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O escritor e ensaísta italiano Giovanni Papini (1881-1956), uma das grandes figuras do
universo cultural europeu no século XX.
1. INTRODUÇÃO:
Esta incursão à obra de Giovanni Papini busca evidenciar alguns aspectos de sua
vida, suas obras e sua formação cultural que se coloca entre a maceração do
Romantismo oitocentista e a fundação do Decadentismo do novecentos. Destacando
também as principais fontes de seu pensamento e aquilo que ele representa para a
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Trabalho apresentado, em Junho de 2008, como requisito para a disciplina Literatura Italiana III, da
Faculdade de Letras da UFJF.
literatura e a filosofia italiana como escritor, poeta, narrador e crítico. De temperamento
forte, intelectual e articulador cultural, muito cedo se apaixonou pela leitura e pela
escrita. Foi um dos principais ativistas da cultura italiana entre o Futurismo e o
Fascismo.
Desde o fim do século XIX até o princípio do século XX, com os rumores da
primeira guerra mundial, Firenze foi centro vivo de movimentos literários, encontro e
ambiente de diversas experiências. Grupos de jovens se agitavam. Existiam muitos
problemas para serem resolvidos, não só problemas filosóficos, estéticos e morais, mas
era toda a vida italiana que devia ser revigorada e reconstruída quase sobre bases novas.
No início do século XX existiam ainda na Itália muitos movimentos culturais
que começaram no fim do século XIX. Um deles, o Crepuscularismo, carrega a idéia de
fim, término, crepúsculo, fim da jornada. Também o Decadentismo que foi uma reação
ao Romantismo. Surgiu na França e penetrou em muitos países. Também nele está
presente a idéia de fim; fim de qualquer coisa e início de outras coisas porque o homem
não sabe onde vai e, se vai, porque vai. Fala da decadência dos hábitos e dos valores.
Neste período surgem as revistas literárias e outros movimentos como o Futurismo e o
Hermetismo.
2. A VIDA DE PAPINI:
Ele nasceu em Firenze no ano de 1881. Seu pai, Luigi Papini, era ex-garibaldino,
republicano convicto, impôs ao filho uma educação atéia e anticlerical, mas sua mãe,
Erminia Cardini, conseguiu batizá-lo escondido. Teve uma infância e uma
adolescência solitária consolado pela paixão que nutria pela literatura, cultivada a
princípio com a leitura dos livros da biblioteca do avô e mais tarde nas bibliotecas
públicas. Todo dinheiro que ganhava dos pais foi gasto para comprar livros, cadernos e
tinta. Ou mesmo o dinheiro do pão de cada dia, do qual se privavam ele e a mãe, já
escasso naquela família paupérrima.
Como não podia ir estudar no Liceu ou na Universidade, foi estudar na Escola
Normal de onde saiu, em 1889, com o diploma de Mestre Elementar, o que equivale a
uma formação de ensino médio. Freqüenta, como ouvinte, os cursos do Instituto de
Estudos Superiores e ensina língua italiana no Instituto Inglês de Firenze.
Em 1902 é nomeado bibliotecário do Museu de Antropologia de Firenze. Em
1907, casa-se com Giacinta Giovagnoli com quem teve duas filhas: Viola e Gioconda.
Durante a juventude representou as mais diversas experiências literárias, da crepuscular
à pragmatística, à vociana, à futurística.
Ele luta pela intervenção italiana na primeira guerra mundial e em 1915 se
apresenta como voluntário, mas não é aceito por causa de uma forte miopia.
Em 1917 Papini se transfere, com a mulher e as duas filhas, para Roma onde
trabalhou na redação de um jornal chamado “O Tempo”, mas voltou logo à Toscana. Se
retirava, de tempo em tempo, para uma casa rústica, pequena e isolada que tinha em
Bulciano, em Val Tiberina. Longe das disputas literárias e políticas, ali, saboreando o
gosto do ar puro, da água e do pão, recuperava sanidade e leveza; parecia a ele tornar-se
“criança, primitivo, selvagem, agreste”. Se divertia com a gente simples, com os
camponeses, dos quais admirava o esforço de “heróis obscuros” das escaladas apeninas;
se aproximava das humildes coisas e criaturas que os outros esqueceram. Era invadido
por uma primitiva embriaguez na primavera, pela límpida luz das manhãs e pela amiga
estrela vespertina.
Em 1921, com grande clamor, anuncia a sua conversão religiosa depois de seus
protestos anticristãos e do seu niilismo. Papini havia se tornado uma espécie de escritor
oficial do fascismo. No pós-guerra, à margem do clima cultural, mas apoiado pelos
católicos tradicionalistas, publica muitos livros e trabalha no jornal “Corriere della
Sera”.
De Papini, enfim, recorda-se a obra de fundador e diretor de revistas. Fundou e
dirigiu o Leonardo, que se propunha a “intensificar a existência”, de 1903 a 1908, nos
anos do vitalismo pragmático; foi um dos componentes da Voce (1908) e o fundador de
L’Anima (1911) e Lacerba (1913) e de três outras revistas florentinas, Il Frontespizio
(1929), La Rinascita (1938) e L’Ultima (1946). Adoentado e cego, nos últimos anos,
trabalha assistido pela neta. Morre em 1956 na alvorada do oito de julho na sua casa de
Firenze.
3. AS OBRAS:
4. FRAGMENTOS DE TEXTOS:
Os fragmentos que destaco aqui são importantes dentro da obra de Papini, pois
representam uma forma de pensar muito particular e também nos remetem a um
momento histórico que influenciou de maneira extremamente marcante o pensamento
em todo o mundo.
Este foi um artigo que, sem dúvida, pesou negativamente sobre o juízo da
personalidade humana e literária de Papini. Mesmo assim merece hoje ser recordado
como testemunho entre os mais vivos do comportamento de grande parte da
intelectualidade ativa da época.
MORTURA
... Sentia à distância um remorso que não sei nem mesmo descrever com
fidelidade: às vezes me envergonhava disso, às vezes o aceitava como um
princípio de redenção. Remorso de haver aconselhado a guerra... remorso da
minha inércia e remorso de haver feito, na minha pequenez, também muito,
remorso de haver preparado também eu com o cinismo misantrópico dos
últimos anos, aquele obscurecimento espiritual... remorso de sentir-me quase
cúmplice, ainda que indefeso, daquela insensata devastação... remorso pela
minha impotência em fazer com que o sanguinolento flagelo tivesse fim.
... E as mães que não viam mais os filhos, os filhos para sempre órfãos, as
esposas, as irmãs, as amantes, todas as ternuras e os tormentos dos restantes,
dos sobreviventes... (...) Aquele meu cinismo dos primeiros dias tinha
desaparecido, mudado em uma piedade que eu não conhecia, assim aguda. O
coração diante daquela inundação de males tinha vencido e derrotado os
enganos da razão... Se a razão cedia, não cedia a nova ternura fraterna que
nascia em mim, transformado pela imaginação naquela nunca vista tormenta
de horrores.
Por que se odiavam os homens? Por que se matavam sem parar nem
descansar? Por que a atroz guerra de infelizes contra infelizes?
3. Este último texto é uma fábula, ou melhor, o resumo de uma das fábulas do
livro Testimoni della Passione, de 1936. No livro existem sete fábulas que falam sobre
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Desenho de Vauro Senesi – jornalista e desenhista italiano
passagens do Evangelho. Foi escrito depois de sua conversão. Papini faz uma análise
das atitudes de alguns personagens que estiveram com Jesus pouco antes de sua morte.
A fábula escolhida fala de Judas e de sua luta interna contra um suposto inimigo
de Jesus.
A TENTAÇÃO DE JUDAS
Judas tinha ceado na casa de seu pai Simão, o leproso. Ele estava cansado
por isto sentou sob uma árvore onde adormeceu. Quando acordou existia a seu
lado um homem muito estranho. Este homem começou a falar com ele e disse
que o conhecia e sabia tudo sobre a vida dele, que ele era discípulo de Jesus e
que cuidava do dinheiro.
Judas ficou muito surpreso e o homem fala então que Caifás queria prender
Jesus por causa de seus sermões subversivos. Aquele homem queria convencer
Judas a denunciar Jesus a Caifás. Fala que ele é o discípulo mais indicado para
fazer isto porque já tinha fama de ávido e Avaro, também que ele não era
galileu, era de Iscariote.
Aquele homem desconhecido se identifica como inimigo de Jesus e fala
que Judas deve reconhecer que odeia Jesus e que não quer traí-lo não é porque
o ama mas porque o odeia e não quer que Jesus seja vencedor. Que o odeia por
causa da atitude de Jesus com ele. Que Judas se sentia desprestigiado porque o
dinheiro era considerado uma coisa repugnante. Também diz que tudo que
Jesus pede aos homens é impossível, que tudo traz insatisfação e sofrimento.
Que Judas deve libertar a humanidade deste inimigo feroz. Que ele deve
vingar-se não só por si, mas por todos os homens que são enganados por Jesus.
O diabo beija a boca de Judas e se vai. Judas corre e pensa em encontrar os
outros discípulos em Betânia, mas sem saber como e porque, ele chega em
Jerusalém. Anda a esmo quando percebe estar em frente ao Palácio de Caifás –
e entra.
Mesmo depois de sua conversão podemos notar que Papini não abre mão do
espírito crítico e de sua grande preocupação em entender o ser humano, suas fraquezas e
sua relação com o mal. Ele quer entender o poder do mal. Busca razões para a atitude do
traidor. Acreditava que a ignorância era uma porta aberta para o mal, que fazia o
homem sofrer.
5. CONCLUSÃO:
7. BIBLIOGRAFIA: