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Editorial

Por uma ética da sustentabilidade: caminhos novos, velhos problemas


Este número apresenta uma síntese do III Seminário ambiental. Neste número aparece ainda uma síntese do
Internacional sobre Agroecologia, realizado recentemente marco referencial adotado pela EMATER/RS, especial-
em Porto Alegre, e entrevista um de seus palestrantes mente no que se refere aos aspectos sociais inerentes
de renome internacional. Peter Rosset, agroecólogo e ao processo de transição agroecológica. Assinado por
diretor do Instituto Food First, destaca a estreita relação Siliprandi, o texto evidencia a contradição entre o dis-
existente entre direitos humanos, desenvolvimento e curso social e a ação produtivista e aponta limitações
Agroecologia, apontando o problema da fome no mundo inerentes à cultura organizacional para a sua supera-
como conseqüência de decisões políticas claramente anti- ção. Ademais, delineia áreas de trabalho com
éticas. Aliás, em Tópico Especial, o manifesto "Por uma potencialidade para dinamizar alianças interdisciplinares
Ética para a Sustentabilidade" reivindica o respeito aos capazes de consolidar novas práticas, sustentando que
limites naturais da vida, em sua ampla conceituação, o eixo de articulação entre elas se apóia na crescente
como parâmetro básico para o estabelecimento de políti- consciência de que o social não se restringe ao
cas de apoio ao desenvolvimento que, sem este cuidado, assistencial. Segundo este marco, toda a ação
jamais será sustentável. Neste sentido, sua leitura nos extensionista pública deve se orientar para a constru-
permite identificar uma articulação estreita entre a ra- ção de sujeitos autônomos, assegurando complementa-
zão e a moral, como fundamento de base ética para a ridade entre especialidades e restringindo áreas de iso-
sustentabilidade, o que nos leva a perceber a necessida- lamento ou divisão apriorística de tarefas. Sem se afas-
de de cuidar simultaneamente das várias dimensões tar da idéia de reduzir dependências de natureza diver-
envolvidas neste preceito, com destaque para a ética da sa, Secchi resgata, em Alternativa Tecnológica, a história
produção, a ética do conhecimento, a ética da cidadania do uso de baculovírus no controle da lagarta-da-soja no
e da governabilidade global, dos direitos e bens comuns, Rio Grande do Sul, ensinando como usar esta técnica
da diversidade cultural, da paz e do respeito à que, apenas entre 1980 e 1997 (e considerando somen-
multiplicidade e à singularidade do ser, seja enquanto te as safras gaúchas), possibilitou ao Brasil uma econo-
indivíduo ou coletividade. Em artigo apoiado em concei- mia de US$ 31,8 milhões (redução no uso de insetici-
tos similares, Caporal e Costabeber defendem a Agroe- das, máquinas e equipamentos agrícolas). Em âmbito na-
cologia como ciência de espectro necessariamente cional, essa prática permite economizar R$ 13 bilhões
multidimensional, propondo a análise da sustentabili- por ano, considerando-se apenas a safra de soja, onde
dade a partir de seis dimensões fundamentais, articula- já atinge entre 1 e 1,4 milhão de hectares (embora te-
das em três distintos níveis hierárquicos ascendentes, nha potencial para alcançar 4 milhões de hectares). No
contemplando as dimensões ecológica, econômica e so- Relato de Experiência, Messias e Ries descrevem os es-
cial (nível de sustentação primária), as dimensões cul- forços que vêm sendo executados no melhoramento do
tural e política (nível intermediário, de articulação campo nativo em áreas de pecuária familiar, destacando
sociocultural) e a dimensão ética (nível superior, de de- resultados crescentemente positivos. É animador o fato
senvolvimento humano). Nessa perspectiva, adquire de que iniciativas semelhantes podem ser replicadas
relevância a socialização de conhecimentos em toda região dos Campos de Cima da Serra do Rio
agroecológicos entre os sujeitos, de maneira a ampliar Grande do Sul, reduzindo o risco de queimadas e con-
as oportunidades de construção de saberes tribuindo para ampliar os níveis de produtividade. Fi-
socioambientais necessários para consolidar um nalmente, na Dica Agroecológica Peglow e Velloso orien-
paradigma de desenvolvimento rural que integre pre- tam os passos e as práticas para o preparo e a correta
servação ambiental e princípios éticos de solidariedade utilização de plantas medicinais em tratamentos
sincrônica e diacrônica. A retomada de conhecimentos fitoterápicos. Como em números anteriores, os editores
populares, como subsídio para a construção de proces- de Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável apos-
sos de resistência à exclusão social, na busca de rela- tam no intercâmbio de saberes e experiências, numa
ção harmoniosa entre homem e ambiente, é analisada relação horizontal entre sujeitos, como o caminho mais
por Alexandre, em artigo de corte antropológico que parte viável para a construção de um mundo melhor. Boa lei-
de preceitos de etnosustentabilidade e etnoconservação tura a todos.
3
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
SUMÁRIO RevistadaEmater/RS
v.3, n.3, Jul/Set 2002
Entrevista 5
Coordenação Geral: DiretoriaTécnicadaEMATER/RS
Peter Rosset fala sobre as causas da fome

Reportagem 11
Conselho Editorial: André Pereira, Ângelo Menegat, Ângela
Felippi, Alberto Bracagioli, Ari Henrique Uriartt, Dulphe Pinheiro
Seminário Internacional destaca ações Machado Neto, Eros Marion Mussoi, Fábio José Esswein,
que promovem a Agroecologia Francisco Roberto Caporal, Gervásio Paulus, Isabel Carvalho,Jaime
Miguel Weber, João Carlos Canuto, João Carlos Costa Gomes,
Tópico Especial 17 Jorge Luiz Aristimunha, Jorge Luiz Vivan, José Antônio
Manifiesto por la vida Costabeber, José Mário Guedes, Leonardo AlvimBeroldt da Silva,
Leonardo Melgarejo, Lino De David, Lisiane Wandscheer, Luiz
Relato de Experiência 29 Antônio Rocha Barcellos, Nilton Pinho de Bem, Renato dos
SantosIuva, Rogério de Oliveira Antunes, Soel Antonio Claro.
Melhoramento de Campo Nativo
Messias, Luis G. P.; Ries, Jaime E.
Editor Responsável: Jorn. Leandro Brixius- RP 9468

Artigo 38
Editoração de Texto: Mariléa Fabião
Projeto Gráfico e Ilustração: Sérgio Batsow
Desafios para a extensão rural Diagramação: Mairã Alves- Imprensa Livre Editora
Siliprandi, Emma. Revisão: Volnei Matiasda Rocha
Fotografia: Kátia Farina Marcon, Rogério da S. Fernandes
AlternativaTecnológica 49 Periodicidade: Trimestral
Tiragem: 3.000 exemplares
Baculovírus
Secchi, Valdir A. Impressão: Gráfica e Editora Pallotti
Distribuição: BibliotecadaEMATER/RS

Artigo 55 EMATER/RS
RuaBotafogo, 1051
Etnoconservação como política de meio
ambiente no Brasil Bairro Menino Deus
Alexandre, Agripa F. 90150-053 - Porto Alegre - RS
Telefone: 51- 3233-3144
Econotas 65
Fax: 51- 3233-9598

Endereço eletrônico darevista


http://www.emater.tche.br/docs/agroeco/revista/revista.htm
Dica Agroecológica 67 E-mail: agroeco@emater.tche.br
Plantas Medicinais
Peglow, Karin; Velloso, Caroline A Revista Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável é uma
publicação da Associação Riograndense de Empreendimentos de

Eco Links 69
Assistência Técnica e Extensão Rural - EMATER/RS.
Os artigos publicados nesta Revista são de inteira responsabilidade
de seus autores.
Artigo 70
Cartas
Análise Multidimensional da Sustentabilidade
As instituições interessadas emmanter permuta podemenviar cartas
Caporal, Francisco R.; Costabeber, José A. paraabibliotecáriaMariléaFabião Borralho, EMATER/RS, Rua
Botafogo, 1051, 2°andar, Bairro Menino Deus, CEP
Resenha 86 90.150.053, Porto Alegre/RS ou para agroeco@emater.tche.br
ISSN 1519-1060
Normaseditoriais 90

4 Agroecol. e Desenvol. Sustent.| Porto Alegre| v.3| n.3 | p.1-92| Jul/Set 2002

Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
E ntrevista/Peter Rosset
"A Agroecologia é o único meio que pode
permitir que o pobre seja produtivo."

B o u c in h a , H e le n a * (www.foodfirst.org), um instituto de pesqui-


B r ix iu s , L e a n d r o * sa e análise de políticas que se dedica a
estudar as causas primárias da fome e da
pobreza, buscando soluções alternativas.
Para o ativista norte-americano Peter Uma dessas soluções é a Agroecologia, con-
Rosset, a redução do número de agriculto- forme revela Peter Rosset nesta entrevista
res familiares, as políticas de liberação co- concedida à Revista Agroecologia e Desen-
mercial, os subsídios para os fazendeiros dos volvimento Rural Sustentável. Palestrante
países do Norte e a privatização do crédito e do III Seminário Internacional sobre Agro-
da assistência técnica são algumas das ra- ecologia, realizado no final de setembro, em
zões que fazem com que mais de 800 mi- Porto Alegre, Rosset concedeu esta entre-
lhões de pessoas passem fome no mundo. vista por e-mail, alguns dias antes de via-
Rosset é co-diretor da Food First - Institute jar ao Brasil.
for Food a nd D evelopment Policy Revista - O Sr. tem afirmado que a en-
genharia genética não vai resolver o pro-
* Jornalistas da Emater/RS blema da fome no mundo. Por quê?
5
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
Entrevista/Peter Rosset
Rosset - Inicialmente, porque, em ter- c e be -se na m í di a um a pre di spo si ç ão a
mos globais, há comida demais, não há es- aceit ar os OGMs como alt ernat iv a à pro-
cassez. O problema é a pobreza. Muitas pes- dução de aliment os e como solução para
soas são pobres demais para comprar os ali- a falt a de aliment os no mundo. Por que
mentos que existem ou não têm terra para isso ocorre?
produção própria. O principal problema en- Rosset - Por causa do grande aparato pu-
frentado por agricultores no mundo todo é blicitário da indústria de biotecnologia para
o dos preços baixos, resultado da superpro- influenciar a mídia e a opinião pública.
dução global. Por isso, nenhuma nova Pode ser que nunca descubramos até que
tecnologia que visa aumentar a produção ponto empresas de biotecnologia ou seus
pode enfrentar a fome em um nível global. consórcios estão devotando recursos para
Além disso, em certas partes do mundo, moldar a forma como o público enxerga os
como em áreas na África subsaariana, a alimentos geneticamente modificados,
produtividade é muito baixa, e as causas mas podemos ter certeza de que o gasto é
não têm nada a ver com enorme. Nos Estados
tecnologia. Na verdade, Unidos, a indústria de
a privatização de agên- biotecnologia recente-
cias governamentais de "Nenhuma nova tecnologia mente anunciou a cri-
apoio a pequenos agri- ação e liderança de
cultores, como as enti- que visa aumentar a produção um programa de infor-
dades de comercializa- mações para o público
pode enfrentar a fome em um
ção, os deixou sem aces- com duração de vários
s o a os merca dos . A nível global." anos. Patrocinado pelo
privatização dos bancos Conselho para Infor-
de fomento os deixou ma ções s ob re
sem crédito, e políticas Biotecnologia, ele in-
de livre comércio encheram o mercado com clui um site na Internet, um serviço de in-
produtos sobressalentes provenientes do formações por telefone com chamada gra-
Norte, com preços contra os quais os pe- tuita (toll-free), materiais de publicidade e
quenos agricultores não podem competir. anúncios impressos e na TV. De acordo com
Em vista disso, a maioria deles produz o jornal St. Louis Post Dispatch, o Conse-
mu ito menos do qu e poderia com a lho tem US$ 250 milhões em recursos para
tecnologia atual. Sem trocar estas restri- usar durante cinco anos, e este é somente
ções de políticas, tecnologia de tipo algum, um entre muitos esforços do tipo. Membros
muito menos OGMs (organismos genetica- de várias alianças de relações públicas em
mente modificados), faria a menor diferen- favor da biotecnologia estão financiando
ça. Finalmente, se houver um lugar no pes qu is a s "científica s ", orga niza ndo
mundo onde a tecnologia inadequada seja fóruns, fazendo lobby com parlamentares,
realmente o fator limitante, devemos es- agências reguladoras e organizações de
tar atentos ao fato de que a tecnologia de agricultores, e contratando grandes empre-
OGMs está muito longe de ser a melhor sas de relações públicas. A estratégia atu-
opção ou a mais produtiva disponível aos al dá ênfase ao uso de cientistas, acadê-
agricultores. micos e fazendeiros com "credibilidade" de-
6 Rev ist a - De uma maneira geral, per- fendendo posições a favor da indústria, em

Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
Entrevista/Peter Rosset
vez de porta-vozes de empresas, em quem, foi notícia no encontro de 1996 - dando eco
de fato, o público não acredita. aos sentimentos de muitos, ao classificar
Revista - O consumidor norte-america- essa meta como "vergonhosa", pelo fato de
no quer consumir alimentos geneticamen- abandonar qualquer noção de eliminação
te modificados? da pobreza, tendências posteriores têm sido
Rosset - A maioria das pesquisas nos Es- ainda mais vergonhosas. O encontro atual
tados Unidos mostra que o público deseja que foi convocado pelas Nações Unidas para exa-
OGMs sejam rotulados, e a maioria não com- minar por que a fome persiste apesar do
praria um produto em cujo rótulo estivesse Plano de Ação de 1996. Nos primeiros cin-
especificada a existência de OGMs. co anos, houve um progresso 60% inferior
Revista - Como os movimentos sociais, ao previsto, e as condições atuais estão pi-
c o m o o Mo v i m e nt o do s T rabalhado re s orando em muitos locais no mundo. Sem
Sem T erra (MST ), se posicionam (ou po- uma reorientação drástica de políticas no
dem se posicionar) no debate sobre a ques- mundo todo, será impossível alcançar o ob-
tão dos transgênicos e o empobrecimento jetivo de 2015, e a fome pode, na verdade,
do meio rural? aumentar. Enquanto documentos oficiais
Rosset - Os OGMs são o passo mais re- preparados para a conferência condenam
cente em um lento processo através do qual abertamente uma "falta de vontade" e pe-
corporações estão dominando cada etapa da dem "mais recursos" para serem utiliza-
produção de alimentos, desde a semente, a dos para a redução da fome, o fato é que há
terra, os insumos químicos e a maquina- necessidade de outras mudanças funda-
ria, até a compra da colheita, sua armaze- mentais. O que deu errado? As pesquisas
nagem, processamento, empacotamento, conduzidas pela Food First revelam que,
propaganda e distribuição. É este processo
geral que exclui os pobres - tanto produto-
res, quanto consumidores - e, portanto, deve
ser enfrentado por organizações de pessoas
pobres, como o MST.
Revista - Avalie o que deu errado no
compromisso assumido por 185 nações, em
1996, de cortar pela metade o número de
povos com fome até 2015.
Rosset - Por que mais de 800 milhões de
pessoas ainda passam fome em um mundo
marcado por fortunas inacreditáveis? Os
governos do mundo inteiro se encontraram
em Roma, em junho último, para discutir
somente esta questão, em uma conferên-
cia chamada "Conferência Mundial sobre
a Alimentação: Cinco Anos Depois". No
evento de 1996, também realizado em
Roma, 185 nações assinaram um termo de
compromisso para reduzir o número de pes-
soas com fome pela metade até 2015. En-
quanto o presidente cubano, Fidel Castro, 7
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
Entrevista/Peter Rosset
desde 1996, os governos têm seguido uma para cobrir os custos com crédito e produ-
série de políticas que contribuíram para re- ção. O resultado tem sido uma deteriora-
duzir o número de camponeses, pequenos ção significativa e contínua do acesso dos
agricultores, agricultores familiares e co- pobres à terra, à medida que eles são for-
operativas agrícolas, tanto em países do çados a vender suas terras por preços re-
Norte quanto do Sul. Estas políticas incluí- duzidos, não têm dinheiro para aluguel de
ram liberalização comercial a toque de cai- terras ou negócios do tipo, ou perdem suas
xa, jogando os agricultores familiares do propriedades ao não conseguirem pagar
Terceiro Mu ndo contra a s fa zenda s seus empréstimos. Os casos de fome mais
corporativas mais bem subsidiadas do Nor- grave estão em áreas rurais onde os sem-
te; obrigação aos países de Terceiro Mun- terra são as pessoas mais pobres, e mes-
do de eliminar sustentação de preços e mo assim os governos têm feito corpo mole
subsídios para produtores de alimentos, en- para implementar políticas já existentes de
quanto a Europa e os Estados Unidos man- reforma agrária e redistribuição de terras,
têm enormes subsídios e na sua maioria resis-
a corporações agríco- tiram a esforços - às ve-
las, da mesma forma zes usando força - de or-
que virtualmente ex-
"A estratégia (de marketing) ganizações populares,
clu em seu s próprios atual dá ênfase ao uso de cien- como movimentos de
agricultores familiares sem-terra, para apres-
(veja m a recente lei tistas, acadêmicos e fazendeiros sar a implementação
s ob re a gricu ltu ra - com "credibilidade" defenden- destas políticas. Estes
Farm Bill - nos Estados mesmos governos não
Unidos); a privatização do posições a favor da indús- fizeram nada para im-
do crédito e do auxílio pedir qu e a terra se
tria, em vez de porta-vozes de
técnico e de marketing transformasse em um
para agricultores fami- empresas, em quem, de fato, o bem comercial fora do
liares; a promoção ex- alcance dos pobres, e
cessiva de exportações
público não acredita." a s s is tira m pa s s iva -
em detrimento da agri- mente a interesses co-
cultura de subsistên- merciais - tanto agríco-
cia; a patenteação de recursos genéticos las (como plantations) e não- agrícolas
vegetais por corporações que cobram aos (como exploração de petróleo) - invadir ter-
agricultores pelo seu uso; e uma tendên- ras públicas e comunitárias e territórios
cia na pesquisa agrícola na direção de de povos indígenas. Além disso, os gover-
tecnologias caras e questionáveis como a nos não fizeram nada à medida que cadei-
engenharia genética, enquanto alternati- as de commodities agrícolas - tanto de en-
vas em favor dos pobres, como agricultura trada (como sementes) quanto de saída
orgânica e Agroecologia, são virtualmente (como vendas de grãos) - tornaram-se mui-
ignoradas. to concentradas nas mãos de poucas com-
Revista - O que essas políticas provocam? panhias transnacionais, que, por terem
Rosset - Cada vez mais, agricultores pe- quase um monopólio nas mãos, estão cada
quenos e sem recursos descobrem que o vez mais praticando preços e custos desfa-
crédito nunca foi tão inadequado ou tão voráveis aos agricultores, pondo todos, es-
8 caro e que os preços estão baixos demais pecialmente os mais pobres, em um aper-

Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
Entrevista/Peter Rosset
to insustentável em relação a preço e cus- crise em que se encontram? Que condições
to, desta forma incentivando o abandono em são necessárias para que isso ocorra?
massa da agricultura e a migração para fa- Rosset - Não a agricultura sustentável,
velas. Enquanto os governos parecem ce- mas a agricultura agroecológica, que pode
gos aos meios pelos quais suas políticas au- ser tão ou mais produtiva que a agricul-
mentam a fome e o empobrecimento para tura químico-intensiva, mas não neces-
centenas de milhões de pessoas, outros sita de grandes investimentos financei-
vêem a dura realidade claramente. Cen- ros por agricultores com pouco dinheiro.
tenas de movimentos de agricultores e or- Desta forma, os pobres podem ser produti-
ganizações não- governamentais vieram vos, e, haja vista que eles não terão que
para Roma de diversos lugares do mundo gastar seu dinheiro em insumos quími-
para ter seu próprio Fórum em paralelo ao cos que são perigosos, caros e desneces-
encontro oficial. sários, seu lucro líquido pode ser muito
Revista - Quais são os caminhos para re- maior. Para que isso aconteça, os gover-
verter esse processo? nos precisam parar de conceder subsídios
Rosset - As conclusões de nosso estudo às vendas de produtos agroquímicos, e pa-
não são surpresa para aqueles que já co- rar de colaborar com a propaganda da in-
nhecem o mundo rural. Elas exigem que dú stria para convencer agricu ltores a
os governos removam a agricultura da Or- usarem-nos. A pesquisa e a extensão de-
ganização Mundial do Comércio (OMC), que vem ser reprojetadas em um modelo pelo
força países a abrir suas fronteiras a im- agricultor e para o agricultor. E deve-se
portações de comida barata e sobressalen- acabar com o livre comércio na agricultu-
te e, desta forma, tirar seus próprios agri- ra, de forma que os agricultores possam
cultores do negócio, da terra, e os atirar à receber preços mais justos por suas co-
fome. Elas pedem uma reforma agrária de lheitas. Este último aspecto é parte do que
verdade, para pôr terras de boa qualidade chamamos "soberania alimentar".
nas mãos daqueles que iriam semeá-la, Rev ist a - Pequenas propriedades pro-
em vez daqueles que podem pagar por ela. duz indo de maneira ecológica podem re-
Elas exigem que o direito fundamental à solv er o problema da fome de um país
comida, reconhecido pela Declaração Uni- como o Brasil? Por que a produção ecoló-
versal dos Direitos Humanos, seja posto em gica não se expande nat uralment e, se é
prática pela aplicação do que eles chamam melhor e mais barat a para o produt or e
"soberania alimentar", que se refere aos para o consumidor?
direitos de camponeses e agricultores fa- Rosset - Eu acredito que um modelo de
miliares a cultivar alimentos nos seus pró- pequena agricultura ou cooperativas, ba-
prios países, e direitos de consumidores po- seado em uma verdadeira reforma agrária,
bres ao suficiente para comer. Estas exi- tecnologia agroecológica e preços justos (so-
gências, diferente dos fracos pedidos ofici- berania alimentar), é a única forma de re-
ais por "vontade" e "dinheiro" - que serão duzir a fome em um país como o Brasil. A
sempre insuficientes - realmente alcan- simples existência do latifúndio garante
çam a causa primária da fome persisten- fome e pobreza. O modelo de agricultura
te, e devem ser apoiadas por todas as pes- química exclui o pobre. Livre comércio e
soas interessadas. preços baixos ferem todos os agricultores.
Revista - A agricultura sustentável será Somente revertendo estas tendências pode
capaz de tirar os agricultores do estado de haver algum progresso. 9
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
Entrevista/Peter Rosset
t ificar essas afirmat iv as?
Rosset - Sem Agroecologia, não há refor-
ma agrária. Sem reforma agrária, não há
Agroecologia. Por quê? Porque reforma agrá-
ria s em Agroecologia condena os
beneficiários à difícil batalha de tomar em-
prés timos mu ito a ltos pa ra ins u mos
agroquímicos, que não funcionam muito
bem e danificam o solo para produções fu-
turas. Quando eles não podem pagar o em-
préstimo pelos insumos que não funcionam,
para produzir alimentos com preços muito
baixos, eles podem perder sua terra de novo.
Métodos agroindustriais lhes dão uma me-
lhor chance de ter sucesso. E, sem uma ver-
dadeira reforma agrária, a Agroecologia é
inútil. Se os pobres não tiverem terras, que
utilidade terá tecnologia mais avançada
para eles?

Revista - Qual sua opinião sobre a con-


cessão de subsídios públicos para o desen-
volvimento da agricultura? Há necessida-
de de crédito subsidiado e/ou políticas pú-
blicas para expandir o modelo ecológico?
Rosset - Eu acho que os governos deve-
riam conceder subsídios aos agricultores
mais pob res, e ao desenvolvimento e
implementa çã o de ma is métodos
agroecológicos, desde que estes subsídios
não apoiem a produção para exportação
com preços baixos, o que prejudica fazen-
deiros em outros países.
Rev ist a - O Sr. t em relacionado a rev o-
lução da Agroecologia com a rev olução
agrária, apresentando ambas como essen-
ciais para o desenv olv iment o da humani-
dade. Além disso, afirma que sem refor-
ma agrária, a Agroecologia perde em con-
t eúdo e que, sem a Agroecologia, a refor-
m a a g r á r i a p e r d e e m q ua l i d a d e e
potencialidade. O Sr. pode detalhar e jus-
10
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
Reportagem
Seminário Internacional destaca ações que
promovem a Agroecologia

B r ix iu s , L e a n d r o * anos buscando construir uma fundamentação


teórica e debatendo os princípios da agricul-
tura ecológica, já era o momento de
enfocarmos as experiências práticas que fo-
Em sua quarta edição, o III Seminário In-
ram fomentadas, sem nos distanciarmos do
ternacional sobre Agroecologia, IV Seminário
debate teórico", explica José Antônio
Estadual e IV Encontro Nacional sobre Pesqui-
Costabeber, doutor em Agroecologia, agrôno-
sa em Agroecologia buscou apresentar expe-
mo da Emater/RS e um dos responsáveis pela
riências práticas que estão acontecendo nas
organização do evento. Para os 3,1 mil parti-
mais diversas regiões do planeta para a pro-
cipantes, o Auditório Araújo Vianna, localiza-
moção da Agroecologia e do Desenvolvimento
do dentro do Parque Farroupilha, um dos prin-
Rural Sustentável. "Depois de mais de três
cipais de Porto Alegre, foi o espaço para a tro-
* Leandro Brixius é jornalista da EMATER/RS. Colabo- ca de experiências e para o debate dos rumos
raram na reportagem os jornalistas da EMATER/RS da agricultura. Em 2003, o Seminário está
Ângela Felippi, Carine Massierer, Helena Boucinha, marcado para a semana de 17 a 21 de novem-
Patrícia Kolling, Raquel Aguiar, Rejane Paludo e Vanessa bro e propõe uma novidade: a realização do Con-
Almeida. gresso Brasileiro em Agroecologia. 11
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
Reportagem
Ao final dos três dias de palestras, de 24 a seja vista como uma "agricultura alternati-
26 de setembro, os participantes aprovaram a va", criando um ambiente de pesquisa no
Carta Agroecológica 2002, com recomendações qual instituições estão mais próximas do
como a promoção do desenvolvimento local, a agricultor, dando um novo perfil de política
criação de mecanismos legais que permitam agrícola.
aos agricultores a apropriação dos recursos ge- Representando os produtores ecologistas,
néticos disponíveis e o desenvolvimento de o agricultor Célio Lücke ressaltou a necessi-
pesquisas e políticas públicas que estimulem dade de dar sustentabilidade à agricultura,
a adoção dos sistemas agroflorestais, entre ou- resgatar a b iodiversidade e b u scar o
tros. Em 20 palestras, conferencistas do Bra- associativismo para frear o êxodo rural. Para
sil, da Argentina, da Bolívia, dos Estados Uni- o presidente da Emater/RS, Lino De David,
dos e da Espanha abordaram temas como o após três edições do Seminário, o saldo é po-
manejo do solo, o equilíbrio ambiental, o uso sitivo, com a orientação para que os serviços
da água, as agroflorestas e políticas públicas, públicos se voltem para o desenvolvimento ru-
entre outros temas. O Seminário, coordenado ral sustentável, a recolocação da priorização
pela Emater/RS, integra as políticas do gover- da questão da agricultura familiar, o enten-
no do Rio Grande do Sul para a promoção do dimento da construção do conhecimento
desenvolvimento rural sustentável. como processo em construção permanente e
a reafirmação da necessidade das
Avanços no RS metodologias participativas.
No Rio Grande do Sul, um levantamento
O governador do Rio Grande do Sul, Olívio realizado pela Emater/RS mostra que mais
Dutra, secretários de Estado e outras autori- de dez mil famílias estão abandonando o uso
dades destacaram, na abertura do Seminá- de agrotóxicos e investindo na agricultura
rio, os avanços para o desenvolvimento da ecológica. Um exemplo é o milho, em que qua-
Agroecologia obtidos com a integração da pes- se 17 mil produtores, dos 80 mil assistidos
quisa, extensão, ensino e a prática da agri- pela instituição, já estão em transição
cultura que vêm ocorrendo nos últimos anos agroecológica. Na soja, o número chega a
no Rio Grande do Sul. Dutra lembrou que mais de sete mil, contra 27 mil que perma-
eventos como esse contribuem para a apro- necem no sistema convencional. No caso do
priação pública e humanizada da ciência. feijão, são 16 mil convencionais e sete mil
Afirmou que o projeto de implantação do de- em transição. O levantamento também in-
senvolvimento sustentável, feito pelo gover- clui informações sobre a produção de frutas,
no do Estado, é exeqüível e vem comprovando olerícolas, suínos sobre cama, manejo do solo
que é ambientalmente sustentável, econo- e bovinocultura leiteira.
micamente viável e socialmente justo.
Para o secretário da Agricultura e Abaste-
cimento, Ângelo Menegat, é satisfatório ver
Saberes locais
os resultados das ações realizadas pelo Esta- A necessidade de ações políticas para o for-
do, com participação de entidades associativas talecimento da Agroecologia foi defendida pelo
e agricultores, baseadas num modelo no qual professor espanhol Manuel González de Molina
a agricultura familiar é o sustentáculo. Já o Navarro, da Universidade de Granada. "Até
secretário da Ciência e Tecnologia, Renato hoje, o crescimento agrário não acabou com a
Oliveira, lembrou o esforço que tem sido fei- fome e a desnutrição", constata o professor,
12 to pelo governo para que a Agroecologia não dizendo que qualquer solução precisa vir de

Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
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um desenvolvimento rural sustentável que se pelo desmatamento, revolvimento do solo,
fundamente na atividade agrícola e agrária, remoção da matéria orgânica, irrigação mal-
sem degradar o meio ambiente. feita, pastejo excessivo e uso do fogo. "Se o
Para o pesquisador Altair Toledo Machado, solo está ruim, a planta está doente e o ho-
da Embrapa Cerrados, do Distrito Federal, a mem que se alimenta dessa planta não pode
agricultura uniforme praticada atualmente ter boa saúde. Ecologia, pobreza e saúde de-
provoca a extinção de diferentes espécies de pendem um do outro. Não podemos separar
plantas e sementes, ocasionando o que cha- as coisas", ensinou a pesquisadora.
ma de erosão genética. "Isto coloca em risco A defesa da biodiversidade como fator im-
a segurança e a soberania alimentar do país", portante para o desenvolvimento de uma agri-
evidenciou. O resgate, avaliação e melhora- cultura sustentável foi realizada pelo agrôno-
mento das sementes crioulas é a maneira mo Walter Alberto Pengue, da Universidade de
de garantir a manutenção da biodiversidade, Buenos Aires. Segundo ele, aqui no Brasil, prin-
avaliou Machado no Seminário. cipalmente no Sul, a biodiversidade faz parte
O resgate de sementes crioulas valoriza o de um movimento social e está se tornando
saber local, assim como a experiência uma preocupação de muitos agricultores. "Na
vivenciada pelo professor Freddy Delgado Argentina, porém, os agricultores ainda não
Burgoa na Bolívia na busca, no conhecimen- têm esta consciência e continuam na busca
to indígena, de práticas sobre sanidade ani- de mais créditos para aquisição de produtos
mal. "Encontramos 50 maneiras de curar as químicos", destacou. Como alternativas para a
enfermidades dos animais em uma comuni- manutenção da biodiversidade, Pengue reco-
dade camponesa", contou Burgoa. Ele expli- mendou a rotação de culturas, os pluricultivos
cou que a Agroecologia é uma disciplina ci- e os sistemas de agricultura integrada.
entífica que, muito facilmente, pode inter-
relacionar- se com o conhecimento Reforma agrária
campesino. "A sabedoria local de uma famí-
lia ou comunidade pode servir a outros que A experiência prática da implantação da pro-
perderam esse conhecimento. E para nós, dução ecológica em assentamentos da refor-
possibilita revalorizar, ante a ciência, práti- ma agrária foi relatada pelos agricultores José
cas campesinas que têm uma validade cien- Placotnik e Claudionor Cardoso de Almeida,
tífica", destacou o professor, que desenvolve da Cooperativa Central dos Assentamentos do
a experiência há 15 anos. Rio Grande do Sul (Coceargs). Eles lembraram
que o início dos trabalhos nos assentamentos
se deu com um planejamento e a busca pela
Biodiversidade diversificação, incentivando a produção de sub-
Uma das palestras mais aguardadas foi a sistência, o uso de tratos ecológicos e a utili-
da cientista e pesquisadora Ana Maria zação de mão-de-obra familiar.
Primavesi, que aos 82 anos se constitui como Para o agroecologista americano Peter
uma referência na história do movimento Rosset, da ONG Food First, os países que vêem
ecológico e na pesquisa do manejo de solos. em seus agricultores o motor do desenvolvimen-
Em sua fala, silenciou o auditório ao defen- to nacional necessitam viabilizar a agricultura
der que a pressão exercida hoje sobre os fato- familiar com remuneração justa, implantar a
res naturais é insuportável e os resultados reforma agrária e adotar tecnologias
são catastróficos. Essa pressão, em parte cau- agroecológicas. "Devemos promover ciclos locais
de produção e consumo, pois na medida em que
sada pela pobreza, destrói o solo e o ambiente 13
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
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conseguimos cortar os ciclos internacionais, o Erick C. M. Fernandes, que relatou a experiên-
capital passa a girar no ciclo local e promover o cia do Sistema de Rizicultura Intensiva (SRI),
desenvolvimento local", destacou. desenvolvido principalmente na Ilha de
Madagascar, na África, entre agricultores fami-
Agrofloresta liares que cultivam o arroz em quase dez mil
hectares. Conforme Fernandes, o rendimento
O agrônomo Jean C. L. Dubois, da Rede Bra- do plantio pelo SRI eleva a produção de 1,8 tone-
sileira Agroflorestal (Rebraf), defendeu que a lada por hectare para 4,5 toneladas por hectare.
adoção dos sistemas agroflorestais para a Agro- O agricultor João Batista Volkmann, da
ecologia é importante, pois, segundo ele, na Associação Biodinâmica Sul-Brasileira, de
medida em que se aumenta a biodiversidade, Sentinela do Sul/RS, explicou que, normal-
também há um crescimento da defesa natural mente, as pessoas imaginam que a produção
contra insetos e pragas, além da valorização agrícola teria que necessariamente agredir a
da paisagem e da agricultura familiar. Um dos paisagem, mas que é possível trabalhar sem
empecilhos para sua implantação seria o alto conflito, mantendo a qualidade da água e usan-
custo inicial, que vai diminuindo aos poucos. do-a, inclusive, como um elemento de aumen-
Além disso, os sistemas agroflorestais se ca- to da produção, no caso do arroz. Segundo
racterizam pelo baixo insumo e sustentação. Volkmann, na agricultura biodinâmica, é pre-
Já o pesquisador da Embrapa Floresta, Mo- ciso que exista vida selvagem junto com a agri-
acir José Sales Medrado, salientou que os sis- cultura orgânica. Da mesma forma, a questão
temas agroflorestais contribuem para o de- social também precisa estar sendo atendida.
senvolvimento da Agroecologia. No entanto, O professor da Universidade de La Laguna,
para o uso dessa ferramenta deve-se levar na Espanha, Federico Aguilera Klink, relatou
em conta o saber local e, ainda, as diferen- que os usos agrícolas, industriais e urbanos
ças individuais e coletivas das comunidades. promovem a escassez de água. Conforme o pro-
fessor, nas cidades da Espanha se perde até
Água e agricultura 60% da água, e na agricultura, entre 40% e
60%. "Então, o que nos propomos, quando fala-
O risco de escassez de água é tema domi-
mos em uma nova cultura de água, é gestionar
nante de várias conferências no mundo todo.
a água. A nossa idéia é evitar que se perca tanta
No Seminário, buscou-se debater alternati-
água para evitar essa escassez social, e pen-
vas produtivas que reduzam o uso da água na
sar na água não como uma mercadoria, mas
agricultura. O agrônomo da Emater/RS, Luís
como um artigo ecossocial", disse.
Antônio Valente, e o agricultor Faustino S.
Cardoso apresentaram a rizipiscultura, prá-
tica que já ocupa mais de mil hectares no Pesquisa
Rio Grande do Sul, alcançando um baixo ní- O estudo Samambaia-preta, da organização
vel de dependência de fatores externos, alta não-governamental Ação Nascente Maquiné
integração entre plantas e animais, seguran- (Anama), de Maquiné/RS, foi apresentado pela
ça alimentar para a família e inclusão de bióloga Rumi Kubo. Desde 1997, a ONG desen-
agricultores. Cardoso enumerou os ganhos volve, junto com a comunidade, pesquisas so-
que está obtendo com a tecnologia, que lhe bre a cadeia agrícola da samambaia-preta e
permite comercializar arroz e peixe. as diretrizes para um manejo adequado da
A cultura do arroz também foi o assunto prin- espécie. O projeto começou na localidade de
cipal do professor e Ph. D. em Ciências do Solo Solidão e está identificando dados biológicos,
14 da Universidade de Cornell, em Nova Iorque, ecológicos, etnoecológicos e sócio-econômicos

Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
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dessa atividade extrativista. que todos agricultores deveriam vivenciar.
Com relação às pesquisas que estão sendo O diretor técnico da Emater/RS e doutor
desenvolvidas por diversas instituições, o pes- em Agroecologia, Francisco Caporal, apresen-
quisador da Fundação Estadual de Pesquisa tou aos participantes do evento a definição
Agropecuária (Fepagro/RS), Paulo José de Oli- de extensão rural agroecológica, comparan-
veira Timm, destacou que deve haver uma re- do-a à extensão rural tradicional. Segundo
flexão sobre que tipo de conhecimento se está Caporal, a extensão rural agroecológica é uma
querendo gerar. "O conhecimento deve levar busca permanente no sentido da construção
em conta os conhecimentos sistêmicos, partir de contextos de sustentabilidade, levando
da cultura local, valorizar as experiências sempre em conta suas dimensões ética, so-
empíricas e ter como base metodologias cial, política, ambiental, cultural e econômi-
participativas que envolvam a comunidade e ca. "Propõe-se um diálogo intercultural que
as instituições da região. É a união do científi- integre a vida cotidiana de técnicos e agri-
co com o local", avaliou Timm. Uma das refe- cultores, melhorando a atuação da extensão
rências desse trabalho é a propriedade do agri- rural agroecológica.”
cultor Éderson Martins Bastos, de Rio Grande,
que permitiu o resgate da produtividade do solo Ética
e serve de base para outros produtores.
Lovois de Andrade Miguel, pesquisador da "Concepções éticas e sociedade sustentá-
Universidade Federal do Rio Grande do Sul vel" foi o tema da última palestra do seminá-
(UFRGS), relatou novos métodos de interven- rio, com o Lama Padma Samten, do Centro de
ção em pesquisas, como a abordagem Estudos Budistas Bodisatva. Conforme o Lama,
sistêmica do tema, buscando o conhecimento a ética é possível quando o homem vê o outro
do sistema como um todo; a participação e como inseparável de si, quando tem a habili-
interação do agricultor; a interdisciplinarida- dade de olhar para o outro e sentir dentro dele
de, com a interação entre as áreas e a valori- as emoções que o outro também sente. Padma
zação da problemática comum, e a sustenta- Samten acrescentou ainda que o homem pode
bilidade, não só econômica, mas também so- pensar que a natureza está a seu serviço, mas
cial e ambiental. "Alicerçada nestes quatro pi- isso não é verdade. "Na verdade, nós somos
lares, as possibilidades de sucesso de uma pes- inseparáveis da natureza, somos inseparáveis
quisa são muito maiores", concluiu o uns dos outros", disse.
palestrante.

Extensão rural
A experiência participativa da extensão
rural agroecológica na região Fronteira Noro-
este foi exposta pelo agrônomo da Emater/RS,
Gilmar Vione, e pelo agricultor Dionísio
Meurer, de Roque Gonzáles/RS. Vione desta-
cou o empenho da instituição em construir,
junto com os agricultores, um novo processo
de desenvolvimento rural que inicie na famí-
lia e na comunidade e se estenda ao municí-
pio e à região. Para Meurer, a participação nos
processos participativos é uma experiência 15
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
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Experiências da Emater/RS

TrêsprojetosqueaEmater/RSestádesenvolvendonoRioGrandedoSulforamapresentadosnoIIISeminárioInternacionalsobreAgroecologia.Os
trabalhosforamselecionadosentre156experiênciasdainstituiçãosistematizadasnoEstado.AequipedaEmater/RSdeMuliterno,acompanhadade
professoreseestudantesdaescolalocal,relatouautilizaçãodoDiagnósticoRápidoParticipativo(DRP)nainstalaçãodoensinomédionomunicípio.Ométodo
utilizadiversastécnicasparaconheceracomunidade,identificardemandasepromoverodesenvolvimento.NomunicípiodeBomPrincípio,aequipe
municipaldaEmater/RSeumgrupodeprofessoresfirmaram,em1997,ocompromissodeenvolveracomunidadeemaçõesderecuperaçãoepreservação
ambiental,buscandoummodelodesocializaçãodeinformaçõesegerenciamentocoletivodeaçõesemmeioambiente.Otrabalhoresultounasensibilização
dacomunidadeparaobservaçõescríticascomrelaçãoaproblemasambientais,alémdaorganizaçãodeumacooperativadeprodutoresecológicos,
instalaçãodeumausinadereciclagemdelixodomésticoeformaçãodeumaONG. JáemSantanadoLivramento,aEmater/RSincentivouafruticultura
ecológica,queganhouimpulsocomosurgimento,em1998, daAssociaçãoSantanensedeProdutoresdeHortigranjeiros(ASPH),interessadaemafirmar
alternativasdeproduçãoecológicaparaaconversãodossistemasprodutivostradicionais.Hoje,integramaisde200agricultoresfamiliares,sendoque60%
delessãoassentadosdareformaagrária.

Carta agroecológica 2002

Os3.087participantesinscritosnoIIISeminárioInternacionalsobreAgroecologia,IVSeminárioEstadualsobreAgroecologiaeIVEncontroNacionalsobre
PesquisaemAgroecologia,reunidosemPortoAlegrenosdias24,25e26desetembrode2002,paradiscutiraçõesambientaisvoltadasparaaafirmação
econsolidaçãodeprocessosdedesenvolvimentoruralsustentável,baseadosnosprincípiosdaAgroecologia,recomendam:
a)arealizaçãodeesforçosparapromoverprocessosdedesenvolvimentolocalquesearticulemcomasdimensõesdasustentabilidadedenívelmacroe
semostremestreitamentevinculadasàsiniciativasaoabrigodaesferapúblicaesuaspolíticas;
b)acriaçãodemecanismoslegaisquepermitamaosagricultores(as)ecomunidadesruraisaapropriação,usoeintercâmbiolivredosrecursosgenéticos
disponíveis,conservandoassimabiodiversidadeeimpedindoousodeorganismosgeneticamentemodificados,enquantonãosecomprovardeforma
conclusivaseusaspectosdesegurançaalimentareambiental;
c)odesenvolvimentodepesquisasepolíticaspúblicasqueestimulemaadoçãodesistemasagroflorestais,respeitandoeintegrandoossaberesambientais
daspopulaçõeslocaisepromovendoomanejosustentáveldosecossistemas;
d)aorganizaçãodecircuitoslocaiseregionaisdeproduçãoecomercialização,comoformaconcretadecombateromonopólioeampliarodinamismo
econômicolocal,promovendo,assim,formasdecomérciojustoesolidário;
e)queasaçõesdepromoçãododesenvolvimentoruralsustentávelsejamrealizadasatravésdousodemetodologiasparticipativaseemancipatórias,
contemplandoasquestõesdegênero;
f)queoacessoeusodaágua,entendidacomoumelementoconstituintefundamentaldaprópriavida,sejadecaráterpúblico,comgarantiadeacesso
equânimeparatodos;
g)que,nabuscadepadrõesdedesenvolvimentosocialmentejustoseambientalmentecorretos,sejamdesenvolvidasaçõeseticamenteresponsáveisque
conduzamaumestilodevidaparcimoniosocomousoderecursosnaturais;
h)promover,atravésdosmeiosdecomunicaçãosocial,processosdeconscientizaçãoedivulgaçãodasiniciativasdeproduçãoecológicaeeducação
ambiental;
i)queosparticipantesdesseeventoseresponsabilizempelaconsolidaçãoepeloavançodoprocessodetransiçãoagroecológicanosníveismunicipal,
estadualefederal.
16 PortoAlegre,26desetembrode2002.

Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
T Eópico
special

Manifiesto por la vida*


Por una Ética para la Sustentabilidad
privilegia un modo de producción y un estilo
Introducción de vida insustentables que se han vuelto
1. La crisis ambiental es una crisis de hegemónicos en el proceso de globalización.
civilización. Es la crisis de un modelo
económico, tecnológico y cultural que ha de- 2. La crisis ambiental es la crisis de
predado a la naturaleza y negado a las cultu- nuestro tiempo. No es una crisis ecológica,
ras alternas. El modelo civilizatorio dominante sino social. Es el resultado de una visión
degrada el ambiente, subvalora la diversidad mecanicista del mundo que, ignorando los
cultural y desconoce al Otro (al indígena, al límites biofísicos de la naturaleza y los esti-
pobre, a la mujer, al negro, al Sur) mientras los de vida de las diferentes culturas, está
acelerando el calentamiento global del pla-
* Este Manifiesto fue elaborado por lassiguientes neta. Este es un hecho antrópico y no natu-
personasque participaron en el Simposio sobre Éticay ral. La crisis ambiental es una crisis moral
Desarrollo Sustentable, celebrado en Bogotá, de instituciones políticas, de aparatos jurídi-
Colombia, los días 2-4 de mayo de 2002: Carlos cos de dominación, de relaciones sociales in-
Galano (Argentina); Marianella Curi (Bolivia); Oscar justas y de una racionalidad instrumental en
Motomura, Carlos Walter Porto Gonçalves, Marina conflicto con la trama de la vida.
Silva (Brasil); Augusto Ángel, Felipe Ángel, José
María Borrero, Julio Carrizosa, Hernán Cortés, 3. El discurso del "desarrollo sostenible"
Margarita Flórez, Alicia Lozano, Alfonso Llano, Juana
parte de una idea equívoca para alcanzar sus
Mariño, Juan Mayr, Klaus Schütze y Luis Carlos
ob jetivos. Las políticas del desarrollo
Valenzuela (Colombia); Eduardo Mora (Costa Rica);
sostenible buscan armonizar el proceso
Ismael Clark (Cuba); Antonio Elizalde y Sara Larraín
económico con la conservación de la
(Chile); María Fernanda Espinosa y Sebastián Haji
Manchineri (Ecuador); LuisAlberto Franco naturaleza favoreciendo un balance entre la
(Guatemala); Luis Manuel Guerra, Beatriz Paredes y satisfacción de necesidades actuales y las de
Gabriel Quadri (México); Guillermo Castro (Panamá); las generaciones futuras. Sin embargo, pre-
Eloisa Tréllez (Perú); Juan Carlos Ramírez (CEPAL); tende realizar sus objetivos revitalizando el
Lorena San Román y Mirian Vilela (Consejo de la viejo mito desarrollista, promoviendo la
Tierra); Fernando Calderón (PNUD); Ricardo Sánchez falacia de u n crecimiento económico
y Enrique Leff (PNUMA). sostenible sobre la naturaleza limitada del
Unaprimeraversión del mismo fue presentadaante la planeta. Mas la crítica a esta noción del
SéptimaReunión del Comité Intersesional del Foro de desarrollo sostenible no invalida la verdad y
Ministros de Medio Ambiente de América Latina y el el sentido del concepto de sustentabilidad
Caribe, celebrada en San Pablo, Brasil, los días 15-17 para orientar la construcción de una nueva
de mayo de 2002. Lapresente versión esuna racionalidad social y productiva.
reelaboración de ese texto basadaen lasconsultas
realizadascon losparticipantesdel Simposio, asícomo 4. El concepto de sustentabilidad se funda
en loscomentariosde un grupo de personas, entre las
en el reconocimiento de los límites y
cualesagradecemoslassugerenciasde LuciaHelenade
potenciales de la naturaleza, así como la
Oliveira Cunha (Brasil); Diana Luque, Mario Núñez,
complejidad ambiental, inspirando una nueva
Armando Páez y José Romero (México). 17
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
T ópico
Especial

comprensión del mundo para enfrentar los cuerpo de normas de conducta que reoriente
desafíos de la humanidad en el tercer los procesos económicos y políticos hacia una
milenio. El concepto de sustentabilidad nueva racionalidad social y hacia formas
promueve una nueva alianza naturaleza-cul- sustentables de producción y de vida.
tu ra fu ndando u na nu eva economía,
reorientando los potenciales de la ciencia y 6. En la década que va de la Cumbre de Río
la tecnología, y construyendo una nueva cul- (1992) a la Cumbre de Johannesburgo (2002),
tura política fundada en una ética de la la economía se volvió economía ecológica, la
sustentabilidad - en valores, creencias, ecología se convirtió en ecología política, y la
sentimientos y saberes- que renuevan los diversidad cultural condujo a una política de
sentidos existenciales, los mundos de vida y la diferencia. La ética se está transmutando
las formas de habitar el planeta Tierra. en una ética política. De la dicotomía entre la
razón pura y la razón práctica, de la disyuntiva
5. Las políticas ambientales y del desarrollo entre el interés y los valores, la sociedad se
sostenible han estado basadas en un conjun- desplaza hacia una economía moral y una
to de principios y en una conciencia ecológica racionalidad ética que inspira la solidaridad
que han servido como los criterios para orien- entre los seres humanos y con la naturaleza.
tar las acciones de los gobiernos, las La ética para la sustentabilidad promueve la
instituciones internacionales y la ciudadanía. gestión participativa de los bienes y servicios
A partir del primer Día de la Tierra en 1970 y ambientales de la humanidad para el bien
de la Conferencia de Naciones Unidas sobre común; la coexistencia de derechos colectivos
Medio Ambiente Humano (Estocolmo, 1972) y e individuales; la satisfacción de necesidades
hasta la Conferencia de las Naciones Unidas básicas, realizaciones personales y
sobre Medio Ambiente y Desarrollo (Río 92) y aspiraciones culturales de los diferentes gru-
en el proceso de Río+10; desde La Primavera pos sociales. La ética ambiental orienta los
Silenciosa, La Bomba Poblacional y Los Límites procesos y comportamientos sociales hacia un
del Crecimiento, hasta Nuestro Futuro futuro justo y sustentable para toda la
Común, los Principios de Río y la Carta de la humanidad.
Tierra, un cuerpo de preceptos ha acompañado
a las estrategias del ecodesarrollo y las políti- 7. La ética para la sustentabilidad plantea
cas del desarrollo sostenible. Los principios del la necesaria reconciliación entre la razón y
desarrollo sostenible parten de la percepción la moral, de manera que los seres humanos
del mundo como "una sola tierra" con un "fu- alcancen un nuevo estadio de conciencia,
turo común" para la humanidad; orientan una autonomía y control sobre sus mundos de
nueva geopolítica fundada en "pensar global- vida, haciéndose responsables de sus actos
mente y actuar localmente"; establecen el hacia sí mismos, hacia los demás y hacia la
"principio precautorio" para conservar la vida naturaleza en la deliberación de lo justo y lo
ante la falta de certezas del conocimiento ci- bueno. La ética ambiental se convierte así
entífico y el exceso de imperativos tecnológicos en un soporte existencial de la conducta hu-
y económicos; promueven la responsabilidad mana hacia la natu raleza y de la
colectiva, la equidad social, la justicia sustentabilidad de la vida.
ambiental y la calidad de vida de las
generaciones presentes y futuras. Sin embar- 8. La ética para la sustentabilidad es una
go, estos preceptos del "desarrollo sostenible" ética de la diversidad donde se conjuga el
18 no se han traducido en una ética como un ethos de diversas culturas. Esta ética alimen-
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
T Eópico
special

ta una política de la diferencia. Es una ética entadas hacia la sustentabilidad. Entre ellos
radical porque va hasta la raíz de la crisis identificamos los siguientes:
ambiental para remover todos los cimientos Ét i ca de una pr oducci ón sust ent abl e
filosóficos, culturales, políticos y sociales de
esta civilización hegemónica, 11. La pobreza y la injusticia social son los
homogeneizante, jerárquica, despilfarradora, signos más elocuentes del malestar de
sojuzgadora y excluyente. La ética de la nuestra cultura, y están asociadas directa o
sustentabilidad es la ética de la vida y para indirectamente con el deterioro ecológico a
la vida. Es una ética para el reencantamiento escala planetaria y son el resultado de
y la reerotización del mundo, donde el deseo procesos históricos de exclusión económica,
de vida reafirme el poder de la imaginación, política, social y cultural. La división creciente
la creatividad y la capacidad del ser humano entre países ricos y pobres, de grupos de po-
para transgredir irracionalidades represivas, der y mayorías desposeídas, sigue siendo el
para indagar por lo desconocido, para pensar mayor riesgo ambiental y el mayor reto de la
lo impensado, para construir el por-venir de su stentab ilidad. La ética para la
una sociedad convivencial y sustentable, y sustentabilidad enfrenta a la creciente
para avanzar hacia estilos de vida inspirados contradicción en el mundo entre opulencia y
en la frugalidad, el pluralismo y la armonía miseria, alta tecnología y hamb ru na,
en la diversidad. explotación creciente de los recursos y
depauperación y desesperanza de miles de
9. La ética de la sustentabilidad entraña millones de seres humanos, mundialización
un nuevo saber capaz de comprender las de los mercados y marginación social. La
complejas interacciones entre la sociedad y justicia social es condición sine qua non de la
la naturaleza. El saber ambiental reenlaza los su stentab ilidad. Sin equ idad en la
víncu los indisolu b les de u n mu ndo distrib u ción de los b ienes y servicios
interconectado de procesos ecológicos, ambientales no será posible construir socie-
culturales, tecnológicos, económicos y dades ecológicamente sostenibles y social-
sociales. El saber ambiental cambia la mente justas.
percepción del mu ndo b asada en u n
pensamiento único y unidimensional, que se 12. La constru cción de sociedades
encuentra en la raíz de la crisis ambiental, sustentables pasa por el cambio hacia una
por un pensamiento de la complejidad. Esta civilización basada en el aprovechamiento de
ética promueve la construcción de una fu entes de energía renovab les,
racionalidad ambiental fundada en una económicamente eficientes y
nueva economía -moral, ecológica y cultural- ambientalmente amigables, como la energía
como condición para establecer un nuevo solar. El viraje del paradigma mecanicista al
modo de producción que haga viables estilos ecológico se está dando en la ciencia, en los
de vida ecológicamente sostenibles y social- valores y actitudes individuales y colectivas,
mente justos. así como en los patrones de organización so-
cial y en nuevas estrategias productivas,
10. La ética para la sustentabilidad se como la agroecología y la agroforestería. Tan-
nutre de un conjunto de preceptos, principios to los conocimientos científicos actuales,
y propu estas para reorientar los como los movimientos sociales emergentes
comportamientos individuales y colectivos, que pugnan por nuevas formas sustentables
así como las acciones públicas y privadas ori- de producción están abriendo posibilidades 19
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
T ópico
Especial

para la constru cción de u na nu eva "inteligencia colectiva" asentada en los avan-


racionalidad productiva, fundada en la ces de la cibernética y las tecnologías de la
productividad ecotecnológica de cada región información, la sumisión de la ciencia y la
y ecosistema, a partir de los potenciales de tecnología al interés económico y al poder
la naturaleza y de los valores de la cultura. político comprometen seriamente la
Esta nueva racionalidad productiva abre las supervivencia del ser humano; a su vez, la
perspectivas a un proceso económico que inequidad social asociada a la privatización
rompe con el modelo unificador, hegemónico y al acceso desigual al conocimiento y a la
y homogeneizante del mercado como ley su- información resultan moralmente injustos.
prema de la economía. La capacidad humana para trascender su
entorno inmediato e intervenir los sistemas
13. La ética para la sustentabilidad va naturales está modificando, a menudo de
más allá del propósito de otorgar a la manera irreversible, procesos naturales cuya
naturaleza un valor intrínseco universal, evolución ha tomado millones de años,
económico ó instru mental. Los b ienes desencadenando riesgos ecológicos fuera de
ambientales son valorizados por la cultura a todo control científico.
través de cosmovisiones, sentimientos y
creencias que son resultado de prácticas 15. El avance científico ha acompañado a
milenarias de transformación y co-evolución una ideología del progreso económico y del
con la naturaleza. El reconocimiento de los dominio de la naturaleza, privilegiando mo-
límites de la intervención cultural en la delos mecanicistas y cuantitativos de la
naturaleza significa también aceptar los realidad qu e ignoran las dimensiones
límites de la tecnología que ha llegado a su- cualitativas, subjetivas y sistémicas que
plantar los valores humanos por la eficiencia alimentan otras formas del conocimiento. El
de su razón utilitarista. La bioética debe fraccionamiento del pensamiento científico
moderar la intervención tecnológica en el lo ha inhabilitado para comprender y abordar
orden b iológico. La técnica deb e ser los problemas socio-ambientales complejos.
gobernada por un sentido ético de su potencia Si bien las ciencias y la economía han sido
transformadora de la vida. efectivas para intervenir sistemas naturales
Ética del conocimiento y diálogo de saberes y ampliar las fronteras de la información,
paradójicamente no se han traducido en una
14. La ciencia ha constituido el instru- mejoría en la calidad de vida de la mayoría de
mento más poderoso de conocimiento y la población mundial; muchos de sus efectos
transformación de la natu raleza, con más perversos están profundamente enrai-
capacidad para resolver problemas críticos zados en los presu pu estos, axiomas,
como la escasez de recursos, el hambre en el categorías y procedimientos de la economía
mundo y de procurar mejores condiciones de y de las ciencias.
bienestar para la humanidad. La búsqueda
del conocimiento a través de la racionalidad 16. La ciencia se debate hoy entre dos po-
científica ha sido u no de los valores líticas alternativas. Por una parte, seguir
sobresalientes del espíritu humano. Sin em- siendo la principal herramienta de la
bargo, se ha llegado a un dilema: al mismo economía mundial de mercado orientada por
tiempo que el pensamiento científico ha la búsqueda de la ganancia individual y el

20 ab ierto las posib ilidades para u na crecimiento sostenible. Por otra parte, está

Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
T Eópico
special

llamada a produ cir conocimientos y de incertidumbre, deben predominar sobre


tecnologías qu e promu evan la calidad las decisiones b asadas en el interés
ambiental, el manejo sustentable de los re- económico y en creencias infundadas en las
cursos naturales y el bienestar de los pueblos. virtudes del mercado para resolver los pro-
Para ello será necesario conju gar las blemas ambientales.
aportaciones racionales del conocimiento ci-
entífico con las reflexiones morales de la 19. La ética de la sustentabilidad remite a
tradición humanística abriendo la posibilidad la ética de un conocimiento orientada hacia
de un nuevo conocimiento donde puedan una nueva visión de la economía, de la
convivir la razón y la pasión, lo objetivo y lo sociedad y del ser humano. Ello implica pro-
subjetivo, la verdad y lo bueno. mover estrategias de conocimiento abiertas
a la hibridación de las ciencias y la tecnología
17. La eficacia de la ciencia le ha conferi- moderna con los saberes populares y locales
do una legitimidad dentro de la cultura en una política de la interculturalidad y el
hegemónica del Occidente como paradigma diálogo de saberes. La ética implícita en el
"por excelencia" de conocimiento, negando y saber ambiental recupera el "conocimiento
excluyendo los saberes no científicos, los sa- valorativo" y coloca al conocimiento dentro de
beres populares, los saberes indígenas, tanto la trama de relaciones de poder en el saber.
en el diseño de estrategias de conservación El conocimiento valorativo implica la
ecológica y en los proyectos de desarrollo recu peración del valor de la vida y el
sostenible, así como en la resolución de reencuentro de nosotros mismos, como se-
conflictos ambientales. Hoy los asuntos res humanos sociales y naturales, en un
cruciales de la sustentabilidad no son mu ndo donde prevalece la codicia, la
comprensibles ni resolubles solo mediante los ganancia, la prepotencia, la indiferencia y la
conocimientos de la ciencia, incluso con el agresión, sob re los sentimientos de
concu rso de u n cu erpo científico compasión, comprensión, solidaridad y
interdisciplinario, debido en parte al carácter sustentabilidad.
complejo de los asuntos ambientales y en
parte porqu e las decisiones sob re la 20. La ética de la sustentabilidad induce
su stentab ilidad ecológica y la ju sticia un cambio de concepción del conocimiento
ambiental ponen en juego a diversos sabe- de una realidad hecha de objetos por un sa-
res y actores sociales. Los juicios de verdad ber orientado hacia el mundo del ser. La
implican la intervención de visiones, comprensión de la complejidad ambiental
intereses y valores que son irreductibles al demanda romper el cerco de la lógica y abrir
juicio "objetivo" de las ciencias. el círculo de la ciencia que ha generado una
visión unidimensional y fragmentada del
18. La toma de decisiones en asuntos mundo. Reconociendo el valor y el potencial
ambientales demanda la contribución de la de la ciencia para alcanzar estadios de mayor
ciencia para tener información más precisa bienestar para la humanidad, la ética de la
sobre fenómenos naturales. Es el caso del sustentabilidad conlleva un proceso de
calentamiento global del planeta, donde las reapropiación social del conocimiento y la
predicciones científicas sob re la orientación de los esfuerzos científicos hacia
vulnerabilidad ecológica y los riesgos socio- la solución de los problemas más acuciantes
ambientales, a pesar de su inevitable grado de la humanidad y los principios de la
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T ópico
Especial

sustentabilidad: una economía ecológica, interrelaciones sistémicas del mundo


fuentes renovables de energía, salud y calidad objetivado de lo ya dado, se abre hacia lo infini-
de vida para todos, erradicación de la pobreza to del mundo de lo posible y a la creación de "lo
y seguridad alimentaria. El círculo de las que aún no es". Es la educación para la
ciencias debe abrirse hacia un campo construcción de un futuro sustentable,
epistémico qu e inclu ya y favorezca el equitativo, justo y diverso. Es una educación
florecimiento de diferentes formas culturales para la participación, la autodeterminación y
de conocimiento. El saber ambiental es la la transformación; una educación que permi-
apertura de la ciencia interdisciplinaria y ta recuperar el valor de lo sencillo en la
sistémica hacia un diálogo de saberes. complejidad; de lo local ante lo global; de lo di-
verso ante lo único; de lo singular ante lo uni-
21. La ética de la sustentabilidad implica versal.
revertir el principio de "pensar globalmente Ética de la ciudadanía global, el espacio
y actuar localmente". Este precepto lleva a público y los movimientos sociales
una colonización del conocimiento a través
de una geopolítica del saber que legitima el 23. La globalización económica está
pensamiento y las estrategias formuladas en llevando a la privatización de los espacios
los centros de poder de los países públicos. El destino de las naciones y de la
"desarrollados" dentro de la racionalidad del gente está cada vez más conducido por
proceso dominante de glob alización procesos económicos y políticos que se
económica, para ser reproducidos e implan- deciden fuera de sus esferas de autonomía
tados en los países "en desarrollo" o "en y responsabilidad. El movimiento ambiental
transición", en cada localidad y en todos los ha genera do la emergencia de u na
poros de la sensib ilidad hu mana. Sin ciudadanía global que expresa los derechos
desconocer los aportes de la ciencia para de todos los pueblos y todas las personas a
transitar hacia la su stentab ilidad, es participar de manera individual y colectiva
necesario repensar la globalidad desde la en la toma de decisiones que afectan su
localidad del saber, arraigado en un territorio existencia, emancipándose del poder del
y una cultura, desde la riqueza de su Estado y del mercado como organizadores de
heterogeneidad, diversidad y singularidad; y sus mundos de vida.
desde allí reconstruir el mundo a través del
diálogo intercu ltu ral de sab eres y la 24. El sistema parlamentario de las demo-
hibridación de los conocimientos científicos cracias modernas se encuentra en crisis por-
con los saberes locales. que la esfera pública, entendida como el
espacio de interrelación dialógica de
22. La educación para la sustentabilidad debe aspiraciones, voluntades e intereses, ha sido
entenderse en este contexto como una desplazada por la negociación y el cálculo de
pedagogía basada en el diálogo de saberes, y interés de los partidos que, convertidos en gru-
orientada hacia la construcción de una pos de presión, negocian sus respectivas opor-
racionalidad ambiental. Esta pedagogía incor- tunidades de ocupar el poder. Para resolver las
pora una visión holística del mundo y un paradojas del efecto mayoría es necesario pro-
pensamiento de la complejidad. Pero va más piciar una política de tolerancia y participación
allá al fundarse en una ética y una ontología de las disidencias y las diferencias. Asimismo
de la otredad que del mundo cerrado de las debe alentarse los valores democráticos para
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T Eópico
special

practicar una democracia directa. "desarrollado".


25. La democracia directa se funda en un Ét i ca de l a gober nabi l i dad gl obal y l a
principio de participación colectiva en los democracia participativa
procesos de toma de decisiones sobre los
asuntos de interés común. Frente al proyecto 28. La ética para la sustentabilidad apela
de democracia liberal que legitima el dominio a la responsabilidad moral de los sujetos, los
de la racionalidad del mercado, la democracia grupos sociales y el Estado para garantizar la
ambiental reconoce los derechos de las comu- continuidad de la vida y para mejorar la
nidades autogestionarias fundadas en el calidad de la vida. Esta responsabilidad se
respeto a la soberanía y dignidad de la persona funda en principios de solidaridad entre es-
humana, la responsabilidad ambiental y el feras políticas y sociales, de manera que sean
ejercicio de procesos para la toma de decisiones los actores sociales quienes definan y
a partir del ideal de una organización basada legitimen el orden social, las formas de vida,
en los vínculos personales, las relaciones de las prácticas de la sustentabilidad, a través
trabajo creativo, los grupos de afinidad, y los del establecimiento de un nuevo pacto
cabildos comunales y vecinales. ciudadano y de un debate democrático, basado
en el respeto mutuo, el pluralismo político y
26. El ambientalismo es un movimiento so- la diversidad cultural, con la primacía de una
cial que, nacido de esta época de crisis opinión pú b lica crítica actu ando con
civilizatoria marcada por la degradación autonomía ante los poderes del Estado.
ambiental, el individualismo, la fragmentación
del mundo y la exclusión social, nos convoca a 29. La ética de la sustentabilidad cuestiona
pensar sobre el futuro de la vida, a cuestionar el las formas vigentes de dominación
modelo de desarrollo prevaleciente y el concepto establecidas por las diferencias de género,
mismo de desarrollo, para enfrentar los límites etnia, clase social y opción sexual, para
de la relación de la humanidad con el planeta. establecer una diversidad y pluralidad de
La ética de la sustentabilidad nos confronta con derechos de la ciudadanía y la comunidad. Ello
el vínculo de la sociedad con la naturaleza, con implica reconocer la imposibilidad de conso-
la condición humana y el sentido de la vida. lidar una sociedad democrática dentro de las
grandes inequidades económicas y sociales
27. La ética para la construcción de una en el mundo y en un escenario político en el
sociedad sustentable conduce hacia un cual los actores sociales entran al juego de-
proceso de emancipación que reconoce, como mocrático en condiciones de desigualdad y
enseñaba Paulo Freire, que nadie libera a donde las mayorías tienen nulas o muy limi-
nadie y nadie se libera sólo; los seres huma- tadas posibilidades de participación.
nos sólo se liberan en comunión. De esta
manera es posible superar la perspectiva 30. La ética para la sustentabilidad deman-
"progresista" que pretende salvar al otro (al da un nuevo pacto social. Este debe fundarse
indígena, al marginado, al pobre) dejando de ser en un marco de acuerdos básicos para la
él mismo para integrarlo a un ser ideal uni- construcción de sociedades sustentables que
versal, al mercado global ó al Estado nacional; incluya nuevas relaciones sociales, modos de
forzándolo a ab andonar su ser, su s producción y patrones de consumo. Estos
tradiciones y sus estilos de vida para acuerdos deben incorporar la diversidad de
convertirse en u n ser "moderno" y estilos culturales de producción y de vida;
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Especial

reconocer los disensos, asumir los conflictos, avanzar hacia la nueva alianza solidaria con
identificar a los ausentes del diálogo e incluir una civilización de la diversidad y una cultu-
a los excluidos del juego democrático. Estos ra de baja entropía, presupone el primado de
principios éticos condu cen hacia la una ética implicada en una nueva visión del
construcción de una racionalidad alternati- mundo que nos disponga para una
va que genere sociedades sustentables para transmutación de los valores que funden un
los millones de pobres y excluidos de este nuevo contrato social. En las circunstancias
mundo globalizado, reduciendo la brecha en- actuales de bancarrota moral, ecológica y po-
tre crecimiento y distrib u ción, entre lítica, este cambio de valores es un imperati-
participación y marginación, entre lo vo de supervivencia.
deseable y lo posible.
33. La concepción moral de la modernidad
31. Una ética para la sustentabilidad debe ha tendido a favorecer las acciones regidas por
inspirar nu evos marcos ju rídico- la racionalidad instrumental y el interés
institucionales que reflejen, respondan y se económico, al tiempo que ha diluido la
adapten al carácter tanto global y regional, sensibilidad que permite diferenciar un
como nacional y local de las dinámicas eco- comportamiento utilitarista de otro fundado en
lógicas, así como a la revitalización de las valores sustantivos e intrínsecos. La
culturas y sus conocimientos asociados. Esta complejidad creciente del mundo moderno ha
nueva institucionalidad debe contar con el erradicado una visión universal del bien o un
mandato y los medios para hacer frente a las principio trascendental de lo justo que sirvan
inequidades en la distribución económica y de cimiento para el vínculo social solidario.
ecológica, la concentración de poder de las La ética de la sustentabilidad debe ser una
corporaciones transnacionales, la corrupción ética aplicada que asegure la coexistencia
e ineficacia de los diferentes órganos de entre visiones rivales en un mundo
gobierno y gestión, y para avanzar hacia for- constituido por una diversidad de culturas y
mas de gobernabilidad más democráticas y matrices de racionalidad, centradas en dife-
participativas de la sociedad en su conjunto. rentes ideas del bien.
Ética de los derechos, la justicia y la de-
mocracia 34. Si lo que caracteriza a las sociedades
contemporáneas es el poder científico sobre
32. El derecho no es la justicia. La la naturaleza y el poder político sobre los se-
racionalidad jurídica ha llevado a privilegiar res humanos, la ética para la sustentabilidad
los procesos legales por encima de normas debe formular los principios para prevenir que
sustantivas, desatendiendo así el cualquier bien social sirva como medio de
establecimiento de un vínculo social fundado dominación. Existiendo diferentes bienes
en principios éticos, así como la aplicación de sociales, su distribución configura distintas
principios esenciales para garantizar el esferas de justicia, cada una de las cuales
ejercicio de los derechos humanos debe ser autónoma y dotada de reglas propias.
fundamentales, ambientales y colectivos. De esta complejidad de los bienes sociales
Apoyados en la Declaración Universal de los nace la noción de equidad compleja resultan-
Derechos Humanos, todos tenemos derecho a te de la intersección entre el proyecto de
las mismas oportunidades, a tener derechos combatir la dominación y el programa de
comunes y diferenciados. El proyecto para diferenciación de esferas de la justicia.
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35. Si la dominación es una de las for- 37. Los actuales procesos de intervención
mas esenciales del mal, abolirla es el bien tecnológica, de revalorización económica y
supremo. Ello significa desatar los nudos del de reapropiación social de la naturaleza
pensamiento y las estrategias de poder en están planteando la necesidad de establecer
el saber que nos someten a los distintos dis- los principios de una bioética junto con una
positivos de sojuzgamiento activados en ética de los bienes y servicios ambientales.
ideologías e instituciones sociales. La lucha Los bienes comunales no son bienes libres,
contra la dominación es un proyecto moral sino que han sido significados y transforma-
cuyo núcleo consiste en cultivar una ética dos por valores comunes de diferentes cul-
de las virtudes que nos permita renunciar a turas. Los bienes públicos no son bienes de
los valores morales, los sistemas de libre acceso pues deben ser aprovechados
organización política y los artefactos para el b ien comú n. Hoy, los "b ienes
tecnológicos que han servido como medios comunes" están sujetos a las formas de
de dominación. Es al mismo tiempo un propiedad y normas de uso donde confluyen
proyecto cultural para avanzar hacia la de manera conflictiva los intereses del Es-
reinvención ética y estética de la mente, los tado, de las empresas transnacionales y de
modelos económico-sociales y las relaciones los pueblos en la redefinición de lo propio y
naturaleza-cultura que configuran el estilo de lo ajeno; de lo público y lo privado; del
de vida dominante en esta civilización. Se patrimonio de los pueblos, del Estado y de la
trata de una ética de las virtudes personales humanidad. Los bienes ambientales son una
y cívicas que garantice el respeto de una intrincada red de bienes comunales y bienes
base mínima de deberes positivos y negati- públicos donde se confrontan los principios
vos, que asegure las normas básicas de de la libertad del mercado, la soberanía de
convivencia para la sustentabilidad. los Estados y la autonomía de los pueblos.

36. La ética para la sustentabilidad es una 38. La ética del bien común se plantea como
ética de los derechos fu ndamentales una ética para la resolución del conflicto de
predicables que promueve la dignidad huma- intereses entre lo común y lo universal, lo pú-
na como el valor más alto y condición funda- blico y lo privado. La ética del orden público y
mental para reconstruir las relaciones del ser los derechos colectivos confrontan a la ética
humano con la naturaleza. Es una ética de del derecho privado como mayor baluarte de
la solidaridad que rebasa el individualismo la civilización moderna, cuestionando al mer-
para fundarse en el reconocimiento de la cado y la privatización del conocimiento -la
otredad y de la diferencia; una ética demo- mercantilización de la naturaleza y la
crática participativa qu e promu eve el privatización y los derechos de propiedad in-
pluralismo, que reconoce los derechos de las telectual- como principios para definir y legi-
minorías y las protege de los abusos que les timar las formas de posesión, valorización y
pueden causar los diferentes grupos de po- usufructo de la naturaleza, y como el medio
der. El bien común es asegurar la producción privilegiado para alcanzar el bien común.
y procu ración de ju sticia para todos, Frente a los derechos de propiedad privada y
respetando lo propio de cada quién y dando a la idea de un mercado neutro en el cual se
cada cual lo suyo. expresan preferencias individuales como fun-
Ét i c a de l os bi enes c om unes y del Bi en damento para regular la oferta de bienes pú-
blicos, hoy emergen los derechos colectivos de
Común
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los pueblos, los valores culturales de la des culturales. Una ética de la diversidad cul-
naturaleza y las formas colectivas de propiedad tural implica una pedagogía de la otredad para
y manejo de los bienes comunales, definiendo aprender a escuchar otros razonamientos y
una ética del bien común y confrontando las otros sentimientos. Esa otredad incluye la
estrategias de apropiación de la biodiversidad espiritualidad de las poblaciones indígenas,
por parte de las corporaciones de la industria sus conocimientos ancestrales y sus prácticas
de la biotecnología. tradicionales, como una contribución funda-
mental de la diversidad cultural a la
39. La ética de la sustentabilidad implica sustentabilidad humana global.
cambiar el principio del egoísmo individual
como generador de bien común por un 42. Para los pueblos indígenas y afro-
altru ismo fu ndado en relaciones de descendientes, así como para muchas socie-
reciprocidad y cooperación. Esta ética está dades campesinas y organizaciones popula-
arraigando en movimientos sociales ascen- res, la ética de la sustentabilidad se traduce
dentes, en grupos culturales crecientes, que en una ética del respeto a sus estilos de vida
hoy en día comienzan a enlazarse en torno y a sus espacios territoriales, a sus hábitos y
de redes ciudadanas y de foros sociales a su hábitat, tanto en el ámbito rural como
mundiales en la nueva cultura de solidaridad. en el urbano. La ética se traduce en prácticas
Ética de la diversidad cultural y de una sociales para la protección de la naturaleza,
pol í t i ca de l a di fer enci a la garantía de la vida y la sustentabilidad
humana. Los conocimientos ancestrales, por
40. El discurso del "desarrollo sostenible" pre- su carácter colectivo, se definen a través de
coniza un futuro común para la humanidad, mas sus propias cosmovisiones y racionalidades
no incluye adecuadamente las visiones diferen- culturales y contribuyen al bien común del
ciadas de los diferentes grupos sociales pueblo al que pertenecen. Por ello sus sabe-
involucrados, y en particular, de las poblaciones res, su naturaleza y su cultura no deben ser
indígenas que a lo largo de la historia han convi- sometidos al uso y a la propiedad privados.
vido material y espiritualmente en armonía con
la naturaleza. La sustentabilidad debe estar 43. En las cosmovisiones de los pueblos in-
basada en un principio de integridad de los valo- dígenas y afro-descendientes, así como de
res humanos y las identidades culturales, con muchas comunidades campesinas, la
las condiciones de productividad y regeneración naturaleza y la sociedad están integradas den-
de la naturaleza, principios que emanan de la tro de un sistema biocultural, donde la
relación material y simbólica que tienen las organización social, las prácticas productivas,
poblaciones con sus territorios, con los recursos la religión, la espiritualidad y la palabra
naturales y el ambiente. Las cosmovisiones de integran un ethos que define sus estilos propios
los pueblos ancestrales están asentadas en y son de vida. La ética remite a un concepto de
fuente inspiradora de prácticas culturales de uso bienestar que incluye a la "gran familia" y no
sustentable de la naturaleza. únicamente a las personas. Este vivir bien de
la comunidad se refiere al logro de su bienestar
41. La ética para la sustentabilidad acoge fundado en sus valores culturales e identida-
esta diversidad de visiones y saberes, y con- des propias. Las dinámicas demográficas, de
testa todas las formas de dominación, movilidad y ocupación territorial, así como las

26 discriminación y exclusión de sus identida- prácticas de uso y manejo de la biodiversidad,

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se definen dentro de una concepción de la 46. La capacidad argumentativa ha permiti-


trilogía territorio-cultura-biodiversidad como un do a los seres humanos usar el juicio racional y
todo íntegro e indivisible. El territorio se define la retórica para mantener y defender posiciones
como el espacio para ser y la biodiversidad como e intereses individuales y de grupo frente al bien
un patrimonio cultural que permite al ser per- común y de las mayorías. Sólo un juicio moral
manecer; por tanto la existencia cultural es puede dirimir y superar las controversias entre
condición para la conservación y uso juicios racionales igualmente legítimos. La
sustentable de la biodiversidad. Estas función de la inteligencia no es sólo la de razonar
concepciones del mundo están generando lógicamente, conocer y crear productivamente,
nuevas alternativas de vida para muchas co- sino la de orientar sabiamente el
munidades rurales y urbanas. comportamiento y dar sentido a la existencia.
Estas son funciones éticas del bien vivir. En este
44. El derecho inalienable de los pueblos a sentido, la ética enaltece a la razón. La dignidad,
su ser cultural debe llevar a una nueva ética la identidad y la autonomía de las personas
de los derechos de los pueblos frente al Estado. aparecen como derechos fundamentales del ser
La ética para la sustentabilidad abre así los a existir y a ser respetado.
cauces para recuperar identidades, para vol-
ver a preguntarnos quienes somos y quienes 47. Si todo orden social -incluso el democrá-
queremos ser. Es una ética para volver a tico- supone formas de exclusión, en cada
nuestras raíces y mirar al futuro. Una ética escenario de negociación se debe incluir a to-
para reconocernos y regenerar lazos de dos los grupos afectados e interesados. Esta
comunicación y solidaridad desde nuestras di- transparencia es fundamental en los procesos
ferencias y para no seguir atropellando al otro. de resolución de conflictos ambientales por la
Una ética para reestablecer la confianza entre vía del diálogo y la negociación, sobretodo si con-
los seres humanos y entre los pueblos sideramos que las comunidades e individuos
sojuzgados, haciendo realidad los preceptos de más afectados por la crisis ambiental en todas
la Declaración Universal de los Derechos Hu- sus manifestaciones son justamente los más
manos. pobres, los subalternos y los excluidos del es-
Ét i ca de l a paz y el di ál ogo par a l a quema de la democracia liberal.
resolución de conflictos
48. Para que la ética se convierta en un
45. El peor mal de la humanidad es la guer- criterio operativo qu e permita dirimir
ra que aniquila la vida y aplasta a la conflictos entre actores en diferentes esca-
naturaleza, así como la violencia física y sim- las y poderes desiguales, será necesario un
bólica que desconoce la dignidad humana y acuerdo de principios de igualdad que sea
el derecho del otro. La ética para la asumido y practicado por todos los actores de
sustentabilidad es la ética de una cultura de la sustentabilidad. Ello implica reconocer la
paz y de la no-violencia; de una sociedad que especificidad de los diferentes actores y
resuelva sus conflictos a través del diálogo. sectores sociales con sus impactos ecológi-
Esta cultura de diálogo y paz sólo puede darse cos, responsabilidades, intereses y deman-
dentro de una sociedad de personas libres das, y en su s diferentes escalas de
donde se construyan acuerdos y consensos intervención: local, nacional, internacional.
en procesos en los cuales también haya lu- Para ello es necesario superar las dicotomías
gar para los disensos. entre países ricos y pobres, así como las
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Especial

oposiciones convencionales entre Norte/Sur, 51. La ética de la sustentabilidad coloca a la


Estado/sociedad civil, esfera pública/esfera vida por encima del interés económico-político
privada, de manera que se identifiquen los o práctico-instrumental. La sustentabilidad sólo
valores, intereses y responsabilidades de será posible si regeneramos el deseo de vida
actores concretos dentro de las controversias que sostiene los sentidos de la existencia hu-
puestas en juego por grupos sociales, mana. La ética de la sustentabilidad es una
corporaciones, empresas y Estados específi- ética para la renovación permanente de la vida,
cos. Este ejercicio es fundamental para que donde todo nace, crece, enferma, muere y
las políticas, las decisiones y los compromisos renace. La preservación del ciclo permanen-
adoptados correspondan con las responsabi- te de la vida implica saber manejar el tiempo
lidades diferenciadas y con las condiciones para que la tierra se renueve y la vida
específicas de los actores involucrados. florezca en todas sus formas conviviendo en
É t i c a d e l se r y e l t i e m p o d e l a armonía en los mundos de vida de las
sustentabilidad personas y las culturas.

49. La ética de la sustentabilidad es una éti- 52. La ética de la sustentabilidad se nutre


ca del ser y del tiempo. Es el reconocimiento de del ser cultural de los pueblos, de sus formas
los tiempos diferenciados de los procesos de saber, del arraigo de sus saberes en sus iden-
naturales, económicos, políticos, sociales y tidades y de la circulación de saberes en el
culturales: del tiempo de la vida y de los ciclos tiempo. Estos legados culturales son los que
ecológicos, del tiempo que se incorpora al ser de hoy abren la historia y permiten la emergencia
las cosas y el tiempo que encarna en la vida de de lo nuevo a través del diálogo intercultural y
los seres humanos; del tiempo que marca los transgeneracional de saberes, fertilizando los
ritmos de la historia natural y la historia social; caminos hacia un futuro sustentable.
del tiempo que forja procesos, acuña identida-
des y desencadena tendencias; del encuentro Epílogo
de los tiempos culturales diferenciados de di-
versos actores sociales para generar consultas, 53. La ética para la sustentabilidad es una
consensos y decisiones dentro de sus propios ética del bien común. Este Manifiesto ha sido
códigos de ética, de sus usos y costumbres. producido en común para convertirse en un
bien común; en este sentido, busca inspirar
50. La vida de u na especie, de la principios y valores, promover razones y
humanidad y de las culturas no concluye en sentimientos, y orientar procedimientos,
u na generación. La vida individu al es acciones y conductas, hacia la construcción
transitoria, pero la aventura del sistema vivo de sociedades sustentables.
y de las identidades colectivas trasciende en
el tiempo. El valor fundamental de todo ser 54. Este Manifiesto no es un texto defi-
vivo es la perpetuación de la vida. El mayor nitivo y acabado. La ONU, los gobiernos, las
valor de la cultura es su apertura hacia la organizaciones ciudadanas, los centros
diversidad cultural. La construcción de la educativos y los medios de comunicación de
sustentabilidad está suspendida en el tiempo, todo el mundo deberán contribuir a difun-
en una ética transgeneracional. El futuro dir este Manifiesto para propiciar un am-
sustentable sólo será posible en un mundo plio diálogo y debate que conduzcan a
en el que la naturaleza y la cultura continúen establecer y practicar una ética para la
28 co-evolucionando. sustentabilidad.

Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
R elato
de Experiência

Melhoramento de Campo Nativo


em São Francisco de Paula

M e s s ia s , L u is G . P .* Um a das pr em issas par a a im plan t ação


Rie s , J a im e E.* * da pr opost a foi qu e, além de t écn ica e eco-
n om icam en t e viável, a pr opost a dever ia ser
ain da am bien t alm en t e adequ ada e cu lt u r al-
m en t e acei t a.
1 Síntese A exper iência obteve com o r esu ltado pr o-
A exper iên cia do Melh or am en t o do Cam po du ções de até 400 k g/ ha/ ano de carne de qu a-
Nat ivo em São Fr an cisco de Pau la t r at a do lidade e u m au m ento significativo na pr odu -
plan t io dir et o de legu m in osas e gr am ín eas ção de qu eijo serrano, produ to típico da região.
de in ver n o n os cam pos n at ivos do m u n icípio.
A m otivação par a o desenvolvim ento da ex- 2 Contexto e trajetória
per iência foi a necessidade de encontr ar u m a
alter nativa par a tor nar com petitiva a pecu á-
da região
r ia do m u nicípio, qu e apr esenta baixíssim os O m u n icípio de São Fr an cisco de Pau la lo-
índices de pr odu tividade, devido à fom e dos caliza-se n a r egião fisiogr áfica dos Cam pos
r ebanhos no per íodo ou tono-inver no. de Cim a da Ser r a e é u m dos m aior es m u n i-
cípios do Rio Gr an de do Su l, ocu pan do u m a
* Engenheiro Agrônomo da EMATER/RS ár ea t ot al de 3.269 Km ². É dividido adm in is-
* * Zootecnista da EMATER/RS, Mestre em t r at ivam en t e em set e dist r it os, com post os por
Nutrição Animal cin qü en t a e t r ês localidades. 29
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
R elato
de Experiência

cl assi fi cad os com o sol os d a Cl asse VI . Ra-


sos, com aflor am ento de r ochas, pr ópr ios par a
o cu ltivo de pastagens per enes e a silvicu ltu -
r a. Em al gu m as ár eas é p ossível a ex p l o-
r ação d a fr u t i cu l t u r a. O r el evo é on d u l a-
d o, com ex t en sos cox i l h ões, car act er íst i -
cos dest a r egi ão do Est ado. As al t i t u des va-
r i am en t r e 4 0 0 e 1 .0 5 0 m et r os aci m a d o
n ível d o m ar .
O m u n icípio é bem ser vido de águ a, sen -
do as agu adas con st it u ídas por r ios e por u m
gr an de n ú m er o de r iach os, cór r egos e abu n -
dan t es ver t en t es. Os ín dices plu viom ét r icos
est ão em t or n o de 1.800 a 2.000 m ilím et r os
A popu lação total do m u n icípio é de 19.706 an u ais, bem dist r ibu ídos.
h abit an t es. Dest es, 12.253 r esidem n a zon a A cober t u r a veget al é con st it u ída de cam -
u r ban a e 7.453 h abit am a zon a r u r al. A den - p o n a t i v o , o n d e p r ed o m i n a o C a p i m
sidade popu lacion al do m u n icípio com o u m Can i n h a, en t r em eados por capões de m at o.
t odo é de apr oxim adam en t e 6 h abit an t es por O cam p o n at i vo ap r esen t a qu al i d ad e e
qu ilôm et r o qu adr ado. Na ár ea r u r al, é bas- abu n dân ci a de m assa ver de n o per íodo de
t an t e m en or , sit u an do-se em t or n o de 2,3 pr i m aver a- ver ão. No en t an t o, a pr odu ção e
h abi t an t es/ Km ². a qu al i dade bai xam , acen t u adam en t e, n o
Os pr i m ei r os h abi t an t es de São Fr an ci s- per íodo de i n ver n o.
co de Pau l a for am os ín di os Caágu as. Es- O clim a é t ipicam en t e t em per ado fr io, com
t es for am os ú l t i m os r epr esen t an t es i n dí- as segu in t es t em per at u r as m édias:
gen as da r egi ão e podem ser con si der ados
com o par t e do t r on co or i gi n ár i o dos h abi - • Pr im aver a .................................... 13,9 ºC
t an t es qu e i n i ci ar am o povoam en t o da Ser - • Ver ão ............................................ 19,8 ºC
r a. Con t a- se qu e o povoado, h oj e ci dade de • Ou ton o .......................................... 14,7 ºC
São Fr an ci sco de Pau l a, i n i ci ou - se com o • In ver n o ........................................... 9,7 ºC
Capi t ão Pedr o da Si l va Ch aves, de Li sboa,
Por t u gal . A dat a de em an ci pação é 07 de No i n ver n o, t em per at u r as em t or n o de
j an ei r o de 1903. 0ºC são fr eqü en t es.
O ser r an o, p or n at u r eza, é vol t ad o ao O m u n i cípi o de São Fr an ci sco de Pau l a é
t r ad i ci on al i sm o. Tal vez p or i n fl u ên ci a d a con st i t u ído de pequ en as e m édi as pr opr i e-
pr ópr i a pecu ár i a da r egi ão. Os CTGs, r o- dades r u r ais. Pr opr iedades com at é 500 h ec-
d ei os, fest as cam p ei r as e os t or n ei os d e t ar es r epr esen t am 94,56% do t ot al e pr opr i -
l aço são par t es i m por t an t es da cu l t u r a des- edades com at é 200 h ect ar es r epr esen t am
se povo. 84,10%.
Os sol os são d e n at u r eza ar gi l o- ar en o- A pecu ár ia de cor t e é a pr in cipal at ividade
sa, fr acos e p er m eávei s. São b ast an t e áci - agr opecu ár ia em t er m os de est abelecim en -
d os, com el evad os n ívei s d e al u m ín i o, p o- t os en volvidos. As in for m ações do qu adr o aci-
b r es em fósfor o d i sp on ível e com al t os t e- m a dem on st r am t r at ar -se de u m a r egião de

30 or es d e p ot ássi o e m at ér i a or gân i ca. São pecu ár ia explor ada em pequ en as ár eas.

Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
R elato
de Experiência

Quadro1- UsodaterranomunicípiodeSãoFranciscodePaula.

¹-Incluídosaproximadamente20.000hectaresdematanativa. Fonte:EMATER-RS/EscritórioMunicipaldeSãoFranciscodePaula.
Em função da atividade ser desenvolvida de explor ação bovin a, é u t ilizada par a elim in ar
forma intensiva com carência de tecnologia e a sobr a de past o seco, qu eim ado pelas geadas
recursos financeiros compatíveis, as áreas com do in ver n o e qu e n ão foi con su m ido pelos
até 200 hectares geram uma renda bruta anu- an im ais devido a su a baixa qu alidade. Além
al de R$ 10.000,00, insuficientes para que o pro- das qu eim adas, qu e apesar de pr oibidas n o
dutor e sua família tenham uma vida digna. Est ado, con t in u am sen do u t ilizadas, ocor r em
Em fu n ção dos baixos ín dices de pr odu tivi- ou tr os sér ios pr oblem as am bientais na r egião,
dade da pecu ár ia, os pr odu t or es cost u m am qu ais sejam o avanço das plantações de pinu s,
au m en t ar a su a r en da at r avés da pr odu ção e de alh o e de bat at a. As cu lt u r as de alh o e
com er cialização de u m qu eijo t ípico, con h e- bat at a t êm u m lim it e bem est abelecido em
cido com o qu eijo ser r an o. Em m u it as pr opr i- fu n ção de qu e apen as 5 a 6 % das ár eas do
edades, a r en da desse pr odu t o at in ge 50 % da m u n icípio são passíveis de m ecan ização.
r en da br u t a t ot al. No en t an t o, r evest em -se de r isco n a m e-
A pr át ica de m an ejo t r adicion al do cam po d i d a q u e s ã o c u l t u r a s a l t a m en t e
n at ivo é a qu eim a r ealizada en t r e os m eses dem an dador as de in su m os qu ím icos, cu lt iva-
de ju lh o e agost o. Essa pr át ica, r ealizada des- d a s c om u m a gr a n d e m ob i l i za ç ã o e
de os pr im ór dios da ocu pação da ár ea com a desest r u t u r ação do sol o. Ger al m en t e, são

Quadro2-Demonstrativodaestruturadeproduçãoedosíndicesdeprodutividadedapecuáriadomunicípio.

¹-Mortalidadedecordeiros-Fonte:EMATER-RS/EscritórioMunicipaldeSãoFranciscodePaula 31
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
R elato
de Experiência

explor adas por ar r en dat ár ios de for a do m u - odo ou tono-inverno. Estes índices, fu tu ramen-
n icípio, por 3 a 4 an os, m u it as vezes sem a te, inviabilizar iam a pecu ár ia no m u nicípio.
adoção das pr ecau ções n ecessár ias par a evi- O in ício da exper iên cia deu -se em u m gr u -
t ar a er osão do solo e a con t am in ação dos r e- po de pr odu t or es ch am ado CITE-78, n as pr o-
cu r sos h ídr icos. pr iedades dos sen h or es Iban ês Pôr t o, J osé
Tam bém o plantio de pin u s, da for m a com o Lau r i Mor eir a de Lu cen a, Ar ist eu Gil Alves,
se est abelece n a r egião, pode pr ovocar gr an - Pau lo Ner eu Alves, J oão Mor eir a de Lu cen a
de im pact o, u m a vez qu e ger alm en t e são cu l- e Mar ia Elizabet h Zan at a Car doso, em 1992.
t ivados gr an des m aciços flor est ais con t ín u os O qu e a t or n ou possível foi a or gan ização
de pr opr iedade das m adeir eir as ou gr an des dos pr odu t or es, qu e acr edit ar am e der am su -
pr opr iet ár ios. Mu it os in vest idor es dessa at i- por te. Com o aspecto positivo, podem os r essal-
vidade são de for a do m u n icípio e adqu ir em t ar a per sist ên cia da assist ên cia t écn ica em
ár eas exclu sivam en t e par a r eflor est am en t o. acr edit ar n a viabilidade t écn ica e econ ôm i-
Esses maciços florestais aniqu ilam a biodi- ca e n a su st en t abilidade. Com o debilidade,
versidade, transformam a paisagem e podem cit am os a falt a de pesqu isa a r espeit o.
no fu tu ro preju dicar o desenvolvimento do tu - 3 .2 De sc r i ç ão d a e x p e r i ê nc i a
rismo na região, u ma das mais belas do Rio
Grande do Su l. Ou tro fator preocu pante é o fato Passo s d a e x p e r i ê nc i a
desses plantios ocorrerem mu itas vezes sobre
Escolha do Local: baseados no Zoneamento
os melhores campos nativos da região.
Agrícola, temos u m u niverso de 237.003 hec-
A baixa r entabilidade atu al da pecu ár ia e a
tares, nu m percentu al de 72,5% de área total
aptidão da r egião par a o r eflor estam ento po-
do mu nicípio, para implantarmos u m progra-
derão contr ibu ir par a a exclu são de u m gr an-
ma. Na experiência, foi u tilizado u m percentu al
de nú m er o de pecu ar istas, pr incipalm ente os
de no máximo 20% da área de cada proprieda-
fam iliar es, em fu nção da venda de su as pr o-
de escolhida, para qu e a mesma fosse testada.
pr iedades par a investidor es do r am o m adei-
An álise de Solo: a an álise de solo é im por -
r ei r o.
t an t e e i m pr esci n dível par a con h ecer m os
su as deficiên cias n u t r it ivas e poder m os in -
t er pr et ar su as n ecessidades.
3 Descrição da experiência Calagem : a cor r eção da acidez é feit a com
propriamente dita a u t ilização de calcár io, u t ilizan do-se apen as
¼ da r ecom en dação da an álise de solo, em
cober t u r a, sem in cor por ação, 2 a 3 m eses an -
t es da sem eadu r a.
3 .1 Co nt e x t o at ual d a e x p e r i ê nc i a
Adu bação: em m édia, 250 k g/ h a de adu bo
A exper iên cia foi con du zida em pr opr ieda- fór m u la NPK (07-30-13), ou sim ilar , são su fi-
des cu ja at ividade pr in cipal é a pecu ár ia com cien t es. Par a m aior segu r an ça, n o en t an t o,
ár eas de at é 250 h ect ar es e r en da br u t a an u al observar as recomendações da análise de solo.
de R$ 10.000,00. O ecossist em a dest as pr o- Em solos m u it o pobr es em fósfor o, dever á ser
pr iedades é bast an t e pr eser vado. feit a u m a adu bação cor r et iva à base de 120
A m otivação par a o desenvolvim ento da ex- k g/ h a de P2O5. O adu bo or gân ico, em bor a
per iência foi a necessidade de tor nar com pe- pou co dispon ível n o m u n icípio, n a for m a de
t it iva u m a at ividade com baixos ín dices de est er cos sólidos e líqu idos de an im ais, é u m
32 produ ção, devido à fome dos rebanhos no perí- su bpr odu t o valioso e o seu apr oveit am en t o

Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
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tio, nor m alm ente, a ár ea está pr onta par a u ti-


lização. A par tir do pr im eir o pastor eio, com e-
çam os cu idados de m anejo, qu e dever á ser o
m ais adequ ado possível. O bom m anejo im pli-
ca em segu i r as qu at r o l ei s u n i ver sai s
estabelecidas por An dr é Voisin , sen do du as
par a o pasto e du as par a os anim ais:
1ª) Tempo de ocupação: retirar os animais do
pasto quando do surgimento dos rebrotes, pois
isto é fundamental para o seu rápido desenvol-
vim en t o.
pode ser feit o da m an eir a m ais con ven ien t e. 2ª) Tem po de descan so: deixar descan sar
Sem en t es: o u so de sem en t es de qu alida- a ár ea de past o pelo m en os 30 dias, par a qu e
de é fu n dam en t al, bem com o a in ocu lação e possa ser n ovam en t e con su m ido. O t em po
pelet ização das m esm as. As r ecom en dações var ia de acor do com o clim a e as est ações do
pr econ izadas são: an o. Após a r et ir ada dos an im ais do pot r eir o,
• Aveia 40 Kg/ h a as plan t as devem ficar com u m a alt u r a em
• Azevém 25 Kg/ h a t or n o de 6 cen t ím et r os, pr opor cion an do u m
• Tr evo br an co 1 Kg/ h a r ebr ot e com m aior in t en sidade.
• Tr evo ver m elh o 4 Kg/ h a 3ª) A per m an ên cia dos an im ais n o pot r eir o
• Cor n ich ão 5 Kg/ h a n ão deve su per ar t r ês dias de cada vez. No
fin al dest e pr azo, as plan t as est ão pisot eadas
Os pr odu t or es são in cen t ivados a pr odu zir dem ais e com excesso de dejeções, o qu e di-
sem en t es. Além da dim in u ição dos cu st os, ficu lt a o con su m o pelos an im ais.
as pr opr iedades podem obt er u m a r en da ex- 4ª) A altura ideal para facilitar o consumo dos
t r a, t en do m aior segu r an ça qu an t o à qu ali- pastos pelos animais é entre 15 e 25 centíme-
dade e aclim at ação das sem en t es. tros. O período de utilização do campo nativo
Plantio: o Melhoramento do Campo Nativo é melhorado vai de junho a março, perfazendo um
realizado através do método de plantio direto, total de dez meses por ano. O período de descan-
sem a dessecação dos cam pos n at ivos com so é d e d oi s m eses, qu an d o se r eal i za a
herbicidas. A implantação pode ser feita com ressemeadura e readubação, se necessário.
máqu ina (renovadora de pastagem), a qu al per- Cercas: são recomendáveis divisões com cer-
mite u ma maior eficiência no u so do adu bo, ca el et r i fi cada, sen do qu e o t am an h o dos
devido à aplicação na linha. Também pode ser potreiros deverá variar entre 1 e 2 hectares, para
feita com grade niveladora, u sada para facili- facilitar o manejo. O importante é que o manejo
t ar o con t at o do cal cár i o e das sem en t es seja feito no sistema rotativo controlado.
forrageiras de estação fria com o solo. A seme- Agu adas: a águ a é ou t r o fat or im por t an t e
adu ra é feita entre 15 de março e 15 de maio. par a a t er m in ação de bovin os em cam po n a-
A aqu isição de m áqu in as e im plem en t os t ivo m elh or ado, pr in cipalm en t e qu an do se
dever á, sem pr e qu e possível, ser feit a em gr u - u sa o past or eio r ot at ivo. A deficiên cia de águ a
po, diminu indo os investimentos fixos por pro- n os pot r eir os pr eju dica o en gor de. A dist ân -
pr iedade e opor t u n izan do a im plan t ação por cia qu e os an im ais t êm qu e per cor r er at é a
pequ en os pr odu tor es. águ a n ão deve ser su per ior a 400 m et r os, se-
gu n do Nilo F. Rom er o.
Manejo da Pastagem : após 60 dias do plan-
33
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
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de Experiência

Abr igos: sem pr e qu e possível, os abr igos Os pecu ar ist as au m en t ar am su a pr odu ção
devem ser si t u ados pr óxi m os a fon t es de e a qu alidade dos pr odu t os, obt en do m elh or
águ a e den t r o das ár eas m elh or adas. Ist o se r em u n er ação. Por con segu in t e, su a par t ici-
pr en de ao fat o de qu e, em dias qu en t es, os pação n a com u n idade m elh or ou , bem com o
an i m ai s devem en con t r ar som br a e águ a, su a qu alidade de vida.
sem gr an de deslocam en t o. Os bosqu es e qu e- Os pecu ar i st as de cor t e t êm obt i do at é
br a-ven t os pr opor cion am som br a n os dias 400 k g/ h a/ an o de car n e de qu al i dade pr o-
qu en t es de ver ão e abr igo ao r eban h o n os du zi da som en t e a past o, u m au m en t o bas-
r igor es do in ver n o. t an t e si gn i f i cat i vo em r el ação à m éd i a
Cat egor i as An i m ai s a ser em u t i l i zadas m u n i ci pal , qu e é de apen as 30 Kg/ h a/ an o.
n as ár eas de cam po n at ivo m elh or ado, por Par al el am en t e, au m en t ar am a pr odu ção de
or dem de im por t ân cia, são as segu in t es: l ei t e e qu ei j o. No en t an t o, o m ai or r esu l t a-
• Terneiros(as) desmamados precocemente; do obt ido foi a cer t eza de qu e est a t ecn ologia
• Vaqu ilh on as en t ou r adas aos 24 m eses t or n a a pecu ár i a fam i l i ar econ om i cam en -
e pr en h as; t e vi ável , al ém de am bi en t al m en t e su st en -
• Vacas com 1ª cr ia e pr en h as; t á v el , c o m o m í n i m o d e a gr es s ã o a o
• Vacas de r epet ição; ecossi st em a ex i st en t e.
• Novilh os de en gor da; At é o pr esen t e an o, for am i m pl an t adas
• Vacas de descar t e; ár eas de m el h or am en t o de cam po n at ivo em
• Ovelh as com cr ia ao pé; 80 pr opr i edades do m u n i cípi o de São Fr an -
• Cor deir os desm am ados; ci sco de Pau l a, t ot al i zan do cer ca de 1.000
• Dem ais cat egor ias. h ect ar es. Esses n ú m er os r efer em -se ape-
n as às ár eas i m pl an t adas m edi an t e or i en -
3 .3 Fat o r e s d e t o mad a d e d e c i são
t ação do escr i t ór i o m u n i ci pal . Ou t r os pr o-
A tomada de decisão por parte dos pecuaristas du t or es t êm r eal i zado a pr át i ca de for m a i n -
familiares a respeito da prática (experiência) depen den t e ou at r avés de i n for m ações ob-
é a venda dos produ tos (carne/ qu eijo) na época t i das de ou t r as fon t es.
de maior preço (entressafra), maior produ ção
por área e maior lu cro na atividade. Existe u m
4 .1 Re sul t ad o s o b t i d o s e m ní v e l
d as p ro p r i e d ad e s r ur ai s
Conselho, formado por parceiros, com u m Co-
ordenador Técnico e todos os controles, inclu - Fazen da Mu lit a - Ar ist eu Gil Alves
sive contábeis, para qu e os produ tores possam
tomar decisões com segu rança. A) Gan h o de peso de t er n eir os desm am a-
dos aos 60 e 90 dias sobr e cam po n at ivo, com
4 Resultados e produtos su plem en t ação de r ação:

A exper iên cia m elh or ou a qu alidade e a B) Ganho de peso dos novilhos de sobreano,
qu an t idade de m assa ver de n o per íodo de ou - t er m in ados em cam po n at ivo m elh or ado:
t on o-in ver n o do cam po n at ivo. A in t r odu ção Depoim en t os de algu n s pr odu t or es qu e in -
de espécies for r ageir as at r avés do plan t io di- t egr am o pr ogr am a:
r et o evit ou o em pobr ecim en t o e a er osão do "No sist em a t r adicion al, o r en dim en t o er a
solo, pr eser van do a su a est r u t u r a física. Vem m u it o baixo e os cu st os de pr odu ção est avam
aju dan do, ain da, n a pr eser vação da fau n a e au m en t an do cada vez m ais. Com o m elh or a-
da flor a n at ivas e, por con seqü ên cia, da pai- m en t o de cam po, con segu i u m n ível de est a-
34 sagem da r egião t r abalh ada. bilidade de 10 m eses, t ive u m acr éscim o de
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
R elato
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lot ação de 40% e a n at alidade passou de 50% de m ais alim entação do gado em ár ea m enor .
par a 80%. Par a fazer pecu ár ia hoje, tem os qu e É a esper ança de u m a pastagem de m elhor
t er alim en t ação n os Cam pos de Cim a da Ser - qu alidade. Com o m elhor am ento, o gado tem
r a. Só vam os con segu ir se fizer m os m elh o- alim ento por dez m eses do ano, per m itindo o
r ia do Cam po Nat ivo”. desm am e pr ecoce. O cu sto dim inu i em r ela-
J osé Lau r i de Lu cen a, de São Fr an cisco ção à pastagem convencional, pelo maior tempo
de Pau la de u so do m elhor am ento, com o m esm o in-
(354 h a - 70 h a m elh or ados). vest im en t o. Com essa alt er n at iva, con segu i

*Osterneirosapartadosaos90diasreceberamraçãocaseiraporummês,eosapartadosaos60diasdurantedoismeses.

qu e 90% das novilhas de 3 anos dessem cr ia.”


"O m elhor am ento é u m a nova alter nativa Ren at o Nu n es da Silva, de Cam bar á do Su l

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Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
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(517 h a - 8 h a m elh or ados). er a de 115 cabeças. Tem os qu e colocar u m a


m et a e t en t ar alcan çá-la, ain da vou t er 300
“Resolvi fazer o m elh or am en t o n a ân sia de cabeças aqu i n a pr opr iedade.”
t er m elh or past agem par a o gado e m elh or ar Fr an cisco Gu azelli Net o, de São J osé dos
o r en dim en t o da pr opr iedade. O solo fica m ais Au sen t es
r esist en t e à ch u va e ao pisot eio. Além disso, (247 h a - 12 h a m elh or ados).
n ão cau sa t im pan ism o. No in ver n o, u t ilizo o
m el h or am en t o par a fazer o desm am e dos
t er n eir os. A par t ir de set em br o, qu an do da 5 Potencialidades
r et om ada de cr escim en t o do t r evo, os an im ais
em en gor da gan h am 1,1 Kg por dia.” e limites da experiência
Celin o Cu n h a, de Cam bar á do Su l
O ponto for te da exper iência é ter dado ao
(600 h a - 10 h a m elh or ados).
pecu ar ist a fam iliar u m a alt er n at iva viável,
tanto técnica com o econôm ica, possibilitan-
"Desde qu e assist i à palest r a de lan çam en -
do a continu idade da su a atividade, per m itin-
t o do pr ogr am a, per cebi qu e essa er a a solu -
do u m a m aior capitalização. Coloca-se tam -
ção par a m elh or ar a alim en t ação do r eban h o.
bém com o alter nativa à pr atica do fogo, tr adi-
Meu s ín dices est avam m u it o baixos. Hoje n ão
cionalm ente u tilizado par a tentar r esolver os
posso m ais par ar com o m elh or am en t o, pois
problemas de baixa produ ção e produ tividade.
t oda a m in h a pr opr iedade est á m elh or ada,
A t ecn ologia dificilm en t e ser á adot ada pela
n ão r ealizo m ais qu eim adas. A t en dên cia é
an o a an o au m en t ar a ár ea m elh or ada.” m aior ia dos pecu ar ist as fam iliar es, sem qu e
Flávio Tiet böh l, de Bom J esu s os gover n os Mu n icipal, Est adu al e Feder al
(114 h a - 10 h a m elh or ados). apoiem a in iciat iva, com pr ogr am as de aju da
fin an ceir a e t écn ica, bem com o u m a am pla
"Depois qu e in iciei o m elh or am en t o, a pr o- divu lgação dos r esu lt ados obt idos.
du ção é excelen t e, t an t o n a ár ea de lei t e, São exem plos de polít icas pú blicas qu e po-
com o de car n e. Sem falar n a n at alidade, qu e der iam apoiar o Pr ogr am a Region al de Me-
au m en t ou con si der avel m en t e. M an ej an do lh or am en t o de Cam po Nat ivo:
bem , n ão pr ecisa dest r u ir a n at u r eza com - Na esfer a feder al: en qu adr am en t o dos
qu eim adas. Vale a pen a, pr in cipalm en t e par a pecu aristas familiares como beneficiários do
qu em vive em pequ en as ár eas. Eu sou t est e- PRONAF, levando-se em conta a renda bruta anu-
m u n h a de qu e dá cer t o. Qu em ain da n ão cr ê al e não o tamanho da área das propriedades;
n est e sist em a, vai t er qu e cr er n a m ar r a.” - Na esfer a est adu al: cr iação de pr ogr am a
"Seu Didi", de São Fr an cisco de Pau la de cr édit o r u r al específico par a os pecu ar ist as
(14,6 h a - 6 h a m elh or ados). fam iliar es, com ju r os su bsidiados e pr azos
com pat íveis;
"Os pr in cipais m ot ivos qu e m e levar am a - Na esfer a m u n icipal: cr iação de pat r u -
in vest ir n o m elh or am en t o do cam po for am a lh as m ecan izadas específicas par a o desen -
pr oibição das qu eim adas e a r en t abilidade. volvim en t o do pr ogr am a e pr evisão de r ecu r -
Em 2000, com ecei a fazer o m elh or am en t o sos fin an ceir os ju n t o aos Fu n dos Mu n icipais
deixan do de qu eim ar o cam po e r ealizan do de Desen volvim en t o Agr opecu ár io.
r oçadas. Hoje, com o cu lt ivo da past agem n o O cu st o par a im plan t ação das ár eas con s-

36 cam po n at ivo au m en t ou a lot ação, qu e an t es t it u i-se em u m gr an de en t r ave, h aja vist a a

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de Experiência

cisco de Paula, Cambará do Sul, Jaquirana, Bom


Jesus e São José dos Ausentes.
Nos cin co m u n icípios de abr an gên cia do
pr ogr am a, cer ca de 200 pr odu t or es im plan t a-
r am , at é o m om en t o, 3.000 h ect ar es de m e-
lh or am en t o de cam po n at ivo.

falt a de capit alização dos pr odu t or es. São n e-


cessár ios en t r e R$ 500,00 e R$ 600,00 par a a
im plan t ação de cada h ect ar e. Nest e sen t ido,
a EMATER/ RS est á fir m an do par cer ia com a
Est ação Exper im en t al da EPAGRI, em Lages/
SC, bu scan do alter n ativas par a a r edu ção dos
cu st os de im plan t ação.
Além da r edu ção nos cu stos, ou tr a pr eocu -
pação é r edu zir ou elim inar o u so de adu bos
solú veis. Com esse objetivo, estão sendo fei-
tos algu ns testes em nível de propriedades com
o u so de fosfatos natu r ais.
Tem se observado também que com o passar
dos anos, através do uso do pastoreio rotativo ra-
cional, a fertilidade das áreas aumenta pela de-
Rede de contato
posição concentrada dos dejetos, eliminando a E m at er / RS - Cax i as d o Su l
necessidade da adubação anual de manutenção. Fon e: (5 4 ) 2 2 3 5 6 3 3
Considerando os resultados obtidos, analisa- E m at er / RS - São Fr an ci sco d e Pau l a
dos e testados, individual e coletivamente a ex- Fon e: (5 4 ) 2 4 4 1 3 9 4
periência tem potencial para ser reproduzida e Secr et ar i a M u n i ci p al d a Agr i cu l t u r a -
difundida. A EMATER/ RS, através de suas estru- São Fr an ci sco d e Pau l a
turas, poderá, perfeitamente, abraçar a idéia, Fon e: (5 4 ) 2 4 4 1 1 7 5
reproduzir e difundir a tecnologia. Baseados nos Sindicato Ru r al - São Fr ancisco de Pau la
resultados obtidos em São Francisco de Paula, Fon e : (5 4 ) 2 4 4 1 0 5 7
foi lançado em julho/ 2000 o Programa Regional Associ ação Ru r al - São F r an ci sco d e
de Melhoramento do Campo Nativo, abrangendo Pau l a. Fon e: (5 4 ) 2 4 4 1 2 0 7
a Microrregião Homogênea dos Campos de Cima É l vi o Cast i l h os - São F r an ci sco d e
da Serra, formada pelos municípios de São Fran- Pau l a Fon e: (5 4 ) 2 4 4 1 1 3 5 37
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
Desafios para a extensão rural: o "social" na
transição agroecológica*

S ilip r a n d i, Em m a * * Rio Grande do Sul, salientando a sua importân-


cia para a concretização de uma proposta de tran-
Re s u m o sição agroecológica. Faz uma breve retrospectiva
Este artigo enfoca as ações sociais que vêm de como esses temas foram tratados ao longo da
sendo realizadas pela extensão rural pública no história da extensão rural, e aponta, à luz da ex-
* Este artigo é uma versão resumida do Marco Referencial periência da EMATER/ RS, as dificuldades que são
para asAçõesSociaisda EMATER/RS-ASCAR, elabora- enfrentadas, na prática, para a mudança de um
do em2002 por umGrupo deTrabalho formado por paradigma de desenvolvimento em que o modelo
Adão Bertier Rodrigues, Tânia Maria Treviso, Renato dos tecnológico sempre foi preponderante, para um
SantosIuva, Afaf Muhammad Wermann, Iolanda Ernei da outro, onde se parte da organização social e do
S. Oliveira Momolli, Ana Maria Annoni e Emma empoderamento dos agricultores e agricultoras.
Cademartori Siliprandi (coordenadora), e tambémpor É um resumo do documento intitulado "Marco
integrantesda equipe do Núcleo de Cidadania e Qualida- Referencial para as Ações Sociais da EMATER/
de de Vidano Meio Rural da Divisão de Apoio Técnico RS-ASCAR", elaborado em 2002 por um Grupo de
ao Desenvolvimento Rural Sustentável (NUCID-DAT) da Trabalho, do qual a autora foi coordenadora.
EMATER/RS: Regina da Silva Miranda, Karin Peglow,
Caroline Crochemore Velloso e Mariana Soares. P a la v r a s -c h a v e : Agr oecologia, Tr an sição
** Engenheira Agrônoma, Mestre emSociologia e agr oecológica, Extensão r u r al, Ações sociais,
coordenadora do NUCID-DAT. E-mail: Su stentabilidade, Desenvolvimento ru ral.
emma@emater.tche.br.
Osconceitosde "Agroecologia", "sustentabilidade",
"extensão rural agroecológica" e "transição agroecológica"
1 Introdução
podemser aprofundadosnostextosde Caporal e Na Missão da EMATER/ RS, apr esen t a-se
38 Costabeber (2000; 2001). u ma proposta de desenvolvimento ru ral vista

Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
como um conjunto de melhorias para o campo ser. Assim, os chamados "temas sociais", ape-
(econ ôm icas, cu lt u r ais, am bien t ais, sociais, sar de presentes no cotidiano do trabalho, aca-
políticas), nas quais as populações envolvidas, baram sendo pou co discu tidos.
apoiadas pelos agentes de extensão rural, de- O qu e estamos chamando aqu i de "temas
vem ter um papel protagônico. Esta Missão foi sociais"? Não vamos nos preocupar, neste mo-
definida como: "promover a construção do de- mento, em apresentar as inúmeras interpreta-
senvolvimento rural sustentável, com base nos ções que têm se dado ao "social" na literatura
princípios da Agroecologia, através de ações de sociológica ou no entendimento dos movimen-
assistência técnica e extensão rural e median- tos sociais e nas visões que orientam as políti-
t e p r ocessos ed u cat i vos e p ar t i ci p at i vos, cas públicas, pois estes temas mereceriam um
objetivando o fortalecimento da agricultura fa- aprofundamento maior, extrapolando a intenção
miliar e suas organizações, de modo a incenti- deste texto. Para efeito desta discussão, estamos
var o pleno exercício da cidadania e a melhoria nos referindo àqueles temas, que, em conjunto
da qualidade de vida"1 . com as mudanças nas tecnologias de produção
Estas propostas têm u m forte conteú do de agrícola, compõem (ou deveriam compor) uma
mobilização e organização social, explicitados pauta de mudanças para o meio rural, em dire-
n as su as est r at égi as: pr i vi l egi ar o u so de ção a u m desenvolvimento efetivamente su s-
metodologias participativas; valorizar os distin- tentável, em suas várias dimensões.
tos saberes (científico e popular); incorporar uma Entender a forma como se organizam os gru-
visão holística (qu e compreenda os processos pos sociais com os quais lida a extensão rural,
sócio-econômicos em su a relação com o ambi- no seu fazer produtivo, na vida comunitária, na
ente); estimu lar dinâmicas de participação ati- relação com o poder público, nas diversas esfe-
va das popu lações, através de diagnósticos e ras da vida cotidiana, são pressupostos que de-
planejamentos em conju nto; estimu lar parce- vem orientar o trabalho geral da extensão. Sem
r i as em t odos os n ívei s; est i m u l ar for m as esse pressuposto, qualquer ação que se preten-
associativas; respeitar as diferenças de gêne- da dialógica perde o sentido. O "social" de que
ro, de cu ltu ras, de gru pos de interesses; bu s- tratamos aqui certamente abrange a dimensão
car a inclu são social; tomar o agroecossistema produtiva e econômica, não só na preocupação
como u ma u nidade básica de análise, planeja- com os resultados físicos ou financeiros, ou no
mento e avaliação dos sistemas de produ ção entendimento do porquê se adota ou não uma
agrícola; apoiar a implementação da Reforma certa tecnologia; mas na forma como se organi-
Agrária e o fortalecimento da Agricu ltu ra Fa- za essa produ ção, nas relações de poder qu e
miliar. Os objetivos definidos também desta- estruturam a ação das pessoas, nas implicações
cam o caráter social deste trabalho: a su sten- que os processos de organização social trazem
tabilidade, a estabilidade, a produ tividade, a para as mudanças concretas na vida de todos.
eqü idade e a qu alidade de vida. No senso comu m, as qu estões sociais, vis-
Em qu e pese o forte conteú do social dessas tas de forma redu zida através dos temas como
definições, no sentido de ser u ma proposta qu e saúde, educação, lazer e cultura, são tidas como
pr et en de m odificar r elações sociais, qu e se qu estões menores, "complementos" da Econo-
expressam em u ma visão diferenciada do es- mia (com "e" maiú scu lo) ou , no máximo, da
paço produ tivo, da relação com o meio ambien- Política. Qu ando as qu estões sociais invadem
te, e entre as pessoas, a preocu pação com as os espaços das políticas públicas, isto se dá nor-
novas tecnologias agrícolas sempre foi prepon- m alm en te pela via do assisten cialism o e do
derante nas atividades de extensão, e foi, mu i- amparo aos grupos empobrecidos da população.
tas vezes, considerada a su a ú nica razão de Nesse sentido, o "social" é o qu e diz respeito 39
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
aos "pobres", enqu anto a riqu eza (vista como o ru ral foram criadas em todo o Brasil, segu indo
campo da "Economia") é o produ to da compe- u m modelo difu ndido pelo governo norte-ame-
tência individu al, da capacidade de inovar etc. ricano. Em 1955, criou -se a ASCAR (Associa-
O qu e se qu er salientar nesta discu ssão, e ção Su lina de Crédito e Assistência Ru ral) no
qu e este docu mento procu ra mostrar, é qu e: i) Rio Grande do Su l, além da ACARESC, em San-
o social não se restringe ao "assistencial"; ii) ta Catarina, e da ACARPA, no Paraná. Em 1956,
aqu ele ou tro "social" (saú de, edu cação, lazer, foi criada a ABCAR, em âmbito nacional, à qu al
cu ltu ra etc.), qu e de certa forma sempre foi as associações estadu ais se filiaram 3 .
enfocado nas ações concretas da extensão, se Deste per íodo até o início dos anos 60, as
for colocado em u ma perspectiva estratégica fam ílias e as com u n idades er am o foco das
de constru ção de su jeitos sociais au tônomos, ações exten sionistas. A extensão er a desen-
e livre do difu sionismo em todos os seu s mati- volvida por u m técnico em Ciências Agr ár ias
zes, passa a ser u ma dimensão fu ndamental e u m a m u lher capacitada a atu ar no cam po
p ar a u m a p r op ost a d e E x t en são Ru r al da "Economia Doméstica". O objetivo da exten-
Agr oecológica. Mais do qu e isso, pr ocu r a-se são, estabelecido a par tir de enfoqu es teór i-
mostrar qu e, sem esta dimensão, a extensão cos sobr e o desenvolvim ento r u r al, er a dim i-
ru ral perderia boa parte do seu conteú do trans- nu ir a pobr eza r u r al, vista com o decor r ência
formador e a su a eficácia na constru ção de u m da ignor ância e da r esistência às m u danças
desen volvim en to efetivam en te su sten tável. qu e (su postam en te) car acter izar iam os agr i-
E st e t ex t o p r et en d e col ab or ar p ar a cu ltores. Do ponto de vista da produ ção agríco-
aprofu ndar esta discu ssão, qu e, certamente, la, o foco er a na conser vação do solo e n a ado-
não é nova. Apresenta-se aqu i, de forma resu - ção do Cr édito Ru r al Su per visionado. De for -
mida, o "Marco Referencial para as Ações Soci- m a com plem entar , as econom istas dom ésti-
ais da EMATER/ RS-ASCAR", documento elabo- cas, atr avés da or ganização de Gr u pos do Lar ,
rado por um Grupo de Trabalho criado em 2001, e dos Clu bes 4-S (par a os jovens), difu ndiam
especialm en te par a esse fim 2 . O objetivo do conhecim entos sobr e saú de, alim entação, sa-
Marco Referencial é: estabelecer um referencial n eam en t o, abast ecim en t o de águ a, e apoia-
estratégico-metodológico, para subsidiar os pro-
vam as m u lher es nas su as atividades dom és-
fissionais da empresa, sobre temas entendidos
ticas (costu r a, alim entação, confecção de m ó-
como de caráter predominantemente social, abor-
veis, colchões, cu idados com as cr ianças).
dados dentro dos projetos e programas desen-
Essa "dobradinha" no trabalho se manteve até
volvidos pela institu ição, aju dando no estabe-
recentemente: os técnicos (homens) tratando das
lecimento dos limites de competência e respon-
questões da produção agrícola, e as extensionistas
sabilidades dos diferentes profissionais envol-
sociais (mulheres) atendendo às questões refe-
vidos nessas ações. Ao final, apontamos algu ns
rentes ao âmbito doméstico-familiar. Esse tra-
desafios para qu e essa proposta possa ser as-
balho passou por diferentes fases, que não cabe
su mida por todos e todas, e realmente se colo-
aqui detalhar. É importante lembrar, porém, que
qu e como u m "Marco Referencial", qu e "impreg-
durante todo o período da Revolução Verde (final
ne" de conteú do social o conjunto de ações da
da década de sessenta até recentemente), tra-
instituição.
balhou-se com a perspectiva de "profissionalizar"
e "modernizar" o meio rural, tanto do ponto de
2 Breve retrospectiva histórica vista da produção agrícola, quanto no chamado
Desde a fu ndação da ACAR, em Minas Ge- "desenvolvimento de comunidades".
Não há como analisar o trabalho da exten-
40 rais, em 1948, ou tras institu ições de extensão
são ru ral sem perceber qu e ele foi, permanen-
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
temente, marcado por u m viés de gênero4 . As- ambientais.
sim como as extensionistas mu lheres sofriam O tripé básico da área chamada "Bem -Estar
u ma série de restrições ao seu trabalho5 , no Social" permaneceu sendo os temas saú de, ali-
caso das mu lheres ru rais, esse viés se mani- mentação e habitação. Incorporou -se, no en-
festava basicamente na negação do seu papel tanto, u ma série de ou tros temas: geração de
enqu anto agricu ltoras. A elas era oferecida a r en d a, at r avés d e at i vi d ad es com o
possibilidade de organização em gru pos (clu bes agr oi n dú st r i as, ar t esan at o, t u r i sm o r u r al ;
de mães, de senhoras e ou tros), acompanha- ações de "ecologização" do m eio r u r al, com o
dos pelas extensionistas de bem-estar social, planos de gestão/ edu cação ambiental, estímu -
e orientados, em su a maioria, para os temas lo à u tilização de tecnologias m enos agr essi-
considerados "femininos". De forma geral, mes- vas ao m eio am biente, ações de saneam ento
mo qu e não fosse essa a intenção, os gru pos básico e am biental; e deu -se u m a ênfase m ai-
aju davam a consolidar a idéia de qu e havia u m or ao tr abalho de r esgate de conhecim entos
lu gar separado entre as mu lheres e os homens tr adicionais, e em par ticu lar , ao tr abalho com
no meio ru ral, assu mindo u ma divisão sexu al plantas m edicinais. Esse tr abalho foi fu nda-
do trabalho qu e, na prática, negligenciava o m en t alm en t e r ealizado pelas ext en sion ist as
papel produ tivo qu e as mu lheres sempre de-
de bem -estar social e hoje é u m patr im ônio
sempenharam na agricu ltu ra. Essa ação con-
da extensão r u r al com o u m todo.
tribu iu para a exclu são das mu lheres dos es-
paços onde se tratava das questões tecnológicas
e de financiamento da produ ção agrícola, em-
3 A situação hoje
bora elas sempre tenham participado ativamen- e estratégias de atuação
te dessas atividades e sobre elas recaíssem as
conseqü ências das mu danças ocorridas6 . Hoje a EMATER/ RS está presente em 476
Ao longo dos anos, uma série de mudanças mu nicípios, com 10 escritórios regionais e u m
ocorreram na forma hegemônica de se pensar e escritório central 7 . São cerca de 2.300 empre-
de se agir sobre o meio rural, que resultaram gados, sendo cerca de 25% com formação su -
em diferentes políticas públicas para a agricul- per i or em Ci ên ci as Agr ár i as (en gen h ei r os
tura e se refletiram nas formas de atuar da ex- agr ôn om os, en gen h eir os flor est ais, m édicos
tensão rural. Essas mudanças se deram tanto veterinários, zootecnistas) e 25% com forma-
em função das crises da matriz tecnológica e do ção de nível médio nesta área (técnicos agríco-
modelo de desenvolvimento adotados (do ponto de las). No qu e se refere à área social, há u ma
vista ambiental, econômico e social), como em desproporção: as extensionistas de bem-estar
função de mudanças na esfera política: cresci- soci al (car go de n ível m édi o n a em pr esa)
mento dos movimentos sociais (sindicais, de tra- correspondem a aproximadamente 18% do to-
bal h ador es sem t er r a, de m u l h er es et c.), tal de empregados, enqu anto os profissionais
surgimento das ONGs e das organizações da so- com formação su perior nessa área e contrata-
ciedade civil em geral, em um contexto maior de dos como tal (sociologia, antropologia, economia,
democratização da sociedade. Isso fez com que pedagogia, serviço social, saú de, nu trição, sa-
vários outros temas adquirissem relevância para n eam en t o) são cer ca de 2% do t ot al 8 . Esse
o trabalho da extensão rural, e provocou mudan- desequilíbrio quanto aos recursos humanos tem
ças nos princípios e metodologias utilizadas, que conseqü ências sobre o acom panhamento do
se direcionou para o atendimento preferencial a trabalho.
agr i cu l t or es fam i l i ar es com ab or d agen s Em u m diagnóstico r ealizado entr e 2000 e
p ar t i ci p at i vas e m ai or es p r eocu p ações 2 0 0 1 , ver i f i cou - se qu e o t r ab al h o d as 41
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
extensionistas de bem -estar social, apesar de sem pr e tiver am com r elação aos tem as eco-
ser r ealizado em pr aticam ente todo o Estado, nôm icos, nas políticas qu e or ientar am o tr a-
abr an gen do u m a gam a ext r em am en t e dife- balho ger al da institu ição, o qu e, pou co a pou -
r enciada de tem as, não vinha r ecebendo u m co, vem sendo m odificado. Alia-se a isto a pr o-
destaqu e cor r espondente, car ecendo de u m a blem ática das desigu aldades de gêner o, já co-
maior visibilidade tanto no nível regional como m entada anter ior m ente (o "social" identifica-
n o est adu al. Par adoxalm en t e, esse t r abalh o do com os tem as fem ininos, e o "econôm ico/
veio acu m u lando r econhecim ento "par a for a" agr on ôm i co/ pr odu t i vo" i den t i fi cado com o
da em pr esa, especialm ente por ou tr as insti- m ascu lino), com o u m fator qu e dificu lta a su -
tu ições pú blicas com as qu ais são m antidos per ação desses pr oblem as.
convênios (com o Pr efeitu r as Mu nicipais, Se- A nova sistemática de planejamento, com
cr etar ias de Estado ór gãos feder ais, institu i- base em diagnósticos participativos feitos em
ções financeir as e ou tr as). Destacava-se tam - conjunto com outras parcerias e com a partici-
bém a par ticipação do pessoal técnico da ár ea pação direta da população, tem mostrado um
social em Conselhos ligados à gestão de políti- potencial de su peração desses problemas. As
cas pú blicas, em nível Mu nicipal, Regional e ações da empresa passam a ser balizadas por
Estadu al 9 . A r econqu ista do cer tificado de en- uma pactuação de objetivos comuns, em que to-
tidade filantr ópica ju nto ao INSS, no ano de dos os agentes (extensionistas, agricu ltoras e
2001, confir m ou o r econhecim ento do car áter agricultores, funcionários municipais, lideran-
social do tr abalho r ealizado. ças e outros) devem se inserir de forma articu-
Ver ificou -se t am bém qu e o pr in cipal es- lada, com responsabilidades definidas. Os temas
t r an gu lam en t o, n o n ível m u n icipal, er a a fal- sociais podem, desta forma, ser inscritos nos
t a de in t egr ação n o t r abalh o cot idian o. Não planos mu nicipais e regionais de desenvolvi-
h avia u m en t en dim en t o, den t r o das equ ipes, mento, sob responsabilidade de todos, ressalvan-
sobr e os vár ios aspect os de qu e se r evest ia do-se as especificidades de funções e de conhe-
o d esen vol vi m en t o r u r al , r esu l t an d o, em cimentos profissionais. O desafio do trabalho efe-
m u it os casos, n a divisão r ígida e apr ior íst ica tivamente interdisciplinar e integrado perma-
de t ar efas. O t r abalh o da ext en sion ist a so- nece, como condição para romper os guetos que
ci al er a, m u it as vezes, r elegado a u m plan o foram construídos ao longo do tempo.
secu n dár io, e vist o com o u m a t ar efa exclu - A segu ir , vam os apr esen t ar u m con ju n t o
sivam en t e su a. O plan ejam en t o ger al do es- de t em as sociais qu e, h oje, se r evest em de
cr i t ór i o t or n ava-se, assi m , u m a "som a de m aior im por t ân cia par a os t r abalh os desen -
par tes", r epr odu zin do u m a falsa segm en tação volvidos pela in st it u ição.
"econ ôm ico" x "social", em qu e "ext en sion is-
t as" (m u l h er es) e "t écn i cos" (en gen h ei r os 4 Áreas de trabalho:
agr ôn om os, t écn icos agr ícolas) som en t e di-
vidiam u m m esm o escr it ór io. Est a é ain da a
definição de conteúdos
sit u ação de u m n ú m er o sign ificat ivo de es- e competências
cr it ór ios e, de cer t a for m a, sem elh an t e ao
qu e vin h a acon t ecen do n o n ível r egion al e 4 .1 Pro mo ção d a ci d ad ani a
n o Escr it ór io Cen t r al. e o r g ani zação so ci al
Em par te, estes pr oblem as têm or igem na
D efi n em -se com o ações de Pr om oção da
in ser ção su bor din ada qu e os t em as sociais
42 Cidadan ia e Or gan ização Social aqu elas qu e

Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
4 .2 Ed ucação e p ro mo ção d a saúd e
O desafio nesta área é o de atu ar diretamen-
te com as comu nidades ru rais, vendo a saú de
como parte de u ma proposta de desenvolvimen-
to integral. Cabe à extensão ru ral dar conta de
u m papel qu e o sistema de saú de não conse-
gu e, em geral, cu mprir, qu al seja, a promoção
e a edu cação em saú de no meio ru ral, estabe-
lecendo u m processo de au tonomia, de cons-
tru ção de su jeitos qu e se "empoderam", para
melhorar su as condições de saú de e de vida.
Essas ações, de promoção e edu cação, não têm
tido êxito significativo, no âmbito do sistema
de saú de como u m todo. Cabe à extensão ru ral
apoiar as lu tas par a qu e essas ações sejam
est i m u l am a popu l ação par a qu e se or gan i -
assu midas pelo sistema pú blico de saú de, ten-
ze e par t i ci pe at i vam en t e das deci sões qu e
do em conta qu e essas lu tas passam através
di zem r espei t o à su a com u n i dade, ao seu
dos espaços onde são formu ladas as políticas
m u n icípio e ao espaço pú blico em ger al. Est a
pú blicas, ou seja, os Conselhos de Saú de.
defi n i ção pr essu põe, ai n da, con h eci m en t o
Os sistemas locais de saú de estão voltados,
s ob r e os d i r ei t os e a s c on d i ç ões p a r a
prioritariamente, a atender as demandas mais
exer cê-los. Isso dem an da, por par t e dos pr o-
prementes dos mu nicípios, tais como a assis-
fission ais da ATER, capacidade par a apor t ar
tência primária e secu ndária, realizadas, ba-
i n f o r m a ç õ es , c o n h ec i m en t o s s o b r e
sicamente, através de Programas do Ministé-
m et odologias de t r abalh os de gr u pos, for m a-
rio da Saú de e/ ou da Secretaria Estadu al de
ç ã o d e l i d er a n ç a s , p l a n ej a m en t o s
Saú de, e de redes de Unidades Básicas de Saú -
par t i ci pat i vos, assi m com o l ei t u r a e com -
de e hospitais. As ações com as comu nidades,
pr een são dos i n t er esses em j ogo, bem com o
através do PACS - Programa dos Agentes Co-
dos con fl i t os pot en ci ai s, i n er en t es em qu al -
mu nitários de Saú de - e do PSF - Programa de
qu er pr ocesso de or gan i zação soci al .
Saú de da Família -, embora importantes, mu i-
Este deve ser u m objetivo permanente da
tas vezes não consegu em alterar o "modelo" de
Extensão Ru ral: através de todas as su as ações,
abordagem das questões, que continua centrado
for talecer os su jeitos sociais par a qu e, nu m
na doença, no médico e no medicamento.
processo de em poder am en t o10 , seja promovi-
As ações voltadas para educar e promover a
da a cidadania de todos. Ganham destaque nes-
saúde têm o caráter de desencadear processos,
te tema os trabalhos voltados para as políticas
em que a população vai resgatando sua dignida-
de combate às desigu aldades de gênero e de
de e auto-estima, se apropria do conhecimento
inclu são das mu lheres ru rais como protagonis-
sobre o processo saúde/ doença, adquire auto-
tas das políticas de desenvolvimento ru ral; o
nomia e torna cada um sujeito da sua própria
atendimento a pú blicos diferenciados (como jo-
saúde, do seu bem-estar, da sua qualidade de
vens e idosos) e também a pú blicos não tradi-
cionais da extensão ru ral, como indígenas, pes- vida. Estimuladas por este processo, as pessoas
cadores, qu ilombolas, historicamente exclu ídos irão à luta pelos seus direitos em relação à saú-
dessas políticas e do exercício da cidadania. de, buscando garantir as ações de assistência,
43
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
promoção, proteção e recuperação da saúde, que a ou tras necessidades essenciais e nem o sis-
cabem às esferas competentes no que se refere tema alimentar fu tu ro, devendo se realizar em
a atenção à saú de, conforme a Constitu ição bases su stentáveis"11 . É responsabilidade dos
Federal e a Lei Orgânica da Saúde (8080/ 8142). Estados Nacionais assegu rarem este direito e
A extensão ru ral não pode ser responsável devem fazê-lo em obrigatória articu lação com
pela execu ção das ações ou programas de aten- a sociedade civil, cada parte cu mprindo su as
ção à saú de, mas pode ser parceira das Secre- atribu ições específicas.
tarias Mu nicipais e Estadu al de Saú de, nas Deve-se ter sempre presente que uma políti-
ações desenvolvidas ju nto à popu lação do meio ca de Segurança Alimentar e Nutricional deve
ru ral. Seu papel específico será o de contribu ir ser integral, enfrentando os problemas estrutu-
para a problematização e constru ção de políti- rais causadores da insegurança alimentar atu-
cas pú blicas de atenção à saú de da popu lação al, tais como: a concentração da terra e da ren-
ru ral, especialmente no qu e se refere à saú de da, o desemprego etc., até as políticas de distri-
dos trabalhadores e trabalhadoras ru rais. buição e consumo. Aí cabem especialmente as
Dentre o conjunto de temas que dizem res- políticas de apoio à agricultura familiar, às pe-
peito à educação e promoção da saúde, devem quenas e médias empresas, à produção susten-
ser destacadas as seguintes questões: Educação tável de alimentos, à garantia de qualidade (e
em Saúde, com ênfase no conhecimento sobre o de preço) dos alimentos que chegam aos consu-
próprio corpo e os processos de saúde/ doença; midores. Deve, igualmente, fazer parte dessas
comprometimento com a Política Estadu al de políticas o atendimento às questões emergen-
Plantas Medicinais, promovendo o resgate, a va- ciais, de provimento alimentar às popu lações
lorização e a qualificação dos conhecimentos da vulneráveis. Distribuição de cestas básicas, ban-
população sobre o cultivo e uso dessas plantas; o cos de alimentos e ou tras medidas emergen-
apoio à construção de políticas públicas de saúde ciais, são fu ndamentais dentro de u ma visão
para o meio rural, com a participação ativa da que trabalhe pela emancipação e inclusão soci-
população na elaboração e controle dessas políti- al dos grupos hoje excluídos12 .
cas; e construção de propostas de lazer comuni- Dentre as várias possibilidades de ações de
tário como parte integrante e fundamental de Segu rança Alimentar, destacam-se, a segu ir,
uma proposta de desenvolvimento centrada em aqu elas qu e estão mais diretamente relacio-
valores de solidariedade social, de resgate da nadas com a Missão Institu cional da EMATER/
auto-estima das pessoas, visando o estabeleci- RS: edu cação alimentar (constru ção coletiva de
mento de uma relação harmoniosa da população u m con cei t o d e al i m en t ação sau d ável e
com a natureza e com a economia. ambientalmente correta, ações de combate ao
desperdício e de estímu lo ao aproveitamento
4 .3 Se g ur ança e so b er ani a ali ment ar
m áxim o dos alim en t os); ações qu e visem o
A garantia de qu e os povos poderão, sobera- acesso da popu lação à alimentação (melhoria
namente, definir as su as próprias políticas de das feiras, merenda escolar e mercado insti-
segu rança alimentar é condição essencial para tu cional, estímu lo à produ ção para au toconsu -
u m ver dadeir o desenvolvim ento su stentável. mo, resgate da biodiversidade alimentar); ações
Entende-se Segu rança Alimentar e Nu tricional para a garantia da qu alidade dos alimentos (dos
como "a garantia do direito de todos ao acesso pontos de vista biológico, sanitário, nutricional);
a alimentos de qu alidade, em qu antidade su fi- além da qu estão da participação em fóru ns e
ciente e de modo permanente, com base em instâncias pú blicas sobre o tema, como exercí-
44 práticas sau dáveis e sem comprometer o acesso

Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
cio pleno da cidadania. r i sm o r u r al , n as su as vár i as m odal i dades
Essas ações devem ter por objetivo a cons- (ecotu rismo, tu rismo colonial, histórico etc.);
trução de sistemas agroalimentares sustentá- prestação de serviços no meio ru ral (tais como
veis, buscando a satisfação plena das necessi- at eliês de cou r o, m óveis, ser viços pr ofissio-
dades humanas em termos de alimentação, em nais); artesanatos com u so de matérias-primas
harmonia com o ambiente e respeitando as cul- disponíveis no meio ru ral, como fibras, madei-
turas e os processos de organização dos povos. ra, lã de ovelha, cou ro, peles, palha de trigo,
milho e arroz. Além da geração de renda, o ar-
4 .4 Ger ação d e r end a
tesanato pode cu mprir importantes fu nções no
A situação de pobreza e exclusão é uma con- resgate da história da localidade, das tradições
dição estrutural que se caracteriza por limita- cu ltu rais, sendo u m componente fu ndamental
ções de acesso à terra, aos mercados, ao traba- nos planos de desenvolvimento de tu rismo. E
lho, à educação e à saúde. No meio rural, para cabe ainda à extensão apoiar as iniciativas no
superar os processos de exclusão, são necessá- campo da Economia Solidária, tais como em-
rios esforços coordenados, que busquem tanto a p r een d i m en t os col et i vos, p ar t i ci p at i vos e
melhoria das atividades já desenvolvidas, como au togestionários, qu e distribu em renda a par-
o estímulo a outras atividades (agrícolas ou não tir da cooperação e solidariedade.
agrícolas). Essas escolhas devem ser realizadas
4 .5 Gest ão amb i ent al
pelas comunidades rurais que, em seus própri-
os processos de organização, construirão as al- Trabalha-se com a noção de qu e cabe à ins-
ternativas para combater problemas sociais e titu ição par ticipar ativam ente dos pr ocessos
am bien tais. de gestão am biental, entendidos com o pr oces-
Nos últimos anos, os espaços rurais não têm sos de m ediação de inter esses e conflitos en-
tido como função exclusiva a produção agrícola, tr e ator es sociais (com u nidade, institu ições,
se transformando, cada vez mais, em espaços poder pú blico) qu e agem sobr e os m eios físico-
polissêmicos, onde coexistem atividades econô- natu r al e constr u ído, definindo e r edefinindo,
micas de natureza diversa, como a própria agri- continu amente, o modo como os diferentes ato-
cultura, o comércio, o turismo rural, atividades r es sociais alter am a qu alidade do m eio am -
de preservação ambiental, o lazer, o artesana- biente e, tam bém , com o se distr ibu em os cu s-
to, a prestação de serviços, entre outros. Em al- tos e os benefícios decor r entes da ação desses
guns casos, isso já é um processo consolidado, agentes. Esse conceito com pr eende u m con-
que alterou a dinâmica interna da reprodução ju nto de instr u m entos qu e visam m onitor ar
familiar e a alocação de tarefas entre seus mem- as ações hu m anas sobr e o am biente natu r al,
bros (homens, mulheres, jovens e idosos da fa- levando em consider ação as ações do Estado e
m íl i a). Em det er m i n adas con di ções, essa de todos os agentes qu e inter fer em no m eio
plu riatividade pode permitir a ampliação das am biente, com o as em pr esas, os pr odu tor es
rendas e o bem-estar de todos; nestes casos, o agr ícolas, a popu lação em ger al 13 .
emprego em atividades não agrícolas é, muitas A gestão ambiental, para a EMATER/ RS,
vezes, uma estratégia temporária para buscar segu e u m conju nto de princípios, estratégias e
fundos e investir na propriedade. diretrizes qu e norteiam as ações de campo, de
Nesta perspectiva, cabe à EMATER/ RS apoiar est ím u l o, or i en t ação e ap oi o a p r át i cas
diferentes tipos de atividades, qu e visam gerar ambientais, em conform idade com a legisla-
rendas aproveitando os potenciais dos espaços ção de proteção ao meio ambiente e de ocu pa-
ção dos espaços. A prática ambiental interna
ru rais para além da agricu ltu ra, tais como: tu -
(em todos os níveis) deve ser coerente com es- 45
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
sas definições. Entre as várias ações qu e po-
dem ser desenvolvidas sobre este tema, desta-
5 Novos e velhos desafios
cam-se as ações em Edu cação Ambiental, Pre- Como foi apontado no início deste texto, são
servação e Manejo de Recu rsos Natu rais, Sa- ainda muitos os desafios para a realização de
neamento Básico e Saneamento Ambiental. uma Extensão Rural Agroecológica, que contem-
As ações em Educação Ambiental ganham um ple as várias dimensões da sustentabilidade e
destaque maior porque entende-se que pode ser tenha a população rural como real protagonista
uma grande ferramenta para a compreensão dos das mudanças. Este texto foi uma tentativa de
ideais de desenvolvimento sustentável e para a apontar alguns temas que devem estar presen-
pr át i ca da gest ão am bi en t al . Con for m e tes no cotidiano de trabalho da extensão rural,
LAYRARGUES (2000), a educação para a gestão em cada diagnóstico, em cada planejamento,
ambiental pressupõe uma conjugação entre a edu- nas ações com os agricu ltores e agricu ltoras,
cação para a cidadania com a educação ambiental, pescadores e pescadoras, indígenas, quilombo-
unindo demandas sociais por melhores condições las, com as instituições parceiras, na constru-
de vida e por melhores condições ambientais. ção e execução das políticas públicas.
Além disso, a educação para a gestão ambiental Talvez o desafio maior seja a desconstru ção
tem um potencial da formação e exercício da ci- de u m "jeito" de olhar para o ru ral, e reaprender
dadania, em particular, para uma determinada na relação com os diferentes pú blicos, a cons-
classe social - aquela mais afetada pelos riscos tru ir u m tecido social mais democrático e eqü i-
ambientais. Isto significa admitir que só é possí- tativo: qu e contemple as diferenças de gênero,
vel enfrentar a problemática socioambiental en- de geração, de inserção social, de interesses,
frentando os conflitos sociais concomitantemente, de pontos de vista, e qu e parta das experiênci-
e aí a educação para a gestão ambiental adquire as já acu mu ladas por todos. Os homens e mu -
uma importância fundamental. lh er es pr ofission ais da ext en são r u r al t êm
As pr át icas de San eam en t o Básico, por ou - mu ito a contribu ir, com seu s conhecimentos,
tro lado, aparecem também como ações de pre- sensibilidades, dedicação, na constru ção des-
ser vação dos r ecu r sos h ídr icos fu n dam en t ais se ou tro desenvolvimento, desde qu e, estrate-
par a a pr om oção da saú de pú blica n o m eio gicamente, sejam capazes de perceber qu e esse
r u r al. In clu em -se aqu i as pr át icas de abas- caminho é mu ito mais complexo do qu e a sim-
t ecim en t o de águ a pot ável, disposição de es- ples mu dança de u m modelo tecnológico.
got os dom ést icos, r esídu os de agr oin dú st r ias
e das in st alações par a an im ais, disposição
adequ ada do lixo doméstico e resídu os das ati-
vidades agr ícolas, assim com o o con t r ole de
vet or es (ação associ ad a ao san eam en t o
am b i en t al , r el aci on ad a à r ecu p er ação d e
m at as ciliar es e ao con t r ole e disposição de
dej et os). Execu t adas at r avés de par cer i as
en t r e ór gãos pú blicos e com u n idades, com a
par t icipação at iva da popu lação, são pr át icas
con cr et as d e p r eser vação e r ecu p er ação
am bien t al qu e con t r ibu em par a u m a m elh or
qu alidade de vida n o m eio r u r al.

46
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go

6 Referências
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da EMATER/ RS-ASCAR; Equ ipe do NUCID/ m e n t o Ru r a l S u s t e n t á ve l , Por t o Alegr e, v.
47
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
1, n . 1, p. 61-71, jan ./ m ar . 2000a. DE SOCIOLOGIA RURAL, 10., 2000, Rio de Ja-
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senvolvimento. In: CONGRESSO MUNDIAL Janeiro, Brasil, 2000b. 1 CD-ROM.

Notas
1 8
O s conceitos de "Agroecologia", O s demais empregados incluem administrativos,
"sustentabilidade", "extensão rural agroecológica" e área financeira, comunicaçõesetc. Um levantamento
"transição agroecológica" podem ser aprofundados feito pela Associação das Extensionistas Sociais da
nostextosde Caporal e Costabeber (2000; 2001). Emater em abril de 2002, abrangendo 64% das
extensionistas, aponta que 83%delas são portadoras
2
Além do grupo de trabalho e da equipe do de diploma de curso superior (em váriasáreas), e 32%
NUCID-DAT, diversos outros colegas participaram haviam realizado algum curso de pós-graduação.
de discussõese colaboraram com críticas, sugestões
9
e materiais de apoio, a quem agradecemos. A EMATER/ RS ocupou até recentemente a
Presidência do Conselho Estadual de Assistência
3
Uma análise histórica da criação da Extensão Social, e participa na condição de membro pleno de
Rural no Brasil e no Rio Grande do Sul pode ser outros Conselhos Estaduais e Fóruns, tais como: da
encontrada em Caporal (1998). Mulher, da Saúde, para a Erradicação do Trabalho
Infantil, de Plantas Medicinais, de Povos Indígenas,
4
Sobre as questões de gênero na extensão rural, de Segurança Alimentar e outros.
ver Siliprandi (2000b). São feitas referências sobre
10
como as mulheres rurais vêm sendo negligenciadas De uma perspectiva sociológica, a expressão
no seu papel de agricultoras em Siliprandi (1999; empoderamento refere-se ao processo crescente de
2000a). protagonismo individual e coletivo dosatorese grupos
sociais, resultando emuma apropriação deconhecimento
5
As extensionistas sociais, até a década de 70, e exercício efetivo de cidadania por parte dosenvolvidos.
eram impedidas de casar; até a década de 80, No âmbito do desenvolvimento rural, trata-se da efetiva
proibidasde dirigir osveículosda empresa; e durante participação dos agricultores e suas organizações em
um longo período, o seu trabalho permaneceu espaços de discussão e decisão, como Conselhos
subordinado ao dos técnicos. Municipaisde Desenvolvimento Agropecuário e Fóruns
Regionais de Desenvolvimento. Sob esse enfoque, o
6
Sem dúvida, o trabalho de organização de empoderamento surge da consciência dosindivíduosdo
grupostambém funcionou, em muitasregiões, como seu próprio poder (saber que sabem e que podem), que
embrião do envolvimento das mulheres em outros se potencializa em açõessociaiscoletivas.
movimentos (sindicatos de trabalhadores rurais,
11
pastorais, associações e cooperativas), sobretudo In: PRO JETO FO MEZERO (2001).
onde ele evoluiu para a discussão de temas como
12
direitosdasmulheres, e o estímulo à sua organização Ver a esse respeito CO NFERÊNCIA ESTADUAL
autônoma. DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIO NAL
SUSTENTÁVEL(1999).
7
Além de 45 Postosde Classificação e 18 Centros
13
de Formação. Ver a esse respeito, Q uintas (2000).

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ATlternativa
ecnológica

Baculovírus, maisdo que uma grande


descoberta: uma revolucionária
alternativa aosagrotóxicos

S e c c h i, V a ld ir A n t o n io * (1984) r epor t am qu e o Baculovirus anticarsia


foi det ect ado pel a pr i m ei r a vez, n o Per u , em
i n set os d a esp éci e Anticarsia gemmatalis,
colet ados n a cu lt u r a de alfafa. O bacu lovír u s
1 Contextualização ocor r e n at u r al m en t e n o agr oecossi st em a e
O bacu l ovír u s, com o al t er n at i va bi ol ógi - in fect a lagar t as de A. gemmatalis, qu an do se
ca ao con t r ol e qu ím i co da lagar t a-da-soj a al i m en t am de fol h as con t am i n adas. (SOSA-
(Anticarsia gemmatalis Hübner), n o Br asil, r e- GOMEZ, 1995).
m on t a à década de 70. Tu do com eçou qu an - Tr abal h os i n i ci ai s com bacu l ovír u s, em
do est e t i po de vír u s, per t en cen t e à Fam íl i a con di ções de l avou r a, dem on st r ar am su a
Baculovirid ae, foi det ect ad o em 1 97 2, n a al t a vi r u l ên ci a con t r a a lagar t a-da-soj a e o
Região de Cam pin as, n o Est ado de São Pau - seu pot en ci al par a o "con t r ol e bi ol ógi co".
l o e, p ost er i or m en t e, em ou t r as r egi ões. Sem pr e qu e u m or gan i sm o vi vo at aca ou -
St ei n h au s & M ar sh , ci t ados por M oscar di t r o par a su a n u t r ição, r epr odu ção ou desen -
vol vi m en t o, di z-se qu e ocor r e o controle bio-
* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agronomia, lógico. Em bor a esse fen ôm en o t en h a sido ob-
Assistente Técnico Estadual da EMATER/RS. ser vado em t em pos i m em or i ai s, qu an do os
secchi@emater.tche.br ch in eses colocavam n in h os de for m igas ju n - 49
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ATlternativa
ecnológica

t o a pl an t as cít r i cas par a con t r ol ar i n set os- casos de for m a pr even t i va, ext r em am en t e
pr agas, som en t e n os t em pos at u ai s o con - dan osas ao m ei o am bi en t e e ao equ i l íbr i o
t r ol e bi ol ógi co passou a ser m ai s est u dado, bi ol ógi co n at u r al . Pr eocu pados com t al si -
face à cr escen t e d em an d a p el a p r ot eção t u ação, os m ovi m en t os soci ai s, esp eci al -
am bi en t al . (SECCH I, 1995). m en t e os pesqu i sador es e ext en si on i st as,
Ao Cen t r o Naci on al de Pesqu i sa da Soj a se m obi l i zar am em bu sca de al t er n at i vas
- Em br apa Soj a - cou be a pr i m azi a de r eal i - c a p a zes d e s u p er a r t a i s p r o b l em a s .
zar , em con j u n t o com os ór gãos de Ext en - (CAPORAL ; SECCHI, 1994).
são Ru r al do Par an á e Ri o Gr an de do Su l , Um con j u n t o d e m ed i d as for am en t ão
n o i n íci o dos an os 80, as pr i m ei r as apl i ca- apl i cadas ao l on go do per íodo, qu ai s sej am :
ções de bacu l ovír u s em l avou r as de soj a, a a ) r es t r i ç ã o a o u s o d e i n s et i c i d a s
fi m de aval i ar a vi abi l i dade do n ovo m ét odo. or gan ocl or ados, qu e acabar am por su a t o-
No Ri o Gr an de do Su l , a pr i m ei r a apl i cação t al pr oi bi ção; b) i m pl an t ação do r ecei t u á-
ocor r eu n a safr a 1981/ 82, n a pr opr i edade r i o agr on ôm i co par a di sci pl i n ar o com ér -
do Sr . Val di r do Val l e, agr i cu l t or assi st i do ci o e u so de agr ot óxi cos; c) l ei s est adu al e
pela EMATER/ RS, n o m u n icípio de Er ech im . feder al sobr e agr ot óxi cos par a m ai or con -
(SECCHI, 1986a,b). t r ol e e r esp on sab i l i zação d os segm en t os
A l agar t a- da- soj a é u m a das pr i n ci pai s en vol vi dos n o set or ; d) desen vol vi m en t o do
pr agas desfol h ador as de pl an t as de soj a, con t r ol e físi co d as for m as ad u l t as d e A.
sen do al vo da m ai or par t e das apl i cações gemmatalis, at r avés do u so de ar m adi l h as
de i n set i ci das n a cu l t u r a. As l agar t as pe- l u m i n osas em l avou r as de soj a; e) sel eção
qu en as, n os t r ês pr i m ei r os est ági os de de- de i n set i ci das m en os t óxi cos par a as pr a-
sen vol vi m en t o l ar val , são m ai s sen sívei s gas da soj a, dan do- se pr efer ên ci a aos pr o-
à ação do bacu l ovír u s e m ai s fácei s de se- d u t os b i ol ógi cos (Ba cillu s t h u r in gien sis e
r em con t r ol adas. A par t i r do 4º di a da i n - Baculovir us anticar sia), fi si ol ógi cos e d e-
fecção, per dem a m obi l i dade e a capaci da- m ai s cat egor i as, pr i or i zan do os m en os t ó-
de al i m en t ar (cer ca de 70%), m or r en do em xi cos ao apl i cador ; f) pr ogr am as de m an ej o
p ou cos d i as. À m ed i d a em qu e cr escem , i n t egr ado de pr agas (M IP), com ên fase n o
a u m en t a m s u a v or a c i d a d e, t or n a m - s e m on i t or am en t o das l avou r as e apl i cação de
m ai s r esi st en t es ao bacu l ovír u s, ch egan - agr ot óxi cos som en t e com o ú l t i m o r ecu r so,
do a dest r u i r com pl et am en t e a fol h agem , e qu an do at i n gi dos os l i m i t es de dan os eco-
se n ão for em con t r ol adas. n ôm i cos; e g) cam pan h as edu cat i vas sobr e
Fazen do- se u m r et r ospect o à época do pr át i cas capazes de con t r ol ar a con t am i -
su r gi m en t o do B. anticarsia, com o n ovo m é- n ação e de evi t ar dan os am bi en t ai s, t ai s
t odo de con t r ol e da l agar t a- da- soj a, con si - com o: val or i zação do r ecei t u ár i o agr on ôm i -
d er an d o u m p er íod o i n t er m ed i ár i o en t r e co, con t r ol e de agr ot óxi cos, t r ípl i ce l avagem
m eados da década de 70 at é m eados de 80, e cor r et a dest i n ação fi n al de em bal agen s
pode-se afi r m ar qu e h avi am m u i t as di scu s- vazi as de agr ot óxi cos, post os de abast eci -
sões e pol êm i cas em fu n ção do u so abu si vo m en t o de pu l ver i zador es, pr eser vação e l i -
de agr ot óxi cos n as l avou r as e dos su cessi - ber ação de i n i m i gos n at u r ai s das pr agas,
vos casos de i n t oxi cação e m or t es de agr i - en t r e ou t r as.
cu l t or es. A par t ir de en t ão, a EMATER/ RS, em con -
Nas l avou r as de soj a er am com u n s at é j u n t o com par cer i as i n st i t u ci on ai s, em pe-
t r ês ou qu at r o apl i cações de i n set i ci das por n h ou - s e, a i n d a m a i s , n a d i f u s ã o d e
50 safr a par a con t r ol ar as pr agas, em m u i t os tecn ologias m ais br an das, r espaldan do a saú -
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ATlternativa
ecnológica

de da popu lação e defesa do m eio am bien t e, pr odu t o com er cial pr on t o par a u sar e as do-
e im plem en t ou pr ocedim en t os eficazes par a ses de lagar t as r ecém -m or t as pelo vír u s pr o-
o m an ejo in t egr ado de pr agas, com ên fase em du zi das pel o pr ópr i o agr i cu l t or . Nest e caso,
bacu lovír u s. (CAPORAL ; SECCHI, 1994). são n ecessár i as cer ca de 50 a 70 l agar t as
gr an des (m ai or es qu e 2,5 cm ) m or t as pel o
vír u s, m acer adas com u m pou co d'águ a, co-
2 Controle e adas com u m pan o fi n o e pu l ver i zadas n or -
multiplicação m al m en t e em u m h ect ar e de l avou r a. Com
o pr odu t o adqu i r i do n o m er cado (h á vár i as
Ai n da qu e se di spon h am de m ét odos al - m ar cas com er ci ai s), a dose bási ca é de 20
t er n at i vos efi cazes, a for m a con ven ci on al g/ h a em con di ções n or m ai s de cl i m a e de
com a apl i cação de i n set i ci das qu ím i cos, ou d esen vol vi m en t o d a l avou r a. A for m a d e
s ej a , s em a a d o ç ã o d o m ét o d o d e apl i cação pode ser t er r est r e, com pu l ver i -
am ost r agem de l avou r as, con h eci do com o zad or es cost ai s ou t r at or i zad os, e aér ea,
"bat ida-de-pan o", par a avaliar o n ível de da- com aer on aves agr ícol as. Par a as con di ções
n os e, con seqü en t em en t e, par a a t om ada de da agr i cu l t u r a fam i l i ar , val en do-se da pu l -
deci são qu an t o à n ecessi dade de i n t er ven - ver i zação cost al ou t r at or i zada, o vol u m e
ção d e con t r ol e. Ad em ai s, o ex cesso d e m ín i m o da cal da é de 100 l i t r os/ h a. Em si -
agr ot óxi cos, al ém de on er ar o cu st o de pr o- t u ações de gr an des l avou r as, on de a pu l ve-
du ção, pode cau sar in t oxicação, polu ição do r i zação aér ea é pr at i cada, u t i l i zam -se 15 l i -
m ei o am bi en t e e, t am bém , el i m i n ar os i n i - t r os de águ a/ h a, n o m ín i m o. Con si der an -
m i gos n at u r ai s (p ar asi t os, p r ed ad or es e do-se qu e a l agar t a pr eci sa com er a fol h a
pat ógen os) pr om oven do a r essu r gên ci a das com bacu l ovír u s par a m or r er , é i m por t an t e
pr agas e a n ecessidade de m ais agr ot óxi cos, qu e a pu l ver i zação sej a bem fei t a par a com -
n u m ver dadei r o círculo vicioso. pl et a cober t u r a das pl an t as.
Ao con t r ár io, os bioin set icidas, por ser em Ger al m en t e, u m a apl i cação bem su cedi -
m ais selet ivos, m ais segu r os ao aplicador e da de bacu l ovír u s é su fi ci en t e par a m an t er
por n ão polu ír em o m eio am bien t e, com o os o con t r ol e du r an t e t odo o ci cl o da cu l t u r a,
agr ot óxicos, são u m a alt er n at iva ver dadeir a- por qu e h á u m a r eposi ção e r edi st r i bu i ção
m en t e ecológica e su st en t ável, qu e con t r i- do vír u s, devido aos focos dei xados pel as l a-
bu em par a m an ter o equ ilíbr io biológico. Além
das van t agen s ecológicas, eviden ciou -se u m a
van t agem econ ôm ica do bacu lovír u s de cer -
ca de 70% qu an do com par ado à aplicação de
in set icidas qu ím icos, em an os de alt a ocor -
r ên cia do in set o. (MOSCARDI, 1984).
O p es q u i s a d or F l á v i o M os c a r d i , d a
Em br apa Soja, idealizador do biocon t r ole da
l agar t a-da-soj a com bacu l ovír u s, r efer e qu e
a apl i cação desse pr odu t o sej a fei t a qu an do
a m ai or i a das l agar t as ai n da são pequ en as,
m en or es do qu e 1,5 cm , n u m a qu an t i dade
m áxi m a de 10 l agar t as por m et r o l i n ear de
pl an t as ou 20 por pan o de am ost r agem . H á
du as for m as de u t i l i zação do bacu l ovír u s: o
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Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
ATlternativa
ecnológica

gar t as m or t as e pel a gr an de qu an t i dade de (h oje FEPAGRO), a COTRIJ UÍ, a EM BRAPA e


i n ócu l os deposi t ados n a l avou r a. a EMBRATER (ext in t a Em pr esa Br asileir a de
H á d u as f or m as d e m u l t i p l i cação d o Assi st ên ci a Técn i ca e Ext en são Ru r al ). A
bacu lovír u s: a cam po e em labor at ór io. Nes- p ar cer i a com esses ór gãos est ab el eci a a
t e caso, o i n set o é cr i ado com di et a ar t i fi - m on t agem de ci n co l abor at ór i os r egi on ai s
ci al (pr ot eín a veget al , caseín a, ext r at o de p ar a a p r od u ção d as d oses i n i ci ai s d e
l evedu r as e vi t am i n as) e depoi s são con t a- bacu l ovír u s par a di st r i bu i ção, u so e m u l t i -
m i n ados, m or t os pel o vír u s e ar m azen ados plicação pelos agr icu lt or es. (SECCHI, 1986b;
sob con gel am en t o, par a post er i or m en t e ser CAPORAL ; SECCHI, 1994).
pr epar ada a for m u l ação em pó m ol h ável . A Par al el am en t e à pr odu ção em l abor at ó-
cam po, a m u l t i pl i cação é fei t a com a apl i - r i o, a EM ATER/ RS en vi ou equ i pes t écn i cas
cação do bacu l ovír u s n a l avou r a com m ai o- aos est ados do Par an á e Goi ás par a a m u l -
r es popu l ações de l agar t as, qu e são m or t as, t i pl i cação de bacu l ovír u s a cam po, a fi m de
col et ad as, em b al ad as e ar m azen ad as n o a m p l i a r a o m á x i m o o es t o q u e d o
f r eez er , p a r a p o s t er i o r a p l i c a ç ã o n o b i oi n set i ci d a, p ar a o d esen vol vi m en t o d a
bi ocon t r ol e. O pon t o de col et a é det er m i n a- cam pan h a est adu al . Fat o i n u si t ado ocor r eu
do pel os si n ai s car act er íst i cos da i n fecção n a s l a v o u r a s d e s o j a d a C o o p er a t i v a
por vír u s, ou sej a, a descol or ação do cor po C o o p er f o r m o s o , em G o i á s , o n d e o
da l agar t a, fi can do fl áci do e am ar el ado, e a bacu l ovír u s foi m u l t i pl i cado. Não h aven do
t en dên cia de dir igir -se par a o t opo das plan - con dições t écn ico-oper aci on ais par a apl ica-
t as, m or r en do depen du r ada pel as pat as ab- ção t er r est r e, en t ão, pel a pr i m ei r a vez n o
dom i n ai s, den t r o de u m a sem an a ou m ai s Br asi l (e n o m u n do) se u t i l i zou com absol u -
após su a con t am i n ação. t o su cesso u m a p u l ver i zação aér ea com
bacu lovír u s, após u m a exit osa adapt ação da
3 Evolução e resultados aer on ave agr ícol a com u m a bar r a de pu l ve-
r i zação. Essa op er ação foi execu t ad a em
In i ci ado o u so de bacu l ovír u s n a safr a de 1984, sob a n ossa coor den ação e do En ge-
1981/ 82, n as su bseqü en t es, t an t o o n ú m e- n h eir o Agr ôn om o An t on in h o Lu iz Ber t on , da
r o de u su ár i os, qu an t o a ár ea de soj a bi ol o- EM ATER/ RS, n o m u n i cípi o de For m oso do
gi cam en t e t r at ada, expan di r am -se si gn i fi - Ar agu ai a, h oj e p er t en cen t e ao Est ad o d e
cat i vam en t e n as pr i n ci pai s r egi ões pr odu - Tocan t i n s.
t or as, pr opor ci on al m en t e aos est ím u l os e Os r esu ltados obtidos com o Pr ojeto tor na-
cam pan h as especi ai s en cet adas. As est r a- ram a se repetir nas safr as su bseqü entes, com
t égi a s d e c o m u n i c a ç ã o e i n t egr a ç ã o significativa r edu ção do nú m er o de aplicações
i n t er i n st i t u ci on al for am d eci si vas p ar a a de agr otóxicos, devido ao r estabelecim ento do
expan são do u so do bacu lovír u s n o Rio Gran- equ ilíbr io biológico nas lavou r as pela ação dos
de do Su l. i n i m i gos n at u r ai s. As ap l i cações d e
Na safr a de 1984/ 85, por exem pl o, gr a- bacu lovír u s, aliadas ao pr ogr am a de m anejo
ças aos excel en t es r esu l t ados obt i dos at é in t egr ado de pr agas e ao u so de pr odu t os
en t ão, a EM ATER/ RS r esol veu desen vol ver fitossanitár ios m ais seletivos, pr opor cionar am
u m pr oj et o especi al , con h eci do com o Pr oj e- m elh or es con dições par a a m an u t en ção do
t o Bacu lovír u s, con t an do com o apoio fin an - equ ilíbr io biológico e pr eser vação dos agentes
cei r o do M i n i st ér i o da Agr i cu l t u r a e a par - d e con t r ol e n at u r al . E vi d ên ci as d esse
t i ci p ação d e vár i as en t i d ad es, en t r e as bioequ ilíbr io for am obser vadas n a safr a de
52 qu ais, a FUNDACEP FECOTRIGO, o IPAGRO 1986/ 87, qu ando as inter venções de contr ole
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ATlternativa
ecnológica

das pr agas de soja for am significativam ente pela in su ficien te dispon ibilidade de pr odu to
r edu zidas, ficando em tor no de 0,25 o nú m er o for m u lado n o m er cado ou dos est oqu es de
m édio de aplicação de inseticidas pelos agr i- bacu lovír u s nas pr opr iedades, seja pelas pr ó-
cultores assistidos pela EMATER/ RS. (SECCHI, pr ias r estr ições im postas pelas condições cli-
1987b). Nessas lavou ras foram constatadas ge- m át icas ou fit ossan it ár ias, n em por isso o
n er alizadas in cidên cias da "doen ça br an ca" avanço do contr ole biológico deixar á de cr es-
das lagar tas, pr ovocada pela ação do fu n go cer. Ademais, os programas desenvolvidos para
entom opatogênico Nomuraea rileyi e, tam bém , o seu u so per m itir am , inclu sive, desenvolver
elevado gr au de par asitism o pela lar va da ves- ou tr os tipos de bacu lovír u s, com o Baculovirus
pa Microcharops bimaculata, entre ou tros agen- spodoptera, para a lagarta-do-cartu cho-do-mi-
tes de contr ole biológico natu r al das lagar tas. lho, Spodoptera frugiperda (Smith) e Baculovirus
(CAPORAL ; SECCHI, 1994; SECCHI, 1987a). erinny is, par a o M ar am dová-da-m an dioca,
Os r esu lt ados físicos obt idos n o per íodo de Erinnyis ello ello (L.). As per spectivas, segu ndo
1981 a 1997 com o u so de bacu lovír u s n o Moscar di, cit ado por Cam pan h ola & Bet t iol
con t r ole biológico da lagar t a-da-soja n o Rio (2002) são de qu e os m étodos de pr odu ção de
gr an de do Su l, r epr esen t ar am acu m u lat iva- bacu lovír u s possam ser aper feiçoados, pr inci-
m en t e 109.988 pr odu t or es assist idos par a palm en t e em labor at ór io, o qu e per m it ir ia
u m a ár ea t r at ada de 1.943.253 h a, ou seja, atingir 4 m ilhões de hectar es, enqu anto hoje
17,7 h a em m édia por pr odu t or . Os r esu lt a- é estim ada entr e 1,0 e 1,4 m ilhão de hecta-
dos econ ôm icos au fer idos pelo n ão u so de r es cu ltivados com soja no Br asil. A Em br apa
agr ot óxicos r epr esen t ar am u m a econ om ia de Soja est im a qu e o bacu lovír u s pr opor cion a
US$ 21.555.000 em in set icidas (2.653.500 u m a econom ia de R$ 13 m ilhões/ ano, u m a
l i t r os ); U S$ 5 . 3 3 3 . 8 0 0 em ól eo d i es el vez qu e elim ina a aplicação de apr oxim ada-
(19.142.000 lit r os) e US$ 4.919.200 em ope- m ente 1,2 m ilhão de litr os de inseticidas nas
r ação de m áqu in as (1.462.500 h or as), qu e n o lavou r as br asileir as. Sem pr e qu e cam panhas
global sign u ficar am u m a econ om ia de 31,8 pr om ocion ais são desfech adas par a estim u -
m ilh ões de dólar es. lar o u so de bacu lovíru s, as respostas têm sido
En t r e os ben efícios sócio-am bien t ais t r a- im ediatas, com o na safr a 2001/ 2002, qu ando
zi d os p or est a t ecn ol ogi a, d est acam - se: 2.568 pr odu tor es dir etam ente assistidos pela
m ai or bi odi ver si dade da en t om ofau n a; m ai - EMATER/ RS-ASCAR tr atar am 49.441 hecta-
or r egu l ação dos per cevej os pel a n ão per - r es de lavou r as com bacu lovír u s e 696 pr odu -
t u r b ação d e seu s i n i m i gos n at u r ai s; m e- tor es tr atar am 12.681 hectar es com Bacillus
n or con t am i n ação am bi en t al ; m el h or qu a- thuringiensis, além de u m nú m er o significati-
l i d ad e d os al i m en t os d er i vad os d a soj a; vo de ou tr os pr odu tor es qu e adotar am indir e-
m en o r ex p o s i ç ã o e i n t o x i c a ç ã o p o r tam ente o contr ole biológico, cu jos dados não
agr ot óxi cos. pu der am ser contabilizados.
Capor al & Secch i (1994) con sider am n e-
4 Conclusão cessár io m an t er os fór u n s t écn icos de ava-
liação e discu ssão en volven do, pr in cipalm en -
Em r azão dos seu s m ú ltiplos benefícios, o t e, ext en sion ist as e pesqu isador es, n o sen -
u so do Baculovirus anticarsia se constitu i em t ido de se bu scar m aior apor t e de r ecu r sos
u m a tecnologia acessível e m u ito bem aceita pú blicos par a, at r avés de n ovas est r at égias
por par te dos agr icu ltor es, especialm ente os e de u m m ar k et in g m ais agr essivo, au m en -
fam iliar es. Ain da qu e h aja lim it ações, seja t ar a abr an gên ci a dos t r abal h os e t or n ar
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Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
ATlternativa
ecnológica

m ais am pla e m en os r est r it iva a adoção do


u so do bacu lovír u s n a sojicu lt u r a gaú ch a.

5 Referências
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Técn ico COPER, 20). t a m i n a ç ã o p o r Ag r o t ó x i c o s . Por t o Alegr e:
EMATER-RS, 1995, p. 27-35. (PRÓ-GUAÍBA.

54 SECCHI, V. A. Bacu lovíru s na agricu ltu ra (IV). M an u al Técn i co, 2)

Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
Etnoconservação como política
de meio ambiente no Brasil: desafios
políticosde resistência e integração
ao mundo globalizado

A le x a n d r e , A g r ip a Fa r ia * r enováveis) associada par ticu lar m ente às pr o-


postas de destaqu e das exper iências das Re-
ser vas Extr ativistas e a ou tr as políticas de r e-
R e s u m o : O pr opósito deste ar tigo consiste sistência e integr ação ao m u ndo globalizado.
em discu tir a especificidade cu ltu r al br asilei- P a la v r a s -c h a v e : et n ocon ser vação; polít ica
r a e seu s conflitos r elacionados com a política n acion al br asileir a; u n idades de con ser vação;
nacional de u nidades de conser vação. Neste globalização.
particu lar, o texto confere destaqu e ao qu e hoje
se discu te com o etnoconser vação (ou , ainda, Introdução
gest ão com u n i t ár i a dos r ecu r sos n at u r ai s
Nu m m u ndo cada vez m ais globalizado e
* Professor do Departamento de Ciências Sociais e h om ogên eo, m u itas vezes, cr esce a idéia de
Filosofia da Universidade Regional de Blumenau e qu e a continu idade da diver sidade de cu ltu -
Doutorando do Programa Interdisciplinar emCiências r as hu m anas é elem ento fu ndam ental par a a
Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina. constitu ição de sociedades plu ralistas e demo-
Pesquisador e Coordenador Geral do Instituto de cr áticas, atr elando-se a isso a im u tabilidade
Ecologia Política. Para contato com o autor: telefone: dos padr ões cu ltu r ais em qu e se dever ia m an-
(48) 322- 0916 e e-mail: agripa@cfh.ufsc.br. ter as popu lações tr adicionais nas u nidades 55
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
de conser vação (Diegu es, 2001: 96-97). pu blican o, defen sor es da cau sa da n at u r eza
Entre a valorização das atividades mantidas com o pat r im ôn io br asileir o exclu sivo.
por essas comunidades, uma margem de flexi- Recentem ente ainda se lam enta qu e exis-
bilidade para a inovação deve ser permitida para ta no Br asil som ente u m tipo de u nidade de
não se correr o mesmo risco das experiências conser vação qu e contem pla e favor ece a per -
de “naturezas intocadas”, impostas pela legisla- m anência de populações tradicionais, ao lado
ção das décadas de 60 e 70 no Brasil e no mun- da ú nica r eser va da biosfer a da UNESCO do
do, que marginalizaram e expulsaram popula- Br asil (cr iada em 1992 e qu e abr ange as r egi-
ções inteiras de suas áreas comuns, seguindo ões Su l e Su deste) e qu e pr evê tam bém a pr e-
a experiência do modelo americano dos parques sen ça de popu lações t r adicion ais: a r eser va
nacionais baseados em concepções preservacio- ext r at ivist a, defin ida com o ár ea n at u r al ou
nistas do “mundo selvagem” (w ilderness), como pou co alterada, ocu pada por gru pos sociais qu e
o de Yellow stone, criado nos EUA em 1872 (Allut; u sam com o fonte de su bsistência a coleta de
Guha; Sarkar; Pompa e Kaus; Castro; Pretty e pr odu tos da flor a nativa ou a pesca ar tesanal
Pimbert; Colchester; Schwartzman e Arruda In: e qu e as r ealizam segu ndo for m as tr adicionais
Diegues, 2000). A esse respeito, consultar o tam- de atividade econôm ica su stentável e condi-
bém célebre trabalho O nosso lugar virou parque, ci on ad as a r egu l am en t ação esp ecíf i ca
de Antônio Carlos Diegues (1999). (DIEGUES, 2001: 122).

Et no c o nse r vaç ão c o mo p o l í t i c a d e me i o
amb i e nt e : d e saf i o s p o l í t i c o s d e r e si st ê n-
"Recentemente ainda se lamenta
c i a e i nt e g r aç ão ao mund o g l o b al i zad o
que exista no Brasil somente um Com o r eação pol ít i ca, exi st em di ver sos
tipo de unidade de conservação m ovim en t os de populações tradicionais em
ár eas pr ot egidas n o Br asil. Com o dest acam
que contempla e favorece a diver sos t r abalh os or gan izados por Diegu es
(2000; 2001), pode-se con t ar du as espécies
permanência de populações
desses m ovim en t os:
tradicionais ..."
a) os movimentos autônomos localizados sem
inserção em movimentos sociais amplos; e
Nesse m esm o sen t ido, o su r gim en t o das b) os movimentos locais com inserção em
pr eocu pações com as popu lações t r adicion ais movimentos sociais amplos: as experiências das
m or ador as de par qu es n acion ais vem m ot i- Reservas Extrativistas.
va n d o a va l or i za çã o d o a m b i en t a l i sm o
ecocon ser vacion ist a. O sen t ido h ist ór ico de Os p r i m ei r os d esses m ovi m en t os d i vi -
captu ra dos problemas de desenvolvimento no dem -se em :
Br asil já foi n ar r ado por Caio Pr ado, Sér gio
Bu ar qu e de Holan da, Eu clides da Cu n h a, en - i) movimentos locais espontâneos: são m ovi-
t r e ou t r os, e por J osé Au gu st o Pádu a, qu e r e- m entos or ganizados de pequ enos pr odu tor es
cen t em en t e (1987) r ecu per ou os r egi st r os ext r at ivist as or gan izados n a defesa de su a
históricos de José Bonifácio, Joaqu im Nabu co, ár ea. Dest acam -se aqu i os m ovim en t os de
An dr é Rebou ças e Alber t o Tor r es, en t r e ou - pequ enos pr odu tor es pela pr eser vação de r e-
t r os, abolicion ist as m on ar qu ist as, liber ais e cu r sos haliêu ticos qu e têm levado ao fecha-
56 desen volvim en t ist as do Br asil im per ial e r e- m ento de ár eas de pesca par a u so exclu sivo

Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
da comu nidade, como nos casos registrados no Nest e caso, vale r egist r ar o acon t ecim en -
Rio Cu iabá, pr óxim o de San t o An t ôn io do t o de per segu ição polít ica e econ ôm ica r egis-
Lever ger , e n a r egião am azôn ica, com o fe- t r ado por Diegu es (2001), com o m ovim en t o
cham ento de lagos pelas popu lações locais. dos Ex-qu ilom bos Negr os de Tr om bet as. É sa-
ii) movimentos locais tutelados pelo Estado: bido qu e a r egião am azôn ica con st it u i-se n a
mesmo com a interdição da presença de popu- ár ea de m aior con flit o en t r e popu lações t r a-
lações em áreas de preservação, au toridades dicion ais e u n idades de con ser vação n o Br a-
estatais vêm dando acolhida às populações tra- sil, ocor r en do por isso en or m e expr opr iação
dicionais que foram expulsas de suas áreas, com dos espaços, r ecu r sos e saber es da par t e das
a criação desses parques. É o caso do Parque popu lações locais pela im plan t ação, desde as
Estadual da Ilha do Cardoso, litoral sul de São décadas de 60 e 70 do r egim e m ilit ar , t an t o
Paulo, criado em 1962. Segundo Diegues (2001), de gr an des pr ojet os de m in er ação qu an t o de
"exem plo desse tipo de situ ação das popu - ár eas n at u r ais pr ot egidas, est as ú lt im as por
lações tr adicionais em ár eas natu r ais pr ote- pr essão in t er n acion al su bseqü en t e à posição
gidas é a existente no Estado de São Pau lo. pr ó-acolh im en t o de in dú st r ias polu en t es n o
Nesse estado, em cer ca de 37,5% dos par qu es país, assu m ida pelos diplom at as br asileir os
por ocasião da con fer ên cia de Est ocolm o so-
existe ocu pação hu m ana, tr adicional ou não.
br e Meio Am bien t e Hu m an o, em 1972. Com o
Essas popu lações são heter ogêneas qu anto a
r essalt a Diegu es, a fim de con segu ir r ecu r -
or igem geogr áfica, laços histór icos com a r e-
sos i n t er n aci on ai s e apr ovação n os m ei os
gião, situ ação fu ndiár ia e tipo de u so de r e-
am b i en t al i st as ofi ci ai s (set or es d o B an co
cu r sos natu r ais. De u m lado, as qu e invadi-
Mu n dial, por exem plo), n os ch am ados pólos
r am o par qu e na época ou depois de su a cr ia-
de desen volvim en t o se pr opu n h a a in st ala-
ção e qu e são fr u to da estr u tu r a agr ár ia in-
ção de ár eas n at u r ais de con ser vação par a
ju sta no Br asil, e, de ou tr o, popu lações tr adi-
“m in im izar ” os gr aves im pact os am bien t ais
cion ais qu e r esidem h á vár ias ger ações n a
decor r en t es dos gr an des pr ojet os.
ár ea tr ansfor m ada em par qu e e qu e m antêm
"as populações locais, espalhadas pelas mar-
víncu los histór icos im por tantes com ela, de-
gens dos r ios, for am então du plam ente desti-
pendem par a sobr evivência do u so dos r ecu r -
tu ídas. Os estu dos de viabilidade e de im pacto
sos natu r ais r enováveis, dos qu ais têm gr an-
am biental, no ger al, negavam visibilidade aos
de conhecimento.” (DIEGUES, 2001: 138).
m or ador es locais qu e viviam da coleta de cas-
tanha, da pesca, da lavou r a de su bsistência.
Nessas ár eas, h á cer t a sen sibilidade de
Par a esses estu dos os m or ador es locais, qu e
t écn icos das agên cias am bien t ais dispost os viviam espalh ados pelo t er r it ór io, sim ples-
à in t egr ação das popu lações. O m esm o ocor - m ente não existiam , e qu ando se lhes r eco-
r e com : nhecia a existência, er a par a cadastr á-los, li-
iii) movimentos locais com alianças com ONG's: m itar -lhes as atividades extr ativistas e, final-
são exemplos de incorporação recente de popu- m ente, expu lsá-los u sando de vár ias for m as
lações tradicionais em u nidades de conserva- de coer ção, inclu indo a física e a policial. Esse
ção, como no caso do projeto na Estação Ecoló- processo ocorreu no final da década de 70 com
gica Manirau á, no Estado do Amazonas, qu e é as popu lações negr as, r em anescentes de an-
administrada pela Sociedade Civil Manirau á e tigos qu ilom bos do r io Tr om betas, qu e viviam
apoiada pela World Wildlife Fund (WWF), apesar pr óxim as a Óbitos, no Par á. Em 1979, o IBDF
de ali tratar-se de u ma u nidade de conserva- (depois IBAMA) cr iou a Reser va Ecológica de
ção de u so restritivo. Tr om betas, nu m a ár ea secu lar m ente u tiliza- 57
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
da pelos negr os de Tr om betas em su as ativi- m édio do ór gão am bien t al feder al, o IBAMA, e
dades extr ativistas de pesca e castanha. (...) A aos dem ais ór gãos sem elh an t es est adu ais e
im plantação da Reser va Ecológica na m ar gem m u n icipais, e assim legit im an do a posição
esqu er da do Tr om betas, e a cr iação poster ior , do governo como responsável por u ma mu dan-
em 1989, da Flor esta Nacional na m ar gem di- ça de at it u de par a com as populações tradicio-
r eita do m esm o r io, tor nar am inviável o m odo nais; e a ou t r a per spect iva, associada a idéi-
de vida dos negr os liber tos de Tr om betas. (...) as de en volvim en t o com essas popu lações
Ver ifica-se nesse caso u m a associação de for - m en os pr agm át icas, den om in adas sob o sig-
ças privadas (mineradoras) e pú blicas (IBAMA) n o, por exem plo, de etnoconservacionismo.
par a destr u ir , física e cu ltu r alm ente, u m a po-
Ec o c o nse r vac i o ni smo
pu lação qu e até en tão tin h a vivido em h ar -
e et no c o nse r vac i o ni smo no Br asi l
m onia com a flor esta e os r ios da Am azônia.
Na visão dessas institu ições, a ação se legiti-
ma pelo apelo à 'modernidade econômica e eco- Historicamente, o mais conhecido movimen-
lógica' (...)" (DIEGUES, 2001: 144). to de ecoconservacionismo político é o dos Se-
ringueiros. Iniciado na década de 70, o movi-
mento se opunha fortemente à derrubada das
florestas no Acre, através do primeiro sindicato
rural desta causa, em Basiléia. Já em 1985, o
movimento organizado veio a compor o Conse-
"... a visibilidade legal dasreser-
lho Nacional dos Seringueiros, estabelecido para
vas deve ser acompanhada de reivindicar a criação das Reservas Extrativistas.
Em oposição efetiva contra os fazendeiros, eles
uma visibilidade econômica ..." defendiam radicalmente a posse da terra e o
modo de vida tradicional, que contou com o apoio
efetivo de grupos ambientalistas nacionais e in-
ternacionais. Em 1986 foi criada a Aliança dos
Esse registro serve para ilu strar também qu e Povos da Floresta, congregando também a luta
as popu lações negras do Trombetas não fica- de reivindicações das populações indígenas. Em
ram passivas. Elas se organizaram e criaram Altamira (1989), realizou-se igualmente o En-
a Associação das Comu nidades dos Remanes- contro dos Povos das Florestas, para protestar
centes de Qu ilombo para lu tar contra a expro- também contra a construção de hidrelétricas no
priação de su as terras e da su a cu ltu ra, vindo rio Xingu, local de várias reservas indígenas.
a protestar com su as reivindicações ju nto ao A h ist ór ia do ext r at ivism o n o Br asil est á
Ministério Pú blico Federal, qu e hoje se desta- associada aos diver sos ciclos da ext r ação dos
ca por possu ir grande sensibilidade na defesa pr odu t os par a expor t ação, in icialm en t e com
dos interesses dessas populações tradicionais o pau -br asil. Som en t e n o sécu lo XIX a r egião
e indígenas no Brasil (ALEXANDRE, 2002). Nor t e despon t a com o r egião ext r at ivist a de
Qu anto aos movimentos locais com inserção im por t ân cia econ ôm ica, dest a vez da bor r a-
em movimentos sociais amplos: as experiências ch a, o qu e m er eceu seu s t em pos pr ósper os,
das Reservas Extrativistas, u m pon t o de vist a vin do a sofr er declín io n a década de 20 dest e
do ecocon ser vacion ism o var ia en t r e a per s- sécu lo. J u n t o com a bor r ach a, a cast an h a e
p ec t i v a q u e d es t a c a a h i s t ór i a d o plan t as m edicin ais da Am azôn ia t am bém se
ext r at ivism o, e daí pr ocu r a-se in cor por á-la ao in clu em n as at ividades ext r at ivist as. J á em
58 m ovim en t o de t u t ela do gover n o, por in t er - ou t r as r egiões, possu em o cacau , o babaçu , o
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
su a r epr odu ção n ão é for çada ou con t r olada
pelo h om em : tais r ecu r sos podem ser u sados,
geridos, mas não produ zidos. Isso inclu i as flo-
r estas natu r ais, a fau na selvagem aqu ática e
ter r estr e, as águ as e o ar . Recu r sos r enováveis
são vivos ou em m ovim ento, onde a pr esença
da var i ável t em por al i m pl i ca a adoção de
enfoqu es centr ados na noção de flu xo e de va-
r iabilidade. Mesm o con figu r an do u m pr oces-
so d e n at u r eza b i ofísi ca, a con d i ção d e
r en ovabilidade pode ser an alisada t am bém
com o u m fen ôm en o social com plexo, a par t ir
do r econ h ecim en t o de qu e ela se t or n a par -
cialm en t e con st r u ída m edian t e a in t er ação
social" (VIEIRA; WEBER, 1997: 27)
óleo da car naú ba im por tância econôm ica con-
sider ável, em especial n o Nor dest e. As at ividades ali desen volvidas são t am -
A evolu ção h ist ór ica do ext r at ivism o r egis- bém de cooper at ivism o, com er cialização dos
t r a a vi abi l i dade econ ôm i ca das Reser vas pr odu t os e de pesqu isa de sist em a de m an ejo
Ext r at ivist as. Est as com põem : flor est al. De acor do com a m aior ia dos est u -
"u m a ár ea já ocu pada por popu lações qu e dos apon t ados aqu i, a visibilidade legal das
vivem dos r ecu r sos da flor esta, r egu lar izada r eser vas deve ser acom pan h ada de u m a vi-
atr avés da concessão de u so, tr ansfer ida pelo sibilidade econ ôm ica, afeit a com o est á h oje
Estado par a associações legalm ente constitu - a bu sca de alt er n at ivas de com er cialização
ídas, explorada economicamente segu ndo pla- de seu s pr odu t os n o m er cado in t er n acion al.
no de m anejo específico e or ientada par a o be- O Con selh o Nacion al dos Ser in gu eir os dis-
nefício social das popu lações atr avés de pr oje- põe t am bém do Cen t r o de For m ação e Pes-
tos de saúde e educação" (DIEGUES, 2000: 147). qu isa, o qu al in vest e n a diver sidade da pr o-
d u ç ã o, p es q u i s a em m a n ej o n a t u r a l ,
agr oflor est al e n eo-ext r at ivist a e de con ser -
É importante também inclu ir aqu i o concei-
vação gen ét ica (DIEGUES, 2000, p. 148).
to de gestão patrimonial dos recursos naturais
Segu ndo levantamentos do Centro Nacional
renováveis, ou de gestão comunitária dos recur-
de Desenvolvimento Sustentado das Populações
sos naturais renováveis. Tais conceitos infor-
Tradicionais, ligado ao IBAMA, a viabilidade das
mam a natu reza da atividade extrativista, qu e,
reservas é significativa, tomando-se a renda
além de estar associada aos conhecimentos e
familiar dos extrativistas, qu e chega a ser su -
ao modo de u so e acesso aos recu rsos comu ns
perior à renda de 60% da popu lação residente
dispostos pelas populações tradicionais, já indi-
u rbana da Região Norte, qu e no ú ltimo senso
cados aqu i, den otam qu e são r ecu r sos com
de 2000 ganhava até u m salário mínimo. Essa
especificidades pr ópr ias. Com o su blin h am
su perioridade tende também a au mentar com
Vi ei r a e Web er (19 97), r ecu r sos n at u r ai s
o incremento da atividade extrativista, segu n-
r en ováveis r efer em -se:
do o qu e esse mesmo estu do apontava.
Esse Centro do IBAMA também é responsável
"ao caso daqu eles qu e o h om em explor a
pela implementação de estratégias de indução
sem poder in flu en ciar o pr ocesso de r en ova-
ção de m an eir a posit iva. Em ou t r as palavr as, para a criação de reservas extrativistas, seguin-
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A r t i go
e r ec eb en d o a p o r t e t éc n i c o d o ó r gã o
am b i en t al f ed er al : Reser va E x t r at i vi st a
Tapaj ós-Ar api u n s (PA); Reser va Ext r at i vi s-
t a da M at a Gr an de (M A); Reser va Ext r at i -
vi st a do Qu i l om bo do Fr exal (M A); Reser va
Ext r at i vi st a do M édi o J u r u á (AM ); Reser va
Ext r at i vi st a do Ci r i áco (M A); Reser va Ext r a-
t i vi st a do Ext r em o Nor t e do Tocan t i n s (TO);
Reser va Ext r at i vi st a do Lago do Cu n i ã (RO);
Reser va Ext r at ivist a do Rio Ou r o Pr et o (RO);
Reser va Ext r at i vi st a do Ri o Caj ar í (AP); Re-
ser va Ext r at i vi st a Ch i co M en des (AC); Re-
ser va Ext r at i vi st a do Al t o J u r u á (AC); Re-
ser va E x t r at i vi st a M ar i n h a d a B aía d e
Igu ape (BA); Reser va Ext r at i vi st a M ar i n h a
do o modelo dos seringueiros do Norte e que já de Ar r ai al do Cabo (RJ ); e Reser va Ext r at i -
induzira a criação da primeira reserva extrati- vi st a M ar i n h a do Pi r aj u baé (SC).
vist a m ar in h a, n a Região Su l do Br asil, n o Esse contexto tem levado ainda a análise
ecossi st em a m ar i n h o d e Pi r aj u b aé, em antr opológica sobr e as com u nidades tr adicio-
Florianópolis, Santa Catarina. As propostas do po- n ais a r ever o sen t ido de con ser vacion ism o
der público constam do Projeto Resex desse Cen- am bien t al ou ecocon ser vacion ism o. Den t r o
tro. Além de visar o auxílio legal para a criação dessa n ova ót ica, a post u lação m ais r ecen t e
das reservas, o projeto oferece auxílio técnico para par a en t en der o com por t am en t o polít ico, so-
fortalecer as organizações a se desenvolverem cial, econ ôm ico e cu lt u r al dos “comu nitários”
estru tu ralmente. Os maiores benefícios desse t em sido o t er m o etnoconservacionismo. Na r e-
projeto apontados pelo IBAMA referem-se ao au- alidade, Diegu es (2000) a coloca com o o r e-
xílio às atividades produtivas de subsistência e su lt ado da con st at ação das am bigü idades e
de comercialização, principalmente no fomento in con gr u ên cias das t eor ias pr eser vacion is-
de parcerias de diversas ordens com universida- t as qu e ele acu sa com o elabor adas pelos paí-
des e negócios com empresas. ses do Nor t e e t r an splan t adas par a os países
Obser van do m ais de per t o os r egist r os de do Su l, com o apoio de gr an des or gan izações
di vu l gação do IBAM A 1 , par a o caso das Re- pr eser vacion ist as in t er n acion ais. An cor ado
ser vas Ext r at i vi st as (Resex), ch am a a at en - n u m n ovo ecologismo social dos m ovim en t os
ção o asp ect o cen t r al qu e vem a t er o d o Ter cei r o M u n d o, su r gi d os n a Í n d i a,
en foqu e cr ít i co con cer n en t e à apr opr i ação Zim bábu e, m as t am bém n a Am ér ica Lat in a,
pr ivada dos r ecu r sos n at u r ais. As Resex são esse etnoconservacionismo en fat iza a n eces-
som en t e expl i cadas l evan do-se em con si - sidade de se con st r u ir u m a alian ça en t r e o
d er a ç ã o o a gr a v a m en t o d o s c o n f l i t o s h om em e a n at u r eza, baseada n a im por t ân -
cia das com u n idades t r adicion ais in dígen as
soci oam bi en t ai s r el aci on ados com a expan -
e n ão-in dígen as n esse t ipo de con ser vação
são do dom ín i o de pr opr i edade pr i vada t ípi -
das m at as e ou t r os ecossist em as pr esen t es
co dos m odel os agr ícol as e de pecu ár i a br a-
n os territórios em qu e h abit am . Tr at a-se da
si l ei r os. Nos r egi st r os con su l t ados, são as
valor ização do con h ecim en t o e das pr át icas
segu i n t es as Reser vas Ext r at i vi st as cr i adas
de m an ejo dessas popu lações. Isso r equ er u m
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olh ar cu idadoso dos cien t ist as, t ão cu idadoso nenhu m a m u tação. Faz-se daí óbvio qu e, par a
qu an t o zel oso p el o con h eci m en t o d esse as cosm ologias am er ín dias en con tr adas por
patrimônio (DIEGUES, 2000, p. 41-42). Descola, a “natu r eza”, tal qu al entende a ci-
Aliás, tal preocu pação já não desponta so- ência ocidental, não é u m dom ínio au tônom o
m en t e com o r et ór ica do m u n do acadêm ico. e independente, m as faz par te de u m conju n-
Pajés qu e r epr esen tam n ações in dígen as de to de inter -r elações (DIEGUES, 2000, p. 30;
várias partes do Brasil já reivindicaram pre- DESCOLA, 2000, p. 149-163).
sença ju nto à Organização Mu ndial da Proprie-
dade In t elect u al, em Gen ebr a. Pr eocu pados À guisa de conclusão
com a pirataria do conhecimento qu e detêm,
eles exigem qu e os organismos internacionais Esse t em a par a o ecocon ser vaci on i sm o
criem formas de pu nir o rou bo de recu rsos na- obr iga-n os ao desfazim en t o da cer t eza sobr e
tu rais das florestas para a exploração in du s- qu alqu er u t ilização m ais econ om icist a sobr e
t r ial e montem u m fu ndo com recu rsos para o m eio n at u r al ociden t al. Se é cer t o a at ivi-
su bsidiar pesqu isas feitas pelas próprias comu - dade econômica com o sentido empregado para
nidades indígenas. Nos tempos de discussão so- a “con ser vação”, o sen t ido do et n ocon ser va-
bre recu rsos genéticos, eles também exigem cion ism o dever ia en t ão at er -se à “con ser va-
regras para a divisão dos benefícios sobre os ção” das populações tradicionais, in clu in do
conhecimentos por eles trabalhados. Segu ndo aqu i as in dígen as apon t adas por Descola.
o jornal Folha de S. Paulo2 , há registros de pelo Em contraposição também com as cartilhas
menos oito espécies da Amazônia qu e foram preservacionistas qu e defendem u m a par tici-
patenteadas por laboratórios estrangeiros. pação passiva e confor m ista das com u nidades
Colocados de m aneir a talvez instr u m ental tr adicionais (inclu indo as indígenas), em fa-
dem ais, esses fat os n ão afast am a h ipót ese vor da in tocabilidade de flor estas e espaços
de u m n ovo ecocon ser vacion ism o. Segu n do n at u r ais vir gen s, sem a pr esen ça h u m an a,
Diegu es (2000), r egistr ou -se na liter atu r a téc- Pim ber t e Pr etty (2000) defendem u m a con-
nica, entr e 1990 e 1999, m ais de 61% de pu - cepção alter nativa par a a obtenção de r esu l-
blicações sobr e et n ocon h ecim en t o e m an ejo tados favor áveis a essas m inor ias:
de ecossistem as por par te de populações tradi-
cionais, com infor m ações detalhadas. Descola "Um a pr oposta par a a par ticipação local r e-
(2000) tam bém atém -se ao conhecim ento das cen t em en t e su r giu do m ovim en t o dos m or a-
cu ltu r as não ocidentais, inclu indo indígenas dor es de Gu jjar sobr e o pr opost o Par qu e Naci-
e tr adicionais, com o as com u nidades r ibeir i- on al em Ut t ar Pr adesh , Ín dia. Bu scan do u m
nhas e caiçar as. Ele su ger e qu e par a com u ni- n ovo acor do, gr u pos exclu ídos com o os ín dios
dades da Amazônia, como os indígenas Achu ás, k u n as e os Gu jjar s con fr on t am ar r an jos so-
a flor esta e as r oças, longe de se r edu zir em a ciais qu e det er m in am cr it ér ios de acesso aos
u m lu gar de onde r etir am os m eios de su bsis- r ecu r sos. O obj et i vo dessas i n i ci at i vas de
tência, constitu em o palco de u m a sociabili- r aízes locais é: n ão par a con qu ist ar ou su b-
dade su til. Ali habitam vár ios ser es, e os ani- ju gar o Est ado, m as for jar alian ças selet ivas
m ais podem par ecer hu m anos e vice-ver sa. O com par t es de est ado e su a bu r ocr acia, en -
an t r op ól ogo en f at i za a i d éi a assi m d e q u a n t o s e ev i t a m n ov a s r ep r es s ões
i n t er l i gação en t r e as esp éci es, em clien t elist as. Essa bem su cedida ação polít i-
contraposição ao descontínu o ocidental em qu e ca gr adu alm en t e con du zir ia ao qu e os exclu -
as identidades dos hu m anos, vivos ou m or tos, ídos vêem com o u m est ado “m elh or ”, on de
das plantas e dos anim ais, é ir r elacional, sem su as r eivin dicações e in t er esses são t om a- 61
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
variedade sinonímica de expressões tais quais
conservacionismo ambiental, políticas de gestão co-
munitária dos recursos naturais renováveis ou ain-
da etnoconservacionismo, estas duas últimas com
conotações nada u tilitaristas. Tal distinção é
importante de ser observada também em decor-
rência de qualquer equívoco que se possa vir a
com et er ao associar idéias u t ilit ar ist as do
ecoconservacionismo com os mesmos propósi-
tos, por exemplo, de correntes ecocapitalistas
que também nos falam de redução de desperdí-
ci os ou gest ã o a mbien t a l p ar a a m el h or
persecução dos fins econômicos que visa.

dos m ais ser iam en t e e on de as au t or idades


t iver em in t en ção de in clin ar o jogo do poder
a seu favor (...) em ú lt im a an álise, pr ovavel-
m en t e n ão h á alt er n at ivas par a a u n ião de
esfor ços de u m est ado r efor m ist a e u m a so-
ciedade civil r evigor ada e or gan izada cu jos
ex c l u í d os p od em f a zer ou v i r s u a v oz"
(PIMBERT; PRETTY, 2000, p. 211-212).

Como conclusão, restringe-se com isso qual-


qu er abordagem simplista voltada para a qu es-
tão do u so racional dos recu rsos natu rais qu a-
se u nicamente. Portanto, a especificidade do
termo ecoconservacionismo não está associa-
da apenas ao ethos científico do desenvolvimen-
to qu e denota rigor no método de alocação dos
r ecu r sos natu r ais, eficiência e pr evenção de
desperdícios, assim como produ tividade asse-
gu rada com o máximo de rentabilidade.
D i st i n t i vam en t e de ou t r as cor r en t es do
ambientalismo, o emprego aqu i da expressão
62 ecoconservacionismo aduz, no entanto, a uma

Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go

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Notas
1 2
Site do IBAMA: http:/ / www.ibama.gov.br Folha de São Paulo, São Paulo, sexta-feira, 7 de
64 dezembro de 2001.
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
Em dúvida as vantagens dos transgênicos A Agroecologia vem mostrando, nos mais diver-
Pela primeira vez, em relatório oficial, o USDA sos contextos sócio-ambientais, sua capacidade
(Departamento de Agricultura dos Estados Uni- de responder às atuais necessidades da popula-
dos, na sigla em inglês) admitiu que a maior ção mundial. O uso conservacionista de recur-
parte das prometidas vantagens econômicas dos sos associado ao conhecimento e à diversidade
cultivos transgênicos são falsas ou muito duvi- local vêm mostrando que é possível produzir ali-
dosas. Em julho deste ano, o Serviço de Pesqui- mentos saudáveis e em quantidade a baixos cus-
sa Econômica (ERS, na sigla em inglês) do USDA tos. É neste campo que as grandes instituições
divulgou uma análise detalhada do desempe- de pesquisa deveriam investir recursos humanos
nho econômico dos cultivos transgênicos nos e financeiros, de forma a trazer significativas con-
Estados Unidos, intitulada "Adoção de Cultivos tribuições para a construção de um modelo sus-
Bioengenheirados". Mesmo sem entrar na ques- tentável para a agricultura. O relatório da USDA
tão do mercado, o relatório revela que os culti- "A adoção de cultivos bioengenheirados" está
vos transgênicos não trouxeram vantagens eco- di sponível em : http: / / www.ers.usda.gov/
nômicas para os agricultores americanos - em- publications/ aer810/
bora muitos deles tenham a ilusão do contrário. Por Um Brasil Livre de Transgênico
O utro ponto particularmente interessante do Número 132 - 04 de outubro de 2002.
relatório do USDA é referente à adoção do plan-
tio direto pelos agricultores que adotaram a soja Manifestación en contra de la contaminación
transgênica. Ao contrário do que alegavam os g en éti ca
defensores da engenharia genética - que a in- El nueve de octubre, centenares de personas pro-
trodução da soja transgênica promoveria o au- cedentes de todos los países europeos realizarán
mento da adoção do plantio direto (método de una marcha en las calles de Bruselas con unos
cultivo que diminui drasticamente a erosão do carritos de la compra llenos de alimentos libres
solo ao dispensar seu preparo) - o estudo mos- de transgénicos. Con esta marcha, organizada
tra que o plantio direto, que estava em franco por Amigos de la Tierra, se quiere significar a los
cresci m ento antes da i ntrodução dos ministros de los Estados Miembros que tienen que
transgênicos, estagnou nos Estados Unidos, tom ar m edi das urgentes para preveni r l a
enquanto cresce nos países latino-americanos. contaminación genética de la cadena alimenta-
Por Um Brasil Livre de Transgênicos ria europea.
Número 132 - 04 de outubro de 2002. La manifestación recordará a los ministros que la
opinión pública europea rechaza los alimentos
A adoção de cultivos bioengenheirados transgénicos y por lo tanto que tienen que votar
Até um estudo do Centro Nacional de Políticas a favor del etiquetado total y en contra de la
para a Alimentação e Agricultura (NCFAP, na contaminación de la cadena alimentaria, desde
sigla em inglês) que foi parcialmente financiado semillas hasta alimentos.
pela Monsanto e pela Organização das Indús- Amigos de la Tierra - 8 de outubro de 2002
trias de Biotecnologia (BIO, na sigla em inglês), http:/ / www.biodiversidadla.org/ noticias.html
confirma que as culturas utilizadas diretamente
na alimentação humana, como milho doce, be- USA: N ormas de producción ecológica entran
terraba açucareira e batata, não estão sendo en vigencia
plantadas pelos produtores nas suas versões A partir de octubre entran en vigencia las nor-
transgêni cas, apesar del as j á estarem mas uniformes para la producción ecológica en
registradas. O estudo do NCFAP relata que as EE.UU. Para el control y desarrollo de estas nor-
indústrias de alimentos não estão aceitando mas es responsable el National Organic Standards
variedades transgênicas e que a divisão da Board. Las nuevas normas muestran cuatro dife-
Monsanto para batata fechou em 2001. rentes indicaciones: „ 100% organic", „ organic"
65
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
(95% producción ecológica), „made with organic estabeleceu um novo regime de controle das im-
ingredients" (mínimamente 75% producción eco- portações de sementes para assegurar que ne-
lógica) como otros ingredientes orgánicos enu- nhuma semente transgênica entre no país. A
merados en el indice respectivo. Nova Zelândia realizará testes em todos os car-
Todavia no está claro de que manera la importación regamentos importados de sementes de milho,
y exportación entre EE.UU. y Europa se verá afectada milho doce, colza e soja para comprovar que o
por las nuevas leyes. Es cierto que el 95% de las material não contenha transgênicos.
normas muestra equivalencia, pero en el sector de Por Um Brasil Livre de Transgênico
producción animal, el uso de antibióticos y distan- Número 132 - 04 de outubro de 2002.
cias en cultivos con organismos manipulados
genéticamente son de variaciones aún muy signifi- Indígenas lucram com orgânicos
cativas, según información de “Agrar Export Aktuell". O crescimento da agricultura orgânica no Bra-
Expertos opinan que por lo tanto, para los sil, a taxas de 50% ao ano, contribui para a
productores Europeos sera más fácil conseguir la fo r m ação de u m a cadei a pr o du ti va m u i to
licencia de comercialización en EE.UU por sus ofici- diversificada, da qual fazem parte hoje três al-
nas de control que viceversa. deias indígenas localizadas nos estados do
El mercado ecológico en EE.UU. es calculado a Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Acre. O s
un volumen de valor comercial de 9,3 Mil Millo- povoados indígenas começam a colher lucros
nes EUR (2001) y muestra un crecimiento de dos com a produção e comercialização de mel,
cifras. manga e urucum, produtos certificados como
Fonte: BioFach- Newsletter - 14 de outubro de 2002. orgânicos pelo Instituto Biodinâmico (IBD). A
www.biofach.de tribo Yanawana, do Acre, por exemplo, mon-
tou em 1993 a O rganização dos Agricultores
Pl a n t a s t r a n sg ê n i ca s co m l e g i sl a çã o d e Extrativistas Yanawana do Rio Gregório, que
a g r otóxicos começou a colher os primeiros frutos comerci-
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci- ais em 1999.
mento divulgou, em outubro, novas normas para Fonte: agrolinck.com.br - Gazeta Mercantil - 18 de outubro
pesquisas com plantas geneticamente modifica- de 2002.
das, também conhecidas como transgênicas. As
novas diretrizes permitem que algumas destas Pr odutos natur ais
plantas sejam consideradas como agrotóxicos, e A aldeia da tribo Yanawana - localizada às mar-
tenham que seguir a rigorosa legislação que es- gens do rio Gregório, próxima de Taraucá (AC)
trutura este tipo de estudo. - produz sementes secas de urucum que são
A atual legislação diz que agrotóxicos são aqueles vendidas para a multinacional de cosméticos
produtos químicos ou biológicos capazes de modi- Aveda, uma das pioneiras na fabricação de
ficar a flora e a fauna. Muitas das plantas geneti- produtos naturais e ecologicamente corretos.
camente modificadas já desenvolvidas têm este efei- "N osso desafio é adequar a produção indus-
to. Elas agem como herbicidas e fungicidas, ou seja, trial a partir do urucum fornecido pelos índi-
destróem outros organismos. Entre as mais utiliza- os", diz May Waddington, antropóloga e coor-
das na lavoura estão as que contêm o gene para a denadora dos projetos da Aveda no Brasil. Os
toxina BT, que têm efeito inseticida. índios Yanawana produziram na última safra
Fonte: Boletim Galileu, 02 de outubro de 2002. três toneladas de urucum, que geraram receita
www.revistagalileu.globo.com/ Galileu de US$ 81 mil. Além disso, a aldeia está ampli-
ando a produção de andiroba, que já soma
Regr as par a a im por tação de tr ansgênicos 3,5 toneladas.
O ministro de Agricultura e Silvicultura da Nova Fonte: agrolinck.com.br - Gazeta Mercantil - 18 de outubro

66 Zelândia anunciou em agosto deste ano que se de 2002.

Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A groecológica

dic




Por que e como utilizar plantas medicinais














































P e g lo w , K a r in * ções nos organismos vivos (vegetais, animais e


V e llo s o , C a r o lin e * *

nos seres humanos).


· Por este motivo, não é recomendável mistu-


As plantas medicinais fazem parte da cultura


rar diversas plantas, evitando interações dos seus


popular. São utilizadas para prevenir e tratar


constituintes químicos. O uso inadequado pode-


doenças comuns, além de servir como bebida e


rá provocar efeitos indesejáveis.


alimento.
· Bons procedimentos de cultivo, coleta, seca-

Medidas importantes para a utilização de


gem e armazenagem garantem a qualidade e a


plantas medicinais:

estabilidade dos princípios ativos das plantas.


· As plantas medicinais são constituídas por


· Cultivo ecológico de plantas medicinais, atra-


princípios ativos e estes são responsáveis por sua


vés de hortos, além de garantir a qualidade, evi-

ação terapêutica, desencadeando diversas rea-


ta o extrativismo e preserva a biodiversidade.

Identificação das plantas medicinais: somente


* Enfermeira do Núcleo de Cidadania e Qualidade de


devem ser u ti l i zadas pl an tas qu e f o r am


Vida no Meio Rural da Divisão de Apoio Técnico ao


identificadas com segurança.


Desenvolvimento Rural Sustentável da EMATER/RS

Coleta : colher em dias secos, logo após a eva-


* * Farmacêutica Bioquímica do Núcleo de Cidadania


poração do orvalho; somente plantas bem de-


e Qualidade de Vida no Meio Rural da Divisão de


Apoio Técnico ao Desenvolvimento Rural Sustentável senvolvidas e sadias; verificar se a planta não foi

67

da EMATER/RS exp o sta a a g r o tó xi co s, p o ei r a o u o u tr o s




Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A groecológica


dic







poluentes. com a água, por 3 a 5 minutos, deixando-a em



Seca g em : deve ser realizada em local seco, repouso por 2 minutos. É utilizada principal-



limpo, arejado e à sombra. Se for utilizado forno mente para raízes, cascas, frutos secos, cipós e


ou estufa a temperatura não deverá ultrapassar sementes.



35°C. A utilização da mesma planta não deve ultra-



Ar m a zena g em : cada planta deve ser acon- passar um período maior que 15 dias. Quando


dicionada em embalagem própria, devidamente houver necessidade de uso mais prolongado,



identificada (nome, data da colheita). Devendo devem ser feitos intervalos de 1 semana para que



ficar em local seco, escuro, arejado, sem insetos, o organismo possa responder aos estímulos.



roedores ou outros animais, livre de poeira ou Dosa g em : usualmente são recomendadas as


outras substâncias poluentes. Para que a planta seguintes quantidades:



esteja própria para o consumo, deverá estar livre • Planta verde: 20g (3 a 4 colheres de sopa)



de fungos (mofos, bolores), pois estes alteram os de planta picada, para 1 litro de água;



teores de princípio ativo, podendo também pro- • Planta seca: 10g (5 colheres de sopa) de


vocar intoxicações. planta picada, para 1 litro de água.



For m a s d e p r ep a r o: o uso mais popular é Usar recipientes de louça, inox ou vidro, para



na forma de chá, através de infusão ou decocção. o preparo do chá.



• Infusão: coloca-se a água fervendo sobre a Após o preparo, o chá deve ser consumido por,



planta medicinal, deixando-a coberta por 10 mi- no máximo, 24 horas, pois ocorrem reações quí-


nutos. É ideal para folhas e flores. micas que podem transformar os princípios ativos



• Decocção: consiste na fervura da planta em outras substâncias prejudiciais à saúde.









































68


Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
EL co
inks

h t t p :/ / www.r e a s u l.u n iva li.br con t r ar in for m ações sobr e as en t idades li-
O si t e da Rede Su l -br asi l ei r a de Edu ca- gadas ao t em a n o país, even t os, cam pan h as,
ção Am bi en t al (REASUL) i n t egr a o pr oj et o ár eas pr eser vadas e n ot ícias, en t r e ou t r os.
Tecen do Redes de Edu cação Am bi en t al n a Na págin a t am bém é possível cadast r ar en -
Regi ão Su l , com o obj et i vo de i n t egr ar as t idades ao fór u m .
ações em Edu cação Am bi en t al n o Par an á,
San t a Cat ar i n a e Ri o Gr an de do Su l . A pá- h t t p :/ / www.fo e l.o r g
gi n a t am bém i n for m a o en der eço par a con - O sit e da or gan ização Fr ien ds of t h e Ear t h
t at o com i n st i t u i ções da r egi ão qu e t r at am In t er n at ion al é ou t r o espaço dedicado à r eu -
da edu cação am bi en t al . A agen da i n for m a n ião de en t idades e cam pan h as sociais em
as pr i n ci pai s at i vi dades pr ogr am adas n os favor do m eio am bien t e. O sit e t r az in for m a-
t r ês est ados. ções e n ot ícias sobr e os pr in cipais even t os
e acon t eci m en t os qu e ocor r em em t odo o
h t t p : / / w w w . u f s m . b r / m u n do e qu e est ão r el aci on ados ao t em a
d e s e n v o lv im e n t o r u r a l a m b i en t a l . A F r i en d s of t h e E a r t h
Est á n o ar a pági n a do Gr u po de Pesqu i - In t er n at i on al é u m a feder ação qu e r eú n e
sa Soci edade, Am bi en t e e D esen vol vi m en - en t idades pr esen t es em 69 países.
t o Ru r al , qu e con gr ega pesqu i sador es da
U n i v er s i d a d e F ed er a l d e Sa n t a M a r i a h t t p :/ / www.fga ia .o r g.br
(UFSM ), da Un i ver si dade Feder al Ru r al do A Fu n dação Gai a n asceu da von t ade de
Ri o de J an ei r o (UFFRJ ), da EM ATER/ RS e possi bi l i t ar u m a am pl i ação da at u ação n a
da Secr et ar i a de D esen vol vi m en t o Ru r al da l u t a am bi en t al de seu fu n dador e pr esi den -
Pr efei t u r a de San t a M ar i a. O pr i n ci pal ob- t e J osé Lu t zen ber ger , fal eci do r ecen t em en -
j et i vo do Gr u po é con t r i bu i r par a a pesqu i - t e. No si t e, pode-se en con t r ar i n for m ações
sa e an ál i se cr ít i ca d a ação or i en t ad a à sob r e ed u cação am b i en t al e agr i cu l t u r a
pr om oção do desen vol vi m en t o r u r al , al ém r egen er at i va. Al ém di sso, o i n t er n au t a pode
d e al i m en t ar o qu est i on am en t o t eór i co con h ecer o Ri n cão Gai a, u m a ár ea de 30
at r avés dos est u dos das t en dên ci as das r e- h ect ar es, l ocal i zada n o Ri o Gr an de do Su l ,
l ações soci ai s con t em p or ân eas e d as ex- exem pl o de apl i cabi l i dade dos con cei t os de
p er i ên ci as i n ovad or as n a ár ea d e d esen - su st en t abi l i dade.
v o l v i m en t o r u r a l . A p á gi n a c o n t ém a
n om i n at a dos pesqu i sador es, a descr i ção h t t p :/ / www.fe p a m .r s .go v.br
das l i n h as de pesqu i sa com seu s obj et i vos, A Fu ndação Estadu al de Proteção Ambiental
e ai n da di ver sos t ext os par a di scu ssão pr o- Henr iqu e Lu is Roessler , do Rio Gr ande do Su l,
du zi dos pel os m em br os do Gr u po. m an tém u m site com in for m ações sobr e le-
gislação am biental, licenciam ento, qu alidade
h t t p :/ / www.o n gs br a s il.o r g do ar e programas e projetos desenvolvidos. Um
O Fór u m Br asileir o das Or gan izações Não d os d est aqu es é o ser vi ço qu e i n for m a o
Gover n am en t ais e M ovim en t os Sociais par a m onitor am ento da qu alidade do ar de vár ias
o M eio Am bien t e e o Desen volvim en t o foi cr i- r egiões do Estado, per m itindo qu e o u su ár io
ado em 1990 par a facilit ar a par t icipação da consu lte, inclu sive, infor m ações sobr e per ío-
sociedade civil br asileir a n a Con fer ên cia da dos passados. No lin k Bibliot eca Digit al, os
ONU sobr e M eio Am bien t e em 1992, n o Rio i n t er n au t as podem con su l t ar pu bl i cações
de J an eir o. No sit e, o in t er n au t a pode en - atu alizadas sobr e m eio am biente.
69
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
Análise Multidimensional da Sustentabilidade
Uma proposta metodológica a partir da Agroecologia*

C a p o r a l, Fr a n c is c o Ro b e r t o * *
C o s t a b e b e r , J o s é A n t ô n io * * *

R e s u m o : O pr esen t e ar t igo pr et en de con -


t r i bu i r n a con st r u ção da Agr oecol ogi a com o
par adi gm a ci en t ífi co a par t i r da el abor ação
de u m a pr opost a m et odológica par a a an áli-
se m u l t i di m en si on al da su st en t abi l i dade.
In i ci am os defen den do a Agr oecol ogi a com o
u m pr om issor cam po de con h ecim en t o, u m a
Ci ên ci a com especi al pot ên ci a par a or i en -
t ar pr ocessos de t r an si ção a est i l os de agr i -
cu l t u r a e de desen vol vi m en t o r u r al su st en -
t ávei s. D epoi s, apon t am os a n ecessi dade de
r edu zi r o gr ave equ ívoco qu e vem ocor r en -
do n a defi n i ção da Agr oecol ogi a, n ão r ar as
vezes assu m i da com o u m m odel o de agr i -
cu l t u r a, u m a t ecn ol ogi a ou u m a p ol ít i ca
p ú b l i ca. Nest e con t ex t o, efet u am os u m a

* Extraído de umtexto mais amplo (Caporal e


Costabeber, 2002), intitulado "Agroecologia: enfoque
científico e estratégico para apoiar o desenvolvimento rural
sustentável", publicado na Série Programa de Formação
Técnico-Social da EMATER/RS. Sustentabilidade e p r i m ei r a t en t at i va d e d efi n i r sei s d i m en -
Cidadania, texto 5.
sões de an ál i se da su st en t abi l i dade, l evan -
* * Engenheiro Agrônomo, Mestre emExtensão Rural
do-se em con t a t r ês di st i n t os n ívei s h i er ár -
(CPGER/UFSM), Doutor pelo Programa de
qu i cos: di m en sões ecol ógi ca, econ ôm i ca e
"Agroecología, Campesinado e Historia" - ISEC/
ETSIAM, Universidad de Córdoba (Espanha), soci al (pr i m ei r o n ível ); di m en sões cu l t u r al
Extensionista Rural e Diretor Técnico da EMATER/RS- e pol ít i ca (segu n do n ível ); e di m en são ét i ca
ASCAR. E-mail: caporal@emater.tche.br (t er cei r o n ível ). Con cl u ím os pel a n ecessi -
* * * Engenheiro Agrônomo, Mestre emExtensão Rural dade de apr ofu n dar e qu al i fi car esse deba-
(CPGER/UFSM), Doutor pelo Programa de t e, j á qu e u m a an ál i se equ i vocada da su s-
"Agroecología, Campesinado e Historia" - ISEC/ t en t ab i l i d ad e p od e com p r om et er sever a-
ETSIAM, Universidad de Córdoba (Espanha), m en t e n ossa capacidade de adequ ada in t er -
ExtensionistaRural e Assessor Técnico daEMATER/RS- ven ção em pr ocessos de t r an si ção apoi ados
70 ASCAR. E-mail: costabeber@emater.tche.br n os pr i n cípi os da Agr oecol ogi a.

Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
P a la v r a s -c h a v e : Agr oecologia, Agr icu lt u - m u m ou vir m os fr ases equ ivocadas do t ipo:
r a Su st en t ável , Su st en t abi l i dade, An ál i se "ex i st e m er cad o p ar a a Agr oecol ogi a"; "a
M u l t i d i m en si on al . Agr oecologia pr odu z t an t o qu an t o a agr icu l-
t u r a con ven cion al"; "a Agr oecologia é m en os
1 Paradigma agroecológico r en t ável qu e a agr icu lt u r a con ven cion al"; "a
Agr oecologia é u m n ovo m odelo t ecn ológico".
e sustentabilidade Em algu m as sit u ações, ch ega-se a ou vir qu e,
Em anos m ais r ecentes, a r efer ência cons- "agor a, a Agr oecologia é u m a polít ica pú bli-
tante à Agr oecologia tem sido bastante positi- ca". Apesar da pr ovável boa in t en ção do seu
va, pois nos faz lem br ar de estilos de agr icu l- em pr ego, t odas essas fr ases e expr essões
tu r a m enos agr essivos ao m eio am biente, qu e est ão equ ivocadas, se en t en der m os a Agr o-
pr om ovem a inclu são social e pr opor cionam ecologia com o en foqu e cien t ífico. Na ver da-
m elhor es condições econôm icas aos agr icu l- d e, essas i n t er p r et ações ex p r essam u m
tor es. Nesse sentido, são com u ns as inter pr e- en or m e r edu ci on i sm o do si gn i fi cado m ai s
tações qu e vincu lam a Agr oecologia com "u m a am plo do t er m o Agr oecologia, m ascar an do
vida m ais sau dável"; "u m a pr odu ção agr ícola su a pot en cialidade par a apoiar pr ocessos de
dentr o de u m a lógica em qu e a Natu r eza m os- desen volvim en t o r u r al su st en t ável.
tr a o cam inho"; "u m a agr icu ltu r a socialm en- Com o or i en t ação m et odol ógi ca, assu m i -
te ju sta"; "o ato de tr abalhar dentr o do m eio m os n esse ar t i go a Agr oecol ogi a com o u m
am biente, pr eser vando-o"; "o equ ilíbr io entr e
nu tr ientes, solo, planta, águ a e anim ais"; "o
"... a Agroecologia como um
continu ar tir ando alim entos da ter r a sem es-
gotar os r ecu r sos natu r ais"; "u m novo equ ilí- enfoque científico destinado a
br io nas r elações hom em e natu r eza"; "u m a
agr icu ltu r a sem destr u ição do m eio am bien-
apoiar a transição dos atuais
t e"; "u m a agr i cu l t u r a qu e n ão excl u i n i n - modelos de desenvolvimento
gu ém "; entr e ou tr as. Assim , o u so do ter m o
Agr oecologia nos tem tr azido a idéia e a ex- rural e de agricultura convencio-
pectativa de u m a nova agr icu ltu r a capaz de naispara estilos de desenvolvi-
fazer bem ao hom em e ao m eio am biente.
En t r et an t o, se m ost r a cada vez m ais evi- mento rural e de agricultura
den t e u m a pr ofu n da con fu são n o u so do t er -
m o Agr oecol ogi a, ger an d o i n t er p r et ações
sustentáveis"
con ceit u ais qu e, em m u it os casos, pr eju di-
cam o en t en dim en t o da Agr oecologia com o
ciên cia qu e est abelece as bases par a a con s- en foqu e cien t ífico dest in ado a apoiar a t r an -
t r u ção de est ilos de agr icu lt u r a su st en t ável sição dos at u ais m odelos de desen volvim en -
e de est r at égi as de desen vol vi m en t o r u r al t o r u r al e de agr icu lt u r a con ven ci on ais par a
su st en t ável. Não r ar o, t em -se con fu n dido a est i l os de desen vol vi m en t o r u r al e de agr i -
Agr oecologia com u m m odelo de agr icu lt u - cu l t u r a s u s t en t á v ei s (C A PO R A L ;
r a, com a adoção de det er m in adas pr át icas COSTABEBER, 2000a; 2000b; 2001, 2002).
ou t ecn ologias agr ícolas e at é com a ofer t a Pa r t i m os esp eci a l m en t e d e escr i t os d e
de pr odu t os "lim pos" ou ecológicos, em opo- Al t i er i , par a qu em a Agr oecol ogi a con st i t u i
sição a aqu eles car act er íst icos da Revolu ção u m en foqu e t eór ico e m et odológico qu e, lan -
Ver de. Exem plifican do, é cada vez m ais co- çan do m ão de di ver sas di sci pl i n as ci en t ífi - 71
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
cas, pr et en de est u dar a at i vi - Figura1.AgroecologiaeSustentabilidade*
dade agr ár i a sob u m a per spec-
t i va ecol ógi ca 1 . A Agr oecol ogi a
basei a-se n o con cei t o de agro-
ecossistema com o u n i dade de
an ál i se, t en do com o pr opósi t o,
em ú l t i m a i n st ân ci a, pr opor ci -
on ar as bases ci en t ífi cas (pr i n -
cíp i os, c o n c ei t o s e
m et odologias) par a apoiar o pr o-
cesso de t r an sição do at u al m o-
del o de agr i cu l t u r a con ven ci o-
n al par a est i l os de agr i cu l t u r a *FiguraadaptadadeMiguelAltieri,conformeesquemaapresentadonoCursosobre
su st en t ável (Figu r a 1), em su as "Agroecologia:EnfoqueTécnico-Agronômico", EMATER/RS-ASCAR,Sobradinho(RS),14a18.11.2000.
di ver sas m an i fest ações e i n de-
pen den t em en t e de su as den o-
m i n ações. En t ão, m ai s do qu e u m a di sci - e est r at égi cos com m ai or capaci dade par a
p l i n a esp ecífi ca, a Agr oecol ogi a con st i t u i or i en t ar n ão apen as o d esenho e manejo d e
u m en f oqu e ci en t íf i co qu e r eú n e vár i os agroecossistemas sustentáveis, m as t am bém
cam pos de con h eci m en t o (as di ver sas se- pr ocessos de desenvolvimento rural sustentá-
t as r epr esen t am as con t r i bu i ções qu e são vel. É pr eci so dei xar cl ar o, por ém , qu e a
r ecol h i das de ou t r as ci ên ci as ou di sci pl i - Agr oecol ogi a n ão ofer ece, por exem pl o, u m a
n as), u m a vez qu e "r ef l ex ões t eór i cas e t eor i a sobr e D esen vol vi m en t o Ru r al , sobr e
avan ços ci en t ífi cos, r ecebi dos a par t i r de M et odol ogi as Par t i ci pat i vas e t am pou co so-
di st i n t as di sci pl i n as", t êm con t r i bu ído par a br e M ét odos par a a Con st r u ção e Val i dação
con f or m ar o seu at u al cor p u s t eór i co e do Con h eci m en t o Técn i co. M as bu sca n os
m et od ol ógi co (GU ZM ÁN CASAD O et al . , con h eci m en t os e exp er i ên ci as j á acu m u -
2000, p. 81). Assim , o en foqu e agr oecológico l adas em In vest i gação-Ação Par t i ci pat i va,
pode ser defin ido com o "a aplicação dos pr in - p or ex em p l o, u m m ét od o d e i n t er ven ção
cípi os e con cei t os n a Ecol ogi a n o m an ej o e qu e, ad em ai s d e m an t er coer ên ci a com
d esen h o d e agr oecossi st em as su st en t á- su as bases epi st em ol ógi cas, con t r i bu a n a
vei s", com o n os en si n a Gl i essm an (2000), pr om oção das t r an sfor m ações soci ai s n e-
n u m h or i zon t e t em por al (a set a m ai or r e- cessár i as par a ger ar padr ões de pr odu ção e
pr esen t a a t r an sição com o u m pr ocesso gr a- con su m o m ai s su st en t ávei s.
du al e m u l t i l i n ear at r avés do t em po) qu e dê Adi ci on al m en t e, é pr eci so en fat i zar qu e
cabi da à con st r u ção e expan são de n ovos t al pr ocesso adqu i r e en or m e com pl exi dade,
saber es soci oam bi en t ai s, al i m en t an do, as- t an t o t ecn ol ógi ca com o m et od ol ógi ca e
si m , o pr ocesso de t r an si ção agr oecol ógi ca. or gan i zaci on al , depen den do dos obj et i vos e
Est a defi n i ção se expan de n a m edi da em das m et as qu e se est abel eçam , assi m com o
qu e a Agr oecol ogi a se n u t r e de ou t r os cam - do "n ível " do pr ocesso de t r an si ção qu e n os
pos de con h eci m en t o e de ou t r as di sci pl i - pr opom os a al can çar . D e acor do ou t r a vez
n as ci en t ífi cas, assi m com o de saber es, co- com Gl i essm an , p od em os d i st i n gu i r t r ês
n h eci m en t os e exp er i ên ci as d os p r óp r i os n ívei s fu n dam en t ai s n o pr ocesso de t r an si -
agr i cu l t or es, o qu e p er m i t e o est ab el eci - ção ou con ver são p ar a agr oecossi st em as
72 m en t o de m ar cos con ceit u ais, m et odológicos su st en t ávei s. O pr i m ei r o di z r espei t o ao i n -

Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
cr em en t o da efi ci ên ci a das pr át i cas con ven - ção d e estilos d e agricultura sustentável, no
ci on ai s par a r edu zi r o u so e con su m o de méd io e longo prazos. O qu e est am os t en -
inputs ext er n os car os, escassos e dan i n h os t an do di zer é qu e, com o r esu l t ado da apl i -
ao m ei o am bi en t e. Est a t em si do a pr i n ci - cação dos pr i n cípi os da Agr oecol ogi a, pode-
pal ên fase da i n vest i gação agr ár i a con ven - m os al can çar estilos d e agricultura d e base
ci on al , r esu l t an do di sso m u i t as pr át i cas e ecológica e, assi m , obt er prod utos d e quali-
t ecn ol ogi as qu e aj u dam a r edu zi r os i m pac- d ad e biológica superior. M as, par a r espei t ar
t os n egat i vos da agr i cu l t u r a con ven ci on al . aqu el es p r i n cíp i os, est a agr i cu l t u r a d eve
O segu n do n ível da t r an sição se r efer e à su bs- at en der requisitos sociais, con si der ar aspec-
t it u ição de inputs e pr át icas con ven cion ais tos culturais, pr eser var recursos ambientais,
por pr át i cas al t er n at i vas. A m et a ser i a a apoi ar a participação política dos seu s at o-
su bst it u ição de in su m os e pr át icas in t en si- r es e per m i t i r a obt en ção de resultad os eco-
vas em capit al e degr adador as do m eio am - nômicos favor ávei s ao conjunto d a socied a-
bien t e por ou t r as m ais ben ign as sob o pon t o d e, n u m a perspectiva temporal de longo prazo
de vist a ecológico. Nest e n ível, a est r u t u r a qu e i n cl u a t an t o a pr esen t e com o as fu t u -
bási ca do agr oecossi st em a ser i a pou co al - r as ger ações (ética d a solid aried ad e).
t er ada, poden do ocor r er , en t ão, pr obl em as
si m i l ar es aos qu e se ver i fi cam n os si st e-
m as con ven ci on ai s. O t er cei r o e m ai s com - 2 Agricultura de base eco-
pl exo n ível da t r an si ção é r epr esen t ado pel o
r edesen h o dos agr oecossi st em as, par a qu e lógica e sustentabilidade
est es fu n ci on em em base a u m n ovo con -
Nossa opção pel a t er m i n ol ogi a "agr i cu l -
j u n t o de pr ocessos ecol ógi cos. Nesse caso,
t u r a de base ecol ógi ca" t em a i n t en ção de
se b u scar i a el i m i n ar as cau sas d aqu el es d i st i n gu i r , p r i m ei r am en t e, os est i l os d e
pr oblem as qu e n ão for am r esolvidos n os dois
agr i cu l t u r a r esu l t an t es d a ap l i cação d os
n ívei s an t er i or es. Em t er m os de i n vest i ga-
pr i n cípi os e con cei t os da Agr oecol ogi a (es-
ção, j á for am fei t os bon s t r abal h os em r el a- t i l os qu e, t eor i cam en t e, apr esen t am m ai o-
ção à t r an si ção do pr i m ei r o ao segu n do n í-
r es gr au s de su st en t abi l i dade n o m édi o e
vel , por ém est ão r ecém com eçan do os t r a-
l on go pr azos) em r el ação ao pr opal ado m o-
bal h os par a a t r an si ção ao t er cei r o n ível d el o d e a gr i c u l t u r a c o n v en c i o n a l o u
(GLIESSM AN, 2000, p. 573-5).
agr oqu ím i ca (u m m odel o qu e, r econ h eci da-
Com o se pode per ceber , os t r ês níveis da
m en t e, é m ai s depen den t e de r ecu r sos n a-
t r an si ção agr oecol ógi ca, p r op ost os p or t u r ai s n ão r en ovávei s e, por t an t o, i n capaz
Gl i essm an , af ast am ai n d a m ai s a i d éi a
de per du r ar at r avés do t em po). A opção pel a
equ ivocada de Agr oecologia com o u m t ipo de
t er m i n ol ogi a agr i cu l t u r a de base ecol ógi ca
agr i cu l t u r a, u m si st em a d e p r od u ção ou t em a i n t en ção, t am bém , de m ar car di fe-
u m a t ecn ol ogi a agr ícol a, por m ai s bon dosa
r en ças i m por t an t es en t r e di t os est i l os e as
qu e est a possa ser . Al ém di sso, est as br e-
agr i cu l t u r as qu e poder ão r esu l t ar das or i -
ves con si der ações dão a di m en são exat a da en t ações em an adas da cor r en t e da i n t en -
com pl exi dade dos pr ocessos soci ocu l t u r ai s,
si fi cação ver de, cu j a t en dên ci a par ece ser
econ ôm i cos e ecol ógi cos en vol vi dos e r efor -
a i n cor por ação par ci al de el em en t os de ca-
çam a n at u r eza ci en t ífi ca da Agr oecol ogi a, r á t er ec ol ógi c o n a s p r á t i c a s a gr í c ol a s
bem com o o seu status de en foqu e ou cam -
(greening process), o qu e con st i t u i u m a t en -
po de con h eci m en t os m u l t i di sci pl i n ar e or i -
t at iva de recauchutagem do m odelo da Revo-
en t ado pel o desafi an t e obj et i vo de constru- 73
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
l u ção Ver de, sem , por ém , qu al qu er pr opósi - adu bos or gân i cos m al m an ej ados pode n ão
t o ou i n t en ção de al t er ar fu n dam en t al m en - ser sol u ção, poden do i n cl u si ve cau sar ou -
t e as fr ágei s bases qu e at é agor a l h e der am t r o t i po de con t am i n ação. Com o bem assi -
su st en t ação 2 . n al a Ni col as Lam pk i n , "é pr ovável qu e u m a
E m segu n d o l u gar , a d i st i n ção en t r e si m pl es su bst i t u i ção de n i t r ogên i o, fósfor o
Agr oecol ogi a e est i l os de agr i cu l t u r a ecol ó- e pot ássi o de u m adu bo i n or gân i co por n i -
gi ca é de su m a i m por t ân ci a em r el ação a t r ogên io, fósfor o e pot ássio de u m adu bo or -
ou t r os est i l os de agr i cu l t u r a qu e, em bor a gân i co t en h a o m esm o efei t o adver so sobr e
ap r esen t an d o d en om i n ações qu e d ão a a qu al i dade das pl an t as, a su scept i bi l i dade
con ot ação da apl i cação de pr át i cas, t écn i - às pr agas e a con t am i n ação am bi en t al . O
cas e/ ou pr ocedi m en t os qu e vi sam at en der u so i n adequ ado dos m at er i ai s or gân i cos,
cer t os r equ i si t os soci ai s ou am bi en t ai s, n ão sej a por excesso, por apl i cação for a de épo-
n ecessar i am en t e t er ão qu e l an çar ou l an - ca, ou por am bos m ot i vos, pr ovocar á u m
çar ão m ão d as or i en t ações m ai s am p l as cu r t o-ci r cu i t o ou m esm o l i m i t ar á o desen -
em an adas do en foqu e agr oecol ógi co. A t ít u - vol vi m en t o e o fu n ci on am en t o d os ci cl os
l o de exem pl o, n ão podem os, si m pl esm en - n at u r ai s" (LAM PKIN, 1998, p. 3).
t e, en t en der a agr i cu l t u r a ecol ógi ca com o Por ou t r o lado, Riech m an n (2000) lem br a
a q u el a a gr i c u l t u r a q u e n ã o u t i l i za qu e "al gu n s est u dos sobr e agr i cu l t u r a eco-
agr ot óxicos ou fer t ilizan t es qu ím icos de sín - l ógi ca põem em evi dên ci a qu e as col h ei t as
t ese em seu pr ocesso pr odu t i vo. No l i m i t e, ext r aem do sol o m ai s el em en t os n u t r i t i vos
u m a agr i cu l t u r a com est a car act er íst i ca qu e os apor t ados pel o adu bo n at u r al , sem
pode cor r espon der a u m a agr icu lt u r a pobr e, qu e par eça di m i n u i r a fer t i l i dade n at u r al
despr ot egi da, cu j os pr at i can t es n ão t êm ou do solo. Ist o con vida a pen sar qu e n a pr odu -
n ão t i ver am acesso aos i n su m os m oder n os ção agr ícol a n em t u do se r edu z a u m apor t e
por i m possi bi l i dade econ ôm i ca, por fal t a de h u m an o de adu bo e u m pr ocesso veget al de
i n for m ação ou p or au sên ci a d e p ol ít i cas con ver são b i oqu ím i ca, segu n d o a vi são
pú blicas adequ adas par a est e fim . Adem ais, r ed u ci on i st a i n au gu r ad a p or Li eb i g, m as
opção dest a n at u r eza pode est ar j u st i fi cada qu e en t r e as l i des h u m an as e o cr esci m en t o
p or u m a vi são est r at égi ca d e con qu i st ar da pl an t a se i n t er cal am pr ocessos at i vos
m er cados cat ivos ou n ich os de m er cado qu e, qu e t êm lu gar n o solo por cau sa de u m a ação
dado o gr au de i n for m ação qu e possu em al - com bi n ada de car át er qu ím i co e bi ol ógi co
gu n s segm en t os dos con su m idor es a r espei- ao m esm o t em po". Ci t an do Nar edo (1996), o
t o dos r iscos em bu t idos n os pr odu t os da agr i- m esm o au t or su ger e qu e "n em a pl an t a é
cu l t u r a con ven ci on al , su per val or i zam eco- u m con ver sor i n er t e n em o sol o é u m si m -
n om icam en t e os pr odu t os dit os "ecológicos", pl es r eser vat ór i o, m as am bos i n t er agem e
"or gân i cos" ou "l i m pos", o qu e n ão n ecessa- são capazes de r eagi r m odi fi can do seu com -
r i am en t e assegu r a a su st en t abi l i dade dos p or t am en t o. Por exem pl o, a apl i cação de
si st em as agr ícol as at r avés do t em po3 . d oses i m p or t an t es d e ad u b o n i t r ogen ad o
i n i be a fu n ção n i t r i fi cador a das bact ér i as
Na r eal i dade, u m a agr i cu l t u r a qu e t r at a
do sol o, assi m com o a di sposi ção da águ a e
apen as de su bst it u ir in su m os qu ím icos con -
n u t r ien t es con dicion a o desen volvim en t o do
ven cion ais por in su m os "alt er n at ivos", "eco-
sist em a r adicu lar das plan t as. Em su m a, se
l ógi cos" ou "or gân i cos" n ão n ecessar i am en -
i m põe a n ecessi dade de est u dar n ão ape-
t e ser á u m a agricultura ecológica em sen t i -
n as o bal an ço do qu e en t r a e do qu e sai n o
do m ai s am pl o. É pr eci so t er pr esen t e qu e a
74 si m pl es su bst i t u i ção de agr oqu ím i cos por
si st em a agr ár i o, m as t am bém o qu e ocor r e

Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
ou poder i a ocor r er den t r o e for a do m esm o, com o vem sen do feit o n o Rio Gr an de do Su l,
al t er an do a r el ação pl an t a, sol o, am bi en t e" é t alvez a ú n ica for m a r azoável de m in im izar
(RIECHM ANN, 2000).
a am pliação dessas n ovas con t r adições t ão
Adem ais, sim plificações com o as acim a
t ípicas do sist em a capit alist a.
m en cion adas - qu e cen t r am os esfor ços e r e-
Em sín t ese, é pr eciso t er clar eza qu e a
cu r sos apen as n a m u dan ça da base t écn ica, agr icu lt u r a ecológica e a agr icu lt u r a or gâ-
objet ivan do ger ar pr odu t os difer en ciados e de n ica, en t r e ou t r as den om in ações exist en t es,
n ich o - podem pr ovocar u m n ovo t ipo de espi- con ceit u al e em pir icam en t e, são o r esu lt a-
ral tecnológica, ger an do n ovas con t r adições do da aplicação de t écn icas e m ét odos dife-
e u m ou t r o t ipo de difer en ciação social n a r en ci ados, n or m al m en t e est abel eci dos de
agr i cu l t u r a. Qu er em os al er t ar qu e, at u al - acor do e em fu n ção de r egu lam en t os e r e-
m en t e, já é possível obser var -se a exist ên - gr as qu e or ien t am a pr odu ção e im põem li-
cia de u m a cat egor ia de "agr icu lt or es fam i- m it es ao u so de cer t os t ipos de in su m os e a
liar es ecológicos" qu e sequ er est á sen do con - liber dade par a o u so de ou t r os. Con t u do, e
sider ada com o u m a ou t r a cat egor ia n os es- com o já dissem os an t es, est as escol as ou
t u dos sobr e a agr icu lt u r a fam iliar br asilei- cor r en t es n ão n ecessar i am en t e p r eci sam
r a. Ou seja, est am os dian t e do per igo de se est ar at r eladas ou segu ir as pr em issas bá-
sicas e os en sin am en t os fu n dam en t ais da
Agr oecologia, t al com o aqu i foi defin ida. Todo
o an t es m en ci on ado ser ve com o r efor ço à
" ... uma agricultura que trata
idéia qu e est am os defen den do, segu n do a
apenas de substituir insumos quí- qu al os con t ext os de agr icu lt u r a e desen vol-
vim en t o r u r al su st en t áveis exigem u m t r a-
micos convencionais por insumos t am en t o m ais eqü it at ivo a t odos os at or es
'alternativos', 'ecológicos' ou 'orgâ- en volvidos - especialm en t e em t er m os das
opor t u n idades a eles est en didas, bu scan do-
nicos' não necessariamente será se u m a m elh or ia cr escen t e e equ ilibr ada da-
uma agricultura ecológica ..." qu eles elem en t os ou aspect os qu e expr es-
sam os in cr em en t os posit ivos em cada u m a
d as sei s d i m en sões d a su st en t ab i l i d ad e,
com o m ost r ar em os a segu ir .
am pliar as difer en ças en t r e os agr icu lt or es
qu e t êm e os qu e n ão t êm acesso a ser viços 3 Multidimensões
de assist ên cia t écn ica e ext en são r u r al, cr é-
dit o e pesqu isa, assim com o en t r e os qu e da sustentabilidade
dispõem e os qu e n ão dispõem de assessor ia a partir da Agroecologia
par a se or gan izar em gr u pos com o objet ivo
de con qu ist ar n ich os de m er cado qu e m e- Desde a Agroecologia, a sustentabilidade deve
lh or r em u n er em pelos pr odu t os lim pos ou ser vista, estudada e proposta como sendo uma
ecológicos qu e ofer ecem (Cost abeber , 1998). busca permanente de novos pontos de equilíbrio
A m assificação do en foqu e agr oecológico via en t r e difer en t es dim en sões qu e podem ser
polít icas pú blicas e com o decisivo apoio do con flit ivas en t r e si em r ealidades con cr et as
Est ado em ár eas est r at égicas (Ext en são Ru - (COSTABEBER; MOYANO, 2000). Nesta ótica, a
sustentabilidade pode ser definida simplesmen-
r al , Pesqu i sa Agr opecu ár i a e Cr édi t o), t al
75
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
te como a capacidade de um agroecossistema 3 .1 Di me nsão e c o l ó g i c a
manter-se socioambientalmente produ tivo ao A m an u t en ção e r ecu per ação da base de
longo do tempo. Portanto, a sustentabilidade em r ecu r sos n at u r ai s - sobr e a qu al se su st en -
agroecossistemas (ou em etnoecossistemas, para t am e est r u t u r am a vi da e a r epr odu ção das
incluir a dimensão das culturas humanas no com u n i dades h u m an as e dem ai s ser es vi -
manejo dos ecossistemas agrícolas), é algo re- vos - con st it u i u m aspect o cen t r al par a at in -
lativo que pode ser medido somente expost. Sua gi r - se pat am ar es cr escen t es de su st en t a-
prova estará sempre no futuro (GLIESSMAN, bi l i dade em qu al qu er agr oecossi st em a. Por -
2000). Por esta razão, a construção do desenvol- t an t o, "cu i dar da casa" é u m a pr em i ssa es-
vimento rural sustentável, a partir da aplicação sen ci al par a ações qu e se qu ei r am su st en -
dos princípios da Agroecologia, deve assentar- t ávei s, o qu e exi ge, por exem pl o, n ão ape-
se na busca de contextos de sustentabilidade n as a pr eser vação e/ ou m el h or i a das con -
crescente, alicerçados em algumas dimensões di ções qu ím i cas, físi cas e bi ol ógi cas do sol o
básicas (Figura 2). No marco desse artigo, en- (asp ect o d a m ai or r el evân ci a n o en foqu e
tendemos que as estratégias orientadas à pro- agr oecol ógi co), m as t am bém a m an u t en ção
moção da agricultura e do desenvolvimento ru- e/ ou m el h or i a da bi odi ver si dade, das r eser -
ral su stentáveis devem ter em conta seis di- vas e m an an ci ai s h ídr i cos, assi m com o dos
mensões relacionadas entre si, qu ais sejam: r ecu r sos n at u r ai s em ger al . Não i m por t a
ecológica, econômica, social (primeiro nível), cul- qu ai s sej am as est r at égi as par a a i n t er ven -
tu ral, política (segu ndo nível) e ética (terceiro ção t écn i ca e pl an ej am en t o do u so dos r e-
nível)4. Assim, embora não sendo um trabalho cu r sos - u m a m i cr obaci a h i dr ogr áfi ca, por
conclusivo sobre tema tão complexo, é mister exem pl o -, m as i m por t a t er em m en t e a n e-
que façamos uma primeira aproximação ao que cessidade de u m a abor dagem h olíst ica e u m
está subentendido em cada uma destas dimen- en foqu e si st êm i co, dan do u m t r at am en t o
sões, destacando alguns aspectos que poderiam i n t egr al a t odos os el em en t os do agr oecos-
ser úteis na definição de indicadores para pos- si st em a qu e ven h am a ser i m pact ados pel a
terior monitoramento dos contextos de susten- ação h u m an a. Adem ai s, é n ecessár i o qu e
tabilidade alcançados num dado momento. as est r at égi as con t em p l em
Figura2.Multidimensõesdasustentabilidade** a r eu t i l i zação de m at er i ai s
e en er gi a den t r o do pr ópr i o
a gr o ec o s s i s t em a , a s s i m
com o a elim in ação do u so de
i n su m os t óx i cos ou cu j os
efei t os sobr e o m ei o am bi -
en t e são i n cer t os ou desco-
n h ecidos (por exem plo, Or ga-
n i sm os Gen et i cam en t e M o-
di fi cados). Em su m a, o con -
cei t o de su st en t abi l i dade i n -
cl u i , em su a h i er ar qu i a, a
n oção de pr eser vação e con -
ser vação da base dos r ecu r -
sos n at u r ai s com o con di ção
76 **Fonte:elaboraçãoprópria

Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
essen ci al par a a con t i n u i dade dos pr oces- da u t i l i zação de cer t as t ecn ol ogi as sobr e as
sos de r epr odu ção sóci o-econ ôm i ca e cu l t u - con di ções soci ai s das fam íl i as de agr i cu l t o-
r al da soci edade, em ger al , e de pr odu ção r es qu e det er m i n a ou or i gi n a n ovas for m as
agr opecu ár ia, em par t icu lar , n u m a per spec- de r el aci on am en t o da soci edade com o m ei o
t i va qu e con si der e t an t o as at u ai s com o as am b i en t e, u m m od o d e est ab el ecer u m a
fu t u r as ger ações. con exão en t r e a di m en são Soci al e a Ecol ó-
gi ca, sem pr ej u ízo da di m en são Econ ôm i ca
3 .2 Di me nsão so c i al
(u m n ovo m odo de "cu i dar da casa" ou de
Ao l ado da di m en são ecol ógi ca, a di m en - "adm i n i st r ar os r ecu r sos da casa").
são soci al r epr esen t a pr eci sam en t e u m dos
pilar es básicos da su st en t abilidade, u m a vez
3 .3 Di me nsão e c o nô mi c a
qu e a pr eser vação am bi en t al e a con ser va- Est u dos t êm dem on st r ado qu e os r esu l -
ção dos r ecu r sos n at u r ai s som en t e adqu i - t ados econ ôm icos obt idos pelos agr icu lt or es
r em si gn i fi cado e r el evân ci a qu an do o pr o- são el em en t os-ch ave par a for t al ecer est r a-
du t o ger ado n os agr oecossi st em as, em ba- t égi as de D esen vol vi m en t o Ru r al Su st en -
ses r en ovávei s, t am bém possa ser eqü i t a- t ável . Não obst an t e, com o est á t am bém de-
t i vam en t e apr opr i ado e u su fr u ído pel os di - m on st r ado, n ão se t r at a som en t e de bu scar
ver sos segm en t os da soci edade. Ou sej a, "a au m en t os de pr odu ção e pr odu t ividade agr o-
eqü i dade é a pr opr i edade dos agr oecossi s- pecu ár i a a qu al qu er cu st o, poi s el es podem
t em as qu e i n di ca qu ão equ ân i m e é a di s- ocasi on ar r edu ções de r en da e depen dên ci -
t r i bu i ção da pr odu ção [e t am bém dos cu s- as cr escen t es em r el ação a fat or es ext er -
t os] en t r e os b en efi ci ár i os h u m an os. D e n os, al ém de dan os am bi en t ai s qu e podem
u m a for m a m ai s am pl a (...), i m pl i ca u m a r esu l t ar em per das econ ôm i cas n o cu r t o ou
m en or desi gu al dade n a di st r i bu i ção de at i - m éd i o p r a zo s . A s u s t en t a b i l i d a d e d e
vos, capaci dades e opor t u n i dades dos m ai s agr oecossi st em as t am bém su põe a n eces-
desfavor eci dos". Sob o pon t o de vi st a t em - si dade de obt er -se bal an ços agr oen er gét i -
por al , est a n oção de eqü i dade ai n da se r e- cos posi t i vos, sen do n ecessár i o com pat i bi -
l aci on a com a per spect i va i n t r ager aci on al l i zar a r el ação en t r e pr odu ção agr opecu á-
(di spon i bi l i dade de su st en t o m ai s segu r o r i a e con su m o de en er gi as n ão r en ovávei s.
par a a pr esen t e ger ação) e com a per spec- Aliás, com o bem n os en sin a a Econ om ia Eco-
t i va i n t er ger aci on al (n ão se pode com pr o- l ógi ca, a i n su st en t abi l i dade de agr oecossi s-
m et er h oj e o su st en t o segu r o das ger ações t em as pode se expr essar pel a obt en ção de
fu t u r as) (SIMÓN FERNÁNDEZ; DOMINGUEZ r esu l t ados econ ôm i cos favor ávei s às cu st as
GARCIA, 2001). A di m en são soci al i n cl u i , da depr edação da base de r ecu r sos n at u r ais
t am bém , a bu sca con t ín u a de m el h or es n í- qu e são fu n dam en t ai s par a as ger ações fu -
vei s de qu al i dade de vi da m edi an t e a pr o- t u r as, o qu e p õe em evi d ên ci a a est r ei t a
du ção e o con su m o de al i m en t os com qu al i - r el ação en t r e a d i m en são econ ôm i ca e a
dade biológica su per ior , o qu e com por t a, por di m en são ecol ógi ca. Por ou t r o l ado, a l ógi ca
exem pl o, a el i m i n ação do u so de i n su m os pr esen t e n a m ai or i a dos segm en t os da agr i -
t óxi cos n o pr ocesso pr odu t i vo agr ícol a m e- cu l t u r a fam i l i ar n em sem pr e se m an i fest a
di an t e n ovas com bi n ações t ecn ol ógi cas, ou apen as at r avés da obt en ção de l u cr o, m as
ai n da at r avés de opções soci ai s de n at u r e- t am bém por ou t r os aspect os qu e i n t er fer em
za ét i ca ou m or al . Nesse caso, é a pr ópr i a em su a m ai or ou m en or capaci dade de r e-
per cepção de r i scos e/ ou efei t os m al éfi cos pr odu ção soci al . Por i sso, h á qu e se t er em
77
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
m en t e, por exem pl o, a i m por t ân ci a da pr o- l es pr ocedi m en t os ou t écn i cas qu e n ão se
du ção de su bsi st ên ci a, assi m com o a pr o- m ost r em adequ ados n os pr ocessos de con s-
du ção de ben s de con su m o em ger al , qu e t r u ção de n ovas est r at égi as n a r el ação h o-
n ão cost u m am apar ecer n as m edi ções m o- m em -n at u r eza. Ou sej a, pr át i cas cu l t u r al -
n et ár i as con ven ci on ai s, m as qu e são i m - m en t e det er m i n adas, m as qu e sej am agr es-
por t an t es n o pr ocesso de r epr odu ção soci al si vas ao m ei o am bi en t e e pr ej u di ci ai s ao
e n os gr au s de sat i sfação dos m em br os da for t al eci m en t o d as r el ações soci ai s e às
fam íl i a. Igu al m en t e, a sober an i a e a segu - est r at égi as de ação soci al col et i va, n ão de-
r an ça al i m en t ar de u m a r egi ão se expr es- vem ser est i m u l adas. D e qu al qu er m odo,
sam t am bém n a adoção de est r at égi as ba- h i st or i cam en t e a Agr i cu l t u r a foi pr odu t o de
seadas em ci r cu i t os cu r t os de m er cador i as u m a r el ação est r u t u r al m en t e con di ci on a-
e no a b a s t ec i m en t o r egi o n a l e da, en vol ven do o si st em a soci al (a soci eda-
m i cr or r egi on al , n ão sen do possível , por t an - de, os agr i cu l t or es) e o si st em a ecol ógi co (o
t o, descon ect ar a di m en são econ ôm i ca da m ei o am b i en t e, os r ecu r sos bi ofísi cos), o
di m en são soci al . qu e, em su a essên ci a, t r adu z-se n u m a i m -
por t an t e base epi st em ol ógi ca da Agr oecol o-
3 .4 Di me nsão c ul t ur al
gi a, t al com o n os en si n a Nor gaar d (1989).
Na di n âm i ca dos pr ocessos de m an ej o de M ai s do qu e n u n ca, esse r econ h eci m en t o
agr oecossist em as - den t r o da per spect iva da da i m por t ân ci a do saber l ocal e dos pr oces-
Agr oecol ogi a - deve-se con si der ar a n eces- sos de ger ação do conhecimento ambiental e
si dade de qu e as i n t er ven ções sej am r es- socialmente útil passa a ser cr escen t em en t e
pei t osas par a com a cu l t u r a l ocal . Os sabe- val or i zado em con t r apon t o à i déi a ai n da do-
r es, os con h eci m en t os e os val or es l ocai s m i n a n t e, m as em p r o c es s o de
das popu l ações r u r ai s pr eci sam ser an al i - obsol escên ci a, de qu e a agr i cu l t u r a pode-
sados, com pr een didos e u t ilizados com o pon - r i a ser h om ogen ei zada com i n depen dên ci a
t o de par t i da n os pr ocessos de desen vol vi - das especi fi ci dades bi ofísi cas e cu l t u r ai s de
m en t o r u r a l q u e, p or s u a v ez, d ev em cada agr oecossi st em a.
espel h ar a "i den t i dade cu l t u r al " das pesso-
as qu e vivem e t r abalh am em u m dado agr o-
3 .5 Di me nsão p o l í t i c a
ecossi st em a. A agr i cu l t u r a, n esse sen t i do, A dimensão política da su stentabilidade tem
pr eci sa ser en t en di da com o at i vi dade eco- a ver com os processos participativos e demo-
n ôm i ca e soci ocu l t u r al - u m a pr át i ca soci - cráticos qu e se desenvolvem no contexto da
al - r eal i zada por su j ei t os qu e se car act er i - produ ção agrícola e do desenvolvimento ru ral,
zam por u m a for m a par t i cu l ar de r el aci o- assim como com as redes de organização soci-
n am en t o com o m ei o am bi en t e. Est a facet a al e de representações dos diversos segmentos
da di m en são cu l t u r al n ão pode e n ão deve da popu lação ru ral. Nesse contexto, o desen-
obscu r ecer a n ecessi dade de u m pr ocesso volvimento ru ral su stentável deve ser conce-
de pr obl em at i zação sobr e os el em en t os for - bido a partir das concepções cu ltu rais e políti-
m ador es da cultura de u m det er m in ado gr u - cas próprias dos gru pos sociais, considerando-
po soci al . Even t u al m en t e, est es el em en t os se su as relações de diálogo e de integração com
podem ser r el at i vi zados em su a i m por t ân - a sociedade maior, através de representação
ci a, con si der an do-se as r eper cu ssões n ega- em espaços comu nitários ou em conselhos po-
t i vas qu e possam t er n as for m as de m an ej o líticos e profissionais, nu ma lógica qu e consi-

78 dos agr oecossist em as, descar t an do-se aqu e- dera aqu elas dimensões de primeiro nível como

Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
integradoras das formas de exploração e ma- como ponto de partida u ma profu nda crítica so-
nejo su stentável dos agroecossistemas. Como bre as bases epistemológicas qu e deram su s-
diz Altieri, sob a perspectiva da produção, a sus- tentação ao su rgimento desta crise. Neste sen-
tentabilidade somente poderá ser alcançada "no tido, precisamos ter clareza de qu e o qu e está
contexto de u ma organização social qu e prote- verdadeiramente em risco não é propriamen-
ja a integridade dos recu rsos natu rais e esti- te a natu reza, mas a vida sobre o Planeta, de-
mu le a interação harmônica entre os seres hu - vido à forma como nos u tilizamos e destru ímos
manos, o agroecossistema e o ambiente", en- os recu rsos natu rais. Sendo assim, a dimen-
trando a Agroecologia como su porte e com "as são ética a qu e nos referimos exige pensar e
fer r am entas m etodológicas necessár ias par a fazer viável a adoção de novos valores, qu e não
qu e a participação da comu nidade venha a se necessariamente serão homogêneos. Para al-
tornar a força geradora dos objetivos e ativida- gu ns dos povos do Norte rico e opu lento, por
des dos projetos de desenvolvimento [ru ral su s- exemplo, a ética da su stentabilidade tem a ver
tentável]". Citando a Chambers (1983), lembra com a necessidade de redu ção do sobreconsu -
que, assim, espera-se que os agricultores e cam-
poneses se transformem nos "arqu itetos e ato-
res de seu próprio desenvolvimento" (ALTIERI, "... dentro da perspectiva da
2001, p. 21), condição indispensável para o avan- Agroecologia - deve-se considerar
ço do empoderamento dos agricu ltores e comu -
nidades ru rais como protagonistas e decisores a necessidade de que as interven-
dos ru mos dos processos de mu dança social.
ções sejam respeitosas para com a
Nesse sentido, deve-se privilegiar o estabele-
cim en t o de plat afor m as de n egociação n as cultura local ..."
qu ais os atores locais possam expressar seu s
interesses e necessidades em pé de igu aldade
com ou tros atores envolvidos. A dimensão polí- mo, da hiperpolu ição, da abu ndante produ ção
tica diz respeito, pois, aos métodos e estratégi- de l i xo e de t odo o t i po de con t am i n ação
as participativas capazes de assegu rar o res- ambiental gerado pelo seu estilo de vida e de
gate da au to-estima e o pleno exercício da ci- relação com o meio ambiente. Para nós, do Su l,
dadania. provavelmente a ênfase deva ser em qu estões
como o resgate da cidadania e da dignidade
3 .6 Di me nsão é t i c a
hu mana, a lu ta contra a miséria e a fome ou a
A dimensão ética da su stentabilidade se re- eliminação da pobreza e su as conseqü ências
laciona diretamente com a solidariedade intra sobre o meio ambiente. Ademais, como lem-
e intergeracional e com novas responsabilida- bra Leff (2001: 93), "a ética ambiental vincu la
des dos indivídu os com respeito à preservação a conservação da diversidade biológica do pla-
do meio ambiente. Todavia, como sabemos, a neta com respeito à heterogeneidade étnica e
crise em qu e estamos imersos é u ma crise so- cu ltu ral da espécie hu mana. Ambos os princí-
cioambiental, até porqu e a história da natu re- pios se conju gam no objetivo de preservar os
za não é apenas ecológica, mas também soci- recu rsos natu rais e envolver as comu nidades
al. Portanto, qualquer novo contrato ecológico de- na gestão de seu ambiente". Assim, a dimen-
verá vir acompanhado do respectivo contrato so- são ética da su stentabilidade requ er o fortale-
cial. Tais contratos, qu e estabelecerão a dimen- cimento de princípios e valores qu e expressem
são ética da su stentabilidade, terão qu e tomar a solidariedade sincrônica (entre as gerações
79
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
atu ais) e a solidariedade diacrônica (entre as r al e de agr i cu l t u r a con ven ci on al é i n su s-
atu ais e fu tu ras gerações). Trata-se, então, de t en t ável n o t em po, dada su a gr an de depen -
uma ética da solidariedade (RIECHMANN, 1997) dên ci a de r ecu r sos n ão r en ovávei s e l i m i -
qu e restabelece o sentido de fraternidade nas t ados. Adem ai s, est e m odel o t em si do r es-
relações entre os homens. Na esteira dessa di- pon sável por cr escen t es dan os am bi en t ai s
mensão, a bu sca de segu rança alimentar in- e pel o au m en t o das di fer en ças sóci o-econ ô-
clu i a necessidade de alimentos limpos e sau - m i cas n o m ei o r u r al ; b) a par di sso, est á em
dáveis para todos e, portanto, minimiza a im- cu r so u m a m u dan ça de par adi gm a n a qu al
portância de certas estratégias de produção or- ap ar ece com d est aqu e a n ecessi d ad e d e
gânica dirigida pelo mercado e acessível ape- bu scar -se est i l os de desen vol vi m en t o r u r al
nas a uma pequena parcela da população. Igual- e de agr i cu l t u r a qu e assegu r em m ai or su s-
mente, esta dimensão deve tratar do direito ao t en t abi l i dade ecol ógi ca e eqü i dade soci al ; c)
acesso equ ânime aos recu rsos natu rais, à ter- a n oção de su st en t abi l i dade t em dado l u gar
ra para o trabalho e a todos os bens necessári- ao su r gi m en t o de u m a sér i e de cor r en t es
os para u ma vida digna. Em su ma, qu ando se do desen vol vi m en t o r u r al su st en t ável , en -
aborda o tema da su stentabilidade, a dimen- t r e as qu ai s dest acam os aqu el as al i n h adas
são ética se apresenta nu ma elevada hierar- com a per spect i va ecot ecn ocr át i ca e aqu e-
qu ia, u ma vez qu e de su a consideração pode- l as qu e vêm se or i en t an d o p el as b ases
mos afetar os objetivos e resu ltados esperados ep i st em ol ógi cas d a Agr oecol ogi a, n u m a
nas dimensões de primeiro e segu ndo nível. per spect i va ecossoci al ; e d) a con st r u ção
dest e pr ocesso de m u dan ça t em i m pu l si o-
n ado u m a t r an si ção agr oam bi en t al , qu e se
4 Considerações finais m at er i al i za p el o est ab el eci m en t o d e d i fe-
Com o vi m os, a Agr oecol ogi a pr opor ci on a r en t es est i l os de agr i cu l t u r as ecol ógi ca ou
as bases ci en t ífi cas e m et odol ógi cas par a a or gân i ca, en t r e ou t r as den om i n ações, ade-
pr om oção de est i l os de agricultura sustentá- m ai s de n ovos en foqu es de desen vol vi m en -
vel (per spect i va m u l t i di m en si on al ), l evan - t o l ocal ou r egi on al qu e l evam em con t a as
do-se em con t a o obj et i vo de pr odu zi r qu an - r eal i dades dos di st i n t os agr oecossi st em as.
t i dades adequ adas de al i m en t os de el evada Não obst an t e, obser va-se qu e os di fer en -
qu al i dade bi ol ógi ca par a t oda a soci edade. t es en foqu es con cei t u ai s e oper at i vos, qu e
Apesar de seu vín cu l o m ai s est r ei t o com vêm sen do adot ados pel as di st i n t as cor r en -
aspect os t écn i co-agr on ôm i cos (t em su a or i - t es da su st en t abi l i dade, est ão l evan do a u m
gem n a agr icu lt u r a, en qu an t o at ividade pr o- afast am en t o cada vez m ai s evi den t e en t r e
du t i va), essa ci ên ci a se n u t r e de di ver sas as posi ções por el as assu m i das n a per spec-
d i sci p l i n as e avan ça p ar a esf er as m ai s t i va do desen vol vi m en t o r u r al su st en t ável .
am pl as de an ál i se, j u st am en t e por possu i r D e u m l ado, a cor r en t e agr oecol ógi ca su ge-
u m a base epi st em ol ógi ca qu e r econ h ece a r e a m assi fi cação dos pr ocessos de m an ej o
ex i st ên ci a d e u m a r el ação est r u t u r al d e e desen h o de agr oecossi st em as su st en t á-
i n t er depen dên ci a en t r e o si st em a soci al e v ei s , n u m a p er s p ec t i v a d e a n á l i s e
o si st em a ecol ógi co (a cu l t u r a dos h om en s si st êm i ca e m u l t i di m en si on al . Ou t r as cor -
em co-evol u ção com o m ei o am bi en t e). r en t es, por su a vez, se or i en t am , pr i n ci pal -
Assi m , a t ít u l o de con si der ações fi n ai s, m en t e, pel a bu sca de m er cados de n i ch o,
qu er em os dest acar qu e: a) h á con sen so de cen t r an do su a at en ção n a su bst i t u i ção de

80 qu e o at u al m odel o de desen vol vi m en t o r u - i n su m os qu ím i cos de sín t ese por i n su m os

Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
or gân i cos ou ecol ógi cos, r est r i n gi n d o- se, cimentos das condições sociais em qu e o de-
por t an t o, aos doi s pr i m ei r os n ívei s da t r an - nominado produto orgânico foi ou vem sendo pro-
si ção. Com o evi dên ci a das pr i n ci pai s di fe- du zido; talvez, nem mesmo lhe interesse sa-
r en ças de en foqu e en t r e as cor r en t es, des- ber. Neste caso, no limite teórico e sob a consi-
t acam os os doi s aspect os a segu i r : deração ética acima mencionada, nenhu m pro-
• Enqu anto a cor r ente agr oecológica defen- du to será verdadeiramente "ecológico" se a su a
de u m a agr icu ltu r a de base ecológica qu e se produ ção estiver sendo realizada às cu stas da
ju st ifiqu e pelos seu s m ér it os in t r ín secos ao exploração da mão-de-obra. Ou , ainda, qu ando
incor por ar sem pr e a idéia de ju stiça social e o não u so de certos insu mos (para atender con-
pr ot eção am bien t al, in depen den t em en t e do venções de mercado) estiver sendo "compen-
r ótu lo com er cial do pr odu to qu e ger a ou do ni- sado" por novas formas de esgotamento do solo
cho de m er cado qu e venha a conqu istar , ou - ou de degradação dos recu rsos natu rais.
tr as pr opõem u m a "agr icu ltu r a ecologizada", Fin alm en t e, t em os con sciên cia de qu e os
qu e se or ienta exclu sivam ente pelo m er cado desafios par a fazer m os avan çar o en foqu e
e pela expectativa de u m pr êm io econôm ico agr oecológico, n u m a per spect iva de agricultu-
qu e possa ser alcan çado n u m det er m in ado ra e desenvolvimento rural sustentáveis, ain da
per íodo histór ico, o qu e não gar ante su a su s- são m u it o gr an des e com plexos, m as n ão são,
tentabilidade no médio e longo prazos, porqu e, em absolu t o, in t r an spon íveis. Su a su per ação
no lim ite teór ico, u m a agr icu ltu r a ecologizada depen de, pr im eir a e pr in cipalm en t e, da n os-
m u ndialm ente não gu ar dar ia espaço par a u m sa pr ópr ia capacidade de diálogo e de apr en -
difer encial de pr eços pela car acter ística eco- dizagem colet iva, assim com o do r econ h eci-
lógica ou or gânica de seu s pr odu tos. m en t o de qu e a sustentabilidade en cer r a n ão
• Enqu anto a corrente agroecológica su sten- apen as abst r ações t eór icas e per spect ivas fu -
ta a necessidade de qu e sejam constru ídos pro- t u r ist as, m as t am bém elem en t os pr át icos qu e
cessos de desenvolvimento ru ral e agricu ltu - d evem ser ad ot ad os em n osso cot i d i an o.
ras su stentáveis qu e levem em conta a bu sca Som a-se a isso o fat o de qu e m u it os dos já
do equ ilíbrio entre as seis dimensões da su s- com pr ovados im pact os n egat ivos cau sados
tentabilidade, ou tr as cor r entes, por estar em pela agricultura química ainda não penetr ar am
orientadas principalmente pela expectativa de n a opin ião pú blica n a in t en sidade n ecessá-
gan h os econ ôm i cos i n d i vi d u ai s, acab am r ia, r et ar dan do o debat e e a possível t om ada
minimizando certos compromissos éticos e so- de con sciên cia da sociedade, n o sen t ido de
cioambientais. Sob a perspectiva de u ma agri- apoiar a con st r u ção de pr ocessos de desen -
cultura ecologizada e desprovida destes compro- volvim en t o r u r al e de est ilos de agr icu lt u r a
missos, podemos até su por qu e venha a existir m ais aju st ados à n oção de su st en t abilidade.
u ma monocultura orgânica de larga escala, ba- Dest aqu e-se ain da qu e a socialização de co-
seada em mão-de-obra assalariada, mal remu- n h ecim en t os e saber es agr oecológicos en t r e
nerada e movida a chicote. Essa monocultura eco- agr icu lt or es, pesqu isador es, est u dan t es, ex-
lógica poderá até atender aos anseios e capri- t en sion ist as, pr ofessor es, polít icos e t écn icos
chos de u m consu midor informado sobre as em ger al - r espeit adas as especificidades de
benesses de consu mir produ tos agrícolas "lim- su as ár eas de at u ação -, é, e segu ir á sen do,
p os", "or gân i cos", i sen t os d e r esíd u os u m a t ar efa im per at iva n est e in ício de m ilê-
contaminantes. No entanto, o grau de informa- n io. Se ist o é ver dadeir o, t odos n ós t em os o
ção ou de esclarecimento de dito consu midor dever - e t am bém o dir eit o - de t r abalh ar m os
talvez não lhe permita identificar ou ter conhe- pela ampliação das opor tu nidades de constru -
81
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
A r t i go
ção de saber es socioam bien t ais n ecessár ios
par a consolidar u m novo par adigm a de desen-
volvim en t o r u r al, qu e con sider e as seis di-
m en sões (ecológica, social, econ ôm ica, cu l-
t u r al, polít ica e ét ica) da su st en t abilidade.
Com o en foqu e cien t ífico e est r at égico de ca-
r át er m u lt idisciplin ar , a Agr oecologia apr e-
sen ta a poten cialidade par a fazer flor escer n o-
vos est ilos de agr icu lt u r a e pr ocessos de de-
sen volvim en t o r u r al su st en t áveis qu e gar an -
t a m a m á x i m a p r eser va çã o a m b i en t a l ,
en fat izan do pr in cípios ét icos de solidar ieda-
de sin cr ôn ica e diacr ôn ica.

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237, abr ./ ju n . 1990. n.3; p. 9-22, 1990.

Notas
1
Entre outros importantes estudiosos que têm e de articulação dos distintos atores sociais
prestado inestimável apoio na construção coletiva da comprometidoscom uma ou com outra perspectiva.
3
Agroecologia a partir de diferentes campos do Em recente artigo em que analisam a evolução e
conhecimento, ver também Altieri (1989; 1992; 1994; dificuldades da "produção biológica" em Portugal,
1995; 2001), Gliessman (1990; 1995; 1997; 2000), Cristóvão et al. (2001) apontam que o produtor
Pretty (1995; 1996), Conway(1997), ConwayeBarbier biológico "médio"apresenta perfil distinto do produtor
(1990a; 1990b), Gonzálezde Molina (1992), Sevilla convencional médio, "em termos de idade, nível de
Guzmán y González de Molina (1993), Carroll, escolaridade e formação profissional, sendo suas
Vandermeer & Rosset (1990), Leff (1994), Toledo explorações dominantemente médias a grandes e
(1990; 1991; 1993), Guzmán Casado, Gonzálezde estritamente ligadas ao mercado". Por sua vez, os
Molina y Sevilla Guzmán (2000), Sevilla Guzmán consumidores de produtos biológicos formam "um
(1990, 1995a, 1995b, 1997, 1999), MartínezAlier nicho ainda restrito, constituído por elementos com
(1994), MartínezAlier y Schlüpmann (1992). maior poder de compra, maisinformadose com mais
2
Como temostentado ressaltar em outroslugares consciência em matéria desaúdehumana eambiente".
4
(Caporal, 1998; Costabeber, 1998; Caporal e Se entendermos o Desenvolvimento Rural
Costabeber, 2000a; 2000b; 2001), o processo de Sustentável como uma melhoria crescente destasseis
ecologização da agricultura não necessariamente dimensões, então será mais fácil estabelecer as
seguirá uma trajetória linear, podendo seguir distintas estratégiasnecessáriaspara caminhar-se na direção
vias, mais próximas ou alinhadas com a corrente da sustentabilidade. Não obstante, o maior desafio
ecotecnocrática ou com a correnteecossocial, havendo reside no estabelecimento de indicadorescapazesde
diferençasfundamentaisentre aspremissasou bases mostrar avanços e/ ou retrocessos nos níveis de
teóricasque sustentam cada uma dessascorrentes. E sustentabilidade dosagroecossistemas, segundo suas
são essasdiferençasque marcam osespaçosde ação condiçõesreaisespecíficas. 85
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
1. AgroecologiaeDesenvolvimentoRural Sustentável éuma debateeao “estado daarte” do campo deestudo aque
publicação daEMATER/RS, destinadaàdivulgação de se refere. Assim mesmo, terão prioridade os textos
trabalhos de agricultores, extensionistas, professores, encomendadospelaRevista.
pesquisadoreseoutrosprofissionaisdedicadosaostemas
centraisdeinteressedaRevista. 7. Serãoenviados5 (cinco) exemplaresdonúmerodaRevista
paratodososautoresquetiveremseusartigosou textos
2. AgroecologiaeDesenvolvimentoRural Sustentável éum publicados. Emqualquercaso, ostextosnãoaceitospara
periódico depublicação trimestral quetemcomo público publicação não serão devolvidosaosseusautores.
referencial todasaquelaspessoasque estão empenhadas
naconstrução daAgriculturaedo Desenvolvimento Rural 8. Ascontribuiçõesdevemter no máximo 10 (dez) laudas
Sustentáveis. (usando editor de textos Word) em formato A-4,
devendo ser utilizadaletra TimesNew Roman, tamanho
3. AgroecologiaeDesenvolvimentoRural Sustentável publica 12 e espaço 1,5 entre linhas (dois espaços entre
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detrabalhosorientadospelosprincípiosdaAgroecologia. escritasemletraTimesNewRoman, tamanho10 eespaço
Alémdisso, aceitaartigoscomenfoquesteóricose/oupráticos simples. Quandoforocaso, fotos, mapas, gráficosefiguras
nos campos do Desenvolvimento Rural Sustentável e da devemser enviados, obrigatoriamente, emformato digital
Agricultura Sustentável, esta entendida como toda forma epreparadosemsoftwarescompatíveiscomaplataforma
ou estilo de agricultura de base ecológica, Windows, depreferênciaemformato JPG ouGIF.
independentemente daorientação teóricasobre aqual se
assenta. Como não poderiadeixar deser, aRevistadedica 9. Os artigos devem seguir as normas da ABNT (NBR
especial interesse à Agricultura Familiar, que constitui o 6022/2000). Recomenda-se que sejam inseridas no
públicoexclusivodaExtensãoRural gaúcha. Nestesentido, corpodotextotodasascitaçõesbibliográficas, destacando,
são aceitos para publicação artigos e textos que tratem entreparênteses, osobrenomedoautor, anodepublicação
teoricamenteestetemae/ouabordemestratégiasepráticas e, se for o caso, o número da página citada ou letras
quepromovamo fortalecimento daAgriculturaFamiliar. minúsculasquandohouvermaisdeumacitaçãodomesmo
autoreano. Exemplos: ComojámencionouSilva(1999,
4. Os artigos e textos devemser enviados empapel e em p.42); como jámencionouSouza(1999 a,b); ou, no
disquete à Biblioteca da EMATER/RS (A/C Mariléa final dacitação, usando (Silva, 1999, p.42).
Fabião Borralho, RuaBotafogo, 1051 – Bairro Menino
Deus– CEP90150-053 – PortoAlegre– RS) oupor 10. As fontes consultadas devemconstar no fimdo texto,
correio eletrônico (paraagroeco@emater.tche.br) atéo nas Referências Bibliográficas, seguindo as normas da
últimodiadosmesesdemarço, junho, setembroedezembro ABNT(NBR6023/2000).
decadaano. Ademais, devemseracompanhadosdecarta
autorizando sua publicação na Revista Agroecologia e 11. Sobreaestruturadosartigostécnico-científicos:
Desenvolvimento Rural Sustentável, devendo constar o a) Título do artigo: emnegrito e centrado;
endereçocompletodoautor. b) Nome(s) do(s) autor(es): iniciando pelo(s)
sobrenome(s), acompanhado(s) denotaderodapé
5. SerãoaceitosparapublicaçãotextosescritosemPortuguês onde conste: profissão, titulação, atividade
ou Espanhol, assimcomo tradução de textos para estes profissional, local detrabalho, endereço e E-mail;
idiomas. Salienta-seque, no caso dastraduções, deveser c) Resumo: no máximo em10 linhas;
mencionadodeformaexplícita, empédepágina, “Tradução d) Corpo do trabalho: deve contemplar, no mínimo,
autorizadaerevisadapeloautor” ou“Traduçãoautorizada 4 (quatro) tópicos, a saber: introdução,
enãorevisadapeloautor”, conformeforocaso. desenvolvimento, conclusões e referências
bibliográficas. Poderão ainda constar listas de
6. Terãoprioridadenaordemdepublicaçãoostextosinéditos, quadros, tabelasefiguras, relaçãodeabreviaturase
ainda não publicados, assimcomo aqueles que estejam outros itens julgados importantes para o melhor
centradosemtemasdaatualidade e contemporâneosao entendimento do texto.
90
Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre, v.3, n.3, Jul/Set 2002
VILAIN, Lionel. La territorial e econômica. O objetivo é dar visibili-
m éthod e I D EA : dade pública da situação relativa da sustentabi-
i n d i ca t e u r s de lidade do sistema, através de medidas pertinen-
d ura b ilité d es tes, sensíveis e confiáveis, bem como ser de fácil
exp l ota ti on s entendimento tanto por técnicos como por agri-
a g r i co l e s: g u i d e cultores. Na escala agroecológica são definidos
d'utilisation: Dijon: três componentes (práticas agrícolas, organiza-
Ed u ca g r i éd i t i o n s, ção do espaço e diversidade), avaliados através
2000. de 17 indicadores. Na escala sócio-territorial são
definidos três componentes (ética e desenvolvi-
mento humano, emprego e serviços e qualidade
Publicado em 2000, este guia propõe uma dos produtos), avaliados por 15 indicadores. Na
metodologia para a avaliação da sustentabili- escala econômica são definidos 4 componentes
dade em explorações agrícolas. O método IDEA (eficiência, transmissibilidade, autonomia e via-
(Indicadores de Sustentabilidade das Explora- bilidade), avaliados por 7 indicadores de sus-
ções Agrícolas), segundo o autor, "não é univer- tentabilidade. Cada um dos 39 indicadores de
sal, nem imutável", mas possibilita uma aborda- sustentabilidade é operacionalizado, individual-
gem objetiva na avaliação da sustentabilidade mente, com o seguinte detalhamento: modali-
em agroecossistemas. O livro consta de duas dade de determinação (escala de valores que
partes. A primeira é um guia de utilização do define o que é mais ou menos sustentável), valor
método e nela o autor define a noção de sus- máximo para o indicador, objetivos, argumenta-
tentabilidade em três dimensões (econômica, ção (justificativa e relação com os princípios da
ecológica e social) e propõe um conjunto de in- sustentabilidade), dados sobre a precisão do
dicadores de sustentabilidade. Conforme o au- indicador e um exemplo prático. As escalas são
tor, essas três dimensões são inseparáveis na avaliadas de forma independente e não cumu-
análise da sustentabilidade. "A atividade econô- lativa. Os princípios gerais do método são base-
mica só é ecologicamente sustentável se: manter ados na avaliação quantitativa das práticas agrí-
o estoque de recursos naturais não renováveis; colas julgadas favoráveis para o meio ambiente
gerar um fluxo de poluição nulo ou próximo de e desenvolvimento social. Na segunda parte do
zero; e o uso dos recursos renováveis não exce- livro, são apresentados quadros por componente
da a sua capacidade de renovação". Quanto à de cada escala de sustentabilidade avaliada, o
eqüidade social, o autor cita que não existem que permite, ao usuário do método, sistemati-
valores precisos cientificamente para a medida, zar as informações e obter índices de sustenta-
mas cita a solidariedade, a cidadania e a quali- bilidade por escala e um global do sistema ana-
dade de vida, que devem ser definidas localmen- lisado. Ainda que alguns dos parâmetros defini-
te. Ainda, em uma perspectiva de desenvolvimen- dos pelo autor possam ser contestados ou con-
to agrícola e rural sustentável, a rentabilidade siderados inadequados para a avaliação de al-
econômica de um sistema de produção não pode guns sistemas agrícolas, o método abrange a
ocorrer a custos ecológicos e sociais inaceitáveis. maioria dos processos presentes nas explora-
O método propõe um conjunto de Indicadores ções agrícolas. Nesse sentido, já no início do li-
de Sustentabilidade que possibilite uma avalia- vro o autor alerta para o fato de que o método
ção da performance global de sistemas agríco- não é definitivo, o que abre uma janela para a
las em três escalas: agroecológica, sócio- sua adequação ou adaptação a diferentes sis-
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temas. Em nosso ponto de vista, a maior virtude lugares do mundo? Essas perguntas são o fio con-
deste guia é permitir algumas reflexões sobre a dutor do fascinante livro de Jared Diamond. Para
avaliação da sustentabilidade em agroecossis- além das causas mais imediatas e evitando expli-
temas de forma objetiva, com uma representa- cações simplistas, o autor entrelaça a origem e
ção numérica de valores agregados, o que pos- evolução do homem, o surgimento da agricultu-
sibilita um fácil entendimento aos atores envolvi- ra, dos impérios, das cleptocracias, da escrita e
dos nos processos de desenvolvimento rural. A das tecnologias que conformaram o desenvolvi-
representação gráfica dos resultados facilita, ain- mento tecnológico, incluindo as armas, com as
da mais, a visualização dos fatores favoráveis e diferenças geográficas e ecológicas entre conti-
desfavoráveis para que o sistema analisado ca- nentes que abrigaram as respectivas populações.
minhe para um contexto de maior sustentabili- Com estilo fluente e de leitura agradável, o autor
dade. Além disso, a apresentação do livro, com m ostra, com riqueza de exem plos, com o o
uma seqüência bem organizada, aliada a gráfi- surgimento da agricultura representou um passo
cos, tabelas e exemplos, transforma este guia decisivo para a história da tecnologia, influenci-
num instrumento de grande utilidade para quem ando a produção de armas, a difusão de micró-
pretende se aventurar na difícil tarefa da avalia- bios a partir da domesticação de animais e, em
alguns casos, a própria invenção da escrita, pos-
ção da sustentabilidade em diferentes explora-
sibilitando o surgimento de organizações políti-
ções agrícolas, com vistas a obter alguns
cas central i zadas e o aprofundam ento das
parâmetros objetivos para tomada de decisões
disparidades intercontinentais.
referentes a intervenções em agroecossistemas.
O livro está dividido em quatro partes. A pri-
meira trata de uma breve viagem da evolução da
Resenha elaborada por Lino Geraldo VargasMoura, En-
genheiro Agrônomo, Mestre em Desenvolvimento Rural,
espécie humana até a última Era Glacial, cerca de
Exten si o n i sta Ru r al da EM ATER/ RS. E- m a i l : 13.000 anos atrás, mostrando que as sociedades
linovmoura@ig.com.br (Acervo da Biblioteca da EMATER/ humanas evoluíram diferentemente desde as sua
RS-ASCAR, classificação: 631.588.9 M592) origens, adotando estratégias diferenciadas de
adaptação às condições ecológicas e geográficas
DIAMO N D, Jared. em que viviam, resultando em formas variadas de
Arma s, g ermes e a ço: organização social, das quais as tribos caçado-
os destinos das socieda- ras-coletoras e a formação de impérios centrali-
des humanas. Rio de Ja- zados são exemplos. O autor dedica um capítulo
neiro: Record, 2001. para ilustrar o confronto entre povos de diferen-
472 p. tes continentes, descrevendo o papel da tecnologia
Por que as socieda- (armas e navios), dos animais (cavalos) e dos ger-
des se desenvolveram mes na conquista européia das sociedades nati-
de maneira tão diferen- vas do continente americano. Merece destaque o
te entre os continentes? relato, baseado em fontes históricas da época em
Por que os povos euro- que os acontecimentos sucederam, da dramática
peus e asiáticos con- captura de Ataualpa, último imperador indepen-
quistaram e dizimaram os habitantes nativos das dente dos incas, na presença de todo o seu exér-
Américas (assim como ocorreu nos continentes cito, por Francisco Pizarro.
africano e australiano) e não aconteceu o in- A segunda parte do livro aborda o surgimento
verso? Q uais as origens da distribuição tão e a expansão da produção de alimentos a partir
desigual das riquezas e do poder em diferentes da análise das razões que levaram os povos dos
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diferentes continentes a optar, ou não, em diferen- é verdade que existam continentes cujas socie-
tes ritmos, pela domesticação de plantas ou de ani- dades tenderam a ser inovadoras e continen-
mais. Fica evidenciado o papel fundamental do co- tes cujas sociedades tenderam a ser conserva-
nhecimento acumulado pelos povos nativos na doras. Em qualquer época, em qualquer conti-
domesticação e evolução de espécies que constitu- nente, existem sociedades inovadoras e socie-
em atualmente a base alimentar da humanidade. d a d es co n ser va d o r a s. Al ém d i sso , a
Ao estabelecer as conexões das causas origi- receptividade à inovação varia com o tempo
nais com as causas imediatas (parte 3) que leva- na mesma região".
ram ao triunfo de Pizarro, Diamond oferece uma Na quarta parte do livro, Jared Diamond exa-
explicação para a "troca desigual de germes", ra- mina os casos mais representativos das desigual-
zão pela qual "muito mais nativos americanos e dades intercontinentais, à luz da "cadeia de cau-
outros povos não-eurasianos foram mortos pelos sas" apresentadas em capítulos anteriores do li-
germes eurasianos do que por suas armas". A vro. Entre estes casos, analisa em detalhe as
América do Norte, por exemplo, possuía uma po- particularidades (semelhanças e contrastes) que
pulação estimada em vinte milhões de nativos an- moldaram as diferenças entre as sociedades da
tes da chegada de Colombo. Essa população foi Austrália e de Nova Guiné, assim como da África
reduzida drasticamente, em 95%, nos dois séculos e do continente americano. O estudo das diver-
seguintes, em grande parte pela difusão das de- sas sociedades mostra que a criatividade huma-
nominadas doenças de multidão (típicas de popu- na é um atributo universal. A diversidade resulta
lações humanas mais densas), às vezes dissemi- antes de um processo histórico, em cujas origens
nadas de forma deliberada, como no caso em que está a interação com os diferentes ambientes, do
os homens brancos dos Estados Unidos enviaram que de supostas diferenças de ordem biológica
"de presente" aos nativos rebeldes cobertores an- ou de superioridade ou inferioridade intelectual
tes usados por doentes com varíola. (como sustentam preconceitos raciais), entre po-
Mais do que fatores isolados, Diamond refere- vos de diferentes continentes.
se a uma constelação de causas fundamentais, Armas, germese aço: osdestinosdassocieda-
desencadeadas pela produção de alimentos, en- des humanas é um livro instigante, que aborda
tre as quais destaca-se a invenção da escrita, a um campo de conhecimento muito amplo, no
qual caminhou, junto com as armas, os micróbios qual questões de etnobiologia, antropologia
e a organização política, como um agente moder- cultural, história da tecnologia e outras apare-
no de conquista. A produção de alimentos tam- cem entremeadas, como fios de uma mesma
bém foi decisiva na história da tecnologia. O argu- trama, fazendo da obra "um dos mais impor-
mento baseado na "teoria heróica da invenção" tantes trabalhos sobre o passado humano pu-
(q u e a t r i b u i t o d o o p eso d a s co n q u i st a s blicados nos últimos anos", como afirmou a Re-
tecnológicas a atos isolados de gênios inventores), vista Nature. Trata-se de um trabalho extrema-
é desmistificado pelo autor, ao descrever exemplos mente rico, não apenas pela robustez das in-
de como "inventos" famosos negligenciaram a con- formações que reúne, mas principalmente pe-
tribuição de muitos precursores, várias vezes ba- las perguntas que propõe e pelas reflexões que
seada em inúmeras tentativas e erros. Ao analisar as respostas suscitam.
o que faz uma sociedade aceitar ou não um inven-
to e como surgiram as diferenças de aceitação entre Resenha elaborada pelo Engenheiro Agrônomo
as sociedades, o autor destaca o papel das dife- Gervásio Paulus. E-mail: gervapaulus@hotmail.com
renças ambientais e variações geográficas na his- (Acervo da Biblioteca da EMATER/ RS-ASCAR: classifi-
tória e na difusão da tecnologia e conclui que "não cação: 316.4 D537a)
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SILVESTRO , M i l t o n tural dos agricultores "descapitalizados" são ra-
Luiz; MELLO, Márcio An- zões suficientes para que a sociedade, através
tonio de; DORIGON, Clo- de suas organizações, construa e execute ações
vis; BALDISSERA, Ivan que possibilitem oportunidades de trabalho no
Ta d eu ; ABRAM O VAY, meio rural.
Ricardo. O s i mp a sses
socia is d a sucessã o he- Resenha elaborada por Valmir Dartora, Engenheiro Agrô-
red itá ria na Ag ricultu- nomo, Mestre em Agroecossistemas e Extensionista Rural
r a Fa m i l i a r. Brasília: da EMATER/ RS.
EPAG RI/ N EAD, 2 0 0 1 . (Acervo da Biblioteca da Emater/ RS- ASCAR. Classifica-
ção: 63:301.185.14 J34)
122p.

O estudo foi feito na região oeste de Santa


Catarina, em dez municípios, envolvendo família
de agricultores (pais, filhos e filhas). Os resulta-
dos mostraram que, em 12% dos estabelecimen-
tos, não há presença permanente de jovens na
propriedade e que, em outros 17%, existe ape-
nas um filho (rapaz ou moça) residindo com os
pais. Esses dados indicam que, mantida essa ten-
dência, o processo de sucessão e a reprodução
da agricultura desenvolvida nas pequenas uni-
dades estão visivelmente comprometidos. O tra-
balho também mostra a difícil situação em que
se encontra a agricultura familiar. Os agriculto-
res "descapitalizados" correspondem a 42% dos
estabelecimentos agrícolas do oeste catarinense.
Neste grupo, estão enquadrados os estabeleci-
mentos que proporcionaram um valor agrega-
do menor que um salário mínimo por mês por
pessoa ocupada, renda essa considerada insu-
ficiente para atender as necessidades do agri-
cultor e sua família e da própria atividade. Ou-
tro resultado a se ressaltar é que 69% dos rapa-
zes entrevistados - mas uma quantidade bem me-
nor de moças, somente 32% delas - manifesta-
ram o desejo de organizar suas vidas profissio-
nais na agricultura. Isso mostra a necessidade
de se realizar ações que fortaleçam a agricultu-
ra de pequeno porte e que essas possam gerar
melhores oportunidades para que os filhos dos
agricultores possam optar pela permanência na
agricultura. Mostra ainda que a sucessão here-
ditária e a recuperação sócio-econômica e cul-
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