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MONOGRAFIA
Pelotas, 2010
CÁSSIA FERREIRA MIRANDA
Pelotas, 2010.
Aos meus pais Cézar e Gicelda que me
guiaram desde meus primeiros passos e a minha
irmã Raíssa...
AGRADECIMENTOS
Primeiramente à Deus por tudo que Ele é e por tudo que me faz ser.
À minha orientadora Profª. Drª. Beatriz Ana Loner. Seu exemplo, carinho,
orientação e incentivo foram fundamentais ao longo do curso.
Aos meus pais por terem estado sempre por perto dando todos os subsídios
materiais e principalmente os emocionais. À minha mãe pela doçura, garra e alegria.
Ao meu pai pela compreensão, zelo e amizade. Sou completamente apaixonada por
vocês!
À minha irmã Raíssa, a pequena da casa, que nos exige muito mais do que
amor. Que minhas conquistas sejam dela e que as dela sejam minhas.
Aos meus avós Jussara e Aldírio. Eles fazem dos nossos momentos juntos
sempre únicos e muito divertidos. À minha madrinha Jucelaine que sei que está
sempre por perto e torcendo muito por mim.
Aos meus bisavós Vital e Coraci pelo exemplo de vida e amor... e pelo
orgulho imenso que deixaram no meu coração.
Àqueles colegas que se tornaram amigos. À turma do “balança mas não
para”: Charlene, Edna e Flávia, pelas doses diárias de celebrações; à Kárita,
Vanessa e Odilon pelas conversas e gargalhadas; ao Rosendo pelo carinho e
auxílio. À todos eles, obrigada pelo apoio, presença e amizade.
À minha segunda família: Carla, Diego, Katherine e Igor, que estão sempre
presentes vibrando com minhas conquistas e me amparando nas minhas quedas.
Ao Nicollas, afilhado amado.
Ao Jean, a fina flor do meu jardim, por seu amor e paciência. Ao amigo
Alessandro que me ensinou o valor de uma verdadeira amizade.
À minha amiga Dirce Helena pelo apoio e incentivo nos delicados momentos
finais deste trabalho; e ao seu pai, Pastor Clarindo Filho, pelas orações.
À todos aqueles que de alguma forma estiveram presentes e contribuíram
para meu crescimento, meu agradecimento recheado de carinho.
“Teatro só faz sentido quando é uma tribuna livre onde se podem discutir até
as últimas conseqüências os problemas do homem”
Plínio Marcos
Sumário
Introdução 07
Conclusão 33
Bibliografia 35
Introdução
O presente trabalho tem como objetivo abordar o uso do teatro pelas classes
trabalhadoras ao longo da década de 1910, na cidade de Pelotas. Este teatro, em
sua maior parte anarquista, se desenvolveu com significativa freqüência e serviu
como instrumento de propagação das idéias libertárias. Para este fim, foram
utilizadas noticias de diversos periódicos: A Voz do Trabalhador e O Rebate. Outros
jornais também foram utilizados, embora como menor freqüência: Correio Mercantil
e A Luta.
2 Estas a princípio tinham o objetivo de auxiliar o operário a sobreviver. Prestavam socorro à classe
no caso de alguma necessidade.
3 Após, houve outros encontros desse nível: o Segundo Congresso Operário Brasileiro ocorreu em
acerca das Primeiras Lutas Operárias do Rio Grande do Sul, se percebe, nessa
época, lideranças mais politizadas e posições mais firmes da classe.
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Destacando-se aqui que Pelotas e Rio Grande foram os locais onde surgiram as fábricas do tipo
moderno no Rio Grande do Sul; seguidos após por Porto Alegre onde, a princípio, tinha oficinas
artesanais e pequenas manufaturas.
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6Os principais expoentes desse movimento da imprensa estavam localizados em São Paulo, Rio de
Janeiro, Paraná e Porto Alegre.
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Sendo o teatro, em linhas gerais, já visto como fator social capaz de reunir
boa parte da população - além de ser um elemento cultural de grande importância
em consonância com a modernidade européia (Maranhão, 1991) -, para os
anarquistas ele representou muito mais do que isso. A arte dramática servia para
atrair novos militantes, visto que, ao se interessar pela dramatização, os operários
entravam em contato com o teatro - coordenado por anarquistas mais experientes -
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Anteriormente, o teatro era exercido pelos grupos filo dramáticos, desvinculados de uma tendência
ideológica. Obviamente, com o surgimento de grupos libertários dramáticos, foram substituídos.
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É estranho esse descaso pela obtenção de textos teatrais visto que essa
atividade era nitidamente importante entre os trabalhadores. Isso só nos faz concluir
que eles estavam satisfeitos com as obras a que tinham acesso e não se
incomodavam com a repetição, inúmeras vezes, do mesmo trabalho.
No caso paulista, analisado por Lima e Vargas, percebe-se que, após 1905,
o perfil de operário e o recrutamento do mesmo se modificam em relação ao
adotado anteriormente. Espera-se que o operário tenha disponibilidade para o teatro
e que já tenha participado de um treinamento oferecido por sua associação.
Buscava-se uma mão-de-obra mais especializada. Eram, inclusive, cobradas taxas
dos trabalhadores para auxiliar nas despesas do grupo. Essa questão deixa claro
que o grupo teatral era encarado como uma forma de “trabalho” e não apenas como
forma de proporcionar prazer descomprometido ao operário.
A disciplina era fundamental e não era aceito o fazer teatral apenas por
realização pessoal. O teatro era um trabalho de grupo, nenhum ator ficava em
destaque; um ator que em determinada peça era protagonista, em outra podia estar
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Nesse sentido, a imprensa foi muito importante nesse grupo, servindo como
principal meio de comunicação das idéias e das atividades libertárias. Nos
periódicos anarquistas eram divulgados os eventos assim como eram também
publicadas as criticas aos mesmos, geralmente feitas sobre o texto e a eficiência na
atuação dos atores.
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Freqüentemente era um grupo familiar que compunha o núcleo mais permanente de um elenco.
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Essa participação tornou-se mais regular, tanto que em São Paulo, de 1910
a 1918, ocorreram muitas festas organizadas por mulheres e com espetáculos de
elenco infantil. (Lima e Vargas, 1987)
12A figura feminina, na época, era vista como: “Escrava do homem, escrava social e serva da
burguesia” p. 250 (LIMA E VARGAS, 1987).
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O baile, no final das festas, era alvo de debates quanto a sua necessidade e
congruência com a luta operária. Além disso, alguns afirmavam que esses bailes
facilitariam a imoralidade e a degeneração, não contribuindo para a instrução da
classe. No entanto, esse tipo de evento proporcionava a possibilidade de diversão e
até mesmo, da formação de amizades e uniões no seio da classe operária. “Essas
críticas a uma atividade puramente recreativa apenas manifestam as contradições
existentes no movimento libertário no que diz respeito à ‘moral’”. (Lima e Vargas,
1987, p.199)
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Aqui, esses debates, servem apenas para tomarmos conhecimento das questões que envolviam
esses bailes.
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Esta solidariedade presente reflete todo o ideal libertário que embasa a luta
desses trabalhadores e lhes dá forças pra lutar por uma sociedade mais justa,
igualitária e fraterna.
Embora não muito freqüentes inicialmente, com o passar dos anos as produções
teatrais brasileiras foram se destacando. Eis alguns nomes de peças libertárias: A
Manhã; Pecado de Simonia; Operários em Greve; A Greve dos Inquilinos; O
Infanticídio; Gaspar, O Serralheiro; Primeiro de Maio; entre outras. (Hardman, 1991)
14Francisco Ferrer foi o fundador do Ensino Livre e da Escola Moderna. Seu modelo educacional foi
fundamental para a cultura operária. Foi condenado ao fuzilamento após ser preso na “Semana
Trágica”, em Barcelona, no ano de 1909, durante um levante operário. (Hardman, 1991)
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15 Colônia Cecília foi fundada pelo Dr. Rossi e era de características libertárias.
16 Jornal anarquista publicado no Rio de Janeiro, de 28/02/1915.
17 Saul tem seu nome citado na documentação da Liga Operária de Pelotas, que desde 1914, tem
18 Neste mesmo ano ocorreu a Revolução Federalista, que acabou por desarticular a atividade
militante operária.
19 Dentre elas mutualistas e beneficentes, artísticas ou bailantes.
20 Este fundado em 1887 durou apenas até o ano seguinte, possivelmente devido aos interesses
21É importante frisar que a FOP esteve representada no Segundo Congresso Operário Brasileiro.
22Antonio Gomes da Silva era, também, redator-chefe e co-proprietário do diário local A Opinião
Pública.
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sede na Liga (este grupo teve duração até o ano de 1918/19). Em agosto deste
mesmo ano foi inaugurado o Ateneu Sindicalista Pelotense, também de atuação
libertária.
Além desses grupos, havia o Grupo Dramático Lealdade (em 1915 e 1916);
Harmonia e Progresso (1915); o Arthur Azevedo (1917); Grêmio Dramático Amor à
Arte (1918); Culto a Arte (1918). A S.B. União Operária de Pelotas contava com um
palco-salão, assim como a Liga Operária de Pelotas. Em 1914 a União Católica de
Pelotas fundou um grupo de teatro com trabalhadores que sobrevive até hoje com o
nome de Teatro Escola de Pelotas. (Loner, 1999)
23 Esse grupo foi criado pela FORGS – Fundação Operária do Rio Grande do Sul –, em 1914, no
intuído da elevação cultural dos operários. A FORGS teve sua fundação no ano de 1906, durante a
greve dos 21 dias, embora já houvessem referências a tentativa de constituírem federações operárias
anteriores a essa data.
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24 Laila Anderson foi uma estudiosa amadora do CTCS, assim como sua irmã Maria Anderson, que
logo aparecerá nas notícias.
25 No periódico nº 64 da Voz do Trabalhador, este grupo foi apresentado como GD Cultura Social,
que presumo ser referente a Grupo Dramático. Diversas vezes ocorreu a sigla GDCS que acredito se
referir ao mesmo grupo da sigla GTCS. Optei por deixar a sigla conforme apareceu na publicação.
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26 Drama anti-militarista.
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Fazia apoteose às ciências, ao trabalho e ao anarquismo.
28 Localizado no Capão do Leão.
29 Versos musicados.
30 Disparate cômico.
31 Algumas vezes aparece a referência a Casa dos Trabalhadores. Ao que tudo indica a Liga Operária
é considerada como tal; não há indícios de realmente ter havido uma entidade com esse nome.
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32 Penso que o grupo de teatro da Liga, mencionado em várias noticias, é o GTCS; visto que este
tinha sede na mesma.
33 Acredito ter havido um equivoco na escrita e a correta ser, na verdade, Disfarce devido a
coincidência entre as grafias das peças que foram apresentadas e as que estavam sendo ensaiadas
pelo grupo no mês anterior.
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Diversas foram as vezes, durante a década de 1910, que o teatro foi usado
como instrumento de auxílio à obtenção de recursos com fins beneficentes.
No dia 11 de maio de 1918, um operário enfermo foi o alvo das rendas das
comédias representadas: Uma mulher por 3 quartinhos e o Caixeiro da taverna. O
Grupo Teatral Cultura Social, que esteve suspenso por um tempo, teve reestréia no
início de outubro com a comédia Os impalpáveis. Essa apresentação foi em
benefício da Escola Racionalista – anunciado no jornal O Rebate, de 15 de agosto.
Conclusão
Encarado com seriedade por aqueles que o faziam, ele era ensaiado e
apresentado enfatizando temas que preocupavam a classe trabalhadora no
momento. O mais valorizado era a troca que os textos proporcionavam com o
espectador, não se prendendo a ideais estéticos. O momento em que ocorria a
maioria das apresentações era durante as seratas, que se constituíam de uma
coletânea de apresentações variadas e uma explanação, muitas acabavam com um
baile.
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PETERSEN, Silvia Regina Ferraz. “Que a união operária seja a nossa pátria!”
História das lutas dos operários gaúchos para construir suas
organizações. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2001.
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RODRIGUES, Edgar. Pequena História da Imprensa Social no Brasil.
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___________. Os Companheiros, Volume 3. Florianópolis. Ed. Insular, 1997.
___________. Os Companheiros, Volume 4. Florianópolis. Ed. Insular, 1997.
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SILVEIRA, Marcos Borges da Silveira. O Teatro operário em Rio Grande. Na
época das primeiras chaminés. Dissertação de mestrado em história da
UNISINOS, São Leopoldo, 1999
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Fontes Primárias