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Fragmento do texto- LINGUAGEM ORAL E LINGUAGEM ESCRITA: NOVAS PERSPECTIVAS

DE DISCUSSÃO1

Kátia Lomba Bräkling2

O ensino da linguagem oral na tradição escolar tem sido compreendido de várias formas. Ele passa
por momentos de livre expressão do aluno sobre assuntos pessoais ou variados, por discussões
coletivas sobre conteúdos focalizados em sala de aula, por trocas de opiniões, pela leitura oral de
textos, pela declamação de poemas e a realização de jograis e até pela oportunidade de
problematizar as questões relativas ao grau de formalidade das falas ou à variedade lingüística.
Nessa perspectiva, esse assunto é entendido e organizado em situações destinadas a ensinar:
 a conversar e se expressar sem compromisso;

 a oralizar textos escritos;

 que a pouca formalidade dos textos e falas deve ser corrigida, assim como deve ser evitada
a utilização de dialetos, gírias etc.

Para esse tipo de ensino, a escola apresenta situações que demandam aos alunos que:
 estudem determinados temas e que os exponham aos demais oralmente;

 organizem seminários a respeito de assuntos específicos;

 participem de debates;

 façam apresentações de trabalhos em feiras escolares (de Ciências, mostra de trabalhos


desenvolvidos durante o ano letivo, feiras temáticas);

 assistam a mesas-redondas;

 expressem-se com clareza a qualquer vez que tenham que manifestar em voz alta.

Como conseqüência dessa maneira de compreender o ensino de linguagem oral, tem-se um


ensino de linguagem oral esvaziado de conteúdo e de objeto, propriamente. Uma prática que se
baseia no pressuposto de que a escola deve ensinar a falar, mas que se esquece de levar em
conta as situações comunicativas nas quais a interação verbal oral acontece e que não considera
que os enunciados organizam-se, inevitavelmente, em gêneros, formas estáveis que circulam
socialmente e têm a função de organizar o que se diz.
1
Texto re-elaborado a partir de versão publicada no site do EDUCAREDE, no seguinte endereço:
http://www.educarede.org.br/educa/html/index_oassuntoe.cfm.

2
Linguista e Pedagoga. Professora da Pós-graduação do ISE Vera Cruz. Assessora da SEE de SP junto ao CEFAI e ao Programa Ler e Escrever.
Dessa forma, parece que o importante nas atividades de uso da linguagem oral é ensinar os alunos
a falarem bem, com boa dicção e com clareza. Como se produzir um seminário fosse a mesma
coisa que participar de um debate, assistir a uma mesa-redonda ou expor informações a respeito
de determinado tema.

SCHNEWLY afirma que

"o oral não existe; existem orais: atividades de linguagem


realizadas oralmente; gêneros que se praticam
essencialmente por meio da oralidade. Ou então
atividades de linguagem que combinam o oral e o escrito.
De fato, há pouco em comum entre a performance de um
orador e a conversação cotidiana; entre a tomada de
turno num debate formal e numa discussão de grupo de
trabalho; entre uma aula dada e uma explicação dada
numa situação de interação imediata; entre a recontagem
de um conto em sala de aula e a narrativa de uma
aventura no pátio do recreio. Os meios lingüísticos
diferem fundamentalmente; as estruturas sintáticas e
textuais são diferentes; a utilização da voz, sempre
presente, também se faz diferente; e também a relação
com a escrita é específica em cada caso" (SCHNEUWLY,
1997, citado por Rojo, 19993 ).3

Então, afinal, com o que se deve preocupar, de fato, o ensino da linguagem oral? O que deve ser
priorizado no trabalho educativo? Para começar, qualquer mudança nessa prática há de considerar
as especificidades das situações de comunicação e dos gêneros nos quais qualquer enunciado se
organiza, inevitavelmente, seja ele oral ou escrito.

3
ROJO, Roxane H. R. Letramento escolar, oralidade e escrita em sala de aula: diferentes modalidades ou gêneros do discurso? São
Paulo: LAEL PUC-SP, 1999.

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