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“Ao se compreender a tradição não se compreende apenas textos, mas também se adquirem juízos
e se reconhecem verdades. Mas que conhecimento é esse? Que verdade é essa?” (p. 31).
A literatura é um dado e está disposta para ser observada a partir de diversos interesses. A perspectiva define a
forma como o fenômeno é estudado.
John St. Mill procura esboçar em sua Lógica as possibilidade que o emprego da lógica da
indução possui sobre as moral sciences.
“mesmo nas ciências morais o que importa é reconhecer a uniformidade, a regularidade, a
legalidade, que tornam previsíveis os fenômenos e processos individuais” (p. 40). Isso se
aplica à visão da Epistemologia do Romance com a noção de invariância?
o Não se busca previsões, mas a construção de relações entre objetos literários e
entre estes e outros fenômenos do humano.
o Cada fenômeno literário é único; desse modo, só se pode descobrir aspectos e
construir relações.
Gadamer, tratando da utilização do método indutivo nas ciências do espírito, diz que “a
utilização do método indutivo terá de também ficar isenta de todas as hipóteses
metafísicas, mantendo-se inteiramente independente de como se imagina o
estabelecimento dos fenômenos que se está observando. Não se está, por exemplo,
averiguando as causas de determinados efeitos, mas simplesmente constatando
regularidades” (p. 40). Ao contrário, a ER utiliza a observação, mas fazendo relações a fim
de buscar as causas, os efeitos, as especificidades da construção interna, ou seja, todas as
dimensões que podem aumentar o conhecimento acerca do objeto literário. A metafísica,
nesse sentido, se torna importante
“Seu ideal [do conhecimento histórico] é compreender o próprio fenômeno na sua
concreção singular e histórica” (p. 41)
Na crítica da formação estética, Gadamer analisa várias formas de se conceber a verdade
da obra de arte.
o Shciller com a educação estética: oposição entre arte e “realidade”
“determinação ontológica da obra de arte no conceito de aparência”
(§90).
o consciência estética: elevação à universalidade, distanciamento da particularidade
da aceitação ou rejeição imediata, deixar valer aquilo que não corresponde à
própria expectativa ou à própria preferência (§90).
Dissolução do vículo que une a obra de arte como o seu mundo.
Distinção estética: abstração que leva a arte ao seu estado puro (§94).
o O problema da percepção pura
Ver e ler, mesmo na abstração, ao mesmo tempo, “põe” algo que não está
lá;
Heidegger: “Só quando ‘reconhecemos’ o que está representado,
podemos ‘ler’ uma pintura, e é so então que ela é realmente uma
pintura. Ver significa articular (§97).
“a percepção inclui sempre o significado” (§98).
o O problema da criação e do espectador
Paul Valery – coloca para o espectador/leitor a responsabilidade do
sentido da obra.
o A fundamentação estética na vivência – A relação sujeito-objeto na estética, de
Lukács.
Conduz à absoluta pontualidade, que suspende tanto a unidade da obra
de arte como a identidade do artista consigo mesmo e a identidade de
quem a compreende ou a desfruta (§101).
Lukács: A instância decisiva no domínio estético não é o juízo, mas a obra
de arte.
A diferenciação das esferas de valor se reflete no tipo de relação
sujeito-objeto que configuram.
Lógica
o Não existe sujeito; a sua objetividade “repousa no fato de
que as construções de sentido portadoras de valor que
surgem nessa esfera rompem com toda subjetividade,
removendo todas as pistas e opacidade que resultam em
uma intromissão da subjetividade – ainda que purificada e
logicizada – na esfera pura do teorético, na validade em si
das proposições verdadeiras”.
o A subjetividade pura que se tornou completamente
lógica é um conceito-limite.
o Primado do objeto sobre o sujeito.
o Objeto infinito: o objeto do comportamento teórico é a
totalidade de verdades (necessita-se de um conceito-
limite, que é ideal e abstrato; transcende-se a lógica e
torna-a metafísica).
Ética
o Aniquilação do objeto.
o Prevalência do sujeito: sua constituição ocorre pelo
reconhecimento da norma, superando todo caráter de
objeto na personalidade ética.
o Sujeito infinito: “A esfera constrói-se a partir de uma série
infinita de ações singulares isoladas, instituídas sempre de
novo, onde o sujeito, sempre motivado a agir, tem de
novamente acolher em sua vontade a máxima ética –
distância que separa esse ato do ideal ético e que não
permite que o sujeito se coagule em “alma”, em “ser”
(necessita-se de um sujeito ideal; transcende-se a ética,
tornando-a metafísica).
Estética
o Comportamento estético normativo como vivência pura
tanto na contemplação quanto na criação.
o Equilíbrio entre sujeito e objeto.
o “Só na estética existe um comportamento do sujeito
que corresponde à norma da esfera e a realiza – sujeito
que deve constituir um ser-sujeito (Subjekt-sein) e não
uma mera intenção à subjetividade –, bem como um
objeto (Objekt) que lhe corresponde, o qual, como
objeto (Gegenstand) dado e contraposto ao sujeito,
possui um ser-objeto (Objekt-sein) perfeito, decorrente
de sua própria estrutura autônoma, cuja
fundamentação e constituição interna dispensa sua
inclusão num cosmo, a ele transcendente, de outros
objetos (Gegenstände) – a simples possibilidade disso
aniquilaria, por razões de princípio, a instauração do
objeto (Gegenstandes) estético. Numa palavra: o sujeito
estético, no sentido estrito da esfera, encontra-se
diante de um único objeto (Objekt), a obra de arte; o
próprio sujeito, também nesse mesmo sentido estrito, é
um sujeito pura e imediatamente vivencial”.
Vivência estética; o objeto é “adequado à pura vivência”; o objeto
é único e autônomo, de forma concreta, diferentemente na esfera
teórica;
o “Antes, tais objetos só podem obter sua realização estética
como objetos isolados de atos estéticos puros, de modo
que é decisivo para a intenção, de acordo com seu
sentido, esse direcionamento a um único objeto
instaurado”. – a relação estética só se dá entre sujeito e
objeto, sem intermediação de outros elementos da
realidade?
o “[...] que no estético valor e realização de valor
coincidem; que aqui não lidamos nem com atos (como
na ética) nem com construções “ideais” de sentido
(como na lógica), aos quais um valor (ou não valor)
absoluto, transcendente, “adere” e que, como
realizações de valor, possuem ou não possuem valor,
mas sim com o fato de que em todo objeto singular que
se tornou objeto da estética encontramo-nos com o
próprio valor reitor, transcendente, absoluto da
estética”.
o A instauração da obra é um ato não metafísico; sua
intenção não se volta para a superação do arbítrio
inerente ao ato instaurador, mas sim para um tipo de
instauração que, sem tocar sua essência, torna
impossível o contraste com uma objetividade
transcendente e que é responsável pelo caráter de
“arbítrio” de todo arbítrio.
Kierkegaard: o fenômeno da arte coloca uma tarefa à existência: “em face da atualidade
arrebatadora de cada impressão estética, alcançar a continuidade da auto compreensão,
que é a única capaz de sustentar a existência humana” (§101).
GADAMER: [...] a arte é conhecimento e a experiência da obra de arte torna esse
conhecimento partilhável [§ 103].
o Na obra de arte [...] “aprendemos a nos compreender, e isso significa que na
continuidade da nossa existência suspendemos a descontinuidade e a
pontualidade da vivência. Por isso, com relação ao belo e à arte, importa ganhar
um horizonte que não busque imediatez, mas que corresponda à realidade
histórica do homem” (§103).
A EXPERIÊNCIA DA ARTE:
o todo encontro com a linguagem da arte é um encontro com um acontecimento
inacabado, sendo ela mesma uma parte desse acontecimento. É isso que se deve
erigir contra a consciência estética e sua neutralização da questão da verdade
(§105).
o O que é a verdade para as ciências do espírito?
O que é a compreensão da verdade das ciências do espírito?
A pergunta pela verdade da arte prepara o caminho para responder a essa
pergunta.
Logo : fenômeno hermenêutico, e não metodológico – a compreensão
pertence, antes, ao próprio encontro com a obra de arte, de modo que só
se poderá aclarar essa pertença a partir do modo de ser da obra de arte.
2. A ontologia da obra de arte e seu significado hermenêutico
2.1. O jogo como fio condutor da explicação ontológica (o jogo explicará o modo de ser da
arte. Isso é feito de forma analógica?)
“Mas a experiencia da arte que precisamos fixar contra a nivelação da consciência estética
consiste justamente em que a obra de arte não é um objeto que se posta frente ao sujeito
que é por si. Antes, a obra de arte ganha seu verdadeiro ser ao se tornar uma experiência
que transforma aquele que a experimenta. O ‘sujeito’ da experiencia da arte, o que fica e
permanece, não é a subjetividade de quem a experimenta, mas a própria obra de arte” (§
108).
o Assim como a arte, o jogo também tem um modo de ser próprio, uma natureza
própria e independente da consciência de quem joga.
O jogo é auto representação – “é assim que a criança estabelece para si mesma sua tarefa
num jogo com bola, e essas tarefas são tarefas do jogo, porque o verdadeiro fim do jogo
não é a solução dessas tarefas, mas a ordenação e configuração do próprio movimento do
jogo” (§ 113).
o Todo representar é representar para alguém – abertura do espaço fechado do jogo
“... os jogadores participantes, por assim dizer, se perdem no jogo
representativo, encontrando nisso, intensificada, sua auto representação,
mas ultrapassam a si mesmos representando uma totalidade de sentido
para o espectador”.
A obra de arte é jogo – “seu verdadeiro ser não é separável de sua representação e que na
representação surge a unidade e a identidade de uma configuração” (§ 127).
A temporalidade da obra de arte
o Simultaneidade
convém ao ser da obra e constitui a essência do ‘assistir’
... algo individual alcança plena atualidade na sua representação, mesmo
que sua origem seja remota.
... é uma tarefa para a consciência e um desempenho que lhe será exigido
(§ 132).
O auto esquecimento
o O auto esquecimento é também mediação consigo mesmo
o O ser estético depende da representação; é parte integrante de sua proposta
(§133)
O exemplo da tragédia
o O espectador é incluído na essência da tragédia
o Ilustra a pertença essencial do espectador ao jogo
o Para o poeta, a livre invenção não passa de um dos aspectos de mediação validada
por uma validade prévia
o ... a invenção livre do poeta é representação de uma verdade comum que vincula
também o poeta.
o ... o mito estético da fantasia e da invenção genial ainda representa um exagero
que não resiste àquilo que realmente é. Mesmo assim, a escolha do material e a
formulação do tema escolhido não surgem do livre-arbítrio do artista e nem são
uma mera expressão de sua interioridade. Antes, o artista dirige-se a espíritos já
preparados e, para isso, escolhe o que promete causar-lhes efeito. (§138)
o Permanece uma continuidade de sentido, que congrega a obra de arte com o
mundo da existência; mesmo a consciencia.
Ocasionalidade: uma obra de arte está tão estreitamente ligada àquilo a que tem
referência que enriquece o ser daquele como que através de um novo processo
ontológico.
o A “ocasião” de seu vir à representação faz com que sua significação experimente
o um aumento de determinação. (§152)
... justifica-se caracterizar o modo de ser da arte, no seu todo, através do conceito de
representação, o qual abarca tanto o jogo como imagem, tanto comunhão como
representação. (§156)
o Assim a obra de arte passa a ser entendida como um processo ontológico,
desfazendo a abstração que lhe atribui a distinção estética.
“O que a obra poética tem em comum com todos os demais textos literários é que ela nos
fala a partir do significado de seu conteúdo. Nossa compreensão não se volta
especificamente para o resultado da forma que lhe convém como obra de arte, mas para
o que nos diz” (168).
o A diferença entre as demais literaturas e a obra de arte literária não é a forma, mas
na diversidade de pretensão de verdade de cada uma delas [§168].
“não é por acaso que o fenômeno da literatura representa o ponto onde confluem a arte e
a ciência. O modo de ser da literatura tem algo e peculiar e incomparável; ela impõe uma
tarefa específica para o transformar-se em compreensão”.
Atualidade do passado; literatura como espírito.
“Assim como pudemos mostrar que o ser da obra de arte é um jogo que só se cumpre na
sua recepção pelo espectador, pode-se dizer também dos textos em geral que a
reconversão de um traço morto em sentido vivo só se dá ao ser compreendido” ([169.