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FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970, 107 p.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa.


São Paulo: Paz e Terra, 1996, 54 p.

Nome do Aluno1

Esta resenha crítica2 refere-se às obras Pedagogia do Oprimido e Pedagogia


da Autonomia: saberes necessários à prática educativa, de Paulo Freire. Nesse
sentido, primeiro, apresentamos sucintamente, o educador freiriano 3, em seguida, o
resumo de cada obra mencionada e, por último, a crítica delas.
Paulo Freire: brasileiro, pedagogo, educador, nasceu em 1921 em Recife. É um
dos autores, do final do século XX e início do XXI, mais influentes da área da educação
no Brasil, que teorizou a sua discussão na observação da cultura dos alunos,
professores e teve como objetivo o combate ao elitismo escolar. Logo, a partir desse
ideal, alfabetizou muitas pessoas através de um plano educacional. Entretanto, essa
ideologia foi golpeada e presa pela Ditadura Militar, que o exilou, no Chile, em 1968.
Durante a expatriação forçada, escreveu o seu livro mais conhecido: Pedagogia do
Oprimido. Depois de 11 anos de exílio, recebeu a anistia brasileira; voltou ao Brasil e
começou a lecionar em universidades. Freire morreu em 1997 e deixou obras
importantes, como, por exemplo, as duas resumidas e analisadas a seguir.
Opressão, vexado, humilhado, opresso, comprimido, tiranizado, brutalidade,
violência, sufocado, afligido, atormentado, torturado, triste, melancólico, deprimido
são algumas acepções para o verbete oprimido: adjetivo que qualifica o substantivo
pedagogia, essas palavras juntas dão nome à obra Pedagogia do Oprimido, de Paulo
Freire, que discute o poder antidialógico dos tiranos sobre os sujeitos alienados que
estão à margem da sociedade.

1
Aluno do primeiro período do curso de Direito, da Faculdade de Direito, da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro – UERJ
2
Resenha crítica apresentada à disciplina de Introdução ao Estudo do Direito I, sob a orientação do Prof. Dr. José
Ricardo Cunha
3
O verbete “freiriano” foi usado no lugar de “freireano”, porque o sufixo “iano” é aposto de Freire, que termina
com a vogal “e”. Logo, por uma questão de eufonia, na Língua Portuguesa, deve-se substituí-la por “i”.
1
O livro foi escrito, aproximadamente, há 46 anos, quando Freire estava exilado
em Santiago, no Chile. A primeira edição do livro foi publicada no Brasil, na cidade do
Rio de Janeiro, em 1970, pela editora Paz e Terra e tem 107 páginas divididas em
quatro capítulos: Justificativa da (pedagogia do oprimido); A concepção (bancária) da
educação como instrumento da opressão. Seus pressupostos, sua crítica; A
dialogicidade – essência da educação como prática da liberdade e A teoria da ação
antidialógica.
No primeiro capítulo, o autor esclarece a escolha do nome do livro. Além disso,
diz que o ser humano oprimido deve transformar a fraqueza em força. Nesse sentido,
ele deve construir uma nova história consciente a fim de alcançar a liberdade sufocada
pelos opressores, que negam a esses sujeitos a prática da educação como agente
social e processo de humanização.
Do mesmo modo, o aluno não é um banco de depósito de informações
descontextualizadas e fora de sua realidade social, cultural, política e econômica.
Logo, essa é a discussão freiriana proposta no segundo capítulo dessa obra, na qual
afirma que esse pragmatismo de educação é uma forma de opressão, que exclui,
marginaliza, bloqueia o diálogo e interrompe a libertação de cada aluno, uma vez que
há concepções bancárias de ensino e mestres que ignoram à história de vida desse
sujeito. Ademais, o enxerga como paciente da ação. Entretanto, o processo de ensino-
aprendizagem é coletivo, plural, implica troca, porque é uma relação mediada por dois,
três, cinco...enfim, um movimento de encontro e educação um do outro mediatizados
pelo mundo.
Paulo Freire, no terceiro capítulo, fala da importância do diálogo como prática
de libertação humana. Enfatiza que o verbo dialogar deve ser mais flexionado a fim
de que a palavra possa se estender democraticamente entre educador e educando,
sendo ela mediadora do processo ensino-aprendizagem, assim como construtora de
sujeitos críticos e de bom senso, que possam ter consciência da avassaladora
opressão que existe na sociedade. Nesse sentido, somente o diálogo com amor
poderá construir um pedagogia menos oprimida, com menos sujeitos acríticos e
alienados que são esmagados invisivelmente pela minoria opressora.
Por fim, no último capítulo, o educador Paulo Freire discorre sobre a teoria da
ação antidialógica. Ele a crítica, pois ela é uma ação silenciadora do poder tirano, que
é cruel e violenta a sociedade com falácias e invasões culturais, manipuladoras e

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alienantes. Por outro lado, afirma que a síntese cultural é a solução para a organização
e libertação desses sujeitos, pois só se libertarão dessa opressão, quando
trabalharem em união.
Para isso, precisam ser autônomos, livres e terem independência moral e
intelectual para gozarem o direito de cidadania plena e não falseada, mascarada,
negligenciada, invisível e negada pelos opressores. Por conseguinte, essa é a
principal ideia proposta no livro Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire. Ou seja,
construir sujeitos mais críticos do mundo e da palavra; no entanto para que isso ocorra
é preciso ter uma educação de qualidade, com professores competentes, mediadores
da palavra, do saber, do conhecimento de formas verbais e não verbais de interação
e comunicação a fim de que haja ensino e aprendizagem dentro e fora dos muros da
escola.
Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa é um livro
de bolso, fisicamente pequeno, mas grande em conhecimento e ferramenta útil para
a construção de seres humanos críticos, donos do próprio padrão moral de
comportamento, sem a influência de políticas externas do Estado ou midiáticas. Ele
foi publicado em São Paulo, em 1996, pela editora Paz e Terra (Coleção Leitura) e
tem 165 páginas divididas em três capítulos: Não há docência sem discência, Ensinar
não é transferir conhecimento e Ensinar é uma especificidade humana.
Com exceção do capítulo Não há docência sem discência, todos os outros
iniciam com a repetição do verbo ensinar; inclusive, nos subcapítulos do primeiro ao
terceiro capítulo. Nesse sentido, Freire fez a escolha gramatical desse verbo –
infinitivo pessoal – para enfatizar que, essa forma nominal, deve-se a um motivo: não
se refere a um sujeito específico, mas a todos os indivíduos, de modo geral, isto é,
gente como a gente.
Tal pensamento pode ser corroborado no primeiro capítulo, no qual a teoria
freiriana ressalta a importância do professor como mediador do conhecimento e não
como monopolizador dele; assim como o aluno não é um cérebro oco: desprovido de
leitura de mundo. Pelo contrário, eles são ações recíprocas, que se complementam e
se enriquecem em sala de aula; juntos dialogam e constroem o saber. Portanto,
segundo Paulo Freire, ensinar é um processo de interação, no qual une de forma
respeitosa duas ou mais pessoas (docentes e discentes) na construção do
conhecimento ético e na reflexão crítica sobre a prática, pois todos aprendem no

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processo de falas, debates, argumentos, contra-argumentos e socialização de ideias.
O educador Freire, no segundo capítulo, discorre que o trabalho do professor,
em sala de aula, não é o de transferidor do conhecimento. Mas de uma pessoa que
coordena discussão em grupo. Diante disso, cabe ao docente sensato, crítico, ser
flexível ao outro e, perceber que, tanto nele como no corpo discente existem vidas
inacabadas, curiosas, nas quais buscam por sabedoria. Consequentemente, ensinar
é também aprender com o outro e entender que sem bom senso, autonomia,
disciplina, respeito, humildade, indulgência são virtudes que se constroem na
realidade do dia a dia: no olhar, no gesto, na fala, na troca de experiências e
compreensão um do outro. Atitudes contrárias a essas são entraves para um bom
relacionamento e desempenho na sala da aula, pois formam sujeitos tristes,
desesperançosos, desanimados, que não veem sentindo na educação.
No terceiro e último capítulo, Paulo Freire diz que o professor precisa ter
competência profissional, posicionamento ideológico e político na prática educativo-
crítica, a fim de formar sujeitos autônomos que possam desconstruir falsas ideologias.
Entretanto, para que isso ocorra, é preciso criar um ensino pautado na liberdade e
autoridade para formar cidadãos conscientes da educação dialógica, na qual se
aprende que falar é escutar, e gente é igual a gente.
Portanto, Pedagogia do Oprimido e Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire
são obras atemporais, uma vez que os problemas apontados por ele, na primeira obra,
há 46 anos, ainda são recorrentes na Era da Informação, talvez, um pouco mais
graves como, por exemplo, a exclusão de pessoas à cultura tecnológica e digital;
assim como há mídias medíocres que trabalham com o uso de signos verbais e não
verbais como agentes de semiotização da vida social, criando uma realidade mítica e
imaginária com mensagens subliminares, altamente eficazes para alienar uma massa
desprovida de leitura crítica, que poderia se libertar da alienação cultural, se tivesse
autonomia, como propõe Freire na segunda obra
Nesse sentido, esses livros devem ser lidos por todos aqueles que se
interessam pelo fenômeno educação e acreditam que a partir dela podemos intervir
no mundo e cuidar melhor um do outro e esperar um mundo menos oprimido e
desumano. Somente assim, poderemos desconstruir as acepções do adjetivo
tolerante e construir adjetivos mais livres a fim de propor uma pedagogia mais
tolerante, dialógica, autônoma e libertadora das mentes oprimidas, alienadas

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culturalmente e sem autonomia na sociedade contemporânea.
Sendo assim, toda a compreensão ideológica desse discurso freiriano – com
ênfase na repetição de palavras, frases e ideais – pode ser apreendido através da
linguagem didática, clara e simples dessas duas obras fundamentais, de Paulo Freire.

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