Tendo que usar força letal, essa
força dever ser designada para a massa central. Quando se utiliza uma arma de fogo, você não atira
para assustar, nem para ferir, nem para desarmar. Atira-se para interromper a agressão ou a ameaça
que é feita à sua vida ou à de outra pessoa.

O objetivo é fazer com que o suspeito cesse seu ataque ilegal, o mais rápido possível com
total eficiência. Considerando todas as variáveis fisiológicas que interferem negativamente,
dificultando o comportamento do policial nestas situações de emergência, caso seja possível, os
disparos devem ser feitos visando minimizar os efeitos traumáticos no agressor.

Você quer e precisa pará-lo, neutralizá-lo! Você não deseja matá-lo!


Atirar em certas partes do corpo irá, provavelmente, incapacitar o suspeito de um modo
mais eficiente do que em outras. A área do corpo humano em que o impacto de projéteis tem maior
eficiência é na massa central ou região do tronco. Assim, o melhor local para controlar o agressor e
que se constitui em um maior alvo, onde o projétil terá alto poder de parada, é na massa central.
Dependendo da potência de arma e da parte do corpo atingida pode ser necessário mais do que um
disparo para fazer cessar a agressão. Com base em estudos balísticos, o número razoável, e que
normalmente provoca o resultado pretendido, são dois tiros disparados em rápida seqüência, contudo,
este aspecto dependerá efetivamente de cada caso prático.
Aula 6 - Utilização dos níveis de força
Dentro de cada nível, existem subdivisões de intensidade que indicam que mesmo dentro
de determinada resposta de força, existem opções de menor ou maior força.

O policial seleciona a opção de nível de força que mais se ajusta à resistência enfrentada.
A progressão será avaliada e adequada ao tipo de ação do suspeito. Se um nível de força já adotado
falha ou as circunstâncias mudam, o policial pode e deve aumentar o nível de força utilizada de forma
consciente.

Segundo MOREIRA (2001), cada nível de força utilizado representa um aumento na


intensidade da força. Quanto maior o nível da força, menos reversível será, maior certeza de controle
haverá e maior será a necessidade de sua justificativa.

Na visão de HUNTER (2001), o uso progressivo consiste em níveis de força


representados em uma escala. Para se alcançar os resultados desejados, cada situação deve ser
abordada no nível o mais baixo possível, tendo em vista os fatores de segurança dos policiais e
responsabilidades da organização policial. Esclarece ainda que o uso da força em um nível “abaixo do
necessário” poderá expor o policial ou outros a um perigo.

Um nível “acima do necessário” poderá ser considerado abuso de poder. E por isso, uma
avaliação correta do nível de força é muito importante para o atingimento dos objetivos legítimos do
uso da força.

Segundo MOREIRA (2001), se o policial possui confiança e habilidades nos componentes


verbais ou físicos da escala do uso da força, é menos provável que venha a recorrer à sua arma
prematuramente. O nível de força utilizada dependerá, em boa parte, do nível de confiança que o
policial possui.

O nível de confiança por parte do policial militar ao intervir em uma ocorrência será tanto
maior quanto for o seu nível de treinamento, conhecimento de técnicas, experiência e possibilidade de
uso de equipamentos e tipos de armas diferentes.

Conforme diz WILLIAMS (2001), um alto nível de confiança do policial possibilita um


grau maior de escolha entre: tentar evitar o uso da força; ser capaz de decidir por usar a força; e usar a
força com conhecimento.

A escolha do nível adequado de força a ser usado depende muito de como o policial está
equipado e como está treinado. A opção variada de uso de equipamentos como cassetetes (tonfa), gás
pimenta ou lacrimogêneo, armas não-letais, coletes à prova de balas, conhecimento de técnicas de
defesa pessoal, possibilita um aumento da confiança do policial.

Para atuar em uma ocorrência em que seja necessário o uso da força, o policial precisa
estar equipado com opções variadas de força. Caso o policial chegue em uma intervenção, somente
com sua arma de fogo, sem conhecimento de técnicas de defesa pessoal, lhe restará como única opção
o uso da arma de fogo, na eventual falha da verbalização. O resultado obtido poderá não ser o mais
adequado. Portanto, é muito importante o preparo do policial e a disponibilidade de equipamentos
para uma boa escolha no nível de força a ser utilizado. Quanto maior o número de técnicas e
equipamentos disponíveis aos policiais, melhores serão as condições de escolha do nível de força a
ser usado.
É o que afirma ROVER (2000, p. 279) quando esclarece que os policiais devem ser
equipados com vários tipos de armas e munições, permitindo um uso diferenciado de força e armas de
fogo.

Segundo os PBUFAF, em seu segundo princípio, os policiais devem ser equipados com
equipamentos de autodefesa como escudos, capacetes, coletes à prova de balas e meios de transporte
blindados, de modo a diminuir a necessidade do uso de armas de qualquer espécie. (ONU, 1990).

O desenvolvimento de armas incapacitantes não-letais para restringir a aplicação de meios


capazes de causar morte ou ferimentos são incentivados, também, pelos PBUFAF. (ONU, 1990).
Na busca da utilização de armas não-letais, foi desenvolvida uma munição de borracha
para distúrbios civis. O uso desse recurso não pode ser indiscriminado. Conforme afirma os
PBUFAF, em seu terceiro princípio, as organizações policiais são encorajadas a implementar normas
que assegure que o desenvolvimento e o emprego de armas incapacitantes não-letais sejam
cuidadosamente avaliadas de modo a minimizar o risco de pôr em perigo pessoas que não estejam
envolvidas, e que o uso de quaisquer dessas armas seja cuidadosamente controlado. (ONU, 1990).

Algumas polícias utilizam o cão como uma arma. Eles são treinados na captura de
suspeitos armados e perigosos, na busca de suspeitos escondidos e em auxílio à apreensão de drogas.
ROVER (2000, p. 279) lembra que: “Embora não mencionados nos PBUFAF, o cão policial é uma
“arma” valorizada incluída entre aquelas que permitem às organizações uma abordagem diferenciada
ao uso da força e armas de fogo”.

Níveis de submissão dos suspeitos


Basicamente os suspeitos que você lida se enquadram em uma das seguintes situações:

Normalidade
É a situação rotineira do patrulhamento em que não há a necessidade de intervenção da
força policial.
Cooperativo O suspeito é positivo e submisso às determinações dos policiais. Não oferece
resistência e pode ser abordado, revistado e algemado facilmente, caso seja necessário prendê-lo.

Resistente passivo
Em algumas intervenções, o indivíduo pode oferecer um nível preliminar de insubmissão.
A resistência do suspeito é primordialmente passiva, com ele não oferecendo resistência física aos
procedimentos dos policiais, contudo, não acata às determinações, fica simplesmente parado. Ele
resiste, mas sem reagir, sem agredir.

Resistente ativo
A resistência do indivíduo tornou-se mais ativa, tanto em âmbito quanto em intensidade.
A indiferença ao controle aumentou a um nível de forte desafio físico. Como exemplo, podemos citar
o suspeito que tenta fugir empurrando o policial ou vítimas.
Agressão não-letal
A tentativa do policial de obter uma submissão à lei chocou-se com a resistência ativa e
hostil, culminando com um ataque físico do suspeito ao policial ou a pessoas envolvidas na
intervenção.

Agressão letal
Representa a menos encontrada, porém, a mais séria, ameaça à vida do público e do
policial. O policial pode razoavelmente concluir que uma vida está em perigo ou existe a
probabilidade de grande dano físico às pessoas envolvidas na intervenção, como resultado da
agressão.
Concluindo de maneira incisiva, e até mesmo repetitiva, como forma de deixar claro a
você, que o uso efetivo da força depende da sua compreensão, enquanto policial, sobre as relações de
causa e efeito. O policial observa as ações do suspeito dentro de um contexto de confrontação para
escolher o nível mais adequado de força a ser usado. Assim, o policial responde de maneira
preventiva, ativa ou reativa conforme sua avaliação.
Como já foi pontuado, no que tange à importância do conhecimento do uso progressivo da
força, sem perder de vista que cada situação é única.
É preciso estar ciente de que o uso progressivo da força é um processo contínuo e flexível,
podendo progredir a um nível mais avançado ou regredir a um nível de menor graduação de força, no
qual os vários meios para exercer o controle de indivíduos suspeitos já estão posicionados. Para
legitimar tal posicionamento, tome como base a citação de (MOREIRA,2001) como suporte, segundo
ele, a resposta do policial será orientada pelo procedimento do suspeito. Tal procedimento norteará a
ação do policial na escolha de certo nível de força exigida na intervenção em caso, o que justificará
suas ações.
Aula 7 - Percepção do risco
Cada encontro entre o policial e o cidadão deve fluir em uma seqüência lógica e legal de
causa e efeito, baseada na percepção do risco por parte do policial, uma vez que faz parte do conceito
de uso progressivo da força a avaliação dos riscos. Os policiais podem classificá-la da seguinte forma:
Percepção profissional
Representa o fundamento do processo perceptivo. Este nível de percepção abrange as
atividades policiais do dia-a-dia e as exigências cruciais do ambiente em que funciona.

Percepção tática
O policial percebe um aumento da ameaça no cenário do confronto.

Percepção do limiar de ameaça


Sinaliza o aumento do estado de alerta devido à percepção da ameaça e ao perigo
detectado. Percepção de ameaça danosa
Denota uma constatação acelerada do perigo para o policial que deve agora apontar suas
energias e suas táticas na direção da defesa.

Percepção de ameaça mortal


É o nível mais alto de ameaça. O policial deve manter o mais alto nível de avaliação de
risco e apelar para suas máximas habilidades de sobrevivência.
OBS.: No decorrer do confronto, o policial pode refazer a avaliação dos riscos envolvidos,
reduzir ou avançar em sua percepção, de acordo com a classificação apresentada.

Aspectos que influenciam no nível de força aplicada

Durante uma intervenção policial, uma ou mais variáveis podem justificar o aumento do
nível de força. As quais sejam:

1a variável
Número de policiais e número de suspeitos envolvidos.
2a variável
Tipo físico, idade e sexo dos policiais em relação às mesmas variáveis dos indivíduos

suspeitos.

3a variável
Habilidade técnica em defesa pessoal dos policiais envolvidos.
4a variável
Estado mental, emocional, do policial no momento do confronto.
Do mesmo modo, algumas circunstâncias especiais podem influenciar no nível de força
utilizada pelos policiais, como se vê abaixo:

1a circunstância
Possibilidade de o suspeito, em proximidades ao policial, estar portando arma de fogo,
viabilizando um suposto acesso imediato de disparos. Neste caso, o policial pode ser forçado a fazer
uso de um nível maior de força.

2a circunstância
Posicionamento de desvantagem. Um policial encurralado em um “beco” de favela
(aglomerados) sem pontos de proteção à sua segurança, pode ser forçado a empregar um nível de
força mais elevado.

3a circunstância
Nível de habilidade do suspeito. Necessidade de saber se ele possui habilidades em artes
marciais ou possui treinamento militar, por exemplo.

4a circunstância
O policial recebe informações precisas sobre a presença de armas de fogo com o suspeito,
provocando a utilização de um nível mais alto de força para controlar a situação.

5a circunstância
Perigo eminente. O suspeito agride o policial ou ameaça a vida de uma vítima.

Existem inúmeras outras circunstâncias que não podem deixar de ser avaliadas e treinadas
pelos policiais. Aqui, foram destacadas as principais para melhor entendimento do assunto.
MOREIRA, (2001) ao orientar os policiais em seu trabalho, afirma que: “Você precisa estar apto para
avaliar circunstâncias, não apenas para sua opção de uso de força, mas também para se justificar mais
tarde diante daqueles que irão avaliar se sua escolha foi apropriada”.
A combinação de variáveis e circunstâncias em relação à atitude dos suspeitos, durante o
atendimento de uma ocorrência, pode determinar o aumento ou o decréscimo no nível de força usado.
Em situações de alto estresse, o policial pode ficar sem reação. A menos que tenha uma estrutura
prática que possa ajudá-lo a organizar suas opções. Eis um outro ponto forte para dar crédito aos
treinamentos, como este que será dado por meio do curso em exibição, o qual proporcionará ao
policial uma melhora significativa em seu desempenho, frente às situações de risco, não apenas em
sua estrutura física como também mental e psicológica.
CONCLUSÃO
A profissão de policial exige um alto grau de profissionalismo, pois lida com a proteção
da vida humana. Ao se deparar com uma situação de risco, o policial terá que julgar se irá fazer o uso
da força, e se será necessário usá-la em seu grau mais extremo, através do uso letal da arma de fogo,
tirando a vida de alguém, com o intuito de salvar uma outra vida. Muitas vezes, este julgamento é
feito em frações de segundo, exigindo um alto grau de preparo para se evitar erros fatais. Passando a
valer a citação de (VIANNA,2000):

O uso progressivo da força é uma valiosa ferramenta para os policiais no seu dia-a-dia
operacional. O sucesso dele depende em muito do treinamento de técnicas de abordagem, defesa
pessoal e em utilização de equipamentos e armamentos. Logo, a qualidade do desempenho da
atividade policial é amplamente dominada pela qualidade dos recursos humanos disponíveis. A
Polícia Militar, para melhorar cada vez mais sua prestação de serviço à comunidade, deve aprimorar
sempre a qualidade de seu recrutamento, de sua formação e de seu treinamento.
Os PBUFAF exigem que os governos e as agências defensoras da lei assegurem que todos
os EAL recebam um treinamento profissional contínuo e profundo. A partir deste, os policiais devem
estar perfeitamente preparados e testados de acordo com os padrões de perfil apropriados ao uso da
força (ONU, 1990). No treinamento dos policiais, os governos e as organizações devem dar atenção
especial a: questões de natureza ética na aplicação da lei e direitos humanos; alternativas ao uso da
força e armas de fogo, incluindo a solução pacífica de conflitos; compreensão do comportamento de
multidão e métodos de persuasão, negociação e mediação com vistas a limitar o uso da força e armas
de fogo (ROVER, 2000).

Sabendo que o policial é treinado para responder de uma maneira preventiva, ativa ou
reativa para o uso progressivo da força, conforme sua avaliação do comportamento do indivíduo
suspeito ora em observância. O treinamento dado acontece por meio de simulações de elaboração de
cenários, palestras, demonstrações e instruções por computador. Segundo McGOEY (2001), o
treinamento é a chave para o correto uso progressivo da força. Exercícios práticos ajudarão a reforçar
as reações do policial para que as tornem mais apropriadas, evitando as ações instintivas. Ele acelera
as respostas para a escolha do nível de força adequado para cada situação. A prática e o treinamento
contínuo diminuem os efeitos do estresse e torna o resultado pretendido mais seguro.

Contribuindo com seu pensamento, MOREIRA (2001) afirma que o policial deve treinar e
ter condições de controlar um suspeito escolhendo entre respostas táticas que vão desde a simples
presença no local até o uso de arma de fogo. Esse treinamento deve guardar semelhança com as
situações vivenciadas na rua e ser mais prático do que estático, começando lento e ganhando
velocidade.

Portanto, a existência de um modelo de uso progressivo da força ajuda em muito na


absorção dos conhecimentos por parte do policial. Uma organização policial que possui um modelo
como diretriz básica tem uma facilidade maior em treinar o uso progressivo da força.

O objetivo destes exercícios é complementar as informações apresentadas nas


páginas anteriores.
1. Quais são os elementos que devem estar presentes no uso progressivo da força?

2. A fim de auxiliar na compreensão nos níveis de força progressiva, faça uma síntese de
cada um dos níveis anotando seus pontos principais.

NÍVEL 1 NÍVEL 2 NÍVEL 3 NÍVEL 4 NÍVEL 5 NÍVEL 6

3. Explique quais as possíveis consequências para a sociedade da utilização de disparos


intimidativos por parte de policiais despreparados.

4. Qual o significado do triângulo do uso legal da força? Explique.

5. Como agir diante de um sujeito não-cooperativo e armado?

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