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São Paulo, 12 de outubro de 2016


ASSUNTO: ARTIGO SOBRE ASPECTOS POLEMICOS DO BDI
Maçahico Tisaka

Prezado André Baeta

Em resposta ao seu e-mail de 30/09/2016 quero agradecer a sua contribuição para o


debate do tema porque considero sempre benvinda e oportuna. Porém, não
concordando inteiramente com as suas colocações, gostaria de fazer algumas
considerações que no meu ponto de vista considero importantes:
1 – SUA SUGESTÃO DE MUDANÇA DO LUCRO PARA REMUNERAÇÃO
Em relação a sua sugestão de alterar a sigla B do BDI significando “Benefício”
ou ”Lucro Líquido” para “Remuneração” do empresário pelo desenvolvimento da sua
atividade econômica, não encontra respaldo por parte dos cultores da engenharia
econômica e de custos pelas seguintes razões:
- Remuneração se confunde com preço de venda e não um ganho líquido da
prestação de serviços, pois envolve também despesas, custos, tributos e
também o lucro do prestador desses serviços.
- O Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa define a “remuneração” como;
vencimento, soldo (de militar); honorários (de profissão liberal); recompensa;
premio; gratificação, ordenado; salário, pagamento por serviço prestado.
- Dicionário Caldas Aulete: recompensa, gratificação, premio, satisfação, etc.
- Dicionário Aurélio: Remunerar: recompensar, premiar, pagar salários,
honorários, etc..
- Para concluir, não me parece ser adequada a sua sugestão de substituir os
itens do denominador como “lucro”, “IRPJ” e “CSLL” pelo termo “remuneração
bruta”, uma vez que na engenharia econômica esse termo é utilizado para
designar os preços a serem cobrados (orçamento) dos serviços de consultoria
de engenharia conforme a seguinte equação1:
R = CD ( 1+ES)(1+DI)(1+L)(1+EF)(1+l) + DD +CO
Sendo: R = Remuneração
CD = Custo Direto de Salários
ES = Encargos Sociais

1
Orçamento na Construção – Consultoria, Projeto e Execução – 2ª Edição – Capítulo 3 –
“Remuneração da Engenharia Consultiva e de Projetos”, pg. 201 – autor Maçahico Tisaka – Editora
PINI.

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DI = Despesas Indiretas
L = Lucro
EF = Encargos Financeiros
I = Encargos incidentes sobre o faturamento
K = Produto (1+ES)(1+DI)(1+L)(1+EF)(1+i)
DD = Despesas Diretas a serem reembolsadas
CO = Contingências
DD = Despesas Diretas
A sua sugestão de substituir - Lucro, IRPJ e CSLL - pelo termo remuneração, o
conjunto desses três itens que você menciona, nada mais são do que a
representação do “Lucro Bruto” defendida pelo TCU, cujo assunto irei comentar mais
adiante, em outro item.

2. O LUCRO NO BDI E O LUCRO CONTÁBIL TEM NATUREZAS DISTINTAS


Você tem toda a razão quando diz que “Há um equívoco na tentativa de tomar o
lucro contábil como elemento definidor da natureza de remuneração dos orçamentos
de obras públicas, já que os dois conceitos têm conteúdos distintos, que não se
confundem”
Creio que você tocou num ponto fundamental que pode acabar com a controvérsia
existente, ou seja, os conceitos de lucro no momento da orçamentação e o lucro
contábil resultante da gestão contratual, tem conteúdos distintos e não podem ser
confundidos. O elemento definidor do lucro na orçamentação é o Lucro Líquido
desejado pelo empreendedor, sendo que o Lucro Contábil é consequência da gestão
contratual.
Estou também de pleno acordo com a sua opinião de que o lucro contábil pode ser
influenciado por diversos eventos, até daqueles não relacionados às atividades da
construção. E, é por essa razão que não se pode atrelar qualquer taxa de Lucro do
BDI utilizado na orçamentação com o que possa vir a ocorrer até o final do exercício
financeiro quando poderá ter lucros maiores ou menores ou até resultar num grande
prejuízo financeiro. Não podemos confundir orçamento estimativo com resultados da
gestão contratual.
Como você sabe, a utilização da fórmula que conhecemos é uma maneira simples e
expedita para auxiliar o orçamentista no objetivo de agregar um denominado valor
chamado taxa de BDI sobre os custos de produção, afim de obtermos o Preço de
Venda ou um orçamento estimativo no caso da Administração.
Esse determinado valor são as tais despesas indiretas (Administração Central +risco
do empreendedor+juros), os tributos que vão incidir sobre o Preço de Venda e uma
taxa de Lucro a ser estimado pelo empreendedor.
A formula do BDI é para ser utilizada exclusivamente para fins de elaboração do
orçamento estimativo na fase licitatória e, portanto, a taxa de lucro adotada pelo

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orçamentista representa uma mera expectativa de ganho do empreendedor que


precisa reinvestir em outros produtos, se adequar as novas tecnologias, aperfeiçoar
a sua administração e os treinar os seus recursos humanos, etc.
Essa taxa de Lucro pode ser alta ou baixa em relação ao que costuma adotar o
mercado, porém, nada tem a ver com o lucro contábil a ser apurado até o final do
empreendimento que pode durar meses ou anos. Se a taxa de Lucro for muito
elevada pode perder a licitação e não levar a obra. Se for muito baixo, pode ganhar
a obra mas ao final da execução, resultar em prejuízo. Este percentual de Lucro a
ser prevista no BDI, trata-se apenas de uma decisão estratégica do proponente, que
não tem qualquer relação com os resultados de gestão.
Por outro lado, no caso específico da Administração Pública quando for realizar
qualquer licitação, nem sempre será possível, de antemão, saber se entre os
proponentes estarão participando empresas optantes do Lucro Presumido ou Lucro
Real. Para que a taxa de lucro adotada no BDI pela Administração atenda o
princípio constitucional de isonomia entre os participantes definido no Art. 3º
da Lei nº 8666/93, a taxa de lucro (liquido), no BDI, deve prever essas ambas as
situações.
Para determinar a taxa de Lucro Liquido que mantenha o equilíbrio tributário estável
entre as opções de Lucro Real estimado e o Lucro Presumido recorre-se a seguinte
equação:
(15% x 0,08) + (9% x 0,12) = (9% + 15%) x Li /100
1,2% + 1,08% = 24% x Li /100
Li = x 100= 9,5%
Portanto a taxa de Lucro Liquido comum para atender simultaneamente os optantes
do Lucro Presumido e ao Lucro Real na composição do BDI, essa taxa de Lucro só
pode ser de 9,5%, o que proporciona teoricamente uma perfeita condição de
equilíbrio de tratamento entre ambas as opções.

3 – A QUESTÃO DA TAXA DE LUCRO NO NUMERADOR OU NO


DENOMINADOR NA FÓRMULA DO BDI.
Esta questão já foi exaustivamente discutida nas reuniões do GT-4 da ABNT e
prevaleceu majoritariamente a taxa de Lucro no denominador.
A razão para considerar o Lucro no denominador é muito simples:
a) Universalmente, em qualquer atividade econômica, particular ou empresarial
o Lucro é definido por:
Lucro = PV – Gastos (de qualquer natureza)
Portanto, o Lucro é sempre definido como função do Preço de Venda

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b) Como o Lucro só pode ser considerado função do valor de venda,


matematicamente, podemos demonstrar que:
P–L=C
Sendo: P(preço); L (lucro); C (custo)
Como L é uma função (f) de P, pode-se escrever a equação na seguinte forma:
P–LxP=C
onde: P ( 1- L ) = C
portanto P = C / (1-L)
Onde o L fica sempre no denominador porque o Lucro é função do preço de venda.

c) Se considerarmos o Lucro no numerador, a taxa do Lucro será função do


Custo Direto, e, assim, o Lucro assumirá o “status” de Custo Direto. Sendo
equiparado ao Custo Direto, sobre ele incidirão todos os tributos, o que me
parece ser um contrassenso, pois estaríamos fazendo incidir os tributos (PIS,
COFINS e ISS) também sobre a taxa de Lucro previsto, conforme o quadro
que iremos mostrar mais abaixo extraído do parecer do eng. Adalberto.
Para provar que a sua proposição contém um erro conceitual, vamos reproduzir o
mesmo quadro do item 4.1 do seu “ESTUDO SOBRE A FÓRMULA DO BDI” do eng.
Adalberto Franco:
ORÇAMENTO f ( PV ) f ( CD )
CUSTOS DIRETOS
MÃO DE OBRA 350.000,00
MATERIAIS 300.000,00
EQUIPAMENTOS 120.000,00
SUBTOTAL-CUSTOS DIRERTOS 770.000,00
CUSTOS INDIRETOS 230.000,00
SUBTOTAL-CUSTOS--c BASE DE CUSTOS>>> 1.000.000,00
Calculo do BDI
ADM. CENTRAL - a 6% 60.000,00 1.060.000,00
ENCARGOS FINANCEIROS - e 2% 21.200,00 1.081.200,00
LUCRO - l 9% 97.308,00 1.178.508,00

TRIBUTOS (ISSQN 2%, PIS/COFINS 9,25%) - t 11,25% 149.388,34


PREÇO - PV 1.377.896,34
Fig.1 –Representação da composição do preço – Lucro no numerador
Pode-se observar no quadro acima que o valor R$ 97.307,00 correspondente ao
Lucro de 9,0%, juntamente com a Administração Central e Encargos Financeiros
está assumindo o “status” de Custo Direto, pois todos eles, sendo f(CD) irá receber a
incidência dos tributos PIS/COFINS e ISS para calcular o Preço de Venda. Neste
caso, estaríamos fazendo incidir esses tributos sobre o “Lucro” o que no mínimo
soaria estranho, pois pela legislação tributária, PIS, COFINS e ISS não incidem
sobre o Lucro.
d) Os defensores que questionam o Lucro no denominador, parte do princípio de
que haveria um ganho indevido da contratada no caso de haver alguma

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alteração da taxa dos tributos o que não tem o mínimo fundamento, uma vez
que no orçamento estimativo o Lucro do BDI constitui apenas uma
expectativa de ganho do empreendedor. Não pode ser confundido com o
Lucro Contábil no final da gestão contratual.
e) Da mesma maneira, caso o Lucro fique no numerador, por esse mesmo
princípio, também haveria um ganho indevido da contratada. É só calcular.
f) Como já mencionado anteriormente, a formula do BDI é utilizada pelos
orçamentistas apenas para elaborar o orçamento estimativo e não pode haver
qualquer correlação com os acontecimentos que possa vir a ocorrer durante a
execução do contrato.
g) Durante a gestão contratual, os quantitativos dos serviços, os coeficientes de
produtividade, consumo horário de equipamentos, prazos de execução, etc.,
tudo pode mudar, inclusive as alíquotas dos serviços, porque na fase de
orçamentação todos eles são meras previsões de um produto a ser entregue
futuramente, depois de meses ou anos do início da contratação.
h) É também equivocada qualquer ilação feita de que um eventual aumento nas
alíquotas dos tributos venha a causar ganho indevido da empresa contratada.
Caso isso venha a acontecer terá que ser feito o devido reequilíbrio contratual
das diferenças para mais ou para menos desses tributos, com exceção do
caso específico dos tributos IRPJ e CSLL, conforme jurisprudência já firmada
no judiciário e na opinião dos eminentes doutrinadores, citados nos seus
comentários.

4 – A POLEMICA DO IRPJ E CSLL A SER CONSIDERADA NO BDI


A questão das taxas dos tributos IRPJ e CSLL na fórmula do BDI precisa ser
analisada levando-se em conta a opção contábil das empresas construtoras serem
optantes do Lucro Presumido ou por Lucro Real.
Todas as análises feitas nos Acórdãos 325/07, 2369 e 2622 consideram que as
empresas de construção contratadas pela Administração pública direta e indireta são
optantes do Lucro Real, o que não é verdade, pois ignoram a existência das
empresas optantes do Lucro Presumido, que são a grande maioria das empresas no
universo das construtoras no Brasil.
No caso dos optantes do Lucro Presumido todos tributos. PIS, COFINS, ISS, IRPJ e
CSLL incidem diretamente sobre o faturamento (preço de Venda) por imposição da
própria legislação tributária – Decreto Lei nº 3.000/99. E, portanto, todos os tributos
devem compor o BDI e não há como repassar ao contratante pois é pago na fatura.
Para os optantes do Lucro Presumido, todos os tributos, IRPJ, CSLL, PIS, COFINS e
ISS incidem sobre o Valor de Venda, sendo, que no caso específico do IRPJ a
alíquota é de 15% sobre suposto lucro de 32% e na CSLL a alíquota é de 9% sobre
suposto Lucro de 32% o que corresponde respectivamente a taxa de 4,8% para
IRPJ e 2,88% para CSLL. Portanto, no Lucro Presumido, incidem 4,8% (IRPJ) +

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2,88%(CSLL) + 0,65% (PIS) + 3,00%(COFINS) + 2,00% a 5,00% (ISS) no total de


13,33% a 16,33% sobre o Preço de Venda, dependendo da participação da mão de
obra no orçamento estimativo. Portanto os tributos IRPJ e CSLL, incidem
diretamente sobre o Preço de Venda e oneram exclusivamente a contratada e não
são repassadas ao contratante.
Por outro lado, para os optantes do Lucro Real, os tributos, PIS, COFINS e ISS
incidem sobre o valor de venda, mas para o IRPJ e CSLL incidem respectivamente
15% e 9% sobre o Lucro apurado no balanço da empresa. No Lucro Real as taxas
dos tributos PIS 1,65%(PIS) + 7,60% (COFINS) e 2,00% a 5,00%(ISS) no total de
11,25% a 14,25% incidem sobre o Preço de Venda, mais 1,20% de IRPJ e 1,08% de
CSLL, qualquer que seja o seu resultado final do Lucro Contábil.
Como se vê, os critérios de tributação são completamente distintos, pois, enquanto
no Lucro Presumido é considerado com uma presunção de Lucro de 32,0%, no
Lucro Real essa presunção de Lucro é de 8,0% para IRPJ e de 12% para CSLL o
que dá respectivamente taxas de 1,20% (IRPJ) e 1,08 (CSLL) no total de 2,28%
sobre o Lucro apurado na contabilidade das empresas. Observar que essas taxas
deveriam ser também válidas para a orçamentação, pois na fase de execução, as
alíquotas incidem, respectivamente 15% (IRPJ) e 9% (CSLL) sobre os lucros
realmente obtidos.
Portanto, comparar os parâmetros de Lucro e Tributos constantes da formula do BDI,
numa fase da orçamentação com o que poderá ocorrer na fase de execução
contratual, torna-se uma tarefa praticamente impossível pela sua imprevisibilidade.
A proibição da exclusão dos tributos IRPJ e CSLL determinada pelo Acórdão nº
325/07 do TCU constitui um grande equívoco, como veremos mais adiante, com o
argumento de que essas taxas não podem ser repassadas ao contratante.
Historicamente, esses tributos no passado e no presente sempre foram encargos
diretos da contratada, pela simples razão de que esses tributos recaem sobre o
Lucro Bruto apurados no Balanço contábil das empresas.
Ademais, no caso do Lucro Presumido, não há como excluir esses tributos, pois são
cobrados diretamente sobre o Preço de Venda.
Para reparar o equívoco cometido no Acórdão nº 325/07 com relação aos tributos
IRPJ e CSLL, merecem especial menção o posicionamento do Ministro Benjamin
Zymler no Acórdão nº1591/2008 – TCU – Plenário:
Quando se exclui tais tributos do BDI, o lucro constante dessa
composição será um lucro bruto, ou seja, antes da dedução dos impostos.
Quando se permite a cotação dos tributos de forma autônoma no BDI, o
lucro indicado será um lucro líquido, ou seja, após a dedução dos
impostos (grifo nosso).
Em suma, como não poderia deixar de ser, as regras para apresentação
das propostas dos licitantes não influenciam na equação econômico-

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financeira das empresas, as quais elaboram suas propostas tendo em


conta os custos efetivos e o retorno desejado do investimento (grifo
nosso).
Exemplifico: De acordo com a lógica econômica, é de se esperar que,
caso a empresa entenda adequado que na composição do BDI conste
uma taxa de 8% para o Lucro e outra de 2% para IRPJ e CSLL, e, em
havendo a proibição de constar e destacados tais tributos, a taxa de
lucro indicada (agora lucro bruto) passe a ser de 10%. A metodologia
de apresentação não alteraria a equação econômico-financeira e não
traria sob esse aspecto, vantagens para a administração (grifo nosso).
O Ministro Benjamin Zymler que é também engenheiro, completa num outro trecho
de sua manifestação apoiando-se nas “lições de Jorge Ulisses Jacoby2 ao comentar
o posicionamento do TCU antes mencionado (item 22 da sua manifestação).
“no momento de o particular formular a sua proposta, ele necessita
considerar todos os custos (diretos e Indiretos) que terá com a prestação
do serviço. A fim de poder estimar o quanto receberá concretamente de
lucro – fim de toda a atividade constituída como empresarial. Ora, assim
sendo, não podemos esperar que um empresário que deseje
sobreviver por muito tempo desconsidere e seu preço de venda a
despesa que terá de desembolsar com IRPJ e CSLL (...) (grifo nosso)
Pode-se afirmar que agora tais tributos deve ser computados dentro
do percentual previsto para o lucro, já que este não tem um teto limite
estipulado em lei (...) (grifo nosso).
Em outro trecho de seu relatório referindo-se ao Acordão nº 1.595/2006 – Plenário
que trata expressamente sobre o assunto, apenas obsta a inclusão dos tributos IRPJ
e CSLL na composição do BDI e não a sua inserção na composição dos custos das
empresas privadas(...).
Com efeito, se assim o fizesse, o TCU estaria se imiscuindo na
formação de preços privados e impedindo as empresas de embutir
nos custos tributos ditos diretos, o que, além de não encontrar
respaldo legal, creio não tenha sido a intenção desta Corte (grifo nosso).
Veja-se que mesmo quando não incluídos destacadamente no BDI,
este TCU não pode obstar a inserção de percentual destinado à
satisfação do IRPJ e da CSLL no bojo do lucro da empresa, eis que
este é livremente arbitrado por ela segundo as condições de mercado e
suas próprias aspirações (grifo nosso)
Neste sentido, diferentemente do que sustenta a unidade técnica,
reputo correta a inclusão no Anexo IV da Concorrência CP-TRT 6ª

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IRPJ e CSLL, Jorge Ulisses Jacoby Fernades, Forum da Construção e Gestão Pública. Volume 67
ano 6 jul.2007. pgs.128 q 129)

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Região nº 02/2005 de item específico, prevendo a possibilidade de


inserção do IRPJ e CSLL no item relativo a Tributos (não compondo o
BDI), haja vista que, naturalmente, não se pode obstar a inserção de
tributos na formação dos preços privados, pois o Poder Público não
pode impor prejuízos às empresas ou obter um lucro indevido não
extensível ao mercado em geral (grifo nosso).
Para ser coerente com o seu ponto de vista, o Ministro Benjamin Zymler apresenta
vários exemplos de como proceder na impossibilidade de considerar os tributos IRPJ
e CSLL diretamente na fórmula do BDI.
Por outra banda, rememore-se que o lucro constante da composição do
BDI da empresa contratada é de 8% (fl.200-anexo 4) e caso a ele se
incorpore o imposto de renda pessoa jurídica (2,72%) e a contribuição
social sobre o lucro líquido (0,72%), o lucro se situaria em 11,44%, valor
compatível com a literatura especializada (v.g. Maçahico Tisaka –in
Orçamento na Construção Civil, Editora Pini, 2006 pg.57, segundo o qual
o lucro pode variar de 5 a 15%).
“Quando se exclui tais tributos do BDI, o lucro constante dessa
composição será um lucro bruto, ou seja, antes da dedução dos impostos.
Quando se permite a cotação dos tributos de forma autônoma no BDI, o
lucro indicado será um lucro líquido, ou seja, após a dedução dos
impostos. ”
“De acordo com a lógica econômica é de se esperar que, caso a empresa
entenda adequado que na composição do BDI conste uma taxa de 8%
para o lucro e outra 2% para IRPJ e CSLL, e em havendo a proibição de
constar em destacado tais tributos, a taxa de lucro indicada (agora
lucro bruto) passe a ser 10%. A metodologia de apresentação não
alteraria a equação econômico-financeiro e não traria, sob este aspecto,
vantagens para a Administração (grifo nosso).
Portanto no caso das empresas optantes do Lucro Real no item relativo ao Lucro
Líquido deverá ser alterada para Lucro Bruto, considerando a soma do Lucro
Líquido mais as taxas dos tributos IPPJ (1,2%) e CSLL (1,08%).
Assim, para os optantes do Lucro Real a fórmula do BDI ficaria assim:

BDI = −1 100 =
Sendo:
I = taxa de despesas de administração central
r = taxa de disco do empreendedor
j = taxa de encargos financeiros
t = taxas de tributos PIS, COFINS
s = taxa de ISS

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lb = lucro bruto ( Lucro Líquido + IRPJ +CSLL)

Em função das diferenças de procedimentos em relação aos tributos para os casos


da Administração, quando concorrem empresas optantes do Lucro Presumido e
Lucro Real numa mesma licitação, será necessário que seja observado o princípio
constitucional de isonomia determinada pelo art. 3º da Lei Federal 8666/93, o
denominador da formula ficaria assim:
PIS + COFINS + ISS + IRPJ + CSLL + Ll = PIS + COFINS + ISS + Lb
Sendo que:
No Lucro Presumido temos:
PIS = 0,65 %
COFINS = 3,00 %
ISS = 2.0 % (40 % de M.O.)
IRPJ = 4,8%
CSLL = 2,88%
Ll = Lucro Líquido isonômico = 9,5%

No Lucro Real temos:


PIS = 1,65%
COFINS = 7,6%
ISS = 2,0%(40% de M.O.
IRPJ = 1,2%
CSLL = 1.08%
Lb = Lucro bruto

Para manter a isonomia entre as opções temos:


0,65 + 3,0 + 2,0+ 4,8 + 2,88 + 9,5 = 1,65 + 7,6 + 2,0 + Lb
Fazendo as contas temos:
22,83 – 11,25 = Lb
Lucro Bruto = 11,58%
Portanto, nas licitações promovidas pela Administração, para não correr o risco de
eventual impugnação por parte de algum concorrente por desobediência ao princípio
de isonomia entre os concorrentes optantes do Lucro Presumido e Lucro Real, numa
mesma licitação, no denominador da fórmula do BDI, deverão ser considerados os
tributos, PIS, COFINS, ISS conforme taxas relativas à sua classificação contábil,
mais o Lucro Bruto de 11,58% (no lugar de Lucro Líquido) já que não é possível
incluir expressamente os tributos IRPJ e CSLL no cálculo do BDI.
Para terminar, durante todos debates travados nas reuniões do GT-4 ficou muito
claro que a Norma é um procedimento autônoma que deve servir à todos os

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interessados, independentemente de ser do setor privado ou governamental não


podendo estar atrelada a Leis e Regulamentos em vigor existentes conforme
decisão do plenário. Ao contrário, a Norma depois de aprovada, deve ser seguida
por todos.

Maçahico Tisaka

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