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O mundo jurídico é um mundo mesquinho.

Será que eu acabo a monografia antes do prazo?

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"O mundo jurídico é um mundo mesquinho. Ele substitui o mundo dos fatos reais por um
universo de palavras. Onde há uma floresta amazônica, o legislador determina que deva existir
uma flor de papel. Tudo se converte em papel e em signos gráficos no papel: as palavras. Os
próprios juristas passam a investigar palavras, a escrever palavras a propósito de palavras.

Quando se encontram com seus colegas, esconem sua face verdadeira sob a máscara do papel.
Dizem e escutam palavras de louvor ou de crítica nas quais não acreditam. Os congressos e as
conferências são um teatro cujos personagens desempenham o seu papel para espectadores
que fingem compreender e gostar daquilo.

Talvez por isso, Rubens Gomes de Sousa gostava de me dizer uma observação feita há mais de
600 anos pelo maior jurista da Idade Média, Bartolo da Sassoferrato (1313-1357), que morreu
aos 44 anos de idade: "I meri leggisti sono puri asini". Durante muitos anos, eu fui um asno.

E aconteceu que José, um outro jurista, esclheu Teresa para esposa, a mulher de olhos verdes
e cor de fruta ao sol.

Estando sua esposa a caminhar por uma rua de Recife,viu uma casa e disse a seu esposo:

- Compra essa casa.

- Impossível. Não disponho de dinheiro suficiente. Teria que vender meu escritório de
advocacia.

- Vende o escritório.

- Para continuar a pagar prestações teria que vender o automóvel que acabei de comprar e
que eu mesmo lavo.

- Vende o automóvel.

- Ficaria obrigado a trabalhar toda a vida somente para pagar o preço da casa.

- Trabalharás toda a vida. Dentro dessa casa. A meu lado.

O homem atendeu o pedido da esposa.


Pouco a pouco, os dedos do homem passaram a cuidar de samambaias e avencas em lugar de
artigos e parágrafos. Aprendeu a fazer amizade com as árvores do jardim e com elas conversar
por telepatia. E, enquanto ele não retorna a casa, as suas tr~es cachorras ficam sempre
atentas para poderem conhecer - de longe - o ruído e o ritmo dos seus passos.

Esse homem tem existência real. Esse homem é único e insubstituível. esse homem não é de
papel, não usa máscara nem representa ninguém. Esse homem é ele mesmo. Por onde
caminha, ele deixa suas pegas profundas no deserto deste mundo, e nenhum vento as
apagará."

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Esse texto é de Alfredo Augusto Becker, o maior advogado tributarista que já existiu no Brasil,
aquele que fez eu abrir meu olhos. Aquele que me encorajou a largar o direito...

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