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A doutrina de Balaão
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Tenho, todavia, contra ti algumas coisas, pois que tens aí os que sustentam a
doutrina de Balaão, o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos filhos
de Israel para comerem coisas sacrificadas aos ídolos e praticarem a
prostituição” Ap 2.14
“Tenho, todavia, contra ti algumas coisas…”
A igreja de Pérgamo não era perfeita, pois não existe nenhuma igreja local
perfeita. Apesar do elogio que o Senhor faz à igreja, havia ali pessoas que
estavam se deixando levar pela sedução diabólica. Apesar de sua constância,
o pecado introduziu-se nela imperceptivelmente. O maior perigo não era a
perseguição, e sim a perversão. Se Satanás não pode derrotar a igreja, tenta
ingressar nela. A proposta agora não é substituição, mas mistura. Não é
apostasia aberta, mas ecumenismo. A ameaça mortal vinha de dentro e,
infelizmente, é o que mais temos visto em nossas igrejas hoje, as chamadas
heresias domésticas. Durante muito tempo lutamos contra as Testemunhas de
Jeová, contra os Mórmons, contra os Adventistas, mas hoje estamos nos
deixando seduzir pelo evangelho da prosperidade, pelo pensamento positivo,
pelo determinismo. Doutrinas orientais têm invadido as nossas igrejas de forma
caudalosa, psicologia ao invés do Evangelho transformador está tomando os
púlpitos de nossas igrejas. Líderes que estão na mídia distorcendo as
Escrituras com uma teologia louca, levando os incautos a se decepcionarem
com Deus, pois eles, em nome de Deus, fazem promessas que distorcem o
puro Evangelho. Algum tempo atrás havia um determinado pastor pregando na
televisão dizendo que qualquer líder ou igreja que prega que o crente tem que
ficar rico é um enganador. Ele disse assim: “não pense que todo mundo vai
ficar rico não, isso é balela, é cascata; qualquer pastor que promete riqueza a
todo mundo é um cara de pau safado, um pilantra, ludibriador de fé. Digo aqui
rasgado mesmo porque não tem conversa. Quem te falou que todo mundo vai
ficar bem financeiramente? Quem te falou que todo mundo vai ficar rico? Onde
está isso na Bíblia?” Meses depois, este mesmo pastor estava na televisão
dizendo tudo ao contrário do que havia dito antes (parece até música do Raul
Seixas). Ele disse meses depois assim: “você só vai experimentar estas coisas
o dia em que você aprender a ser liberal, se não você só vai ouvir e nunca
experimentar em sua vida. Agora, Deus tem falado ao meu coração e vou dizer
pra vocês, e quero ser profeta de Deus para que algum irmão que está me
vendo pela TV e que estão aqui; Deus tem falado ao meu coração, Deus nesta
reta final da igreja, Ele quer dar riquezas para crente, mas não quer dar riqueza
para miserável… Deus quer dar riquezas para crentes liberais que vão investir
na obra de Deus…” Depois esse pastor pega uma Bíblia de estudos que ensina
como alcançar vitória financeira. Quanta contradição!
“… pois tens aí os que sustentam a doutrina de Balaão…”
Os cristãos de Pérgamo tinham conservado o nome de Jesus e não
renunciaram à sua fé nele sob a pressão de perseguição iminente, mas eles
deixaram que a moral dos pagãos os influenciasse [1]. Alguns dos membros da
igreja haviam atendido a festivais pagãos e, provavelmente, até mesmo
participado das imoralidades que caracterizavam essas festas. Semelhantes
práticas haviam ocorrido entre os filhos de Israel nos dias de Balaão. A história
de Balaão pode ser encontrada em Números 22-24. Este homem era
conhecido como profeta e criam que ele tinha poder de lançar maldição sobre
toda uma sociedade. Devido a essa fama, Balaão prostituiu os seus dons com
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o objetivo de ganhar dinheiro. Este homem foi contratado por Balaque, rei de
Moabe a fim de amaldiçoar Israel.
Quando Israel chegou às campinas de Moabe, além de Jordão, na frente de
Jericó, o rei dos moabitas encheu-se de pavor. A visão que Balaque tinha de
cima das colinas era aterradora. Ele olhava do alto dos montes e via uma
multidão inumerável na campina. Por isso ele convocou um conselho de
Estado e disse: “Agora, lamberá esta multidão tudo quanto houver ao redor de
nós, como o boi lambe a erva do campo” (Nm 22.4).
Devido a essa situação, Balaque manda chamar Balaão para amaldiçoar o
povo de Israel. Mas cada vez que Balaão abria a boca para amaldiçoar o povo
de Deus, as palavras do Senhor o faziam proferir palavras de benção e não de
maldição. Então Balaque ficou bravo com ele. Balaão, movido (de acordo com
2Pe 2.15 e Jd 11) por ganância, aconselhou Balaque a enfrentar Israel não
com um grande exército, mas com pequenas donzelas sedutoras. Aconselhou
a mistura, o incitamento ao pecado. O que Balaão não pode fazer, o pecado
fez. O tropeço foi devastador! Pedra de tropeço (skandalon, no grego) é uma
armadilha feita com um chamariz. Em Nm 31.16 diz: “Eis que estas, por
conselho de Balaão, fizeram prevaricar os filhos de Israel contra o SENHOR,
no caso de Peor, pelo que houve praga entre a congregação do SENHOR”.
Devido a isso, o Senhor se voltou com ira contra os israelitas e eles se
tornaram fracos e vulneráveis.
O pecado enfraquece a igreja. A igreja só é forte quando é santa. Sempre que
a igreja se mistura com o mundo e adota o seu estilo de vida, ela perde o seu
poder e sua influência [2].

Em Pérgamo parece que a maioria dos membros da igreja continuava a andar


na verdade. Somente uns poucos, quer em plena comunhão ou apenas em
casual associação com a igreja, tinham deixado o caminho estreito e se
desviado pelos atalhos da especulação e do erro. Mas o Cristo ressurreto, o
pastor-líder de seu rebanho, foi ofendido tanto pela desobediência da minoria
como pela indiferença da maioria [3]. Dessa forma, a igreja tornou-se infiel. A
doutrina de Balaão é a mistura das coisas santas com as profanas. É ter um pé
na igreja e outro no mundo.

“…para comerem coisas sacrificadas aos ídolos…”


A frase “comer coisas sacrificadas aos ídolos” pode referir-se tanto à carne
comprada no mercado, que antes fora sacrificada em algum templo pagão e
depois vendida no mercado, como as festas organizadas nos templos em
honra aos diversos deuses. Um problema em relação a carne que os cristãos
compravam no mercado público tinha surgido em Corinto, e Paulo se estendeu
sobre este assunto, dizendo que nada é em si impuro, e, enquanto alguém não
tem problemas de consciência, não há nada de errado em comer esta carne
(1Co 8.7-13). Ao mesmo tempo ele diz que é impossível beber o cálice do
Senhor e o cálice dos demônios (1Co 10.21), referindo-se neste caso, sem
dúvida, à participação dos cristãos nas festas pagãs, que implicavam na
adoração de demônios [4]. Na igreja de Pérgamo aqueles que seguiam a
doutrina de Balaão não viam nenhum mal em participar desse tipo de festa,
argumentando que o ídolo em si nada é. No entanto o Senhor aqui condena
veementemente tais práticas. Nos dias atuais, quantos crentes deixando seus
filhos participarem de festa junina nas escolas, essas festas não deixam de ser
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festas pagãs só porque estão sendo realizadas em ambiente escolar, estas


festas, mesmo no ambiente escolar, são dedicadas a demônios. Outros comem
doces dedicados a Cosme e Damião, outros estão participando normalmente
de festa de Halloween. E quantos estão trazendo para dentro de suas igrejas
hábitos pagãos e até mesmo fazendo festas semelhantes às festas juninas, e
ainda dão o nome de “Festa Genuína”. Não tem como ser fiel a Cristo
plenamente e participar destas festas pagãs ou até mesmo copiá-las. O
apóstolo Paulo em Rm 12.1 nos diz para não tomarmos a forma deste mundo,
mas termos a nossa mente transformada pelo poder de Deus, e a palavra para
“transformação” no grego no texto citado é “metamorfose”, é o processo da
lagarta para borboleta.
Davi quis trazer a arca de Deus para Jerusalém num carro de boi (2Sm 6.1-11),
no entanto ele estava imitando os filisteus quando a devolveram (1Sm 6.11,12).
Quando Davi estava trazendo a arca para Jerusalém o boi tropeça e o carro
vira derrubando a arca; Uzá prontamente estende a mão para protegê-la e é
imediatamente morto, esmagado pelo carro. No entanto, o texto nos diz que
quem matou Uzá foi o Senhor por causa da irreverência de Uzá. Deus feriu
Uzá porque Davi e o sumo sacerdote não tinham observado os mandamento
do Senhor que dizia que somente os levitas é que poderiam transportá-la (Nm
1.47-52). Ela deveria ser transportada nos ombros pelos levitas e não num
carro de boi como estava sendo transportada. Essa boa intenção gerou morte
por causa da desobediência aos mandamentos de Deus. Uzá é um exemplo do
perigo inerente de alguém ter zelo por Deus, sem conhecimento da Sua
Palavra e dos Seus caminhos. E é exatamente o que mais temos visto em
muitas igrejas por aí, um zelo extremo pelo Senhor, mas sem observar a Sua
Palavra. Pessoas até bem intencionadas, mas totalmente alienadas em relação
à Palavra de Deus. Pastores e líderes fazendo com que seus liderados entrem
em choque com a Palavra de Deus os levando a morte. Pastores que estão
ensinando em seus púlpitos que o que vale é a experiência, é o sentir, é a
emoção, mas completamente longe do ensino que gera vida, transformação e
alegria real na presença de Deus. As Escrituras não falam tudo de tudo, mas
contêm tudo que Deus deseja que saibamos sobre Seu amor e Sua salvação e
acerca da reação requerida de nós diante dEle. Observe-a!

Notas:
1 Ladd, George. Apocalipse, introdução e comentário, Ed. Mundo Cristão e
Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 4º reimpressão, 1989: p. 37.
2 Lopes, Hernandes Dias. Apocalipse, o futuro chegou. Ed. Hagnos, São
Paulo, SP, 2005: p. 94.
3 Stott, John R. W. O que Cristo pensa da Igreja. Ed. United Press, Campinas,
SP, 1999: p. 44.
4 Ladd, George. Apocalipse, introdução e comentário, Ed. Mundo Cristão e
Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 4º

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