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Análise Psicológica (2007), 4 (XXV): 543-557

Psicoterapia na idade adulta avançada

HELDER REBELO (*)

1. INTRODUÇÃO logo – Guidelines for Psychological Practice with


Older Adults (2004). Dentro das diferentes alíneas
Nas últimas décadas, a população com mais de que compõem o documento, uma delas reconhece
65 anos de idade aumentou consideravelmente especificamente a importância do trabalho psico-
(tanto em termos absolutos como em termos rela- terapêutico com adultos seniores – “estas inter-
tivos), dando origem a um novo campo de reflexão, venções podem incluir técnicas individuais, de
investigação e intervenção. Trata-se de um fenómeno grupo, conjugais e familiares [...] exemplos de
de tal forma expressivo que alguns autores afirmam intervenções frequentemente usadas com esta
que vivemos na época dos ‘gerontic boomers’ população incluem revisão de vida e trabalho das
(Lima, 2004a). De facto, para um número cada reminiscências, trabalho de luto, psicoterapia foca-
vez maior de pessoas, a terceira idade representa lizada nas tarefas de desenvolvimento e adaptação
cerca de um terço da totalidade do tempo das suas às mudanças na idade adulta avançada, terapias
vidas; circunstância que tem conduzido a inúmeras expressivas para aqueles(as) com maiores dificul-
transformações sociais e, consequentemente, a uma dades de comunicação, métodos para a promoção
organização dos serviços de saúde que permitam das competências cognitivas e programas psico-
o enquadramento de respostas às novas necessi- educativos orientados para os idosos, membros
dades. das suas famílias e/ou outros cuidadores” (APA,
No que diz respeito à prestação de cuidados de 2004: 249).
saúde, os psicólogos clínicos depararam-se com Propomo-nos, então, descrever os principais
uma nova área de intervenção, sendo hoje consen- modelos psicoterapêuticos na idade adulta avan-
sual a importância da integração dos psicólogos çada1. Para o efeito, descrevemos, inicialmente,
nas equipas multidisciplinares que trabalham nas os aspectos psicossociais que definem esta etapa
unidades de geriatria dos hospitais gerais e espe- do desenvolvimento e, posteriormente, as indica-
cializados. A Associação Americana de Psicologia, ções e características dos diferentes modelos de
reconhecendo as circunstâncias especiais que envol- intervenção psicológica que dominam a literatura
vem a prática profissional com este sector popula- da área.
cional, publicou recentemente um documento que
define as principais linhas de actuação do psicó-

1
Ao longo do texto vão surgir como sinónimos as
(*) Psicólogo e Terapeuta Familiar. E-mail: helder_ palavras idoso(s), adulto(s) na idade avançada ou adulto(s)
rebelo@sapo.pt sénior(es).

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2. O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO atribuir à velhice um risco acrescido; por outro
lado, a vivência destas transformações são de natu-
O envelhecimento é um processo natural, ine- reza individual e influenciada pelo contexto de
vitável e contínuo. São numerosos os estudos que vida, sendo, por isso mesmo, o envelhecimento um
se debruçam sobre os processos biológicos, psico- fenómeno universal, mas profundamente hetero-
lógicos e sociais associados ao envelhecimento. géneo (Ferreira-Alves, 1997; Fonseca, 2005; Knight,
De acordo com Birren e Schaie (cit. in Lima, 2004a: 1996). Deste modo, e de acordo com os autores
134) “existem três concepções teóricas diferentes anteriormente citados, a gerontologia tem eviden-
sobre a natureza da velhice. Uma perspectiva, ciado que o envelhecimento é uma experiência
encontrada em muitos estudos psiquiátricos, que mais positiva do que a sociedade ocidental pressu-
encara a terceira idade como um período de perdas punha que fosse.
[...] na área da psicologia social e da persona- Com o prolongamento da esperança média de
lidade encontramos descrições abertamente positivas vida, os autores têm tido a necessidade de incluir
sobre o processo de envelhecimento [...] uma posição novos estadios do desenvolvimento, na medida
intermédia é a proposta pelos estudos dos propo- em que a terceira idade é, para a maioria dos
nentes do modelo do desenvolvimento coextensivo indivíduos, um período relativamente longo. Erikson,
à duração da vida, que aceitam a existência de por exemplo, considerou que a última etapa do ciclo
um desenvolvimento com aspectos positivos e vital seria aquela em que o sujeito teria uma maior
negativos. Encontrando alguns indivíduos, sobretudo necessidade de interioridade, sendo que o idoso
perdas, enquanto noutros, ganhos”. Independen- conseguiria a integridade do ego se fosse capaz de
temente dos modelos teóricos, a maioria das repre- integrar imagens do passado através da aceitação
sentações sociais sobre a velhice estão globalmente do sentido vital, tornando-se mais capaz de compre-
povoadas por atribuições negativas, sendo frequente ender os outros; caso contrário, seria uma etapa
encontrarmos discursos onde o idoso surge como marcada pelo desespero. Contudo, numa revisão
ser frágil, dependente, pobre, assexuado, infantil póstuma do texto original de Erikson, a esposa e
e esquecido. o seu colaborador Joan, acrescentaram um nono
Contudo, e tal como acontece noutras etapas estadio, pautado por uma capacidade de transcen-
do ciclo vital, “a velhice é um tempo de expo- dência e de observar a realidade a partir de uma
sição a acontecimentos de vida e a transições – meta-perspectiva. Desta forma, os autores acre-
cada um(a) reunindo em si mesmo(a) riscos e opor- ditam que após uma plena integração do ego, o
tunidades para o desenvolvimento psicológico –, adulto sénior ultrapassa o período de excessiva
mas também como um tempo de implementação centração em si mesmo (durante a qual faz o balanço
de estratégias de confronto e de resolução dos desa- e revisão de vida) e passa para um plano de reflexão
fios que o decorrer do curso de vida vai lançando permanente – de sabedoria (Brown & Lewis, 2003).
ao potencial adaptativo de cada indivíduo” (Fon- Dentro da diversidade de propostas de concep-
seca, 2005: 223). tualização dos processos de envelhecimento, consi-
Assim, se é verdade que o envelhecimento arrasta deramos o modelo contextual, baseado na geração
consigo perdas no plano biológico, psicológico e e no desafio específico à maturidade2 de Knight
social, não podemos deixar de registar os ganhos (1996: 17-34) bastante integrador. O idoso, apesar
quando esta etapa é vivida de forma a capitalizar de ser confrontado com os desafios mais com-
todas as aprendizagens ocorridas em estadios ante- plexos da vida humana (ajustamento à doença
riores do desenvolvimento (Costa, 1998; Fonseca, crónica, défices e perdas), é, comparativamente
2005; Lima, 2004a; Zarit & Knight, 1996). Com aos mais novos, um indivíduo mais maduro. Assim,
efeito, quando pensamos a terceira idade e conse- a compreensão do processo de envelhecimento
guimos integrar os ganhos e as perdas associadas individual deve integrar quatro componentes:
a esta etapa, podemo-nos questionar se esta transição
- Elementos da maturidade – a investigação
constitui em si mesma um foco de stresse quanti-
encontrou resultados que permitem aceitar
tativamente diferente daquele que caracteriza uma
qualquer outra transição do ciclo vital. Todas as
transições de vida colocam o sujeito perante o risco
e a oportunidade de mudança, não se devendo
2
Tradução efectuada por Ferreira-Alves (1997: 395).

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a existência de estruturas de raciocínio pós- 3. MODELOS PSICOTERAPÊUTICOS NA
-formal (pensamento dialéctico, capacidade IDADE ADULTA AVANÇADA
para aceitar diferentes pontos de vista, apre-
ciação dos factos em função do contexto), bem
como, uma maior complexidade emocional 3.1. Dos mitos à criação de espaços de escuta
(aumento da interioridade) e uma competência para os idosos
acrescida no relacionamento interpessoal;
- Efeito geracional – o período histórico em Durante muito tempo acreditou-se que os idosos
que se nasce e se vive marca o modo como não poderiam beneficiar das abordagens psicote-
se vive o presente; quem faz intervenção psi- rapêuticas (Areán, 2003; Kennedy & Tanenbaum,
cológica com idosos tem que estar preparado 2000; Teri & Logsdon, 1992; Zarit & Knight, 1996).
para integrar estas diferenças (o terapeuta Freud, por exemplo, considerava que a psicanálise
tem que estar preparado para fazer uma apren- seria impossível na segunda metade da vida – “os
dizagem sobre como era crescer antes de mais velhos não estão acessíveis aos métodos tera-
nascer); pêuticos... a quantidade de material que teríamos
- Contexto social – os contextos sociais de que trabalhar tornaria o processo indefinido” (cit.
inserção determinam os modos de vida e in Yesavage & Karasu, 1982: 41) –, contudo, alguns
são responsáveis pela grande diversidade dos autores acreditam que parte das resistências à
processos de desenvolvimento e, consequen- intervenção analítica com adultos seniores residia
temente, dos processos de envelhecimento; no facto de ele próprio se angustiar com o envelhe-
por isso, é muito importante percebermos cimento, acreditando que ia morrer cedo (Cohler,
o(s) contexto(s) em que o sujeito vive(u). O 1998).
contexto social oferece algumas pistas para Parece ter havido um afastamento mútuo entre
podermos compreender a postura que um deter- terapeutas e idosos. Por um lado, tendo por base
minado indivíduo tem perante um dilema; uma suposta rigidez das estruturas mentais e o
- Mudanças específicas da idade adulta avan- declínio cognitivo associado ao envelhecimento,
çada – aspectos relacionados com doenças os adultos mais velhos foram considerados inaptos
crónicas, défices e perdas. para o tratamento psicoterapêutico. Por outro, os
idosos, que cresceram num contexto sócio-cultural
Deste modo, “se é ingénuo considerar que o relativamente hostil às psicoterapias, mantêm alguma
avanço na idade está imune às perdas, é impor- resistência na procura deste tipo de serviços. Num
tante reter que o envelhecimento também comporta estudo recente, Walker e Clarke (2001) revelam
ganhos e que o confronto com novas circunstân- que apesar da eficácia comprovada das intervenções
cias de vida que se abrem na velhice pode inclusi- psicoterapêuticas nesta faixa etária, um número
vamente levar ao amadurecimento [...] manutenção significativo dos clínicos gerais e psiquiatras continua
de um self em desenvolvimento como tarefa desen- a considerar a psicofarmacologia como o tratamento
volvimental desta fase da vida. Enquanto produto de primeira linha.
da interacção entre um organismo biológico e um Com o crescente envelhecimento populacional,
contexto socio-histórico, o desenvolvimento psico- começaram a ser criados serviços de saúde que
lógico na velhice parece estar associado e ser prestam cuidados a esta faixa etária (unidades de
equivalente à manutenção de um sentido de conti- geriatria) e que organizam o seu trabalho em torno
nuidade, integridade e identidade. [...] Numa lógica de equipas multidisciplinares. Nestas equipas, os
de ganhos e perdas desenvolvimentais, a optimi- psicólogos clínicos, para além das tarefas de ava-
zação do desenvolvimento e o envelhecimento liação e psicodiagnóstico, começaram a criar espaços
bem sucedido não podem ser encarados apenas de apoio psicoterapêutico individual e/ou de grupo;
em termos de procura de ganhos e evitamento de inicialmente, apenas para indivíduos internados
perdas, sendo necessário considerar as formas por e, posteriormente, em regime ambulatório (Zeiss
meio das quais as pessoas respondem às divergên- & Steffen, 1996). Assim, vários autores destacam
cias entre os resultados desenvolvimentais dese- que os espaços de escuta terapêutica dirigidos à
jáveis e a trajectória efectiva das suas vidas” população idosa devem ter em consideração aspectos
(cit. in Fonseca, 2005: 230-232). centrados no terapeuta (o trabalho com idoso deve

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ser encarado como um desafio; conhecimentos em candidatos na idade adulta avançada – “[...]
aprofundados sobre a psicologia do desenvolvi- na minha prática profissional já tratei um número
mento desta etapa do ciclo de vida; realizar trabalho significativo de neuroses crónicas em pessoas
pessoal que envolve as concepções pessoais sobre com mais de quarenta e cinquenta anos de idade
a velhice e envelhecimento, nomeadamente, aqueles [...] tinha a confiança de que se não os conse-
terapeutas que apresentam representações muito guisse tratar, essas pessoas teriam, pelos menos,
negativas sobre esta etapa do ciclo de vida; aceitar uma oportunidade de se conhecerem melhor. Para
modelos de mundo diferentes dos apresentados minha surpresa um número considerável de casos
pelos clientes mais novos; estar preparado para reagiram muito favoravelmente ao tratamento.
identificar e reconhecer as semelhanças entre os Devo acrescentar que algumas destas curas repre-
modos de pensamento dos indivíduos, indepen- sentam os casos com melhores resultados” (1919,
dentemente da sua idade cronológica) e centrados cit. in King, 1973: 24-25). Deste modo, apesar
no setting (a duração e frequência das sessões deve de se manter alguma controvérsia sobre os bene-
ser mais flexível; socializar o doente ao setting fícios das psicoterapias de inspiração psicanalítica
terapêutico; os idosos são particularmente receptivos nos adultos seniores, consideramos que existem
a terapias breves e focalizadas na resolução de dois grandes argumentos que podem tornar estas
problemas, donde nos parece importante sublinhar abordagens terapêuticas bastantes úteis: os mais
a necessidade de definir os objectivos terapêuticos idosos estão, geralmente, mais disponíveis para
e clarificar expectativas desajustadas; maior abertura processos introspectivos, bem como, mais capazes
à integração ou contacto com familiares no decurso para efectuarem uma revisão da sua história de vida,
do processo terapêutico; o processo terapêutico com a atribuição de novos significados (Cohler,
deve reforçar a independência do indivíduo, sempre 1998).
que seja possível; na sequência de situações em Numa leitura psicodinâmica, a manutenção da
que o declínio mnésico começa a ser evidente é auto-estima e o reforço do narcisismo são aspectos
possível que o paciente conte várias vezes um mesmo fundamentais no trabalho clínico com idosos. Elisa-
episódio) (Kennedy & Tanenbaum, 2000; Nordhus beth Costa (1998) refere que quando o sujeito se
& Nielsen, 1999; Teri & Logsdon, 1992; Wheelock, dá conta que não consegue obter a satisfação dos
1997). seus desejos (em virtude dos défices que vai acumu-
Relativamente aos temas, é recorrente que nas lando), entra em conflito e acaba por retrair-se
consultas de psicoterapia com adultos seniores do contacto com o mundo externo – por um lado,
surjam conflitos relacionados com transforma- concentra toda a sua energia em si mesmo, vol-
ções da estrutura familiar, mudança de papéis, tando a sua atenção exclusivamente para as suas
ansiedade face ao envelhecimento e à morte, luto, necessidades, explicando, assim, o aumento do seu
falhas narcísicas e medo de dependência, bem narcisismo, e, por outro, aumenta as suas reflexões
como, questões associadas ao declínio cognitivo. internas e activa as suas recordações do passado,
Independentemente das características comuns que ou seja, aumento da interioridade.
os idosos têm entre si, é importante não esquecer É possível que alguns indivíduos não consigam
que a psicoterapia na idade adulta avançada tem fazer uma adequada adaptação à descoberta da
que fazer a integração entre as questões desen- sua interioridade. Nestes casos, o passado é trazido
volvimentais que definem esta transição de vida por meio de recordações com uma conotação dolo-
e a diversidade/heterogeneidade inerente a todos rosa e, deste modo, o incremento da interioridade
os processos de desenvolvimento (Teri & Logsdon, em vez de fazer com que o sujeito relembre factos
1992). positivos (que reafirmariam de forma positiva a
sua identidade), faz com que dê ênfase aos aspectos
3.2. Psicoterapias de inspiração psicanalítica negativos (o ideal do eu é representado como algo
inatingível). Nalgumas situações mais graves, o
As psicoterapias psicanalíticas conheceram avanços sentimento predominante é de desespero e podemos
importantes nas últimas décadas, nomeadamente, observar uma forte tensão emocional que pode
no que diz respeito à flexibilização do setting tera- ocasionar o recurso a mecanismos de defesas mais
pêutico. Karl Abraham foi o primeiro psicanalista ou menos adaptativos ou, em situações extremas,
a contrariar a interdição do tratamento analítico ao colapso narcisista – quando há uma identificação

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FIGURA 1
Processo de envelhecimento de acordo com a perspectiva psicodinâmica (Costa, 1998: 149)

ENVELHECIMENTO

DESEJOS NÃO SATISFEITOS...


... CONFLITOS

DESENVOLVIMENTO DA ‘INTERIORIDADE’
(CONTACTO COM AS REMINISCÊNCIAS)

REMINISCÊNCIAS POSITIVAS
REMINISCÊNCIAS NEGATIVAS

REAFIRMAÇÂO
RECORDAÇÕES
DA IDENTIDADE
NOSTÁLGICAS
INTEGRIDADE
BAIXA
AUTO-ESTIMA
SABEDORIA

DEFESAS TENSÃO NARCISISTA

GERAIS:
- Repressão
- Negação
- Idealização ...

ESPECÍFICAS:
- Fantásticas e/ou super-compensa-
tórias

COLAPSO NARCISISTA
(IDENTIFICAÇÂO COM O NEGATIVO DO IDEAL DO EU)

- DEPRESSÃO NEURÓTICA - DEPRESSÃO PSICÓTICA


- SUICÍDIO - DELÍRIOS

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ao pólo negativo do ideal do eu; ou seja, o idoso imagem envelhecida podem favorecer, num contexto
entende que não conseguiu cumprir os objectivos de suporte terapêutico, uma erotização da relação
a que se tinha proposto, experimenta sentimentos terapêutica); (f) propor a revisão da história de vida,
de fracasso e angústia (ver Figura 1). Desta forma, sempre que esta ferramenta terapêutica se revele
as psicoterapias de inspiração psicanalítica estão útil (Cohler, 1998; Evans, 1998; Kennedy & Tanen-
indicadas para indivíduos que estejam a experi- baum, 2000; King, 1973; Nordhus & Nielsen, 1999;
mentar dificuldades de ajustamento e que sentem Semel, 1996; Wheelock, 1997).
a necessidade de promover o seu auto-conheci- As orientações clínicas anteriormente expostas
mento. São considerados não elegíveis para esta mostram que as psicoterapias de inspiração ana-
abordagem terapêutica, os sujeitos com perturbações lítica oferecem um importante contributo, não só
graves da personalidade, na medida em que os no que diz respeito à compreensão do fenómeno
pequenos movimentos interpretativos podem do envelhecimento, mas também na intervenção
desencadear mecanismos de regressão e agravar psicológica na idade adulta avançada. Deste modo,
a sintomatologia pré-existente. Particularmente a prática psicanalítica contemporânea não se resume
comuns, e com potencialidades para fazerem uma à análise e interpretação da história dos aconte-
boa evolução terapêutica, são os pedidos que envol- cimentos precoces, mas integra a forma como o
vem as tensões narcísicas (perdas e trabalho de luto, sujeito resolve e se adapta às diferentes tarefas
adaptação à reforma, adaptação a uma situação que marcam a vida adulta. Mesmo para os tera-
de doença crónica pessoal e/ou de um familiar peutas que não se revêem no modelo psicanalítico,
próximo, medo de ficar física e emocionalmente julgamos muito úteis as considerações clínicas
dependente, medo da morte). em torno das especificidades do processo de trans-
O trabalho clínico decorre numa atmosfera de ferência e contra-transferência nesta faixa etária.
aceitação incondicional, sendo que o terapeuta
adopta inicialmente uma atitude não directiva. 3.3. Psicoterapias cognitivo-comportamentais
Semel (1996) refere que na terceira idade, pelas
características desta transição de vida, o adulto Os modelos cognitivo-comportamenais são muito
encontra-se particularmente vulnerável pelo que populares na intervenção com idosos. Não só porque
não é aceitável que o terapeuta elabore um comen- se têm revelado muito eficazes na redução da sinto-
tário para o qual o doente não esteja preparado para matologia psíquica e no aumento da satisfação
ouvir. Trata-se, portanto, de uma psicoterapia de apoio com a vida, mas também porque nunca apresen-
e não de um processo analítico clássico. Durante taram as tensões que caracterizaram outros movi-
o tratamento o terapeuta deve: (a) escutar e proteger mentos terapêuticos; e, ainda, porque reúnem um
as defesas do indivíduo, fortalecendo o ego; (b) conjunto alargado de propostas terapêuticas, incluindo
avaliar a forma como a vivência do envelhecimento as psicoterapias interpessoais, centradas nos es-
condiciona ou não os estilos de coping; (c) devolver quemas e revisão de vida/reminiscências (Areán,
uma imagem reparadora da velhice e do processo 2003; Gallagher-Thompson & Thompson, 1986; Hyer
de envelhecimento, por contraposição ao espelho e colaboradores, 2004; James, 2003; Kennedy &
social que conceptualiza a velhice e os velhos como Tanenbaum, 2000; Lee e colaboradores, 2003; Miller
um fardo difícil de suportar; (d) aceitar a transfe- & Silberman, 1996; Teri & Logsdon, 1992; Yesavage
rência narcísica, ou pelo menos não a reprimir (sobre- & Karasu, 1982; Zeiss & Steffen, 1996). De acordo
tudo numa fase inicial do tratamento), ao ponto com Knight (1996), como as terapias cognitivo-
do sujeito poder ter dificuldade em diferenciar o seu -comportamentais estão envolvidas num clima de
self do self do terapeuta; (e) estar atento a reacções optimismo e mudança, estas abordagens podem
que possam acusar sentimentos de inferioridade ser muito úteis para os idosos; estando indicadas
e declínio por parte do sujeito, que devem ser sobretudo para quadros depressivos, perturbação
rapidamente cuidadas, sob pena do terapeuta ser do sono, disfunções sexuais e ansiedade.
sentido como um cuidador abandónico; movimentos Comparativamente com outros modelos, as tera-
de competição e rivalidade (muito comuns entre pias cognitivas e comportamentais são aquelas que,
os sujeitos que experimentam dificuldades na adapta- em nosso entender, propõem o menor número de
ção à reforma); apelo a um espelho que seja reparador adaptações às intervenções especificamente desti-
da auto-imagem (dificuldades em aceitar uma nadas a adultos com idade avançada. Deste modo,

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a conceptualização do tratamento com idosos seguem tiva, de forma a que o idoso se sinta valorizado;
as mesmas orientações que são utilizadas com (b) definir um contrato terapêutico esclarecido,
clientes noutras etapas do ciclo vital, ou seja: (a) incluindo a desmistificação de crenças associadas
avaliação multidimensional dos comportamentos, ao processos terapêuticos; informar e educar o
emoções e cognições, (b) estabelecimento de relações cliente sobre as regras da psicoterapia (nomeada-
funcionais entre meio, comportamento, emoções mente, a importância de cumprir os trabalhos de
e cognições – construção hipotética da organiza- casa), explicando a importância da estrutura das
ção e funcionamento do cliente –, (c) definição consultas, mantendo abertura para negociar; (c)
das áreas problemáticas a intervir. Relativamente focalização em objectivos mínimos e claros (prévia
às estratégias de intervenção, a maioria dos autores e continuamente definidos), sendo que a duração
inspira-se no modelo de terapia cognitiva de A. da terapia deve estar circunscrita ao cumprimento
Beck, centrando a sua intervenção no aqui e agora, dos objectivos contratualizados; (d) o terapeuta
fazendo uso de questionários de auto-preenchi- tem que mostrar uma atitude ainda mais activa,
mento e registos escritos, confronto de distorções mantendo o foco nos tópicos seleccionados e a
cognitivas, treino de competências e proposta de estrutura da sessão (a tendência dos idosos é usarem
trabalhos de casa (Gallagher-Thompson & Thompson, o tempo da terapia para contar histórias, divagar
1996; Hyer e colaboradores, 2004; James, 2003; e desistir de cumprir determinadas tarefas impor-
Teri & Logsdon, 1992; Yesavage & Karasu, 1982; tantes); (e) o terapeuta deve ter especial atenção
Zeiss & Steffen, 1996). Gallagher-Thompson e ao ritmo das sessões, à forma como introduz a infor-
Thompson (1996) reconhecem, ainda, a impor- mação, sendo que pode ser útil a repetição da infor-
tância de integrar no decurso do tratamento técnicas mação; (f) aumentar o tempo de trabalho de um
comportamentais, tais como, treino de relaxamento determinado estímulo, treino com recurso multi-
e prescrição de tarefas a que o idoso associe a sensorial (diga, mostre e faça), uso de auxiliares
obtenção de satisfação. Nos casos em que os sinto- de memória (material audiovisual, trabalhos de
mas se encontram associados a modos de funcio- casa escritos, bloco de apontamentos), planeamento
namento mais prolongados no tempo ou mais contínuo das tarefas; (g) recurso a didácticas/es-
impregnados numa estrutura de personalidade tratégias psicoeducativas multisensoriais, apresentar
desajustada, o indivíduo poderá beneficiar de um a informação de forma clara, e apresentar o material
modelo terapêutico que identifica e trabalha directa- terapêutico de forma mais lenta; (h) avaliar a forma
mente sobre padrões de funcionamento – terapia como a vivência do envelhecimento condiciona
centrada nos esquemas (James, 2003; Miller & ou não os estilos de coping (avaliar a auto-estima
Silberman, 1996). e ansiedade face ao futuro), valorizando, sempre
Tal como acontece com indivíduos mais novos, que possível os aspectos positivos do envelheci-
o grande desafio terapêutico deste tipo de abor- mento; (i) permitir a revisão da história de vida e
dagem passa pelo ensino e treino de competên- a valorização das reminiscências; (j) o idoso aprende
cias cognitivas e comportamentais que permitam e treina formas mais adaptativas de lidar com as
atingir um melhor nível de desempenho perante situações que anteriormente desencadeavam mal-
situações ou áreas em que o indivíduo revela fragi- -estar; (l) fim gradual do processo terapêutico e
lidades. Contudo, como sugere Hyer e colabora- propor sessões de follow-up; (m) manter o trabalho
dores (2004), as psicoterapias na idade adulta em equipa (é fundamental que a condução de uma
avançada devem suavizar as expectativas rela- psicoterapia com um idoso aconteça no seio de uma
tivas à aprendizagem de novos comportamentos. equipa multidisciplinar, nomeadamente, quando
Zeiss e Steffen (1996), fazem notar que a maior o sujeito apresenta problemas físicos de saúde)
parte dos idosos atravessaram e ultrapassaram (Gallagher-Thompson & Thompson, 1986; Hyer
momentos complicados ao longo das suas vidas, e colaboradores, 2004; Kennedy & Tanenbaum,
sendo que a partir do trabalho de recordação sobre 2000; Lee e colaboradores, 2003; Scholey & Woods,
as estratégias utilizadas nesses períodos, é possível 2003; Yesavage & Karasu, 1982; Zeiss & Steffen,
procedermos à actualização de competências pre- 1996).
viamente aprendidas. Assim sendo, a abordagem Nos últimos anos, para além dos princípios e
cognitivo-comportamental sugere: (a) reforçar a estratégias que acabamos de descrever, têm sido
importância de uma relação terapêutica colabora- publicados artigos em que o trabalho clínico com

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idosos é descrito com recurso às terapias centradas a permitir o acesso e a reparação de conflitos ante-
nos esquemas, psicoterapia interpessoal e, final- riores que estejam a bloquear a construção de novos
mente, psicoterapia baseada nas reminiscências significados.
(Bohlmeijer e colaboradores, 2003; Hinrichsen, Como tivemos a oportunidade de mostrar, as
1999; James, 2003; Kennedy & Tanenbaum, 2000; psicoterapias cognitivo-comportamentais oferecem
Miller & Silberman, 1996). Mantendo as ligações um vasto leque de propostas de trabalho clínico
ao rationale teórico cognitivo-comportamental, estas com indivíduos na idade adulta avançada. Com
abordagens valorizam as dimensões internas e efeito, consideramos importante realçar que todos
subjectivas do comportamento humano, bem como, os autores demonstram uma grande preocupação
o impacto das experiências precoces; instituindo, com a validação e eficácia dos modelos, situação
por isso mesmo, encontros terapêuticos em que são que só beneficia o reconhecimento desta actividade
tratados aspectos até então negligenciados pelos nas instituições e serviços que prestam apoio a idosos.
terapeutas que seguiam esta orientação.
Deste modo, a psicoterapia centrada nos esquemas 3.4. Psicoterapias de grupo
desenvolve o trabalho clínico em torno da tomada
de consciência dos esquemas pessoais que influen- No último século muitos foram aqueles que se
ciam o funcionamento mental (estruturas psicoló- dedicaram ao estudo dos grupos, tanto na sua
gicas desenvolvidas precocemente que interferem dimensão estrutural como funcional. O facto dos
na forma como o indivíduo processa e interpreta grupos serem um objecto de estudo partilhado pela
a informação e, consequentemente, no modo como psicologia, sociologia e outras ciências sociais
age). O terapeuta procura encontrar os principais proporcionou um número muito considerável de
temas que compõem a história pessoal do cliente, publicações e, ainda, o aparecimento de revistas
os acontecimentos que o sujeito elege como mais de divulgação científica que se especializaram no
determinantes e a forma como estes dois aspectos tema. No entanto, tal como acontece com outros
estão integrados no self. A partir daqui pode ser objectos de estudo partilhados por diferentes qua-
possível observar e tratar o padrão de comporta- drantes científicos, a investigação que se debruçou
mento que justifica as dificuldades de ajustamento sobre os fenómenos de grupo cresceu de forma
apresentadas pelo cliente (James, 2003). No que rápida, dispersa e desorganizada, tornando difícil
diz respeito à psicoterapia interpessoal, esta abor- o trabalho de integração do saber (McGrath et al.,
dagem encontra-se especialmente indicada para 2000).
indivíduos com depressão reactiva a processos As abordagens terapêuticas em grupo seduziram,
de luto, transição e disputas de papel (ex., conflitos desde sempre, os responsáveis pelos serviços e
conjugais), défices no relacionamento interpessoal. instituições, não só pelas indicações clínicas destes
Trata-se de uma abordagem que tenta corrigir os tipo de intervenção, mas também pela possibili-
modelos de relação do doente, conceptualizados dade de rentabilizarem recursos humanos, físicos
como responsáveis pela manutenção da sintoma- e financeiros.
tologia depressiva no idoso (Hinrichsen, 1999; O trabalho de grupo com idosos encontra a sua
Kennedy & Tanenbaum, 2000; Miller & Silberman, primeira referência em 1950; na década seguinte
1996). Relativamente à psicoterapia baseada nas surgiram outras publicações que relatavam inter-
reminiscências, trata-se de uma proposta terapêu- venções com indivíduos internados em unidades
tica que se tem revelado muito útil na idade adulta hospitalares/instituições. Progressivamente, as
avançada, na medida em que o relato das expe- iniciativas iniciais, marcadas pelo ensaio e erro,
riências passadas assume um papel determinante evoluíram para modelos com substrato teórico
no processo, pois é a recordação selectiva e orientada organizado, multiplicaram-se as modalidades de
de pequenas histórias vividas que permite a cons- intervenção (grupos de discussão orientada, de suporte,
trução de novos significados e a atribuição de um focalizados em objectivos específicos, de remi-
sentimento de coerência e continuidade à vida do niscência, de trabalho de luto), sendo este trabalho
idoso (Bohlmeijer et al., 2003; Kennedy & Tanen- generalizado a grupos de doentes em ambulatório
baum, 2000). Neste modelo terapêutico é sugerido e/ou indivíduos em centros de dia. Assim sendo,
o uso de fotografias, documentos, escrita autobio- mais do que as vantagens económicas anteriormente
gráfica, reuniões com amigos e familiares; por forma destacadas, o trabalho de grupo com idosos permite:

550
(a) desenraizar a crença de que os nossos problemas mental associada aos quadros demenciais; (b) grupos
são únicos e imutáveis, descobrir pontos em comum de motivação – esta abordagem terapêutica des-
e, consequentemente, diminuir o isolamento sentido tina-se a idosos que se encontram muito isolados,
por alguns idosos; (b) instalar a esperança; (c) com perda de interesse nas actividades quotidianas,
promover a interacção social, aprender novas aptidões com desleixo nas tarefas de auto-cuidado e muito
relacionais, fomentando a coesão e, consequen- pessimistas em relação ao presente e futuro; trata-se
temente, a aceitação; (d) aumentar a auto-estima de uma intervenção breve, focalizada na construção
através do altruísmo e da empatia (o idoso sente-se de novos interesses (os temas de carácter pessoal
valorizado por poder apoiar os outros); (e) desen- e/ou familiar são evitados, dada a natureza muito
volver a aceitação incondicional de si-mesmo; (f) for- objectiva deste tipo de programas); (c) grupos de
necer modelos permitindo o comportamento imi- reminiscência – grupos pequenos (habitualmente
tativo; (g) implementar a independência em relação seis a oito elementos) em que os idosos são incen-
ao técnico; (h) promover o planeamento realista tivados a partilhar memórias passadas, permitindo
de objectivos; (i) privilegiar a aprendizagem e o a diminuição dos sentimentos de privação social,
treino de várias competências; (j) obter e partilhar estimulação das competências mnésicas e de comu-
informação sobre as mudanças e transições (Lima, nicação, promoção da auto-estima; (d) grupos
2004b: 27). específicos – incluem os grupos com familiares,
Reconhecendo, por um lado, as limitações que com elementos das equipas que trabalham em
se impõem à psicoterapia institucional, e, admi- unidades de geriatria e/ou grupos de discussão temá-
tindo por outro, que as intervenções em grupo tica orientada para idosos (terapia pela arte, grupos
facilitam a concretização de objectivos terapêuticos de discussão de literatura, poesia, política, ...); (e)
que se encontram mais comprometidos nas abor- grupos psicoterapêuticos – são grupos cujas sessões
dagens individuais, todos os modelos de inter- seguem um planeamento estruturado e uma relação
venção psicológica desenvolveram propostas de forte ao rationale do modelo de base.
trabalho de grupo com idosos (Capuzzi & Gross, Relativamente às psicoterapias de grupo, os
1980; Cooper, 1984; Costa, 1998; Evans, 1998; modelos que melhor têm detalhado a intervenção
Klausner et al., 1998; Lima, 2004b; Parham et al., com idosos são a grupanálise (Evans, 1998), o psico-
1982; Zimerman, 1997). Estes autores são unânimes drama (Costa, 1998; Lima, 2004b), e as terapias
em esclarecer que os grupos com idosos permitem cognitivo-comportamentais (Klausner et al., 1998;
o uso de uma variedade de estratégias terapêuticas Scocco et al., 2002). Todos fazem referência a impor-
e proporcionam, quase sempre, uma melhoria da tantes aspectos a ter em conta na clínica da idade
sintomatologia psíquica e física, bem como, uma adulta avançada:
maior qualidade de vida. Sugerem, portanto, que o
grupo é um espaço contentor de angústias, pode - A grupanálise, sendo um modelo terapêutico
funcionar como um canal de comunicação entre que, contrariamente à psicanálise clássica,
o idoso deteriorado e os familiares (respeitando valoriza os aspectos do contexto e do aqui
sempre os princípios de ética), permite ultrapassar e agora, reforça a importância do grupo fun-
os sentimentos de solidão que muitos idosos expe- cionar como um espelho positivo e os dife-
rimentam e a possibilidade de partilharem preo- rentes elementos do grupo terem para si e para
cupações comuns, ou seja, promove a (re)socia- os outros um olhar benigno. Os autores subli-
lização e a construção de novos significados para nham que é comum os idosos incorporarem
esta etapa da vida (Cooper, 1984; Zimerman, 1997). representações negativas sobre o envelheci-
São múltiplas as aplicações do trabalho de grupo mento e, numa primeira etapa do trabalho
com idosos. Capuzzi e Gross (1980), numa tentativa de grupo, é frequente negarem as perdas e
de agruparem os principais modelos de intervenção projectarem as representações negativas nos
com grupos de idosos, encontraram as seguintes outros. O trabalho interpretativo e de elaboração
metodologias: (a) grupos de reorientação da reali- desbloqueia a resistência ao pensamento e
dade – destinam-se a indivíduos com declínio ajuda a planear o futuro. Particularmente impor-
cognitivo, recorrem a estratégias psicoeducativas/ tante e intenso é o trabalho sobre a morte
/reabilitação para promover a capacidade de orga- quando o grupo perde um dos elementos (Evans,
nização espacio-temporal e retardar a deterioração 1998);

551
- O gerontodrama, mantendo a estrutura tera- apoio deve respeitar as limitações sensoriais dos
pêutica do psicodrama aplicada aos adultos participantes.
mais novos, sugere que o idoso tem mais
dificuldade na dramatização (nomeadamente 3.5. Intervenção e terapia com as famílias
aqueles cuja história pessoal está marcada
pela restrição do jogo e, consequentemente, Tal como temos vindo a referir, os acontecimentos
um empobrecimento na capacidade de fan- que marcaram as últimas décadas da história polí-
tasiar), imaginação e inversão de papéis, bem tica e cultural das sociedades ocidentais suscitaram
como, nos solilóquios. Contudo, Costa (1998: inúmeras transformações sociais, com inevitáveis
158) reforça que quando o grupo percebe e consequências na forma como nos organizamos.
domina a técnica, a terapia evolui muito bem; No que diz respeito ao sistema familiar, verificamos
o idoso desenvolve o seu capital afectivo, mudanças significativas no seu funcionamento e
recupera a espontaneidade, diminui as atitudes na sua estrutura, das quais salientámos: (a) a dimi-
automatizadas, promove um alargamento da nuição da taxa de natalidade e o aumento da espe-
rança média de vida conduziram ao estreitamento e
rede social pessoal e a qualidade dessas rela-
alongamento dos genogramas familiares, ou seja,
ções.
à verticalização das famílias (Sousa et al., 2004;
- As terapias cognitivo-comportamentais, tal
Qualls, 1996); (b) a possibilidade de (co)existi-
como referimos para as abordagens indivi-
rem três ou quatro gerações no mesmo espaço sugere
duais, promovem a aprendizagem e o treino
o cruzamento de várias etapas do ciclo de vida (indi-
de competências, recorrem a sessões estru- vidual e familiar), bem como, a gestão simultânea
turadas e didácticas. de diferentes tarefas desenvolvimentais e aconte-
O papel dos terapeutas deve facilitar a relação cimentos de vida (previsíveis e não previsíveis);
entre os diferentes elementos do grupo, por forma (c) o contínuo movimento de entradas e saídas de
a criar um clima de confiança total, podem ser elementos do núcleo familiar – famílias acordeão
incluídas actividades lúdicas que permitam a cons- (Sousa et al., 2004) – exigem uma maior flexi-
trução da relação. Os terapeutas devem cuidar a bilidade e adaptação ao tempo e espaço familiar;
linguagem, as regras e fronteiras do grupo, possi- (d) o aumento de novas configurações familiares,
bilitar o acolhimento e integração de novos elementos aumento da taxa de participação feminina no mundo
e servir de consciência e memória do grupo. Em do trabalho e a mobilidade geográfica das famílias
alguns modelos de intervenção, sobretudo naqueles complexifica o apoio que os elementos mais novos
podem oferecer aos elementos mais velhos, na
em que as sessões não são excessivamente estru-
medida em que a par de uma menor disponibili-
turadas e onde se sugere o recurso a técnicas expres-
dade dos cuidadores informais, surge a valorização
sivas, alguns autores incluem a possibilidade dos
da independência e autonomia do núcleo familiar
elementos do grupo poderem partilhar refeições
constituído por duas gerações.
nas sessões (Capuzzi & Gross, 1980; Lima, 2004b;
Perante estas mudanças, as famílias mostram-se
Parham et al., 1982). Capuzzi e Gross (1980) advertem, cada vez mais desgastadas com a multiplicidade
ainda, que o trabalho de grupo com idosos deve de exigências internas e externas, com a duplicação
ter em atenção alguns aspectos: (a) horário (as de papéis dos diferentes elementos do sistema,
sessões devem ocorrer durante o período do dia com o esgotamento de recursos humanos e mate-
em que os idosos sentem que retiram uma maior riais. Na resposta a estes novos problemas foram
produtividade; o final do dia não é o mais adequado surgindo novas soluções, tanto ao nível informal
porque os idosos têm receio de chegar a casa depois como formal. Assistimos, portanto, ao desenvol-
de escurecer); (b) a sala onde decorre o encontro vimento de serviços que respondem a um conjunto
deve ser capaz de manter uma temperatura constante, de pedidos mais ou menos originais e, sobretudo,
insonorizada e o mobiliário deve ser ergonómico; a uma classe de clientes que até agora raramente
(c) os animadores devem ter um papel activo, procurava ajuda.
moderar as participações e devem ser capazes de É quase inevitável que as questões familiares
interpretar reacções de ciúme e/ou tentativa de surjam no decurso de processo psicoterapêutico
construção de alianças; (d) o uso de materiais de individual ou mesmo durante um processo de ava-

552
liação (neuro)psicológica de um idoso. Uma grande liares sugerem como importante (Mitrani & Czaja,
parte das preocupações com que o adulto chega a 2000; 2004; Qualls, 1996, 1999, 2000; Zarit &
uma terapia individual envolve outro elemento da Zarit, 1982):
família (por exemplo, a distância face aos filhos,
- A identificação de temas familiares presente
desilusão face ao estilo de vida adoptado pelos
no texto e sub-texto dos discursos dos dife-
filhos, depressão, perda de papéis, ansiedade em
rentes elementos do sistema (‘a mãe é forte’;
torno das capacidades de auto-cuidado e segurança).
‘somos uma família que sempre resolveu os
No que diz respeito aos modelos de ajuda psico-
seus problemas dentro de portas’; ‘se nos
terapêutica na idade adulta avançada, a intervenção
e a terapia familiar parece ser uma boa opção para unirmos todos vamos ultrapassar isto, a união
situações de crise familiar cujo ‘paciente identi- faz a força’). Estas representações são dispo-
ficado’ seja um dos elementos mais velhos do sistema sitivos organizadores das dinâmicas familiares,
ou sempre que a família se mostre preocupada com funcionam como discursos internos que regulam
o processo de envelhecimento, revelando dificul- comportamentos, bem como certezas inques-
dade em aceder aos recursos internos do sistema tionáveis e inquestionadas que podem ser
(Alarcão, 2002; Benbow et al., 1993; Huckle, 1994; utilizadas pelo terapeuta como portas de entrada
Mitrani & Czaja, 2000; Penn, 2001; Qualls, 1996, no sistema e, a partir daqui, falar daquilo que
1999, 2000; Sousa et al., 2004; Zarit & Zarit, 1982). não é falado, ou seja, sobre regras instituídas
Uma família tem indicação para terapia familiar que poderão ter funcionado no passado, mas
sempre que usa as mesmas estratégias face às dife- que exigem a sua reformulação no presente;
rentes mudanças, mostrando-se ineficazes para - A forma como os diferentes elementos da
resolverem os problemas ou diminuir a ansiedade e família contam a história do paciente identi-
stresse dos elementos da família. Qualls (2000: ficado. Este aspecto é particularmente impor-
191) acrescenta “os problemas ocorrem quando a tante quando o idoso se encontra num processo
estrutura não desempenha a sua função”. Recor- de doença crónica (ex. demência). Peggy Penn
damos, ainda, que segundo a teoria sistémica os (2001) tem realizado um interessante trabalho
períodos de transição interrompem os padrões fami- neste domínio. Refere que em muitas circuns-
liares e oferecem oportunidades de mudança. tâncias da vida quotidiana, o doente gostaria
De acordo com Qualls (1996), a intervenção de falar mais sobre a sua doença, mas alguém
ou terapia familiar na idade adulta avançada tem na família o impede; circunstância que provoca
características específicas, que, não a tornando a vivência de um paradoxo. Vários elementos
tecnicamente diferente das intervenções terapêu- da família vivem divididos entre o dilema de
ticas propostas noutras etapas do ciclo vital, reveste- falar e o não-falar, sendo que os aconteci-
-se de movimentos compreensivos e interpretativos mentos não falados têm grande importância
particulares. Compete, por isso, ao terapeuta, o na construção de significado. Na verdade a
conhecimento das características funcionais e estru- doença crónica congela a vida, quando o nosso
turais dos sistemas familiares com idosos, bem corpo está ameaçado, as conversações são
como, treino nas técnicas básicas da entrevista constrangidas. Com efeito, a doença crónica
sistémica – questionamento circular, hipotetização, é experimentada como uma discontinuidade;
conotação positiva e prescrição. Ao longo do processo, dado as vicissitudes da doença é altamente
o foco terapêutico oscila entre a observação da improvável prever o futuro. O trabalho tera-
capacidade que a família tem para responder às pêutico passa por quebrar o silêncio, cada
necessidades dos diferentes elementos (os subsis- um dos elementos da família guarda para si
temas devem mostrar-se coesos e flexíveis, bem sentimentos que sentem serem impossíveis
como, capazes de reconhecerem os constrangimentos de falar.
associados a cada etapa desenvolvimental) e a capa- - A identificação de conflitos passados não
cidade para gerir a ansiedade. A intervenção sistémica resolvidos. Quando a relação com um elemento
não se resume ao trabalho directo com o sistema mais velho, nomeadamente em situações de
familiar, mas também pode incluir o trabalho com cuidado informal do(s) progenitor(es), é mediada
as instituições e/ou com a rede social. por processos pessoais e/ou familiares mal
Assim, nesta etapa do ciclo vital as terapias fami- resolvidos (sobretudo os movimentos de sepa-

553
ração-individuação), é natural que o reencontro e estar particularmente atento às metáforas
geracional seja pautado por conflitos mais negativas sobre a velhice (dependência, genes
ou menos graves (incluindo violência sobre fracos, personalidades reprimidas). Aliás,
o idoso), até porque as posições de ‘poder’ uma importante função terapêutica é despro-
estão aparentemente invertidas. Desta forma, mover os velhos mitos e regras, por forma a
durante as discussões familiares surgem os que a família se sinta autorizada a construir
fantasmas do passado, na medida em que as uma nova auto-imagem.
imagens que cada um guarda dentro de si (sobre - A ajuda no planeamento de respostas e
si-mesmo e sobre os outros) raramente são tomadas de decisão face a problemas emer-
apagadas e perdoadas. gentes. Durante um longo período da vida
Durante a meia-idade os filhos resolvem as familiar, os mais novos podem experimentar
questões de autoridade pessoal, devendo-se uma ‘autonomia plena’, na medida em que
tornar num elemento com autonomia emocional, os mais velhos se encontram funcionais e
social e política (Alarcão, 2000; Relvas, 2000; independentes. Trata-se de um período em
Williamson, 1991), ou seja, tornam-se pares que as ligações familiares se estabilizam. À
dos seus pais. Com o envelhecimento é possível medida que os mais velhos envelhecem e,
que os mais velhos solicitem com cada vez por isso, se tornam mais dependentes, é impor-
maior frequência apoio aos mais novos e, de tante que os mais novos identifiquem e com-
forma progressiva, se coloquem numa postura preendam a exigência de uma maior inter-
de maior dependência. Nem sempre é fácil -dependência; não só entre gerações (pais-
admitir estas mudanças – ou porque os mais -filhos), como também intra-gerações
novos ‘fingem’ não ver os pedidos implícitos (irmãos). Desta forma, quando se assistem a
dos mais velhos, ou porque estes não admitem processos de deterioração cognitiva, o objectivo
a intrusão dos mais novos num espaço reser- de algumas intervenções terapêuticas circuns-
vado (por exemplo, gestão económica). creve-se a ajudar os filhos(as) a tomarem
Nas intervenções terapêuticas familiares é consciência das necessidades de dependência
igualmente possível observar os problemas dos pais idosos, por forma a desencadear movi-
existentes na fratria. Acontece, não raras vezes, mentos no grupo familiar de protecção do
que um dos irmãos toma uma decisão sem doente. Os estudos mostram que os sistemas
participar aos restantes elementos do sub-sis- familiares mais organizados conseguem uma
tema (em algumas circunstâncias os técnicos reestruturação mais eficaz e atingem um perfil
responsáveis pela gestão do caso clínico aceitam, de respostas qualitativamente superiores às
sem questionar, o poder desse elemento). famílias menos organizadas (Benbow et al.,
Neste caso, poderá haver, implicitamente, 1993; Huckle, 1994; Qualls, 2000; Zarit &
um processo de investimento familiar nesse Zarit, 1982).
elemento – o porta-voz (que em muitas ocasiões - O cruzamento de múltiplas carências/con-
faz parte da força homeostática do sistema). flitos em diferentes etapas do ciclo vital. É
- Esclarecimento das relações familiares. A compreensível que seja complexo para um
técnica do genograma parece ser usada com casal lidar com o envelhecimento dos seus
grande sucesso nestas famílias. Para além de próprios pais, nomeadamente, com todas as
simples é graficamente atractiva e envolve questões formais e informais do cuidado (incluindo
os diferentes elementos da família num processo a tomada de decisão de recorrer à institucio-
de descoberta. Genogramas mais detalhados nalização); e, simultaneamente, serem capazes
podem desenhar as ligações, alianças, coli- de lidar com a exigente tarefa da adolescência
gações; podem, ainda, identificar mitos, papéis dos filhos e, ainda, com as suas obrigações
e regras familiares. Durante a exploração dos profissionais. Se a tudo isto somarmos limi-
genogramas familiares é comum os elementos tações do orçamento familiar, espaço habita-
que participam na sessão ficarem entusias- cional, bem como, as questões de género;
mados e elaborarem comentários e interpre- podemos adivinhar que as famílias com menores
tações que devem ser cuidadosamente geridas recursos económicos se encontram em maior
pelo terapeuta. Este, deve cuidar a linguagem risco e, dentro destas, as mulheres (normal-

554
mente aquelas a quem são atribuídas as tarefas Face às características específicas que definem
de cuidado). a idade adulta avançada, a actividade de psico-
terapia exige o aprofundamento dos referenciais
A intervenção e terapia familiar na idade adulta
avançada podem desencadear importantes mu- teóricos da psicologia do desenvolvimento – as
danças nos sistemas familiares, proporcionando transformações comportamentais, físicas, cogni-
um contexto terapêutico em que se torna possível a tivas e afectivas, bem como, as dúvidas identitárias,
emergência de novas vozes que oferecem inter- introduzem na vida do idoso, dos seus familiares
pretações alternativas da realidade individual e e amigos a necessidade de novos ajustamentos; as
familiar. Vozes múltiplas são histórias que co-existem, dificuldades/queixas orgânicas constituem, tantas
e, quando assim é, não temos que apagar uma vezes, uma forma de reduzir as inquietações e
história ‘má’, podemos permitir que outras vozes esconder a dimensão psico-afectiva do problema.
ganham ainda mais força e, desta forma, tornar as No entanto, não podemos reduzir o envelhecimento
‘más histórias’ menos proeminentes. São momentos à sua dimensão psicossocial; até porque os psicó-
em que se reforçam as competências do sistema logos que trabalham com esta faixa etária deverão
e se conotam positivamente comportamentos estar preparados para integrar e adaptar os pro-
adequados. cessos terapêuticos às limitações físicas que alguns
Não podemos terminar sem identificar a principal idosos apresentam. Finalmente, gostaríamos de
limitação que as abordagens familiares apresentam salientar que os tratamentos psicológicos, tal como
nesta etapa do ciclo de vida – a dificuldade em juntar a prestação de outros cuidados de saúde, não devem
todos os elementos da família – pois, como sabemos, esquecer a importância de satisfazer as necessi-
quanto mais forem os ausentes, mais capacidade dades de inclusão, controlo e afeição destes indi-
tem o sistema familiar em se defender contra a víduos.
ansiedade provocada pela urgência de mudança.
Assim sendo, o terapeuta corre mais o risco de se
tornar num conselheiro familiar e menos num tera- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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