Professional Documents
Culture Documents
RESUMO
Nesse trabalho são discutidos e comparados dois métodos de lavra para a extração gipsita,
Terrace Mining e Strip Mining, tendo como referência as jazidas existentes no Polo Gesseiro
do Araripe, Pernambuco, visando determinar modelos de lavra de melhor desempenho em
comparação com o método de lavra atualmente utilizado pelas empresas do Polo Gesseiro,
o Open Pit Mining. O estudo compreende a modelagem geológica, o planejamento, projeto
de lavra e análise econômica de uma jazida localizada na região de Araripina – PE.
ABSTRACT
In this work two mining methods for gypsum mining, Terrace Mining and Strip Mining, are
discussed and compared, with reference to the existing deposits in the Polo Gesseiro do
Araripe, Pernambuco, in order to determine better performance mining models compared to
the mining method currently used by Polo Gesseiro companies, Open Pit Mining. The study
includes the geological modeling, planning, mining project and economic analysis of a
deposit located in the region of Araripina - PE.
O presente estudo foi realizado no Polo Gesseiro do Araripe, região responsável por 84,3%
da gipsita produzida no Brasil [1]. A lavra desse bem mineral pode ser executada de forma
mais sustentável do ponto de vista técnico, econômico e ambiental em relação à
metodologia de lavra que vem sendo adotada pela maior parte das mineradoras há anos, o
Open Pit Mining. O método de lavra Open Pit Mining é tradicionalmente adotado pela
maioria das empresas que extraem gipsita no Polo Gesseiro, o qual é adequado, permite
altas taxas de produção, elevada mecanização e boa recuperação do depósito, porém,
exige recuperação da área degradada pela mineração e pilhas de estéril, passivos
ambientais produzidos pela lavra do bem mineral com este método de lavra.
O Terrace Mining é um método de lavra à céu aberto que é aplicado em depósitos minerais
tabulares e que possuem capeamento de camadas finas a espessas. Neste método, o
material estéril da cobertura pode ser depositado dentro da cava nas áreas onde o minério
já foi extraído, reduzindo a distância de transporte do estéril em relação ao Open Pit Mining.
No Terrace Mining a lavra pode ser executada através de múltiplas bancadas tanto para o
minério quanto para o capeamento. A escavação desenvolve-se na direção da maior
dimensão do depósito podendo ser tanto em bancadas simples como em bancadas
múltiplas. O número de bancadas é função da profundidade da escavação, porte dos
equipamentos e competência do material escavado. O material estéril é depositado nos
locais onde o minério já foi lavrado [2].
A lavra realizada através do método de lavra Strip Mining também é a céu aberto e de forma
similar à Terrace Mining permite a deposição do capeamento dentro das tiras formadas
durante a lavra da jazida, o que facilita a recuperação da área degradada pela mineração e
ao mesmo tempo elimina a necessidade de transporte do estéril da cobertura para áreas de
deposição pois o mesmo é lançado diretamente na tira adjacente já minerada. É aplicado a
jazidas formadas por várias camadas de rochas mineralizadas com orientações horizontais
ou semi-horizontais, de pouca espessura, localizadas a profundidades não muito grandes (<
50 m), e com grande extensão e volume. Contudo, os mesmos equipamentos usados na
lavra do minério não podem ser usados para a lavra do capeamento [3].
Em virtude destas definições, o método de lavra Terrace Mining mostra-se como excelente
alternativa ao método de lavra empregado em minas que atualmente utilizam o Open Pit
Mining. Em jazidas novas a serem desenvolvidas, a lavra através de Strip Mining parece ser
o método de lavra mais adequado para a região do Polo Gesseiro. Ambos os métodos de
lavra permitem a deposição de material estéril dentro da cava simultaneamente à lavra,
eliminando o custo de aquisição de novas áreas para alocação de pilhas de estéril e o custo
para construção e manutenção destas pilhas, reduzindo as distâncias de transporte de
estéril da cobertura e permitindo a recomposição da cava e do terreno após a exaustão das
reservas. Na lavra de gipsita, a diferença entre os métodos de lavra Terrace Mining e Strip
Mining reside na forma como é realizada a operação de decapeamento. Neste trabalho
adotou-se o uso de caminhões e escavadeiras hidráulicas para a lavra com Terrace Mining
e uma dragline para a lavra com Strip Mining.
Metodologia
Levantamento de dados
Modelagem geológica
Sequenciamento de lavra
Estudo de caso
O objeto de estudo deste trabalho é uma área de concessão da empresa Royal Gipso Ltda /
Ponta da Serra Mineração Ltda localizada próximo ao distrito de Gergelim, município de
Araripina, Pernambuco. As figuras 2 e 3 apresentam a localização da área sob a qual
encontra-se o depósito de gipsita.
Figura 2. Área dentro do estado de Pernambuco. Figura 3. Área próximo a Araripina.
Geologia da Área
Modelamento Geológico
O modelamento geológico foi realizado no software Datamine Studio 3, a partir dos dados
de sondagem e topografia fornecidos pela Royal Gipso Ltda. As figuras 4 e 5 apresentam as
curvas de nível e o modelo digital de terreno (DTM).
O modelo geológico do minério foi feito através do Método das Seções Verticais, cujas
seções são coincidentes com os limites litológicos. A figura 6 apresenta os furos de
sondagem gerados no Studio 3 e as figuras 7 e 8 mostram as Seções desenhadas e o corpo
de minério, respectivamente.
Figura 6. Distribuição espacial dos furos de sondagem.
Uma vez que no Polo Gesseiro do Araripe o minério é lavrado sem distinção, isto é, não há
um fator limitante para separação de diferentes produtos, como teor por exemplo, o limite
final da cava e o ponto onde iniciará a lavra foram determinados a partir da Relação Estéril-
Minério (REM) Econômica. Assim foi produzido no software Surfer um Mapa de Iso-Relação
Estéril-Minério, conforme mostrado na figura 9.
A REM Econômica foi determinada a partir dos custos unitários de produção necessários
para funcionamento do empreendimento. Assumiu-se um Lucro desejado de 15%. A REM
Econômica é determinada de acordo com a equação (1) [7]:
Pv +(CCA +CBENEF +L)
REMecon = CDECAP
(1)
Onde:
REMecon: Relação estéril-minério econômica;
PV: Preço de venda;
CCA: Custo de aquisição
CBENEF: Custo de beneficiamento;
L: Lucro desejado;
CDECAP: Custo de descobertura.
Pelos resultados da REM Econômica a lavra pode iniciar em qualquer ponto da cava, uma
vez que, de acordo com a figura 9 a região onde será a cava apresenta Relações Estéril-
Minério físicas bem abaixo das Relações Estéril-Minério Econômicas determinadas para
ambos os métodos de lavra. Assim assumiu-se que a lavra deve iniciar no ponto mais a Sul
da jazida devido a maior proximidade com a PE-615 e também devido à rigidez de ambos os
métodos de lavra, Terrace Mining e Strip Mining.
Uma vez definidos os valores das Relações Estéril-Minério Econômicas para ambos os
métodos de lavra, verificou-se que toda a jazida pode ser lavrada dentro dos limites
econômicos. Deste modo definiu-se a cava final projetando-se na topografia as bancadas do
estéril a partir do minério. A figura 10 apresenta a cava final. A figura 11 mostra um contorno
que representa a jazida projetada sobre o terreno. Nota-se a facilidade de acesso ao local
da futura mineração através da PE-615 e outras estradas vicinais.
As operações unitárias foram definidas de acordo com o tipo de material a ser lavrado.
Portanto, para este caso, tem-se a lavra do material de cobertura e a lavra do minério. A
lavra do minério ocorre de forma similar tanto para o método de lavra Terrace Mining como
para o método de lavra Strip Mining. A diferença reside na lavra do capeamento onde, para
este estudo, adotou-se o sistema de escavação com Escavadeiras hidráulicas e Caminhões
para o método de lavra Terrace Mining e escavação com Dragline para o método de lavra
Strip Mining.
A operação da descobertura é bastante simplificada para ambos os métodos uma vez que
não é necessária a construção e operação de um bota-fora para disposição do estéril,
diminuindo ou anulando o tráfego nas vias de acesso externas, as distâncias de transporte
de estéril da descobertura e favorecendo o processo de recuperação ambiental da área
minerada. Também são encontrados benefícios econômicos devido a menor necessidade
ou ausência de caminhões para transporte de estéril e diminuição das distâncias de
transporte.
Figura 19. Layout de cava-Terrace Mining. Figura 20. Layout de cava-Strip Mining.
Para a análise econômica foram elaborados dois fluxos de caixa, um para a Terrace Mining
e outro para a Strip Mining, cujos dados são embasados nas informações definidas em [8].
O preço do minério de gipsita é um fator que influencia nas receitas, sendo cotado no valor
de 33,48 R$/t no ano de 2018. Uma vez que neste trabalho adotaram-se valores em dólar, a
taxa de conversão cambial na data da realização da pesquisa foi de R$ 3,24; portanto a
gipsita é vendida a 10,33 US$/t, conforme a tabela 6.
Os fluxos de caixa das duas alternativas são mostrados nas tabelas 7 e 8 para o método de
lavra Terrace Mining e nas tabelas 9 e 10 para o método de lavra Strip Mining. Os fluxos de
caixa foram elaborados para uma vida útil e 20 anos, sendo necessária a reposição dos
equipamentos de acordo com a vida útil de cada um, com exceção da drgline que possui
uma vida útil de 20 anos. Foi utilizada uma taxa de desconto do fluxo de caixa (taxa de
mínima atratividade) de 18% aa, incorporando a taxa de atratividade de mercado (em torno
de 10%) e o risco inerente a atividade de mineração.
Tabela 7. Fluxo de caixa para o Terrace Mining (Anos 0 a 9).
Tabela 8. Fluxo de caixa para o Terrace Mining (Anos 10 a 20).
Tabela 9. Fluxo de caixa para o Strip Mining (Anos 0 a 9).
Tabela 10. Fluxo de caixa para o Strip Mining (Anos 11 a 20).
A partir do fluxo de caixa foram obtidos os critérios de decisão econômicos: VPL (valor
presente líquido), TIR (taxa interna de retorno) e o IL (índice de lucratividade). As tabelas 11
e 12 apresentam os resultados do cálculo desses critérios para cada um dos métodos de
lavra.
CONCLUSÃO
Conforme já demonstrado em estudos anteriores [4], [5] e [6], o método de lavra Terrace
Mining é mais vantajoso do que o método Open Pit Mining. Levando em consideração os
resultados do presente trabalho pode-se concluir que a Terrace Mining, considerando os
parâmetros técnicos e econômicos estimados, é a melhor alternativa para a mineração de
gipsita no Polo Gesseiro do Araripe.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[2] BULLIVANT, D. (1987). Current Surface Mining Techniques. Journal for the
Transportation of Materials in Bulk: Bulk Solids Handling, v. 7, n. 6, p. 827-833.
[3] MACÊDO, G.; ALFONSO, P.; SOUZA, J. C. (2012). Lavra em Tiras – Uma alternativa
econômica e ambiental na mineração de gipsita no Pólo Gesseiro do Araripe. Congresso
Brasileiro de Mina à Céu Aberto. Instituto Brasileiro de Mineração. Belo Horizonte, 2012.
[5] BASTOS, F. (2013) Aplicação da "TERRACE MINING" como alternativa para lavra de
gipsita na região do Araripe - Pernambuco. Dissertação de Mestrado. Departamento de
Engenharia de Minas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife.
[7] SOUZA, J. C. (2001). Métodos de lavra à céu aberto (Apostila). Universidade Federal de
Pernambuco.
[8] RODRIGUES, H.C. (2018). Análise Comparativa dos Métodos De Lavra Terrace Mining e
Strip Mining para Mineração de Gipsita. Dissertação de Mestrado. Departamento de
Engenharia de Minas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife.