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Em busca do som perfeito de guitarra

O som da guitarra é um elemento fundamental para que você possa, literalmente, falar por
intermédio desse instrumento. A força com que você consegue se expressar está em
grande parte apoiada na qualidade do timbre da guitarra. Conseguir o som ideal para
transmitir o que você sente é uma equação com muitas variáveis.
Nesta matéria, tentarei, na medida do possível, discutir algumas das principais variáveis
desse infinito universo, e abrir novos horizontes para que você melhore seu conhecimento
a respeito de como trabalhar com equipamentos relacionados à guitarra.
Primeiro é fundamental tomar consciência da importância do timbre do instrumento. É a
qualidade sonora desse som que vai identificar sua voz junto aos ouvidos da audiência. E
uma voz defeituosa, sem qualidade, rouca, hesitante, não pode ser identificada com
precisão e não agrada aos ouvidos. Dessa forma, todos os cuidados com a ‘sua voz’, ou
seja, o seu timbre, não é exagero, e sim uma necessidade - para os profissionais, uma
obrigação! Você também tem que entender que existem muitos tipos de timbres e cada um
se adapta a uma forma de tocar e a um estilo diferente. Isso é muito, mas muito importante
de entender, pois por mais óbvio que possa parecer tal afirmação, é comum um jovem
guitarrista perguntar sobre qual é o melhor equipamento... Tal pergunta só pode ser bem
respondida se outra anterior tiver uma resposta: “qual o tipo de música que você faz?”.
Para tocar blues, você não deve utilizar timbres com níveis de saturação muito altos,
chegando até o efeito de distorção, pois há uma necessidade de maior dinâmica, assim
como para tocar metal você não pode tocar com timbres totalmente limpos.

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É bom ter em mente que cada um tem uma necessidade diferente, e que o equipamento vai
funcionar sempre de forma individual. O que vamos trabalhar nesta matéria são algumas
regras e conceitos gerais daquilo que poderemos chamar de “bom senso timbrístico”.
Essas dicas devem servir de forma geral, independente do gênero/estilo que você tocar.
Procuramos assim auxiliar o maior número de guitarristas possível.
Vamos começar por entender os três principais elementos de nossa equação: guitarra,
efeitos e amplificadores. A guitarra deve atender à sua forma de tocar. O que acontece é
que muitos ainda não decidiram de que forma querem tocar, o que me leva à conclusão
que o desenvolvimento do timbre e o equipamento utilizado para gerá-lo estão
diretamente relacionado ao desenvolvimento do músico como artista. Assim, chegamos a
duas regras de “bom senso timbrístico”:
1) sempre relacione sua forma de tocar e o estilo ao equipamento que está utilizando;
2) é sempre saudável comparar e ter referências em relação ao que você pretende tocar e
como deve soar.
Esse segundo conceito é importante e revelador, pois vai ajudar – e muito! - tudo o que
você fizer. É por comparação que você pode perceber tudo que o cerca. Algo só é bom ou
ruim, feio ou bonito, grande ou pequeno porque está em relação comparativa. De outra
forma não seria nada. Assim, compare seu estilo e seu timbre ao daqueles músicos que
você tem como referência.
Exemplo: se você gostar do timbre do Zakk Wylde, é melhor não comprar uma guitarra
modelo Stratocaster. E mesmo que não tenha dinheiro para comprar um Gibson Les Paul
original, não tem problema. Adquira um instrumento que tenha o formato e mais se
aproxime da construção de uma Les Paul. Da mesma forma deve agir aquele que deseja
tocar jazz ou música brasileira: evite uma guitarra modelo Flying V ou uma Gibson SG –
é melhor a aquisição de uma semi-acústica, ao estilo George Benson.

O mesmo modelo de guitarra pode ter tipos diferentes de traste, captadores, madeiras,
pontes, tarraxas etc. Cada elemento vai modificar não somente a forma como a guitarra irá
funcionar, mas também como ela irá soar. Nesse caso, aconselho outra regra clássica:
pesquise sempre, experimente muito.
A pesquisa e a experimentação são elementos básicos para que você tenha real
conhecimento sobre o que quer que seja. É por essa razão que sempre estamos às voltas
com compras, trocas e ‘rolos’ com equipamentos. É necessário ter diferentes tipos de
guitarras e experimentá-las por um tempo para que você realmente saiba como elas
funcionam. E o mais importante: se funcionam bem para você. Só se conhece
verdadeiramente um equipamento quando você fica com ele tempo suficiente para que o
experimente em todas as situações em que ele deve servir. Somente depois que um
equipamento foi para ensaios, shows e estúdios é que você saberá se ele serve às suas
necessidades ou não.
O que vulgarmente é chamado de “amplificador de guitarra” ou “combo” (erroneamente
conhecido em grande parte do Brasil como “cubo”) é na realidade divido em três partes. O
power amplificador, responsável por amplificar, aumentar, dar mais potência ao sinal da
guitarra, aparece posteriormente ao pré-amplificador (estágio de entrada do sinal, que
regula freqüências como agudo, médio e grave) na corrente percorrida pelo sinal,
enquanto os alto-falantes recebem o sinal no final da corrente e o colocam no ambiente
físico de forma a se tornar perceptível aos sentidos. O combo (foto 1) tem esses três
elementos reunidos em um só aparelho. O que chamamos de “cabeçote” e “caixa” (foto 2)
divide esses elementos em duas partes: a ‘cabeça’ (contendo a seção de pré e de
amplificação) e a caixa com os falantes. O chamado “sistema de amplificação de rack”
(foto 3) possui esses três elementos de forma separada.
Não se pode afirmar que um sistema é melhor que o outro. Eles são apenas diferentes e
utilizados para diferentes aplicações. O importante aqui é perceber que existe uma
diferença entre a seção de pré-amplificação e de power, porque quando você conectar
efeitos entre a guitarra e o amplificador, terá que compreender isso muito bem.
Novamente, utilize a regra da referência quando tiver que escolher seu sistema de
amplificação. Nem sempre um modelo de rack de 200 watts RMS, que custa muitos
milhares de dólares, é melhor que um pequeno combo de 15w. Tudo depende do tipo de
som que você necessita. Não faz sentido para quem toca em pequenos ambientes ter um
amplificador de muita potência. A relação entre permite que o vendedor fale que aquele
sonzinho contrabandeado de países duvidosos e que é vendido nas Casas Bahia da vida
tenha “900w”, quando na verdade aquilo é PMPO - com um sinal amplificado em 900w
RMS você consegue tranqüilamente tocar guitarra no estádio do Morumbi lotado!
(microfonando, claro). Tome cuidado com esse tipo de medida. Não se iluda com
potência! Mesmo sendo RMS, o que importa é o timbre.

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Os sistemas de amplificação de rack, que migraram dos estúdios para os palcos, oferecem
mais recursos. Em contrapartida, são mais caros, mais complexos e pesados e –
novamente - não necessariamente melhores que os combos ou ‘cabeças’. A grande
diferença é que você pode combinar diferentes tipos de pré, powers e caixas entre si. O
combo já vem montado e esses elementos foram combinados e balanceados na fábrica,
trazendo ao guitarrista mais praticidade e melhor custo. As ‘cabeças’ e caixas são os
sistemas preferidos por bandas de rock e por quem faz trabalhos com necessidade de altos
índices de volume, por oferecer a praticidade de um combo, mas com muito mais
potência.
Outra coisa que você tem que observar com cuidado ao escolher um sistema para
amplificar sua guitarra é a opção entre um sistema valvulado, um simulador e um sistema
que não é nem valvulado nem um simulador, vulgarmente chamado de transistorizado. A
válvula é o sistema preferido de oito entre dez guitarristas, especialmente quando estes
utilizam timbres saturados. É ela que traz ao som da guitarra uma compressão natural e
uma sensação espacial muito diferente dos outros sistemas. Isso sem falar naquilo que
chamamos de “calor”. Um bom amplificador valvulado deixa o timbre ‘quente’ e também
com muita dinâmica, ou seja, é muito sensível ao toque da palheta. Esses são elementos
fundamentais para a interpretação do instrumento.

Os simuladores têm melhorado sua qualidade a cada dia e tentam por meio da tecnologia
digital imitar os timbres de outros amplificadores. A evolução foi de tal proporção que há
quem diga que já é impossível distinguir o som tirado de um simulador daquele extraído
de um amplificador real em uma gravação. Pode ser que a maioria dos ouvintes realmente
não consiga distinguir uma coisa da outra, mas o músico com certeza consegue. É
diferente tocar com um som proveniente de um simulador daquele advindo de um sistema
valvulado, mas não necessariamente pior. Novamente, tudo vai depender daquilo que você
quer. O simulador trouxe versatilidade e praticidade, barateou os custos e facilitou a
produção de música, mas segundo este que vos escreve, nada como um bom microfone na
boca de um amplificador valvulado para trazer o melhor que a guitarra pode oferecer. Mas
esta é apenas uma opinião pessoal. Muitos podem preferir os simuladores ou os
amplificadores transistorizados. O importante é que o equipamento sirva para a
necessidade de cada um. Geralmente, os músicos que tocam com o som limpo de guitarra
preferem sistemas do tipo transistorizado - um bom exemplo é o amplificador Roland Jazz
Chorus, que ficou famoso nas mãos de Pat Metheny.
Depois, você tem que considerar os efeitos, que são a verdadeira ‘perfumaria’ dos
guitarristas. E o mesmo conceito se aplica a eles na hora da escolha do tipo a ser usado.
Pedaleiras digitais, racks de efeitos ou pedais separados? Como não sou de ficar em cima
do muro, afirmo que pedais separados são muito melhores no que se refere ao timbre. Mas
novamente isso é uma opinião pessoal. Talvez as pedaleiras digitais tenham feito tanto
sucesso justamente pela facilidade e praticidade de ter tudo em uma única caixa, com um
custo baixo quando comparado à montagem de um pedaleira tradicional. Os bons racks de
efeitos são os mais caros, sensíveis para se colocar ‘na estrada’, mas contam com muitos
recursos e uma qualidade sonora de estúdio. Novamente, tudo vai depender do quanto
você pode gastar e o peso que quer carregar, entre outros fatores.
Mas alguns timbres clássicos são insubstituíveis. Utilize referências e procure saber se
aquele guitarrista cujo timbre faz seu coração apertar utiliza pedais, racks de efeitos ou
pedaleiras digitais, amplificadores valvulados ou simuladores. Muitas de suas perguntas
podem ser respondidas....

Como conectar seu equipamento

Basicamente, existem duas formas de conectar efeitos:


1) entre a guitarra e o pré-amplificador (foto 4);
2) entre o pré e o power (foto 5).

A primeira opção é, tradicionalmente, predominante para pedais de efeito. Especialmente


para timbres de rock, um pedal de overdrive ligado em linha entre a guitarra e o
amplificador eleva o ganho do sinal de saída do instrumento, com este chegando ao pré-
amplificador de modo muito mais forte. Desta feita, ele chega com um certo nível de
saturação, deixando o som, como se costuma dizer, mais “nervoso”. Também é comum
conectar pedais como wah wah, chorus, flanger, phaser, whammy e outros tipos de
modulação antes do pré-amplificador. A forma tradicional de conectá-los é chamada de
“corrente”, plugando o output (saída) de um no input (entrada) do seguinte, dando
seqüência a esse procedimento até o fim de sua corrente (foto 6). O problema é que esses
pequenos ‘brinquedos’ possuem um ruído inerente ao seu funcionamento, que vai se
amplificando à medida que a corrente aumenta.
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Isso leva a mais uma regra da equação sonora: posicione os pedais de maior ganho de
sinal no início de sua corrente.
Um pedal de distorção vai amplificar o ruído inerente de sua corrente em maior
intensidade que um wah wah, chorus ou phaser, o que significa que esse mesmo pedal de
distorção vai causar um prejuízo muito maior no final da corrente.
De qualquer forma, o ruído de uma pedaleira sempre vai existir e ainda será amplificado
ao chegar ao pré-amplificador. Assim, verifique sempre cabos e plugs, procurando utilizar
sempre o melhor equipamento de conexão possível. De nada adianta um alto investimento
em pedais, guitarras e amplificadores se esses acessórios são de baixa qualidade. Nos
últimos tempos tenho optado por cabos e plugs que não necessitam de soldas, o que tende
a melhorar substancialmente a qualidade do sinal.

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