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III Fórum Regional das Águas e XX Encontro de Geografia da UEG

Iporá, 6 a 9 de junho de 2018.

Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

III Fórum Regional das Águas


XX Encontro de Geografia
“Água para o amanhã: educação, gestão, manejo e
recuperação de mananciais”
Local: UEG – Campus Iporá --- Data: 06 a 09 de junho de 2018

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Eixos temáticos:

• Ensino e a formação de professores;


• Gestão e manejo de recursos hídricos;
• Técnicas de recuperação de bacias hidrográficas;
• Análise de bacias hidrográficas;
• Variabilidade climática e ciclo hidrológico;
• Disponibilidade hídrica, geração de energia e produção de alimentos.

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Comissão Organizadora:
Prof. Dr. Flávio Alves de Sousa (Coordenador Geral)
Prof. Me. Adjair Maranhão de Sousa
Prof. Dr. Antônio Fernandes dos Anjos
Prof. Dr. Diego Tarley Ferreira Nascimento
Prof. Me. Divino José Lemes de Oliveira
Profa. Me. Edna Maria Ferreira de Almeida
Profa. Me. Marlúcia Marques
Profa. Me. Paula Junqueira da Silva Rezende
Profa. Me. Priscylla Karoline de Menezes
Prof. Dr. Ricardo Junior de Assis Fernandes Gonçalves
Prof. Me. Valdir Specian
Prof. Me. Washington Silva Alves

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Iporá, 6 a 9 de junho de 2018.

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PROGRAMAÇÃO COMPLETA

06/06 (quarta-feira)
14 h: Oficinas
• “A questão hídrica e a educação ambiental”.
Profa. Dra. Viviane de Leão Duarte Specian (UEG Iporá)
• “Educação pela água: como elaborar projetos de ação?”.
Prof. Esp. Alex Batista Moreira Rios (IF Goiano – Rio Verde)

19 h: Conferência de abertura “Conservação e uso da água”.


Prof. Dr. Hildeu Ferreira da Assunção (UFG – Jataí)
Mediador: prof. Dr. Flávio Alves de Sousa

07/06 (quinta-feira)
14 h: Minicursos
• Elaboração de gráficos em Climatologia”.
Prof. Me. Washington Silva Alves (UEG - Iporá)
• Uso de vants em estudos ambientais.
Profa. Dra. Laís Naiara G. dos Reis (UEG – Itapuranga)

19 h: Mesas-redondas
• Ensino e a formação de professores
Prof. Dr. José Gilberto de Souza (Presidente Nacional da AGB)
Prof. Me. Rodrigo Roncato Marques Anes (UEG – ESEFFEGO)
Mediadora: Profa. Me. Paula Junqueira da Silva
• Disponibilidade hídrica, geração de energia e produção de alimentos
Prof. Dr. Valtuir Moreira da Silva (UEG – Câmpus Itapuranga)
Prof. Dr. Adriano Rodrigues Oliveira (UFG)
Mediador: Prof. Dr. Ricardo Junior de Assis Fernandes Gonçalves
• Estudos ambientais e de bacias hidrográficas
Prof. Dr. Silvio Braz de Sousa (UEG – Câmpus Itapuranga)
Prof. Me. Derick Martins Borges de Moura (SECIMA e UFG)
Mediador: Prof. Dr. Diego Tarley Ferreira Nascimento

08/06 (sexta-feira)
9 h: Exposição de filme
Oficina “Geotecnologias aplicadas aos estudos ambientais”.
Vilson S. Queiroz Júnior e Dalila Brito de Jesus (UFG – Jataí).

14 h: Apresentação oral de trabalhos

19 h: Conferência de encerramento “Manejo e recuperação de bacias hidrográficas”


Dr. Cezar Francisco Araújo Junior (Instituto Agronômico do Paraná)
Prof. Dr. Eduardo da Costa Severiano (IF Goiano – Rio Verde)
Mediador: Prof. Me. Washington Silva Alves

09/06 (sábado)
Trabalho de campo no Parque Municipal Ecológico de Iporá
Responsáveis: Prof. Esp. Alex Batista Moreira Rios (IF Goiano – Rio Verde)
Profa. Dra. Viviane de Leão Duarte Specian (UEG Iporá)
Oívlis Áldrin Charles Morbeck Barros de Souza (Pastoral do Meio Ambiente)

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Realização:
Curso de Geografia da UEG – Campus Iporá
Laboratório de Estudos Ambientais e do Território (LEAT)
Laboratório de Cartografia e Geoprocessamento (LaCGEO)
Laboratório de Gemorfologia e Solos

Apoio institucional:

Apoio Financeiro:

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ANAIS DO III FÓRUM REGIONAL DAS ÁGUAS & XX ENCONTRO


DE GEOGRAFIA. Iporá, 06 a 09 de junho de 2018.

Universidade Estadual de Goiás – UEG – Campus Iporá.

Elaboração: Diego Tarley Ferreira Nascimento

SUMÁRIO

A ÁGUA NO PROCESSO DE ENSINO- Luan do Carmo da Silva Priscylla 8


APRENDIZAGEM NA GEOGRAFIA DOS ANOS Karoline de Menezes
INICIAIS

ABASTECIMENTO PÚBLICO, SANEAMENTO, Arlei Corrêa dos Santos Junior, Elton 18


CHUVAS E TEMPERATURA NO MUNICÍPIO DE Souza Oliveira
ANÁPOLIS-GO

ALÉM DOS GALHOS TORTUOSOS DO CERRADO Sabrina Carlindo Silva, Hyago Ernane 27
Gonçalves Squiave, Valdir Specian

ANÁLISE AMBENTAL: VARIÁVEIS DE Maria Antonia Balbino Pereira Wellmo 37


QUALIDADE, ESTADO TRÓFICO E dos Santos Alves, João Gomes Pereira
BALNEABILIDADE DA ÁGUA NA MÉDIA BACIA Neto, Lucas Duarte Oliveira
DO RIO SÃO TOMÁS, NO SUDOESTE DE GOIÁS,
BRASIL

ANÁLISE DA PERCEPÇÃO SOCIOAMBIENTAL Elivaldo Ribeiro de Santana, Priscylla 49


DOS PROFESSORES DA REDE PÚBLICA DE Karoline de Menezes
ENSINO BÁSICO DE FORMOSA-GO A PARTIR DA
ESCALA DO NOVO PARADIGMA ECOLÓGICO

ANÁLISE DA VARIAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DA Regina Maria Lopes, Zilda de Fátima 59


CHUVA NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DOS Mariano, José Ricardo Rodrigues Rocha
RESERVATÓRIOS DE CAÇU E BARRA DOS
COQUEIROS-GO

ANÁLISE DO GRAU DE TROFIA DAS ÁGUAS DA Luanna Oliveira Lima, Wellmo dos 70
BACIA DO RIO PRETO, NO DISTRITO FEDERAL E Santos Alves, Maria Antônia Balbino
ESTADO DE GOIÁS, BRASIL Pereira

ANÁLISE DO NÍVEL DE OXIGÊNIO DISSOLVIDO Lucas Duarte Oliveira Wellmo dos 82


NAS ÁGUAS DA BACIA DO RIO PRETO, NO Santos Alves
DISTRITO FEDERAL E ESTADO DE GOIÁS, BRASIL

ANÁLISE DO TEMA ÁGUA NO CURSO DE Ana Paula R. F. Frazão Eliana Marta 94


FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM GEOGRAFIA Barbosa de Morais
DO INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOAMBIENTAIS
DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS.
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ANÁLISE MULTI-TEMPORAL DA CORRELAÇÃO Elton Souza Oliveira 104


ENTRE NDVI, RELEVO E PRECIPITAÇÕES NA
REGIÃO CENTRO SUL DO DISTRITO FEDERAL,
BRASIL

AS TEMÁTICAS FÍSICO-NATURAIS E A REDE Camylla Silva Otto Eliana Marta 116


HIDROGRÁFICA NA GEOGRAFIA ESCOLAR: UMA Barbosa de Morais
ANÁLISE DOS PARÂMETROS CURRICULARES
NACIONAIS (PCNS)

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA NA Karla Nascimento Leite, Poliana Olímpia 125


MICROBACIA DO CÓRREGO BURITI NO Leite Silveira, José Ricardo Ferreira
MUNICÍPIO DE CAIAPÔNIA GOIÁS Rodrigues Santos, Rosenilda Maria de
Morais Silva.

AVALIAÇÃO DE DISPONIBILIDADE HÍDRICA EM Derick Martins Borges de Moura. 133


BACIAS HIDROGRÁFICAS PARA Ivanilton José de Oliveira. Diego Tarley
ABASTECIMENTO DA CIDADE DE IPORÁ (GO) Ferreira Nascimento, João Batista Pereira
Cabral, Wanderlubio Barbosa Gentil,
Assunção Andrade de Barcelos

AVALIAÇÃO DO USO DE IMAGENS Patrick Thomaz de Aquino Martins 143


OLI/LANDSAT-8 À ESTIMATIVA DA Renata Mariana Póvoa Matos
CONCENTRAÇÃO DE SEDIMENTOS EM
SUSPENSÃO NO RESERVATÓRIO DA USINA
HIDRELÉTRICA DE CANA BRAVA, GOIÁS

BALANÇO HÍDRICO CLIMATOLÓGICO: UMA Ozimo Mendonça Neto Tatielly Lopes da 152
ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE ALGUMAS Silva Patrick Thomaz de Aquino Martins
CAPITAIS BRASILEIRAS

CARACTERIZAÇÃO PRELIMINAR DO Matheus Santiago Vieira Elton Souza 163


ABASTECIMENTO PÚBLICO E VOLUME MÉDIO Oliveira
DE CHUVAS NO MUNICÍPIO DE FORMOSA -
GOIÁS

DAS ORGANIZAÇÕES CIVIS DE RECURSOS Thaynã Dias Ferreira Avelar, Derick 171
HÍDRICOS, FRENTE A LEI Nº 9.433, DE 8 DE Martins Borges de Moura
JANEIRO DE 1997

DEGRADAÇÃO DO SUBSISTEMA DE VEREDA Renato Adriano Martins, Eduardo Vieira 180


CAUSADA PELO AGROHIDRONEGÓCIO DO PIVÔ dos Santos, Mônica Aparecida
CENTRAL NO MUNICÍPIO DE JUSSARA - GO Guimarães da Silva

DESVIOS DE PRECIPITAÇÃO MENSAL EM DIEGO TARLEY FERREIRA 189


GOIÂNIA-GO CONFORME ATUAÇÃO DO NASCIMENTO
FENÔMENO EL NIÑO OSCILAÇÃO SUL (ENOS)

EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLA PÚBLICA: Letícia Silva Dias de Souza, Diego 199
REALIDADE E DESAFIOS Tarley Ferreira Nascimento

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM ESTUDO DE CASO Zélia Malena Barreira Dias, Priscylla 210
A PARTIR DO PROJETO PEDE PLANTA Karoline de Menezes

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EVOLUÇÃO DO USO DO SOLO E COBERTURA Eduardo Vieira dos Santos, Frederico 221
VEGETAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO Augusto Guimarães Guilherme, Renato
RIBEIRÃO DA AREIA, MUNICÍPIOS DE Adriano Martins, Mônica Aparecida
ARAGARÇAS (GO) E BOM JARDIM DE GOIÁS (GO) Guimarães da Silva
ENTRE OS ANOS DE 1987 E 2017

GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NO Naiane Candido Araújo Oliveira, Elton 232
MUNICÍPIO DE FORMOSA-GOIÁS: ESTUDO DE Souza Oliveira
CASO SOBRE O DÉFICIT DE ABASTECIMENTO NO
PERÍODO DE ESTIAGEM

GESTÃO PUBLICA DE ABASTECIMENTO DE Jefferson da Silva Pimenta 242


AGUÁ, ESGOTO E ENTEDIMENTOS HIDRICOS DO
MUNICIPIO DE DAMIANOPOLIS GOIÁS

MONITORAMENTO DA QUALIDADE DA ÁGUA NA Jordana Almeida Marques, Eloisa Borges 252


BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CORGÃO DO Reis, Cleicinara Pereira Rosatto,
MUNICÍPIO DE PIRANHAS-GOIÁS Rosenilda Maria de Morais Silva

O ENSINO DE CLIMATOLOGIA GEOGRÁFICA A Romário Rosa de Sousa Sandro Cristiano 263


PARTIR DA UTILIZAÇÃO DE SUCATAS de Melo Aline Nascimento Vasco Izaias
de Souza Silva Larissa Souza Macêdo
Márcio Pinheiro Maciel

O RIO E POVO: ABORDAGENS DO PROCESSO DE Hyago Ernane Gonçalves Squiave, 273


FORMAÇÃO ESPACIAL DO ARRAIAL DE PILÕES Sabrina Carlindo Silva
NO SÉCULO XVIII

OUTORGA DE ÁGUA E A COBRANÇA PELO USO Edwilson Alberto Fedrigo, Aristeu 284
DE RECURSOS HÍDRICOS NO COMITÊ DA BACIA Geovani de Oliveira
HIDROGRÁFICA DO RIO MEIA PONTE

QUALIDADE E ESTADO TRÓFICO DA ÁGUA NA Wellmo dos Santos Alves Maria Antonia 295
ALTA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO DA Pereira Balbino Alécio Perini Martins
LAJE, EMRIO VERDE (GO) Iraci Scopel Hipólito Tadeu Ferreira da
Silva

QUALIDADE HÍDRICA: SUBSÍDIO AO Lucas Duarte Oliveira Wellmo dos 307


PLANEJAMENTO E À GESTÃO AMBIENTAL DA Santos Alves Maria Antonia Balbino
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO MONTE Pereira
ALEGRE, NO MUNICÍPIO DE RIO VERDE (GO),
BRASIL

RELAÇÃO DO USO DOS RECURSOS HÍDRICOS E Izaias de Souza Silva, Larissa Souza 318
DA PRODUTIVIDADE AGRÍCOLA ENTRE MATO Macêdo
GROSSO E MINAS GERAIS NO PERÍODO DE 2016 A
2018

REÚSO DA ÁGUA: IMPORTÂNCIA, QUALIDADE E Santiago Soares Silva Guilherme 329


CRITÉRIOS PARA USO. Eduardo Santos Bueno Eloisa Borges
Reis

REÚSO DE ÁGUA NA AGRICULTURA Daniela Brito CHAGAS 340

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SUBSÍDIO À GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICO: Wellmo dos Santos Alves Alécio Perini 350
DEMANDA BIOQUÍMICA DE OXIGÊNIO E Martins Iraci Scopel
OXIGÊNIO DISSOLVIDO NA ÁGUA DA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO MEIA PONTE, GOIÁS,
BRASIL

TRATAMENTO DE ESGOTOS LIQUÍDOS RAIANE SILVA LEMES ELIOMAR 363


PROVENIENTES DO USO DOMÉSTICO, NO ALVES DA SILVA RAISA XAVIER
MUNICÍPIO DE IPORÁ – GO RESENDE HURUALLA SILVA
ROCHA

UMA PONTE ENTRE GEOGRAFIA E A RELIGIÃO João Batista da Silva Oliveira 373
WICCA DEFINIÇÃO DE UMA DEUSA PARA AS
BACIAS HIDROGRÁFICAS DA REGIÃO DE IPORÁ

USOS MÚLTIPLOS: ANÁLISE DA PERCEPÇÃO Juliana Marques do Lago, Wagner Alceu 384
SOCIOAMBIENTAL DOS USUÁRIOS DO Dias
RESERVATÓRIO DE CORUMBÁ IV

UTILIZAÇÃO DO SOFTWARE E QGIS NA Washington Martins Galvão Filho; 394


QUANTIFICAÇÃO DE IMPACTOS GERADOS NA Wallacy Silva Ferreira, Kamylla Moraes
BACIA DO CÓRREGO MONTE NO MUNICÍPIO DE Ferreira; Rosenilda Maria de Moraes
CAIAPÔNIA-GO. Silva

VARIABILIDADE DAS CHUVAS NO OESTE DE Gustavo Zen de Figueiredo Neves, 404


GOIÁS: ASPECTOS TEMPORAIS E DINÂMICOS Thiago Rocha, Valdir Specian

VARIAÇÃO TEMPORAL DAS CHUVAS NO Washington Silva Alves Zilda de Fátima 416
QUADRIMESTRE (JANEIRO, FEVEREIRO, MARÇO Mariano
E ABRIL) EM IPORÁ-GO

VARIAÇÕES DO ÍNDICE DE ANOMALIA DE Washington Silva Alves Zilda de Fátima 425


CHUVA (IAC) NO OESTE GOIANO Mariano

VAZÃO TOTAL DO RIBEIRÃO PARAÍSO JATAÍ-GO Simone Marques Faria Lopes, Celso de 435
ENTRE AGOSTO DE 2014 E MAIO DE 2015. Carvalho Braga, Wanderlúbio Barbosa
Gentil, João Batista Pereira Cabral

VULNERABILIDADE AMBIENTAL DA Rafael Gomes Pereira Guilherme 443


MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO Eduardo Santos Bueno Betânia Pereira
TAMANDUÁ NO MUNICÍPIO DE IPORÁ – GO Lemes Guilherme Henrique Silva
Fernandes Rosenilda Maria de Morais
Silva

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A ÁGUA NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA


GEOGRAFIA DOS ANOS INICIAIS

Luan do Carmo da Silva


Instituto Federal de Brasília
luan.silva@ifb.edu.br

Priscylla Karoline de Menezes


Universidade Estadual de Goiás
priscylla.menezes@ueg.br

Resumo: O texto ora apresentado tem por objetivo discutir as possibilidades de trabalho escolar com o
tema água na Geografia dos Anos Iniciais a partir da reorganização das proposições curriculares no
Brasil orientadas pela efetivação da Base Nacional Curricular Comum (BNCC) . Para a construção do
texto recorreu-se ao procedimento de consulta documental a versão final da BNCC, nas habilidades do
recorte escolar definido, que contemplam o tema e as possibilidades de trabalho docente. Verificou-se
que é possível trabalhar a temática assinalada por meio de diversas vertentes que englobam desde a
perspectiva cultural até a de diferentes usos sociais dado à água na contemporaneidade.

Palavras chave: Base Nacional Curricular Comum – Água – Anos Iniciais

INTRODUÇÃO

As recentes modificações no cenário educacional brasileiro precisam ser


compreendidas por distintas óticas a fim de se ter um panorama do que tem sido proposto nas
diversas instâncias que pensam a educação formal no/do país. É nessa perspectiva que este
trabalho foi estruturado buscando traçar um quadro geral sobre como um tema de notória
relevância social passará a ser trabalhado quando da efetiva implementação da Base Nacional
Curricular Comum (BNCC) nos diversos sistemas de ensino.
Para a construção do texto em tela, teve-se como percurso metodológico a análise
documental das orientações curriculares presentes na versão mais recente da BNCC para o
componente curricular Geografia no Ensino Fundamental (Anos Iniciais) acerca da água e as
possibilidades de trabalho docente a partir de tais orientações.
Discutir (ou possibilitar a discussão) acerca da água é de fundamental importância em
qualquer etapa da escolarização e com qualquer grupo social, por isso a opção (ou a
necessidade) de verificar como tal temática está presente nos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental. Ressalta-se nesse sentido, que é nessa etapa que o aluno começa o contato com
o conhecimento historicamente construído e comprovado cientificamente, ampliando com isso,

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seu horizonte de vivência e repertório cultural. Nesse caso, discutir a água nos Anos Iniciais
tem ligação direta com a aprendizagem para a construção da consciência socioambiental, ou
como estabelece Nogueira e Carneiro (2013), tal aprendizagem poderá contribuir para a
formação da consciência espacial cidadã.
Por fim, usando os pressupostos trazidos por Guimarães, Santos e Machado (2012),
destaca-se que pensar as aprendizagens desde os Anos Iniciais, em especial no campo do
componente curricular Geografia, tem correlação com a reflexão sobre as possibilidades de
construção de propostas didático-pedagógicas e teórico-metodológicas que contemplem, entre
outros atributos, a compreensão crítica e sistematizada de como diferentes temas e objetos de
conhecimento estão organizados nos espaços de vivência dos alunos e quais relações tais temas
e objetos podem exercer com outros elementos do cotidiano.

BNCC – O QUE SE ESPERA DA APRENDIZAGEM ESCOLAR?

A construção de uma base nacional na qual estivessem previstos aspectos básicos para
a aprendizagem consta na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, mas
somente nos anos 2010 é que a União, por meio do Ministério da Educação e órgãos a este
ligado, encaminhou os trabalhos no sentido de formatar toda a proposta. Críticas ao processo
foram e continuam sendo feitas por intelectuais, em especial no que tange à metodologia de
construção do documento final (FRIGOTTO; DICKMANN; PERTUZATTI, 2017), assim
como ao esvaziamento de determinados componentes curriculares, dentre estes, a Geografia
(COUTO, 2016).
Também se podem discutir as formas de funcionamento dessa proposta de organização
curricular. É possível o efetivo funcionamento desse modelo nos moldes das escolas e formação
inicial e continuada aos quais os professores atualmente têm acesso? Para Silva (2017, p. 382),
as alterações impostas pela BNCC têm ligação direta e incontestável com o desmonte das
políticas educacionais no Brasil, assim como evidenciam a “centralização verticalizada do
Estado no estabelecimento de um referencial cujo eixo principal é a legitimação de forças
capitalistas, ocultando tensões sociais”.
Cabe, entretanto, ao ter em mente as críticas e a necessidade da constituição da BNCC
(Base), discutir o documento que foi aprovado verificando suas fragilidades e potencialidades
frente ao atual estágio de desenvolvimento no qual a sociedade brasileira se encontra. É nesse

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sentido que este texto visa contribuir com o debate estabelecido, tendo como recorte de análise
o tema da água nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
Por organização metodológica, o foco da educação formal, a partir da Base, não é o
conteúdo disciplinar, mas as competências para as aprendizagens (BRASIL, 2018). Essa
modificação do foco possibilita que se amplie e potencialize a interdisciplinaridade, uma vez
que a correlação de diferentes áreas podem contribuir mais eficazmente para o alcance de uma
determinada competência do que um processo não dialógico entre os componentes curriculates
que trabalham com conteúdos similares, mas com objetivos díspares. Ressalta-se ainda que:
na BNCC, competência é definida como a mobilização de conhecimentos
(conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e
socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida
cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho (BRASIL,
2018, p. 8. Modif.).

Por meio das especificidades apresentadas, a formatação dos encaminhamentos teórico-


metodológicos para o ensino-aprendizagem também foram modificados. Para se alcançar uma
aprendizagem no campo da Geografia, por exemplo, é importante que determindo tema (ou
conteúdo) trabalhado em sala de aula tenha conexão com competências diversas, conforme se
verifica no diagrama (Fig. 1) a seguir.

Figura 1: Organização das Competência na BNCC

Fonte: Brasil (2018). Org. Os Autores

A partir do tratamento dado ao tema água por meio das habilidades apresentadas na
BNCC, pode-se construir um quadro geral de como esse tema se fará presente em sala de aula
nos Anos Iniciais. Verifica-se que o mesmo consta em habilidades dos componentes
curriculares Ciências e Geografia, e dada às possibilidades de trabalho interdisciplinar que a

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BNCC fomenta, entende-se que tal temática pode ser trabalhada em outros componentes, como
por exemplo, por meio de projetos interdisciplinares.

Na área de Ciências, buscando possibilitar o aprendizado do letramento científico, e o


consequente “desenvolvimento da capacidade de atuação no e sobre o mundo, importante ao
exercício pleno da cidadania” (BRASIL, 2018, p. 319), são elencadas habilidades que permitem
construir o debate acerca da água. Considerando as situações que se espera desenvolver no
ensino de Ciências (explicitação de problemas do cotidiano, definição de hipóteses, avaliação
de informações, construção de argumentos, proposição de soluções), assinala-se que o tema
água pode ser contemplado junto a este componente curricular sob múltiplas óticas.

Para além da compreensão de tal recurso enquanto essencial para a manutenção e


desenvolvimento da vida ou o estudo de seus estados físicos, a água pode ser trabalhada visando
à compreensão das características, fenômenos e processos relativos ao mundo natural, social e
tecnológico ou ainda por meio dos diferentes usos e sentidos dados por povos de diferentes
culturas a este recurso.

A BNCC propõe que as aprendizagens estejam organizadas a partir de unidades


temáticas, as quais congregam objetos de conhecimento que ao longo da escolarização vão
sendo complexificados e permitindo a compreensão cada vez mais ampla e sistematizada dos
acontecimentos, fenômenos e conceitos presentes no dia a dia. O componente curricular
Geografia está organizado sob cinco unidades temáticas – O sujeito e seu lugar no mundo;
Conexões e escalas; Mundo do trabalho; Formas de representação e pensamento espacial e;
Natureza, ambientes e qualidade de vida. Estas unidades articulam-se em torno dos principais
conceitos da Geografia – espaço, território, lugar, região, natureza e paisagem –, com objetivo
de possibilitar a construção do chamado raciocínio espacial, o qual, de acordo com a Base,
demanda princípios específicos – analogia, conexão, diferenciação, distribuição, extensão,
localização e ordem.

Acerca da temática água nos Anos Iniciais, verifica-se, por sua vez que esta pode ser
contemplada ao se trabalhar as diferentes unidades temáticas, mas especialmente na unidade
Natureza, ambientes e qualidade de vida. Os objetos de conhecimento do componente curricular
Geografia também favorecem o trabalho com o tema, mas especialmente os que estão ligados

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à mencionada unidade temática. Com isso pode-se afirmar que a forma de apresentação das
unidades e seus respectivos objetos de conhecimento permitem a organização curricular de
formas diversificadas, contemplando o cotidiano e o contexto socioespacial no qual o aluno
está inserido e os conteúdos e temáticas que o professor, em seu papel de mediador e autor de
possibilidades de aprendizagens, elenca para ser trabalhados em sala de aula.

Quanto às habilidades estipuladas para os Anos Iniciais em Geografia, as quais estão


organizadas com o foco na progressão das aprendizagens, destacam-se algumas que estão
diretamente ligadas à temática aqui discutida. No primeiro ano, ainda que a mediação docente
se paute pelas brincadeiras, alguns conteúdos são trabalhados com os alunos. Neste ano escolar
espera-se que o aluno seja capaz, por exemplo, de descrever características de seus lugares de
vivência relacionadas aos ritmos da natureza (chuva, vento, calor etc.) (EF01GE10), habilidade
ligada ao objeto de conhecimento Condições de vida nos lugares de vivência e à unidade
temática Natureza, ambientes e qualidade de vida. Por meio desta habilidade é possível verificar
que a água é entendida enquanto um recurso da natureza que se manifesta de diferentes formas
no cotidiano do aluno. Ainda neste ano, outra habilidade que permite o trabalho docente acerca
da água é a EF01GE03, que busca Identificar e relatar semelhanças e diferenças de usos do
espaço público (praças, parques) para o lazer e diferentes manifestações, esta habilidade está
ligada à unidade temática O sujeito e seu lugar no mundo, e o tema água pode ser trabalhado a
partir dos usos dados a ela nas atividades de lazer que os diversos grupos sociais praticam – um
exemplo dessa perspectiva pode ser encontrado em Moraes e Romão (2009) no texto
“Brincando com água”.

No segundo ano, habilidades ligadas às diferentes unidades temáticas favorecem a


mediação do conhecimento a partir da água conforme pode ser verificado a seguir (Quadro 1),
destaca-se, no entanto, que as possibilidades apresentadas neste texto não são os únicos
encaminhamentos possíveis para a mediação da aprendizagem a partir da habilidade
apresentada, trata-se tão-somente de um dos muitos vieses possíveis dentro do contexto em tela.

Quadro 1 – Possibilidades de trabalho com o tema água a partir das Habilidades


em Geografia no segundo ano
Unidade Habilidade Possibilidade de trabalho com a
temática água

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Conexões e (EF02GE04) Reconhecer semelhanças Compreensão das maneiras como


escalas e diferenças nos hábitos, nas relações povos de diferentes culturas e com
com a natureza e no modo de viver de hábitos diversos se relacionam
pessoas em diferentes lugares. com a água e o uso que fazem
O sujeito e (EF02GE02) Comparar costumes e deste recurso nas atividades do dia
seu lugar no tradições de diferentes populações a dia ou em atividades festivas.
mundo inseridas no bairro ou comunidade em
que vive, reconhecendo a importância
do respeito às diferenças.

(EF02GE03) Comparar diferentes Compreensão dos corpos hídricos


meios de transporte e de comunicação, enquanto vias de deslocamento em
indicando o seu papel na conexão áreas litorâneas, de florestas ou
entre lugares, e discutir os riscos para alagadiços no Brasil.
a vida e para o ambiente e seu uso
responsável.
Mundo do (EF02GE07) Descrever as atividades Impacto das atividades
trabalho extrativas (minerais, agropecuárias e econômicas nos corpos hídricos e
industriais) de diferentes lugares, as consequências no contexto
identificando os impactos ambientais. socioespacial imediato.
Natureza, (EF02GE11) Reconhecer a Evidenciação da água enquanto
ambientes e importância do solo e da água para a recurso básico para a existência e
qualidade de vida, identificando seus diferentes manutenção da vida e discussão da
vida usos (plantação e extração de importância deste recurso nos
materiais, entre outras possibilidades) diferentes contextos
e os impactos desses usos no cotidiano socioespaciais.
da cidade e do campo.
Fonte: Brasil (2018). Org.: os autores.

Para o terceiro ano (Quadro 2), são apresentadas habilidades que favorecem de maneira
significativa o trabalho docente em Geografia com a temática da água. Tais possibilidades vão
desde o reconhecimento da água em diferentes contextos socioculturais, até a compreensão dos
processos de educação ambiental e impacto das atividades humanas nos cursos d’água.

Quadro 2 – Possibilidades de trabalho com o tema água a partir das Habilidades


em Geografia no terceiro ano
Unidade Habilidade Possibilidade de trabalho com a
temática água
O sujeito e (EF03GE03) Reconhecer os diferentes Compreensão das maneiras como
seu lugar modos de vida de povos e comunidades povos de diferentes culturas e com
no mundo tradicionais em distintos lugares. hábitos diversos se relacionam com
a água e o uso que fazem deste
recurso nas atividades do dia a dia
ou em atividades festivas.
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Conexões e (EF03GE04) Explicar como os Entendimento da água enquanto


escalas processos naturais e históricos atuam um fator de aglutinação de povos e
na produção e na mudança das elemento limítrofe para o
paisagens naturais e antrópicas nos assentamento humano em
seus lugares de vivência, comparando- determinados contextos espaciais.
os a outros lugares. Compreensão do processo de
produção do espaço pela sociedade
a partir da interação contraditória e
conflitosa com a natureza.
Natureza, (EF03GE08) Relacionar a produção de Uso consciente dos recursos
ambiente e lixo doméstico ou da escola aos naturais, em especial a água em
qualidade problemas causados pelo consumo suas diferentes formas e corpos.
de vida excessivo e construir propostas para o Busca pelo reaproveitamento das
consumo consciente, considerando a águas utilizadas, mas ainda
ampliação de hábitos de redução, reuso próprias para o uso em outras
e reciclagem/descarte de materiais atividades menos nobres.
consumidos em casa, na escola e/ou no Reconhecimento da importância da
entorno. água na manutenção da vida
(EF03GE09) Investigar os usos dos humana e outras formas de vida
recursos naturais, com destaque para os sobre o planeta Terra e análise dos
usos da água em atividades cotidianas usos sociais dados a água em
(alimentação, higiene, cultivo de situações específicas.
plantas etc.), e discutir os problemas
ambientais provocados por esses usos.
(EF03GE10) Identificar os cuidados
necessários para utilização da água na
agricultura e na geração de energia de
modo a garantir a manutenção do
provimento de água potável.
Fonte: Brasil (2018). Org.: os autores.

O quadro a seguir (Quadro 3) traz as habilidades do quarto e quinto anos que entende-
se podem contribuir para a mediação do conhecimento acerca da água junto ao componente
curricular Geografia. Assim como nas demais situações elencadas anteriormente, aponta-se que
outras possibilidades são possíveis de existir e, inclusive devem ser pensadas pelo professor e
seus pares, nesse texto busca-se abrir o debate e catalisar as críticas acerca do tema.

Quadro 3 – Possibilidades de trabalho com o tema água a partir das Habilidades


em Geografia no quarto e quinto anos
Unidade Habilidade Possibilidade de trabalho com a
temática água

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Natureza, (EF04GE11) Identificar as Identificação e caracterização das


ambiente e características das paisagens naturais e paisagens, assim como dos
qualidade antrópicas (relevo, cobertura vegetal, problemas socioambientais
de vida rios etc.) no ambiente em que vive, decorrentes da pressão da sociedade
bem como a ação humana na sobre os recursos naturais.
conservação ou degradação dessas Verificação das formas de uso e
áreas. manejo da água tanto no viés
predatório quanto identificação do
uso sustentável.
(EF05GE10) Reconhecer e comparar Análise da água, em situação de
atributos da qualidade ambiental e potabilidade, enquanto recurso
algumas formas de poluição dos cursos necessário para o bem estar social,
de água e dos oceanos (esgotos, identificação dos organismos de
efluentes industriais, marés negras fiscalização e controle para o uso
etc.). deste recurso.
(EF05GE11) Identificar e descrever Proposição de medidas
problemas ambientais que ocorrem no sustentáveis e democráticas para
entorno da escola e da residência acesso à água potável a todos os
(lixões, indústrias poluentes, grupos sociais, favorecendo a
destruição do patrimônio histórico cidadania.
etc.), propondo soluções (inclusive
tecnológicas) para esses problemas.
(EF05GE12) Identificar órgãos do
poder público e canais de participação
social responsáveis por buscar
soluções para a melhoria da qualidade
de vida (em áreas como meio
ambiente, mobilidade, moradia e
direito à cidade) e discutir as propostas
implementadas por esses órgãos que
afetam a comunidade em que vive.
Fonte: Brasil (2018). Org.: os autores.

No conjunto das anotações apresentadas verifica-se que a água está mais correlacionada
com as habilidades ligadas à unidade temática Natureza, ambientes e qualidade de vida. No
entanto, foi possível mapear possibilidades de trabalho com esse tema em outras unidades
temáticas e unidades que não foram discutidas, mas que perpassam o aprendizado (do
raciocínio) geográfico como as Formas de representação e pensamento espacial, contemplam
este e outros temas. Desse modo, pontua-se que a aprendizagem acerca da temática torna-se
mais significativa e completa de modo que o aluno amplie o seu horizonte de compreensão dos
conteúdos direta ou indiretamente vinculados à água.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

As unidades temáticas e os objetos de conhecimento, de acordo com as orientações da


BNCC, existem como elementos didáticos de organização do trabalho docente. Este, por sua
vez, não pode acontecer de forma estanque e desconsiderando, por exemplo, objetos de
conhecimento de uma unidade específica, quando estes se fizerem necessários para a aquisição
de certas habilidades ligadas à outra unidade temática.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de ensino-aprendizagem nos Anos Iniciais, que esteve organizado em


temáticas consoantes com os objetivos estabelecidos para o público-alvo daquela etapa da
educação básica, passa a se organizar com vistas a possibilitar o alcance das habilidades e
competências trazidas pela BNCC como essenciais para a progressão das aprendizagens. Dito
isso, a mediação do conhecimento acerca da água, muito mais que em situações anteriores,
agora precisa efetivamente estar correlacionado com o cotidiano do aluno e contextualizado em
suas trajetórias vivenciais para que assim tenha fundamento junto aos objetos de aprendizagem
estabelecidos na BNCC.

Dentro das áreas de conhecimento as competências específicas buscam, entre outros


aspectos, o direcionamento das aprendizagens para a formação de posturas e atitudes que
permitam ao aluno interpretar o mundo a sua volta de maneira cada vez mais crítica e coerente.
Desse modo, a Geografia contribui para o desenvolvimento do raciocínio espacial, por meio do
qual se articulam as competências e habilidades deste componente curricular.

A proposta elementar para o processo de ensino-aprendizagem desenhado pela BNCC


para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental é a contextualização das vivências, saberes,
interesses e curiosidades sobre o mundo natural e tecnológico que os alunos já possuem e que
precisam ser valorizados e mobilizados de modo a se alcançar as habilidades propostas e a partir
destas as competências correspondentes. Dessa maneira, a água é tema essencial a ser
trabalhado e pode ser desenvolvido sob diferentes óticas e a partir de diferentes componentes
curriculares. Na Geografia, o trabalho com esse tema está intimamente ligado às questões da
Natureza, mas em alguma medida, também é trabalhado sob outras perspectivas.

Ainda que tal linha de debate tenha coro no meio acadêmico, com a aprovação e
homologação da Base pelo poder público cabe aos professores e outros atores que têm pensado
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o processo de ensino-aprendizagem no Brasil pelos diferentes vieses, buscar formas de construir


currículos efetivamente significativos e conectados com as realidades socioespaciais dos alunos
e das comunidades que estes integram.

Referências

BRASIL. Ministério da Educação (MEC). Base Nacional Comum Curricular: educação é a


base. Brasília: 2018.

COUTO, M.A.C. Base Nacional Comum Curricular – BNCC - Componente Curricular:


Geografia. In: Revista da ANPEGE. v. 12, n. 19, 2016.

FRIGOTTO, G.; DICKMANN, I.; PERTUZATTI, I. Currículo Integrado, Ensino Médio


Técnico e Base Nacional Comum Curricular: Entrevista com Gaudêncio Frigotto. In: Revista
e-Curriculum. São Paulo, v.15, n.3, p. 871 – 884 jul./set.2017.

GUIMARÃES, I.; SANTOS, K.A.; MACHADO, L.M.D. Crianças e práticas espaciais no


mundo globalizado. In: Ensino em Re-Vista. Uberlândia, v. 19, n. 2. 2012.

MORAES, E.M.B.; ROMÃO, P.A. Bacias Hidrográficas da Região Metropolitana de


Goiânia. Aprender com a cidade, v. 2. Goiânia: Gráfica e Editora Vieira, 2009.

NOGUEIRA, V.; CARNEIRO, S.M.M. Educação Geográfica e Formação da Consciência


Espacial-Cidadã. Série Pesquisa, 233. Curitiba, Editora UFPR, 2013.

SILVA, A.S. Questões que perpassam o ensino de Geografia com as proposições da Base
Nacional Comum Curricular. In: Revista Brasileira de Educação em Geografia, Campinas,
v. 7, n. 13, p. 417-437, jan./jun., 2017.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

ABASTECIMENTO PÚBLICO, SANEAMENTO, CHUVAS E


TEMPERATURA NO MUNICÍPIO DE ANÁPOLIS-GO

Arlei Corrêa dos Santos Junior


Universidade Estadual de Goiás-Campus Formosa
Arleijunior000@gmail.com

Elton Souza Oliveira


Universidade Estadual de Goiás-Campus Formosa
elton.gea@gmail.com

Resumo: Este trabalho tem como função, apresentar de forma simplificada e básica, alguns elementos
essenciais para o entendimento do cenário hídrico, climática, social, pautadas nos conteúdos ministrados
nas aulas de recursos hídricos, O foco está no rio Ribeirão Piancó o maior responsável pelo
abastecimento da cidade de Anápolis, no acesso à rede de esgoto, e em dados climáticos.

Palavras chave: Saneamento, Precipitação, Abastecimento.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo apresentar de forma simplificada, porém clara,
alguns fenômenos envolvendo o cenário hídrico do município de Anápolis-GO, abaixo são
apresentados alguns exemplos da importância da água na vida do cidadão comum.
O município de Anápolis é o terceiro maior em extensão territorial, e um dos mais
importantes polos econômicos do estado de Goiás, sendo essa cidade um grande centro urbano,
e cidade de grande movimento econômico, é importante entender os processos hidrológicos
para se ter uma boa perspectiva de gestão.
O estado de Goiás desponta no ciclo das águas, como uma grande nascente que
emergem as principais bacias hidrográficas brasileiras, é também um dos poucos
estados brasileiros que possuem uma legislação especifica quando a gestão econômica
dos recursos hídricos[..] (ROCHA; CASTRO, 2009).

A água é um elemento essencial para a manutenção da vida biológica, e é um recurso


finito, portanto, escasso, sendo assim é um bem econômico de extrema importância. A mesma
deve ser tratada com grande cuidado, para que primeiro: todos tenham acesso, e segundo tenha
uma função social, claro se estivermos analisando através da ética utilitarista.

Entender o ciclo da água também deveria ser uma preocupação, o cidadão comum
deveria em geral saber de algumas coisas básicas, que afetam diretamente o seu dia a dia. O
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ciclo hidrológico nada mais é do que as mudanças do estado físico da água, no caminho que a
mesma faz sobre a superfície da Terra, passando de água de chuva, para água no estado de vapor
por exemplo. Esse é apenas um exemplo da importância e complexidade das águas, mas
também podemos pegar como exemplo o acesso ao tratamento de esgoto.

Acesso a esgoto tratado, é algo que em 2017 já deveria ser um serviço que pelo menos
90% da população brasileira já deveria ter acesso. Mas infelizmente essa não é a realidade que
encontramos hoje em dia.

“Desde a década de 1950 até o final do século passado, o investimento em saneamento


básico no Brasil ocorreu pontualmente em alguns períodos específicos, com um
destaque para as décadas de 1970 e 1980. Em decorrência disso, o Brasil ainda está
marcado por uma grande desigualdade e déficit ao acesso, principalmente em relação
à coleta e tratamento de esgoto (LEONETI, 2011 p. 332). ”

MATERIAIS E MÉTODOS

Para a realização deste trabalho, foi feita a partir de pesquisa bibliográfica, usando como
base artigos científicos, dados disponibilizados em sites como o INMET(Instituto Nacional de
Meteorologia), relatórios publicados pelos governos federal, municipal e estadual, com base
nos dados recolhidos foram elaborados gráficos, e feitas discussões sobre os dados
Além de utilizar os conhecimentos ministrados durantes as aulas da disciplina de
recursos hídricos. Além de certo conhecimento previamente adquirido através de mídias
paralelas.
Nos dados envolvendo precipitação e temperatura, foram utilizados dados da estação
meteorológica de Goiânia, pois a mesma não existe em Anápolis pelos dados oferecidos pelo
INMET, como a estação de Goiânia é a mais próxima, esta foi utilizada como base para
recolhimento e para análise de dados.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

1.Abastecimento via ribeirão Piancó

A cidade de Anápolis está localizada no planalto central brasileiro, fazendo parte da


mesorregião chamada de centro goiano, em questão hidrológica, Anápolis se encontram
próxima a divisa de 4 grandes bacias, A bacia das Antas, A bacia do João Leite, das antas Piancó
e Padre Sousa. Segundo (ROCHA; CASTRO, 2009) “Para abastecimento de água da cidade de

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Anápolis, utiliza-se como principal fonte de matéria-prima (água bruta), um manancial


superficial, representado pelo Ribeirão Piancó, afluente da margem direita do Rio Capivari”.
Vale também salientar que o Ribeirão Piancó além de ser o principal fornecedor de água para
a área urbana do município, também é o principal responsável pelo abastecimento de águas para
a realização da atividade agrícola.

Sendo o Ribeirão Piancó o principal fornecedor de água do município, é extremamente


necessário que se tenha conhecimento sobre a qualidade das águas do mesmo. O CONAMA
(Conselho Nacional do Meio Ambiente), em sua resolução nº. 357 de 17 de março de 2005,
estabelece critérios para que a água de determinada bacia tenha um padrão mínimo de qualidade
para consumo humano.
“As implicações ambientais, estão relacionadas às variações nas distribuições e
concentrações dos parâmetros determinados em diferentes segmentos do Ribeirão
Piancó. Evidências de ocorrência de impactos relacionados aos teores de oxigênio
dissolvido, nitrogênio e fósforo se pautaram nos critérios para avaliação da qualidade
da água estabelecida pela Resolução (SANTOS; BORGES, p 6 2012)”

Sendo o Ribeirão Piancó o mais importante distribuidor de águas para a cidade de


Anápolis, a qualidade dos sedimentos depositados no Rio também devem ser motivo de
preocupação, em artigo Abessa; Sousa; Tommasi, (2014) nos mostram que os sedimentos
podem ser classificados como um importante elemento para os ecossistemas aquáticos, ainda
segundo o mesmo, agentes contaminadores que atingem os sedimentos podem ser
quimicamente alterados, podendo se tornar cada vez mais ou menos prejudiciais. E é nesse
cenário que se faz importante obter o entendimento acerca dos sedimentos que estão
depositados no ribeirão Piancó.

“As concentrações dos elementos-traço Cd, Cu, Cr, Ni, Zn e Co indicaram um Igeo
para o sedimento, de “moderadamente a fortemente poluídos” (0<Igeo<2). O cenário
revelou concentrações em nível 1, para a maioria dos elementos analisados, com
exceção para o cromo, cujas concentrações ultrapassam o máximo aceitável (Nível
2)(SANTOS; BORGES; BOAVENTURA, p 9, 2012)”

Apesar de não ser um resultado desastroso, os resultados descritos no trabalho acima


citado, apresenta um cenário preocupante, grande parte dos agentes poluentes que se depositam
nos sedimentos provém da atividade agrícola do local.
Sendo assim, cabe ao governo estadual, junto a prefeitura da cidade, estabelecerem
políticas públicas de excelência, para remediar a situação, que pode no futuro se tornar
insustentável.
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

“O abastecimento de água é uma questão essencial para a população e fundamental


para a saúde do ser humano. Os riscos de adquirir graves doenças devido a sua
ausência ou do seu fornecimento inadequado é de grande relevância para a saúde
pública. A universalização deste serviço é a grande meta para os países em
desenvolvimento[...](MOREIRA, 2015)

2.Esgoto
Apesar de notáveis avanços no que se refere ao acesso ao serviço de tratamento de esgoto,
o Brasil ainda é um pais que deixa bastante a desejar, ainda hoje é comum, em áreas de menor
capacidade financeira, é comum vermos locais onde existe predominância de esgoto a céu aberto.
Segundo dados do Instituto Trata Brasil, apenas 50,3% da população brasileira tem acesso a rede
de esgoto tratada, enquanto outros 100 milhões de brasileiros ainda sofrem com a falta de um
serviço que deveria ser básico. “Do total de 5564 municípios, em 2008, apenas 3.069 possuíam rede
coletora de esgoto, enquanto o tratamento –realizado em apenas 1587 municípios – era ainda mais
raro (IBGE 2008) “.
No estado de Goiás, a situação é ainda mais preocupante, segundo dados do IBGE (Instituto
brasileiro de Geografia e Estatística) 2008, dos 246 municípios que compõe o estado, apenas 28,0%
tem acesso a rede de esgoto.
“Na Região Centro-Oeste, a segunda com menor percentual de municípios com coleta
de esgoto (28%), as situações mais críticas estão nos Estados de Mato Grosso e Goiás.
Em Mato Grosso, 81% dos municípios não têm rede de coleta de esgoto e em Goiás
essa taxa é de 72%.(IBGE, 2010)

A cidade de Anápolis vem apresentando uma significativa mudança no que se refere ao


tratamento de esgoto. A rede de coleta de esgoto de Anápolis foi iniciada a partir de 1956, e na
década de 60 o número de pessoas que tinham acesso a esgoto tratado era muito baixo, esse
cenário foi se modificando ao passar dos anos.

“Em 1960 o percentual de pessoas que eram atendidas por uma rede geral de água
eram apenas de aproximadamente 12%, um índice muito baixo de pessoas que eram
atendidas por uma rede geral de abastecimento de água, lembrando que este período
não se tinha política nacional de saneamento básico. (MOREIRA, 2015)”

Esse cenário foi mudando conforme as décadas se passavam, nos anos 80 a situação já
apresentava melhoras “Em 1980 observa-se 38.553 domicílios particulares permanentes, sendo
destes 20.356 eram atendidos pela rede geral de abastecimento de água, tendo um percentual
de 52% da população atendida e as 17.453 residências (MOREIRA, 2015). Apesar disso, o
objetivo do governo federal não foi alcançado, o objetivo era alcançar cerca de 90% da
população, enquanto 72% realmente foi beneficiada.
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Hoje a situação da cidade de Anápolis em relação a falta d’água ainda é preocupante,


porém a evolução é realmente notável.

“Em 2010 temos um percentual de abastecimento de água tratada divulgado pela


empresa, são dados fornecidos pela empresa que prestam serviços a Anápolis desde
1960. De acordo com a SANEAGO 95% de domicílios particulares permanentes são
atendidas atualmente em Anápolis por rede geral de abastecimento de água. Percebe-
se com esses dados que houve um crescimento do acesso das pessoas com água tratada
na cidade, porém existem 5% de pessoas que não tem acesso a esse
serviço[...](MOREIRA, 2015)”

3.Precipitação
Foram analisadas as médias de chuvas (precipitação) de janeiro do ano de 2010, até
dezembro do ano de 2016, os dados que constam nos gráficos abaixo foram todos retirados do
INMET(Instituto Nacional de Meteorologia), o gráfico abaixo demonstra dados sobre a
precipitação anual de Anápolis

Gráfico I- Precipitação média anual no município de Anápolis de 2010 a 2016

Fonte: INMET (Instituto Nacional de Meteorologia)

Primeiramente foram coletados e organizados os dados anuais, como podemos observar


no gráfico acima, 2012 foi o ano de maior precipitação na cidade de Anápolis, após um
crescente perceptível nos anos de 2010 e 2011.
É notável também que após o ano de 2012, o volume das chuvas diminuiu
vertiginosamente nos anos subsequentes, os anos de 2014 e 2015 diminuíram razoavelmente
em relação a 2010 e 2011, já o ano de 2016, como podemos observar foi o ano em que o número

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de chuvas mais decaiu. Já no próximo gráfico, nós também temos a média de 2010-2016, porém
em médias mensais, como podemos ver abaixo.

Gráfico II- precipitação Média mensal no município de Anápolis de 2010 a 2016

Fonte: INMET (Instituto Nacional de Meteorologia)

Aqui claramente notamos o padrão de distribuição de chuvas de um clima tropical


úmido, que já é característico da região, os meses de janeiro a abril são sempre chuvosos,
enquanto no mês de maio até setembro as precipitações são praticamente inexistentes,
principalmente no mês de agosto. Já os meses de janeiro Março e dezembro são sempre os mais
chuvosos, sendo dezembro o que apresenta o maior volume de chuva entre todos.

4.Temperatura
Assim como os dados sobre precipitação, os dados sobre a temperatura da cidade de
Anápolis foram retirados do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia), segue abaixo as
médias dos dados anuais.

Gráfico III- temperatura média anual no município de Anápolis de 2010 a 2016

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Fonte: INMET (Instituto Nacional de Meteorologia)

Como pode-se observar, o ano de 2011 foi o mais frio da cidade de Anápolis, como a
imagem nos mostra, em relação ao ano de 2010 houve uma queda considerável de temperatura,
que voltou a subir e se manteve estável nos anos de 2012 e 2013, e subiu consideravelmente
em 2014 e 2015, sendo este último o ano mais quente dos últimos 7 anos.

Gráfico IV- temperatura média mensal no município de Anápolis de 2010 a 2016

Fonte: INMET (Instituto Nacional de Meteorologia)

Já na média de todos os meses desses sete anos, notamos que o mês de Janeiro até o mês
de abril mantém temperaturas medianas, com pouca variação, já de Maio ao começo de Agosto,
as temperaturas ficam bem mais baixas, claramente em decorrência do inverno. Setembro se
colocou como o mês mais quente, a temperatura volta a média que mantém nos 4 primeiros
meses em Dezembro.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Anápolis é realmente uma grande cidade, ela está bem localizada, próxima a capital do
estado de Goiás, porém como toda grande cidade, existe ali um alto número de cidadãos, para
que não haja risco de escassez de água, são necessárias políticas públicas para que se encontre
modos de evitar a escassez de água, como já foi relatado nesse ano de 2017.
Como foi mostrado, o número de pessoas com acesso a saneamento básico vem
aumentando, e hoje grande parte da população tem acesso, mas ainda existem áreas de carência,
e estas devem ser atendidas, para que se chegue a um patamar de excelência.
Em questão de precipitação e temperatura, a região se mostra bem coerente em relação
ao local onde esta se encontra, porém, a queda do número de chuvas nos últimos anos devem
ser motivo de preocupação.

REFERÊNCIAS

ABESSA, D.; SOUSA, E. C. P. M.; TOMMASI, L. R. Utilização de testes de toxicidade na


avaliação da qualidade de sedimentos marinhos. n. May, 2014.
IBGE. Rede coletora de esgoto. IBGE, 2010.
LEONETI, A. B. Saneamento básico no Brasil : considerações sobre investimentos e
sustentabilidade para o século XXI *. v. 45, n. 2, p. 331–348, 2011.
MOREIRA, P. P. T. DIAGNÓSTICO URBANO DA INFRAESTRUTURA DE
SANEAMENTO BÁSICO DA CIDADE DE ANÁPOLIS , GO : SUBSÍDIOS PARA BÁSICO
DA CIDADE DE ANÁPOLIS , GO : SUBSÍDIOS PARA POLÍTICAS PÚBLICAS . Paula
Patrícia Tavares Moreira. p. 0–74, 2015.
ROCHA, M. D.; CASTRO, J. D. B. AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTO EM
SISTEMAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA – O CASO DE ANÁPOLIS - GO . A água é
considerada um recurso e bem econômico , porque é finita , vulnerável e. n. 2007, 2009.
SANTOS, A. L. F.; BORGES, L. O. S. Qualidade da água do ribeirão Piancó , Go e suas
implicações ambientais. v. 8, p. 1–7, 2012.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

SANTOS, A. L. F.; BORGES, L. O. S.; BOAVENTURA, G. R. Indicadores da qualidade dos


sedimentos do ribeirão Piancó , Anápolis – Go , e suas implicações ambientais. v. 8, p. 1–10,
2012.
INSTITUTO NACIONAL DE METEREOLOGIA. Disponível em:<
http://www.inmet.gov.br/portal/> acesso em: 20 de setembro de 2017

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ALÉM DOS GALHOS TORTUOSOS DO CERRADO

Sabrina Carlindo Silva


Universidade Estadual de Goiás.
sabrinacarlindoo@gmail.com

Hyago Ernane Gonçalves Squiave


Universidade Federal de Goiás.
hiagoernane@gmail.com

Valdir Specian
Universidade Federal de Goiás.
vspecian@gmail.com

RESUMO: A discussão a seguir, trata-se de uma abordagem clara e objetiva envolvendo o Bioma
Cerrado, suas riquezas naturais e culturais, as mesmas que de forma indireta se camuflam por trás de
uma flora formada por galhos e troncos tortuosos e aparentemente “morta”. Com isso o objetivo geral
dessa pesquisa se faz em catalogar as principais riquezas naturais e culturais encontradas no Cerrado do
Centro Oeste goiano. A metodologia empregada nessa pesquisa tem seus parâmetros pautados em
leituras de teses, artigos e dissertações. Os resultados apresentados a partir das discussões e informações
levantadas referentes ao Cerrado, é que o mesmo se constitui de um vasto campo de pontos turísticos e
culturas próprias, como o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, localizado na região Centro Oeste
do estado de Goiás e o Parque Nacional das Emas, localizado no Sudoeste do mesmo estado, ambos os
parques foram classificados pela UNESCO como patrimônio cultural da Humanidade e nacionalmente
conhecidos. Assim, conclui- se que o Bioma Cerrado, antes visto com um olhar de desprezo, é uma das
formações vegetais mais ricas e vastas em biodiversidade natural e cultural do Brasil.

Palavras Chaves: Galhos Tortuosos; Bioma; Cerrado.

INTRODUÇÃO
Esse artigo irá trabalhar com um recorte temporal de 48 ano, 1970- 2018, o principal
intuito dessa pesquisa é catalogar as principais fontes de riquezas, tanto naturais, quanto
culturais do Bioma Cerrado. A abordagem que será enfatizada em “Além dos galhos tortuosos
do Cerrado” será a desmistificação da associação do Bioma Cerrado com a figura do desprezo
e do estado de improdutividade, que por muito tempo foi atribuída ao mesmo.
A configuração do cenário atual do Cerrado começa a se desenhar a partir da segunda
metade do século XX, com os grandes avanços dos meios tecnológicos, globalização, as
mecanizações dos meios de produções se tornaram muito mais eficazes e modernos, com essa
explícita modernização e avanços tecnológicos, a industrialização se torna ferramenta

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fundamental da base econômica do país, indústrias que transformam o espaço físico e


humanizado em mercadoria, que transforma uma região aparentemente morta e improdutiva
(como era o caso do centro oeste com o domínio morfoclimático cerrado) em um dos maiores
corredores de grãos, carnes e energia elétrica, como afirma (CHAVEIRO 2007).
A região centro oeste do Brasil de desenvolve e entra no mercado econômico do pais
a partir da década de 70, com os avanços tecnológicos e também com investimentos financeiros
realizado através de políticas públicas, entre esses projetos dois se destacam e tiveram fortes
influências quanto a evolução e a utilização do domínio morfoclimático Cerrado, que são o
POLOCENTRO e o PROCEDER, assim, mais tarde o centro oeste do pais se torna um alvo do
agronegócio e da produção de energia elétrica nacional.
A partir dessa onda de investimentos financeiro em prol de transformar o que antes era
considerado “morto e improdutivo” em um importante corredor produtivo do Brasil, os aspectos
físicos/naturais do bioma cerrado começaram a sofrer significantes transformações que
atualmente colocam o mesmo em uma situação de alerta. De acordo com o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) mais de 40% da vegetação nativa do cerrado já foi devastada.

CERRADO: a caixa d’água do Brasil


Segundo AB’ Saber (2002), o cerrado é metaforicamente considerado a caixa d´ água
do Brasil, onde nascem as maiores e mais importantes bacias hidrográficas que abastecem o
país, entre elas estão, a bacia hidrográfica do Araguaia/Tocantins, Platina Paranaíba e São
Francisco.
A fim de controlar, fiscalizar e regulamentar o uso desse vasto corpo hídrico
concentrado não só no bioma cerrado, mas em todo território brasileiro, no dia 08 de janeiro de
1997, foi promulgada a lei 9.433/97, que se trata da Política Nacional dos Recursos Hídricos,
popularmente conhecida como a “lei das águas”.
Essa lei tem como um de seus objetivos gerais, assegurar à atual e as futuras gerações
a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos.
A partir dessa lei foi criado também o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, com intuito de gerenciar o uso desse recurso.
Segundo a lei 9.433/97, artigo 1° A política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se
nos seguintes fundamentos;

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

I- A água é um bem de domínio público;


II- A água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;
III- Em situação de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o
consumo humano e a dessedentação de animais;
IV- A gestão dos recursos hídricos de sempre proporcionar o uso múltiplo
das águas;
V- A bacia hidrográfica é a unidade territorial pra implantação da Política
Nacional de Recursos Hídricos, dos usuários do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos;
VI- A gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a
participação do poder público, dos usuários e das comunidades.

Criada três anos mais tarde pela lei n° 9.984/2000, a Agência Nacional de Águas, ANA,
é a agência reguladora vinculada ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) dedicada a fazer
cumprir os objetivos e diretrizes da Lei das Águas do Brasil, a lei nº 9.433 de 1997 descritas
anteriormente. Para isso ela segue basicamente quatro linhas de ação: Regulação,
Monitoramento, Aplicação da Lei e Planejamento.
Na primeira linha de atuação, a Regulação, a ANA regula o uso dos recursos hídricos
de domínio da união, que são os que fazem fronteira com outros países ou que passam por mais
de um estado, regula também os serviços públicos de irrigação e adução de água bruta e por
fim, emite e fiscaliza o cumprimento de normas, em especial as outorgas.
A segunda linha de atuação trata-se do Monitoramento, que é responsável por
acompanhar a situação dos recursos hídricos do Brasil e disponibiliza informações como nível,
vazão e sedimentos dos rios ou qualidade de chuva. Essas informações servem para planejar o
uso da água e prevenir eventos críticos, como secas e inundações.
A terceira linha de atuação corresponde a Aplicação da Lei, é ela que coordena a
implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, realizando e dando apoio a
programas e projetos, órgãos gestores estaduais e à instalação de comitês e agências de bacias.
Já a quarta linha é voltada para o Planejamento, como o próprio nome já traz, essa linha
elabora ou participa de estudos estratégicos, como os Planos de Bacias Hidrográficas,
Relatórios de Conjuntura dos Recursos Hídricos, entres outros, em parceria com instituições e
órgãos do poder público.
Mesmo com esse conglomerado de leis em vigor desde o século passado, o bioma
cerrado, denominado de caixa d’ água do Brasil, vem sendo assolado por consideráveis crises
de escassez d’ água, isso acontece em decorrência das ações antrópicas que se intensificaram

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de forma significante após a década de 70, quando principalmente a região Centro Oeste se
torna alvo de grandes produtores de gado e grãos, desencadeando assim um rápido processo de
urbanização.

RIQUEZAS NATURAIS E CULTURAIS DO BIOMA CERRADO


Apesar de ter sido aplicado um estereótipo de que o Cerrado é “improdutivo e tem uma
vegetação morta” por apresentar uma aparência hostil, com árvores de troncos e galhos
tortuosos e ásperos, solos secos, de cor amarelada, o mesmo é totalmente dotado de
particularidades e riquezas naturais e culturais que atraem turistas de várias regiões do Brasil e
até mesmo de outros países.
Quanto aos aspectos naturais, destacam-se importantes e conhecidos pontos turísticos
do pais, como é o exemplo do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e a Parque Nacional
das Emas, ambos localizados em regiões diferentes do estado de Goiás, porém inseridos dentro
do “Coração” do Bioma Cerrado. O mesmo ainda conta com uma variabilidade bem expressiva
de fauna e flora, como o Lobo Guará, o Tamanduá Bandeira, a Cagaita e o Pequi.
No âmbito cultural, os movimentos religiosos se destacam, entre os mais característicos
da região centro oeste e consequentemente do bioma Cerrado estão, a Procissão do Fogaréu,
que acontece na cidade de Goiás, as Cavalhadas, tradição na cidade de Pirenópolis, e as
Congadas, na cidade de Catalão.

PARQUE NACIONAL CHAPADA DOS VEADEIROS


Localizado na região Centro-Oeste do estado de Goiás, a Chapada dos Veadeiros foi
criado através do Decreto Nº 49.875 em 1961, classificado pela UNESCO, como um patrimônio
Natural da Humanidade. Conhecido por conter uma preservada fauna, flora e formações
geológicas, a Chapada tem uma área com 65.515 hectares com uma grande abundância de
paisagens, com exuberantes lagos naturais e cachoeiras. UNESCO, 2018.
A chapada é um dos principais pontos turísticos do estado de Goiás, a mesma abrange
municípios, como Colinas do Sul, Cavalcante e Alto Paraíso de Goiás. As principais
características naturais do Parque são, as inúmeras e exuberantes cachoeiras e ainda, os enormes
paredões rochosos.

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A figura 1 apresenta a localização geográfica do Parque nacional da Chapada dos


Veadeiros, além da localização geográfica, apresenta também dois dos principais pontos
turísticos do parque.

Figura 1- Localização geografia e principais pontos turísticos do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros

Fonte: UNESCO, (2018). Organização: Carlindo (2018).

PARQUE NACIONAL DAS EMAS


Outro ponto turístico, preservado e característico do bioma cerrado é o Parque Nacional
das Emas, de acordo com o Instituto Chico Mendes, ICMBIO, o mesmo está situado em um
dos extremos da Serra dos Caiapós e apresenta uma topografia plana com predominância de
chapadões, localizado no Sudoeste do Estado de Goiás, sua extensão territorial de 132.000
hectares. Uma das fortes atrações do parque é a grande biodiversidade da fauna, como por
exemplo, Tamanduá Bandeira, Lobo Guará, Ema, Onça pintada, entre outros.
Ainda segundo o instituto, esse parque foi criado pelo Decreto Presidencial número
49.874, de 11 de janeiro de 1961 (Presidente Juscelino Kubitschek) e sua área foi retificada
pelo Decreto 70.375, de 6 de abril de 1972. Encontram-se preservadas pelo parque várias
nascentes dos rios Jacuba e Formoso, afluentes do rio Parnaíba da bacia do rio Paraná.
A figura 2, apresenta a localização geográfica do Parque nacional das Emas, além da
localização geográfica, apresenta também características da fauna e flora local.

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Figura 2- Localização geográfica e características da fauna e flora do Parque Nacional das Emas

Fonte: ICMBio, (2018). Organização: Carlindo (2018).

Segundo Haesbaert e Limonad (2007) o território é uma construção histórica e social


que se estabelece a partir de relações de poder, envolvendo sociedade e espaço geográfico,
sendo constituído por duas dimensões: uma objetiva, que diz respeito a dominação do espaço
através de instrumentos político-econômicos e outra subjetiva, que incorpora elementos como:
consciência, apropriação o e identidade. E tendo como base essa construção histórica e social
que traz identidade a um território, e a um povo, podemos citar alguns movimentos culturais de
punho religioso que caracteriza o bioma Cerrado, os povos Cerradeiros e a região Centro Oeste,
que está localizada no “coração do Cerrado”.
Entre os movimentos culturais, destacam-se, a procissão do Fogaréu, que acontece na
cidade de Goiás desde o século XVIII, as Cavalhadas de Pirenópolis, tradição da cidade desde
XIX, e as Congadas de Catalão que carregam consigo uma tradição centenária desde também
o século XIX. Ambos os movimentos, têm o papel expressar e disciminar a identidade dos
povos Cerradeiros, um povo crente em suas raízes e tradições.

PROCISSÃO DO FOGARÉU, CIDADE DE GOIÁS


A procissão do Fogaréu como já brevemente citada anteriormente, é um movimento que
marca o fim das festividades da semana santa e que acontece anualmente na cidade de Goiás
(popularmente conhecida como Goiás Velho), onde um grupo de romeiros fazem um desfile,
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tragados a caráter e carregando tochas, os mesmos caminham pelas ruas do centro histórico da
cidade, exalando charme, beleza e história. Esse evento nacionalmente conhecido que já
acontece a 273 anos reúne na cidade centenas de turistas de diversos estados do Brasil.
A figura 3, demostra um pouco da procissão do fogaréu, movimento religioso que
percorre as principais ruas do centro histórico da cidade de Goiás na quarta-feira de cinzas,
encerrando os trabalhos da Quaresma.

Figura 3- Desfile Procissão do Fogaréu, cidade de Goiás

Fonte: ICMBIO, (2018). Organização: Carlindo (2018).

CAVALHADAS DE PIRENÓPOLIS
Na cidade de Pirenópolis, localizada no estado de Goiás, popularmente afamada por ser
o “Berço” da cultura goiana, acontece anualmente as tradicionais Cavalhadas, a mesma foi
introduzida na cidade em 1826, pelo Padre Manuel Amâncio da Luz, esse movimento é
considerado um dos mais expressivos do Brasil. As cavalhadas de que acontecem a mais de um
século e meio na cidade de Pirenópolis-GO, é uma tradição de punho religioso, e é umas das
mais belas, conhecidas e tradicionais festividades do país.
As primeiras notícias sobre as cavalhadas no Brasil são
fornecidas pelo padre Fernão Cardim (1925) que assistiu a jogos
de canas, patos e argolinhas em Pernambuco, em 1584. No
casamento de “moça honrada com um viannez, que são os
principais da terra...” se fizeram correr “touros, jogaram cannas,

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pato e argolinhas. Na forma de jogo de argolinhas, portanto,


entraram as cavalhadas em nosso país (PEREIRA, 1935, p. 15).

A figura 4, demostra a tradicional Cavalhada de Pirenópolis-GO, um movimento que


exala além da beleza, a tradição dos povos Cerradeiros.

Figura 4- Desfile das Cavalhadas em Pirenópolis- Go.

Fonte: ICMBIO, (2018). Organização: Carlindo (2018).

CONGADA DE CATALÃO
As congadas são marcadas por danças, músicas e cantos, a festividade acontece em
homenagem ao santo São Benedito, e em algumas cidades a homenagem também se estende a
Nossa Senhora do Rosário, os dois santos são considerados os padroeiros desse tipo de
festividade cultural, hoje já considerado um patrimônio histórico imaterial da humanidade e
também outro ponto de referência nacional sobre a cultura dos povos Cerradeiros.
A cidade de Catalão está localizada no estado de Goiás, a mesma oferece uma das mais
representativas Congadas do país, a festa que é mais um dos grandes movimentos religiosos do
Brasil.
Segundo o Instituto Israelita de ensino e pesquisa Albert Einstein, a Congada de Catalão
é uma das festas mais típicas do estado de Goiás, e já acontece há mais de 12 anos na cidade.
A festa divide-se em duas partes: a religiosa, com missas, procissão e terço, e a folclórica, que
consiste em apresentação de música e dança e de visitas às casas de moradores pioneiros. A

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festa começa com os ternos de congos (grupos de dançarinos) reunidos na Igreja de Nossa
Senhora do Rosário.
A figura 5, demostra fotografias da tradicional Congada, que anualmente alegra e colore
as principais ruas da cidade de Catalão-Go, alimentando assim, mais uma das fortes tradições
culturais dos povos Cerradeiros.

Figura 5- Apresentação e Instrumentos utilizados nas Congadas de Catalão- Go

Fonte: ICMBIO, (2018). Organização: Carlindo (2018).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do apresentado e descrito no decorrer desse estudo, chega-se à conclusão que o


Bioma Cerrado, passou por um processo de valorização a partir da década de 1970, embalado
por programas de investimentos governamentais da época, assim, o que antes era visto como
“morto e improdutivo” hoje é nacionalmente conhecido por suas exuberantes riquezas naturais
e culturais.
Descrever as riquezas desse Bioma, se torna tarefa complexa, a partir do momento em
que há muitas vertentes, muitas características que simbolizam esse tipo de formação vegetal
tão extensa e expressiva do Brasil. Para termos uma dimensão das inúmeras fontes de riquezas
espalhadas e muitas vezes camufladas por trás dos galhos e troncos tortuosos que os forma, o
Cerrado está presente nas regiões, Norte, Nordeste, Sudeste e principalmente no Centro-Oeste,
onde sua predominância se torna plena e soberana.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

REFERENCIAS
AB’SÁBER, A. N. Domínios morfoclimáticos e províncias fitogeográficas do Brasil
Orientação, São Paulo, v. 3, n. 1, p. 45-48, 2002.
ANA. Agência Nacional de Água. Lei das águas – 2018. Disponível em
http://www3.ana.gov.br/ Acesso em: 20 abril. 2018.
BRASIL. Lei nº 9.433/97, de 07 de janeiro de 1997. Dispõe sobre a Política Nacional de
Recursos Hídricos Disponível em:
http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=37 Acesso em: 22 maio. 2018.
BRASIL. Lei nº 9.984/2000, de 17 de julho de 2000. Dispõe sobre a criação da Agência
Nacional de Águas – ANA Disponível em:<
http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=371 Acesso em: 17 maio. 2018.
CHAVEIRO, Eguimar Felício; CASTILHO, Denis. Cerrado: patrimônio genético, cultural
e simbólico. In: Revista Mirante, vol. 2, n.1.p 1-13. Pires do Rio -GO: UEG, 2007.
HAESBAERT, R.; LIMONAD, E. O território em tempos de globalização. Etc, espaço, tempo,
crítica: Revista eletrônica de Ciências Sociais aplicadas e outras coisas. n. 2, v. 1, 2007.
Disponível em: www.uff.br/etc/UPLOADs/etc%202007_2_4.pdf
ICMBIO. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Parque Nacional das
Emas- 2018. Disponível em: http://www.icmbio.gov.br/portal/ Acesso em: 15 maio. 2018.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, disponível em
http://www.ibge.gov.br/home/ (acesso em 9/05/2018).
Instituto Israelita de ensino e pesquisa Albert Einstein. Congada de Catalão. Disponível
em:https://www.visiteobrasil.com.br/centro-oeste/goias/festas-opulares/conheca/congada-de-
catalao. Acesso em: 25 maio. 2018.
PEREIRA, Niomar de Souza; JARDIM, Mára Públio de Souza Veiga. Uma Festa Religiosa
Brasileira: Festa do Divino em Goiás e Pirenópolis. São Paulo: Conselho Estadual de
Artes e Ciências Humanas, 1978.
UNESCO. Organização das nações unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Patrimônio
da imaterial da Humanidade- 2018. Disponível em https://nacoesunidas.org/agencia/unesco/.
Acesso em: 15 maio. 2018.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

ANÁLISE AMBENTAL: VARIÁVEIS DE QUALIDADE, ESTADO


TRÓFICO E BALNEABILIDADE DA ÁGUA NA MÉDIA BACIA DO
RIO SÃO TOMÁS, NO SUDOESTE DE GOIÁS, BRASIL

Maria Antonia Balbino Pereira


Instituído Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano – Campus Rio Verde
mariaantonia099@live.com

Wellmo dos Santos Alves


Universidade Federal de Jataí
wellmoagro2@gmail.com

João Gomes Pereira Neto


Instituído Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano – Campus Rio Verde
joaogomesrv12@gmail.com

Luanna Oliveira Lima


Instituído Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano – Campus Rio Verde
luannaambiental@gmail.com

Lucas Duarte Oliveira


Instituído Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano – Campus Rio Verde
duarte-oliveira2010@hotmail.com

Resumo: O Rio São Tomás abastece uma população estimada de 255.791 habitantes dos municípios de
Rio Verde (GO) e Santa Helena de Goiás (GO), apresenta usos múltiplos da água e por isso contribui
de forma social, econômica e ambiental para a região onde se encontra. Assim, objetivou-se analisar
variáveis físico-químicas e microbiológicas, comparando-as com limites estabelecidos pela Resolução
CONAMA 357/2005 para água doce classe 1, classe 2, classe 3 e classe 4, realizar o estudo do estado
trófico, sendo este por meio do Índice de Estado Trófico (IET) para fósforo total (FT), e estudo da
balneabilidade, sendo este conforme a Resolução CONAMA 274/2000. As coletas e preservação das
amostras foram realizadas conforme a Resolução 724/2011 da Agência Nacional de Águas, sendo três
campanhas no período chuvoso, nos dias 29 de novembro/2017 (C1), 18 de dezembro/2017 (C2) e 30
de janeiro/2018 (C3), em dois pontos amostrais e confeccionada uma amostra composta. Todos os
procedimentos analíticos seguiram os métodos descritos no Standart Methods For Examination of Water
and Wastewater de 2012. Em campo foram analisadas as variáveis pH, temperatura, condutividade
elétrica (CE) e sólidos totais dissolvidos (STD). Em laboratório, analisou-se turbidez, FT, demanda
química de oxigênio (DQO), nitrato, coliforme totais e Escherichia coli. As variáveis que não estiveram
em conformidade com a Resolução CONAMA 357/2005 foram turbidez (C1 e C3) e FT (C1, C2 e C3);
para a primeira variável, os valores altos podem estar relacionados com a pluviosidade, uma vez que
apenas nos dias que ocorreram chuvas o limite foi ultrapassado, o que favorece o carreamento de solos
e resíduos para o corpo hídrico; e os valores altos de FT, além de ser devido às precipitações
pluviométricas, favoráveis ao carreamento de fontes de FT das lavouras para o curso hídrico, podem
estar relacionados também a despejos de efluentes domésticos e industriais, resíduos oriundos de granjas
e outros. A meia bacia apresentou um alto grau de trofia, supereutrófico (C1) e hipereutrófico (C2 e C3),
o que tem relação com o incremento de fósforo no ambiente de estudo. Para a balneabilidade, a água foi
classificada como imprópria para o banho, por ter apresentado níveis de Escherichia coli maiores que o
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permitido pela Resolução CONAMA 274/2000, e as causas podem estar ligadas a despejos de efluentes
sem tratamento ou com tratamento inadequado. Dessa maneira, praticas mais sustentáveis e ações devem
ser implementadas para reduzir os impactos negativos ao curso hídrico em questão.

1 INTRODUÇÃO
A água para os vários usos tem sofrido interferências tanto qualitativas quanto
quantitativas. A poluição das águas nas bacias hidrográficas tem crescido a cada dia, seja por
fenômenos naturais, seja por ações antrópicas. Segundo Von Sperling (2014) a condição em
que a água se encontra é determinada pelas condições naturais e pelo uso e ocupação do solo
da bacia hidrográfica. Uma das principais causas da baixa disponibilidade hídrica esta
relacionada às ações humanas sem planejamento do uso e ocupação do solo (LUCAS;
FOLEGATT e DUARTE, 2010).
Há dezenas de variáveis limnológicas que inferem e determinama a qualidade da água.
Os resultados obtidos dessas variáveis podem ser comparados aos padrões estabelecidos
(valores de referência) para a classe que o corpo hídrico é enquadrado, no intuito de verificar a
conformidade aos níveis estabelecidos.
No Brasil, a Resolução que trata da classificação dos corpos hídricos e os respectivos
valores das variáveis para cada enquadramento é nº 357, de 17 de marco de 2005, do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Essa resolução dispõe sobre a classificação dos
corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, e dá outras providências,
sendo que, tratando-se de águas doces, estabelece 5 classes de água (especial, classe 1, classe
2, classe 3 e classe 4), e que, ainda, conforme seu Art. 42, enquanto não aprovados os
enquadramentos, as águas doces serão consideradas classe 2, exceto se as condições de
qualidade atuais forem melhores, o que determinará a aplicação da classe mais rigorosa
correspondente (BRASIL, 2005).
No presente trabalho as variáveis utilizadas foram Temperatura (T), Condutividade
Elétrica (CE), Sólidos Totais Dissolvidos (STD), potencial hidrogeniônico (pH), Turbidez,
Demanda Química de Oxigênio (DQO), Fósforo Total (FT), Nitrato, Coliformes Totais e
Escherichia coli.
A eutrofização pode ser definida como o enriquecimento da água por nutrientes,
principalmente fósforo e nitrogênio, causando assim o afloramento de algas e atrapalhando a
dinâmica do meio aquático (ESTEVES, 2011). O Índice de Estado Trófico (IET) proposto por

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Lamparelli (2004) é uma ferramenta matemática que ajuda na compreensão e interpretação dos
resultados. Esse índice relaciona a qualidade da água de acordo com o enriquecimento por
nutrientes e o aumento exagerado das algas ou infestação de macrófitas aquáticas (CETESB,
2016).
Um assunto relevante sobre qualidade da água trata-se da balneabilidade, visto que água
contaminada pode influenciar na saúde pública, transmitindo doenças via hídrica. A Resolução
relativa à balneabilidade é a nº 274, de 29 de novembro de 2000, do CONAMA, que define os
critérios e apresenta limites para Escherichia coli (principal indicador de contaminação por
microrganismos que podem causar doenças de veiculação hídricas) além de estabelecer
valorespara pH.
Assim, o objetivo deste trabalho foi analisar a qualidade da água, o estado trófico e a
balneabilidade da média bacia do Rio São Tomás por meio de variáveis físico-químicas,
microbiológicas e Índice de Estado Trófico (IET).
O Rio São Tomás localize-se nos municípios de Rio Verde (GO) e Santa Helena de
Goiás (GO). Fornece água para diversos usos para uma população estimada de 217.048 mil rio-
verdenses e 38.743 mil santa-helenenses (IBGE, 2017), além de atender demanda de sistemas
de irrigação, produção animal e outros usos múltiplos.
O município de Rio Verde (GO) e Santa Helena de Goiás apresentam áreas destinadas
à agropecuária (predominante), além de áreas industriais, urbanizadas e granjas, principalmente
na área de contribuição dos pontos amostrais, localizados próximos à cachoeira do Rio São
Tomás. Devido a isso, surge a preocupação com a qualidade da água da bacia hidrográfica do
rio em questão. É importante ressaltar que a cachoeira desse rio (localizada na média bacia
desse curso hídrico) é um local de diversão, lazer e de contato primário.

2 MATERIAL E METODOS
A bacia (1742,20 km²) do Rio São Tomás localiza-se nos municípios de Rio Verde e
Santa Helena de Goiás, no Sudoeste de Goiás, sendo que a pesquisa foi realizada para
caracterizar e entender os impactos na água da média bacia desse corpo hídrico, no município
de Rio Verde (GO), em 2 pontos amostrais definidos próximos à cachoeira do Rio São Tomás
(Figura 1).

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Figura 1. Espacialização dos pontos amostrais no Rio São Tomás, Sudoeste de Goiás

Fonte: Elaborado pelos autores.

O uso e a cobertura da terra na área de estudo são diversificados, onde várias atividades
são desenvolvidas, como produção agrícola (predominante), principalmente soja e milho,
pecuária intensiva e extensiva, instalações de granjas (de médio e grande porte), expansão
urbana e industrial. O curso hídrico em questão atende diversos usos múltiplos, entre os quais,
abastecimento público urbano e rural de Santa Helena de Goiás (GO) e de Rio Verde (GO),
abastecimentos industriais (como a BRF S. A., umas das maiores indústrias de alimentos do
mundo), atende demanda de projetos de irrigação, produção animal, ou seja, tem importância
social, econômica e ambiental.
Os 2 pontos amostrais foram definidos a jusante do ponto de capitação de água para o
abastecimento urbano da cidade de Rio Verde (GO) e a montante do ponto de capitação de água
para atender a demanda hídrica da população urbana de Santa Helena de Goiás (GO), ver Figura
1.
Foram realizadas três campanhas (medição de variáveis físico-químicas in loco e coletas
de amostras) no período chuvoso, nos dias 29 de novembro de 2017, 18 de dezembro de 2017,
30 de janeiro de 2018, todas entre 08:00 h e 11:00 h da manhã, em um ponto amostral com local
nas coordenadas geográficas 17º 52’ 13,9” S/050º 42’ 55”, e em outro, com local nas

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coordenadas geográficas 17º52’16,4”S/050º42’55,1”W (Figura 1). As coordenadas geográficas


foram obtidas através de um aparelho GPS (Global Position System) modelo GPSmap60CSx.
Em campo (Figura 2A e 2B): com auxílio de uma sonda portátil multiparamétrica,
modelo ORION STAR A326 (Figura 2C), foram medidos a temperatura (T) e o potencial
hidrogeniônico (pH); e com um condutivímetro modelo Sension5 (Figura 2D), determinados
os sólidos totais dissolvidos (STD) e condutividade elétrica (CE).
Em cada campanha foi feita a mistura das amostras coletadas em cada ponto amostral,
ou seja, foi confeccionada uma amostra composta para caracterização da qualidade da água em
cada campanha. As amostras foram acondicionadas em caixas térmicas e transportadas para o
laboratório de Águas e Efluentes do Instituto Federal Goiano – Campus Rio Verde. As coletas
e preservação das amostras seguiram a resolução 724/2011 da Agência Nacional de Água
(BRASIL, 2011).

Figura 2.Ilustração das atividades realizadas em campo e aparelhos portáteis

A: coleta de amostras; B: análises físico-químicas; C: sonda multiparamétrica; D:


condutivímetro.
Fonte: Elaborado pelos autores.

Em laboratório foi medida a turbidez pelo método nefelométrico utilizando um


turbidímetro modelo 2100P (Figura 3A). A Demanda química de oxigênio (DQO) foi feita pelo
método digestão por reator, com kit número 24158.25 da marca Hach, gama de medição 0,7 –
40 mg/L, já o fósforo total (FT),pelo método ácido persulfato, com kit número 27426.45, da
marca Hach, gama de medição 0 – 3,5 mg/L, digeridos em um digestor modelo DRB 200
(Figura 3B). O Nitrato quantificado pelo método do dimetilfenol, com utilização do kit número
TNT 835, da marca Hach, gama de medição 0,23 – 13.5 mg/L. Todas essas variáveis foram
lidas em um espectrofotômetro modelo DR 5000 (Figura 3C). Todas as análises foram
realizadas em triplicata. As análises foram realizadas conforme métodos analíticos descritos no
Standard methods for theexamination of water and wastewater (APHA, 2012).

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Figura 3. Equipamentos e atividades de laboratório

A: Turbidímetro modelo 2100P; B: Digestor modelo DRB 200; C: Espectrofotômetro DR


5000; D e E: preparo de amostras para análises.
Fonte: Elaborado pelos autores.

As variáveis microbiológicas analisadas foram coliformes totais e Escherichia coli com


o uso do Kit microbiológico Colipaper®, segundo a metodologia deste kit fornecida pelo
fabricante (Figura 3D e 3E).
As médias dos resultados encontrados foram comparadas com limites estabelecidos pela
Resolução CONAMA 357/2005 para águas doces superficiais classe 1, classe 2, classe 3 e
classe 4 (BRASIL, 2005).
Os resultados de FT foram usados para o estudo do estado trófico. O IET foi calculado
de acordo com a Equação 1 (E1) de Lamparelli (2004).
Os resultados foram comparados com os parâmetros propostos por Lamparelli (2004),
apresentados no Quadro 1.

IET(PT)=10*(6-((0,42-0,36*(ln.PT))/ln2))-20 (E1)
-1
Na qual: IET é o Índice de Estado Trófico; PT, a concentração de fósforo total, em µg.L ; e ln, o logaritmo natural.

Para balneabilidade os resultados encontrados foram comparados com níveis


estabelecidos pela Resolução 274/2000, que trata dos critérios de balneabilidade e classifica os
corpos hídricos em próprios (excelente, muito boa e satisfatória) ou impróprios para recreação
de contato primário.

Quadro 1.Classificação do Estado Trófico para rios


Categoria (Estado Trófico) Ponderação
Ultraoligotrófico IET ≤ 47
Oligotrófico 47 < IET ≤ 52
Mesotrófico 52 < IET ≤ 59
Eutrófico 59 < IET ≤ 63
Supereutrófico 63 < IET ≤ 67
Hipereutrófico IET> 67
Fonte: Lamparelli (2004).
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3 RESULTADOS E DISCURSSÃO
Na Tabela 1 são apresentados os resultados para as variáveis físico-químicas, e na
Tabela 2, os resultados para coliformes totais e Escherichia coli.

Tabela 1. Limites estabelecidos pela Resolução CONAMA 357/05 para as classes de


água doce superficiais e resultados, em média, obtidos nas campanhas para as amostras de
água do rio São Tomás, em Rio Verde (GO)
Classe de água doce Resultado
Variável
1 2 3 4 C1 C2 C3 Med.
T (°C) - - - - 25,93 25,3 24,4 25,21
CE (µS/cm) - - - - 28,6 20,66 37,8 29,02
STD (mg/L) 500 500 500 - 13 9,36 17,5 13,3
pH 6-9 6-9 6-9 6-9 7,51 7,53 7,27 7,43
Turbidez 62,6 32,86 134 76,48
40 100 100 -
(UNT)
DQO 8,23 6,61 <0,7 5,18
- - - -
(mg/L)
Nitrato 0,635 0,939 0,826 0,8
10 10 10 10
(mg/L)
FT (mg/L) 0,1 0,1 0,15 - 0,53 1,20 1,21 0,98
C1: campanha 1; C2: campanha 2; C3: campanha 3; Méd.: média.

Tabela 2. Resultados obtidos para as análises microbiológicas


Variável C1 C2 C3
Coliformes
14.000 11.600 32.000
totais
Escherichia
00,00 2.400 12.800
coli
Fonte: Elaborado pelos autores.

A Resolução 357/05 não estabelece valores para temperatura, porém, ela é um


importante parâmetro físico. De acordo com Von Sperling (2014), a temperatura pode afetar
profundamente os corpos d’água, aumentando a taxa de reações físicas, químicas e biológicas.
Os valores encontrados nas três campanhas não apresentaram disparidade.
A resolução supracitada também não estabelece valores para CE, entretanto, a CETESB
(2016) afirma que, geralmente, valores acima de 100 µS/cm indicam corpos de água
impactados. Os resultados não ultrapassaram esse limite e a diferença encontrada entre os
resultados das 3 campanhas pode estar relacionada a pluviosidade, já que no dia da segunda
campanha não houve registro de chuvas.
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A variável STD desempenha um importante papel na estabilidade do corpo hídrico. A


mesma está ligada a quantidade de sais minerais e matéria orgânica. De acordo com Rosalene
Zumach (2003), a grande maioria dos contaminantes da água, com exceção dos gases
dissolvidos, contribui para o aumento da carga dos sólidos. Os resultados obtidos estão dento
dos valores estabelecidos pela Resolução CONAMA 357/2005 para todas as classes.
O pH representa a concentração de íons hidrogênio e indica se a água está ácida, neutra
ou alcalina. A resolução 357/05 estabelece valor mínimo de 6 e valor máximo de 9. Nas três
campanhas os resultados não apresentaram grandes distinções, todos dentro dos limites
estabelecidos.
A turbidez é um padrão de potabilidade nacional e internacional. Segundo Libânio
(2010) essa variável trata da concentração de partículas suspensas e colóides presentes na água.
Von Sperling (2014) afirma que turbidez representa o grau de interferência com a passagem da
luz na água. A turbidez apresentou valores superiores a classe 1 na primeira e na terceira
campanha, para classe 2 e 3 o limite foi ultrapassado apenas na terceira campanha (Tabela 1).
Os resultados obtidos podem ser em decorrência da pluviosidade, já que na primeira e terceira
campanha ocorreu precipitação pluviométrica, 1,8 mm e 22,2 mm, respectivamente. Em um
estudo realizado por Alves (2016) no ribeirão das abóboras (afluente do Rio São Tomás)
observou-se que os maiores valores foram encontrados no período chuvoso (20,13 – 34,03
NTU), uma vez que, a ocorrência de precipitação associadas às praticas agrícolas favorecem o
carreamento de partículas de solos, matéria orgânica e outros resíduos.
A DQO é um parâmetro que mede indiretamente o teor de matéria orgânica. Conforme
Von Sperling (2014) suas alterações podem ter origens tanto naturais, como matéria orgânica
vegetal e animal, quanto origens antrópicas, como despejos de efluentes industriais e
domésticos. Chapman e Kimstach (1996) adotam como critério de qualificação de águas
superficiais, não poluídas, um limite de 20 mg L-1deDQO. Em todas as campanhas os valores
foram bem inferiores a esse limite.
O Nitrato é um elemento essencial para vida aquática, auxiliando, por exemplo, no
crescimento das algas (em excesso causa o enriquecimento do meio aquático e pode levar ao
processo de eutrofizaçao), além disso, esse elemento é considerado tóxico e está associado à
saúde humana, causando doenças como a metahemoglobinemia infantil (CETESB, 2016). Por

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esses motivos ele é um padrão de portabilidade no Brasil. A Resolução estabelece valor máximo
10 mg/L para todas a classes, em todos os pontos esse limite foi atendido.
O fósforo tem origens naturais e artificiais, em corpos hídricos seu aumento está ligado
principalmente a fertilizantes, detergentes, despejos indústrias e domésticos. A Resolução
357/2005 determina valor para classe 1 (0,1 mg/L), 2 (0,1 mg/L) e 3 (0,15 mg/L), todas as
médias encontradas ultrapassaram esses limites. O alto valor de FT pode estar relacionado com
o uso do solo, sendo que na áreas de contribuição do ambiente de estudo, como foi apresentado,
há predominância de agropecuária intensiva e extensiva, com destaque para a produção de grãos
(soja e milho) e de aves e suínos, instalações de agroindústrias (como a BRF S. A.) e área
urbanizada. Poluições ligadas a essas áreas, como uso intensivo de fertilizantes e despejos de
efluentes não tratadose/ou com tratamentos inadequados são as principais causas de impactos
em rios (TUNDISI e MATSUMURA-TUNDISI, 2008). Outro fator relevante é o fato da
pesquisa der sido realizada no período chuvoso, o que aumenta o carreamento do fósforo das
lavouras para o corpo d’água.
Os valores de FT tem relação direta com o IET, ou seja, com a eutrofização de corpos
hídricos.
Um dos maiores impactos tanto qualitativo como quantitativo em lagos, rios e represas
é a eutrofização, que afeta em maior ou menor proporção todos os ambientes aquáticos
(TUNDISI, MATSUMURA-TUNDICI, 2008). Para auxiliar em um maior entendimento sobre
os valores da eutrofização é usado o IET. Este índice auxilia na avaliação da qualidade da água
e permite a simplificação dos resultados (AGUIAR, 2015). Os valores encontrados para IET
(66,52; 70,76; 70,80) demonstram um alto grau de trofia, caracterizando o corpo hídrico como
supereutrófico na primeira campanha, e hipereutrófico, na segunda e terceira campanha.
Em outro estudo no Ribeirão das Abóboras, afluente do Rio São Tomás, localizado na
alta bacia deste curso hídrico, Alves (2016) constatou valores semelhantes de grau de
eutrofização, com pontos supereutrófico e hipereutrófico.
Segundo Lamparelli (2004): corpos d'água supereutrófico são aqueles com altos índices
de produtividade em relação as condições normais, com episódios de floração de algas e
comprometimento dos usos da água; e corpos d'água hipereutróficos são aqueles afetados por
grandes concentrações de matéria orgânica e nutrientes, com episódios de mortalidade de peixes
e floração de algas, com consequências indesejadas dos seus vários usos.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Bactérias do grupo coliformes são principais responsáveis pela indicação e


contaminação fecal. Essa variável é de grande importância, já que é usada como indicador da
possível contaminação de micro-organismos patogênicos, causadores de doenças como
disenteria bacilar e cólera. A Resolução 274/2000 trata da balneabilidade, e estabelece valores
para Escherichia coli, afirmando que trechos com a presença superior de 2000
Escherichiacolipor 100 mL, devem ser considerados impróprios para o banho. Resultados
superiores foram encontrados na segunda e terceira campanha (Tabela 2). Em um estudo sobre
coliformes termotolerantes (variável que é tratada na Resolução nº 274/2000) realizado por
Lopes et al. (2008), os valores obtidos classificaram a água como imprópria para banho,
possivelmente, ressalta o autor, devido a lançamento de efluentes sem tratamento prévio a
montante e às atividades de pecuária na bacia que juntas proporcionam uma maior concentração
de material fecal nas águas.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados elevados tem relação com o uso e a cobertura da terra na área de
contribuição do ambiente amostral. Os altos níveis de turbidez, fósforo total, estado trófico e
Escherichia coli podem ser em decorrência de práticas e manejos inadequados do solo
(aplicação intensiva de fontes de fósforo nas lavouras, mecanização inadequada, solos
descobertos, falta de barreiras físicas para favorecer a infiltração de água no solo e diminuir o
escoamento superficial e outros), resíduos de granjas e de outras atividades pecuárias, falta de
tratamento de resíduos laçados no corpo hídrico (como os efluentes do Instituto Federal Goiano
– Campus Rio Verde que são lançados sem tratamento adequado) e outros.
Os índices de estado trófico elevados podem comprometer o ecossistema em questão,
provocar desequilíbrio na biodiversidade aquática, em decorrência do possível afloramento de
algas, as quais podem comprometer o abastecimento público, causando danos às tubulações,
bem como perda da qualidade própria para consumo, isto devido espécies desses
microrganismos poderem produzir toxinas, podendo estas ser letais.
É importante destacar que a água do Rio São Tomás em questão, pelo menos na sua
cachoeira, não é própria para banho, podendo transmitir doenças de veiculação hídrica como
disenteria bacilar e cólera.

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Recomenda-se a implementação de programas de educação ambiental, práticas


conservacionistas e fiscalização mais efetiva nessa área, para que, assim, o desenvolvimento
econômico seja condizente com o meio ambiente ecologicamente equilibrado. Este estudo
subsidiará a gestão ambiental desse recurso, além de servir de base para outros trabalhos.

REFERÊNCIAS

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solo, na região amazônica. Revista Brasileira de Recursos Hídricos. Porto Alegre, v. 20 n°.4
p. 1093 – 1102, out./dez. 2015.
ALVES, W. S. Aspectos Físicos e Qualidade da Água da Bacia Hidrográfica do Ribeirão
das Abóboras, no Município de Rio Verde, Sudoeste de Goiás. 2016. 171 f. Dissertação
(Mestrado em Geografia). Universidade Federal de Góias (UFG). Jataí, GO, 2016.
AWWA; WEF. Standard methods for the examination of water and
wastewater.Washington DC: APHA; AWWA; WEF, 2012.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).
Resolução nº 274, de 29 de novembro de 2000. Define os critérios de balneabilidade em águas
brasileiras. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, v. 193, Seção1,
p.70-71, 25 jan. 2001.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).
Resolução n° 357, de 18 de março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e
diretrizes ambientais para o seu enquadramento e dá outras providências. Diário Oficial da
República Federativa do Brasil. Brasília, DF, v. 197, Seção 1, 2005, p.58-63.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Agência Nacional de Água (ANA). Resolução
724/2011, de 3 de outubro de 2011. Estabelece procedimentos padronizados para a coleta e
preservação de amostras de águas superficiais para fins de monitoramento da qualidade dos
recursos hídricos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, v. 193,
Seção 1, 2011, p. 225.
CHAPMAN, D.; KIMSTACH, V. Selection of water quality variables. In: CHAPMAN, D.
(Ed.) Waterquality assessment: a guide to the use of biota, sediments and water in
environmental monitoring. Londres: UNESCO/ WHO/ UNEP, Cap. 3, p.60, 1996.
CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo. Significado ambiental e sanitário
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interiores/publicacoes-e-relatorios/. Acesso em: 5 fev. 2018.
ESTEVES, F. A., Fundamentos de Limnologia. Rio de Janeiro: Interciência, 2011.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades. Disponível em:
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IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades. Disponível em:
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

LAMPARELLI, M. C. Grau de trofia em corpos d’água do Estado de São Paulo: avaliação


dos métodos de monitoramento. 2004. 235 f. Tese (Doutorado em ciências na Área de
Ecossistemas Terrestres e Aquáticos). Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo,
Departamento de Ecologia. São Paulo, SP, 2004.
LIBÂNIO, M. Fundamentos de Qualidade e Tratamento de Água. Campinas, SP: Editora
Átomo, 2010.
TUNDISI, J. G.; MATSUMURA-TUNDISI, T. Limnologia. São Paulo: Oficina de Textos,
2008.
VON SPERLING, M. Introdução à Qualidade das Águas e ao tratamento de Esgotos. Belo
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ZUMACH, R. Enquadramento de curso de água: rio Itajaí-Açu e seus principais afluentes
em Blumenau. 2003. 133 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Ambiental) - Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003.
LUCAS, A. A. T. FOLEGATTI,M. V. ;DUARTE S. N. Qualidade da água em uma microbacia
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LOPES, F. W. A. ; MAGALHÃES JUNIOR, A. P. ; PEREIRA, J. A. A. Avaliação da
Qualidade das Águas e Condições de Balneabilidade na Bacia do Ribeirão de Carrancas-MG.
Revista Brasileira de Recursos Hídricos. Porto Alegre, v. 13 nº.4 p. 111-120, Out/Dez 2008.

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ANÁLISE DA PERCEPÇÃO SOCIOAMBIENTAL DOS PROFESSORES


DA REDE PÚBLICA DE ENSINO BÁSICO DE FORMOSA-GO A
PARTIR DA ESCALA DO NOVO PARADIGMA ECOLÓGICO.
Elivaldo Ribeiro de Santana
Universidade Estadual de Goiás, Campus Formosa
elivaldo@unb.br

Priscylla Karoline de Menezes


Universidade Estadual de Goiás, Campus Iporá
priscylla.menezes@hotmail.com

RESUMO: O objetivo deste trabalho foi analisar a percepção socioambiental dos professores da rede
pública de ensino básico de Formosa-GO a partir da Escala do Novo Paradigma Ecológico. Aplicou-se
um questionário adaptado com oito questões indicadoras da percepção socioambiental a 57 professores,
os dados foram tabulados em planilha Excel para definição e exclusão daqueles respondentes que
obtivessem mediana 3 (os indecisos) o que resultou em 47 respondentes ao final para análise, medianas
superiores a três receberam o código 0 (zero) e, as inferiores a três ficaram com o código 1 (um), esses
dois grupos representam a visão pró-ambiental e anti-ambiental respectivamente. Foi realizado o teste
estatístico U de Mann Whitney ao nível de significância de 5% (p < 0,05) com as oito questões utilizando
o software SPSS versão 20, quatro delas obtiveram diferenças estatisticamente significativas e as outras
quatro não apresentaram as mesmas diferenças entre os grupos pró e anti ambientais.
Palavras-chave: Percepção socioambiental; Professores; Escala do Novo Paradigma Ecológico.
INTRODUÇÃO

A formação do sujeito ecológico é um processo gradativo que engloba a vida cotidiana,


profissional e outras instâncias sociais, mobilizadas pela percepção dos problemas ambientais.
Perceber é selecionar, analisar e sintetizar os estímulos a que somos submetidos e, esta seleção
e análise costuma orientar nossas ações (GIGLIO, 1996). As pessoas estão sendo
continuamente incitadas à realização de ações em prol da causa ambiental porque esse é um
tema latente no cotidiano, “a percepção dos problemas socioambientais vem se tornando cada
vez mais evidente ao longo das últimas décadas” (SEIFERT, 2011, p. 267).

Segundo Dias (2013, p. 6):


A preocupação com os problemas ambientais emergiu na segunda metade do século
XX, quando fenômenos como o esgotamento dos recursos naturais, a diminuição das
florestas, a crise energética, a contaminação e seus efeitos nocivos sobre os seres
humanos começaram a ser debatidos nos fóruns mundiais e tornaram-se objeto de
denúncias de personalidades e organizações.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Esse destaque dado à temática ambiental despertou outros públicos para uma nova
consciência – a ambiental, também conhecida como “consciência ecológica”. A emergência
dessa problemática adquiriu significado central na vida cotidiana dos indivíduos,
principalmente pelo seu caráter difuso, a família, a escola, a empresa, a biografia de cada um,
as historias de vida e suas experiências particulares com a problemática ambiental estão entre
os locais possíveis de processamento da consciência ecológica e a mudança de mentalidade
(GADOTTI, 2000), porém, esses espaços são permeados por obstáculos relacionados às
estratégias de formação, a dificuldade de perceber o vínculo entre a questão ambiental e social
deve-se a uma questão de entendimento: desde que se cunhou o termo educação ambiental, o
adjetivo “ambiental” foi compreendido como sinônimo de “ecológico” (LAYRARGUES,
2009).

O desafio de pensar mudanças no processo contínuo de tomada de consciência é


emblemático, inclusive no campo educacional. Bezerra e Gonçalves (2007) argumentam que
as concepções de professores sobre meio ambiente e educação ambiental não podem restringir-
se a dimensão ecológica. Portanto, o contato com temas correlatos à causa socioambiental que
ocorre diariamente, mesmo sendo no âmbito do indivíduo, também pode ser multifacetado, esse
fato novo é uma das novas preocupações que têm exigido a utilização de instrumentos capazes
de medir a percepção e consequentemente os níveis de consciência ecológica das pessoas.

“É importante considerar, nestes padrões cognitivos, os fatores que induzem o


indivíduo a compreender sua relação com o meio que o cerca, pois sem dúvida isto é essencial
para que o mesmo modifique suas posturas como profissional e cidadão” (SEIFERT, 2011, p.
277). Alguns esforços de análise já podem contar alternativas consolidadas mundialmente, visto
que, seus construtos foram validados em diversos contextos e praticado por muitas áreas do
conhecimento, a sondagem dos padrões de comportamento ambiental e dos níveis consciência
ecológica foi assumida por diversas abordagens teóricas.

Nesse ambiente de formação e investigação do comportamento ambiental e da


consciência ecológica, alguns instrumentos de coleta de dados se tornaram muito comuns e são
utilizados com frequência, um desses instrumentos é a escala do Novo Paradigma Ecológico
(Escala-NEP) proposta pelos sociólogos ambientais rurais Dunlap e Van Liere em 1978 e
atualizada por Dunlap et. al. no ano 2000, essa escala foi validada no contexto brasileiro por

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Battistella et. al. (2012) em pesquisa realizada com professores para aferir suas atitudes frente
às questões ambientais. Assim, o objetivo deste trabalho foi analisar a percepção
socioambiental dos professores da rede pública de ensino básico de Formosa-GO a partir da
Escala do Novo Paradigma Ecológico.

MATERIAIS E MÉTODOS

Os dados deste trabalho foram obtidos entre os dias 9 e 27 de Outubro de 2017 a partir
da visita in loco a 21 escolas e aplicação de um questionário a 57 professores da rede pública
de educação básica do município de Formosa-GO. O questionário aplicado é uma adaptação
contendo oito (08) questões indicadoras da percepção socioambiental das pessoas.

Essas questões integram à Escala do Novo Paradigma Ecológico (Escala-NEP) proposta


por (DUNLAP, et. al., 2000), esse instrumento de medida foi traduzido e validado no contexto
brasileiro (SILVA FILHO, et. al., 2009; BATISTELLA, et. al., 2012). Optou-se pela utilização
das oito variáveis ímpares devido ao critério argumentativo da questão, por exemplo, quanto
maior o valor da escala atribuída a cada afirmação, maior será a consciência ecológica do
respondente, com as questões pares ocorre o inverso.

As questões sobre a percepção socioambiental foram codificadas por uma escala de


valor do tipo Likert de 5 pontos conforme o (Quadro 1) que varia de “Discorda totalmente” a
“Concorda totalmente”, o ponto três “Nem concorda e Nem Discorda” compreende uma
indecisão. As oito questões analisadas neste estudo pode caracterizar a imersão das pessoas
frente ao novo paradigma ecológico, para tanto, a atribuição notas 4 ou 5 e notas 1 e 2 a esses
itens da escala, corresponde a uma visão pró-ambiental ou anti-ambiental respectivamente
(DUNLAP, et. al., 2000).

Os dados foram tabulados em planilha Excel para facilitar o cálculo da mediana e a


divisão em dois grupos, os respondentes que obtiveram mediana igual ou superior a quatro e
aqueles com mediana igual ou inferior a dois no conjunto das respostas dos itens apresentam
visões pró-ambientais e anti-ambientais respectivamente conforme (DUNLAP, et. al., 2000).
Os respondentes com mediana igual a três compreendem uma pequena parte da amostra que
ainda estão indecisos, por isso, foram excluídos da análise conforme (HAIR Jr. et. al., 2009). A

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amostra inicial continha 57 respondentes, a partir da exclusão pelo critério da mediana, o


número amostral foi reduzido para 47 indivíduos ao passo que dez ficaram no meio termo.

Quadro 1: Escala do Novo Paradigma Ecológico (Escala-NEP).

1) Para cada uma das situações abaixo coloque a NOTA:


• 1 se você DISCORDA TOTALMENTE da situação apresentada
• 2 se você DISCORDA da situação apresentada
• 3 se você NEM CONCORDA e NEM DISCORDA da situação apresentada
• 4 se você CONCORDA da situação apresentada
• 5 se você CONCORDA TOTALMENTE da situação apresentada

Se em qualquer situação não souber responder, por favor, deixe em branco.


Nota
1. Nós estamos chegando ao número de pessoas que a Terra pode suportar.
3. Quando os seres humanos interferem na natureza, acontecem, frequentemente,
consequências desastrosas.
5. Os seres humanos estão abusando seriamente do meio ambiente.
7. Plantas e animais têm tanto direito de existir quanto os seres humanos.
9. Apesar de nossas habilidades especiais, os seres humanos seguem sujeitos às leis da
natureza.
11. A terra é uma espaçonave com espaço e fontes muito limitados.
13. O equilíbrio natural é muito delicado e facilmente abalado.
15. Se as coisas continuarem no curso atual, nós iremos, em breve, experimentar uma
catástrofe ecológica maior.

Fonte: Adaptada de Dunlap, et. al., (2000) apud Battistella, et. al., (2011).

O instrumental analítico empregado neste estudo foi o teste não paramétrico U de


Mann-Whitney ao nível de significância estatística p < 0,05. A escolha deste procedimento
estatístico é indicada para testar diferenças entre duas condições onde diferentes participantes
foram selecionados em cada condição, optou-se pelo método Exato de verificação da precisão
devido ao pequeno tamanho amostral (FIELD, 2009). A análise estatística foi conduzida
utilizando o Software SPSS (Pacote Estatístico para Ciências Sociais) versão 20.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Caracterização do perfil dos participantes

O perfil sociodemográfico dos participantes desta pesquisa considerou todos os 57


professores da rede pública de ensino básico de Formosa-GO que estão distribuídos pelas 21
escolas visitadas. As medidas descritivas da amostra geral estão sintetizadas conforme as
características descritas a seguir: 89,5% desses profissionais são do sexo feminino e 10,5% são
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masculinos, com relação à faixa etária, em ordem decrescente, 49,1% deles estão entre os 35 e
49 anos, 33,3% estão entre 20 e 34 anos, seguidos por 15,8% daqueles entre os 50 e 64 anos,
houve ainda a omissão da idade em 1,8% deles.

A renda familiar com base no número de salários mínimos pôde ser resumida da
seguinte forma: 49,1% convivem com margem de renda familiar variando entre 2 e 4 salários
mínimos, 26,3% com margem entre 4 e 6 salários mínimos, 14% entre a margem de 6 e 8
salários mínimos, 3,5% compartilham renda familiar que variam de 8 a 10 salários mínimos e
3,5% partilham renda acima 10 salários mínimos, 3,5% deles omitiram a margem de renda
familiar. Quanto ao nível de formação, 59,6% desses profissionais possuem especialização,
36,8% são apenas graduados, 1,8% possui mestrado e 1,8% omitiu essa questão.

Resultado estatístico do Teste U de Mann-Whitney

O resultado do teste não paramétrico U de Mann-Whitney pelo método Exato com as


oito questões indicadoras da percepção socioambiental dos professores apresentou diferenças
estatisticamente significativas ao nível de 5% (p < 0,05) em quatro das variáveis e não houve
diferenças estatisticamente significativas ao nível de 5% (p > 0,05) nas outras quatro variáveis.

Esses dois resultados básicos implicam considerar que o ambiente educacional é


bastante diversificado, existindo alguns muito comprometidos e interessados até outros sem
maiores compromissos com a causa socioambiental (LEME, 2006), considera-se também que
a visão positiva sobre a causa socioambiental, por ser um perfil ideal de preocupação, nem
sempre será alcançada por todos, afinal, não são todas as pessoas que conseguem realiza-lo
completamente em suas condições reais de vida (CARVALHO, 2008).

A visão pró-ambiental dos respondentes

Houve diferenças estatisticamente significativas entre as visões pró-ambientais dos


respondentes nas quatro variáveis que seguem: “Nós estamos chegando ao número de pessoas
que a terra pode suportar” (var1, U = 8,500 e p<0,04). Essa é uma das preocupações relevantes
fruto de alertas disseminados nas últimas décadas, principalmente, os relativos ao impacto
coletivo da humanidade sobre o meio ambiente e o sobrecarregamento da espécie humana sobre
os sistemas biológicos e físicos propagados por cientistas, economistas e outros estudiosos

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(FOLEY, 2017). Essa percepção que surgiu a partir da visão crítica de especialistas atingiu a
sociedade de modo geral (SEIFERT, 2011).

O crescimento populacional, o avanço tecnológico e o aumento do poder econômico


passaram por crescimentos rápidos nos últimos tempos (FOLEY, 2017). Essas condições que
impulsionaram a crise ecológica nos últimos tempos estiveram no centro das atenções que
fizeram despertar os primeiros processos de tomada de consciência ecológica, “a percepção de
que o planeta estava sendo permanentemente danificado começou quando se ouviu falar do que
estava acontecendo com os pescadores do sul do Japão” (BERNARDES e FERREIRA, 2007,
p. 29). A noção de que “O equilíbrio natural é muito delicado e facilmente abalado” (var13, U
= 7,000 e p<0,02) é uma preocupação com a qualidade ambiental que vem se tornando um tema
cada vez mais importante e presente na vida dos cidadãos (SEIFERT, 2011).

O nosso impacto no planeta aconteceu e cresceu muito rapidamente (FOLEY, 2017).


A relação entre a sociedade e a natureza é marcada por uma pressão demasiada da primeira
(sociedade) sobre a biodiversidade dos ecossistemas vegetais e animais da segunda (natureza),
caracterizando várias formas de desequilíbrios ambientais em nome de um modelo de
desenvolvimento, contudo, algumas pessoas podem apresentar uma visão biocêntrica onde
“Plantas e animais têm tanto direito de existir quanto os seres humanos” (var7, U = 4,000 e
p<0,00), pode-se inferir que essa visão é a que insere a natureza, o homem no meio social e a
utilização dos recursos naturais num mesmo patamar (BERTÉ, 2009), assim, o homem estaria
propenso a integrar uma nova ordem.

A percepção socioambiental de quem pensa que “Se as coisas continuarem no curso


atual, nós iremos, em breve, experimentar uma catástrofe ecológica maior” (var15, U = 0,000
e p<0,00), é a que reconhece que o impacto das catástrofes naturais é potencializado pela
influência da ação humana, principalmente, aquelas referentes às mudanças climáticas e
ocupações desordenadas (LAYRARGUES, 2008), nessa mesma direção de pensamento
Quintas (2009) afirma que hoje somente vozes isoladas, ainda, contestam o processo de
aquecimento global do planeta.

A visão anti-ambiental dos respondentes

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Já a visão anti-ambiental esteve presente em outras quatro variáveis e, portanto


desfavorável ao que preconiza o Novo Paradigma Ecológico por não apresentarem diferenças
estatisticamente significativas entre os grupos dos pró e anti ambientais, elas serão apresentadas
e discutidas na sequência com seus respectivos valores do teste U de Mann-Whitney e do valor-
p referente à significância estatística de cada uma delas.

A primeira delas refere-se a seguinte percepção: “Quando os seres humanos interferem


na natureza, acontecem, frequentemente, consequências desastrosas” (var3, U = 16,500 e p >
0,09), essa pouca noção dos riscos é relevantemente crítica, esse perfil de educador (a) parece
constituir-se como um sujeito cuja dimensão trágica é ser interpelado pública e pessoalmente
pelas grandes contradições (CARVALHO, 2008). Ainda existe essa fragilidade na percepção
socioambiental das pessoas, pouca credibilidade é dada aos acontecimentos que tenham
ocorrido fora do contato imediato, o que acontece aos outros não costuma confrontar a todos
que estão distante do fato, só se questionam quando o desastre chega a cada um, inaugurando a
tal contradição, Layrargues (2008) afirma que essa é uma percepção distorcida do educador.

O que se observa explicitamente no significado resultante da afirmação “Os seres


humanos estão abusando seriamente do meio ambiente” (var5, U = 34,500 e p > 1,00) é que a
leitura predominante dessa questão ainda é muito ideológica, é a de quem trata as questões
sociais e ambientais separadamente, natural daqueles que analisam uma visão de mundo,
simplificando a compreensão da realidade e perdendo a dimensão do todo, característica de
quem desconsidera o contexto no qual o problema ambiental está inserido (LAYRARGUES,
2009). A interação é mútua, a ação humana causa e sofre as consequências dos problemas
ambientais.

Existe um equilíbrio considerável entre as pessoas que confiam na habilidade humana


de encontrar soluções diante dos problemas ecológicos e os que defendem a mudança de postura
como uma saída adequada. O resultado obtido na afirmação “Apesar de nossas habilidades
especiais, os seres humanos seguem sujeitos às leis da natureza” (var9, U = 27,000 e p > 0,43)
pode ser a crença naquilo que postula as promessas da modernidade, essa é uma opinião das
pessoas que se ancoram na ciência e a tecnologia acreditando que essas nos libertariam das
limitações impostas pela natureza e, assim, seríamos felizes para sempre (QUINTAS, 2009). É
o que podemos chamar de crença na engenhosidade e na técnica.

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A baixa percepção positiva de que “A terra é uma espaçonave com espaço e fontes
limitados” (var11, U = 37,000 e p > 0,79) indica que o reconhecimento de um ambiente com
fontes naturais delicadas e limitadas onde a possibilidade de crescimento humano é limitada e
o esforço humano para sobrepor a natureza pode levar a problemas para toda a humanidade
(SILVA FILHO, et. al., 2009) não prevalece nesse grupo pesquisado. A ausência dessa noção
de espaço e recursos limitados, é um traço da perda da relação dialética, de mútua constituição,
entre o eu e a sociedade no mundo. Este é um ponto pouco compreendido e tão crucial para
quem pretende atuar em educação (LOUREIRO, 2010).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escola, local de trabalho das pessoas que participaram deste estudo, é um espaço
fértil para a educação ambiental (EA). A queixa constante sobre abordagens reducionistas que
empregam ações voltadas ao aspecto ecológico das relações entre sociedade e natureza pode
ser explicada pela compreensão da percepção socioambiental dos professores, aqueles que
forem mais conscientes estarão mais propensos a trabalhar a complexidade dos dilemas
ambientais, enquanto que, os menos conscientes podem oferecer empecilhos na medida em que
a EA seja trabalhada de forma interdisciplinar.

Os resultados deste trabalho indicaram que o grupo amostral é muito diversificado e


isso sugere possibilidades e limitações para abordagens de EA com viés crítico – dimensão de
ações educativas muito aclamada por especialistas da área –, apesar desse público amostral
assumir a visão pró-ambiental, o entendimento holístico de alguns aspectos dos problemas
ambientais ainda acha obstáculos na leitura que fazem da realidade ambiental. As iniciativas de
formação continuada podem considerar parte desses resultados para promover a capacitação e
consequente superação desses aspectos insipientes da percepção socioambiental desses
profissionais da educação.

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ANÁLISE DA VARIAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DA CHUVA NA


ÁREA DE INFLUÊNCIA DOS RESERVATÓRIOS DE CAÇU E BARRA
DOS COQUEIROS-GO
Regina Maria Lopes
Universidade Federal de Goiás – Regional Jataí
lopesgeo@yahoo.com.br

Zilda de Fátima Mariano


Universidade Federal de Goiás – Regional Jataí
zildamariano@hotmail.com

José Ricardo Rodrigues Rocha


Universidade Federal de Goiás – Regional Jataí
joserrocha90@gmail.com

Resumo: O presente artigo analisa a variação das chuvas na área de influência dos reservatórios de Caçu
e Barra de Coqueiros-GO, localizado entre as coordenadas geográficas 18º 30’ S a 18º 45’ S e 50º 55’
W a 51º 10’ W, no baixo curso do rio Claro, possuindo área total de 955,3 km², com perímetro de 172,6
km, entre os municípios de Caçu e Cachoeira Alta-GO, a área de estudo faz parte da bacia do rio Claro,
no trecho que compreende área de influência dos reservatórios da UHE Caçu e UHE Barra dos
Coqueiros. Objetivou-se analisar a variação espaço-temporal dos valores totais de chuva (mm) no
recorte temporal de setembro de 2014 a agosto de 2015. Para a aquisição dos dados de chuvas, realizou-
se trabalhos de campo para instalação dos equipamentos e coleta dos dados de chuvas. Posteriormente
os dados foram organizados no laboratório, em seguida realizou a análise, com auxílio de Software,
onde foi possível verificar que o total de chuvas registrado no período na área de estudo entre os pontos
de coletas foi de 931,6 a 1626,91 mm, o maior total de chuva 1626,91 mm ocorreu no (P27) enquanto
que a menor volume total de precipitação foi registrado no (P04) na fazenda Ribeirão dos Paula 2. A
variação espaço-temporal das chuvas mensais foi de 20,64 mm a 440,32 mm. O mês com menor volume
foi agosto de 2015, que registrou 20,64 mm, e maior volume detectado ocorreu em março, com 440,32
mm. Essa variação para os meses avaliados pode ser justificada pela influência dos sistemas convectivos
e frontais da massa tropical continental e massa tropical atlântica, que atuam com mais frequência entre
os meses de setembro a março. A partir de abril, o volume de chuva começa a diminuir devido à perda
de força pela atuação, com maior intensidade, da massa polar atlântica, responsável pelas baixas
temperaturas e que, acaso venha a se confrontar com a tropical atlântica, influenciará os baixos volumes
de chuva que ocorrem nos meses de inverno.

Palavras-chave: Bacia hidrográfica; atributo climático; Cerrado.

1 – INTRODUÇÃO
A bacia hidrográfica constitui a melhor forma de delimitação espacial de sistemas
naturais e é, por excelência, a unidade da paisagem mais utilizada pela Geografia, para estudos
ambientais e de planejamento. A área de influência dos reservatórios de Caçu e Barra dos
coqueiros-GO possui 955,3 Km², está inserida na bacia do rio Claro, nesse recorte espacial, é
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possível analisar a interação dos elementos climáticos, juntamente com os aspectos que
compõem a paisagem, a localização, geologia, geomorfologia, hipsometria, declividade,
exposição das vertentes, pedologia, uso e ocupação das terras e os sistemas atmosféricos que
atuam na região da área de estudo.
A delimitação da bacia hidrográfica, vislumbrada como uma unidade biofísico-
territorial é importante, principalmente para a análise dos elementos físico-químicos e sua inter-
relação, o que a define, para muitos autores, por exemplo, Botelho (1999), como unidade natural
básica de análise da superfície terrestre.
Cada vez mais, a bacia hidrográfica vem sendo utilizada como recorte espacial e
territorial, para analisar os diferentes processos de uso e ocupação das terras, como por
exemplo, a construção de hidrelétricas, represas, gestão dos recursos hídricos, entre outros
temas. Recentemente, as pesquisas têm ressaltado a importância do planejamento ambiental
integrado direcionado para os diferentes enfoques, como por exemplo, a variação do atributo
climático chuva que será analisada neste artigo.
Para Ab’Saber e Costa Jr. (1950), o sudoeste de Goiás apresenta características gerais
de clima da área tropical de continentalidade representada por um longo período chuvoso
durante o verão, opondo-se a um outro mais seco (menos chuvoso) no inverno, fato que pode
ser verificado nos estudos realizados por Cabral et al. (2013) e Queiroz Junior (2014), cujos
autores relatam que o período chuvoso ocorre entre os meses de outubro a abril, seguido de um
período mais seco entre maio e setembro. Para Lobato et al. (2002) e Mariano (2005), o estado
de Goiás apresenta Na maior parte da região, a precipitação pluviométrica anual oscila entre
1400 e 1600 mm.

1.1 – OBJETIVO
Analisar a variação espaço-temporal da chuva no recorte temporal de setembro de
2014 a agosto de 2015, na área de influência dos reservatórios de Caçu e Barra dos Coqueiros-
GO.

1.2 A área de estudo


A área de estudo (Figura 1) situa-se entre as coordenadas geográficas 18º 30’ S a 18º
45’ S e 50º 55’ W a 51º 10’ W, no baixo curso do rio Claro, pertencente à mesorregião do Sul

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Goiano e à microrregião de Quirinópolis, possuindo área total de 955,3 km², com perímetro de
172,6 km, entre os municípios de Caçu e Cachoeira Alta-GO. A área de estudo faz parte da
bacia do rio Claro, no trecho que compreende área de influência dos reservatórios da UHE Caçu
e UHE Barra dos Coqueiros.

Figura 1- Localização da área de estudo e pontos de coletas.

Org.: LOPES, M. R. (2017).

2 – MATERIAIS E MÉTODOS
Para o recorte da área de estudo (Figura 1), utilizou-se a carta topográfica SE-22-Y-B,
elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), disponibilizada pelo
Sistema Estadual de Estatística e Informações Geográfica do Estado de Goiás (SIEG). A
localização geográfica da área de estudo foi delimitada e georeferenciada no ArcGIS 10.1, com
as respectivas coordenadas geográficas, destacando a localização do limite da área de estudo,
os pontos de coletas e a rede de drenagem.

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Para espacializar a chuva, utilizou o programa Surfer 9 , sendo empregado o


algoritmo de interpolação multivariada IDW (Inverso do quadrado da distância), que, de acordo
com Fialho et al. (2011), possibilita criar uma superfície com valores mais próximos do real.
Foram utilizados os valores totais mensais mm, registrados em cada ponto de coleta. Gerou-se
a espacialização dos dados a fim de se realizar análise da distribuição das chuvas na área da
pesquisa. No que se refere à análise mensal, os procedimentos foram realizados com intuito de
constatar a variação das chuvas durante os meses analisados, de setembro 2014 até o mês de
agosto de 2015.
A análise constituiu-se, na realização de trabalhos de campo para coleta dos dados de
chuva, em pontos distintos, onde foram instalados os pluviógrafos (Fotografia 1A) e estação
automática (Fotografia B), no período compreendido de setembro de 2014 a agosto de 2015.
Após a coleta dos dados, calcularam-se os valores referentes aos totais de chuva (mm),
posteriormente, com auxílio do Software Surf 8.0 os dados foram espacializados.
Fotografia 1- Equipamentos utilizados na coleta dos dados de chuva.
A) Pluviógrafo digital P300 B) Estação automática

Fotos: LOPES, R. M. (2015)

3 - RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados que foram alcançados dentro do objetivo deste artigo destaca-se a
variação da chuva, na área de estudo. A análise temporal e espacial contempla a espacialização
dos valores totais (mm) de chuva, verificou-se durante o período que compreende os meses de
setembro de 2014 a agosto de 2015, e os valores de chuvas (mm) na escala mensal.

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3.1 Análise dos valores totais de chuva (mm)


Os dados de chuva no período analisado apresentaram uma variação de 931,6 mm a
1626,91 mm. O menor foi registrado no P4 - Fazenda Ribeirão dos Paula 2 (Fotografia 2A),
enquanto que o maior volume total de chuva foi de 1626,91 mm, registrado no P27 - Fazenda
do Mauro (Fotografia 2B).

Fotografia 2- Características dos pontos de coletas


A) P04 - Pluviógrafo digital instalado B) P27 Pluviógrafo digital instalado no
próximo ao reservatório na Fazenda topo do morro da Fazenda do Mauro
Ribeirão dos Paulas 2
A) B)

Fotos: LOPES, R. M. (2017). (Trabalho de campo realizado em 2015).

Nos pontos P01, P06, P09, P10, P15, P22, P23 e P27, o volume de chuva foi superior
a 1.300 mm. Esses pontos encontram-se em altitudes que variam de 463 m a 718m,
demonstrando que o fator orográfico não é o principal elemento que tem influência sobre os
índices de precipitação na área de estudo. Portanto, o volume de chuva é influenciado pela
dinâmica das massas de ar, principalmente no período chuvoso, característico da estação verão.
De acordo com o mapeamento da chuva (Figura 2), a distribuição das mesmas é
heterogênea. Os pontos de coleta que registraram os menores volumes de chuva foram o P18 e
P19, P2 e P7, com 949,47 e 963,73 mm valores de chuva de todos os pontos. Tais pontos estão
localizados na região menos elevada da bacia, com cotas altimétricas de 452 e 484 m, altitudes
significativamente menores quando comparadas ao ponto P27, a 728 m de altitude.

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Figura 2- Chuva total para o período compreendido entre setembro de 2014 a agosto de 2015 na área
de influência dos reservatórios de Caçu e Barra dos Coqueiros-GO

Org.: LOPES, M. R. (2017). Dados de campo coletados no período de setembro/2014 a agosto de


2015.

Cotejando-se os dados a partir da análise espacial, identificaram-se três diferentes


unidades de precipitações: a unidade 1, composta pelos pontos P02, P04, P07, P13, P14, P18,
P19, cujos volumes de chuva têm uma amplitude entre 900 mm a 1.100 mm e altitude entre 484
m a 691m; a unidade 2, que abarca os pontos P03, P08, P11, P12, P16, P20, P24 e P25,
localizados em altitudes que oscilam entre 401m a 561m, com volumes de chuva entre 1100
mm a 1300 mm, não sendo influenciada pelo relevo; e, por último, a unidade 3, que abrange os
pontos P01, P06, P09, P10, P15, P22, P23, P27, com altitude entre 463 a 728 m e com chuva a
variar entre 1300 mm a 1626 mm.
Nesse contexto, observamos que os volumes de chuva sofrem influências da
hipsometria da região. Os resultados obtidos por Oliveira (2016), em estudos realizados na

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bacia hidrográfica do rio Preto, em que constatou variação anual média das chuvas entre os
pontos de coletas, registraram valores diferentes, devido à influência da orografia; já o estudo
de Correa (2017), que analisou a distribuição espacial e variabilidade da precipitação na bacia
do rio Piriri-PR, verificou que a variação anual das chuvas, entre os pontos de coletas
selecionados, é maior, associando esse fato à influência da orografia. Estes autores
evidenciaram a relação existente entre os condicionantes geográficos, como a hipsometria e os
direcionamentos das massas de ar na distribuição das chuvas.
Com base em Campos et al. (2002), um dos fenômenos atmosféricos que mais
contribui para as diferenças entre os totais de chuvas mensais é a ação das massas de ar. Pode-
se inferir que as variações que ocorreram na bacia hidrográfica de Caçu e Barra dos Coqueiros
decorrem da influência das massas de ar equatorial continental, tropical continental, polar
atlântica e tropical atlântica.
A amplitude pluviométrica que se registrou foi de 695,31 mm, resultado dos volumes
ocorridos nos pontos P4 e P27, com diferença altimétrica de 244 m. Se fossem levados em
consideração apenas esses dois pontos de coleta, seria possível afirmar que os fatores
orográficos da área de estudo, associados à dinâmica do sistema atmosférico, seriam os
responsáveis pela variação do volume de chuva.
Conforme pesquisa realizada por Lima (2013) na região da bacia hidrográfica de Caçu
e Barra dos Coqueiros, a média dos totais de chuva para o período de 1977 a 2011, a partir dos
dados de 4 estações meteorológicas na bacia do rio Claro, foi de 1503 mm. A maior média
registrada foi no ano de 2009, com 1856 mm, e a menor em 1999, com 1107 mm.
A distribuição das chuvas mostram valores diferenciados, sendo de suma importância a
análise integrada dos elementos climáticos ao modelo de uso e ocupação da terra, levando em
consideração os condicionantes geográficos: relevo, exposição das vertentes, geologia, solos e
atmosfera.

3.2 Análise Mensal da Chuva de Setembro de 2014 a Agosto de 2015


A variação espaço-temporal das chuvas mensais (Figura 3) foi de 20,64 mm a 440,32
mm. O mês com menor volume foi agosto de 2015, que registrou 20,64 mm, e maior volume
detectado ocorreu em março, com 440,32 mm. Essa variação para os meses avaliados pode ser
justificada pela influência dos sistemas convectivos e frontais da massa tropical continental e

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massa tropical atlântica, que atuam com mais frequência entre os meses de setembro a março.
A partir de abril, o volume de chuva começa a diminuir devido à perda de força pela atuação,
com maior intensidade, da massa polar atlântica, responsável pelas baixas temperaturas e que,
acaso venha a se confrontar com a tropical atlântica, influenciará os baixos volumes de chuva
que ocorrem nos meses de inverno.
O trabalho desenvolvido por Campos et al. (2002) para o estado de Goiás apresentou
resultados semelhantes ao da presente pesquisa, corroborando com os resultados alcançados.

Figura 3- Variação da chuva mensal para o período compreendido entre setembro de 2014 a agosto de
2015 na área de influência dos reservatórios Caçu e Barra dos Coqueiros-GO

Org.: LOPES, R. M. (2017).

Segundo Nimer (1989), de junho até agosto, devido à atuação da frente polar e linhas
de instabilidades pré-frontais (sistemas extra-tropicais), ocorre a diminuição dos sistemas
convectivos, gerando redução da precipitação pluviométrica, caracterizando os meses de
inverno como os menos chuvosos para o período analisado, fato constatado nesta pesquisa.

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Guerra (1989) aponta as diferenças espaciais das chuvas no sudoeste de Goiás com
base na influência das formas do relevo e altimetria que atuam como barreiras às massas de ar
úmidas e de pequena espessura. De acordo com os resultados obtidos neste trabalho, notamos
que os elementos geográficos geologia, pedologia, exposição das vertentes e uso da terra podem
influenciar na distribuição das chuvas, devendo esses elementos serem estudados em maior
profundidade.
O estudo em escala mensal mostrou que a distribuição das chuvas inicia-se no mês de
setembro, concentrando os maiores volume do mês de dezembro até março. Constatou-se que,
a partir dos meses de abril e maio, a chuva total decresce, registrando menor volume
pluviométrico entre os meses de junho a agosto de 2015, resultados que são corroborados por
Campos et al. (2002) para o estado de Goiás. O maior período de estiagem no estado de Goiás
ocorre entre os meses de junho a setembro. Já o período chuvoso inicia-se entre os meses de
setembro e outubro e se estende até os meses de março ou abril (SILVA et al., 2008).

4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
A distribuição da chuva na área é heterogênea, demonstrando existir associação entre as
características do meio físico da área da pesquisa e os sistemas atmosféricos. O ponto de coleta
P27 registrou a maior chuva, com 1626,91 mm, justificada pela dinâmica das massas de ar,
principalmente no período chuvoso, característico da estação de verão.
A variação do volume de chuva demonstra que a área de estudo caracteriza-se por
invernos secos e verões chuvosos. A diminuição do volume de chuva entre junho e agosto pode
estar relacionada à estabilidade gerada pela influência do anticiclone subtropical do Atlântico
Sul e de pequenas dorsais que se formam sobre a parte continental sul-americana. Já o período
chuvoso pode ser associado ao deslocamento para sul da Zona de Convergência Intertropical
(ZCIT), fato esse destacado nos trabalhos desenvolvidos por Nimer (1989) e Marcuzzo et al.
(2012).
A espacialização mensal da chuva evidencia que os aspectos geográficos da bacia
contribuem, com a dinâmica atmosférica, para a ocorrência e intensidade. Verificou-se que
existe certa heterogeneidade das chuvas, como por exemplo, no mês de dezembro, em que os
pontos de coletas (P8, P9, P10, P20, P22) apresentaram maiores registros de chuvas,
diferentemente do P11, em que houve diminuição no volume de chuva.

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5 - REFERÊNCIAS
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250.000 (folhas SE-22-YB e SE-22-ZA). Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso
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LIMA, A. M. Relação clima e vegetação na área das bacias das usinas hidrelétricas de
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MARIANO, Z. F. A importânica da variável climática na produtividade de soja no
Sudoeste de Goiás. 2005. 253f. Tese de doutorado (Instituto de Geociências e Ciências Exatas)
Campus de Rio Claro. (SP), 2005.

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NIMER. E. Climatologia do Brasil. 2 ed. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e


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QUEIROZ JUNIOR, V. S., CABRAL, B. P., DA ROCHA, I. R., BARCELOS, A. A. N. (2014):
Uso de geotecnologias na caracterização da fragilidade ambiental da Bacia da UHE Foz do Rio
Claro (GO), GeoFocus, n. 15, p. 193-212. ISSN: 1578-515.

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ANÁLISE DO GRAU DE TROFIA DAS ÁGUAS DA BACIA DO RIO


PRETO, NO DISTRITO FEDERAL E ESTADO DE GOIÁS, BRASIL
Luanna Oliveira Lima
Instituto Federal Goiano - Campus Rio Verde
luannaambiental@gmail.com

Wellmo dos Santos Alves


Universidade Federal de Jataí
wellmoagro2@gmail.com

Maria Antônia Balbino Pereira


Instituto Federal Goiano - Campus Rio Verde
mariaantonia099@live.com

RESUMO: Diante dos danos causados aos ambientes aquáticos, objetivou-se analisar as águas da
porção Centro-Oeste da bacia hidrográfica do Rio Preto. Realizou-se uma pesquisa a partir de dados
históricos de fósforo total (FT) obtidos pela Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento
Básico do Distrito Federal (ADASA), de 2001 a 2014, e disponibilizados pela Agência Nacional de
Águas (ANA). Através destes dados foi feita a análise dos níveis de FT utilizando como valores de
referência os limites estabelecidos pela Resolução CONAMA 357/2005 para águas doces. Foi realizado,
ainda, o estudo do estado trófico por meio do Índice de Estado Trófico (IET). Em geral, os resultados
obtidos para as médias de FT estão dentro dos limites estabelecidos para as classes 1 e 2 (≤0,1), exceto
os pontos: (P5), que atendeu ao limite (≤0,15) para classe 3; e o P3 e o P11, que apresentaram níveis em
conformidade com a classe 4 (>0,15). Para os valores das médias do IET, em 14 pontos os resultados
foram oligotróficos ou mesotróficos, no entanto destaca-se o ponto (P3), situado no Rio Jardim, e o
(P11), localizado no Ribeirão Estrema, nos quais os ambientes amostrais (pontos amostrais) foram
classificados como supereutrónico e eutrófico, respectivamente. Os resultados obtidos podem ser
possivelmente em decorrência de efluentes domésticos, industriais e agropecuários despejados no corpo
hídrico sem tratamento ou com tratamento inadequado, podendo ser, inda, devido drenagem agrícola e
urbana, favoráveis ao carreamento de fontes de fósforo para o corpo hídrico. Este trabalho subsidiará
políticas públicas e outras ações para diminuir o aporte de FT, e, com isso, reduzir os níveis de
eutrofização, de forma a promover o desenvolvimento em harmonia com o meio ambiente
ecologicamente equilibrado.

Palavras-chave: estado trófico, fósforo total, gestão ambiental, recursos hídricos.

1 INTRODUÇÃO

A água é um recurso natural fundamental para as mais diversas formas de vida. A água ocupa
aproximadamente 75% da superfície da Terra, sendo assim o constituinte inorgânico mais
abundante da matéria viva, integrando aproximadamente dois terços do corpo humano e
atingindo até 98% para animais aquáticos, legumes, frutas e verduras (LIBÂNIO, 2010). No
entanto, a sociedade tem utilizado este importante recurso de forma insustentável e causando

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vários danos para sua disponibilidade e potabilidade. De acordo com Sperling (2005), a
interferência do homem quer de uma forma concentrada, como na geração de despejos
domésticos ou industriais, quer de uma forma dispersa, como na aplicação de defensivos
agrícolas no solo, contribui na introdução de compostos na água, afetando a sua qualidade.
O despejo de efluentes e o escoamento de resíduos oriundos da agricultura causam o aumento
da quantidade de nutrientes presentes na água, causando assim a eutrofização do corpo hídrico.
Esteves e Meirelles-Pereira (2011) definem “eutrofização” como o aumento da concentração
de nutrientes-especialmente o fósforo - em um dado ecossistema aquático, que tem como
consequência o aumento da produtividade e alterações diversas sobre seu funcionamento.
Com intuito de preservar a qualidade dos corpos hídricos e o bem-estar da população, torna-se
necessária a criação e aplicação de mecanismos de gestão e monitoramento da qualidade dos
ambientes aquáticos. Isso ocorre em função da alteração das características físicas, químicas e
biológicas do ambiente acarretadas pela poluição (BRAGA et al., 2005). No Brasil, este
monitoramento é feito considerando como valores de referência os níveis exigidos pelo
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), o qual estabelece limites que devem ser
seguidos conforme enquadramento dos corpos hídricos.
A resolução CONAMA 357, de 17 de março de 2005, dispõe sobre a classificação dos corpos
hídricos e diretrizes para seus enquadramentos e dá outras providências. De acordo com essa
resolução, em seu Art. 42, enquanto não aprovados os respectivos enquadramentos, as águas
doces serão consideradas classe 2, exceto se as condições de qualidade atuais forem melhores,
o que determinará a aplicação da classe mais rigorosa correspondente (BRASIL, 2005). Assim,
as águas da bacia do Rio Preto são enquadradas na classe 2.
O Programa Nacional de Avaliação da Qualidade das Águas (PNQA) é um programa lançado
pela Agência Nacional de Águas (ANA), importante para a expansão do conhecimento sobre a
qualidade das águas superficiais no Brasil, de forma a orientar a elaboração de políticas públicas
para a recuperação da qualidade ambiental em corpos d'agua, sendo que, por meio desse
programa, são disponibilizados metadados sobre variáveis de qualidade da água, contribuindo
com a gestão sustentável dos recursos hídricos (ANA ,2016).
Neste sentido, este estudo teve como objetivo entender a qualidade da água da bacia
hidrográfica do Rio Preto, por meio da variável de qualidade da água fósforo total (FT),
considerando os limites (valores de referência) estabelecidos pela Resolução CONAMA

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357/2005 para água doce, e, ainda, realizar o estudo do grau de trofia a partir de resultados
obtidos para FT.

2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Área de estudo
Este estudo é o resultado de uma pesquisa exploratória aplicada, com uso de dados quantitativos
para analisar a qualidade da água na bacia do Rio Preto.
Segundo Mesquita (2017), a bacia hidrográfica supracitada está localizada dentro dos estados
de Goiás, Minas Gerais e também no Distrito Federal, ocupando uma área de aproximadamente
1.045.900 hectares. Neste estudo considerou-se a porção Centro-Oeste da bacia (Figura 1), que
corresponde, aproximadamente, a 348.805 hectares.
O clima predominante na área de estudo é tropical com duas estações bem definidas: verão,
quente e chuvoso e inverno, frio e seco. Dentro da área não há variações significativas de
precipitação pluviométrica, entretanto, as diferenças altimétricas e a distribuição da vegetação
são responsáveis por variações na temperatura e geração de microclimas. Os tipos de solos
predominantes na área de estudo são os Latossolos Vermelhos e Vermelho-Amarelos
(CAMPOS; MONTEIRO; RODRIGUES, 2006).
Os municípios de Formosa, Cristalina, Cabeceiras e o Distrito Federal estão inseridos na parte
estudada da bacia e possuem uma economia com base no agronegócio, o que é preocupante por
causa do grande consumo de insumos agrícolas, acarretando, além do uso demasiado da água
em sistemas de irrigação, a deterioração do cerrado local. Mesquita (2017) acrescenta que no
estado de Goiás, a bacia do Rio Preto possui, na região limítrofe com a porção leste do Distrito
Federal, quase toda sua região destinada aos treinamentos realizados pelo exército brasileiro.

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Figura 1. Localização da bacia hidrográfica do Rio Preto no Estado de Goiás (GO) e Distrito Federal
(DF), Brasil.

2.2 Pontos amostrais, dados de fósforo total e valores de referência


Foram analisados dezessete pontos amostrais (ambientes amostrais) na porção centro-oeste do
corpo hídrico em questão, no estado de Goiás e Distrito Federal, sendo que a maior parte dos
pontos amostrais estão situados em áreas rurais com predomínio de agricultura (Quadro 1).

Quadro 1 – Descrição dos usos e cobertura nas áreas de contribuição dos pontoas amostrais na bacia do rio
Preto, no estado de Goiás e Distrito Federal
Ponto/ Localização Descrição
Apresenta ambiente amostral com área de
preservação; com área de contribuição coberta por
P1, Localizado no córrego Sucuriú, afluente
agricultura (predominante), construções rurais
do rio Bezerra.
(armazéns de grãos, residências), Cerrado/mata,
Campo limpo, mata ciliar e de galeria.
Apresenta ambiente amostral com área de
P2 (Localizado) no córrego Monjolo, preservação; com área de contribuição coberta por
afluente do rio Bezerra agricultura (predominante), pastagem, construções
rurais (armazéns de grãos, currais, residências),
Cerrado/mata, Campo limpo, mata ciliar e de galeria.

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P3, P5, P6 e P8 localizados no rio Jardim; P7


localizado no córrego Estanislau, afluente do
Apresenta ambiente amostral com área de
rio Jardim; P10, localizado no ribeirão
preservação; com área de contribuição coberta por
Estrema; P11, localizado no ribeirão
agricultura (predominante), pastagem, construções
Estrema; P12, localizado no ribeirão Barro
rurais (armazéns de grãos, currais, granjas de criação
Preto; P13, localizado no córrego Embiruçu,
de aves, residências), Cerrado/mata, Campo limpo,
afluente do ribeirão Barro Preto; P16,
mata ciliar e de galeria.
localizado no córrego Jibóia; P17, localizado
no ribeirão Jacaré, afluente do rio Preto.
Apresenta ambiente amostral com área de
preservação permanente nas duas margens; com área
P4, localizado no ribeirão Cariru, afluente do
de contribuição coberta por agricultura
rio Jardim; P14, localizado no rio Preto; P15,
(predominante), pastagem, construções rurais
localizado no córrego São José, afluente do
(armazéns de grãos, currais, granjas de criação de
rio Preto.
aves, residências), área urbanizada, Cerrado/mata,
Campo limpo, mata ciliar e de galeria.
Fonte: Elaborado pelos autores.

Os dados de fósforo total, de 2001 a 2014, da Bacia Hidrográfica do Rio Preto, foram obtidos
pela Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal
(ADASA) e disponibilizados pela ANA (2016) como metadados. A partir desses metadados
foram extraídos os valores para a área de interesse (bacia do Rio Preto).
Os valores de referência, ou seja, limites estabelecidos pela Resolução CONAMA 357/2005
para água doce classe 1, classe 2, classe 3 e classe 4, em ambiente lótico, são apresentados na
Tabela 1.

Tabela 1. Limites estabelecidos (valores de referência) pela Resolução CONAMA 357/2005 para água
doce de classe 1 a classe 4
Valores de referência (mg.L-1)
Classe 1 Classe 2 Classe 3 Classe 4
≤0,1 ≤0,1 ≤0,15 >0,15
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados da Resolução CONAMA 357/2005 (BRASIL, 2005).

2.4 Estudo do estado trófico


Os valores obtidos para FT foram convertidos de mg.L-1 para µg.L-1, com intuito de calcular o
Índice do Estado Trófico (IET).
A CETESB (2016) relata que o IET tem por finalidade classificar corpos d’água em diferentes
graus de trofia, ou seja avaliar a qualidade da água quanto ao enriquecimento por nutrientes e
seu efeito relacionado ao crescimento excessivo de algas ou ao aumento da infestação de
macrófitas aquáticas. Relata, ainda, que os resultados são calculados a partir dos valores de
fósforo total, pois o nutriente é um agente causador do processo.
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O IET foi calculado de acordo com a Equação 1 (E1), de Lamparelli (2004):

IET (PT)= 10*(6-((0,42-0,36*(Ln(FT)))/Ln 2)) -20 (E1)

Na qual: IET é o Índice de Estado Trófico; FT, é a concentração de fósforo total, em µg. L-1; e
ln, o logaritmo natural.
Os valores obtidos de IET foram classificados conforme proposta de Lamparelli (2004)
apresentada no Quadro 2, onde também são apresentadas as características especificas de cada
grau de trofia.

Quadro 2. Categoria de estado trófico e respectivas características


Classes de Estado Características
Valor do IET
Trófico
Corpos d’água limpos, de produtividade muito baixa e
IET ≤ 47 Ultraoligotrófico concentrações insignificantes de nutrientes que não acarretam
em prejuízos aos usos da água.
Corpos d’água limpos, de baixa produtividade, em que não
47 < IET ≤ 52 Oligotrófico ocorrem interferências indesejáveis sobre os usos da água,
decorrentes da presença de nutrientes.
Corpos d’água com produtividade intermediária, com possíveis
52 < IET ≤ 59 Mesotrófico implicações sobre a qualidade da água, mas em níveis
aceitáveis, na maioria dos casos.
Corpos d’água com alta produtividade em relação às condições
naturais, com redução da transparência, em geral afetados por
59 < IET ≤ 63 Eutrófico atividades antrópicas, nos quais ocorrem alterações indesejáveis
na qualidade da água decorrentes do aumento da concentração
de nutrientes e interferências nos seus múltiplos usos.
Corpos d’água com alta produtividade em relação às condições
naturais, de baixa transparência, em geral afetados por
atividades antrópicas, nos quais ocorrem com frequência
63 < IET ≤ 67 Supereutrófico
alterações indesejáveis na qualidade da água, como a ocorrência
de episódios florações de algas, e interferências nos seus
múltiplos usos.
Corpos d’água afetados significativamente pelas elevadas
concentrações de matéria orgânica e nutrientes, com
comprometimento acentuado nos seus usos, associado a
IET > 67 Hipereutrófico
episódios florações de algas ou mortandades de peixes, com
conseqüências indesejáveis para seus múltiplos usos, inclusive
sobre as atividades pecuárias nas regiões ribeirinhas.
Fontes: Adaptado de Lamparelli (2004) e CETESB (2016).

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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos a partir de bases de dados disponibilizados pela ANA (2016) são
apresentados na Tabela 2, e os valores obtidos para o IET, na Tabela 3.

Tabela 2. Níveis de fósforo total na bacia do Rio Preto, no estado de Goiás e Distrito Federal, Brasil
Resultados de fósforo total (FT) em mg.L-1
Ponto amostral Corpo hídrico NU MI MA ME SD Latitude Longitude
1 Córrego Sucuriú 13 0,010 0,160 0,030 0,042 -15,85839 -47,0908
2 Córrego Monjolo 13 0,010 0,830 0,079 0,226 -15,7973 -47,09197
3 Rio Jardim 19 0,000 4,970 0,300 1,136 -15,94764 -47,44593
4 Ribeirão Cariru 22 0,000 0,660 0,061 0,138 -15,90375 -47,48538
5 Rio Jardim 23 0,000 1,125 0,118 0,293 -15,85986 -47,47565
6 Rio Jardim 17 0,000 0,300 0,031 0,073 -15,82819 -47,52399
7 Córrego Estanislau 19 0,000 0,090 0,017 0,025 -15,82792 -47,56038
8 Rio Jardim 19 0,000 0,126 0,025 0,033 -15,80514 -47,56094
9 Rio Preto 21 0,000 0,880 0,097 0,230 -15,94292 -47,3637
10 Ribeirão Estrema 21 0,000 0,150 0,027 0,039 -15,84597 -47,38537
11 Ribeirão Estrema 24 0,000 2,490 0,151 0,514 -15,78125 -47,44954
12 Ribeirão Barro Preto 20 0,000 0,340 0,041 0,085 -15,81986 -47,39426
13 Córrego Embiruçu 23 0,000 0,750 0,067 0,160 -15,77264 -47,39899
14 Rio Preto 20 0,000 0,180 0,034 0,052 -15,83736 -47,36898
15 Córrego São José 18 0,000 0,070 0,014 0,019 -15,71097 -47,31898
16 Córrego Jibóia 18 0,000 1,020 0,069 0,238 -15,64319 -47,36815
17 Ribeirão Jacaré 20 0,000 1,00 0,073 0,226 -15,62569 -47,3951
NU: número de amostras; MI: mínimo; MA: máximo; ME: média; SD: desvio padrão.
Fonte: Adaptado pelos autores a partir de metadados disponibilizados pela Agência Nacional de
Águas (ANA, 2016).

Pode ser observado na Tabela 2 que os valores de FT variaram de 0 a 4,970 mg.L-1, com média
de 0,014±0,019 mg.L-1 a 0,300±1,136 mg.L-1. É importante ressaltar que para cada ponto
amostral, o desvio padrão foi maior que a média, indicando que os valores variaram muito em
cada ambiente amostral, principalmente no P3. Observa-se, ainda, que, para os valores médios:
quatorze pontos amostrais (P1, P2, P4, P6, P7, P8, P9, P10, P12, P13, P14, P15, P16 e P17)
atenderam ao limite (≤ 0,1) estabelecido para água doce classe 1 e 2; um ponto (P5) atendeu ao
limite (≤ 0,15) para classe 3; e em dois pontos (P3 e P11) foram obtidos níveis (> 0,15) em
conformidade com a classe 4. Os maiores valores foram observados nos pontos P3 (4,970 mg.L-
1
), P5 (1,125 mg.L-1), P11 (2,490 mg.L-1), P16 (1,020 mg.L-1) e P17 (1,00 mg.L-1). Considerado
que o corpo hídrico em questão é enquadrado como água doce classe 2, os valores médios para

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os pontos P3, P5 e P11 estão em inconformidade com a Resolução CONAMA 357/2005


(BRASIL, 2005).

Tabela 3. Resultados para o Índice de Estado Trófico para fósforo total na bacia hidrográfica do Rio
Preto, de 2001 a 2014, no estado de Goiás e Distrito Federal, Brasil
Ponto Corpo hídrico NU IET para MI IET para MA IET para ME
1 Córrego Sucuriú 13 45,90 60,30 51,61
2 Córrego Monjolo 13 45,90 68,85 56,63
3 Rio Jardim 19 0 78,15 63,56
4 Ribeirão Cariru 22 0 67,66 55,29
5 Rio Jardim 23 0 70,43 58,72
6 Rio Jardim 17 0 63,56 51,78
7 Córrego Estanislau 19 0 57,31 48,66
8 Rio Jardim 19 0 59,06 50,66
9 Rio Preto 21 0 69,15 57,70
10 Ribeirão Estrema 21 0 59,96 51,06
11 Ribeirão Estrema 24 0 74,56 59,99
12 Ribeirão Barro Preto 20 0 64,21 53,23
13 Córrego Embiruçu 23 0 68,32 55,78
14 Rio Pr eto 20 0 60,91 52,26
15 Córrego São José 18 0 56,01 47,65
16 Córrego Jibóia 18 0 69,92 55,93
17 Ribeirão Jacaré 20 0 69,82 56,22
NU: número de amostras; IET MI: índice de estado trófico para o valor mínimo; IET para MA: índice
de estado trófico para o valor máximo; IET para ME: índice de estado trófico para o valor médio.
Fonte: Elaborados pelos autores.

Tratando-se do IET, observa-se na Tabela 3 que os índices para os valores mínimos (MI) e
valores máximos (MA) de FT variaram de 0 a 78,15, sendo para a média (ME) de FT, de 47,65
a 63,56. Para os ME de FT, notou-se que os IET em 5 pontos amostrais (P1, P6, P7, P8 e P15)
foram classificados como oligotróficos (47 < IET ≤ 52); para nove pontos (P2, P4, P5, P9, P12,
P13, P14, P16 e P17), foram observados valores na categoria mesotróficos (52 < IET ≤ 59); um
ponto (P5), na categoria eutrófico (59 < IET ≤ 63); e 1 ponto (P3), na categoria supereutrófico
(63 < IET ≤ 67). Os valores mais expressivos foram observados no P3 (63,56), localizado no
rio Jardim, e no P11 (59,99), localizado no ribeirão Estrema. De acordo com o Quadro 2 e
Tabela 3, considerando os IET para as ME de FT, observa-se que a maioria dos pontos
apresentaram-se como: corpos d’água com produtividade intermediária, com possíveis
implicações sobre a qualidade da água, mas em níveis aceitáveis, na maioria dos casos. No

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entanto, nos pontos amostrais P3 e P11 foram observados níveis de eutrofização elevados,
indicando incremente de FT no curso hídrico em decorrência de ação antrópica (Quadro 2;
Tabela 3; Figura 2).

Figura 2. Espacialização dos resultados qualitativos do Índice de Estado Trófico para fósforo total da
média das amostragens de 2001 a 2014 na bacia do Rio Preto, no estado de Goiás e Distrito Federal,
Brasil

Fonte: Elaborados pelos autores a partir de bases de dados disponibilizadas pela ANA (2016).

De acordo com o Quadro 1, no território onde a bacia hidrográfica em questão está inserida, a
agricultura é predominante, além de conter diversas construções rurais (granjas de criação de
aves, armazéns de grãos, sistemas de irrigação, residências e outros), o que pode ter interferido
nos valores mais altos encontrados para o FT e, consequentemente, para o IET. Isso devido que:
a drenagem agrícola pode carrear fontes de FT (adubos com fósforo na sua composição, matéria
orgânica oriundas das granjas e ouras fontes) para o corpo hídrico; os efluentes domésticos,
industriais e de granjas, se despejados nos corpos hídricos sem o tratamento adequado, podem
aumentar a quantidade desse nutriente na água e causar a eutrofização do ambiente aquático.
De acordo com Tundisi e Matsumura-Tundisi (2008) e Esteves e Meirelles-Pereira (2011)
(2011), a eutrofização das águas tem relação com aumento da população humana, da
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industrialização, do uso de fertilizantes químicos na agricultura e com produtos de limpeza,


pois todos estes fatores resultam na liberação do fósforo em corpos hídricos, sendo este
nutriente um estimulador da eutrofização.
Corpos hídricos com índices muito altos de FT e, consequentemente, de IET, como nos pontos
P3 e P11, podem estar com desequilíbrio na biodiversidade aquática. Segundo Lamparelli
(2004), a eutrofização pode gerar vários danos aos corpos hídricos, diminuição da diversidade
de espécies e modificação da biota dominante, aumento da biomassa de plantas e animais,
aumento da turbidez, além de seu uso ser prejudicial à saúde.
É importante ressaltar que, segundo a Resolução CONAMA 357/2005, mananciais com
elevados índices de fósforos são propícios para a proliferação das cianobactérias, que são
microrganismos capazes de produzir toxinas com efeitos adversos à saúde (BRASIL, 2005).
Várias espécies de algas e cianobactérias conferem sabor e odor às águas e as últimas são
também produtoras de toxinas, como resultados do próprio metabolismo ou na lise celular
(LIBÂNIO, 2010).
Em outro estudo realizado por Aguiar et al. (2015), sobre o nível de trofia em microbacias
hidrográficas sob diferentes usos de solo, na região amazônica, as microbacias com as maiores
porcentagens de suas áreas de drenagem desmatadas para a agricultura foram as que
apresentaram as maiores concentrações de fósforo total, principalmente no período chuvoso,
elevando, consequentemente, os IET.

CONCLUSÃO
Considerado que o Rio Preto é enquadrado como água doce classe 2, os resultados, em média,
para os ambientes amostrais do P3, P5 e P11 não atenderam ao limite estabelecido pela
Resolução CONAMA 357/2005. Entretanto, considerado a média para cada ponto, a maioria
dos ambientes amostrais, quatorze no total, foram enquadrados na classe 1.
Os pontos onde foram observados valores muito altos, indicando influência antrópica, como,
possivelmente, incremento de FT no curso d’água devido carreamento de fontes de fósforo
oriundas das atividades agropecuária (altas aplicações de adubos fosfatados, resíduos de
granjas, etc.), despejos de efluentes domésticos e industriais, causando, assim, a eutrofização
do corpo hídrico. É necessária a implementação de políticas públicas/ações, envolvendo as
universidades, órgãos ambientais, empresas e o público em geral, no intuito de minimizar os

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danos ambientais e evitar possíveis impactos inda maiores no Rio Preto. Este estudo será
importante para subsidiar o planejamento e a gestão ambiental desse recurso natural,
promovendo o desenvolvimento econômico em consonância com a conservação dos recursos
hídricos, melhorando a qualidade ambiental e de vida

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUIAR, C. P. O.; PELEJA, J. R. P.; SOUSA, K. N. S.; GOCH, Y. G. F.; GUIMARÃES, A. S.
Nível de trofia em microbacias hidrográficas sob diferentes usos de solo, na região Amazônica.
Revista Brasileira de Recursos Hídricos, v. 20, n 4, p. 1093-1102, 2015.
ANA-Agência Nacional de Águas, 2016. Indicadores de qualidade de água (2001 a 2014).
Disponível em: <http://metadados.ana.gov.br/geonetwork/srv/pt/main.home>. Acesso em: 12
abr. 2018.
BRAGA, B.; HESPANHOL, I.; CODEJO, J. D. L.; MIERZWA, J. C.; BARROS, M. T. L.;
SPENCER, M.; PORTO, M.; NUCCI, N.; JULIANO, N.; EIGER, S. Introdução à
Engenharia Ambiental: O desafio do desenvolvimento sustentável. São Paulo: Person
Prentice Hall, 2005.
BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução nº 357, alterada pela
Resolução 410/2009 e pela 430/2011. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,
Brasília, DF, 17 mar. 2005.
CAMPOS, J. E. G.; MONTEIRO, C. F. M.; RODRIGUES, L. N. Geologia e Zoneamento
Hidrogeológico da Bacia do Rio Preto DF/GO/MG. Planaltina (DF): EMBRAPA
CERRADO. Disponível em:
<https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/78956/1/doc-172.pdf>. Acesso em: 26
maio 2018.
CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo. 2016.
Publicações e relatórios. Índices de Qualidade das Águas. Disponível em:
<http://cetesb.sp.gov.br/aguas-interiores/publicacoes-e-relatorios/>. Acesso em: 18 jan. 2018.
LIBÂNIO, M. Fundamentos de qualidade e tratamento de água. Campinas: Átomo, 2010.
LAMPARELLI M. C. Grau de trofia em corpos d’água do Estado de São Paulo: avaliação
dos métodos de monitoramento. Tese (Doutorado em ciências na Área de Ecossistemas
Terrestres e Aquáticos). Universidade de São Paulo, São Paulo (SP), 2004.
ESTEVES, F. A.; MEIRELLES-PEREIRA, F. Eutrofização artificial. In: ESTEVES, F. A.
(Coord.) Fundamentos de Limnologia. Rio de Janeiro: Interciência, 2011. cap. 27.
LIBÂNIO, M. Fundamentos de Qualidade e Tratamento de Água. Campinas (SP): Átamo,
2010.
SPERLING, M. V. Introdução á qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. Belo
Horizonte (MG): UFMG, 2005.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

MESQUITA, L. F. (2017). Gestão de recursos hídricos na bacia hidrográfica do Rio Preto.


Mestrado (Desenvolvimento Sustentável). Universidade de Brasília (UnB), Brasília, 2017.
TUNDISI, J. G.; MATSUMURA-TUNDISI, T.; PARESCHI, D. C.; LUZIA, A. P.; VON
HAELING, P. H.; FROLLINI, E. H. A bacia hidrográfica do Tietê/Jacaré: estudo de caso em
pesquisa e gerenciamento. Estudos Avançados, v. 22, n. 63, p. 159–172, 2008.

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ANÁLISE DO NÍVEL DE OXIGÊNIO DISSOLVIDO NAS ÁGUAS DA


BACIA DO RIO PRETO, NO DISTRITO FEDERAL E ESTADO DE
GOIÁS, BRASIL

Lucas Duarte Oliveira


Instituto Federal Goiano – Campus Rio Verde
duarte-oliveira2010@hotmail.com

Wellmo dos Santos Alves


Universidade Federal de Jataí.
wellmoagro2@gmil.com

RESUMO: Devido à importância econômica e ambiental da Bacia do Rio Preto para o Distrito Federal
e estado de Goiás, objetivou-se analisar a concentração (mg.L-1) de oxigênio dissolvido (OD) de corpos
hídricos situados nesta bacia. As coletas foram realizadas em dezessete pontos amostrais. As coletas e
procedimentos analíticos foram realizados pela Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento
Básico do Distrito Federal (ADASA). Os resultados foram obtidos entre os anos de 2001 a 2014 e
disponibilizados pela Agência Nacional de Águas (ANA) com estudo do desvio-padrão (DP) para cada
ponto amostral. As médias foram comparadas com os limites de OD estabelecidos pela Resolução
CONAMA 357/2005 para água doce classe 1, classe 2, classe 3 e classe 4. Valores baixos de OD, em
inconformidade com níveis estabelecido para água doce classe 1 e classe 2 podem indicar um corpo
hídrico com impacto ambiental negativo expressivo. A maioria dos valores médios dos pontos
analisados atenderam às classes supracitadas. Porém, alguns valores ficaram abaixo dos limites exigidos,
o que pode estar relacionado aos impactos causados pelas atividades antrópicas presentes na área de
contribuição da bacia, como a agricultura, pecuária, granjas e construções rurais, além de concentrações
urbanas. Os valores incompatíveis com os limites da referida resolução indicam a necessidade de
planejamento e gestão ambiental da área de estudo, criando condições para melhorar sua qualidade.
Palavras chaves: Gestão de recursos hídricos; Qualidade da água; Resolução CONAMA 357/2005.

1 INTRODUÇÃO
O advento da Revolução Industrial ocorrido na Inglaterra, no século XVIII, modificou
as relações homem-natureza. As consequências de seu desenvolvimento irresponsável e as
atividades ligadas a esse fenômeno não foram sentidas na época (LEAL et al., 2008). Porém,
com a ocupação do espaço natural ao longo do tempo, incitadas pelas transformações, gerou-se
inúmeros impactos ambientais no solo, ar e recursos hídricos (PEREIRA; CURI, 2012).
No Brasil, Santos (2006) afirma que a partir da década de 40, foi incentivada a ocupação
da região Centro-Oeste, na denominada “Marcha para o Oeste”, onde foram criadas colônias
agrícolas, para ampliar as atividades econômicas e facilitar a entrada do capital agropecuário.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Com a construção de Brasília e aumento populacional, os impactos no meio ambiente


aumentaram consideravelmente. Depois da abertura comercial feita pelos governos federais da
década de 90, promoveu-se no Brasil uma estratégia de desenvolvimento pautada no apoio às
atividades ligadas ao agronegócio, o que resultou no fortalecimento das agroindústrias na região
do Centro-Oeste brasileiro (MAURO; CALAÇA, 2017).
Algumas atividades, como a urbanização, apropriação do solo, desmatamento,
construções de infraestrutura, têm provocado sucessivas crises hídricas, afetando a vida de
milhões de pessoas (TUNDISI; MATSUMURA-TUNDISI, 2015). Com isso, ressalta-se que os
recursos hídricos são um dos mais afetados pelas atividades antrópicas, pois além de contribuir
para sua escassez, o despejo de resíduos agropecuários e industriais podem causar sérios danos
à saúde humana e impactos ambientais negativos (ARAÚJO; NASCIMENTO; OLIVEIRA,
2016).
O oxigênio dissolvido é considerado o principal parâmetro (variável de qualidade da
água) de caracterização das consequências da poluição dos corpos hídricos causada por
despejos orgânicos (VON SPERLING, 2017). De acordo com Libânio (2010), a redução de OD
pode estar ligada a razões naturais, em especial, pela respiração ou degradação da matéria
orgânica feita por organismos presentes no ambiente. Além disso, outros fatores como as percas
para a atmosfera e oxidação de íons também podem ocasionar semelhante efeito.
O Programa Nacional de Avaliação da Qualidade das Águas – PNQA, lançado pela
Agência Nacional de Águas (ANA), objetiva ampliar o conhecimento relacionado à qualidade
das águas superficiais no Brasil, com o intuito de auxiliar na gestão sustentável dos recursos
hídricos. O programa disponibiliza metadados de vários cursos hídricos no Brasil. Por meio
deles, é possível analisar e divulgar dados de uma bacia hidrográfica de interesse (ANA, 2018).
Diante do exposto, objetivou-se analisar o nível de oxigênio dissolvido (OD), durante o
período de 2001 a 2014, nas águas da Bacia Hidrográfica do Rio Preto, localizada no Distrito
Federal e no estado de Goiás, a partir de dados disponibilizados pela Agência Nacional de
Águas (ANA, 2016), e comparar com os limites estabelecidos pelo Conselho Nacional de Meio
Ambiente (CONAMA) para água doce.

2 MATERIAL E MÉTODOS
A área de estudo (348.805 hectares) limitou-se no estado de Goiás e Distrito Federal
(Figura 1). A bacia hidrográfica do Rio Preto totaliza uma área de 1.045.900 hectares e está
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localizada no Distrito Federal e nos estados de Goiás e Minas Gerais, constituindo parte
integrante da bacia hidrográfica do Rio São Francisco (CARNEIRO et al., 2007).
De acordo com Mesquita (2017), o Rio Preto possui uma extensão aproximada de 380
quilômetros, e suas principais nascentes se encontram nas imediações do município de Formosa
(GO).
Mesquita (2017) ressalta que a parte onde se situa a bacia supracitada no Distrito Federal
abrange núcleos rurais com forte vocação para atividades ligadas à agropecuária. Já a porção
do estado de Goiás, a maior parte é destinada às atividades do Exército Brasileiro.

Figura 1. Localização da bacia hidrográfica do Rio Preto no Estado de Goiás (GO) e Distrito Federal
(DF), Brasil.
Fonte: Adaptados pelos autores de dados disponibilizados pela ANA (2016).

Segundo a classificação de Köppen-Geiger, o clima dessa região se classifica no tipo


AW, caracterizado por climas úmidos tropicais, com duas estações bem definidas: seca no
inverno e úmida no verão (PEEL et al., 2007).

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Pelo fato de haver o predomínio das atividades agropecuárias, os recursos hídricos são
utilizados para irrigação, caracterizando a região como uma das principais produtoras de grãos
e hortaliças para o DF e entorno (BORGES et al., 2007).
No Quadro 1 e Figura 2 são apresentados, respectivamente, os pontos amostrais e as
características gerais do uso da cobertura nas áreas de contribuição dos mesmos.
Os resultados foram obtidos entre 2001 e 2014 pela Agência Reguladora de Águas,
Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (ADASA) e disponibilizados pela ANA
(ANA, 2016).
Os resultados, com número de amostras (NU), valor mínimo (MI), máximo (MA),
média (ME) e desvio padrão (DP) para cada ponto amostral, foram disponibilizados pela ANA
(2016), sendo as médias comparadas com os limites de OD estabelecidos pela Resolução
CONAMA 357/2005, de 17 de março de 2005, para águas doces classe 1, classe 2, classe 3 e
classe 4.

Quadro 1 – Descrição dos usos e cobertura nas áreas de contribuição dos pontos amostrais na
bacia hidrográfica do Rio Preto, Goiás e Distrito Federal
Ponto Descrição
Localizados no córrego Sucuriú e córrego Monjolo respectivamente, ambos afluentes do rio
Bezerra; o primeiro apresenta ambiente amostral com área de preservação permanente nas duas
P1 e P2 margens, e no segundo, as margens são pouco preservadas; com área de contribuição coberta
por agricultura (predominante), construções rurais (armazéns de grãos, residências),
Cerrado/mata, Campo limpo, mata ciliar e de galeria.
Localizados no rio Jardim, afluente do Rio Preto; apresentam ambiente amostral protegido por
P3, P5, P6, área de preservação permanente; com área de contribuição coberta por agricultura
P8 (predominante), pastagem, construções rurais (armazéns de grãos, currais, granjas de criação de
aves, residências), Cerrado/mata, Campo limpo, mata ciliar e de galeria.
Localizado no ribeirão Cariru e córrego Estanislau respectivamente, afluentes do rio Jardim;
apresentam ambiente amostral com área de preservação permanente; com área de contribuição
P4 e P7 coberta por agricultura (predominante), pastagem, construções rurais (armazéns de grãos,
currais, granjas de criação de aves, residências), área urbanizada, Cerrado/mata, Campo limpo,
mata ciliar e de galeria.
Localizados no ribeirão Estrema, afluente do Rio Preto; ambientes amostrais protegidos por área
de preservação permanente; com área de contribuição coberta por agricultura (predominante),
P10, P11
pastagem, construções rurais (currais, granjas de criação de aves, residências), Cerrado/mata,
Campo limpo, mata ciliar e de galeria.
Localizado no ribeirão Barro Preto, afluente do ribeirão Estrema; ambiente amostral protegido
por área de preservação permanente; com área de contribuição coberta por agricultura
P12
(predominante), pastagem, construções rurais (currais, granjas de criação de aves, residências),
Cerrado/mata, Campo limpo, mata ciliar e de galeria.
Localizado no córrego Embiruçu, afluente do ribeirão Barro Preto; ambiente amostral protegido
P13
por área de preservação permanente; com área de contribuição coberta por agricultura

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(predominante), pastagem, construções rurais (currais, armazéns de grãos, residências),


Cerrado/mata, Campo limpo, mata ciliar e de galeria.
Localizado no Rio Preto; ambiente amostral protegido por área de preservação permanente; com
área de contribuição coberta por agricultura (predominante), pastagem, construções rurais
P14
(currais, granjas de criação de aves, residências), área urbanizada, Cerrado/mata, Campo limpo,
mata ciliar e de galeria.
Localizados no córrego São José e Ribeirão Jacaré respectivamente, afluentes do Rio Preto;
ambientes amostrais parcialmente protegidos por área de preservação permanente; com área de
P15 e P17 contribuição coberta por agricultura (predominante), pastagem, construções rurais (currais,
granjas de criação de aves, residências), área urbanizada, Cerrado/mata, Campo limpo, mata
ciliar e de galeria.
Localizado no córrego Jibóia; afluente do ribeirão Jacaré; ambiente amostral protegido por área
de preservação permanente; com área de contribuição coberta por agricultura (predominante),
P16
pastagem, construções rurais (currais, granjas de criação de aves, armazéns de grãos,
residências), Cerrado/mata, Campo limpo, mata ciliar e de galeria.
Fonte: Elaborado pelos autores.

A resolução supracitada dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes


ambientais para o seu enquadramento, e dá outras providências sendo que, tratando-se de águas
doces, estabelece 5 classes de água (especial, classe 1, classe 2, classe 3 e classe 4), e que, ainda,
conforme seu Art. 42, enquanto não aprovados os enquadramentos, as águas doces serão
consideradas classe 2, exceto se as condições de qualidade atuais forem melhores, o que
determinará a aplicação da classe mais rigorosa correspondente.

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Figura 2. Espacialização dos pontos amostrais na bacia do Rio Preto, Goiás e Distrito Federal, Brasil.
Fonte: Adaptados pelos autores de dados disponibilizados pela ANA (2016).

Os limites estabelecidos para OD pela referida resolução são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Limites estabelecidos (valores de referência) pela Resolução CONAMA 357/2005 para
água doce classe
Valores de referência (CONAMA 357/2005) para oxigênio dissolvido (mg.L-1)
Classe 1 Classe 2 Classe 3 Classe 4
6,0 5,0 4,0 > 2,0
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados da Resolução CONAMA 357/2005 (BRASIL, 2005).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados extraídos de metadados disponibilizados pela ANA (2016) para a área de
interesse são apresentados na Tabela 2.
No P1 e P2 localizados nos afluentes do Rio Bezerra, a média obtida para cada ponto, 7
e 6,7 mg.L-1, respectivamente, atenderam ao limite para classe 1 para corpos hídricos de água
doce estabelecido pela Resolução CONAMA 357/2005 (BRASIL, 2005). Porém, foi observado
valores que não atendem ao limite para a mesma classe no P1 (MI de 5,4 mg.L-1) e no P2 (MI

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de 0 mg.L-1) para a classe 1, classe 2, classe 3 e classe 4 (Tabela 2), sendo que para este ponto,
o valor baixo pode ser reflexo da baixa presença de APP's em alguns ambientes a montante
desses pontos e carreamento de resíduos de granja e da agricultura para o corpo hídrico, uma
vez que há presença de granjas e atividades agropecuárias na área de contribuição desses pontos
amostrais (Quadro 1).

Tabela 2. Resultados de oxigênio dissolvido (OD), 2001 a 2014, em cursos hídricos na bacia
hidrográfica do Rio Preto, no Estado de Goiás e Distrito Federal, Brasil
Resultados de oxigênio dissolvido (mg.L-1)
Ponto amostral Corpo hídrico NU MI MA ME SD Latitude Longitude
1 Córrego Sucuriú 13 5,4 8,6 7 0,7 -15,85839 -47,0908
2 Córrego Monjolo 13 0 8,6 6,7 2,1 -15,7973 -47,09197
3 Rio Jardim 20 3,1 8,1 6,7 1,3 -15,94764 -47,44593
4 Ribeirão Cariru 23 4 9 6,7 1,2 -15,90375 -47,48538
5 Rio Jardim 24 3,5 8,8 6,9 1,1 -15,85986 -47,47565
6 Rio Jardim 18 5,3 8,1 6,9 0,8 -15,82819 -47,52399
7 Córrego Estanislau 19 4,6 8,5 7,3 0,9 -15,82792 -47,56038
8 Rio Jardim 19 4,3 8 7 0,9 -15,80514 -47,56094
9 Rio Preto 22 4 8,1 6,6 0,9 -15,94292 -47,3637
10 Ribeirão Estrema 23 5 8,6 7 1 -15,84597 -47,38537
11 Ribeirão Estrema 24 4,5 8,4 6,9 0,9 -15,78125 -47,44954
12 Ribeirão Barro Preto 20 5,2 8,5 7,1 0,8 -15,81986 -47,39426
13 Córrego Embiruçu 23 5 8,5 7 0,9 -15,77264 -47,39899
14 Rio Preto 22 3,8 8,3 6,5 1,3 -15,83736 -47,36898
15 Córrego São José 20 2,3 8,3 5,8 1,4 -15,71097 -47,31898
16 Córrego Jibóia 19 4,2 7,7 6,2 0,9 -15,64319 -47,36815
17 Ribeirão Jacaré 23 4,9 8,6 6,7 0,9 -15,62569 -47,3951
NU: número de amostras; MI: valor mínimo; MA: valor máximo; ME: média; SD: desvio padrão.
Fonte: Adaptado pelos autores a partir de metadados da Agencia Nacional de Águas (ANA, 2016).

Já nos pontos localizados nos afluentes do Rio Preto (P3, P5, P6, P8, P10, P11, P15 e
P17), as médias obtidas atenderam ao valor de referência para classe 1 para água doce,
estabelecido pela resolução supracitada (Tabela 1), com exceção do P15, que apresentou valor
médio inferior (5,8 mg.L-1) ao limite da referida classe. Além disso, alguns valores mínimos
descritos na Tabela 2 de alguns pontos não atenderam aos limites da classe 1, classe 2 e classe
3. Os valores baixos podem ser em decorrência de despejos oriundos construções rurais, áreas
urbanas e agricultura (Quadro 1).

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Tratando-se dos pontos localizados nos afluentes do Rio Jardim (P4 e P7) e Ribeirões
Estrema (P12), Barro Preto (P13) e Jacaré (P16), todos os valores médios atenderam ao limite
de referência para a água doce classe 1. Porém, alguns valores desses pontos (Tabela 2) ficaram
abaixo do fixado pela classe 1 e classe 2. Isso pode estar relacionado à predominância das
atividades agrícolas e granjas na região (Quadro1), impactando nos corpos hídricos situados
nessa área através da matéria orgânica contida nos resíduos provenientes das atividades ligadas
a esses setores.
No Rio Preto, os valores médios do P9 e P14 atenderam ao limite para água doce classe
1. Entretanto, assim como os resultados dos demais pontos de outros afluentes analisados,
alguns valores ficaram abaixo do fixado pela classe 1, classe 2 e classe 3 (Tabela 1; Tabela 2),
podendo estar relacionados aos impactos das atividades antrópicas na região, já que a área de
contribuição desses pontos amostrais é predominantemente destinada à agropecuária, além de
apresentar instalações de granjas e outras construções (Quadro 1), sendo essas possíveis fontes
de resíduos.
As variações das concentrações de OD estão relacionadas aos processos físicos,
químicos e biológicos nos corpos hídricos (LIBÂNIO, 2010). Segundo Esteves (2011), perdas
para a atmosfera, respiração de organismos aquáticos e oxidação da matéria orgânica feita por
microrganismos contribuem para a redução de oxigênio na água.
Devido à presença de atividades antrópicas, como agricultura, granjas e concentrações
urbanas na área de contribuição da maioria dos corpos hídricos analisados (Quadro 1), as
alterações podem estar relacionadas às consequências ambientais que tais atividades podem
ocasionar.
Ragassi, Américo-Pinheiro e Silva Júnior (2014) destacam a relação do despejo de
efluentes urbanos em um corpo hídrico com a concentração de OD, pois “com os despejos de
efluentes urbanos em um determinado rio, a concentração de matéria orgânica irá aumentar,
causando a proliferação de bactérias que consumirão uma maior demanda de oxigênio
dissolvido na água”.
Barreto et al. (2013) ressaltam que detritos orgânicos quando são descarregados em altas
concentrações em corpos hídricos e associados às boas condições que o meio proporciona,
podem provocar o fenômeno da eutrofização. Tal efeito pode vir a ocasionar mortandade da
fauna no ambiente.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Devido à predominância da agropecuária na área de contribuição (Quadro 1),


Lamparelli (2008) afirma que os resíduos oriundos das atividades ligadas a esse setor alteram
as concentrações naturais de fósforo nos corpos hídricos, o que pode ocasionar aumento do grau
de trofia nos mesmos. Excrementos de animais, fertilizantes e despejos domésticos podem
aumentar a concentração de nutrientes nas águas (VON SPERLING, 2017), uma vez que na
área de estudo são observadas áreas destinas a agropecuária e áreas urbanizadas.
Oxigênio dissolvido e eutrofização estão estritamente relacionados, pois a redução de
OD pode estar relacionada à decomposição aeróbica da matéria orgânica (MO) feita por
microrganismos decompositores e a quantidade em excesso de MO está diretamente ligada à
eutrofização (BARRETO et al., 2013).
No trabalho realizado por Oliveira (2011) no Rio Preto, localizado na mesma bacia, o
valor médio encontrado em quatro pontos analisados na bacia supracitada, em análises feitas
no ano de 2009 durante as estações chuvosa e seca, foi de 3,77 e 4,62 mg.L-1 respectivamente.
Já no Rio Bartolomeu, localizado na Bacia do Rio Bartolomeu, DF, os valores encontrados para
OD durante as estações supracitadas foram de 4,74 e 6,86 mg.L-1. Os valores médios
encontrados no Rio Preto pela autora são inferiores à média obtida no mesmo corpo hídrico,
considerando o período de 2001 a 2014 (P15). A autora ressalta que as águas turvas e com
presença significativa de resíduos podem influenciar na redução da concentração de OD.
Já nos estudos feitos por Oliveira (2009) durante quatro semanas nos períodos seco e
chuvoso no Córrego Estanislau, localizado na referida bacia, os valores médios encontrados
foram de 7,5 mg.L-1 no período chuvoso, e 7,3 mg.L-1, no período seco. A autora destaca que
esses valores podem estar relacionados à maior vazão, que foi de 0,80 e 0,79 m 3/s no período
chuvoso e seco, respectivamente, e velocidade da corrente, resultando na maior turbulência no
fluxo de água e maior difusão do oxigênio atmosférico na mesma. Os resultados são
semelhantes ao valor médio encontrado para o mesmo corpo hídrico no P7, que foi de 7,3 mg.L-
1
, podendo ser indicativo da influência positiva da APP ou causas naturais.
No trabalho feito por Moura (2010) no Ribeirão do Gama e Córrego do Cedro, ambos
inseridos na Bacia do Gama, DF, de 2003 a 2005, foram analisados cinco pontos. Os valores
médios encontrados foram 7,14; 5,96; 5,84; 6,45 e 6,71 mg.L-1 respectivamente. O autor
argumenta que as variações de OD podem estar relacionadas com efluentes urbanos e material
de origem agrícola, assim como observado na bacia hidrográfica do Rio Preto.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando que o Rio Preto é enquadrado como água doce classe 2 e, considerando
ainda, os valores médios para cada ponto amostral, todos estão em conformidade com a
Resolução CONAMA 357/2005. Porém, alguns pontos analisados apresentaram valores abaixo
do estabelecido pela referida classe, o que pode estar relacionado a impactos ambientes
presentes na bacia hidrográfica em questão, como agricultura intensiva, despejos de resíduos e
outros.
Os valores em inconformidade com os limites estabelecidos pela referida resolução
indicam a necessidade de políticas públicas voltadas para a conservação da bacia hidrográfica
do Rio Preto, com implementação de programas de educação ambiental, Programa Produtor de
Água, fiscalização mais efetiva e outras ações para melhorar a qualidade da água.
Esses resultados subsidiarão o planejamento e a gestão ambiental dessa unidade
territorial hidrográfica, de forma que o desenvolvimento econômico seja condizente com a
conservação ambiental, garantido água em quantidade e qualidade para as presentes e próximas
gerações.

AGRADECIMENTO

À Diretoria de Extensão do Instituto Federal Goiano - Campus Rio Verde pela balsa
para desenvolvimento de atividades de pesquisa e extensão.

REFERÊNCIAS

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Águas (PNQA). Disponível em: <http://portalpnqa.ana.gov.br/pnqa.aspx>. Acesso em: 30 abr.
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº


357, de 17 de março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes
ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de
lançamento de efluentes, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

ANÁLISE DO TEMA ÁGUA NO CURSO DE FORMAÇÃO DE


PROFESSORES EM GEOGRAFIA DO INSTITUTO DE ESTUDOS
SOCIOAMBIENTAIS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS.

Ana Paula R. F. Frazão


Universidade Federal de Goiás
anapaulafrazao123@gmail.com

Eliana Marta Barbosa de Morais


Universidade Federal de Goiás
elianamarta.ufg@gmail.com

Resumo: A Geografia tem se mostrado, nos últimos anos, com imenso potencial para a discussão do
tema “água” enquanto conteúdo na Educação Básica e nos cursos de formação de professores. No Ensino
Superior, tal conteúdo se encontra diluído entre as diversas disciplinas obrigatórias da matriz curricular;
mas poucas vezes é tido como elemento protagonista, e quando o é isso se circunscreve apenas às
disciplinas optativas. Diante dessa percepção, foi analisado no presente trabalho como o tema “água”
está inserido no curso de Licenciatura em Geografia do Instituto de Estudos Socioambientais (IESA),
da Universidade Federal de Goiás (UFG), pensando na importância social do tema para a formação do
cidadão, no reconhecimento das temáticas físico-naturais como abordagem para o ensino dessa temática.
Foi feito uma análise de caso qualitativa do curso da UFG com enfoque no Projeto Político Pedagógico
do Curso (PPC) e entrevistas com docentes. A análise do curso de Geografia do IESA mostrou que,
apesar da existência desse tema como conteúdo do curso de Geografia, são necessárias novas abordagens
e metodologias para maior reflexão. O tema “água”, além de muito atual, mostrou-se muito presente no
próprio Currículo de Referência do estado de Goiás, comprovando a necessidade de uma formação
sólida nos cursos de formação de professores de Geografia, que lhes possibilitem construir
conhecimentos para lidar com o tema de forma crítica e integrada.

Palavras-chave: água; temática físico-natural; formação de professores; Geografia.

INTRODUÇÃO
A água se configura como importante recurso natural. Embora cubra 71% do planeta
Terra, não está totalmente disponível para consumo humano, visto que, além de estar presente
nas formas gasosa e sólida, o que há na forma líquida é salgada e com alta concentração de
poluentes. Apenas 1% da água doce é de fácil acesso e pode ser encontrada em rios, lagos,
represas e níveis freáticos, sendo utilizada para sanar vários dos interesses humanos, nem
sempre de forma prudente. A água não se relaciona apenas aos recursos hídricos, ao tempo
meteorológico ou à umidade atmosférica, mas também está ligada às mudanças climáticas e ao
processo de uso e ocupação do espaço.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

A água é um tema importante para o debate nos cursos de formação inicial de


professores de Geografia encontrando-se diluída dentro de diversas disciplinas que perpassam
a análise dos componentes físico-naturais do espaço, como o clima, o relevo, o solo, as rochas,
a vegetação e a geologia, além de estar associada às disciplinas que discutem diretamente as
questões sociais e políticas.

Uma das formas de contribuir com a análise do tema água é ressaltando a importância
da educação e dos cursos de formação de professores, pois eles auxiliam na construção do
conhecimento crítico dos alunos. A Geografia é a ciência que consegue abranger tais assuntos
com conteúdo e visão crítica despertados pela análise geográfica, usando as suas categorias e
conceitos de análise.

O intuito do presente trabalho é contribuir com o curso de formação de professores de


geografia na perspectiva de que os futuros docentes tenham uma formação que os habilite a
trabalhar tais conteúdos na Educação Básica, relacionando-os com a vivência de seus alunos,
já que a água está presente diretamente no cotidiano deles.

Nesse sentido, o objetivo desse trabalho é analisar como o tema “água” é abordado nas
disciplinas do curso de licenciatura em Geografia do Instituto de Estudos Socioambientais da
Universidade Federal de Goiás (IESA/UFG), verificando as contribuições dadas por essas
disciplinas para que os professores em formação ministrem o conteúdo “água” na Educação
Básica. Objetiva-se ainda compreender o tema agua por meio da análise de manchetes de quatro
jornais, dois de circulação nacional e dois regionais, do período de janeiro a outubro de 2017.

Em análise do Currículo de Referência da Rede Estadual de Educação do Estado de


Goiás (REE), verifica-se que esse tema é apresentado no Ensino Fundamental, associando-se a
discussões sobre recursos naturais, ambiente e qualidade de vida. No quinto ano, associa-se aos
aspectos físicos da paisagem, à natureza e à degradação. No sexto e sétimo ano, é abordado de
forma mais específica nos tópicos de “clima” e “hidrografia”.

Segundo Morais (2014), é papel da escola e, em especial, do professor ajudar o aluno


a construir os conhecimentos que lhe permitam realizar essa ação. Para que isso se efetive,
mediado pelo ensino dos componentes físico-naturais, os conteúdos relevo, rochas e solos
devem ser abordados de forma que compreendam as dinâmicas internas de cada um e entre eles,

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bem como as que se estabelecem com a sociedade. Além dos conteúdos mencionados pela
autora, a água se encaixa igualmente no mesmo raciocínio, pois é indispensável para a garantia
de direitos ligados à saúde, essencial para o direito à vida.

O direito à educação também é essencial para alcançar melhor qualidade de vida, pois
essa educação é a base da sociedade, dando o suporte necessário para uma formação crítica e
possibilidade de alcance a tantos outros direitos não conquistados. Então, torna-se necessário
ao futuro professor ter uma boa formação inicial no que tange ao tema “água”.

Conforme Campos Filho (2015), a ótica da questão hídrica não deve ser abordada
apenas de forma técnica, mas também de forma geopolítica, observando a água como algo de
grande importância estratégica para o Estado-Nação, para a economia e para a vida cotidiana.
Logo, conhecimento sólido sobre a importância da água e sua presença no ambiente e em
questões geopolíticas é um modo de preparar os professores e alunos para maior autonomia
intelectual e, assim, pensar em formas de agir a respeito da temática.

A relevância de análises do tema “água” no mundo acadêmico deve-se à inexistência


de pesquisas dessa natureza nos cursos de formação de professores que possam ser analisadas
com o intuito de problematizar o tema e compreender a dificuldade em torno desse tópico na
formação de professores da Universidade Federal de Goiás, campus Goiânia. O conhecimento
da água muito tem a contribuir para melhor relação do aluno com o ambiente.

A pesquisa assenta-se num estudo de caso qualitativo, no qual parte-se de um


referencial bibliográfico como suporte teórico para análise do Projeto Político Pedagógico dos
Cursos e entrevistas com docentes da instituição pesquisada. Mostrando assim a relevância do
tema água no estudo dos componentes físico-naturais do espaço e na formação crítica, dentro
do curso de formação inicial de professores.

RESULTADO E DISCUSSÕES

A água no curso de geografia da Universidade Federal de Goiás

O curso de licenciatura em Geografia do IESA/UFG possui dois turnos de


funcionamento, o diurno e o noturno. Sendo ofertada 30 vagas no diurno e 40 vagas no noturno,

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ambos têm como forma de ingresso o processo seletivo. O curso é gratuito e deve ser concluído
com tempo mínimo de quatro anos e máximo de seis anos.

O curso é semestral e presencial, estruturado em oito períodos/semestres, e suas


disciplinas são distribuídas de modo que o aluno consiga integralizá-lo no final do oitavo
período. As grades diurnas e noturnas são equivalentes e todas as disciplinas obrigatórias têm
a carga horária de 64 horas. Para cursar algumas disciplinas, são exigidos pré-requisitos, a fim
de uma melhor compreensão dos conteúdos e os conhecimentos prévios necessários. Vamos
então observar e analisar a água como conteúdo dentro do curso de licenciatura em Geografia,
usando como ferramentas de análise o PPC, observando seus objetivos e matriz curricular, e
entrevistas com professores.

No Projeto Pedagógico do Curso, são apresentados seis objetivos, que visam


contemplar o que seria necessário para formar um professor de geografia. São eles:

a) Possibilitar a formação de profissionais articulados com os problemas atuais da sociedade e aptos a


responderem aos seus anseios com a indispensável competência alicerçada na qualidade e
especificidade do desempenho profissional;
b) oferecer uma sólida formação teórica e prática baseada nos conceitos fundamentais da profissão do
Licenciado em Geografia que possibilite aos egressos atuarem de forma crítica e inovadora frente aos
desafios da sociedade;
c) possibilitar ao licenciando a aquisição e a construção de conhecimentos e convicções concernentes à
ciência geográfica, aos processos socioeducacionais, psicológicos e pedagógicos; o desenvolvimento
de habilidades e atitudes específicas para atuar de forma crítica e reflexiva na Educação Básica, assim
como para prosseguir estudos em cursos de pós-graduação em nível de especialização, mestrado e/ou
doutorado acadêmicos;
d) adequar a estrutura curricular às propostas apresentadas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para
a formação de professores da Educação Básica nos cursos de licenciatura, representadas pelas
Resoluções do Conselho Nacional de Educação, de número CNE/CP 1/2002 e CNE/CNE/CP 2/2002;
e) adequar a estrutura curricular ao Regulamento Geral de Cursos da Universidade Federal de Goiás;
f) adequar a estrutura curricular às exigências legais e demandas da formação profissional em Geografia.

Analisando os objetivos do PPC, verificamos que eles indicam a formação de um


profissional que consiga responder aos problemas atuais da sociedade, sendo assim, alguém que
esteja disposto a se formar continuamente. Dessa forma, entendemos que o curso tenta manter
atualizadas as discussões ao longo da formação do licenciado. Outro objetivo do curso é buscar
oferecer bases teóricas e práticas necessárias para o futuro professor de geografia, sendo tudo
isso apresentado de forma crítica e inovadora. Mauri e Solé (1996), ao discutirem as atividades
de planejamento e ensino prático, destacam que se deve procurar datá-las de marcos adequados
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

para realizá-las. Esse deve ser o núcleo de seu trabalho profissional, deve-se olhar o que o
momento atual carece e inseri-lo nos planejamentos, como o caso da água, e de forma mais
efetiva nas discussões.

O terceiro objetivo pode ser analisado considerando o debate realizado por Libâneo
sobre os métodos de ensino, o qual se configura na junção entre o método científico, o método
de cognição e o método particular da ciência. Sendo assim, é necessário não apenas saber os
princípios norteadores da ciência ensinada, mas possuir também os conhecimentos
educacionais e psicológicos do ensino. Então é necessário, além de explorar a didática e estágio
nos cursos de licenciatura, também construir conhecimentos verdadeiros sobre os conteúdos da
ciência.

Para finalizar, os últimos objetivos circunscrevem-se a adequar o curso às leis de


formação de professores, Diretrizes Curriculares Nacionais, dando condições para o
desenvolvimento de um ótimo desempenho do profissional que irá atuar no ensino básico,
adequando, portanto, a relação entre a Geografia Acadêmica e a Geografia Escolar. Também
se adequando à própria Universidade, onde está o Instituto, o que se emprega na obrigatoriedade
do aluno cursar, por exemplo, núcleos livres e disciplinas optativas. Além dos objetivos, o PPC
traça um perfil ideal de quais conhecimentos e posturas o aluno deve ter ao final do curso. As
outras divisões do PPC estão em princípios norteadores do profissional e suas subdivisões,
como podemos ver logo a seguir, no sistema conceitual 1.

Sistema conceitual 1 Princípios Norteadores do PPC da licenciatura em Geografia da UFG, 2011.

Principios noteradores
para a formação
profissional

Teoria e prática Ensino e pesquisa Interdisciplinaridade Ética e a função social

Fonte: PPC da licenciatura em Geografia, UFG.

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De acordo com os princípios norteadores para uma boa formação profissional dos
professores, é importante a ligação de quatro eixos: teoria e prática, em que ambas devem
caminhar juntas; ensino e pesquisa, pelo fato de o conhecimento ser construído e não mera
reprodução; interdisciplinaridade, para que os conteúdos conversem entre si; e, por fim, a ética
e a função social, de extrema importância para a atuação do professor de geografia, que busca
a formação da cidadania do aluno. Mas será que de fato isso acontece na prática? Um
documento, por mais legítimo que seja, não é sinal que tudo que está ali é um espelho da
realidade.

Por isso, durante o mês de novembro de 2017, foram realizadas entrevistas com três
professores do IESA/UFG que atuam no curso de licenciatura em Geografia. O intuito das
entrevistas foi o de auxiliar o traçado de um perfil acerca da abordagem da água no curso de
Geografia do IESA/UFG e analisar como o tema é abordado no curso.

A visão e análise dos professores entrevistados nos possibilita uma percepção sobre o
tema “água” de forma mais completa no curso, indo além de uma análise documental, sendo
necessário uma análise individual do professor. Segundo Morais (2011):

Temos a consciência que os problemas relativos à educação não se circunscrevem a


uma análise exclusivamente individual do professor, antes extrapolam a sala de aula.
Contudo, sua resolução passa, necessariamente, por esta apreciação, uma vez que é o
professor, situado historicamente e socialmente, o responsável por intermediar a
relação que o aluno mantém com o conhecimento escolar.

Como ressalta Morais, as entrevistas não são autossuficientes para análise, devido ao
fato do professor não ser o único agente no processo de ensino e aprendizagem, existindo
também um currículo e normas em cada ambiente de trabalho, mas o docente ainda possui um
papel importante na formação inicial desses professores acerca da temática “água”.

Os três professores entrevistados trabalham com o tema “água” em suas disciplinas e


pesquisas acadêmicas. Ao entrevistá-los, queríamos uma análise de formação de professores
que fosse além da sala de aula, integrando as diversas atividades desenvolvidas em todo o
Instituto e as possibilidades apresentadas fora da matriz curricular, considerando que a
formação do professor deve ser construída em diversos momentos de sua formação.

Inicialmente, foi perguntado aos três professores: “A água é imprescindível para todas
as formas de vida do planeta, além de ter valor estratégico, se tornando assim um tema muito
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

relevante e que entra constantemente em debate, além de abranger várias questões geográficas,
unindo os aspectos físicos, políticos e sociais. Sendo assim como você observa esse tema dentro
do IESA, de forma que contribua para auxiliar a formação de professores?”

Para todos os professores, o curso contribui no quesito básico sobre o tema, porém a
discussão está totalmente desatualizada, não apenas na dimensão política como também na de
ordem física, conforme pode ser observado nas justificativas a seguir:
Ao mesmo tempo a abordagem do problema hídrico repete os mesmos equívocos que
são comuns nos meios de comunicação, focando mais no desperdício urbano e
enfatizando na necessidade de economizar, reduzindo os gastos domiciliares da água.
É preciso ir bem mais além do que isso, pois a falta de água nas torneiras irá decorrer
muito menos do excesso de consumo, e muito mais de como está sendo gerenciado
esses recursos e de como estão sendo preservadas suas fontes, como veredas,
nascentes, córregos e rios. (Prof. 1)
Muitas disciplinas que estão no corpo da Geografia, ainda não fizeram essa transição,
ainda não estamos atualizados, não estamos a par das atualidades que esse elemento
está apresentando. Há muitas coisas que eu que dando aula de recursos hídricos até
alguns anos achávamos que eram hipotéticas: o rio vai secar, alguma vez vamos ter
conflito lá na frente, hoje vemos que tudo isso está acontecendo, que foi previsto há
dez, quinze anos. Ainda trabalhamos com conceitos relativamente antigos e com
aquela utopia que nunca vamos ter problemas com água. (Prof. 2)
Sinto falta de ver as águas subterrâneas serem trabalhadas ao longo do curso, muitos
alunos chegam com muita informação solta sobre a água e não conseguem organizá-
las de forma geográfica. (Prof. 3)

Apesar das críticas sobre a falta de atualização do tema, os professores deixam claro
que este não é um problema apenas do curso de Geografia do IESA/UFG, mas do Brasil como
um todo, o que acaba dificultando a inserção dessa discussão com maior propriedade na
sociedade.

Os professores também citaram o auxílio que as disciplinas optativas oferecem para


os alunos que desejam se aprofundar nessa temática. O Prof. 3 ressaltou que essas disciplinas
estão disponíveis todos os anos, com trabalhos de conclusão de curso acerca da temática, sendo
uma das contribuições na formação inicial de professores do IESA/UFG. Além das disciplinas
obrigatórias que trabalham o tema diluído em outros conteúdos, existem muitos conteúdos que
necessitam da compreensão da água em algumas esferas, como vemos na tabela 7.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Tabela 7 A água nas disciplinas obrigatórias no curso de Geografia, na UFG, 2011


Disciplinas A água como
Conteúdo
Geologia Ciclo Hidrológico, formação/estrutura da terra.
Geomorfologia Água como agente modelador do relevo, bacia hidrográfica.
Pedologia Solos hidromórficos
Climatologia Massas de ar, chuva, clima.
Biogeografia Na própria ecologia do cerrado (veredas).
Geopolítica A água e o seu valor estratégico.
Fonte: PPC da Geografia UFG, 2011.
Organização: Ana Paula R. F. Frazão

A tabela foi construída através das ementas das disciplinas do curso de licenciatura em
Geografia do IESA, e nela observamos que em algumas a água aparece diluída entre os
conteúdos obrigatórias das disciplinas. Além de ser abordado nessas disciplinas, o Prof. 2 diz
que outros professores, que trabalham com áreas mais sociais, entram nesse debate em suas
disciplinas, mesmo não sendo um conteúdo especifico delas.
Para esse docente uma dificuldade que vai além das possibilidades de resoluções no
contexto do próprio Instituto, demostrando a dificuldade de os professores da área física de
conseguir infraestrutura e instrumentos sofisticados.

Nem todos os casos são por falta de tecnologia. Alguns são pela burocracia que é
conseguir trabalho de campo na universidade em alguns períodos políticos do Brasil. A
universidade pública depende de recursos e incentivos para alcançar melhor um conteúdo ligado
a prática.

Quando o PPC entra nas habilidades específicas do profissional da Geografia, ele fala
de forma recorrente da importância de dominar os conhecimentos e analisar os sistemas naturais
em todos os seus aspectos físicos e sociais. Sendo a água vital à vida e um recurso natural,
torna-se um objeto que requer atenção no curso.

Para os professores mesmo com os problemas apontados, como uma matriz curricular
que não consegue englobar ainda o tema de forma obrigatória no seu núcleo comum, o Prof. 3
lembra que o curso se fortalece ao possuir tantos professores que trabalham com a temática há
tantos anos, explicitando que muitos cursos não possuem esse suporte.

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Para finalizar as entrevistas, foi perguntado aos professores como eles observam o
desenvolvimento dos alunos acerca do tema “água”, considerando as diversas experiências que
possuem como professores das disciplinas e em suas atuações em projetos de pesquisa com
bolsistas PIBIC e PIBID, considerando que a formação do professor não se restringe apenas à
sala de aula, mesmo que na formação inicial. O Prof. 3, conclui que, apesar do tema ser mais
presente no curso de Geografia da UFG do que em outros cursos de formação de professores,
os alunos chegam com enorme dificuldade em trabalhar o tema de forma geográfica, tanto no
PIBID, como no grupo de estudos e em temas de aulas dos alunos do estágio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mediante a análise do PPC do curso e as entrevistas realizadas dos professores que


trabalham na formação inicial, abrangendo os três eixos importantes da geografia e do PPC,
percebemos que, sim, existe uma carência ao falarmos do tema água no IESA/UFG, faltando
uma discussão mais aprofundada. No entanto, devemos ressaltar que tendo em vista os
professores que pesquisam ativamente o tema e as várias disciplinas optativas, o curso caminha
para um aperfeiçoamento da resolução desse problema na formação dos futuros professores
conseguindo talvez com oficinas voltadas para a formação inicial e até continuada e uma
frequência de eventos anual fomentar e apoiar na compreensão do tema. O tema é sério e
primordial e o curso de formação de professores em Geografia da Universidade Federal de
Goiás possui todas ferramentas para melhor trabalhar o tema.

Grande parte dos professores formados pelas universidades atuam apenas com os
conhecimentos específicos adquiridos na sua formação inicial. Quando realizam os cursos de
formação continuada, comumente esses situam-se na dimensão pedagógica e didática. Embora
essa formação seja importante, ela não prescinde do trabalho com o conteúdo. E o tema água é
um dos importantes conteúdos a serem tratados nesses cursos de formação continuada.

REFERÊNCIAS

GRAMÁTICA DO MUNDO. A crise hídrica em São Paulo. Disponível em:


<https://gramaticadomundo.blogspot.com.br/2014/11/a-crise-da-agua-em-sao-paulo.html>.
Acesso em: 11 out. 2017.
______. Enquanto a chuva cai a água se esvai. Disponível em:
<https://gramaticadomundo.blogspot.com.br/2017/11/enquanto-chuva-cai-agua-se-
esvai.html>. Acesso em: 24 nov. 2017.
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

LIBÂNEO, J.C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.


MAURI, Maria Tereza; SOLÉ, Isabel. A formação psicológica do professor: um instrumento
para a análise e planejamento do ensino. In: COLL, César et al. Psicologia da educação. v.2.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
MORAIS, Eliana Marta Barbosa de. As temáticas físico-naturais nos livros didáticos e no
ensino de Geografia. Revista Brasileira de Educação em Geografia. v. 4, p. 175-194. 2014.
______. O ensino das temáticas físico-naturais na Geografia escolar. Tese (Doutorado).
Departamento de Geografia, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade
de São Paulo (USP). São Paulo, 2011.

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ANÁLISE MULTI-TEMPORAL DA CORRELAÇÃO ENTRE NDVI, RELEVO E


PRECIPITAÇÕES NA REGIÃO CENTRO SUL DO DISTRITO FEDERAL, BRASIL

Elton Souza Oliveira


Universidade Estadual de Goiás – Câmpus Formosa
elton.gea@gmail.com

Resumo: Os processos de alterações da cobertura vegetal fazem parte das discussões ambientais e sócio-
políticas há algumas décadas, pois a mesma possui influência direta sobre o clima. O presente estudo
aborda as relações entre cobertura vegetal, com base nos índices de NDVI (Índice de Vegetação por
Diferença Normalizada), relevo e precipitações na parte centro sul do Distrito Federal. A pesquisa se
deu por meio das análises de dados pluviométricos, processamento digital de imagens de satélite e
modelo digital de elevação (MDE) no período compreendido de 1985 a 2006. Os resultados
demostraram variações da precipitação, dos índices de NDVI e a correlação das chuvas com o relevo.
As áreas com relevo mais acidentados obtiveram maior correlação com os volumes pluviométricos,
demostrando a maior ação do relevo sobre a distribuição das chuvas.

Palavras-chave: MDE, chuvas, mapeamento.

INTRODUÇÃO
No atual contexto hídrico em que o país se encontra é de extrema importância o
entendimento da distribuição das chuvas, nesse sentido a utilização de técnicas de
geoprocessamento e sensoriamento remoto configuram-se como ferramentas importante para
tal entendimento. Entre os procedimentos de análise e produção de dados espaciais secundários
os métodos de interpolação apresentam bom desempenho. Entre os diversos métodos existentes
para interpolação de dados Nogueira e Amaral (2009) definem que o método Top to Raster
apresenta bons resultados uma vez que foi projetado com o objetivo especifico de transformar
dados vetoriais em modelos hidrológicos de elevação de terreno exatos.
Existem diversos métodos de criação de Modelo Digital de Elevação (MDE)
apresentados em várias bibliografias (FERNANDES; MENEZES, 2005) e entre os métodos a
Rede Irregular Triangular - TIN (Triangular Irregular Network) é defendido como um método
satisfatório (MOORE et al., 1993). Além dos estudos utilizando técnicas de geoprocessamento
é consenso na literatura que o sensoriamento remoto se constitui, também, como uma técnica
de grande relevância para monitoramento da dinâmica da vegetação. Segundo Santana e
Oliveira (2013) a difusão das imagens de satélite tornou-se um ótimo meio para estudos de
quantificação e levantamento da ocupação agrícola, fator este que pode se estender para os
demais objetos a serem estudados na superfície terrestre. Os estudos de dados multitemporais

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estendem-se nos mais variados campos da pesquisa (ALENCAR et al., 1996; WATRIN et al.,
1998; OLIVEIRA, 2013).
Entre os índices utilizados no monitoramento da vegetação o Índice de Vegetação da
Diferença Normalizada (NDVI) apresenta vantagens principalmente devido a sua facilidade de
aquisição. Segundo Silva et al., (2012) o NDVI é o resultado de combinações lineares de dados
espectrais que realçam o sinal da vegetação e ao mesmo tempo minimiza as variações de
irradiância solar. Costa, (2003) defende que analisar os índices de NDVI configura-se como um
mecanismo para a compreensão dos processos hidrológicos, entre outras finalidades.
É importante ressaltar que em estudos de monitoramento da vegetação, principalmente
agrícola, as precipitações pluviométricas são reconhecidas como uma importante variável
climatológica. O seu excesso ou escassez configura-se como um fator limitante a estabilização
e desenvolvimento da produção agrícola (MORAES et al., 2005). Segundo Baldo et al., (2001)
a ação do clima juntamente com as condições atmosféricas influenciam todas as fases de
desenvolvimento agrícola uma vez que exerce forte influências nas fases de florescimento,
frutificação e até mesmo na colheita.
Segundo Silva et al., (2007) os regimes pluviométricos possuem sua variabilidade
natural, porém podem ser afetados por transformações da superfície terrestre, essas
transformações geram incertezas e comportamentos irregulares. Esses fatores geram alternância
entre períodos secos e chuvosos, quente e frio e gerando com isso repercussões de ordem
calamitosas sobre os vários espaços geográficos.
Diante do exposto o trabalho objetivou avaliar a variação dos volumes de precipitações
de 1985 a 2006, em uma região de referência no Distrito Federal, utilizando imagens de satélite
para obtenção do NDVI e MDE a fim de compará-los com os dados de precipitação buscando
com isso compreender possíveis correlações entre tais variáveis.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa foi realizada na região centro sul do Distrito Federal, área de preservação
Cabeça de Veado, parte sul do Lago Paranoá e parte da Bacia do São Bartolomeu. A área
encontra-se sob o domínio climático controlado pela ação da massa de ar polar atlântica, massa
de ar tropical atlântica, massa de ar tropical continental e da massa de ar equatorial continental,

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ação que resulta na definição de dois períodos bem definidos: um seco e outro úmido
(COELHO; STEINKE; STEINKE, 2012).
As imagens utilizadas foram adquiridas no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE), processadas com o software ArcGis 10.1. As imagens utilizadas foram do satélite
Landsat-5, sensor TM+ na órbita/ponto 221/71, nas datas correspondentes a 14/06/1985,
27/07/1989, 10/06/1995, 23/06/2000 e 24/06/2006. A aquisição teve como critério o intervalo
de tempo aproximado, respeitando-se o mês de aquisição das imagens pelo sensor, bem como
a ausência de nuvens sobre a área de estudo.
Para a obtenção do NDVI utilizou-se as bandas 4 e 3 do Landsat – 5 TM+. Sua geração
se deu pela diferença entre a reflectância do infravermelho próximo (IVP) e a reflectância do
vermelho (V), dividida, respectivamente, pela soma das duas refletâncias (LIU, 2006), equação
abaixo.

Os valores encontrados de NDVI por meio da equação são utilizados para identificação
da condição e da quantidade de vegetação verde na superfície e seus valores variam de -1 a 1,
onde quanto mais próximo de 1 maior a presença de áreas vegetadas ou com algum tipo de
vegetação e quanto mais próximo de -1 aplica-se o entendimento reverso, menor presença de
vegetação. Após o processo de obtenção do NDVI de cada uma das imagens foi realizado o
fatiamento, etapa para o agrupamento dos valores de NDVI por tipos de cobertura, separando
o resultado - assim - em 4 classes, são elas: vegetação rala (VR), vegetação ausente (VA) e
vegetação densa (VD) e massa d’água (MA).
Após o processo de fatiamento foi aplicado o Filtro Majoritário (Majority Filter) para a
“limpeza” de pixels que possam ter sido classificados erroneamente gerando com isso pontos
pequenos dentro de classes maiores (OLIVEIRA, 2013). Os dados pluviométricos utilizados
durante as análises são provenientes do sistema HIDROWEB-ANA (Agência Nacional das
Águas). Após seleção das estações foram realizados os procedimentos de organização e
posterior análise dos dados, conforme organograma de atividades apresentado (Figura 2).

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Aquisição de Imagens Aquisição de dados Aquisição de dados


vetoriais pluviométricos

Avaliação dos dados

Georreferenciamento Organizaçã Tabulação dos dados


o dos dados vetoriais pluviométricos

Geração do NDVI Pontos Cálculo das médias


cotados
Hidrografia anuais
linearCurvas de
Aplicação de filtro e nível Massas
recorte da área
d’águaLimite da
área
Cruzamento dos dados
Geração do
MDE
Interpolação
Fatores de Interferência dos índices Geração dos
das chuvas pluviométricos gráficos
Figura 2. Estrutura da análise dos dados.

Os dados obtidos das estações foram relativos a valores diários de chuva. Para fins de
comparação com os índices de NDVI os dados foram tabulados. A partir da tabulação foram
calculados os valores de médias mensais e acumulado anual de chuvas em cada uma das
estações, para fins de comparação os dados foram levados ao ambiente ArcGis 10.1 para
realização de interpolação dos mesmos.
Afim de padronizar os produtos gerados foram definidos valores para os volumes
pluviométricos, esses valores encontram-se nas seguintes classes: Baixo (0 a 1231 mm), Médio
(1231 a 1489 mm), Alto (1489 a 1717 mm) e Muito Alto (acima de 1717 mm). Após o processo
de interpolação foi calculado os valores de Mínimo, Média e Máximo dos dados de chuva. Os
padrões foram definidos com base nos valores médios anuais da série histórica de 21 anos
analisada.
Os dados interpolados seguiram o método Top to Raster e em seguida os produtos
matriciais deram origem aos subprodutos de valores médios da área de estudo. A espacialização
seguiu as definições clássicas de interpolação que a caracteriza como a arte de ler entre valores
de uma tabela (SADOSKY, 1980) já Stark (1979) refere-se ao processo de interpolação como

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um procedimento matemático de se obter, ou achar, valores intermediários entre os valores reais


ou discretos de uma função.
Para a geração do modelo digital de elevação foram utilizadas informações referentes a
drenagem, massas d’água, pontos cotados, curvas de nível e limite da área de estudo. A
metodologia para geração do MDE foi a TIN (Triangular Irregular Network), a utilização do
TIN demonstra-se satisfatório segundo Fernandes e Menezes (2005) visto que esse
procedimento preserva características topográficas do terreno além de possibilitar melhorias no
modelo por meio da utilização de linhas de máximo e de mínimo, dados de divisores e
hidrografia. Para a comparação dos dados de relevo e chuva foi utilizado um transecto ao longo
da área de estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O processo de interpolação dos valores de chuva acumulada anual resultou na
distribuição dos valores ao longo da área de estudo. Por meio dos mapas (Figuras 3-A, 3-B)
pode-se observar a distribuição dos volumes de chuva no ano inicial e final da área de estudo.

Figura 3-A. Chuvas (mm) em 1985, ano início. Figura 3-B. Chuvas (mm) em 2006, ano fim.

É possível observar que no ano de 2006 houve áreas dentro da poligonal de estudo onde
houve chuvas caracterizadas como Muito Alto. O evento ocorreu em áreas com nível altimétrico
predominantemente acima de 1163 m de altitude, indicando uma possível correlação com o
relevo. Para prosseguimento das análises foram extraídos os valores médios de cada um dos
anos a fim de compara-los com os índices de NDVI obtidos (Figuras 4-A, 4-B) e que foram
reclassificados para classes de cobertura vegetal (Tabela 2).

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Figura 4-A. Classes – NDVI de 1985, ano início. Figura 4-B. Classes – NDVI de 2006, ano fim.

Tabela 2. Classes de cobertura, em Km², com base no NDVI.


CLASSES – NDVI (Km²)
ANO
MA VA VR VD
1985 5 116 245 155
1989 5 121 252 143
1995 5 101 323 93
2000 5 137 250 130
2006 5 122 289 106

Além dos valores de classes de NDVI os valores de acumulado de chuva anual, também,
foram tabulados após o processo de interpolação e podem ser observados abaixo juntamente
com os valores de mínimo, máximo e desvio padrão (Tabela 3).
Tabela 3. Valores pluviométricos após interpolação
VOLUME DE CHUVA (mm)
ANO
MÍNIMO MÉDIA MÁXIMO DESVIO PADRÃO
1985 1025 1442 1698 141
1989 1258 1470 1596 83
1995 1235 1524 1726 117
2000 1277 1404 1726 73
2006 1362 1605 1840 90

Buscando-se compreender a inter-relação das classes de NDVI e os volumes de chuva


foi calculado o coeficiente de correlação de Pearson (R) da média acumulada (MAA) e as
classes de NDVI. Segundo Filho e Júnior (2009) são várias as interpretações do que seriam
valores ideais dentro dessa análise, porém no presente estudo optou-se por adotar os seguintes

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padrões (válidos tanto para valores positivo quanto negativo): 0,00 a 0,19 – correlação bem
fraca; 0,20 a 0,39 – correlação fraca; 0,40 a 0,69 – correlação moderada; 0,70 a 0,89 – correlação
forte e 0,90 a 1,00 – correlação muito forte.
Os resultados obtidos na correlação dos índices foram -0,42 para correlação MAA x
VA, 0,69 para correlação MAA x VR e -0,69 para correlação MAA x VD. Não foram calculados
os índices em relação a MA pois a presente classe não apresentou variação na escala do
mapeamento. Além dos índices apresentados pode-se observar a evolução das chuvas bem
como a evolução das classes de cobertura, no gráfico abaixo (Gráfico 1).

Gráfico 1. Evolução dos índices de chuva e NDVI

Por meio dos índices de correlação foi possível verificar que se tratando de valores de
chuvas acumuladas anual a cobertura vegetal não foi um fator com potencial preponderante, na
presente área de estudo, para determinação dos índices pluviométricos uma vez que apresentou
nas diversas classes de cobertura uma correlação classificada como moderada. Apesar de Costa
et al., (2003) demonstrarem por meio de seus estudos que existe uma correção direta do NDVI
com eventos de precipitações em anos de chuvas extremas, quando um cresce o outro
acompanha, tal característica não pode ser observada na presente área de estudo.
Observa-se que sempre que houve uma redução das áreas de VD, 1989 a 1995 e 2000 a
2006, houve em contrapartida um acréscimo nos valores MAA. O mesmo aplica-se para as
áreas de VA explicando-se com isso os valores de “R” negativos. Pode-se inferir que na
presente área a cobertura que melhor se correlacionou com os índices de MAA foi a VR.

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Entre os possíveis agentes controladores das chuvas na área de estudo o relevo encontra-
se entre os analisados. Após o processo de geração do MDE observou-se a existência de uma

variação significativa do relevo dentro do presente poligonal de estudo por meio do traçado de
dois transecto, de A a B e de C a D (Figura 5).
Figura 5. Transecto com perfil topográfico.

Os resultados comparando os valores de MAA de chuvas com os valores de elevação


do relevo, extraídos por meio dos transectos, demonstram que existe um controle exercido por
parte do mesmo. Fator esse que se pode observar devido a maior concentração de chuvas nas
áreas de chapada. Evidencia-se ainda uma diferença nos regimes pluviométricos existentes na
porção leste (Bacia do São Bartolomeu) e na porção oeste (Bacia do Paranoá). As relações
existentes podem ser observadas por meio dos transecto A-B e C-D comparando as MAA com
os valores de relevo, em metros (Figuras 6-A, 6-B, 6-C, 6-D e 6-E).

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Figura 6-A. Chuvas sobre o relevo em 1985, ano início. Figura 6-B. Chuvas sobre o relevo em 2006,
ano fim.

As variações das MAA podem ser observadas ao longo de cada um dos transectos
traçados sobre a área de estudo. No transecto A-B (Gráfico 2) observou-se que houve correlação
forte, 0,77 e -0,71, para os anos de 1985 e 2000; correlação moderada, 0,56 e 0,58, para o ano
de 1995 e média geral dos 21 anos e correlação bem fraca, 0,14 e 0,03, para os anos de 1989 e
2006.
Apesar das correlações apresentadas ressalta-se que os índices sofrem interferência de
outros fatores externos, como uso e ocupação do solo e eventos globais de mudanças de massas
de ar, que não fizeram parte do presente objeto de estudo.
Gráfico 2. Distribuição das chuvas: transecto A-B.

Ao longo do transecto C-D (Gráfico 3) observa-se uma menor interferência do relevo


sobre os índices de MAA de chuvas. O fator explica-se devido o transecto cortar uma maior
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parte da área de estudo com relevo menos acidentado, diminuindo com isso as correlações.
Houve correlação bem fraca, -0,04 e 0,06, para os anos de 1989 e 1995; correlação fraca, 0,21,
para a média geral dos 21 anos; correlação moderada, -0,45, 0,65 e 0,69, para os anos de 1985,
2000 e 2006.
Gráfico 3. Distribuição das chuvas: transecto C-D.

Um dos fatores que possivelmente interferiram nos índices de correlações, além dos já
citados anteriormente, é a heterogeneidade da área uma vez que a poligonal de estudo
compreende uma grande mancha urbana na porção oeste e áreas agrícolas e fragmentos de
vegetação natural na porção leste.

CONCLUSÃO
Por meio das análises apresentadas foi possível constatar a interferência do relevo como
um dos agentes controlador das chuvas, na presente área de estudo. Os estudos ainda apontaram
que os índices de NDVI, na classificação apresentada, não obtiveram correlação forte o
suficiente para ser considerado como agente controlador das chuvas ao longo do período de
1985 a 2006.
Ressalta-se, porém, que as análises serviram para entendimento da distribuição espacial
da precipitação na área de estudo uma vez que o procedimento de análise permitiu o
mapeamento e espacialização das MAA. Além das informações já apresentadas ressalta-se a
complexidade do entendimento da distribuição das chuvas na presente área carece de uma maior

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quantidade de dados e análises uma vez que a poligonal de estudo abrange duas bacias distintas
com características próprias.
No que se refere aos procedimentos de coleta, elaboração e análise de dados a
metodologia adotada demostrou-se satisfatória, uma vez que foi capaz de identificar os
procedimentos necessários para análise da espacialização das chuvas e indicação de possíveis
correlações com demais características e limitantes da pesquisa ao longo das análises.

REFERÊNCIAS
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

AS TEMÁTICAS FÍSICO-NATURAIS E A REDE HIDROGRÁFICA NA


GEOGRAFIA ESCOLAR: UMA ANÁLISE DOS PARÂMETROS
CURRICULARES NACIONAIS (PCNs)

Camylla Silva Otto


Universidade Federal de Goiás
camyllaotto@gmail.com

Dra. Eliana Marta Barbosa de Morais


Universidade Federal de Goiás
elianamarta.ufg@gmail.com

RESUMO: No presente artigo analisamos as temáticas físico-naturais e a rede hidrográfica nos


Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e no Currículo Referência da Rede Estadual de Educação
(REE) de Goiás, como uma temática físico-natural abordada na Geografia Escolar. Essa análise cumpre
com o objetivo de auxiliar os docentes a refletirem sobre o ensino dessa temática na Educação Básica,
considerando a cidade onde alunos e professores residem como referência para encaminhar o ensino
assentado na construção de conhecimentos significativos. Para subsidiar essa discussão foram realizadas
revisão bibliográfica, análise de questionários semiestruturados aplicados a professores de Geografia da
Rede Estadual de Educação (REE) de Caldas Novas/GO, análise dos PCN’s de Geografia, análise do
Currículo Referência da REE de Goiás. Como resultado verificamos a abordagem das temáticas físico-
naturais nos documentos curriculares de forma pouco significativa, cabendo ao docente a ênfase desse
ensino.

Palavras-chave: Ensino de Geografia. PCN’s. Currículo Referência de Goiás. Caldas Novas/GO.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Aos professores, cabe a importante tarefa de mediar a construção do conhecimento


que será realizada em sala de aula. Como parte do processo de ensino, o planejamento é
realizado com o intuito de evidenciar as melhores formas de efetivar a aprendizagem. Dentre
os documentos que auxiliam os docentes a realizarem essa tarefa estão os referenciais
curriculares, conforme identificamos ao questionar os professores de Geografia da Rede
Estadual de Educação (REE) de Caldas Novas sobre os principais instrumentos utilizados
durante o planejamento das aulas. Estiveram presentes na fala desses professores o Currículo
Referência da REE, o livro didático e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s).
Os professores ressaltaram que todas as escolas adotam o Currículo Referência, e
que eles o utilizam integralmente para planejar as aulas, sobressaindo, portanto, o curriculo em

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relação a outros materiais pedagógicos para a seleção dos conteúdos a serem trabalhados em
sala de aula.
Todavia, os professores demonstraram que a utilização do Currículo Referência da
REE não é a princípio, por escolha própria, mas se deve à uma exigência superior, assim se
expressando:
Utilizo integralmente, pois não há outra forma de planejar as aulas sem o uso
curricular. Isso é uma exigência da escola (Prof. REE 1); Porque temos o controle
online pelo SIAP (Sistema Administrativo e Pedagógico). E eu só posso usar textos
extras, não posso “fugir” do sistema (Prof. REE 3); O Currículo é elaborado para
trabalhar os conteúdos em determinado bimestre simultaneamente em todas as aulas
estaduais. Então nós o utilizamos em sua totalidade, porque é exigido aos professores
(Prof. REE 5); e, Aqui infelizmente os conteúdos já vêm ditados para nós, então não
tem como selecionar. Então é o Currículo Estadual de Goiás que eu utilizo. Só uso
mais alguns textos para complementar (Prof. REE 6).

Assim, sabendo-se que os professores de Geografia utilizam o currículo referência


como subsídio ao planejamento que efetivam na Educação Básica para encaminhar o processo
de ensino e aprendizagem, levantamos o seguinte questionamento: os PCN’s de Geografia
contribuíram para a organização de conteúdos voltados às temáticas hídricas no currículo da
REE de Goiás, e consequentemente, para essa análise em sala de aula na Educação Básica? Foi
com o intuito de discutir esse questionamento que apresentamos o presente texto.

AS TEMÁTICAS FÍSICO-NATURAIS NOS PCN’S

Os PCN’s foram elaborados pela necessidade de o Estado construir uma referência


nacional comum às regiões brasileiras (BRASIL, 1998). O estado explicita que para a
elaboração dos PCN´s houve a participação dos professores do Ensino Superior e da Educação
Básica. Embora existam críticas quanto à sua forma “centralizada e verticalizada” de
organização, as quais são justificadas pelas orientações de organismos multilaterais como o
Banco Mundial, que por meio do financiamento das propostas curriculares, realizam o controle
das mesmas (CACETE, 2013).

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Nos PCN’s o Ensino Fundamental é dividido em 4 ciclos escolares, sendo cada um


composto por duas séries, iniciando na 1a e findando na 8a (atual 9° ano). As propostas
curriculares se desdobram em 8 grandes áreas de conhecimentos, dentre elas está a área de
Geografia. É nos PCN’s de Geografia correspondentes aos 3° e 4° ciclos (6° ao 9° ano), que
analisamos o conteúdo rede hidrográfica.
Os PCN’s estão estruturados em duas partes, primeiramente há uma
contextualização geral da Geografia, e posteriormente, há as orientações para o trabalho dessa
disciplina no Ensino Fundamental (BRASIL, 1998). Os idealizadores dos documentos
expressam que por meio destes, esperam que:
[...] os Parâmetros sirvam de apoio às discussões e ao desenvolvimento do projeto
educativo de sua escola, à reflexão sobre a prática pedagógica, ao planejamento de
suas aulas, à análise e seleção de materiais didáticos e de recursos tecnológicos e, em
especial, que possam contribuir para sua formação e atualização profissional
(BRASIL, 1998, p. 05).

Em uma análise físico-natural da primeira parte do texto, chamou-nos a atenção a


quantidade de argumentos relativos às temáticas ambientais. Há, ao longo das 44 páginas
iniciais, 44 vezes alusão à palavra paisagem, e 42 vezes à palavra natureza, na perspectiva dos
temas físico-naturais, certificando a preocupação que possuem em relação a essa temática. Os
diálogos ambientais ocorrem em torno de três concepções teóricas: teoria tradicional de
educação, na qual a relação entre homem e natureza é estabelecida pela adaptação; ideais
marxistas, onde a relação entre sociedade, trabalho e natureza é estabelecida como produto de
produção e apropriação desigual; e a terceira, própria dos PCN’s, na qual se estabelece que haja
uma relação mútua entre os elementos físicos e os sociais, afirmando que: “[...] o estudo da
sociedade e da natureza deve ser realizado de forma interativa” (BRASIL, 1998, p. 30).
Os documentos apoiam-se na última perspectiva em detrimento das anteriores,
alegando que as duas primeiras são insuficientes à educação pelas características positivistas e
ortodoxas militantes que possuem. Entretanto, parece-nos contraditória a concepção físico-
natural que possuem ao sinalizarem que os alunos devem compreender as relações que
resultaram “[...] em uma apropriação histórica da natureza pela sociedade, mediante diferentes
formas de organização do trabalho, de perceber e sentir a natureza, de nela intervir e transformá-
la” (BRASIL, 1998, p. 39), concepção esta que também se fundamenta nos ideais marxistas.
Na tentativa de identificar a corrente de pensamento utilizada nos parâmetros
curriculares de Geografia, Oliveira (1999) indica que essa análise causa certa frustração, pois
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os autores dos PCN’s, ao mesmo tempo em que adotam concepções como o positivismo,
empirismo, historicismo, dialética, fenomenologia, além de esboçarem conceitos pessoais, os
documentos carecem de consistência conceitual e lógica. Nos documentos, não são explícitos
os ideais utilizados para o encaminhamento das propostas, deixando em aberto às múltiplas
possibilidades de interpretações. Nesse sentido, Oliveira (1999) assinala que, há a necessidade
de revisões críticas ao pensar, considerando o âmbito ao qual se destina e, considerando, ainda
que as concepções apresentadas no texto são antagônicas.
Na segunda parte do documento, a qual se destina às orientações da Geografia para
o ensino fundamental, desdobram-se em eixos, temas e itens. Dos 4 eixos do 3° ciclo,
identificamos um eixo que aborda as temáticas físico-naturais, e dos 10 temas, selecionamos 2;
Do 4° ciclo, de 3 eixos, um é selecionado e, de 10 temas, 6 indicam estudos físico-naturais.
Assim, os temas circundantes ao ensino das temáticas físico-naturais nos 3° e 4° ciclos do
Ensino Fundamental correspondem a 28% (2) dos eixos norteadores e 40% (8) do total de temas
(Quadro 1).

Quadro 1 – Eixos e temas físico-naturais dos PCN’s de Geografia dos 3° e 4° ciclos do Ensino
Fundamental, 1998.

3° Ciclo 4° Ciclo
Eixos

Modernização, modo de vida e problemática


O estudo da natureza e sua importância para o homem
ambiental

Paisagens e diversidade territorial no Brasil

O processo técnico-econômico, a política e os


problemas socioambientais
Os fenômenos naturais, sua regularidade e
possibilidade de previsão pelo homem Alimentar o mundo: os dilemas socioambientais
Temas

para a segurança alimentar


A natureza e as questões socioambientais
Ambiente urbano, indústria e modo de vida

O Brasil diante das questões ambientais

Ambientalismo: pensar e agir


Fonte: BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s): Geografia. Secretaria de Educação Fundamental,
1998.
Organizado por Camylla Silva Otto, 2015.

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No terceiro ciclo, considera-se que é importante estudar os fenômenos naturais para


“[...] construir raciocínios lógicos sobre as leis que regulam o universo dos fenômenos naturais,
reconhecendo a relevância desse conhecimento tanto para a continuidade do avanço das
ciências da natureza como para a sua vida prática” (BRASIL, 1998, p. 60). Neste ciclo, de 102
itens, 45 (44%) relacionam-se às temáticas ambientais. Desses, dois (4%) relacionam-se
diretamente à rede hidrográfica:
• As águas e o clima;
• Águas e terras no Brasil.

No quarto ciclo, é destacado como necessário “[...] polemizar a questão dos modos
de vida atuais, sejam eles urbanos ou rurais, evidenciando os aspectos sociais, culturais e
ambientais comumente percebidos como produtos da modernidade, da evolução da técnica [...]”
(BRASIL, 1998, p. 113). Neste ciclo, de 104 itens, 62 (60%) correspondem aos estudos físico-
naturais. Desses, 6 (10%) se circunscrevem aos estudos hídricos, conforme pode ser observado
a seguir:
• Agricultura tecnificada, insumos agrícolas e poluição das águas de
superfície;
• Ambiente urbano: água para todos;
• Ocupação de áreas de risco: alagadiços, encostas, etc;
• Saneamento básico: água e esgoto e qualidade ambiental urbana;
• Impacto de impermeabilização do solo nas cidades e os efeitos na
drenagem;
• Impactos das grandes barragens e açudes.

A importância dada aos estudos ambientais é notória no decorrer de todo o


documento. Essas constatações declaram as inúmeras possibilidades de trabalhar com o
conteúdo rede hidrográfica no Ensino Fundamental. Além das temáticas elencadas, há outras
possibilidades de desenvolver estudos ambientais, e consequentemente hídricos, ao relacionar
esse ensino a outras temáticas, como: “A construção do espaço: os territórios e os lugares (o
tempo da sociedade e o tempo da natureza)” - 3° ciclo; e, “Paisagens e diversidade territorial
no Brasil” – 4° ciclo (BRASIL, 1998, p. 82-125). Contudo, às temáticas propostas ao ensino,
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destacamos maior predominância nos anos finais do ensino fundamental (8° e 9° ano). E assim,
do total de 206 indicações de itens, 107 (52%) se relacionam aos elementos físico-naturais, e
desses 8 (4%) indicam estudos hidrográficos (Gráfico 1).

Gráfico 1 - Relação dos eixos, temas e itens contidos nos 3° e 4° ciclos dos PCN’s de Geografia
que indicam estudos físico-naturais e hidrográficos, 1998.

Eixos
Não indicam estudos físico-
naturais
Temas Indicam estudos físico-naturais

Indicam estudos hidrográficos


Itens

0 25 50 75 100 125

Fonte: BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) de Geografia, 1998. Organizado por Camylla Silva
Otto, 2015.

No entanto, ao mesmo tempo em que percebemos a presença de uma concepção


crítica educacional nos documentos ao se tratar dos elementos físico-naturais, estes consideram
a natureza como algo importante para o homem e um alvo de impactos gerados pela
modernização, indicando que, uma das principais funções estabelecidas entre os seres humanos
e o ambiente, é a sua apropriação. Certos de que essa causa não se anula, pois a sociedade se
apropria dos elementos físicos, incitamos que, essa relação deve ser trabalhada de forma ampla,
não se restringindo à sobreposição de um a outro, mas como elementos que se integram no
espaço-tempo, numa perspectiva físico-natural conforme propõe Morais (2011). Pois são o
conjunto de elementos sociais e naturais que originam os impactos positivos ou negativos no
ambiente, tanto os sociais quanto os físico-naturais que envolvem essa temática. Dessa forma,
nega-se a eleição a posições positivistas de ensino, que auxiliam a concepção fragmentada dos
elementos físico-naturais.

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Merece destaque o termo “socioambiental” utilizado em grande medida nas


temáticas propostas pelos PCN’s. A designação do termo vem de uma perspectiva integradora
entre o social e o ambiental. Conforme salienta Mendonça (2001):
O termo “sócio” aparece, então, atrelado ao termo ‘ambiental’ para enfatizar o
necessário envolvimento da sociedade enquanto sujeito, elemento, parte fundamental
dos processos relativos à problemática ambiental contemporânea (MENDONÇA,
2011, p. 117).

O que indica a princípio, a realização de um ensino coeso às temáticas físico-


naturais. Ainda assim, concordamos com os PCN’s ao indicarem que:
É imprescindível que o professor tenha uma boa formação para que, ao trabalhar seus
temas e conteúdos, garanta ao aluno perceber a identidade da Geografia como área.
Portanto, a formação dos professores deve ser condição necessária para que possa
estar desenvolvendo adequadamente o seu trabalho. Nesse sentido, tanto a formação
básica como a formação continuada são fundamentais para que os objetivos aqui
propostos sejam atingidos (BRASIL, 1998, p. 40).

A constatação da existência de estudos ambientais ao longo dos PCN’s, embora


evidenciem lacunas, é satisfatoriamente relevante ao ensino. Dado isso, e considerando a
complexidade em que são formulados por se tratarem de referenciais nacionais à educação,
questionamos: em que medida esses documentos contribuem para a elaboração do Currículo
Estadual de Goiás ao pensar nas temáticas indicadas para o estudo da rede hidrográfica nas
aulas de Geografia do Ensino Fundamental?
Ao analisarmos os conteúdos e expectativas de aprendizagem que se relacionam as
temáticas físico-naturais no currículo da Rede Estadual de Educação de Goiás, verificamos que,
a predominância em ambos prevalece no 6° ano do Ensino, seguida pelo 7° ano, posteriormente
o 8° ano, e por fim, o 9° ano (GOIÁS, 2012). Assim, percebemos que há um decréscimo em
relação à quantidade de conteúdos e expectativas de aprendizagem físico-naturais em direção
aos anos finais do Ensino Fundamental embora haja sim a influência dos PCN’s na formulação
do currículo de Goiás.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise dos PCNs de Geografia deixou explícito as inúmeras menções a termos


que dizem respeito as temáticas físico-naturais. Esse documento é a base para a construção do
currículo Estadual e assim, para o ensino nas escolas. As temáticas físico-naturais estão
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presentes no nosso dia-a-dia, nas ações e reações que temos no mundo. A importância de se
trabalhá-las é justamente por englobar a vida humana.
Destacamos a importância de uma sólida formação inicial do professor de
Geografia para a preparação de bases necessárias para seguir com qualidade o seu ofício. O
professor de Geografia se diferencia dos demais profissionais da educação pelo conhecimento
didático do conteúdo. Ao ensinar o conteúdo de hidrografia, por exemplo, o docente deve, antes
de ensinar, entender o conteúdo em si, e depois disso, escolher os melhores meios de se mediar
esse conhecimento aos alunos, numa clara associação entre o conhecimento específico e o
conhecimento didático, conforme pontuou Shulman em seus trabalhos (2005).
Assim, os documentos oficiais, como os PCN’s, são sim instrumentos
potencializadores do processo de ensino e aprendizagem, mas eles por si só não conseguem
perfazer uma aprendizagem significativa, esse papel cabe ao professor como mediador entre os
conteúdos e os alunos em sala de aula, devendo utilizar seus próprios e contínuos
conhecimentos para trabalhar os conteúdos, significando-os na vivência dos alunos.

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Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/geografia.pdf> Acesso em: 03, abril de 2015.

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ALBUQUERQUE, Maria Adalgiza Martins de; FERREIRA, Joseane Abílio de Sousa (orgs.).
Formação, pesquisas e práticas docentes: reformas curriculares em questão. João Pessoa, PB:
Ed. Mídia, 2013, p 47-58.

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Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. São Paulo, SP, 2011. Disponível em:
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maio de 2015.
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino. Geografia e Ensino: Os parâmetros curriculares nacionais


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2015.

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AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA NA MICROBACIA DO


CÓRREGO BURITI NO MUNICÍPIO DE CAIAPÔNIA GOIÁS
Karla Nascimento Leite.
Universidade de Rio Verde - Campus Caiapônia
karlanleite2@gmail.com

Poliana Olímpia Leite Silveira.


Universidade de Rio Verde - Campus Caiapônia
poliengenhariaambiental@gmail.com

José Ricardo Ferreira Rodrigues Santos.


Universidade de Rio Verde - Campus Caiapônia;
jose_not@hotmail.com

Rosenilda Maria de Morais Silva.


Universidade de Rio Verde - Campus Caiapônia;
rosenildaipora@gmail.com

RESUMO: Avaliação da qualidade da água na microbacia hidrográfica do Córrego Buriti que corta o
município de Caiapônia. Partindo da premissa de que o uso e a ocupação da terra podem contribuir para
as variações na qualidade da água, este trabalho analisou a microbacia hidrográfica associadas à
diferentes usos em seu entorno. Foi feito o monitoramento de oito parâmetros físicos e químicos da água
(pH, temperatura, condutividade elétrica, oxigênio dissolvido, turbidez, sólido suspenso e matérias
orgânica e inorgânica) a montante e a jusante do córrego principal das microbacia. A análise estatística
permitiu condensar o conjunto de valores obtidos e expressar a complexidade das relações existentes
entre os parâmetros e entre as áreas, resultando na ordenação da qualidade da água. A microbacia,
apresentou qualidade de água estatisticamente inferior, principalmente em relação aos sólidos
suspensos. Isso parece estar relacionado com a ausência de vegetação ciliar nas margens e a presença
de usos antrópicos e reforça a importância dos critérios utilizados na definição dos limites de uma
Unidade de Conservação.

Palavras-chave: degradação, monitoramento, córrego.

INTRODUÇÃO

A preocupação com a degradação dos recursos hídricos e com a saúde humana tem
sido motivo de discussão nos dias atuais, o que resulta no compromisso da qualidade de vida,
e no gerenciamento voltado a sociedade em geral para os impactos ambientais, negativos
potenciais ocasionados por suas próprias atividades, produtos ou serviços (MOURA, 2013).

A água é um recurso essencial para a sobrevivência de todos os organismos vivos, e


nos últimos anos o uso desse recurso para uso doméstico, produção agrícola, mineração,
produção industrial, geração de energia, atividades de lazer e práticas florestais estão causando
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a diminuição da sua qualidade, atingindo o ecossistema aquático e também a disponibilidade


de água potável disponível para consumo humano.

Entende-se por nascente o afloramento do lençol freático que da origem a uma fonte
de água de acúmulo (represa), ou cursos d’água (regatos, ribeirões e rios). Em virtude de seu
valor inestimável dentro de uma propriedade agrícola, deve ser tratada com cuidado todo
especial. A nascente ideal é aquela que fornece água de boa qualidade, abundante e contínua,
localizada próxima do local de uso e de cota topográfica elevada, possibilitando sua distribuição
por gravidade, sem gasto de energia.

Segundo Linsley e Franzini (1978), quando a descarga de um aqüífero se concentra


em uma pequena área localizada, tem-se a nascente ou olho d’água. Esse pode ser o tipo de
nascente sem acumulo d’água inicial, comum quando o afloramento ocorre em um terreno
declivoso, surgindo em um único ponto em decorrência de a inclinação da camada impermeável
ser menor que a da encosta.

Qualquer um que caminhe nas margens de um rio com interferência da ação antrópica
consegue ver os sinais da degradação ambiental. Segundo Rigotti e Pompêo (2011), a maioria
dos rios nas cidades brasileiras está substancialmente degradados.

A vegetação natural remanescente em áreas de microbacia é muito importante para


manter uma água de boa qualidade, por ser diretamente relacionada à permeabilidade dos solos.
A relação é ainda mais clara quando se trata daquela que ladeia os cursos d’água, a mata ciliar,
e em áreas naturais a vegetação promove a proteção do solo contra a erosão, à sedimentação e
lixiviação de nutrientes. As matas ciliares são fundamentais para manter a qualidade da água
para todos. Devido à ausência da mata ciliar, nascentes podem secar, margens de rios e riachos
desabam e a infiltração de água no solo diminui, reduzindo as reservas de água do solo e do
lençol freático.

Vale ressaltar que, além da quantidade de água produzida pela nascente, é desejável
que tenha boa distribuição no tempo, ou seja, a variação da vazão situe-se dentro de um mínimo
adequado ao longo do ano. Esse fato implica que a bacia não deve funcionar como um recipiente
impermeável, escoando em curto espaço de tempo toda a água recebida durante uma
precipitação pluvial.

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Assim, o manejo de bacias hidrográficas deve contemplar a preservação e melhoria da


água quanto à quantidade e qualidade, além de seus interferentes em uma unidade
geomorfológica da paisagem como forma mais adequada de manipulação sistêmica dos
recursos de uma região.

OBJETIVO

O presente trabalho teve como objetivo monitorar a qualidade da água do Córrego Buriti
no município de Caiapônia - GO, que transcorre pela área urbana sendo desprovido de mata
ciliar em quase todo seu percurso, além de sofrer represamento artificial.

MATERIAIS E MÉTODOS

1.1. Área de estudo


A nascente do córrego buriti está localizado em uma propriedade rural próxima do
centro urbano apresenta latitude -16°58’55.59”S e longitude -51°49’12.67”O, o lixão do
Município de Caiapônia fica acima da nascente e devido a área apresentar uma certa declividade
resíduos do lixão escoam para dentro da propriedade o que causa prejuízos na área.

A propriedade rural onde se encontra a nascente do córrego é de posse de Iara Pontes


Abreu e a principal atividade da propriedade é a produção de leite. O uso da área da nascente é
para pastagem e uma pequena parte fez o plantio de cana para incrementar a ração dos animais
no período de seca.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Figura 1: Carta-imagem do município de Caiapônia-Go e seus municípios limítrofes.

Fonte de dados: IBGE / INPE / SIEG. Elaboração: Barbosa Neto, M.A.


1.2 Monitoramento da qualidade da água

O monitoramento e conservação das qualidades dos corpos d’água são importantes


para o fornecimento tanto do ecossistema natural quanto artificial. Em consequência do uso
inadequado acarretará a degradação dos recursos hídricos, assim como esta ocorrendo no
Córrego dos Buritis, destacando-se o assoreamento, perda na qualidade e quantidade de água
na micro bacia.

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Mapa 1. Córrego dos Buritis.


LEGENDA
Parque de Exposição Agropecuária
Estação Elevatória
Pontos de Coleta
Lago dos Buritis
Córrego dos Buritis

Fonte: Google Earth.

Para o monitoramento referente à qualidade da água foi analisado parâmetros físico-


químico, identificando o valor no pH em sete amostras coletadas nos respectivos pontos: P1 na
nascente do Córrego dos Buritis, P2 no afloramento, P3 na junção entre a nascente e o
afloramento, P4 no fundo do parque de exposição, P5 na ponte do lago dos buritis, P6 na parte
inferior do lago dos buritis e o P7 no curso d’água abaixo do lago dos buritis, conforme o Mapa
1.

Com a análise visual observou-se que a área está muito degradada devido ao mal uso do
solo, os animais da propriedade tem acesso a todo o curso d’água e o mesmo se encontra
compactado. A ausência de mata ciliar as margens da nascente tem causado muitos prejuízos e
possivelmente a perda na quantidade e na qualidade desse recurso.

Ao seguir o fluxo de água foi possível observar uma falha na vegetação de


aproximadamente 15m e a água percorre em um curso d’água de 30cm de largura, onde possui
apenas pastagem.

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Em seguida a vegetação começa a reaparecer e a água para de correr, já na lateral


esquerda há o surgimento de um afloramento em uma área úmida que pode ser chamada de
brejo, porém se encontra degradado e vem sofrendo intervenções antrópicas, assim como todo
o leito do córrego.

As atividades encontradas no decorrer do leito do córrego consisti em cultivo de


hortaliças, banana, mandioca, cana de açúcar, dentre outros que não foram possíveis identificar.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para medir os parâmetros da água foi utilizado o medidor da marca OXI, onde o método
de análise utiliza fitas contendo quatro medições nível de solo, nível de cloro, pH e Alcalinidade
porém o presente artigo analisou apenas os dois últimos. Os resultados obtidos a partir das
análises dos parâmetros estão representados no gráfico 1.

PARÂMETROS FÍSICOS-QUÍMICOS
90
80
70
60
50
40
30
20 PH
10 ALCALINIDADE
0
P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7
Gráfico 1. Avaliação dos parâmetros físico-químico

No P1 foi possível observar processos erosivos, o que interfere na quantidade e na


qualidade da água, sendo que a mesma apresenta coloração escura, pH ácido e alcalinidade
zero. O P2 representa o afloramento de água, o mesmo possui água com aparência agradável e
com um volume maior de água, com pH ácido e alcalinidade zero. O P3 é a junção da nascente
com o afloramento, onde a presença de vegetação nativa e o volume de água é favorável.

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O P4 está localizado no perímetro urbano, abaixo do parque de exposição agropecuária


de Caiapônia e nesse local os moradores utilizam dessa água para irrigar suas plantações e o
pH é ácido e a alcalinidade é 40 mg/L. O P5 é onde acaba a canalização do córrego, nas
proximidades desse local há presença de lixo, o odor é forte, pH ácido e a alcalinidade é de 80
mg/L. O P6 foi coletado no lago dos buritis, no qual o odor é desagradável, a cor é escura e o
os parâmetros seguem como no P5.

O P7 é uma área desprovida de qualquer tipo de vegetação, com presença de bovinos.


A área se encontra em estado de degradação com presença de lixo que advém da enxurrada por
falta de drenagem urbana, devido apresentar solo arenoso o processo erosivo está cada vez mais
acelerado o que causa maiores prejuízos a qualidade e quantidade de água no córrego, o odor é
forte, pH ácido e a alcalinidade é de 80 mg/L.

Os moradores da região fazem uso dessa água para cultivo de hortaliças para vender na
cidade, parte do córrego no perímetro urbano foi canalizado. Foi construído um lago para lazer
da população onde possui criação de peixes que uma vez ao ano é permitido a pesca, a
população tem habito de tratar dos peixes com pão francês. A água apresenta um odor ruim
principalmente no período de seca, a coloração da água é escura.

Logo abaixo do lago dos buritis há outras hortas que fazem uso dessa água para produzir
alimentos, e também possui uma estação elevatória de esgoto que advém da coleta do esgoto
dos setores Jardim Goiás e Jarbas da Costa Ribeiro o que pode está causando maiores prejuízos
a qualidade dessa água sendo que em período chuvoso essa estação apresenta vazamentos ou
seja esgoto bruto é lançado no córrego.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos concluir através das analises realizadas que o Córrego dos Buritis não
apresentam características favoráveis para uso direto não sendo viável a disponibilização para
a irrigação da horticultura, além de ser impróprio como área de lazer para população.

Isso ocorre pelo fato de que o Córrego dos Buritis apresenta qualidade ruim, devido sua
nascente está abaixo do lixão do município e por sofrer forte pressão da expansão urbana e rural
sem o manejo adequado na realização das atividades desenvolvidas.

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REFERÊNCIAS

LINSLEY, R.K.; FRANZINI, J.B. Engenharia de recursos hídricos. Local: Mc Graw-Hill do


Brasil, 1978, 798 p.

CASTRO, P.S.; LOPES, J.D.S. Recuperação e conservação de nascentes. Viçosa: Centro de


Produções Técnicas, 2001. 84p. (Série Saneamento e Meio - Ambiente, n. 296).

PONTES, P.P.; MARQUES, A.R.; MARQUES, G.F. Efeito do uso e ocupação do solo na
qualidade da água na microbacia do Córrego Banguelo - Contagem . V. 7, n.3. 2012. Disponível
em: <http://www.scielo.br/pdf/ambiagua/v7n3/v7n3a15.pdf>. Acesso em: 24 maio 2018.
SANTOS, G.O.; HERNANDEZ, F.B.T. Uso do solo e monitoramento dos recursos hídricos
no córrego do Ipê, Ilha Solteira, SP . V.17, n.1. 2013. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141543662013000100009&script=sci_abstract&tlng=
pt>. Acesso em: 24 maio 2018.
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Dispnivel em: <
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/go/caiaponia/panorama> Acesso em: 26 de maio de 2018.

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AVALIAÇÃO DE DISPONIBILIDADE HÍDRICA EM BACIAS


HIDROGRÁFICAS PARA ABASTECIMENTO DA CIDADE DE IPORÁ
(GO)

Derick Martins Borges de Moura


Universidade Federal de Goiás.
derickmartins@hotmail.com

Ivanilton José de Oliveira


Universidade Federal de Goiás.
ivanilton.oliveira@gmail.com

Diego Tarley Ferreira Nascimento


Universidade Estadual de Goiás.
diego.tarley@gmail.com

João Batista Pereira Cabral


Universidade Federal de Goiás.
jbcabral2000@yahoo.com.br

Wanderlubio Barbosa Gentil


Universidade Federal de Goiás.
wanderlubio@ig.com.br

Assunção Andrade de Barcelos


Universidade Federal de Goiás.
assuncaoa-barcelos@hotmail.com

Resumo: Considerando a necessidade de monitorar as vazões dos Ribeirões Santo Antônio e Santa
Marta, o objetivo desse artigo é averiguar as vazões de permanência nos mananciais e avaliar qual deles
possui maior disponibilidade hídrica natural (vazão) no exutório, visando a segurança do abastecimento
hídrico da cidade de Iporá. Para as medições em campo foi aplicada a metodologia de aferir a vazão de
ambos os mananciais no mesmo dia e em três períodos distintos, com o uso de um medidor acústico
doppler de vazão - ADCP (Acoustic Doppler Current Profiler) M9 da marca SONTEK. Pôde-se
constatar com as medições que o manancial que possui maior vazão no começo do período de estiagem
é o Ribeirão Santa Marta, visto que possui uma maior área de bacia hidrográfica. Contudo, sua vazão
decai mais rapidamente que a do Ribeirão Santo Antônio, ficando este com maior vazão no final do
período de estiagem. O trabalho pôde diagnosticar que o Ribeirão Santo Antônio possui uma melhor
vazão de permanência, ou seja, se mantém com maior vazão que o Ribeirão Santa Marta no final do
período de estiagem.

Palavras-chave: Disponibilidade hídrica; Segurança hídrica; Bacias hidrográficas.

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INTRODUÇÃO
Esse trabalho é resultado do monitoramento das vazões dos Ribeirões Santo Antônio
e Santa Marta, mensurada com base nas vazões efluentes nos pontos exutórios dos mananciais,
sendo o primeiro o único fornecedor de água para o abastecimento público da cidade de Iporá.
O Ribeirão Santa Marta, por sua vez, poderá ser uma fonte de captação de água para
complementar no abastecimento da cidade em cenários futuros.
O objetivo da pesquisa é monitorar a vazão dos ribeirões Santo Antônio e Santa Marta
para compreender o comportamento hidrológico das bacias. Para simplificar a nomenclatura
dos cursos d’água, seus topônimos foram abreviados para RSA (Ribeirão Santo Antônio) e
RSM (Ribeirão Santa Marta), e suas respectivas bacias para BHRSA (Bacia Hidrográfica do
Ribeirão Santo Antônio) e BHRSM (Bacia Hidrográfica do Ribeirão Santa Marta).
Segundo Moura et al. (2018), a área da BHRSM possui 274,321 km², que é mais que
o dobro da área da BHRSA, com 127,062 km², o equivalente a 46,31% da outra bacia. Nesse
mesmo estudo ainda foi verificado que em 30 de julho de 2017 o RSM possuía uma maior vazão
de água no exutório. Porém, foram necessárias outras medições de vazão em diferentes épocas
do ano para compreender o comportamento hidrológico nessas bacias.
As áreas de estudo foram escolhidas pela necessidade de se comparar a vazão do único
manancial fornecedor de água para abastecimento da cidade de Iporá, com um manancial
vizinho que possa ser uma alternativa para complementar a captação de água, e compreender o
comportamento hidrológico de ambos ao longo dos períodos do ano. Os resultados das
medições de vazão fornecem informações do potencial hídrico de cada manancial, e sobre a
vazão de permanência, ou seja, sobre qual ribeirão se mantém com uma maior vazão ao longo
do ano hidrológico.
O estudo se faz relevante por monitorar as vazões do RSA a montante do ponto de
captação de água que abastece a cidade, e do RSM no local onde poderá ser instalado uma
captação complementar para suprir a demanda da cidade, caso seja necessário.
Dessa forma, espera-se disponibilizar informações que poderão auxiliar no
planejamento para a escolha de uma fonte complementar de abastecimento de água para a
cidade de Iporá, servindo como segurança hídrica para a população que utiliza esse recurso.

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METODOLOGIA
CARACTERIZAÇÃO DAS ÁREAS DE ESTUDO
A parte alta da BHRSA encontra-se inserida no município de Iporá, na parte a
montante da captação de água que abastece a cidade. A parte alta da BHRSM abrange os
municípios de Iporá e Amorinópolis, sendo que a maior parte da bacia localiza-se dentro desse
último município. As extremidades das bacias estão distantes uma da outra por 58 km de
diâmetro (Mapa 1).

Mapa 1: Localização da BHRSA e BHRSM e os respectivos exutórios. Fonte: Os Autores.

O clima regional é definido segundo a classificação de Köppen como sendo tipo AW,
caracterizado por climas úmidos tropicais, com duas estações bem definidas: seca no inverno,
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de maio a outubro, e úmida no verão, de novembro a abril (PEEL et al., 2007). A temperatura
média anual fica entre 24° e 25° e a precipitação anual média histórica, segundo dados do posto
pluviométrico 1651001 da Agência Nacional das Águas (ANA), instalado em Iporá, referentes
ao período de 1974 a 2014 (40 anos), é de 1.600,9 mm (MOURA, 2017).
Hidrograficamente o RSA deságua no Rio Caiapó, que por sua vez integra a Bacia
Hidrográfica do Rio Araguaia/Tocantins. O RSM é tributário do Rio Claro, que integra a Bacia
Hidrográfica do Rio Araguaia/Tocantins (Pfafstetter, 1989). O padrão de drenagem de ambas
as bacias é dendrítico. A área da BHRSM possui 274,321 km² e a área da BHRSA possui
127,062 km². O parâmetro morfométrico índice de circularidade da BHRSA é 0,289 e da
BHRSM é 0,175 (MOURA, 2017).

MATERIAIS E PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS


Os locais escolhidos para as medições das vazões nos mananciais foram estabelecidos
pela proximidade com os pontos exutórios, sendo que no RSA foi escolhido o local mais
próximo e propício à montante do ponto de captação, e no RSM no local onde seria ideal para
implantação de uma captação. Em ambos os mananciais foi escolhido um local que fosse
possível executar as medições sem nenhuma interferência, para que pudesse se obter uma
amostragem representativa dos pontos exutórios.
Para as medições de vazão foi utilizado um medidor acústico doppler de vazão - ADCP
(Acoustic Doppler Current Profiler), equipamento disponibilizado pelo Laboratório de
Geociências Aplicadas da Regional Jataí da Universidade Federal de Goiás (UFG). O ADCP
M9 é um equipamento utilizado para medição de vazão de rios e lagos por meio de ondas
sonoras. Segundo Gamaro (2012), a onda sonora emitida pelo aparelho se propaga em direção
ao fundo do leito e, conforme reflete nas partículas em suspensão na água, calcula através do
efeito Doppler a velocidade das partículas, a qual se assume ser igual à da água. De acordo com
a velocidade da água e o mapeamento da seção, o sistema calcula a vazão.
Para a determinação da vazão com o uso do ADCP foi necessária a utilização dos
seguintes materiais: veículo para deslocamento ao campo, estacas para marcação das seções,
ADCP com acessórios, cordeletes para deslocar o ADCP na travessia, trena e notebook. Foram
necessários três integrantes para realização das medições de vazão.

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Para o planejamento e mapeamento da localidade a ser definida nas medições de


vazões, foram utilizados o Sistemas de Informação Geográfica: Qgis e Google Earth, e
posteriormente verificado em campo se a seção estaria em conformidade com os pré-requisitos
para as medições de vazão, sendo eles: seção retilínea e sem obstruções, como galhos e rochas.
Na visita a campo foi possível verificar que a seção escolhida no mapeamento estava em
conformidade com os padrões exigidos para a medição de vazão.
As datas foram escolhidas para que fosse possível obter informações das vazões em
diferentes períodos. Uma no no começo da estação seca (01/05/2018), outra em meados da
estação seca (30/07/2017) e a última no final da estação seca (29/09/2017). As datas seguiram
o princípio de oportunidade, viabilidade de execução e disponibilidade para a medição nos dias
escolhidos para ir ao campo, conforme os princípios de condições climáticas favoráveis nos
períodos escolhidos.
Após a escolha e materialização com estacas dos locais das seções nos dois ribeirões,
os mesmos foram georreferenciados com GPS para possibilitar medições futuras. A base do
ADCP foi instalada em solo enquanto o transdutor foi acoplado no barco para permitir a
travessia nos cursos d’água enquanto os dados das medições eram transmitidos via bluetooth
ao notebook. Com o auxílio de roldanas acopladas às estacas, a corda foi amarrada ao barco
dando início a medição de vazão com movimentos transversais ao sentido do fluxo da água,
repetindo-se seis vezes no RSA e RSM, obtendo-se pela média das travessias as vazões de cada
ribeirão.
De acordo com os dados obtidos e processados no software River Surveyor, foram
gerados dados de vazão, área molhada e velocidade de escoamento da água, representados nas
Figuras de 1 a 6. As Fotografia de 1 a 6 ilustram a medição de vazão ocorrida nos mesmos dias
em ambos os mananciais.

Figura 1: Perfil da seção no RSA dia 30/07/2017. Fonte: os autores.

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Figura 2: Perfil da seção no RSM dia 30/07/2017. Fonte: os autores.

Figura 3: Perfil da seção no RSA dia 29/09/2017. Fonte: os autores.

Figura 4: Perfil da seção no RSM 29/09/2017. Fonte: os autores.

Figura 5: Perfil da seção no RSA 01/05/2018. Fonte: os autores.

Figura 6: Perfil da seção no RSM 01/05/2018. Fonte: os autores.

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Fotografia 1: Medição da vazão no RSA dia Fotografia 2: Medição da vazão no RSM dia
30/07/2017 30/07/2017

Fotografia 3: Medição da vazão no RSA dia Fotografia 4: Medição da vazão no RSM dia
29/09/2017 29/09/2017

Fotografia 5: Medição da vazão no RSA dia Fotografia 6: Medição da vazão no RSM dia
01/05/2018 01/05/2018

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RESULTADOS E DISCUSSÃO
As medições de vazão foram executadas no mesmo dia, nos dois mananciais,
comparando a vazão de ambos sem interferências de precipitação. Na análise comparativa da
vazão dos mananciais RSA e RSM foram encontradas maiores vazões no RSM em duas
medições de três efetuadas, conforme ilustra o Gráfico 1:

Gráfico 1: Comparativo entra as vazões do RSA e RSM. Fonte: Os autores.

Os resultados obtidos na medição de vazão com o ADCP no dia 30 de julho de 2017


no RSA foi de 334 L/s e no RSM foi de 444 L/s, demonstrando que o RSM possuia uma maior
vazão. Na medição de vazão do dia 29/09/2017 o RSM estava com uma vazão de 100 L/s, sendo
inferior a vazão do RSA que era de 185 L/s. Já na medição de vazão do dia 01/05/2018 a vazão
do RSM estava 2.977 L/S e a do RSA estava 1.754 L/s.
Fica demostrado que logo após o período chuvoso, ou seja, no começo do período
seco, as vazões do RSM são maiores, porém no período de estiagem a vazão diminui mais
rapidamente, ficando menor que do RSA no final do período de estiagem. No RSM a água
aumenta e diminui mais rapidamente. No RSA a vazão de permanência é maior, ou seja, as
vazões decaem mais lentamente.
De acordo com Christofoletti (1974), o índice de circularidade com valores menores
que 0,51 correspondem a bacias de formato alongado, que favorece o escoamento superficial
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das águas. Infere-se que como a área da BHRSM é mais alongada, (representado pelo índice de
circularidade 0,175) do que a BHRSA (índice de circularidade é 0,289) esse indicador
demonstra um relevo mais dissecado, com maior facilidade ao escoamento superficial das águas
das chuvas, fazendo com que as águas escoem mais rapidamente ao longo do sistema
hidrográfico, e no período de estiagem tenha uma menor vazão. Contudo são necessários
estudos comparativos entre outros parâmetros morfométricos nas bacias para comprovar essa
inferência. O resultado pode indicar também diferenças no uso da terra e cobertura vegetal,
tipos de solos, tipos litológicos e geomorfológicos. Porém são necessários outros estudos
comparativos entre as duas bacias levando em considerações tais características para comprovar
esses indicadores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho de monitoramento da vazão do RSA e do RSM foi capaz de fornecer
informações sobre a quantidade de água de ambos os mananciais, e mostrou que o RSM possui
maior vazão que o RSA no início do período de estiagem. Contudo, ao longo do período de
estiagem, a vazão do RSM é reduzida mais rapidamente, ficando com vazão inferior que a do
RSA no final do período de estiagem.
Considerando que a entrada de água das chuvas nas bacias hidrográficas é
praticamente a mesma, por estarem numa distância considerada próxima (um diâmetro de 58
km) e fazerem parte de um mesmo regime climático, a influência dos aspectos físicos da bacia
é que está definindo os seus comportamentos hidrológicos. Por tal motivo, é de suma
importância realizar novos estudos que levem em consideração esses ascpetos que, a princípio,
interferem diretamente no comportamento hidrológico nas bacias.
O estudo mostrou que o parâmetro morfométrico “área das bacias” analisado
isoladamente não demonstra que a bacia terá uma maior disponibilidade hídrica, ou seja, uma
maior vazão efluente no exutório. Mas tem uma relação direta com a área de captação das águas
das chuvas, representando a área de captação disponível e, portanto, quanto maior a área, maior
poderá ser o volume de precipitação entrando no sistema da bacia hidrográfica, tendo uma
maior vazão nos períodos chuvosos (STRAHLER, 1957).
O trabalho de análise comparativa das vazões demonstrou que é necessário monitorar
as vazões dos mananciais com frequência para compreensão da real situação do volume de água

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e o comportamento hidrológico nas bacias, e além disso demonstrar que a BHRSM apesar de
ter uma área de contribuição maior, não mantém uma vazão de permanência melhor que a
BHRSA, mas mesmo assim pode ser uma fonte alternativa de captação de água para contribuir
com o sistema de abastecimento de água de Iporá.
REFERÊNCIAS
CHRISTOFOLETTI, A. A análise de bacias hidrográficas. IN: CHRISTOFOLETTI, Antônio.
Geomorfologia. Edgard Blücher, EDUSP. São Paulo, 1974.

GAMARO, P. E. Medidores Acústicos Doppler de Vazão. Itaipu Binacional. Foz do Iguaçu,


2012.

INMET. Instituto Nacional de Metereologia. (Brasil) 2018. Disponível em: <


http://www.inmet.gov.br>. Acesso em: 03 abr. 2018.

MOURA, D. M. B.; CABRAL J. B. P.; GENTIL, W. B.; BARCELOS, A. A.; ALVES, W. S.


Análise comparativa da vazão do Ribeirão Santo Antônio e do Ribeirão Santa Marta, visando
a segurança hídrica da cidade de Iporá (GO).:IN: NASCIMENTO, D. T. F.; GONÇALVES, R.
J. A. F. (Orgs.). Águas do cerrado: gestão, usos e conflitos. Nascimento D. T. F.; Gonçalves
R. J. A. F. (org.). Goiânia. Kelps, 2018.

MOURA, D. M. B. Avaliação ambiental e fisiográfica da bacia hidrográfica do Ribeirão Santo


Antônio, com vistas ao abastecimento hídrico da cidade de Iporá (GO). 2017. 107p.
Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal de Goiás, Jataí, 2017.

MOURA, D. M. B.; OLIVEIRA, R. M.; COSTA, J. A.; MATOS, A. J. M.; CARDOSO, J. M.;
ALVES, W. S. Medições da vazão do ribeirão santo Antônio, manancial de abastecimento
hídrico da cidade de Iporá, Goiás - Brasil. Revista Sapiência – UEG/Campus Iporá, Goiás. v.5,
n.1, p. 255-272, jul., 2016.

PEEL, M. C., FINLAYSON, B. L., MCMAHON, T. A. Updated world map of the Köppen-
Geiger climate classification. Hydrology Earth System Sciences, v. 11, p. 1633–1644, 2007.

PFAFSTETTER, O. Classificação de bacias hidrográficas - metodologia de codificação. Rio


de Janeiro: Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS), 19 p, 1989.

STRAHLER, A. N. Quatitative analysis of watershed geomophology. Transactions of the


American Geophysical Union. v. 38, n. 6, p. 913-920, 1957.

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AVALIAÇÃO DO USO DE IMAGENS OLI/LANDSAT-8 À


ESTIMATIVA DA CONCENTRAÇÃO DE SEDIMENTOS EM
SUSPENSÃO NO RESERVATÓRIO DA USINA HIDRELÉTRICA DE
CANA BRAVA, GOIÁS

Patrick Thomaz de Aquino Martins


Universidade Estadual de Goiás, Câmpus Formosa
patrick.martins@ueg.br

Renata Mariana Póvoa Matos


Universidade Estadual de Goiás, Câmpus Formosa
renatapovoamatos@gmail.com

Wilkison Queiroz de Brito


Universidade Estadual de Goiás, Câmpus Formosa
wilkisonbrito7@gmail.com

Igor Barbosa da Conceição


Universidade Estadual de Goiás, Câmpus Formosa
igorrfsa@gmail.com

José Luiz Félix Fernandes


Universidade Estadual de Goiás, Câmpus Formosa
joseluiz.jlff@gmail.com

Otávio Cristiano Montanher


Universidade Estadual de Maringá
otaviocmontanher@yahoo.com.br

Elton Souza Oliveira


Universidade Estadual de Goiás, Câmpus Formosa
elton.gea@gmail.com

Resumo: Com o objetivo de avaliar a utilização de imagens provenientes do sensor Operational Land
Imager (OLI), a bordo do satélite Landsat-8, na estimativa da concentração de sedimentos em suspensão
(CSS), no reservatório da UHE de Cana Brava, estado de Goiás, o presente estudo se utiliza de aquisição
e tratamento de uma imagem do sensor OLI, expedição de campo e procedimentos laboratoriais à
obtenção da CSS e análise estatística. Mesmo apresentando correlação (negativa) para a maioria das
bandas, o modelo não se mostrou satisfatório, refletindo a baixa concentração de sedimentos em
suspensão presente nas amostras coletadas. As imagens do sensor OLI/Landsat-8 se mostraram pouco
apropriadas à estimativa de sedimento em suspensão no reservatório estudado.

Palavras Chaves: sensoriamento remoto; modelagem; Cerrado.

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INTRODUÇÃO

Recobrindo aproximadamente 2 milhões de km² da porção central do país,


correspondendo por cerca de 23% do território brasileiro (RATTER et al., 1997), o Cerrado tem
passado por severas alterações, com a transformação de mais da metade da cobertura vegetal
natural em paisagens antrópicas, sobretudo nos últimos 45 anos (KLINK; MACHADO, 2005),
sendo o estado de Goiás a unidade da federação que mais teve a cobertura natural do seu
território convertida, com cerca de 56% até o ano de 2008 (SANO et al., 2008).
Apesar de possuir remanescentes de Cerrado bem preservados, o norte goiano vem
experimentando constantes modificações em sua paisagem, as quais são passíveis de alterar a
produção e o transporte sedimentar regional. Por estar inserido na bacia hidrográfica do rio
Tocantins, este rio, bem como os seus afluentes, serão, fatalmente, os corpos d’água que
receberão esta carga sedimentar.
O reservatório da Usina Hidrelétrica (UHE) de Cana Brava ganha notoriedade, neste
contexto, por ser o corpo d’água mais a jusante do rio Tocantins no estado de Goiás, e por
constituir exutório artificial das (inter- e sub-)bacias hidrográficas do norte do estado, sendo,
portanto, receptor dos sedimentos produzidos nesta região geográfica.
A transferência sedimentar para o sistema fluvial resulta em uma série de impactos,
ocasionando alterações nos processos físicos, na diversidade ecológica e na qualidade da água
para consumo humano. São exemplos, o acúmulo do sedimento fino nos canais dos rios, o qual
demanda dragagens regulares; o preenchimento de cascalhos, por sedimento fino, local que
serve como habitat para muitas espécies de invertebrados e de desova para espécies de peixes;
e a descoloração causada pelos sedimentos em suspensão, que pode danificar a infraestrutura
de redes de abastecimento de água, além de encarecer e tornar mais demorado o tratamento da
água (CHARLTON, 2008).
No corpo d’água, o sedimento é transportado de três principais modos: (1) como carga
dissolvida (solutos), formada por íons, moléculas e substâncias orgânicas dissolvidas; (2) como
carga do leito, caracterizada por grãos muito grandes para serem suspensos por muito tempo
em condições normais de fluxo; e (3) como carga suspensa, composta por partículas sólidas, na
maioria das vezes silte e argila, que são pequenas e leves o suficiente para ser suportada pela
turbulência e vórtices de água (HUGGETT, 2007), sendo esta a maior parte da carga total
transportada pelo sistema fluvial (CHARLTON, 2008).

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A aferição da Concentração de Sedimentos em Suspensão (CSS) de um corpo d’água


pode ser realizada a partir de uma variedade de técnicas. Podem ser citadas a amostragem de
água seguida de filtração, a filtração de água in situ, a concentração com uma centrífuga de
fluxo contínuo, o espalhamento (scattering) da luz e de raio-x, as medições de raios gama e
mensuração da radioatividade natural, os métodos acústicos e o sensoriamento remoto (EISMA,
1993). A maioria destas, porém, possui limitação espacial, pois fornece o dado de forma
pontual. Considerando que os sedimentos em suspensão possuem grande variabilidade espacial,
com pontos bem próximos uns dos outros possuindo diferentes valores, o sensoriamento remoto
se destaca por permitir a estimativa do sedimento em suspensão em diversos ambientes
aquáticos de forma sinóptica, rápida e econômica (CURRAN; NOVO, 1988; SCHMUGGE et
al., 2002).
Entendendo a importância do monitoramento dos sedimentos em suspensão como vital
à manutenção dos usos múltiplos do reservatório de Cana Brava, bem como a viabilidade do
uso do sensoriamento remoto para a realização do mesmo, a presente proposta tem como
objetivo avaliar a utilização de imagens provenientes do sensor OLI, a bordo do oitavo satélite
do programa Landsat, na estimativa da concentração de sedimentos em suspensão (CSS) no
reservatório da UHE de Cana Brava.

MATERIAIS E MÉTODOS
A metodologia aqui empregada foi composta pelas seguintes etapas: obtenção e
tratamento das imagens de sensoriamento remoto; coleta de amostras em campo e estimativa
em laboratório; modelagem estatística; e análise da correlação entre as bandas das imagens com
o resultado laboratorial.
Foi utilizada uma imagem do sensor Operational Land Imager (OLI), a bordo do satélite
Landsat-8. Esta foi obtida a partir do portal Earth Explorer, do Serviço Geológico dos Estados
Unidos (http://earthexplorer.usgs.gov). Por disponibilizar as imagens do sensor OLI em
reflectância de superfície, às imagens OLI foi preciso apenas a divisão dos DN (digital
numbers) por um fator (Lλ = DN/10000).
Uma vez que é desejável que as coletas dos dados in situ ocorram simultaneamente ao
registro dado pelo sensor remoto (CHEN; YU, 2009), tanto a data de imageamento quanto a
coleta em campo das amostras de água transcorreram na mesma data, 26 de setembro de 2017.

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Na coleta, foram obtidas amostras de 1000ml de água em 21 pontos, os quais tiveram


suas coordenadas registradas, com uso de GPS (sistema de referência de coordenadas WGS 84,
UTM, zona 22). As amostras foram armazenadas em ambiente refrigerado e ao abrigo de luz
até realização dos procedimentos laboratoriais.
No laboratório, as amostras foram filtradas em membranas de microfibra de vidro
previamente enumeradas, secas em estufa e pesadas em balança analítica. Com uso de um
sistema de bombeamento a vácuo conectado a um filtrador, as amostras filtradas foram secas,
em estufa, resfriadas, em dessecador, até temperatura ambiente, e pesadas (Figura 1), obtendo-
se a concentração total de sedimentos a partir da Equação 1.
CSStotal = (Ps – Pi) (1)
Onde: CSStotal = concentração total de sedimentos em suspensão (mg/l); Pi = peso inicial da membrana
após secagem; e Ps = peso da membrana, após filtração e secagem;

Figura 1 - Equipamentos utilizados na etapa Laboratorial. dessecador (1), balança de precisão (1 e 2), sistema de
filtragem (3 a 5).

Para a elaboração do modelo, foram tabelados os valores de CSS em conjunto com os


valores de reflectância em todas as bandas espectrais do sensor OLI. Para amostragem dos
valores de reflectância, os pontos de coleta foram espacializados sobre as imagens orbitais em
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ambiente SIG por meio das coordenadas adquiridas, no campo, com o de GPS, compondo um
banco de dados georreferenciado. Foram feitos recortes de 3 x 3 pixels, cujo pixel central
coincide com o ponto de amostragem. Os valores de reflectância utilizados na modelagem
foram as médias deste conjunto de nove pixels.
Foi avaliada a correlação da banda 6 com as demais bandas (1 a 7) da imagem, com o
intuito de aferir a influência do efeito de reflexão especular (sun glint) nos valores obtidos nos
pixels. Uma vez que o efeito foi confirmado, a partir da forte correlação das bandas do
infravermelho médios (6 e 7), com R² = 0,97, a correlação entre cada banda e a CSS foi
calculada subtraindo-se a banda 6, retirando, assim, o efeito sun glint. A análise de correlação
da CSS para cada banda se faz necessária devido ao fato de que a reflectância não é linearmente
dependente da CSS e varia conforme a faixa de concentrações e a banda espectral utilizada
(CURRAN e NOVO, 1988, 1996; LODHI et al., 1997; RITCHIE e SHIEBE, 2000).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os pontos onde foram obtidas as amostras foram dispostos latitudinalmente ao longo de
toda área de estudo e podem ser observados na Figura 2. A concentração de sedimento em
suspensão mostrou-se baixa nos 21 pontos coletados, com valores variando de 0,0001 mg/l a
0,001 mg/l (Figura 3). Estes valores denotam uma área com pouca produção sedimentar, a qual
é influenciada por diversas variáveis, das quais se destacam os fatores hidrológicos, a estrutura
geológica, as condições topográficas e a cobertura vegetal (CHRISTOFOLETTI, 1981); ou uma
área que concentra a maior parte da descarga de sedimentos na estação chuvosa, que, no
Cerrado, dura de outubro a março (KLINK; MACHADO, 2005), como identificado por Feitosa
e Iost (2011), os quais constataram, em duas sub-bacias hidrográficas localizadas no Estado do
Tocantins, que cerca 77% da descarga de sedimentos em suspensão ocorreram neste período.

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Figura 2 - Quantitativo e localização dos pontos de coleta.

0,0012
0,001
CSS (mg/l)

0,0008
0,0006
0,0004
0,0002
0
P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 P15 P16 P17 P18 P19 P20 P21
Pontos de coleta

Figura 3 - Valores de concentração de sedimentos em suspensão nos pontos de coleta.


Estes valores estão distantes de encontrados em outros reservatórios, como os
apresentados, no período seco, por Nascimento et al. (2011), no reservatório UHE de Itumbiara
(com máximo de 1,81 mg/l), e por Cabral et al. (2012), nos reservatórios das UHE Caçu
(máximo de 4mg/l) e Barra dos Coqueiros (máx. de 8,0 mg/l).
A correlação da CSS com as bandas da imagem OLI/Landsat demonstrou que, para esse
conjunto de dados, quanto maior a CSS, menor a reflectância (correlação negativa) em quase
todas as bandas, exceção é a banda 3, a qual não mostra o mesmo padrão bem definido (Figura
4).
Considerando que, para se realizar o monitoramento da estimativa de concentração de
sedimentos em suspensão em corpos d’água por imagens remotamente sensoriadas, é,
geralmente, necessária uma relação quantitativa entre medidas in situ da concentração de
sedimentos e a correlação dessas medidas com dados de sensores remotos (JENSEN, 2009), a
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baixa correlação torna improvável o uso das imagens deste sensor neste reservatório.
Tendo em vista que observações, por imagens Landsat, em qualquer parte do bioma são
altamente improváveis durante a estação chuvosa, devido à presença de nuvens (SANO et al.,
2007), poucas são as oportunidades onde se é possível utilizar o sensor aqui avaliado ao estudo
de CSS, não apenas no reservatório da UHE de Cana Brava, mas em reservatórios com
condições similares de concentração de sedimento à encontrada no conjunto de dados aqui
apresentados.

superior esquerdo: banda 1


superior direito: banda 2
meio esquerdo: banda 3
meio direito: banda 4
inferior esquerdo: banda 5

todas com subtração da banda


6.

Figura 4 - Correlação da CSS com bandas do sensor OLI/Landsat-8.


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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso de imagens do sensor OLI/Landsat-8 à estimativa da concentração de sedimentos
em suspensão demonstrou ser pouco viável no reservatório estudado, levando em conta a
disponibilidade de imagens deste sensor, associado à baixa concentração de sedimentos
apresentada na área estudada e a consequente baixa relação deste com os valores de reflectância
dos pixels da imagem.
Altenativas para contornar esta situação pode envolver a realização de coleta em período
imediatamente após o fim do período chuvoso, já que o tempo entre o fim da precipitação e o
transporte de sedimento pode perdurar por alguns dias, ou mesmo meses, embora possa haver
contratempos relacionados à presença nuvens (as quais podem ocorrer em qualquer época do
ano) e à resolução espacial do Landsat-8 (16 dias), podendo, neste caso, se fazer uso de outros
sensores concomitantes, como o sentinel-2.

AGRADECIMENTOS
À Universidade Estadual de Goiás, pela concessão de bolsa PROBIP/UEG (Programa de Bolsa
de Incentivo à Pesquisa e Produção Científica) ao primeiro autor e de bolsas BIP/UEG
(Iniciação Científica) ao terceiro quarto e quinto autores.

REFERÊNCIAS
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sólidos em suspensão em reservatórios do estado de Goiás: Estudo de caso da UHE Caçu e
Barra dos Coqueiros. Revista GeoNorte, v. 4, p. 1460-1471, 2012.

CHARLTON, R. Fundamentals of fluvial geomorphology. New York: Routledge, 2008.


234p.

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(Edit) Geospatial Technology for Earth Observation, Springer, 2009. p. 431-471.

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Edgard Blücher. 1981. 297p.

CURRAN, P. J.; NOVO, E. M. M. The relationship between suspended sediment concentration


and remotely sensed spectral radiance - a review. Journal of Coastal Research. v. 4, n. 3, p.
351-368, 1988.

EISMA, D. Suspended matter in the aquatic Environment. Berlin Heidelberg: Springer-


Verlag. 1993. 323p.
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FEITOSA, T. B.; IOST, C. Dinâmica hidrossedimentológica de duas sub-bacias hidrográfi cas


localizadas no Estado do Tocantins. Rev. Acad., Ciênc. Agrár. Ambient., Curitiba, v. 9, n. 2,
p. 121-129, abr./jun. 2011.

HUGGETT, R. J. Fundamentals of geomorphology. Second edition. New York: Routledge,


2007. 466p.

JENSEN, J. R. Sensoriamento Remoto do Ambiente: uma perspectiva em recursos terrestres.


São José dos Campos, SP: Parêntese. 2009. 598 p.

KLINK, C. A., MACHADO, R. B. Conservation of the Brazilian Cerrado. Conservation


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LODHI, M. A.; RUNDQUIST, D. C.; HAN, L.; KUZILA, M. S. The Potential for Remote
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

BALANÇO HÍDRICO CLIMATOLÓGICO: UMA ANÁLISE


COMPARATIVA ENTRE ALGUMAS CAPITAIS BRASILEIRAS

Ozimo Mendonça Neto


Universidade Estadual de Goiás-UEG, Campus Formosa
ozimogeo@hotmail.com

Tatielly Lopes da Silva


Universidade Estadual de Goiás-UEG, Campus Formosa
tatielly.gecod.lm@gmail.com

Prof. Dr. Patrick Thomaz de Aquino Martins


Universidade Estadual de Goiás-UEG, Campus Formosa
patrick.martins@ueg.br

RESUMO: O presente estudo possui como objetivo elaborar e analisar o Balaço Hídrico Climatológico
(BHC) entre os períodos de 1985-2015 das capitais brasileiras Brasília-DF, Manaus-AM e Porto Alegre-
RS. Este estudo utiliza das características climáticas da localização dessas cidades, onde as mesmas
apresentam climas distintos (Clima Equatorial, Clima Tropical Típico e Clima Subtropical). O método
utilizado foi o de Thorthwaite & Mather (1955). Para o desenvolvimento dos cálculos do balanço hídrico
foram utilizados os dados de precipitações e temperaturas do Instituto Nacional de Meteorologia –
INMET, e apoio do Programa Computacional Excel 2013. As médias obtidas a partir dos dados em
gráficos mostram que as variações entre períodos secos e chuvosos nas cidades analisadas são
consideráveis. Compreender essas variações nos permite conhecer melhores possibilidades para os mais
diversos fins dentro da utilização da água como recurso associado a atividades econômicas, bem como
planejar de modo consciente a utilização desse recurso.

Palavras-chave: balanço hídrico; climatologia; capitais brasileiras.

INTRODUÇÃO
O balanço hídrico (BH) é fundamental para o desenvolvimento de várias atividades,
estando diretamente associado às atividades agropecuárias, bem como para a prestação de
serviços a sociedade. Carvalho e Stipp (2004) consideram que o BH nada mais é do que a
contabilização da água do solo, ou seja, uma forma de medir a quantidade de água que entra e
sai deste solo.
Desse modo, podemos visualizar o porquê da importância do BH para o
desenvolvimento de determinadas atividades. A água, essencial recurso natural utilizado pelos
mais diversos ramos, quando contabilizada possibilita maior nível de organização e gestão,
dando mais viabilidade para os avanços dentro dessas práticas.
Os parâmetros necessários para a determinação do BH são obtidos a partir de uma
estação meteorológica. Podemos compreender também o funcionamento do balanço hídrico a
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

partir do entendimento do seu sistema, inicialmente temos uma bacia hidrográfica, onde o
principal meio de abastecimento dela advém das precipitações. No entanto, podem ser
originados também do escoamento superficial afluente.
Tomasella e Rossato (2005, S/N) apontam que o BH corresponde “a somatória das
quantidades de água que entram e saem de uma certa porção do solo em um determinado
intervalo de tempo”. E o seu resultado, nada mais é do que a quantidade líquida de água
disponível para as plantas.
Thornthwaite e Mather (1955) desenvolveram um método para a medição do balanço
hídrico, o balanço hidrológico climatológico (BHC), pensado para obter as informações
hídricas de determinado local sem a necessidade direta da utilização de circunstâncias do solo.
Através desse método, o objetivo desse estudo é elaborar e analisar o BHC, entre os
períodos de 1985-2015, das seguintes capitais brasileiras: Brasília-DF, Manaus-AM e Porto
Alegre-RS. Este trabalho também utiliza das características climáticas das localizações dessas
cidades, onde as mesmas apresentam climas distintos.

MATERIAIS E MÉTODOS
Para o desenvolvimento deste estudo foi utilizado o método Thorthwaite & Mather
(1955). O desenvolvimento dos cálculos do BHC necessitou dos dados de precipitações e
temperaturas do Instituto Nacional de Meteorologia – INMET, e apoio do programa
computacional Excel 2013 (ROLIM et al., 1998).
No que se refere à elaboração do BH, foi necessário definir primeiramente o
armazenamento máximo no solo (CAD - Capacidade de Água Disponível), sendo ele
padronizado (100 mm), e a medida da chuva total, além da estimativa da evapotranspiração
potencial em cada período. “Com essas três informações básicas, o BHC permite deduzir a
evapotranspiração real, a deficiência ou o excedente hídrico, e o total de água retida no solo em
cada período” (PEREIRA, 2005, p.311).
A partir de Varejão-Silva (2005) e abordagem de Mendonça (1958), foi calculado o
CAD. Em relação a equação da continuidade, foi utilizada a forma analítica: E – s = ΔA. Onde,
E corresponde a entrada de água no sistema; S é igual a saída de água do sistema; e DA, a
variação do armazenamento de água neste sistema.

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Segundo Santos (2010, p.2), podemos considerar o movimento vertical da água, “o


que entra neste sistema é apenas a água devida à precipitação (P), enquanto o que sai é devido
à evapotranspiração (ETR) e à água que percola abaixo do alcance do sistema radicular da
cultura (EXC)”.
Para Antunes e Cupolillo (2013, p.3), “a medida da evapotranspiração potencial é feita
através do total de água, que é usado pela planta em um dia, determinado pela diferença entre
a quantidade de água colocada e percolada”.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
A região Centro-Oeste é composta pelos estados de: Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso
do Sul e Distrito Federal. Apresenta, além de suas superfícies mais baixas, áreas com altitudes
mais elevadas, as chapadas e superfícies cristalinas. Esses aspectos dão à região diversificação
térmica representativa, onde o período de seca é marcante no inverno e no verão predominam
as chuvas (NIMER, 1989, p. 393).
A Figura 01 representa a deficiência e o excedente hídrico, as áreas de retirada de água
do solo (alteração negativa, ALT-), de reposição de água no solo (alteração positiva, ALT+) e
da variação do ARM ao longo do ano. Por outro lado, o Gráfico 02, possibilita a identificação
dos valores de precipitação, evapotranspiração potencial e real na forma de linhas.
O armazenamento de água no solo mensal é representado pela Figura 01, onde notamos
que entre os meses de abril e outubro, baixos índices de ARM, com setembro o mês de menor
registro, 5,6 mm (Figura 01).
Os meses de novembro e dezembro caracterizam-se como os meses mais chuvosos,
apresentando, respectivamente, 240,45 mm e 249,71. Entretanto, junho e julho são os meses
com baixos índices de precipitação pluviométrica, não chegando a 6 mm (Figura 01).

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Figura 01: Capacidade de água disponível - CAD e Armazenamento - ARM mensal (esquerda); e BHC
completo plotando-se P, ETP e ETR na forma de linhas (direita), para Brasília-DF, no período de 1985-
2015. Fonte: adaptado INMET (2017).

Os índices da ETP são equilibrados durante quase todo o ano (100 mm), com exceção
do intervalo de meses entre maio e agosto, onde junho é o mês de menor evapotranspiração
potencial, com 66,23 mm. Em contra partida, os índices da ETR, sofrem maiores variações,
chegando a baixos índices, como, por exemplo, o mês de julho, com 21,1 mm.
A Figura 04 representa um BH mensal completo em forma de barras, as áreas
hachuradas correspondentes a excesso hídrico, deficiência hídrica, retirada e reposição de água
no solo. Brasília apresenta um longo período de estiagem entre os meses de maio e outubro,
com setembro o mês auge da seca. A Figura 02 mostra que as deficiências hídricas persistem
desde abril até outubro, meses extremamente secos. Por outro lado, o excedente hídrico é
representado pelo intervalo entre meados de outubro e março.

Figura 02: BHC Normal – Simplificado - EXC e -DEF (esquerda); e Completo - EXC, DEF, ALT
(direita) para Brasília-DF, no período de 1985-2015. Fonte: adaptado INMET (2017).

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Através da Figura 02, observa-se que o mês de dezembro apresentou o maior excedente
hídrico do período de estudo, com 149,9 mm, superior aos outros meses que também
registraram excedente hídrico (janeiro, fevereiro, março, abril e novembro). Entre os meses de
maio e setembro notamos os maiores déficits hídricos do período de análise, sendo agosto o
mês mais alarmante.
O mesmo ocorre com os índices de retirada hídrica, onde agosto também representa o
mês com maior retirada hídrica. Em contra partida, os meses de outubro e novembro se
caracterizaram por apresentar elevada reposição hídrica.
As determinações para a definição de determinado tipo climático devem sempre estar
associadas a alguns fatores fundamentais, como os estáticos e os geográficos, essências para
compreensão do tipo climático regional. A ocorrência do clima equatorial no Brasil está
concentrada na Região Norte, onde temos a presença da exuberante da Floresta Amazônica,
área que apresenta grande diversidade, fauna e flora robusta, rios majestosos e de significativa
importância para o território nacional. Todas essas características fizeram com que a região
fosse alvo de interesses associados a grande disponibilidade de recursos.
Na região Norte alguns sistemas de circulação atmosférica exercem influência sob o
clima regional.

Através do setor oriental da Região Norte sopram, periodicamente, ventos de E a NE


do anticiclone subtropical semifixo do Atlântico Sul e do anticiclone subtropical
semifixo dos Açores. Em virtude de possuírem uma subsidência superior e
consequente inversão de temperatura, tais ventos são acompanhados de tempo estável.
No setor ocidental predomina a massa de ar equatorial (mEc), 1 formada pela
convenção termodinâmica dos ventos de NE do anticiclone dos Açores e da
convergência intertropical (CIT). Esta massa de ar, pela forte umidade específica e
ausência de subsidência superior está, frequentemente, sujeita a instabilidades
causadoras de chuvas abundantes. No interior desta massa de ar, as chuvas são
provocadas por depressões dinâmicas denominadas linhas de instabilidades tropicais
(IT) induzidas em pequenas dorsais. No seio de uma linha de IT o ar em convergência
acarreta, geralmente, chuvas e trovoadas, por vezes granizo, e ventos moderados e
fortes com rajadas que atingem 60 a 90 km/hora (NIMER, 1989, p. 365).

A região Norte é cortada pela linha do equador, senda uma região com grande
incidência de radiação solar e, portanto, apresenta clima quente, com exceção de apenas
algumas áreas onde fatores geográficos conferem ao local características climáticas mais

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amenas. Não podendo deixar de mencionar a grande umidade presente na região e também
pluviosidade, apresentando certa irregularidade durante o ano.

Embora o período chuvoso na Região Norte seja representado pelos meses do verão-
outono, ao norte dos paralelos de 2 a 5° Lat. Sul, o máximo pluviométrico geralmente
se dá no outono e o mínimo na primavera. Este regime pluviométrico decorre do
seguinte: no outono, além da incidência de chuvas de oeste de IT da mEc ser um pouco
maior que no verão, estas chuvas se combinam com as chuvas de norte da CIT que,
no outono, possuindo uma posição média mais meridional, atingem mais
frequentemente as áreas setentrionais da Região Norte. Ao contrário, na primavera as
correntes perturbadas de N (CIT) acham-se muito deslocadas sobre o hemisfério norte
e raramente descem ao hemisfério sul, ficando a Região Norte na dependência quase
que exclusiva das chuvas de oeste de IT, que nesta época do ano começam a rarear ao
norte daqueles paralelos (NIMER, 1989, p. 376-377).

Ainda de acordo com Nimer:

Nas regiões de clima equatorial ou de clima tropical a estação chuvosa, ou a estação


seca, incide quase sempre na mesma época do ano. Nas regiões de climas equatorial
e tropical do norte da Amazônia, a estação chuvosa recai quase sempre no outono e o
mínimo na primavera. (NIMER, 1989. p. 215).

Em relação a capital Manaus, o ARM apresenta baixos índices entre os meses de maio
e dezembro, com outubro registrando o menor índice de armazenamento, 4,5 mm (Figura 03).
Os maiores índices de precipitação pluviométrica em Manaus são registrados entre dezembro e
maio, sendo abril o mês com maior 323,95 mm. A partir de maio observamos uma queda no
nível de chuva nessa região, com agosto apresentando os mais baixos índices de precipitação
pluviométrica, com 60,66 mm (Figura 03).

Figura 03: Capacidade de água disponível - CAD) e Armazenamento - ARM mensal (esquerda); e BHC

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completo plotando-se P, ETP e ETR na forma de linhas (direita), para Manaus-AM, no período de 1985-
2015. Fonte: adaptado INMET (2017).

Os índices da ETP chegam a 159,21 mm no mês de outubro, onde fevereiro registra a


menor evapotranspiração potencial. Em relação aos índices da ETR, observamos entre junho e
novembro baixos índices, onde setembro apresenta menor ETR, com 80,6 mm (Figura 03).
A Figura 04, mostra que as deficiências hídricas ocorrem entre os meses de junho a
novembro, meses onde os índices precipitação são menores. Outros meses apresentam de
moderado a elevado excedente hídrico, onde abril é registrado os maiores índices, com 187,9
mm.
Por meio da Figura 04, observa-se que o mês de dezembro apresentou o menor
excedente hídrico do período de estudo, com 27,8 mm, onde os meses de janeiro, fevereiro,
março, abril e maio registraram os maiores excedentes hídricos, superior a 123,8 mm.
Entre os meses de julho e outubro notamos os maiores déficits hídricos do período de
análise, sendo o mês de setembro o mais deficiente. A retirada hídrica é notável entre junho e
outubro, onde agosto representa o mês com maior retirada hídrica. Por outro lado, os meses de
novembro e dezembro, apresentaram elevada reposição hídrica, onde dezembro registra acima
de 70 mm de reposição (Figura 04).

Figura 04: BHC Normal – Simplificado - EXC e –DEF (esquerda); e Completo - EXC, DEF, ALT
(direita) para Manaus-AM, no período de 1985-2015. Fonte: adaptado INMET (2017).

O estado do Rio Grande do Sul é marcado pelo clima subtropical. Esse clima é
caracterizado por temperaturas médias anuais mais baixas em relação às demais regiões do país.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Nimer (1989) aponta que o clima regional do Sul do Brasil refere-se a uma notável
homogeneidade.
Ainda de acordo com o autor, vale ressaltar também a presença de umidade na região,
a homogeneidade e umidade presentes na região estão ligadas a diferentes condições que atuam
sobre a área. A classificação climática de Koppen para o clima subtropical conceitua que as
quatro estações do ano são muito claras, estando situado abaixo do tropico de capricórnio
(ROSSATO, 2011).
No ARM da cidade de Porto Alegre, é possível observar o período de baixo
armazenamento corresponde ao intervalo de meses entre dezembro e maio, onde março
registrou o menor índice de armazenamento, 44,5 mm (Figura 05).

Figura 05: Capacidade de água disponível - CAD e Armazenamento - ARM mensal (esquerdo); e BHC
completo plotando-se P, ETP e ETR na forma de linhas (direito), para Porto Alegre-RS, no período de
1985-2015. Fonte: adaptado INMET (2017).

A cidade de Porto Alegre registra índices de precipitação pluviométrica durante todo


ano, no período de análise foi registrado os maiores índices nos meses de julho e setembro, com
151,66 e 153,63 mm, respectivamente. O mês com menor registro foi março, com 94,57 mm
(Figura 05).
Os índices da ETP e ETR apresentam comportamentos parecidos entre abril e
dezembro, não sofrendo alteração, com pico em julho, registrando baixa de 33,4 mm. As
máximas de ETP e ETR são observadas em janeiro, com máximas de 143,33 mm e 136,2 mm
(Figura 05).
Ao analisarmos a Figura 06, notamos que as deficiências hídricas ocorrem em
intervalo pequeno de meses, que vaio de dezembro a abril. Por outro lado, entre os meses de

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maio a novembro observamos índices elevados de excedente hídrico, onde julho apresenta os
maiores índices, com 118,3 mm.

Figura 06: BHC Normal – Simplificado EXC e –DEF (esquerda); e Completo - EXC, DEF, ALT
(direita), para Porto Alegre-RS, no período de 1985-2015. Fonte: adaptado INMET (2017).

Entre os meses de maio e novembro excedentes hídricos, com máxima de 118,3 mm e


os maiores déficits hídricos do período de análise, ocorrem entre dezembro e março. A retirada
hídrica ocorre no mesmo período de tempo de DEF, onde março representa o mês com maior
retirada hídrica. Por outro lado, os meses de abril e maio apresentaram elevada reposição
hídrica, onde maio registra acima de 50 mm de reposição (Figura 06).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dentre as aplicações do BHC, a caraterização regional da disponibilidade hídrica
possui como objetivos: comparação dos climas de diferentes localidades; caracterização dos
períodos secos e úmidos; o planejamento agrícola baseado no zoneamento agroclimático.
As medias obtidas a partir dos dados em gráficos mostram que as variações entre
períodos secos e chuvosos nas cidades analisadas são consideráveis. Em Brasília-DF, os meses
de novembro e dezembro são os meses mais chuvosos, com (240,45 mm e 249,71); já os meses
de junho e julho são os meses com índices de precipitação pluviométrica mais baixa, não
atingindo (6 mm).
Em Manaus-AM, os maiores índices de precipitação pluviométrica são registrados
entre dezembro e maio, onde abril é o mês com maior índice (323,95 mm), em maio ocorre uma
queda no nível de chuva, onde agosto apresenta uma precipitação pluviométrica, com (60,66
mm). Porto Alegre-RS registra índices de precipitação pluviométrica durante todo ano, tendo
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os maiores índices nos meses de julho e setembro, com respectivamente (151,66 153,63 mm).
Tendo março como mês de menor índice (94,57 mm).
Portanto, compreender essas variações nos permite conhecer melhores possibilidades
para os mais diversos fins dentro da utilização da água como recurso associado a atividades
econômicas, bem como planejar de modo consciente a utilização desse recurso.

REFERÊNCIAS
ANTUNES, D. A.; CUPOLILLO, F. Balanço Hídrico Climatológico: estudo de caso do
município de Governador Valadares-MG. Trabalho de Conclusão de Curso. Instituição de
Federal de Minas Gerias-IFMG, 2013.
CARVALHO. M. S.; STIPP. F. A. N. Contribuição ao Estudo do Balanço Hídrico no Estado
do Paraná: uma proposta de classificação qualitativa. Geografia – Londrina – Volume 13 –
Número 1 – Jan./Jun, 2004.
Instituto Nacional de Meteorologia – INMET. Balaço Hídrico. Disponível em:
<http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=agrometeorologia/balancoHidricoClimatico>
Aceassado em: 25 de setembro de 2017.
MENDONÇA, P.V.E. Sobre o novo método de balanço hídrico de Thornthwaite e Mather.
In: Congresso Luso-Espanhol para o Progresso das Ciências, 24., 1958, Madrid, Acta, Madrid,
1958. p.415-425.
NIMER, E. Climatologia do Brasil. Rio de Janeiro. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística – IBGE, 1989
PEREIRA, R. A. Simplificando o Balanço Hídrico de Thornthwaite-Mather. Bragantia,
Campinas, v.64, n.2, p.311-313, 2005.
ROLIM, G. S.; SENTELHAS, P. C.; BARBIERI, V. Planilhas no ambiente EXCEL TM
para os cálculos de balanços hídricos: normal, sequencial, de cultura e de produtividade real
e potencial. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v. 6, n.1, p.133-137, 1998.
ROSSATO. S. M. Ao estudar o clima regional do Sul do Brasil, o primeiro fato que
observamos refere-se a sua notável homogeneidade. Porto Alegre, 2011.
SANTOS, A. R. dos. Balanço Hídrico segundo Thornthwaite e Mather, 1955. Universidade
Federal do Espírito Santo-Ufes / Dept. de Geografia / Climatologia, 2010.

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TOMASELLA J.; ROSSATO L. Balanço Hídrico. Tópicos em Meio Ambiente e Ciências


Atmosféricas. INPE. São José dos Campos – São Paulo, 2005.
THORNTHWAITE, C.W.; MATHER, J.R. The water balance. Publications in Climatology.
New Jersey: Drexel Institute of Technology, 104p. 1955.
VAREJAO-SILVA, M. A. Meteorologia e climatologia. Recife, 2005.

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CARACTERIZAÇÃO PRELIMINAR DO ABASTECIMENTO PÚBLICO


E VOLUME MÉDIO DE CHUVAS NO MUNICÍPIO DE FORMOSA -
GOIÁS

Matheus Santiago Vieira


Universidade Estadual de Goiás-Campus Formosa
teumice@gmail.com

Elton Souza Oliveira


Universidade Estadual de Goiás-Campus Formosa
elton.gea@gmail.com

RESUMO: Tendo em vista o cenário hídrico instalado em diversos locais do terrítorio brasileiro
especificamente no estado de Goiás, o presente estudo centrou-se em realizar uma caracterização
preliminar do cenário hídrico do município de Formosa-Go com o intuito de promover a discussão a
partir da interpretação dos dados quantitativos de abastecimento público e volume médio de chuvas do
município. tendo em vista a grande importância que á agua proporciona para a sociedade, conseguinte
a entender a realidade hídrica do município de Formosa-Go.

Palavras-chave: água; município; dados;

INTRODUÇÃO
Ao longo da história a água sempre foi um fator prepoderante para a intalação e
manutenção da vida humana no planeta Terra. Segundo Tundisi (2006) os cenários críticos
relacionados aos recursos hídricos motivou a discussão e realização de diversos fóruns
regionais, nacionais e internacionais. Mesmo com o apresentado pelo autor o que se observou
nos últimos anos foi uma falta de planejamento e gestão dos recursos hidricos, o que levou a
cenários alarmantes.
Entre os cenários críticos o que se observa são problemas de escassez hídrica e poluição
dos recursos naturais no mundo. Esse fato vem acarretando impactos na oferta por água de
qualidade e consequentemente tem gerado diversos conflitos, sociais e ambientais. Segundo
Furtado (2008) a busca por água tem acarretado conflitos ao redor do mundo. No intuito de
manter o equilibrio entre os recursos naturais e as atividades humanas Tucci (2008) alerta para
a necessidade de se buscar uma harmonia entre as atividades sobre pena de se instalar um
completo caos, principalmente nas cidades.
O que se observa no municipio de Formosa-Goiás não se difere muito dos grandes
centros urbanos, visto que a presente área sofre com tal desequilibrio. Isso pode ser observado
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nos perídoso chuvosos onde a cidade apresenta diversos pontos de alagamento e inundação
(Ramalho; Oliveira; Dourado, 2017) além de apresentar problemas de abastecimento publico
no período de estiagem. Pensando na necessidade de maiores discussões sobre a situação o
presente trabalho se propõe a apresentar dados relativos ao o abastecimento público de água e
volume médio de chuvas do município.

MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa irá se fundamentar em procedimentos descritivos e abordagens baseadas na
pesquisa quantitativa. Os dados levantados e apresentados são de orgãos publicos, sendo eles:
• IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística;
• INMET – Instituto Nacional de Meteorologia;
• Dados do SNIS – Sistema Nacional de Informação do Ministerio das
Cidades.
A base de dados levantada é composta pelos dados de abastecimento público do
munícipio de dados de precipitação.

RESULTADO E DISCUSSÕES
Formosa, figura 1, está situada no estado de Goiás, no Brasil, localizada a 79 km de
Brasília – capital federal do Brasil e 280 km de Goiânia – capital de Goiás, com uma população
estimada em aproximadamente 115.789 habitantes e com uma área de aproximadamente
5.806,891 km² (IBGE, 2017), é conhecida como berço das águas ou divisor de águas das bacias
dos rios São Francisco, Tocantins e Prata, por ventura concentra inúmeras nascentes, rios,
quedas d’água, lagos e lagoas. Está localizada ainda na messoregião – Leste Goiano e na
microrregião do entorno do Distrito Federal (IBGE,2017).
Figura 1 – Representação do município de Formosa-Go

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Abastecimento público
Diante dos aproximadamente, 115 mil habitantes de Formosa-Go, segundo dados do
IBGE em 2017, a oferta de água é um dos fatores importantes para a população, este serviço
hoje é ofertado pela Saneago - Companhia de Saneamento de Goiás S.A. – uma empresa de
saneamento básico brasileira, onde tem como área de atuação o estado de Goiás, sendo
responsável pelo saneamento de 225 dos 246 municípios goianos, sendo uma sociedade de
economia mista do governo do Estado de Goiás.
A água captada para abastecimento é proveniente do Córrego Bandeirinha e devido as
características da localidade é bombeada por meio de uma estação elevatória para
posteriormente ser tratada e distribuída a população. O que os dados apontam, mesmo com a
limitação da área de captação, é um crescimento no número de pessoas atendidadas pelo serviço
de abastecimento, conforme gráfico 1.

Gráfico 1 – Total de população abastecida por água e esgoto no município de Formosa-


Go entre 2003

População atendida com abastecimento público de água e esgoto


no município de Formosa-Go (2003-2016)

120.000
100.000
População

80.000
60.000
40.000
20.000
0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Ano

Fonte: Ministério das Cidades – SNIS - Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento

Os dados evidenciam o crescimento da oferta do serviço, no ano de 2003 a população


que tinha acesso a água tratada e esgoto era de 75.901 pessoas, passando para 104.850 pessoas
em 2016. Em conjunto com o aumento da oferta pelo serviço observou-se também um aumento
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

no consumo de água, gráfico 2. O aumento pode ser explicado, além do aumento da oferta pelo
serviço, pela mudança do hábitos de consumo. A medida que a renda da população é alterada
muda-se também os hábitos de consumo da população.

Gráfico 2 – Volume de água consumido no município de Formosa-Go, entre os anos de


2003 e 2016

Volume de água consumido no município de Formosa-


Go, entre os anos de 2003 e 2016

5.000,00
Volume 1000 m³

4.000,00

3.000,00

2.000,00

1.000,00

0,00
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Ano

Fonte: Ministério das Cidades – SNIS - Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento

Os dados evidenciam o crescimento do consumo de água, passando de 3.005,00 m³ em


2003 para 4.385,35 m³ em 2016. O problema fica evidente ao notar que houve incremento no
consumo e distribuição porém a produção de água não sofreu evolução significativa, gráfico 3,
uma vez que não houve ampliação e/ou criação de novos pontos de captação de água.

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Gráfico 3 – Volume de água produzido no município de Formosa-Go (2003-2016)

Volume de água produzido no município de


Volume de água produzido 1000 m³

Formosa-Go (2003-2016)
8.000,00
6.000,00
4.000,00
2.000,00
0,00
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Ano

Fonte: Ministério das Cidades – SNIS - Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento

No ano de 2013 o volume de água produzido no município era de 5.059,00 m³, equanto
em 2016 passou a ser de 6.878,45 m³. Ao analisar os dados iniciais nota-se a necessidade de
melhorias no sistema ou mudança de hábitos por meio da população.

Volume médio de chuvas


A chuva é fundamental para a vida no planeta e traz benefícios diretos a todos os seres
vivos e ao meio ambiente, onde tem a função de abastecer os rios e lagos e recarregar o lençol
freático, que irão abastecer os reservátorios. As principais características das chuvas são a sua
quantidade e intensidade, cujos valores variam ao longo de um período de tempo (ano, mês,
dias) em determinados lugares. O conhecimento preciso destas características principais é
essencial para o planejamento e a avaliação eficaz dos fenômenos provocados pela chuva. Daí
a importância de se monitorar os eventos de chuva, especialmente no extenso território
brasileiro.
Observa-se, gráfico 4, que ocorre grandes oscilações entre os anos, enquanto 2004, 2009
e 2013 são os únicos anos com médias acima de 1500 milímetros, o ano de 2012 foi o único
ano que ficou com índice entre 1000 milímetros, sendo o ano com índice pluviométrico mais
baixo, e 2004 o ano com maior índice pluviométrico anual com 1756,2 milímetros.

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Gráfico 4 – Média anual de precipitações no município de Formosa-Go (2003-


2016)

Média Anual de Precipitações no Município de Formosa-


Go (2003-2016)
2000
Precipitação (mm)

1500

1000

500

0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Ano

Fonte: INMET-Instituto Nacional de Meteorologia

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A frente da realidade hídrica do município de Formosa-Go, discute-se os seguintes
resultados. Ao analisar os dados fornecidos pelo Ministério das Cidades – SNIS – Sistema
Nacional de Informação sobre abastecimento público de água no município de Formosa-Go,
observa-se que o número pessoas que estão sendo atendidas pela oferta de água e esgoto no
município está aumentando, enquanto no ano de 2003 era de 75.901 pessoas esse número subiu
passando para 104.850 pessoas no ano 2016, tendo em vista que a população de Formosa-Go
está em torno de 115 mil habitantes (IBGE,2017), mesmo com grande avanço nessa oferta ainda
há muito que alcançar. Logo, observou que o consumo de água também aumentou, em 2003
segundo o Ministério das Cidades, o consumo de água era de 3.005,00 m³ por ano, passando
para 4.385,35 m³ em 2016.
Com a oferta de água aumentando o consumo também aumentou, em 2013 o volume de
água produzido no município era de 5.059,00 m³, enquanto em 2016 passou para 6.878,45 m³.
Portanto, interpreta-se que a medida que a oferta de água aumenta o consumo a produção de
água pelo habitante também aumenta, frente a crescente urbanização nas cidades e o avanço
das tecnologias do campo.

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Em relação ao volume de chuvas no município de Formosa-Go foi analisado dados do


período anual dos anos de 2003 a 2016. Observou que os índices pluviométricos variaram
bastante, enquanto o ano de 2004 obteve maior índice pluviométrico com 1756,2 milímetros, o
ano de 2012 teve o índice mais baixo com 1009,8 milimetros anuais.

REFERÊNCIAS
FURTADO, Dermeval de Araújo. Gestão Integrada de Recursos Hídricos / Dermeval de
Araújo Furtado; Annemarrie Konig . - Campina Grande: Gráfica Agenda, Campina Grande-
PB , 2008. 1°ed. 115p.
RAMALHO, Lucas de Sousa; OLIVEIRA, Elton Souza; DOURADO, Marcos
Vinicius Santos (2017). Utilização do Geoprocessamento para o mapeamento de
áreas suscetíveis a alagamentos na cidade de Formosa – Goiás. Boletim de
Geografia de Maringá, 35(2):63-82.
TUNDISI, José Galizia. Novas perspectivas para a gestão de recursos hídricos. Revista
USP, Brasil, n. 70, p. 24-35, aug. 2006. ISSN 2316-9036. Disponível em:
>http://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/13529/15347<.
TUCCI, Carlos E. M.. Águas urbanas . Estudos Avançados, São Paulo, v. 22, n. 63, p. 97-
112, jan. 2008. ISSN 1806-9592. Disponível em:
>http://www.revistas.usp.br/eav/article/view/10295<. Acesso em: 22 may 2018
TUNDISI, José Galizia. Recursos hídricos no futuro: problemas e soluções . Estudos
Avançados, São Paulo, v. 22, n. 63, p. 7-16, jan. 2008. ISSN 1806-9592. Disponível em:
>http://www.revistas.usp.br/eav/article/view/10290<.
Material de Internet
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Panorama geral sobre
Formosa-GO. 2017. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/go/formosa/panorama
Acesso em: 10 de maio. 2018.
Ministério das Cidades – SNIS - Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento.
Disponível em: >http://app3.cidades.gov.br/serieHistorica/#<
>http://www.cidades.gov.br/secretarias-nacionais/saneamento-ambiental< Acesso em 22 de
maio de 2018.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

INMET- INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA. «BDMEP - Série Histórica -


Dados Diários - Precipitação (mm) - Formosa». Instituto Nacional de Meteorologia. Acesso
em 25 de maio de 2018.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

DAS ORGANIZAÇÕES CIVIS DE RECURSOS HÍDRICOS, FRENTE A


LEI Nº 9.433, DE 8 DE JANEIRO DE 1997

Thaynã Dias Ferreira Avelar


Universidade Estadual de Goiás-UEG

Derick Martins Borges de Moura


Universidade Estadual de Goiás-UEG

Resumo: O presente artigo busca indagar, exemplificar e conceituar os institutos criados por meio da
Lei Federal nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997 no ordenamento brasileiro a qual instituiu a política
nacional de recursos hídricos e criou cumulativamente o sistema nacional de gerenciamento de recursos
hídricos, em especial a presente pesquisa acadêmica visa também dar destaque as organizações civis de
recursos hídricos, qual seja, consórcios e associações intermunicipais de bacias hidrográficas,
associações regionais, locais ou setoriais, organizações técnicas e de ensino e pesquisa, organizações
não-governamentais com objetivos de defesa de interesses difusos e coletivos da sociedade e outras
organizações reconhecidas pelo conselho nacional ou pelos conselhos estaduais de recursos hídricos,
dessa forma apresentando conceitos e trazendo exemplos da atuação prática desses entes criados, assim
também tentar apresentar com o referido trabalho, qual seria a importância no ordenamento jurídico
brasileiro e na vida prática e cotidiana de todos e em especial aos assuntos atinentes aos recursos
hídricos, por meio da atuação desses órgãos. Por fim tentar demonstrar como o estado e todos nos
jurisdicionados podemos dar uma contribuição no sentido de ajudar no cumprimento e aplicação correta
da citada lei, com maior destaque de sua aplicação na conservação e preservação dos recursos hídricos
para as presentes e futuras gerações.

Palavras chaves: Organizações Civis; Política Nacional de Recursos Hídricos; Recursos Hídricos.

INTRODUÇÃO
Com a criação da Lei Nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que Instituiu a Política
Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos que regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da
Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de
1989, houve uma consequente inovação no ordenamento jurídico brasileiro como a
incorporação dessa espécie normativa àquelas já existentes e que tratavam de assuntos relativos
aos recursos hídricos e ao direito ambiental pátrio, alterando também importante assunto
indicado na Constituição Federal da República Federativa Brasileira em seu artigo 21, inciso
XIX.
Com o promulgação do citado texto legal ocorreu a instituição de novos assuntos e
também houve a tratativa de temas não antes debatidos em relação ao Direito Ambiental,
trazendo portanto os fundamentos da Política Nacional De Recursos Hídricos no artigo 1º da
citada lei, dispondo também sobre os fundamentos, objetivos, diretrizes gerais de ação,
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instrumentos, dos planos de recursos hídricos, do enquadramento dos corpos de água, da


outorga de direitos de uso de recursos hídricos, da cobrança do uso de recursos hídricos, do
sistema de informações, da ação do poder público, do sistema nacional de gerenciamento de
recursos hídricos, seus objetivos e composição.
Lado outro a espécie normativa em epígrafe aborda também assuntos de igual
importância as demais já citadas, tais como a mencionada lei, dispõe sobre o conselho nacional
de recursos hídricos, dos comitês de bacia hidrográfica, das agências de água, da secretaria
executiva do conselho nacional de recursos hídricos, das organizações civis de recursos
hídricos, das infrações e penalidades e das disposições gerais e transitórias.
Nada obstante o presente é no sentido de trazer aqui uma análise aprofundada aos
assuntos relativos ao indicado tópico referenciado da Lei Nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que
trata sobre das organizações civis de recursos hídricos e com consequência fazer uma
abordagem concisa e eficaz quanto ao texto legal criado pela espécie normativa federal,
tentando abordar de maneira mais clara os significados e as mensagens que a lei federal trás a
população geral com sua promulgação no ano de 1997.

OBJETIVOS
O referido ensaio acadêmico tem como pretensão trazer para o presente uma abordagem
quanto as organizações civis de recursos hídricos, frente a Lei Federal nº 9.433, de 8 de janeiro
de 1997, pontuando e conceituado o que são esses entes, que foram trazidos ao ordenamento
jurídico brasileiro, por meio da promulgação da Espécie Normativa Federal no ano de 1997,
sendo tais organizações, abordadas por intermédio dessa lei e tais assuntos trazidos ao
ordenamento brasileiro e pouco abordado no cotidiano pátrio, razão pela qual, essa aprofundada
abordagem quanto ao tema, tenta mostrar que o assunto é de fácil compreensão e entendimento,
diferentemente do que a lei dispõe em seu texto original o qual deixa uma impressão de que tal
assunto é supostamente de difícil compreensão e quase impossível aplicação na vida prática,
como na verdade não é.
Dessa forma para assim facilitar esta pesquisa, serão os objetivos divididos em geral e
específicos, conforme adiante se declinam, para melhor compreensão do tema em comento.
O objetivo geral é o elemento que reduz e traz a ideia central da pesquisa acadêmica.
Este deve expressar de maneira clarividente qual é a intenção daquele projeto de pesquisa que

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

descreve e também pontuar qual será o intuito do trabalho acadêmico, no caso presente o
objetivo geral é a demonstração do que são as organizações civis de recursos hídricos, com o
aprofundamento desses conceitos mediante a explicação desses pontos trazidos ao presente
estudo acadêmico no bojo da presente pesquisa acadêmica.
Assim sendo, o objetivo geral vem a ser a definição do propósito do trabalho, este
necessita possuir a hipótese ou problema que será verificado e a delimitação do referido tema,
tornando mais fácil o discernimento do que se aguarda com o mencionado estudo acadêmico,
nesse passo após o aprofundamento dos conceitos e a exemplificação do tema, esses serão assim
de melhor compreensão e entendimento ao leitor sobre o tema do esse vem realizar o presente
estudo acadêmico.
Nesses termos, o objetivo específico nada mais é do que os resultados que se pretende
encontrar com a pesquisa de maneira mais detalhada. Noutro lado, o citado trabalho busca
relacionar com maior afinco o objeto dessa pesquisa e suas particularidades, contribuindo para
a delimitação do tema.
Dessa maneira para melhor haver o entendimento dos objetivos específicos e facilitar
sua escrita, podemos observar esse como sendo o essencial para alcançar o objetivo geral. Dessa
maneira trazem, portanto, as etapas da pesquisa na ordem de realização, as formas e seus meios
de transmitir esse conhecimento com base nessa pesquisa acadêmica.
Portanto, em razão do que acima asseverou, os objetivos específicos se manifestam de
forma direta junto ao objetivo geral, verificando o processo para seu alcance e sendo necessário
uma orientação do todo conteúdo tratado ao decorrer da pesquisa acadêmica, para que assim
seja de fácil entendimento as dúvidas relativas as organizações civis de recursos hídricos e seus
respectivos fatos exemplificativos sobre o tema em apreço.

MATERIAIS E MÉTODOS

Quanto as delimitações sobre o desenvolvimento do presente trabalho científico, temos


que esse foi procedido por meio de uma pesquisa bibliográfica quantitativa e qualitativa,
levando em consideração que há como indicar precisamente o que pode ser enquadrado como
organizações civis de recursos hídricos, sendo portanto um tema quantificável, por tal meio
aplica-se a esse caso concreto a chamada análise quantitativa, no entanto referindo-se aos

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

meios que não há como mensurar, ou seja a quantidade de sociedades civis existentes, seus
traços subjetivos e suas particularidades. Tais pormenores como dito não podem ser traduzidos
em números quantificáveis, associado tudo isso aos métodos históricos combinados esses
juntamente com a pesquisa sobre o tema ora proposta.
Para tanto realiza-se esses estudos necessários para que haja a juntada de informações
e ideias necessárias para o desenvolvimento do presente trabalho cientifico, trazendo, portanto,
termos, ideias, pesquisas e demais formas de conhecimento agrupadas com o escopo acadêmico
de trazer ao referido trabalho meios de compreensão claros e agradável do presente.
A bibliografia será fundamentada em especial na Lei da Política Nacional de Recursos
Hídricos (Lei nº 9.433, de 8 de Janeiro de 1997) acrescida e incorporada ao referido estudo
cientifico através de leituras, artigos diversos, resumos, pesquisas em sites e interpretações, para
melhor interpretar o que vem a ser as organizações civis de recursos hídricos, e com isso se
tenha uma quantidade razoável de elementos necessários para a estruturação e criação da
pesquisa cientifica em referência.
Relacionando a pesquisa a ser delimitada, deve a mesma se ater a métodos históricos,
dizendo assim que a pesquisa em referência tem fundamentação em análise de registros, artigos
científicos, livros e demais periódicos históricos e também a mencionada espécie normativa
(Lei Federal nº 9.433/1997). Quanto a essência da mencionada pesquisa acadêmica, deve-se
levar em consideração a situação problema que este dá ênfase e também todo o conteúdo
exemplificativo que se refere ao presente. Nesses termos e havendo uma quantidade adequada
de dados necessários, pode-se, portanto, explorar tais assuntos abordados, a fim de chegar a
conclusões no final da pesquisa acadêmica aqui tratada.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
O presente trabalho acadêmico tem por finalidade a análise de maneira pormenorizada
dos artigos e dos incisos que a legislação trás e aborda a respeito das organizações civis de
recursos hídricos, nesse passo cabe aqui trazer a presente discussão os mencionados
dispositivos legais, que fazem referência ao presente tema em discussão, como indicado nos
artigos 47 e 48 da Lei Federal Nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que Institui a Política Nacional
de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, como
se observa a frente:

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“Art. 47. São consideradas, para os efeitos desta Lei, organizações civis de
recursos hídricos:
I - consórcios e associações intermunicipais de bacias hidrográficas;
II - associações regionais, locais ou setoriais de usuários de recursos hídricos;
III - organizações técnicas e de ensino e pesquisa com interesse na área de
recursos hídricos;
IV - organizações não-governamentais com objetivos de defesa de interesses
difusos e coletivos da sociedade;
V - outras organizações reconhecidas pelo Conselho Nacional ou pelos
Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos.
Art. 48. Para integrar o Sistema Nacional de Recursos Hídricos, as
organizações civis de recursos hídricos devem ser legalmente constituídas.
Falar das Organizações Civis de Recursos Hídricos é, portanto, proceder uma análise
mediante a leitura ou interpretação do texto legal, estabelecido no artigo 47 da (Lei nº 9.433,
de 8 de Janeiro de 1997) transcrito acima, no entanto, nem todos que possuem possibilidade de
análise ao texto legal, tem os elementos de conhecimento necessários e o discernimento
essencial dos temas sob análise.
Por tal razão, a compreensão do que dispõe a lei tornar-se forçoso para determinadas
pessoas, assim tenta-se aqui trazer uma possível solução a essa situação problema existente na
presente circunstância, incorporada ao tema que aqui titula nossa pesquisa acadêmica.
Assim, falar sobre o que são organizações civis de recurso hídricos é primeiramente ter
conhecimento sobre seu significado, organização é a maneira como se propõe um sistema para
alcançar os resultados esperados. Via de regra é formada por mais de uma pessoa que executem
funções de forma controlada e coordenada com o intuito de alcançar um objetivo em comum,
com eficácia.
Nesses termos, falaremos então sobre o que vem a ser consórcios e associações
intermunicipais de bacias hidrográficas. Consórcio intermunicipal, conforme IBGE (2002),
é um acordo firmado entre municípios para a realização de objetivos de interesse comum. Um
dos principais motivos para se criar um consórcio é a carência dos gestores locais, tanto de
capacidade instalada, quanto de recursos financeiros e humanos, frente ao desafio da
descentralização.

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Outros motivos incluem a possibilidade de implementação de ações conjuntas, a


possibilidade de articulação de pressão conjunta junto aos órgãos de governo e a capacidade de
visão macro dos ecossistemas em termos de planejamento e intervenção. Através deste tipo de
estratégia de articulação das organizações que podem ser agrupados em redes, as chamadas
redes sociais de colaboração, que devem ser trabalhadas a fim de investir na ampliação e na
reprodução da cooperação solidária em todos os níveis de organização na expectativa de
otimização da ação coletiva em prol do desenvolvimento, conforme mencionado por Diniz
(2009).
Por outro lado, podemos conceituar o significado de associação, por ser a união de
pessoas que se organizem para fins não econômicos, conforme estabelece o artigo 53 do Código
Civil Brasileiro, Lei Federal nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002.
No que se refere a associações regionais, locais ou setoriais de usuários de recursos
hídricos, tomando por base o que acima fora explicitado, essa associação indicada no inciso II
difere daquela do inciso I, ambos do artigo 47 da Lei nº 9.433/1997, visto que essa possui
abrangência distinta daquela, pois aqui a dimensão é abarcada a determinadas regiões, setores
e referidos locais os quais essa união a qual se organizam para fins não econômicos procedem
sua atuação voltado as recursos hídricos.
Em relação ao que vem a ser as organizações técnicas e de ensino e pesquisa com
interesse na área de recursos hídricos, essas podem determinar como as entidades que criam
sistemas para alcançar determinados resultados, normalmente determinada por mais de uma
pessoa que execute funções com intenção comum de alcançar um objetivo, aplicado nesses caso
técnicas a variar de sua área de atuação com interesse na área hídrica.
Por outro lado, as organizações não-governamentais com objetivos de defesa de
interesses difusos e coletivos da sociedade, nada mais são, do que entidades que buscam a
defesa de determinados interesses, sendo eles os difusos e os coletivos. Conforme (ORTEGA)
difusos são aqueles que possuem o mais elevado grau de transindividualidade1 e, em face disso,
não há como determinar todos os sujeitos titulares, o que, por outro lado, dá sustentação à
indivisibilidade do objeto e a sua reparabilidade indireta, enquanto que, os interesses coletivos

1
Interesse de um grupo, coletividade, aquilo que não se pode individualizar de quem é o interesse, pois o interesse
é coletivo, ligados pelo mesmo fato, ou por objeto indivisível.
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em sentido estrito caracterizam-se pela transindividualidade2 restrita ao número de sujeitos que


compõem uma determinada classe, grupo ou categoria de pessoas, unidas por uma relação-
jurídica base, permitindo-se apenas a disponibilidade coletiva do objeto.
Por fim os outros entes são aqueles, definidos como outras organizações reconhecidas
pelo Conselho Nacional ou pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, sendo aqueles
reconhecidos pelas instituições que são taxativamente indicadas na Lei nº 9.433/1997, em
especial no artigo 47 em seu inciso V, mormente ao que fora anotado acima possui um requisito
essencial para que tais entes integrem o Sistema Nacional de Recursos Hídricos, esses devem
ser legalmente constituídas, ou seja, atender os requisitos da legislação pátria para fazer jus a
sua constituição, inteligência do artigo 48 da Lei Federal Nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que
Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento
de Recursos Hídricos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto este trabalho científico teve como objetivo fornecer uma visão geral sobre as
organizações civis de recursos hídricos, frente a lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, com o
intuito precípuo de tentar trazer de maneira clara, simples e exemplificativa uma nova
perspectiva a respeito do que podemos entender sobre as organizações civis com ênfase aos
recursos hídricos, tentando no entanto, delimitar cada uma destas por meio de detalhamento e
exemplificação.
Lado outro, evidencia-se com o presente trabalho que as organizações que integram o
artigo 47, têm sua abrangência contida na área hídrica e essencialmente para fazer parte do rol
taxativo do texto legal devem, portanto, serem legalmente constituídas como dispõe a lei em
referência.
Assim, a essência do presente foi construída através das anotações baseadas em
pesquisas, conceituações e exemplificações e com a abordagem da situação problema que
entendemos ser o questionamento quanto as organizações civis de recursos hídricos, frente a lei
nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, pontuando e conceituado o que são esses entes, que foram

2
Interesse de um grupo, coletividade, aquilo que não se pode individualizar de quem é o interesse, pois o interesse
é coletivo, ligados pelo mesmo fato, ou por objeto indivisível.
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trazidos ao ordenamento jurídico brasileiro por meio da promulgação da Lei Federal no ano de
1997, sendo tais organizações abordadas por intermédio dessa espécie normativa e tais assuntos
trazidos ao ordenamento pátrio e pouco abordado no cotidiano, razão pela qual, essa abordagem
quanto ao tema, tenta trazer uma impressão de que esse assunto é de fácil compreensão
mediante utilização de conceituação e exemplificação quanto aos termos legais, tornando-se
assim a aplicação possível na vida prática mediante o entendimento das regras trazidas pela
legislação mediante o que fora acima transcrito.
Por fim, algo que poderia também ajudar a uma melhor perspectiva da população em
geral no que se refere ao entendimento da legislação atinente a organização civis de recursos
hídricos, seria o desenvolvimento de ações e políticas aplicadas pelo poder público, para assim
trazer a população uma melhora no entendimento e tentar trabalhar na prática com as regras
trazidas pela lei, como incentivos a criação dessas organizações por quem queira instituir tais
entes dentre pessoas integrantes da população em geral e fomento a aquelas que já se encontram
instituídas e em pleno funcionamento, visto se tratar de entes com atuação em uma área
essencial para a qualidade de vida, para as presentes e futuras gerações, atuando junto a
preservação da fonte de toda a vida existente, algo indispensável a todos os seres do nosso
planeta terra, os recursos hídricos a espécie do gênero maior água.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Lei Nº 9.433, De 8 De Janeiro De 1997. Institui a Política Nacional de Recursos


Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o
inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março
de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9433.htm. Site Oficial da República Federativa do
Brasil, Brasília, DF. 2018. Acesso em: 05, 08 e 10 de Maio de 2018.
BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF,
Senado, 2018.
DINIZ, Danusa Freire Costa. Consórcio Intermunicipal: Estratégias Colaborativas e
Competitivas do CIVARC no Norte Pioneiro do Paraná. Curitiba, 2009. Dissertação –

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Mestrado em Administração – Setor de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do


Paraná.
BRASIL, Código Civil (2002). Código Civil Brasileiro (Lei Federal nº 10.406, de 10 de
janeiro de 2002). Brasília, DF, Senado, 2018.
ORTEGA, Flávia Teixeira. Resumo dos direitos difusos, coletivos e individuais
homogêneos. Cascavel-PR, 2016.

SIGNIFICADOS, Google. – Significado de Transindividual. Disponível em:


<https://www.dicionarioinformal.com.br/transindividual/> Acesso em 19 Mai. 2018.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

DEGRADAÇÃO DO SUBSISTEMA DE VEREDA CAUSADA PELO


AGROHIDRONEGÓCIO DO PIVÔ CENTRAL NO MUNICÍPIO DE
JUSSARA - GO
Renato Adriano Martins
Universidade Estadual de Goiás.
renato-geo@hotmail.com

Eduardo Vieira dos Santos


Universidade Federal de Goiás – Regional Jataí
edugeo2000@yahoo.com.br

Mônica Aparecida Guimarães da Silva


Universidade Federal de Goiás – Regional Catalão
monicaags2008@yahoo.com.br

RESUMO: O ambiente de vereda apresenta ampla importância para o Cerrado, além de sua importância
ecológica, é responsável pela perenidade de diversos cursos de água. Mesmo frente a essa importância
o agrohidronegócio tem ocupado esse ambiente e causado sérios impactos ambientais. A presente
pesquisa teve como objetivo realizar, através de amostragens, um levantamento do percentual de
reservatórios destinados ao abastecimento de pivô central construído sobre ambiente de Vereda no
município de Jussara - GO. No estudo, foram mapeados todos os pivôs existentes utilizando-se imagem
do satélite ResourceSat 2 sensor LISS-3, ano de 2016. Nessas imagens efetuou-se a composição colorida
3B/4R/5G, o georreferenciamento, método imagem/imagem, em seguida as cenas foram mosaicadas e
através de uma máscara recortou-se a área de interesse. A identificação dos pivôs foi efetuada por
detecção visual. Após a identificação, foi efetuada visita a campo em dez áreas de pivôs centrais para a
verificação se os reservatórios estão implantados sobre veredas. Com a efetivação dos mapeamentos
foram encontrados 114 pivôs centrais, totalizando 126,07 km² de área irrigada. Desse modo, com relação
a todo o Estado de Goiás, o Município ficou em quarto lugar, em número de unidades instaladas e o
segundo em área irrigada. Trinta por cento dos reservatórios de pivôs centrais visitas foram construídos
sobre o ambiente de vereda. A pesquisa evidenciou que a prática de irrigação por pivô central no
município de Jussara está contribuindo diretamente para a degradação do subsistema de vereda

Palavras-Chave: Cerrado. Água. Impacto ambiental.

INTRODUÇÃO
Na região do Cerrado durante o período da seca, a perenidade dos cursos d’água depende
diretamente da água armazenada no subsolo, que deve ser liberada lentamente, de forma que,
mesmo em pequena vazão, o fluxo de água seja permanente. Nesse sentido, a Vereda atua como
a válvula que regula a liberação da água que abastece os cursos, principalmente durante o
período de estiagem. Fundamenta-se aqui a grande importância desse ambiente, além de servir
de refúgio para a fauna e de contribuir para manutenção da diversidade florística (FERREIRA,
2003).
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Não obstante, o avanço da agricultura moderna, através de um contínuo processo de


mecanização, engendrou novas formas e técnicas de cultivos no Cerrado, fato este que,
reproduziu nesse bioma práticas agrícolas até então restritas à região Sudeste do Brasil, como
é o caso da irrigação por pivô central. Em decorrência da abundante rede hidrográfica e da
planitude do relevo, elementos físicos essenciais para a implantação dessa tecnologia, a
irrigação por pivô central galgou um intenso crescimento nas últimas três décadas em Goiás,
alcançando no ano de 2016, o quantitativo de 3244 unidades (MARTINS et al. 2017)
Essa prática, quando desprovida de manejo ambiental adequado e sem o devido controle
e fiscalização na implantação pode causar, dentre outros impactos ambientais, graves alterações
no ambiente de Vereda. Tendo em vista que, no processo de captação da água necessário se faz
construir reservatórios (represas) para o abastecimento desses equipamentos. Nessa conjuntura,
a prática de irrigação por pivô central tem expressiva parcela de responsabilidade no processo
de degradação desse ambiente (MARTINS et al 2017), que em decorrência de sua
complexidade e fragilidade, quando submetido à intervenção antrópica é facilmente extinto,
constituindo em um desrespeito à legislação ambiental brasileira e menosprezando sua
importância impar para o equilíbrio hídrico e ambiental no bioma Cerrado.
Diante dessa problemática, essa pesquisa teve como objetivo realizar, através de
amostragens, um levantamento do percentual de reservatórios destinados ao abastecimento de
pivô central construído sobre ambiente de Vereda no município de Jussara - GO.

MATERIAL E MÉTODO
A pesquisa em questão foi realizada no município de Jussara – Goiás. Este município
localiza-se na Mesorregião Oeste Goiano. Sua população humana é estimada em 19.346
habitantes e sua área territorial é de 4.084,114 km² (IBGE, 2010). O comércio e a agropecuária
é a base econômica do Município. Com destaque para a pecuária bovina de corte e de leite,
tanto que, de acordo com o mapa de uso da terra (2015), 69% do Município são ocupados por
pastagens, que sustentam um rebanho superior a 361.000 cabeças, número que coloca o
Município em quarto lugar no ranking estadual (IMB, 2015).
Já a agricultura, apesar de estar presente em apenas 6,8% do Município, também tem
grande importância na economia, principalmente com o cultivo irrigado, onde o pivô central é
elemento marcante na paisagem, especialmente na região da Planície do Araguaia, onde o

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

aplainamento do relevo favorece muito essa técnica.


Para realizar o levantamento da localização dos reservatórios, que abastecem os pivôs
centrais, fez-se necessário, primeiramente, mapear os todos os pivôs existentes no município
de Jussara. Os dados referentes ao quantitativo de pivô central relativo ao ano de 2016 foram
elaborados utilizando como base produtos de sensoriamento remoto. Assim, a identificação e
posterior quantificação dos pivôs ocorreu sobre imagem do satélite ResourceSat 2 sensor LISS-
3, resolução espacial de 23 metros. Foi feita a solicitação e aquisição de duas senas/imagem,
datadas de 2016. As imagens são disponibilizadas, após cadastro, pelo Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE) no site: www.dpi.inpe.br/catalogo, onde é feita a solicitação e
posteriormente, através de um link fornecido pelo INPE via e-mail, realiza-se, gratuitamente, o
download das imagens solicitadas.
Após a aquisição das imagens, realizou-se no software Arcgis 10.2 a composição
colorida 3B/4R/5G, posteriormente, foi feito o georreferenciamento, método imagem/imagem,
utilizando como base imagem LANDSAT 7, sensor TM+, ortorretificada e georreferenciada no
sistema de projeção Lat/Long, datum horizontal SAD/69, em seguida as cenas foram mosaicada
e, fazendo uso da ferramenta “extraction”, foi recortada utilizando como base para a máscara o
vetor poligonal do Município de Jussara.
Posterior, ocorreu à identificação dos pivôs centrais. A identificação aconteceu
diretamente sobre o monitor do computador através de detecção visual, em decorrência de a sua
forma circular, o pivô central é facilmente identificado na imagem de satélite. Após identificar
os pivôs centrais existentes no município de Jussara, para melhor representa-los, realizou-se à
vetorização dos mesmos. Para tal, no software Arcgis 10.2, utilizou-se a ferramenta
“ArcCatalog” para criar um novo arquivo vetorial no formato shp que possibilitou a
vetorização, a quantificação das áreas e representação temáticas dos mesmos (FIGURA 1)
Como o objetivo principal da referida pesquisa é identificar o percentual de represas que
foram construídas sobre o subsistema de Vereda, tendo em vista o elevado quantitativo de pivô
que existe no município de Jussara, à análise in loco de todos eles torna-se, nesse momento,
inviável e inoperante, pois é uma tarefa que demanda muito tempo. Assim, optou-se por realizar
o levantamento através de amostragem representativa.
Sendo que, para resguardar a fidelidade e a imparcialidade da pesquisa, necessário se
fez escolher de maneira estocástica, em meio ao quantitativo total de pivôs, as amostras

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

representativas que seriam analisadas in loco. Dessa forma, elegeu aleatoriamente, 10 pivôs
centrais com seus respectivos locais de captação. Para tal, lançou mão da ferramenta “Create
Random Selection” da extensão Hawths Analysis Tools, que seleciona aleatoriamente feições
(pontos, linhas ou polígonos) e finalmente, com uso de um aparelho receptor do sinal de GPS,
marca Gamin/Etrex Legend HCX, utilizando as coordenadas obtidas dos pontos aleatórios, foi
feito o estudo in loco.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Pesquisa realizada por Martins (2017) concluiu que as primeiras unidades de pivôs
foram instaladas no município de Jussara na primeira metade da década de 1980, sendo que, no
ano de 1986, já existiam 06 unidades em funcionamento, em 2016, esse número saltou para
114, totalizando 126,07 km² de área irrigada, cifras que coloca o Município em quarto em
número de unidades instaladas e o segundo em área irrigada. Tal diferença pode ser explicada
em decorrência do tamanho médio dos pivôs nesse Município, que é de 109 hectares, contra 72
hectares em média dos demais municípios Goianos (MARTINS, et al, 2014;) .
O avanço da agropecuária reduziu drasticamente a cobertura vegetacional natural dessa
região, atualmente a soma da Formação Savânica com as formações florestais representam
apenas 25,51% da área municipal, índice baixo, principalmente quando se considera que a APP
ripária do Rio Araguaia deve ser de 100 metros, somam-se ainda as áreas inundadas e as
Veredas.
Por sua vez, as Veredas, estão sendo ocupadas especialmente por reservatórios de água
destinados para dessedentar o numeroso rebanho bovino e/ou para abastecer o elevando número
de pivô central presente no município. A tabela 1 demonstra o resultado da análise realizada
em campo, as coordenadas, bem como o local onde está implantado o sistema de captação de
água para o abastecimento do pivô central.
Tabela 1 - Pontos de captação escolhidos para visitação no município de Jussara.
Coordenadas do local de Local de captação Nome no curso d’água/bacia hidrográfica
captação
51° 27' 17,007" Represa no leito Corr. Pau-Brasil/ Agua Limpa do Araguaia
15° 30' 14,281"
51° 26' 11,415" Represa em Vereda Rib. da Porteira/ Agua Limpa do Araguaia
15° 38' 12,004"
51° 31' 51,687" Represa em Vereda Corr. Esgotão/Agua Limpa do Araguaia
15° 35' 56,634"
51° 14' 01,704" Represa em Vereda Corr. Santa. Marina/ Rib. Samambaia
15° 35' 29,625"
51° 16' 11,016" Represa no leito Sem toponímia/Rib. Samambaia

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15° 29' 41,034"


51° 18' 21,071" Captação direta (Leito) Sem toponímia/Rib. Samambaia
15° 30' 29,064"
51° 21' 00,653" Acesso impossibilitado Corr. São Sebastião/ Rib. Samambaia
15° 30' 52,443"
51° 35' 24,536" Represa no leito Sem toponímia/ Rib. Jurumim
15° 22' 22,612"
51° 16' 42,312" Captação direta (Leito) Rib. Taquari/Rib. Samambaia
15° 32' 59,490"
51° 32' 48,541" Captação direta (Leito) Rio Claro/Rib. Indaiá
15° 42' 46,096"
Fonte: Imagem Google Erth pro; Trabalho de Campo (2016)
Organização: MARTINS, R. A. (2018)

Como pode ser observado na tabela 1 e na figura 1, de um total de dez (10) locais de
captação definidos para visitação, um (1) não pode ser visitado por estar protegido por porteira
trancada com cadeado, três (3) são reservatórios edificados no leito do rio, três (3) tem a sua
captação direta no leito do rio e finalmente, três (3) são reservatórios edificados sobre ambiente
de Vereda, o que corresponde a trinta por cento (30%) dos locais visitados, um número
considerável, haja vista que além da importância para o equilíbrio hídrico esses locais são
protegidos permanentemente por lei, sendo proibida sua ocupação e conversão.
Localizado no vale do Rio Araguaia, o município insere-se totalmente na unidade
geológica denominada por Moreira et al (2006), de Bacia do Bananal. Esta unidade é preenchida
pelos sedimentos da Formação Araguaia, datados do Cenozoico, depositados pelo Rio
Araguaia e compostos de conglomerados, siltes e areias assentados sobre rochas do
embasamento Cristalino. Consiste de sedimentos fluviais arenosos, com intercalações de
sedimentos argilosos e níveis de cascalheiras. É comum, a ocorrência de camada de areia
ferruginosa endurecida. Contudo, por se tratar de uma unidade de formação geológica recente
e escasso processo de dissecação, não há grande ocorrência de Veredas, as que existem, em sua
maioria, encaixam no modelo geomorfológico classificado como de Terraço Fluvial
(FERREIRA, 2008).
Essa alteração causa grande impacto no ambiente de Vereda, tendo em vista o crescente
avanço do processo de irrigação por pivô central no Estado de Goiás e consequentemente no
Município de Jussara, tem, propositalmente, escolhido o ambiente de Vereda para construção
dos reservatórios, em decorrência da certeza da disponibilidade de agua durante todo ano,
menor oscilação no nível de vazão o que garante o abastecimento dos pivôs no período mais
secos do ano.
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Todavia, essa atitude possui certo antagonismo, pois à medida que o produtor constrói
o reservatório sobre o ambiente de Vereda, justamente para, teoricamente, garantir o
abastecimento dos pivôs nos períodos de secas, ele está na verdade, a longo prazo, reduzindo a
disponibilidade hídrica em toda a bacia e consequentemente em sua propriedade. Nesse sentido
Ferreira (2003) chama a atenção para o fato de que

O represamento, de imediato, modifica o ambiente lótico que passa a ser bêntico, com
mudanças drásticas da fauna e da flora aquáticas; inunda extensas áreas, destruindo
ambientes e terras, às vezes de alto valor agrícola, ecológico ou arqueológico; cria
barreira ecológica para a migração de espécies da fauna, principalmente da ictiofauna
e a mais cruel das consequências - a morte da Vereda. Ainda, provoca ocupação
descontrolada na sua bacia, favorecendo a erosão dos solos, afetando o próprio
reservatório. (FERREIRA, 2003, pg. 187).

Assim, a morte da Vereda reduz drasticamente a reposição e o reabastecimento do lençol


freático, tendo como principal consequência o seu rebaixamento e a menor disponibilidade
hídrica, o que significa, a longo prazo, prejuízos, não só para o meio ambiente, mas também
para o produtor.
Além dos reservatórios construídos em ambiente de Vereda, o agrohidronegócio do pivô
central tem provocado outros impactos no munícipio de Jussara. Soma-se aos problemas
ambientais típicos de regiões agropecuárias, tais como desmatamento indiscriminado, erosão e
compactação do solo, destruição das matas de galerias e consequente assoreamento e poluição
dos cursos de água, esse Município também começa a enfrentar problemas hídricos, em virtude
do uso indiscriminado da água.
Como pode ser observado na Figura 1, a maior parte dos pivôs concentram-se no
extremo oeste do Município, bem próximo ao Rio Araguaia. Essa região caracteriza-se por
apresentar uma rede de drenagem com baixa densidade (MARTINS, 2017) e uma elevada
concentração de pivô em um número reduzido de bacias hidrográficas, agrupados,
principalmente nas bacias dos Ribeirões Samambaia, Água Limpa do Araguaia e do Ribeirão
Jurumirim. Em particular, nesse último curso, o aumento constante da demanda, tem provocado
a necessidade de se buscar alternativas para o abastecimento do crescente número de pivôs.
Esse fato vem sendo compensado com a construção de grandes reservatórios ou com a
construção de canais cujo abastecimento ocorre através de bombas colocadas de forma ilegal
diretamente no leito do Rio Araguaia (LIMA, 2016), agravando ainda mais a situação ambiental
do município.

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Figura 1 - Espacialização do agrohidronegócio do pivô central e dos pontos de


captação no município de Jussara – GO (2015)

Fonte: Base cartográfica do IMB/SEGPLAN/IBGE. Trabalho de campo (2016)


Organização: MARTINS, R. A (2018)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A intensa ocupação do espaço agrário que vem ocorrendo nos últimos anos, somando-
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

se ao emprego de novas tecnologias, tem alterado rapidamente o meio ambiente, ocupando ate
mesmo espaços de grande importância ecológicos destinados à preservação permanente como
é caso das Veredas.
A pesquisa evidenciou que a prática de irrigação por pivô central no município de
Jussara está contribuindo diretamente para a degradação do subsistema de vereda, que tem
sofrido as consequências de uma ocupação descontrolada e que não respeita as particularidades
desse ambiente. Nota-se que o ambiente de Vereda não tem sido respeitado segundo
determinações da legislação ambiental em vigor, existindo, na área de estudo, Veredas
totalmente represadas, com sua vegetação afogando, o que tem levado esse ambiente à morte.
Através de uma simples analise dos dados pode-se concluir que a prática de irrigação
por pivô central, da forma como vem ocorrendo, causa grandes impactos ambientais no
subsistema de Vereda, mesmo com sua grande importância para o equilíbrio hídrico e sendo
área protegida permanentemente por lei (BRASIL, LEI FEDERAL nº 12.651/2012)
Assim, necessário se faz uma maior fiscalização por parte das autoridades competentes,
com uma efetiva politica de controle para implantação do pivô central, maior rigor na concessão
de licenças e severas punições aos infratores da lei. Todavia, é necessário também conscientizar
o produtor rural da importância do ambiente de Vereda para o equilíbrio hídrico, ressaltado que
sua destruição causa não somente prejuízo ambiental como também grande prejuízo
econômico. Deve-se ter clareza que preservando o ambiente de Vereda ele está preservando
não somente a biodiversidade, mas também garantindo a disponibilidade hídrica para si e para
todos que necessitam e utilizam os recursos hídricos.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei n. 12.651, de 25 de maio de 2012. Novo Código Florestal Brasileiro. Disponível
em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm>. Acesso em:
20 nov. 2017.
FERREIRA, I. M. Aspectos conceituais de Veredas. In: SIMPÓSIO DE ENSINO, PESQUISA,
EXTENSÃO E CULTURA, n. 3, 2007, Catalão. Conhecimento, sociedade e cultura. Catalão:
[s. n.], 2007. 1CD-ROM.
______. Modelos geomorfológicos das Veredas no ambiente de Cerrado. Espaço em Revista,
Catalão, v. 7/8, n. 1, p. 7-16, jan/dez. 2005/2006.
______. O afogar das Veredas: uma análise comparativa espacial e temporal das Veredas do
Chapadão de Catalão (GO). 2003. 242 f. Tese (Doutorado em Geografia) - Instituto de
Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2003.

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INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Dados das Cidades


brasileiras (2010). Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?>.
Acessado em: 01 de junho de 2017
INSTITUTO MAURO BORGES. Comprometimento hídrico por pivôs centrais em Goiás.
Informe Técnico n. 14, 2014.
MARTINS, R. A. Uso do geoprocessamento no estudo integrado das Áreas de Preservação
Permanente nos municípios de Morrinhos e Caldas Novas (GO). 2010. 171 f. Dissertação
(Mestrado em Geografia) - Universidade Federal de Goiás, Catalão, 2010.
________. O agrohidronegócio do pivô central no estado de Goiás: expansão,
espacialização, e a consequente degradação do subsistema de Veredas. 2017. 222 p. Tese
(Doutorado em Geografia) - Universidade de Brasília, Brasília, 2017
MARTINS, R. A. et al. Espacialização do Agrohidronegócio do pivô central no Cerrado goiano,
Revista Eletrônica Geoaraguaia, Barra do Garças, v. 4, n. 2, p. 221-245, jul./dez. 2014.
Disponível em: <http://revistas.cua.ufmt.br/geoaraguaia/index.php/geo/article/view/87.>.
Acesso em: 04 set. 2016
_________. MARTINS et al. 2017. O (des) caminho das águas: alteração no subsistema de
vereda provocado por reservatório destinado ao abastecimento de pivô central. Caminhos de
Geografia, Uberlândia v. 18 n. 61 Março/2017 p. 82–101.
MOREIRA, M. L. O. et. al. Geologia e Recursos Minerais do Estado de Goiás e do Distrito
Federal – Relatório do Mapa Geológico do Estado de Goiás – Escala 1:500.000. Goiânia:
CPRM/METAGO/UnB, 2006.

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DESVIOS DE PRECIPITAÇÃO MENSAL EM GOIÂNIA-GO


CONFORME ATUAÇÃO DO FENÔMENO EL NIÑO OSCILAÇÃO SUL
(ENOS)
DIEGO TARLEY FERREIRA NASCIMENTO
Pontifícia Universidade Católica de Goiás e da Universidade Estadual de Goiás – Câmpus
Iporá, diego.tarley@gmail.com

Resumo: Devido a falta de consenso na literatura científica com relação aos efeitos do fenômeno El
Niño Oscilação Sul (ENOS) para a Região Centro-Oeste do Brasil, o presente trabalho teve por objetivo
avaliar a influência desse fenômeno nos desvios de precipitação mensal de Goiânia-GO. Para tanto,
foram empregados dados de anomalia de temperatura superficial marítima levantados da National
Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), para definição dos anos com atuação do El Niño,
La Niña ou neutros, e dados de precipitação mensal da estação meteorológica convencional do Instituto
Nacional de Meteorologia (INMET) situada em Goiânia-GO, para levantamento dos desvios positivos
e negativos da precipitação mensal a partir da média para a série temporal (1961/2017). Os dados
apresentados mostram indícios de que tanto o fenômeno El Niño quanto o La Niña sejam capazes
influenciar o regime de precipitação em Goiânia, especialmente com relação à diminuição das chuvas
no período de estiagem, mas também com menor precipitação no período chuvoso.

Palavras-chave: ENOS, Chuvas, Goiânia.

1 - Introdução
O El Niño Oscilação Sul (ENOS) é um fenômeno caracterizado por anomalias de
temperatura da superfície marítima ao longo da faixa equatorial do Oceano Pacífico, que atua
no sistema atmosférico-oceânico capaz de alterar o padrão de ventos em nível global e, assim,
afetar o regime de precipitação e de temperatura na faixa tropical e de latitudes médias
(OLIVEIRA, 1999). Na ocorrência de anomalias positivas (aquecimento), configura-se
ocorrência de El Niño, ao passo que as anomalias negativas (resfriamento) referem-se ao
fenômeno La Niña.

Em condições normais (Figura 1-A), devido à atuação dos ventos alísios, as águas
superficiais do Oceano Pacífico são “empurradas” para oeste, concentrando os maiores valores
de temperatura da superfície marítima na porção oeste do oceano. Devido a esse maior
aquecimento ocorre maior evaporação, ascensão do ar e consequente formação de nuvens. Em
altos níveis da atmosfera, esses ventos que ascendem são direcionados para leste, onde tendem
a descer e, posteriormente, se deslocar para a porção oeste do Oceano Pacífico, configurando,
assim, a célula de circulação da célula de Walker (OLIVEIRA, 1999).

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A B C

Figura 1 – Circulação atmosférica em condição normal e durante os fenômenos de El Niño e La Niña.


Fonte: https://www.pmel.noaa.gov/elnino/schematic-diagrams

Devido a menor atuação dos ventos alísios, ou até mesmo inversão da direção dos ventos
em algumas regiões do Pacífico, as águas superficiais de toda extensão do oceano passam a se
aquecer – configurando o fenômeno El Niño (Figura 1-B). Da mesma forma que na condição
normal, o aquecimento ocasiona maior evaporação, ascensão do ar e formação de nuvens.
Contudo, ao invés dessa ascensão ocorrer na porção oeste do oceano, ela acontece na região
central ou mesmo leste do Pacífico. Como resultado, a célula de Walker fica bipartida e os
ventos são direcionados tanto para leste quanto para oeste (OLIVEIRA, 1999).

Caso haja, ao invés do enfraquecimento, um aumento da atuação dos ventos alísios,


maior quantidade de água superficial do oceano tende a ser “empurrada” para a porção oeste
do Pacífico, ocasionando o esfriamento das águas superficiais da região central do oceano –
configurando o fenômeno La Niña (Figura 1-C). Assim, a ascensão do ar e a consequente
formação de nuvens de chuvas ocorrem mais a oeste do Oceano Pacífico, sobre a Indonésia,
podendo ocorrer até mesmo no nordeste do Oceano Índico, ficando a célula de Walker mais
alongada que o habitual (OLIVEIRA, 1999).

O fenômeno ENOS é capaz de ocasionar mudanças no comportamento da temperatura


e das chuvas de todo o globo. Estudos apresentam como as principais consequências para o
Brasil, durante a ocorrência de El Niño: verão e inverno com menor precipitação no Norte e
Nordeste, aumento da temperatura no Sudeste e seca no Sul do país (Figura 2-A e B) e, durante
a ocorrência de La Niña: verão com maior precipitação no Norte e Nordeste e queda das
temperaturas no Sudeste e o inverno com seca no Sul do Brasil (Figura 2-C e D) (KOUSKY;
CAVALCANTI, 1984. CAVALCANTI, 1996; DINIZ; 1998; MELO, 1999; OLIVEIRA, 1999;
BRITTO; BARLETTA, MENDONCA, 2008). Entretanto, para a Região Centro-Oeste do

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Brasil não há consenso com relação aos efeitos dos fenômenos El Niño e La Niña para as
temperaturas e precipitações.

A B

C D

Figura 2 – Efeitos do ENOS no verão (A) e inverno (B) e La Niña no verão (C) e inverno (D).
Fonte: http://enos.cptec.inpe.br/

Ao estudar as chuvas do estado de Goiás e Distrito Federal, Nascimento (2016) destaca


que o regime de precipitação entre os anos habituais, chuvosos e secos na região não se refere
essencialmente à diferença do total anual entre tais anos, mas, sobretudo, à mudança do regime
mensal de chuvas e, principalmente, da diferente duração do período chuvoso. O regime
habitual representa um período chuvoso com seis meses (janeiro/março e outubro/dezembro) e
estiagem ao longo de cinco meses (maio/setembro), enquanto o ano seco se justifica pela
redução do período chuvoso para quatro meses (janeiro/fevereiro e novembro/dezembro) e o
ano chuvoso corresponde a uma ampliação do período com chuvas para sete meses
(janeiro/abril e outubro/dezembro).

1.1 - Objetivo
Nesse contexto, o presente trabalho tem por objetivo analisar os desvios de precipitação
mensal em Goiânia-GO conforme a atuação dos fenômenos El Niño e La Niña, de modo a

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subsidiar apontamentos preliminares para discussões a respeito dos supostos efeitos do


fenômeno El Niño Oscilação Sul (ENOS) no clima da Região Centro-Oeste do Brasil.

3 – Metodologia
3.1 - Localização e caracterização da área em estudo
A área em estudo contempla o município de Goiânia, capital do estado de Goiás, situado
na Região Centro-Oeste do Brasil, entre as coordenadas 16° 27’ 30” e 16° 50’ de latitude Sul e
49° 4’ 30” e 49° 26’ 14” de longitude Oeste (Figura 3).

Figura 3 – Mapa de localização do município de Goiânia, com a situação da estação meteorológica do INMET.
Fonte: próprio autor.

A altitude média da área em estudo é de 785m e, embasados nas propostas de


classificação climáticas de Strahler (1951) e Nimer (1979), Nascimento, Luiz e Oliveira (2016)
indicam que predomina na área em apreço o clima das baixas latitudes, controlado pelas massas
de ar equatoriais e tropicais, apresentando um caráter tropical quente e semiúmido.
Conforme as Normais Climatológicas de 1961/1990 do Instituto Nacional de
Meteorologia (INMET), Goiânia apresenta temperatura média anual de 23,2 °C, sendo 24,6 ºC

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para o mês mais quente (outubro) e 20,9 ºC para os meses mais frios (junho e julho). Para a
precipitação, as Normais Climatológicas indicam uma média para o total anual de 1.571,4 mm,
com período de estiagem de cinco meses, referente aos meses de maio a setembro, e o trimestre
consecutivo mais chuvoso referente aos meses de novembro a janeiro – Figura 4.

300,0 24,5 24,6 25,0


266,8 24,1 267,9
24,0
23,8 23,8
250,0 23,6 23,5 24,0
214,8 219,0
206,8 23,0
200,0 23,0
22,2 166,9

150,0 118,9 22,0


20,9 20,9
100,0 21,0
45,4
50,0 35,9 20,0
9,2 6,6 13,2
0,0 19,0

Figura 4 – Climograma de temperatura média mensal (ºC) e precipitação mensal (mm) conforme as Normais
Climatológicas 1961/1990.
Fonte: próprio autor, com base no INMET.

3.2 Procedimentos Metodológicos


Para a definição dos anos com ocorrência de fenômenos El Niño ou La Niña, e aqueles
tratados como neutros, foi empregado o Índice Oceânico Niño(a) (ION), que representa as
anomalias de temperatura superficial do Oceano Pacífico a partir de uma média móvel de três
meses. No caso do ION acima de +0,5ºC por no mínimo cinco meses consecutivos, configura-
se o fenômeno El Niño, e quando abaixo de -0,5ºC por no mínimo cinco meses consecutivos,
caracteriza-se o La Niña. Assim, com base nos dados do ION registrados entre 1961 e 2017,
obtidos a partir da homepage do Climate Prediction Center do National Weather Service3,
vinculado ao National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), foram elencados os
anos com ocorrência de fenômenos El Niño (vermelho), La Niña (azul) e aqueles considerados
neutros (cinza) – Quadro 1.

3
<http://origin.cpc.ncep.noaa.gov/products/analysis_monitoring/ensostuff/ONI_v5.php>. Acessado
em 08 de fevereiro de 2018.
193
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Quadro 1 – Definição dos anos da série temporal de 1961 a 2017 conforme atuação do El Niño, La Niña ou
neutralidade.
ION ION ION
ANO

ANO

ANO
Trimestre Definição Trimestre Definição Trimestre Definição
JFM AMJ JAS OND JFM AMJ JAS OND JFM AMJ JAS OND
1961 0 0,2 -0,1 -0,2 Neutro 1980 -0.5 -0.3 0.0 0.1 Neutro 1999 -1.4 -0.7 -1.1 -1.5 La Niña
1962 -0,2 -0,3 -0,1 -0,3 Neutro 1981 0.1 0.7 -0.2 -0.2 Neutro 2000 -0.5 -0.3 -0.5 -0.7 La Niña
1963 0.6 -0.6 1.1 1.4 El Niño 1982 1.9 1.1 1.1 2.2 El Niño 2001 0.0 0.4 -0.1 -0.3 Neutro
1964 -0.3 0.5 -0.7 -0.8 La Niña 1983 -0.4 -0.5 -0.1 -1.0 Neutro 2002 0.6 -0.3 0.9 1.3 El Niño
1965 1.2 0.4 1.5 2.0 El Niño 1984 -0.8 -0.8 -0.2 -0.9 La Niña 2003 0.3 0.2 0.2 0.4 Neutro
1966 -0.5 -0.2 0.1 -0.2 Neutro 1985 -0.5 -0.1 -0.5 -0.3 Neutro 2004 0.6 0.3 0.6 0.7 El Niño
1967 -0.7 0.0 -0.2 -0.3 Neutro 1986 1.2 1.0 0.4 1.1 El Niño 2005 -0.7 0.0 -0.1 -0.6 La Niña
1968 1.1 0.6 0.5 0.7 El Niño 1987 0.5 -0.9 1.7 1.3 El Niño 2006 0.3 -0.3 0.3 0.9 Neutro
1969 0.3 0.0 0.5 0.8 El Niño 1988 -1.4 -0.6 -1.1 -1.8 La Niña 2007 -1.4 -0.8 -0.8 -1.5 La Niña
1970 -1.4 -0.7 -0.8 -0.9 La Niña 1989 0.2 0.3 -0.3 -0.2 Neutro 2008 -0.7 0.1 -0.3 -0.6 La Niña
1971 -0.4 0.7 -0.8 -1.0 La Niña 1990 0.3 0.5 0.4 0.4 Neutro 2009 1.3 -0.1 0.5 1.3 El Niño
1972 1.2 -0.5 1.4 2.1 El Niño 1991 1.6 1.1 0.6 1.2 El Niño 2010 -1.1 -0.5 -1.4 -1.7 La Niña
1973 -1.6 -0.9 -1.3 -1.9 La Niña 1992 0.3 0.7 0.1 -0.3 Neutro 2011 -0.6 -0.2 -0.7 -1.1 La Niña
1974 -0.6 -0.8 -0.4 -0.8 La Niña 1993 0.1 0.4 0.3 0.0 Neutro 2012 -0.3 -0.3 0.3 0.0 Neutro
1975 -1.2 -0.3 -1.2 -1.6 La Niña 1994 0.7 0.1 0.4 1.0 El Niño 2013 -0.4 0.3 -0.4 -0.2 Neutro
1976 0.6 0.2 0.4 0.9 El Niño 1995 -0.8 -0.3 -0.5 -1.0 La Niña 2014 0.6 1.0 0.0 0.6 El Niño
1977 0.4 -0.3 0.4 0.8 Neutro 1996 -0.4 0.8 -0.3 -0.4 Neutro 2015 2.2 0.5 1.8 2.5 El Niño
1978 0.1 0.2 -0.4 -0.1 Neutro 1997 1.9 0.5 1.9 2.4 El Niño 2016 -0.1 0.4 -0.6 -0.7 La Niña
1979 0.5 0.5 0.2 0.5 El Niño 1998 -1.3 -1.0 -1.1 -1.5 La Niña 2017 -0,1 0,4 -0,1 -0,9 Neutro
Fonte: próprios autores, com base no Índice Oceânico Niño(a) (ION) obtido a partir de
http://origin.cpc.ncep.noaa.gov/products/analysis_monitoring/ensostuff/ONI_v5.php

Com base nos dados do Índice Oceânico Niño(a) (ION), desde 1961 foram registrados
18 anos com ocorrência do fenômeno El Niño, 18 anos com atuação do La Niña e 21
considerados neutros.

Logo na sequência, a partir do Banco de Dados Meteorológicos para Ensino e Pesquisa


do Instituto Nacional de Meteorologia (BDMEP-INMET) foram adquiridos os dados de
precipitação mensal referentes a estação meteorológica convencional de Goiânia,
compreendendo a série temporal de 1961 a 2017. Devido a inconsistência de dados em alguns
meses e pela preferência de não ser aplicada nenhuma técnica de preenchimento de falhas, os
anos de 1979 e 1981 não foram considerados. Dessa forma, totalizaram-se 17 anos com atuação
do El Niño, 18 de La Niña e 20 de neutralidade.

Posteriormente, foi indicada a ocorrência de desvio de precipitação mensal com relação


à média para o respectivo mês – calculada com base na série temporal de 1961 a 201. Os desvios
positivos levaram em consideração a existência de precipitação mensal acima da média
enquanto que os desvios negativos foram determinados pela precipitação mensal abaixo da
média. Por fim, foram quantificados os desvios positivos ou negativos tendo como base os anos
definidos como atuação de El Niño e de La Niña.
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4 – Resultados
Os desvios de precipitação mensal ao longo dos 17 anos com atuação do El Niño são
indicados pelo Quadro 2, dos quais 12 anos (70,6%) apresentaram desvios negativos de
precipitação entre os meses de junho e agosto, o que leva a considerar uma maior escassez de
chuvas ao longo do período de estiagem para a área em estudo.

Quadro 2 – Anos de ocorrência de El Niño e os desvios positivos (em azul) e negativos (em laranja) de
precipitação mensal em Goiânia-GO.
Anos/Meses Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
1963 258,90 281,50 63,50 87,70 17,10 0,00 0,00 0,00 17,00 32,20 168,10 138,30
1965 335,60 113,60 199,10 148,20 15,80 40,60 0,20 0,50 75,00 401,60 160,30 206,90
1968 255,10 388,90 112,00 97,90 6,20 7,50 0,00 19,00 9,90 129,10 191,70 247,40
1969 334,90 161,30 231,80 67,50 30,00 0,00 0,00 0,00 6,90 171,30 405,00 291,10
1972 228,70 262,30 167,00 111,80 41,20 0,00 11,00 48,10 33,00 147,70 309,70 361,20
1976 149,00 156,50 295,20 72,40 113,30 16,00 3,20 3,50 148,30 142,50 336,70 301,50
1982 317,70 137,50 424,00 144,50 74,60 0,00 2,20 36,70 56,40 264,20 150,20 441,40
1986 230,90 187,70 97,00 60,60 21,50 0,00 9,20 73,90 26,80 48,50 178,20 334,70
1987 276,70 115,20 221,50 178,90 18,60 0,10 0,00 1,20 63,60 194,50 220,90 372,70
1991 301,20 236,60 276,70 168,70 2,90 0,00 0,00 0,00 76,70 131,20 88,50 251,50
1994 337,70 184,90 304,30 67,70 17,70 28,70 8,60 0,00 5,10 112,00 296,70 247,00
1997 268,50 186,90 425,20 122,90 54,80 76,40 0,00 6,60 33,10 63,60 211,60 146,50
2002 253,70 398,00 300,30 27,50 12,00 0,00 0,20 6,30 69,50 34,40 149,70 284,80
2004 282,30 310,20 264,20 120,30 18,00 1,00 5,80 0,00 6,20 168,10 128,60 251,20
2009 178,60 148,20 185,60 258,00 41,20 31,30 2,00 16,80 71,00 196,40 194,90 443,90
2014 143,60 187,80 361,10 325,20 19,70 0,00 15,70 0,00 31,30 69,20 170,50 337,90
2015 73,60 225,20 312,30 204,20 70,70 0,00 2,70 3,60 30,40 18,20 354,80 207,70
Média (1961/2017) 259,4 223,2 237,5 126,2 33,24 9,242 3,378 11,32 46,64 156,1 220,6 270,8
Qtd. de desvios positivos 8 7 9 7 6 5 5 5 7 6 6 9
Qtd. de desvios negativos 9 10 8 10 11 12 12 12 10 11 11 8
% de desvios positivos 47,1 41,2 52,9 41,2 35,3 29,4 29,4 29,4 41,2 35,3 35,3 52,9
% de desvios negativos 52,9 58,8 47,1 58,8 64,7 70,6 70,6 70,6 58,8 64,7 64,7 47,1
Fonte: próprio autor, com base nos dados do INMET.

Percebe-se também uma relativa concentração de desvios negativos de precipitação


nos meses de outubro, novembro e maio – 11 anos, traduzindo em menor montante de chuvas
no período chuvoso e também no mês que marca o início da estiagem para a área em estudo.

No caso dos 18 anos com atuação do fenômeno La Niña – Quadro 3, uma quantidade
considerável de anos apresenta desvios negativos de precipitação nos meses de junho (13 anos),
julho (15 anos), agosto (14 anos) e dezembro (12 anos), expressando em maior escassez de
chuvas durante o período de estiagem (junho a agosto) e também em menor precipitação no
mês mais chuvoso para a área em estudo (dezembro).

195
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Quadro 3 – Anos de ocorrência de La Niña e os desvios positivos (em azul) e negativos (em laranja) de
precipitação mensal em Goiânia-GO.
Anos/Meses Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
1964 350,70 248,10 101,00 112,80 55,70 0,00 2,30 0,00 92,30 271,60 181,90 205,10
1970 280,60 234,90 238,90 128,20 14,40 1,80 0,00 1,80 62,30 218,00 335,60 96,90
1971 139,50 261,20 266,50 96,60 39,30 11,20 10,60 0,00 64,30 243,80 294,20 330,70
1973 310,00 198,00 216,60 154,90 43,60 11,30 0,00 0,00 8,40 229,70 252,10 248,50
1974 127,50 141,00 325,80 225,80 48,20 1,20 0,00 32,70 0,50 87,30 110,20 206,40
1975 202,90 217,30 135,60 182,80 17,70 1,30 15,30 0,00 53,30 161,60 249,20 206,30
1984 185,80 197,00 250,20 193,70 32,90 0,00 0,00 38,20 61,00 132,70 117,30 264,90
1988 202,60 337,50 225,10 222,00 12,80 51,60 0,00 0,00 17,70 151,60 122,20 208,00
1995 278,00 207,60 398,90 173,80 81,60 3,60 0,00 0,00 12,40 104,10 185,30 249,00
1998 245,90 326,30 264,20 69,60 20,50 0,40 0,00 3,60 41,30 145,60 256,00 201,00
1999 196,50 188,20 119,20 27,60 66,70 7,00 0,00 0,00 70,90 175,00 200,80 295,60
2000 385,70 319,80 207,40 44,60 9,40 0,00 0,60 31,50 106,00 84,30 327,80 316,40
2005 237,50 176,40 526,00 50,40 34,20 2,60 0,00 3,20 55,80 90,90 269,70 460,20
2007 200,10 267,40 87,30 59,60 9,20 5,10 6,00 0,00 1,80 55,90 223,10 179,70
2008 280,80 294,40 373,80 202,20 53,20 0,00 0,00 0,00 51,80 109,40 197,50 246,20
2010 98,30 208,00 190,40 188,40 0,00 14,30 0,00 0,00 16,90 107,90 281,90 449,80
2011 287,80 240,40 367,10 62,30 0,00 15,30 0,00 0,00 1,20 300,30 245,40 292,80
2016 484,80 155,10 156,20 1,30 33,20 0,00 0,00 15,70 26,50 209,20 110,40 169,60
Média (1961/2017) 259,4 223,2 237,5 126,2 33,24 9,242 3,378 11,32 46,64 156,1 220,6 270,8
Qtd. de desvios positivos 8 9 9 9 9 5 3 4 9 8 10 6
Qtd. de desvios negativos 10 9 9 9 9 13 15 14 9 10 8 12
% de desvios positivos 44,4 50,0 50,0 50,0 50,0 27,8 16,7 22,2 50,0 44,4 55,6 33,3
% de desvios negativos 55,6 50,0 50,0 50,0 50,0 72,2 83,3 77,8 50,0 55,6 44,4 66,7
Fonte: próprio autor, com base nos dados do INMET.

Considerando o período de maio a setembro como representativo da estiagem para a


região em estudo (NIMER, 1979; NASCIMENTO, 2016), os dados apresentados mostram
indícios de que tanto o fenômeno El Niño quanto o La Niña sejam capazes influenciar o regime
de precipitação em Goiânia, especialmente com relação à intensificação da escassez das chuvas,
mas também com menor precipitação no período mais chuvoso.

5 – Considerações Finais
Conhecidas como anomalias positivas e negativas da temperatura superficial do Oceano
Pacífico, os fenômenos El Niño e La Niña ocasionam mudanças no padrão de circulação dos
ventos e, consequentemente, respondem por variações no comportamento da temperatura e das
chuvas de todo o globo. Contudo, para o caso da Região Centro-Oeste do Brasil, a literatura

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não demonstra consenso com relação aos efeitos quando da ocorrência dos mesmos, devido à
baixa previsibilidade para essa região.

Contudo, por meio da avaliação dos desvios de precipitação mensal em Goiânia-GO


dentre os anos de atuação do El Niño e do La Niña, foi identificada a concentração de desvios
negativos de precipitação mensal entre os meses que caracterizam o período de estiagem e
chuvoso – dando indícios da intensificação da escassez de chuvas quando da ocorrência dos
fenômenos.

Obviamente, maiores e melhores análises devem ser realizadas, haja vista que o
objetivo nesse trabalho de apenas o de realizar apontamentos preliminares para discussões a
respeito dos supostos efeitos do El Niño e La Niña no clima da Região Centro-Oeste. Como
sugestão de continuidade, sugere-se a análise variação dos valores mensais de precipitação e da
quantidade de dias com chuvas em anos de ocorrência de El Niño Oscilação Sul (ENOS).

Bibliografia

BRITTO, F. P.; BARLETTA, R.; MENDONCA, M. Variabilidade espacial e temporal da


precipitação pluvial no Rio Grande do Sul: influência do fenômeno El Niño Oscilação Sul.
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estimativas por satélite e circulação atmosférica. Tese (Doutorado em Geografia) – Instituto de
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diferentes tipologias climáticas referentes ao estado de Goiás e ao Distrito Federal (Brasil).
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NIMER, E. Climatologia do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 1979. 422p.


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STRAHLER, A. N. Physical Geography. 3. ed. Nova York: John Wiley, 1951.

198
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLA PÚBLICA: REALIDADE E


DESAFIOS
Letícia Silva Dias de Souza
Universidade Estadual de Goiás
leticiasouza.ueg@gmail.com

Diego Tarley Ferreira Nascimento


Universidade Estadual de Goiás
diego.tarley@gmail.com

Resumo: Com os recursos naturais se tornando escassos, a partir da década de 1980, tem-se despertada
certa preocupação com o meio ambiente. A questão ambiental tornou-se tema de ampla discussão,
ocasionando que diversos projetos busquem proporcionar a escola uma nova forma de pensar sobre a
relação entre o homem e a natureza, convergindo teoria e prática, construindo saberes e modificando a
forma de agir dos alunos numa perspectiva sustentável . Nesse trabalho objetivou-se narrar a experiência
de atividades de educação ambiental na escola por meio de projetos que visaram modificar o cotidiano
dos alunos. O trabalho foi desenvolvido por meio de uma pesquisa bibliográfica reflexiva sobre a
necessidade de trabalhar educação ambiental em todos os níveis de ensino para a formação do individuo,
e compreende o método fenomenológico e se ampara na abordagem descritiva, considerando a narrativa
de cinco projetos de educação ambiental desenvolvidos junto ao Colégio Estadual Maria Barreto com
as turmas 8ª, 9ª do ensino fundamental e 2ª série do ensino médio, localizado em Israelândia-GO. Apesar
dos embates encontrados durante a realização de projetos de educação ambiental, foi possível observar
o empenho e a forma em que os alunos se envolveram nas propostas, sendo plausível a formação de
cidadãos críticos e capazes de mudar a realidade em que vivem.

Palavras – Chave: Educação ambiental; Prática; Sustentável.

1. INTRODUÇÃO

Até a década de 80, o imaginário era de que os recursos naturais eram ilimitados,
passando, a partir de então, ao apogeu da discussão e reflexão sobre a sustentabilidade do
planeta, no âmbito da educação ambiental. Considerando que a natureza não consegue retornar
ao seu estado natural, ela apresenta-se cada vez mais degradada devido a apropriação e
exploração de seus recursos pelas atividades antrópicas. Sobre isso, Morin (2002) destaca que
os riscos ecológicos são o resultado do avanço da ciência e tecnologia visando o capitalismo.

A educação ambiental tornou-se, a partir da década de 1980, objeto de discussão e


crítica por parte de educadores e ambientalistas brasileiros. Proporcionando, inclusive, a
iniciativa de projetos desenvolvidos em ambiente escolar que buscaram uma nova forma de
pensar sobre a relação entre o homem e a natureza. Isso porque a Lei e Diretrizes Básicas da
Educação (LDB), por meio da lei 9.394 de 1996, apresenta a educação ambiental no currículo
escolar, como reflexo da extrema importância de despertar o interesse nos indivíduos acerca

199
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

das questões de cunho ambiental, partindo inicialmente da escola, onde os alunos se encontram
boa parte de seu tempo.

Nesse contexto, Rocco (2002) lembra que o artigo 225 da Constituição Brasileira
de 1988, ressalta que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as atuais e futuras gerações, dizendo que
para a efetividade desse direito, compete ao poder público, requerer a prática da educação
ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio
ambiente.

A educação ambiental trabalhada nas escolas incube aos alunos a agregarem valores
sociais, habilidades e consciência de um ambiente melhor para se vive. Mesmo perante essa
necessidade de se trabalhar educação ambiental na escola, ainda há muitas barreiras. Por
exemplo, o Currículo Referência da Rede Estadual de Educação do Estado de Goiás, apresenta
o meio ambiente como tema transversal e não como uma expectativa de aprendizagem do
aluno, contendo critérios não relevantes, mas ofertando ao regente de intervir com a temática,
propondo discussões sendo um tema abrangente da realidade, sendo fundamental para o
crescimento e bom desenvolvimento do aluno enquanto ser social (VIRGENS, 2011).

Por tal motivo, ressalta-se a possibilidade de implementar projetos que estabeleçam


uma relação entre o aluno e a preservação do meio ambiente, de forma que esses vivenciem na
prática, a partir de saberes socialmente construídos, que lhe darão sentido e significância, como
meio de percepção do estado de degradação da natureza, da insustentabilidade da exploração
dos recursos naturais e de mudança de paradigma do modelo consumista vigente.

Partindo deste pressuposto, nesse trabalho objetivou-se narrar a experiência de


projetos de educação ambiental que visaram modificar a percepção, o cotidiano e a realidade
dos alunos com relação à questão ambiental, por meio de atividades que congregaram teoria e
prática.

2. METODOLOGIA

2.1 Área de Estudo

Os projetos de educação ambiental foram desenvolvidos no Colégio Estadual Maria


Barreto (Fig.1), fundada no ano de 1968, e localizada na área urbana de Israelândia-GO. A

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escola conta com 200 estudantes, 17 professores regentes, com turmas ao longo das séries 6ª
série do Ensino Fundamental a 3ª série do Ensino Médio.

Figura 7- Fachada do Col. Est. Maria Barreto


Fonte: Acervo próprio.
O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), criado em 2007 pelo
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) para medir a
qualidade do aprendizado nacional e estabelecer metas para a melhoria do ensino, indica a nota
de 4,3 para a referida escola, tendo como meta para 2019 alcançar a nota de 5,8 – considerando
que a nota máxima é 6,0.

2.2 Métodos

O trabalho foi desenvolvido por meio de uma pesquisa bibliográfica reflexiva sobre a
necessidade de trabalhar educação ambiental em todos os níveis de ensino para a formação do
indivíduo, e compreende o método fenomenológico e se ampara na abordagem descritiva,
considerando a narrativa de 5 projetos de educação ambiental desenvolvidos junto à turmas da
8ª, 9ª série do Ensino Fundamental e 2ª série do Ensino Médio do Colégio Estadual Maria
Barreto, localizada em Israelândia-GO.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Segundo Vargas (2007), a educação ambiental deve ser tratada como componente
essencial e permanente da educação formal em todos os níveis e modalidades de ensino, com
caráter participativo, democrático e humanista, e que permita uma compreensão da

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complexidade do meio ambiente, indo além das questões econômicas e políticas da relação
entre sociedade e natureza, vislumbrando a construção de uma concepção de desenvolvimento
sustentável.

Sendo assim, acredita-se que a educação ambiental não esteja reduzida à uma nova
disciplina ou componente curricular dentro da educação formal, mas deve, segundo Vargas
(2007), tratar-se de uma prática criativa que envolva todo um caráter interdisciplinar uma vez
que envolve inúmeras especialidades, principalmente no que se refere à formação para o
exercício da cidadania.

Com base no exposto, dentro da disciplina Ciências e a eletiva- Educação Ambiental


são descritos a seguir alguns projetos que foram desenvolvidos no Colégio Estadual Maria
Barreto.

3.1 Projeto "Reaproveitar para não desperdiçar alimentos"

Atentos à realidade do desperdício de alimentos no Brasil, alunos da 2ª série do Ensino


Médio, dentro da disciplina eletiva de Educação ambiental participaram do Projeto
Reaproveitar para não desperdiçar alimentos - cuidando do solo, sob a orientação da professora
Letícia Silva Dias de Souza.

O projeto teve o objetivo de conscientizar os alunos e a comunidade escolar sobre a


importância de evitar a contaminação do solo, da água e do ar, reaproveitando e dando um
destino adequado a resíduos domésticos e industriais, como o óleo de cozinha (fig. 2), por
exemplo, que, quando mal despejado, ocorre a contaminação da água. Além disso, pesquisas
foram realizadas para revelar o valor nutricional de partes de alimentos, como cascas e talos,
comumente descartados (fig. 3).

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Figura 2- Adição de materiais para fazer o sabão


Fonte: Acervo próprio.

Figura 3- Alimentos preparados a partir do reaproveitamento


Fonte: Acervo Próprio

3.2 Projeto “Reflorestar para salvar”

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Na atualidade, a escola é reconhecida como um local onde circulam fluxos humanos,


onde há investimento, geração de riquezas materiais e culturais e onde se travam interações
sociais. Com base nesse reconhecimento, a escola pode ser considerada local privilegiado para
desenvolver a socialização dos conhecimentos cotidianos e dos conhecimentos científicos.
Diante disso, aprender a importância de reflorestar representa uma oportunidade que os alunos
têm de “ver” o mundo de uma maneira diferente. Adotar procedimentos que colaboram com o
meio ambiente nos tornam cidadãos mais conscientes.

O projeto contribuiu de forma relevante para a aprendizagem dos alunos, já que o


conhecimento se constrói através da vivência, ou seja, através da aprendizagem de forma
significativa e prazerosa. Este projeto tornou os alunos mais preparados e informados sobre
a educação ambiental que é um processo longo e contínuo. Assim o projeto visou acima de
tudo, conscientizar toda a comunidade escolar de que temos que mudar nossos hábitos e
atitudes. Por isso a importância de reflorestar a escola visando orientar e educar os alunos para
um trabalho contínuo de preservação ambiental (fig. 4).

Figura 4- Alunos realizando o plantio de uma mangueira.


Fonte: Acervo Próprio.

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3.3 Projeto “Arrastão Ecológico”

A caminhada reuniu um número significativo de alunos da escola municipal, e uma


outra escola pública do município, a caminhada foi mediada por alguns educadores. Os alunos
percorreram as ruas do município alertando sobre os problemas e as consequências de se jogar
lixo em locais inadequados. A ação foi positiva por ter levado informações sobre os riscos
relacionados à saúde humana, bem como os impactos negativos causados pelo descarte de
resíduos em locais impróprios, são ações como esta que sensibilizam e formam cidadãos mais
conscientes.

O Principal objetivo do arrastão ecológico foi sensibilizar a população divulgando que


a responsabilidade ambiental é de todos, não só da empresa, do governo, da escola ou da
universidade, mas sim de cada cidadão (fig. 5).

Figura 5- Alunos percorrendo as ruas do município e coletando resíduos sólidos.


Fonte: Acervo Próprio.
3.4 Projeto “O lixo nosso de cada dia”

A aula campo foi realizada no lixão do município, realizada pela equipe do 2ª série do
ensino médio e a professora de Educação Ambiental. O projeto teve como objetivo,
conscientizar os alunos, professores e demais servidores da escola, visando estabelecer também

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uma ligação com a comunidade havendo uma conscientização geral sobre a preservação de
meio ambiente.

Durante a visita, a professora, através de suas explicações, fez com que os alunos
tivessem a oportunidade de relacionar a poluição do solo, da água e do ar com o possível
aparecimento de determinadas doenças transmitidas por pragas, insetos ou animais cuja cadeia
alimentar se faz naquele local. Exemplificando, a professora citou insetos como mosquitos que
transmitem a dengue, malária, febre amarela, tifo; ratos transmissores de peste bubônica e
leptospirose. Explicou ainda que, os urubus, presentes lá, apesar de serem úteis no processo de
transformação do lixo orgânico, e protegidos pelo código penal que proíbe suas matanças,
também transmitem a leptospirose.

Portanto, os alunos puderam constatar que o lixão do município é realmente um local


de descarga de lixo a céu aberto, uma opção inadequada de deposição final dos resíduos sólidos,
que se caracteriza pelo simples acúmulo desses resíduos vindos da cidade trazidos por
caminhões de lixo da prefeitura. Observaram que o local não apresenta nenhuma medida de
proteção ao meio ambiente ou à saúde dos moradores vizinhos (fig. 6).

Figura 6- Estudos realizados no lixão


Fonte: Acervo Próprio.
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

3.5 Projeto “Horta Escolar”

O Projeto Horta Escolar foi realizado com objetivo de que os educandos do Ensino
Fundamental aprendessem o cultivo de hortaliças para que, a partir da atividade de plantar,
cuidar e colher, valorizassem tais práticas. Os educandos, ao observar que o objeto de seu
trabalho está sendo consumido e não ficando apenas a mercê da sua nota, terá sua autoestima
elevada

A disponibilidade de diferentes tipos de hortaliças produzidas na própria horta motivou


o hábito de consumi-las regularmente e em quantidade suficiente, resultando no fornecimento
de sais minerais e vitaminas que o corpo humano necessita. Sendo ricas nesses nutrientes,
portanto necessárias para um melhor desenvolvimento e funcionamento do organismo humano.
Uma dieta rica em sais minerais e vitaminas são eficazes ao bom funcionamento não só do
organismo da criança em fase de desenvolvimento, mas para todo indivíduo (fig. 7).

Figura 7- Plantação de couve e cheiro verde.


Fonte: Acervo Próprio.

Durante a realização dos projetos apresentados, foi possível vivenciar as palavras de


Paulo Freire (1980), que educador e educando aprendem juntos. Juntos aprendemos a ver os
problemas da nossa cidade, juntos pensamos, refletimos, nos sensibilizamos e nos

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

emocionamos quando sentimos no final de cada trabalho que temos nos tornado seres humanos
melhores.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um dos principais objetivos da Educação Ambiental consiste em contribuir para a


compreensão da complexidade do ambiente em suas dimensões ecológicas, econômicas,
sociais, culturais, políticas, éticas e tecnológicas, de maneira a sensibilizar a coletividade quanto
à importância de sua organização e participação na defesa de todas as formas de vida. Pretende-
se, assim, incentivar a mobilização dos cidadãos a partir do reconhecimento das causas e das
consequências dos impactos socioambientais que afligem o planeta, buscando satisfazer as
necessidades fundamentais da humanidade ao mesmo tempo em que são respeitados os direitos
das gerações futuras terem acesso a um ambiente saudável (EMBRAPA, 2011).

Nessa perspectiva, os projetos desenvolvidos na escola permitiram a construção de


uma prática educacional diferente, voltada para a construção de competências e habilidades,
em que os educandos perceberam a importância de transformar a sua própria realidade,
desenvolvendo uma comunidade sustentável voltada para a recuperação e preservação dos
recursos naturais.

A educação ambiental é continuada, ela não acaba ao sair do portão da escola,


sensibilizamos para fato de que nós somos os atores ambientais quando tomamos consciência
da nossa realidade e quando temos consciência da nossa relação com o meio ambiente e com
os demais homens. Sensibilizamos também para o fato de se ter ações efetivas, que transpassam
o espaço escolar e cheguem a toda a sociedade.

Trabalhar a questão ambiental nos diferentes níveis de ensino trata-se de uma tarefa
difícil e às vezes problemática. Propostas existem e enchem nossos olhos de esperança em ver
nossos estudantes com a oportunidade de serem agentes protagonistas do aprendizado e,
sobretudo, propagadores de práticas mais corretas com nossa natureza. Porém, ainda deparamos
com dificuldades de materiais básicos para proporcionar um ensino mais completo. Os projetos
precisam ampliar as possibilidades destas crianças de pensarem e agirem de forma mais
sustentável desde seus primeiros passos no ambiente escolar, para que no futuro, quem sabe,
tenhamos uma nova possibilidade de viver em harmonia com nosso meio ambiente.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

A formação de uma sociedade passa necessariamente pela escola, e, sendo assim, é


preciso que se garanta a formação de cidadãos críticos e capazes de se transformar em agentes
da própria história, de modo que a partir da expansão dessas atividades de educação ambiental,
em que cada vez mais cidadãos adquiram habilidades e competências, gradativamente toda a
sociedade possa se transformar e estabelecer uma relação verdadeiramente sustentável com o
meio ambiente, salvando-se assim, o planeta.

5. REFERÊNCIAS
EMBRAPA. Caracterização Edafoclimática do Assentamento Itamarati, MS, e Análise
Socioeconômica Regional 2011. Disponível em: Acesso em: 10 de outubro de 2017.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, ed. 11,
1980.
MORIN, E. Os sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. 3. ed. São Paulo: Cortez,
2002.
ROCCO, Rogério (org.). Legislação Brasileira do Meio Ambiente. Rio de Janeiro: DP&A,
2002, p. 283.
VARGAS, Liliana Angel. Educação Ambiental: a base para uma ação
político/transformadora da sociedade. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação
Ambiental. Fundação Universidade Federal do Rio Grande. Vol. 15, Jul./Dez – 2007.
VIRGENS, Rute de Almeida. A educação ambiental no ambiente escolar. 2011. Trabalho de
Conclusão (Licenciatura em Biologia a Distância). Universidade de Brasília-UNB, Luziânia.
Acessado em: 12/ 04/ 2018.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM ESTUDO DE CASO A PARTIR DO


PROJETO PEDE PLANTA
Zélia Malena Barreira Dias
Universidade Estadual de Goiás
zelia.malena@gmail.com

Priscylla Karoline de Menezes


Universidade Estadual de Goiás
Priscylla.menezes@ueg.br

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo analisar a contribuição do Projeto Pede Planta na
formação dos alunos a partir de um espaço de educação formal. Para o desenvolvimento desse trabalho,
o método de pesquisa aplicado foi quanti - qualitativo, por meio da pesquisa documental, pesquisa
bibliográfica e estudo de caso, realizada em um colégio particular do Distrito Federal. A partir da
aplicação dos questionários, observa-se que os alunos mesmo não entendendo o real significado do
termo meio ambiente, eles têm a percepção dos problemas ambientais locais e entende que a mudança
da crise ambiental depende do envolvimento toda a sociedade. No entanto, verifica-se que a EA
desenvolvida na escola não é trabalhada de forma crítica, tanto com os alunos quanto com os
funcionários. Apesar de algumas defasagens, as atividades desenvolvidas vêm impactando os resultados
e contribuindo para o fortalecimento e articulação do projeto, não só no ambiente escolar, mas no
Distrito Federal e entorno, promovendo a reflexão sobre as questões ambientais em diversos
seguimentos da sociedade civil.
Palavras-chave: Sensibilização Ambiental; Projetos Ambientais; Educação Formal.

INTRODUÇÃO

A sustentabilidade é a marca da crise de uma época que interroga a gênese de sua


emergência no tempo atual e sua projeção para um futuro possível (LEFF, 2001). Onde a crise
ambiental não é apenas um problema econômico e político: é também um problema de ordem
social, que influencia e coloca em xeque os modos atuais de se viver em sociedade
(LOURENZETTI, 2008). A busca de novos valores e conhecimentos que objetive a formação
de processos de gestão dos recursos naturais que ultrapasse o sistema capitalista de
racionalidade produtiva, é necessário (LEFF, 2007). Nesse sentido, a Educação Ambiental se
torna uma ferramenta estratégica para orientar a transição para a sustentabilidade, com o
propósito de formar os valores, habilidades e capacidades (LEFF, 2001).

A Educação Ambiental busca valores que conduzam a uma sobrevivência harmoniosa


com o ambiente e os demais seres que habitam o planeta, auxiliando o aluno a analisar
criticamente o princípio antropocêntrico que tem levado a destruição inconsequente dos
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Iporá, 6 a 9 de junho de 2018.

Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

recursos naturais (SANTO, 2001). Nesse contexto, no ambiente escolar, a EA aponta para
propostas pedagógicas focadas na sensibilização, que por meio da mudança de percepção de
mundo levam a participação dos educandos (REIGOTA, 1998). Tornando as escolas um espeço
propício para a formação de identidades ecológicas (VIEGAS, 2002).

Tendo em vista a importância de projetos como o Pede Planta, que visam formar
cidadãos comprometidos e responsáveis por suas atitudes em relação ao meio ambiente, este
trabalho tem como objetivo geral analisar a contribuição do Projeto Pede Planta na formação
dos alunos a partir de um espaço de educação formal; e como objetivo específicos: Avaliar a
compreensão dos funcionários e discentes da escola, a partir do 5º ano do Ensino Fundamental,
sobre as questões ambientais apontadas no projeto da instituição.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para o desenvolvimento desse trabalho, o método de pesquisa aplicado foi quanti -


qualitativo, por meio da pesquisa bibliográfica e estudo de caso, realizada em um colégio
particular, do Distrito Federal, o Colégio do Sol. Na qual foi dividida em duas etapas: num
primeiro momento a coleta de material bibliográfico, para contextualização da pesquisa, e a
obtenção de dados secundários através da aplicação de questionários aos alunos e funcionários,
sobre o Projeto “Pede Planta” e as práticas de Educação Ambiental.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste tópico serão apresentados os resultados obtidos pelos questionários, aplicados


no período de setembro a novembro de 2017, aos alunos e funcionários. Nos questionários,
buscou-se aferir informações de como o pesquisado percebe o meio ambiente e a contribuição
da EA para a formação dessa percepção.

ALUNOS

Aos alunos do 5º ano do Ensino Fundamental I foi aplicado questionários com quatro
questões objetivas. Abordando um total de 42 alunos, o que equivale a 20 % do total de 225

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

alunos matriculados no então ano letivo, com intuito de verificar a percepção dos mesmos sobre
as questões ambientais e o papel do Projeto Pede Planta na formação dos discentes.

Meio Ambiente

Gráfico 1: Meio Ambiente

Fonte: Elaborado pelo autor

A primeira questão objetivou entender concepção dos alunos sobre o termo Meio
Ambiente. Por meio do estudo da teoria e da prática em EA, Sauvé (1996) e Sauvé et all (2000),
identificam sete classificações sobre a percepção do ambiente: como natureza, como recurso,
como problema, como meio de vida, como sistema, como biosfera e ambiente como projeto
comunitário. Dentro do objetivo proposto destacamos três das sete concepções do autor.

Baseado nesse levantamento, 80% do total de alunos entrevistados associam o termo


Meio Ambiente a componentes da Natureza, ou seja, água, solo, plantas e animais, dissociando
o ser humano da avaliação. Segundo Sauvé (2005), nesta percepção o problema identificado
para a EA é a dissociação do ser humano da natureza. Para 5% do total de alunos associam o
termo apenas ao meio antrópico (seres humanos, escolas, ruas, bairros, cidades, etc). O
ambiente como meio de vida é visto como algo que precisamos conhecer e organizar (SAUVÉ,
2005). É o ambiente cotidiano, ou seja, a interação de aspectos ambientais e sociais. Do
restante, 15 % acham que meio ambiente é a relação entre os seres vivos e não vivos. Essa
percepção tem uma abordagem conceitual do termo meio ambiente não deve estar limitada à
dimensão ecológica e pragmática, mas associada a uma visão contextualizada da realidade
ambiental e social (FERRARO JÚNIOR, 2013). Para Sauvé (2005), ambiente entendido como
sistema remete à ideia de inter-relacionamentos entre o meio antrópico e natural.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Problemas Ambientais

Gráfico 2: Problemas Ambientais

Fonte: Elaborado pelo autor

Com intuito de entender a percepção dos alunos quanto a responsabilidade ambiental,


foi questionado se a população é responsável pelos problemas ambientais. Do total de alunos,
93% responderam que, sim, a população é responsável pelos problemas ambientais; diferente
dos 5% que responderam que, não, e dos 2% que não opinaram.

Na questão anterior observou-se que a maioria dos alunos não tem a percepção de
inserção do ser humano ao meio ambiente, porém quando questionados sobre a
responsabilidade dos problemas ambientais em sua maioria acham que o ser humano é o
culpado por eles. Como discutido anteriormente essa percepção é resultado da interação
individual de cada um com o meio, e a educação ambiental tem o papel de ajudar na construção
desse paradigma. Visto que, a EA, na medida em que inclui o ambiente humano em suas
práticas, incorpora os processos decisórios participativos como um valor fundamental a ser
considerado na proteção ambiental (LAYRARGUES, 2001).

Responsabilidade Ambiental

Gráfico 3: Responsabilidade Ambiental

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Fonte: Elaborado pelo autor

Quando questionados sobre a responsabilidade de preservação do meio ambiente, a


maioria, 90%, respondeu que é da população como um todo, 5% respondeu estudantes, 3% os
governantes e 2% os cientistas. Através desse questionamento percebemos que esse resultado
vai de encontro com a questão anterior, o papel do ser humano nos problemas ambientais, isso
mostra que os alunos têm a percepção de que os problemas ambientais são consequência direta
da ação humana e para que esse quadro seja revertido, os próprios seres humanos devem
intervir. Reafirmando que atitudes pequenas como coleta de sementes e plantio no viveiro
quando acompanhadas de uma educação consciente muda a percepção dos discentes quanto a
responsabilidade ambiental que passa a ser de todos e não de uma parcela da população.

Problemas Ambientais

Gráfico 4: Problemas Ambientais

Fonte: Elaborado pelo autor

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Buscando a compreensão dos alunos a respeito dos problemas ambientais da região na


qual eles moram os alunos indicaram, de acordo com sua percepção, o principal problema
ambiental da região. Ao serem questionados sobre os problemas ambientais da região que
vivem, os estudantes responderam que o predominante é a falta de água, do total 51% dos alunos
marcaram essa opção. 18% acreditam que as queimadas é o principal problema ambiental do
DF. 13% escolheram o lixo como a opção mais representativa. Outros 13% marcaram o
desmatamento. E 5% acreditam que a Poluição do Ar é o principal problema da região.

A maioria dos alunos acreditam que o principal problema ambiental da atualidade é a


Crise Hídrica, indo de encontro com as duas últimas questões, reafirmando a percepção e a
avalição dos alunos quanto ao meio na qual estão inseridos e a importância da EA na formação
dos alunos. Visto que, nos últimos meses o Distrito Federal vem vivendo uma crise de
abastecimento d’água, onde os principais reservatórios da região estão com níveis bem abaixo
do previsto. Isto nos remete a uma necessária reflexão sobre os desafios para mudar as formas
de pensar e agir em torno da questão ambiental (JACOBI, 2003).

FUNCIONÁRIOS

Assim como foi aplicado questionários aos alunos, os funcionários responderam três
questões subjetivas e uma objetiva, com intuito de verificar a percepção dos mesmos sobre as
questões ambientais e o papel do Projeto Pede Planta na instituição. Dentre as respostas
subjetivas obtidas apenas as mais extensas e reflexivas que as demais serão citadas a fim de
serem posteriormente analisadas.

Educação Ambiental

Quando questionados “O que é Educação Ambiental?” a maioria dos funcionários


afirmam enxergam como um mecanismo de mudança para tornar o meio na qual vivem melhor,
se referindo a conservação do Meio Ambiente como objetivo principal. Um dos entrevistados
diz que: “É toda ação educativa que contribui ou desperta a consciência para a preservação do
meio ambiente.” Outros acreditam que através de ações corriqueiras do dia-a-dia geram o
despertar para o cuidado com o meio ambiente, como é observado na fala a seguir: “A
valorização do meio ambiente através dos cuidados e experiências do dia-a-dia.” Outro na

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

mesma linha, fala que a EA é a: “Associação do conhecimento sobre meio ambiente e práticas
diárias de manutenção e conscientização ambiental.” Diferente da maioria dos entrevistados,
dois do total apresentam uma visão mais crítica do que é EA, onde um deles escreve: “EA é um
processo de educação que aborda aspectos econômicos, sociais, políticos e éticos. É responsável
por formar indivíduos preocupados com os problemas ambientais e que busquem a conservação
e preservação dos recursos naturais e a sustentabilidade.” Pode-se observar nessa fala que o
entrevistado não se restringe apenas as questões ambientais, mas a aspectos sociais e
econômicos que são fundamentais na busca da sustentabilidade, que é o principal objetivo da
EA.

A percepção da maioria dos entrevistados sobre a EA, vai de encontro com a visão
naturalista e conservacionista, ao afirmar que o objetivo principal da área é a conservação do
meio ambiente. Para Guimarães (2004) a EA conservadora reflete os paradigmas da sociedade
moderna ao considerar que transmitindo o conhecimento correto fará com que o indivíduo
compreenda a problemática ambiental e que isso vá transformar seu comportamento e a
sociedade. Ou seja, não considera o meio ambiente em sua complexidade econômica, cultural,
política, social, ecológica e histórica (SILVA, 2008), desvinculado da realidade, o
individualismo diante da coletividade e o local descontextualizado do global.

Importância das Ações Ambientais no Colégio

Gráfico 7: Ações de Educação Ambiental

Fonte: Elaborado pelo autor


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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Quando questionados sobre as ações de EA que ocorrem no Colégio do Sol todos


responderam que, sim, acham importante. Essas respostas vão ao encontro com o
questionamento anterior sobre a importância das ações na formação dos alunos, os funcionários
veem de maneira positiva o Projeto Pede Planta na formação dos discentes. Porém, para sete
dos entrevistados deveria haver mais ações, diferente de nove que concorda com o que está
sendo feito e acha que deve manter da forma que se encontra.

O Colégio conta com cinco seguimentos de ensino, desse total, três não ocorrem
atividades de EA regularmente como nos outros, são ações pontuais junto aos professores. Esse
pode ser um dos motivos para uma parcela considerável achar que deveria haver mais EA na
escola. Cabe ressaltar, também, que essas ações são restritas, em sua maioria, aos alunos, não
abrangendo alguns dos funcionários de maneira direta. E mesmo os entrevistados vendo com
bons olhos as práticas de EA, observa-se que eles sentem a necessidade de abranger todo a
comunidade escolar.

Consciência Ambiental

Quando questionados sobre o papel do Projeto Pede Planta na Formação dos alunos e
funcionários, unanimemente os questionados responderam que, sim, que enxergam o ambiente
escolar como um local propício para aplicação desse tipo de programa e que contribui de
maneira significativa na formação do indivíduo dentro da sociedade.

Projetos como o Pede Planta, tem se tornado uma estratégia importante no contexto
escolar, por despertar nos alunos o interesse de aprender sobre a temática ambiental, como
destaca o seguinte entrevistado: “O Projeto Pede Planta nos leva a pensar, rever e se preciso,
mudar alguns hábitos e assumir novas atitudes que levem a diminuição da degradação
ambiental, promovendo a melhoria da qualidade de vida [...]”

Assim como no questionamento anterior uns funcionários fazem referência a questões


pontuais que são trabalhadas junto aos alunos, como a questão do lixo, onde destaca: “o projeto
traz para o ambiente escolar práticas com o lixo, plantação e alimentação para a rotina.”
Seguindo nessa linha de raciocínio, a maioria das respostas evidenciam as tendências
conservacionista e pragmática nas atividades de EA, algumas das respostas mostram a ênfase

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

no comportamento individual com foco na proteção dos recursos naturais e resolução dos
problemas.

Educação Ambiental para a Gestão Ambiental

Dentre os questionados todos concordam que a educação ambiental é um mecanismo


de gestão pública, e acreditam que se a população tivesse consciência ambiental, muitos dos
problemas de Gestão Ambiental seriam evitados, como observa- se na fala de um dos
entrevistados que faz referência a crise hídrica que o Distrito Federal vem vivenciando nos
últimos dois anos: “estamos enfrentando vários problemas ambientais e um deles é a Crise
Hídrica, se a população fosse consciente, acredito que não passaríamos por isso”. Outro
entrevistado apresenta uma visão mais crítica, ao afirmar que “a prática de Gestão Ambiental
proporciona por meio de atividades econômicas e sociais o uso racional dos recursos naturais”.

A EA é considerada como uma importante ferramenta para a gestão ambiental


democrática, por possibilitar que a sociedade se aproprie do debate proposto e possa atuar
efetivamente nos espaços de decisão e participação existentes nesse processo (ANELLO, 2006).
Segundo Sato & Santos (1996), o processo educacional pode despertar a preocupação ética e
ambientalista dos seres humanos, modificando os valores e as atitudes, propiciando a
construção de habilidades e mecanismos necessários ao desenvolvimento sustentável. Sendo
assim, uma importante ferramenta no contexto de Crise Ambiental.

CONCLUSÃO

A Educação Ambiental é uma importante ferramenta para mudança do paradigma atual


do modelo econômico de desenvolvimento e enfrentamento da crise ambiental. Nesse sentido,
o ensino, através da implementação de projetos, como o Pede Planta, promove a sensibilização
ambiental que vêm ao encontro das atuais necessidades de preservação, uso sustentável dos
recursos naturais e da promoção de ações educativas-conscientizadoras dirigidas ao cuidado
com a qualidade de vida no planeta.

A partir da aplicação dos questionários, observa-se que os alunos mesmo não


entendendo o real significado do termo meio ambiente, eles têm a percepção dos problemas
ambientais locais, ou seja, estão sensíveis em relação aos problemas existentes no ambiente a
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qual fazem parte e entende que a mudança desse paradigma depende do envolvimento toda a
sociedade. No entanto, verifica-se que os problemas ambientais tratados na escola não é
trabalhado de forma crítica., tanto com os alunos quanto com os funcionários, esses temas
deveriam ser trabalhados pelas escolas, conectada com a realidade das comunidades a qual
fazem parte.

REFERÊNCIAS

ANELLO, L. F. S.. Pensando e praticando a Educação Ambiental no Licenciamento: o sistema


Portuário do Rio Grande. Brasília: IBAMA, 2006. 97 p. (v. 1).

FERRARO JÚNIOR. L.A. Encontros Ambientais e Coletivos Educadores. – v. 3. Brasília:


MMA/DEA, 2013.

GUIMARÃES, M. Formação de educadores ambientais. São Paulo: Papirus, 2004.

JACOBI, P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de pesquisa, v. 118,


n. 3, p. 189-205, 2003.

LAYRARGUES, P. P. Educação para a Gestão Ambiental. Caderno de Educação Ambiental


II pp. 151-177. 2001.

LAYRARGUES, P. P; LIMA, G. F. C.. As macrotendências político- pedagógicas da educação


ambiental brasileira. Ambient. soc. [online]. vol.17, n.1, pp.23-40. 2014.

LEFF, E. Epistemologia ambiental. São Paulo: Cortez, 2007.

REIGOTA, M. Desafios à educação ambiental escolar. In: JACOBI, P. et al. (orgs.). Educação,
meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: p.43-50. SMA, 1998.

SATO, M. Educação ambiental. São Paulo: Rima, 2003. Disponível em:


<http://www.inep.gov.br/imprensa/noticias/censo/escolar/news02_05.htm>. Acesso em 19
mar. 2018.

SATO, M.; PASSOS, L. A. Biorregionalismo: identidade histórica e caminhos para a cidadania.


In: LOUREIRO, C. F. B; LAYARGUES, P.; CASTRO, R. S. Educação ambiental: repensando
o espaço da cidadania. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2011. p. 227-259.

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III Fórum Regional das Águas e XX Encontro de Geografia da UEG
Iporá, 6 a 9 de junho de 2018.

Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

SATO, M.; SANTOS, J.E. Agenda 21 em Sinopse. São Carlos: PPG-ERN/UFSCAR,


50p.1996.

SAUVÉ, L. Educação Ambiental: possibilidades e limitações. Educação e Pesquisa, São


Paulo, v. 31, n. 2, p. 317-322, 2005.

SILVA, A.S. 2008. A prática pedagógica da educação ambiental: um estudo de caso sobre
o Colégio Militar de Brasília. Dissertação Mestrado em Desenvolvimento Sustentável, Centro
de Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Brasília, Brasília: 112 p

VIEGAS, A. A educação ambiental nos contextos escolares: para além da limitação


compreensiva e da incapacidade discursiva. Dissertação [Mestrado em Educação] –
Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 2002.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

EVOLUÇÃO DO USO DO SOLO E COBERTURA VEGETAL NA


BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO DA AREIA, MUNICÍPIOS DE
ARAGARÇAS (GO) E BOM JARDIM DE GOIÁS (GO) ENTRE OS
ANOS DE 1987 E 2017
Eduardo Vieira dos Santos
Universidade Federal de Goiás – Regional Jataí
edugeo2000@yahoo.com.br

Frederico Augusto Guimarães Guilherme


Universidade Federal de Goiás – Regional Jataí
fredericoagg@gmail.com

Renato Adriano Martins


Universidade Estadual de Goiás
renato-geo@hotmail.com

Mônica Aparecida Guimarães da Silva


Universidade Federal de Goiás – Regional Catalão
monicaags2008@yahoo.com.br

RESUMO: Localizada nos municípios de Aragarças e de Bom Jardim de Goiás, Estado de Goiás, a
bacia hidrográfica do Ribeirão da Areia, possui área de 187,99 km², com ampla rede de drenagem, sendo
local de ocorrência de diversas veredas, importante fitofisionomia do Cerrado. Devido a intensificação
da ocupação de áreas do Cerrado ocorrida a partir da década de 1970, tem ocorrido vários impactos
ambientais. Desse modo, o presente artigo tem como objetivo identificar os usos atuais do solo na bacia
hidrográfica do Ribeirão da Areia, a fim de fornecer base ao conhecimento local. Para a efetivação do
presente estudo foram utilizadas as geotecnologias na realização de mapeamentos, bem como, pesquisa
em banco de dados para obtenção de informações da área em estudo e pesquisa de campo para o
refinamento e confirmação dos resultados.

Palavras-Chave: Geotecnologias; Ocupação; Bacia Hidrográfica.

INTRODUÇÃO

Diante da ocupação do Cerrado propiciada pela expansão da fronteira agrícola,


sobretudo a partir da década de 1970, foi intensa a transformação paisagística. A vegetação
nativa é retirada para dar lugar, principalmente, a práticas agrícolas e pecuárias. A bacia
hidrográfica do Ribeirão da Areia localizada na porção oeste de Goiás, Microrregião de
Aragarças, tem enfrentado essas alterações frente ao desenvolvimento, sobretudo, da pecuária.
A bacia hidrográfica do Ribeirão da Areia está inserida na área “core” do bioma
Cerrado, compartilhando com este, os mesmos problemas ocasionados pela ocupação. Desde a
segunda metade do século XX, o Cerrado, teve forte alteração de sua paisagem natural
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

(FERNANDES; PESSÔA, 2011). Em decorrência da intensa ocupação, várias são as atividades


que, de alguma forma, agridem o seu patrimônio natural.
Os usos das geotecnologias podem trazer grandes contribuições, como no caso do
diagnóstico ambiental, com o mapeamento do uso da terra, que é de essencial importância para
compreender a organização espacial humana, e, as transformações impostas pelo homem em
uma determinada área ao longo de uma escala temporal. O estudo do uso da terra é um meio de
buscar conhecimento de toda a sua utilização por parte do homem ou, quando não utilizado
pelo homem, a caracterização dos tipos de categorias de vegetação natural que reveste o solo
(ROSA, 2007).
Diante dos problemas gerados pela ocupação, da degradação ambiental do Cerrado e da
necessidade de uma ocupação menos impactante desenvolveu-se o presente estudo com o
objetivo de identificar os usos atuais do solo na bacia hidrográfica do Ribeirão da Areia, a fim
de fornecer base ao conhecimento local.
A bacia hidrográfica do Ribeirão da Areia é local de alta fragilidade ambiental, devido,
principalmente, a grande ocorrência de solos arenosos, muito suscetíveis a erosão. Soma-se as
características do solo, a ocupação, realizada sem planejamento com a retirada da vegetação
nativa para a implantação de pastagens. A importância da Bacia também se relaciona a
ocorrência de veredas em toda sua extensão. Veredas responsáveis pela perenização dos cursos
de água.

MATERIAL E MÉTODO

Área de estudo

A bacia hidrográfica do Ribeirão da Areia (Figura 1) está localizada na porção oeste do


Estado de Goiás, na Microrregião de Aragarças. Possui área de 187,99 km² e seu curso principal
deságua no Rio Araguaia. A bacia possui 140,9511 km² pertencentes ao município de Aragarças
(74,97%) e 47,044949 km² pertencentes ao município de Bom Jardim de Goiás (25,03 %).
No contexto regional o clima é tropical de continentalidade pronunciada, caracteriza-se
pela existência de um período seco (maio a setembro) e de um período chuvoso (outubro a abril)
(IANHEZ et al., 1983). A precipitação anual varia entre 1.300 mm e 1.750 mm. A variação
anual da temperatura média é mínima, oscilando entre 18ºC no mês mais frio e 23ºC no mês
mais quente (MOURA, 2007).
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Regionalmente, o município de Aragarças e de Bom Jardim de Goiás estão inseridos no


denominado Planalto Central Goiano (MAURO, DANTAS, ROSO, 1983). Mamede (1999)
redefiniu essa superfície geomorfológica e segundo essa compartimentação os municípios estão
inseridos no Planalto dos Guimarães-Alcantilados. Os solos da região possui evolução
associada ao tipo de substrato, ocorrendo predominantemente, Latossolos, Podzólicos e
Neossolos (IANHEZ et al., 1983). Na bacia do Ribeirão da Areia, existe forte presença de solos
arenosos.

Figura 1 – Localização da bacia hidrográfica do Ribeirão da Areia

Fonte: Elaborado pelos autores a partir de bases de dados disponibilizadas pelo SIEG (2017).

Devido à inter-relação entre vários fatores, como clima, geologia, relevo, solo e
umidade, entre outros, surgem às diferenciações na cobertura vegetal. Desse modo, a bacia
hidrográfica do Ribeirão da Areia encontra-se inserida na área core do bioma Cerrado e
apresenta vegetação característica do Bioma, além de características relacionadas a fatores
locais.

Coleta e análise de dados

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Primeiramente delimitou-se a bacia hidrográfica do Ribeirão da Areia a partir de


imagens Shuttle Radar Topography Mission (SRTM) disponibilizadas pelo Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (INPE), projeto Topodata, resolução espacial de 30 m. A rede de
drenagem foi mapeada a partir das imagens SRTM, com metodologia de Martins (2007), com
o conjunto de ferramentas hydrology e conditional (fill, flow direction, flow accumulation, con
e stream to features), no software ArcGis versão 10.1 licenciado para o Laboratório de
Geoinformação da UFG-REJ.
O resultado do mapeamento da rede de drenagem foi um shape-file, transformado em
arquivo kml e inserido no software Google Earth, em que realizou-se a comparação entre o
shape-file de drenagens extraídos da imagem SRTM e a identificação visual em imagens de
satélites. Essa comparação foi necessária para se gerar um mapeamento da rede de drenagem
que fosse o mais condizente com a realidade. Após a comparação entre shape-file de drenagens
extraídos da imagem SRTM e a identificação visual em imagens de satélites, foram realizadas
pequenas correções e o arquivo foi novamente transposto para o software Arc Gis 10.1.
Para o mapeamento de uso da terra e cobertura vegetal empregou-se imagens do satélite
Landsat Sensor TM5 e OLI8, Órbita/Ponto 224/71, para os anos de 1987, 1997, 2007 e 2017,
disponibilizadas pela USGS-NASA. No intuito de melhorar a qualidade dos produtos finais extraídos
das imagens de satélite foi realizado o pré-processamento, com reprojeção para o hemisfério sul,
correção radiométrica transformando os valores de números digitais para valores de reflectância de
topo da atmosfera e depois em reflectância de superfície com a correção atmosférica (CHANDER et
al., 2009; SANCHES et al., 2011).
Posterior ao pré-processamento, foi possível realizar o mapeamento de uso da terra e
cobertura vegetal, no qual, empregou-se metodologia de Santana (2017). Utilizou-se a classificação
não supervisionada, ferramenta Multivariate/Iso Cluster. Com o Iso Cluster executado emprega-se a
ferramenta de classificação máxima de verossimilhança Multivariate/Maximum Likelihood
Classification. Após a classificação executada é necessária a identificação das classes geradas, com
isso se atribui o número de classes de uso da terra. A partir da imagem classificada foi gerado um
mapa temático com cinco classes: Mata, Cerrado, Cerrado degradado e/ou em regeneração,
Pastagem e Solo descoberto.
No mês de outubro de 2017 foram realizadas incursões a campo com objetivo de
verificar in loco se os resultados encontrados no mapeamento foram condizentes com a

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realidade, validando as diferentes classes. Nessas incursões a campo também se obteve registro
fotográfico das classes. As imagens contidas no Google Earth foram de grande valia para a
validação dos resultadas, assim como efetuado por Rosa e Sano (2014).
A fim de compreender melhor os resultados do mapeamento também foram coletadas
informações sobre a produção agropecuária e aspectos socioeconômicos dos dois municípios,
disponibilizadas pelo IBGE (2018). Com essas informações foram criados quadros com dados
sobre a produção agropecuária municipal.
RESULTADOS E DISCUSSÕES

O início do município de Aragarças data-se de 1872 quando veio de Araguaiana (MT),


um grupo de garimpeiros, dando origem ao povoado de Deixado. O movimento de viajantes
que subiam o Rio Araguaia era intenso, neste percurso encontravam ricos garimpos de
diamantes. Estava iniciada a vila que chamaram de Barra Goiana, na confluência do Rio Garças
com o Rio Araguaia. Em 1943 chegou à Barra Goiana a Expedição Roncador-Xingu, mais
tarde, transformada em Fundação Brasil Central. Pela localização junto aos dois rios, Araguaia
e Garças, designou-se ao povoado de Barra Goiana, o nome de Aragarças, por derivação do
nome dos rios. Pela Lei Estadual nº 788 de 02 de outubro de 1953 Aragarças foi elevada a
categoria de município (IBGE, 2018).
A história do município de Bom Jardim de Goiás remonta meados do século XIX,
quando foi penetrada pela primeira vez pelo bandeirante Manoel Perdigão, com a descoberta
de ouro no local denominado Buriti. Em 1912, fixou-se na região a família Felizardo, formando
a fazenda Bom Jardim, nome decorrente da beleza dos campos, do ribeirão próximo, em cujas
terras originou-se a povoação. Sua autonomia municipal foi concedida pela Lei Estadual nº A-
17, de 18 de agosto de 1953, com o novo topônimo de Bom Jardim de Goiás (BOM JARDIM
DE GOIÁS, 2018).
Atualmente, o município de Aragarças possui uma população estimada de 19.884
habitantes. No Censo de 2010, a população urbana era de 17.617 habitantes e a população rural
era de 688 habitantes. Já o município de Bom Jardim de Goiás possui uma população estimada
de 8.896 habitantes. No Censo de 2010, a população urbana era de 6.349 habitantes e a
população rural era de 2.074 habitantes (IBGE, 2018).
Devido às características do município de Aragarças, com área territorial reduzida, a sua
produção agropecuária e extração vegetal é baixa (Quadro 1), com destaque para a produção de
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cana-de-açúcar. Com a observação do Quadro 1, nota-se que a produção agrícola do município


de Aragarças é pouco diversifica e a área plantada pode ser considera pequena em relação à
área total do município.

Quadro 1 – Produção agropecuária e extração vegetal em Aragarças (GO) - 2016


Lavoura temporária
Produtos Cana-de-açúcar Arroz Milho Mandioca Abacaxi
Área plantada 674 ha 30 ha 30 ha 30 ha 2 ha
Lavoura permanente Extração vegetal
Produtos Banana Produtos Madeiras/lenha
Área colhida 5 ha Quantidade produzida 1.309 m³
Fonte: IBGE, 2018. Organização: SANTOS (2018).
A pecuária no município de Aragarças é desenvolvida de forma extensiva. Na produção
pecuária municipal (Quadro 2) destaca-se a criação de rebanho bovino, seguido pela criação de
peixes.

Quadro 2 – Produção pecuária no Município de Aragarças (GO) - 2016


Bovino Peixes Galináceo Vacas ordenhadas Suíno Equino Ovino
32.400 6.060 9.150 3.000 720 620 501
Cabeças kg Cabeças Cabeças Cabeças Cabeças Cabeças
Fonte: IBGE, 2018. Organização: SANTOS (2018).

Diferentemente de Aragarças, o município de Bom Jardim de Goiás possui maior área


destinada às atividades agrícolas, com destaque para a produção de soja (Quadro 3). Merece
destaque a lavoura permanente, que embora ocupe área pequena tem cinco diferentes culturas.

Quadro 3 – Produção agropecuária e extração vegetal em Bom Jardim de Goiás (GO) - 2016
Lavoura temporária
Soja Milho Cana-de-
Produtos Mandioca Feijão Abacaxi
(grão) (grão) açúcar
Área plantada 7.000 ha 400 ha 15 ha 80 há 30 15 ha
Lavoura permanente
Produtos Banana Laranja Limão Mamão Manga
Área colhida 50 ha 5 ha 2 ha 10 ha 10 ha
Extração vegetal
Produtos Madeiras/lenha
Quantidade produzida 1.274 m³
Fonte: IBGE, 2018. Organização: SANTOS (2018).

A pecuária no município de Bom Jardim de Goiás (Quadro 4) também é desenvolvida


de forma extensiva. Entretanto, é bem mais expressiva, com grande rebanho bovino e produção
considerável de peixes.
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Quadro 4 – Produção pecuária no Município de Bom Jardim de Goiás (GO) - 2016


Bovino Peixes Galináceo Vacas ordenhadas Suíno Equino Ovino
159.000 64.400 18.000 12.000 3.000 1.300 1.180
Cabeças kg Cabeças Cabeças Cabeças Cabeças Cabeças
Fonte: IBGE, 2018. Organização: SANTOS (2018).

Devemos ressaltar que os números apresentados anteriormente são relacionados à área


municipal como um todo. Especificamente, na bacia hidrográfica do Ribeirão da Areia os usos
do solo são um pouco diferentes da realidade de toda a área municipal. Não foi identifica a
ocorrência de lavouras e a grande responsável pela ocupação do solo é a pecuária, mas existe
ainda considerável área de vegetação nativa.
Ao analisar a evolução do uso do solo e cobertura vegetal na Bacia para as últimas
décadas observamos situação próxima ao que tem ocorrido com todo o Cerrado, com a
substituição da vegetação nativa pela atividade agropecuária.
Ao observarmos o mapeamento de uso do solo e cobertura vegetal para o ano de 1987
(Figura 2) percebe-se que o quantitativo de cerrado era superior a 60 % e a pastagem ocupava
apenas 21% da área.

Figura 2 – Uso da terra e cobertura vegetal na bacia hidrográfica do Ribeirão da Areia, Goiás,
no ano de 1987 e 1997

Fonte: NASA/USGS, Landsat5 1987/1997. Autor: SANTOS, Eduardo Vieira dos - 2017.
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O quantitativo de solo descoberto pode ser considerado alto, possivelmente, devido à


presença de solos muito arenosos e que requerem maior uso de técnicas de conservação, as
quais não eram empregadas. Passados dez anos, o uso do solo e cobertura vegetal em 1997
(Figura 2), teve como principal alteração, a redução da área de cerrado e o aumento da área
destinada à pastagem. O porcentual de solo descoberto também foi reduzido.
Em 2007, o uso do solo e cobertura vegetal (Figura 3) continua com a redução de áreas
de cerrado e o aumento de áreas de pastagens. Destaca-se o aumento expressivo de solo
descoberto. Passados dez anos, em 2017, a área de cerrado pouco foi reduzida, houve sim a
redução dos solos descobertos e um pequeno aumento na área de pastagem, demonstrando
alteração menos intensa do que na década anterior.
Figura 3 – Uso da terra e cobertura vegetal na bacia hidrográfica do Ribeirão da Areia, Goiás
no ano de 2007 e 2017

Fonte: NASA/USGS, Landsat5 2007/Landsat8 2017. Autor: SANTOS, Eduardo Vieira dos - 2017.

Diante da observação na evolução do uso do solo e cobertura vegetal (Figuras 2, 3 e


Tabela 2) nas ultimas décadas para a bacia hidrográfica do Ribeirão da Areia, notamos que
existia considerável área contínua de cerrado, mas que foi sendo reduzida ao longo dos anos.
Uma particularidade da área é a marcante presença de áreas de cerrado degradado e ou em

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regeneração. Com as visitas a campo para validação do mapeamento notamos que existem áreas
nas quais após a retirada do cerrado, houve o abandono do local deixando com que o cerrado
entrasse em processo de regeneração.

Tabela 1 – Uso da terra e cobertura vegetal na B. H. Ribeirão da Areia entre os anos de


1987 e 2017, municípios de Bom Jardim de Goiás e de Aragarças - GO. Valores dados em
%.
Usos 1987 1997 2007 2017
Cerrado 61,39 46,53 37,46 36,90
Cerrado antropizado
12,69 20,18 14,84 11,64
e/ou em regeneração
Floresta 1,69 2,22 2,76 3,09
Pastagem 21,27 29,31 40,53 46,14
Solo exposto 2,96 1,75 4,40 2,24
Fonte: Mapeamento de uso da terra e cobertura vegetal. Organização: SANTOS, Eduardo Vieira dos.

A bacia hidrográfica do Ribeirão da Areia possui vasta rede de drenagem e ampla


ocorrência do ambiente de vereda. Frente à alteração paisagística constatada e a própria
fragilidade da área são necessárias medidas que visem proteger a Área de Preservação
Permanente e as veredas ainda existentes, afim de, evitar um maior comprometimento para os
cursos de água.

CONCLUSÕES

Com a realização do presente estudo constatou-se que tem ocorrido à alteração


paisagística na bacia hidrográfica do Ribeirão da Areia. A vegetação de cerrado tem sido
retirada para a implantação de pastagens que sustenta a pecuária extensiva. A retirada da
vegetação nativa é realizada sem nenhum tipo de planejamento atingindo áreas muito frágeis.
O uso pela pecuária se destaca, embora seja pouco diversificado. As diferentes formas de uso
da terra e a transformação da cobertura vegetal podem resultar em diferentes impactos
ambientais para essa área.
No ano de 1987 a bacia hidrográfica do Ribeirão da Areia possuía área considerável de
vegetação nativa, que foi sendo reduzida nas décadas subsequentes. Mesmo com essa redução,
a vegetação nativa ainda está próxima de 40 por cento da área total. Como a Bacia apresenta
locais de solos arenosos, naturalmente mais frágeis, é importante que ocupação e a consequente
alteração paisagística seja efetuada de forma planejada, respeitando os limites de cada local.

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A alteração na cobertura vegetal poderá acarretar graves prejuízos para os cursos de


água, principalmente, com o carreamento de sedimentos, mas também pode comprometer a
recarga dos aquíferos que os mantêm. Existe em toda a bacia hidrográfica do Ribeirão da Areia,
número expressivo de veredas, que dentre outras funções ecológicas, são responsáveis pela
perenização dos cursos de água, devendo, portanto, serem preservadas.

REFERÊNCIAS

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GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NO MUNICÍPIO DE


FORMOSA-GOIÁS: ESTUDO DE CASO SOBRE O DÉFICIT DE
ABASTECIMENTO NO PERÍODO DE ESTIAGEM

Naiane Candido Araújo Oliveira


Universidade Estadual de Goiás – Câmpus Formosa
naianecandidoaraujo@gmail.com

Elton Souza Oliveira


Universidade Estadual de Goiás – Câmpus Formosa
elton.gea@gmail.com

RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo a caracterização da disponibilidade hídrica e do


consumo de água no município de Formosa-GO, pontuando os principais mananciais que abastecem a
cidade, caracterizando os números de consumo e busca identificar as causas do déficit no abastecimento
de água no período de estiagem. Dentre os fatores que influenciaram o aumento no consumo de água e
nos casos de desabastecimento na cidade de Formosa, estão o crescimento populacional considerável
nos últimos anos, ocasionando o aumento na demanda de água para abastecimento, a presença de anos
hidrológicos abaixo da média e eventos de estiagem mais longos, que inibem a capacidade de reposição
do manancial do Córrego Bandeirinha. Diante desses eventos, torna-se necessário a implantação de um
plano de gestão dos recursos hídricos imediato e eficaz.

Palavras-Chave: Disponibilidade hídrica, Bacia Hidrográfica, Consumo de água.

INTRODUÇÃO
De acordo com Nunes et. al. (2009), 97% de toda a água da superfície Terrestre
encontra-se nos oceanos, apenas 3% dela é doce, onde 77% desta água doce está congelada ou
embaixo da superfície do solo e o restante em rios, lagos, solos e atmosfera. Apesar da
distribuição irregular da água potável no mundo o Brasil é um país rico em recursos hídricos,
cuja a produção corresponde a 12% da produção mundial, porém em termos de recursos
hídricos, a bacia amazônica é responsável por 73,6% da água disponível no país, região habitada
por apenas 5,1% da população do país (ANA, 2017).
Apesar da má distribuição, o estado de Goiás, apresenta uma riqueza em recursos
hídricos, composto por drenagens perenes, com cursos d’águas primários e secundários onde
em determinados períodos os cursos de menor ordem sofrem com sua seca temporária
(AB’SABER, 2007). Nascem em Goiás, rios formadores das três mais importantes bacias
hidrográficas do país, como Tocantins-Araguaia, Amazonas e São Francisco.

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Devido a sazonalidade climática do território observa-se que nos períodos de estiagem,


alguns municípios sofrem com o racionamento no abastecimento de água, como no estado de
São Paulo e da Paraíba em 2015, devido aos baixos níveis dos reservatórios e a má gestão dos
recursos hídricos nos períodos de criticidade, e na região Nordeste, que por vários anos vem
sofrendo com a escassez de água, influenciadas principalmente por suas condições climáticas.
Diante disso, nasce uma preocupação, em uma escala local, em saber os fatores que levam o
município de Formosa-Goiás a sofrer com racionamentos no abastecimento de água em
períodos de estiagem e se este se deve a eventos extremos de seca e/ou a má gestão dos recursos
hídricos no município, relacionados ao uso inadequado e falta de planejamento.

Área de estudo
O município de Formosa localiza-se no nordeste do Estado de Goiás, no entorno do
Distrito Federal. Situa-se na latitude 15º32’14” S e longitude 47º20’04” W, com altitude média
de 918 m e área total de 5.807,17 km², correspondendo a 1,7% do território estadual, sendo que
a área urbana ocupa apenas 0,3% deste total, com 20 km² ou 2.000 hectares. A sede do
município está distante 79 km de Brasília e 272 km de Goiânia. O município possui ainda, os
Distritos de Santa Rosa, Bezerra e JK. Assim permanecendo em divisão territorial datada de
2007.
A hidrografia do município de Formosa possui cursos d'água pertencentes a grandes
bacias hidrográficas do Brasil: Tocantins-Araguaia ao norte e São Francisco ao sudeste. Dos
rios que pertencem à bacia Tocantins- Araguaia destacam-se o Paranã e seu afluente Parim; da
bacia do São Francisco, os rios, Bonito, Bezerra e Preto (TEIXEIRA, 2005), o autor ainda relata
que Formosa apresenta como vegetação original: Cerrado Ralo, Campo Sujo e pequenas
manchas de Cerrado Denso.
Os solos característicos do município são compostos por minerais, profundos a muito
profundos, de textura média a argilosos. Geralmente, são bem drenados, pouco suscetível à
erosão, possuindo teores de óxidos de ferro variados (TEIXEIRA, 2005).
A área de estudo concentra-se na área de Formosa e na micro bacia do Córrego
Bandeirinha, que é responsável por 95% do abastecimento de água do município, figura 1. Esse
córrego possui aproximadamente 61 km², equivalente a 6.161 ha, cuja captação está numa seção

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onde a bacia de drenagem alcança área de 64 km² (CHAGAS et. al, 2014). Outros 5%
responsáveis pelo abastecimento de água do município são provenientes de poços artesianos.
Figura 1: Micro bacia do Ribeirão Bandeirinha

Fonte: Santos e Oliveira, 2017.

MATERIAIS E MÉTODOS
A presente pesquisa fundamenta-se em procedimentos descritivos e sua abordagem se
baseia na pesquisa quantitativa, auxiliada por meio de coleta documental de dados. A coleta
documental é baseada em dados estatísticos do município, considerados fundamentais para este
tipo de análise, como dados demográficos, socioeconômicos e dados hidroclimáticos, conforme
proposto por Braga et al. (2006).
A base de dados utilizados no trabalho é composta por dados demográficos relacionados
ao crescimento populacional do município, provenientes do IBGE. Os dados de consumo de
água foram catalogados na base do SNIS.
Quanto aos dados hidroclimáticos referentes a séries históricas de chuvas, são
procedentes do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia), na Estação Meteorológica de

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Observação de Superfície Convencional, situada em Formosa-GO, sob as coordenadas:


Latitude: -15.549167º, Longitude: -47.338611º e Altitude: 935.19 metros. A análise contou com
uma série histórica compreendendo os anos de 1980 a 2016, apresentando os dados de cada mês
do ano, de janeiro a dezembro, para cada ano da série histórica.
Quanto a sua análise a interpretação das variáveis de população e consumo per capita
de água foi levado em consideração os níveis de relação entre si. Após obtidos os resultados,
foram comparadas todas as variáveis e diagnosticados quais fatores apresentaram crescimento
ou decréscimo em relação ao aumento no consumo de água.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Fatores demográficos e socioeconômicos
Ao longo dos anos o município de Formosa vem apresentando um processo de
crescimento demográfico que provocou alterações em sua estrutura social, espacial, econômica
e ambiental (SALAZAR, 2015). A população Formosense cresceu aproximadamente 40,8% em
16 anos. Isso representa um crescimento de 32.002 habitantes. Em 1999 a população era de
78.386 habitantes passando para 110.388 habitantes em 2014. Em Formosa, dos 100.085
habitantes do município no ano de 2010, 92.035 concentravam-se na área urbana e 8.049 nas
áreas rurais (IBGE, 2010).
Devido ao crescimento da população houve também um acréscimo no consumo médio
per capita de água, tabela1. Essa informação é entendida como a média diária, por indivíduo,
dos volumes utilizados para satisfazer os consumos domésticos, público, comercial e industrial
(SNIS, 2015). Ele é obtido a partir da divisão do total do consumo de água por dia de uma
comunidade, pelo número total da população servida.

Tabela 1: Consumo médio per capita de água em Formosa-GO.


Consumo médio per capita de água
Ano Litros/hab./dia
2003 108,5
2004 106,9
2005 108,1
2006 102,1
2007 110,2

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2008 109,1
2009 106,4
2010 114,3
2011 119,0
2012 121,5
2013 118,6

Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento- SNIS.

O consumo médio per capita de água no município de Formosa, sofreu um


crescimento 10,1 litros/hab./dia entre os anos de 2003 a 2013. Considerando o ano de menor
consumo (2006) e o de maior consumo (2012), houve um crescimento de 19,4 litros/ hab./ dia.
Entre 2012 e 2013, houve uma redução de 2,9% no consumo per capita de água.
A análise dos dados revelou que existe uma forte relação entre o crescimento
populacional e o consumo per capita de água, r = 0,78, se analisado o intervalo entre 2003 e
2013. Isso se reflete no no índice de consumo de água que é o volume de água consumido em
relação ao volume produzido, tabela 2.
Tabela 2: Índice de consumo de água em Formosa-GO.
Índice de consumo de água
Ano Volume de água consumido em percentual do volume produzido
2003 62,38%
2004 64,24%
2005 62,00%
2006 56,82%
2007 68,23%
2008 61,27%
2009 60,54%
2010 62,50%
2011 65,24%
2012 66,81%
2013 65,92%

Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento- SNIS.

Com base nos dados é possível observar que o índice de consumo de água, em
Formosa, cresceu cerca de 3,5% de 2003 a 2013. Mesmo com o considerável crescimento
populacional, o consumo de água apresentou reduções, indicando que, apesar do crescimento

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populacional do município ser um forte influenciador sobre o consumo de água, ele não é o
principal indicativo para o déficit hídrico para abastecimento em Formosa.
Outra variável importante para análise foram os dados relativos as perdas na distribuição
de água, tabela 3. Essa informação é um indicador de eficiência da operação dos sistemas de
abastecimento. As perdas de águas são divididas em perdas reais e perdas aparentes. As perdas
reais é o volume de água perdido antes de chegar ao consumidor final e as perdas aparentes que
correspondem a perdas por consumos não autorizados. O índice de perdas na distribuição de
água no Brasil segundo o SNIS (2015), é de 36,7% em 2015. O estado de Goiás, possui um
índice de perda de 28,8% em 2013, 28,5% em 2014 e 29,8% em 2015.

Tabela 3: Perdas na distribuição de água em Formosa-GO.


Perdas na distribuição de água
Ano Perdas de água
2003 37,62%
2004 35,76%
2005 38,00%
2006 43,18%
2007 31,77%
2008 38,73%
2009 39,46%
2010 37,50%
2011 34,76%
2012 33,19%
2013 34,08%
Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento- SNIS.

Em Formosa, o índice de perdas de água apresentou uma redução de 3,5% entre 2003 a
2013, como apresentado. Os valores do índice de perdas de água apresentaram comportamento
inverso com os do índice de consumo de água, de modo que, enquanto há um maior índice de
consumo de água, menor o índice de perdas de água ou o oposto. Em 2007, se obteve o maior
índice de consumo de água, de 68,23%, onde se obteve o menor índice de perdas de água de
31,77% para o mesmo ano. Enquanto o menor consumo de água foi de 56,82%, e se obteve o
maior índice de perdas de água de 43,18%, em 2006. Assim como ano de 2012, que obteve o
segundo maior índice de consumo de água, de 66,81%, observa-se o segundo menor índice
perdas de água, de 33,19%, e em 2009, se obteve o segundo menor índice de consumo de água,

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de 60,54%, e o segundo maior índice de perdas, de 39,46%. Isso pode indicar uma falha,
provavelmente relacionada a pressão na rede, no sistema de abastecimento de água, onde o
consumo influencia nos valores de perdas, nesse caso é uma influência negativa, pois mesmo
que o consumo de água seja reduzido, grande parte da água produzida será perdida durante sua
distribuição.
Esses dados comprovam como estamos atrasados em relação a perda de água do
sistema comparados a países desenvolvidos. De acordo Tomaz (2009), em países como a
Alemanha, o índice de perda de água do sistema era de 8,8% em 2007, na Espanha, no mesmo
ano, 22%. E na França e Itália, também em 2007, o índice era de 30%. Apesar das perdas no
sistema da empresa que fornece água no município terem sofrido uma redução entre o período
de 2003 a 2013, ainda se encontram acima da média goiana e abaixo da média nacional.

Fatores hidroclimáticos
Pelo fato da água ser um recurso renovável dependente da dinâmica do ciclo
hidrológico, algumas variáveis podem afetar sua disponibilidade (SORIANO et. al., 2016).
Qualquer modificação nos componentes do clima ou da paisagem alterará a quantidade,
qualidade e o tempo de residência da água nos ecossistemas e, por sua vez, o fluxo da água e
suas características (BARROS E AMIN, 2007). Se o regime de chuvas não atingir o quantitativo
mínima de precipitação esperado, poderá interferir na quantidade de água disponível nos
mananciais, que pode acarretar consequências no abastecimento. Pelo fato do Córrego
Bandeirinha ser a principal fonte de abastecimento de água para a cidade de Formosa-GO, o
quantitativo pluviométrico na área da bacia, é de suma importância para garantir o
abastecimento contínuo (SANTOS, 2017).
Para averiguar se houve baixa nos níveis pluviométricos do município, analisamos as
médias mensais de cada ano desde 1980 a 2016, gráfico 1.

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Gráfico 1: Dados de chuva de Formosa-GO (milímetros- mm).

Dados de chuva (milímetros)- Formosa-GO


mm Série Histórica:1980-2016
800,0
600,0
400,0
200,0
0,0

Máxima Mínima Média

Fonte: O autor. Adaptado (INMET,2017).

Essas oscilações entre máxima e mínima, são característicos no regime pluviométrico


do município. Isso é um indicativo da flutuação pluviométrica da área de estudo, tais
caracteristicas apontam para a necessidade de um planejamento eficiente onde conte com a
possibilidade de anos hidrológicos com chuvas bem abaixo das médias da serie histórica.
Oliveira et al. (2016), caracterizam 20 anos como secos ou extremamente secos em
Formosa-GO, entre os anos de 1980 a 2015, o que indica que nesse período choveu menos que
a média histórica. Para os mesmos, esse tipo de informação revela períodos longos de estiagem
que acarretam possíveis problemas em relação a utilização dos recursos hídricos.
Para enfrentamento de alterações no regime de chuvas e outras complexidades
ocasionadas por mudanças climáticas globais, uma das medidas mais importantes, seria uma
gestão integrada dos recursos hídricos e uma coordenação institucional no âmbito das bacias
hidrográficas (TUNDISI, 2014).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise das variáveis pertinentes para diagnóstico da gestão dos recursos hídricos no
município, permitiu constatar que ocorreu uma elevação no consumo de água motivado por
fatores como o crescimento acelerado da população e por prováveis alterações habituais,
comportamentos ou atitudes dos moradores provocadas pelo aumento da renda, causando o

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crescimento das ligações de água e extensões de redes de água. O grande contingente


populacional concentrado no perímetro urbano, junto ao grande crescimento populacional
podem ser os fatores que levaram o sistema a colapsar. O Córrego Bandeirinha se tornou
insuficiente para atender as necessidades da demanda.
Os valores de perdas de água, que apesar de apresentarem um decréscimo, ainda
continuam superiores a 30%, revelam a ineficiência da gestão dos recursos hídricos por parte
da empresa de saneamento, pois o maior controle de perdas permite uma boa distribuição de
água ao consumidor com um menor volume de água produzido.
No regime pluviométrico do município, existem anos hidrológicos que chovem bem
abaixo da média, indicando que os períodos de estiagem foram mais longos. Devido aos fatores
climáticos estarem fora do controle humano e o consumo de água em Formosa-GO ter
aumentado consideravelmente, uma medida de gestão emergencial para garantir
disponibilidade hídrica para abastecimento de água em períodos críticos, seria o emprego de
medidas de redução do consumo de água, oferecendo em troca, um desconto no valor da tarifa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AB’SÁBER, Aziz. OS DOMÍNIOS DE NATUREZA NO BRASIL: Potencialidades
paisagísticas. 4° Edição. Ateliê Cultural. São Paulo, 2007.
ANA – Agência Nacional de Águas. Relatório de conjuntura dos recursos hídricos traz
balanço da situação e da gestão das águas no Brasil. 2013. Disponível em: <
http://www2.ana.gov.br/Paginas/imprensa/noticia.aspx?id_noticia=12365> Acesso em: Mai.
2017.
BARROS, F. G. N., AMIN, M. M. Água: Um bem econômino de valor para o Brasil e o
mundo. Artigo extraído da dissertação de Mestrado em Economia (Universidade da Amazônia)
do primeiro autor, intitulada A Bacia Amazônica Brasileira no contexto geopolítico da escassez
mundial de água, defendida em abril de 2006. Aceito em: 27 de novembro de 2007.
BRAGA, B., PORTO, M., TUCCI, C. E. M. “Monitoramento de Quantidade e Qualidade
das Águas”, in Águas Doces no Brasil: Capital Ecológico, Uso e Conservação. São Paulo,
Escrituras, 2006, pp. 145-60.
CHAGAS, I. M., PIRES, G. F., MULLER, A., TEIXEIRA. N. R. B. Avaliação de riscos
ambientais na bacia hidrográfica contribuinte a zona de captação do sistema de

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abastecimento de água do município de Formosa-GO. 8° Seminário de Iniciação Científica


e tecnológica. IFG- Instituto Federal de Goiás. Formosa- Goiás. Março, 2014.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo de 2010. Disponível em:
censo2010.ibge.gov.br. Acesso em: maio de 2017
INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA-INMET. Dados históricos de chuvas:
precipitação total em milímetros. Disponível em:
<http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=bdmep/bdmep>. Acesso em: maio, 2017.
OLIVEIRA, E. S., DOURADO, M. V. S., MENDES, B. C. Eventos extremos de chuvas em
Formosa- GO. VII SECITEC - Semana de Educação, Ciência e Tecnologia. Institudo Federal
de Goiás – Câmpus Formosa. Universidade Estadual de Goiás- Câmpus Formosa. Formosa,
2016.
SALAZAR, J. P. C. Determinação de cenários futuros de uso e cobertura do solo e sua
influência na vulnerabilidade ambiental: o caso do município de Formosa – Go.
Publicação: PTARH. DM. Brasília/DF: outubro – 2015.
SANTOS, S.L.V; OLIVEIRA, E.S. (2017). Análise multitemporal do uso e cobertura do
solo na bacia do Rio Bandeirinha. II Fórum Regional das Águas. Universidade Estadual de
Goiás. Iporá, Goiás. 2017.
SNIS - Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento. Ministério das Cidades-
Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental. Diagnóstico dos serviços de água e esgotos -
2015. Brasília, 2017.
SORIANO, Érico. LONDE, L. de R.; DI GREGORIO, L. T. COUTINHO, M. P. SANTOS, L.
B. S. Crise hídrica em São Paulo sob o ponto de vista dos desastres. Ambiente & Sociedade.
V. XIX, n°. 1. pág. 21-42. São Paulo, 2016.
TEIXEIRA, R. A. Formosa: portal do nordeste goiano ou polo regional no entorno de
Brasília? Universidade Federal de Goiás. Instituto de Estudos Socioambientais. Programa de
Pesquisa e Pós-graduação em Geografia. Goiânia, 2005.
TOMAZ, P. Curso de hidráulica e saneamento. Capítulo 4- Perdas de água. Março, 2009.
TUNDISI, J. G. RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL: problemas, desafios e estratégias
para o futuro. Academia Brasileira de Ciências. Rio de Janeiro. 2014.

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GESTÃO PUBLICA DE ABASTECIMENTO DE AGUÁ, ESGOTO E


ENTEDIMENTOS HIDRICOS DO MUNICIPIO DE DAMIANOPOLIS
GOIÁS

Jefferson da Silva Pimenta


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS CAMPUS-FORMOSA
jeffersonpmnt975@gmail.com

RESUMO: O artigo discute o papel do município e da população, no foco do tema hidrológico e seu
ciclo e parâmetros físicos como clima e temperatura. Nele se apresenta que tipo de influência teria na
região principalmente sobre no termos climáticos, culturais e antrópicos, fatores relacionados ao tempo
e clima, o tempo se caracteriza como a média de temperatura e media de precipitação que uma região
possui, o estudo analisa dados é mostra os impactos dos dados na localidade como o abastecimento
público e sua importância na gestão política e social, qual seria o parâmetro da gestão dos recursos
hídricos da cidade em vista de suas condições de chuva e aspecto de utilização em termos econômicos.

Palavras-chave: Saneamento; População; Recursos.

INTRODUÇÃO
O município de Damianópolis localizado no nordeste goiano possui área de 415,349
km² teve sua criação influenciada pelos recursos hídricos locais. Seu surgimento se deu às
margens do córrego Santa Catarina, em 1840, quando surgiu os primeiros moradores que
vieram do Estado da Bahia. Povos atraídos pela terra fértil e possível criação de gado, formando
o povoado de Santa Catarina, nome derivado do córrego ali presente. Em 1958, pela Lei
Estadual n° 2149, o distrito passou para categoria município com um novo nome titulado de
“Damianópolis” Em seu território logo se desenvolveu atividades de cultivo principalmente de
cereais e a pecuária foi um dos motivos que fez com que a região tornasse o principal tráfego
de tropeiros que faziam comercio entres os Estados de Goiás e Bahia.

No contexto de abastecimento e hidrografia que é o foco principal da pesquisa. A


hidrologia é uma ciência interdisciplinar e tem evoluído expressivamente devido aos problemas
crescentes observados nas bacias hidrográficas, como a ocupação inadequada, o aumento
significativo da utilização da água para diversos fins e principalmente em face aos resultados
dos impactos sobre o meio ambiente. O estudo da água era uma ciência basicamente descritiva
e qualitativa, porém se transformou em uma área de conhecimento onde os métodos
quantitativos têm sido explorados através de metodologias matemáticas e estatísticas,
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melhorando de um lado os resultados e do outro explorando melhor as informações existentes


(TUCCI, 1993). se nota a prestação de serviços oferecidos pelos órgãos administrativos que
tem como meta é objetivo a qualidade da água para consumo da população e satisfação dos
usuários que se torna um equilíbrio fundamental entre questões de qualidade de vida e de termos
ambientais, para isso primeiro temos que ver a formação dos processos de água e considerando
o tipo de clima e precipitação desse lugar, a origem da água surge na sua forma de distribuição
na superfície, assim como o movimento das suas vertentes e reservatórios de seus mananciais
hídricos. Além desses meios temos o meio que determina quanto de energia solar o local está
sujeito e que tipo de circulação atmosférica, são esses uns dos fatores que vão influenciar se a
região terá um acumulo ou escassez de chuva causador do possível baixo volume de mananciais
ou alto volume hidrológico

OBJETIVO
Estabelecer um perfil regional e como a instituição municipal presta seu serviço, com
os dados obtidos realizar medições de consumo e demanda, também verificar como e feita a
prestação do serviço como água e esgoto, que influencia teria na qualidade da distribuição com
o volume médio de chuva e o clima da região atual. Formas que tornem possível estabelecer
uma característica hídrica do município de abastecimento e gestão.

MATERIAL E METODOS
Este estudo foi realizado em 01 município, de Damianópolis, de um total de 246
localizados no Estado de Goiás, foi realizado levantamentos técnicos diretamente de gestores
de serviços de água. Dessa forma foram levantados as principais características hídricas e
gestões referentes ao município, foi levantado que os serviços de saneamento e abastecimento
são prestados por órgãos particulares gerenciados pela prefeitura. O prestador de serviço de
abastecimento no município de Damianópolis Goiás e feito pela Saneago/Go atendendo uma
população estima de 3.389 habitantes de acordo com o censo do IBGE.

Inicialmente foi verificado que o município fica localizado na bacia do Paranã com o
manancial do Córrego Santa Catarina, esse sistema que abastece a cidade, o abastecimento de
água e de entidade de direito público centralizado.

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Figura

Autor: Jefferson Pimenta

Fonte: IBGE

Pela agencia nacional de água “ANA” foram levantados matérias como que tipo de sistema o
manancial tem, qual é a quantidade de chuva anual e qual seria a média mensal. Pelo Sistema
de informação básica da saúde “SIAB” foram obtidas quantidades de fossas residências o
município tem por ano quantidade de tratamento de água filtrada no período de Dez2013/2015,
e a quantidade de redes públicas.Com o auxílio de sistemas de informações como SIAB e ANA
foram obtidos os dados e as demais informações pelos órgãos da cidade e saúde pública, com
o software HIDRO 1.3 foram geradas estatísticas sobre os dados, sendo assim com o programa
Excel foram feitos os gráficos e as demais tabelas para melhor entendimento dos estudos aqui
representados como localização municipal e sua fisionomia.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

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Nota-se que a uma relação de infraestrutura pública baixa e ausência de tratamento que
não e questionado pelo aspecto culturais e econômicos que estão ali presente que dizem muito
a respeito as questões que avaliam a satisfação da população ou melhoria pelo órgão que ali e
administrada para levantar possíveis melhorias e projetos de saneamento, água tratada ou
possível redes de esgoto, mas a também um atendimento de forma ampla para toda a população
tornando satisfatório por esses aspectos. Há um déficit em questões de água encanada no
município Tabela 1, grande maioria da água do córrego Santa Catarina, abastece residências
em casas que ficam próximas do centro da cidade, já em localidades que ficam distantes a base
do abastecimento e feita através de poços artesianos que com o auxílio de bombas levam a água
para residências mais distantes.

Tabela:1

Gráfico:1 PRECIPITAÇÃO ANUAL

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Em questões de chuvas anuais (Gráfico 1). Há uma observação foram obtidos dados
dos anos de 1969 a 1979, porque na fonte não constava dados mais recentes. Mas com os dados
obtidos vemos que contém variedades de níveis. Esses níveis baixos são recompensados logo
mais assim, dando um padrão confortável sem crise existência hídrica em 1980 o índice foi o
melhor apresentado. Para complementar Figura 2 mostra precipitação no ano de 2016 com
referencial 1961-2010, os dados de precipitação total anual do ano chegam a 1200 mm
mostrando um percentual no mesmo nível que os dados obtidos em 79, constata uma
normalidade e igualdade entre os dados apontando que em termos de precipitação não a tanta
mudança entre os anos, em muitos aspectos a hidrologia local a quantidade de água que
determinada região possui e a forma que esse recurso flui no subterrâneo ao reservatório está
influenciada ao clima, incluindo também à temperatura onde quer que se viva o grande
influenciador da mudança da precipitação está relacionado ao clima que determinado ambiente
costuma ter.

Figura 2

Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia INMET

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Figura 3

E o observável acima figura 3 que a temperatura média e padrão 24°C a 26°C as


anomalias medias oscilam entre agosto e outubro medias mínimas, já em média anual e de 2ºC.
resumindo a uma interpretação que podendo afirmar que a calor durante todo o ano e frio pela
madrugada durante as estações secas gráfico 2 mostra os parâmetros dos meses. Em seu
conjunto verificamos que se trata de uma regularidade em deslocamentos de massas de ar e uma
continentalidade pois está afastada do litoral atlântico, um clima pode ser defino a partir dessas
condições atmosféricas. Elas influenciam diretamente nas temperaturas medias que uma certa
região teria essa classificação está definida por Köppen que fez uma escala entre temperatura
do ar e chuva, elementos resultantes para definir os balanços hídricos e temperatura Köppen
parte do princípio da expressão da vegetação natural e dá uma melhor expressão do clima
avaliado para o local um tipo de clima segundo a classificação de Köppen clima tropical com
estação seca de inverno vegetação típica do serrado, por fim Figura 4 se tem os dados de posse
que fica próximo de Damianópolis para se entender melhor essa dinâmica de temperatura.

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Figura 4

Gráfico:2

Já no aspecto de chuvas em meses (Gráfico 2), vemos um aspecto natural do bioma


da região do Centro Oeste Brasileiro. Com 5 a 6 meses, mas secos e precipitação sempre ao
final do ano e começo de ano, dando aí ao município uma vegetação derivada do serrado com
frutos típicos propício como o pequi, região ligada também a agropecuária entre setembro

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plantio janeiro a abril ao comercio de amendoim e milho, o pequi dá uma renda para população
em tempos secos que são entre maio a agosto.

Tabela: 2

Temos os dados de tratamento de água e quantidades de fossas (Tabela 2), ressaltar


que o tratamento de água e a manutenção da mesma e essencial para a população que ali reside,
são questões referentes a saúde pública. Vemos que em percentual de população esse
tratamento não atinge diretamente toda a população e em um ano o crescimento desse
tratamento é de 10% e baixo em vista do percentual de população residindo no município. A
outra agravante em questão de criação de fossas que podem causar poluição dos cursos d’água,
das águas subterrâneas e o próprio solo e ainda causar infecções doenças diarreicas na
população, nesse município o índice só tende a crescer porque pelos dados do ministério da
saúde o município não possui tratamento de esgoto típico de municípios rurais como e o caso
do município de Damianópolis.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No município de Damianópolis o clima é tropical com estação seca classificação
climática de köppen-Geiger: AW, seca de inverno e chuva no verão. Características que fazem
um desenvolvimento regional no termo de exploração de recursos naturais, a um componente
dinâmico das inter-relações, relação do local ser economicamente movido a agropecuária e
venda dos produtos típicos da sua região como o pequi, com isso se nota a dinâmica existente
no meio hidrológico que deve ser intendida e questionada como o tratamento de água e esgoto
e que potencial essa região tem pelo seu próprio escoamento e manutenção da sua bacia.

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O prevê estudo permite concluir que entre os aspectos regionais o município segue os
mesmos padrões de outros municípios brasileiros, com uma qualidade a baixo do nível de
saneamento esperado.

Nesse aspecto mostra uma ausência de ampliação do sistema e de investimentos


necessários para região por ter um manancial superficial isolado
“Os mananciais são reservas hídricas, fontes de água doce superficial (rios,
lagos e represas) ou, ainda, subterrânea, utilizadas para consumo humano o
desenvolvimento de atividades econômicas. (SANEAGO; AGUA, 2016) ”

Contudo a uma política de implementação de plano de saneamento básico PMSC com o


objetivo de em 20 anos ter um abastecimento de água esgoto e captação de resíduos sólidos, o
abastecimento que o governo propõe e de garantir 100% de abastecimento, é um abastecimento
de qualidade com uma melhor gestão das fontes e evitar perdas e desperdícios. Garantir 100%
de rede de tratamento de esgoto para evitar contaminações, em questões de drenagem urbana
propõe-se a instalação da drenagem e contenção de alagamentos com um aproveitamento de
água da chuva, com contenções de erosões. Projeto prevê participação da prefeitura
SANEAGO, FUNASA e empresas parceiras como a NAFFER e a própria população segundo
o governo essa junção seria o sucesso de uma compostagem uma captação de agua e de fossas
ecológicas com sucesso, mas para isso ocorrer e necessário a participação da população porque
não há uma promessa sem necessidades e também não a um projeto para a população sem a
participação da mesma.
A lei n° 11.445/2007 (Brasil, 2007) tem como princípio a participação popular no
processo de elaboração dos planos municipais de saneamento básico por meio de audiências
palestras, meios necessários para verificar a satisfação e percepção dos usuários dos futuros ou
atuais serviço utilizado prestados essa lei trata da regulação do serviços prestados, enfim sanção
que dá uma participação e legalização de qualquer projeto recém implantado ou em
planejamento lei que reforça o incentivo e a responsabilidade que toda gestão e população teria
que ter, indícios que mostra a veracidade dos dados e que o município necessita de melhor
aproveitamento de seus recursos e melhoria na infraestrutura dos órgãos responsáveis pela
distribuição e captação hidrológica do município o problema e garantir recursos para o setor
política que deve ser questionada uma melhor com um experiencia , enfim, uma
remunicipalização com objetivos não mercantis mais sim universalistas diretrizes para o bem
para todos com princípio de recuperação e conservação dos recursos hídricos compartilhando
planos globais e setores do estado que respeite o meio ambiente e a cultura de um local.

REFERÊNCIA
BRASIL. Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007. Estabelece diretrizes nacionais para o
saneamento básico; altera as Leis nos 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.036, de 11de maio
de 1990, 8.666, de 21 de junho de 1993, 8.987, de 13 de fevereiro de 1995;revoga a Lei no
6.528, de 11 de maio de 1978; e dá outras providências. Diário Oficial[da] União, Brasília, 08
jan. 2007.
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

KÖPPEN, W.; GEIGER, R. Klimate der Erde. Gotha: Verlag Justus Perthes. 1928.
TUCCI, C. E. M. Hidrologia: ciência e aplicação. Porto Alegre: Ed. da Universidade;
ABRH; Edusp, 1993.
BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental. Sistema
Nacional de Informações sobre Saneamento Disponível em:
http://www.snis.gov.br/PaginaCarrega.php?EWRErterterTERTer=4. Acesso em: 18 setembro
2017.
BRASIL.Ministerio da Saúde.Secretaria Nacional da Saúde. Sistema Nacional de informação
sobre saúde Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/ Acesso em: 19 setembro 2017.
BRASIL.Agência Nacional de Àguas Sistema Nacional de informação sobre Clima e chuva
Disponível em: http://atlas.ana.gov.br Acesso em: 19 setembro 2017.
BRASIL.Sistema de informação da Atenção básica SIAB Disponível em:
http://www2.datasus.gov.br/SIAB/ Acesso em: 17 setembro 2017.
BRASIL. Instituto Nacional de Meteorologia INMET Disponível em: http:/inmet.gov.br
Acesso em: 17 setembro 2017.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Censo
Demográfico Disponível em: cidades.ibge.gov.br Acesso em: 16 setembro 2017.

BRASIL. Portal da prefeitura Municipal. Damianópolis -Go Disponível em:


damianopolis.go.gov.br Acesso em: 23 setembro de 2017.

BRASIL.COMPANHIA SANEAMENTO DE GOIÁS – SANEAGO. Biblioteca Disponível


em: http://www.saneago.com.br/2016/#agua Acesso em: 20 setembro de 2017.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Biblioteca
Disponível em: biblioteca.ibge.gov.br Acesso em: 16 setembro 2017.

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MONITORAMENTO DA QUALIDADE DA ÁGUA NA BACIA


HIDROGRÁFICA DO RIO CORGÃO DO MUNICÍPIO DE PIRANHAS-
GOIÁS.
Jordana Almeida Marques.
Universidade de Rio Verde – Campus Caiapônia
jordanam21@hotmail.com

Eloisa Borges Reis.


Universidade de Rio Verde – Campus Caiapônia
eloisareis_2012@hotmail.com

Cleicinara Pereira Rosatto.


Universidade de Rio Verde – Campus Caiapônia
cleicinaraprosatto@hotmail.com

Rosenilda Maria de Morais Silva.


Universidade de Rio Verde – Campus Caiapônia
rosenildaipora@gmail.com

RESUMO: A água é o elemento essencial para a manutenção da vida, e é necessária para o


desenvolvimento das atividades industriais, agrícolas, domésticas, pecuaristas, abastecimento humano,
dessedentação de animais, recreação de áreas para lazer, irrigação, entre outras. Embora a água compõe
grande parte do planeta terra, apenas 3% é composto por água doce, e dentre este percentual podem ser
encontradas em rios, lagos, lagoas, atmosfera, calotas polares (geleiras), aquíferos /om a disponibilidade
e qualidade da água. Não obstante, os diversos usos da água se realizado de forma inadequada pode
provocar mudanças relacionadas à qualidade da água e por consequências comprometendo a área da
bacia hidrográfica, os recursos hídricos e seus usos para diversos fins. Deste modo, o objeto de estudo
deste trabalho, visa verificar os possíveis impactos no leito do rio Corgão ocasionados pelo uso e
ocupação do solo, tais como: irrigação de pastagens, dessedentação de animais e depuração de efluentes
industriais. Diante disso, sofre descaso e insuficiente fiscalização, por parte das autoridades locais com
relação à sua preservação, pela ausência de monitoramento e falta de técnicos da área ambiental. O
presente estudo justifica –se o monitoramento de uma parcela do curso d’água da micro bacia do rio
Corgão, pois, esta área encontra-se próxima do local de disposição dos resíduos sólidos (lixão) do
município de Piranhas-GO, e da indústria X. No entanto, será avaliado os parâmetros físicos de
qualidade da água, e a caracterização das atividades ao entorno da bacia, observando a existência de
possíveis impactos ambientais. Os valores obtidos a partir das análises, foram comparados com base na
padronização proposta pela Resolução CONAMA nº 357 de 2005 para corpos d’água enquadrado na
Classe 2. E conforme a análise obtida, o efluente da indústria X está fora do padrão para ser despejado
no corpo hídrico.
PALAVRAS CHAVES: água; bacia hidrográfica; monitoramento

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INTRODUÇÃO

A água é o elemento essencial para a manutenção da vida, e é necessária para o


desenvolvimento das atividades industriais, agrícolas, domésticas, pecuaristas, abastecimento
humano, dessedentação de animais, recreação de áreas para lazer, irrigação, entre outras.
Tratando-se de um recurso natural renovável pode tornar-se escassa com o crescimento das
populações, das indústrias e da agricultura (TUCCI, 2015). O uso irracional da água tem
provocado prejuízos e alterado os aspectos de qualidade e quantidade de água.

A qual ocupa aproximadamente 75% da superfície da terra, sendo que aproximadamente


dois terços do corpo humano são constituídos por esse líquido e 98% estão presentes em
verduras, legumes, animais aquáticos. Embora a água compõe grande parte do planeta terra,
apenas 3% é composto por água doce, e dentre este percentual podem ser encontradas em rios,
lagos, lagoas, atmosfera, calotas polares (geleiras), aquíferos e no solo (LIBÂNIO, 2016).

A qualidade de vida da sociedade está correlacionada com a disponibilidade e qualidade


da água. Não obstante, os diversos usos da água se realizado de forma inadequada pode
provocar mudanças relacionadas à qualidade da água e por consequências comprometendo a
área da bacia hidrográfica, os recursos hídricos e seus usos para diversos fins.

A bacia hidrográfica é a unidade que caracteriza o conjunto de rios que se convergem


para um curso d’água principal, constituindo assim uma integração para o planejamento de
manejo e monitoramento dos recursos naturais ao seu entorno (BERTONI; LOMBARDI
NETO, 2014).

Entretanto, a ausência de monitoramento e manejo adequado na área da bacia


hidrográfica, ocasiona diversos problemas ambientais, como: degradação e carreamento de
partículas de solo, contaminação dos cursos d’água (por despejo de efluentes industrias
diretamente ao corpo receptor), assoreamento e desmatamento (principalmente das Áreas de
Preservação Permanente). E estes danos estão associados a forte influência da atividade
antrópica, que é caracterizado mais grave nos países em desenvolvimento, pela deficiência de
sistemas adequados de gestão e controle de monitoramento, que atingem os cursos d’água em
geral (DANTAS NETO; et. al., 2006).

Uma forma de gerenciamento e fazer validar o monitoramento dos recursos hídricos é a


Política Nacional de Recursos Hídricos, Lei Federal nº 9.433 de 1997 que traz em seus
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instrumentos o enquadramento dos corpos de água em classes visando assim à qualidade da


água compatível com os usos a que forem destinadas.

A presente pesquisa se justifica pela necessidade de verificar os possíveis impactos no


leito do rio Corgão, ocasionados pelo uso e ocupação do solo, tais como: irrigação de pastagens,
dessedentação de animais e depuração de efluentes industriais. Ao qual vem sofrendo com
descaso e a escassa fiscalização, por parte das autoridades locais com relação à sua preservação,
pela ausência de monitoramento e falta de técnicos da área ambiental.

O trabalho foi realizado através do monitoramento de uma parcela do curso d’água da


microbacia do rio Corgão, por ser uma área próxima do local de disposição dos resíduos sólidos
(lixão) do município de Piranhas-GO, e da indústria X. Será avaliado os parâmetros físicos de
qualidade da água, e a caracterização das atividades ao entorno da bacia, observando a
existência de possíveis impactos ambientais.

MATERIAIS E MÉTODOS

LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL

A bacia hidrográfica do Rio Corgão está localizada no município de Piranhas no estado


de Goiás (Figura 1). A região possui estações climáticas definidas, e apresenta períodos com
excedente hídrico (novembro a abril) e déficit hídrico (maio a outubro).

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Figura 1- Mapa de localização da bacia hidrográfica do Rio Corgão

Fonte: Próprios (as) autores (as), 2018.

COLETA E ANÁLISE DE DADOS

A avaliação da qualidade da água do rio Corgão foi realizada por meio de determinações
de parâmetros físicos, os dados foram coletados através de pesquisa de campo realizada em
uma parcela da Bacia do Corgão, onde os acadêmicos visitaram o percurso do córrego. Coletou-
se as amostras no dia 20 de maio de 2018, em quatro pontos (sendo uma amostra oriunda do
efluente antes de ser lançada no corpo hídrico) no decorrer do rio para análise dos parâmetros
físicos (Turbidez, cor, e temperatura), realizadas na SANEAGO, no Laboratório da Estação de
Tratamento de Água do Município de Piranhas-Go e os parâmetros de pH e condutividade
elétrica, realizou-se no Laboratório da Universidade de Rio Verde – Campus Caiapônia. A
Tabela 1 apresenta os pontos da coleta com suas respectivas coordenadas e altitude.

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TABELA 1: Pontos de coleta da água para amostra.


PONTO COORDENADA ELEVAÇÃO

PONTO 01 S 16º 25’ 091’’ W 051º 47’ 593’’ 317 m

PONTO 02 S 16º 26’ 0,93’’ W 051º 47’ 190’’ 343 m

PONTO 03 S 16º 25’ 0,86’’ W 051º 45’ 585’’ 352 m

EFLUENTE S 16º 26’ 0,93’’ W 051º 47’ 190’’

MEDIÇÃO E CÁLCULO DA VAZÃO

Foi medida a vazão do rio no primeiro ponto (conforme a tabela 1), e os equipamentos
usados foram:

• Corda;
• Estacas;
• Fita métrica;
• Laranja; e
• Cronômetro.
No entanto, a medição da vazão foi determinada pelo do método do flutuador, (método
da laranja), desenvolvido por alguns pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (EMBRAPA) onde mediu
o a largura do rio naquele ponto (9,89 m), e foram colocadas quatro estacas a uma distância de
2,47 m (uma da outra). Posteriormente duas cordas ligadas uma à outra foram fixadas nestas
estacas, a 6 m abaixo colocou-se mais quatro estacas alinhadas com as primeiras (com as
mesmas distâncias citadas a acima, de 2,47 em 2,47 m). Mediu-se a profundidade rio, e por fim,
utilizou-se uma laranja para flutuar em cada um dos pontos (A-B; B-C; C-D; D-E), desde a
primeira fileira de estacas até a segunda, marcando tempo a qual está gastou. Deste modo,
obteve-se a vazão de escoamento do canal a partir da equação:
𝐴x𝐿x𝐶
𝑉=
𝑇

Onde:

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A= média da área do rio (distância entre as margens multiplicada pela profundidade do rio).

L= comprimento da área de medição (utilizar o comprimento de 6,0 m).

C= coeficiente ou fator de correção (0,8 para rios com fundo pedregoso ou 0,9 para rios com
fundo barrento). O coeficiente permite a correção devido ao fato de a água se deslocar mais
rápido na superfície do que na porção do fundo do rio.

T= tempo, em segundos, que o flutuador leva para deslocar-se no comprimento L.

Figura 2- Medição da vazão.

Fonte: Próprios (as) autores (as), 2018.

COLETA DA ÁGUA

A realização da coleta da água foi feita em quatro pontos em uma parcela do rio
Corgão, para avaliação dos parâmetros físicos. Para o armazenamento desta água utilizou-se
quatro coletores e a caixa de térmica para conservação. Os pontos da coleta são apresentados
na Tabela 1.

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Figura 3- Coleta da amostra de água do Corgão.

Fonte: Próprios (as) autores (as), 2018.

ANÁLISE DE DADOS

Para a análise física da água utilizou-se os seguintes equipamentos:

• Turbidímetro (aparelho que faz a medição da turbidez da água);


• PHmetro (equipamento que mede o pH da água);
• Colorímetro (aparelho responsável por medir a unidade de cor presente na água);
• Termômetro (aparelho que mede a temperatura).
RESULTADOS E DISCUSSÕES

CÁLCULO DA VAZÃO

Para o cálculo de vazão foi usado o método por flutuador, desenvolvido pela EMBRAPA.

• Cálculo da área seção superior


Largura entre as margens = 988 cm

Profundidade= 16 cm

Área da seção superior = 988 𝑐𝑚 𝑥 16 𝑐𝑚


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As=15808 𝑐𝑚2 ou 1,58 m²

• Cálculo da área seção inferior


Área da seção inferior=988 𝑐𝑚 𝑥 16 𝑐𝑚

Ai=15808 𝑐𝑚2 ou 1,58 m²

1,58+1,58
Área média do trecho do rio= 2

Área média do rio= 1,58 m²

• Cálculo da vazão
𝐴𝑥𝐿𝑥𝐶
Vazão= 𝑇

1,58 𝑚2 +6𝑚 𝑥 0,9


V= 13 𝑠

V= 0,65 𝑚3 /𝑠

Conforme as análises dos padrões de qualidade da água do rio Corgão (dos pontos 01,
02 e 03), os parâmetros: turbidez, cor, temperatura e pH, estão dentro dos limites estabelecidos
pela legislação (Tabela 2).

TABELA 2: Resultados das análises realizadas no laboratório da ETA (*ph e condutividade


realizadas no laboratório da faculdade):
CONDUTIVID
AMOSTRA TURBIDEZ COR TEMPERATURA PH
ADE

PONTO 01 11,2 MTU 28,8 UC 23,9 ºC 7,49 194,3 µs/cm

PONTO 02 18,3 MTU 58,7 UC 24 ºC 6,93 220,7 µs/cm

PONTO 03 10,2 MTU 481 UC 23,2 ºC 7,41 173,5 µs/cm

EFLUENTE 801 MTU 37 UC 23,5 ºC 3,92 2,74µs/cm


No entanto, poderão ser lançados de forma direta ou indiretamente nos corpos hídricos
após tratamento, efluentes de qualquer fonte poluidora, desde que obedeçam às condições
exigidas em resoluções e em outras normas aplicáveis. As condições de lançamento de efluente
são dispostas na Resolução Conama Nº 357, de 17 de março de 2005. No parágrafo (§) 4º da
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Resolução, dispõe que a condição de lançamento do efluente (figura 4) o pH deve estar entre 5
a 9. Conclui-se que o lançamento não obedece ao padrão exigido, pois o resultado do pH foi de
3,92 abaixo do permitido. Em certa parte do rio, também foi observado assoreamento conforme
mostra a figura 5.

Figura 4 – Lançamento do efluente no corpo hídrico.

Fonte: Próprios (as) autores (as), 2018.


A figura 4, mostra exatamente onde o efluente está sendo despejado no corpo receptor.
Figura 5- Assoreamento.

Fonte: Próprios (as) autores (as), 2018.

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A ausência de mata ciliar nas margens dos rios é a principal causa de intensificação do
processo de assoreamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O rio Corgão abastece as propriedades rurais que se localizam a suas proximidades, para
a dessedentação de animais e irrigação de pivôs. A maior parte do uso e ocupação do solo desta
bacia é destinada à pecuária. E deste modo, pode-se constatar impactos como, o desmatamento
das Áreas de Preservação Permanente (APPs), assoreamento do rio (ocasionado pela falta de
vegetação), e erosão. É válido ressaltar que todos estes agravantes provocam impactos na
qualidade da água, pois, sem a vegetação, com as chuvas, partículas de solo são transportadas
para o corpo hídrico, o que provoca o assoreamento e aumenta a turbidez da água, assim,
elevando a quantidade de microrganismos presentes nesta. Desta maneira, faz-se necessário ter-
se o monitoramento e manejo adequado da bacia para evitar e mitigar os impactos na qualidade
da água e até mesmo no solo.

Desta forma, os parâmetros de qualidade (cor, turbidez, temperatura e pH) da água nos
pontos 01, 02 e 03 se apresenta dentro dos padrões estabelecidos pela legislação, no entanto, a
análise do efluente se mostrou fora do padrão conforme a resolução CONAMA 357/05.
Contudo, este efluente lançado no corpo hídrico em valor não permitido por lei, pode estar
causando impactos tanto a curto quanto a longo prazo no rio.

REFERÊNCIAS

BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. Conservação do Solo. 9. ed. São Paulo: Ícone, 2014.

BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução n. 357, de 17 de março de 2005.


Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu
enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá
outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 18 mar.
2005. p. 27. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=459>.

BRASIL. Presidência da República. Lei n. 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política


Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei
nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 09 jan. 1997. Não paginado.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9433.htm>.
DANTAS NETO; eat al. Resposta da cana de açúcar, primeira soca, a níveis irrigação e
adubação de cobertura. Revista brasileira de engenharia agrícola e ambiental, Campina Grande,
vol. 16, n.1, 2006.
LIBÂNIO, Marcelo. Fundamentos de qualidade e tratamento de água. 3. ed. Campinas, SP:
Átomo, 2010.
PALHARES, Júlio P. C. et al. Medição da Vazão em Rios pelo Método do Flutuador.
Concórdia, SC. p. 1-4, jul. 2007.

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O ENSINO DE CLIMATOLOGIA GEOGRÁFICA A PARTIR DA


UTILIZAÇÃO DE SUCATAS
Romário Rosa de Sousa
Universidade Federal do Mato Grosso – câmpus Araguaia
romarioufg@yahoo.com.br

Sandro Cristiano de Melo


Universidade Federal do Mato Grosso – câmpus Araguaia
sandrocristianodemelo@gmail.com

Aline Nascimento Vasco


Universidade Federal do Mato Grosso – câmpus Araguaia
alinenascimento.geo@gmail.com

Izaias de Souza Silva


Universidade Federal do Mato Grosso – câmpus Araguaia
izaiasdesouzasilva@outlook.com

Larissa Souza Macêdo


Universidade Federal do Mato Grosso – câmpus Araguaia
larissa_souza_macedo@outlook.com

Márcio Pinheiro Maciel


Universidade Federal do Mato Grosso – câmpus Araguaia
marciopmaciel@gmail.com

RESUMO: Este trabalho teve como objetivo principal auxiliar o aprendizado do tempo e do clima, com
aulas teóricas e práticas para os estudantes do Curso de Licenciatura em Geografia do Campus
Universitário do Araguaia-CUA - UFMT, utilizando-se como ferramenta pedagógica uma Estação
Meteorológica de propriedade do 10º DISME/INMET, instalada na cidade de Aragarças-GO. A
metodologia utilizada para o desenvolvimento deste trabalho pautou-se em oito etapas distintas.
Inicialmente realizou-se a abordagem teórica, e em seguida foi proporcionado aos participantes uma
visita na Estação Meteorológica de propriedade do 10º DISME/INMET, e posteriormente desenvolveu-
se uma oficina pedagógica, na qual foi realizada a fabricação de aparelhos como: pluviômetro,
psicrômetro, foguete de garrafa pet e simulador de vórtice, confeccionados a partir da utilização de
garrafas pets e sucatas. Foi necessário um agendamento na estação para que a visita fosse realizada. Para
termos uma avaliação da oficina pedagógica foi aplicado um questionário avaliativo. Participaram do
projeto da oficina pedagógica 25 estudantes, todos os participantes da oficina disseram que o os
trabalhos estão excelentes. Os aparelhos mais apreciados na Estação Meteorológica foram o heliógrafo;
tanque classe A e o pluviômetro e na oficina o que chamou mais atenção foi o foguete de garrafa pet.

Palavras-chave: Ensino, Oficina, Climatologia Geográfica.

Introdução

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Callai (2008, p. 85) argumenta que nas séries iniciais do ensino fundamental a ênfase
do trabalho docente é a alfabetização, na maioria das vezes compreendida como aquisição da
leitura e da escrita, e com isso ficando no esquecimento o não uso do entendimento de mundo
que os alunos já trazem do cotidiano.
As primeiras noções sobre meteorologia e climatologia são introduzidas, geralmente, na
primeira etapa do ensino fundamental (3º e 4º anos), que abordam temas como: temperatura,
umidade relativa do ar, chuva e ventos (SOUSA, et al, 2005).
O assunto é retomado nos 5º e 6º anos, visando o entendimento das mudanças do tempo
e clima. Entretanto, esses assuntos são de difícil compreensão para alunos nessa faixa etária,
principalmente quando se trabalha em nível teórico e não se oportuniza experiências práticas
como, por exemplo, a utilização de uma estação meteorológica (MAZZINI, 1982). Por essa
leitura, a formação básica a ser buscada no ensino fundamental e médio se realizará mais pela
constituição de competências, habilidades e disposições de condutas, do que pela quantidade
de informação obtida na educação (CONTI, 1990).
Para Sousa et al (2005), o aprendizado de climatologia geográfica aplicada, flui melhor
a partir das aulas práticas nas estações meteorológicas com o despertar do interesse dos alunos
em estar num espaço diferenciado. Daí pode-se verificar a importância de se ministrar
conteúdos, de tempo e o clima e sanar dúvidas, através da utilização da Estação Meteorológica,
proporcionando uma inter-relação entre as aulas teóricas e práticas.
Este trabalho teve como objetivo principal auxiliar o aprendizado do tempo e do clima,
com aulas teóricas e práticas para os estudantes do Curso de Licenciatura em Geografia do
Campus Universitário do Araguaia-CUA - UFMT, utilizando-se como ferramenta pedagógica
uma Estação Meteorológica de propriedade do 10º DISME/INMET, instalada na cidade de
Aragarças-GO.

Metodologia

O estado de Mato Grosso está localizado entre as coordenadas geográficas de latitudes


7º a 18º sul e longitudes 50º a 62º oeste de Greenwich. As altitudes variam de 100 a 1200
metros, no centro do Continente Sul Americano (Figura 1).
Foi definida como área de estudo a cidade de Barra do Garças-MT, localizada às
margens do Rio Araguaia no estado de Mato Grosso, na divisa com o estado de Goiás.

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Localização da área de estudo

Figura 1: localização da área de estudo.


Elaboração: Romário Rosa de Sousa (2018).

A metodologia utilizada para o desenvolvimento deste trabalho pedagógico com a


comunidade fundamentou-se em Conti (1990), do qual foi utilizada uma Estação Meteorológica
de propriedade do 10º DISME/INMET, instalada na cidade de Aragarças-GO. Os trabalhos
metodológicos foram desenvolvidos em 8(oito) etapas distintas:
1ª etapa: abordagem teórica sobre o assunto e com revisão de literatura;
2ª etapa: aquisição dos materiais de baixo custo;
3ª etapa: coleta de sucatas em vias públicas;
4ª etapa: visita na Estação Meteorológica de propriedade do 10º DISME/INMET,
instalada na cidade de Aragarças-GO.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

5ª etapa: Após a visita desenvolveu-se uma oficina pedagógica com os participantes,


que se pautou na fabricação de aparelhos como: pluviômetro, psicrômetro, foguete de garrafa
pet e simulador de vórtice, confeccionados a partir da utilização de garrafas pets e sucatas;
6ª etapa: instalação da base de lançamento;
7ª etapa: após a elaboração da oficina e a instalação da base de lançamento, partiu-se
para o lançamento do foguete de garrafa pet na atmosfera;
8ª etapa: aplicação de um questionário avaliativo e quantitativo, para se mensurar a
aceitação do projeto junto com a comunidade.
Para o desenvolvimento da oficina pedagógica fez-se uso dos seguintes materiais: 02 –
termômetros de baixo custo de medir temperatura do ar; 05 – garrafas de refrigerante de 2 litros
de gargalo longo; 01 – tubo de cola rápida “super bonder”; 01 – tesoura 01 – fita crepe larga
transparente de 5cm; 01 – pacote de estopa cor branca para toda a turma; 04 – palitos de
espetinhos; 01 – caneta de escrever em cd-rom, ponta grossa; 02 – copinhos de tomar cafezinho;
01 – tubo de cola de colar isopor; 01 – Pedaço de isopor medindo 30 x 40cm de tamanho e 1cm
de espessura; 01 – garrafa de refrigerante de 2 litros e 04 – palitos de palitar dentes. Assim
fabricaram-se os aparelhos didáticos: pluviômetro, psicrômetro, foguete de garrafa pet e
simulador de vórtice.
Portanto, espera-se que metodologicamente as pessoas envolvidas neste projeto passem
a ser agentes transformadores e divulgadores do trabalho propiciando a formação de um cidadão
critico, em um processo de formação dinâmica, em que haja o envolvimento, permanente e
participativo da universidade com a comunidade.

Resultados e Discussão
A didática e as metodologias de ensino formam uma unidade, mantendo entre si relações
recíprocas, cabendo ao professor ter suas metodologias próprias de trabalho a fim de transmitir
o conhecimento para os alunos. Dessa maneira de acordo com Libâneo (1994, p. 28), o processo
didático, efetiva-se a partir da mediação escolar, com os conteúdos e aprendizagem na formação
da sociedade.
As condições adversas das nossas crianças e jovens e de suas famílias, sem dúvida,
geram muitas dificuldades para a organização do ensino e aprendizagem na cabeça dos alunos.
Entretanto, cabe ao professor ter a consciência política de convergir para o seu trabalho dentro

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e fora da sala de aula, tornando o ensino uma tarefa real, concreta, que expressa o compromisso
social, tendo como requisito principal a participação dos alunos em suas aulas, mas sabido que
para as aulas do professor se tornem prazerosas e interessantes é necessário que o mesmo
elabore aulas atrativas e fascinantes, onde se busque a participação do aluno de forma
espontânea e crítica. (LIBÂNEO, 1994, p. 38).
Damis (2004, p. 14), enfatiza que estimular e permitir a participação ativa dos alunos
nas aulas gera a construção de conhecimentos e o desenvolvimento de projetos diferentes e
atraentes para os alunos, utilizando-se de diversos meios didáticos como o uso das novas
tecnologias, comunicação, informação, oficinas, mini-cursos e outras formas, são algumas
dimensões enfatizadas pela ação do professor com o objetivo de diversificação de suas aulas
nas diversas áreas do conhecimento.
Segundo Castrogiovanni, (2003, p. 33-46), há uma perspectiva de ação metodológica
criativa que deve envolver a democratização no ato do aprender – o aluno também falar, o
sentido da participação – a circularidade. Todavia, isso não pode estar desconectado do rigor
teórico metodológico, e dos sentidos éticos da responsabilidade professor/aluno em todos os
níveis de aprendizagem.
A experiência pedagógica do professor além de dominar a linguagem, conceitos,
procedimentos teóricos e a transposição da pesquisa acadêmica na prática escolar ele tem um
encontro pedagógico com os alunos e automaticamente, o mesmo age de forma comunicativa
com os alunos, por meio do conteúdo.
Cavalcanti (2008, p. 26) argumenta que a geografia escolar só ocorre de forma coerente
por meio das metodologias, das quais é o modo de exercitar a geografia escolar a partir da
relação professor aluno e os meios, procedimentos, métodos de ensino é que fazem o
aprendizado fluir de maneira fácil, sendo que a leitura de mundo feita pela geografia e pelo
aluno, conta muito no ensino e aprendizagem na geografia escolar
Ainda que apresentam uma grande carência de recursos didáticos, algumas escolas
começam a se destacar com alguns recursos pedagógicos como tvs, mapas, vídeos,
documentários, aparelhos data-show e outros meios, quando utilizados com criatividade pelo
professor, despertam o interesse dos alunos ao conteúdo aplicado, dando assim uma nova
perspectiva ao ensino de Geografia. A esse respeito, Postuschka et al (2007) concluem que
através de textos escritos, de cartografia, relevo, astronomia, climatologia, rochas, minerais e

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as demais linguagens, aumentam para os alunos as oportunidades de entenderem o espaço


geográfico e consequentemente fica mais fácil entender o mundo em que vivem.
O educador deve estar ciente que, se tratando da Geografia, podem ser utilizados
inúmeros recursos didáticos e metodológicos, ou seja, fazendo uso das diferentes linguagens,
entre eles a geografia em canção, cultural, dramatização, debates, exploração e outros métodos.
Uma característica importante do mundo atual é o desenvolvimento da tecnologia das
comunicações e da informação. Por um lado, esses avanços permitem simultaneidade, ou seja,
torna possível “presenciar” fenômenos naturais, astronômicos, políticos, sociais e outros,
mediante a isso o professor do ensino fundamental, médio e até mesmo universitário pode
usufruir de inúmeros meios tecnológicos para dinamizar suas aulas (CAVALCANTE, 2008,
p.16).
Neste contexto discursivo participaram da oficina pedagógica cerca de 25 estudantes do
Curso de Licenciatura em Geografia do Campus Universitário do Araguaia-CUA - UFMT todos
os participantes da oficina disseram que os trabalhos estão excelentes, todos os 25 participantes
da oficina, opinaram que foi ter conhecido os aparelhos e instrumentos meteorológicos. Os
aparelhos mais apreciados na Estação Meteorológica foram o heliógrafo; tanque classe A e o
pluviômetro e na oficina o que chamou mais atenção foi o foguete de garrafa pet. (Figura 2 e
3).

Figura 2: início dos trabalhos no laboratório.


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Fonte: Romário Rosa de Sousa (2018).

Figura 3: confecção dos foguetes de garrafa pet.


Fonte: Romário Rosa de Sousa (2018).

Quantificando os questionários, os aparelhos mais apreciados na oficina pedagógica


com a utilização de sucatas foram em 1-primeiro lugar: o foguete de garrafa pet; 2-segundo:
psicrômetro; 3-terceiro: pluviômetro; 4-quarto: o simulador de vórtice.
De acordo com Arroyo (2003, p. 55), o processo de aprendizagem se dá de forma lúdica
e clara, sendo que o professor é um agente transmissor do saber, ele tem que estar seguro de
suas ações enquanto mestre, podendo tornar suas aulas mais fascinantes, a partir do momento
que ele a diversifica, utilizando-se de várias metodologias envolventes como oficinas,
dramatização, teatro, palestras, visitas e outros métodos pedagógicos, com isso os alunos se
demonstram interessados e participativos.
Para avaliamos a aceitação da oficina com a comunidade foi aplicado um questionário
avaliativo e quantitativo. Do total de 25 participantes todos atribuíram a nota 10(dez).
Ainda com relação a elaboração da oficina, todos os 25 participantes, ambos assistiram
a utilização de uma base de lançamento feita de material de baixo custo, para soltar os foguetes
na atmosfera, onde o foguete lançado pode chegar até 60 (sessenta) metros de altura (Figura 4),
utilizando-se apenas de ar e água.

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Figura 4: foguete pronto para lançamento.


Fonte: Romário Rosa de Sousa (2018).

Os estudantes argumentaram de forma escrita que esse tipo de oficina e outras mais
devem continuar e ser desenvolvido no âmbito universitário e se possível transformar esse ação
na forma de projeto de extensão, e que o mesmo é de grande valia para os estudantes, onde eles
também afirmaram que os alunos se interessam mais por esse tipo de aula fora do ambiente
acadêmico, onde o aprendizado fluiu de maneira interessante e, melhor, não só na área da
Climatologia Geográfica, mas também na matemática, física, química e outras.
Para Castrogiovanni e Goulart (2003, p. 133) no ensino fundamental e médio, o livro
didático não deve ficar apenas como a única fonte de conhecimento, cabendo ao professor
buscar outras fontes e diferentes maneiras de trabalhar suas aulas de forma prazerosa e
interessante, deve-se fornecer, sim, aos alunos elementos que estimulem, a partir da prática
observação, interpretação, reflexão e análise, uma visão crítica da realidade, fazendo com eles
se sintam agentes transformadores da sociedade.
Fica a cargo do professor a qualquer nível instrução, buscar novas maneiras de tornar
suas aulas envolventes e de encontrar novos espaços para trabalhar seus ensinamentos, podendo
ser teatros, cinemas, museus, praças, feiras populares, planetários, observatórios, zoológicos,
parques, reservas ambientais, eco trilhas e tantos outros meios disponíveis e de fácil acesso
(CAVALCANTE, 2008
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Considerações Finais
Entendemos que o ensino deve ser dinâmico e variado, no dia a dia da sala de aula, o
professor tem que ter suas maneiras de tornar suas aulas atrativas e diferentes, fazendo com que
as mesmas fiquem de maneira interessante, claro que não podemos esquecer que toda a
atividade do professor deva ter a contribuição de todos os agentes da escola.
A oficina de Climatologia Geográfica, contribuiu de forma enriquecedora o saber em
todas as áreas do conhecimento humano, por que os participantes tiveram aulas teóricas e
práticas, e com isso o aprendizado fluiu de forma interessante, prazerosa, participante e sanando
dúvidas.

Referências

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183 p.
CALLAI. H. C. Estudar o lugar para compreender o mundo. In: CASTROGIOVANNI, A. C.;
CALLAI, H. C.; SCHAFFER, N. O.; KAERCHER, N. A. (Org). Ensino de Geografia,
práticas e textualizações no cotidiano. Porto Alegre: Mediação. 4ª ed., p. 85-136, 2008. 176
p.
CASTROGIOVANNI, A. C.; GOULART, L. B. A questão do livro didático em Geografia:
elementos para uma análise. In: CASTROGIOVANNI, A. C.; CALLAI, H. C.; SCHAFFER,
N. O. KAERCHER, N. A. (Org). Geografia em sala de aula, práticas e reflexões. Porto
Alegre: Mediação. 4ª ed., p. 133-171, 2003. 200 p.
CASTROGIOVANNI, A. C. O misterioso mundo que os mapas escondem. In:
CASTROGIOVANNI, A. C.; CALLAI, H. C.; SCHAFFER, N. O. KAERCHER, N. A. (Org).
Geografia em sala de aula, práticas e reflexões. Porto Alegre: Mediação. 4ª ed., p. 33-46,
2003. 200 p.
CAVALCANTE, L. S. de. A geografia escolar e a cidade: ensaios sobre o ensino de geografia
para a vida urbana cotidiana. Campinas: Papirus, 2008. 192 p.
CONTI, J. B. O ensino da climatologia no 1º e 2º graus. Revista orientação. São Paulo: nº 8,
Universidade de São Paulo/USP., p. 39-42,1990. 82 p.
DAMIS, O. T. Didática e ensino: relações e pressupostos. In: LOPES, A. O.; VEIGA, I. P. A.
(Org.); Repensando a didática. Campinas: Papirus. 23ª ed., Rev. Atual. 2004. 160 p.
LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez. Coleção magistério 2° grau, série formação do
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MAZZINI, M. A. Construa sua própria estação meteorológica. Revista de Ensino de Ciências,
Curitiba: nº 06 Julho, p. 44-56, 1982. 120 p.
PONTUSCHKA, N. N; PAGANELLI, T. I; CACETE, N. H. Para ensinar e aprender
geografia. São Paulo: Cortez, 2007.
SOUSA, R. R; ASSUNÇÃO, H. F.; SILVA, E. M. Uma nova visão de climatologia geográfica
para professores do ensino fundamental e médio dos municípios de Portelândia e Mineiros –

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GO a partir da utilização de sucatas. In: Simpósio Brasileiro de Climatologia Geográfica 6.


Aracajú: Diversidades climáticas. 13 a 16 dezembro. Anais... 2004. 320 p.
SOUSA, R. R; SILVA, I. C. O; ASSUNÇÃO H. F; MARIANO, Z. F; GOMES N. F. A estação
meteorológica como ferramenta para o ensino fundamental e médio, na cidade de Jataí – GO.
In: Congresso Ibero-Americano de Extensão Universitária 8, v 2, Rio de Janeiro: 27 a 30 de
novembro, Anais... Cd-rom. 2005.

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O RIO E POVO: ABORDAGENS DO PROCESSO DE FORMAÇÃO


ESPACIAL DO ARRAIAL DE PILÕES NO SÉCULO XVIII

Hyago Ernane Gonçalves Squiave


Universidade Federal de Goiás.
hiagoernane@gmail.com

Sabrina Carlindo Silva


Universidade Estadual de Goiás.
sabrinacarlindoo@gmail.com

Resumo: Partimos do pressuposto que a geografia estuda o continuo resultado das relações sócio
espaciais. Esta por sua vez, não é um continuo linear, mas sim um continuo em movimento e se
materializa a partir da interação do homem com a natureza, transformando-a. Neste sentido, é importante
fazer uma periodização para que não se tome ‘tempos congelados’ como se o fenômeno não tivesse
participação na realidade atual. A geo-história para nós é tratada como metodologia, onde a geografia
em parceira com a história analisa os fatos no tempo e no espaço unificados. A partir dessas questões
teórico-metodológicas, o objetivo deste trabalho é fazer uma análise dos processos que originaram a
formação espacial do arraial de Pilões, no século XVIII. O referido arraial foi um importante arraial de
mineração em Goiás no século XVIII, com seu surgimento através dos recursos minerais encontrado no
leito dos rios Claro e Pilões, bem como da perca no trajeto de Bartolomeu Bueno da Silva.

Palavras Chaves: Pilões; Mineração; Formação Espacial.


Introdução

Entender o processo de formação espacial de algum lugar é bastante complexo. São


inúmeras narrativas e apontamentos que faz com que o pesquisador elabore um roteiro para
chegar as informações mais confiáveis, pois pensar a lógica da formação espacial, requer
conexões entre elementos constitutivos que com mais ou menos tensões, resulta na
materialidade que se encontra no presente. Neste sentido, entendemos que a geografia estuda o
espaço geográfico. Este espaço é continuo, porém, pode haver inflexões que resulta em formas
espaciais diferentes a partir das relações sócio espaciais, transformando o espaço de primeira
natureza em um espaço de segunda natureza (espaço produzido), dando forma e materialidade
para o mesmo.

É importante destacar a periodização. Há um ‘tempo do espaço’. Santos e Silveira


(2001), destaca a importância de realizar uma periodização, pois, o movimento das relações
humanas no processo de apropriação e transformação da natureza em formação espacial, pode
ser marcada por diferentes períodos e por diferentes sujeitos no tempo.
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Abreu (2006, p. 240), também ressalta a importância de se periodizar. Para o autor


“pensar o passado do espaço não significa fazer geografia antiquaria. Significa buscar em
tempos já idos as chaves de interpretação do presente”. Não significa tomar esses ‘tempos
congelados’ como se não houvessem participação atual, mas significa entender o movimento
das relações sócio espaciais de uma maneira mais interligada, do que somente isolada.

Como metodologia, cabe a geo-história analisar os diferentes usos da conformação


espacial. Os usos estão associados as relações sócio espaciais, que podem ser analisados em
curto, médio ou longo período de tempo, onde a geografia em parceria com a história se unem
para compreender um fenômeno utilizando um recorte espacial e temporal. É buscar no tempo
uma explicação para a organização espacial.

Após as orientações teórico-metodológicas, o objetivo deste trabalho é fazer uma


análise sobre o processo de formação espacial do arraial de Pilões, que teve como marco inicial
de povoamento, os recursos minerais encontrado em seu rio que possui o mesmo nome e no rio
Claro, fazendo com que pessoas se instalassem no lugar a fim de praticar a garimpagem. Pilões
foi um arraial de mineração importante em Goiás no século XVIII. Atualmente, o lugar que
fora o arraial pertence a cidade de Israelândia-GO.

FORMAÇÃO ESPACIAL DE PILÕES: elementos constitutivos para a transformação da


natureza

O rio como um recurso hídrico é condição para povoação em seus leitos desde o
período da mesopotâmia. O fato do recurso natural ser um bem essencial a manutenção da vida
humana, favorece o processo de instalação de núcleos urbanos nos leitos, principalmente se
houver algum recurso mineral encontrado em suas margens, como foi nos rios Claro e Pilões.
Antes de adentrar no contexto da formação espacial do arraial de Pilões, é preciso entender o
processo que resultou na chegada do homem para explorar tal recurso. Sem fazer exclusão a
população autóctone, os índios Cayapós habitavam a região do arraial de Pilões antes da
chegada dos bandeirantes, que foram quem explorou os recursos minerais encontrados no rio.

O Brasil, desde o seu descobrimento, foi conhecido pelas inúmeras riquezas


encontradas em seu território, ainda que pouco delimitado. O território brasileiro, nos primeiros
anos de colonização, forneceu riquezas incontáveis a Portugal. Foi assim com o pau-brasil no

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século XV, a cana-de-açúcar e o café no século XVI/VXII, e no final do século XVII e início
do século XVIII, com o ouro. Segundo Teixeira Neto et al (2004), a princípio, a coroa
Portuguesa só queria proteger as terras da cobiça de outros países, porém,

[...] a apropriação do território brasileiro foi um projeto do Estado Português, que,


incialmente, tinha como finalidade preservar as terras do Brasil da cobiça estrangeira,
e, posteriormente, durante três séculos, com a colonização portuguesa, acumular
riquezas e fortalecer o Estado por meio da produção para o mercado europeu.
(TEIXEIRA NETO et al, 2004, p. 66).

Andriolo (1999, p. 7), relata que “Nos primeiros dois séculos de colonização
portuguesa na América (XVI e XVII), os colonos concentraram-se no Nordeste brasileiro, de
onde saíam carregamento de açúcar rumo à Europa”. Ou seja, a produção se concentrava ainda
próxima ao litoral, justamente pelo fácil escoamento, que era feito por navios, para ser vendida
no comércio internacional. Outro fator da produção próxima ao litoral seria porque o interior
do Brasil ainda não era conhecido.

A forte concorrência internacional dos bens que eram produzidos no Brasil fez com
que a Coroa Portuguesa abrisse os olhos para um novo processo econômico. Andriolo (1999)
diz que:

A partir de 1630, a produção açucareira do Nordeste da América portuguesa começou


a enfrentar a concorrência do açúcar produzido nas Antilhas pelos holandeses,
franceses e ingleses. O preço do produto antilhano na Europa era mais convidativo
que o da américa portuguesa. Isso porque a distância menor da Europa tornava o
transporte mais rápido e barato. As Antilhas também passaram a importar mais
escravos para suas lavouras, elevando o preço dessa mão de obra no mercado
internacional e dificultando ainda mais a situação de crise instaurada no Nordeste com
a diminuição das vendas do açúcar. (ANDRIOLO, 1999, p. 8).

Este fator fez com que a Coroa Portuguesa, sabendo dos recursos minerais que o
interior da colônia ofertava (a Espanha já sabia dos minerais), criasse algumas políticas de
interiorização em busca de índios e minerais, o que culminou mais tarde na descoberta e
fundação de Mato Grosso e Goiás.

O primeiro metal a atrair e chamar a atenção dos homens sem dúvida foi o ouro, desde
os tempos da sociedade antiga. O ouro ocorre nas mais variadas longitudes e latitudes do planeta
terra se falando de propriedade geológica. Provavelmente, o ouro terá sido o primeiro metal
usado como elemento de adorno e como valor de troca.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

O século XVIII marca o início do povoamento e a expansão para o interior do país.


Este processo ficou conhecido como Brasil Central. Nos séculos XVI e XVII já haviam
expedições a fim de procurar riquezas pelo território brasileiro, porém, no século XVIII, é onde
houve a fixação de população no interior do país. Cada nova notícia de descobrimento de jazidas
minerais, atraia mais e mais população com o objetivo de se enriquecer.

O atual território de Goiás pertencia a capitania de São Paulo. Silva (2002, p. 37),
aponta que “Goiás começou a se formar pelo lado de S. Paulo, isto é, confins das terras paulistas,
então conhecidas, para o interior que a coragem dos bandeirantes ia descobrindo e
percorrendo”.

As bandeiras eram expedições particulares e financiadas por empresários para buscar


riquezas no interior do país. Palacín e Moraes (1994), dizem que as bandeiras tinham um papel
importante, onde:
Goiás era conhecido e percorrido pelas bandeiras quase que desde os primeiros dias
da colonização, mas seu povoamento só se deu em decorrência do descobrimento das
minas de ouro no século XVIII. Esse povoamento, como todo povoamento aurífero
foi irregular e instável. (PALACÍN, 1994, p. 5).

As primeiras bandeiras conduziam uma mensagem de esperança para as pessoas. Por


este motivo, várias pessoas tentaram a sorte na província de Goiás, seja na busca de riquezas
minerais ou para o aprisionamento de indígenas para o trabalho escravo.

A história de Goiás começa a ganhar musculatura com as expedições dos bandeirantes.


Neste contexto, houve uma figura importante para o processo de formação espacial de Goiás,
bem como do arraial de Pilões que fora os dois Bartolomeu Bueno da Silva, pai e filho.

Conforme afirma Silva (2002), Bartolomeu Bueno da Silva não foi o primeiro a
penetrar em território goiano. Porém, foi o primeiro com intenção de se fixar em território
goiano. Ainda de acordo com o autor, é Manoel Correia o primeiro a penetrar em terras goianas,
ainda no século XVII.

É Manoel Correia, sertanista de conhecida fama, presume-se, o primeiro que, à busca


do ouro, cuja quantidade se anunciava muito grande, rumou a Goiás, por onde, à
procura do gentio, em serviço de catequese, em 1625, teriam andando os jesuítas.
(SILVA, 2002, p. 110).

As narrativas são importantes para destacar a personificação que os historiadores


fazem em relação a Bartolomeu Bueno da Silva. Ele não foi o primeiro a vir em Goiás, porém
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

foi o que mais recebeu destaque pelos minerais encontrados quando este veio a Goiás numa
expedição.

Antes de detalhar a chegada de Bueno a Goiás e no que veio a ser o arraial de Pilões,
é necessário lembrar que no século XVIII, o Brasil fica marcado pela extração do ouro em
grande quantidade. Na verdade, foi o terceiro grande período autônomo da formação econômica
brasileira. Alguns autores considera o período do ouro como o de maior importância econômica
para o país, é o caso de Salles (2002) e Franco (2007). Este último autor relata que no início da
colonização a Coroa Portuguesa despertava exclusividade na procura pelo mineral.

No Brasil, desde o século XVI, a atenção para o ouro e as pedras é praticamente


exclusiva. A primeira expedição de reconhecimento, feita em 1501, já se atormentava
com a descoberta das minas. Daí por diante, marchando de desilusões em desilusões,
nada desanimaram os conquistadores. (FRANCO, 2007, p. 109).

E continua:

O ouro do Brasil teve uma grande importância na economia e nas finanças


internacionais, contribuindo, de forma decisiva, para que se alterassem os quadros da
civilização europeia no século de sua grande exportação. (FRANCO, 2007, p. 112).

A bandeira que marca o início do povoamento e de exploração dos sertões goiano é a


de Bartolomeu Bueno da Silva. Como dito, não foi o primeiro a penetrar em território goiano,
mas, o primeiro com a intenção de se fixar.

Sobre a bandeira de Bueno é necessário abrir um parêntese. Os cronistas e


historiadores de Goiás relatam apenas um Bartolomeu Bueno da Silva em toda a história goiana.
É preciso, entretanto, compreender que no contexto histórico de Goiás há duas figuras
importantes, que carregam em si o mesmo nome. Bartolomeu Bueno da Silva é considerado o
descobridor de Goiás. Quando veio a esta província, trouxe o filho de doze anos que também
possuía o mesmo nome: Bartolomeu Bueno da Silva. Dessa forma, temos em Goiás Bartolomeu
Bueno da Silva (pai), que descobre as minas em Goiás ainda no século XVII, e o filho, de
mesmo nome, que retorna quarenta anos depois para explorar as minas encontradas pelo pai.

A expedição (bandeira) do primeiro Bartolomeu Bueno da Silva (pai) foi realizada no


ano de 1682, conforme afirmam alguns historiadores. Silva e Souza (1967) relatam que:

Entre os aventureiros desta espécie se distinguiu Bartolomeu Bueno da Silva, natural


da vila de Paranaíba, que os seus conterrâneos contam entre os seus heróis. Este
homem naturalmente afoito, astucioso e avezado a trabalhos desta natureza, a quem o
gentio deu o nome de Anhanguera, que conservam os seus descendentes, que na
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linguagem do país quer dizer Diabo Velho pelo estratagema de acender aguardente
em uma vasilha, com ameaça de abrasar todos os rios e todos os índios que se lhe não
rendessem, seguido de um filho do mesmo nome, de idade de doze anos (que veio a
ser o descobridor desta capitania), e outros agregados, chegou pouco mais ou menos
em 1682 ao domicilio do pacífico gentio de Goiás, que agora habitamos: e
demorando-se algum tempo no meio das suas correrias, que compreenderam grandes
partes destes sertões, a plantar roça que melhorasse a sua sustentação, reconheceu a
riqueza do lugar vendo folhetas de ouro bruto pendentes ao colo das índias, e com esta
certeza, confirmada de algumas indagações, regressou ao seu país natal, seguido de
numerosas presas que tinha feito, a utilizar-se do fruto de seu trabalho. (SILVA E
SOUZA, 1967, p. 7).

Bueno era um homem predestinado. Segundo Palacín e Moraes (1994), ele preferiria
morrer na expedição do que voltar a São Paulo fracassado. Nesta expedição recebeu o apelido
de Anhanguera, que significa ‘Diabo Velho’, pelo fato de ter ateado fogo num prato de
aguardente para intimidar os índios Cayapós a lhe mostrar onde ficavam as jazidas de ouro (pois
os índios andavam com colares de ouro), caso contrário, colocaria fogo em todos os rios. Os
índios amedrontados correram e mostraram as jazidas a Bueno.

Bueno (pai), consegue achar riquezas minerais no rio Vermelho onde hoje é a Cidade de Goiás
– GO. A expedição, embora de caráter particular, teve que regressar a São Paulo para pedir
autorização da Coroa Portuguesa para explorar as minas de ouro encontradas em Goiás. Mas,
Bueno já velho não consegue retornar e explorar as minas em Goiás. É Bartolomeu Bueno da
Silva (filho, que acompanhou o pai na primeira expedição), que retorna a Goiás para explorar
as minas de ouro por volta de 1722. De acordo com este contexto, Palacín e Moraes (1994), diz
que
A bandeira saiu de São Paulo a 3 de julho de 1722. O caminho já não era tão difícil
como nos primeiros tempos. Até o rio Grande era bem conhecido dos paulistas, com
alguns moradores e com rotas, para além, o Anhanguera dizia possuir um roteiro até
o lugar do ouro. (PALACÍN E MORAES, 1994, p. 9).

Ao referir Bartolomeu Bueno da Silva, neste contexto de exploração, estamos


referindo ao filho, que acompanhou o pai na primeira expedição de reconhecimento do lugar.
Agora, Bueno (filho) retorna a Goiás com a intenção de se fixar, explorando os recursos
minerais encontrados no leito dos rios.

A bandeira saiu de São Paulo. Bueno era o cabo da tropa e foi acompanhado por grande
comitiva. Os conflitos com os indígenas eram iminentes, visto que esta população autóctone já
era aprisionada para a escravidão. Na medida em que a bandeira adentrada aos sertões goiano
as transformações da natureza começavam a se materializar.

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O objetivo de Bueno na expedição era chegar no rio Vermelho, para explorar os


minerais encontrados pelo pai na primeira expedição. Neste contexto histórico e geográfico é
importante ressaltar que as descobertas de ouro nos rios Claro e Pilões só se deu através de um
erro no trajeto de Bueno. As descobertas datam 1722/1723, mas a exploração e o início do
povoamento no arraial só vão acontecer vinte anos depois. Vejamos.

Bueno já não se lembrava mais do trajeto que fizera quarenta anos atrás, o que
culminou numa perca no território goiano. Bueno fora enganado pelos descobertos de ouro,
pois, essa primeira fase de exploração mineral em goiás é anárquica em termos de exploração
e fixação de população conforme salienta Palacín e Moraes (1994). A intenção de Bueno era
chegar ao rio Vermelho, porém perdendo o norte, vagou mais a oeste da província, chegando a
um rio de aguas cristalinas em que encontraram ouro e por ali permaneceram por um tempo.
Batizaram o rio como Claro, justificando as águas cristalinas. Logo encontraram ouro num
outro rio que o batizaram de Pilões, afluente do rio Claro. A toponímia do rio Pilões é fruto de
uma discussão entre os historiadores goianos que, por um lado acreditam que os bandeirantes
deram tal nome em referência aos pilões encontrados no rio que os viajantes fizeram para
fabricarem sua alimentação (D’ALINCOURT, 2006), ou pelo próprio movimento das águas
que atrelado ao processo de intemperismo modificou as rochas dando origens a
empreendimentos côncavos (CUNHA MATTOS, 1979).

A toponímia estabelecida pelo nome do rio dos Pilões é discutível entre alguns autores.
A conclusão mais próxima que chegamos foi a de que o rio dos Pilões recebeu este nome pela
fabricação de pilões para prepararem algum tipo de mantimento para subsistência, seja o milho
ou fubá. Mas, pode ser discutido sem dúvidas o batismo do rio pelas pedras côncavas
observadas pela força da água junto com o processo de intemperismo.

Pohl (1976), detalha bem o erro no trajeto de Bueno.

Depois de peregrinarem por longo tempo, os aventureiros atingiram as proximidades


do Arraial do Bomfim, à margem do riacho que ainda hoje conserva o nome de Meia
Ponte. Daqui seguiram em direção a Anicuns para descobrirem Bocaina Velha, onde
o pai do chefe outrora fizera plantações, e, assim, perderam a direção do norte, pois
estes ignorantes viajantes não dispunham de outro auxilio para se orientarem que não
os próprios olhos e os picos das montanhas. Assim, erraram por muito tempo sem
acharem o que buscavam. Afinal chegaram a um rio a que deram o nome de Pilões,
por causa dos pilões em que moíam o milho, ou por causa das depressões
arredondadas ainda hoje reconhecíveis nas saliências rochosas do Rio Claro.
Pesquisaram ouro no rio e acharam abundantes areias auríferas. Este resultado

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

favorável levou João Leite da Silva Ortiz a declarar que tinham achado o que
buscavam, portanto deveriam ficar por aqui e fundar uma povoação. A isto opôs-se
Bueno, dizendo que esta não era a região que ele saíra para descobrir e que, por isso,
era necessário prosseguir. A discussão inflamou-se e teria talvez terminado em
sangue, se os dois sacerdotes que os acompanhavam não os tivesse reconciliado.
Deram razão a Bueno. Levantaram acampamento e seguiram a viagem em direção a
Oeste, entre constantes combates com os aborígines. Nessas escaramuças fizeram
mais prisioneiros, sobretudo mulheres índias. (POHL, 1976, p. 126-127).

O mapa 1, ilustra o caminho percorrido pela bandeira de Bartolomeu Bueno da Silva,


enfatizando a perda em seu trajeto.

Fonte: SIEG, (2014). Adaptado por: Gomis, (1998). Organização: Alves (2014).

São vários os autores que relatam a perca no trajeto de Bueno, destacando que a
expedição ficou perdida por cerca de três anos na província, como Pohl (1976), Eschwege
(1979), Palacín e Moraes (1994), Cunha Matos (1979), Alencastre (1863), dentre outros.
Ambos autores fizeram itinerários sobre a província de Goiás. Como Bueno teria encontrado
riquezas minerais nos rios Claro e Pilões, muitos da tropa disseram que o local era o mesmo
que o Bueno (pai) teria encontrado os minerais, porém Bueno (filho) insistiu não ser aquele
lugar. Neste contexto, várias pessoas da expedição voltaram a São Paulo e o restante continuou
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

acompanhando Bueno, que após um período reorganizou o seu trajeto e conseguiu chegar ao
rio Vermelho, fundando o arraial de Sant’Anna em 1726, iniciando o processo de povoamento
dos bandeirantes na província de Goiás.

A região dos rios Claro e Pilões já ficou conhecida no erro do trajeto de Bueno. Em
1746, após um período de (re)descobrimento de alguns rios auríferos em Goiás, a região começa
a ser explorada novamente, agora com a construção de um arraial que fora batizado de Bom
Fim, em 1746. No mesmo ano os índios Cayapós numa tentativa de retaliação destrói o arraial,
pondo fim a exploração.

Neste período Goiás já se destacava pela quantidade de ouro extraído. A Coroa


Portuguesa almejando uma produção maior, decide intervir e autorizar a formação de um arraial
no mesmo lugar de Bom Fim (destruído pelos índios), juntamente com uma guarnição da
Policia Real. O novo arraial agora com o nome de Pilões (jus ao rio Pilões), ganha
materialidade, transformando o espaço de primeira natureza em segunda natureza a partir da
necessidade humana resultando numa formação espacial. Neste sentido, Pilões passou a ser um
lugar estratégico interligando a capital da província de Goiás (Vila Boa, atual Cidade de Goiás)
as minas de Cuiabá.

A população sempre aproprio de espaços próximos aos recursos hídricos justamente


para atenderem as suas necessidades básicas. No caso do povoamento de Pilões, há uma junção
entre esses elementos constitutivos de necessidades atrelado aos recursos minerais encontrados
em seu leito. Dessa forma, é importante ressaltar que tal população resultou no futuro em
algumas cidades que compõe o urbano nacional, fruto do processo de apropriação da natureza
ainda no século XVIII, seja por condições de melhorias econômicas ou por necessidades de
sobrevivência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A formação espacial é o resultado das relações sócio espaciais. A interação do homem,


transformando a natureza, ilustra a produção do espaço material, onde há uma transformação
de primeira para segunda natureza. No caso de Goiás através da mineração, a partir das
descobertas de ouro e diamante, os bandeirantes fixaram população e começaram as
transformações na natureza.

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O arraial de Pilões foi um dos principais arraiais de mineração em Goiás no século


XVIII. O seu início de formação remete a perca no trajeto de Bueno a fim de chegar ao rio
Vermelho. No século XVIII, a população da província de Goiás atraia mineiros de todos os
lados do país, acompanhados pela fase anárquica de povoamento, se instalando onde houvesse
ouro e diamante. Onde se encontrava tais minerais ali se formava um núcleo urbano, que
poderia ser esvaziado pela falta de recursos minerais e iniciado um novo onde houvesse
vestígios de ouro e diamante. Sendo assim, essa fase é bastante anárquica em termos de fixação
de população. Pilões nunca deixou de ser povoado, seja pelos recursos minerais encontrados no
leito dos rios Claro e Pilões, seja por praticar a agricultura baseada na pecuária e na produção
de alimentos quando esses minerais ficaram escassos.

REFERENCIAS

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Iná Elias de; GOMES, Paulo Cesar da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato (Orgs). Explorações
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em: 27/04/2018.

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OUTORGA DE ÁGUA E A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS


HÍDRICOS NO COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MEIA
PONTE
Edwilson Alberto Fedrigo,
UEG – Câmpus Morrinhos
edwilson_fedrigo@hotmail.com

Aristeu Geovani de Oliveira


UEG – Câmpus Morrinhos.
aristeu.oliveira@ueg.br

RESUMO: O presente artigo, cujo tema é Outorga de água e a cobrança pelo uso de recursos hídricos
no Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Meia Ponte, buscará responder, a seguinte problemática: como
a cobrança pelo uso de recursos hídricos ajuda na racionalização das águas na bacia? O objetivo geral
da pesquisa é verificar se a cobrança pelo uso de recursos hídricos favorece a racionalização das águas
na bacia. E para se atingir o objetivo geral definiu-se os seguintes objetivos específicos: mostrar como
usar e preservar os recursos hídricos da bacia; definir a cobrança da água como meio de racionalização
dos recursos hídricos da bacia e falar dos meios usados pelo Poder Público na cobrança dos recursos
hídricos. A justificativa a problemática apresentada se dará pelo fato de solucionar as dúvidas sobre a
cobrança da água, apresentando suas formas de uso racional e os impactos de seu mau uso para as atuais
e futuras gerações, além de ser o mecanismo legal usado pelo Poder Público para se conseguir os
recursos financeiros necessários para o custeio dos planos de recursos hídricos contemplados no artigo
19 da Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos ou Lei das Águas como é mais conhecida (Lei nº
9,433/1997). E na condução da presente pesquisa bibliográfica empregou-se como método cientifico o
hipotético-dedutivo, como a teórica, aplicando como base as nossas leis, doutrinas e artigos, tendo um
cunho interdisciplinar, ou seja, aborda Direito Ambiental, Direito Civil, Direito Constitucional e Direito
Tributário. A hipótese a ser confirmada é o conceito de água sendo um recurso natural limitado e
estimular o uso racional e a preservação dos recursos hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Meia Ponte.
Logo a cobrança pelo uso de recursos hídricos objetiva incentivar a racionalização do uso da água e
também obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e intervenções contemplados
nos planos de recursos hídricos no Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Meia Ponte.

Palavras-chave: Outorga de água; Cobrança pelo uso de recursos hídricos; Comitê da Bacia Hidrográfica
do Rio Meia Ponte;

1 INTRODUÇÃO

Esse trabalho tem como fim demonstrar a relevância da outorga da água e da cobrança pelo uso
dos recursos hídricos no Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Meia Ponte, pois ele além de ser
o instrumento legal, previsto na Política Nacional de Recursos Hídricos é visto também como
sendo uma grande evolução na batalha pela preservação e uso racional da água.
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O Estado de Goiás abriu os olhos recentemente ao perceber o aumento na demanda hídrica


junto ao desenvolvimento das áreas irrigadas, há estudos que apontam em cerca de 8 milhões
de ha em potencial no Estado, resultado da chegada maciça da cana, industrialização e
crescimento urbano, sendo que esse crescente uso das águas veio também acompanhado de
inúmeros conflitos pelo uso das águas.

Portanto, a abordagem do instituto da cobrança é importante, pois constitui a base teórica deste
artigo, ao ser estabelecida a natureza jurídica da cobrança, as metas previstas na legislação, os
efeitos das diferentes atividades econômicas que utilizam água, se a cobrança poderá virar um
meio de exclusão social e se a cobrança pelo uso de recursos hídricos favorece a racionalização
das águas na bacia.

Muitos questionamentos aparecerão, inúmeras discussões também serão feitas, e este trabalho,
sem sombra de dúvidas, não irá terminar com todas as polêmicas relacionados ao tema.
Contudo, este estudo busca tratar as principais questões relativas ao instrumento da cobrança
por ser tão fundamental para as atuais e futuras gerações.

A partir, do amadurecimento das cidades goianas que integram o Comitê da Bacia Hidrográfica
do Rio Meia Ponte juntamente com a união de todos os setores – governos estadual e municipal,
sociedade civil e usuários – é que se percebeu que os despejos de esgoto começaram a
ultrapassar a capacidade de autodepuração dos corpos d´água, além dos usuários aumentarem
o consumo da água superando assim a capacidade de suporte e recarga d´água da referida bacia.

O que já justifica a relevância deste artigo é a urgência de brecar essa situação, por meio do
instrumento da cobrança pelo uso da água, e do aumento da escassez de água potável, que
reforça ainda mais a importância de se dar valor econômico para este bem.

A Política de Recursos Hídricos apresenta a cobrança pelo uso da água como mecanismo
financeiro de controle e gestão proposto para à execução dessa política, dando à água um valor
econômico, o que favorece a racionalização das águas na bacia.

No presente trabalho, faremos uma rápida narrativa histórica pelas égides legais e normativas
que instituíram a cobrança na bacia, além de discutir a respeito das questões socioeconômicas
e da efetividade desse mecanismo sob a perspectiva da natureza jurídica da cobrança. E por

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fim, será verificada a aplicação do instituto da cobrança e sua funcionalidade e eficácia na


racionalização das águas no CBH do Rio Meia Ponte.

2 DOS RECURSOS HÍDRICOS

Em um primeiro momento antes de discorrer sobre a cobrança pelo uso dos recursos hídricos é
importante destacar sobre os aspectos históricos que permitiu a sua instituição.

No campo internacional, vários entes e organizações, como por exemplo, a ONU (Organizações
das Nações Unidas), vêm discutindo há anos sobre a importância do referido assunto. Apenas
a partir de 1930, quando ocorreu a 1ª Conferência de Direito Internacional de Haia, que serviu
de fundamento para a criação do nosso Código das Águas de 1934, que se instituiu o Regime
Jurídico das Águas Interiores (rios, canais e lagos).

Em seguida, foi realizada em Estocolmo na Suécia, em 1972, a Conferência das Nações Unidas,
que foi a primeira a inserir a questão do meio ambiente na agenda política internacional, sendo
que a partir de então se intensificou os debates referentes à escassez e ao uso racional dos
recursos hídricos.

Já em 1992, foi realizada no Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, onde que se buscou melhorar as propostas já
desenvolvidas nas conferências anteriores, além de criarem outros documentos, como por
exemplo, a Agenda 21.

O documento mais importante adotado no decorrer da Conferência do Rio é a Agenda 21, onde
a comunidade internacional apresenta, em longo documento, um planejamento destinado a
solucionar até o ano 2000 os principais problemas ambientais que, conforme a denominação
indica, deverá entrar pelo século 21.

Dentro desse raciocínio, faz-se interessante saber, que foram através desses eventos
internacionais é que diversos países se mobilizaram e criaram legislações especificas sobre o
tema além de atribuírem valor econômico à água. A França merece destaque exatamente por
servir de inspiração para o sistema de gestão hídrico brasileiro.

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Em meados do século XX, criou-se a Grande Lei das Águas cujo objetivo era conservar a
qualidade e a quantidade das águas superficiais. Essa lei criou a cobrança pelo uso da água por
meio das Agências das Águas ou Comitês, como são mais bem conhecidos, que tem o papel de
captar e aplicar os recursos gerados na cobrança de forma transparente para que quem pagou
veja o retorno.

Certamente que com a criação dos comitês e a cobrança pelo uso da água não seriam aceitas
por todas as pessoas de forma imediata, entretanto, cabe a cada comitê decidir o valor a ser
cobrado, sempre analisando as quantidades de água disponíveis naquela região além dos
lançamentos de efluentes que interfere consideravelmente no valor final cobrado. Essa cobrança
não realizada apenas para quem capta água, mas também para quem a altera ou interfere, como
nas propriedades que realizam atividades agrícolas e nas usinas hidrelétricas.

Com o desenvolvimento das cidades que compõem o CBH do Rio Meia Ponte, é que os
problemas na saúde pública aumentaram por causa da pequena aplicação da verba pública em
obras de infraestrutura por parte do Poder Público e também devido as incontáveis indústrias
que nasceram no decorrer dos últimos anos poluindo-se cada vez mais com seus dejetos não
tratados as águas da Bacia do Rio Meia Ponte.

Essa falta de saneamento básico vem ganhando uma maior evidência com o passar dos anos,
pela carência de investimentos suficientes para atender as necessidades, principalmente da
população de baixa renda, que menos se aproveitam desses serviços de abastecimento de água
potável e coleta de esgotos. Sirvinskas conclui dizendo que:

Como podemos ver, a água é muito importante para o ser humano, mas também pode ser um
grande agente transmissor das mais variadas doenças (cólera, malária, dengue), e essas doenças,
geralmente, levam à morte em especial das crianças, provocada pela diarreia (desidratação).
Tudo isso ocorre por causa de nosso desleixo para com o meio ambiente e, consequentemente,
para com a água.

Esses fatos tem prejudicado gradualmente a qualidade dos recursos hídricos, pois, geram gastos
cada vez maiores para satisfazer os fins de um abastecimento de água de boa qualidade.

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Quem regulamentou a proteção jurídica da água no Brasil, foi o Código Civil de 1916, ao dispor
que o uso dos bens públicos, como a água, por exemplo, pode ser de forma gratuita ou mediante
o pagamento, servindo de base para embasar o princípio do usuário-pagador.

A Constituição Federal de 1988 instituiu a política nacional de meio ambiente, introduzindo


com ela um conceito de gestão ambiental agregada e participativa, implantando os conselhos
estaduais e federais de meio ambiente buscando a união de todos os setores (usuários, sociedade
civil e governos estadual e municipal).

Portanto, tal como a Lei das Águas (Lei nº 9.433/97) a Constituição Federal de 1988 buscou
preservar a água em seu artigo 225 caput, que diz: “Art. 225. Todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações”.

Desta forma, quando se tratar da propriedade das águas, o público sobrepõe-se ao particular nas
leis brasileiras, isto é, o bem-estar da população que compõe a Bacia do Rio Meia Ponte é mais
importante do que para o uso dos pivôs nas culturas de cana-de-açúcar, por exemplo.

Pompeu salienta em sua obra que:

A cobrança pela utilização das águas deve ser e tem sido instituída por lei, ou em decorrência
desta, em observância ao preceito constitucional segundo o qual ninguém é obrigado a fazer ou
deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. Com isso, a sua implantação depende da
participação dos Poderes Executivo e Legislativo.

Já o Código Civil de 2002 traz em seu artigo 99, inciso I, que as águas dos rios e mares são
bens públicos de domínio da União e dos Estados. Desse modo cabe aos particulares apenas a
outorga, por meio do pagamento do direito de uso das águas, que de acordo com a Lei nº
9.433/97, a outorga não provoca a transferência de qualquer forma do bem água que é
inalienável.

De acordo com Édis Milaré a Lei nº 9.433/97 instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos
e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH), que é
responsável por implantar a Política Nacional de Recursos Hídricos juntamente com a Agência

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Nacional da Água (ANA) que é uma entidade federal vinculada ao Ministério do Meio
Ambiente.

Na região centro-oeste do Brasil que é composta pelo CBH do Rio Meia Ponte, se observa uma
maior disponibilidade dos recursos hídricos se comparada às outras regiões do país, devido à
baixa poluição doméstica e industrial causada por uma menor ocupação urbana, além de ser um
local protegido pelos ecossistemas do Pantanal e da Amazônia.

3 DO SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMNETO DE RECURSOS HÍDRICOS

Os conflitos de interesses decorrentes do uso da água por causa da crescente demandam e pelo
risco de escassez, tornaram a água um bem de valor econômico, cuja utilização gera uma
contraprestação pecuniária. O Código de Águas de 1934 já determinava a possibilidade da
cobrança por seu uso, em seu art. 36 que diz: “É permitido a todos usar de quaisquer águas
públicas, conformando-se com os regulamentos administrativos”. E acrescenta em seu
parágrafo 2º que: “O uso comum das águas pode ser gratuito ou retribuído, conforme as leis e
regulamentos da circunscrição administrativa a que pertencerem”.

Édis Milaré expõe sobre o assunto que:

Da mesma forma, a Lei nº 6.938/81, ao definir os objetivos da Política Nacional do Meio


Ambiente, inclui entre eles, a imposição ao usuário da obrigação de contribuir pela utilização
de recursos ambientais com fins econômicos. Entre tais recursos, merecem destaque as águas
interiores, superficiais e subterrâneas.

Desse modo se cobra pelo uso de recursos hídricos de toda a sociedade civil do CBH do Rio
Meia Ponte, até mesmo de quem não se aproveita desse recurso natural. Em contrapartida,
quando a sociedade não paga esses custos econômicos, paga-os com a degradação da qualidade
ou da quantidade do recurso usado.

Portanto, é o Sistema Nacional de Recursos Hídricos quem realiza as atividades de formulação


da política e de implantação dos instrumentos de gestão na cobrança da água, por meio de um
Sistema de Informações atualizadas e consistentes, contendo o potencial hídrico e os usuários
da bacia do Rio Meia Ponte.

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4 OUTORGA: COBRANÇA X SERVIÇO AMBIENTAL NO CBH DO RIO MEIA PONTE

No que se refere sobre a cobrança, é necessário lembrar que a água é um bem muito valioso
agregado à vida, presente nos mais diversos organismos e sendo essencial em suas funções
biológicas e bioquímicas, por isso a água é um componente indispensável da vida, por esse
motivo a água deve ser protegida de todas as formas.

Convém notar que o uso da água se constitui por meio da outorga, da captação e do lançamento,
concedido pelo poder público. A outorga é um tipo de permissão do Poder Público para garantir
de maneira qualitativa e quantitativa o uso da água e o seu eficaz acesso, por isso a outorga não
provoca a alienação da água, pois a inalienabilidade é atributo de bem de domínio público.

Desta forma, observa-se a água de um lado como bem ambiental, ou seja, um bem público, e
como tal regulamentada é direito de todos o seu acesso. Por outro lado, é um bem com valor
econômico, comercializado, com preço.

O embasamento legal que vigora atualmente e que autoriza a cobrança pelo uso da água se
encontra no artigo 5º da Lei nº 9.433/97 segundo o qual:

Art. 5º. São instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos:

(...)

IV - a cobrança pelo uso de recursos hídricos;

(...)

A cobrança pela utilização da água está inteiramente vinculada à concessão de outorga. Nos
casos em que não se exige a outorga automaticamente não deve ocorrer a cobrança, ligando
primeiramente a cobrança em casos de aplicação econômica do bem água.

No entanto, a Lei nº 9.433/97 em seu art. 12 § 1º, dispõe que independe de outorga o uso dos
recursos hídricos para satisfação de necessidades de pequenos núcleos populacionais,
distribuídos no meio rural, para as derivações, captações, lançamentos e também para
acumulação de volumes de água considerados insignificantes.
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Quanto aos aspectos socioeconômicos deste trabalho, incumbe falar da diferença entre água e
recursos hídricos, pois segundo Cid Tomanik Pompeu o que existe é um Código de Águas e
não um Código de Recursos Hídricos, sendo que a água é o elemento natural, descomprometido
com qualquer uso ou utilização, já recurso hídrico é a água como bem econômico passível de
utilização com tal fim.

Quanto à característica econômica dos recursos hídricos, o seu gerenciamento interferirá no


mercado, imediatamente o Estado se utiliza da cobrança pelo uso da água como instrumento de
implementação das políticas econômicas.

Contudo, a cobrança jamais pode servir de modo a majorar qualquer forma de exclusão social,
e sim deve favorecer a comunidade. Pois a exclusão social implica, também, a não observância
da norma e, contrariando o preceito constitucional, na realidade se aceita que os excluídos não
sejam obrigados a conhecer, a respeitar e a cumprir a lei. Talvez seja esse um dos mais graves
problemas do país.

No CBH do Rio Meia Ponte se observa que a maioria dos pagadores hoje em dia são os setores
de abastecimento de água e esgoto, saneamento básico e as indústrias, estando diversas áreas
em implantação, como agricultura, notando que são isentos da cobrança os pequenos produtores
rurais.

E de acordo com Cid Tomanik Pompeu a cobrança pela utilização das águas deve ser e tem
sido instituída por lei, ou em decorrência desta, em observância ao preceito constitucional
segundo o qual ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude
de lei.

Entretanto, deve-se ressaltar que embora muitos usuários digam que a outorga é o meio de
cobrança pelo uso dos recursos hídricos, estes estão equivocados, pois na realidade o que se
outorga é apenas o direito de uso, e cobra-se, portanto, pelos serviços ambientais.

Finalmente, há de se entender que as águas públicas são consideradas bens inalienáveis,


outorgando apenas o direito de uso. Cobra-se, em regra, a remuneração dos serviços ligados a
seu fornecimento, como a adução, o transporte, a distribuição ou regularização. Portanto, o que
é visado não é o valor material do bem econômico, mas o do direito à sua utilização.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

De todo o apresentado neste artigo desde a história, a legislação e os conceitos ambientais,


socioeconômicos e tributários, a conclusão que se chega é que se tem que cobrar pelo uso de
recursos hídricos no CBH do Rio Meia Ponte, visto que a cobrança além de ajudar na gestão
das águas propicia na racionalização das águas na bacia, sendo que os recursos arrecadados são
aplicados na recuperação ambiental das áreas degradadas, na preservação das nascentes e rios
e na melhoria do saneamento básico.

Nos últimos anos, por meio da arrecadação desses recursos foi possível a implantação de alguns
projetos que vem contribuindo de forma positiva na racionalização das águas da bacia do Rio
Meia Ponte, atingindo assim as finalidades da implantação da cobrança que é o seu caráter
educativo.

Assim, no que se refere à água sempre temos novos desafios, como a instituição da cobrança
pelo uso dos recursos hídricos de maneira integrada, onde em especial o CBH do Rio Meia
Ponte incentiva à racionalização no consumo da água para que a sociedade atual diminua os
desperdícios em seus usos domésticos, buscando reutilizarem as águas e a fazerem a capitação
das águas de chuvas, bem como os agricultores mudem as técnicas de irrigação de suas lavouras
com o fim de economizarem a água usada em produtos como café, carne, laranja e soja, pois
essas mercadorias gastam bastante água em seu cultivo e no fim são exportadas pra outros
países.

Por tais razões, o CBH do Rio Meia Ponte busca incentivar um uso racional das águas, com a
distribuição justa do recurso através de uma gestão sustentável com a implantação de uma
captação de água em menor quantidade para os grandes consumidores, com tecnologias eficazes
na preservação do meio ambiente, gotejamento em áreas irrigadas e outras medidas que
futuramente poderão minimizar a falta de água evitando-se assim uma diminuição na produção
de alimentos, o que ocasionaria inúmeras doenças e a fome nas comunidades locais que compõe
o CBH do Rio Meia Ponte.

Afinal, diversas são as providências que podem e devem ser tomadas em conjunto pelos
usuários, sociedade civil e Poder Público, cabendo a este último promover constantemente
ações de racionalização da água nas escolas, comunidades e meios de comunicação.

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BALTAR, L. A. A., A Participação da Iniciativa Privada no Setor de Saneamento Básico no


Brasil - Gestão de Recursos Hídricos e de Saneamento. Rio de Janeiro: Saraiva, 1997.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em


5 de outubro de 1988. Organização do texto por Antonio Luiz de Toledo Pinto. São Paulo:
Saraiva, 2007.

_______. Código civil – Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acessado em: 22/04/2018.

_______. Decreto nº 24.643 de 10 de julho de 1934. Decreta o Código de Águas. Rio de Janeiro,
27 jul. 1934. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d24643.htm>.
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Hídricos. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9433.htm> Acessado
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Acessado em: 14/04/2018.

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3. ed. São Paulo, Atlas, 2006.

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MAGALHÃES, Juraci Perez. A evolução do direito ambiental no Brasil. 2. ed. São Paulo:

Juarez de Oliveira, 2002.

MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente – A gestão Ambiental em foco. 7. ed. São Paulo: Revista
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POMPEU, Cid Tomanik. Direito de Águas no Brasil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.

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QUALIDADE E ESTADO TRÓFICO DA ÁGUA NA ALTA BACIA


HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO DA LAJE, EMRIO VERDE (GO)
Wellmo dos Santos Alves
Universidade Federal de Jataí (UFJ).
wellmoagro2@gmail.com;

Maria Antonia Pereira Balbino


IF Goiano – Campus Rio Verde
mariaantonia099@live.com;

Alécio Perini Martins


Universidade Federal de Jataí (UFJ).
alecioperini@yahoo.com.br;

Iraci Scopel
Universidade Federal de Jataí (UFJ).
iraciscopel@gmail.com

Hipólito Tadeu Ferreira da Silva


IF Goiano – Campus Rio Verde
hipolitotadeu@gmail.com

RESUMO: A disponibilidade de água em quantidade e qualidade tornou-se um problema bastante


discutido no mundo todo, visto que os despejos nos corpos hídricos de resíduos oriundos da agricultura,
industrias, áreas urbanas e outros causam danos ao equilíbrio ecológico e à saúde da população. Assim,
objetivou-se realizar o estudo da qualidade, por meio de variáveis físico-químicas, e estado trófico, por
meio do Índice de Estado Trófico (IET), da água da alta bacia do Ribeirão da Laje, uma das principais
fontes fornecedoras de água para o abastecimento público da população urbana de Rio Verde (GO).
Foram realizadas duas campanhas, nos dias 16 e 30 de setembro de 2017, em três pontos amostrais,
nomeados de ponto amostral 1 (P1), ponto amostral 2 (P2) e ponto amostral 3 (P3). Os resultados foram
comparados com limites (valores de referência) estabelecidos pela Resolução CONAMA 357/2005 para
água doce classe 1, classe 2, classe 3 e classe 4. Para as variáveis sólidos totais dissolvidos (STD),
turbidez e nitrato, os resultados atenderam aos limites estabelecidos pela resolução supracitada para as
duas campanhas. O pH apresentou, apenas no ponto P1, valor abaixo do limite de referência nas duas
campanhas. Foram observados resultados de condutividade elétrica (CE) e demanda química de
oxigênio (DQO) elevados. Os níveis de fósforo total (FT) não atenderam aos níveis exigidos pela
resolução supracitada. Os IET foram elevados nos três pontos, principalmente na segunda campanha e
no P3, caracterizando o corpo hídrico no estado eutrófico a hipereutrófico. Os resultados indicam
degradação do corpo hídrico e necessidade de implementação de ações no intuito de reduzir esses
impactos e evitar possíveis danos à saúde pública. Este trabalho subsidiará o planejamento e gestão
ambiental da bacia hidrográfica em questão.

Palavras-chave: Eutrofização; Gestão ambiental; Impactos ambientais; Qualidade hídrica.

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INTRODUÇÃO
A disponibilidade de água tornou-se um problema bastante discutido no mundo todo.
Discussão essa que vai desde a quantidade até a qualidade da água disponível, a qual é utilizada
para diversas funções, como o abastecimento público. O crescimento da população junto ao
aumento de atividades impactantes ao meio ambiente torna a preocupação com a qualidade da
água ainda maior (LAMPARELLI, 2004).
A qualidade da água está associada com as características naturais da água e com o uso
e cobertura do solo na bacia hidrográfica (SPERLING, 2005). A água, devido às suas
propriedades de solvente e à sua capacidade de transportar partículas, incorpora a si diversas
impurezas, as quais definem sua qualidade, o que permite dizer que a qualidade da água é
determinada em função do uso e cobertura do solo na bacia hidrográfica (ROCHA; CABRAL;
BRAGA, 2014).
O lançamento de substâncias tóxicas utilizadas nas indústrias e na agropecuária causam
problemas à vida aquática e à saúde da população, bem como o lançamento excessivo de
nutrientes, que também causam problemas ao meio aquático (LAMPARELLI, 2004).
O monitoramento ambiental das águas em corpos hídricos é importância, pois as
medidas de variáveis de qualidade da água permitem detectar tendências ou alterações na
qualidade hídrica. O monitoramento dos parâmetros físico-químicos tais como pH, temperatura,
condutividade elétrica, turbidez, entre outros, em águas doces, são necessários para determinar
padrões de qualidade e, a partir das análises, são sugeridos ou não outros tipos de investigação
para se descobrir o nível de degradação de uma bacia hidrográfica (ROCHA; CABRAL;
BRAGA, 2014).
Um dos principais impactos aos recursos hídricos é a eutrofização. Conforme afirma
Esteves (2011), a eutrofização pode ser definida como o enriquecimento da água por nutrientes,
principalmente fósforo e nitrogênio, causando assim o afloramento de algas e atrapalhando a
dinâmica do meio aquático. Logo, torna-se importantes a realização de estudos sobre
incremento de nutrientes em corpos hídricos superficiais. A eutrofização pode ser
compreendida por meio do Índice de Estado Trófico (IET) proposto por Lamparelli (2004).
Este índice é uma fórmula matemática que ajuda na compreensão e interpretação dos resultados,
sendo que relaciona a qualidade da água de acordo com o enriquecimento por nutrientes e o
aumento exagerado das algas ou infestação de macrófitas aquáticas (CETESB, 2016).

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O município de Rio Verde, localizado no sudoeste de Goiás, tem uma população


estimada de 217.048 habitantes (IBGE, 2017), sendo o Ribeirão da Laje uma das principais
fontes de água usada para o abastecimento público desse município, com uma vazão média de
captação de 100 a 110 L.s-1 (MORAIS et al., 2016). Esse município apresenta a quarta maior
economia e população do estado de Goiás, sendo o principal município da microrregião
Sudoeste de Goiás. Com economia baseada no agronegócio, é destaque nacional na produção
de soja, milho, aves e suínos. O uso e cobertura do solo para esse destaque na produção
agropecuária, muitas vezes sem planejamento e gestão ambiental adequados, causam impactos
ambientais negativos nos recursos hídricos da região.
Assim, objetivou-se realizar o estudo da qualidade das águas e estado trófico da alta
bacia do Ribeirão da Laje, em Rio Verde (GO).

MATERIAL E MÉTODOS
A alta bacia do Ribeirão da Laje localiza-se no perímetro rural e urbano do município
de Rio Verde, Goiás (Figura 1), sendo que esse ribeirão desagua no Rio Verdão, com área de
contribuição inserida na bacia do Rio Paraná.

Figura 1. Localização da área de estudo.


Fonte: Elaborado pelos autores a partir de bases de dados disponibilizadas pelo Sistema
Estadual de Geoinformação de Goiás (SIEG, 2018).

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Para melhor caracterizar a área de estudo e compreender os resultados, observou-se a


geologia, o uso e a cobertura vegetal do solo da área de estudo, uma vez que estes influenciam
na qualidade dos corpos d’água.
Na Tabela 1 e Tabela 2 são apresentados, nesta ordem, os aspectos geológicos, uso e
cobertura da terra na área de estudo, com espacializações na Figura 2 e Figura 3.

Tabela 1. Classes geológicas da área de estudo.


Unidade Litotipo Km² %
Formação Serra Geral Basalto, basalto-andesito. 3,45 8,97
Vale do Rio do Peixe Arenito, argilito arenoso. 26,01 67,11
Coberturadetrito-lateríticas
Aglomerado, Laterita, Argilita, Areia. 4,59 11,93
ferruginosas
Coberturas detríticas Depósitos de areia, depósitos de cascalho,
4,42 11,49
indiferenciadas depósitos de argila.
Total 38,47 100
Fonte: Dados disponibilizados pelo SIEG (2017); organizado pelos autores (2018).

Observa-se predominância da classe Vale do Rio do Peixe, correspondendo a 67,11%


da área de estudo (Tabela 1; Figura 2).
Quanto ao uso e cobertura da terra, predomina área de agricultura (36,44%), seguida de
área urbanizada (23,39%), pastagem (21,68%), Cerrado/mata (11,10%), área industrial (5,59%)
e, além dessas, rodovias pavimentadas, solo exposto, represas, silvicultura e construções rurais,
como granjas de criação de aves, residências e outras (1,79%) da área de estudo (Tabela 2;
Figura 3).

Figura 2. Características geológicas da área de estudo.


Fonte: Elaborado pelos autores a partir de bases de dados disponibilizadas pelo SIEG (2018).

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Tabela 2. Uso da terra e cobertura vegetal na bacia do ribeirão da Laje (GO)


Categorias km² %
Agricultura 14,02 36,44
Áreaur bana 9,00 23,39
Pastagem 8,34 21,68
Cerrado/mata 4,27 11,10
Área industrial 2,15 5,59
Rodovias pavimentadas 0,44 1,14
Solo exposto 0,12 0,31
Represa 0,05 0,13
Silvicultura 0,05 0,13
Construções rurais 0,03 0,08
Área total 38,47 100
Fonte: Elaborado pelos autores.

Observou-se a ocorrência de precipitação de 22 mm, no período de 24 que antecedeu a


segunda campanha, conforme dados obtidos da estação meteorológica 86753 de Rio Verde
(GO), disponibilizados pelo Banco de Dados para Ensino e Pesquisa (BDMEP, 2017).
Para a coleta das amostras, foram definidos três pontos amostrais, sendo o primeiro (P1),
na nascente principal, no local com as coordenadas geográficas 17°43'49,43"S/50°56'59,80"O,
o segundo (P2), 10 m a jusante do ponto de captação de água para o abastecimento público de
Rio Verde (GO), no local com as coordenadas 17°44'26.38"S/50°55'11.80"O, e o terceiro (P3),
depois do perímetro urbano do município supracitado, no local com as coordenadas
17°44'48.87"S/50°52'58.01"O(Figura 3).

Figura 3. Uso e cobertura da terra na área de estudo.


Fonte: Elaborado pelos autores a partir de imagem de 2018 do Satélite Sentinel (AMAZON,
2018).

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Foram realizadas duas campanhas para coletas de amostras e análises físico-químicas in


loco, sendo a primeira e a segunda nos dias 16 e 30 de setembro de 2017, respectivamente,
todas no período da manhã, entre 7 e 11 horas.
Foram determinados, for meio de medições diretas, nos ambientes amostrais, com uso
de uma sonda portátil multiparamétrica, modelo ORION STAR A326, a temperatura (T) e
potencial hidrogeniônico (pH), e com um condutivímetro, modelo Sension5, foram
determinados os sólidos totais dissolvidos (STD) e condutividade elétrica (CE).
Foram coletadas e preservadas as amostras para o estudo da turbidez, demanda química
de oxigênio (DQO), fósforo total (FT) e nitrato conforme a Resolução 724/2011 da Agência
Nacional de Água (BRASIL, 2011). Em seguida, no Laboratório de Águas e Efluentes do IF
Goiano - Campus Rio Verde, utilizando um turbidímetro modelo 2100P, foi realizada a medição
da turbidez, pelo método de relação entre o sinal nefelométrico (90°) da luz dispersada e a luz
transmitida. As amostras para quantificação de FT foram analisadas pelo método do ácido
persulfato; DQO, pelo método de digestão; e nitrato, pelo método do dimetilfenol. Foi utilizado
um digestor modelo DRB 200 para digestão das amostras de FT e DQO e, com a utilização de
um espectrofotômetro modelo DR 5000, foram feitas as leituras dos resultados dessas três
últimas variáveis, conforme o Standart Methods of Examinationof Water and
Wastewater(APHA, 2012).
Os resultados foram comparados com limites estabelecidos pela Resolução CONAMA
357/2005 para água doce classe 1, classe 2, classe 3 e classe 4. Ressalta-se que, conforme essa
resolução, o Ribeirão da Laje é enquadrado na classe 2. Foram calculados os índices de
eutrofização de acordo com a equação 1 (E1) proposta por Lamparelli (2004):

𝐼𝐸𝑇 (𝑃𝑇) = 10 ∗ (6 − ((0,42 − 0,36 ∗ (ln 𝑃𝑇))/ ln 2)) − 20 (E1)

Na qual: IET é o Índice de Estado Trófico; PT, a concentração de fósforo, em µg.L-1; e


ln, o logaritmo natural.
Os resultados do IET foram comparados com a classificação do estado trófico proposta
por Lamparelli (2004), ver Quadro 1.

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Quadro 1. Classificação do Estado Trófico para rios.


Categoria (Estado Trófico) Ponderação
Ultraoligotrófico IET ≤ 47
Oligotrófico 47 < IET ≤ 52
Mesotrófico 52 < IET ≤ 59
Eutrófico 59 < IET ≤ 63
Supereutrófico 63 < IET ≤ 67
Hipereutrófico IET> 67
Fonte: Adaptado de Lamparelli (2004).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados para as variáveis de qualidade da água são apresentados na Tabela 3 e
Tabela 4 para a primeira e segunda campanhas, respectivamente, e para o estado trófico, na
Tabela 5.

Tabela 3. Limites estabelecidos pela Resolução CONAMA 357/05 para as classes de água
doce e resultados obtidos na primeira campanha
Classes* Resultados
Variáveis
1 2 3 4 Ponto 1 Ponto2 Ponto 3 Média
T (ºC) - - - - 22,03 20,10 21,70 21,28
CE (μS.cm )-1
- - - - 2,10 46,37 172,13 73,53
STD (mg.L-1) 500 500 500 - 0,50 21,73 82,23 34,82
Ph 6-9 6-9 6-9 6-9 4,66 7,11 7,15 6,31
TURB (NTU)  40  100  100 - 9,70 4,53 9,13 7,79
-1
DQO (mg.L ) - - - - 2,40 0,70 0,85 1,32
NTR (mg.L-1) 10 10 10 10 < 0,23 < 0,23 3,45 <1,30
FT (mg.L-1) 0,1 0,1 0,15 - 0,20 0,25 0,27 0,24
*Classes de água doce conforme Resolução CONAMA 357/2005.

Tabela 4. Limites estabelecidos pela Resolução CONAMA 357/05 para as classes de água
doce e resultados obtidos na segunda campanha
Classes* Resultados
Variáveis
1 2 3 4 Ponto 1 Ponto2 Ponto 3 Média
T (ºC) - - - - 21,46 21,20 21,60 21,42
CE (μS.cm-1) - - - - 3,08 33,57 234,33 90,33
-1
STD (mg.L ) 500 500 500 - 1,13 20,05 112,07 44,42
pH 6-9 6-9 6-9 6-9 5,43 7,10 7,02 6,52
TURB (NTU)  40  100  100 - 26,13 9,77 48,73 28,21
DQO (mg.L-1) - - - - 4,70 1,65 33,70 13,35
-1
NTR (mg.L ) 10 10 10 10 < 0,23 < 0,23 1,73 <0,58
FT (mg.L-1) 0,1 0,1 0,15 - 0,44 0,49 1,19 0,71
*Classes de água doce conforme Resolução CONAMA 357/2005.

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Tabela 5. Categorias e Índice de Estado Trófico obtidos


P1 P2 P3
Categoria (estado trófico)
Campanha 1 Eutrófico (61,45) Eutrófico (62,62) Eutrófico (63,02)
Campanha 2 Supereutrófico (65,55) Supereutrófico (66,11) Hipereutrófico (70,72)

A Resolução CONAMA 357/2005 não estabeleça níveis de T, porém sabe-se que o


aumento da temperatura provoca aumento nas reações químicas, físicas e biológicas.
Considerando os três pontos amostrais e as duas campanhas, os valores de T foram próximos,
variaram de 20,10 a 22,03 °C, com média de 21,28 (primeira campanha) e 21,42 (segunda
campanha), em níveis conforme observados em corpos hídricos em condições naturais.
Para a CE, a resolução em questão também não estabelece limites, contudo, a CETESB
(2016) relata que, em geral, níveis de CE da água superiores a 100 μS.cm-1 indicam ambientes
impactados. Notou-se que este valor foi ultrapassado no ponto P3, na primeira (172,13 μS.cm-
1
) e segunda campanha (234,33 μS.cm-1). Os valores variaram de 2,10 a 234,33 μS.cm-1, com
média de 73,53 μS.cm-1 (primeira campanha) e 234,33 μS.cm-1 (segunda campanha) (Tabela 3;
Tabela 4).
Para as variáveis STD (0,50 a 112,07 mg.L-1), turbidez (4,53 a 48,73 UNT) e nitrato
(<0,23 a 3,45 mg.L-1), os limites não foram ultrapassados, ou seja, atenderam aos níveis
estabelecidos para as classes de água doce, sendo os maiores valores para as duas primeiras
variáveis observados na segunda campanha (Tabela 3; Tabela 4).
Em relação ao pH, no ponto P1, nas duas campanhas, os resultados obtidos foram
menores que o limite mínimo estabelecido pela resolução supracitada (6-9). Para os pontos P2
e P3 os resultados estão dentro dos limites para todas as classes (Tabela 3; Tabela 4).
A DQO é uma maneira de medir indiretamente a matéria orgânica na água. Assim como
observado para a T e CE, também não há nível de DQO estabelecido pelo CONAMA para a
classificação das águas. Entretanto, conforme Chapman e Kimstach (1996), águas superficiais
não poluídas apresentam um limite máximo de DQO de 20 mg L-1. Os resultados de DQO
variaram de 0,70 a 33,70 mg.L-1, com média de 1,32 mg.L-1 (primeira campanha) e 13,35 mg.L-
1
(segunda campanha), sendo que o valor observado no P3, na segunda campanha (33,70 mg.L-
1
), foi maior que 20 mg.L-1 (Tabela 3; Tabela 4).
Os valores de FT variaram de 0,20 a 1,19 mg.L-1, com média de 0,24 mg.L-1(primeira
campanha) e 0,71 mg.L-1(segunda campanha) e maior resultado observado na segunda
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campanha para o P3, sendo que os valores obtidos em todos os pontos amostrais ultrapassaram
os limites estabelecidos pela resolução supracitada para todas as classes de água doce (Tabela
3; Tabela 4).
Os valores observados para o IET indicam graus de eutrofização elevados nos três
pontos nas duas campanhas (Quadro 2), sendo que na primeira campanha, os três pontos foram
classificados como eutrófico, e na segunda campanha, os pontos P1 e P2, como supereutróficos,
e o P3, como hipereutrófico (Tabela 5).
Considerando que as características geológicas não favorecem índices elevadosdas
variáveis de qualidade da água propostas neste trabalho, os valores altos observados são
relacionados ao uso e cobertura da terra, sendo que, quanto a segunda campanha, tem relação
também com a precipitação pluviométrica (22 mm) ocorrida nas últimas 24 h anteriores a coleta
de amostras. Os altos valores no P3 têm relação também com drenagem urbana e,
possivelmente, despejos de resíduos (Tabela 1; Tabela 2; Figura 2; Figura 3).
Os valores de pH baixos no P1 podem ter relação com o substrato geológico, uma vez
que, em geral, valores de pH < 7 encontrados em águas nas nascentes podem estar ligados ao
tipo de solo, típico do cerrado, o Latossolo, que possui características ácidas (VILELA, 2016),
e ainda, com a falta de Área de Preservação Permanente (no mínimo 50 m de raio) no entorno
da nascente principal. Esta encontra-se desprotegida, com solos descobertos e presença de áreas
aradas para atividades agropecuárias (Figura 4 A).
É importante ressaltar que a água no ambiente do ponto amostral P3 apresentava
coloração escura, com aspecto de incremento de matéria orgânica (Figura 4 C; Figura 4 D).
Conforme Sperling (2005), as águas das chuvas em contato com o solo, através do
escoamento ou infiltração, incorporam sólidos em suspensão ou dissolvidos ao corpo hídrico,
alterando suas condições naturais. Segundo Tundisi e Matsumura-Tundisi (2008), Esteves
(2011) e Sperling (2005), o escoamento superficial em áreas agrícolas e urbanas carreiam
resíduos (matéria orgânica, fonte de fósforo e outros) para corpos hídricos, podendo provocar
a degradação destes.
Os altos valores de fósforo total, que, consequentemente, elevaram os IET,
principalmente no P3, indicam alto grau de degradação do corpo hídrico em questão. Conforme
destacam Tundisi, Matsumura-Tundisi (2008), Esteves (2011) e CETESB (2016), esse nutriente
limita a produtividade nos corpos d’agua e é o principal responsável pela eutrofização artificial

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desses ecossistemas; e a eutrofização das águas pode causar danos graves a um curso hídrico,
tornando-o impróprio para abastecimento público e para realização de algumas atividades.

Figura 4. A: nascente degradada, sem Área de Preservação Permanente; B: ambiente


amostral do ponto 2; C e D: ambiente amostral do ponto 3 com aspecto característico de
matéria orgânica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados obtidos para as variáveis sólidos totais dissolvidos, turbidez e nitrato não
ultrapassaram os limites estabelecidos pela Resolução CONAMA 357/2015 para todas as
classes. Os valores de pH no P1 para as duas campanhas não atenderam aos limites
estabelecidos por essa resolução, isso, possivelmente, devido à falta de proteção (APP) da
nascente, condições naturais e outros. Os resultados de condutividade elétrica e demanda
química de oxigênio indicam possível degradação do corpo hídrico. Os níveis de fósforo total
(acima do permitido para as classes 1, 2 e 3) e Índice de Estado Trófico foram elevados nos três
pontos, principalmente na segunda campanha, possivelmente devido a manejos e práticas
inadequadas na área de estudo, como aplicação intensiva de fontes de fósforo nas lavouras, que
são carreados pelas águas das chuvas para o corpo hídrico, e, no caso do ponto amostral 3,
devido, ainda, a drenagem urbana e despejos de efluentes.
Os valores em inconformidade com a resolução supracitada indicam a necessidade de
planejamento e gestão ambiental da alta bacia hidrográfica do Ribeirão da Laje. Este trabalho
servirá de base para o planejamento e gestão desse recurso, no intuito de reduzir os impactos

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na bacia hidrográfica, melhorar a qualidade hídrica e, assim, promover o desenvolvimento


econômico com menor impacto ambiental possível.

REFERÊNCIAS
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padronizados para a coleta e preservação de amostras de águas superficiais para fins de
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Avaliação da Qualidade das Águas (PNQA). Diário Oficial [da] União, n. 201, de 19 de
outubro de 2011, Seção1, p. 105.
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Brasil, Brasília, DF, 17 de março de 2005.
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Iporá, 6 a 9 de junho de 2018.

Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

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VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgoto. Belo
Horizonte: UFMG, 2005.

306
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

QUALIDADE HÍDRICA: SUBSÍDIO AO PLANEJAMENTO E À GESTÃO


AMBIENTAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO MONTE ALEGRE, NO
MUNICÍPIO DE RIO VERDE (GO), BRASIL
Lucas Duarte Oliveira
Instituído Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano – Campus Rio Verde
duarte-oliveira2010@hotmail.com

Wellmo dos Santos Alves


Universidade Federal de Jataí
wellmoagro2@gmail.com

Maria Antonia Balbino Pereira


Instituído Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano – Campus Rio Verde
mariaantonia099@live.com

RESUMO: Devido ao uso intensivo do solo em busca de ganhos em produtividade no município de


Rio Verde (GO), podendo causar danos aos recursos hídricos da região, e, devido ainda, a importância
econômica e ambiental da bacia do Ribeirão Monte Alegre, localizada nesse município, objetivou-se
analisar a temperatura (T), pH, oxigênio dissolvido (OD) e turbidez do referido ribeirão. O ponto
amostral onde está instalada uma estação automática de coletas de dados, de nº 2301, com código
60778000, denominada de Estação Fazenda Monte Alegre, encontra-se no local com as coordenadas
geográficas -17°19'51''/-50°46'27''. Os resultados foram obtidos entre os anos de 2009 a 2017 e
disponibilizados pela Agência Nacional de Águas (ANA). Os resultados foram submetidos ao estudo do
desvio-padrão (DP) e comparados com limites estabelecidos pela Resolução CONAMA 357/2005 para
água doce classe 1, classe 2, classe 3 e classe 4. Valor obtido de OD não atendeu aos limites para água
doce classe 1 e classe 2, e valores de turbidez não atenderam aos limites exigidos pela referida resolução
para água doce classes 1, classe 2 e classe 3, sendo que esses valores em inconformidade podem ter
relação com as atividades antrópicas presentes na área de contribuição do ponto amostral, como
agropecuária, granjas e residências rurais. Esse trabalho é importante para servir de base para outros
estudos e ações na bacia hidrográfica em questão que visem a conservação desse recurso natural,
garantido água com qualidade adequada para os usos múltiplos atuais e futuros.
Palavras-chave: Gestão Ambiental; Resolução CONAMA 357/05; Variáveis físico-químicas.

1 INTRODUÇÃO
Devido ao processo de ocupação desordenada nas bacias hidrográficas aliado ao forte
desenvolvimento socioeconômico ocorrido nos últimos tempos, o uso dos recursos hídricos tem
sido mais exigidos, o que consequentemente tem gerado impactos ambientais significativos nos
mesmos, afetando sua qualidade e quantidade (LIMA; CANDEIAS; CUNHA, 2018).
A partir da década de 70, em decorrência da expansão da fronteira agrícola na região
centro-oeste, o sudoeste goiano passou por uma forte reestruturação produtiva, através da
chegada de produtores de outras regiões e introdução de novas tecnologias no campo (MATOS;
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PESSÔA, 2012). Porém, a forma de ocupação e a dinâmica das atividades ligadas a esse setor
têm sido alvo de críticas, principalmente as relacionadas aos impactos políticos, econômicos,
ambientais e distributivos (GARCIA; BUAINAIN, 2016).
Tundisi, Matsumura – Tundisi (2015, p. 24) afirmam que “As atividades humanas na
paisagem, na cobertura vegetal, nos usos do solo, produzindo erosão, sedimentação dos corpos
de água, contaminação e poluição em larga escala, estão afetando os recursos hídricos”. Ou
seja, além das consequências das atividades antrópicas nos cursos hídricos, o uso acentuado dos
mesmos, prejudica diretamente sua qualidade.
De acordo com Von Spierling (2005), a qualidade da água pode ser representada através
de parâmetros físicos, químicos e biológicos, traduzindo as suas principais características.
Sendo assim, variáveis como temperatura, pH, oxigênio dissolvido (OD) e turbidez são
importantes indicativos para a caracterização de um corpo hídrico.
O Programa Nacional de Avaliação da Qualidade das Águas (PNQA), lançado pela
Agência Nacional de Águas (ANA), tem como objetivo geral ampliar o conhecimento
relacionado à qualidade das águas superficiais, subsidiar a gestão sustentável dos recursos
hídricos no Brasil, disponibilizando informações de qualidade das águas no território nacional.
Essas informações são disponibilizadas como metadados, sendo que a partir desses, é possível
analisar e divulgar dados de uma bacia hidrográfica de interesse (ANA, 2018).
Diante do exposto, objetivou-se analisar as variáveis temperatura, pH, OD e turbidez,
durante o período de 2009 a 2017, no Ribeirão Monte Alegre, afluente do Rio Verdão, com
área de contribuição na Bacia Hidrográfica do Rio Paranaíba, no município de Rio Verde (GO),
a partir de dados fornecidos pela Agência Nacional de Águas (ANA, 2016), e comparar com os
limites determinados pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) para água doce.

2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Área de estudo
A área de estudo (Figura 1) está localizada no Sudoeste de Goiás, em Rio Verde (GO).

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Figura 1. Localização da bacia hidrográfica do Ribeirão Monte Alegre, no município de Rio


Verde, estado de Goiás (GO), Brasil.
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de bases de dados disponibilizadas pelo Sistema
Estadual de Geoinformação de Goiás (SIEG, 2018).

A microrregião sudoeste de Goiás é destaque na produção agropecuária nacional,


principalmente soja e milho, além de outros produtos como cana-de-açúcar (mais
recentemente), bovinos, aves e suínos. Rio Verde (GO), conhecido como a capital do
agronegócio em Goiás, é o principal município dessa região, além de ser a quarta maior
economia e apresentar a quarta maior população do estado de Goiás.
O clima da área de estudo é do tipo AW, caracterizado por climas úmidos tropicais, com
duas estações bem definidas: seca no inverno, de maio a outubro, e úmida no verão, de
novembro a abril (PEEL et al., 2007). A média dos totais mensais de precipitação pluviométrica
na área de estudo é de 129,12 mm, e a média dos totais anuais, de 1.619,32 mm, correspondente
ao período de 1996 a 2017 (22 anos). Os maiores níveis pluviométricos são observados nos
meses de outubro a abril, e os menores, de maio a setembro (Figura 2). Dados da estação Rio
Verde (GO) (OMM: 83470), disponibilizados no Banco de Dados Meteorológicos para Ensino
e Pesquisa (BDMEP, 2018). Desta mesma estação também foram obtidas as precipitações
pluviométricas para os dias de amostragem para melhor entender os resultados.

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Figura 2. Média mensal de precipitação (mm) de janeiro de 1996 a dezembro de 2017, na


área de estudo.
Fonte: Dados disponibilizados pelo BDMEP (2018); elaborado pelos autores.

2.2 Ponto amostral e obtenção dos resultados


O ponto amostral e estação automática de coletas de dados nº 2301, com código
60778000, denominada de Estação Fazenda Monte Alegre, estão no local com as coordenadas
geográficas -17° 19' 51''/-50° 46' 27'' (Figura 2).
Os resultados foram obtidos e disponibilizados, como metadados, pela Agência
Nacional de Águas (ANA), no atendimento ao Programa Nacional de Avaliação da Qualidade
das Águas (PNQA). A partir de metadados disponibilizados no Portal da Qualidade da Água
(ANA, 2017), foram extraídos os resultados de temperatura (T), potencial hidrogeniônico (pH),
oxigênio dissolvido (OD) e turbidez (Turb) da água do Ribeirão Monte Alegre.

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Figura 2. Localização do ponto amostral na bacia hidrográfica do Ribeirão Monte Alegre, no


município de Rio Verde, estado de Goiás (GO), Brasil.
Fonte: Elaborado pelos autores a partir da Imagem da órbita/ponto 223/72, com resolução
espacial de 10 m x 10 m, de 17 de junho de 2017, do satélite Sentinel-A2 (AMAZON S3,
2017).

A área de contribuição do ponto amostral é coberta predominantemente por vegetação


agrícola (principalmente soja e milho), apresenta construções rurais (granjas, residências e
outras), pastagem e Cerrado/mata (principalmente ciliar e de galeria, além de outros fragmentos
de vegetação nativa, como reserva legal), ver Figura 2.

3.3 Análise estatística e valores de referência


Foi realizado o estudo do desvio padrão (SD) para melhor entender os resultados e a
análise de conformidade aos padrões legais, sendo os resultados comparadas com os limites
estabelecidos pela Resolução CONAMA 357/2005 para água doce classe 1, classe 2, classe 3 e
classe 4, conforme pode ser observado na Tabela 1.

Tabela 1. Limites estabelecidos pela Resolução CONAMA 357/2005 de temperatura (T),


potencial hidrogeniônico (pH), oxigênio dissolvido (OD) e turbidez (Turb) para as classes de
água doce
Valores de referência (CONAMA 357/2005)
Vaiável
Classe 1 Classe 2 Classe 3 Classe 4
T - - - -
pH 6,0 a 9,0 6,0 a 9,0 6,0 a 9,0 6,0 a 9,0
-1
OD (mg.L ) 6,0 5,0 4,0 2,0

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Turb 40,0 100,0 100,0 -


T: temperatura; pH: potencial hidrogeniônico; OD: oxigênio dissolvido; Turb: turbidez.
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados da Resolução CONAMA 357/2005
(BRASIL, 2005).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 2 são apresentados os resultados para as variáveis temperatura, pH, oxigênio
dissolvido e turbidez, encontrados no Ribeirão Monte Alegre (GO), nos períodos de 14 de
agosto de 2009 a 22 de maio de 2017.

Tabela 2. Resultados das variáveis físico-químicas, de 2009 a 2017, no Ribeirão Monte


Alegre, no estado de Goiás, Brasil
Data de leitura Precipitação T pH OD Turb
14/08/2009 0,00 19,00 6,60 7,90 10,80
30/10/2009 0,00 23,30 6,40 6,60 74,00
02/02/2010 0,00 23,70 7,90 - 50,40
01/06/2010 0,20 17,90 6,65 8,41 18,10
29/04/2011 1,00 21,30 6,60 - 45,50
28/09/2011 0,00 22,00 6,95 4,02 10,60
28/01/2012 3,00 22,70 6,81 8,30 20,30
25/07/2012 0,00 17,80 8,50 10,00 14,10
06/11/2012 0,00 23,40 9,00 8,60 14,10
16/03/2013 51,00 23,70 7,20 7,70 211,80
21/06/2013 0,00 19,60 7,02 8,40 62,40
20/09/2013 0,00 22,00 7,40 - -
19/02/2014 27,60 24,00 7,10 7,90 16,20
16/06/2014 0,00 20,40 7,50 8,50 10,90
22/05/2017 0,00 22,70 7,10 9,30 -
Mínimo - 17,80 6,40 4,02 10,60
Máximo - 24,00 9,00 10,00 211,80
Média - 22,00 7,06 8,30 17,15
Desvio padrão - 2,09 0,70 1,38 51,75
T: temperatura; pH: potencial hidrogeniônico; OD: oxigênio dissolvido (OD); Turb: turbidez;
CE: condutividade elétrica.
Fonte: Precipitação pluviométrica: BDMEP (2018); variáveis de qualidade da água: ANA
(2016).

A Temperatura (T) é um importante parâmetro físico que mede a intensidade de calor


nas águas e o grau de aquecimento da mesma, podendo ser reflexo de fatores ligados à geologia
local e clima (PIRATOBA et al., 2017).

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Os organismos aquáticos possuem T adequada para o crescimento, incubação de ovos,


migração e taxa de reações (físicas, químicas e biológicas) e outros, ou seja, essa variável
desempenha um papel de controle do meio aquático. Segundo Libânio (2010) a temperatura é
diretamente proporcional à velocidade das reações químicas, à concentração do oxigênio
dissolvido, à solubilidade das substâncias e o metabolismo dos organismos presentes no corpo
hídrico. Desse modo, pela relação com o controle e a dinâmica do ambiente aquático, essa
variável pode condicionar e influenciar outras variáveis físico-químicas.
As alterações naturais dessa variável podem ter várias explicações, como as sazonais
(ligadas às estações do ano), as diurnas que representam a diferença entre o dia e a noite, a
latitude (a proximidade da linha do equador pode aumentar consideravelmente os valores do
parâmetro). Já as alterações antrópicas podem estar relacionadas com despejos industriais e
águas de Torres de resfriamento (VON SPERLING, 2014).
A Resolução CONAMA n° 357/2005 (BRASIL, 2005) não estabelece valores para T,
porém é uma importante variável de qualidade da água como apresentado. Os valores
encontrados para temperatura nas datas de leitura variaram de 17,8 a 24 ° C, e a média obtida
foi de 22° C (Tabela 2), estando de acordo com valores encontrados nas regiões tropicais.
O potencial hidrogeniônico (pH) pode ser definido como a concentração dos íons H+
nas águas e indica o grau de acidez ou alcalinidade do meio aquático. Esse parâmetro tem papel
fundamental na vida aquática, uma vez que, geralmente os organismos estão adaptados a
condições já estabelecidas, e mudanças bruscas no pH podem desencadear uma série de
problemas. Segundo Vasconcelos (2011), o pH fora da neutralidade pode afetar a atividade dos
microrganismos e, consequentemente, resultar na instabilidade do meio.
De acordo com Libânio (2010) o pH interfere no grau de solubilidade das substâncias,
consequentemente na distribuição de formas livres e ionizadas de vários compostos químicos,
estabelecendo também o potencial de toxidade de vários elementos. Além disso, suas alterações
podem estar ligadas a atividades algal, dissolução de rochas e do lançamento de despejos
domésticos e industriais (VON SPERLING, 2014).
A resolução supracitada estabelece valores limites para pH de 6 a 9 para as quatro
classes de água doce (Tabela 1). Os resultados obtidos variaram de 6,4 a 9, sendo a média de
7,06 (Tabela 2), ou seja, em conformidade com a classe 1, classe 2, classe 3 e classe 4 de água

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doce (BRASIL, 2005). Alguns fatores como presença de APP e pequenas variações de
temperatura podem ter influenciado no resultado.
Entretanto, ao contrário dos resultados de pH obtidos neste estudo, valores em
inconformidade com a referida resolução foram observados no estudo de Paula (2011) na Bacia
Hidrográfica do Ribeirão das Pedras, em Quirinópolis, Goiás, onde a média do valor de pH
obtida foi de 6,70, sendo que em dois pontos analisados, foram observados valores de 5,40 e
5,00. A autora ressalta que esses valores podem estar associados aos dejetos de animais,
ocasionando a decomposição da matéria orgânica, já que estes locais são regularmente
utilizados para a dessedentação de gado, além das influências climáticas, geológicas e
pedológicas da região.
O oxigênio dissolvido (OD) é indispensável para os organismos aquáticos aeróbicos,
quando seus níveis são reduzidos consideravelmente, há ocorrência de morte de vários seres,
incluindo os peixes. Essa variável está ligada à qualidade dos corpos hídricos, pois está
diretamente relacionada à caracterização dos impactos da poluição das águas em decorrência
de dejetos orgânicos (VON SPERLING, 2017).
Libânio (2010) afirma que as variações no teor de OD são relacionadas aos processos
físicos, químicos e biológicos e que um dos processos que influem na redução da sua
concentração é a respiração ou degradação da matéria orgânica feita por microrganismos
presentes no ambiente. De acordo com Esteves (2011), o OD pode ser influenciado diretamente
pela temperatura, uma vez que ela está ligada com processos oxidativos (respiração dos
organismos e decomposição da matéria orgânica).
Os resultados encontrados para OD variaram de 4,02 a 10 mg.L-1 para todas as datas de
leitura, e a média obtida foi de 8,30 mg.L-1 (Tabela 2). Todos os valores obtidos atenderam ao
limite estabelecido de OD para classe 1 de água doce, com exceção do valor encontrado no dia
28/09/2011, que também ficou abaixo do limite estabelecido para a classe 2 (BRASIL, 2005) e
dentro dos níveis para classe 3, ver Tabela 1 e Tabela 2. Isso pode ter relação com atividades
antrópicas na região, como agropecuária, construções rurais (granjas de criação de aves e
suínos) e outros, que podem favorecer o incremento de matéria orgânica no curso hídrico em
questão.
No trabalho feito por Barbosa (2015) nas nascentes do Rio Meia Ponte, localizadas na
Bacia Hidrográfica do Alto Meia Ponte, Goiás, em um percurso de 200 metros onde foi

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

determinado um ponto entre jusante e outro montante, a média dos valores de oxigênio
dissolvido encontrada pelo autor foi de 5,5 mg/L-1, mínimo de 1,2 mg/L-1 e máximo de 8,0
mg/L-1 a jusante das nascentes. Já a montante das mesmas, o valor médio encontrado foi de 5,7
mg/L-1, mínimo de 2,5 mg/L-1 e máximo de 7,8 mg/L-1. O autor afirma que os baixos valores
encontrados justificam-se pela presença de atividades antrópicas, como criação de gado e
lavouras nas proximidades dos pontos amostrais.
Chagas (2015) afirma que a turbidez pode ser definida como o grau de atenuação da
passagem da luz no meio líquido. Von Sperling (2014) usa uma definição parecida como o grau
de interferência com a passagem da luz através da água, dando a água um aspecto turvo. Assim,
em suma a variável tem relação com a concentração de coloides e partículas suspensas. Quando
ela apresenta altos índices, pode reduzir a fotossíntese e, causar desequilíbrio no ambiente
aquático entre outros danos.
Alterações no seu valor podem ter origem de despejos industriais e domésticos,
microrganismos, além disso, um fenômeno muito comum que pode aumentar a turbidez em
altos níveis é a drenagem de área de atividades agropecuárias ou drenagem agrícola,
principalmente quando as práticas e manejo do solo são realizadas de forma inadequada,
podendo causar assoreamento de corpos hídricos.

Os valores obtidos para turbidez variaram de 10,60 a 211,80 UNT. Já a média, foi de
17, 15 UNT. O valor médio atendeu ao limite estabelecido pela resolução para turbidez para
águas de classe 1. Porém, cinco valores (74,00; 50,40; 45,50; 211,80; 62,40 UNT) ficaram
acima do estipulado para classe 1 (Tabela 1; Tabela 2) e um valor (211,80 UNT) ficou acima
do limite permitido para as classes 1, 2 e 3. Isso pode ter relação com a sazonalidade, devido o
maior número de valores acima do permitido ter sido encontrados nos meses de maior
precipitação (Figura 2), o que pode ter favorecido o carreamento de solo, matéria orgânica,
resíduos oriundos das atividades agropecuárias e outros para o corpo hídrico.
Em um estudo realizado por Alves (2016), no Ribeirão das Abóboras, localizado no
município de Rio Verde (GO), foram observados maiores valores de turbidez na estação
chuvosa (20,13 a 34,03 NTU), em decorrência, ressalta o autor, de drenagem agrícola.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Resultado encontrado no Ribeirão Monte Alegre para oxigênio dissolvido (valor abaixo
do limite em uma leitura) não esteve em conformidade com a Resolução CONAMA 357/05
para classe 1 e classe 2, considerando esta última a classe em que o corpo hídrico é enquadrado.
Para a variável turbidez, em cinco leituras os resultados estiveram acima do limite para classe
1 e em uma leitura esteve acima do permitido para classe 1, classe 2 e classe 3. A baixa
concentração de oxigênio dissolvido pode ter relação com o grande aporte de matéria orgânica
oriunda de ações antrópicas; para turbidez os valores altos podem ser em decorrência da
pluviosidade, que favorece o carreamento de partículas para o corpo d’água.
Os resultados encontrados acima do limite podem ser um indicativo de impactos
ambientais oriundos de atividades antrópicas presentes na área de contribuição do ambiente
amostral, como agropecuária, área industrial e construções rurais (granjas de criação de aves e
suínos, residências e outras).
Esses resultados são importantes para o planejamento e a gestão ambiental da referida
bacia hidrográfica. Recomendam-se políticas ambientais que incentivem a conservação desse
recurso hídrico, práticas agrícolas e manejo do solo mais adequadas, que possam conciliar as
atividades econômicas locais com a conservação do meio ambiente, melhorando a qualidade da
água e conservando esse importante corpo hídrico para a região.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

RELAÇÃO DO USO DOS RECURSOS HÍDRICOS E DA


PRODUTIVIDADE AGRÍCOLA ENTRE MATO GROSSO E MINAS
GERAIS NO PERÍODO DE 2016 A 2018

Izaias de Souza Silva


UFMT
izaiasdesouzailva@outlook.com

Larissa Souza Macêdo


UFMT
larissa_souza_macedo@outlook.com

Resumo: No último decênio, o Brasil tem confirmado o seu papel de abastecedor importante nos
mercados internacionais de bens primários. A sua inserção em tais mercados, entretanto, tem sido
interpretada à luz das políticas desenvolvimentistas, considerando sobretudo os efeitos provocados na
economia nacional. Tendo como fio condutor o processo de modernização da agricultura, no tocante a
implementação de novas técnicas no processo de produção, e a consequente alteração da utilização dos
recursos naturais, o presente trabalho visa analisar a utilização dos recursos hídricos na dinâmica da
produção e da produtividade do estado de Mato Grosso e do estado de Minas Gerais. Para esse fim,
contou-se com o apoio de referencial bibliográfico, dados vetoriais (mapas temáticos) processados nos
QGIS, e consultas em fontes secundárias de dados quantitativos.

Palavras-chave: Recursos hídricos; Produção; Produtividade.

1. INTRODUÇÃO
Partindo-se do contexto histórico brasileiro para analisar a sua conjuntura econômica
atual, se faz necessário uma memória de sua economia extrativista na qual se baseava outrora.
De acordo com Neto (1986), a primeira atividade extrativista desenvolvida pela coroa
portuguesa foi a extração do pau-brasil (Caesalpinia echinata) , sendo de semelhante modo a
primeira atividade econômica desenvolvida no território. Com a decadência do pau-brasil e a
crescente necessidade de assegurar a posse territorial, o plantio de cana de açúcar, importante
item no mercado europeu, foi então implantado. Inicia-se desta forma a agricultura em terras
brasileiras, sobre as bases dos latifúndios e do aparato do trabalho escravo, este último
desenvolvido até final do século XIX. A descoberta do ouro veio como fator determinante na
mobilidade da população que até então ocupava a zona costeira, a “povoar o oeste brasileiro”.
No entanto, assim como a exploração do pau-brasil a mineração decaiu rapidamente em meados
do século XVIII, e a organização espacial mais uma vez se alterou.

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Para Neto (1986), no século XIX o Brasil passa por uma fase de renascimento agrícola,
ocasionando a mudança do centro dinâmico da economia, onde regiões agrárias mais antigas
(Norte-Nordeste) entram em decadência, e a região Centro-Sul passa a se destacar, sobretudo
pelo plantio de café em grande escala. A economia cafeeira atravessa crises de superprodução,
mas devido a incentivos governamentais consegue perdurar até 1929, quando o “crack” da
Bolsa de New York gera uma crise mundial. O modelo primário-exportador é substituído pela
industrialização baseada na substituição de importações, pautado na hegemonia do modo
capitalista de produção. Como aponta Silva (1980), na agricultura porém, o modelo de relações
capitalistas e a consequente modernização na base técnica de produção se inicia em meados da
década de 60.
Apesar de estabelecer-se essa mudança de modelo de produção, ainda hoje o Brasil não
deixou suas características de um país de economia extrovertida, isto é, dependente de
exportações de produtos primários. A nível mundial, o Brasil atualmente se classifica como
segundo maior exportador de soja e terceiro em algodão, sendo concorrente em diversas outras
culturas. Sua extensão territorial junto a sua rica rede hídrica, são fatores que interferem de
maneira direta em tais resultados. Sobre essa última, o Relatório da Agencia Nacional de Águas
(ANA) do ano de 2016, aponta que 67,2% da água utilizada no país foi destinada a irrigação,
sendo essa uma demanda crescente nos últimos anos. Outros dados levantados pela Food and
Agriculture Organization (FAO) 2017, localiza o Brasil entre os dez países do mundo com
maior área equipada à irrigação. Categoricamente, a medida que se expande as áreas cultivadas
se expande também as áreas irrigadas, sejam elas em razão das culturas ou da demanda dos
mercados.

2. A PRODUÇÃO AGRÍCOLA BRASILEIRA


Em conformidade com os levantamentos estatísticos da (FAO) 2017, o ranking da
produção agrícola de grãos a nível mundial é liderada pela China, seguida pelos Estados Unidos
e Brasil. O mesmo levantamento prioriza quatro culturas, sendo elas: milho, arroz, trigo e soja.
Dentre as culturas específicas, a colocação de produção e principalmente a de exportação varia,
o que no caso brasileiro considerando o ano de 2016, as maiores produções e exportações são
essencialmente de milho e soja, esta última superando em muito as demais.

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Levando-se em conta os dados disponibilizados pela EMBRAPA (Empresa Brasileira


de Pesquisa Agropecuária), quanto as culturas de exportação desenvolvidas no território
brasileiro, a produção se organiza da seguinte forma (Figura 1):

Figura 1: Produção de Soja no Brasil, FONTE: 2017, EMBRAPA.

A liderança da produção de soja, como bem ilustra a figura 1, é da região Centro


Oeste, seguida pelo Sul, Sudeste, Norte e Nordeste. Dos três Estados que compõem o Centro
Oeste, a maior produção se dá em Mato Grosso, correspondendo a 59,84% da produção total.
O segundo estado com maior produção de soja é o Paraná. No entanto, sua produção chega a
pouco mais da metade da produção de Mato-grossense. Quanto a produção de milho,
analisemos a Figura 2:

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Figura 2: Produção de milho no Brasil. FONTE: 2017, EMBRAPA.

A análise sobre a produção da soja feita acima quanto as regiões de maior produção,
se aplica também à produção de milho. Contudo, a escala de produção é muito adversa. As 66
mil toneladas de milho produzidas em todo território brasileiro acabam se tornando diminutas
frente as 95 mil toneladas de soja. O Brasil notoriamente produz mais soja do que qualquer
outra cultura, segundo dados da FAO, até o ano de 2026 ele terá se tornado o maior produtor
de soja do mundo, superando os Estados Unidos, maior produtor atual.

3. A UTLIZAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS


A utilização de recursos hídricos no Brasil é regulamentada pela lei n° 9.433. De acordo
com o art. 1° inciso IV da mesma, “a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o
uso múltiplo das águas”. Responsável por essa gestão, a ANA apresenta no Relatório de
Conjuntura de 2017 o uso da água preponderante no Brasil nos anos de 1940 e 2016, ilustrado
na figura abaixo (Figura 3).

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Figura 3: Uso da Água Preponderante no Brasil (1940 e 2016) FONTE: 2017, ANA.

Como é possível observar, o abastecimento humano rural e o uso animal caiu


drasticamente durante as últimas décadas, enquanto a irrigação tem ganhado espaço
significativo. A proposta de uso múltiplo ainda é válida, mas a proporção é no mínimo
alarmante. A irrigação detém 67,2% da média anual do consumo de água em todo o país,
enquanto as indústrias, mineração, abastecimento urbano, abastecimento animal, termelétricas
e abastecimento rural totalizam 32,8% desse consumo. O segundo maior consumidor é o
abastecimento animal, contudo esse totaliza apenas 11,1% do valor total.
Os Estados com maior utilização dos recursos hídricos para fins de irrigação estão
localizados majoritária e contraditoriamente no litoral brasileiro. Conforme a ANA, o estado de
São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Bahia são respectivamente os estados com a maior quantidade
de hectares irrigados em 2015. Em relação à técnica de pivôs centrais, as ocorrências de tal
prática na região Centro-Oeste é ainda menos intensa em relação ao Sul, Sudeste e Nordeste.
No geral, embora todas os estados brasileiros tenham ampliado suas áreas irrigadas nas últimas
décadas, nota-se que o aumento é mais expressivo no estado de São Paulo, Minas Gerais,
Tocantins, Bahia, Rio Grande do Sul e de Goiás. O Estado de Mato Grosso, por exemplo, apesar
de suas limitações físico-climáticas, como a alta taxa de vulnerabilidade a períodos de estiagens
mais extensos e períodos chuvosos bem definidos (SOUZA et al 2013), é o estado com maior
produção, entretanto, com uma área de irrigação muito menor em relação as dos estados com
alta produtividade agrícola. A Figura 4 mostra a espacialização do uso de pivôs centrais em
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todo o território no ano de 2016, dando ênfase as Unidades Federativas com maior
preponderância destes:

Figura 4: Mapa dos estados brasileiros com maior número de pivôs centrais em funcionamento com data o ano
de 2016.

Considerando a figura 4, é possível observar a distribuição espacial do uso de pivôs


em todo o território Brasileiro. Os estados em destaque são os maiores utilizadores de tais
tecnologias, dentre tais Minas Gerais se destaca na imagem com a maior quantidade de pivôs.
Logo, para averiguar a produtividade nas áreas de irrigação o estado aludido se sobressai,
motivo pelo qual foi eleito como base de averiguação nesse estudo.

4. IRRIGAÇÃO
Como supracitado na introdução desse trabalho, a modernização na base técnica de
produção da agricultura se inicia em meados da década de 60. Considerando o Relatório de
Conjuntura 2017 (2017) divulgado pela ANA, acompanhando esse processo que se deu
paulatinamente pelo território nacional, a irrigação começa a se intensificar a partir da década
de 70 e 80, dirigindo-se de modo especial para as regiões de características físico-climáticas
mais instáveis.
Nessa perspectiva, se faz necessário esclarecer os principais métodos utilizados na
irrigação agrícola. Segundo a ANA, existem a priori quatro métodos de irrigação, sendo eles:
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superficial, subterrâneo, aspersão, e localizado. Cada método apresenta um desempenho maior


em detrimento de culturas específicas, assim como agrupam diferentes sistemas. Pivôs centrais
e carreteis são sistemas ligados ao método de aspersão, já o sistema de gotejamento ao
localizado, sendo a inundação método da irrigação superficial. Quanto ao uso de tais técnicas
em relação às culturas mais cultivadas, o mesmo Relatório de Conjuntura 2017 divulgado pela
ANA, assegura que: “Os carretéis enroladores são aplicados principalmente na irrigação da
cana-de-açúcar, já os pivôs são muito utilizados na produção de grãos, e a inundação se aplica
geralmente ao cultivo de arroz.” (p. 63).
Considerando as culturas de exportação, sobretudo soja e milho, os pivôs centrais
assumem elevada importância no processo de produção. Sendo a produção agrícola brasileira
majoritariamente baseada em grãos, o uso de pivôs centrais seria o sistema de irrigação mais
indicado para as grandes regiões produtoras. Embora se reconheça alguns dos benefícios
relacionados à irrigação por pivôs centrais, há ainda muitas limitações em se dimensionar sua
real importância na produtividade agrícola.

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Observou-se a partir da sobreposição das informações da figura 3 e da figura 4 (Uso
de Água Preponderante no Brasil, e Distribuição dos Pivôs Centrais), que a predominância do
uso dos pivôs se dá majoritariamente na Região Sudeste. Quanto a região Centro Oeste, é
possível notar uma porção maior apenas no Estado de Goiás, enquanto Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul apresentam uma quantidade muito ínfima. A região Norte apresenta o menor
índice das grandes regiões, já a região Sul e Nordeste apresentam quantidades relativamente
moderadas.
Apesar das variáveis quanto a utilização dos recursos hídricos pelos pivôs centrais, é
preciso uma análise mais sistemática da irrigação para quaisquer afirmações. O maior entrave
se dá pelo fato de que a implementação dessa técnica não se dá de maneira uniforme pelo
território. Seria necessário um estudo com diferentes escalas de análises, e como afirma Harvey
(2004), o que pode parecer relevante em uma escala nem sempre se manifesta em outras.
Constatou-se também, que entre os Estados com maior número de pivôs centrais
destaca-se: Minas Gerais, Goiás e São Paulo. Levando em consideração o ranking da produção
agrícola de milho por Estado no ano de 2016, com a base de dados do IBGE, os Estados

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supracitados estão respectivamente em 4°, 5° e 7° lugar. No que se refere a produção de soja


do mesmo ano, Goiás está em 4°, Minas Gerais em 6° e São Paulo em 8°.
Diante dos dados levantados, podemos afirmar também que as maiores áreas produtoras
de grãos do país não são as maiores consumidoras de recurso hídrico, sendo também possível
reiterar que, dada a natureza das culturas mais cultivadas, são áreas que não utilizam o sistema
técnico mais indicado para irrigação: pivôs centrais.
Nesse segmento, para estabelecer um paralelo ainda mais concreto das observações já
apontadas, analisaremos três variáveis considerado o estado de Mato Grosso, por ser o estado
brasileiro que mais produz, e Minas Gerais, por conter a maior área irrigada do país: área
plantada, produção e produtividade.
De acordo com a CONAB no tocante a área plantada, no que tange a produção de milho
entre 2015/16 a 2017/2018 o estado de Mato Grosso passa de uma área de 3.608,00 ha para
4.503,00 ha, tendo um aumento de área correspondente a 895 ha. Já em Minas Gerias a área
plantada diminui em 58 ha. Quanto a produção, Mato Grosso no período 2015/16 atinge a marca
de 15.964,00 mil t, tendo um aumento significativo em 2017/2018 totalizando 26.754,00 mil t,
o aumento da área plantada impacta diretamente no aumento de produção. No estado mineiro,
diferente do esperado, apesar da redução de 58 ha, a produção sobe nesse período, passando de
6.064,00 mil t em 2015/16 para 7.102,00 mil t. Um aumento considerável levando em conta a
redução de áreas plantadas.
Outra variável importante nesse quadro de análise é a produtividade por ha. Analisemos
os estados estudados no gráfico (Gráfico 1) abaixo:

Gráfico 1: Produtividade de milho por UF. Fonte: CONAB, 2018.

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A primeira vista, mesmo de maneira superficial já é possível notar que a linha trilhada
pelo estado de Minas Gerais (em amarelo) ascende no período abordado, enquanto a linha
representante do estado de Mato Grosso (em azul) tem um pico entre 2015/16 e 2016/17 mas
volta a decair entre 2016/17 a 2017/18. O estado mineiro, com exceção do ano de 2016/17,
mantem a liderança em produtividade, com estabilidade, a diferença no ano 2016/17 que faz
com que Mato Grosso assuma tal liderança é de apenas 287 kg, no entanto o estado não
consegue manter e sua produtividade volta a decair no período seguinte.

Analisemos da mesma maneira os dados disponibilizados pela CONAB referente a


produção de soja, sendo essa mais significativa, quantitativamente, que a cultura anterior nos
estados abordados. Ao contrário do grande aumento de área apontado no cultivo de milho,
dentro do mesmo período o estado de Mato Grosso aumenta em apenas 379 ha sua área, sendo
em Minas Gerais um aumento de 21 ha. Quanto a produção Mato Grosso deslancha, no período
2015/2016 a produção do estado é de 26.031,00 mil t, chegando a 31.497,00 mil t em 2017/18.
Já o estado mineiro aumenta de maneira lenta, porém progressiva a sua produção, sendo esse
aumento de 428 mil t entre 2015/16 e 2017/18.
No tocante a produtividade, no entanto, o estado de Minas continua hegemônico,
observemos o gráfico (Gráfico 2) abaixo:

Gráfico 2: Produtividade por UF. Fonte: CONAB, 2018.

Apesar da produtividade no estado de Minas Gerais ainda se apresentar de maneira mais


acentuada, entre 2016/17 e 2017/18 é possível notar um aumento constante, até o momento na
produtividade mato-grossense.
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A justificativa para a maior produtividade mineira se pauta principalmente na irrigação,


como já visto anteriormente, Minas Gerias é o estado brasileiro com o maior número de pivôs
centrais, tecnologia mais indicada para irrigação de grãos, logo seu uso traz efetivamente uma
maior produtividade, que tem se mantido ascendente devido a maior incorporação de tal
tecnologia no espaço temporal destacado, mesmo com diminuição em área, no caso do milho,
é possível manter uma produtividade suficiente para não decair o índice de produção.

No caso da soja, como visto anteriormente já existe uma resposta maior a produtividade,
embora não tenha alcançado ainda a mineira. Tal fator indica uma maior preocupação com a
variável produtividade. O aumento de área, embora aumente a produção, não é em primeira
instância a melhor maneira de lidar com a crescente demanda externa do país. Uma melhor
utilização do solo e dos recursos técnicos disponíveis, podem contribuir de maneira
significativa para um melhor aproveitamento dos recursos empregados e nos resultados da
produção em solo brasileiro.

6. CONCIDERAÇÕES FINAIS

A relação entre área irrigada e produtividade no território brasileiro, no que diz respeito as
duas culturas mais produzidas, são díspares. Embora Mato Grosso possua a maior produção de
milho e soja do país é o estado de Minas Gerais que lidera em produtividade. Tal apontamento
nos mostra a maneira inadequada em que a terra tem sido utilizada. Além de ser um estado
majoritariamente dominado pela monocultura, sendo consequentemente desigual o uso da terra,
deixando essa muitas vezes de cumprir seu papel social, o uso dominante do espaço ainda não
se dá de maneira satisfatória no quesito produtividade.

Logo, as áreas destinadas a plantação de culturas que servem basicamente ao comércio


externo são mal utilizadas, e crescem cada vez mais ocupando espaços que poderiam servir a
população de maneira mais direta. Uma melhor utilização do espaço já destinado a plantação
seria uma maneira mais significativa de coordenar esse espaço, levando em conta o uso de
técnicas de irrigação para suprir as necessidades das plantas e solo, e diversas outras tecnologias
voltadas para melhorar as áreas produtivas.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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REÚSO DA ÁGUA: IMPORTÂNCIA, QUALIDADE E CRITÉRIOS


PARA USO.
Santiago Soares Silva.
Universidade Federal de Goiás (UFG – Jataí – Go).
santiagogeografia@outlook.com

Guilherme Eduardo Santos Bueno.


Universidade de Rio Verde (UniRV - Campus Caiapônia – Go
guilhermeipora8@gmail.com

Eloisa Borges Reis.


Universidade de Rio Verde (UniRV - Campus Caiapônia - Go).
eloisareis_2012@hotmail.com

RESUMO: O presente artigo é principalmente um postulado de uma revisão bibliográfica que vem
tratar do reúso da água como alternativa para a gestão dos recursos hídricos, de modo a ampliar as
alternativas para reduzir a escassez hídrica e a degradação dos mananciais. Tanto em locais onde ocorre
as múltiplas agressões ao meio ambiente que reduzem a oferta de água e ainda como tecnologia de
reaproveitamento de água em regiões áridas ou semiáridas. Neste texto é discutido a importância das
águas residuárias nestas situações, bem como o fator qualidade que é talvez o elemento que mais traga
questionamentos quanto ao reúso de águas residuárias, para isto apresentamos e discutimos cinco
critérios gerais apontados por José Roberto Coppini Blum (2003) para o estabelecimento de programas
de reúso da água.

PALAVRAS CHAVES: Reúso da Água; Importância; Qualidade.

INTRODUÇÃO

As primeiras questões que se pode levantar, seriam, o que são águas residuárias? O que
é reúso da água? Questionamentos respondidos em parte pela resolução n° 54, de 28 de
novembro de 2005 do conselho nacional de recursos hídricos (CNRH), através do seu artigo 2º
diz que para efeito desta resolução, são adotadas as seguintes definições: I -água residuárias:
esgoto, água descartada, efluentes líquidos de edificações, indústrias, agroindústrias e
agropecuária, tratados ou não; II - Reúso de água: utilização de água residuárias; III - água
de reúso: águas residuárias, que se encontram dentro dos padrões exigidos para sua utilização
nas modalidades pretendidas. Quanto as suas classificações existem diversas terminologias,
segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) o reúso da água pode ser classificado em:
reúso indireto, direto e reciclagem interna. Sendo que podem ser ainda diferenciadas em reúso
indireto intencional ou não intencional. No entanto, Lavrador Filho (1987) indica as seguintes
terminologias para efeito de uniformização da linguagem: reúso indireto não planejado da água;
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reúso planejado da água; reúso indireto planejado da água; reúso direto planejado de água e
reciclagem da água. Enquanto que Westerhoff (1984) e Associação Brasileira de Engenharia
Sanitária (ABES) 1992 – Seção São Paulo, compreende que o reúso da água pode ser
classificado em reuso potável e não potável, sendo que o reúso potável acontece de forma direta
e indireta. Quanto, ao uso não potável, são principalmente para fins: agrícolas, industriais,
domésticos e recarga de aquíferos (FILHO; MANCUSO. 2003).

Acreditamos que a terminologia adotada por Westerhoff (1984) e ABES (1992), seja a
mais apropriada para o uso, por ter um poder de síntese das diversas formas de se reutilizar a
água e também por ser mais objetiva a sua organização. Corrobora neste sentido FILHO e
MANCUSO (2003) que optam por usar essa terminologia por entenderem que elas foram
amplamente utilizadas e divulgadas pela ABES nos “cadernos de Engenharia Sanitária e
Ambiental” em 1992. Bem como, verificamos em outras publicações que essa terminologia é
amplamente utilizada. Portanto as águas residuárias, são aquelas que passaram por algum
processo antrópico, em que se perdeu suas características naturais, neste caso se enquadra os
efluentes domésticos, industriais e o da agricultura. Estes efluentes são convencionalmente
chamados de esgotos. Entretanto, o reúso da água seria destinar estas águas de efluentes
(esgotos) para serem novamente utilizadas, podendo ser para fins potáveis ou não potáveis,
desde que atendam os padrões de qualidade definidos previamente para aquela finalidade.

No entanto é necessário mencionar que o reúso da água, tem algumas restrições quanto
a sua fonte, de acordo com Hespanhol (2002) “O reúso, para fins potáveis, só pode ser praticado,
tendo como matéria prima básica esgotos exclusivamente domésticos”. Isto porque efluentes
provenientes de processos industriais apresentam alta quantidade de compostos químicos,
metais pesados e organismos patogênicos, e isto acarreta problemas à saúde pública, como
também seu processo de tratamento terá custo mais elevado, devido a composição dos efluentes.
Os esgotos de origem doméstica/municipal não são recomendáveis para o reúso destinados a
fins potáveis, porque ainda são necessárias mais pesquisas para avaliar o impacto das
substâncias sintéticas que podem estar contidas em remédios e produtos de higiene pessoal
lançados nos efluentes. Além das questões relacionadas à saúde, deve-se considerar a aceitação
pública sobre o reúso de águas residuárias essencialmente para fins potáveis, por ainda encontra
bastante objeção por parte da sociedade, em parte pela desinformação sobre o reúso da água,
sendo assim é sugerido o reúso de efluentes para fins não potáveis.
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Iporá, 6 a 9 de junho de 2018.

Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

OBJETIVOS

O contato com a bibliografia sobre a temática, nos fez refletir sobre o grande potencial
que está diante e próximo da sociedade, mas que em muito ignoramos, talvez por falta de
conhecimento. Na nossa visão o reúso da água não é discutido ou talvez de modo muito
superficial na Geografia. Digamos que o objetivo principal é trazer esse tema para os
pesquisadores da Geografia, para ser debatido e assim fomentar pesquisas na área. Acreditamos
que os geógrafos poderão contribuir ainda mais com os estudos de potencialidades, viabilidades
e até processos de implementação real das técnicas descritas nas bibliografias específicas.

Portanto consideramos que o texto tem objetivo dualista, porque é oportunidade de


apresentar o tema aos desconhecedores, e chamar atenção de viés que pode ser explorado pela
geografia. Isto face à capacidade existente na ciência Geográfica, parte explicado pela
capacidade de síntese e leituras com conhecimentos oriundos de diferentes áreas do saber.

MATERIAIS E MÉTODOS

Este texto, é claramente uma revisão bibliográfica, considerando que há uma vastidão
de trabalhos publicados sobre o tema. E que ao menos é desconhecido o emprego do reúso da
água na microrregião do Sudoeste de Goiás. Assim vale-se principalmente dos livros Reúso da
Água (Editores: Pedro Caetanos Sanches Mancuso, Hilton Felício dos Santos) de 2003. Esta
bibliografia é indispensável para compreensão do tema, vários autores estudiosos/especialistas
apresentam suas contribuições nesta publicação. Este livro vem sendo amplamente
recomendado nas ementas da disciplina de Reúso da Água, em diversas instituições de ensino.
A outra fonte essencial para construção deste texto foi o livro: Reúso da Água: Conceitos,
teorias e práticas (autores: Dirceu d'Alkmin Telles e Regina Pacca Costa). Sendo estas as
principais referências, porém várias outras são usadas, sendo que estão devidamente
referenciadas no texto.

Realizamos uma leitura cuidadosa das referências, que também indicamos como
introdutórias ao tema. A partir das leituras procuramos levantar alguns pontos que
consideramos importantes, estes pontos foram organizamos: a) reúso como estratégia face à
escassez hídrica; b) A questão da qualidade da água e sua relação com o reúso; c) Critérios
Gerais para os programas de reúso da água. Define-se estes pontos que compreendemos ser
neste momento necessários para fazer as argumentações sobre a temática da reutilização de
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águas residuárias. Apresentado de modo crítico, a possibilitar ao leitor do texto uma sensação
de introdução ao tema e reflexão da importância do reúso da água no contexto das condições
dos recursos hídricos na atualidade.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Optamos por apresentar os resultados e discursos em formas de tópicos para melhor


trazer a compreensão do leitor, sendo os tópicos organizados a partir dos pontos estabelecidos
e indicados nos materiais e métodos do presente texto.

REÚSO COMO ESTRATÉGIA FACE À ESCASSEZ HÍDRICA.

Na introdução do livro: Reúso da Água, a um texto intitulado: Reúso de água: uma


tendência que se firma, de autoria de Arlindo Philippi Jr, o mesmo destaca que as atividades
humanas em associação com o crescimento demográfico, tem exigido atenção maior às
necessidades de uso de água para as mais diversas finalidades. Devendo se atentar em termos
qualitativos e quantitativos, principalmente em regiões com maior desenvolvimento urbano,
industrial e agrícola. O mesmo texto também coloca em destaque a exigência do acesso a água
como elemento de desenvolvimento de regiões com escassez ou má distribuição hídrica. Para
ampliar a discussão sobre essa tendência de se reutilizar águas residuárias, o autor levanta uma
questão: “como enfrentar a relação demanda/oferta de água”? Questão está que começa a ser
respondida pelo próprio formulador.

Uma das alternativas que se têm apontado para o enfrentamento do problema


é o reúso da água, importante instrumento de gestão ambiental do recurso
água e detentor de tecnologias já consagradas para sua adequada utilização.
(Philippi Jr, 2003)
O reúso da água é, portanto, uma alternativa dentre outras, de como lidar com a gestão
dos recursos hídricos face aos graves problemas ambientais. Problemas potencializados pela
ação antrópica que em nome do “desenvolvimento” tem explorado de modo não inteligente os
recursos naturais, dentre eles a água. Assim pensar em alternativas é essencialmente necessário
na atualidade, diante da realidade que se apresenta tanto em ambientes onde a abundância ou
grande oferta de água, supostamente deram margem a interpretação de que este bem era infinito.
Porém o tempo presente é claro em nos mostrar que este bem é limitado é finito. De igual modo
o reúso de água também tem se mostrado como alternativa para países ou regiões onde a
escassez e a má distribuição hídrica são realidade, sendo fator limitante da produção e qualidade

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de vida dos seus habitantes. Segundo Blum (2003), a escassez hídrica é responsável pelos
problemas mais graves de saúde pública. No entanto, o reúso visa evitar o desperdício da
oportunidade de aproveitamento de uma água de qualidade inferior para usos seguros, assim,
preservando e aumentando o estoque de água potável. É interessante a afirmação de Santos e
Mancuso.

O reúso, até há alguns anos tido como opção exótica, é hoje uma alternativa
que não pode ser ignorada, notando-se a distinção cada vez menor entre a
técnica de tratamento de água versus técnicas de tratamento de esgotos.
(SANTOS; MANCUSO. 2003. p. 04).

Outras contribuições possíveis de serem visualizadas, é que o reúso de efluentes reduz


a necessidade de retirada de água do corpo hídrico, a qual fica disponível para outros usos mais
exigentes em termos de qualidade, por exemplo para o abastecimento público, é ainda reduz o
lançamento de efluentes não tratados nos corpos hídricos. O Relatório Mundial das Nações
Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos 2017, afirma que a maior parte das
atividades humanas demanda água, e o aumento do seu uso, também de forma contínua eleva a
quantidade de águas residuárias. Sendo que nos países em desenvolvimento a absoluta maioria
dos efluentes não são tratados, e ainda lançados diretamente no meio ambiente, devido à falta
de infraestrutura, de capacidade técnica e institucional, e de financiamento. Já nos países
desenvolvidos existe uma realidade diferente.
Em média, os países de renda alta tratam cerca de 70% das águas residuais
urbanas e industriais que produzem. Essa proporção cai para 38% nos países
de renda média-alta e para 28% nos países de renda média-baixa. Nos países
de renda baixa, apenas 8% dessas águas são submetidas a algum tipo de
tratamento. Essas estimativas corroboram com o cálculo frequentemente
citado, segundo o qual, em âmbito global, mais de 80% das águas residuais
vêm sendo despejadas sem tratamento adequado.
O mesmo relatório aponta que nos países de renda alta, “a motivação para o tratamento
avançado das águas residuais diz respeito à manutenção da qualidade do meio ambiente e/ou à
busca por uma fonte alternativa de água para fazer frente à escassez desse recurso”. p. 2.
Enquanto que “No Brasil, o reúso tem sido incentivado como forma de minimizar a escassez
de água potável e a degradação de mananciais causada pelo despejo direto de esgotos e
resíduos” (Bertoncini, 2008. p. 153). A situação do não tratamento de esgotos é verificável com
dados do SNIS (Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento) que indicava que em

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2016 no Brasil apenas 57,02 % dos esgotos foram coletados, deste percentual 92,08 %
receberam tratamento.

Quanto aos seus potenciais são inúmeros, mas podemos apontar alguns: irrigação
agrícola, reúso urbano, na indústria e na recarga de aquíferos. O Relatório Mundial das Nações
Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos 2017, considera que na América Latina
e no Caribe a agricultura é a maior consumidora de água, com mais de 70% das extrações,
enquanto o abastecimento doméstico corresponde a 17% e o industrial 13%. Se considerarmos
neste primeiro momento em especial o reúso da água na agricultura em muito reduziria a
necessidade da extração de água e ainda se daria uma destinação às águas residuárias, podendo
ainda recuperar os nutrientes que nelas se encontram, dentre estes nutrientes pode-se citar o
fósforo que conforme previsões nas próximas décadas as fontes de fósforo mineral extraíveis
irão se tornar escassas ou se exaurir. Assim “É provável que a coleta e o uso da urina se tornem
componentes cada vez mais importantes na gestão ecológica das águas residuais, uma vez que
ela contém 88% de nitrogênio e 66% de fósforo encontrado nos dejetos humanos – componentes
essenciais para o crescimento das plantas”. (UNESCO, 2017. p. 5). Ou seja, as águas residuais
constituem uma alternativa para a agricultura, não só pela água em si, mas pelos nutrientes nela
contida. No Brasil, já existem experiências onde foi possível reduzir drasticamente o consumo
de NPK (Nitrogênio, Fósforo e Potássio), o que consequentemente reduz o custo da produção.
Porém não se pode estabelecer programas ou projetos de reúso da água se não for bem
dimensionados os critérios de qualidade dessa água de reúso.

A QUESTÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA E SUA RELAÇÃO COM O REÚSO.

Padrões de qualidade das águas são estabelecidos por lei, baseado em conhecimentos
científicos. No Brasil temos uma legislação que visa estabelecer padrões para a qualidade da
água, como a portaria 36/ GM e portaria 1.469 de 2000. Entretanto, os parâmetros de qualidade
para águas superficiais são estabelecidos pela resolução CONAMA nº 20. Segundo a portaria
1469/2000 no Art. 4º para os fins a que se destina esta norma, adota-se a seguinte definição
para água potável: água para consumo humano cujos parâmetros microbiológicos, físicos,
químicos e radioativos atendam ao padrão de potabilidade e que não ofereça riscos à saúde. A
definição acima se refere quanto ao padrão de qualidade de águas, é não especificamente as
águas residuárias em suas diversas aplicações. A falta de uma legislação específica faz que se

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

adote critérios da Organização Mundial da saúde – OMS, ou da Agência Americana Ambiental


– USEPA, isto se explica pela forte presença de empregos de águas residuárias para variados
fins nos EUA.

No reúso o padrão de qualidade é baseado na adequação ao uso e na fonte da água


residuária, por isso a classificação em boa ou má só não considera apenas o uso previsto.
Devendo ser verificado se a qualidade da água utilizada é adequada para atender as necessidades
de determinado uso, além de conhecer os riscos que podem apresentar para a saúde e o meio
ambiente em decorrência da origem de sua origem. A questão dos riscos associados ao reúso
das águas ainda é objeto de vários estudos em razão das dúvidas que persistem, por isso adota-
se dois princípios gerais para avaliação de riscos sanitários (BLUM, 2003) sendo eles: 1- O
reúso não potável é mais seguro que o reúso potável. 2- O reúso indireto, em que o processo
de recuperação da qualidade inclui um estágio controlador da depuração na natureza, e é mais
seguro do que o reúso direto. Para se reduzir os riscos sanitários, a indicação é que em escala
de prioridades o reúso seja: não potável indireto; não potável direto; potável indireto; e potável
direto. Ou seja, para o consumo humano é a última alternativa, mas eventualmente pode ser a
única opção, obviamente dependerá do local é as circunstâncias presentes. Contudo, deve se
sempre adotar critérios gerais que visem a qualidade da água de reúso, afim de garantir que o
produto: não cause danos à saúde pública, não traga desconforto para o usuário, não prejudique
o meio ambiente, seja confiável ao usuário e por fim seja integralmente adequado para o uso
que se pretende. Deste modo se faz necessário adoção destes critérios em qualquer
programa/projeto de reutilização dos efluentes tratados.

CRITÉRIOS GERAIS PARA OS PROGRAMAS DE REÚSO DA ÁGUA

O consultor químico José Roberto Coppini Blum (2003) estabelece cinco (5) critérios
básicos que devem ser adotados para o reúso de águas provenientes de efluentes tratados:
critérios de proteção à saúde; critérios de qualidade para aceitação pelo usuário; critérios de
proteção ambiental; critérios de confiabilidade da fonte.

1- CRITÉRIOS DE PROTEÇÃO À SAÚDE.


É fato que existe a ocorrência de problemas de saúde em razão de reúso de esgotos
brutos ou insuficientemente tratados. Principalmente devido a presença de microrganismos
patogênicos e substâncias químicas orgânicas/inorgânicas (potencialmente tóxicas), por este

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motivo diversos países e regiões de clima árido e semiárido, onde o reúso é comum adota-se
critérios ou orientações gerais que visam estabelecer padrões de qualidade para as águas
residuárias. São adotados padrões e orientações, geralmente no controle de organismos
patogênicos (bactérias, vírus, protozoários, fungos ou helmintos) através do tratamento dos
efluentes e do monitoramento. Enquanto que as substâncias químicas orgânicas/inorgânicas
podem ser evitadas dando preferência a esgotos de origem domésticas, desde modo não é
recomendável o reúso de esgotos industriais. Segundo Blum (2003.p. 138) os esgotos
municipais (domésticos) “não contém substâncias inorgânicas em teores que impeçam seu uso
para diversas finalidades, após um tratamento adequado”. Assim, é considerado que esgotos
domésticos após o processo de tratamento com tecnologias convencionais, reduz a
concentração de matéria orgânica de origem humana (material fecal) detergentes, gorduras e
etc., até os níveis exigidos para reúso.

O mesmo autor destaca medidas para o emprego do reúso da água: a) tratamento


compatível com a qualidade dos efluentes brutos ou pré-traçados disponíveis, e com os
requisitos de qualidade estabelecidos para os usos previstos; b) garantia de que o sistema de
tratamento irá produzir água com qualidade e quantidade exigidas; c) projeto de instalação e
operação do sistema de distribuição, de modo a evitar o reúso indevido em relação ao uso
preterido.

2- CRITÉRIOS DE QUALIDADE PARA ACEITAÇÃO PELO USUÁRIO.


Para o referido autor ao menos duas condições: a) a água atenda às exigências de
qualidade inerentes ao uso que ela se destina b) não cause nenhum tipo de objeção devido a sua
qualidade de estética (aspecto, cheiro). Portanto as águas de reúso devem apresentar qualidade
estética aceitável ou devem ser: límpidas; incolores e sem cheiro.
As águas de reúso devem atender exigências de qualidade para determinados fins, para
usos domésticos a água deve ser livre de cheiro, e cor, ou seja, deve ser límpida, pois muitos
irão rejeitá-la mesmo para fins não potáveis, como o seu uso para lavagem de casas e descargas
em vasos sanitários. Já o reúso para irrigação de alimentos comestíveis, as águas não devem
apresentar cheiro ou até mesmo sabor, a fim de evitar a contaminação dos alimentos. Tudo isto
acarreta padrões, ou critérios para a aceitação da sociedade em relação a reutilização das águas,
provenientes de efluentes tratados. Não esqueçamos que há uma questão psicologia de aceitação

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por parte do usuário, necessitando ainda de uma série de elementos para propiciar informações
suficientes que venha a trazer ao consumidor a segurança para o consumo.

3- CRITÉRIOS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL.


Embora estejamos falando de uma alternativa viável e ambientalmente interessante,
deve-se, contudo, lembrar que os processos podem acarretar danos ao meio ambiente. Não basta
apenas a boa intenção, é preciso refletir sobre os possíveis impactos. Um programa de reúso da
água deve procurar prever possíveis danos ambientais a fim de evitá-los. Podemos destacar
alguns problemas que podem ser acarretados quando o reúso acontece de modo indevido. a)
Degradação dos solos provocados pela prática de irrigação com água de reúso. b) Degradação
de corpos d’água superficiais. c) Degradação de águas subterrâneas.
Águas com alto teores de sais dissolvidos, particularmente cloretos, podem acarretar em
um aumento no teor natural de sais na área irrigada, e consequentemente acarretará a salinização
do solo. Quanto a Degradação de corpos d’água superficial, Blum (2003) indica que teores
elevados de nutrientes podem causar a proliferação descontrolada de algas microscópicas.
Sendo ainda que a presença de substâncias tóxicas em águas de reúso, utilizadas para o aumento
de vazão ou perenização de rios, podem trazer consequências graves para a biota aquática nas
áreas de várzeas e mangues. Já a degradação de águas subterrâneas pode ocorrer devido ao
lançamento de volumes de água aplicados superior às necessidades específicas da irrigação, e
também teores excessivos de compostos orgânicos sintéticos, metais pesados.
4- CRITÉRIOS DE CONFIABILIDADE DA FONTE
A confiabilidade da fonte é imprescindível, considerando que água de reúso a medida
que passa a ser comercializada é um produto específico que atendera os usuários/consumidores.
Blum (2003) indica que é importante conhecer a) Qualidade do efluente disponível para o reúso,
b) O tipo de tratamento aplicado e sua confiabilidade, c) Parcela de efluentes industriais nos
esgotos. Só assim é possível definir a necessidade ou não de aplicação de tratamento adicional,
ou até mesmo qual o tratamento adequado. Considerando os riscos sanitários associados ao uso
de esgotos brutos ou insuficientemente tratados ou ainda a presença de esgotos provenientes na
indústria “[...] um levantamento sobre a localização, tipo e concentração geográfica dessas
indústrias irá fornecer elementos importantes para uma avaliação e riscos relativo a compostos
tóxicos, que podem determinar a inviabilidade do reúso desses esgotos [...]” BLUM (2003, p.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

148). Sendo, portanto fundamental considerar os dados estatísticos existentes, os tratamentos


adicionais e o levantamento geográfico de localização das indústrias.

5- CRITÉRIOS DE ADEQUAÇÃO AO USO.


Por fim, a adequação dependerá do uso pretendido, ou seja, o tipo de efluente, o
tratamento, e o tratamento adicional (se for necessário), se as características físicas, químicas e
biológicas das águas de reúso, estão associadas ao uso que é pretendido. Isso exige um bom
conhecimento sobre as peculiaridades desses usos, especialmente sobre as características
requeridas. Exemplificando, na agricultura seria fundamental controlar o nível de salinidade em
função do tipo de cultura estabelecida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para a reutilização de águas residuárias para uso potável ou não potável é indicado o uso
efluentes tratados de origem doméstica, devido à baixa quantidade de substâncias
potencialmente prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente. Isto porque efluentes
provenientes de origem doméstica após receber os tratamentos de esgotos tradicionais,
apresentam características que em nada abone o seu reúso. Em relação os efluentes industriais,
estes podem ser reutilizados na própria indústria, seja por meio de resfriamento de caldeiras,
lavagem de pisos ou até mesmo para irrigação das áreas verdes da instalação predial. Deste
modo, a utilização de águas residuárias se apresenta como uma tecnologia ou alternativa viável
e eficiente na gestão hídrica. Por permitir redução da retirada da água superficial é subterrânea,
por proporcionar aos efluentes tratados uma destinação final correta, sem que traga prejuízos
ao meio ambiente e a saúde humana. Ainda mais que reutilização destas águas pode ocorrer de
diversas formas e diversos fins (agricultura, urbano, industrial e recarga de aquíferos e etc.),
porém é preciso adoção de parâmetros de qualidade, para garantir que seja uma tecnologia
sustentável, firmada nos pilares da sustentabilidade (social, econômico e ambiental).

REFERÊNCIAS

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2005. Estabelece modalidades, diretrizes e critérios gerais para a prática de reuso direito não
potável de água, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do
Brasil, Brasília, DF. Não paginado. Disponível em: < http://www.aesa.pb.gov.br/aesa-
website/wp-content/uploads/2018/02/Resolu%C3%A7%C3%A3o-n%C2%BA-54-de-28-de-
Novembro-de-2005-CNRH.pdf>. Acesso em: 25 maio. 2018.

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USP, 579 p., 1ª ed., 2003.
HESPANHOL, I. Potencial de Reuso de Água no Brasil Agricultura, Industria, Municípios,
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p. 75 – 95, 2002. Disponível em: <https://www.researchgate.net>. Acesso em: 15 abril. 2018.
______. Conselho Nacional de Meio Ambiente. Resolução CONAMA Nº 20, de 18 de junho
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para consumo humano e seu padrão de potabilidade, e dá outras providências. Diário Oficial
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PHILIPPI JR, A. Reúso da água: uma tendência que se firma. In: MANCUSO, P. C. S. et al.
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água e Esgotos 2016. Disponível em: http://www.snis.gov.br/diagnostico-agua-e-
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UNESCO. Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos
Hídricos 2017 – Resumo Executivo. 2017. Disponível em:
<http://unesdoc.unesco.org/images/0024/002475/247552por.pdf . Acesso em: 27 de maio de
2018.

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REÚSO DE ÁGUA NA AGRICULTURA

Daniela Brito Chagas


Universidade Estadual de Goiás-Campus Iporá
danii.brito.c@gmail.com

RESUMO: A escassez de água potável já é realidade em várias partes do mundo, o que só tem sido
agravada com o aumento populacional e consequentemente, com a maior geração de resíduos
poluidores, pois estes geralmente são descartados em rios que poderiam abastecer cidades inteiras.
Procurando formas alternativas de reaproveitar estas águas e diminuir o uso de água potável para fins
que não sejam os de consumo, este trabalho traz revisões literárias de artigos acerca da utilização da
água residuária na irrigação da agricultura, destacando seus pontos positivos e negativos. Além de
fornecer água, este tipo de prática ainda ajuda na biofertilização, já que sendo de reúso, traz consigo
nutrientes favoráveis as plantas, porém com a falta de pesquisa o progresso da atividade vem sendo
prejudicado, pois não há dados concretos quanto a teores de possíveis contaminantes, o que pode ser de
grande risco á saúde humana, o que acaba afetando também a parte legislativa sobre o reúso, pois sem
informações completas, se torna superficial, por não ter diretrizes baseadas em dados científicos.

Palavras-chave: Água residuária; irrigação; legislação.

INTRODUÇÃO
Atender a demanda de água da população mundial tornou-se um dos grandes desafios
da atualidade. O consumo mundial de água tem aumentado a uma taxa de aproximadamente
1% ao ano, em principal decorrência do crescimento populacional e continuará a aumentar de
forma significativa durante as próximas duas décadas, onde a demanda por água das indústrias
e das residências aumentará muito mais rápido do que a demanda da agricultura, embora o setor
agrícola continuará tendo o maior consumo em termos gerais (WWAP, 2018).
O alto consumo de água associado as grandes quantidades de efluentes gerados pelos
seres humanos têm agravado a situação de escassez e poluição da água, o que segundo dados
da Unicef hoje, menos da metade da população mundial tem acesso à água potável (HENZ et
al., 2016; ANA, Agência Nacional das Águas, s.d.).
Apesar do cenário de escassez, parte desta água potável é usada na agricultura para a
irrigação, o que corresponde a 73% do consumo mundial de água, mas embora a agricultura
irrigada seja o principal uso de água, sua importância não pode ser desprezada, uma vez que
resulta em aumento da oferta de alimentos e preços menores em relação àqueles produzidos em

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áreas não irrigadas devido ao aumento substancial da produtividade (ANA, Agência Nacional
das Águas, s.d.).
Com o intuito de diminuir a parcela de água potável utilizada para fins que não sejam
o de consumo, vêm-se procurando encontrar alternativas para diminuir a poluição dos recursos
hídricos disponíveis e uma das soluções encontradas, que já era relatada desde a Grécia Antiga,
foi a de utilizar água de reúso para a irrigação na agricultura, o que tem enorme valor, pois uma
pessoa, por dia, pode produzir cerca de 200L de águas residuárias (ANDRADE JÚNIOR, 2007).
O poder depurador do solo é muito maior que o poder depurador das águas, pois o
solo funciona como filtro, além de promover a decomposição da matéria orgânica ainda
presente em efluentes tratados, fornece água, e alguns nutrientes para as plantas. Entretanto, o
uso de resíduos em solos deve ser constantemente monitorado, para que não haja contaminação
do sistema solo-água-planta (BERTONCINI, 2008).

MATERIAIS E MÉTODOS

O trabalho foi desenvolvido através de revisões literárias baseadas em diversas


pesquisas científicas com base em experimentação, artigos e legislações.

OBJETIVOS
Objetivou-se apontar através de revisões literárias o potencial de emprego do uso de
água de reúso no meio agrícola como fonte alternativa para a irrigação.

Destacar as leis e definições que regem a prática de acordo com os órgãos competentes.

Identificar os pontos positivos e negativos da prática e a classificação dos reúsos da


água, assim como os tipos de tratamentos utilizados para que a água possa ser reutilizada.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Águas de reúso
O reúso de água não potável representa o múltiplo uso de águas, sendo também
denominado de águas recicladas, reaproveitadas, reúso ou uso de águas reutilizáveis. No reúso,
a água residuária coletada nos diversos locais é tratada e depois utilizada para diversos fins,
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

com a principal justificativa de diminuir a escassez hídrica justificada pelo crescimento


populacional, urbanização e industrialização do mundo (ANDRADE JÚNIOR, 2007).
O uso de águas reaproveitadas para irrigação de culturas tende a aumentar,
significativamente, devido à dificuldade crescente de identificar fontes alternativas de águas
para irrigação, pelo custo elevado dos fertilizantes e dos sistemas de tratamento necessários
para descarga de efluentes em corpos receptores e por fim, pela aceitação sociocultural da
prática do reúso agrícola, que pode trazer reconhecimento pelo valor intrínseco da prática
(ANA, Agência Nacional das Águas, s.d.).
Utilizar águas não potáveis ou de reúso para fins de irrigação na agricultura já é
bastante utilizado em países como Grécia, Espanha, Chipre, Palestina, Jordânia, Líbano,
Marrocos, Turquia, Israel, Austrália, México, Chile e Estados Unidos, onde cerca de 500 mil
hectares de terras agrícolas vêm sendo irrigadas com estas águas residuárias. Israel possui um
programa bastante estruturado e ambicioso que, de toda a água utilizada na irrigação de seus 19
mil hectares cultivados, 70% é de água residuária (HENZ et al., 2016).

Leis e diretrizes para o reúso de água na irrigação

A prática de reúso na irrigação ainda é pouco praticada no Brasil e sua legislação ainda
é muito branda, porém algumas definições já começam a entrar em vigor, como é o caso da
Resolução n° 54, de 28 de novembro de 2005, do Conselho Nacional de Recursos Hídricos –
CNRH, que estabelece que:

Art. 2º adota as seguintes definições:

I - água residuária: esgoto, água descartada, efluentes líquidos de


edificações, indústrias, agroindústrias e agropecuária, tratados ou não;
II - reúso de água: utilização de água residuária;
III - água de reúso: água residuária, que se encontra dentro dos padrões
exigidos para sua utilização nas modalidades pretendidas;

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

IV - reúso direto de água: uso planejado de água de reúso, conduzida ao


local de utilização, sem lançamento ou diluição prévia em corpos
hídricos superficiais ou subterrâneos;

O Art. 3º regulamenta as modalidades para as quais as águas de reúso podem ser


utilizadas:
I - reúso para fins urbanos: utilização de água de reúso para fins de
irrigação paisagística, lavagem de logradouros públicos e veículos,
desobstrução de tubulações, construção civil, edificações, combate a
incêndio, dentro da área urbana;
II - reúso para fins agrícolas e florestais: aplicação de água de reúso
para produção agrícola e cultivo de florestas plantadas;
III - reúso para fins ambientais: utilização de água de reúso para
implantação de projetos de recuperação do meio ambiente;
IV - reúso para fins industriais: utilização de água de reúso em
processos, atividades e operações industriais; e,
V - reúso na aqüicultura: utilização de água de reúso para a criação de
animais ou cultivo de vegetais aquáticos.
§ 1º As modalidades de reúso não são mutuamente excludentes,
podendo mais de uma delas ser empregada simultaneamente em uma
mesma área.

A Resolução nº 121 de 16 de dezembro de 2010, do Conselho Nacional de Recursos


Hídricos – CNRH estabelece as diretrizes e critérios para as práticas de reúso direto não potável
de água na modalidade agrícola e florestal, definidas pela Resolução CNRH nº 54, de 28 de
novembro de 2005, onde entende-se como critérios e diretrizes mais relevantes desta
Resolução, estabelece que:

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Art. 2º As características físicas, químicas e biológicas para a água em


todos os tipos de reúso para fins agrícolas e florestais deverão atender
os limites definidos na legislação pertinente.
Art. 3º A caracterização e o monitoramento periódico da água de reúso
serão realizados de acordo com critérios definidos pelo órgão ou
entidade competente, recomendando-se observar:
I – a natureza da água de reuso;
II – a tipologia do processo de tratamento;
III – o porte das instalações e vazão tratada;
IV – a variabilidade dos insumos;
V – as variações nos fluxos envolvidos; e
VI – o tipo de cultura.
Art. 5º A aplicação de água de reúso para fins agrícolas e florestais não
pode apresentar riscos ou causar danos ambientais e a saúde pública.
Art. 6º As concentrações recomendadas de elementos e substâncias
químicas no solo, para todos os tipos de reúso para fins agrícolas e
florestais, são os valores de prevenção que constam da legislação
pertinente.
Art. 7º A caracterização e o monitoramento periódico do solo que
recebe a água de reúso serão realizados de acordo com critérios
definidos pelo órgão ou entidade competente.
Art. 8º Qualquer acidente ou impacto ambiental decorrente da aplicação
da água de reuso que possa comprometer os demais usos da água no
entorno da área afetada deverá ser informado imediatamente ao órgão
ou entidade competente e ao respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica,
pelo produtor, manipulador, transportador e ou responsável técnico.
Art. 9º Os métodos de analise para determinação dos parâmetros de
qualidade da água e solo devem atender às especificações das normas
nacionais que disciplinem a matéria.

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Mesmo tendo estas leis que trazem definições e diretrizes, ainda faltam as normas que
evidenciem quais as taxas seguras de aplicação para cada cultura e quais os reais danos que
cada contaminante pode ocasionar ao sistema solo-água-planta. E a ausência de legislação
sobre o assunto pode trazer consequências como: altos riscos de contaminação do meio
ambiente, caso a água não tenha sido tratada corretamente; práticas inadequadas por não haver
informações suficientes sobre o assunto; riscos à saúde pública por contaminações e dificuldade
de autorização dos órgãos ambientais. (BERTONCINI, 2008; CUNHA et al. 2010).

Vantagens e desvantagens da utilização das águas de reúso

Os principais constituintes das águas residuárias são materiais orgânicos, nutrientes


(N, P e K), matéria inorgânica (minerais dissolvidos), substâncias químicas tóxicas e patógenos,
podendo então atuar como biofertilizante na agricultura, diminuindo os custos com insumos,
porém não substitui a adubação convencional, já que não fornece todos os nutrientes necessários
para o bom desenvolvimento da maioria das culturas, ainda que disponibilize uma boa
quantidade de macro e micronutrientes. Além disso outras vantagens da prática de reúso está
na substituição das águas de melhor qualidade, pelas não potáveis e no controle de poluição
sobre corpos hídricos receptores, uma vez que os esgotos seriam depositados nos rios e da
diminuição da eutrofização.(ANDRADE JÚNIOR, 2007; HENZ et al., 2016).
Mesmo sendo largamente utilizado, alguns entraves técnicos podem ser encontrados
até que a água possa ser reutilizada, como a mistura de esgoto doméstico e industrial na mesma
rede coletora, a falta de tratamento de esgoto, o que resulta em baixa oferta de efluentes tratados
e a ausência de tratamentos secundários e desinfecção, que removeriam contaminantes do
efluente, possibilitando seu uso em culturas agrícolas. (BERTONCINI, 2008).
Por não conter legislação que declare os padrões permitidos de contaminantes, estas
águas podem ter um potencial de risco à saúde humana, uma vez que podem ser fontes de
contaminação de alimentos por ainda conterem substâncias químicas tóxicas, podem
contaminar diretamente trabalhadores e público pelos aerossóis e ainda contaminar os
consumidores de carne dos animais que se alimentavam das pastagens irrigadas ou que foram
criados em lagoas contaminadas, por tais motivos é que as irrigações com efluente sanitário
utilizam na maior parte dos ensaios a irrigação por inundação, sulcos rasos e gotejamento,

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

evitando-se os métodos de pulverização que produzem aerossóis e podem disseminar patógenos


e outros contaminantes (CUNHA et al., 2010; BERTONCINI, 2008).

Tipos de tratamentos das águas residuárias

Para que as águas possam ser reutilizadas, é preciso que estas passem por uma série de
tratamentos onde o principal objetivo é diminuir a quantidade dos sólidos totais suspensos e
dissolvidos, a demanda bioquímica de oxigênio (DBO), a demanda química de oxigênio (DQO)
e também exterminar o máximo possível de organismos patogênicos (BERTONCINI, 2008).
De acordo com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES,
1997), os tratamentos dos efluentes consistem em:
• Tratamentos preliminares: retirada de material mais grosseiro
como areia, sólidos grandes, óleos e graxas, utilizando grades, caixas
de areia e tanques de flutuação;
• Tratamentos primários: retirada de materiais sólidos em
suspensão, não grosseiros, em unidades de sedimentação e
decantadores;
• Tratamentos secundários: remoção de sólidos e de matéria
orgânica não sedimentável e, eventualmente, nutrientes como
nitrogênio e fósforo;
• Tratamentos terciários: remoção de poluentes tóxicos ou não
biodegradáveis ou eliminação de poluentes não degradados no
tratamento secundário;
• Desinfecção: eliminação dos patógenos que sobreviveram aos
tratamentos anteriores, utilizando métodos naturais, como lagoa de
maturação, ou métodos artificiais, como a radiação ultravioleta, a
cloração e a ozonização.

Categorias de reúso

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A utilização de água proveniente de reúso é diferenciada para irrigação de plantas de


acordo com suas divisões, em um primeiro grupo estão as não comestíveis como silvicultura,
pastagens, fibras e sementes e o segundo grupo, as comestíveis, que são as plantas consumidas
cozidas e cruas, onde as comestíveis necessitam de um nível maior de qualidade. Além das
divisões dos alimentos, ainda há as divisões de categorias de reúso, que são as potáveis e as não
potáveis:
• Reúso potável direto: quando o efluente recuperado, por meio de tratamento
avançado, é diretamente reutilizado no sistema de água potável.
• Reúso potável indireto: caso em que o efluente, após o tratamento, é
disposto na coleção de águas superficiais ou subterrâneas para diluição, purificação
natural e subsequente captação, tratamento e é, finalmente, utilizado como água
potável.
• Reúso não potável para fins agrícolas: embora quando se pratique essa
modalidade de reúso via de regra haja, como subproduto, recarga do lençol
subterrâneo, o seu objetivo principal é a irrigação de plantas alimentícias, tais como
árvores frutíferas e cereais, e plantas não alimentícias, como pastagens e forrageiras,
além de ser aplicável para a dessedentação de animais (ANA, Agência Nacional das
Águas, s.d.).

As águas de reúso não potáveis para fins agrícolas é aquela a qual se espera obter para
a irrigação da agricultura.
Para a prática do reúso é necessário conhecer as bases legais e assim definir a forma
correta do mesmo (ANA, Agência Nacional das Águas, s.d.).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de haver muitos entraves, se bem estruturado e com a ajuda de pesquisas, no


Brasil, esta poderia ser uma saída de grande sucesso para os estados que possuem escassez dos
recursos hídricos, pois assim como é sucesso em Israel, poderia ser nos estados do Nordeste
Brasileiro.

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A diminuição dos efluentes nos cursos dos rios já mostra o quão benéfico a reutilização
das águas não potáveis pode ser.
As leis quanto ao reúso já deveriam estar presentes e completas, assim como as
pesquisas, que deveriam avançar nesta área, pois assim diminuiria a dificuldade de
implementação da prática, a disseminação de informações seria maior o que ajudaria a cometer
menos erros e aproveitar mais os benefícios das águas de reúso.

REFERÊNCIAS
ANA. Agência Nacional das Águas. Reúso de água agrícola e florestal. [S. l.], s.d. Disponível
em: <https://capacitacao.ead.unesp.br/dspace/bitstream/ana/84/10/Unidade_1.pdf>. Acesso
em: 12 maio 2018.

ANDRADE JÚNIOR, A. S. de, et al. Reúso de águas residuárias tratadas nas irrigações.
Embrapa Meio-Norte: Teresina, PI, 2007. Disponível em:
<https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CPAMN-2009-
09/21758/1/reuso_aguas_2.pdf>. Acesso em: 13 maio 2018.

BERTONCINI, I. E. TRATAMENTO DE EFLUENTES E REÚSO DA ÁGUA NO MEIO


AGRÍCOLA. Revista Tecnologia & Inovação Agropecuária. São Paulo, v.1, n.1, 18 p. , jun.
2008. Disponível em:
<http://www.apta.sp.gov.br/Publicacoes/T&IA/T&IAv1n1/Revista_Apta_Artigo_118.pdf >.
Acesso em: 13 maio 2018.

BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Informe Infraestrutura.


Área de Projetos de Infraestrutura. Tratamento de Esgoto: Tecnologias Acessíveis. Nº16, 1997.
Disponível em: <
https://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhe
cimento/infra/g7416.pdf >. Acesso em: 12 maio 2018.
CNRH (Conselho Nacional de Recursos Hídricos). Resolução nº 54 de 28 de novembro de
2005. Estabelece modalidades, diretrizes e critérios gerais para a prática de reúso direto não
potável de água, e dá outras providências. Brasília, DF. 2005. Disponível em:

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III Fórum Regional das Águas e XX Encontro de Geografia da UEG
Iporá, 6 a 9 de junho de 2018.

Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

http://www.cnrh.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=14. Acesso em: 13


maio 2018.
CNRH (Conselho Nacional de Recursos Hídricos). Resolução nº 121, de 16 de dezembro de
2010. Estabelece diretrizes e critérios para a prática de reúso direto não potável de água na
modalidade agrícola e florestal, definida na Resolução CNRH nº 54 de 28 de novembro de
2005. Brasília, DF. 2010. Disponível em:
http://www.cnrh.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=14. Acesso em: 13
maio 2018.
CUNHA, A. H. N.; et al. O reuso de água no Brasil. In: VIII SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO
CIENTÍFICA E V JORNADA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO, 8, 2010, Anápolis.
Anais eletrônicos... Anápolis: UEG, 2010. Disponível em:
<http://www.prp2.ueg.br/sic2010/apresentacao/trabalhos/pdf/agrarias/seminario/reuso_de_ag
ua_no_brasil.pdf>. Acesso em: 20 maio 2018.

HENZ, F. et al. Reúso da água para fins agrícolas. In: ANAIS DA X AGRO, 10, 2016, Cascavel.
Anais eletrônicos… Disponível em:
<https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CPAMN-2009
09/21758/1/reuso_aguas_2.pdf>. Acesso em: 13 maio 2018.

WWAP (United Nations World Water Assessment Programme). 2018. The United Nations
World Water Development Report 2018: Nature-based Solutions. Paris, UNESCO. Disponível
em: <http://www.unesco.org/new/en/naturalsciences/environment/water/wwap/wwdr/2018-
nature-based-solutions/> Acesso em: 14 maio 2018.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

SUBSÍDIO À GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICO: DEMANDA


BIOQUÍMICA DE OXIGÊNIO E OXIGÊNIO DISSOLVIDO NA ÁGUA
DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MEIA PONTE, GOIÁS, BRASIL
Wellmo dos Santos Alves
Universidade Federal de Jataí (UFJ)
wellmoagro2@gmail.com

Alécio Perini Martins


Universidade Federal de Jataí (UFJ)
alecioperini@yahoo.com.br

Iraci Scopel
Universidade Federal de Jataí (UFJ)
iraciscopel@gmail.com

RESUMO: Considerando a importância dos recursos hídricos para as diversas formas de vida e os
impactos ambientais negativos causados a estes recursos pela ação antrópica, objetivou-se analisar a
demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e o oxigênio dissolvido (OD) na água do Rio Meia Ponte,
localizado dentro da região centro-sul do Estado de Goiás. Os resultados foram obtidos pela Secretaria
Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Goiás (SEMARH-GO), atualmente denominada de
Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Infraestrutura, Cidades e Assuntos
Metropolitanos (SECIMA), e disponibilizados pela Agencia Nacional de Águas no formato de
metadados. Destes foram extraídos os resultados de DBO e OD para sete pontos amostrais, os quais
foram nomeados de ponto 1 (P1) a ponto 7 (P7), localizados ao longo do Rio Meia Ponte, um dos
principais cursos hídricos na região supracitada. Os resultados foram comparados com limites
estabelecidos pela Resolução CONAMA 357/2005 para água doce classe 1 (limite: DBO  3 mg.L-1;
OD  6,00 mg.L-1), classe 2 (limite: DBO  5,0 mg.L-1; OD  5,0 mg.L-1), classe 3 (limite: DBO  10,0
mg.L-1; OD  4,0 mg.L-1) e classe 4 (limite: DBO  10,0 mg.L-1; OD > 2,0 mg.L-1). Ressalta-se que,
conforme a resolução supracitada, o curso hídrico em questão é enquadrado na classe 2. Os maiores
resultados de DBO e menores resultados de OD, considerando a média para cada ponto amostral, foram
observados para os pontos amostrais P3 (DBO: 5,1 mg.L-1; OD: 4,9 mg.L-1), P4 (DBO: 7,2 mg.L-1; OD:
4,9 mg.L-1) e P5 (DBO: 8,0 mg.L-1; OD: 3,6 mg.L-1). Para DBO, os resultados obtidos (média) que
atenderam: a classe 1, foram os do P1 (3,0 mg.L-1), P6 (2,4 mg.L-1) e P7 (1,7 mg.L-1); classe 2, P2 (3,8
mg.L-1); classe 3, P3 (5,1 mg.L-1), P4 (7,2 mg.L-1) e P5 (8,0 mg.L-1); e classe 4, nenhum. Os valores,
considerando a média, de OD que atenderam a: classe 1, foram os do P1 (6,5 mg.L-1), P2 (6,0 mg.L-1) e
P6 (6,3 mg.L-1); classe 2, P7 (5,8 mg.L-1); classe 3, P3 (4,9 mg.L-1) e P5 (4,2 mg.L-1); e classe 4, nenhum.
Considerando que o corpo hídrico é classe 2, os resultados de DBO e OD em inconformidade foram obtidos
para os pontos P3, P4 e P5. Os altos valores de DBO e baixos valores de OD têm relação com incremento de
matéria orgânica no corpo hídrico por ação antrópica. Estes resultados subsidiaram a gestão ambiental desse
recurso hídrico.
Palavras chaves: gestão ambiental, impactos ambientais, Resolução CONAMA 357/2005.

1 INTRODUÇÃO
A poluição compromete os recursos hídricos em várias regiões, sendo prejudicado, nas
cidades, pelo seu crescente consumo, contaminação por esgotos domésticos, ocupação das

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

margens dos arroios e rios por habitações e, na zona rural, pela exploração exagerada e
destruição da mata ciliar, originando espaço ocupado com atividades agrícolas e de pecuária e,
muitas vezes, com o aporte de excrementos de origem animal (SILVA et al., 2008).
A crescente produção agrícola está contribuindo de forma efetiva para a contaminação
das águas, tanto em nível superficial quanto subterrâneo. Esta contaminação ocorre tanto pelo
uso indiscriminado de defensivos agrícolas, quanto por falta de informação ou pelo interesse
no lucro (PRATES; GEBARA; RÉ-POPPI, 2011). Outro problema ambiental é o grande
volume de despejos de resíduos (domésticos e industriais) nos cursos hídricos sem tratamento
apropriado, causando impactos negativos na qualidade da água e, consequentemente, danos à
fauna, flora e ao homem (TUNDISI; MATSUMURA-TUNDISI, 2008; ESTEVES, 2011;
ALVES, 2016).
A Lei Federal nº 9.433 de 8 de janeiro de 1997 institui a bacia hidrográfica como unidade
territorial para aplicação da Política Nacional de Recursos Hídricos. (PNRH), sondo a bacia
hidrográfica definida como unidade para a gestão do meio ambiental, onde podem ser
encontradas transformações causadas espontaneamente ou pelo homem (BRASIL, 1997).
A Resolução CONAMA n° 357, de 17 de março de 2005, dispõe sobre a classificação
e diretrizes ambientais para o enquadramento dos corpos de água superficiais e dá outras
providências. As águas doces são classificadas, segundo a qualidade requerida para os seus usos
preponderantes, em cinco classes de qualidade, sendo estas: especial (destinadas ao
abastecimento para consumo humano, com desinfecção; à preservação do equilíbrio natural das
comunidades aquáticas; à preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de
proteção integral); classe 1 (podem ser destinadas ao abastecimento para consumo humano,
após tratamento simplificado; à proteção das comunidades aquáticas; à recreação de contato
primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho, conforme Resolução CONAMA no
274, de 2000; à irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam
rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de película; e à proteção das
comunidades aquáticas em Terras Indígenas); classe 2 (podem ser destinadas ao abastecimento
para consumo humano, após tratamento convencional; à proteção das comunidades aquáticas;
à recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho, conforme
Resolução CONAMA no 274, de 2000; à irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques,
jardins, campos de esporte e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto; e à

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

aquicultura e à atividade de pesca); classe 3 (podem ser destinadas ao abastecimento para


consumo humano, após tratamento convencional ou avançado; à irrigação de culturas arbóreas,
cerealíferas e forrageiras; à pesca amadora; à recreação de contato secundário; e à
dessedentação de animais); e classe 4 (podem ser destinadas à navegação; e à harmonia
paisagística) (BRASIL, 2005).
Conforme a resolução supracitada, nas águas de classe especial deverão ser mantidas as
condições naturais do corpo de água (BRASIL, 2005). Ou seja, essa classe não é considerada
para as bacias hidrográficas alteradas por ações antrópicas (como uso intensivo dos solos para
produção agropecuária, urbanização, industrialização, etc.) desfavoráveis a essas condições.
A qualidade da água de um curso hídrico reflete os efeitos agregados de vários processos
ao longo do caminho percorrido pela água e são influenciadas pelas características da bacia
hidrográfica, podendo ser determinada por meio de análises de variáveis de qualidade da água,
dentre as quais a demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e o oxigênio dissolvido (OD).
A DBO de uma água é a quantidade de oxigênio necessária para oxidar a matéria
orgânica por decomposição microbiana aeróbia para uma forma inorgânica estável, em outras
palavras, é a quantidade necessário de oxigênio para as bactérias aeróbias consumirem a matéria
orgânica presente em um corpo hídricos (cursos hídricos, reservatórios, lagos e outros); e o OD
é a concentração de oxigênio contido na água (O2), essencial para a biodiversidade aquática
(CETESB, 2016).
Tendo em visa ampliar o conhecimento sobre a qualidade das águas superficiais no
Brasil, no intuito de orientar a elaboração de políticas públicas para a recuperação da qualidade
ambiental em corpos d'agua interiores como rios e reservatórios, contribuindo assim com a
gestão sustentável dos recursos hídricos, a Agencia Nacional de Águas lançou o Programa
Nacional de Avaliação da Qualidade das Águas (PNQA) (ANA, 2016). A partir desse
programa, são disponibilizados meta dados georreferenciados sobre variáveis de qualidade da
água no site dessa agência, sendo possível extrair dessas bases informações de qualidade da
água de uma unidade territorial (como de bacia hidrográfica) de interesse para estudos e
divulgação ao público em geral.
Assim, este trabalho teve como objetivo entender os impactos na qualidade da água do
Rio Meia Ponte, localizado em Goiás, por meio de estudos de OD e DBO.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

A região onde está inserida a bacia hidrográfica deste estudo abriga o maior contingente
populacional do Estado de Goiás, apresentando grande importância estratégica do ponto de
vista social, econômico e ambiental (VEIGA et al., 2013). A bacia hidrográfica do Rio Meia
Ponte, um dos principais Recursos Hídricos do Estado de Goiás, recebe despejos de poluição
indiretamente como diretamente, sujeita às inúmeras ações antrópicas, como lançamento de
esgotos, desmatamentos, extração de areia, ocupação das margens por moradias humanas
(CARVALHO e SIQUEIRA, 2011).

2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Área de estudo, pontos amostrais, obtenção e análise dos resultados
A Bacia Hidrográfica (12.548,50 km ²) do Rio Meia Ponte está localizada dentro da
região centro-sul do Estado de Goiás, na região central do Brasil, conforme Figura 1.
Os pontos amostrais, 7 no total, estão localizados ao longo do corpo hídrico, da nascente
principal (ponto 1: P1) a até próximo a foz (ponto 7: P7), como pode ser observado na Figura
1.
No Quadro 1 são apresentados as coordenadas de localização e os códigos das estações
de monitoramento. No Quadro 2 são apresentadas descrições do uso cobertura da terra nas áreas
de contribuição dos pontoas amostrais na bacia hidrográfica em questão.
Os resultados foram obtidos pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos
Hídricos de Goiás (SEMARH-GO), atualmente denominada de Secretaria de Estado de Meio
Ambiente, Recursos Hídricos, Infraestrutura, Cidades e Assuntos Metropolitanos (SECIMA),
integrante/parceira do Programa Nacional de Avaliação da Qualidade das Águas (PNQA), e
disponibilizados pela Agencia Nacional de Águas (ANA, 2016) no formato de metadados.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Figura 1. Localização da bacia hidrográfica do Rio Meia Ponte e dos pontos amostrais, no
Estado de Goiás (GO), Brasil.

Quadro 1. Coordenadas de localização e códigos das estações de monitoramento nos pontoas


amostrais na bacia hidrográfica do Rio Meia Ponte, Goiás, Brasil
Ponto Latitude Longitude Código da estação
P1 -18,47733 -49,61553 RMP07
P2 -17,44592 -49,22967 RMP06
P3 -17,01575 -49,08123 RMP05
P4 -16,74145 -49,14346 RMP04
P5 -16,64203 -49,25667 RMP03
P6 -16,56961 -49,32912 RMP02
P7 -16,13625 -49,54636 RMP01
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de metadados disponibilizados pela Agencia Nacional de
Águas (ANA, 2016).

A partir dos metadados geográficos disponibilizados pela ANA (2016), foram extraídos
a rede de drenagem, a área da bacia, os pontos amostrais e os resultados de demanda bioquímica
de oxigênio (DBO) e oxigênio dissolvido (OD) na água da bacia hidrográfica do Rio Meia
Ponte, Goiás.
A análise estatísticas realizada para melhor entender os resultados foi o estudo do desvio
padrão, como disponibilizado pela ANA (2016). Foi realizada análise de conformidade aos
padrões legais, sendo as médias comparadas com limites (valores de referências) estabelecidos
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pela Resolução CONAMA 357/2005 para água doce classe 1, classe 2, classe 3 e classe 4
(Tabela 1).

Quadro 2. Descrição dos usos e cobertura nas áreas de contribuição dos pontoas amostrais na
bacia hidrográfica do Rio Meia Ponte, Goiás, Brasil
Ponto
Descrição
amostral
Localizado na nascente principal, sendo esta protegida por vegetação de cerrado,
P1 antes de áreas urbanizadas. A partir da vegetação nativa, observa-se áreas de
pastagem.
Localizado a 74,98 km da nascente principal. Os usos observados na área de
contribuição são: agricultura (predominante), pastagem, área urbana (Itauçu,
P2 Inhumas, Damolândia, Ouro Verde de Goiás, Nova Veneza, Brazabrantes,
Goianira, Santo Antônio de Goiás, Neropolis, Terezopolis de Goiás, Goianápolis,
Santo Antônio de Goiás, Anápolis, Campo Limpo, Damolândia) e industrial.
Localizado a 88,19 km da nascente principal, dentro do perímetro urbano de
Goiânia. Os usos observados na área de contribuição são: agricultura
(predominante), pastagem, área urbana (Itauçu, Inhumas, Damolândia, Ouro
P3
Verde de Goiás, Nova Veneza, Brazabrantes, Goianira, Santo Antônio de Goiás,
Neropolis, Terezopolis de Goiás, Goianápolis, Santo Antônio de Goiás, Anápolis,
Campo Limpo, Damolândia, Goiânia) e industrial.
Localizado a 109,48 km da nascente principal, logo depois do perímetro urbano
de Goiânia. Os usos observados na área de contribuição são: agricultura
(predominante), pastagem, área urbana (Itauçu, Inhumas, Damolândia, Ouro
P4 Verde de Goiás, Nova Veneza, Brazabrantes, Goianira, Santo Antônio de Goiás,
Neropolis, Terezopolis de Goiás, Goianápolis, Santo Antônio de Goiás, Anápolis,
Campo Limpo, Damolândia, Goiânia, Aparecida de Goiânia, Senador Canedo,
Bonfinópolis) e industrial.
Localizado a 155,72 km da nascente principal. Os usos observados na área de
contribuição são: agricultura (predominante), pastagem, área urbana (Itauçu,
Inhumas, Damolândia, Ouro Verde de Goiás, Nova Veneza, Brazabrantes,
P5 Goianira, Santo Antônio de Goiás, Neropolis, Terezopolis de Goiás, Goianápolis,
Santo Antônio de Goiás, Anápolis, Campo Limpo, Damolândia, Goiânia,
Aparecida de Goiânia, Senador Canedo, Bonfinópolis, Caldazinha, Aragoiânia,
Hidrolândia, Bela Vista de Goiás) e industrial.
Localizado a 231,35 km da nascente principal. Os usos observados na área de
contribuição são: agricultura (predominante), pastagem, área urbana (Itauçu,
Inhumas, Damolândia, Ouro Verde de Goiás, Nova Veneza, Brazabrantes,
Goianira, Santo Antônio de Goiás, Neropolis, Terezopolis de Goiás, Goianápolis,
P6
Santo Antônio de Goiás, Anápolis, Campo Limpo, Damolândia, Goiânia,
Aparecida de Goiânia, Senador Canedo, Bonfinópolis, Caldazinha, Aragoiânia,
Hidrolândia, Bela Vista de Goiás, Professor Jamil, Cromínia, Piracanjuba) e
industrial.
Localizado a 419,91 km da nascente principal. Os usos observados na área de
P7
contribuição são: agricultura (predominante), pastagem, área urbana (Itauçu,
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Inhumas, Damolândia, Ouro Verde de Goiás, Nova Veneza, Brazabrantes,


Goianira, Santo Antônio de Goiás, Neropolis, Terezopolis de Goiás, Goianápolis,
Santo Antônio de Goiás, Anápolis, Campo Limpo, Damolândia, Goiânia,
Aparecida de Goiânia, Senador Canedo, Bonfinópolis, Caldazinha, Aragoiânia,
Hidrolândia, Bela Vista de Goiás, Professor Jamil, Cromínia, Piracanjuba,
Pontalina, Morrinhos, Aloândia, Goiatuba, Panamá, Bom Jesus de Goiás) e
industrial.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Observa-se, na Tabela 1, que as exigências ou restrições quanto ao nível de impacto nas


águas doces superficiais aumentam da classe 4 para a classe 1.

Tabela 1. Limites estabelecidos (valores de referência) pela Resolução CONAMA 357/2005 de


demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e oxigênio dissolvido (OD) para as classes de água doce
Valores de referência (CONAMA 357/2005) para OD e DBO (mg.L-1)
Vaiável
Classe 1 Classe 2 Classe 3 Classe 4
OD (mg.L ) -1
 6,00  5,0  4,0 > 2,0
DBO (mg.L-1)  3,0  5,0  10,0  10,0
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da Resolução CONAMA 357/2005 (BRASIL,
2005).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos a partir de metadados disponibilizados pela ANA (2016) de
demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e oxigênio dissolvido (OD) são apresentados na
Tabela 2 e Tabela 3, respectivamente.
Os valores de DBO obtidos ao longo do Rio Meia Ponte variaram de 0,0 a 49,0 mg.L-1.
Os menores valores foram observados nos pontos amostrais P1 (0,0 mg.L-1), P2 (0,5 mg.L-1),
P5 (0,5 mg.L-1), P6 (0,0 mg.L-1) e P7 (0,0 mg.L-1). Foram observados maiores valores nos
pontos P1 a P5. Considerando a média geral para cada ponto amostral, foram observadas
maiores médias nos pontos P3 (5,1±7,0 mg.L-1), P4 (7,2±6,3 mg.L-1) e P5 (8,0±10,0 mg.L-1).
Quanto à análise de conformidade aos padrões legais, as águas foram classificadas em: classe
1, nos pontos P1, P6 e P7; classe 2, no P2; e classe 3, P3, P4 e P5. Considerando que o Rio
Meio Ponte é enquadrado na classe 2, os resultados obtidos para os pontos P3, P4 e P5 não
atenderam aos limites exigidos na Resolução CONAMA 357/2005 (BRASIL, 2005), ver Tabela
1 e Tabela 2.

Tabela 2. Resultados de demanda bioquímica de oxigênio (DBO), de 2001 a 2014, no Rio


Meia Ponte, no Estado de Goiás, Brasil
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Demanda bioquímica de oxigênio (DBO) em mg.L-1


Ponto amostral NU MI MA ME SD
1 32 0,0 25,7 3,0 5,6
2 34 0,5 23,0 3,8 5,7
3 34 1,1 43,0 5,1 7,0
4 31 0,9 28,0 7,2 6,3
5 41 0,5 49,0 8,0 10,0
6 39 0,0 6,5 2,4 1,7
7 40 0,0 7,3 1,7 1,5
NU: número de amostras; MI: mínimo; MA: máximo; ME: média; SD: desvio padrão.
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de metadados disponibilizados pela Agencia Nacional de
Águas (ANA, 2016).

Os resultados de OD para os sete pontos amostrais variaram de 0 a 10,6 mg.L-1, sendo


os menores valores observados para os pontos amostrais P3 (1,4 mg.L-1), P4 (0,0 mg.L-1), P5
(0,0 mg.L-1). Os maiores valores foram observados para os pontos amostrais P1 (9,8 mg.L-1),
P2 (10,0 mg.L-1) e P7 (10,6 mg.L-1). Considerando a média para cada ponto amostral, as
maiores foram observadas para os pontos P1 (6,5±1,3 mg.L-1), P2 (6,0±1,4 mg.L-1), P6 (6,3±0,7
mg.L-1) e P7 (5,8±1,4 mg.L-1). Ainda considerando a média para cada ponto, observa-se que as
águas do Rio Meia Ponte atenderam aos limites de OD estabelecidos pela Resolução CONAMA
357/2005 para água doce superficial: classe 1, nos pontos P1, P2 e P6; classe 2, no ponto P7;
classe 3, nos pontos P3 e P5; e classe 4, no ponto P4. Considerando que o Rio Meia Ponte é
classificado como de classe 2, os valores médios obtidos para os pontos P3, P4, e P5 não
atenderam aos níveis estabelecidos na Resolução CONAMA 357/2005 (BRASIL, 2005),
conforme pode ser observado na Tabela 1 e Tabela 3.

Tabela 3. Resultados de oxigênio dissolvido (OD), de 2001 a 2014, no Rio Meia Ponte, no
Estado de Goiás, Brasil
Oxigênio dissolvido (OD) em mg.L-1
Ponto amostral NU MI MA ME SD
1 34 3,0 9,8 6,5 1,3
2 34 3,8 10,0 6,0 1,4
3 35 1,4 7,5 4,9 1,4
4 33 0,0 6,2 3,6 1,7
5 42 0,0 7,6 4,2 1,8
6 40 4,8 7,6 6,3 0,7
7 40 2,0 10,6 5,8 1,4
NU: número de amostras; MI: mínimo; MA: máximo; ME: média; SD: desvio padrão.

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Fonte: Elaborado pelo autor a partir de metadados disponibilizados pela Agencia Nacional de
Águas (ANA, 2016).

Os níveis altos de DBO, principalmente nos pontos P3, P4 e P5, podem ser devido ao
nível elevado de matéria orgânica, incrementada por ações antrópicas como despejos de
efluentes domésticos, industriais, agropecuários e outros sem tratamento e/ou com tratamento
inadequado. Quanto mais matéria orgânica na água, maior a proliferação de microrganismos
devido as condições favoráveis, como consequência, aumenta também o consumo de oxigênio
por esses seres microscópicos (DBO), uma vez que esse gás é necessário para a oxidação da
matéria orgânica por essa fauna microbiológica, podendo diminuir em níveis críticos o OD e
provocar desequilíbrios ambientais importantes. Observa-se nas Tabelas 2 e Tabela 3 que os
pontos amostrais P3, P4 e P5 apresentaram os maiores níveis de DBO e, consequentemente,
também apresentaram as menores concentrações de OD.
Conforme CESTESB (2016): a DBO de uma água é a quantidade de oxigênio necessária
para oxidar a matéria orgânica por decomposição microbiana aeróbia para uma forma
inorgânica estável; os maiores aumentos em termos de DBO, num corpo d’água, são
provocados por despejos de origem predominantemente orgânica; a presença de um alto teor
de matéria orgânica pode induzir ao completo esgotamento do oxigênio na água, provocando o
desaparecimento de peixes e outras formas de vida aquática; um elevado valor de DBO pode
indicar um incremento da microflora presente e interferir no equilíbrio da vida aquática, além
de produzir sabores e odores desagradáveis e, ainda, poder obstruir os filtros de areia utilizados
nas estações de tratamento de água.
Ressalta-se que, conforme (CETESB, 2016), os níveis de oxigênio dissolvido indicam
a capacidade de um corpo d’água natural em manter a vida aquática e que, nesse sentido, águas
poluídas são aquelas que apresentam baixa concentração de oxigênio dissolvido (devido ao seu
consumo na decomposição de compostos orgânicos), enquanto que as águas limpas apresentam
concentrações de oxigênio dissolvido elevadas, chegando até a um pouco abaixo da
concentração de saturação. O oxigênio dissolvido é importante para avaliar as condições
naturais da água e detectar impactos ambientais como eutrofização e poluição orgânica,
afirmam Santos e Borges (2012).
Conforme Esteves (2011), a oxidação da matéria orgânica, resultado da atividade dos
microrganismos, perda para a atmosfera, respiração de organismos aquáticos e oxidação de íons

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metálicos, como por exemplo o ferro e o manganês, contribuem para a redução da concentração
do oxigênio na água. Sperling (2005) destaca que a matéria orgânica pode ter origem natural,
ou seja, vegetal, animal e microrganismos e antropogênica como despejos domésticos e
industriais; destaca, ainda, que a matéria orgânica presente nos corpos d’água e nos esgotos é
uma característica de primordial importância, sendo a causadora do principal problema de
poluição das águas: o consumo do oxigênio dissolvido pelos microrganismos nos seus
processos metabólicos de utilização e estabilização da matéria orgânica.
Em outro trabalho, realizado por Souza, Bertossiana, Lastoria (2015), sobre a qualidade
da água do Córrego Bandeira, Campo Grande, Mato Grosso do Sul, os valores obtidos de DBO
variaram de 1 a 5,30 mg.L-1, com valores em inconformidade com os limites exigidos pela
Resolução CONAMA 357/2005 para água doce classe 2 ( 5,0 mg.L-1), assim como observado
para o Rio Meia Ponte, mas com média em conformidade (3,41 e 1,94 mg.L-1), ver Tabela 1 e
Tabela 3, sendo que os valores altos, conforme destacam os autores, são relacionados ao
incremento de matéria orgânica.
No estudo realizado por Carvalho e Siqueira (2011), nesse mesmo corpo hídrico, ou
seja, no Rio Meia Ponte, considerando somente o curso hídrico no perímetro urbano, dentro de
Goiânia, resultados de: DBO foram de 1,10 a 8,00 mg.L-1, com média de 4,41 mg.L-1; OD de
1,40 a 7,80 mg.L-1, com média de 5,34 mg.L-1. Assim, com valores em atendimento e em
inconformidade com valores de referência para água doce classe 2. Os autores ressaltam que os
impactos negativos na qualidade da água são devido a efeitos da entronização do trecho
estudado, que ao longo de seu eixo recebe inúmeros efluentes domésticos e industriais.
Rodrigues, Silva Júnior e Saleh (2015), no estudo sobre a qualidade da água do Ribeirão
Campo Alegre, em Santa Helena de Goiás (GO), observaram: DBO de 2,5 a 5,7 mg.L-1; e de
OD, de 5,20 a 6,00 mg.L-1; ou seja, valores de DBO em inconformidade com os valores de
referência para água doce classe 2, e todos os valores de OD em conformidade. Os autores
destacam que os valores baixos são devidos despejos de efluentes e que a contaminação por
microrganismos de origem fecal é característica do manancial em estudo, comprometendo
diversos possíveis usos da água do ribeirão em questão.
Santos e Borges (2012), em um outro estudo, no qual avaliaram a qualidade da água do
Ribeirão Piancó, em Goiás, também obtiveram valores baixos de OD, variando de 3,2 a 8,2
mg.L-1, ou seja, assim como observado para o Rio Meia Ponte, com valores também em

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

inconformidade com os limites estabelecidos pela Resolução CONAMA para água doce classe
2. Conforme os autores, geralmente o oxigênio dissolvido se reduz ou desaparece quando a
água recebe grandes quantidades de substâncias orgânicas biodegradáveis.
Nos estudos de Souza et al. (2015), os valores de OD variaram de 4,80 a 8,59 mg.L-1,
ou seja, também foram observaram valores abaixo do mínimo estabelecido pela Resolução
CONAMA 357/05 para águas doces classe 2 (5 mg.L-1), entretanto, com valores
predominantemente em conformidade com a classe supracitada. Os autores relatam que apesar
do córrego ser considerado um ambiente estrófico, com elevado teor de fósforo e nitrogênio, o
consumo de oxigênio pelos microrganismos não reduziu sua concentração a ponto de trazer
prejuízos para vida aquática, ao contrário de valores observados para o Rio Meia Ponte.
Nos estudos realizados por Pereira et al. (2014), sobre a variação sazonal da qualidade
da água do Ribeirão Piancó no município de Anápolis (GO), os valores obtidos de OD variaram
de 1,70 a 5,80 mg.L-1, com média de 2,45 mg.L-1 (período seco) e de 5,38 mg.L-1 (período de
estiagem), sendo que os valores baixos, conforme os autores, indicam degradação da água
provocada por ação antrópica, assim como observado nos resultados obtidos nesse estudo sobre
o Rio Meia Ponte.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Levando em conta a média para cada ponto amostral, os maiores resultados de DBO e
menores resultados de OD foram observados para os pontos amostrais P3 (DBO: 5,1 mg.L-1;
OD: 4,9 mg.L-1), P4 (DBO: 7,2 mg.L-1; OD: 4,9 mg.L-1) e P5 (DBO: 8,0 mg.L-1; OD: 3,6 mg.L-
1
). Para DBO, as médias obtidas que atenderam: a classe 1, foram os do P1 (3,0 mg.L-1), P6 (2,4
mg.L-1) e Ponto7 (1,7 mg.L-1); classe 2, P2 (3,8 mg.L-1); classe 3, P3 (5,1 mg.L-1), P4 (7,2 mg.L-
1
) e P5 (8,0 mg.L-1); e classe 4, nenhum. As médias de OD que atenderam a: classe 1, foram as
do P1 (6,5 mg.L-1), P2 (6,0 mg.L-1) e P6 (6,3 mg.L-1); classe 2, P7 (5,8 mg.L-1); classe 3, P3 (4,9
mg.L-1) e P5 (4,2 mg.L-1); e classe 4, nenhuma. Considerando que o corpo hídrico é classe 2, os
resultados de DBO e OD que não atenderam aos limites estabelecidos foram os obtidos para os
pontos P3, P4 e P5. Os altos valores de DBO e baixos valores de OD são relação com incremento
de matéria orgânica no corpo hídrico por ação antrópica, principalmente devido a lançamento de
efluentes, tanto de origem urbana como industrial, sem tratamento ou com tratamento inadequado,
resíduos oriundos de atividades agropecuária e, consequentemente, eutrofização.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Considerando a importância dos recursos hídricos para a existências das diversas formas de
vida na Terra, equilíbrio ecológico, desenvolvimento social e econômico, dentre outros, é
recomendável a implementação de programas/ações, pelos governantes, órgãos púbicos ambientais
e sociedade em geral, no intuído de recuperar e manter a qualidade da água do Rio Meia Ponte
condizentes com os limites estabelecidos pela Resolução CONAMA 357/2005 para água doce
classe 2 ou condições melhores.
Assim, estes resultados subsidiarão a gestão ambiental desse recurso hídrico e de outros,
melhorando a qualidade ambiental e, por conseguinte, a qualidade de vida.

REFERÊNCIAS
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Abóboras, no município de Rio Verde, Sudoeste de Goiás. 2016. 171 f. Dissertação
(Mestrado em Geografia). Universidade Federal de Goiás/Regional Jataí, Jataí (GO), 2016.
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Disponível em: <http://metadados.ana.gov.br/geonetwork/srv/pt/main.home>. Acesso em: 12
abr. 2018.
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de março de 2005, Seção1, p. 58-63.
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urbano do município de Goiânia - Goiás. Revista Eletrônica de Engenharia Civil, n. 1, p. 1-
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CETESB-COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL DE SÃO
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http://aguasinteriores.cetesb.sp.gov.br/publicacoes-e-relatorios/>. Acesso em: 10 maio 2018.
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PRATES, C. B.; GEBARA, S. S.; RÉ-POPPI, N. Análise de pesticidas organoclorados em
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

TRATAMENTO DE ESGOTOS LIQUÍDOS PROVENIENTES DO USO


DOMÉSTICO, NO MUNICÍPIO DE IPORÁ – GO

RAIANE SILVA LEMES


Universidade Estadual de Goiás- Iporá –
raianeslemes@gmail.com

ELIOMAR ALVES DA SILVA


Centro de Qualificação Profissional
eliomaralves@saneago.com.br

RAISA XAVIER RESENDE


Centro de Qualificação Profissional
raisaxavier@live.com

HURUALLA SILVA ROCHA


Centro de Qualificação Profissional
huruallacrisio_@hotmail.com

RESUMO: A falta de redes de esgoto é o que mais traz preocupações para o meio ambiente e saúde
pública são indissociáveis, o tratamento adequado do esgoto sanitário traz vários benefícios para a
população e também para o meio ambiente, além de ser um meio para a sustentabilidade dos recursos
hídricos. Nesse sentido o presente trabalho teve por objetivo analisar o atual cenário do sistema de
tratamento de esgoto no município de Iporá, desde de verificar sua eficiência, fases de tratamento,
benefícios e impactos que causam ao meio ambiente, com os serviços disponíveis de coleta, afastamento,
tratamento do esgoto, e verificar quais bairros do município de Iporá são atendidos pelo sistema de rede
coletora de esgotos, por meio de entrevista com profissionais capacitados da Saneago. O tratamento de
esgoto tem uma boa eficiência cerca de tratamento corresponde a 90% de eficiência de remoção e sólidos
grosseiros e eliminação de bactérias. São atendidas no momento 12.518 contas de esgoto cadastradas
cerca de 42,51% da população dispõe de acesso a coleta, afastamento e tratamento de esgoto em Iporá.
O sistema de tratamento atende a demanda de efluentes gerados no dia a dia com uma média de 40lts/seg.
Essas e mais informações são importantes e necessária, de modo a conscientizar população e demonstrar
benefícios e qualidade de tratamento dos rejeitos líquidos que são provenientes do uso diário, doméstico
em nossas residências e industrial, unindo sociedade e órgão público, conscientizando a sociedade para
a preservação do meio ambiente, e assim minimizar os impactos para a saúde e bem estar do ser humano.

Palavras chave: Saneamento básico; Tratamento de esgoto; Estação de Tratamento de Esgoto- Iporá.

1 INTRODUÇÃO
Mediante o aumento da população, o crescimento desordenado das cidades e a crescente
demanda por novos produtos no mercado de trabalho, surge a preocupação com a preservação
ambiental e dos recursos naturais, visando garantir a integridade da saúde pública, quanto ao
descarte e destinação correta dos resíduos sólidos e líquidos ao meio ambiente; nasce da

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

necessidade a ideia de integrar na mesma esfera, sociedade, indústrias, e setores públicos á


políticas de proteção e preservação ambiental, que tendem a ser cada vez mais demandados
pela sociedade.
A lei nº 9.433/97, estabelece no seu artigo 1º, I: que a água é um bem de domínio
público; partindo desse pressuposto devemos zelar pela preservação e guarda dos
mananciais, afim de adotar estratégias que visem maximizar a utilização dos recursos
hídricos e minimizar os impactos negativos relativos a geração e tratamento dos
resíduos sólidos e líquidos, destinação final ambientalmente adequada, a lei ainda
relata que em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o
consumo humano e a dessedentarão de animais, baseando na descentralização da
gestão dos recursos hídricos com a participação do poder público dos usuários e
sociedade num todo (BRASIL, 1997).

Rodrigues e Malafaia (2009) e Moraes e Jordão (2002) mostraram como a degradação


dos recursos hídricos impacta a saúde pública, em função da transmissão de doenças pela água,
pela falta de limpeza ou higienização pela água ou por vetores que se relacionam com a água.
As descobertas dos inúmeros danos ambientais resultantes das práticas inadequadas das
disposições sem controle dos resíduos têm despertado o conhecimento e a preocupação da
população do planeta sobre esta questão. A falta de redes de esgoto é o que mais traz
preocupações para a temática Meio Ambiente e Saúde Pública são indissociáveis, pretendendo-
se analisar o saneamento básico como meio para a sustentabilidade dos recursos hídricos.
Nesse sentido o presente trabalho visa abordar o atual cenário do saneamento básico da
cidade de Iporá por meio de entrevista com profissionais qualificados da Saneago, sobre as
conquistas, metas e desafios, na implantação do serviço de coleta afastamento e forma de
tratamento e sistema utilizado na prestação do serviço à população quanto à disposição e
destinação final ambientalmente adequados ao meio ambiente, de modo a evitar danos
prejuízos ou riscos à saúde pública e a segurança e a minimizar os impactos ambientais
adversos.

2 OBJETIVOS
O presente trabalho tem como objetivo analisar o atual cenário do sistema de tratamento
de esgoto no município de Iporá, por meio de entrevista com profissionais qualificados da
Saneago, desde de verificar sua eficiência, fases de tratamento, benefícios e impactos que
causam ao meio ambiente, com os serviços disponíveis de coleta, afastamento, tratamento do
esgoto, verificar quais são os bairros do município de Iporá que são atendidos pelo sistema de
rede coletora de esgotos. Além de contirnuir com informações sobre o esgotamento sanitário
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do municipio para sociedade, para conciencitizar toda a população sobre a importância do


tratamento de esgoto.

2.1 OBJETIVOS ESPECIFICOS


• Avaliar a eficiência do método de tratamento de esgoto,
• Verificar as fases de tratamento que são submetidos os dejetos coletados em nossas
residências,
• Demostrar quais bairros são atendidos pelo sistema de rede coletora de esgotos,
• Avaliar se há processos de obras de extensão e ampliação do sistema de coleta,
afastamento e tratamento de esgoto.

3 MATERIAIS E MÉTODOS
Primeiramente foi realizada uma pesquisa bibliográfica e análise documental de dados
fornecidos pela Estação de Tratamento de Esgoto (ETE – Iporá), visando buscar referências
teóricos e dados confiáveis, para verificar a atual realidade desse cenário no município de Iporá.
Realizou-se também uma entrevista utilizando como instrumento com dois profissionais
da Saneago, que são responsáveis pela ETE – Iporá, composta por 16 perguntas subjetivas que
retratada as experiências dos funcionários em relação ao sistema e etapas de funcionamento e
tratamento de esgotos do munícipio de Iporá operado pela concessionaria Saneamento de Goiás
S/a.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 Contextualização dos serviços de sanemanto em Iporá
O Saneamento de Goiás s/a, (SANEAGO) que presta serviços de água e esgoto para
cerca de 90% das sedes municipais. situado na cidade de Iporá, subdivide –se em distrito e
regional, a regional localiza-se na Rua São Paulo, com rua C, bairro Mato Grosso, compreende
escritório regional que atende aos distritos por ela subdelegados, a ETA Estação de tratamento
de água, e conta com trabalho do departamento operacional localizado na Av. 24 de outubro,
esquina com rua Francisco Sales, onde as atividades comerciais e de manutenção das redes de
água e esgoto são planejadas executadas.
A Estação De Tratamento De Esgotos – ETE Iporá (Figura 1), está localizada na saída

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para o frigorífico zona rural, no mesmo município, a ETE de Iporá está em operação desde do
ano de 2010 (SANEAGO, 2015).

Figura 1: Localização da ETE- Iporá, (Fonte: Google Maps, 2018).


O ponto de coleta de água para o abastecimento público da cidade conhecida como
captação de água bruta, é no ribeirão Santo Antôniono (Figura 2) município de Iporá – GO, no
qual ele também é o corpo receptor após o tramanento do esgoto.

Figura 2: Localização do Ribeirão Santo Antônio (Corpo receptor) (Fonte: SANEAGO, 2018).
4.2 Etapas do Tratamento de Esgoto
Resumidamente o sistema de tratamento de esgotos, funciona através da elevatória
(Figura 3), que compreende o local onde o esgoto chega após ser capitado pelas residências por
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meio de tubulações aterradas conhecidas como redes coletoras de esgoto, ligadas ao imóvel que
por sua vez tem a função de conduzir todo o esgoto coletado seja ele de origem doméstica, e
não doméstica, comercial e industrial, que por sua vez tem a função de levar por gravidade até
a estação elevatória, através de bombas usa-se de recalque para lançar o esgoto até a estação de
tratamento ETE.

Figura 3: Estação Elevatória de Esgoto de Iporá (Fonte: SANEAGO, 2012).


O tratamento de esgoto passa por várias etapas a primeira etapa, é o tratamento
preliminar – Responsável pela remoção de grandes sólidos e areia. É feita com o uso de grades
que impedem a passagem de trapos, papéis, pedaços de madeira, etc.; caixas de areia, para
retenção deste material; e tanques de flutuação para retirada de óleos e graxas em casos de
esgoto industrial com alto teor destas substâncias (SANEAGO, 2010).
Tratamento Primário – Constituído por processos físico-químicos. Os esgotos ainda
contém sólidos em suspensão não grosseiros cuja remoção pode ser feita em unidades de
sedimentação, reduzindo a matéria orgânica contida no efluente. Ocorre a separação de
partículas líquidas ou sólidas através de processos de flocação e sedimentação. Tratamento
secundário - Nesta etapa ocorre a remoção biológica dos poluentes e sua eficiência permite
produzir um efluente em conformidade com o padrão de lançamento previsto na legislação
ambiental. Etapa de Desinfecção - grande parte dos microorganismos patogênicos foi eliminada
nas etapas anteriores, mas não a sua totalidade. A desinfecção total pode ser feita pelo processo
natural através da lagoa facultativa no caso do tratamento feito em Iporá pela SANEAGO
(SANEAGO, 2010).
O processo de tratamento usado pela ETE de Iporá: Reatores UASB (Figura 4) e Lagoa
Facultativa (Figura 5). Método de tratamento muito usado pela concessionaria de serviços em

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saneamento básico de saúde no município de Iporá a Saneamento de Goiás S/A., utiliza em sem
sistema de tratamento de esgotos que são originários do uso doméstico e industrial, os sistema
de Reator UASB – Upflow Anaerobic Sludge Blanket – como características de sua atuação ele
é um reator anaeróbio de fluxo ascendente de alta eficiência. Normalmente, o reator UASB é
utilizado em processos primários para a estabilização da matéria orgânica inicial (SANEAGO,
2010).
As principais vantagens do uso desses reatores seriam o menor consumo de energia
elétrica, pois não precisam de sistemas de aeração; redução no volume de geração de lodo,
redução no consumo de produtos químicos para desidratação, menor necessidade de
equipamentos, pois o UASB não possui equipamentos eletromecânicos, diferente dos
decantadores primários, adensadores e digestores de lodos ativados convencional, menor área
de construção. E como desvantagem a representante destaca que em alguns casos existe a
possibilidade de geração de maus odores, porém controláveis (SANEAGO,2010).

Figura 4: Reator UASB da ETE de Iporá (Fonte: SANEAGO, 2018

Figura 5: Lagoa Facultativa da ETE de Iporá (Fonte: SANEAGO, 2011).

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A matéria orgânica em suspensão tende a sedimentar e se acumular no fundo da lagoa,


formando o lodo de fundo, sendo decomposto por bactérias anaeróbias, o que resta (que não é
decomposto) é a matéria inerte. A matéria orgânica de menor dimensão e dissolvida permanece
dispersa na massa da lagoa e sua decomposição ocorre pelas bactérias aeróbias e facultativas.
Em regiões onde o oxigênio se torna mais difícil, em maiores profundidades, existem as
bactérias facultativas, que podem realizar a degradação da matéria orgânica tanto por meio
aeróbio quanto anaeróbio. São levantados dados para análise a respeito de PH, fósforo total,
amônia, cloretos, Temperatura, Sólidos Totais, Sólidos Totais dissolvidos, Sólidos Suspensos,
Sólidos Sedimentáveis, Demanda Bioquímica de Oxigênio – DBO (Figura 6), Demanda
Química - DQO, Coliformes Fecais e Coliformes Totais e outros utilizados para determinar a
qualidade final do efluente lançado no corpo receptor final, essas análises são realizadas
diariamente e semanalmente, e mensalmente, dependendo da análise (SATELES et al.; 2003).

Figura 6: Perfil de DBO – Esgoto tratado (Fonte: SANEAGO, 2012).


4.3 Entrevista com profissionais da Saneago
No intuito de melhor compreender nosso sistema e demostrar alguns passos de nossa
etapa de funcionamento e tratamento de esgotos, entrevistamos um colaborador da SANEAGO,
conforme mostra questionário de avaliação do sistema de tratamento de esgoto do município
de Iporá operado pela concessionaria Saneamento de Goiás S/a. Contou com a colaboração do
Srº L. J. C.; operador se sistemas, atualmente em função do exercício de suas atividades a mais
de 30 anos no município, e com vasto conhecimento na área de tratamento de esgoto, nos relatou
através de questões apontadas um pouco sobre o sistema de tratamento adotado no município
de Iporá, em eficiência e cuidados com a saúde pública, colaborou também o Srº A. M.;
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funcionário que atuou junto aos serviços operacionais de redes de esgoto do município por
muitos anos.
De acordo com a entrevista em relação a eficiência foi comentando que o tratamento
corresponde a 90% de eficiência de remoção e sólidos grosseiros e eliminação de bactérias. São
atendidas no momento 12.518 contas de esgoto cadastradas cerca de 42,51% da população
dispõe de acesso a coleta, afastamento e tratamento de esgoto em Iporá.
O sistema passou a ser operado desde 2011, e atualmente esta passando por ampliacao
e extensão da rede coletora no municipio. dentre os bairros já são atendidos pelo serviços de
coleta, afastamento e tratamento de esgoto podemos citar: Vila Itajubá I, Vila Itajubá II, Jardim
Urânio, Jardim das Oliveiras, Setor Planalto, Setor Central, Bairro São Francisco, Setor São
Vicente, Setor Iporazinho, Setor Itajubá, Setor Joaquim Berto, Bairro Mato Grosso, Setor
Chiquinho Urias, Setor Moreira, Vila Ipiranga, Setor Padre Cicero, Vila Nova.
O processo de tratamento em Iporá é dividido em três fases: 1ª Gradeamento, caixa de
areia calha pharshal, cuja finalidade e sedimentar a areia proveniente de material estranho que
tende a ser lançado no esgoto e por meio de água pluvial em locais onde há tampas de caixas
coletoras danificadas, etc... o gradeamento por sua vez tem a função de separa os sólidos
flutuantes que são lançados no esgoto. 2ª Reatores, leito de secagem do lodo, tem a finalidade
de tratamento por bactérias conhecidas como decompositoras, responsavél pela eliminação de
detritos que agregam valores de contaminação ao esgoto.
3ª Lagoa facultativa, todo processo e realizado em um espaço de sete dias por meio de
uma pequena parcela de bactérias decompositoras e por meio de raios solares que em contato
com o esgoto após os processos anteriores ajuda a eliminar os residuos poluentes. A disposição
final de todo lodo produzido na ETE (estação de tratamento de esgoto), e realizado no aterro
sanitário, antes todo lodo produzido passa por um processo de secagem e adição de cal virgem
para neutralizar o odor e eliminar bactérias. O corpo receptor do esgoto coletado e/ tratado é o
Ribeirão Santo Antônio.
Há projeto de expansão com verbas liberadas e em fase de ampliação do sistema de
coleta, de modo que todos sos bairros serão atendidos por rede coletora de esgotos. O objetivo
do projeto é a universalização do acesso a todas as familias de ipora no intuito de prevenir e
zelar pela saúde da população, e meio ambiente. Os bairros que ainda falta ser atendidos são
Vila Brasília, Jardim Arco Irís, Jardim Monte Alto, Rosa dos Ventos, Setor Serrinha, Jardim

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Novo Horizonte I, Jardim Novo Horizonte II, Jardim Novo Horizonte III, Jardim Novo
Horizonte IV, Setor Bela Vista, Setor dos Funcionários, Setor Maracanã, Vila Ipiranga, Setor
São Jorge, Setor Paulo e Souza, Setor Por do Sol, Setor Perné, Setor Estrela do Norte, Setor
Goias II, Setor Expanão Leste I, Setor Expanão Leste II, Bairro Umuarama.
Após a conclusão desse projeto será atendida 100% da população. As obras já foram
iniciadas e o prazo para finalização está previsto para meados do final de 2019. A
concessionária dos serviços de esgoto conta com plano de manutenção e modernização da
infraestrutura de esgotamento sanitário do Município, através de manutenções corretivas e
preventivas no intuito de concientizar a população quanto ao uso correto do sistema de
esgotamento sanitário.
O monitoramento da qualidade do efluente tratado e da concentração de oxigênio
dissolvido no corpo receptor, são realizadas as análises mensais, quinzenal, bimestral, trimestral
e semestral.
O sistema de tratamento é eficaz e atende com tranquilidade toda a população quanto a
demanda de efluentes gerados no dia a dia com uma média de 40lts/segundo de tratamento. A
capacidade de tratamento de esgoto na ETE que é cerca de 40lts por segundo, é suficiente para
atender a demanda de esgoto no municipio, e há viabilidade de aumentar a vazão de esgoto
coletado e de tratamento caso seja necessario, ampliacao do sistema.
Após o tratamento os efluentes que sao devolvidos a natureza, quase não causam
nenhum impacto ao meio ambiente, pois o processo é eficaz e trata 85% dos dejetos do esgoto
antes de ser lançado ao corpo receptor, reduzindo assim o indice de imapcto ambiental ao meio
ambiente. A temperatura do esgoto é monitorada através de amostras de coletas e analises feitas
diariamente e semanalmente, e mensalmente. Através das amostras coletadas temos base para
verificar indices de contaminação e eficiência de tratamento, o que facilita o monitoramento da
fauna e flora.
A rede coletora é mapeada e está disponível em plantas descritivas em desenhos e mapas
de posse da concessionária.O mecanismo para recebimento de reclamações ou solicitações se
dá através do atendimento presencial na unidade Vapt Vupt, ou em diversas unidades de
atendimento da empresa ou pelo fone 0800 645 0115, o município conta unidade da SANEAGO
com sede na avenida 24 de Outubro esquina com a rua Francisco Salles.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Foi possível verificar e analisar de modo geral a real situação do esgotamento sanitário
do município de Iporá, por meio de observações e entrevista com profissionais qualificados da
Saneago, no qual podemos concluir que o tratamento tem uma boa eficiência cerca de
tratamento corresponde a 90% de eficiência de remoção e sólidos grosseiros e eliminação de
bactérias. São atendidas no momento 12.518 contas de esgoto cadastradas cerca de 42,51% da
população dispõe de acesso a coleta, afastamento e tratamento de esgoto em Iporá.
O sistema de tratamento atende a demanda de efluentes gerados no dia a dia com uma
média de 40lts/segundo de tratamento, suficiente para atender a demanda de esgoto no
municipio, mas caso seja necessário de aumentar a vazão de esgoto coletado e de tratamento
tem condições de ampliar o sistema, atualmente trata 85% dos dejetos do esgoto antes de ser
lançado ao corpo receptor, reduzindo assim o indice de imapcto ambiental ao meio ambiente.
Com isso disponibilizou informações e dados importantes referentes ao esgotamento
sanitário, visando à formação de pessoas conscientes, críticas dando ênfase a importância do
tratamento correto do esgoto produzido em nossas casas e tratado para não agredir e causar
impactos ao meio ambiente. Na tentativa de mostrar ao cidadão de seus direitos e deveres
perante a sociedade, para cada um cumprir seu papel para com a sociedade, contribuindo para
a formação do caráter pessoal de pessoas compromissadas com bem estar da sociedade, e não
somente ficar preocupado com o aumento da tarifa da conta de água proveniente da instalação
da rede de esgoto.

6 REFERÊNCIAS BIBLOGRÁFICAS
Constituição Federal 1988. Diponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil-
03/constituicao/consituicaocompilado.htm> Acesso em: 15/02/2018.
Moraes, D.S.L. & Jordão, B.Q. Degradação de recursos hídricos e seus efeitos sobre a saúde
humana, Revista Saúde Pública, v. 36, n. 3, p. 370-374, 2002.
Rodrigues, A.S.L. & Malafaia, G. Degradação dos recursos hídricos e saúde humana: uma
atualização, Revista Saúde e Ambiente, v. 10, n. 1, p. 13-23, 2009.
Saneamento de Goiás, S.A. – SANEAGO, Disponível em:
<http://prod.asinf.gna.SANEAGO/prt/mpt/principal.zul> Acessado em: 12/03/2018
Sateles, W. P.; Medrado, F. E. P. S.; Pasqualetto, A.; Eficiência das lagoas de estabilização
da estação de tratamento de esgoto do parque Atheneu, Goiânia, GO, 2003.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

UMA PONTE ENTRE GEOGRAFIA E A RELIGIÃO WICCA


Definição de uma deusa para as bacias hidrográficas da região de Iporá

João Batista da Silva Oliveira


Universidade Estadual de Goiás – Campus Iporá
e-mail: reencantaromundo@gmail.com

RESUMO: Embora ligada a vida pouco se discute sobre a visão do neopaganismo a respeito do
ambiente. Neste sentido, temos como objetivo geral, baseado no conceito de topofilia, apresentar uma
deusa para as bacias hidrográficas que banham Iporá. Defendemos que ao apresentar a referida deusa
conseguiremos compreender a perspectiva que a Wicca tem da natureza. Baseado no conceito de Cy
daqui, proposto pela tradição diânica do Brasil, realizamos um levantamento de dados no site do Sistema
Estadual de Geoinformação de Goiás para as bacias que banham Iporá, fizemos o tratamento dos dados
por meio software de geoprocessamento QGis e de acordo com a características apresentadas a respeito
do culto a deusa, tratamos de inferir uma deusa para o conjunto das bacias hidrográficas que banham
Iporá chamada Iuporacy. Constatamos que o sentimento da bruxaria contemporânea em relação a
paisagem está baseado numa experiência topofílica, ou seja, de conforto, encontro e afeto com a
paisagem. Trata de um sentimento poético, de admiração, encantamento, gratidão e devoção o que,
tornou possível enxergar na natureza como uma deusa, dotada de características de doação, manutenção
e renovação da vida. Concluímos que ao migrar e utilizar o conceito de paisagem para um saber não-
cientifico, notamos a possibilidade de um outro olhar sobre outros olhares que são incomuns nas
metodologias científicas tradicionais e, no entanto, importantes no tratamento das questões ambientais
e hídricas, evidenciando o caráter transdisciplinar que vem assumindo a geografia. Concluímos que a
perspectiva de um lugar sagrado, como deusa, doadora e mantenedora da vida, possa ser útil para
repensarmos a nossa relação com a bacia hidrográfica, possibilitando visualizar a bacia hidrográfica
como lugar, ou seja, carregada de significado e afetividade.

Palavras-chave: Geografia humanística; Wicca; Bruxaria contemporânea; Bacia hidrográfica

APRESENTAÇÃO

Se por um lado notamos a destruição de culturas, como a indígena por meio da


deterioração dos recursos naturais que dão sustentação as mesmas, notamos a emergência de
cultos pré-cristãos denominados de neopagãos bastante ligados a natureza. À margem, pouco
se procura compreender estas perspectivas que poderiam contribuir no tratamento educacional
envolvendo questões ambientais. Por outro lado, segundo Cabral (2000) e Rocha (2007),
influenciada pela corrente filosófica denominada fenomenologia e pelo pensamento
existencialista, a geografia fenomenológica ou humanística vê as categorias estudadas pela
geografia física, como lugar, espaço e paisagem a partir da subjetividade, ou seja, a partir do
que o sujeito sente e tem na mente a respeito da realidade. Tem como objeto de estudo não a

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

coisa em si, como as propriedades da paisagem, mas a visão do observador sobre determinada
realidade. Assim, para Rocha (2007), a subjetividade é utilizada na definição de paisagem que
passa a ser vista como tudo o que alcança a vista, está a disposição do corpo, está na mente do
observador e envolve pensamentos, sentimentos, expectativas, sonhos e fantasias. Paisagem e
outras categorias da geografia passam a ser vistas como texto e passíveis de variadas
interpretações, principalmente de ligações com outros saberes não-científicos, evidenciando um
profundo sentido poético. Portanto, a geografia fenomenológica busca conhecer o indivíduo, a
sua percepção a respeito de determinada realidade para conhecer o mundo e possibilitar
compreensões que não seriam possíveis num contexto puramente cartesiano ou funcional.
A religião Wicca, surgida na Inglaterra na década de 1950, trata de uma religião que
cultua a terra e o feminino na forma de uma ou várias deusas. Para esta religião e seus
seguidores, a terra é vista a partir de uma perspectiva diversa ao cientificismo moderno, ou seja,
para Eisler (1987), a terra é vista como algo sagrado, uma deusa. Isso significa que a deusa é
imanente, encontrada mesma na natureza. Não obstante, ver na paisagem elementos sagrados,
a deusa é telúrica, tectônica, possui em seu corpo e em seus ritos características da terra e da
paisagem. Segundo Eisler (1987), o culto a terra na forma de uma deusa perdurou por 30.000
anos durante todo o neolítico e foi desaparecendo gradualmente nos últimos 4.000 anos,
principalmente durante a idade média quando foi demonizado, supostos praticantes enviados a
fogueira e por fim, proibido. No entanto, ele ressurge na década de 1950 na forma de
manifestações neopagãs como a Wicca. No último caso, a Wicca passa por várias
interpretações, desdobramentos, gerando novas tradições e constitui no que chamamos neste
trabalho bruxaria contemporânea (BEZERRA, 2007).
Um destes desdobramentos da Wicca, a Tradição Diânica do Brasil (TDB) (2014), vê
o território brasileiro como uma deusa chamada Cy, portanto, a terra brasileira como algo
sagrado. A partir da constatação que Cy está em todo lugar por ser a terra brasileira, a TDB
(2014) apresenta um exercício para que se possa buscar e conhecer a Cy daqui, ou seja, do lugar
onde o adepto vive. Este reconhecimento, além de outras tarefas envolvidas, se dá por meio de
um levantamento das informações do lugar. Posteriormente e simultaneamente são
reconhecidos as características da deusa no lugar identificado, à medida que esta vai ganhando
uma forma e características definidas de acordo com o lugar que representa.

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III Fórum Regional das Águas e XX Encontro de Geografia da UEG
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Assim, pelo exposto, defendemos que na busca de uma deusa na paisagem, o conceito
de topofilia ganha destaque no conhecimento da deusa por seus adeptos. Afinal, para se inferir
uma deusa que seja doadora, mantenedora e renovadora da vida, é necessário a princípio uma
relação confortante com a paisagem. Portanto, acreditamos que ao estabelecer uma deusa para
as bacias hidrográficas que banham o município de Iporá, teremos demonstrado e
compreendido como a Wicca vê a paisagem, não obstante, tornado relevante o conceito de
paisagem em outros saberes não-científicos. Para além dos benefícios que este trabalho possa
ter, acreditamos que a perspectiva de um lugar sagrado, como deusa, doadora e mantenedora
da vida, possa ser útil para repensarmos a nossa relação com a bacia hidrográfica e com o meio,
possibilitando visualizar a paisagem como lugar, ou seja, carregada de significado e afetividade.
Ademais, torna-se relevante, pois possibilita também descobrirmos outros olhares sobre a
paisagem que são incomuns nas metodologias científicas tradicionais, que possam contribuir
para um maior engajamento no cuidado com as questões hídricas e também nas práticas de
educação ambiental.
Neste sentido, questionamos quais as características encontradas nas bacias
hidrográficas da região de Iporá a ponto de tê-las como sagrada e ser chamada de deusa? Nosso
objetivo geral consiste em apresentar uma deusa para as bacias hidrográficas que banham Iporá.
Para isto será necessário apresentar: a) A geografia humanística, b) A perspectiva da Wicca a
respeito da paisagem e c) Iuporacy: A deusa das águas

2 MATERIAIS E MÉTODOS
A metodologia eleita consiste em revisão teórica de autores que tratam sobre a ciência
geográfica mediante uma perspectiva fenomenológica como Cabral (2000), Rocha (2007), de
autores que tratam sobre o culto a deusa como Eisler (1987), a Tradição Diânica do Brasil
(2014) e Santos (2014). Primeiramente apresento geografia fenomenológica onde a
subjetividade faz parte do objeto estudado, ou seja, do conceito de paisagem. A partir daí, ao
apresentar como se dá o culto a deusa na Wicca, tento demonstrar fundamentado no conceito
de topofilia, as características divinas encontradas na paisagem. Apresento, portanto, a
perspectiva e o sentimento que os adeptos da Wicca possuem da paisagem. Apresento ainda, o
conceito de Cy daqui elaborado pela TDB (2014). Posteriormente, baseado na experiência da
TDB (2014), trato de inferir uma deusa para as bacias hidrográficas que banham Iporá. A

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

referida deusa foi chamada de Iuporacy, a deusa das águas claras, fazendo referência ao nome
de Iporá que significa águas claras. Para conhecer esta Cy a TDB (2014) recomenda que seja
feito um levantamento de informações da paisagem a fim de identificar as características mais
relevantes da referida deusa. Para reconhecimento das características do lugar, foi realizado um
levantamento de dados encontrados em Sharpefiles, coletados no Sistema Estadual de
Geoinformações de Goiás (SIEG) e processados, utilizando o programa de geoprocessamento
QGis. Os dados relevantes para nossa construção refere ao tamanho das bacias, população;
aquíferos; nascentes, drenagens e solos para as bacias do Rio Caiapó, Rio dos Bois, Rio Claro,
Ribeirão Santo Antônio e Ribeirão Santa Marta. Por fim, baseado nas caraterísticas da deusa
destacadas por Eisler (1987), nas características da Cy brasileira apresentada pela TDB (2014)
e nas características topofílicas encontradas nas bacias analisadas, apresento a deusa Iuporacy.
Foi representada neste trabalho como a virgem, mãe, como uma mulher alta, bonita, de cabelos
longos até próximo a cintura. É feita de terra úmida, seus cabelos são feitos flores nas
extremidades e no alto da cabeça possui uma lua em crescente como símbolo da deusa. Sua cor
depende da categoria de solo. É representada também pela área das bacias conjugadas que
totaliza 3.485.441 Km2, incluindo as águas subterrâneas, nascentes, vertentes, solos e
vegetação.

2.1 A PAISAGEM NA GEOGRAFIA HUMANÍSTICA


Segundo Rocha (2007, p.3) a Geografia humanista está fundamentada por bases
teóricas onde são enfatizadas e buscam valorizar as experiências, os sentimentos, a intuição, a
intersubjetividade e a compreensão das pessoas sobre o meio ambiente que habitam. Procura
um entendimento do mundo humano através do estudo das relações das pessoas com a natureza,
do seu comportamento geográfico, bem como dos seus sentimentos e ideias a respeito do espaço
e do lugar. (TUAN, 1982 citado por ROCHA, 2007, p.3). Segundo Rocha (2007.p.3) “sua
pretensão é de relacionar de uma maneira) holística o homem e seu ambiente ou, mais
genericamente, o sujeito e o objeto”.
Neste sentido, paisagem é tudo o que é visto. Refere-se a tudo a que vista alcança.
Segundo Trzaskos et all (2011), tradicionalmente está dividia em paisagem natural que é o local
onde os caracteres físicos estão intactos, sem nenhuma modificação humana. Paisagem cultural
trata da paisagem modificada pelo homem e suas atividades, como lavouras e cidades e

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paisagem urbana que se refere ao conjunto de elementos artificiais que compõem as cidades.
Outra característica relevante da paisagem é que ela não existe por si só e possui a necessidade
do ser humano.
Para Rocha (2007), a constante definição da paisagem desemboca a partir da influência
do filósofo Husserl e dos existencialistas na fenomenologia da paisagem que inclui o ser
humano, senão a sua subjetividade na definição de paisagem. Ou seja, além dos aspectos físicos
paisagem passa a ser também o sentido que damos a ela e radicalmente, insere as emoções
humanas como componente da paisagem. Neste sentido seguem as constatações de Cabral
(2000) onde se busca uma visão mais holística do meio ambiente que integre o ser humano em
seus aspectos emotivos, espirituais com a paisagem. Segundo Cabral (2000, p.2) para além das
categorias como países, cidades, propriedades agrícolas, mares, relevo, clima, etc., incluiria
também as ideias, sentimentos, imagens e representações. Assim, ao tratar sobre a paisagem,
de acordo com a geografia humanista “(...) qualquer paisagem é composta não apenas por
aquilo que está à frente dos nossos olhos, mas também por aquilo que se esconde em nossas
mentes. (MEINIG, 2002, p. 35 apud ROCHA, 2007, p.2 ).
Acreditamos que enfoque torna possível pontes insuspeitadas entre geografia e outros
saberes até mesmo não-científicos, evidenciando a relevância da paisagem não apenas para as
ciências, mas também a outras áreas da vida humana. Considerando que a perspectiva do
observador é relevante na definição de paisagem, ao apresentar como ocorre o culto a deusa na
bruxaria contemporânea estaríamos mostrando como se dá percepção da paisagem pelos
adeptos desta religião, ou seja, como algo sagrado, doador, mantenedor e renovador da vida.

2.2 A PERCEPÇÃO DA PAISAGEM NA WICCA


A Wicca se caracteriza pelo culto do feminino e da terra na forma de uma deusa ou
várias deusas. Segundo Eisler (1987), a deusa foi cultuada ao longo de 40.000 anos. Por se tratar
de uma deusa imanente, que estava em tudo e em todos. Por se tratar de uma deusa telúrica,
tectônica que possuía características da terra em sua constituição e ritos, esse culto representava
o culto a terra. A perspectiva de um deus único e masculino é bastante recente e começa se
tornar vigente a partir de uns 4000 anos atrás, ou seja, a partir de 2000 Antes de Cristo (AC).
Eisler (1987) constata a partir de achados arqueológicos que o ser humano diante dos mistérios
da natureza e, neste caso, diante de algo positivo, a saber, a vida, notava que a vida brotava do
corpo de uma mulher. Posteriormente, era este mesmo corpo que mantinha a vida, fornecendo
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alimento. Paralelamente notou que a vida surgia também da terra. E era a terra que mantinha
esta vida, oferecendo alimento. Daí inferir que a terra era um elemento feminino, notado a partir
da similaridade desta com a mulher. Para Eisler (1987), em nossa própria herança judaico-cristã,
podemos identificá-la como Aisherah, a consorte de Yaweh que foi adorada na forma de árvore
ou duas estacas. Ainda podemos identificá-la na Virgem Maria Católica, a Sagrada Mãe de
Deus. Entre os índios da América do Sul e no Brasil a Deusa-Mãe é Jacy e de acordo com Eisler
(1987, p.20), na Grécia Antiga é Gaia; É Ísis, Nut e Maat, no Egito; Ishtar, Astarte e Lilith, no
Crescente Fértil; Deméter, Core e Hera em Roma; Atárgatis, Ceres e Cibele na Grécia. Em
Creta é Minéia. Na Wicca, a deusa mãe é apresentada em três faces, a saber, da virgem, da mãe
e Anciã como um reflexo da terra que sempre nasce, se renova e fenece por meio das estações
ou ainda como reflexo das fases da lua. Estes ritmos da natureza são celebrados por meio dos
Esbaths e Sabaths.
No entanto, segundo Eisler (1987), a partir do estabelecimento do patriarcado, o culto
a deusa vai desaparecendo e, gradualmente a figura da deusa foi cedendo seu espaço primordial
e aparecendo mais como filha, amante, esposa, companheira de um deus. Esse estado de coisas
perduram durante a idade média e com a oficialização do cristianismo se agravam. Neste
período, além de estabelecer o período que foi chamado de caça às bruxas, o culto a deusa é
demonizado e proibido. No entanto, de acordo com Bezerra (2007), a partir da década de 1950,
quando a bruxaria é liberada na Inglaterra, o culto a deusa é retomado por Gerard Gardner
devido a difusão do seu livro titulado “A bruxaria hoje”. A partir daí novos desenvolvimentos
ocorrem e surgem novas tradições como, a Wicca Alexandrina, A Saxon Wicca, a tradição
eclética, a tradição diânica e a possibilidade de prática solitária, independente de adesão a um
Coven. (BEZERRA, 2017).
Solitária ou em pequenos grupos (covens), o relacionamento com a deusa na Wicca se
dá por meio de uma busca de harmonização com a natureza, ou seja, pela busca de aspectos da
deusa na natureza; por meio de rituais maiores que visam a harmonização com a deusa que se
dá na forma de preces, diálogos e meditações e em rituais menores que são aqueles rituais
voltados exclusivamente a pedidos que são feitos por meio do auxílio de visualizações, da
energia pessoal, das ervas, cristais, cores e a energia dos planetas. Além de seguirem um código
de ética onde se comprometem a não realizarem o mal a nada e ninguém, em não infringir a
liberdade alheia, o respeito pelas formas de vida, à liberdade e decisões alheias são também

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formas do adepto dizer que segue os princípios femininos da deusa, envolvendo sensibilidade,
cooperação e respeito. Assim, muitas bruxas acabam defendendo certos direitos como a questão
a ambiental, o direito a liberdade, a liberdade das mulheres e a proteção aos animais.
A Tradição Diânica do Brasil (TDB) (2014), apresenta Cy, a deusa mãe brasileira e,
posteriormente, a idéia de Cy daqui como a deusa mãe local, do bairro, cidade, região, de uma
determinada paisagem, bacia hidrográfica ou região. Segundo Santos et al (2014) “As deusas
brasileiras estão ligadas a natureza e simbolizam sedução, fertilidade e abundância. Entre elas
está Cy. Para os índios, ela é a doadora da vida, criadora de todas as coisas. Sobre sua
experiência com a Deusa Cy, segundo a TDB (2014) quando foram buscar um lugar para um
altar para Cy, ficaram em dúvidas. Então meditaram bastante a respeito, até que segundo a TDB
(2014), Cy surgiu como a face que se intitulou “A Cy daqui”. Segundo a TDB (2014)
perceberam que, embora tivessem escolhido um local para seu altar, na verdade seu altar era
tudo que as cercava. Segundo a TDB (2014) ela era a Cy do lugar onde estamos. Ou seja, uma
Cy de uma determinada cidade, região, bacia hidrográfica, estado, bioma, etc. E como segundo
a geografia fenomenológica existe uma infinidade de paisagens, sempre haverá uma infinidade
de Cys. Segundo a TDB (2014), a Cy Daqui é o conceito mais próximo e literal da deusa que
podemos conceber. Para conhecer a Cy daqui, ou seja, da região onde o adepto vive, A TDB
(2014) recomenda entre outras que se faça um levantamento do lugar, registrando,
fotografando, desenhando ou utilizando outros meios para conhecer o local. Segundo a TDB
(2014) esse trabalho de conexão e integração visa conhecer como a senhora da terra brasilis se
apresenta a pessoa especialmente.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 DEFINIÇÃO DE UMA DEUSA PARA AS BACIAS HIDROGRÁFICAS QUE BANHAM
O MUNICÍPIO DE IPORÁ

Para inferir uma deusa para as bacias que banham o município de Iporá, será necessário
apresentar um levantamento das bacias tal como sugerido pela TDB (2014). A partir das
características da deusa apontadas em tópicos anteriores e a partir deste levantamento
trataremos de inferir as características da Cy para as bacias que banham a região de Iporá. No
nosso caso, ao utilizar as geotecnologias tratamos de recortar os arquivos que contém as
informações sobre as bacias que banham o município de Iporá e confeccionamos um mapa.
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Esta área conjugada representa o corpo de Cy que chamaremos de Iuporacy, ou seja, a


deusa das águas claras, fazendo referência ao nome da cidade Iporá que significa águas claras.
A área que escolhemos para compor a deusa corresponde a cinco bacias hidrográficas,
representadas pela bacia do Rios dos bois, pela bacia do Ribeirão Santa Marta, bacia do ribeirão
Santo Antônio, bacia do Rio claro e bacia do Rio Caiapó. A área das bacias conjugadas totaliza
3.485.441 Km2. Esse ó corpo de Iuporacy. Ao todo contempla oito municípios que são
Amorinópolis, Montes Claros de Goiás; Diorama; Iporá; Ivolândia; Arenópolis; Israelândia,
Moiporá e Cachoeira de Goiás.

Figura 1 – Bacias que banham o município de Iporá - O corpo de Iuporacy


Fonte: Elaborado pelo autor

Iuporacy é a deusa das águas claras. Um observador mediante uma experiência


topofílica pode perceber além da beleza da paisagem composta por relevos, árvores, flores,
características como doação, manutenção e renovação da vida na forma de fertilidade e
abundância, já que, para aquele que observa a paisagem, as condições de manutenção da vida
fluem e se renovam constantemente, ano após ano, ou seja, evidenciando características
femininas como generosidade e benevolência. Ela é tudo o que existe, como as águas

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subterrâneas, as nascentes, as drenagens, as árvores, as serras e matas. Ela é responsável pela


vida das plantas, animais e pessoas que vivem sob seu domínio, portanto é uma deusa da
fertilidade. As pessoas que vivem em sua pele são seus filhos, que podem ser chamados de
filhos de Iuporacy. Segundo o IBGE (2018), ao todo correspondem 57.934 pessoas.
Na paisagem ela é as serras, aparece deitada de costas para o norte, sua cabeça está na
bacia do Rio Claro e seus pés, mais especificamente seus dedos estão para o norte e são
banhados nas águas do Rio Araguaia. Dos seus poros, 2.457 emergem olhos d’água que vem
de suas profundezas, ou seja, dos aquíferos que banham seu corpo em 6.412 cursos d’água num
total de 6.025.394 (Seis milhões vinte e cinco mil e trezentos e noventa quatro quilômetros).
Por isso Iuporacy aparece formada de terra úmida ou solo hidromórfico, devido a grande
quantidade de água que banha seu corpo. A textura e a cor de Iuporacy é variável e depende da
cor do solo. Às vezes é morena em solos latossólicos como nos municípios de Montes Claros
de Goiás, Iporá e Ivolândia. Outras aparece com a pele branca de textura arenosa, como nos
casos de Neossolo no Município de Ivolândia ou com fragmentos de rochas no caso dos
Cambissolos em Amorinópolis.

Figura 2 – Representação de Iuporacy


Fonte: Elaborado pelo autor

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Como a paisagem é tudo que a vista alcança, ela é o céu claro e à noite ela se curva
sobre si mesma e podemos vê-la no céu. Ela é a lua e as estrelas. Foi representada neste trabalho
como a virgem ou mãe e como uma mulher alta, bonita, morena, de cabelos longos até próximo
a cintura. Seu corpo é feito de terra úmida, seus cabelos são feitos flores nas extremidades e no
alto da cabeça possui uma lua em crescente como símbolo da deusa. Habita as nascentes,
vertentes, matas ciliares, áreas brejosas e topos de serras, principalmente nos divisores de
bacias. Não é necessário recorrer a estes lugares para ser cultuada, pois ela está em todo os
lugares que nossa vista possa alcançar.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho situado no âmbito da geografia humanística teve como objetivo
inferir uma deusa para as bacias hidrográficas que banham o município de Iporá e assim,
compreender o olhar, senão o sentimento que as bruxas e a bruxaria moderna possuem da
paisagem. O método fenomenológico não tem como objetivo o diagnóstico e apontamentos
normativos para a solução de problemas, mas a compreensão da subjetividade do outro frente
determinada realidade. Portanto, não objetivou realizar aqui análises morfométricas de bacias
hidrográficas e inferir soluções. Concluímos que o olhar, o sentimento da Wicca moderna sobre
a paisagem está baseado numa experiência topofílica, ou seja, de conforto e encontro com a
paisagem. É o mesmo sentimento de encanto que uma pessoa experimenta diante de uma
paisagem como um pôr-do-sol ou numa montanha. No entanto, vivido permanentemente. Se
você se lembra como olhava para a lua e o céu estrelado quando era criança sabe, conhece a
perspectiva de uma bruxa diante da paisagem. Trata de um sentimento poético, de admiração,
encantamento, gratidão e devoção o que, tornou possível enxergar na natureza uma deusa com
características femininas de cuidado, sensibilidade, geração de vida, manutenção e renovação
da vida. A perspectiva de um lugar sagrado, como deusa, doadora e mantenedora da vida, pode
ser útil para repensarmos a nossa relação com com a bacia hidrográfica e tê-las como lugar, ou
seja, como uma paisagem carregada de significado e afetividade. Ao migrar a ideia de paisagem
para um saber não-cientifico notamos a possibilidade do conceito possibilitar lançarmos um
outro olhar sobre outros olhares que são incomuns nas metodologias científicas tradicionais
cartesianas, positivistas e funcionais. Ademais, evidencia o caráter transdisciplinar que vem
assumindo a geografia. Concluímos que o presente trabalho pode abrir espaço para que possa

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entender o olhar de outros povos e etnias sobre a paisagem como aqueles envolvendo os cultos
de origem africana, a perspectiva indígena e dos camponeses brasileiros. O trabalho aponta
ainda, a possibilidade de se verificar os impactos sobre o corpo de Iuporacy devido aos usos
do solo, da supressão da vegetação natural e outros impactos.

7 REFERÊNCIAS
BEZERRA, K. O. A Wicca no Brasil: Adesão e permanência dos adeptos na Região
Metropolitana do Recife. 2012. 169 f. Tese (Mestrado em ciências da religião) – Universidade
Católica de Pernambuco (UNICAP), Recife.
CABRAL, L. O. A paisagem enquanto fenômeno vivido. Geosul, Florianópolis, v.t5, 0.30, p
34-45, jul./dez. 2000.
EISLER, Rainer. O Cálice e a Espada: A nossa história, o nosso futuro. Rio de Janeiro,
Imago Editora, 1987. 195 p.
ROCHA, S. A. Geografia humanista: História, conceitos e o uso da paisagem percebida
como perspectiva de estudo. R. RA ́E GA, Curitiba, n. 13, p. 19-27, 2007. Editora UFPR
TDB. Práticas de Wicca Brasil: Saberes da Terra Brasilis. Brasília, ed. 7Cores Design,
2014. 290 p.

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USOS MÚLTIPLOS: ANÁLISE DA PERCEPÇÃO SOCIOAMBIENTAL


DOS USUÁRIOS DO RESERVATÓRIO DE CORUMBÁ IV
Juliana Marques do Lago
juhunb.gam@gmail.com

Wagner Alceu Dias


wagneralceu@gmail.com

RESUMO: O objetivo desse trabalho foi analisar as diferentes percepções socioambientais dos
moradores e turistas que usufruem do reservatório de Corumbá IV. O levantamento de dados foi
realizado por meio da aplicação de questionários em cinco municípios do entorno da barragem:
Luziânia, Silvânia, Santo Antônio do Descoberto, Alexânia e Abadiânia. O questionário foi aplicado de
maneira amostral e tinha como finalidade entender qual a relação dos diversos grupos de usuários com
o ambiente do local. Os resultados do trabalho demonstraram que apesar da atividade turística intensa,
não há diferenças no descarte inadequado dos resíduos, entre turistas e moradores, e que há a necessidade
de uma colaboração mútua dos órgãos públicos e privados na sensibilização das pessoas que utilizam o
reservatório para diversas finalidades.

Palavras-chaves: Turismo, Área de Preservação Permanente (APP), Reservatório Artificial.

1. INTRODUÇÃO
A água é um recurso indispensável para a manutenção da biodiversidade1 e de muitas
atividades humanas, em especial a produção de alimentos, a atividade industrial e o
abastecimento público. E mesmo com toda a sua importância ecológica, econômica e social,
tem sido constantemente degradada devido à gestão inadequada dos recursos naturais, o que
inclui o desmatamento, o descarte de efluentes e também o desordenado uso do solo (TUNDISI,
2006).
Inicialmente, a construção de hidrelétricas e a reserva de água para diversos fins foi o
principal propósito da formação de reservatórios para a construção de barragens. Nos últimos
20 anos, os usos múltiplos desses sistemas diversificaram-se, ampliando a importância
econômica e social desses ecossistemas artificiais e, ao mesmo tempo, produzindo e
introduzindo novas complexidades no seu funcionamento e impactos. (TUNDISI, 1994).
Nesse contexto de atores sociais envolvidos, encontra-se o turismo como uma atividade
de lazer. O turismo é atividade multisetorial, isto é, pode ser gerado e atingir diversas atividades,
tanto econômica, ambiental, social e cultural, por isso ele é complexo e considerado um

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fenômeno holístico, segundo a vivência humana, pois nele consiste em deslocamentos


voluntários dos indivíduos que buscam satisfazer as mais diversas necessidades, como diversão,
descanso, conhecimento de outras culturas, entre outros.

2. DESENVOLVIMENTO
2.1- Turismo em reservatórios artificiais
Com o advento da Lei Federal Nº 9.433 de 1997 que cria a Política Nacional dos
Recursos Hídricos se instituiu os usos múltiplos, garantindo, desta forma, o direito à igualdade
para a utilização das águas a todos os setores. Deixando claro que os “usos múltiplos” bem
como a gestão desses recursos incluem o turismo, podendo este ser uma maneira de usufruí-lo,
porém observando os princípios de conservação e preservação. (Pertille et al, 2006).
Segundo o artigo 2º da Resolução nº 302 do Conama é classificado como um
reservatório artificial locais de acumulação não natural de água destinada a quaisquer de seus
múltiplos usos. Essa resolução ainda trata as definições de Área de Preservação Permanente
como a área marginal ao redor do reservatório artificial e suas ilhas, com a função ambiental de
preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo
gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem estar das populações humanas.
O PACUERA (Plano Ambiental de Conservação e uso do Entorno de Reservatórios
Artificiais) como conjunto de diretrizes e proposições com o objetivo de disciplinar a
conservação, recuperação, o uso e ocupação do entorno do reservatório artificial, respeitados
os parâmetros estabelecidos nesta Resolução e em outras normas aplicáveis. Esses dois
conceitos são importantes para o licenciamento ambiental, uma vez que a responsabilidade da
Área de Preservação Permanente é da hidrelétrica e o PACUERA entra como um mecanismo
de controle dessa localidade.
Nesse contexto o PACUERA é uma exigência da legislação ambiental, sendo baseado
em um estudo completo das características do solo, vegetação nativa existente, declividade do
terreno e das atividades que as pessoas desenvolvem ou poderão desenvolver no entorno de um
reservatório, sendo por questões de trabalho, cultura, lazer, entre outros.

2.2- Área de Estudo

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Em funcionamento desde abril de 2006, o reservatório da UHE Corumbá IV influencia


os municípios de Luziânia, Santo Antônio do Descoberto, Alexânia, Corumbá de Goiás,
Abadiânia, Silvânia e Novo Gama. A Usina foi inaugurada com duas unidades geradoras e
capacidade de 129,6 MW, sendo suficiente para transmitir energia elétrica para 250.000
habitantes. O reservatório ocupa aproximadamente 173 km2, com uma capacidade de 3,8
trilhões de litros d’ água. (Corumbá Concessões)
No quesito lazer, há vários conflitos ambientais entre moradores e visitantes das
comunidades lindeiras do reservatório de Corumbá IV, sendo o mais evidente o debate sobre a
adequada a destinação dos resíduos sólidos. Segundo os moradores da região os frequentadores
do reservatório descartam seu lixo nas estradas de acesso das comunidades causando diversos
problemas ambientais e sociais, tais como poluição visual, degradação ambiental, intoxicação
de animais de criação, etc.
Esses problemas trazem consigo duas visões distintas sobre o mesmo espaço: a dos
moradores dos turistas. Para melhor explicar podemos trazer duas abordagens citadas por
Trevizam 2011 dispostas no artigo: Para compreender as relações sociedade-natureza e os
processos de degradação ambiental. Podendo definir a visão do turista a partir da seguinte
abordagem:
“A abordagem da ecologia política explica a relação dos seres humanos entre
si e com os demais componentes do ambiente a partir da organização da
sociedade, considerando especialmente sua estrutura política, econômica e
social. Assim, as explicações são de nível macro, considerando, geralmente,
a dinâmica do sistema sócio-econômico e político (capitalismo ou
socialismo) e o papel do Estado neste jogo”.

A abordagem da ecologia política define claramente as relações de poder exercida na


região do reservatório, principalmente no entorno da área de preservação permanente, que é
alvo constante da pressão imobiliária, para além do lazer, moradia e comércio.
Já a partir da abordagem culturalista pode-se analisar a relação do morador, pois este
entende como a interdependência dos fatores ambientais interfere no seu dia-a-dia. Para
Trevizam, 2011, a abordagem culturalista destaca os aspectos que constituem a
intersubjetividade das pessoas, isto é, o conjunto de fatores construídos historicamente, pela
experiência vivida de cada um, nas interações com seus semelhantes e as características do
ambiente natural em que viveram. Pressupõe-se, portanto, que as relações do ser humano com
os demais componentes ambientais sejam produto de decisões pessoais ou coletivas, dominadas

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pelos componentes culturais que permeiam os indivíduos e as coletividades.

3. MATERIAIS E MÉTODOS
A metodologia de coleta de dados escolhida para realizar o levantamento de dados foi
por meio da aplicação de questionários realizados com moradores e turistas que usufruem da
APP e/ou áreas adjacentes do reservatório de Corumbá IV seja para lazer ou para fins
econômicos.
O questionário pode ser entendido como uma técnica de investigação social composta
por um conjunto de questões que são submetidas a pessoas diversas com o propósito de obter
informações sobre vários assuntos.
Segundo Marconi e Lakatos (1999), o questionário é um instrumento de coleta de dados
constituído por uma série de perguntas, que devem ser respondidas por escrito. Durante a
realização do trabalho é necessário que o pesquisador faça perguntas de modo simples e direto,
para facilitar o entendimento do público-alvo.
A vantagem de aplicação dessa técnica está no ganho de tempo, maior número de
pessoas atingidas, ampliação do espaço geográfico da pesquisa, liberdade nas respostas, entre
outras.

4. RESULTADOS
Os questionários foram aplicados entre os meses de outubro de 2017 a fevereiro de 2018.
O público alvo do trabalho foram pessoas que se encontravam nos municípios de Luziânia,
Silvânia, Santo Antônio do Descoberto, Alexânia e Abadiânia e Corumbá de Goiás. As
perguntas direcionadas aos entrevistados requeriam informações sociais, econômicas e
ambientais. Foram aplicados um total de 50 questionários, de forma amostral. Os dados obtidos
foram processados em tabelas e posteriormente gerados gráficos no programa excel.
As pessoas abordadas responderam 14 (quartorze) perguntas sobre a sua percepção
socioambiental do reservatório de Corumbá IV.
É importante ressaltar que, apesar das suas vantagens, a aplicação do questionário, por
si só não garante a fidelidade dos dados e das informações coletadas. Por isso, para realizar a
correlação entre duas variáveis foi utilizada a análise de Spearman.

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4.1. Análise de Spearman


O coeficiente de correlação de Spearman mede a intensidade da relação entre variáveis
ordinais. Usa, em vez do valor observado, apenas a ordem das observações. Este é um método
não-paramétrico que usa somente os postos, e não faz quaisquer suposições

Uma fórmula fácil para calcular o coeficiente ρ de Spearman é dada por:

Em que n é número de pares (Xi, Yi) e

di: (postos de Xi dentre os valores de X) – (postos de Yi dentre os valores de Y).


Se os postos de X são exatamente iguais os pontos de Y, então todos os dados di serão 0 e p
será 1.
O coeficiente ρ de Spearman varia entre -1 e 1. Quanto mais próximo estiver destes
extremos, maior será a associação entre as variáveis. O sinal negativo da correlação significa
que as variáveis variam em sentido contrário, isto é, as categorias mais elevadas de uma variável
estão associadas a categorias mais baixas da outra variável.
A análise de Spearman aplicada aos dados obtidos, permitiu verificar a correlação entre
duas variáveis, ou seja, duas perguntas. As variáveis que apresentaram correlação foram:

• Escolaridade e renda média familiar;


• Orientação ambiental e destino final dos resíduos e;
• Idade e saber o que significa o termo APP;

4.2 Escolaridade e renda média


Um estudo realizado por Bonnadia (2008), em vários estados do Brasil concluiu que
que a educação que o individuo possui o ajudará imensamente a tornar a recompensa pelo seu
trabalho mais rentável. Aqueles que possuem um nível maior de estudo poderão ocupar-se em
atividades cada vez mais reconhecidas monetariamente. O estado onde reside, seu sexo, idade
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e raça também serão fatores decisórios para seu salário. O Instituto Brasileiro de Economia e
Estatística também comprova esses dados, apresentado no gráfico (01) abaixo:

Gráfico 01: Renda X Escolaridade: Fonte: IBGE, 2010

Realizada a análise de correlação não paramétrica de Spearman entre essas duas


variáveis os resultados obtidos foram:

Figura 01: Correlação renda e escolaridade dos entrevistados. Fonte: Os autores

Conforme a figura 01 pode-se analisar uma correlação positiva, ou seja, quanto mais
escolaridade, mais a renda da família. A correlação entre ambas as variáveis é de 0,568 sendo
considerada como moderada, mas significativa para a amostra.

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4.3 Frequência e significado do termo APP


A educação ambiental nesse processo mostra-se primordial para as mudanças dos
paradigmas atuais. Leff (2001, p.61/62) afirma para que a Educação Ambiental se efetive, é
necessário que:

A idéia de buscar que cada pessoa envolvida com o problema ecológico o


descreva, ao mesmo tempo que nos possibilita uma interpretação que
contemple a subjetividade individual, abre espaços para a manifestação de
outras formas de conhecimento que não apenas o cientifico. Ao interpretar
cada pessoa o fará por meio de suas representações e, também, de seus
conhecimentos que podem vir.

Esse caso aplica-se nas comunidades lindeiras do reservatório de Corumbá IV, onde um
percentual de pessoas que frequentam constantemente o reservatório de Corumbá IV afirmaram
terem conhecimento do termo APP, conforme figura 02, abaixo:

Figura 02: Correlação entre tempo de frequência e conhecimento do termo APP. Fonte: Os autores.

Analisando os dados e a realidade do local pode-se inferir que há uma correlação


positiva, ou seja, quanto mais tempo a pessoa frequenta a APP do reservatório, mais o indivíduo
conhece o significado do termo APP. Isso acontece porque maiorias dos condomínios à beira
lago existem placas informando sobre do que se trata e quais são as regras de uso desse local.
Porém isso ainda não é suficiente para manter a sensibilização das pessoas, uma vez que é
comum encontrar resíduos nos acampamentos, principalmente após os feriados. A correlação
entre ambas as variáveis é de -0,360, sendo considerada como fraca, mas significativa para a
amostra. Abaixo segue as fotos 01 e 02, com placas informativas da Corumbá Concessões e
Condomínio Paula Lorrane, município de Abadiânia. Essas placas ficam situadas na APP de

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vários condomínios informando os banhistas sobre a importância de preservação do local.

Foto 01: Placa informativa da Corumbá Concessões Foto 02: Placa informativa situada no condomínio
sobre regras de uso da APP. Fonte: Os autores. Paula Lorrane, Abadiânia, Goiás. Fonte: Os autores.

4.4 Idade e conhecimento sobre o termo APP


Segundo uma pesquisa realizada pelo MMA em 2012, 56 em cada 100 brasileiros
adultos (com mais de 16 anos) sabe o que é uma área protegida, reconhecendo que a principal
função desta é preservar todas as espécies vivas características da região ou o bioma em questão.
A maioria do público entrevistado no questionário aplicado eram de idade entre 26 e 59 anos,
comprovando os dados do Ministério do Meio Ambiente. Segundo a figura (03) abaixo:

Figura 03: Correlação entre a idade do entrevistado e conhecimento do termo APP. Fonte: Os autores.

Conforme a imagem pode-se analisar uma correlação negativa, ou seja, quanto menos
idade, mais a probabilidade do indivíduo saber o que significa o termo APP- Área de
Preservação Permanente. A significância entre ambas as variáveis é de -0,399, sendo

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considerada como moderada, mas significativa para a amostra.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados levantados demonstraram que há um grande contingente de deslocamento de
pessoas dos municípios Goianos e do Distrito Federal para o reservatório de Corumbá IV. Essas
pessoas vão para a barragem principalmente para lazer e interação com a natureza do local.
Porém ainda há um grande desafio na gestão ambiental desse território: a sensibilização seja de
moradores ou turistas, principalmente quanto ao descarte final dos resíduos sólidos após as
atividades. É importante ressaltar que o empreendimento hidrelétrico passara em 2018 a atender
a população do entorno do Distrito Federal com abastecimento de água, reforçando mais ainda
esse compromisso dos órgãos e pessoas envolvidas com práticas voltadas à Educação
Ambiental.
Para tanto, faz-se necessário que haja uma integração das atividades voltadas à
sensibilização por parte da concessionária de Corumbá IV, secretarias de meio ambiente, Caesb,
e moradores locais, além da fiscalização do IBAMA, órgão responsável pelo licenciamento do
reservatório e da Marinha do Brasil, que fiscaliza áreas isoladas (ilhas).
Ainda com relação aos empreendimentos imobiliários que estão crescendo no entorno
do reservatório é necessária uma regularização, respeitando o PACUERA – Plano de Uso de
Conservação Ambiental do Entorno de Reservatório Artificiais, para inibir a grilagem de terras
que acontece naquela região. A responsabilidade de licenciamento desses condomínios cabe às
secretarias municipais de meio ambiente em casos descentralizados e à SECIMA, em caso de
centralização.
Somente com ações conjuntas de sensibilização e fiscalização ambiental no entorno do
reservatório de Corumbá IV é que os impactos do turismo e de moradias serão minimizados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BONADIA, P.B MADALOZZO, R. A relação entre o nível de escolaridade e a renda no


Brasil. Monografia. IBMEC São Paulo, pg. 23, 2008.

CORUMBÁ CONCESSÕES S.A. http://www.corumbaconcessoes.com.br, página visitada em


05 de maio de 2017.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

LARSON, RON. Estatística Aplicada. Ron Larson, Betsy Farber; tradução: Luciane Ferreira,
Pauletti Vianna. 4º ed. São Paulo. Person Pretici Hall, 2010.

LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder.


Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.

MARCONI, M. A .; LAKATOS, E.M. Metodologia Científica. São Paulo: Atlas. 2000.

MMA. Ministério do Meio Ambiente. Glossário. Consulta disponível em:


http://www.mma.gov.br/biodiversidade/biodiversidade-brasileira/gloss%C3%A1rio, página
visitada dia 24 de abril de 2018.

PACUERA. Plano Ambiental de Uso e Conservação do Entorno de Reservatórios


Artificiais. Corumbá Concessões. Julho, 2011.

PERTILE. Turismo em reservatórios de hidrelétricas - uma reflexão sobre o múltiplo uso


e os possíveis impactos ambientais. Semitur, 2006.

ROOS & BECKER. Educação Ambiental e Sustentabilidade. Revista Eletônica em Gestão,


Educação e Tecnologia Ambiental. v(5), n°5, p. 857 - 866, 2012.

TREVIZAM. SALVADOR DAL POZZO. Para compreender as relações sociedade-


natureza e os processos de degradação ambiental. Revista Eletrônica do Prodema, Salvador,
2011.

TUNDISI, J. G. “Regional Approaches to River Basin Management in La Plata: an


Overview”, in Environmental and Social Dimensions of Reservoirs, Development and
Management in the La Plata River Basin. Nagoya, UNCRD, 1994, pp. 1-6

TUNDISI, J. G. Novas perspectivas para a gestão dos recursos hídricos. Revista USP. São
Paulo, número 70, julho/agosto 2006.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

UTILIZAÇÃO DO SOFTWARE E QGIS NA QUANTIFICAÇÃO DE


IMPACTOS GERADOS NA BACIA DO CÓRREGO MONTE NO
MUNICÍPIO DE CAIAPÔNIA-GO.
Washington Martins Galvão Filho
UNIRV- CAMPUS CAIAPÔNIA
washingtongalvao38@gmail.com

Wallacy Silva Ferreira


UNIRV- CAMPUS CAIAPÔNIA
wallacysilvawsf@gmail.com

Kamylla Moraes Ferreira


UNIRV- CAMPUS CAIAPÔNIA
kamyllacpa@hotmail.com

Rosenilda Maria de Moraes Silva


UNIRV- CAMPUS CAIAPÔNIA
rosenildaipora@gmail.com

Resumo: A água é um recurso finito e vulnerável, essencial para sustentar a vida. A escassez e o mau
uso desse recurso são fatores de crescente risco ao desenvolvimento sustentável e a proteção do meio
ambiente. O presente trabalho objetivou o levantamento e análise de três impactos na bacia do córrego
do monte ocorrentes na cidade de Caiapônia, por meio de Software e Qgis. Foram analisados as matas
ciliares em torno do rio, erosões e o descarte inadequado de resíduos sólidos pela população. Para tanto
executou uma análise voltada para os acontecimentos atuais, ou seja, as visitas in loco constituindo
resultados. Na bacia do córrego monte vem acontecendo grandes ações antrópicas que pode afetar a
qualidade e a quantidade de água, pela contaminação do lixo e o assoreamento por causas das erosões e
voçorocas de grande escala situado na área de estudo. Assim é preciso executar projetos com ações
voltadas à recuperação e outras práticas para mitigar os efeitos da mesma.

Palavras-chave: bacia hidrográfica; mata ciliar; erosão; resíduos sólidos.

INTRODUÇÃO:
Recentemente, uma das grandes preocupações a população esta relacionado ao meio
ambiente, especialmente no que se refere á qualidade da água potável no mundo. O ciclo
hidrológico natural é composto por distintos processos físicos, químicos e biológicos. Quando
o homem introduz-se nesse sistema e se concentra no espaço, causa grandes alterações que
modificam de maneira drástica e com isso origina impactos significativos para o próprio
indivíduo e para a natureza.

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O desenvolvimento acelerado das atividades econômicas e da ocupação urbana


contribuiu para o estado de degradação ambiental, as atividades agrícolas são também
importantes geradores de poluição. “As consequências da expansão urbana sem uma visão
ambiental são a deterioração dos mananciais e a redução da cobertura de água segura para a
população, ou seja, escassez qualitativa” (PRAT; MUNNÉ, 2000 apud SCHNEIDER et al,
2011).

O desempenho de estudo sugestivo aos recursos hídricos é o que determina informações


apropriadas de fundamentar os critérios para sua gestão e tomadas de decisão. Estes estudos
dependem absolutamente das avaliações e observações recolhidas em campo de maneira
contínua e precisa. Sem os dados básicos torna-se inviável a representação das características
do regime hídrico de qualquer bacia hidrográfica. De acordo com (GONÇALVES, 2016):

O monitoramento de recursos hídricos é um conjunto de ações e esforços que


visa permitir o conhecimento da situação da qualidade das águas e seu padrão
de comportamento ao longo do espaço e do tempo. As redes de monitoramento
e os programas em que estas estão inseridas permitem a avaliação da qualidade
das águas em locais específicos, em que os critérios para a definição da
localização das estações de amostragem estão relacionados a requisitos
distintos e dependentes dos objetivos peculiares aos sistemas de gestão dos
recursos hídricos.

Dessa maneira, desenvolver um sistema de informações através da coleta de dados,


estabelecendo uma visão sistêmica da realidade é de relevante interesse para a população local
e para as autoridades, visando à implementação de políticas públicas de adequação e utilização
dos recursos hídricos.

E indispensável, acompanhando a tendência mundial, não somente a regulamentação,


mas a realização de uma política nacional de recursos hídricos. Neste aporte, o Brasil constituiu
pelo meio da lei n. 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que disciplinou o uso dos recursos hídricos
no Brasil quer seja por derivação ou captação, extração, lançamento aproveitamento dos
potenciais hidroelétricos ou para outros usos que modifica-se o regime a quantidade ou a

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qualidade da água vivente em um corpo d'água. Estas atividades necessitam que seja concedida
a outorga, além do código florestal que vai constituir a dimensão correta das matas ciliares.

Considerando-se que as diferentes atividades presentes numa bacia hidrográfica levam


a diferentes alterações no canal fluvial, a finalidade do presente trabalho é avaliar o
comportamento de alguns parâmetros de qualidade da água sob a visão de diferentes usos e
ocupação do solo. Devido à ação humana ocasionada no meio ambiente, ocorre uma degradação
dos recursos naturais dentre eles, a mata ciliar, surgimento de erosões e o descarte inadequado
de resíduos sólidos, o que acaba alterando a qualidade da água na bacia hidrográfica.

A vegetação que circunda as nascentes e cursos de água é essencial à preservação


ambiental e em específico para a conservação das fontes de água e da biodiversidade, seja por
origem ou denominação. Entre as vantagens equivalentes ao meio ambiente por esta vegetação,
destaca-se o controle á erosão nas extremidades dos córregos e rios, a diminuição dos efeitos
de enchentes, proteção da qualidade e quantidade das águas pela filtragem, reduzindo os
produtos agrotóxicos e fertilizantes colaborando para a sustentação da biodiversidade.

É compreensível que a proteção da mata ciliar é de essencial importância e que sua


demolição provoca impactos para o meio ambiente como para a própria sociedade, causando
assim vários efeitos negativos para o ser humano. De acordo com o Código Florestal de 2012
nº 12.651 a mata ciliar é a vegetação que segue o curso d`água protegendo contra o
assoreamento. Ela funciona como uma espécie de filtro e previne a contaminação das águas por
produtos poluentes, como os utilizados na agricultura, e permite a absorção de nutrientes como
nitrogênio, fósforo, cálcio e magnésio. O Código Florestal ainda aborda no capitulo II sobre a
largura das faixas marginais do curso d’água natural, sendo que a largura mínima da mata ciliar
e de 30 metros para cursos d’água até 10 metros, o que será analisado no projeto, além de obter
outras medidas para diferentes faixas de curso d’água.

Outro processo é a erosão, também conhecida como a perda da camada superficial do


solo; há outras formas de erosão, mas, a erosão provocada por ação hídrica e eólica é a mais
conhecida. O escoamento superficial da água faz com que o solo seja transportado no seu
declive até chegar aos mananciais, assim, deste modo, provoca o assoreamento, na maioria das

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vezes isso acontece devido às condições físicas e climáticas, desse modo, as perdas da camada
superficial do solo prejudicam a fertilidade. De acordo com Araújo; Almeida e Guerra (2014,
p. 24) isso pode acontecer por vários fatores.

(a) Conforme o solo se torna mais denso e fino, fica menos penetrável às raízes
pode se tornar superficial demais a elas; (b) reduz-se a capacidade de o solo
reter água e torná-la disponível às plantas, e (c) os nutrientes para as plantas
são lavados com as partículas de solo erodidas.

Não obstante, a ação humana a respeito do meio ambiente colabora exageradamente


para a aceleração do processo, acarretando como consequências, a perda de solos férteis, a
poluição da água, o assoreamento dos cursos d’água e reservatórios e a degradação e redução
da produtividade global dos ecossistemas terrestres e aquáticos. Da mesma forma, o depósito
de lixo em áreas impróprias e a céu aberto causa não só contaminação do lençol freático, como
o próprio solo e por decorrência, quando fazem da queima do mesmo, pode gerar a poluição
atmosférica. Vale destacar que há a contaminação de variadas espécies animais que buscam
esses locais para se alimentar.

OBJETIVO:
O objetivo tem em foco, analisar se a metragem das mata ciliar da bacia do córrego
monte no Município de Caiapônia está de acordo com o código florestal de 2012 nº 12.641,
avaliar a presença e o tipo de erosão, e verificar a disposição de resíduos sólidos descartado de
forma inadequada no local, o que gera danos no meio ambiente, propondo uma gestão e
gerenciamento no córrego monte, e analisar a percepção destes e possíveis ações que visem
contribuir para reduzir a degradação ambiental.

MATERIAIS E MÉTODOS:
A cidade de Caiapônia esta localizada na microrregião Sudoeste de Goiás e possui,
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 16.757 habitantes, segundo o
censo de 2010. Esta localizada na latitude 16,957º S e longitude 51,855º O. A cidade se encontra
parcialmente dentro da bacia hidrográfica do córrego monte sendo que dentro dessa bacia

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possui uma micro bacia que é popularmente conhecida como córrego das galinhas que abastece
a cidade, sendo esta a bacia que delimita a área de estudo do trabalho.

Figura 1. Localização da área de estudo.

A metodologia aplicada se deu de duas maneiras: através de visita a campo para ter
melhor precisão de dados e verificar algumas áreas que não foram possível definir por imagens
de satélite, e com o uso de sistemas de informações geográficas (SIG) para se fazer o
geoprocessamento da bacia de estudo. O primeiro passo do trabalho baseou-se em baixar os
arquivos para montar uma base cartográfica da área de estudo.

Para delimitar esta bacia no qual foi utilizado o software livre de geoprocessamento
Qgis na versão 2.14.11 Essen, no qual foi usado o DATUM SIRGAS 2000, foi aplicado os
shapefiles de drenagem do país e as divisões municipais do estado de Goiás disponíveis no site
do SIEG (Sistemas Estadual de Geoinformação), imagem STRM do site TOPODATA (Banco
de Dados Geomorfometricos do Brasil) e através do complemento QuickMapServices para a
sobreposição da imagem de satélite nos shapefiles usados facilitando a delimitação da bacia.

Com os arquivos baixados iniciamos o Qgis e configuramos o Sistema de Referência de


Coordenada (SRC) para o código EPSG 4674, que consiste no Datum SIRGAS 2000. Foi feito
o carregamento do shepefile através do gerenciador de camadas, acessando o explorador de

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arquivos, onde estão armazenados os dados de drenagens e limites do estado de Goiás. Após
aberto foram apagados os outros municípios do estado para ficar mais fácil de trabalhar, e
recortar a drenagem de acordo que só irá aparecer a drenagem dentro do limite municipal.

Para gerar as curvas de níveis que são fundamentais para a delimitação seguimos os
seguintes passos, barra de ferramentas lateral aperte em Raster e selecione o arquivo de imagem
STRM e clique OK. Neste trabalho foram utilizadas duas imagens, pois a bacia hidrográfica se
localiza na margem das duas imagens que tem como identificação de SE-22-V-D e SE-22-V-
B. Para gerar as curvas deve ir ao menu de ferramenta e clicar em Raster, Extrair, Contorno, na
janela que abrir devemos selecionar o Arquivo de Entrada (Raster), e selecionar o local do
Arquivo de saída (Vetor) para Linhas de Contorno, o Intervalo entre linhas de Contorno foi
utilizado 3 metros por ser considerado uma distância bem precisa.

Para delimitar a bacia foi seguido duas etapas, a primeira foi definir o ponto de exutório
onde gera um shapefile de ponto que no caso do trabalho colocou-se o ponto no local de
encontro do córrego monte que desagua no Rio Bonito que passa próximo a cidade, depois deve
mudar de cor a drenagem da bacia para diferenciar das drenagens das bacias vizinha.

Na segunda parte começa a delimitar a bacia criando um shapefiler de linha, para


começar a delimitar deve clicar lateralmente ao exutório escolhido iniciando sentido a montante
da bacia passando perpendicularmente as curvas de nível em sentido aos topos de morros
(espigão), e com isso circundando a bacia ate o exutório novamente. Dentro dessa bacia foi
feito mais três polígonos para dividir, pois ela possui diferentes usos do solo, depois de
delimitado a bacia repetindo o mesmo processo em que recortou o shapefile de drenagem faz-
se agora para recortar a drenagem no shapefile do limite do curso d` água.

Foi criado um Buffer no shapefile da drenagem de 30 metros nas margens dos canais de
drenagem obedecendo a lei 12.641 de 2012 para se saber as áreas das matas ciliares que estavam
regulares ou irregulares para se fazer o levantamento, nos pontos de nascentes foram criados os
buffer de 50 metros.

Para a identificação das matas ciliares irregulares foi feito a sobreposição da imagem de
satélite e o buffer criado da drenagem, nos locais que as matas estavam menores que os limites
do buffer foi marcado um ponto para contabilização dos locais de irregularidades. Do mesmo
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modo foi feito nas nascentes marcando um ponto nos locais com falta de mata. Na parte de
campo foram verificados alguns pontos que não foi possível ver por imagem de satélites, como
vistoria de terreno para ver se era erosão ou somente uma área sem vegetação ou laje de pedras
que é muito marcante na região, confirmação da largura das matas ciliares, presença de resíduos
sólidos depositados irregulares e verificar alguns outros tipos de impactos.

RESULTADOS E DISCUSSÕES:
Devido ao uso inadequado do solo estão comprometendo a qualidade ambiental do
ecossistema, mesmo havendo leis que protegem o meio ambiente o processo de degradação
vem impactando com consequência maior nos recursos hídricos, com isso é de extrema
importância a avalição das condições ambientais das áreas e para adotar medidas de
conservação e manutenção ambiental.

Após a utilização do (SIG) pode se estabelecer resultados para a avaliação das matas
ciliares e outros impactos ambientais sendo estes o método mais utilizado para avaliação
atualmente e ainda carece de novas metodologias de pesquisas. Através da análise da figura (2),
pode se observar que os cursos d´água que faz parte da bacia do córrego monte, estão com
muitos pontos críticos de preservação da mata ciliar sendo contraditório ao código florestal.

Figura 2: quantificação de impactos na bacia do córrego monte.

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Com a análise do recorte espacial da bacia do córrego monte que contém uma área total
de 167,321 km², o uso e ocupação do solo que prevalece e a pecuária e agricultura. Este processo
de produção que vem sendo feito de forma inadequada com super-pastejo, monoculturas, a não
utilização de práticas conservacionistas aliados ao revolvimento excessivo do solo e uso
excessivo de produtos químicos e o desmatamento, vem causando à degradação do solo
tornando susceptível a erosão. E na busca de abertura de novas áreas vem-se degradando as
matas ciliares, o que ocasiona um problema para os cursos d´água, pois sem as matas ciliares
acelera o processo de assoreamentos, é assim com a precipitação que faz com que as gotas de
chuva atingem o solo descoberto origina o salpicamento do mesmo, que e desprendido e levado
através do declive para os leitos dos rios. São aspectos como estes que ocasionam o grande
número de áreas irregulares, sendo que na cabeceira do córrego monte apresenta 52 pontos de
locais sem a preservação das matas ciliares, mais 2 pontos de erosões de grande porte sendo
caracterizadas do tipo de sulcos, e outro fator que prejudica a bacia do córrego monte e o lixão
localizado perto do curso d`água.

No meio da bacia do córrego do monte está localizada a estação de tratamento de água


(ETA) para o abastecimento da população, onde está sendo degradada com várias erosões e
voçorocas de grande porte, com algumas medidas de até 600 metros de comprimento e de
largura mais de 50 metros. Também foi localizada uma em pleno funcionamento, onde estavam
pegando matéria prima para produzir o carvão vegetal dentro da bacia do córrego do monte.

Na parte inferior da bacia, está localizada a cidade de Caiapônia. A bacia corta a metade
da cidade onde todas as drenagens dessa mesma escoam-se para o córrego monte, como a cidade
não tem sistema de drenagem às enxurradas provocadas pela chuva ganha mais velocidade de
saída no final das ruas provocando grandes erosões e o arrastamento de resíduos sólidos para o
leito do rio. Perto da cidade, devido as consequência dessas enxurradas foram identificadas 3
grandes voçorocas, com grande presença de lixo oriundos da cidade como pneus, entulho,
geladeiras e sacolinha de plásticos. A cada dia que passa essas voçorocas crescem de uma
maneira acelerada assim contaminando e poluindo o curso d` água. Nas proximidades do

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exutório da bacia as matas ciliares estão mais preservadas enquadradas na lei do código florestal
12.641, de 25 de maio de 2012.

CONCLUSÃO:
Através da análise dos dados concluímos que a bacia do córrego do monte apresenta
alguns problemas que consequentemente prejudicando a toda a bacia, quanto o leito do curso
d´água. Assim afetando a bacia de uma forma social, ambiental e econômica, sendo que a
mesma e responsável pelo abastecimento de água da população de Caiapônia.

As matas ciliares são muito importante para a proteção do curso d´água sendo que
pequena parte da bacia está de acordo com os 30 metros de largura APPs, mas apresenta muitos
pontos de falha exatamente 119 pontos no total, sendo grande parte desses pontos localizados
em áreas de pastagem. Algumas pastagens que foi verificada apresentando a pratica do super-
pastoreio que estão em processo de degradação, assim favorecendo a compactação e
surgimentos de erosões no solo, e na agricultura podendo está contaminado o rio e solo por
agrotóxicos, que será foco de uma nova pesquisa.

Na bacia foram encontrados 22 pontos de erosões, sendo classificas em erosões de


sulcos e algumas de ravina, e também voçorocas de grandes porte. Dentro de algumas voçorocas
foram observado a quantidade de solo que está erodindo a cada ano, e grandes pontos com a
presença de resíduos sólidos, sendo em total 8 pontos.

REFERÊNCIA
ARAUJO, G. H. de S.; ALMEIDA, J. R. de; GUERRA, A. J. T. Gestão Ambiental de Áreas
Degradadas. 5. Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. Disponível em:
<http://www3.ifmg.edu.br/site_campi/v/images/arquivos_governador_valadares/TCCCelso.p
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BRASIL. Lei Nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Disponível em: <


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm>. Acesso em: 10
maio de 2018.
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http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=370> Acesso em : 11 maio de
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GONÇALVES, F. M. Bacia hidrográfica do rio paraíba do sul: avaliação integrada da
qualidade das águas dos estados de minas gerais, rio de janeiro e São Paulo. Belo
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INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA ESTATÍSTICA. Panorama Cidades. 2013.
Disponível em: < https://cidades.ibge.gov.br/brasil/go/caiaponia/panorama> Acesso em : 20
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SCHNEIDER, R. M. et al. Estudo da influência do uso e ocupação de solo na qualidade da
água de dois córregos da Bacia hidrográfica do rio Pirapó. Maringá, v. 33, n. 3, p. 295-303,
2011. Disponível em: < file:///C:/Users/KAMYLLA/Downloads/8385-54659-1-PB.pdf>
Acesso em: 02 maio de 2018.

SIEG. Sistema Estadual de Geoinformação. 2013. Disponível em:


<http://www.sieg.go.gov.br/> Acesso em : 20 maio de 2018.

TOPODATA. Banco De Dados Geomorfometricos Do Brasil. São Paulo, 2008. Disponível em:
<http://www.dsr.inpe.br/topodata/> Acesso em : 19 maio de 2018.

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VARIABILIDADE DAS CHUVAS NO OESTE DE GOIÁS: ASPECTOS


TEMPORAIS E DINÂMICOS

Gustavo Zen de Figueiredo Neves


Universidade de São Paulo
gustavozen@usp.br

Thiago Rocha
Universidade Federal de Goiás/Jataí
thiagorocha1@hotmail.com

Valdir Specian
Universidade Estadual de Goiás;
vspecian@gmail.com

Resumo: O presente trabalho apresenta uma caracterização do regime e variabilidade climática em dois
postos pluviométricos localizados na mesorregião oeste do Estado de Goiás. Escolheu-se uma série
histórica pluviométrica entre 1 de janeiro de 1975 e 31 de dezembro de 2015, totalizando 41 anos. Como
metodologia, utilizou-se a estatística descritiva para analisar o conjunto de dados, e posteriormente,
classificados em “anos-padrão” em períodos trimestrais. O percentual mensal de precipitação em relação
ao regime anual foi expresso por meio de pluviogramas. Os resultados apontam para uma acentuada
irregularidade das chuvas no período de primavera-verão e habitualidade no período de inverno. Os
pluviogramas indicam que o regime seco de outono-inverno é mais definido para o posto de São Ferreira.
O posto de Caiapônia apresentou episódios pluviométricos mais recorrentes no trimestre junho, julho e
agosto, indicando a atuação de sistemas frontais no inverno.

Palavras-chave: Precipitação; Climatologia Dinâmica; Região Centro-Oeste.

INTRODUÇÃO
Os estudos em climatologia têm crescido de maneira exponencial nos aspectos
qualitativos e quantitativos. No Brasil, um dos elementos climatológicos mais estudados diz
respeito a precipitação pluviométrica por apresentar séries temporais superiores a três décadas
com razoabilidade de registros diários.
É particularmente atraente, o estudo da chuva, devido a dependência que as sociedades
humanas possuem desse fenômeno, sendo um dos elementos da climatologia mais relevantes,
pois refere-se à sobrevivência humana (CONTI, 1975).
Na região de Goiás, tem-se alguns estudos pioneiros relacionados a dinâmica climática
e variabilidade das chuvas, como apresentados por Monteiro (1951, 2015); Nimer (1989);
Assad (1990); e outros mais recentes como em Barros (2003); Alves e Vecchia (2011); Cardoso
et al. (2014); Nascimento (2016) e Neves et al. (2017).

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Diante da revisão realizada sobre a climatologia dinâmica, o objetivo principal deste


trabalho foi apresentar uma caracterização do regime climático em dois postos. pluviométricos
situados na mesorregião do oeste goiano, em uma série temporal de 41 anos, entre os anos de
1975 até 2015.

MATERIAIS E MÉTODOS
Obtenção dos dados e série temporal
A série histórica utilizada para a análise climatológica foi escolhida a partir da
disponibilidade de dados pluviométricos no Sistema Nacional de Informações de Recursos
Hídricos (SNIRH/HidroWeb), plataforma eletrônica da Agência Nacional de Aguas – ANA. O
presente estudo foi definido em uma série histórica pluviométrica entre 1 de janeiro de 1975 e
31 de dezembro de 2015, totalizando 41 anos.
O arranjo, verificação dos dados diários de chuvas, a análise e seleção da série histórica
e o tratamento estatístico dos dados de chuva referentes à série temporal definida para esta
pesquisa foram realizados no software Excel 2007, por meio de planilhas minuciosamente
elaboradas, além da confecção dos gráficos, tabelas e planilhas, todos muito úteis para a síntese
e interpretação dos resultados.
Caracterização da área de estudo
Os postos pluviométricos utilizados na presente pesquisa situam-se na mesorregião
oeste do Estado de Goiás, nas proximidades dos municípios de Piranhas e Caiapônia. Possuem
87 quilômetros de distância entre si e estão localizados na compartimentação topográfica da
Serra do Caiapó (Nascimento, 1991). Os postos pluviométricos encontram-se na região oeste
do Estado de Goiás conforme ilustra a Figura 1 e Tabela 1.

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Figura 1: Localização da área de estudo.

Fonte: SIEG (2012). Organização: Autores (2018).

Tabela 1: Informações dos postos pluviométricos estudados.


Informação Código Nome Responsável Lat Long Altitude
P1 1651003 São Ferreira ANA -16,31 -51,47 361
P2 1651000 Caiapônia ANA -16,95 -51,80 713
Fonte: Agência Nacional de Águas (2015).

De acordo com Alves et al. (2011), a caracterização climática da região, segundo a


classificação de Köppen (1948), é do tipo AW (clima quente e úmido) com duas estações bem
definidas, verão chuvoso (outubro a março) e inverno seco (abril a setembro). A precipitação
média anual é 1500 mm e a temperatura média anual 25,6°C. No período de outubro a março,
ocorrem as maiores precipitações pluviométricas e as primeiras chuvas ocorrem no mês de
setembro, conforme a Figura 2.

Estatística descritiva
Foram analisados alguns elementos fundamentais para a compreensão do regime
pluviométrico, levando em consideração as estações do ano e sua variabilidade, de acordo com
os seguintes parâmetros estatísticos:

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(1)

(2)

(3)

Após o tratamento estatístico, elaborou-se a técnica de anos-padrão. A mesma foi definida


a partir da observação dos totais anuais da precipitação e suas variabilidades temporais,
classificada trimestralmente como ano padrão habitual, seco ou chuvoso. Mais detalhes em
Monteiro (1973) e Sant’Anna Neto (1990).
Para representar as características do regime mensal das chuvas no oeste goiano, buscou-
se seguir o referencial de Schröder (1956), que fornece as bases para a elaboração de
pluviogramas. Estes são quadros que apresentam os percentuais de precipitação pluviométrica
mensal, permitindo visualizar as situações habituais e excepcionais em relação ao regime da
série temporal estudada.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados do desvio padrão apontaram uma ampla variabilidade pluviométrica nos
períodos de primavera, verão, outono e inverno. Notou-se que o período de primavera
apresentou uma irregularidade menos acentuada quando comparado com o período de verão,
com valores excepcionais negativos no ano de 1977. Logo, a estação de verão as irregularidades
foram mais notórias com desvios percentuais nos anos de 1975, 1977, 1978 e 1990 com valores
de superiores a -40% de precipitação. Por outro lado, os desvios de precipitação no período
outono-inverno apresentaram valores percentuais menos pronunciados, variando entre 15% e -
10% de precipitação. Destacam-se os anos de 1979, 1987 com valores positivos de precipitação
(Figura 2).

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Figura 2: Desvios padronizados de precipitação trimestral para o posto São Ferreira (P1).

Fonte: ANA (2015).

O posto pluviométrico do Caiapônia revelou desvios percentuais de precipitação


expressivos no período de primavera-verão. Notou-se que nos últimos cinco anos da série
temporal, entre 2011 e 2015, o percentual pluviométrico foi negativo, com destaque para o ano
de 2013 que superou em -100% da média na primavera, e -130% no verão, respectivamente. Os
outros anos da serie temporal apresentaram irregularidades que variaram entre 30% e -35% da
média do período chuvoso. Todavia, o período de outono-inverno também se mostrou irregular
para o ano de 2013, com valores de -27% de precipitação no outono, e -15% no inverno,
respectivamente. Em síntese, o semestre mais seco revelou um percentual de desvio de chuva
entre 18%, no inverno, e valores negativos na ordem de 10%, no outono, conforme ilustra a
Figura 3.

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Figura 3: Desvios padronizados de precipitação trimestral para o posto Caiapônia (P2).

Fonte: ANA (2015).

Para uma observação visual mais acurada sobre a dinâmica pluviométrica adotou-se a
metodologia de “anos padrão”, que classifica os coeficientes de variação pluviométrica em três
classes principais: seco, chuvoso e habitual (SANT’ANNA NETO, 1990). No presente trabalho
as classes foram subdivididas em outras 14 subclasses a fim de obter um panorama específico
da variabilidade pluviométrica trimestral, entre os postos analisados.
De maneira mais expressa do quadro pluviométrico, para o posto de São Ferreira (P1),
o período de verão apresentou irregularidades mais acentuadas que a primavera, com
coeficientes de variação superiores a -50% nos anos de 1975 e 1978, e -35% e 32% nos anos
de 1993 e 2001, classificados como “extremamente secos”.
No posto pluviométrico de Caiapônia (P2), observou-se que os desvios pluviométricos
de primavera-verão foram irregulares ao ponto de apresentar coeficientes na classe de
“extremamente chuvosos” em 1980, 1982 e 2003, acima de 30,01% de precipitação em relação
à média de 41 anos analisados. Todavia, para o mesmo período chuvoso, houve anos
“extremamente secos”, com destaque para o ano de 2007, 2012, 2013 e 2014, sendo que no
semestre de 2013 o coeficiente de variação pluviométrico apresentou valores inferiores a -
130%, com extrema irregularidade na série histórica em quatro décadas (Figura 4).

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Figura 4: Intervalos de coeficiente de variação trimestral de “anos-padrão” entre 1975-2015.

Fonte: ANA (2015).


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Na perspectiva do regime pluviométrico, elaborou-se um quadro mensal da


porcentagem de precipitação ocorrida na série temporal analisada, chamado de pluviograma
(SCHRÖDER, 1956). Notou-se, no pluviograma de São Ferreira, que o regime de chuvas é
marcado entre os meses de outubro a abril. Por outro lado, o período seco apresenta-se entre os
meses de maio a setembro. A predominância das porcentagens mensais pluviométricas
superiores a 25,1% concentra-se nos meses de novembro, dezembro, janeiro, fevereiro e março.
No acumulado mensal pluviométrico, notou-se que nos verões de 1977, 1978, 1980, 1985,
1986, 1994, 1997 e 2003, nos meses de dezembro ou janeiro, apresentaram percentuais acima
de 30% do volume de chuvas anuais.
O período seco também é provido de episódios pluviométricos significativos com
percentuais de 10,4% e 10,7% nos meses de agosto e setembro, respectivamente em 1986 e
1993. No período de inverno, observou-se acumulados percentuais em todos os meses para os
anos de 1985 e 1989, indicando a atuação de sistemas frontais na gênese das chuvas de inverno
para o oeste goiano (Figura 5).

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Figura 5: Porcentagem mensal de precipitação para o posto São Ferreira (1975-2015).


Fonte:
ANA
(2015).

pluviograma elaborado para o posto de Caiapônia revelou aspectos importantes sobre a porcentagem
mensal das chuvas. Observou-se que o regime da estação seca não é tão bem definido quando comparado
com o pluviograma de São Ferreira. Nos anos de 1989, 1990, 1994 revelou percentuais pluviométricos
em todos os meses. Em outros anos o período de inverno apresentou episódios úmidos com percentuais
notáveis de 9,7% para o mês de junho de 1997, e 6,6% em julho de 2014. O predomínio do mês mais
seco para o posto pluviométrico de Caiapônia é julho, com 23 anos secos, seguido de agosto com 20
meses secos.
O quantitativo pluviométrico nos meses de primavera-verão revelou percentuais excepcionais
para fevereiro de 1995, com valores acima de 35% de chuva, e para o mês de março de 2011 com
percentual mensal de 40%. A Figura 6 ilustra a porcentagem mensal de precipitação em Caiapônia em
sete classes. O quadro à direita da figura revela o total pluviométrico anual para a série histórica de 1975
a 2015.

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Figura 6: Porcentagem mensal de precipitação para o posto Caiapônia (1975-2015).

Fonte: ANA (2015).

CONSIDERAÇÕES
Os períodos de primavera-verão apresentaram irregularidades mais acentuadas de
precipitação em comparação ao período de outono-inverno, predominantemente mais regular e
com valores percentuais de precipitação habituais.
Recomenda-se a relação de dados de precipitação de outras estações de superfície no
oeste de Goiás, e eventos de macroescala (Oscilação Decadal do Pacífico; El Niño; La Niña; e
outros), a fim de compreender a relação positiva e negativa dos sinais apresentados pela
variabilidade das chuvas.
O curso anual das chuvas e suas irregularidades ficaram patentes nos pluviogramas,
demonstrando diferenças significativas na distribuição mensal das chuvas para os postos
pluviométricos situados a menos de 100km de distância entre si, ressaltando a possibilidade de
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interferência da Serra do Caiapó na concentração e dispersão dos acumulados pluviométricos


mensais, sazonais e anuais.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), pelo auxílio financeiro.

REFERÊNCIAS
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precipitação pluvial no Estado de Goiás. Acta Sciencitarium. Maringá, v.33, n.2, p.193-197,
2011. DOI: 10.4025/actascihumansoc.v33i2.13815
ALVES, E. D. L.; PRADO, M. F.; SPECIAN, V. Análise da variabilidade climática da
precipitação pluvial em Barra do Garças, Mato Grosso. Brazilian Geographical Journal, v. 2,
p. 512-523, 2011.
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CONTI, J. B. A circulação Secundária e o Efeito Orográfico na Gênese das Chuvas: o
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MONTEIRO, C. A. F. Análise Rítmica em Climatologia – problemas da atualidade climática
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MONTEIRO, C. A. F.; SANT'ANNA NETO, J.; MENDONÇA, F.; ZAVATINI, J. A. A
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SCHRÖDER, R. Distribuição e curso anual das precipitações no Estado de São Paulo.
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VARIAÇÃO TEMPORAL DAS CHUVAS NO QUADRIMESTRE


(JANEIRO, FEVEREIRO, MARÇO E ABRIL) EM IPORÁ-GO

Washington Silva Alves


UEG – Campus de Iporá
washiipora@hotmail.com

Zilda de Fátima Mariano


UFG – REJ
zildadefatimamariano@gmail.com

RESUMO: Esta pesquisa teve como objetivo analisar a variação temporal da precipitação pluviométrica
no quadrimestre de janeiro, fevereiro, março e abril entre o período de 1974 a 2018, totalizando 45 anos.
Os dados utilizados nesta pesquisa foram obtidos junto a ANA e ao Laboratório de Climatologia da
UEG – Campus de Iporá. Os dados foram organizados em planilhas de cálculo para preenchimento de
falhas, aplicação da estatística descritiva e construção de gráficos e tabelas. Os resultados demonstraram
que em 25 anos da série histórica analisada registraram volumes de chuva acima da média e 20 anos
apresentaram volumes abaixo da média, inclusive os três últimos anos da série 2016, 2017 e 2018.
Palavras-chave: Clima, Precipitação Pluviométrica, Variação Temporal

INTRODUÇÃO
A séculos o clima tem sido objeto de análise de vários pesquisadores ligados as ciências
que estudaram a atmosfera. No caso da Geografia, o anseio por compreender a interação entre
os elementos e fatores climáticos e sua relação com a sociedade, tem sido objeto de estudo da
Climatologia Geográfica.
Trata-se de uma questão muito importante, pois os elementos Radiação Solar,
Temperatura do ar, Umidade do ar, Precipitação Pluvial e outros estão cotidianamente em
interação com a sociedade, muitas das vezes ditando seu modo de vida, refletindo na economia
e na sua forma de ocupação e organização no espaço.
Os elementos climáticos têm sido estudados no Brasil por vários pesquisadores como
Monteiro (1971), Nimer (1979), Mariano (2005), Baldo (2006), Zavattini (2009), Zavattini e
Boin (2013), dentre outros, com o objetivo de compreender sua dinâmica e os efeitos de sua
variabilidade espacial e temporal sobre determinadas regiões.
Cotidianamente assuntos relacionados ao padrão dos elementos climáticos são
transmitidos pela mídia a sociedade. Informam notícias sobre a previsão do tempo atmosférico
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mostrando em quais regiões vai chover, qual estará mais seca, onde a temperatura será mais
elevada. Também informam sobre os efeitos da variação dos elementos climáticos com
abastecimento de água, com a geração de energia elétrica, com a produção agrícola, com o
desconforto térmico e inundações em áreas urbanas, etc.
De fato, isso indica que o conhecimento sobre a dinâmica dos elementos climáticos e
sua variação no tempo e no espaço é importante, pois interfere diretamente na natureza e no
modo de vida e organização da sociedade.
Segundo Baldo (2006) o estudo da variação da precipitação é importante não só do ponto
de vista climático, mas principalmente devido sua relação com os problemas de inundação em
áreas urbanas, com os problemas de ordem econômica oriundos da produção agrícola, do
abastecimento de água e da geração de energia hidroelétrica.
Nesta mesma perspectiva, Marengo et al. (2007, p. 202) também ressaltou que os
“extremos de chuva, especialmente no verão, podem ocasionar enchentes e gerar impactos
diretos sobre a população, embora em escalas de tempo sazonais, um atraso no início da estação
chuvosa pode causar impactos graves na agricultura e na geração de energia hidroelétrica”.
De acordo com Sant’ Anna Neto e Zavatini (2000) devido ao clima ser muito dinâmico,
torna-se necessária a observação de seus principais elementos, como a temperatura, a umidade
e a pluviosidade, por um longo período de tempo, para verificar se as variações de seus padrões
são realmente permanentes, ou são fatores de mudança climática, ou se são ciclos periódicos
que tendem a se repetir de tempos em tempos, tratando-se apenas de variabilidade do clima.
Dessa forma analisar a variação temporal da precipitação pluviométrica em Iporá-Go é
relevante, pois revela como esse elemento se portou ao longo de um período de tempo, podendo
dimensionar seus extremos. Neste sentido, o objetivo desta pesquisa foi de analisar a variação
da precipitação pluviométrica, durante o quadrimestre de janeiro, fevereiro, março e abril, em
Iporá-GO, tendo em vista que essas informações são relevantes para tomada de decisões quanto
ao abastecimento de água da área urbana e rural do município, para agricultura e o planejamento
ambiental da região.

Caracterização da área de estudo

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O município de Iporá está localizado na região de planejamento do estado de Goiás


denominada Oeste Goiano entre as coordenadas geográficas 16° 24' 00'' e 16° 28' 00'' Sul, 51°
04' 00' e 51° 09' 00'' Oeste. Possui uma população estimada em 32.242 habitantes, conforme o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2018).
O município faz divisa territorial com sete municípios: Amorinópolis e Ivolândia, ao
sul, Moiporá e Israelândia, a leste, Diorama e Jaupací, ao norte e Arenópolis a oeste. A cidade
de Iporá está a 220 Km da capital do estado de Goiás (Goiânia). (Figura 1).

Figura 1 – Localização da área de estudo

Fonte: Sieg (2018)


Org. Os autores (2018)

As principais vias de acesso ao município são: a) GO-060 (pavimentada): principal via


de acesso à capital do estado e faz ligação com o estado do Mato Grosso; b) GO-174
(pavimentada): faz a ligação do município com a região sul e Sudoeste de Goiás; c) GO-
221(pavimentada): liga o município com o Sudoeste de Goiás e d) GO-320 (não pavimentada):
outra via de acesso à região sul do Estado de Goiás.
A cidades possui sua economia baseada na pecuária leiteira e de corte, na agricultura
familiar e no comércio. (IBGE, 2018)

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Em relação as características climáticas regionais, Iporá apresenta o tipo climático (Aw)


(clima tropical de savanas com chuvas no verão), conforme a classificação de Koppen; para
Torres e Machado (2011), esse tipo climático predomina nas áreas do Brasil central.
Sousa (2013) definiu que a cidade de Iporá apresenta temperaturas médias variando
entre 24°C a 25°C e precipitação média de 1628 mm/ano, baseado nos dados de precipitação
pluvial e de temperatura fornecidos pelo SIMEHGO (Sistema de Meteorologia e Hidrologia do
Estado de Goiás) e pela ANA (Agência Nacional de Águas).

PRCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Incialmente foram realizados levantamentos e leituras de bibliografias ligadas ao tema


de estudo para construção do referencial teórico da pesquisa. Posteriormente, foram obtidos
dados de precipitação pluviométrica junto a Agência Nacional de Águas – ANA e da Estação
Meteorológica do curso de Geografia da UEG – Campus de Iporá para compor a série histórica
para análise.
Os dados obtidos, juntos as entidades citadas anteriormente, foram organizados em
planilhas de cálculo para verificar a consistência das informações e preenchimento das falhas.
Para o preenchimento de falhas foi utilizado dados do posto pluviométrico da ANA mais
próximo, e no caso desta pesquisa foi utilizado informações do posto pluviométrico de
Israelândia-GO, distante 19 km em linha reta do posto pluviométrico de Iporá-GO.
Após a organização dos dados foi definido a série histórica para análise dos dados e
aplicado a estatística descritiva para verificar informações sobre os valores máximos e mínimos
de chuva, a média, mediana, a moda e o desvio padrão da série histórica. Também foi gerado
gráficos e tabelas para representar as informações na discussão dos resultados.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Nesta pesquisa foram analisados dados de chuva obtidos entre os anos de 1974 e 2018,
totalizando 45 anos. Os resultados demonstraram que o maior valor de chuva acumulada
registrada no quadrimestre de janeiro, fevereiro, março e abril foi de 1298,2 mm no ano de
1983. O menor valor (511,4 mm) foi registrado no ano de 1987 e a média de chuva deste período

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foi de 873,1 mm. (Tabela 1).


A mediana, medida que divide uma série de dados exatamente ao meio, foi de 885 mm
e o desvio padrão amostral foi de 185,3 mm (Tabela 1). Isso indica que, durante a série histórica
utilizada para esta análise, houve uma variação dos totais de chuva acumulada na ordem de
185,3 mm.

Tabela 1 – Dados estatísticos do quadrimestre de janeiro, fevereiro, março e abril entre os


anos de 1974 a 2018
Localidade Variável Valores
Máxima 1298,2 mm
Mínima 511,4 mm
Média 873,1 mm
Iporá-GO
Mediana 885
Moda Não houve
Desvio Padrão Amostral 185,3 mm
Fonte: Os autores (2018)

Dos 45 anos da série histórica, em 25 foram registrados volumes de chuva na média e


acima da média e em 20 os valores de precipitação foram abaixo da média histórica do período
analisado. Vale ressaltar que nos três últimos anos da série, 2016, 2017 e 2018 os totais de
chuva do quadrimestre de Janeiro, Fevereiro, Março e Abril (JFMA) foram abaixo da média
obedecendo uma tendência de diminuição dos volumes de chuva em cada ano. (Figura 2).

Figura 2 – Variação dos totais de chuva para o quadrimestre JFMA em Iporá-GO entre os
anos de 1974 e 2018.

Fonte: ANA (2018) e Laboratório de Climatologia da UEG – Campus de Iporá (2018)

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Org. Os autores (2018)

No ano de 1983 e 1998 foram registrados os maiores valores de precipitação


pluviométrica, sendo 1298,2 mm e 1282,0 mm. Esse fato coincidiu com anos que estava sobre
a atuação do fenômeno El Niño forte. Apesar de não se ter informações específicas sobre os
efeitos deste fenômeno em Goiás, cabe ressaltar que Mendonça e Danni-Oliveira (2007)
pontuou que este fenômeno é responsável pelas elevações dos volumes de chuva.
Em 1987 foi registrado o menor volume de chuva (511,4 mm) seguidos pelos anos de
2012 (558,5 mm) e 2018 (613,6 mm). Nos anos de 2012 prevaleceu a atuação do fenômeno La
Niña moderado e segundo o CPETEC/INPE o ano de 2017/2018 está sob atuação do fenômeno
La Niña Fraco. Ao contrário do El Niño o La Niña contribui para redução dos volumes de
chuva. Especificamente sobre os efeitos do El Niño e La Niña em Goiás não dá para fazer
considerações contundentes, pois necessita de estudos mais aprofundados.
O ano de 2018 foi terceiro menos chuvoso da série histórica e este fato serve de alerta
para a gestão do uso da água destinada ao abastecimento humano, tendo em vista que no ano
anterior (2017) foi registrado volume de chuva um pouco maior (680,2 mm) e a população
iporaense sofreu com a falta de água para seu abastecimento durante o período seco, conforme
foi noticiado no jornal Oeste Goiano4.
O córrego Santo Antônio, manancial que abastece a cidade, não teve volume de água
suficiente para atender a demanda, mesmo a SANEAGO captando toda a vazão do córrego,
conforme está retratado na Figura 3.

4
https://www.oestegoiano.com.br/noticias/meio-ambiente/ja-nao-sobra-agua-no-santo-antonio-apos-captacao-
para-abastecer-ipora
421
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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

Figura 3 – Ponto de captação de água da SANEAGO em Iporá-GO durante o período seco

Fonte: Jornal Oeste Goiano (2017)

Porém também deve ser ressaltado que o problema da falta de água para abastecimento
humano não é somente devido a variação das chuvas, mas principalmente na forma que as
bacias hidrográficas foram sendo ocupadas ao longo das últimas quatro décadas. O que
prevaleceu foi o desmatamento de vastas áreas de vegetação natural de cerrado, incluindo
nascentes e matas ciliares, para dar lugar as gramíneas utilizadas para pastagens e o cultivo de
diversos produtos agrícolas.
Um dos efeitos deste processo é a compactação dos solos que por sua vez, dificulta
infiltração da água da chuva para percolar e recarregar o lençol freático. Outro fator que também
deve ser considerado e a prática desenfreada do cultivo de culturas irrigadas, que demandam
um grande volume de água para sua prática.
Portanto, não se deve culpar apenas a variabilidade da chuva como o fator responsável
pela redução ou falta de água para o abastecimento humano, mas deve ser considerado outras
práticas que são efetuadas pela sociedade, principalmente aquelas provenientes do mau uso e
gestão das bacias hidrográficas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados do quadrimestre JFMA demonstraram ao longo da série histórica a variação


dos totais de chuva acumulada e sobre essa variação pode-se fazer as seguintes considerações:
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a) A linha de tendência estabelecida ao longo da série histórica de 45 anos indicou que


ocorreu uma leve redução dos volumes de chuva.
b) Os anos que registraram os valores extremos de precipitação estavam sobre o domínio
dos fenômenos El Niño muito forte e La Niña fraco e moderado.
c) Os últimos três anos da série histórica, 2016, 2017 e 2018 registraram uma redução
gradativa do volume de chuva. Esse fato serve de alerta para os gestores públicos, pois
este fato está diretamente relacionado ao abastecimento de água tratada para a
população urbana de Iporá. Deve ser considerado que se prevalecer os padrões
normais de condições atmosféricas para os próximos meses, é possível que o volume
de água do manancial que abastece a cidade não consiga abastecê-la no momento
crítico do período seco. Sendo que no ano anterior, o volume de chuva acumulado nos
quatro primeiros meses do ano foi maior que em 2018 e foi noticiado na mídia que
houve a falta de água tratada para população iporaense.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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hidrográfica do rio Ivaí-PR. 2006. p. 172. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação
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VARIAÇÕES DO ÍNDICE DE ANOMALIA DE CHUVA (IAC) NO


OESTE GOIANO

Washington Silva Alves


UEG-Campus de Iporá
washiipora@hotmail.com

Zilda de Fátima Mariano


UFG-REJ
zildadefatimamariano@gmail.com

RESUMO: O objetivo desta pesquisa consistiu em analisar as variações do Índice de Anomalia de


Chuva (IAC) em pontos específicos da região de planejamento do estado de Goiás, Oeste Goiano. Para
o desenvolvimento desta pesquisa foram analisados os dados de chuva disponibilizados pela ANA, por
meio do portal hidroweb. Os dados foram organizados em planilhas de cálculo para preenchimento das
falhas, aplicação da estatística descritiva e para calcular o IAC dos totais anuais da série histórica de
1980 a 2014. Os resultados demonstraram que durante esta série histórica analisada predominou o
registro de anos com anomalias negativas de precipitação e que nos postos de Britânia e Caiapônia
ocorreu uma elevação das anomalias negativas entre os anos de 2005 e 2014.

Palavras-chave: Precipitação Pluviométrica; Variabilidade; Planejamento

INTRODUÇÃO

A compreensão da distribuição espacial e as irregularidades dos elementos climáticos


no tempo são relevantes, não apenas do ponto de vista climáticos, mas segundo Baldo (2006) é
principalmente devido sua relação com o desconforto térmico em áreas urbanas, com os
problemas de ordem econômica oriundos da produção agrícola, do abastecimento de água e da
geração de energia hidroelétrica.
Partindo dessa perspectiva, estudos têm sido desenvolvidos pela comunidade científica
com o intuito de compreender a variabilidade climática e identificar sua tendência e sua relação
com a sociedade. Nestes estudos o IAC tem sido utilizado como uma ferramenta para analisar
a variabilidade da precipitação pluviométrica em vários municípios e regiões do Brasil.
Segundo Gross (2015) o IAC foi proposto por Roy (1965) e incorpora um procedimento
de classificação para ordenar magnitudes de anomalias de precipitações positivas e negativas,
ou seja, anos excessivamente seco ou chuvoso, portanto possibilita identificar a tendência da
precipitação para o município ou região analisada. Ainda conforme Gross (2015, p. 32),

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Esse índice é considerado muito simples, dada a sua facilidade de procedimento


computacional, que consiste da determinação de anomalias extremas. O IAC é
calculado na escala de tempo semanal, mensal ou anual. A escolha da escala de tempo
é feita com base na distribuição da precipitação.

Vários pesquisadores têm utilizado o IAC como ferramenta para análise da variabilidade
da precipitação pluviométrica e inclusive, por meio de seus resultados, estabelecem relações
desta variabilidade com o fenômeno El Niño Oscilação Sul – ENOS.
Marcuzzo e Goularte (2012) analisaram a variação do IAC da precipitação pluvial no
estado de Tocantins. Os resultados revelaram que para o período de estudo de 30 anos (1977 a
2006) houve maior número de anos secos do que de anos úmidos, ou seja, houve uma tendência
de diminuição das chuvas no estado do Tocantins para o período estudado.
Gross (2015) analisou as relações entre os decretos de situação de emergência e o Índice
de Anomalia de Chuva (IAC) nos municípios do Estado do Rio Grande do Sul afetados pelas
estiagens no período de 1991 a 2012. Os resultados demonstraram que a maioria dos decretos
de situação de emergência avaliados foram registrados após três meses consecutivos de
estiagem com intensidades variando de suave a moderada, e que os eventos de estiagem
ocorreram em sua maioria no setor Oeste do Estado, principalmente nas estações do verão,
outono e inverno.
Fonseca (2016) também utilizou o IAC para analisar a variabilidade e as anomalias de
chuva em Blumenau-SC, entre os anos de 1941 e 2015. Os resultados demonstraram que as
anomalias positivas e negativas apresentaram uma forte relação com os anos sob ação da fase
positiva e negativa do fenômeno ENOS.
Costa e Silva (2017) estudaram a variabilidade e os extremos de chuvas no estado do
Ceará utilizando o IAC. Os resultados demonstraram que na maioria dos anos de El Niño foi
verificado seca para quase todo estado do Ceará, já nos anos de La Niña foi verificado anomalias
positivas de chuva para extensão de quase todo estado.
Neste sentido, o objetivo desta pesquisa consistiu em analisar a variabilidade anual das
chuvas na região de planejamento, do estado de Goiás, denominada de Oeste Goiano. Acredita-
se que os resultados obtidos poderão servir de subsídios para o planejamento agrícola e a gestão
dos recursos hídricos na região.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

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Inicialmente, para o desenvolvimento desta pesquisa, foram realizados levantamentos e


leituras das bibliografias que abordaram a aplicação do IAC em diferentes regiões do Brasil.
Posteriormente, foram identificados os postos pluviométricos e estações do Instituto
Nacional de Meteorologia – INMET presentes na região. Após uma averiguação foi
identificado que existe três estações do INMET na região, sendo somente uma que possui série
histórica de dados superior a 10 (dez) anos. Portanto, para esta pesquisa optou-se por utilizar os
dados dos postos pluviométricos da Agência Nacional de Águas – ANA, disponibilizados por
meio do portal Hidroweb, por possuir série histórica superior a 30 anos e por estarem bem
distribuídos na região.
Foi identificado 18 (dezoito) postos pluviométricos da ANA presentes na região,
portanto para este estudo, optou-se por utilizar informações de 07 (sete) postos (Quadro 1),
durante o período de (1980 a 2014) por apresentarem série de dados mais concisas, sem ou com
poucas falhas.

Quadro 1 – Postos pluviométricos utilizados no estudo


Cód. do
Nº Nome Município Latitude Longitude Altitude
posto
1 Britânia Britânia-GO 01551000 481992 8315076 297
2 Itapirapuã Itapirapuã-GO 01550000 540979 8250864 343
Montes Claros Montes Claros de
3 01551001 458852 8231536 400
de Goiás Goiás-GO
4 Turvânia Turvânia-GO 01650003 592745 8162366 700
Peres do
5 Aragarças-GO 01551002 367495 8242198 299
Aragarças
6 Iporá Iporá-GO 01651001 492426 8182476 602
7 Caiapônia Caiapônia-GO 01651000 412918 8124040 713
Fonte: ANA (2018)
Organização: Os autores (2018)

Em seguida foi organizado o banco de dados e realizado o preenchimento das falhas


utilizando o método da média aritmética também aplicado por Chierice Junior (2012).
Posteriormente, foi aplicada a estatística descritiva para extrair as medidas de tendência central
(média aritmética, mediana e moda), dispersão (desvio padrão e coeficiente de variação) para
as séries históricas de cada posto pluviométrico.
Para analisar a variabilidade e as anomalias anuais de chuva, sendo os anos
extremamente secos e chuvosos foi aplicado o IAC proposto por Rooy (1965) expresso pela
seguinte equação.
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̅ )/(𝑀
𝐼𝐴𝐶 = 3(𝑁 − 𝑁 ̅− 𝑁
̅) (1) para anomalias positiva e,

̅ )/(𝑋̅ − 𝑁
𝐼𝐴𝐶 = −3(𝑁 − 𝑁 ̅) (2) para anomalias negativas.

Onde 𝑁 corresponde a precipitação total (mm) do ano que está sendo analisado o IAC;
̅ corresponde à média de toda a série histórica analisada; 𝑀
𝑁 ̅ corresponde à média das dez
maiores precipitações do ano que está sendo analisado e; 𝑋̅ corresponde à média das dez
menores precipitações do ano que está sendo analisado.
Conforme Gross (2015) este índice incorpora um procedimento de classificação para
ordenar magnitudes de anomalias de precipitações positivas e negativas. Este índice também
foi usado por Marcuzzo e Goularte (2012) para analisar as anomalias de chuva nos estados de
Mato Grosso e Tocantins, também localizados na região Centro-Oeste do Brasil.
Para identificar a intensidade das anomalias positivas e negativas foi adotada a tabela
de referência utilizada por Gross et al. (2012). Nesta tabela, os valores obtidos pelo IAC foram
ordenados em faixas e cada faixa expressa uma classe de intensidade (Tabela 1).

Tabela 1 – Classes de intensidade do índice de anomalia de chuvas


Faixa do IAC Classe de Intensidade
≥ 4,1 Extremamente úmido
2,1 a 4 Muito úmido
Índice de Anomalia de
0a2 Úmido
Chuva
-0,1 a -2 Seco
-2,1 a -4 Muito seco
≤ −4,1 Extremamente seco
Fonte: Gross et al. (2012)

Os resultados da aplicação do IAC, para cada posto pluviométrico escolhido para


análise, foram organizados em planilhas de cálculo e representados em gráficos para
apresentação nos resultados.
Após aplicar o IAC foi construída um quadro síntese mostrando a variabilidade da
precipitação pluviométrica na região do Oeste Goiano durante o período da série histórica
utilizada nesta pesquisa.

RESULTADOS

A região de planejamento do Estado de Goiás denominada Oeste Goiano, localizada

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entre as coordenadas geográficas 14º 30’ 00” e 17º 30’ 00” Sul / 49º 30’ 00” e 53º 00’ 00”
Oeste, constituída por 43 municípios (Figura 1), que segundo o IMB (2015) – Instituto Mauro
Borges, possuem sua economia baseada na agricultura, na pecuária (de corte e leiteira) e no
agronegócio.

Figura 1 – Localização da região de planejamento do estado de Goiás Oeste Goiano

Fonte: Sistema Estadual de Geoinformação – SIEG (2017)


Elaboração: Os autores
A região é drenada por importantes bacias hidrográficas (Rio Caiapó, Rio Claro e Rio
Vermelho), que pertencem a bacia do rio Araguaia-Tocantins. A partir dos anos 2000 o Oeste
Goiano tem sido alvo de investimentos particulares voltados para construção de
empreendimentos hidrelétricos, mais precisamente Pequenas Centrais Hidrelétricas – PCHs.
Também tem se tornado uma área de expansão para a produção agrícola (soja, milho e cana de
açúcar).
Os resultados da estatística descritiva revelaram que as médias anuais de precipitação
pluviométrica, no Oeste Goiano, variaram entre 1415,9 mm registrados em Britânia ao norte da
região e 1644,5 mm em Iporá, localizada no centro da região.
Esse resultado revela indícios de que ao norte da região há uma diminuição dos volumes
de chuva. Talvez possa estar associada ao relevo, pois Britânia está a 297 m acima do nível do
mar, no vale do rio Araguaia e Iporá está a 602 m acima do nível do mar, em uma região de
relevo suave a ondulado, próxima as bordas de transição das bacias do rio Araguaia e Paranaíba,
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onde se encontram os chapadões (extensas áreas planas que favorecem o deslocamento das
frentes frias na região).
Segundo Borges e Alves (2017) durante os meses de março e agosto, referente ao final
e início do período chuvoso na região, os volumes de precipitação são maiores nas porções
central, sul e oeste da região em decorrência das incursões das frentes frias.
Portanto, cabe ressaltar que para tecer afirmações mais contundentes sobre a
distribuição das chuvas na região é necessário que haja um estudo mais criteriosos e específico
para este objetivo.
Para as demais localidades as médias de chuva foram de 1544,3 mm para Itapirapuã,
1549,3 mm para Montes Claros de Goiás, 1515,8 mm para Turvânia, 1489,2 mm para Aragarças
e 1511,4 mm para Caiapônia.
Os valores do desvio padrão revelou que os menores desvios de chuva foram registrados
no posto pluviométrico de Iporá (274,4 mm) e os maiores valores no posto pluviométrico de
Caiapônia (528,4 mm) (Tabela 2), localizada ao sul da região.
Este resultado indica que, entre os postos pluviométricos analisados, houve maior
variação nos totais anuais de chuva em Caiapônia e menor variação em Iporá para o período de
1985 a 2014. As demais localidades apresentaram desvio padrão nos totais anuais de chuva na
ordem de 345,2 mm para Britânia, 283,9 mm para Itapirapuã, 319,3 mm para Montes Claros de
Goiás, 276,6 mm para Turvânia e 302,5 mm para Aragarças.
Com relação ao IAC, em Britânia, 12 anos apresentaram anomalias positivas e 22
anomalias negativas. O maior valor de anomalia positiva foi registrado no ano de 1980 (7,4) e
indica que este ano foi extremamente úmido, conforme a tabela de referência do IAC. O maior
valor de anomalia negativa foi registrado no ano de 1993 (-4,7) e foi classificado como o um
ano extremamente seco. (Figura 2A).
No posto 2, em Itapirapuã, em 15 anos da série histórica foi registrado anomalias
positivas e em 20 anos anomalias negativas. O maior valor de anomalia positiva foi registrado
no ano 1983 (6,0) e o maior valor de anomalia negativa foi encontrado no ano de 1984 (-5,5).
(Figura 2B).

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Figura 2A - IAC para Britânia e Figura 2B – IAC para Itapirapuã-GO entre o período de 1980
a 2014

Fonte: Os Autores (2018)

Em Britânia, vale destacar que do ano de 2005 até o final da série histórica predominou
anomalias negativas na precipitação pluviométrica, porém em Itapirapuã os anos finais da série
histórica foram intercalados por anomalias positivas nos anos de 2011 (0,9), classificado como
um ano úmido e 2013 (2,4) classificado com muito úmido e anomalias negativas nos anos de
2010 (-2,9), 2012 (-2,9) ambos classificados como muito secos e 2014 (-1,8) como seco.
No posto pluviométrico de Montes Claros de Goiás quinze anos registraram anomalias
positivas e dezoito anos anomalias negativas. Vale ressaltar que assim como em Britânia e
Itapirapuã, na maior parte dos anos da série histórica foi registrado anomalias negativas nos
totais anuais de chuva. Os anos de 1983 e 1993 se destacaram por registrar os valores extremos,
sendo que em 1983 o total anual de chuva foi de 2237,8 mm. Neste ano também foi registrado
a maior anomalia positiva do IAC em Montes Claros de Goiás (5,1), fato que o classificou o
ano de 1983 como um ano extremamente úmido. (Figura 3A).
Ao contrário do ano de 1983, em 1993, dez anos depois, foi registrado o menor total
anual de chuva da série histórica 896,3 mm e maior valor de anomalia negativa do IAC (-4,9),
que o classificou como um ano extremamente seco. (Figura 2A).
Nos anos finais da série histórica os anos de 2010, 2012 e 2014 apresentaram anomalias
negativas e o ano de 2011 e 2013 anomalias positivas.
Em Turvânia 18 anos registraram anomalias negativas e 16 anos anomalias positivas,
sendo que o maior valor positivo foi registrado no ano de 1983 (7,5) e o maior valor das
anomalias negativas foi encontrado no ano de 2007 (-3,4). O ano de 1983 foi o mais chuvoso
em Turvânia, registrou 2353,8 mm de chuva acumulada e foi classificado como extremamente

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úmido. Já o ano de 2007 foi o mais seco de toda a série histórica, registrou 1135,1 mm de chuva
acumulada e foi classificado como um ano muito seco. (Figura 3B).

Figura 3A - IAC para Montes Claros de Goiás-GO e Figura 3B – IAC para Turvânia-GO
entre o período de 1980 a 2014

Fonte: Os autores (2018)

Em Turvânia, nos últimos anos da série histórica (2010 – 2014) os anos de 2010 e 2012
registraram anomalias negativas (-2,0) e (-2,3), e as anomalias positivas foram registradas nos
anos de 2011 (0,2), 2013 (0,5) e 2014 (0,6).
Para a cidade de Aragarças-GO foi identificado 26 anos com anomalias negativas e 10
anos com anomalias positivas. O maior valor de anomalia negativa foi registrado no ano de
1981 (-4,4) e a maior anomalia positiva no ano de 1983 (7,2). Esse resultado indica que o ano
de 1981 foi o mais seco da série histórica analisada e registrou 903,0 mm de chuva acumulada.
Já o ano de 1983 foi o mais chuvoso de todo o período analisado e registrou 2078,3 mm de
chuva acumulada. (Figura 4A).
Em Iporá-GO 22 anos da série histórica apresentou anomalias negativas e 13 anos
anomalias positivas. O maior valor de anomalia negativa foi registrado no ano de 2012 (-4,0) e
a maior anomalia positiva foi encontrada no ano de 1989 (5,4). (Figura 4B).
Conforme as faixas de classificação do IAC, estes resultados indicam que, durante os
35 anos da série histórica, o ano de 2012 foi o mais seco e registrou 1185,6 mm de chuva. O
ano de 1989 foi o mais úmido e registrou 2272,1 mm de chuva.
No posto de pluviométrico de Caiapônia foram registradas anomalias positivas de
precipitação em 11 anos da série histórica e anomalias negativas em 24 anos. O maior valor de
anomalia positiva foi registrado no ano de 2003 (6,7) e o maior valor de anomalia negativa
ocorreu no ano de 2013 (-4,9). (Figura 4C).

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Figura 4A - IAC para Caiapônia-GO; Figura 4B – IAC para Iporá-GO e Figura 4C – IAC para
Caiapônia entre o período de 1980 a 2014

Fonte: Os autores (2018)

Também vale observar que, assim como ocorreu em Britânia, em Caiapônia do ano de
2005 até o final da série histórica analisada predominou anomalias negativas na precipitação
pluviométrica.
Até o início dos anos 2000 os valores de anomalias negativas não passaram de -2,5,
porém a partir de 2006 houve o aumento das anomalias negativas de chuva. Este resultado
apontou que durante estes anos os totais de chuva acumulada foram diminuindo e nos revelou
a formação de um período mais seco dentro da série histórica analisada para Caiapônia como
para Britânia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Baseado nos resultados preliminares apresentados, nota-se que em todos os pontos
amostrais analisados houve uma tendência da elevação das anomalias negativas de precipitação.
Isso indicou que ouve uma diminuição do volume de chuva precipitado em cada localidade
analisada.
Vale destacar que principalmente que em Caiapônia, localizada ao sul e Britânia ao
norte da região demonstraram um acentuado aumento das anomalias negativas de chuva entre
os anos de 2005 e 2014, anos finais da série histórica. Portanto, para afirmações mais

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contundentes sobre a dinâmica das chuvas nesta região é necessário que outros estudos sejam
realizados.

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Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

VAZÃO TOTAL DO RIBEIRÃO PARAÍSO JATAÍ-GO ENTRE


AGOSTO DE 2014 E MAIO DE 2015.

Simone Marques Faria Lopes


Universidade Federal do Goiás – Regional Jataí
simoneufg@yahoo.com.br

Celso de Carvalho Braga


Instituto Federal de Goiás Campus Jataí
ccarvalhobraga@gmail.com

Wanderlúbio Barbosa Gentil


Instituto Federal de Goiás Campus Jataí.
wanderlubio@gmail.com

João Batista Pereira Cabral


Universidade Federal de Goiás Regional Jataí
jbcabral2000@yahoo.com.br

Resumo: As pesquisas limnológicas têm despertado o interesse pelo conhecimento da quantidade e da


qualidade das bacias hidrográficas nos mais diversos lugares do planeta, uma vez que seus resultados
podem ser aplicados à conservação de ecossistemas aquáticos e terrestres, apresentando grande
importância para a sociedade, pois, questões como escassez, assoreamento e poluição tem se tornado a
maior fonte de discussões da atualidade. As bacias hidrográficas são unidades que possibilitam a
compreensão das interferências do homem sobre o ciclo das águas. Sabe-se que o comportamento
hidrológico de uma bacia ocorre em função de suas características fisiográfica, as quais podem
influenciar diretamente o ciclo hidrológico desde, a infiltração, a evaporação, a vazão, entre outros. O
conhecimento do comportamento da vazão em um curso hídrico é de fundamental importância para o
planejamento e desenvolvimento sustentável de uma bacia hidrográfica. Neste sentido investigamos o
comportamento da vazão do ribeirão Paraíso em Jataí-Go, através do método ADCP M9 descrito por
GAMARO (2012) entre Agosto de 2014 e maio de 2015, contemplando as estações climáticas,
primavera, verão, outono e inverno, verificou-se que a maior vazão medida ocorreu no outono, com 6,40
m3/s no ponto 10 próximo a foz, para o mesmo ponto a menor foi observada no inverno, com apenas
2,95 m3/s, cerca de 46% menor que o período anterior, pois corresponde ao período seco na região do
Cerrado brasileiro.

Palavras Chave: escoamento superficial, ciclo hidrológico, bacia hidrográfica.

1- Introdução

É sabido que a água é de fundamental importância para manutenção, preservação e


sobrevivência de todas as espécies vivas do planeta, o que a torna objeto de inúmeras pesquisas
nas mais diversas escalas espaciais e temporais, principalmente à respeito de sua quantidade,
qualidade e devido seu enorme potencial económico, social e ambiental para a sociedade global,

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tornando-a, à maior fonte de discussões da atualidade. Neste contexto, a bacia hidrográfica é o


melhor recorte para uma pesquisa, pois trata-se de uma unidade de planejamento ambiental e
territorial, a qual pode-se compreender as transformações que ocorrem no espaço, uma vez que
sua utilização está sempre relacionada às condições de usos múltiplos da água, seja em ambiente
urbano ou rural.

Conhecer a vazão de um rio torna-se de grande importância no gerenciamento e


manutenção de uma bacia hidrográfica, pois medições precisas auxiliam na tomada de decisões
no plano de gerenciamento dos recursos hídricos. O reconhecimento dos dados hidrológicos
são fundamentais para identificar o comportamento habitual anual mais frequente de vazões e
nível d’água de um rio no decorrer de um ano hidrológico. Para entender este processo
necessita-se, conhecer o princípio unificador do que se refere à água no planeta, o ciclo
hidrológico ou seja o modelo que se representa a interdependência e o movimento contínuo da
água nas fases sólida, líquida e gasosa, neste caso específico é evidente que a fase de maior
interesse é a líquida.

Para compreender a vazão é necessário entender os componentes do ciclo hidrológico,


iniciando pela água que atinge a superfície de uma bacia hidrográfica (precipitação) pode ser
drenada (movimento de saída da água na superfície terrestre), reservada em lagos e represas,
pode se evaporar para a atmosfera (processo de transformação da água líquida para gasosa) ou
infiltra-se (absorvida pelo solo) e percolar-se no solo (passagem da água no solo até o lençol
freático) (TUNDISI 2005).

A quantificação das vazões de um curso d’água é de suma importância nos estudos


hidrológicos, pois além de auxiliar no gerenciamento do uso múltiplo também influência a
qualidade da água. As medições de vazão possibilitam o gerenciamento adequado dos
potenciais hídricos disponíveis, e neste cenário, a medição de vazão em rios ocorreu por muito
tempo por meio de métodos e equipamentos tradicionais, porém a necessidade de atualização e
melhoria na instrumentação e técnica de medição, fez com que a busca por novas tecnologias
trouxessem, para realidade da hidrometria, uma nova geração de equipamentos de medição de
vazão, denominados equipamentos acústicos Doppler, os quais trouxeram um grande avanço
tecnológico, possibilitando medições de vazão mais rápidas e precisas.

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Neste sentido, o presente artigo teve por objetivo compreender o comportamento da


vazão do ribeirão Paraíso em Jataí-Go, por meio do método Doppler descrito Gamaro (2012)
em quatro períodos distintos.

2- Material e método

O conhecimento da vazão de cursos d’água podem ocorrer de formas variadas, através


de diversos métodos, cuja simplicidade e grau de aplicação, custo financeiro, precisão e
acuidade variam bastante. Neste trabalho utilizou-se para as medições das vazões o Acoustic
Doppler Current Profiler (ADCP) M9, produzido pela SONTEK, (Figura 1) equipamento
utilizado para medição de vazão de rios e córregos através de ondas sonoras, o aparelho além
da vazão mede também a profundidade, de acordo com a velocidade da água e o mapeamento
da seção GAMARO (2012).

Figura 1- Acoustic Doppler Current Profiler (ADCP) M9.


Fonte: Própria autora (2014)

Para determinação da vazão no ribeirão Paraíso, primeiramente definiu-se seções


transversais no leito do ribeirão em 10 pontos diferentes de montante para jusante. Em cada
seção realizou-se várias travessias do ADCP M9, posteriormente gerou-se a média dos valores
das respectivas repetições para cada seção avaliada, obtendo-se assim a vazão em m3/s, para
cada seção do ribeirão e a vazão total do mesmo para todos os períodos climáticos do ano
hidrológico avaliado, compreendendo os meses de agosto/inverno (2014), novembro/primavera
de (2014), fevereiro/verão (2015) e maio/outono (2015)

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Realizou-se ainda, comparação com os dados de vazão e os dados pluviométricos


(precipitação total mensal e ainda precipitações acumuladas em 7 dias antecedentes as
medições). Os dados pluviométricos foram adquiridos junto ao Instituto Nacional Meteorologia
(INMET), na plataforma estações e dados, página do BDMEP, dados históricos, disponível em:
http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=bdmep/bdmep, com intuito de evidenciar que o
tempo de concentração da água no ciclo hidrológico está intrinsicamente ligado a vazão total.

2.1 Localização da área de estudo

A bacia hidrográfica escolhida para esta análise é a bacia do ribeirão Paraíso, situada
entre as coordenadas 17°43’3” S a 18°3’41” S e 51°28’26” W a 51°41’17” W, contendo uma
área de 361,7 km2 (Figura 2) distante a 327 quilômetros da capital estadual Goiânia, limitando
-se ao norte com municípios de Caiapônia, Perolândia, ao sul Itarumã, Caçu a Aparecida do Rio
Doce, ao leste Rio Verde, e a oeste os municípios Mineiros e Serranópolis. A Bacia hidrográfica
do ribeirão Paraíso faz parte dos formadores da bacia do rio Claro, afluente do rio Paranaíba,
ambos pertencentes a bacia hidrográfica do rio Paraná.

Figura 2. Mapa da localização da Bacia Hidrográfica do Ribeirão Paraíso.


Fonte: SIEG, 2013. Org. Própria autora (2013).

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De acordo com as pesquisas realizada por Lopes (2016) em relação a análise de uso e
ocupação entre os anos de 2005 e 2015, que a bacia do ribeirão Paraíso possui caráter agrícola,
a qual apresentou em torno de 60% de todos os períodos avaliados áreas destinadas as atividades
agropastoris, porém não foi evidenciado na análise da autora, presença de pivô de irrigação na
bacia o que poderia influenciar na vazão do ribeirão. A autora avaliou ainda a precipitação
durante 30 anos, evidenciando que a distribuição concentra-se entre os meses de outubro a
março, com média anual de 1.486 mm.
3- Resultados e discussões

O gráfico representado pela figura 3, mostra que a primavera teve destaque na chuva
acumulada para o mês de novembro, o qual alcançou 271,80mm, seguido do mês de fevereiro
correspondendo ao verão, com 251, 80 mm, o que comprova a análise de Lopes (2016) que
afirmou que a concentração das chuvas ocorrem entre os meses de outubro a março. Observou-
se ainda que meses que vão de abril a setembro apresentam menor índice pluviométrico como
é o caso do mês de agosto período de inverno, em que na região do Cerrado se caracterizam
como período seco. Destacamos ainda, que o comportamento da precipitação dos 7 dias
acumulados para primavera e verão foram semelhantes, porém, verificou-se que o mês de maio
referente ao outono apresentou o maior índice de precipitação acumulada.

Figura 3. Precipitação acumulada entre os meses de Agosto de 2014 e Maio de 2015.


Fonte e org: Próprios autores (2015)

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A partir da análise da precipitação, comparou-se os valores da vazão do ribeirão


Paraíso, a comparação levou-se em conta as estações climáticas e a precipitação acumulada de
7 dias antecedentes a medição. Na tabela 1, evidencia-se o comportamento da vazão ao longo
do ribeirão Paraíso, de montante para jusante. Onde é evidente que nos pontos iniciais a vazão
é menor que a dos pontos finais, isso por que no decorrer do caminho percorrido pelo ribeirão
o mesmo recebe água de outros afluentes que compõe a bacia.

Tabela I- Vazão total do ribeirão Paraíso entre agosto de 2014 e maio de 2015.
Profundida Invern Primave Outon
Largura Verão
Pont de o ra o
(m) 3 3 (m3/s)
os Máxima (m) (m /s) (m /s) (m3/s)
1 1,40 0,23 0,03 0,08 0,06 0,12
2 2,29 0,64 0,22 0,64 0,42 0,58
3 2,58 0,95 1,19 0,68 1,27 0,28
4 5,58 0,81 1,34 0,80 1,56 2,13
5 5,71 0,99 1,84 2,36 2,53 3,53
6 8,94 0,51 1,90 3,12 3,83 4,17
7 9,21 1,61 2,39 3,73 4,13 4,80
8 11,10 1,17 2,57 3,76 4,23 5,26
9 8,74 1,71 2,93 3,95 4,70 6,07
10 8,00 1,55 2,95 4,00 4,92 6,40
Fonte: Próprios autores (2015)

Verificou-se nesta análise que o ponto 2 da bacia apresentou sua maior vazão na
primavera, o ponto 3, apresentou a maior vazão no período do verão e todos os demais pontos
apresentaram as maiores vazões sempre no período do outono. Quando comparamos estas
informações com a precipitação acumulada percebemos que o outono exerceu maior influência
sobre a vazão total, mesmo sendo o mês que apresentou baixa precipitação conforme
apresentou-se na figura 3, e comparando com a tabela 1, poder-se-ia afirmar que as maiores
vazões deveriam ocorrer na primavera que apresentou o maior índice de precipitação.

As maiores vazões observadas por período, foram constatadas no outono, o que não
condiz com a precipitação total do mês de referência, neste sentido destacamos a influência do
7 dias acumulados nesta análise, o inverno manteve a vazão mínima em todos os pontos
observados, não influenciada pela precipitação, neste contexto a primavera mesmo
apresentando a maior precipitação (36,50 mm) que o verão (27,00 mm) apresentou a menor
vazão para o período chuvoso, isso pode ser justificado pelo fato de ser período inicial da

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estação chuvosa, onde o solos encontram-se abaixo da capacidade de armazenamento de água,


demorando um tempo maior para a água chegar ao curso hídrico. O qual pode ser confirmado
pelo verão, em que houve menor precipitação, porém maior vazão, devido a capacidade de
escoamento subsuperficial ser maior, pois o solo encontra-se saturado, ou em sua capacidade
máxima de armazenamento.

No caso do outono, verificou-se uma precipitação acumulada de 83,30 e as maiores


vazões pontuais do período analisado, justificamos tal situação devido a uma chuva de 57,30
mm ocorrida 7 dias antes medição, neste sentido destacamos o período de concentração da água
no sistema, até chegar ao curso hídrico. Ressaltamos ainda nesta análise as particularidades de
cada ponto.

Tucci e Mendes (2006) afirmam que, embora o ciclo hidrológico possa parecer um ciclo
contínuo, com a água se movendo de uma forma permanente com taxa constante, difere-se
muito na realidade, pois o movimento que a água faz em cada uma das fases do ciclo ocorre de
forma bastante aleatória, variando tanto no espaço como no tempo.

4- Considerações Finais

Verificamos que a maior vazão medida ocorreu no outono, com 6,40 m3/s, no ponto 10
último ponto próximo a foz, ainda para o mesmo ponto a menor vazão foi no inverno, com
apenas 2,95 m3/s, cerca de 46% menor que o outono, ressaltamos ainda que este mês
corresponde ao período seco na região do Cerrado brasileiro, o qual não apresentou chuva
acumulada nos 7 dias antecedentes a medição. Sendo assim concluímos que a precipitação é de
fator de fundamental importância para a manutenção do escoamento superficial de uma rede
hidrográfica. Principalmente pela chuva de 57,30 mm que ocorreu 7 dias antes que manteve a
maior vazão observada no curso hídrico. Neste sentido ressaltamos a importância de se
conhecer a morfometria da bacia, bem como, o tempo de concentração da mesma, com intuito
de buscar respostas mais precisas quanto a influência das variáveis hidrológicas.

5- Bibliografia

CONAMA. Conselho Nacional do Meio Ambiente, Resolução nº 357, 2005. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/conama/>. Acesso em: 12 fev. 2018.
CHRISTOFOLETTI, A.; Geomorfologia Fluvial. São Paulo: Edgar Blucher Ltda, 1981.

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Iporá, 6 a 9 de junho de 2018.

Água para o amanhã: educação, gestão e recuperação de mananciais

GAMARO, P. E. Medidores Acústicos Doppler de Vazão. 1ª. ed. Foz do Iguaçu: Itaipu
Binacional, 2012.
TUCCI, C. E. M.; MENDES, C. A. Avaliação ambiental integrada de bacia hidrográfica.
Brasília: MMA, 2006.
TUNDISI. J. G. Água no século XXI: Enfrentando a escassez. São Carlos: RiMa, IIe, 2º ed.,
2005.

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VULNERABILIDADE AMBIENTAL DA MICROBACIA


HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO TAMANDUÁ NO MUNICÍPIO DE
IPORÁ – GO

Rafael Gomes Pereira.


UniRV – Universidade de Rio Verde - Campus Caiapônia
rafaelgomesr500@gmail.com

Guilherme Eduardo Santos Bueno


UniRV – Universidade de Rio Verde - Campus Caiapônia
guilhermeipora8@gmail.com

Betânia Pereira Lemes.


UniRV – Universidade de Rio Verde - Campus Caiapônia
lemesbetania@gmail.com

Fernandes, Guilherme Henrique Silva.


UniRV – Universidade de Rio Verde - Campus Caiapônia
Guilherme_lovecity@hotmail.com

Rosenilda Maria de Morais Silva.


UniRV – Universidade de Rio Verde - Campus Caiapônia
rosenildaipora@gmail.com

RESUMO: Os Impactos causados pela ação antrópica, bem como o uso e ocupação do solo na
microbacia hidrográfica do córrego do Tamanduá, tem apresentado aumento das áreas com
vulnerabilidade ambiental. Consequentemente, a degradação da referida área é intensificada
resultando na perda da cobertura vegetal e da mata ciliar, ocasionando os assoreamentos,
erosões e a má qualidade da água. Foi utilizado ferramentas de geoprocessamento e Softwares
de SIG, para nortear o monitoramento ambiental da área, permitindo a interação com imagens
de satélite para a análise do local a ser avaliado. Através do software Qgis 2.18, foi possível
delimitar as áreas de pastagens, vegetação, área urbana, a microbacia e a rede de drenagem. A
microbacia apresenta uma área total de 29,99 km² e a rede de drenagem principal possui 12 km
de extensão, apresentando três tipos de solos distintos, com a área de pastagem com cerca de
16,01 km², áreas de vegetação com cerca de 5,74 km² e a área urbana possui 8, 24 km². Com
isto este trabalho tem como objetivo o monitoramento das áreas vulneráveis da microbacia
hidrográfica do córrego Tamanduá.
Palavras-chaves: Geoprocessamento; Microbacia; Vulnerabilidade;

INTRODUÇÃO
De acordo com Costa et al (2007) a vulnerabilidade ambiental é relacionada com a
degradação de um determinado local. Este poderá ser afetado por erosões, contaminação das
águas e do solo, pouca cobertura vegetal, perda da biodiversidade, como a fauna e a flora,
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carreamento de partículas do solo levando ao assoreamento, dentre outros impactos que podem
alterar as condições naturais. Com isso, o trabalho busca abordar a vulnerabilidade ambiental
no contexto da influência da ação antrópica no meio.
Existem condições que influenciam na vulnerabilidade ambiental, portanto, o autor
Santos (2007, p. 18) afirma que:
[...] a resposta do meio pode ser bastante diferente em função das
características locais naturais e humanas, ou seja, cada fração de território tem
uma condição intrínseca que, em interação com o tipo e magnitude do evento
que induzimos, resulta numa grandeza de efeitos adversos. A essa condição
chamamos de vulnerabilidade.
Costa (2009) diz que a vulnerabilidade do solo a erosão pode ser indicada por
parâmetros físicos e químicos, processos biológicos e antropogênicos. Seguindo na mesma
ideologia do autor os parâmetros antropogênicos, como a retirada da cobertura vegetal para
outros determinados usos do solo, são responsáveis pela alteração do ambiente natural, e com
a perda da cobertura vegetal acarretará sucessivamente em processos erosivos, assoreamento,
contaminação dos cursos hídricos como também favorece a perda da biodiversidade, e isto de
fato ocorre sobre as bacias hidrográficas.
De acordo com Tucci (1997) bacia hidrográfica compõe-se de um conjunto de
superfícies vertentes e de uma rede de drenagem formada por cursos de água que confluem até
resultar em um leito único no seu exutório. Além disso, Lima (2008, p. 46) diz que “Uma bacia
hidrográfica compreende toda a área de captação natural da água da chuva que proporciona
escoamento superficial para o canal principal e seus tributários”.
Romão e Souza (2008) ressaltam que as ações antrópicas interferem diretamente no
espaço físico do meio ambiente, alterando as condições do uso e ocupação do solo. Se tratando
de um local que se encontra uma área de bacia hidrográfica, a degradação do solo modifica as
características naturais das águas superficiais e subterrâneas, e consequentemente a
biogeocenose aquática do entorno.
Segundo estes autores referidos, o estudo sobre o uso e ocupação do solo é um indicador
fundamental para o monitoramento ambiental da área, onde deverão ser abordados não somente
os aspectos físicos, mas englobar, de maneira holística, toda a bacia hidrográfica com o intuito
de avaliar os impactos causados na mesma.
De acordo com Lopes et al (2011) “O uso e a ocupação adequada do solo são
considerados os principais fatores responsáveis pela conservação de bacias hidrográficas”.
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Adicionalmente, com a crescente produção agrícola exercendo um manejo inadequado do solo


e com a expansão urbana, as bacias vêm sofrendo cada vez mais com as ações antrópicas, e isto
contribui com o aumento de áreas vulneráveis da bacia.
Nesse sentido, Faustino, Ramos e Silva (2014) salientam que com o crescente aumento
da população e com a demanda grande pela quantidade e qualidade de água, seja ela para seus
usos diversos, tem ocasionado problemas ambientais sendo estes os desmatamentos próximos
às áreas de mata ciliar, retirando, portanto, a cobertura vegetal da área e a proteção dos rios; a
retirada de água sem outorga para irrigação de forma exagerada e sem controle; no crescente
descarte inadequado de resíduos sólidos no leito do rio e assim por diante, agravando ainda
mais as perturbações nas bacias hidrográficas com a má utilização do uso e ocupação do solo.
Visto isso à utilização de Geoprocessamento e de Sistemas de Informações Geográficas
(SIG) para o monitoramento das bacias hidrográficas se torna de suma importância, pois
segundo Campos et al (2004) as imagens de satélites são muito importantes e úteis, pois
permitem avaliar as mudanças ocorridas na paisagem de uma região e num dado período,
registrando a cobertura vegetal em cada momento.

OBJETIVO
Este trabalho tem como objetivo o monitoramento das áreas vulneráveis da microbacia
hidrográfica do córrego tamanduá no município de Iporá – Goiás, através das ferramentas de
geoprocessamento e de softwares de SIG.

MATERIAIS E MÉTODOS

O trabalho foi desenvolvido como uma pesquisa sistêmica e não experimental, de caráter
quantitativo, utilizando técnicas de geoprocessamento onde os procedimentos operacionais
gerados, foram utilizados como forma de diagnóstico ambiental, analisando a vulnerabilidade
da microbacia.
O estudo foi realizado na microbacia hidrográfica do Córrego Tamanduá, situada nas
coordenadas: -16.415420° e -51.074503°, pertencente à microbacia do Ribeirão Santo Antônio
afluente do Rio Caiapó, localizada no Oeste Goiano no município de Iporá-GO. O ponto de
exutório da microbacia foi determinado próximo do lago da cidade de Iporá, tendo como área
de estudos toda a sua extensão a montante.

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Para análise de uso e ocupação do solo foi utilizado o complemento QuickMapServec


dentro do Qgis 2.18, delimitando as áreas de pastagem, vegetação e área urbana através de
imagem de satélite. Toda essa delimitação foi trabalhada em uma escala de 1:5000
possibilitando uma análise mais detalhada de cada área. Para saber se a vegetação das margens
do córrego estava conforme estabelece a lei, foi criado um buffer para as áreas de drenagem
podendo identificar a real situação da vegetação ciliar da microbacia.
O levantamento dos dados cartográficos foram adquirido através do Banco de Dados
Geomorfométricos do Brasil (TOPODATA) onde foi obtido as imagens Radar Shuttle
Topography Mission (RSTM) que consistem em modelos digitais de elevação (MDE). A
resolução espacial dessas imagens são de 30 metros, onde se tem maior níveis de detalhes,
quando comparado com os MDEs disponibilizado pelo site da Embrapa Monitoramento por
Satélite, que são de 90 metros.
Após a obtenção do MDE foi utilizado o software de geoprocessamento Qgis 2.18 para
o processamento das imagens, em seguida foi instalada as ferramentas do Terrain Analysis
Using Digital Elevation Models (TauDEM), ferramenta responsável pelo processo de
delimitação da microbacia hidrográfica dentro do Qgis 2.18.
Utilizando o TauDEM e suas ferramentas de análise de grade básica, foi removido as
depressões da imagem RSTM através dos comandos (remover depressão e direções de fluxo
D8). Posteriormente, foi utilizado o comando (área de contribuição D8) para delimitar a área
da microbacia determinando seu ponto de exutório e logo em seguida, se utilizou a ferramenta
de área de análise de rede de drenagem com o comando (definição de limiar para fluxo
canalizado), onde através deste complemento é criada a rede de drenagem.
Para a delimitação final da microbacia usou-se o comando (alcance e fluxo da bacia
hidrográfica) realizado por processo computacional, obtendo a delimitação e também a
classificação da ordem da microbacia. Após ser delimitada, os arquivos gerados foram
transformado em shapefile do tipo polígono para a área da bacia e linha para as drenagem.
Todos os procedimentos gerados no Qgis 2.18 foram reprojetados para o sistema de
coordenadas planas, o Datum: SIRGAS 2000, para evitar eventuais conflitos e erros de
sobreposição. Além desse sistema proporcionar o cálculo das áreas dos shapefiles podendo ter
a noção das áreas da microbacia e o tamanho da sua rede de drenagem.

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Para a classificação do tipo de solo, foi utilizado shapefile do banco de dados do Sistema
Estadual de Geoinformações (SIEG) do estado de Goiás, onde foi usado o shapefile na escala
de 1:250.000. Os dados de solo disponibilizados atende o novo Sistema Brasileiro de
Classificação de Solos (SBCS) de 2013, classificado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) segundo a
(EMATER, 2016), pois essa classificação apresenta um maior detalhamento dos tipos de solos
quando comparados com os demais disponibilizado no banco de dados.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
A microbacia apresenta uma área total de 29,99 km², onde a rede de drenagem principal,
denominado Córrego Tamanduá, possui 12 km de extensão, Tabela 1. A classificação da ordem
quanto hierarquia fluvial desta microbacia hidrográfica foi de 3ª ordem.
Dados da microbacia do Córrego Tamanduá
Área Km² % Tipo de solo Área Km² %
Pastagem 16,01 53,38 AVAe*1 9,96 33,23
Vegetação 5,74 5,74 LVde*2 14,15 47,17
Urbana 8,24 27,48 Nld*3 5,88 19,6
Total 29,99 100 29,99 100

Tabela 1. Dados da microbacia do Córrego Tamanduá, demonstrando as áreas de pastagem, vegetação, urbana e
os solos. *1 Argissolos Vermelho-Amarelo Eutróficos; *2 Latossolo Vermelho Distrófico Férrico
*3 Neossolo Litólicos Distrófico
SOLO
Conforme a classificação do SIEG a microbacia do Córrego Tamanduá apresenta três
tipos de solos, sendo: Argissolos Vermelho-Amarelo Eutrófico, Latossolo Vermelho Distrófico
Férrico e Neossolo Litólicos Distrófico demonstrado no mapa 1.
Os Argissolos Vermelho-Amarelo Eutróficos são solos com alta fertilidade, e sua
textura apresenta baixa infiltração da água em seus horizontes, porém podem apresentar
fragilidade quanto à infiltração da água no solo tornando-o um solo suscetível a erosões. Os
Argissolos Vermelho-Amarelo Eutróficos representam uma área de 9,96 km² que corresponde
a 33,23 % da área da microbacia.
Os Latossolo Vermelho Distrófico Férrico apresentam um alto teor de ferro responsável
pela coloração avermelhada. Este possui horizonte com média de 200 cm de profundidade, e é
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vulnerável a compactação. Além disso, proporciona uma baixa fertilidade. Este solo, portanto,
abrange a maior parte da microbacia, cerca de 14,15 km² representando 47,17 % da área total.

Mapa 1. Tipos de solos encontrado na microbacia do Córrego Tamanduá segundo a classificação da SBCS de
2013, disponibilizado pelo SIEG.
Os Neossolo Litólicos Distrófico são rasos, não existindo horizonte B apresentado logo
após a rocha-mãe, que é a matéria de origem deste solo, possui um relevo declivoso. Além de
limitar o desenvolvimento radicular de espécies vegetais, este tipo de solo dificulta o uso
agrícola do mesmo, sendo suscetível a erosões. Compreende então cerca de 5,88 km² da área
total da microbacia representando 19,60 %.

OCUPAÇÃO DO SOLO DA MICROBACIA

A área de pastagem abrange cerca de 16,01 km² e é o principal uso do solo na microbacia
sendo utilizada apenas pela pecuária extensiva, e está localizada nos três tipos de solo
encontrado, segundo o mapa 2. O manejo dessas pastagens pode influenciar no estado da
vulnerabilidade da referida microbacia, pós quando se tem uma pastagem degradada pode
favorecer o surgimento de impactos ao meio, entre esses as erosões.
Dois dos três solos pertencente à microbacia são solos vulneráveis ao processo erosivo,
esse percentual aumenta ainda mais quando se tem um mau manejo do solo. O processo erosivo

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pode gerar outros impactos como o assoreamento dos cursos d'água, destruição de nascentes,
alteração na biodiversidade aquática e também pode interferir na vazão. Essa ação além de gerar
danos ambientais, traz prejuízos econômicos ao proprietário perdendo áreas de pastagens.

VEGETAÇÃO

As áreas de vegetação representam cerca de 5,74 km² da microbacia estando mais


concentrada a montante, onde o relevo apresenta maior declividade. A vegetação ciliar nas
margens dos cursos d´águas encontra-se na sua maioria em um processo de degradação em
alguns pontos, onde a largura não atende a determinação prevista na legislação. Segundo o
Novo Código Florestal Brasileiro lei 12.651 de 25 de maio de 2012, a vegetação ao entorno das
margens dos cursos d'água deve ser de 30 m de largura se o curso apresentar 10 m de largura,
50 m para cursos d’água de 10 a 50 m de largura, 100 m para cursos d´água de 50 a 200 m de
largura, 200 m para cursos d´água de 200 a 600 m de largura e 500 m para cursos d´água
superior a 600 m de largura, isto contando a partir da calha do rio.
A falta desta vegetação ciliar ocasiona o surgimento de erosão, assoreamento e afeta na
recarga hídrica na microbacia, onde a vegetação produz sustentação ao solo e auxilia na
infiltração da água armazenando ela no subsolo. A mata ciliar tem a função de ligar uma
determinada área a outra formando um corredor ecológico, sua falta pode provocar perda de
biodiversidades, ela também protege os cursos d ´água contra possíveis impactos como a
lixiviação de nutrientes em excesso.

ÁREA URBANA

De acordo com Brocaneli, Stuermer, Antonio (2014) às bacias hidrográficas que se


situam em zonas urbanas não tem uma delimitação exata, pois em sua maioria, existe a
construção de logradouros próximos aos seus afluentes, o que impossibilita essa localização de
modo a ocasionar cheias em época de chuva. Adicionalmente, a microbacia do córrego do
Tamanduá, possui 8,24 km² de área de extensão dentro da zona urbana. Desse modo, é possível
observar através das imagens de satélite os impactos causados pelas as ações antropogênicas,
que em suma, são as moradias em APP (Área de Preservação Permanente), no qual são locais
totalmente inapropriados para a construção de casas, afetando o meio ambiente e trazendo riscos
para o próprio inquilino. Isto porque, a falta de conscientização da população que reside no
entorno, amplia a alteração das condições que deveriam ser respeitadas como a distância

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mínima da mata ciliar de 30 metros do leito do rio, estabelecido pelo Código Florestal
Brasileiro, Lei 12.651/2012.
Consequentemente, além de todos esses fatores, há impermeabilização do solo causada
pela construção das pavimentações em vias públicas, reduzindo a capacidade de infiltração da
água das chuvas gerando assim enchentes nas cidades. E por se tratar de enchentes, outro
aspecto que pode influenciar ainda mais, é a falta de cobertura vegetal na área, que possui a
função de reter a água no solo, através da rugosidade que ali existe. Consequentemente, sem
essa cobertura, o solo fica vulnerável, com a ocorrência maior de escoamento superficial na
área, agravando a problemática das enchentes, ademais pode haver aparições de erosões devido
ao carreamento de partículas do solo.

Mapa 2. O mapa demonstra o uso e ocupação do solo, destacando a área de drenagem, vegetação, pastagem, área
urbana, limite municipal e estadual.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo da vulnerabilidade ambiental da microbacia do Córrego Tamanduá, com a
utilização de ferramentas de geoprocessamento demonstrou ser eficaz. A identificação das áreas
vulneráveis pode nortear na tomada de decisões, auxiliando na recuperação das eventuais áreas
afetadas podendo resolver ou mitigar estas situações.
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Dessa maneira, são notáveis as alterações no meio físico do ambiente, onde esse
processo de degradação do solo tornou-se mais acelerado devido às atividades antrópicas no
entorno. Não obstante, é perceptível que por uma falta de manejo adequado do uso e ocupação
do solo, tanto na área rural quanto na urbana, que a microbacia necessita de um planejamento
apropriado para cada área de uso, do mesmo modo que demanda de uma manutenção e
fiscalização para uma melhoria na qualidade do solo e posteriormente na qualidade da água na
microbacia do córrego do Tamanduá.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Presidência da República. Lei n. 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a


proteção da vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19
de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15
de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de
24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do
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