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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

Instituto de Geociências e Ciências Exatas

Câmpus de Rio Claro

CONSTRUÇÃO E ABANDONO DE LOBOS


DEPOSICIONAIS NA EVOLUÇÃO SEDIMENTAR DO
MEGALEQUE DO RIO TAQUARI, PANTANAL MATO-
GROSSENSE

Hiran Zani

Orientador: Prof.Dr. Mario Luis Assine

Exame de qualificação apresentado


ao Programa de Pós-graduação em
Geociências e Meio Ambiente –
Linha de Pesquisa Mudanças
Ambientais, como requisito parcial
para obtenção do Título de Mestre.

Rio Claro (SP)


2008
LISTA DE FIGURAS

Fig. 1.1 Modelo digital do Pantanal 3


Fig. 1.2 Leques aluviais que compõe o trato deposicional do Pantanal 4
Fig. 1.3 Cronologia dos lobos deposicionais proposta por Assine (2003). 6
Fig. 2.1 Depósitos de leques aluviais nas margens do rio Indo 9
Fig. 2.2 Classificação de leques aluviais de acordo com o clima 9
Fig. 2.3 Classificação de leques aluviais segundo Stanistreet & McCarthy (1993). 11
Fig. 2.4 Megaleque do rio Kosi e as mudanças de seu curso nos últimos 300 anos 13
Fig. 2.5 Megaleques fluviais 14
Fig. 2.6 Rios analisados por Leier et al. (2005). 14
Fig. 2.7 Modelo de sedimentação de leques aluviais segundo Denny e Schumm. 16
Fig. 2.8 Relações entre morfologia de leques aluviais com o estado do nível de base. 17
Fig. 2.9 Morfologia de leques aluviais em ambientes deposicionais segundo taxa de
18
subsidência.
Fig. 2.10 Modelo esquemático para a evolução de megaleques e sua rede de drenagem à
19
montante
Fig. 3.1 Etapas para a correção dos dados SRTM 22
Fig. 3.2 Exemplos de superfícies de tendências para uma grade de dados altimétricos. 23
Fig. 3.3 Localização dos pontos visitados em campo sobrepostos ao mosaico CBERS2
25
3R4G2B.
Fig. 3.4 Péssimas condições das estradas (A e B) inviabilizaram o deslocamento para áreas
26
mais remotas do megaleque(C).
Fig. 3.5 Dados de campo foram coletados com o auxilio de um aparelho GPS e computador
26
portátil.
Fig. 3.6 Esquema ilustrativo de construção e abandono de lobos no megaleque do Taquari. 28
Fig. 4.1 Semivariogramas experimentais modelados dos quadros SRTM interpolados. 31
Fig. 4.2 Dispersão dos dados SRTM originais (SRTM90) com os dados interpolados
32
(SRTM30).
Fig. 4.3 Comparação visual entre os dados SRTM-90m (nativo) com MDE SRTM-30m
33
(Corrigido).
Fig. 4.4 Superfícies de tendência topográfica do Taquari. 35
Fig. 4.5 Resíduos derivados da superfície de tendência do 3º do megaleque (a), com o
36
histograma de suas alturas (b).
Fig. 4.6 Arquitetura do banco de dados construído. 38
Fig. 4.7 Tela do SIG construído para o megaleque do Taquari. 38
Fig. 4.8. Cartogramas interpretados dentro do ambiente SIG. 39

ii
Fig. 4.9 Divisão preliminar dos lobos deposicionais do megaleque do Taquari. 41
Fig. 4.10 Divisão preliminar dos lobos plotada sobre o MDE. 42
Fig. 4.11 Divisão experimental para o lobo atual. 44
Fig. 4.12 “Box plot” dos resíduos topográficos dos lobos identificados. 45
Fig. 4.13 Processos de avulsão fluvial no baixo curso do rio Taquari, ápice do lobo 1. 45
Fig. 5.1 Comparação visual entre o MDE SRTM30m com os resíduos, em diferentes escalas. 49
Fig. 5.2 Feições associadas ao Lineamento Transbrasiliano 50
Fig. 5.3 Planície de meandros encaixada na porção distal 51
Fig. 5.4 Auto-similaridade das geometrias lobadas em multiescalas. 52
Fig. 5.5 Avulsão do rio Taquari na fazenda Caronal e nos novos canais distributários formados. 54
Fig. 5.6 Expressão altimétrica de complexos de avulsão e do canal atual 55
Fig. 5.7 Rede de paleocanais identificada na superfície do megaleque 56
Fig. 5.8 Lagoas salinas e não salinas no megaleque do Taquari 57

iii
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 2

1.1. ÁREA DO ESTUDO 3


1.2. MUDANÇAS AMBIENTAIS NO MEGALEQUE DO TAQUARI E MOTIVAÇÃO PARA O TEMA 5
1.3. OBJETIVOS 7

2. CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA 8

2.1. LEQUES ALUVIAIS 8


2.2. MEGALEQUES FLUVIAIS 12
2.3. SEDIMENTAÇÃO EM LEQUES ALUVIAIS 15

3. MATERIAL E MÉTODOS 20

3.1. AQUISIÇÃO E TRATAMENTO DOS DADOS ORBITAIS 20


3.1.1. TRATAMENTO DOS DADOS SRTM 21
3.1.2. TRATAMENTO DOS DADOS MULTIESPECTRAIS 24
3.2. COLETA E ANÁLISE DOS DADOS DE CAMPO 25
3.3. INTEGRAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS EM UM SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS
(SIG) 27
3.4. DETERMINAÇÃO DA CRONOLOGIA DOS LOBOS DEPOSICIONAIS 28

4. RESULTADOS PARCIAIS 30

4.1. ANÁLISE ESPACIAL DOS DADOS ALTIMÉTRICOS (SRTM) 30


4.2. IMAGENS MULTIESPECTRAIS PROCESSADAS 37
4.3. SIG DO MEGALEQUE DO TAQUARI E CARTOGRAMAS PRODUZIDOS 37
4.4. CRONOLOGIA DOS EVENTOS DEPOSICIONAIS 39
4.6.1. DIVISÃO PRELIMINAR DOS LOBOS DEPOSICIONAIS 40
4.6.2. DIVISÃO “EXPERIMENTAL” DOS LOBOS DEPOSICIONAIS 43

5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 47

5.1. PRODUTOS DERIVADOS DOS DADOS ORBITAIS 47


5.2. DIVISÃO DOS LOBOS DEPOSICIONAIS E MUDANÇAS AMBIENTAIS 51

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 58

RFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 59

ANEXO I 64
1. INTRODUÇÃO

A compreensão de mudanças ambientais globais tornou-se durante a ultima


década um grande alvo da pesquisa científica multidisciplinar (Benito et. al., 1998).
Uma das principais estratégias adotadas neste esforço conjunto, principalmente nas
Ciências da Terra, é a reconstituição paleogeográfica de ambientes e a análise dos
processos responsáveis pela configuração das formais atuais (Slaymaker, 2000). Deste
modo, torna-se possível a elaboração de modelos científicos que explicam a dinâmica
das paisagens terrestres e que podem auxiliar na compreensão de eventos futuros.
Estudos do Quaternário têm-se consagrado por fornecer valiosos prognósticos
sobre mudanças ambientais. Na escala do tempo geológico o Quaternário representa um
período curto e recente (~1.8 Ma A.P.), e as evidências que atestam as transformações
ambientais desta idade são numerosas e encontram-se melhor preservadas do que os
registros de períodos anteriores (e.g., Volker et al., 2007). No Brasil, os depósitos
quaternários estão restritos a sistemas deposicionais fluviais e costeiros, pois as últimas
glaciações foram inexpressivas em território brasileiro (Souza et. al., 2005).
A geomorfologia, particularmente, é uma ciência que muito se interessa pelas
formas quaternárias e processos que atuaram em sua modelagem. Conforme demonstra
Horton (1945) o principal método desta ciência consiste no estudo sistemático das
formas para a identificação de processos genéticos. Portanto, o estudo do Quaternário
brasileiro está estritamente relacionado com a observação de grandes sistemas fluviais
em bacias sedimentares (e.g, Latrubesse & Franzinelli, 2002).
Neste contexto, a Bacia Sedimentar do Pantanal (Fig. 1.1) representa um
importante sítio a ser pesquisado e que pode contribuir com novas informações a
respeito das mudanças ambientais regionais. Os sistemas de leques que compõe sua
morfologia são claros exemplos de formas que revelam quais processos atuaram em sua
origem. Uma rápida visualização em pequena escala exibe a geometria lobada e as
grandes dimensões das unidades sedimentares que preenchem a bacia; e através do
raciocínio geomorfológico pode-se concluir que processos aluviais depositaram – e
continuam a depositar – um grande volume de sedimentos em uma área deprimida.
Determinar a sucessão temporal dos eventos deposicionais é uma etapa
fundamental para a compreensão da dinâmica desta paisagem. Neste caso através da
disposição das formas superficiais, analisadas em maior escala, pode-se extrair relações
morfológicas que auxiliam na ordenação temporal dos principais eventos

2
morfogenéticos. Desta maneira, ao contar a história sobre a gênese do relevo atual, a
suposição de tendências futuras para este sistema aluvial torna-se mais precisa.

Fig. 1.1. Modelo digital do Pantanal. Em destaque as Planícies do Chaco e Pantanal (Alto Paraguai) e os
planaltos em seu entorno.

1.1. Área do estudo

Dentre os 9 sistemas de leques aluviais (Fig. 1.2) que compõe o trato


deposicional do Pantanal, o megaleque do Taquari (Braun, 1977) constitui a feição
sedimentar mais notável da planície pantaneira.
Possui uma área aproximada de 50.000km2, distribuída em uma exótica
geometria circular com diâmetro de 250km. Suas altitudes apresentam baixas
amplitudes e variam de 190m no seu ápice a leste a 85m na sua base a oeste,
caracterizando um gradiente topográfico extremamente baixo: 36 cm.km-1 (Assine &
Soares, 1997). O perfil longitudinal e transversal do megaleque é, respectivamente,
côncavo e convexo, característica comum em sistemas de leques aluviais (Bull, 1977).
Dois segmentos distintos apresentam sedimentação ativa no megaleque: 1) o
cinturão de meandros na porção superior, onde o rio Taquari se encontra entrincheirado;
2) o cone atual de sedimentação, onde o Taquari está construindo seu lobo distributário

3
atual (Assine, 2005). Segundo Padovani et al. (1998) esta dinâmica sedimentar é
diretamente influenciada pelo suprimento sedimentar disponível na cabeceira de
drenagem do rio. O mesmo pesquisador também constatou um aumento considerável do
volume depositado a partir dos anos 70.

Fig. 1.2. Leques aluviais que compõe o trato deposicional do Pantanal: 1) Paraguai – Corixo
Grande; 2) Cuiabá; 3) São Lourenço; 4) Taquari; 5) Aquidauana e 6) Nabileque.

4
No megaleque do Taquari, assim como nos demais leques do Pantanal, expressões
morfológicas como paleocanais e complexos de avulsão abandonados atestam o caráter
mutante deste sistema. Segundo Assine & Soares (1997) processos alogênicos são
responsáveis pela criação de espaços de acomodação, e o seu preenchimento rege a
dinâmica sedimentar da bacia.
Considera-se que os agentes responsáveis pela atual dinâmica sedimentar do
Pantanal estão ativos desde o Pleistoceno tardio (Ab`Saber, 1988) e a extensa rede de
paleocanais no megaleque representa cenários relictos deste sistema. Reconstruções
paleoidrológicas mostram que a paisagem do Pantanal modifica-se com grande
velocidade e que mudanças continuarão ocorrer, em especial no curso do rio Taquari. A
compreensão destes eventos através do mapeamento de paleoformas e estabelecimento
de uma cronologia dos processos deposicionais torna-se assim, conhecimento
fundamental para antever futuras mudanças no megaleque do Taquari.

1.2. Mudanças ambientais no megaleque do Taquari e motivação para o tema

A percepção da influência de sucessivos processos de construção e abandono de


lobos deposicionais sob a morfologia do Taquari é recente (Assine & Soares, 1997) e
trabalhos publicados referentes à cronologia destes eventos estão restritos a Assine
(2003) e Assine (2005).
Através de métodos de datação radiométrica (termoluminescência e carbono 14)
e análises de imagens multiespectrais, Assine (2003) publicou uma subdivisão
morfológica do megaleque, onde os compartimentos refletem a ordem cronológica dos
distintos eventos deposicionais identificados (Fig. 1.3). Assine (2005) correlacionou
estas unidades geomórficas com os freqüentes eventos de avulsão fluvial no rio Taquari.
Ambas as propostas não possuem a pretensão de descrever detalhadamente a
história quaternária do megaleque, mas sim propor um modelo que represente a
magnitude das mudanças ambientais recentes que ocorreram no Taquari. O critério
morfológico utilizado na hierarquização dos processos deposicionais possui uma base
conceitual simples: paleocanais relictos, que representam antigos lobos deposicionais,
são truncados por conjuntos de canais mais recentes. Desta maneira pode-se ordenar a
sucessão temporal destes eventos.

5
Fig. 1 3. Cronologia dos lobos deposicionais proposta por Assine (2003).

No entanto a aplicação deste conceito é dificultada em escalas maiores,


restringindo-se apenas à observação de unidades deposicionais de grandes dimensões.
Dados mais acurados podem fornecer informações de maior detalhe a respeito das
relações morfológicas superficiais, proporcionando assim um mapeamento mais
detalhado dos lobos. Por outro lado também se faz necessária a verificação da
aplicabilidade de novos métodos para este tipo de análise geomorfológica. Foram estas
novas possibilidades que motivaram a produção desta dissertação.

6
1.3. Objetivos

O escopo deste trabalho consiste na compreensão da evolução do megaleque do


Taquari através da análise da construção e abandono de lobos deposicionais. Novos
meios de análise foram propostos e testados, no sentido de oferecer contribuições sobre
o conhecimento das mudanças ambientais regionais. Para isto fez-se necessário:
- Mapear os paleocanais do megaleque e outras feições morfológicas;
- Identificar lobos deposicionais abandonados;
- Construir modelos digitais de elevação (MDE) para reconhecer a expressão altimétrica
das unidades deposicionais;
- Estabelecer a sucessão cronológica dos lobos.

7
2. CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA

Os processos que atuam na morfogênese do megaleque do Taquari não são


exclusivos deste ambiente. A literatura especializada demonstra que a dinâmica
sedimentar de sistemas deposicionais, em linhas gerais, apresentam muitas
semelhanças. Portanto as experiências relatadas pelos pesquisadores do tema são
fundamentais para a caracterização do megaleque e podem fornecer a fundamentação
teórica para algumas conclusões.
Neste capítulo buscou-se uma revisão dos conceitos teóricos mais relevantes
para o tema. Esta parte da pesquisa foi iniciada com a análise do termo leque aluvial e a
exposição da evolução de seu significado ao longo dos anos; a seguir foram
apresentadas as características excepcionais responsáveis pela gênese de um megaleque
e, finalmente, os detalhes dos processos sedimentares que constroem os leques e
megaleques deposicionais.

2.1. Leques aluviais

O termo “leque aluvial” surge na literatura geológica no final do séc. XIX (Blair
& McPherson, 1994a). Diante de observações realizadas na porção superior da Bacia do
rio Indo Drew (1873) identificou depósitos coalescentes de sedimentos clásticos com
pequena extensão (<1km2), alto gradiente topográfico e a predominância de granulação
grossa (Fig. 2.1). Mas a principal semelhança entre estes era sua forma deposicional.
Quando vistos em planta, todos possuíam uma geometria semicônica, semelhante a um
leque.
A sistematização do conceito ocorreu através de trabalhos efetuados no Vale da
Morte na Califórnia (Bull 1963, Denny 1967, Bull 1977). Adjacentes às escarpas da
planície, depósitos em forma de leque constituem as feições geomórficas mais recentes
desta paisagem. Estes estudos procuraram descrever detalhadamente suas fácies
sedimentares, relações entre a área de captação de drenagem com a superfície do leque e
litologia, assim como os processos envolvidos em sua dinâmica sedimentar.
Na busca de uma classificação que abrigasse os diferentes tipos de leques
observados, Galloway & Hobday (1983) propuseram a distinção entre leques de clima

8
árido/semi-árido e leques de clima úmido (Fig. 2.2). Esta proposta alega que em regiões
de baixa pluviosidade a progradação sedimentar é restrita, resultando em leques de
pequena extensão superficial.

Fig. 2.1. Depósitos de leques aluviais nas margens do rio Indo. A figura destaca o alto declive dos
depósitos e a predominância de sedimentos grossos. Índia, província de Ladakh.

Fig. 2.2. Classificação de leques aluviais de acordo com o clima. Fonte: Adaptado de Galloway &
Hobday (1983).

9
Leques de clima úmido teriam sua progradação favorecida devido às maiores
taxas de pluviosidade. Embora se reconheça a influência climática sobre a gênese de
leques, esta proposta é utilizada com restrições. O principal argumento para a cautela é
o fato de que leques de grandes dimensões também se desenvolvem em ambientes de
climas árido/semi-árido. Como exemplo tem-se o leque fluvial do Okavango na África e
grandes leques formados nos desertos de Taklimakan e Gobi, China.
A proposta de classificação mais comentada na literatura de leques fluviais foi
elaborada por Stanistreet & McCarthy (1993). Através do estudo da dinâmica
sedimentar do rio Okavango e caracterização de sua geomorfologia, propuseram um
novo modelo que ficou conhecido como leque “losimean” (low sinuosity/meandering).
Este artigo também procurou unificar os demais modelos existentes, em leques
dominados por fluxo de detritos e leques de rio entrelaçados (Fig. 2.3).
Utilizando uma abordagem voltada para a investigação estratigráfica Blair e
McPherson (1994b) discordaram da proposta de Stanistreet & McCarthy (1993).
Recomendaram que a associação de depósitos fluviais com a terminologia de leque
fosse restrita a rampas com declives entre 1.5º a 25º, alegando que depósitos de menor
angulação possuem fácies semelhante aos sistemas fluviais tributários e seriam
irreconhecíveis no registro geológico. Através deste raciocínio os autores retornam o
conceito de leque aluvial a seu significado clássico: sistemas de alta declividade
construídos por fluxos catastróficos de sedimentos clásticos grossos, com extensão areal
que raramente excede 1km2.
Poucos são os trabalhos que compartilharam com as propostas deste modelo.
McCarthy & Candle (1995) julgaram que os dados utilizados por Blair e McPherson
(1994b) eram incompletos e não suportavam tal generalização. Deve-se considerar
também que a geometria da drenagem distributária sempre apresentará um padrão
radial, o que torna possível o reconhecimento de leques no registro geológico através da
análise de paleocorrentes (e.g., Miall 1996). A organização de fácies igualmente fornece
a distinção entre sistemas tributários e distributários (e.g., Nichols, 2007).
Assine (2003) considerou os modelos propostos por Stanistreet & McCarthy
(1993), reagrupando-os em dois grandes grupos: leques dominados por fluxos
gravitacionais e leques dominados por rios. No primeiro estão contidos os sistemas com
declives superiores a 1.5º (Fig. 2.3a), produtos da ação de processos gravitacionais, e
com menor intensidade, fluviais. O segundo grupo caracteriza-se por abrigar sistemas

10
de baixo gradiente topográfico, subdividido em leques de rios entrelaçados e leques de
rios meandrantes / baixa sinuosidade (Fig. 2.3b e 2.3c).

Fig. 2.3. Classificação de leques aluviais segundo Stanistreet & McCarthy (1993).

11
O debate sobre a aplicação e abrangência do termo leque aluvial continua aberto.
A questão ganhou novas dimensões através da disseminação de técnicas de
sensoriamento remoto e o maior intercâmbio de informações. Dados morfométricos
obtidos através de imagens orbitais e modelos numéricos de terreno destacam-se nas
abordagens recentes (e.g. Milana 2000, Saito & Oguchi 2005, Volker et al. 2007).

2.2. Megaleques fluviais

Muitos dos leques dominados por rios constituem megaleques fluvais.


Distinguem-se por serem dominados quase que exclusivamente por processos fluviais,
possuírem volume muito maior de sedimentos em seu cone e extensões superficiais que
superam 1000km2 (Horton & DeCelles, 2001). Sua dinâmica deposicional é controlada
por um sistema fluvial de grande mobilidade lateral e depósitos de fluxo de gravidade
são restritos ao sopé das escarpas (DeCelles & Cavazza, 1999). A inclinação superficial
destes depósitos é baixa, oscilando entre 0.1º a 0.01º (Leier et al., 2005).
Geddes (1960) ao estudar grandes rios que nasciam na cadeia de montanhas do
Himalaia e se espraiavam nas planícies Hindus, como o rio Kosi, constatou a forma de
“mega-cones” destes depósitos fluviais (Fig. 2.4). A identificação de uma feição
semelhante à geometria de um leque aluvial, mas com dimensões inéditas, chamou
atenção de muitos pesquisadores e tornou-se foco de muitos estudos nas décadas
posteriores (Singh, 1993). Sinteticamente estas pesquisas se restringiam a dinâmica
fluvial do rio Kosi, descrição de fácies e construção de modelos teóricos para a
evolução deste sistema (Gohaim & Parkash, 1990). Neste contexto surgiram várias
sugestões de terminologias como “delta intra-continental” (Gole and Chitale, 1966),
“leque aluvial úmido” (Schumm, 1977), “leque de rio entrelaçado” (Blatt et al., 1980) e
“megaleque” (Gohaim & Parkash, 1990).
Extrapolando os limites das planícies Hindus, novos megaleques passaram a ser
identificados em outras localidades do planeta Terra. Braun (1977) reconhece nos
depósitos do rio Taquari o primeiro exemplar de megaleque brasileiro. McCarthy et al.
(1991) ao estudar o rio Okavango descarta a hipótese vigente de um delta intra-
continental e, mesmo não adotando a terminologia, descreve uma morfologia que
compartilha com o conceito de megaleque. Räsänen et al. (1992) identificam na região

12
norte da cordilheira andina três grandes sistemas fluviais que dão origem a megaleques:
Pilcomayo, Parapeti e Grande. No deserto de Taklimakan, China, (Li & Yang, 1998)
também foram reconhecidos sistemas modernos de megaleques (Fig. 2.5).

Fig. 2.4. Megaleque do rio Kosi e as mudanças de seu curso nos últimos 300 anos. Fonte:
Adaptado de Schumm (1977).

A análise comparativa entre estes grandes sistemas distributários permitiu a


compreensão das características ambientais necessárias para o surgimento de
megaleques. Novamente as geotecnologias se destacam em abordagens quantitativas e
fornecem ferramentas para a manipulação de grandes quantidades de dados.
Em um estudo de síntese Leier et al. (2005) examinaram um total de 202 rios em
todo o mundo. Foram compiladas informações de vazão, precipitação, modelos
numéricos de elevação e dados de publicações anteriores. A organização das
informações em um banco de dados georreferenciado permitiu que os autores
identificassem a sazonalidade climática como um dos pré-requisitos para a formação de
megaleques (Fig. 2.6). Outras conclusões foram à constatação da maior freqüência de
processos de avulsão em megaleques e a necessidade de espaço de acomodação para a
deposição sedimentar.

13
Fig. 2.5. Megaleques fluviais do (a) Pylcomayo, (b) Taquari, (c) Okavango e (d) Taklimakan. Mosaicos
NASA GeoCover 1990 – Landsat TM, composição R7G4B2.

Fig. 2.6. Rios analisados por Leier et al. (2005). Nesta figura se observa que a
sazonalidade climática extratropical favorece a formação de megaleques. Fonte: Leier et
al. (2005).

14
2.3. Sedimentação em leques aluviais

Para ocorrer o acumulo de sedimentos são necessárias algumas condições


ambientais. Primeiramente deve haver espaço de acomodação disponível. Este conceito
define o volume potencial que pode ser preenchido por sedimentos (Posamentier &
Vail, 1988) e é criado através de movimentos tectônicos ou mudanças nas condições
hidráulicas do sistema (Miall, 1996). É indispensável também suprimento sedimentar e
agentes com capacidade para seu transporte. Portanto a sedimentação em forma de
leque procede quando há a expansão de um fluxo previamente confinado para um local
de menor gradiente, com espaço de acomodação disponível (Leeder, 1999).
A manutenção do espaço de acomodação ocorre em função de outro elemento
conceitual: o nível de base. Este pode ser entendido como um plano teórico abaixo do
qual o sistema possui menor energia e tende a ocorrer com maior intensidade processos
de sedimentação (Schumm, 1993). Processos alogênicos (e.g., mudanças climáticas,
movimentos tectônicos, ciclos astronômicos) e autogênicos (e.g., construção de diques
marginais, preenchimento sedimentar do canal) quando influenciam no aumento na cota
altimétrica do nível de base, pode ocorrer um acréscimo de volume no espaço de
acomodação (e.g., Harvey 1987, Schumm 1977, Miall 1996).
Com base nestes conceitos Denny (1967) propõe que a evolução sedimentar em
ambientes de leques ocorre através do abandono e entrincheiramento dos leques
primários por leques secundários (Fig. 2.7). Neste ambiente os processos de
progradação e agradação sedimentar ocorrem em posições topograficamente inferiores
às áreas adjacentes. A superfície destes corpos sedimentares é composta por feições
abandonadas (mais velhas) onde predominam processos erosivos, e feições com
sedimentação ativa (mais recentes) onde está ocorrendo agradação / progradação
sedimentar.
Em um estudo de caso Harvey (2002) identificou quais as repostas morfológicas
para três diferentes situações. No ambiente com nível de base estável ocorreu a
progradação sedimentar na porção distal do leque e o preenchimento do canal principal
(Fig. 2.8a). Na hipótese do nível de base se manter estável por um longo tempo,
processos de avulsão ocorrerão com maior freqüência podendo provocar a migração
lateral lobo deposicional. Na situação em que houve queda no nível de base a resposta
morfológica foi a incisão na porção distal do leque (Fig. 2.8b) e o estabelecimento de

15
um padrão meandrante na zona proximal. Este mudança de padrão fluvial ocorre em
resposta à alteração do perfil longitudinal do canal. Já o aumento do nível de base
acentuou a declividade do perfil longitudinal do canal resultando em incisões à
montante do leque (Fig. 2.8c).

Fig. 2.7. Modelo de sedimentação de leques aluviais segundo Denny (1967) e Schumm (1977). (a)
Incisão e entrincheiramento da zona proximal e início da deposição na zona distal; (b) preenchimento
sedimentar do canal à montante e progradação sedimenta para jusante; (c) preenchimento do canal e
aumento da rede distributária; (d) abandono do lobo primário com incisão à montante do novo canal e
deposição na zona distal; (e) (f) progradação sedimentar, aumento da rede distributária e formação de um
novo lobo deposicional.

16
Fig. 2.8. Relações entre morfologia de leques aluviais com o estado do nível de base.
Fonte: Adaptado de Harvey (2000).

A alternância entre as fases de sedimentação e incisão está relacionada com


mudanças climáticas e movimentos tectônicos (Harvey, 1990). O clima possui maior
influência na taxa de sedimento transportado e na geometria do leque (Bull, 1991;
Harvey, 2000) e as oscilações tectônicas determinam o volume de sedimento disponível
no sistema exercendo maior controle na geração do espaço de acomodação (Denny
1967, Horton & DeCelles 2001, DeCelles et al. 1991). Quando movimentos tectônicos
provocam alta taxa de subsidência da área de deposição, processos agradacionais
tendem a formar depósitos de grande espessura sedimentar (Viséras et al., 2003).
Leques nestas condições são dominados por fluxos de gravidade o que resulta em alto
gradiente topográfico (Fig. 2.9a). Em áreas deposicionais com baixas taxas de

17
subsidência os processos sedimentares progradacionais são dominantes e produzem
leques de grande extensão espacial, mas com reduzido pacote sedimentar (Fig. 2.9b).

Fig. 2.9. Morfologia de leques aluviais em ambientes deposicionais com (a) alta taxa e (b)
baixa taxa de subsidência. Fonte: Viséras et al (2003).

Um modelo proposto por Horton & DeCelles (2001) para a gênese de


megaleques na Planície do Chaco demonstra como é possível sua construção.
Inicialmente sistemas fluviais com alto coeficiente de stream power entalharam a
cordilheira andina e estabeleceram bacias hidrográficas isoladas no altiplano. Com o
processo orogenético de arqueamento da região estes sistemas tiveram suas direções de
fluxo orientadas para o interior do continente. Nesta primeira etapa houve o
estabelecimento de redes de drenagens, criação do espaço de acomodação e o inicio dos
processos deposicionais (Fig. 2.10a). No estágio intermediário processos de captura de
drenagem iniciam a integração entre as redes hidrográficas do altiplano; paralelamente
processos orogenéticos promoviam o aumento das bacias hidrográficas. Com isto a
carga sedimentar aumenta e predominam processos progradacionais (Fig. 2.10b). O

18
estabelecimento dos megaleques ocorre com a afirmação de uma grande rede
hidrográfica à montante (Fig. 2.10c). Os autores também destacam que a sazonalidade
climática da região foi fundamental para o transporte dos sedimentos e a manutenção
dos processos deposicionais.
Nos megaleques fluviais a dinâmica sedimentar também está relacionada com
mecanismos de criação de espaço de acomodação e disponibilidade de suprimento
sedimentar. No entanto condições ambientais especiais são necessárias para que estes
depósitos atinjam as grandes dimensões espaciais que os caracterizam. Desta maneira
possuem maior dependência de fatores alogênicos (movimentos tectônicos e mudanças
climáticas regionais) para o fornecimento de grande volume sedimentar e criação de
espaço potencial para sua deposição.

Fig. 2.10. Modelo esquemático para a evolução de megaleques e sua rede de drenagem à
montante. Fonte: Horton & DeCelles (2001).

19
3. MATERIAL E MÉTODOS

Conforme exposto no capítulo de contextualização do tema, a maioria dos


estudos que abordam a dinâmica de leques se concentra em sistemas deposicionais
dominados por fluxo de gravidade. Devido a grande diferença nas dimensões destes
sistemas com os megaleques, métodos clássicos possivelmente mostrar-se-ão
incompatíveis quando aplicados no Taquari. Dentro dos poucos artigos que abordam
outros megaleques, também não foi apresentado nenhum meio para a discriminação
detalhada de lobos deposicionais.
Desta maneira a compartimentação dos lobos se deu através dos métodos
propostos por Assine (2003) – todavia utilizando-se de dados orbitais mais atualizados e
de maior resolução – e por experimentos realizados com técnicas de análise espacial, na
tentativa de identificar novos meios para este tipo de divisão. Dados de campo foram
utilizados para assegurar a credibilidade dos resultados.
No início desta seção é apresentada a natureza dos dados utilizados e os
procedimentos específicos utilizados para sua manipulação. Também são realizados
comentários a respeito das atividades de campo e, finalmente, sobre as formas de
análise das informações para a identificação e cronologia dos lobos deposicionais.

3.1. Aquisição e tratamento dos dados orbitais

Dados de sensoriamento remoto compõem a principal fonte de informação para


o cumprimento dos objetivos deste projeto. Os benefícios de sua aplicação em
Geociências, especialmente em grandes áreas e de acesso restrito como o Pantanal, são
bem conhecidos: visão sinótica da superfície terrestre; informações subdivididas em
bandas espectrais e que vão além da percepção visual humana; séries temporais e
facilidade na sua reprodução e integração com dados de outra natureza (Chuvieco,
1990; Novo, 1992; Campbell, 2002).
Foram adquiridos dois tipos de dados orbitais: 1) dados de sensores passivos
multiespectrais e 2)dados de um sensor interferométrico ativo (SRTM). As principais
características dos sensores e o número de cenas utilizadas neste trabalho estão
sintetizados na tabela 3.1.

20
Tabela 3.1. Características dos sensores orbitais utilizados.

Satélite e Resolução Número de Resolução N° de cenas


sensor espectral bandas espacial utilizadas
Terra/MODIS 0.40-14.4μm 36 250, 500 e 1000m 1
Terra/ASTER 0.45-12μm 14 15, 30 e 90m 30
Landsat7/ETM+ 0.45-12.5 μm 8 15, 30 e 60m 9
Landsat5/TM 0.45-12.5 μm 7 30 e 120m 10
Landsat2/MSS 0.50-10.1μm 4 80m 6
Cbers2/CCD 0.45-0.73 μm 5 20m 11
SRTM 3-5. 6 cm 2 90m 10

A diversidade dos sensores utilizados se justifica pela necessidade de produtos


em diversas resoluções espaciais, também como por uma coleção de dados que
represente uma extensa série temporal. Conforme apresentado anteriormente, os dados
SRTM diferem fisicamente do restante e exigiram técnicas específicas de
processamento. Já os dados multiespectrais, devido ao alto nível de processamento
nativo e de sua finalidade neste trabalho, demandaram apenas de procedimentos
básicos.

3.1.1. Tratamento dos dados SRTM

O componente SAR banda C da missão SRTM apresenta grande sensibilidade a


objetos presentes na superfície, como elementos antrópicos e docéis arbóreos
(Valeriano, 2004). A percepção destes componentes pelo sensor pode resultar em
formas artificiais de relevo, e para a ideal utilização dos dados, se fez necessário a
aplicação de técnicas corretivas.
O processamento inicial aplicado nos dados SRTM consistiu na reamostragem
geoestatística dos dados de 90m para 30m, de acordo com a proposta de Valeriano
(2004). Segundo Valeriano & Abdon (2007) este método melhora consideravelmente a
resolução dos dados altimétricos e reduz objetos superficiais indesejados. Em linhas
gerais, o processo se inicia com a correção de valores anômalos de altitude e a
conversão dos dados para um formato tabular. Posteriormente são retiradas pequenas

21
amostras para análise variográfica de seus resíduos. Esta modelagem fornece os pesos
ótimos para a krigagem ordinária e reamostragem espacial dos dados (Fig. 3.1).

Fig. 3.1. Etapas para a correção dos dados SRTM

Com os dados SRTM corrigidos e com pixel reamostrado para 30m, foram
realizados mais dois processamentos: cálculo de superfície de tendências e
quantificação dos resíduos topográficos. As informações altimétricas obtidas a partir de
ambos os métodos demonstrará a disposição geral das formas do megaleque e fornecerá
a altitude relativa das formas deposicionais, facilitando assim a distinção de eventos
deposicionais de mesma hierarquia.
A superfície de tendência foi obtida através da aplicação de uma equação
polinomial genérica (Draper & Smith, 1981) na variável altimétrica (Z) dos dados
SRTM corrigidos:

k i bxi-j yj
Z =i-0
Σ Σ
j-0 (eq. 1)

onde: k é o grau escolhido para o polinômio; i e j são variáveis de interação associadas à


k, nas quais i=0..k e j=0..i. Quanto menor for o grau do polinômio (k) mais simples será
a superfície resultante. Graus mais elevados apresentam um melhor encaixe dos dados
em relação à grade original e, consequentemente, geram superfícies espacialmente
complexas (Fig. 3.2).

22
Fig. 3.2. Exemplos de superfícies de tendências para uma grade de dados altimétricos.

O método da construção de superfícies de tendência com os dados SRTM torna


possível a delineação das principais cotas altimétricas do megaleque, facilitando a
caracterização em baixa escala de suas formas.
A quantificação dos resíduos topográficos (Zres) foi realizada a partir da
diferença vertical entre uma superfície de tendência computada (Ztrd), com os dados
SRTM corrigidos (Zgrd ):

Zres = Ztrd - Zgrd (eq. 2)

23
Desta maneira os resíduos expressam as altitudes relativas, ou seja, variações
altimétricas negativas e/ou positivas em relação à disposição geral da superfície,
calculada pela Equação 1.
Dentro das Geociências, aplicações destes procedimentos são mais facilmente
encontrados em dados geológicos (e.g., Landim, 1973; Sturaro, 1994). A subtração de
cotas de isópacas com superfícies de tendências resulta em resíduos negativos e
positivos e facilita a identificação de áreas tectonicamente positivas e negativas
(Landim, 1998). Em Geomorfologia a posição altimétrica relativa das formas pode
fornecer pistas sobre sua gênese e auxiliar na compreensão de sua evolução (e.g, Soares
& Landim, 1976).
No megaleque, onde predominam processos deposicionais, os resíduos
topográficos podem indicar regiões com maior acúmulo de sedimentos (valores
positivos) e locais deprimidos que foram denudados ou possuem menor aporte
sedimentar que seu entorno (valores negativos).

3.1.2. Tratamento dos dados multiespectrais

Ao contrário dos dados altimétricos, nas análises dirigidas para as imagens


multiespectrais predominou o aspecto qualitativo. Portanto foram desnecessários
processamentos mais elaborados, como calibração radiométrica e correção atmosférica.
Nestes dados foram aplicados métodos básicos de processamento digital de imagens
como correção geométrica das cenas, realce digital, construção de mosaicos e
agrupamento de layers.
Devido à grande variabilidade dos valores de pixel, demonstrados por
histogramas dos dados multiespectrais, optou-se também pela utilização do método
optimum index factor (OIF) para a escolha da composição colorida ideal. O OIF é
baseado na correlação entre os níveis de cinza das bandas espectrais (Chavez et al.,
1982):

OIF = Σ|σ(i)| / Σ|r(i)| (eq. 3)

24
onde: Σ|σ(i)| é a somatória dos desvios padrões das bandas avaliadas; Σ|r(i)| é somatória
dos coeficientes de correlação das bandas avaliadas. Quanto maior o coeficiente de OIF,
maior a variação dos tons de cinza e mais adequada será a composição colorida. Este
método foi aplicado individualmente para cada sensor.
Após os processamentos mencionados, os tripletes RGB foram exportados em
formato GeoTIFF, com nomenclatura indicando sensor, composição e data. Foi
utilizado o datum WGS84 zona21s como sistema de projeção cartográfica.

3.2. Coleta e análise dos dados de campo

A expedição de campo teve a duração de 6 dias e foi efetuada nas porções


proximal e distal do megaleque (Fig. 3.3). Devido às dificuldades do trânsito
automotivo na região, os pontos visitados ficaram restritos aos cursos dos rios Taquari e
Paraguai, às poucas estradas transitáveis da Nhecolândia e ao município de Coxim.

Fig. 3.3. Localização dos pontos visitados em campo sobrepostos ao mosaico CBERS2 3R4G2B.

25
Tentativas de incursão na porção norte do megaleque foram frustradas pelas
péssimas condições das estradas e, principalmente, pelo modelo de veículo inadequado
(Fig. 3.4).

Fig. 3.4 Péssimas condições das estradas (A e B) inviabilizaram o deslocamento para áreas mais remotas
do megaleque(C).

Coordenadas dos pontos de interesse, previamente definidos através dos dados


orbitais, foram inseridas em um aparelho GPS e forneceram a precisão necessária para a
coleta das amostras (Fig. 3.5.).

Fig. 3.5. Dados de campo foram coletados com o auxilio de um aparelho GPS e computador portátil.

26
Estes dados foram coletados para a realização de análises granulométricas, na
tentativa de assegurar maior confiabilidade nas interpretações dos dados orbitais.
Também foram realizados ensaios granulométricos de amostras coletadas em projetos
anteriores. Estes procedimentos estão em curso e seus resultados estarão incorporados
na versão final desta dissertação.

3.3. Integração e análise dos dados em um sistema de informações geográficas


(SIG)

É intrínseco ao conceito de SIG a possibilidade de integrar múltiplas


informações, com formatos variados, em um ambiente digital limitado por coordenadas
geográficas. A aplicação desta ferramenta no presente trabalho visou dois objetivos bem
definidos: 1) a integração dos dados orbitais e de campo em ambiente digital; 2)
utilização de ferramentas CAD (computer aided design) para a confecção dos
cartogramas e interpretação espacial dos resultados.
O padrão organizacional do presente banco de dados orientou-se pela proposta
de Zeiler (1999). Este autor propõe que os dados inseridos em um SIG devem se
agrupar em três modelos distintos: dados vetoriais, dados do tipo raster e grades não
regulares de dados (TIN). Portanto todas as feições e planos de informações digitais
adicionadas e criadas no banco de dados obedeceram este padrão.
Foi utilizado na construção do SIG o software ArcGIS 9.2, que além de
proporcionar o gerenciamento das informações espaciais, possui uma ótima suíte de
ferramentas para desenho digital de vetores (CAD) e rotinas pré-definidas para análise
de dados.
Os planos de informações compostos pelas imagens multiespectrais constituíram
a base digital para a composição dos cartogramas referentes à rede de drenagem atual e
dos paleocanais. A extração destas feições se deu através do desenho digital realizado
sob os dados georeferenciados. Foram criados planos de informações específicos para as
seguintes feições identificadas: paleodrenagem tributária, paleodrenagem distributária,
vazantes e drenagem atual.

27
Portanto, esta estrutura digital forneceu a associação necessária entre todos os
materiais utilizados e viabilizou o procedimento para a determinação da cronologia dos
lobos deposicionais.

3.4. Determinação da cronologia dos lobos deposicionais

Conforme mencionado no tópico de introdução, para a ordenação temporal dos


lobos deposicionais deve-se considerar que conjuntos de paleocanais de um lobo mais
antigo são truncados e/ou sobrepostos por conjuntos de canais de um lobo mais recente.
Este fenômeno, que é próprio da evolução de sistemas fluviais deposicionais, está
ilustrado de forma esquemática na figura 3.6.

Fig. 3.6. Esquema ilustrativo de construção e abandono de lobos no megaleque do Taquari.

28
Portanto, todos os dados coletados e processados tiveram como propósito a
explicitação das relações morfológicas superficiais para a identificação dos lobos
deposicionais que compões o megaleque do Taquari.
Foram realizadas duas propostas de compartimentação dos lobos deposicionais
no megaleque. A primeira, de caráter preliminar, consistiu na definição dos lobos a
partir da análise visual dos cartogramas de drenagem e paleodrenagem, conforme
propôs Assine (2003). A presente análise se difere deste autor por fazer uso de dados
orbitais mais acurados e atualizados, além de contar com o incremento de um banco de
dados digital na organização espacial dos dados. A segunda proposta consistiu na
compartimentação dos lobos através de experimentos com técnicas de estatística
espacial e processamento digital de imagens, conduzidos no sentido de oferecer novos
meios para a distinção das unidades sedimentares.

29
4. RESULTADOS PARCIAIS

São considerados resultados parciais os produtos obtidos a partir dos tratamentos


realizados nos dados orbitais, a organização de um banco de dados georeferenciado
(SIG), elaboração de cartogramas e as divisões cronológicas dos lobos deposicionais
apresentadas.

4.1. Análise espacial dos dados altimétricos (SRTM)

Os procedimentos dirigidos aos dados SRTM resultaram em três produtos


interdependentes: 1) modelo digital de elevação corrigido com resolução espacial
optimizada para 30m; 2) superfícies de tendência topográfica e 3) modelo digital dos
resíduos altimétricos do megaleque.
O modelo digital de elevação, obtido através da análise geoestatística realizada
individualmente nos 10 quadros de dados, apontou o arquétipo teórico gaussiano como
representação ideal da semivariância dados topográficos da planície. Na figura 4.1
estão representados todos os semivariogramas experimentais obtidos e os pesos ótimos
utilizados para a krigagem ordinária dos quadros SRTM utilizados.
O tempo médio para a interpolação de cada quadro foi de 2 horas e 30 minutos,
demandando um total de 25 horas para o processamento dos 10 quadros. A dimensão
computacional destes dados, posterior ao procedimento de krigagem ordinária, foi de
~1GB.
Os novos dados de altitudes (SRTM30m), computados através da análise
geoestatística, apresentaram forte correlação estatística com os dados originais
(SRTM90m), conforme demonstram os gráficos de dispersão da figura 4.2.
No âmbito visual (qualitativo) os dados SRTM corrigidos demonstraram manter
a coerência da morfologia superficial e foram capazes de diminuir valores altimétricos
extremos, conferindo um aspecto suavizado ao modelo digital de elevação (Fig. 4.3).
Este procedimento de correção também atenuou a influencia altimétrica de elementos
indesejados como uso do solo e vegetação de grande porte, sendo indispensável para as
análises espaciais seguintes.

30
Fig. 4.1. Semivariogramas experimentais modelados dos quadros SRTM interpolados.

31
Fig. 4.2. Dispersão dos dados SRTM originais (SRTM90) com os dados interpolados (SRTM30).

32
Fig. 4.3. Comparação visual entre os dados SRTM90m (nativo) com MDE SRTM30m (corrigido).

33
O cálculo das superfícies de tendências dos dados SRTM corrigidos resultou em
modelos simplificados da superfície topográfica do megaleque e forneceu a base digital
para a estimação e quantificação dos resíduos topográficos.
A Equação 1 foi empregada nos dados SRTM30m para a construção de
superfícies de tendência do 1º, 2º, 3º e 4º grau (Fig. 4.4.), sendo que testes paramétricos
realizados (Teste-F) demonstraram que uma superfície cúbica possui a complexidade
espacial mínima para representar a tendência topográfica do megaleque (Tabela 4.1).

Tabela 4.1. Resultado do teste F para os valores de tendência, com 95% de intervalo de confiança.
Grau da Ajustamento Valor F Hipótese Erro de
superfície dos dados observado* aceita** hipótese
1º 0.82 0.904 Ha < 0.001%
2º 0.95 0.936 Ha < 0.001%
3º 0.97 0.987 H0 14.69%
4º 0.97 0.991 H0 32.46%

*
Valor crítico de F: 1.018.
**
H0: os valores de tendência computados são idênticos aos dados originais;
Ha: os valores de tendência computados diferem dos dados originais.

Os resíduos foram obtidos através da subtração da tendência do 3º grau com os


dados SRTM30m, conforme a Equação 2 (Fig. 4.5). Este procedimento transformou os
dados originais, que representavam valores de altitude referentes ao nível do mar, em
informações de altura, relativas à superfície de tendência cúbica da figura 4.4.
Conforme demonstra o histograma, a média das alturas no megaleque é de -3 m
com desvio padrão de 3 m. As freqüências das amostras não seguem uma distribuição
normal (ou gaussiana) e aproximadamente 70% das alturas apresentam a probabilidade
de ocorrência entre -5 e 5m.

34
Fig. 4.4. Superfícies de tendência topográfica do Taquari. Os histogramas representam apenas as
freqüências altimétricas contidas dentro do megaleque.

35
Fig. 4.5. Resíduos derivados da superfície de tendência do 3º do megaleque (a), com o
histograma de suas alturas (b).

36
4.2. Imagens multiespectrais processadas

A aplicação do método OIF (eq. 3) para a determinação da composição colorida


RGB com maior variabilidade resultou nos seguintes tripletes: ASTER 3R2B1G;
CBERS2 CCD 3R4G2B e Landsat TM/ETM+ 7R4G2B. Para os demais sensores –
MODIS e Landsat MSS – o método não se mostrou representativo devido ao restrito
número de bandas com a resolução desejada.
A correção geométrica do tipo georeferenciamento apresentou precisão superior
à ±20m para as imagens CBERS2 e ±80m para o sensor MSS. As imagens ASTER
necessitaram se rotacionadas 8ºw para concordarem com o norte geográfico e
apresentaram precisão de ±15m no registro das coordenadas. Os sensores MODIS e
TM/ETM+ foram apenas ajustados ao datum geográfico WGS84.
O mosaico do megaleque foi gerado apenas com as imagens CBERS2, pois além
do ASTER, foram os únicos dados multiespectrais de alta resolução obtidos para toda a
área. O mosaico com as imagens ASTER não foi possível devido a restrições de
hardware, sendo que seriam necessários 6GB de memória computacional para a
realização deste procedimento. No entanto, estas cenas foram exportadas
individualmente e agrupadas no SIG, onde foram analisadas com as mesmas técnicas
aplicadas ao mosaico.

4.3. SIG do megaleque do Taquari e cartogramas produzidos

Segundo o padrão organizacional proposto por Zeiler (1999) os planos de


informações e os dados utilizados nesta pesquisa resultaram no seguinte agrupamento:
raster (dados orbitais) e vetorial (dados de campo e interpretação dos dados orbitais)
(Fig. 4.6). Como não foram manipulados dados distribuídos em grades irregulares, o
modelo TIN não foi utilizado.
O SIG atingiu um tamanho computacional de 6.2GB, sendo que a grande parte
deve-se à alocação dos dados do tipo raster (6GB). Foram mapeados um total de 31.687
km de paleocanais distributários, 2.626 km de drenagem tributária e 2.430 km de
drenagem tributária atual (Fig. 4.7).

37
Fig. 4.6. Arquitetura do banco de dados construído.

Fig. 4.7. Tela do SIG construído para o megaleque do Taquari.

38
Conforme expõem as figuras 4.6 e 4.7, os planos de informações interpretados
foram agrupados em layers separados. Isto permitiu a visualização independente de
cada feição e a distinção dos canais segundo suas características geométricas (Fig. 4.8).

Fig. 4.8. Cartogramas interpretados dentro do ambiente SIG.

4.4. Cronologia dos eventos deposicionais

As duas subdivisões dos lobos propostas foram baseadas em critérios


morfológicos idênticos. No entanto, como mencionado no tópico de materiais e
métodos, a extração dos principais elementos que possibilitaram esta divisão se deu por
diferentes meios. A compartimentação realizada exclusivamente a partir das feições de
drenagem é apresentada como preliminar. Já a segunda divisão proposta, consiste na

39
associação da rede de drenagem mapeada com as técnicas quantitativas apresentadas, no
sentido de identificar maneiras potenciais para o detalhamento mais acurado dos lobos.

4.6.1. Divisão preliminar dos lobos deposicionais

A partir do mapeamento dos paleocanais e do estabelecimento de relações de


truncamento entre eles, seis lobos deposicionais foram identificados na
compartimentação preliminar, sendo um lobo distributário atual (Lobo 1) e cinco lobos
abandonados (lobos 2 a 6), que se encontram delineados na figura 4.8.
No lobo atual (1) foram identificados diversos elementos morfológicos,
destacando-se um canal principal de baixa sinuosidade com diques marginais que
sobressaem até 5m em relação ao seu entorno (Fig. 4.9). Neste compartimento também
se destacam a presença de lóbulos lineares arenosos e antigos complexos de avulsão,
que igualmente se encontram topograficamente mais elevados que a planície (Fig. 4.10).
Os lobos 2 e 3 apresentaram muitas semelhanças morfológicas em relação ao
lobo atual. Assim como no lobo 1, feições lineares altimetricamente superiores ao seu
entorno foram identificadas e associadas à feições relictas semelhantes aos atuais diques
marginais do rio Taquari. Segundo o padrão distributário de paleocanais identificados
nestes lobos o paleofluxo possuía direção para NW.
O lobo deposicional 4 encontra-se quase que totalmente superposto pelo lobo
atual e possui seu ápice na área do cinturão de meandros atual do Taquari. Padrões
lineares observados na rede de drenagem deste lobo indicam que pode existir um
controle estrutural sobre estas morfologias. No compartimento dominado pelo lobo 5
uma complexa paisagem com distintas feições geomorfológicas se encontram lado a
lado, muitas vezes superpostas. Também identificou-se a presença de uma rede de
drenagem tributária, em oposição ao observado nos demais lobos.
Considerou-se o lobo 6 como sendo o compartimento que preserva feições
relictas mais antigas. Sua morfologia é marcada por milhares de lagoas, muitas das
quais de água salobra/salagada (salinas), que são bordejadas por elevações de depósitos
arenosos com até 5m de altura, cobertos com vegetação arbórea de grande porte
(cordilheiras). Superimpostos à paisagem das lagoas existem canais largos e rasos, que
drenam as águas durante as cheias, conhecidos como vazantes.

40
Fig. 4.9. Divisão preliminar dos lobos deposicionais do megaleque do Taquari.

41
Fig. 4.10. Divisão preliminar dos lobos plotada sobre o MDE.

Estes resultados foram apresentados sob a forma de trabalho completo no evento


científico “1º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal” e encontra-se disponível no
site: < http://sputnik.dpi.inpe.br:1910/rep-/sid.inpe.br/mtc-m17@80/2006/12.12.13.12>.

42
4.6.2. Divisão “experimental” dos lobos deposicionais

Os testes das técnicas para a compartimentação mais acurada ficaram restritos ao


lobo deposicional atual, sendo que a compartimentação completa do megaleque nesta
escala de detalhe será parte dos resultados finais desta pesquisa. O contorno utilizado
como limite para os testes provém da divisão preliminar apresentada anteriormente, que
nesta compartimentação também foi considerada como sendo o lobo deposicional atual
(lobo 1).
Com base nas orientações preferenciais da rede distributária mapeada e planos
de informações derivados da análise espacial dos dados altimétricos, distinguiu-se 6
eventos deposicionais que compõe a unidade do lobo 1 (Fig. 4.11). As relações
morfológicas necessárias para o delineamento dos lóbulos foram obtidas principalmente
através da quantificação dos dados altimétricos. Os resíduos topográficos dos lóbulos
identificados apresentaram valores medianos próximos a 0.5m. No entanto, sua
distribuição em um diagrama de caixas (Fig. 4.12) demonstrou que eles não são
uniformes e apresentam magnitudes diferentes.
Identificou-se o lobo 1a como sendo a unidade sedimentar mais recente de todo
o megaleque. A série temporal de imagens inseridas no banco de dados demonstra que
os processos recentes de avulsão fluvial ocorreram com maior intensidade nesta área do
que em qualquer outra (Fig 4.13). Nesta porção o rio Taquari apresenta rompimentos
nos diques marginais e o início de crevasses, que são responsáveis pela manutenção da
rede distributária.
Diferente do arranjo que sugere a compartimentação preliminar, onde lobos
cronologicamente próximos fazem divisa, identificou-se na divisão experimental que o
lobo 1b se encontra em uma localização oposta ao lobo 1a. Neste a densidade de
paleocanais é a mais elevada dentre todos os compartimentos do lobo 1.
O lobo 1c destaca-se por apresentar superfície altimétrica superior aos demais
lobos e sua superfície é visivelmente truncada pelo lobo 1a. A união dos traços dos
lobos 1d e 1e sugerem um compartimento em comum para ambos, no entanto, os
resíduos topográficos demonstram claramente que eles são formados por processos
deposicionais distintos (Fig. 4.11). O lobo 1f é caracterizado por apresentar complexos
de avulsão abandonados. Sua rede de paleocanais está, em grande parte, sobreposta pela
rede atual. Em seu ápice, assim como no lobo 1a, crevasses no canal do rio Taquari

43
estão despejando grandes volumes de sedimentos e sugerem o inicio de um novo lobo
deposicional.

Fig. 4.11. (A) Divisão experimental para o lobo atual; (B) rede de paleocanais e (C) vetores de fluxo

superficial no lobo atual.

44
Fig. 4.12. “Box plot” dos resíduos topográficos dos lobos identificados. Os pontos azuis representam
valores extremos, a cruz vermelha o valor médio, as caixas demarcam 50% da ocorrência dos dados e o
seu traço interno o valor mediano.

Fig. 4.13. Processos de avulsão fluvial no baixo curso do rio Taquari, ápice do lobo 1.

45
Outros procedimentos de análise espacial foram realizados na tentativa de acurar
a discriminação dos lobos deposicionais existentes. No entanto, não se obteve resultados
esclarecedores e estes foram apresentados sob a forma de anexos.

46
5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Embora os produtos obtidos a partir dos processamentos digitais realizados nos


dados orbitais sejam resultados secundários, julgou-se coerente iniciar este tópico
explorando as potencialidades dos métodos utilizados e notificando possíveis equívocos
que este tipo de análise pode gerar. Posterior a esta explanação, a discussão é dirigida
aos aspectos geomorfológicos da área, principalmente sob o enfoque de mudanças
ambientais recentes. Procurou-se também correlacionar as mudanças verificadas com
fotos de campo e imagens de satélite.

5.1. Produtos derivados dos dados orbitais

Diante da natureza dos resultados apresentados, fica evidente a contribuição


inestimável de técnicas de aquisição remota de dados em estudos de abrangência
regional. Pesquisas realizadas em ambientes de sedimentação também têm se apoiado
cada vez mais na suíte de ferramentas oferecidas pelo Sensoriamento Remoto e
Geoprocessamento (e.g., Farr & Chadwick, 1996; Guzzetti et al., 1997; Milana, 2000;
Al-Juaidi et al., 2003; Volker et al., 2007). No entanto, as características excepcionais
da área do estudo demandaram a aplicação de procedimentos específicos.
O baixo gradiente topográfico do Pantanal faz com que dosséis arbóreos tenham
grande impacto na altimetria captada pelos radares orbitais. Desta maneira, a correção
dos dados através do método geoestatístico proposto por Valeriano (2004) é
imprescindível. No entanto, como pode erroneamente sugerir a figura 4.3, este
procedimento não introduz informações altimétricas vitais para a análise do terreno.
Conforme demonstra Landim (1998), a geoestatística não é de forma alguma uma
“metodologia caixa-preta”, ou seja, ela não fornece dados que precisam ser adicionados.
A alta correlação estatística na figura 4.2 demonstra exatamente isto. Ela apenas estima
novos valores altimétricos levando em consideração a variância espacial dos dados, e
desta maneira cria um MDE com aspecto suavizado (devido a maior resolução dos
pixels) e pode atenuar a influencia de elementos indesejados.
A maior potencialidade deste procedimento, portanto, além de dirimir elementos
indesejados, consiste no ganho qualitativo do MDE corrigido. Torna-se muito mais

47
agradável e representativa a visualização das feições posterior ao processamento
geoestatístico.
As superfícies de tendência não consistem em um plano ativo para a
interpretação dos lobos deposicionais. O principal objetivo destes dados é a referência
para a extração dos resíduos. Mas a análise da distribuição dos valores de altitudes
computada pode sugerir algumas interpretações interessantes. Quanto maior o grau do
polinômio utilizado, maior a assimetria do histograma e menor o valor altimétrico da
mediana. A partir do 3º grau os valores mais elevados de altitude aparecem com maior
freqüência na porção norte do megaleque, indicando menor espaço de acomodação para
a deposição de sedimentos nesta região. As tendências também demonstram os
semicírculos concêntricos de hipsometria que definem a forma de leque do Taquari.
Os resíduos topográficos são o resultado da interação entre os dois produtos
comentados anteriormente e é o plano de informação gerado que mais revela sobre as
expressões altimétricas dos lobos deposicionais.
Primeiramente deve-se ter claro que tanto o MDE-SRTM30m como os resíduos
expressam informações altimétricas. No entanto, os dados corrigidos do SRTM
apresentam como cota altimétrica 0m o datum WGS84, ou aproximadamente o nível do
mar; já os resíduos têm como referencial a superfície de tendência cúbica, derivada de
uma equação polinomial. Em grande escala esta transformação pode parecer irrelevante,
pois mantém aspecto semelhante à distribuição das classes hipsométricas normais.
Quando aplicada em escalas regionais, a visualização dos resíduos topográficos pode
demonstrar áreas deprimidas e/ou denudadas, locais de maior aporte sedimentar, e até
mesmo evidências de tectônica recente (Fig. 5.1).
A disposição dos resíduos do megaleque (Fig. 5.1.) demonstra uma grande área
deprimida a sudeste, com médias altimétricas inferiores a -10m em relação à tendência
cúbica calculada. Não coincidentemente, nesta área foi verificada a maior rede de
drenagem tributária do megaleque. Conforme sugere Soares et al. (1998) tais elementos,
mais recentes que a rede distributária relicta, podem indicar movimentações recentes de
massa.
Outras evidências de tectônica também são encontradas nos resíduos. Feições
lineares direcionadas para NE sugerem um controle de falhas geológicas sobre a
morfologia local. Paleocanais e cristas arenosas concordam com tais estruturas. Estas
evidências reforçam a hipótese de uma possível influência do lineamento
Transbrasiliano sobre as formas sedimentares superficiais da região (Assine & Soares,

48
1997) (Fig. 5.2). Já as feições lineares que se encontram na zona nordeste do mapa de
resíduos (Fig. 5.1) não expressam elementos fisiográficos e/ou geológicos. Estas feições
constituem um erro intrínseco da banda C / SRTM, conforme observou Bhang et al.
(2007). Em outras regiões do Pantanal também foi observado tais interferências, com
tamanho e orientação semelhantes. Possivelmente o método geoestatístico aplicado para
a correção dos dados não foi capaz de atenuar este erro devido as grandes dimensões do
mesmo.

Fig. 5.1. Comparação visual entre o MDE SRTM30m com os resíduos, em diferentes escalas.

Os resíduos topográficos também mostram algumas características do canal do


rio Taquari. Fica claro que o rio em sua porção proximal, ao adentrar no Pantanal,

49
encontra-se confinado em uma estreita planície e que está erodindo uma antiga zona
deposicional. Foram coletadas amostras nestes terraços para futuras datações e o arranjo
de fácies observado em campo sugere de antemão que nesta zona o Taquari está
erodindo uma antiga planície fluvial (Fig. 5.3.).
Em uma análise quantitativa geral dos resíduos pode-se observar no histograma
da figura 4.5 que a distribuição dos valores altimétricos encontra-se próxima da curva
de distribuição normal. Portanto aproximadamente 50% de todos os dados estão
concentrados entre -3.6 e 3.6m. Analises quantitativas específicas para cada lobo serão
comentadas a seguir.

Fig. 5.2. (A) Paleocanais com orientação preferencial para NE; (B) resíduos da mesma área com feições
lineares interpretadas; (C) imagem MODIS da mesma área de (A) e (D) imagem ASTER mostrando em
detalhe feições lineares associadas ao Transbrasiliano. A, B e C estão na mesma escala.

50
Fig. 5.3. Os resíduos topográficos no ápice do megaleque demonstram que o rio Taquari está encaixado e
erodindo seus terraços (A). Em (B) estratificação cruzada acanalada com seixos na base, sugere antigo
depósito fluvial. O local da foto está apontado em (A) por um asterisco.

5.2. Divisão dos lobos deposicionais e mudanças ambientais

São perceptíveis as diferenças entre as duas divisões propostas dos lobos


deposicionais. As formas esboçadas na divisão preliminar apontam claramente as linhas
gerais de uma dinâmica sedimentar semelhante ao modelo físico proposto por Schumm

51
(1977), demonstrado na figura 2.7 Já a divisão “experimental” realizada no lobo 1
exibiu seis compartimentos isolados, os quais não parecem demonstrar a mesma
simplicidade da dinâmica sedimentar visualizada na divisão preliminar. No entanto, se
estes 6 compartimentos forem adicionados em 2 grupos – Grupo1: lobos 1a, 1b e 1c;
Grupo2: lobos 1d, 1e e 1f – obter-se-á uma configuração geométrica semelhante ao
modelo preliminar. Tal fenômeno pode ser explicado pela auto-similaridade das formas
nas diversas escalas de observação, ou seja, as formas irregulares dos lobos
identificados em ambas compartimentações apresentam mesmo grau de irregularidade
(independem da escala de observação). Portanto o paradigma de superfícies
geomórficas fractais (La Barbera & Rosso, 1989; Korvin. G., 1992) parece se aplicar no
megaleque, uma vez que desde a escala micro até a escala macro de observação,
geometrias lobadas são identificadas (Fig. 5.4).

Fig. 5.4. Auto-similaridade das geometrias lobadas em multiescalas.

52
As diferenças altimétricas dos resíduos topográficos identificados na
compartimentação “experimental” suportam importantes considerações a respeito das
magnitudes dos processos deposicionais que construíram estas formas. Como foi
demonstrado nos resultados, cada lobo desta compartimentação apresenta uma
expressão altimétrica particular. Em um ambiente de sedimentação recente, como é o
lobo 1, resíduos altimétricos mais elevados que seu entorno sugerem grande volume de
sedimentos depositados, como é o caso do lobo 1c. Já valores que estão abaixo da
tendência local, como o lobo 1e, apontam a disponibilidade de espaço de acomodação e
são áreas potenciais para futuros sítios de sedimentação.
Embora a utilização dos métodos quantitativos para discriminação mais
detalhada dos eventos deposicionais tenha produzido resultados interessantes, eles não
forneceram a delineação precisa dos contatos entre os lobos. Isto se deve pelo modelo
de dados resultantes das análises com dados altimétricos (raster) ter menor acuidade de
limites geográficos em relação ao modelo resultante da análise dos paleocanais
(vetorial) (e.g., Burrought & Mcdonnel 1998). Deste modo é necessário para um bom
resultado a utilização de ambos planos de informação.
Orientando esta discussão para as mudanças ambientais, observa-se que no
ápice do lobo 1 um novo processo de avulsão parece estar em curso (Fig. 5.5). Diferente
do processo de migração lateral, a avulsão fluvial é uma brusca mudança no curso do rio
que em um curto espaço de tempo altera o traço do canal, conforme demonstrou a
figura 4.12. Este processo é associado à agradação sedimentar do canal e dos diques
marginais, tornando o curso fluvial altimetricamente superior ao seu entorno (Fig. 5.6).
O rompimento dos diques marginais durante regimes de alto fluxo inicia a drenagem
das águas para a planície fluvial através das crevasses e, caso o processo de avulsão seja
sucedido, o curso do rio é alterado.
A vasta rede de paleocanais identificada em todos os lobos deposicionais atesta
que tais processos são comuns na evolução do megaleque (Fig. 5.7), e ao contrário do
que algumas “correntes ambientalistas” sugerem, as avulsões não parecem ser induzidas
exclusivamente pela ação humana. Não pretende-se negar a influência do homem neste
sistema natural, mas o alcance humano parece estar restrito a freqüência dos processos.
Outros elementos geomórficos reliquiares identificados no megaleque também
devem ser analisados sob a luz de mudanças ambientais. Um exemplo clássico são as
lagoas alcalinas (também conhecidas como salinas) na porção sul do Taquari –
Nhecolância. Isoladas por cordões arenosos, estas lagoas não tem contato com o

53
escoamento superficial e apresentam um pH extremamente alto. Ilustres pesquisadores
que visitaram o local na década de 80 apontaram que esta fisionomia é herança de um
paleoclima semi-árido (Klammer, 1982; Tricart, 1982). Na presente compartimentação
estas feições também foram interpretadas como relictas; no entanto ainda não há
nenhum estudo conclusivo a respeito de sua origem.

Fig. 5.5. Avulsão do rio Taquari na fazenda Caronal e nos novos canais distributários formados.

Observações realizadas nas imagens de satélite, fotos aéreas e na rede de


drenagem mapeada sugerem que feições erosivas mais recentes estão superpondo-se na
paisagem relicta das lagoas e causando a denudação progressiva deste paleoambiente.
Lagoas interconectadas refletem estas transformações e compõe uma rede tributária de
escoamento superficial, mapeada como vazantes (Fig. 5.8).

54
Fig. 5.6. Antigos complexos de avulsão (A) e o atual canal do rio Taquari (B) encontram-se
altimetricamente superiores em relação à planície circundante. Nota-se na imagem do canal atual que os
novos distributários do Taquari, devido à maior carga de sedimento em suspensão, apresentam maior
reflectância que os paleocanais.

55
Fig. 5.7. Uma vasta rede de paleocanais é identificada em toda extensão do megaleque. (A) Paleocanais
distributários na porção norte – Pantanal de Paiguás – do megaleque; (B) Paleocanal meandrante próximo
ao canal atual do Taquari; (C) Paleocanal do tipo vazante próximo ao cinturão de meandros atual e (D)
Paleocanal do tipo vazante próximo à região de lagoas salinas – Pantanal da Nhecolândia.

56
Fig. 5.8. Paisagem das lagoas salinas (A e B) sofre ação de processos erosivos e possuem a tendência de
interconectar-se em uma rede tributária de escoamento superficial (C e D). As fotos C e D não
correspondem às imagens orbitais em detalhe.

57
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

É tentadora a possibilidade de realizar estudos geocientíficos baseando-se apenas


em dados de terceiros, ou coletados pelos atuais e modernos sensores orbitais. De certa
forma, a disponibilidade de informações cada vez mais detalhadas e facilmente
acessíveis parece apontar nesta direção. No entanto, reconhece-se a importância dos
trabalhos de campo nas pesquisas das Ciências da Terra. Caso contrário, se este contato
direto com a área do estudo for descartado, estar-se-ão confiando os resultados em
dados que podem representar erroneamente a realidade. Tendo como exemplo o
presente estudo, recomenda-se para a análise geomorfológica regional a utilização
conjunta de metodologias de Sensoriamento Remoto e reconhecimento em campo. A
porcentagem de contribuição de cada meio para os resultados é uma decisão exclusiva
do pesquisador.
Outro apontamento que deve ser registrado é a crescente necessidade da busca
de métodos quantitativos para analisar os processos morfogenéticos. Modelos mentais e
considerações exclusivamente qualitativas têm o seu papel; mas caso se apóie somente
nestes meios, resultados subjetivos podem comprometer a qualidade do estudo.
Quanto aos resultados discutidos neste trabalho, fica evidente que a evolução do
megaleque do Taquari é condicionada pela construção e abandono de lobos
deposicionais e que alterações de grande magnitude em curtos espaços de tempo são
características intrínsecas deste sistema. A reconstituição destes eventos é o passo
inicial para delinear as tendências futuras deste sistema. Os seguintes passos devem
compreender a consolidação das melhores técnicas para a detecção das mudanças
ambientais e a abrangência da área estudada para todo o Pantanal.

58
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63
ANEXO I
Após o mapeamento da rede de paleocanais observou-se regiões com diferentes
densidades destas feições e imediatamente atentou-se para a aplicação do conceito de
densidade de drenagem (Horton, 1945), na tentativa de verificar alguma correlação com
os lobos identificados. A equação que demonstra este parâmetro (Dd) é definida por:

onde: ΣL é o comprimento total do canal em uma área Ad.


Teoricamente esta quantificação demonstra o grau de dissecação de uma
superfície pela densidade de canais presentes. No entanto, como as feições utilizadas
para o cálculo foram paleocanais e não drenagem atual os resultados não concordaram
com a prerrogativa teórica e não demonstraram potencialidade para a discriminação dos
diferentes eventos deposicionais que atuaram no megaleque:

64

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