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Falar Verdade a Mentir Auto da Barca do Inferno Textos de Caráter Biográfico / Autobiográfico Artigo de Apreciação Crítica
Texto expositivo-argumentativo Luís Vaz de Camões Padre António Vieira Romantismo Frei Luís de Sousa - "Quem és tu?"
Auto da Barca do Inferno é um auto que nos diz que, após a morte, vamos parar a um rio que havemos de atravessar.
Gil Vicente inspirou-se na lenda de Caronte, da antiguidade clássica. Na mitologia
grega, Caronte é o barqueiro do Hades, que carrega as almas dos recém-mortos sobre as
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águas dos rios Estige e Aqueronte, que dividiam o mundo dos vivos do mundo dos mortos.
Uma moeda para pagá-lo pelo trajeto, geralmente um óbolo era por vezes colocado dentro Pe
ou sobre a boca dos cadáveres, de acordo com a tradição funerária da Grécia Antiga.
Gil Vicente, neste auto substituiu Caronte por dois barqueiros (Diabo e Anjo) e o
NÚMERO TOTAL DE VISUALIZ
destino final (Infernos) pelo Inferno ou Paraíso. DE PÁGINA
Gil Vicente, ao criticar os costumes, hábitos e vícios da sociedade, queria transmitir
uma moral a toda a sociedade; pretendia que toda a sociedade, ao ver a peça, se risse, 59,487
mas ,em simultâneo, criticava os '' podres '' da sociedade daquele tempo.
Ocorreu um erro LINKS
Estrutura neste
O auto não tem uma estrutura definida, não estando dividido em atos ou cenas, por isso para facilitar a sua leitura divide- Agrupam
dispositivo
de Escol
se o auto em cenas à maneira clássica, de cada vez que entra uma nova personagem. Gomes T
CONTRIBUIDOR Armamar
ES Biblioteca
Personagens Escolar d
Rosa M.
As personagens desta obra são divididas em dois grupos: as personagens alegóricas e as personagens–tipo. Armamar
Neves
Dicionári
Fernanda
Terminoló
No primeiro grupo inserem-se o Anjo e o Diabo, representando respetivamente o Bem e o Mal, o Céu e o Inferno. Ao longo Neri
para con
de toda a obra estas personagens são como que os «juízes» do julgamento das almas, tendo em conta os seus pecados e
Fernando em linha
vida terrena. Reis
Estudar n
Célita Leitão foi tão fá
No segundo grupo inserem-se todas as restantes personagens do Auto, nomeadamente o Fidalgo, o Onzeneiro, o
Sapateiro, o Parvo (Joane), o Frade, a Alcoviteira, o Judeu, o Corregedor e o Procurador e os Quatro Cavaleiros.
ARQUIVO
Fazendo uma análise das personagens, cada uma representa uma classe social, ou uma determinada profissão ou BLOGUE
mesmo um credo. À medida que estas personagens vão surgindo vemos que todas trazem elementos simbólicos, que
Fevereiro
representam a sua vida terrena e demonstram que não têm qualquer arrependimento dos seus pecados.
(2)
Abril 201
Humor
Surgem ao longo do auto três tipos de cómico: o de carácter, o de situação e o de linguagem.
O cómico de carácter é aquele que é demonstrado pela personalidade da personagem, de que é exemplo o Parvo, que
devido à sua pobreza de espírito não mede as suas palavras, não podendo ser responsabilizado pelos seus erros.
O cómico de situação é o criado à volta de certa situação, de que é bom exemplo a cena do Fidalgo, em que este é
gozado pelo Diabo, e o seu orgulho é pisado.
Por fim, o cómico de linguagem é aquele que é proferido por certa personagem, de que são bons exemplos as falas do
Diabo.
Argumento
Este auto considerado por Gil Vicente como sendo um auto de moralidade (Peça de carácter didático-moral onde as personagens
encarnam vícios ou virtudes com o objetivo de moralizar a sociedade) inicia com uma dedicatória à Rainha D. Leonor (presença do mecenatismo),
recorrendo a captatio benevolentiae (Expressão da retórica latina que significa literalmente “conquista da benevolência”, muito difundida em todas as
literaturas , quando um escritor quer ganhar a simpatia de alguém, interpelando-o no sentido de receber louvor e solidariedade para a causa que está a ser
defendida).
Feito o elogio à Rainha, Gil Vicente apresenta o argumento da peça: quando morremos (“no ponto que acabamos de espirar”), as
nossas almas dirigem-se a um rio, que tem de ser atravessado para atingirmos o nosso destino final (Inferno ou Paraíso). No cais,
para atravessar o rio, encontram-se dois barcos com os respetivos barqueiros, um deles passa para o paraíso e o outro para o
inferno.
O primeiro a chegar é um fidalgo, a seguir: um onzeneiro, um parvo, um sapateiro, um frade, uma alcoviteira, um judeu,
um juiz, um procurador, um enforcado e quatro cavaleiros.
O seu percurso em cena é praticamente idêntico em quase todas as personagens. Um a um dirigem-se à barca do Diabo,
carregando com eles os seus pecados (signos não verbais ou símbolos cénicos). Perguntam para onde vai a barca, mas ao saber que
vai para o inferno ficam apavorados e dizem-se dignos do Céu. Aproximam-se, então, do Anjo, que os condena ao inferno
pelos seus pecados.
O Fidalgo, o Onzeneiro, o Sapateiro, o Frade (e sua amante), a Alcoviteira (Brísida Vaz) o Judeu, o Corregedor (juiz), o
Procurador e o Enforcado são todos condenados ao inferno pelos seus pecados. Apenas o Parvo é absolvido pelo Anjo. Os
Cavaleiros nem sequer são acusados, pois deram a vida a lutar pela Igreja.
FIDALGO
O primeiro a embarcar é um Fidalgo que vem acompanhado por um Pajem, que lhe leva o
manto e uma cadeira. O Diabo, mal vê o Fidalgo, diz-lhe para entrar na sua barca. Este dirige
a palavra ao Diabo, perguntando-lhe para onde ia aquela barca. O Diabo responde que o seu
destino era o Inferno. O Fidalgo resolve então ser irónico e diz que as roupas do Diabo
pareciam de uma mulher e que sua barca era horrível. O Diabo não gostou da provocação e
disse-lhe que aquela barca era a ideal para tão nobre senhor. O Fidalgo, admirado, diz ao
Diabo que deixou quem rezasse por ele, portanto, o inferno não será a sua paragem, mas
acaba por saber que o seu pai também já encontrara abrigo naquela barca.
O Fidalgo tenta entrar noutra barca e, por isso, resolve dirigir-se à barca do Anjo. Começa
por perguntar ao Anjo, para onde é a viagem e que aquela é a barca que procura, mas é
impedido de entrar, devido à sua tirania, pois aquela barca era demasiado pequena para tão
grande fidalgo, ou seja, não havia ali espaço para todas os pecados que cometera em vida. O Fidalgo demonstra não querer
perceber tais verdades e começa a elogiar o Anjo. Mas o Anjo nem o quer ouvir.
Assim, o Fidalgo, desolado, vai para a barca do Inferno. Porém, e antes disso, pede ao Diabo que o deixe tornar a ver a
sua amada, que se queria matar por ele. O Diabo diz-lhe que a mulher que ele tanto amava o enganava e que tudo que ela lhe
escrevia era mentira Também a sua esposa dava já graças a Deus por ele ter morrido, o melhor era, portanto, embarcar logo,
pois ainda viria mais gente. O Diabo manda o Pajem, que estava junto ao Fidalgo, ir embora, pois ainda não era sua hora.
Caracterização da personagem:
Direta - nobre (fidalgo de solar)
Indireta - vaidoso, presunçoso do seu estado social
- o seu longo manto e o criado que carrega a cadeira representam bem a sua vaidade e ostentação
- a forma como reage perante o Diabo e o Anjo revelam a sua arrogância (de quem está habituado a mandar e a
ter tudo)
- a sua conversa com o Diabo revela-nos que além da sua mulher tinha uma amante, mas que ambas o
enganavam
ONZENEIRO
Logo a seguir, vem um Onzeneiro que pergunta ao Diabo para onde vai aquela barca. O Diabo diz-lhe para
entrar e pergunta-lhe o que o levou a demorar tanto. O Onzeneiro queixa-se de que morreu de forma
imprevista, enquanto andava a recolher o dinheiro, e que nem dinheiro tinha para pagar ao barqueiro.
Não querendo entrar na barca do Diabo, resolve dirigir-se à barca do Anjo, a quem pergunta se podia
embarcar. O Anjo diz-lhe que não entraria naquela barca por ter sido ganancioso.
De volta à barca do Diabo, o Onzeneiro pede para regressar ao mundo dos vivos para ir buscar dinheiro
pois pensava que o Anjo não o teria deixado entrar pelo facto de o bolsão ir vazio.
O Onzeneiro acaba por entrar na barca do Inferno.
Tipo: Burguesia
Caracterização da personagem:
Indireta – ganancioso, confiante da sua capacidade financeira
JOANNE, O PARVO
Aproxima-se, agora, do cais um Parvo, que pergunta se aquela barca era a dos tolos. O Diabo afirmou
que era aquela a sua barca. Entretanto, o Diabo perguntou-lhe de que é que ele tinha morrido. Nesse
momento, o Parvo dirige uma série de insultos ao Diabo e tenta, de seguida, embarcar na barca da Glória. O
Anjo disse-lhe que se ele quisesse, poderia entrar, pois durante a sua vida os erros que cometeu não foram
por malícia. Contudo, teria entretanto de esperar fora da barca.
Caracterização da personagem:
Direta – “Samica alguém”
Indireta – tolo, descarado
Esta cena tem uma intenção lúdica, fazendo divertir quem está a assistir a esta peça, mas também tem uma intenção de
crítica dizendo que as pessoas simples são mais merecedoras do Paraíso.
O Parvo é convertido numa éspecie de comentador independente da acção, pondo à mostra, com os seus disparates, o
ridículo das personagens convencidas do seu papel.
Em Gil Vicente, a função do Parvo não é apresentar-se a si próprio, nunca sendo observado pelo interesse que em si
mesmo possa oferecer, mas tem como função criar efeitos cómicos, irresponsáveis.
Durante a peça do Auto da Barca do Inferno, interfere diversas vezes, sendo constante característica o uso do calão, que
tanto é injurioso como otimista, fazendo de si um ser louco, completamente à parte, liberto de regras e constrangimentos, em
que a ordem não exerce qualquer tipo de poder.
SAPATEIRO
Um Sapateiro, com o seu avental e carregado de formas, é a personagem seguinte.
Dirige-se à barca a do Diabo. Este fica espantado com a carga que o Sapateiro traz: pecados e formas.
O Sapateiro diz ao Diabo que não entraria ali, pois enquanto viveu sempre se confessou, foi à missa e
rezou pelos mortos. O Diabo desmascara-o e diz-lhe que não vale a pena continuar a utilizar aquele tipo de
argumentos, acusando-o de praticar religião sem fé.
O Sapateiro, incrédulo, dirige-se à barca da Glória, mas o Anjo diz-lhe que a carga que trazia não caberia
na sua barca e que a do Inferno era o único destino para ele. Vendo que não conseguira o pretendido, o
Sapateiro dirige-se à barca do Inferno, onde entra.
Caracterização da personagem:
- Direta: aldrabão, ladrão, desonesto, malcriado
- Indireta: pecador, excomungado, autoconfiante , explorador
FRADE
Um Frade entra em cena acompanhado de uma moça, trazendo numa mão um pequeno
escudo e uma espada na outra, um capacete debaixo do capuz, a cantarolar uma música e a
dançar. Diz ao Diabo ser da corte. O Diabo não lhe prestou qualquer atenção e perguntou-lhe
se a moça que ele trazia era sua e se no convento não o censuravam por isso. O Frade
respondeu-lhe que no convento todos eram tão pecadores quanto ele, mas ao tomar
consciência do rumo daquela barca tenta entender as razões que o encaminhavam para o
Inferno e não para o céu, já que era um frade. O Diabo diz-lhe que o comportamento
evidenciado durante toda a vida abrira caminho para esta paragem.
O Frade não se conforma e resolve, juntamente com a moça, ir ao batel do Céu,
encontram-se com o Parvo, que os convence do seu destino: o inferno.
O Frade dirigiu-se, de novo à barca do Inferno e aí embarca com a moça que o
acompanhava.
Caracterização
Direta - O Frade autocaracteriza-se como “cortesão”, ou seja, alguém que está familiarizado com os hábitos da corte. Mais
tarde, assume-se como “namorado” e “dado a virtude” e que tem “tanto salmo rezado”.
Assim, desde logo esta personagem assume, de forma direta, uma vida dupla como frade, que usa hábito e reza orações e
que também é da corte, que namora, canta, esgrima e toca viola.
Indireta - As suas atitudes, também certificam que é um padre pecador, que levava uma vida boémia, em vez de se dedicar
afincadamente ao serviço que prestava a Deus e em auxílio de quem precisasse.
Mostra que é obstinado quando se nega a entrar na Barca do Inferno, convencido de que as suas rezas e o simples hábito
de Frade lhe garantirão um outro destino. Do mesmo modo, também não aceita que Florença entre nessa barca, o que pode
denunciar que o Frade não estava ainda consciente de ter vivido uma vida de pecado.
ALCOVITEIRA
A Alcoviteira, Brízida Vaz, chega ao cais relatando o que trazia e afirmando que iria para o
Paraíso pois tinha sofrido em vida e feito muito pelas moças, mas o Diabo contestava e dizia-lhe que
aquela barca era a que lhe estava destinada.
Brízida vai implorar ao Anjo que a deixe entrar na sua barca, pois ela não queria arder no fogo
do inferno, dizendo que tinha o mesmo mérito que o de um apóstolo. O Anjo disse-lhe que se fosse
embora e que não o importunasse mais.
Triste por não poder ir para o Paraíso, Brízida vai caminhando em direcção ao batel do Inferno
onde entra, já que era o único meio possível para seguir a sua viagem.
Caracterização:
Direta - "som apostolada, angelada e martelada"
Indireta - Brísida era mentirosa (“três almários de mentir”), mexeriqueira (“cinco cofres de enleos”), ladra (“alguns frutos
alheos”), cínica (“trago eu muita bofé”), convencida (“e eu vou pera o paraíso”), enganadora (“barqueiro mano meus olhos”).
JUDEU
Logo após o embarque de Brísida Vaz, vem um Judeu, carregando um bode (fazia parte dos rituais
de sacrifício da religião hebraica).
Chegado ao batel dos danados, chama o marinheiro e pergunta-lhe a quem pertence aquela barca.
O Diabo questiona se o bode também era para entrar junto com o Judeu, que afirma que sim, mas o
Diabo impede essa entrada, pois ele não levava caprinos para o Inferno.
O Judeu resolve pagar alguns tostões ao Diabo, para que ele permita a entrada do bode. Vendo
que não consegue, roga-lhe várias pragas, apenas pelo facto do Diabo não fazer a sua vontade.
O Parvo, para troçar do Judeu, perguntou se ele tinha roubado a cabra.
Em nenhum momento, o Judeu tenta entrar na barca do Anjo.
O Diabo ordena o fim daquela discussão e ordena ao Judeu que entre.
Tipo: Judeu
Percurso cénico:
O Judeu tenta entrar na Barca do Inferno mas não consegue. O Diabo acaba por permitir que se desloque a reboque na
Barca do Inferno.
O Judeu recusa deixar o bode em terra, porque quer ser reconhecido como Judeu
Caracterização:
Indirecta – fanatismo religioso (não queria largar o bode), ladrão, má pessoa, avarento.
CORREGEDOR
Depois do Judeu ter embarcado, veio um Corregedor, carregado de feitos. Quando chegou ao batel do
Inferno, com sua vara na mão, chamou o barqueiro, pensando ser servido. O barqueiro, ao vê-lo, fica feliz, pois
esta seria mais uma alma que ele conduziria para o fogo ardente do Inferno.
O Corregedor era um dos eleitos para a sua barca, porque durante toda a sua vida foi um juiz corrupto,
que aceitava perdizes como suborno. O Diabo começa a falar em latim com o Corregedor, pois era usado pela
Justiça e pela Igreja, e era considerada uma língua culta. Os dois começam a discutir em latim, o Corregedor
por se achar superior ao Diabo quer também demonstrar-lhe que, pelo facto de ser um juiz prestigiado, não
poderia entrar em tal barca. O Diabo vai perguntando sobre todas as suas falcatruas, cita, inclusive, a sua
mulher, que aceitava suborno dos judeus, mas o Corregedor garantiu que nisso ele não estava envolvido,
esses eram os pecados de sua mulher e não os seus.
PROCURADOR
Enquanto o Corregedor estava nesta conversa com o Arrais do Inferno, chegou um Procurador, carregando
vários livros. Depara-se com o Corregedor e, espantado por encontrá-lo ali, questiona-o para onde ia, mas o
Diabo responde pelo Corregedor e diz: para o Inferno e que também era bom ele ir entrando logo.
O Corregedor e o Procurador não queriam entrar na barca, pois diziam-se homens de fé, sabedores da existência de
outra barca em melhores condições que os conduziria para um lugar mais ameno - o Céu.
Quando chegam ao batel divino, o Anjo e o Parvo mostram-lhes que as suas ações os impediam de entrar na barca da
Glória, pois tinham feito mal e era agora altura de pagar, com a ida das suas almas para o Inferno.
Desistindo de ir para o paraíso, os dois entram no batel dos condenados e deparam-se com Brísida Vaz, que fica
satisfeita com esta entrada, pois enquanto viveu foi muito castigada pela Justiça.
Corregedor:
Procurador:
Caracterização:
Indirecta – a referência às perdizes aludia ao carácter corrupto das personagens.
ENFORCADO
Após a entrada destes dois oficiais da justiça vem um homem que morreu enforcado que, ao chegar ao
batel dos mal-aventurados, começou a conversar com o Diabo. Tentou explicar que não iria no batel do Inferno,
pois já tinha sido perdoado por Deus ao morrer enforcado acreditando no que lhe dissera Garcia Moniz). O
Diabo diz-lhe que está enganado e predestinado a arder no fogo infernal.
Desistindo de tentar fugir ao seu destino, acaba por obedecer às ordens do Diabo para ajudar a empurrar
a barca e a remar, pois o momento da partida aproximava-se.
Caracterização:
Direta: - “ Bem-aventurado”.
Indirecta: -ingénuo,confiante na palavra dos outros,facilmente influenciável.
QUATRO CAVALEIROS
Depois disso, vieram quatro Cavaleiros cantando, cada um trazia a Cruz de Cristo, para
demonstrar a sua fé, pois tinham lutado numa Cruzada contra os Muçulmanos, no norte da
África.
Ao passarem na frente da barca do Inferno, cantando, segurando as suas espadas e
escudos, o Diabo não resiste e diz-lhes para entrarem, mas um deles responde-lhe que quem
morre por Jesus Cristo não entra em tal barca.
Tornaram a prosseguir, cantarolando, em direcção à barca da Glória, sendo muito bem
recebidos pelo Anjo que já estava à sua espera há muito tempo
Sendo assim, os quatro Cavaleiros embarcaram para o Paraíso, já que morreram pela expansão da fé e por isso estavam
isentos de qualquer pecado.
Tipo: Cruzados
Caracterização:
Ao contrário do que acontece com as outras personagens, nada nos é dito sobre a sua vida ou morte, a não ser
“morremos nas Partes de Além[…] pelejando por Cristo” .
A moralidade está condensada nos seguintes versos: “Vigiai – vos, pescadores, que depois da sepultura neste rio está a
ventura de prazeres ou dolores. Gil Vicente com estes versos, pretendia transmitir que depois da '' vida terrestre '', cada
pessoa era recompensada ou '' amaldiçoada '' conforme a sua vida na terra.
CLASSIFICAÇÃO DA OBRA
A obra é um auto de moralidade, porque revela os vícios, os defeitos e os costumes da época de Quinhentos,
criticando-os de modo a moralizar a sociedade.
ASSUNTO
O auto apresenta a dualidade BEM / MAL, simbolizada pelas personagens alegóricas, ANJO e DIABO, as quais se
encontram na respectiva barca, atracada no cais. Aqui surgem várias almas que, através do diálogo com o Anjo e/ou o Diabo,
expõem a sua vida, carregada de vícios, o que as leva à condenação.
SIMBOLOGIA DO CENÁRIO:
· Cais - representa o tribunal no qual somos julgados segundo o nosso comportamento enquanto vivos.
· Barcas - simbolizam a partida para o outro mundo;
· Rio - simboliza a divisão e a transição entre este mundo e o outro.
PERSONAGENS
Semelhanças Diferenças
- São personagens alegóricas; Diabo: espera um grande número de passageiros,
- Nenhum tenta recuperar as personagens que entram por isso enfeita a barca:
em cena; - “Põe bandeiras, que é festa”;
- Ambos avaliam o tipo de vida das personagens, Anjo: Confiante de que não terá muita gente:
realçando os aspectos negativos (na generalidade); - “(…) veremos se vem alguém/ merecedor de tal
- Ambos têm uma única função: condenar (Diabo) ou bem (…);
salvar (Anjo).
Diabo: linguagem irónica, zombeteira, crítica,
agressiva;
Anjo: sóbrio na linguagem e nos gestos;
Personagens-tipo:
Semelhanças Diferenças
- Grande apego aos bens materiais e ao seu tipo de - Percurso cénico;
vida (excepções:Parvo, Cavaleiros); - Representatividade dos símbolos.
- Não existe um arrependimento real, embora, por
vezes, haja uma tomada de consciência do erro;
- Visão deturpada da religião;
- Fazem-se acompanhar de símbolos cénicos
(excepção: Parvo).
TEMPO:
Situando-se num plano extra terreno, a acção não apresenta uma evolução cronológica.
CRÍTICA:
Nesta peça, Gil Vicente denuncia os vícios da sociedade portuguesa quinhentista, segundo o lema latino ridendo
castigat mores, isto é, a rir se corrigem os costumes.
ESTRUTURA EXTERNA:
Os textos dramáticos organizam-se, habitualmente, em actos que contêm diversas cenas. Tal não acontece no Auto da
Barca do Inferno, embora não seja difícil dividir em cenas esta peça de Gil Vicente.
A peça é constituída por oitavas, com versos em redondilha maior, seguindo o esquema rimático abbaacca.
ESTRUTURA INTERNA:
Cada cena, excepto a inicial, apresenta as três partes clássicas:
· Exposição: breve apresentação da personagem;
· Conflito: interrogatório feito pelo Diabo e pelo Anjo;
· Desenlace: atribuição da sentença.
O CÓMICO:
Cómico de carácter:
· A loucura de Joane e a inconsciência dos seus actos e das suas palavras.
· Um frade dançarino e enamorado (desajuste entre o que a personagem deveria ser e a realidade)
Cómico de linguagem:
· Uso do calão
· Frases desconexas proferidas por Joane
· As respostas absurdas de Joane
· Ironia
· Latim macarrónico
· Falas de Brísida Vaz
Cómico de situação:
· O Fidalgo que entra em cena presunçoso e seguro da sua salvação
· Surpresa do Onzeneiro ao ver o Fidalgo na Barca do Inferno
· Um frade que canta, dança e se faz acompanhar de uma moça
· Lição de esgrima que o Frade dá ao Diabo
· Encontro do Corregedor com Brísida Vaz na Barca do Inferno
LINGUAGEM:
A linguagem apresenta-se como um meio caracterizador das personagens, dos estatutos, das profissões, dos vícios,
dos destinos, etc.
Assim, Joane utiliza uma linguagem indecorosa, injuriosa, rude e agressiva; a do Sapateiro é desbragada e rude,
registando-se a presença de alguns tecnicismos (“badana”, “cordovão”, etc.); o interesse que o Frade demonstra pela
esgrima está patente nos termos técnicos a que recorre com frequência; a Alcoviteira apresenta uma linguagem ambígua e
deturpada, invertendo o sentido das palavras que se encontram nos textos religiosos; o Judeu recorre ao calão; o Corregedor
usa o latim.
A linguagem transmite ainda o tom irónico e gozador do Diabo, contrapondo-o ao ar calmo e sério do Anjo.
Como recursos estilísticos, há que realçar a ironia, o eufemismo e o recurso a trocadilhos.
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