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ANÁLISE SOBRE A LIDERANÇA FEMININA NAS IGREJAS A PARTIR

DA TEOLOGIA FEMINISTA
Larissa Martins Silva, Yasmin Dolores de Parijos Galende

Centro Universitário do Pará, Belém – PA


Linha de Pesquisa: Gênero, sexualidade e direito

alguns ambientes, em tantos outros, como nas Igrejas, a mulher não tem
INTRODUÇÃO conseguido obter voz e força necessária para deixar de ser o Outro.
Quando Beauvoir (1970) fala sobre os livros de Paul Claudel, que utiliza
o catolicismo como ponto central das suas obras poéticas, ela critica a
Durante séculos, as sociedades ocidentais mantiveram a preponderância
vivência da mulher dentro do meio religioso, que por hora é exaltada,
dos homens nos espaços intelectuais, econômicos e políticos. Em
mas sua vocação terrestre continua sendo unicamente de entregar-se e
contrapartida, as mulheres estavam destinadas ao papel de mães e
servir ao próximo. Segundo Beauvoir, se as mulheres são autônomas em
educadoras, o que conseqüentemente, as colocava na função de servir e
Deus, por que então não podem se desprender do papel de servir e,
sacrificar sua independência em prol dos demais membros da família,
assim, ocupar espaço nas Igrejas, em vez de somente serem vistas como
como leciona Angela Davis (2016, p.228), “(...) o trabalho de uma
auxiliadoras? Reforçar a ideia de que as mulheres precisam se doar aos
mulher, de uma era histórica a outra, tem sido geralmente associado ao
outros seria dar esperança de que, em Deus se obtém igualdade, mas na
ambiente doméstico”. Na Igreja a mulher vive uma extensão do lar,
terra, existe uma vocação de submissão pré-determinada.
cabendo a ela a tarefa de cuidar das crianças e ensiná-las sobre a fé.
Ademais, o próprio trabalho doméstico é uma forma de opressão da
Todavia, ela não ocupa os espaços de liderança pastoral, geralmente,
mulher. Ainda que as atividades domésticas fossem exercidas por
sequer pode opinar em grandes decisões quanto a questões
homens, haveria opressão de gênero, pois historicamente, o trabalho da
organizacionais. Considerando as diferenças entre os gêneros
mulher é restrito ao ambiente doméstico. Angela Davis (2016, p. 226)
perpetuadas e reforçadas pela sociedade, é necessário discutir sobre qual
explica que “embora a maioria das mulheres comemore com alegria o
seria o papel da mulher dentro da Igreja e o resgate da sua autonomia, a
advento do ‘dono de casa’, desvincular o trabalho do sexo não alteraria
partir da teologia feminista.
verdadeiramente a natureza opressiva do trabalho em si”. A Igreja
contribui para impedir o acesso da mulher a sua própria libertação,
PROBLEMA quando a destina somente a atividades parecidas com as realizadas no
lar.
A pesquisa problematiza a carência de lideranças femininas nas Igrejas, Na concepção da teologia feminista, é um dano irreversível o fato de não
discutindo a submissão feminina e o motivo das atribuições da mulher haver registros claros na Bíblia de mulheres sendo discípulas de Jesus,
neste ambiente serem restringidas a atividades ligadas ao lar. apesar de existirem trechos que deixam isso implícito (JOHNSON,
2002). Em razão disso, no interior da própria Igreja os homens não dão
espaço para lideranças femininas, pois se consideram os únicos
OBJETIVOS designados a ocuparem esse espaço com base nos registros bíblicos.
Gebara (2007, p. 31-32) ressalta que, a partir disso, para compartilharem
O estudo objetiva analisar criticamente a escassez de mulheres nos suas vivências e experiências entre si, as mulheres criam uma nova
espaços de liderança das Igrejas, reforçada pela quase exclusividade dos linguagem que enriquece e aproxima a imagem de Deus as suas próprias
homens no papel de líderes ao longo da história. Ademais, averiguar realidades.
uma mudança na estrutura cristã a partir da teologia feminista, Segundo essas autoras, a submissão das mulheres no ambiente da Igreja
demonstrando a importância de se retomar a visibilidade e autonomia ocorre devido ao processo histórico das instituições religiosas, onde
feminina dentro das Igrejas. somente profetas e sacerdotes falaram em nome de Deus à sua imagem e
semelhança, logo, Deus passou a ter a forma e as convicções de quem
MÉTODOS falava publicamente (GEBARA, 2007, p. 23-28). Ocorre que somente
as elites masculinas tinham acesso ao estudo da filosofia e,
O estudo se vale de pesquisa teórica a partir de revisão bibliográfica conseqüentemente, a escrita e o poder de ocupar espaços públicos,
sobre a teologia feminista segundo perspectivas das teólogas Ivone portanto, compartilhar sobre a fé cristã era uma atividade propriamente
Gebara e Elizabeth Johnson, que objetivam constituir uma nova visão
sobre a atual organização da Igreja, bem como das obras “O Segundo
Sexo” da Simone de Beauvoir, e “Mulheres, raça e classe” da Angela
REFERÊNCIAS
Davis, que tratam sobre a diferença entre os gêneros e a redução da
mulher à atividade doméstica, respectivamente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo, fatos e mitos. São Paulo:
Difusão Européia do Livro, v.1, 4° ed., p. 274-276, 1970.
RESULTADOS BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo, a experiência vivida. São Paulo:
Difusão Européia do Livro, v.2, 2° ed., 1967.
Na obra da Beauvoir (1967), nota-se que ela, ao falar sobre a diferença DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 1° ed,
entre os gêneros, cita que a mulher pode ser definida como o Outro, já 2016.
que é vista como um segundo plano dentro do essencial. Ou seja, pelo GEBARA, Ivone. O que é teologia feminista. São Paulo: Editora
olhar do homem, que é absoluto, a mulher sempre ocupa um lugar de brasiliense, 1° ed, 2007.
subordinação, sem igualdade nas condições e oportunidades. Em uma JOHNSON, Elizabeth. The church women want: catolic women in
sociedade onde as características de gênero são hierárquicas e dialogue. New York: Herder, p. 45-46, 2002.
excludentes, apesar da participação mais equitativa da mulher em

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