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UFRJ – Fac. de Medicina – “RESUMÃO DO CORUJÃO” (M1, 2014.

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Como um pequeno incentivo à solidariedade entre o colegas na família Fundão... Saudações do Dinno

Apontamentos de Embriologia
BASES DA FERTILIZAÇÃO
“A fecundação é o resultado de uma série de processos que têm início quando os espermatozoides começam a
penetrar a corona radiata que circunda o óvulo e terminam com a mistura dos cromossomos maternos e paternos”.

1) Funções da fertilização
- Iniciar as reações citoplasmáticas do ovócito que permitem a continuação do desenvolvimento embrionário.

- Transmitir genes dos pais para a prole, combinando-se os materiais genéticos do pai e da mãe.

2) Eventos envolvidos na fertilização (visão geral)


- No caminho entre o sistema reprodutor masculino e o trecho da tuba uterina onde ocorre a fecundação, a imensa
maioria dos espermatozoides produzidos morre e degenera.
--- Muitos desses espermatozoides mortos eram inaptos – tinham alterações estruturais ou funcionais no flagelo
(como duplo flagelo), na peça intermediária ou na cabeça (como ausência de vesícula acrossomal).
--- Outros tantos foram retidos em coágulos (que se formaram por causa do pH ácido da vagina) e não conseguiram
rompê-los. Esses sequer atravessam o cérvix uterino, onde há uma barreira de muco.
--- Outros, ainda, não venceram a distância no lúmen do útero ou seguiram pela tuba uterina contralateral.

- A capacitação dos espermatozoides (remoção de componentes inibitórios glicoproteicos da membrana) ocorre no


isto da tuba uterina, e demora algumas horas. Só depois os gametas masculinos funcionais podem seguir pela tuba
atrás do feminino.
(vide adiante a descrição do mecanismo)

- Os espermatozoides que alcançam o ovócito ao nível da ampola da tuba (mais comumente) circundam a corona
radiata, sendo que alguns deles conseguem romper essa primeira barreira pela ação de hialuronidases de
membrana. Daí, eles entram em contato com a zona pelúcida.

- Vários mecanismos foram propostos para a ligação do espermatozoide à zona pelúcida.


--- Postula-se que é nesse momento que se dá o reconhecimento dos gametas. Um processo que, em geral, envolve
mais moléculas – maior especificidade – em organismos de fecundação externa (como peixes), pois no meio externo
mais comumente ocorre mistura de gametas de espécies distintas.
--- Além disso, é também nesse momento que ocorre a sinalização para que o metabolismo do ovócito comece a ser
drasticamente alterado – ativação do ovo.

- Alterações conformacionais do espermatozoide:


--- O primeiro espermatozoide que interage adequadamente com receptores da Z. P. sofre alterações na estrutura da
membrana (que já fora alterada no processo da capacitação).
--- Essas alterações culminam na fusão da membranas plasmática (apical) e da vesícula acrossomal do gameta, que
libera o seu conteúdo enzimático (no meio extracelular, a zona pelúcia em si).

- Perfurando a zona pelúcida, o espermatozoide alcança o ovócito, e então ocorre a fusão das membranas dos dois
gametas.
--- Essa nova interação ocorre através de receptores da "zona equatorial" da cabeça do espermatozoide (e não do
ápice, pois essa última região foi danificada pela reação acrossomal). Ou seja, o contato se dá com o espermatozoide
posicionado quase que lateralmente em relação ao ovócito.

- As estruturas do espermatozoide que se inserem no ovócito são a cabeça e a peça intermediária.


--- A estrutura flagelar é clivada e permanece no meio extracelular.
--- Enquanto isso, o núcleo do espermatozoide passa a ser chamado pronúcleo masculino e sofre grande alteração:
ocorre principalmente a descondensação do material genético (vide tópico 7 adiante).

- Em paralelo, uma via de sinalização do ovócito promove duas principais alterações (vide em detalhes adiante)
--- (1) Torna sua membrana impermeável a outros espermatozoides, o que impede a "poliespermia".
--- (2) Desbloqueia a meiose do ovócito (que se encontrava estacionado na segunda divisão), para que se forme o
segundo corpúsculo polar – coleção genômica descartada e deslocada para a periferia da célula onde está
depositado o primeiro corpúsculo polar. Forma-se, então, o pronúcleo feminino, que se aproxima do masculino.

3) Estruturas do espermatozoide e do ovócito


- O espermatozoide tem um citoplasma bastante reduzido, o que facilita a sua locomoção. Não há reserva
energética, pois o substrato usado pelas mitocôndrias do gameta masculino consiste sobretudo na frutose que há
em abundância no meio extracelular – secreção da vesícula seminal.
--- Essas mitocôndrias se concentram sobretudo na base do flagelo, formando uma estrutura que o envolve e otimiza
a produção energética para a locomoção celular.

- Já o ovócito tem citoplasma abundante, em virtude de:


--- Uma reserva energética suficiente para nutrir o embrião até ele se implante no endométrio e possa ser nutrido
diretamente pelo organismo materno.
--- Todo um equipamento produtor de proteínas (enzimas, ribossomos e RNA) que serão usadas nos estágios iniciais
do desenvolvimento embrionário.
--- Um mecanismo de proteção ao zigoto, composto de produtos químicos como filtros UV e proteínas de reparo do
DNA.
--- Moléculas que direcionam a diferenciação celular – são os fatores morfogenéticos (como fatores de transcrição)

4) O transporte do ovócito
- Estímulos hormonais no organismo feminino promovem:
--- O aumento dos cílios das tubas uterinas em tamanho.
--- O aumento da atividade da musculatura lisa tubária.
--- A mudança de conformação do ligamento suspensor da tuba – as fímbrias se aproximam do ovário, “abraçando-o”
na cavidade peritoneal.

- Tudo isso em conjunto permite a uma célula imóvel (o ovócito, rodeado pela corona radiata) migrar para os sítios
de fecundação e de implantação.

5) O mecanismo da capacitação
- É a última etapa do amadurecimento dos espermatozoides, que, até então, não têm plena capacidade de localizar o
ovócito e fecundá-lo.
--- De fato, os espermatozoides mais rápidos, que não foram devidamente capacitados, têm poucas chances de
fecundar o ovócito, embora possam alcançá-lo em até 30 minutos após o coito.
--- O espermatozoide imaturo mais provavelmente ficará preso à corona radiata (ácido hialurônico da matriz
extracelular). Por isso, os espermatozoides colhidos para fertilização in vitro precisam sofrer capacitação artificial:
eles são mergulhados num meio com substâncias especiais, como bicarbonato, antes de serem postos em contato
com o gameta feminino.

- Esse processo de amadurecimento ocorre no istmo da tuba (primeira porção, mais fina), e é responsável pela
desaceleração dos espermatozoides, que são liberados aos poucos, à medida que estão funcionalmente prontos.
--- Por isso, a fecundação pode ocorrer até 6 dias após o coito – extensão do tempo em que os frágeis gametas
masculinos permanecem viáveis no trato reprodutor feminino.
--- Enquanto os espermatozoides são capacitados e liberados paulatinamente, pode haver um intervalo de tempo
para que ocorra a ovulação.

- O gameta capacitado recebe um aprimoramento dos seus mecanismos de orientação – de quimiotaxia


(quimiorreceptores) e de termotaxia (termorreceptores) – para localizar o ovócito na ampola da tuba.

- Via de sinalização da capacitação


--- Primeiro, receptores do espermatozoide promovem o efluxo de potássio da célula.
--- Isso acarreta alteração do potencial de membrana, levando ao influxo de bicarbonato e de cálcio.
--- Ativa-se a via da enzima adenilciclase / AMPc / PKA, o que leva a uma série de fosforilações intracelulares.
--- As fosforilações modificam o conteúdo lipídico da membrana: principalmente, ocorre a redução da concentração
de colesterol, levando ao aumento da fluidez da membrana e agregação das rafts lipídicas no ápice do gameta
(justamente, o local de reconhecimento dos receptores pelo ovócito).
--- Além disso, os receptores de membrana do espermatozoide são “desbloqueados” – proteínas e açúcares
inibitórios são removidas dos sítios de ligação às moléculas sinalizadoras da zona pelúcida – e a vesícula acrossomal
se aproxima da membrana plasmática.
--- Por fim, a motilidade e o metabolismo do espermatozoide são aumentados – "hiperativação". Ocorre uma
alteração no padrão de batimento do flagelo, que facilita a sua locomoção em meio ao muco espesso do aparelho
reprodutor feminino.

6) Mecanismos de reconhecimento e fusão de membranas


- Funções da zona pelúcida (Z.P.):
--- É uma barreira espécie-específica – ali ocorre o reconhecimento essencial entre os gametas.
--- É responsável pelo bloqueio à poliespermia – um único espermatozoide fecunda o ovócito.
--- Impede a implantação prematura do embrião (p. ex., na parede tubária) – o embrião só se livra da Z.P. em geral
quanto atinge o lúmen uterino, para que ocorra a nidação.
--- Inicia a reação acrossômica – o reconhecimento de moléculas da Z.P. liga uma cascata de sinalização no
espermatozoide, ocorrendo a fusão das suas membranas acrossômica e plasmática.

- Modificações do espermatozoide – A reação acrossomal:


--- As principais moléculas da zona pelúcida, para o reconhecimento, são a ZP2 e a ZP3.
--- Moléculas ZP3 ("zona pelúcida 3") interagem, fazendo ligação cruzada, com um receptor de membrana do
espermatozoide.
--- Uma enzima transmembrana (galactosil-transferase I) do espermatozoide se liga a resíduos de carboidratos da
ZP3, e ativa uma cascata de sinalização.
--- A via da proteína G / fosfolipase C / IP3 leva à abertura dos canais de cálcio, que promove a exocitose da vesícula
acrossomal.
--- Proteínas SNAREs são expressas na vesícula, sendo fundamentais ao processo de fusão das membranas.
- Depois que o espermatozoide penetra na zona pelúcida, a fixação à membrana do ovócito se dá através da ligação
de receptores da zona equatorial do gameta masculino a moléculas das microvilosidades da superfície do gameta
feminino – integrinas associadas a CD9 / proteínas ancoradas por GPI.

- Modificações do ovócito – A reação dos grânulos corticais:


--- Esses grânulos corticais são microvesículas localizadas logo abaixo da membrana do ovócito. Seu conteúdo é
capaz de alterar a composição da Z.P., tornando-a irreconhecível a outros espermatozoides.
--- Assim como no espermatozoide, o contato entre os gametas ativa, no ovócito, a via de sinalização da proteína G /
fosfolipase C / IP3 / canais de Ca++. A liberação de cálcio do retículo para o citosol é velocíssima – fala-se numa
“onde de cálcio” –, e esse terceiro mensageiro promove a exocitose dos grânulos corticais.
--- Além disso, o cálcio é o mensageiro que sinaliza para que a metáfase II se complete no ovócito (desbloqueio da
meiose) e o centrossomo se reorganize.

7) Modificação dos pronúcleos


- No pronúcleo masculino, ocorre uma drástica descompactação do DNA, por meio da substituição de “protaminas”
por histonas (proteínas empacotadoras).

- Ocorre demetilação do DNA, tanto o materno quanto o paterno, em sua maior parte. Ou seja, há uma deleção de
grande parte do “imprinting genômico”, da memória epigenética proveniente dos organismos parentais, para que o
filho desenvolva a sua própria (sobretudo ao longo do desenvolvimento embrionário).

- Os cromossomos paterno e materno se orientam num fuso mitótico comum no zigoto, mas ainda não se
misturam.
--- Assim, o núcleo único e diploide só se forma nas duas primeiras células-filhas (quando o embrião já é bicelular)

8) Transporte final do embrião até o endométrio


- Leva cerca de 3 dias para que o ovócito (mesmo quando não fecundado) chegue ao útero, impulsionado pelos cílios
e pela contração da musculatura lisa das tubas.
--- Esses movimentos ciliares e “ondas de contração” formam no muco secretado por glândulas tubárias uma
"correnteza" que impulsiona o ovócito.

- No caso de um embrião, ele já chega ao lúmen do útero em fase de blastocisto. Só então, via de regra, a zona
pelúcida é degradada, e isso permite a implantação do embrião (nidação).

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