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capa 1

Affirmative actions: a debate at school


Affirmative actions: a debate at school
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5

A pluralidade é a condição da
ação humana pelo fato de
sermos todos os mesmos,
isto é, humanos, sem que

ninguém seja exatamente
igual a qualquer pessoa que
tenha existido, exista ou ve-
nha a existir.
Hannah Arendt
6
S umário
8 O início do debate sobre
cotas e ações afirmativas

O debate em Filosofia,
14
História e Sociologia

16 O debate em Geografia

O debate em Língua
18 Portuguesa

10 6 Debate in English
O início do
debate sobre
8
cotas e ações
afirmativas
Os alunos da 3ª série do Ensino Médio do Colégio Dante Alighieri
desenvolveram uma nova atividade interdisciplinar discutindo o ingres-
so de estudantes em universidades públicas. À diferença da forma pela
qual o tema é comumente tratado, o debate se concentrou, porém, em
soluções práticas para o ingresso de estudantes da escola pública no
ensino superior, devendo, para tanto, se apoiar na proposta das deno-
minadas cotas e ações afirmativas*.
O projeto, que durou três meses e envolveu conhecimentos e aulas
de História, Sociologia, Filosofia, Geografia, Português e Inglês, teve lar-

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gada com um encontro no dia 24 de abril no auditório Miro Noschese.
Na ocasião, os alunos assistiram a dois filmes: o curta-metragem “Couro
de Gato”, de 1962, e um trecho editado do documentário “Pro dia nascer
feliz”, de 2007.
Ao término das exibições, os alunos ouviram comentários dos profes-
sores Edson Martins Júnior, de Sociologia, e Christian Tadeu Gilioti, de
Filosofia, ocasião em que também puderam opinar sobre o tema. Essa
discussão, na verdade, permeou todo o projeto, que, conduzido pelas
disciplinas acima especificadas, serviu de estímulo para a reflexão e para
a criatividade, recursos que o aluno utilizou para a elaboração de textos
argumentativos em português e inglês.
O curta ‘Couro de gato’ apresenta a realidade de jovens de baixa
renda que capturam felinos na época de Carnaval para vendê-los, já
que a pele dos animais interessaria a fabricantes de instrumentos per-
cussivos, que requerem uma superfície resistente de contato, como o
tamborim. Além de sacrificarem os felinos de rua, alguns adolescen-
tes ainda se dedicam à captura de gatos de estimação que vivem em
residências particulares. Em um desses casos, a própria dona de casa
permitiu a entrada do jovem, ofereceu-lhe um suco e se dispôs a con-
versar, até perceber que o garoto lhe furtara o pequeno animal e fugira
da casa.

10 Uma das estratégias do professor de sociologia Edson Martins Jú-


nior para introduzir o assunto principal do projeto foi questionar quem
seria o culpado pelo furto. “Em um pensamento sobre a propriedade
particular, as pessoas culpariam o garoto. Mas, para a comunidade da-
quele garoto, ele não tem culpa e pode até ser premiado por sua famí-
lia pela captura, além do lucro direto que ele teve ao receber dinheiro
pela venda do animal”, explicou, orientando depois a discussão para o
campo dos direitos educacionais entendidos como um bem público.
“Mas, e quando a propriedade é pública, como discutimos os di-
reitos? A República pressupõe um Estado de todos, não em termos
de economia e propriedade, como o socialismo, e sim em direitos. O
que temos a ver, portanto, com o fato de escolas públicas colocarem
apenas uma minoria de alunos em universidades públicas? De modo
particular, nada. Mas entender a discussão das cotas e ações afirma-
tivas vai além do pessoal. A cada ano letivo por que alguns alunos de
instituições precárias passam eles recebem do Estado a mensagem de
que têm condições de seguir em frente. Chegando na universidade, a
instituição diz que não, ali não é o lugar deles, pois esses alunos não
sabem nem escrever. O que podemos fazer, então, enquanto socieda-
de civil?”, questionou o professor.

O documentário “Pro dia nascer feliz” demonstra a realidade de três


escolas públicas brasileiras mantidas em condições reprováveis e a de
uma grande escola particular de São Paulo. No decorrer da película,
nota-se a disparidade dos tipos de problemas que os alunos das insti-
tuições enfrentam e expõem. No caso das instituições públicas, o pro-

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blema vai da falta de interesse (e desrespeito) dos alunos ao excesso
de aulas vagas, da carência de infraestrutura à dificuldade de transpor-
te que os estudantes enfrentam para chegar às escolas.
Na oportunidade, os alunos do Dante assistiram a um trecho so-
bre os estudantes de Manari, cidade no interior de Pernambuco, e à
sequência sobre a Escola Estadual Parque Piratininga II, situada em
Itaquaquecetuba, município localizado na região metropolitana da ca-
pital paulista.
O professor de Filosofia Christian Tadeu Gilioti questionou, a princí-
pio, o problema da generalização dos estudantes de escolas públicas.
“Em geral, os alunos destas escolas são tratados simplesmente como
pessoas que não sabem ler. Contrapondo essa visão generalista, a per-
sonagem principal de Manari, poetisa que também lê obras de autores
clássicos, deu a impressão de que, se tivesse a oportunidade de seguir
a carreira pretendida, em Relações Internacionais, seria uma boa diplo-
mata, talvez inspirada em Vinícius de Moraes, poeta que atuou nessa
área e de quem ela tanto gosta”, explicou.
Para ele, há uma grande resistência na discussão de temas que con-
templam a sociedade como um todo. “Para muitos de nós, é difícil
prestar a atenção nos outros, de outras classes sociais, de outros es-
tados. Nós não imaginamos a complexidade de cada indivíduo e não
entendemos que este é um problema social coletivo. Este tema carece
de uma reflexão séria. Precisamos tentar entender de verdade quem
são as pessoas, mas não da forma como [são vistas] no vestibular, no
qual elas, assim como vocês, serão apenas números. Isso pode parecer
bobagem, mas pode definir, e geralmente define, o destino de muita
gente. Por isso, discutiremos este tema nos próximos meses para que
vocês desenvolvam uma opinião autônoma e com bom embasamen-

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to”, concluiu.

Texto extraído do site do Colégio Dante Alighieri,


publicado pelo Departamento de Makerting
*As denominações “cotas” e “ações afirmativas” possuem sentidos diferentes,
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apesar de serem usualmente utilizadas como sinônimos no Brasil. A primeira
pressupõe a garantia de que pessoas de certo grupo (a depender da etnia, classe
social e nível de instrução recebida) terão assegurada uma parcela das vagas em
instituições públicas. A segunda preconiza o direito de todos ao ingresso e ao
aproveitamento dos estudos em instituições de ensino superior, operando com
medidas compensatórias que relativizariam a desvantagem de alunos de escola
pública em face do privilégio dos egressos de instituições particulares. Tal ponto
de vista institui assim uma posição que excederia a defesa exclusiva da isono-
mia na busca por uma vaga na universidade pública.Conclui-se portanto que,
enquanto a cota (o termo, aliás, é também utilizado de modo pejorativo em con-
denação à prática) pode ser considerada uma ação afirmativa, ações afirmativas
fazem parte de um rol muito maior de atitudes. A isenção de taxas de inscrição
no vestibular, por exemplo, é uma delas, e cursos extras relacionados a temas do
ensino básico oferecidos no decorrer dos estudos no ensino superior é outra.
O debate
em Filosofia,
14
História e
Sociologia
INÉDITO!!!!!!
MOMENTOS ricos, nos quais professores e alunos refletiram juntos
num processo de emitir opiniões embasadas e respeitar opiniões em-
basadas.
O PROJETO enriqueceu a todos e nos fez lembrar as palavras de
Dom Hélder Câmara: “Ninguém é tão sábio que não precise de uma
opinião e nem tão ignorante que não tenha opinião para oferecer.”
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Parabéns a todos.

Professor Carlos Roberto Diago (coordenador do departamento);


professores Jackson F. Costa de Farias e Lucas Kodama Seco (História);
Edson Martins Junior (Sociologia) e Christian Tadeu Giliotti (Filosofia)
O debate em
16 Geografia
O projeto enriqueceu sobremaneira os alunos de terceiro
ano: fez-se uma exposição do assunto por meio de gráficos e
infográficos que mostraram a clássica divisão dos indivíduos,
de acordo com a classificação do IBGE, em brancos, pretos,
pardos, amarelos e indígenas. Localizaram-se as maiores con-
centrações de pretos e pardos nos respectivos estados bra-
sileiros. Discutiu-se o caráter político-econômico da medida
governamental, fornecendo argumentos aos alunos indepen-
dentemente da posição escolhida por cada um que participou
do projeto.
17
Debates e questionamentos sobre ações preconceituosas
foram feitos. A receptividade dos alunos foi muito produtiva
nas propostas levantadas e defesas assumidas.

Professores Everaldo Marino Vellardi e


Marcelo Spinola da Silva
O debate
18 em Língua
Portuguesa
“Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou
pães, é questão de opiniães...” Parece ter sido essa ideia do
escritor João Guimarães Rosa o fio condutor do projeto Cotas
ou Ações afirmativas: propor uma discussão sobre tema que se
apresentou de modo tão polêmico e que nos levou a ouvir opi-
niões variadas para buscar, não um consenso, mas um espaço
para exposição de pontos de vista tão divergentes.
Foi dessa maneira que nós, professores do Departamento
de Língua Portuguesa, vimos o projeto desenvolver-se e mo-
bilizar nossos alunos. Encontros, conversas, debates, filmes,

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leituras, escritos; tudo contribuiu para que, de alguma forma,
houvesse reflexão sobre nossa sociedade.
O resultado foram os textos que ora se apresentam em nos-
so livro Ações afirmativas: a escola em debate, produzidos por
nossos alunos, envolvendo uma variedade de gêneros textuais
expressivos das opiniões construídas no decorrer das discus-
sões entre os alunos e as várias disciplinas participantes do
projeto.
Se valeu a pena? O esforço da parte de todos e o prazer
em ver concretizado no formato de livro uma ideia responde
à questão.
Professores Rita Maria de Magalhães Marques
e Sérgio Barbosa de Souza
v.e.r.b.e.t.e
substantivo masculino

1. nota ou comentário que foi registrado, anotado; aponta-


mento, nota, anotação, registro
2. pequeno papel em que se escreve um apontamento
3. ficha de arquivo (p. ex., em biblioteca)
4. em lexicografia, o conjunto das acepções, exemplos e ou-

20
tras informações pertinentes contido numa entrada de di-
cionário, enciclopédia, glossário etc.

(Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa)


Sistema de cotas
para universidade
pública no Brasil e
ações afirmativas
O sistema de cotas, também chamado de ação afirmativa, é uma forma
de reservar vagas nas universidades públicas brasileiras e em institutos
técnicos para determinados grupos sociais (negro, índios) que tenham
21
cursado completamente o Ensino médio em escolas públicas, ou tenham
obtido certificado de conclusão do Ensino médio pelo Exame Nacional
do Ensino médio (Enem). A Lei de Cotas (Lei nº 12.711, de 29 de agosto
de 2012) estabelece que 50% de vagas das universidades e institutos, em
qualquer curso, devem ser reservadas para os alunos da rede pública. Ela
deverá ser aplicada gradualmente. As universidades devem adotar, a cada
ano, a partir de 2012, 25% das vagas previstas para os cotistas até 2016,
ou seja, 12,5% do total de vagas para 2013, 25% para 2014, 37,5% para
2015, até chegar aos 50% em 2016. No entanto, as instituições federais
têm liberdade para adotar os 50% antes do prazo. A maioria das vagas
reservadas para as cotas será distribuída pelo critério racial, ou seja, me-
tade das vagas de qualquer universidade será destinada a ex-alunos de
escola pública e deverá ser preenchida por pretos, pardos e indígenas, de
acordo com o percentual mínimo da população na unidade federal em
que a universidade se situa. Cabe ao candidato declarar-se negro, pardo
ou indígena. Levando em conta essa declaração, as universidades distri-
buirão as cotas raciais. Pelo critério de renda, metade das vagas (25%)
deverá ser preenchida por estudantes com renda familiar mensal igual ou
menor a um salário mínimo e meio (R$ 933,00). A maioria dos alunos que
estuda em escolas públicas atende a esse critério, porém os alunos pro-
venientes de famílias com renda mensal acima do valor do salário mínimo
não disputam vagas pelo critério de renda. As universidades e institutos
técnicos podem exigir uma cópia da declaração do imposto de renda, ou
de extratos bancários, para certificar-se de que o aluno vive em família de
baixa renda. A Lei das Cotas tem duração de dez anos; isso significa que,
em 2022, será feita uma reavaliação da lei com os resultados obtidos na
década e, dependendo destes, essa política poderá ser revista. Por isso,
como ação afirmativa, as cotas têm a finalidade de possibilitar o acesso
de pessoas discriminadas e marginalizadas socialmente às universidades

22
e, consequentemente, ao mercado de trabalho. A Lei de Cotas garante a
mudança do tradicional modelo universitário (art. 45, da Lei de Diretri-
zes e Bases de Educação Nacional); a criação de cursos sequenciais de
diferentes níveis de abrangência (art. 44,1) e obriga as universidades a
se articularem com o Ensino médio na definição de critérios e normas de
seleção e admissão de estudantes (art. 51).

Giulia Bianca de Britto Peluso Tenca

Conjunto de políticas adotadas pelo governo para proteger minorias


e grupos que, em uma determinada sociedade, tenham sido discrimina-
dos ou prejudicados. É a reserva de vagas em instituições públicas de
ensino superior para grupos específicos. As ações afirmativas incentivam
as organizações a agir positivamente a fim de contribuir para o ingresso
de pessoas de segmentos sociais desfavorecidos em faculdades públicas.
No Brasil, as cotas raciais de acesso a universidades desse segmento são
destinadas a negros, pardos e indígenas; as sociais, a estudantes prove-
nientes de escolas públicas. A presidente Dilma Rousseff sancionou, em
agosto de 2012, o projeto de lei 12.711 que estabelece uma reserva de
cinquenta por cento das vagas de universidades e institutos federais para
alunos que cursaram todo o Ensino médio na escola pública. Essa reserva
começa a valer a partir dos processos seletivos de 2013, e será implantada
aos poucos pelas universidades em um prazo de quatro anos. As cotas
raciais fazem parte dessa parcela, de forma que a totalidade das vagas re-
servadas será distribuída considerando-se o critério racial, de acordo com
a proporção de estudantes negros, pardos e indígenas no local em que
a universidade se situa. Essa proporção será calculada a partir de dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A lei também de-
termina que metade das vagas reservadas às cotas sociais, isto é, vinte e
cinco por cento do total oferecido, seja preenchida por alunos com renda
de um salário mínimo e meio per capita. As ações afirmativas não ficam
restritas somente às instituições federais, podendo ser adotadas por uni-

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versidades públicas, estaduais ou municipais, até mesmo por particulares.

Helena Fraga Dolewczynski de Araujo


Renata de Lara Campos Coelho

Reserva de porcentagem das vagas em universidades e institutos


federais para ex-alunos de escolas públicas. Até 2016, esse percentual
será de 50%. Além dessas vagas, a lei prevê, nesses 50%, subcotas ra-
ciais e econômicas. Estas serão preenchidas por alunos negros, pardos
e indígenas, de acordo com a porcentagem desses grupos em deter-
minado estado brasileiro. As econômicas, por sua vez, serão preenchi-
das por alunos cuja família possua renda inferior a um salário mínimo e
meio por pessoa. Como projeto, foi idealizado tendo em vista diminuir
as discrepâncias socioeconômicas causadas, muitas vezes, pela falta
de oportunidades de estudo que, a longo prazo, comprometem a vida
profissional das minorias. Tal defasagem aumenta a desintegração so-
cial e econômica no Brasil, prolongando a história de dificuldade na
conciliação entre diferenças no país. O sistema de cotas visa à qualida-
de de vida das minorias. Nesse caso, trata-se de ações afirmativas. O
conceito de ação afirmativa foi criado nos Estados Unidos com o ob-
jetivo de aumentar a participação das mulheres e minorias no campo
profissional, educacional, cultural e político – campos dos quais esses
grupos foram excluídos por séculos. Sendo assim, as ações afirmativas
não deixam de ser ações compensatórias, indenizando alguns dos da-
nos causados pela discriminação racial e sexual e procurando diminuir
desigualdades sociais que foram acumulando-se ao longo do tempo.
Para o Brasil, esse conceito foi adaptado para a composição da Lei
de Cotas. Em vez de levar em conta as mulheres, a lei volta-se para
as desigualdades raciais - sobretudo para negros - e econômicas, já
que a educação pública brasileira possui grandes falhas estruturais que
impedem uma competição justa por vagas no processo seletivo dos
vestibulares. As cotas buscam compensar a segregação cultural e edu-

24 cacional causada pela discriminação secular das minorias, no país. A lei


procura fazê-lo por meio do ensino superior de qualidade, cumprin-
do, em parte, com o dever previsto na Constituição atual de promover
educação a todos os que desejarem, independentemente de sua cor
ou condição socioeconômica.
Bianca Spina Papaleo
Victoria Figueiredo Moro

As chamadas ações afirmativas podem ser compreendidas como ações


públicas ou privadas que buscam promover oportunidades para pesso-
as pertencentes a grupos específicos, alvo de discriminação. De acordo
com o artigo três da Constituição brasileira, o Estado é responsável pela
construção da igualdade, sendo assim, essas ações visam reparar aspec-
tos discriminatórios considerados socialmente indesejáveis. Um exemplo
dessas ações afirmativas é o sistema de cotas. Cota é palavra derivada
do latim quotus, de quot (quantos). Exprime a parte, a quantidade. Na
terminologia judicial, especialmente no âmbito das políticas de acesso ao
ensino, “cotas universitárias” designa o instrumento de reserva de vagas
de acesso ao ensino superior. A chamada Lei das Cotas obriga as universi-
dades, institutos e centros federais a reservarem para candidatos cotistas
metade das vagas oferecidas anualmente em seus processos seletivos.
O sistema de cotas só atua no processo de entrada do curso superior,
ou seja, não age durante o curso ou após a conclusão deste. Uma vez
dentro da universidade, a grade curricular e o desempenho esperado do
estudante são os mesmos para todos, cotistas e não cotistas. Existem as
cotas raciais e as sociais. As cotas sociais são designadas para alunos que
cursaram todo Ensino médio em escola pública e que possuem renda de
um salário mínimo e meio per capita. Já as cotas raciais não beneficiam
apenas negros, mas também, pardos e índios. A distinção de raças entre
os alunos é feita por meio da autodeclaração. Essas cotas raciais foram
criadas pois existe um sentido social para o termo “raça”. Os traços físicos

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(cor da pele, textura do cabelo etc.) ainda influenciam na percepção his-
toricamente construída, muitas vezes, com valores negativos, podendo,
assim, orientar ações sobre esses indivíduos. É um caminho visto por al-
guns como a redução da exclusão e visto, por outros, como uma segunda
forma de discriminação.
Christiane Silveira Mantovani
Fernanda Gaudensi Bradaschia

Instrumento de reserva de vagas para acesso no ensino superior.


Chamadas por alguns de ação afirmativa, as cotas podem ser adota-
das por instituições públicas e privadas com a finalidade de corrigir
um problema de desigualdade gerado por perdas criadas pela dis-
criminação racial, étnica, religiosa e outras. Tem por objetivo garantir
igualdade de tratamento e de oportunidade para os membros de uma
sociedade. A palavra cota vem do latim quotus, de quot (quantos) e
sua terminologia designa a porção determinada de algo. Essa defini-
ção é bem sugestiva já que as cotas podem atender a diferentes par-
celas da população. Assim, há cotas raciais, que auxiliam pessoas de
acordo com sua raça (cor de pele); cotas sociais, destinadas a pessoas
de baixa renda. A Universidade de Brasília (UnB) foi a primeira institui-
ção de ensino, no Brasil, a adotar o sistema de cotas raciais, em 2004.
Esse modelo, no entanto, já tinha sido adotado nos Estados Unidos
da América (EUA), na década de 1960. Após o desenvolvimento do
sistema, algumas instituições brasileiras começaram a incluir, nas cotas
raciais, pessoas pardas e indígenas. Independentemente da raça, para
submeter-se a esse sistema, a pessoa autodeclara sua raça e pode pas-
sar por uma entrevista. No caso das cotas de acordo com a posição
social, ou cotas sociais, a principal finalidade é a de atenuar as de-
sigualdades econômicas na sociedade, criando oportunidades iguais
independentemente da classe social. Instituições como a Universidade
Federal do Rio de Janeiro já adotam esse método desde 2003. A utili-
zação do sistema de cotas, no Brasil, proposta pela Presidente Dilma

26 Rousseff, foi aprovada pelo Senado, em agosto de 2012 e suas impo-


sições valerão para o processo seletivo de 2013. Dessa forma, 50%
das vagas das universidades federais serão destinadas a alunos que
estudaram em escolas públicas e, entre esses 50%, certa porcentagem,
referente à proporção de negros pardos e indígenas, será ocupada por
estes. O sistema, já utilizado por algumas instituições, mas de maneira
diferente, torna-se uniforme com a nova legislação.
Gabriel Mensitieri Sacardo
João de Padua Salles Domingues

Projeto de lei sancionado pela presidente Dilma Rousseff, em setem-


bro de 2012, estabelece a reserva de metade (50%) de todas as vagas
(de qualquer curso) em processos seletivos de universidades e institutos
federais para alunos que cursaram o Ensino médio completo em escolas
públicas. As novas regras começam a valer a partir do ano de 2013, mas
as instituições atingidas pelo projeto terão um prazo de quatro anos para
o cumprimento integral das novas regras garantidas por lei. Metade das
vagas reservadas será destinada a cotas sociais. Ou seja, 25% do total de
vagas oferecidas pela instituição serão ocupadas por estudantes cuja fa-
mília apresente renda máxima de um salário mínimo e meio per capita. A
outra metade das vagas reservadas será distribuída a partir do critério ra-
cial – para negros, pardos e indígenas, de acordo com a proporção dessas
raças em cada estado. Tal proporção será calculada pelo IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística). Assim como acontece no Progra-
ma Universidade para Todos (ProUni) e no Sistema de Seleção Unificada
(Sisu), as vagas destinadas ao critério racial serão preenchidas a partir da
autodeclaração. O restante das vagas (50%) poderá ser preenchido por
qualquer estudante pelo critério da meritocracia. A Lei das Cotas não está
prevista para existir por tempo indeterminado. Ela possui um prazo de dez
anos. Após esse tempo, haverá um estudo profundo sobre o programa e
seus efeitos na sociedade e na educação do país. A partir desses dados,
a lei poderá continuar valendo, ser modificada ou até mesmo anulada.

27
Apesar de chamada Lei das Cotas, muitos preferem referir-se a ela como
sendo uma política de ação afirmativa. Essa nomenclatura, mais branda, é
um modo de demonstrar apoio à afirmação dos direitos da camada mar-
ginalizada da sociedade. Segundo os defensores das ações afirmativas,
a lei brasileira, que garante a igualdade aos cidadãos, não condiz com
a realidade do país. A criação da lei de Cotas busca apenas corrigir uma
dívida histórica com os negros, pardos e indígenas. Ou seja, a adoção
das cotas não é vista como um presente, mas sim como uma retribuição;
um modo de compensar injustiças históricas herdadas, em boa parte, da
colonização portuguesa.
Anna Beatriz Anselmi Siviero
Gabriel Bernard Venelli Medina

Conjunto de medidas governamentais que visam à redução das desi-


gualdades ocasionadas por raça, sexo e classe social. As ações afirmativas
buscam – por meio de leis e políticas de inclusão – aumentar a represen-
tatividade das minorias na sociedade. O Estado brasileiro procura implan-
tar tais medidas desde a metade da década de 1990. Como parte de suas
políticas afirmativas, o Estado vem implementando leis que favorecem
grupos historicamente excluídos. Os grupos privilegiados contam com fa-
cilidades no ingresso em universidades da rede pública; são reservadas a
cotistas, em média, 20% das vagas. A lei prevê, contudo, que, até 2016,
50% das vagas poderão ser reservadas a indígenas, negros e cidadãos de
classes sociais excluídas. A Lei de Cotas procura atender, também, alunos
que cursaram todo o ensino fundamental e médio em escolas da rede
pública. As ações afirmativas são adotadas como forma de conter o déficit
na educação nacional. Em médio prazo, esperam-se mudanças nos índi-
ces e uma redução do distanciamento entre as camadas sociais. Por meio
da inclusão das minorias no sistema educacional, o governo busca reduzir
as disparidades entre classes e raças no país e, gradativamente, solucionar
os conflitos sociais no país.
Luigi Romano Campedelli
Júlia Naomi Mazoni Sasaki

28 Consiste na reserva de 50% das vagas nos vestibulares de universida-


des e institutos federais para alunos que estudaram todo o Ensino médio
na escola pública. A Lei de Cotas pode ser considerada uma ação afirma-
tiva, pois é temporária, a fim de extinguir desigualdades historicamente
acumuladas. Dessa maneira, garante a igualdade de oportunidades e tra-
tamento, compensando perdas provocadas pela discriminação e margi-
nalização, além de garantir aos alunos ensino superior de qualidade e,
consequentemente, um lugar no mercado de trabalho e na sociedade.
Além disso, estabelece subcotas por critérios de renda e raça. Metade das
vagas destinadas aos cotistas será ocupada por estudantes com renda
familiar mensal per capita de até um salário mínimo e meio (R$ 933). Uma
cópia da declaração do Imposto de Renda e de extratos bancários poderá
ser exigida a fim de verificarem-se as condições da família, além de uma
visita que também poderá ser feita à casa do aluno. A outra metade das
vagas será ocupada por alunos de escola pública, porém, negros, pardos
e indígenas, de acordo com a proporção de cada raça em determinado
estado. Ao contrário da renda, não é possível controlar o critério racial,
já que terá como base a autoafirmação. As universidades federais, en-
tretanto, podem instituir reservas de vagas suplementares, por meio de
políticas específicas de ações afirmativas.

Fernanda Paula Salomão


Laura Rocha Teixeira

29
e.n.s.a.i.o
substantivo masculino

1. ato ou efeito de ensaiar


2. avaliação crítica sobre as propriedades, a qualidade ou a
maneira de usar algo; teste, experimento
3. Rubrica: literatura.
Prosa livre que versa sobre tema específico, sem esgotá-

30
-lo, reunindo dissertações menores, menos definitivas
que as de um tratado formal, feito em profundidade

(Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa)


Cotas: modernidade
ou retrocesso?
Luciana Moreira Kanarek
Paula Leite Serra

A Modernidade é um conceito sociológico e filosófico usado para

31
designar o período entre o começo do Iluminismo, século XVIII, e a
Segunda Guerra Mundial, século XX. Os ideais de igualdade, indivi-
dualismo, racionalidade, livre iniciativa e liberdade, nos quais a Mo-
dernidade é fundamentada, têm como base os princípios iluministas
associados à lógica capitalista liberal. A radicalização dos referenciais
típicos desse conceito dá origem à Hipermodernidade, caracterizada
pelo Neoliberalismo, Hedonismo e representação da objetividade por
meio de códigos.
A superação da racionalidade como fundamento central de caracte-
rização deu origem ao conceito de Pós-modernidade, extremamente
atual no mundo contemporâneo, na medida em que propõe a ob-
servação e a supremacia de uma série de outros valores e princípios
morais, éticos, sociais e religiosos na compreensão dos indivíduos e
de suas atitudes. Tal conceito permite, inclusive, um julgamento mais
amplo e menos rígido dos diversos setores socioeconômicos.
As sociedades contemporâneas são, dessa forma, uma combinação
dos referenciais modernos, hipermodernos e pós-modernos, além de
serem caracterizadas por uma série de movimentos de minorias e gru-
pos socialmente prejudicados pelas desigualdades típicas do sistema
capitalista e pela ausência de governos realmente preocupados em
promover igualdade, democracia e participação efetiva da população.
Assim, manifestações por parte dos sindicatos, dos negros e das mu-
lheres, por exemplo, defendem, entre outras medidas, a criação de
políticas corretivas, que afirmem a gravidade da sua situação de exclu-
são e de preconceito e busquem contorná-la. As cotas ou ações afir-
mativas estão inseridas nesse contexto, associadas ao conceito pós-
-moderno de Equidade, ou seja, ao reconhecimento da necessidade
de criação de medidas especiais para a proteção dos setores sociais
mais vulneráveis.
Entretanto, a democracia é um sistema político fundamentado na
igualdade, emana do povo e representa os cidadãos como um todo.

32
A política de cotas não respeita esse pressuposto, uma vez que não
garante a participação da maioria, muito pelo contrário. O sistema de
cotas cria uma “elite entre os excluídos”, já que delimitar 50% das va-
gas em universidades públicas não irá integrar todos os brasileiros que
participam dos processos seletivos, mas continuam inseridos em um
ciclo vicioso de pobreza e exclusão.
Além disso, as cotas não promovem democracia, uma vez que o
ingresso na universidade não implica, necessariamente, participação
política e social efetivas. Sem dúvida, facilita a formação de um pen-
samento mais crítico e a conscientização da importância de exercer a
cidadania, mas a educação básica de qualidade também desempenha
esse papel. O contratualista Montesquieu, na obra O Espírito das Leis,
já defendia que “as leis da educação são as primeiras que recebemos
(...) e nos preparam para sermos cidadãos”.
No entanto, a tentativa de “correção” e promoção de Equidade é
totalmente válida, mas se o governo almeja conseguir resultados efi-
cazes e não somente mais votos na próxima eleição, é preciso investir
nos setores básicos da sociedade, pois a necessidade de políticas de
ações afirmativas só põe em evidência problemas socioeconômicos
muito mais profundos do que a questão do aprendizado apenas. Afi-
nal, a educação básica é pensada por Maquiavel como uma força des-
tinada a controlar a desordem inerente ao movimento tanto do desejo
quanto da natureza, impedindo os efeitos deletérios daquele sobre a
vida política. Graças à instrução, o homem é capaz de conhecer a “na-
tureza das coisas”. Para o filósofo, o ensino ainda possibilita moldar o
comportamento dos indivíduos de tal modo que é possível redirecio-
nar o curso das coisas para uma ordem coerente com o bem coletivo.
Assim, igualdade é dar boas condições de educação para todos os
cidadãos, não delimitar uma parte das vagas das universidades ou co-
locar os cotistas em situação privilegiada durante a seleção. Com isso,
o governo está classificando as pessoas, dividindo-as em dois grupos,

33
cotistas e não cotistas, não promovendo igualdade, nem democracia,
uma vez que, em um regime democrático, as pessoas têm igual par-
ticipação política e social. Montesquieu também afirmou que “(...) o
amor pela democracia é o amor pela igualdade. O amor pela igualda-
de, numa democracia, limita a ambição unicamente ao desejo, à felici-
dade de prestar à sua pátria serviços maiores que os outros cidadãos”.
Ainda, apesar de propor a não intervenção, com a política de cotas,
o Estado viola esse aspecto da Constituição, uma vez que interfere de
forma arbitrária no processo seletivo das universidades, prejudicando
a livre-iniciativa e a meritocracia. É necessário, portanto, conscientizar
o jovem brasileiro, independentemente da cor da sua pele ou con-
dição socioeconômica, acerca da importância da educação enquanto
elemento transformador, capaz de construir pensamentos mais críticos
e embasados, que fortaleçam as relações sociais e edifiquem um Brasil
mais integrado e pluralista. Afinal, Sócrates afirmou que “o que deve
caracterizar a juventude é a modéstia, o pudor, o amor, a moderação, a
dedicação, a diligência, a justiça, a educação. São estas as virtudes que
devem formar o seu caráter”.
Cotas: entre
a herança e o
progresso
Beatriz Ji Hye Hong
Clara Varandas Abussamra

34
Gabriela Colacrai Arikita
Patricia Mutti e Mattos
Vitória Colucci Junqueira

A aprovação da política de cotas, que obriga as universidades a re-


servar 50% de suas vagas para alunos da rede pública, gerou inúmeras
discussões a respeito da validade de seus resultados. Considerando
que tal política afeta não apenas um grupo, mas a sociedade como
um todo, é de suma importância não adotar nenhum posicionamento
extremista quanto ao seu poder de transformação. De fato, há uma
possibilidade de que o Brasil não mude permanentemente, porém, a
adoção dessa iniciativa pode ser crucial para garantir os direitos de
liberdade e igualdade das gerações futuras.
A Constituição prevê que todos os indivíduos são iguais perante
a lei, porém todo o histórico social do país demonstra que o acesso
a esse direito não prevaleceu. Recentemente, foram criadas medidas
de Equidade que, a exemplo das cotas ou ações afirmativas, buscam
reparar um passado de exclusão social e garantir um futuro melhor. O
governo, entretanto, não pode ser o único a se mobilizar pelo progres-
so; os brasileiros também precisam se empenhar na luta pelos seus
direitos. O ativismo político, tal como prevê o pós-modernismo, deve
ser o alicerce da sociedade.
A ausência de medidas equitativas implicou, por muito tempo, aces-
so quase exclusivo da elite ao ensino superior público. Com a nova
perspectiva criada pelas cotas, mais segmentos da sociedade poderão
usufruir do mesmo nível de instrução e, consequentemente, das mes-
mas oportunidades profissionais. Além disso, a maior inclusão social
e econômica implica conhecimento maior sobre os direitos e deveres
do cidadão brasileiro. É possível que o cotista, ao receber a chance
de lutar pela melhoria das condições do ambiente em que nasceu e
viveu boa parte de sua vida, se engaje politicamente e exija os direitos
que, por tanto tempo, foram negados aos segmentos mais baixos da

35
sociedade.
Outro benefício que as cotas podem trazer ao Brasil é a alteração
do cenário trabalhista, marcado pela presença majoritária de brancos
em cargos de liderança. O que se observa, com as cotas, é uma maior
inserção do negro no mercado de trabalho e em empregos de maior
remuneração. De fato, uma pesquisa feita pelo departamento de psi-
cologia da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) com qui-
nhentos cotistas comprovou que 91% estavam empregados, inclusive,
em áreas de forte competição. Como consequência disso, tem-se uma
chance real de que os descendentes desses estudantes de baixa renda
tenham uma vida de melhor qualidade, com maiores oportunidades.
Apesar de todas as transformações positivas que as cotas podem
trazer ao país, não se pode afirmar que essa política seja a solução
definitiva para todos os problemas sociais existentes. Antes de garantir
o acesso de negros e de indivíduos de baixa renda ao ensino superior,
é preciso criar uma base educacional de qualidade. O sucateamento
das escolas públicas no país é alarmante e o governo precisa tomar
medidas rápidas e eficientes para melhorar esse cenário.
Desde o início de sua vida escolar, um jovem deve ser estimulado
a continuar seus estudos para que possa, assim, frequentar uma boa
universidade. A ausência de um ensino infantil e fundamental públicos
de qualidade interfere nesse processo. Além de não receber uma for-
mação de qualidade, muitos estudantes sentem-se incapazes de com-
petir nos grandes vestibulares. De nada adianta, portanto, facilitar o
acesso das camadas mais baixas da sociedade a uma universidade se
esse mesmo setor não é devidamente preparado e incentivado a dar
continuidade a seus estudos.
As medidas de ações afirmativas, tais como as cotas, apesar de fa-
cilitarem o ingresso de estudantes do ensino público às universidades,
também podem representar uma permanência da segregação racial,
impedindo o país de avançar e superar o preconceito existente desde

36
o período colonial. Ao serem criadas as cotas raciais, o que prevalece,
cada vez mais, é a cor da pele, desconsiderando-se a capacidade do
indivíduo em si. Assim, ainda que tenham sido criadas buscando a
igualdade, tais ações, quando se referem à seleção do candidato, ba-
seiam-se inteiramente no quesito racial, que é diluído somente após o
ingresso no ensino superior, período em que todos os envolvidos tem
ao menos uma ambição em comum, que é a graduação e a posterior
entrada no mercado de trabalho.
Considerando-se que a aprovação desse projeto compreende todas
as camadas sociais, entende-se que, em alguns aspectos, a política de
ações afirmativas poderá mudar o futuro do país tanto na garantia
do direito de igualdade a todos, quanto no oferecimento de maiores
oportunidades para os que viveram à margem da sociedade até hoje.
Por outro lado, a política de cotas não visa ao aperfeiçoamento do en-
sino médio na rede pública. Pode-se, portanto, concluir que o sucesso
do sistema de cotas criado no país ainda é bastante incerto.
Cotas para universi-
dades públicas: real-
mente são viáveis?
Júlio Matzenbacher Zampietro

Um sistema de cotas para universidades públicas que privilegia as


etnias que não a branca, ou as classes sociais menos abastadas, tanto
pode quanto não pode promover a cultura.
37
Em primeiro lugar, definamos o que entendemos por cultura. En-
tre as diversas definições encontradas em dicionários como Aurélio
ou Michaelis, por exemplo, a que mais se aplicaria neste caso é a de
cultura como um conjunto de conhecimentos adquiridos em um de-
terminado campo. É esse, portanto, o sentido que adotaremos para a
palavra cultura neste texto.
Em segundo lugar, caberia mencionar aqui a distância entre o ensi-
no médio e o ensino superior, quando se pensa na maioria das univer-
sidades públicas do país. Tanto os conteúdos como a forma de ensiná-
-los, nos níveis mais elementares, são extremamente discrepantes dos
métodos utilizados no nível superior, que privilegia, por exemplo, a
pesquisa, e não oferece ao aluno esses conteúdos de forma tão esque-
matizada quanto nos níveis elementares. Ou seja, o aluno precisa ser
autônomo, quando nunca o fora antes treinado para ter autonomia na
busca do conhecimento.
Em terceiro lugar, os beneficiados pelo sistema de cotas implemen-
tado no Brasil, muitas vezes, não possuem meios de acesso à informa-
ção, seja por falta de equipamentos, como um computador, seja por
carência de infraestrutura para acessar a internet, ou mesmo condições
mínimas para adquirir livros da área escolhida. Por outro lado, muitas
universidades possuem infraestrutura para oferecer esses meios aos
alunos, mas não obrigatoriamente todas elas. Cabe, portanto, ao aluno
o trabalho de buscar o conhecimento.
O grande problema, porém, é como compensar a defasagem entre
o ensino médio e o superior para que o aluno possa realmente ad-
quirir, de forma sólida, os conhecimentos disponíveis na universidade,
além de contribuir com ela por meio de ideias inovadoras. Entende-

38
mos que, para que essa contribuição seja possível, a aquisição dos
conhecimentos necessários e básicos, sem ignorar etapas para essa
aquisição, é indispensável, já que ninguém cria do nada. Há toda uma
estrutura de aprendizado que pressupõe passos obrigatórios, em bus-
ca dos conhecimentos necessários para se exercer satisfatoriamente a
profissão escolhida.
Restam-nos, então, duas perspectivas: ou o nível das universidades
públicas torna-se adequado ao nível de seu novo público, ao mesmo
tempo em que não desestimula quem nelas entra por mérito próprio,
ou novas condições de adaptação desse público ao meio universitário
deverão ser criadas, seja por meio de cursos extracurriculares, seja por
acompanhamento contínuo de tutores.
A democracia
das cotas
Giovanna Cassavia
Luísa Bonatto Fairbanks
Paola Augusto Gomes
Richard Roberts

A democracia pode se apresentar de diversas formas, refletindo a


vida política, social e cultural de cada país. Entretanto, todas elas de-
vem se basear nos princípios do governo da maioria, incluindo os di-
reitos individuais e das minorias. No Brasil, as cotas foram inseridas
39
com o intuito de promover os direitos da maioria pobre ou negra, em
razão do seu passado histórico escravocrata. Dessa forma, as cotas
estimulam a democracia.
As cotas para o ingresso no sistema de ensino superior brasileiro
geram uma grande polêmica. Atualmente, cerca de 125 universidades
públicas adotam algum tipo de ação afirmativa para grupos específi-
cos, seja reserva de vagas ou bônus na pontuação do vestibular. Embo-
ra o Supremo Tribunal Federal tenha confirmado a constitucionalidade
do sistema de cotas raciais, sua aplicação ainda é repudiada por uma
parte da população, que se sente prejudicada com a medida.
Os que são contra essa providência defendem que ela subverte o
principio do mérito acadêmico, único requisito que deve ser contem-
plado para o acesso à universidade, diminuindo a sua qualidade. Esse
argumento, porém, não é válido, já que as avaliações para o ingresso
nas universidades desconsideram a profunda desigualdade social exis-
tente no Brasil. Além disso, diversos estudos mostram que nas uni-
versidades onde as cotas foram implementadas não houve perda da
qualidade do ensino. Universidades que adotaram cotas como a UNEB
(Universidade do Estado da Bahia), UNB (Universidade de Brasília),
UFBA (Universidade Federal da Bahia) e UERJ (Universidade do Estado
do Rio de Janeiro) demonstraram que o desempenho acadêmico entre
cotistas e não cotistas é o mesmo.
Opositores às cotas também defendem que é uma medida inócua,
porque o verdadeiro problema é a péssima qualidade de ensino pú-
blico de base no Brasil. Entretanto, é um grande erro desses críticos
pensar que, nas políticas públicas, os avanços se produzem por etapas

40
sequenciais, ou seja, que primeiro ocorreria uma melhora da educação
básica para que, posteriormente, fosse alcançado um equilíbrio social
nas faculdades, ou seja, a inserção de todas as classes sociais no ensino
superior.
Essa melhoria do ensino de base deve ser realizada simultaneamen-
te com a inserção das ações afirmativas, por exemplo, as cotas. Me-
lhorar o ensino básico será um projeto de longo prazo, considerando
a péssima infraestrutura administrativa brasileira, cujos resultados só
poderão ser notados depois de décadas. Essa realidade pode ser corri-
gida de maneira imediata com a implementação das cotas.
A defesa da política de cotas não é uma unanimidade. Há uma dis-
cussão em torno de sua constitucionalidade por sua possível contradi-
ção quanto ao princípio da igualdade contido no artigo 5° da Consti-
tuição, que ressalta a igualdade formal de todos os cidadãos perante a
lei. Entretanto, a igualdade, segundo o artigo 3°, deve ser promovida,
garantindo as mesmas oportunidades para todos, tendo assim a Equi-
dade incentivada. Este conceito consiste em, por meio da interpreta-
ção das leis, reparar prejuízos causados à população que não teve seus
direitos básicos atendidos em razão de circunstâncias históricas, so-
ciais ou econômicas. Portanto, cotas são constitucionais e necessárias
para a execução dessa mesma igualdade formal.
Dessa forma, a política de cotas apresenta-se plenamente válida e
constitucional, pois ela não é apenas uma forma de promover a de-
mocracia, mas também de deliberar a capacidade individual e atuar de
modo eficaz em um curto espaço de tempo. Defender o ingresso de
alunos de escola pública às universidades promove a democracia por-
que defende a maioria social prejudicada, que vive em país marcado
pela desigualdade social. A democracia, ao se utilizar das cotas, tenta
mudar um passado de exploração das classes sociais mais baixas que
sofre consequências até os dias de hoje. O governo brasileiro decidiu
recompensar os anos de negligência à classe excluída.

41
Realidades
branca e negra
Anna Beatriz Anselmi Siviero
Gabriel Bernard Venelli Medina

Carlos é um jovem branco. Mora na zona sul da cidade mais rica do


Brasil, São Paulo. Todos os dias acorda cedo para ir à escola, que se

42 localiza a poucos metros de distância de sua casa. Quando chega, seus


bem preparados professores já estão prontos para começar a aula.
Passam-se, assim, cinco horas e meia. Carlos, então, volta para casa,
almoça e começa a praticar sua única obrigação: estudar.
José, por sua vez, é negro. Mora no sul de Minas Gerais, em uma ci-
dadezinha chamada Aiuruoca. Seu dia começa cedo: às quatro e meia
da manhã tem de acordar e se preparar para uma longa viagem de
dezoito quilômetros, em estrada de terra. Não há transporte escolar,
então, a rota deve ser realizada a pé. Às sete horas em ponto, José
chega ao seu destino, onde cerca de cem jovens, das mais variadas
idades, esperam a abertura da escola. Após uma hora de espera, uma
professora aparece na porta e diz que, infelizmente, os professores não
apareceram para dar aula no dia, pois todos estão em greve. Os alunos
nem perdem seu tempo discutindo, já que estão acostumados com tal
situação, rotineira. Desse modo, José volta para casa de cabeça baixa.
Lá, sua enxada já o espera, pronta para trabalhar até o sol apagar.
Em um mundo ideal, todos os jovens, sejam eles ricos ou pobres, da
cidade ou do campo, brancos ou negros, teriam as mesmas chances
na vida - de estudar em uma boa escola, entrar na faculdade desejada,
obter o emprego dos sonhos. Nesse mundo, o Estado garantiria uma
educação de qualidade a todos, que nunca começariam a trabalhar
antes de completar o Ensino médio. Todos os jovens, assim, quando
chegassem a casa após a aula, teriam exatamente as mesmas condi-
ções para estudar e revisar todo o conteúdo que aprenderam naquele
dia, preparando-se para prestar o vestibular.
Nesse lugar, todos os conceitos da Modernidade –– igualdade, me-
ritocracia etc ––funcionariam maravilhosamente bem. Todos os ho-
mens, por terem capacidade intelectual semelhante e condições iguais,
poderiam ser considerados iguais. A simples meritocracia, refletida nos
resultados de vestibulares, faria apenas o papel de selecionar os mais

43
esforçados, merecedores de um bom lugar na faculdade. Desse modo,
a justiça social estaria garantida.
No Brasil, contudo, a situação não é tão simples assim. Tanto Carlos
como José, por lei, têm o direito de receber educação de qualidade.
Na prática, entretanto, os direitos dos Josés são esquecidos. Enquanto
Carlos tem apenas uma preocupação em mente –– estudar ––, José
precisa trabalhar para ajudar a sustentar sua família. Enquanto Carlos
recebe boas aulas, José, muitas vezes, sequer consegue assistir a elas.
Enquanto Carlos tem a tarde inteira livre para estudar, José precisa
gastá-la trabalhando. Desse modo, a justiça social não é garantida,
pois não se podem selecionar as pessoas apenas pela meritocracia, tão
adorada pelos que rejeitam as cotas sociais e raciais para a entrada nas
faculdades públicas, portanto, é ilusória por não levar em consideração
a realidade social do Brasil.
Naquele mundo ideal, injustiças como a escravidão nunca aconte-
ceram. Raças nunca foram subjugadas por outras. Contudo, no nosso
mundo, a raça negra é, até hoje, menos valorizada do que a raça bran-
ca. Essa diferença não tem raízes naturais, pois as duas raças não têm
diferença em sua capacidade intelectual. Há, sim, uma injustiça evo-
lucionista patrocinada pelos colonizadores de nosso país. Os reflexos
dessa injustiça são sentidos até hoje, em grande parte, pela distância
que se formou entre brancos e negros, por causa do grande abismo
social e econômico que se desenvolveu.
As cotas, além de beneficiarem uma parte da população que é ex-
cluída dos melhores serviços oferecidos pelo governo – no caso, as óti-
mas faculdades públicas que existem no Brasil – também aproximam
negros e brancos, fazendo-os conviver diariamente. Ao aproximar as
duas raças, a discriminação tende a diminuir, pois o conceito dimi-
nuitivo pré-estabelecido a respeito dos negros é quebrado. As ações
afirmativas, portanto, estabelecem uma convivência respeitosa e igua-
litária entre ambas as raças, promovendo maior justiça social.
Tal justiça deve ser feita levando-se em consideração as diferenças

44
entre as camadas sociais, em um processo de inclusão de todos os
cidadãos. As diferenças devem ser reconhecidas e cada grupo social
deve lutar para garantir os seus direitos. As ações afirmativas consis-
tem justamente nisso: afirmar os direitos esquecidos. Mesmo com a
adoção das cotas, o Brasil ainda está longe de ser o mundo ideal e per-
feito, onde todos teriam as mesmas condições de estudo e o conceito
meritocrático funcionaria perfeitamente, estabelecendo a justiça ideal.
O país passa, porém, a ser um lugar mais justo, no qual pelo menos
as diferenças são levadas em consideração no momento de selecionar
pessoas.
Mais importante, entretanto, do que a adoção de ações afirmativas,
é a continuidade da busca pelo mundo ideal. Enquanto esse estado
não for atingido, as injustiças e as lutas sociais permanecerão. Ape-
nas quando todos forem iguais, e seus direitos também, será possível
adotar a meritocracia. Enquanto isso não acontecer, as ações afirma-
tivas ajudarão a amenizar as injustiças sociais presentes no Brasil por
meio não da simples igualdade, mas da Equidade. Segundo esse prin-
cípio Pós-moderno, todos ainda serão considerados intelectualmente
iguais, mas a realidade desigual, que dá maiores chances de estudo
para uma pequena parcela da população, será finalmente reconhecida.
Isso torna o processo de seleção de candidatos para uma faculdade
muito mais justa.
Em suma, em um mundo ideal, o simples conceito tipicamente mo-
derno de igualdade promoveria a justiça social. Contudo, a realidade
brasileira é muito distante desse mundo ideal, pois conta com desi-
gualdade social e econômica. Portanto, é preciso buscar outros meios,
muitas vezes, paliativos como as cotas, para construir um país melhor.
Assim, afirmam-se os direitos esquecidos dos menos favorecidos e
aproximam-se negros e brancos; Josés e Carlos - favorecendo a justiça
social.

45
As cotas e a ques-
tão da promoção da
justiça social peran-
te a legislação

46
Ana Helena de Paula Cunha
Deborah Laís Abib
Lara Stela David Alves
Pedro Barretto Veiga
Victor Maksoud Mouaccad

O sistema cotista para ingresso em universidades federais no Brasil


vem, desde antes de sua aprovação no poder legislativo, causando
discussões polêmicas quanto a igualdade perante as diversas camadas
sociais presentes no país. Inicialmente, a compreensão do contexto no
qual políticas de ações afirmativas, tais como as cotas, estão inseridas
é de extrema relevância. Caracterizando-se por medidas compensa-
tórias que visam à promoção da igualdade em prol das comunidades
excluídas da sociedade, pretendem concretizar o princípio de igualda-
de material, constituindo o ideal de justiça social e distributiva. Conse-
quentemente, a adoção das cotas cumpre, de fato, as ideias de justiça
social, apesar de afetarem, por outro lado, a justiça legal.
Uma das ameaças à justiça social é a aceleração da globalização
econômica, trazendo o multiculturalismo e intensificando, assim, o
processo de desigualdade social. Dessa forma, a globalização pres-
supõe, em sua essência, a necessidade de políticas de Equidade, que
promovem direitos não garantidos a determinados setores da socie-
dade até então. Assim, no contexto de globalização, surgem teorias
acerca da dúvida relacionada ao caminho pelo qual a modernidade
anda. Surgem então as ideias de hipermodernidade e pós moderni-
dade. A primeira é a radicalização do momento por que passamos
hoje, extremamente científico e racional. A segunda, por sua vez, se-
gue rumo ao sentido de maior promoção da justiça social.
Paralelamente, o conceito de justiça social deve receber maior ên-
fase, já que abrange uma concepção mais ampla ao conciliar duas
frentes: justiça distributiva e filosofias de reconhecimento. Na primei-

47
ra, a injustiça surge na forma de desigualdades de rendimento, como
salarial, mas também engloba a exploração, privação, marginalização
e exclusão. Ou seja, a quintessência é a má distribuição e a solução
não é apenas a transferência de rendimentos, e sim a reorganização
da divisão do trabalho, a transformação da estrutura da posse de pro-
priedade e a democratização dos processos por meio dos quais se
tomam decisões que têm relação com investimento, como na área da
educação. Na segunda frente, a injustiça vem no formato de subordi-
nação assentada nas hierarquias de “valor cultural”, que acabam por
dominar, de certo modo, as demais culturas, não reconhecidas. Aqui,
legitimar as identidades desvalorizadas e esquecidas em meio à diver-
sidade torna-se fundamental para o alcance da justiça embasada nas
filosofias de reconhecimento. Fazendo da justiça social, então, uma
justiça de categoria bidimensional, a política das cotas, sem dúvida,
desempenha as condições necessárias ao ideal dessa mesma justiça,
correspondentes ao conceito sociológico de Pós Modernidade, tendo
em vista o caminho que a Modernidade percorre.
Dessa forma, analisando-se tanto o atual contexto do Brasil quanto
o seu próprio passado histórico, percebe-se a existência de um “racis-
mo cordial”, que encobre uma forte discriminação social. O país apre-
senta-se como uma sociedade visceralmente desigual, desde sua ori-
gem; foi o ultimo país do ocidente a abolir a escravidão e que nunca,
desde então, desenvolveu políticas de Estado a favor da população ne-
gra. São inúmeros os dados que mostram as grandes desvantagens da
população negra quando comparada à branca. Um estudo realizado
pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, em 2005,
ao comparar 173 países, com relação ao IDH-M (Índice de Desenvolvi-
mento Humano Médio), coloca o Brasil em septuagésimo terceiro lu-
gar. Agora, comparando dois grupos de brasileiros, os brancos, de um
lado, e os negros e os pardos, de outro, é nítido o grau de desigual-
dade racial no Brasil. Enquanto a média do IDH da população branca
colocaria o país em quadragésimo quarto lugar em relação à média
dos demais países comparados, a mesma média para a população ne-

48 gra brasileira o colocaria em centésimo quinto lugar. Isso prova que as


ações afirmativas, com a atual conjuntura econômica de globalização
e as tradições brasileiras que perduram há séculos de classificação de
um indivíduo pela sua cor de pele, são, de fato, necessárias, até em
razão do grande contingente negro presente na sociedade nacional
(aproximadamente 50%).
Ao mesmo tempo em que o sistema cotista acorda com a teoria
de Equidade, a igualdade jurídica fica abalada, uma vez que a pró-
pria Constituição Brasileira, logo no Preâmbulo, determina que o go-
verno deve “assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a
liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade
e a justiça”. Ou seja, a igualdade passa a ser fator fundamental para
o funcionamento da sociedade, assim como é reafirmado no artigo
5, em que todos os brasileiros “são iguais perante a lei, sem distinção
de qualquer natureza”. Assim, e também de acordo com o artigo 60,
torna-se inconstitucional a diferenciação dos indivíduos por raça ou
posição social. Além disso, os hipermodernos, contra essa política, de-
fendem que deveria ser investido capital em escolas públicas para que
todos pudessem competir sem os problemas que a atualidade enfren-
ta, de modo a ser privilegiado o mérito individual. Portanto, mesmo
sendo uma forma de justiça social, as cotas afetam a justiça jurídica,
movida pelo racionalismo, cada vez mais intensificado. Assim, o ca-
minho contrário ao das ações afirmativas se configuraria como um
aspecto do contexto sociológico de Hipermodernidade, cuja caracte-
rística marcante é o hedonismo, levando a sociedade à intensificação
das desigualdades.
Desse modo, de forma a promover uma justiça social a curto prazo,
ações afirmativas, como as cotas, são, de fato, imprescindíveis, visto
que o setor social do Brasil apresenta-se com profundos problemas
que perduram desde a época colonial. É, porém, inegável a necessi-
dade de um governo que invista nas raízes dos conflitos sociais exis-

49
tentes no país o mais rápido possível para que a justiça social não seja
afetada por mais tempo e cada cidadão apresente bases para compe-
tir de igual para igual.
Cotas e a
justiça social
Laura Farah Feitoza
Ligia Lisboa Rodrigues de Assis
Pedro Sant’Ana Wainer
Rafaela Valentini Esequiel

50 A sociedade contemporânea vive um período no qual há três para-


digmas competindo entre si: a modernidade, a pós-modernidade e a
hipermodernidade. A modernidade é o paradigma a ser substituído e,
para isso, há dois caminhos a serem seguidos: sua superação, a chama-
da pós-modernidade, e sua radicalização, hipermodernidade.
A modernidade valorizava a igualdade, ideia segundo a qual todas
as pessoas devem ter os mesmos direitos e ser encaradas como iguais
nas mais diversas situações. É nesse conceito que se baseia o vestibu-
lar: todos os candidatos fazem uma prova e são aprovados ou não de
acordo com suas notas, ou seja, seu mérito.
O conceito de igualdade, em muitas situações, não é suficiente, pois
promover oportunidades iguais para todos não significa que todos
possam competir igualmente. Preconceitos ou desigualdades históri-
cos são algumas das falhas desse conceito. Para complementá-lo, no
contexto da pós-modernidade, surge o conceito de Equidade.
Equidade implica a necessidade de medidas para complemen-
tar a igualdade, ou seja, para garantir que todos possam competir
igualmente por algo. Dessa maneira, as injustiças, como a escravidão,
cometidas a certos grupos sociais no passado, seriam compensadas. A
política de cotas se insere exatamente nesse conceito.
O ingresso em universidades por meio do vestibular é baseado na
meritocracia, pois mede o conhecimento do candidato em determina-
dos assuntos para decidir quais vestibulandos vão preencher as vagas
de um curso. A meritocracia baseia-se no princípio de igualdade, pois
todos passam pela mesma prova e apenas suas respostas são avalia-
das. Nessa competição, porém, os candidatos com melhores condi-
ções financeiras geralmente são privilegiados, pois têm condições de
preparar-se para a prova em colégios particulares que, via de regra, são
melhores que as instituições públicas de ensino fundamental e médio.

51
Esse é um exemplo de uma situação na qual a igualdade não promove
oportunidades iguais.
As cotas propõem que parte das vagas em instituições de ensino
superior públicas seja reservada para egressos de escolas públicas e
para negros e índios. O primeiro tipo busca diminuir uma desigualda-
de econômica, o segundo, uma desigualdade histórica.
O sistema de cotas estabelece “privilégios” para os vestibulandos
que historicamente não obtêm tanto sucesso no vestibular. Contudo, a
segregação desse setor é um fato real na sociedade; as cotas propõem
uma reinserção dessa camada na sociedade, propiciando a ela uma
chance melhor de estudar e progredir em uma carreira profissional. As
cotas seriam, assim, um meio de reduzir a enorme desigualdade exis-
tente na sociedade brasileira.
O curso superior permitiria que a pessoa exercesse funções, geral-
mente, melhor remuneradas e, por isso, o sistema de cotas seria uma
tentativa de aumentar a possibilidade de ascensão social. Isso ocor-
reria com os dois tipos de cotas, as raciais e as sociais, pois egressos
de escolas públicas geralmente pertencem a classes mais humildes e
a maioria dos negros e índios do país também. Ademais, comparadas
a escolas particulares, as escolas públicas não possuem qualidade de
ensino equivalente.
As cotas tentam promover a justiça social, para reparar os danos
históricos que prejudicaram uma classe social que sofre consequên-
cias até hoje. O sistema de cotas é uma anomalia em uma sociedade
utópica, entretanto, a sociedade atual já é anormal com segregações
relativas à raça e às condições econômicas; as cotas são uma anomalia
para amenizar os problemas de uma sociedade que já é anormal.
As ações afirmativas não vão acabar com todos os problemas so-
ciais, mas podem torná-los menos graves, dando chances de ascensão
social a pessoas que não têm condições de pagar por um ensino fun-
damental e médio privado que, em geral, tem uma qualidade superior.

52
Além disso, compensam as injustiças históricas dirigidas a negros e ín-
dios. Dessa forma, buscam-se reparar a marginalização e a exploração
que essas partes da sociedade sofreram e ainda sofrem.
O sistema de cotas:
um divisor de águas
Bruno Tucci Ferrari Caldeira

Aprovada em agosto de 2012, a “Lei de Cotas”, como ficou conhe-


cida a lei 12.711 de 2012, define que pelo menos metade das vagas

53
oferecidas por institutos e universidades federais deverá ser ocupada
por alunos que cursaram todo o Ensino médio em escolas públicas.
Além disso, pelo menos metade desse montante de vagas deverá ser
destinada a alunos cuja renda familiar for, no máximo, de um salário
mínimo e meio (933 reais) por pessoa.
O programa de cotas, medida paliativa cujo objetivo é ampliar e
democratizar o acesso ao ensino superior brasileiro, é um marco im-
portante no sistema de educação nacional – e tem o poder de mudar
a história do nosso país. O Brasil sempre foi um país onde educação de
qualidade é privilégio de poucos: os bons colégios, com raríssimas ex-
ceções, são particulares – e caros. O valor da mensalidade no Colégio
Bandeirantes, um dos melhores de São Paulo, é de 2200 reais. Já en-
tre as universidades, as melhores são as públicas, gratuitas, mas, nes-
ses centros de excelência nacional, só entram bons alunos que, quase
sempre, estudaram em um bom e caro colégio, já que a qualidade
do ensino nas escolas públicas é lastimável. Para quem não consegue
garantir uma vaga nas universidades públicas, ainda há as particula-
res; mas as mais bem conceituadas, como a Universidade Presbiteriana
Mackenzie e a PUC (Pontifícia Universidade Católica), cobram mensa-
lidades altas: o curso de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie custa
dois mil e quarenta e quatro reais e o curso de Jornalismo da PUC, mil
seiscentos e quarenta e seis reais e cinquenta e três centavos por mês.
Dessa forma, o cidadão que cursou o ensino fundamental e médio
em escolas públicas não tem condições de ingressar no ensino supe-
rior de qualidade; somente a elite brasileira faz faculdade e impulsiona
o desenvolvimento tecnológico brasileiro.
O sistema de cotas, porém, promete mudar essa história. Trata-se de
uma ação afirmativa, medida que tem o objetivo de facilitar a entrada
de grupos desfavorecidos no ensino superior. Expoente da aplicação
do princípio da Equidade, conjunto de políticas públicas que objetivam
garantir o efetivo exercício da igualdade, por meio da eliminação de di-

54
ferenças histórico-sociais, insere-se no contexto da Pós-Modernidade.
A Pós-Modernidade é uma tendência do pensamento filosófico-
-social que afirma que os conceitos defendidos pelo pensamento da
Modernidade não foram concretizados e que, portanto, falharam, não
são válidos, não são aplicáveis à humanidade nos dias de hoje. O pen-
samento pós-moderno vem para substituir o moderno. Enquanto na
Modernidade vigorava a razão, o individualismo e as ideologias polí-
ticas que seriam ideais para qualquer nação, por exemplo, capitalis-
mo, liberalismo, na Pós-Modernidade, vigoram três racionalidades: a
objetiva, relacionada ao pensamento lógico; a emocional, ligada aos
sentimentos; a intuitiva, ligada à intuição, à religião, às convicções e
aos valores de cada um. Ao invés das ideologias universais, “úteis para
todas as nações”, há agora o localismo, o particularismo ─ os proble-
mas são característicos de cada local e exigem solução específica na-
quele posto em particular, muitas vezes reivindicada por ação direta da
população, pelo ativismo. Para substituir a individualidade, sobressai o
coletivismo.
O sistema de cotas é uma ideia pós-moderna, pois é coletivista, vi-
sando ao bem geral, é localista, pois resolve um problema específico
(porém, não exclusivo) da sociedade brasileira e apela à razão emocio-
nal de cada um para que pense no bem dos outros.
Assim como a Pós-Modernidade rompe com os conceitos da Mo-
dernidade, as cotas romperão com a histórica tradição elitista da edu-
cação superior no Brasil, dando condições aos alunos egressos de
escolas públicas de ingressarem em boas universidades públicas, au-
mentando a abrangência da educação superior no Brasil.
Dessa maneira, haverá mais profissionais qualificados no nosso país,
alavancando o desenvolvimento brasileiro e diminuindo a parcela da
população sem acesso ao conhecimento. Para que tudo dê certo, en-
tretanto, é necessário investimento na educação básica pública para
que, no futuro, os alunos de escolas estaduais e municipais tenham

55
condições de entrar nas universidades federais sem o auxílio de medi-
das como essa. Mesmo assim, a Lei de Cotas é um verdadeiro divisor
de águas entre o Brasil ignorante e desqualificado e o Brasil educado
e qualificado.
O próprio objetivo do programa é mudar essa história. Tanto é que,
em 2022, ele passará por uma revisão, em que será avaliada sua ne-
cessidade; espera-se que até lá a democratização do saber já tenha
se consolidado e que os egressos de escolas públicas já consigam ser
aprovados em exames vestibulares nas universidades públicas.
A possível vicissi-
tude na educação
brasileira
Érica Fernandes Costa
Sofia Carvalhaes Cherto Silveira

56 Ações afirmativas em território brasileiro: apesar de terem sido ide-


alizadas, nas últimas décadas, por setores acadêmicos progressistas,
foram concretizadas apenas há poucos anos, entre 2001 e 2004. Con-
quistadas, principalmente, por iniciativas estudantis, as cotas surgiram
como resposta temporária ao precário sistema público de educação
básica; e, sendo um incentivo à inserção de uma maior diversidade
no cenário acadêmico brasileiro, também podem mudar a perspectiva
educacional e política do país.
A primeira universidade brasileira a implementar cotas de cunho
racial foi a Universidade de Brasília (UnB). Um dos motivos mais impor-
tantes para a adoção de tal medida foi o Caso Ari, em 1998: Arivaldo
Lima Alves, estudante do Doutorado em Antropologia, foi reprovado
em uma das matérias obrigatórias do curso. À época, houve muita po-
lêmica em relação à legitimidade da reprovação, sendo anulada anos
depois. O incidente revelou a necessidade de se incluir um percentual
maior de afrodescendentes (e indígenas) na comunidade acadêmica
com o objetivo de promover a integração social destes, inibindo pre-
conceitos. Intelectuais pró-cotas, como o professor da Universidade
de Brasília (UnB) José Jorge de Carvalho, orientador de Arivaldo, fo-
ram apoiados por setores estudantis da própria Universidade - sendo
o mais unido deles o grupo EnegreSer (formado apenas por alunos
afrodescendentes) - e, após anos de debates acalorados, elaboraram
o projeto que hoje vigora na UnB: 20% das vagas nos vestibulares são
destinadas à comunidade negra.
Influenciadas pela atitude brasiliense, faculdades Brasil afora adota-
ram políticas similares às de cotas raciais, como a Universidade Federal
da Bahia (UFBA) e a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Recentemente, a lei 12.711, sancionada pelo Governo Federal, faz valer
a ideia de cotas (desta vez, sociais) em todas as universidades federais.
Apesar de o programa de cotas relegar à educação de base um pa-
pel secundário (ao limitar-se ao ensino superior), torna-se necessário o

57
enfoque no ingresso à vida acadêmica: a correção das disparidades do
sistema educacional apresenta caráter prioritário, mas seus resultados
serão evidenciados a longo prazo. Logo, políticas de curto e longo pra-
zo devem aliar-se para garantir o acesso à educação de qualidade não
apenas para aqueles que iniciam, agora, sua vida escolar, mas também
àqueles que acabam de concluí-la.
Além disso, pode-se questionar o elitismo presente em universida-
des de renome. Afinal, o que caracteriza uma boa instituição? Aceitar
apenas os melhores alunos ou, independentemente do nível dos estu-
dantes egressos, formar mão de obra realmente qualificada?
Um verdadeiro profissional é aquele que consegue ensinar igual-
mente a todo o seu corpo discente e não somente aos mais favore-
cidos, tarefa essa muito mais cômoda e simples. Aplicando-se a ideia
citada anteriormente a um contexto mais geral, poder-se-iam ver os
alunos cotistas como um desafio – tanto nas esferas educacional quan-
to social, no que diz respeito à integração destes – e uma oportunidade
única de inovação dentro do ambiente acadêmico, com a adoção de
uma nova dinâmica de aprendizado que possibilitaria a todos, cotistas
ou não, terem acesso a uma formação superior de qualidade.
A sociedade brasileira, como colcha de retalhos multiculturais, ét-
nicos e sociais, é palco de desigualdades e contradições, devidamente
presentes na Constituição Federal (CF) de 1988 – afinal, o conjunto de
leis de um país deve ser reflexo fiel de sua constituição social, por mais
ambígua que esta seja. As políticas de ações afirmativas, seguindo-se
tal linha de pensamento, podem ser consideradas anexas ao que já se
apresenta contraditório, sem se tornarem condenáveis.
Com respaldo constitucional, as cotas utilizam a ideia de Equidade,
ou seja, as oportunidades devem ser proporcionais às necessidades de
cada indivíduo, para que o artigo 5º da CF, em que aparece o conceito
de igualdade aplicado a todos os cidadãos, possa ser cumprido, e não
mais restrito à teoria.

58
c.o.m.e.n.t.á.r.i.o
substantivo masculino

1. série de notas ou ponderações, por escrito ou orais, críticas ou


de esclarecimento, acerca de um texto, um evento, um ato etc.
2. observação, parecer, ponto de vista
Ex.: no bar, fazia comentários sobre a atuação do técnico do seu time

3. observação ou interpretação mais ou menos malévola


Ex.: tecia comentários sobre as amizades da vizinha
(Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa) 59
b.l.o.g / b.l.o.g.u.e
substantivo masculino
Rubrica: internet.
página pessoal, atualizada periodicamente, em que os usuários
podem trocar experiências, comentários etc., ger. relacionados
com uma determinada área de interesse
(Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa)
BRASIL, NAÇÃO NEGRA - 10/11/2009

Enquanto causam polêmica políticas afirmativas como a reser-


va de cotas para negros nas universidades, adotada desde 2001,
ainda sob desigualdade racial, o país caminha para ser uma na-
ção de maioria negra em 2010.

Diferenças históricas

60 Os negros foram maioria também no passado. Em 1890 – ape-


nas dois anos depois da abolição da escravatura pela Lei Áurea
-, 56% dos residentes em território nacional eram negros. Mas,
com a abolição, o governo não adotou políticas de preparação e
absorção dessa mão de obra desqualificada. Em vez de universa-
lizar o acesso á escola e distribuir terras aos ex-escravos, incenti-
vou a entrada no país de cerca de 3,8 milhões de imigrantes eu-
ropeus entre 1887 e 1930, para trabalhar fundamentalmente nas
lavouras Centro-sul, e japoneses, a partir de 1908, para trabalhar
nas fazendas de café de São Paulo e do Paraná. Esse movimento
migratório resultou em um aumento da população branca no
Brasil à medida que tirou os negros da disputa pelas vagas de
trabalho na lavoura e na indústria nascente.
O resultado desse processo histórico é que a parcela negra
da população tem as piores condições de vida. Estatisticamente,
o negro vive menos, morre mais por causas violentas, estuda
menos, tem mais dificuldade de ingressar e se manter no mer-
cado de trabalho, além de trabalhar nas ocupações menos va-
lorizadas, ganhar salários mais baixos e constituir maioria entre
a parcela mais carente da população brasileira. Assim, a discri-
minação racial passa a andar de mãos dadas com a fortíssima
concentração de renda nas mãos dos brancos no Brasil.
É questionável se as cotas universitárias de fato poderão cor-
rigir o racismo estrutural presente em nossa sociedade. Deixe
sua opinião!
61
http://reservarouensinar.wordpress.com
c.o.m.e.n.t.á.r.i.o b.l.o.g.u.e
Laura Rudella Tonidandel
Leonardo Lombardero Sanchez

Não há como negar que, durante o processo histórico de forma-


ção do nosso país, os negros sofreram discriminação social e que isso
acabou gerando desigualdades econômicas, mas acreditamos que a
política de cotas universitárias é apenas uma maneira de amenizar um
problema social e não de resolvê-lo. Já passou da hora de arregaçar as

62 mangas e enfrentar a questão racial brasileira efetivamente! As cotas


universitárias somente mascarariam um problema que começa desde
o nascimento do cidadão e é por isso que o Estado deveria privilegiar
investimentos e projetos nas áreas de educação básica, não superior,
para que a instrução recebida pelos indivíduos possa ser igualada des-
de o princípio. Apenas com medidas como essa se resolverá a exclusão
histórica dos negros em nosso país.
c.o.m.e.n.t.á.r.i.o b.l.o.g.u.e
Luciana Moreira Kanarek
Paula Leite Serra

Realmente, como se lê em seu texto, os negros assumem uma po-


sição inferior na sociedade brasileira. As heranças do período colonial
permaneceram por longos anos como verdades absolutas. E, apesar
da discriminação racial não ser mais tão intensa quanto foi nos séculos
passados, quando a cor era fator determinante na colocação social de

63
um indivíduo, ainda são perceptíveis os reflexos de uma sociedade
classificatória. Vem daí a tentativa de corrigir a dívida histórica para
com os negros por meio de cotas. Assume-se que haverá a sua rein-
serção na economia, política e outros setores. Mas apenas a concessão
de educação superior não garante a boa aceitação e colocação dos
negros. Para que isso ocorresse de fato, seria necessária uma mudança
no pensamento preconceituoso que predomina em parcelas conser-
vadoras da sociedade, já que são essas que cometem atrocidades e
utilizam-se da violência para afirmar “superioridade”, que impedem a
entrada de negros no mercado de trabalho e os largam em um ciclo
de pobreza e exclusão. O benefício das cotas, nesse sentido, torna-se
restrito apenas ao acesso à informação e à educação.
c.o.m.e.n.t.á.r.i.o b.l.o.g.u.e
Flávio de Ávila Fowler

Concordo! Há muitas dúvidas sobre o papel das cotas na extinção


do racismo na sociedade brasileira. Eu já fiz algumas pesquisas so-
bre o cenário socioeconômico do Brasil e o relacionei com a questão
escravista do país até 1888; cheguei à mesma conclusão que foi ex-

64
plicitada no blog. Mesmo com a escravidão oficialmente proibida, os
negros continuaram excluídos do processo produtivo e se mantiveram
em condições péssimas de moradia e alimentação, tudo por falta de
opções e pela discriminação racial. Essa estrutura justifica a existência
das cotas na medida em que tenta auxiliar jovens negros e pobres
a ingressar em universidades de prestígio, dando-lhes oportunidades
de ascensão social no futuro. No entanto, não podemos acreditar que
somente as ações afirmativas resolverão o racismo. Para que isso seja
possível, é necessária a atuação conjunta de políticas de conscientiza-
ção, de inclusão social e de melhorias no setor educacional e de saú-
de públicos, pois somente assim os negros realmente estarão vivendo
como os brancos e tendo as mesmas oportunidades. Bom, acho que
é isso!
c.o.m.e.n.t.á.r.i.o b.l.o.g.u.e
Angela Perrone Barbosa
Isabella Esparré Duchêne

Sem dúvida, o problema do racismo estrutural presente no texto


será afetado pela política de cotas. A entrada facilitada de alunos ne-
gros em universidades públicas faria com que uma parcela da popu-
lação afrodescendente tivesse mais oportunidades de conseguir uma
formação mais completa e, por consequência, um emprego e uma

65
qualidade de vida melhor. No entanto, pensamos que essa não é a
maneira mais eficiente de resolver tal problema socioeconômico e ra-
cial. O ingresso de uma parcela maior de alunos negros em universida-
des públicas contribuiria para uma possível ascensão econômica dessa
parcela, mas a questão social é mais abrangente. Sob o nosso ponto
de vista, o racismo, que, muitas vezes, é atribuído somente à questão
econômica, como o próprio texto cita na última frase, é, na verdade,
fruto de um conjunto de heranças e comportamentos históricos. Por
isso, o investimento educacional básico é uma prioridade até mesmo
sobre a universidade. Em resumo, o investimento no ensino básico pú-
blico daria iguais oportunidades a brancos e a negros de ascender
social e economicamente, além de promover possíveis projetos de in-
tegração social e combate ao racismo.
c.o.m.e.n.t.á.r.i.o b.l.o.g.u.e
Patricia Mutti e Mattos
Felipe Nasser de Carvalho Romano

Gostamos muito do seu ponto de vista. Assim como você, acredita-


mos que a exclusão do negro na sociedade brasileira é um problema
muito mais profundo e que apenas a oportunidade oferecida pela Lei
de Cotas não é suficiente para modificar esse cenário. É verdade que

66
a educação é essencial para o sucesso no mercado de trabalho, mas
apenas facilitar o acesso a esse ensino não corrige, por exemplo, a
enorme desigualdade social e econômica que existe no país, desde o
período colonial. A distribuição mais equitativa da renda, a melhoria
das condições habitacionais e também a melhoria do ensino funda-
mental público (afinal, de nada adianta ter acesso à universidade se
não há uma base educacional efetiva) são também fundamentais para
a superação do racismo e da desigualdade.
c.o.m.e.n.t.á.r.i.o b.l.o.g.u.e
Helena Fraga Dolewczynski de Araujo

Na minha opinião, as cotas universitárias poderão, sim, aos poucos,


ajudar a corrigir o racismo estrutural que, infelizmente, está presen-
te em nossa sociedade. Com o tempo, a população negra, com mais
estudo graças às cotas, passará a ocupar cargos de maior influência

67
e isso fará com que a sociedade racista seja obrigada a “engolir”, por
bem ou por mal, que, nos tempos atuais, a cor da pele de uma pessoa
não pode dizer nada sobre ela. Não pode significar que é rica nem que
é pobre e também não pode indicar o seu grau de instrução! Todavia,
para uma sociedade toda mudar sua forma de pensar, é necessário
algum tempo, tempo que esperaremos sem muita paciência, afinal, já
esperamos tempo demais por uma coisa que, na cabeça de muitos,
inclusive na minha, seria natural, estou falando de igualdade!
c.o.m.e.n.t.á.r.i.o b.l.o.g.u.e
Richard Roberts

A análise a respeito do passado escravocrata brasileiro é clara e tem


fundamento. No entanto, não vejo como podemos permitir que a tra-
dição determine o presente. Todas as grandes revoluções na história
ocorreram justamente para acabar com ideologias tradicionais que

68
eram aceitáveis no passado, mas que, com o tempo, deixaram de ter
espaço na sociedade. Ou seja, mesmo que o racismo no Brasil tenha
suas bases no passado colonial, devemos tentar reverter a situação e
quanto antes melhor! As cotas raciais são muito positivas nesse aspec-
to, aumentando a possibilidade de ensino superior de qualidade para
a geração atual e futura. Claro que essa medida deve ser acompanha-
da de projetos de melhoria do ensino público básico, mas não deixa de
ser efetiva. E uma sugestão: ao citar estatísticas, não se pode esquecer
de citar a fonte; há muitas informações equivocadas na internet.
c.o.m.e.n.t.á.r.i.o b.l.o.g.u.e
Fernanda Paula Salomão
Laura Rocha Teixeira

O negros, no Brasil, desde o período colonial, são subjugados e são


vítimas do racismo. O processo de incentivo à entrada dos imigrantes,
com o cultivo do café e a consequente industrialização pela qual o
sudeste passou, como se lê em seu texto, apenas intensificaram essa

69
situação. O recém instaurado projeto de cotas tem como um de seus
objetivos reintegrar o negro à sociedade brasileira, combatendo, dessa
forma, o preconceito estrutural que existe em nosso país. Apesar de
essa medida colaborar bastante com o processo de luta contra essa
discriminação racial, são necessárias outras medidas paralelas que vi-
sem não só a reinserção dos negros na comunidade e no mercado
de trabalho, como também tentem, de alguma maneira, mudar essa
mentalidade racista e preconceituosa inerente a todos os cidadãos
brasileiros.
c.a.r.t.a a.r.g.u.m.e.n.t.a.t.i.v.a
substantivo feminino

1. mensagem, manuscrita ou impressa, a uma pessoa ou


a uma organização, para comunicar-lhe algo

70
(Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa)

CARTA ARGUMENTATIVA: apresenta introdução, desen-


volvimento e conclusão. No primeiro parágrafo, apresen-
ta-se o ponto de vista a ser defendido. Nos dois ou três
subsequentes, expõe-se o encadeamento dos argumen-
tos que o sustentarão. No último parágrafo, reforça-se a
tese e apontam-se propostas, caso seja este o desejo do
remetente da carta.
c.a.r.t.a a.r.g.u.m.e.n.t.a.t.i.v.a
Ângela Perrone Barbosa
Isabella Esparré Duchêne

São Paulo, 11 de setembro de 2013.

Excelentíssimo Senhor Ministro da Educação e Cultura Aloizio Mercadante,

Dirijo-me a Vossa Excelência com o objetivo de explicitar a minha


opinião sobre o promissor projeto de cotas ou ações afirmativas apro-
vado em 2012. Evidentemente, um acréscimo no número de alunos
universitários provenientes de escolas públicas cuja renda familiar é

71
inferior a um salário mínimo e meio seria propício para, entre outras
consequências, minimizar o ciclo de pobreza característico da socieda-
de brasileira. No entanto, sob o meu ponto de vista, alguns aspectos
do projeto devem ser aplicados com cautela.
Primeiramente, gostaria de mencionar a importância desse projeto
para o desenvolvimento social brasileiro. Vossa Excelência deve ter ci-
ência, as ações afirmativas trarão muitos benefícios para a sociedade
do nosso país. Além de oferecer mais oportunidades a jovens caren-
tes de ingressar em universidades que, apenas com o ensino público,
dificilmente conseguiriam; o projeto contribui para diminuir a margi-
nalização de diversos grupos sociais, abrandando problemas como a
exclusão, o subemprego e até a violência.
Ademais, penso que o espaço universitário propiciaria um convívio
mais harmônico entre diferentes classes sociais uma vez que, com o
ingresso de mais estudantes de baixa renda, incentivaria a interação
até mesmo dos setores sociais mais díspares.
Entretanto, para mim, deve-se tomar cuidado para que essa propos-
ta não se torne uma “acomodação” do sistema educacional brasileiro.
Como diversos cidadãos carentes terão seus ingressos em universi-
dades federais facilitado, pode-se interpretar, de forma equivocada,
que não há necessidade de melhorar a educação no ciclo básico. Os
ensinos fundamental e médio são imprescindíveis para a formação dos
indivíduos, tanto no âmbito cultural, de conhecimento ou de caráter.
Dessa forma, como V. Exª pode perceber, o ensino básico não deve
ser negligenciado. Pelo contrário, paralelamente ao projeto de cotas,
para que o desenvolvimento social brasileiro seja efetivado significa-
tivamente, uma proposta de melhoria educacional na qualidade do
ensino deve ser considerada.
Percebo, assim, que, apesar da relevância do projeto no contexto da
sociedade brasileira, é imprescindível não negligenciar uma melhoria

72
no ensino público, já que essa é uma forma de assegurar que todos
os cidadãos do país terão as mesmas chances de concorrer a vagas no
ensino superior. Espero, portanto, que novas medidas sejam adotadas
e que o governo continue dando condições para a melhoria no ensino
de sua população.

Atenciosamente,
A. I.
c.a.r.t.a a.r.g.u.m.e.n.t.a.t.i.v.a
Rodrigo de Arruda Pereira Pimentel

São Paulo, 16 de setembro de 2013.

Excelentíssimo Senhor Ministro da Educação e Cultura Aloizio Mercadante,

Gostaria primeiramente de parabenizar Vossa Excelência pela mais


recente lei de políticas afirmativas. O sistema de reserva de cotas para
negros em faculdades públicas é um passo significativo na história
deste país. Estudo no ensino médio de uma escola particular e apoio
com total vigor esse projeto. Reconheço que ainda temos uma dívida
grande com os afrodescendentes. Só peço algumas considerações so-
bre o plano, pois boas iniciativas encontram-se em qualquer lugar, mas
a abordagem nesse caso deve ser objetiva e direta para que dê certo. 73
Há vários detratores do sistema ao redor do Brasil, principalmente
nas classes mais altas de nossa sociedade. A influência deles, admito,
é forte. Entretanto, para a lei funcionar, não pode existir meio termo. O
projeto já foi aceito e agora precisa ser posto em prática com firmeza,
ou seja, ser adotado rapidamente na maioria das universidades, com
um prazo curto de ajustamento. Quanto mais cedo o projeto começar
a prosperar, mais cedo os resultados positivos surgirão e os envolvidos
serão devidamente privilegiados. Recuar por pressão é inadmissível,
Vossa Excelência.
Entretanto, por mais que concorde com o novo sistema, é inegável
que o problema seja maior. O incentivo à educação no ensino funda-
mental e médio também deveria ser visto como prioridade. Recebo
com alívio a notícia de que 75% dos royalties do pré-sal irão para isso,
mesmo que torcesse pela ideia original do governo de que 100% fos-
sem para a educação. Por último, acredito que uma rígida fiscalização
do cumprimento da lei deva ser exigida.
O novo sistema de cotas, se corretamente realizado, será respon-
sável por uma revolução na educação brasileira. Apenas citei alguns
cuidados que o governo deveria tomar, mas creio que existam muitos
outros. É, obviamente, um projeto de escala nacional. Em alguns esta-
dos, isso pode demorar mais a se concretizar, enquanto, em outros, a
mudança deva vir instantaneamente. Seja como for, é o caminho certo
a ser seguido. Agradeço, portanto, a iniciativa. Agora espero ver, Exce-
lentíssimo ministro, a garantia dessa prática da Lei de Cotas.

Atenciosamente,

74
R. P.
c.a.r.t.a a.r.g.u.m.e.n.t.a.t.i.v.a
Ana Luiza Khouri Fontana
Caio Lopes Tavares Alves
Henrique Meinberg Capistrano do Amaral

São Paulo, 14 de setembro de 2013.

Exmo. Sr. Ministro da Educação, Aloizio Mercadante,

Podemos afirmar sem dúvida que a educação pública no Brasil é


um aspecto de nosso país que se encontra inteiramente degradado e

75
deixa muito a desejar. Há necessidade de reformas e de medidas para
se resolver essa situação. É por isso que devo elogiar a criação da Lei
de Cotas nesse momento que o país está vivendo. Apesar de promo-
ver a igualdade no ingresso em universidades públicas, existem alguns
pontos e circunstâncias que gostaria de exteriorizar, a fim de que Vossa
Excelência possa, quem sabe, cogitar a execução de alguns deles.
A Lei de Cotas auxilia de modo extraordinário aqueles que estuda-
ram em escolas públicas, promovendo chances reais de uma vida me-
lhor. No entanto, as cotas não influenciam diretamente na educação,
pois não desenvolvem a possibilidade de reformas a serem feitas em
instituições de ensino públicas. Por esse motivo, deveriam ser imple-
mentadas durante determinado período de tempo até que a educação
pública seja reformada e todos possam competir de igual para igual,
com o mesmo nível de escolaridade.
Além disso, a definição proposta pelas cotas raciais é confusa e
imprecisa. A autodeclaração e a herança de genes recessivos ou não
provenientes de outras “raças” contribuem para esse fato, dificultan-
do a classificação dos alunos que se enquadrariam nesse quesito. Por
outro lado, a facilitação da entrada de negros, pardos e índios nas
universidades, de certa forma, pode desencadear segregação racial
desses grupos considerados incapazes (independentemente da renda
que possuem). Afinal, por mais que a maior parte da população negra
do país seja de baixa renda, existem negros que estudam em escolas
particulares e são abastados. Desse modo, poderiam ser beneficiados
indevidamente, já que, supostamente, não necessitam de nenhuma
forma de auxílio para ingressar na universidade.
Se nos espelharmos em exemplos internacionais de países desen-
volvidos e com alto índice de escolaridade, como os Estados Unidos e
a Finlândia, concluiremos que o melhor caminho para uma educação
de qualidade é a educação gratuita, subsidiada e incentivada pelo go-
verno, oferecendo as mesmas chances de concorrência entre todos,

76
independentemente da renda. Por isso, Vossa Excelência, defendo a
reforma radical do sistema educacional brasileiro, a fim de mudar a
realidade do país. O único ponto a ser combatido é a falta de vontade
e de ações políticas para que possamos atingir esse alto patamar edu-
cacional.
Espero que as sugestões e críticas sejam consideradas e que Vos-
sa Excelência considere meu apelo. Desejo a construção de um país
melhor para que todos possam competir em igualdade, sem que seja
essencial a utilização de políticas cotistas.

Atenciosamente,
A. C. H.
c.a.r.t.a a.r.g.u.m.e.n.t.a.t.i.v.a
Renata de Lara Campos Coelho

Tenho observado com bastante atenção Lei de Cotas a ser imple-


mentada nas universidades públicas federais do país. Apesar de ser um
projeto muito coeso com o cenário brasileiro atual e que certamen-
te irá beneficiar milhões de estudantes advindos de escolas públicas,
apresenta algumas falhas facilmente identificáveis. Tenho-as estudado
e gostaria de que Vossa Excelência levasse em conta minhas conside-
rações.
Primeiramente, o que motivou a implementação das cotas foi

77
o fato de o ensino nas escolas públicas ser bastante defasado quando
comparado ao das escolas particulares. Logo, deve ser feito um pro-
jeto que determine a melhoria desse ensino, visando igualá-lo ao das
escolas privadas de forma que, futuramente, o sistema de cotas não
seja mais necessário. Entretanto, deve ser estabelecido pelo governo
um prazo limite para a realização desse projeto, garantindo maior agi-
lidade ao seu cumprimento.
Além disso, Vossa Excelência também deve analisar que o nível
de estudo entre os alunos advindos de escolas públicas e particulares
não será o mesmo. Apesar de as notas de corte de ambos serem bem
próximas, os alunos provenientes de escolas públicas podem ter algu-
ma deficiência em seu ensino que pode vir a prejudicá-los na faculda-
de que pretendem cursar. Dessa forma, devem ser instalados cursos de
apoio a esses estudantes para complementar uma eventual falha em
seu currículo escolar.
Tendo em vista os argumentos por mim expostos, peço que
Vossa Excelência analise e aplique o quanto antes essas modificações
indispensáveis ao sistema de cotas vigente. Contudo, devo lembrar-lhe
que esse sistema deve ser visto apenas como uma medida paliativa e
temporária, uma vez que devem ser implantadas medidas que equi-
librem o ensino em escolas públicas e particulares de forma que, no
futuro, não haja a necessidade da política de cotas.
Certa de sua atenção e da criteriosa análise de minhas sugestões,

R. L. C. C.

78
c.a.r.t.a a.r.g.u.m.e.n.t.a.t.i.v.a
Felipe Nasser de Carvalho Romano
Patrícia Mutti e Mattos

São Paulo, 13 de setembro de 2013.

Exmo. Sr. Ministro da Educação, Aloizio Mercadante,

Acompanhei, em 2012, o processo de aprovação da Lei de Cotas,


que reserva 50% das vagas em universidades públicas para alunos que
cursaram o ensino médio em escolas também públicas. Apesar das

79
controvérsias dessa lei, devo admitir que sou bastante favorável a ela,
uma vez que milhares de estudantes passaram a ter uma chance maior
de obter um diploma em ensino superior. Acredito também que as co-
tas estimulam os alunos a continuarem seus estudos; antes desse pro-
jeto, muitos estudantes de escolas públicas optavam por abandonar
a sua formação educacional, já que não vislumbravam um futuro de
oportunidades amplas. Devo, porém, fazer algumas ressalvas quanto
à Lei de Cotas. É imprescindível que o governo atente para os riscos
de facilitar o acesso ao ensino superior sem melhorar a qualidade do
ensino fundamental e médio em escolas públicas. Além disso, é neces-
sário um melhor controle do critério de cotas raciais, que é bastante
controverso.
As escolas públicas do nosso país são muito defasadas e o Ministé-
rio controlado por Vossa Excelência precisa alterar essa situação, em
caráter de urgência. As cotas devem existir apenas como uma forma
de beneficiar os estudantes de hoje, que foram prejudicados pelo Esta-
do, na medida em que esse ainda não cumpriu o dever constitucional
de oferecer educação de qualidade a seus cidadãos. O projeto deve-
rá ser extinto em um futuro próximo, quando o governo finalmente
promover melhorias significativas no ensino, equiparando estudantes
advindos de escolas públicas e de escolas particulares. Este deve ser
o objetivo de seu ministério, Senhor ministro, pois apenas favorecer o
ingresso no ensino superior não soluciona os graves problemas edu-
cacionais do país.
Outra crítica que faço à Lei de Cotas refere-se ao critério racial. Não
é justo permitir que negros e indígenas tenham benefícios no acesso
ao ensino superior apenas considerando suas raças. Esse critério os
desqualifica, transmitindo a impressão de que eles não são capazes de
ingressar apenas por esforço próprio –– o que todos nós, brasileiros,
sabemos ser uma ideia equivocada. As cotas sociais devem ser as úni-
cas a existir, pois apenas elas são justificáveis.

80
Parabenizo Vossa Excelência e seu Ministério pelo projeto de cotas,
pois não tenho dúvidas a respeito de seus benefícios para a sociedade
brasileira. Peço, entretanto, que o senhor considere as críticas por mim
apontadas, pois acredito que elas sejam fundamentais para a garantia
de justiça e de melhoria no ensino do país.

Atenciosamente,
P. M.
c.a.r.t.a a.r.g.u.m.e.n.t.a.t.i.v.a
Anna Beatriz Anselmi Siviero
Gabriel Bernard Venelli Medina

São Paulo, 13 de setembro de 2013.

Ao Excelentíssimo Senhor Ministro da Educação Aloizio Mercadante,

Meu nome é Eduardo, aluno do Colégio Dom Arnaldo, instituição


de ensino particular de São Paulo. Prestarei vestibular e pretendo, ano

81
que vem, estar em uma boa faculdade de engenharia. Estando nessa
situação, o tema das cotas é um assunto recorrente em meu universo.
Vários de meus colegas de escola reclamam dessa nova lei, pois pen-
sam que ela os prejudicará. De fato, essa medida dificultará a entrada
dos alunos de escolas particulares em faculdades públicas, inclusive, a
minha, mas não é isso que deve impedir sua implementação. Acredito
que o sistema de ações afirmativas tem beneficiado estudantes que
mais precisam de amparo. Ele ainda pode e deve ser melhorado para
que seja completamente eficiente e mais justo.
Vossa Excelência, como ministro da Educação e Cultura do Brasil,
sabe bem a realidade em que os alunos de nosso país se encontram.
A educação pública de base é, atualmente, insuficiente para fazer com
que um jovem tenha plenas condições de competir por uma vaga de
uma renomada universidade com estudantes de escolas particulares.
As cotas, além de serem um modo de melhorar a integração social –
garantindo a convivência entre pessoas de diferentes classes econô-
micas e raças –, também cumprem seu papel de proporcionar maiores
chances para que um estudante de escola pública alcance a realização
profissional e o sucesso. Nesse sentido, é um instrumento para a reali-
zação da justiça social. Se, antes, parte dos cidadãos não teve seus di-
reitos de educação garantidos em suas vidas, não seria justo aplicar o
mesmo critério para selecionar todos eles. O sistema de cotas leva em
conta esse aspecto desigual da educação brasileira. Por isso, mostra-se
positivo. Ele não deve, contudo, ser transformado em uma muleta do
governo, em um modo de tentar remendar um problema que é mui-
to mais profundo. Deve ser entendido apenas como um instrumento
temporário para realizar a justiça social.
As cotas, portanto, devem existir somente enquanto essa desigual-
dade entre escolas públicas e privadas e o preconceito racial prejudi-
carem certas camadas sociais. É impossível prever o período de tempo
para que esses problemas sejam resolvidos. Mesmo assim, Vossa Ex-

82
celência, é preciso definir um período para o cumprimento de metas,
para que o governo siga com seu objetivo primeiro: estabelecer a jus-
tiça social. Se isso não for feito, o problema da educação de base se
perpetuará.
A meta final deve ser o fim do programa de cotas sociais e raciais.
Para chegar a ela, é preciso criar, em conjunto com a ação de cotas,
leis de incentivo à educação de base que contemplem a atual reali-
dade brasileira. Por exemplo, leis que garantam a melhoria das esco-
las públicas por todo o país, seja pela formação de maior número de
professores competentes, seja pela construção de novas escolas bem
estruturadas. Isso pode ser feito, inclusive, com o dinheiro já captado
em outro setor – como o do petróleo, com o direcionamento de seus
royalties para a educação, o que, inclusive, a presidente Dilma Rous-
seff já cogita fazer. O apoio de uma pessoa com um poder tão grande
como o de Vossa Excelência torna-se essencial para a aprovação desse
projeto no Congresso Nacional.
Após a aprovação dessas medidas que complementam o sistema de
cotas, deverá ser obrigação do seu ministério fiscalizar, periodicamen-
te, as condições em que todas essas escolas se encontram. É triste ver
que muitos estudantes deixam de ir às aulas por falta de infraestru-
tura – que decorre, muitas vezes, da falta de uma simples fiscalização
eficiente. Caso isso não ocorra, não haverá cumprimento das metas
pré-estabelecidas.
Portanto, Vossa Excelência, saiba que até mesmo um estudante de
escola particular, que certamente terá seus sonhos dificultados pela
implementação das cotas, defende esse sistema, desde que medidas
complementares sejam tomadas. É necessário um conjunto de metas
para a melhoria da educação de base. Acredito que Vossa Excelência
seja a pessoa certa para traçar essas metas e fiscalizar o seu cumpri-
mento, para que melhorias, não somente no setor educacional, mas
também na sociedade, aconteçam.

Esperançosamente,
E. M. F.
83
c.a.r.t.a a.r.g.u.m.e.n.t.a.t.i.v.a
Ana Luiza Saba Psomiadis
Stéfani Souza Peña
Stela Souza Peña

São Paulo, 6 de setembro de 2013.

Ao Excelentíssimo Senhor Ministro da Educação Aloizio Mercadante,

Não é segredo para ninguém que a educação de nosso país está


muito aquém da desejada, porém, a Lei de Cotas (nº 12.711), sancio-

84
nada no ano passado, não deve ser vista como uma solução, e também
não pode ser justificada como uma reparação histórica de um passado
de escravidão e opressão vivido pelos negros, que são maioria da po-
pulação.
Primeiro, porque a escravidão acabou há 125 anos e a maioria da
população é branca. Além disso, o conceito de raças já é ultrapassado,
porque o Brasil é um país miscigenado e foi comprovado cientifica-
mente que os genes de alguém de pele branca podem conter mais
raízes africanas do que os de um negro, e vice–versa. Então, de que
modo o Estado pode determinar quem é negro ou não?
Um renomado economista norte-americano e insuspeito de ser ra-
cista (ele é negro), Thomas Sowell, estudou a questão das cotas nos
EUA, na Índia e na África. Sua obra Ação afirmativa pelo mundo: um es-
tudo empírico (2004) revela que as discrepâncias que as cotas queriam
diminuir foram não só mantidas, mas ampliadas. Em todos os lugares
em que se implementou a política, houve um aumento significativo
dos conflitos entre os grupos beneficiados e os não beneficiados, por-
que ela era percebida como doadora de privilégios a uma parcela da
população em detrimento de outras, e não como uma medida justa.
Em vista de seu fracasso, na maioria dos lugares onde existiam, as co-
tas foram revogadas. Caso exemplar é o dos EUA, onde a maior par-
te dos estados já eliminou as ações afirmativas, pois se concluiu que
eram ineficientes e catalisadoras de ódio entre grupos e classes.
Por isso, somente fornecendo educação básica de qualidade para a
população como um todo será possível resolver a questão da exclusão
social em que vivem não só os negros pobres, mas também os brancos
pobres, como aconteceu em diversos países (Coreia do Sul) que saíram
da miséria para estar entre os mais ricos do mundo. Assim, poderemos
ter uma universidade que contemple todos os cidadãos, independen-
temente de sua origem, pois como afirmouFrederick Douglass, em seu
discursoWhat a black man wants (O que um homem preto quer): “O

85
que precisamos fazer com o Negro? Não faça nada com o Negro. (…)
Tudo que peço é que lhe dê a chance de se sustentar com suas pró-
prias pernas (…). Se você somente desamarrar suas mãos e lhe der uma
chance, eu penso que ele sobreviverá.”
Como cidadã, espero que Vossa Excelência, ministro da Educação,
mobilize os órgãos competentes para que essa sugestão venha a con-
cretizar-se.

Atenciosamente,
A. S.
c.a.r.t.a a.r.g.u.m.e.n.t.a.t.i.v.a
Érica Fernandes Costa
Sofia Carvalhaes Cherto Silveira
Vitor Chiodo Soler

São Paulo, 13 de setembro de 2013.

Ao Excelentíssimo Senhor Ministro da Educação Aloizio Mercadante,

No decorrer das últimas duas décadas, políticas de ações afirma-


tivas foram cada vez mais discutidas e, em alguns casos, efetivadas.

86
Algumas renomadas instituições públicas de ensino superior, como
a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Universidade de Brasília
(UnB), adotaram-nas antes da medida aprovada pela presidente Dilma
Rousseff, que padroniza a adoção de tal política (sob a forma de 50%
das vagas destinadas a cotistas) em todas as universidades federais.
Apesar da Lei de Cotas representar uma grande possibilidade de maior
integração social no ensino público superior brasileiro, acredito que
Vossa Excelência concorde comigo no que tange à necessidade de se
criarem políticas complementares para solidificar as conquistas já al-
cançadas.
Além do sistema de cotas, também deveria ser implantado simul-
taneamente um programa de melhorias no ensino público atual, tan-
to no quesito qualidade quanto infraestrutura. O estado em que se
encontram as escolas públicas e o ridículo salário dos professores é
inaceitável para um país que vem se destacando no cenário mundial.
Como podemos almejar uma igualdade na competição por uma vaga
na faculdade se os estudantes têm diferenças preparatórias tão gritan-
tes? Se esse modelo persistir, as cotas estarão tentando afirmar uma
igualdade utópica, mascarando a diferença com a maior entrada de
estudantes do sistema público em instituições estatais de ensino, pro-
vocando uma falsa impressão de integração social.
Em relação ao programa de melhorias citado acima, permita-me,
Vossa Excelência, explicar com mais detalhes. Além do importantíssi-
mo investimento na educação de base, a criação de um reforço escolar
– ou cursinho pré-vestibular – seria de grande ajuda para aqueles que
se preparam para o ingresso na vida acadêmica por meio de cotas.
Este curso preparatório funcionaria de maneira semelhante aos muitos
cursinhos particulares que se encontram atualmente, tendo, no entan-
to, suas particularidades, como convém aos estudantes que também
apresentam uma situação escolar peculiar: além de ser considerado
uma instituição pública e gratuita, seu corpo docente teria, como meta

87
educacional, compensar, de maneira sucinta, as deficiências escolares
de tais alunos. As inscrições, abertas para alunos a partir do 1º ano do
Ensino médio público, para o curso seriam voluntárias e a participação
dos alunos contaria como uma porcentagem (a definir) na nota final
do vestibular.
Garantir o acesso de todos à educação de qualidade é a principal
função das ações já citadas; no entanto, a simples e pura implemen-
tação delas, a meu ver, não resolverá o problema que por elas deveria
ser combatido. Espero que Vossa Excelência leve em consideração os
fatos expressos.

Atenciosamente,
E. S. V.
r.e.l.a.t.o p.e.s.s.o.a.l
substantivo masculino

1. ato ou efeito de relatar; relação

88
2. exposição escrita ou oral sobre um acontecimento;
narração, descrição, informação

O relato pessoal tem como objetivo descrever expe-


riências vividas por quem assina o texto.

(Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa)


A realização
de um sonho
Laura Rudella Tonidandel
Leonardo Lombardero Sanchez

Desde a minha infância sonhava em ser médica. A realidade finan-


ceira de minha família, porém, desencorajava-me, pois a possibilidade
de uma graduação em medicina, um curso extremamente concorrido,
sempre foi muito pequena para aqueles que, assim como eu, nunca
tiveram acesso à educação de base de qualidade. Apesar de dedicada
nos estudos, sempre soube que haveria pessoas muito mais bem pre-
89
paradas que eu, formadas em tradicionais colégios particulares cario-
cas e que haviam passado por cursos preparatórios para vestibulares,
competindo pela vaga que eu tanto almejava. Apesar disso, nunca de-
sisti de meu sonho.
Foi então que a Universidade Federal do Rio de Janeiro, juntamente
com outras instituições de ensino superior brasileiras, anunciou sua
adesão ao programa de cotas para estudantes advindos de escolas
públicas. Imediatamente identifiquei nesse projeto uma grande opor-
tunidade para realizar o meu desejo. Inscrevi-me para os principais
vestibulares fluminenses e me dediquei aos estudos, conseguindo ob-
ter uma vaga naquela que seria a primeira turma de cotistas da UFRJ.
Hoje, já formada, sei que, não fosse pelo sistema de cotas recém im-
plantado no Brasil, o caminho para a graduação em medicina que teria
que percorrer seria muito mais longo ou até mesmo impossível, uma
vez que a desigualdade na formação entre estudantes oriundos de
escolas públicas e particulares é imensa. O programa de cotas não só
possibilitou a realização de um sonho, mas mudou completamente a
minha vida. Formada em um dos melhores cursos de medicina do país,
sinto que agora tenho as condições exigidas de um grande profissio-
nal da área da saúde, podendo construir uma brilhante carreira no fu-
turo, ajudando as pessoas nessa que é uma das mais belas profissões.
Além de mim, milhares de outros jovens que antes eram desencora-
jados pelos entraves de alcançar o ensino superior, devido à decadente
situação do ensino público de base no Brasil, agora têm uma maior
chance de ingressar em um curso de graduação, dando continuidade
e aprofundamento à sua educação e permitindo maiores oportunida-

90
des de emprego e ascensão social. O sistema de cotas para estudantes
de escolas públicas não é somente um simples projeto de nosso atual
governo, mas representa a possibilidade de mudança no panorama
socioeconômico do país, contribuindo para a diminuição da desigual-
dade e colocando um fim à falta de formação de grandes parcelas da
população.
Outros investimentos ainda precisam ser feitos, principalmente na
área de educação de base, mas é importante ressaltar que as cotas
representam o primeiro grande passo para uma mudança significativa
no posicionamento do Estado brasileiro frente aos grandes problemas
educacionais e socioeconômicos existentes em nosso território. Assim
sendo, este pode ser o anúncio das mudanças tão aguardadas por
mim e por outros milhares de indivíduos que anseiam por uma maior
igualdade de oportunidades em nossa nação.
Cotas: uma vitória
para o meu futuro
Giulia Bianca de Britto Peluso Tenca

Ainda me lembro das sensações que experimentei quando estava


prestando o vestibular. O nervosismo, a ansiedade e o medo, todos
os candidatos sentiam, já que o futuro de cada um naquela sala seria
determinado pelo desempenho na prova. Mas o meu medo era maior,
porque eu era apenas uma cotista em meio a alunos privilegiados de
preeminente educação.
91
Enquanto a maioria dos meus “adversários” havia estudado em uma
escola privada, recebendo uma educação de qualidade, eu estudava
em uma escola pública, cujo ensino de base não me oferecia condições
de concorrer com igualdade com os outros candidatos. Sendo assim,
as chances de entrar em uma universidade conceituada, principalmen-
te no curso de medicina, um dos mais disputados no país, eram pe-
quenas. No entanto entrei pelo sistema de cotas. Minha nota no vesti-
bular foi boa, um pouco acima da nota de corte, mas não me deixava
entre os primeiros da lista. Com o sistema de cotas, fui selecionada e
tive a oportunidade de ingressar na Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Seria a primeira pessoa da minha família a ter curso superior.
Sabia que, ao entrar na faculdade enfrentaria preconceito social,
já que eu era uma garota branca, de classe social baixa que estava na
universidade apenas por causa de um privilégio. A maioria dos meus
colegas não expressava diretamente a sua antipatia por uma meni-
na cotista estar uma universidade de qualidade, porém, demostravam
com clareza sua hostilidade pelo olhar. E era nesses momentos que
eu me sentia reprimida; mas nem por isso deixei de concretizar meu
sonho.
Certa vez, meus pais me disseram que a minha maior fortuna
é o estudo, pois é o único bem que não podem tirar de mim. Formei-
-me com honras na faculdade, e agora estou dentro de um consultório
exercendo a profissão dos meus sonhos. Acredito que as cotas cola-
boraram para que eu e muitos outros cotistas conseguíssemos ter um
ensino superior e de qualidade, e como consequência estamos aptos a
entrar no mercado de trabalho.

92
O preconceito em relação às cotas ainda existe, mas fui uma vence-
dora. Nós somos iguais, e, portanto, é direito de cada um receber um
ensino superior para termos um futuro melhor.
Mudança de vida
Ana Beatriz Paulesini Cella
Maria Julia Janeiro Pereira
Rafaella Luppino

Sou Iracema Capinambara, tenho 27 anos e sou recém-formada em


medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Nasci em
uma tribo indígena chamada Enawenê Nauê, do Mato Grosso, e devo

93
meu ingresso no Ensino superior ao sistema de cotas. Através do pro-
cesso seletivo de 2006, tive a oportunidade de ser apresentada a um
mundo que não conhecia, uma vez que vivi a maior parte de minha
vida somente dentro da aldeia.
Por três anos tentei ingressar em universidades apenas pelo meu
próprio esforço, porém, sem sucesso. O ensino que recebi ao longo da
minha vida não foi suficiente para que eu pudesse competir igualmen-
te com os demais vestibulandos oriundos de melhores escolas. Sendo
assim, quando a oportunidade do sistema de cotas surgiu, imaginei
que fosse a melhor solução para mim. E de fato foi. Ingressei na facul-
dade no mesmo ano.
Imaginava que a universidade seria diferente do que realmente foi.
Sofri preconceito de todas as formas possíveis, tanto por ser uma co-
tista, quanto por ser indígena. O estereótipo de índio perseguiu-me ao
longo de minha vida universitária, uma vez que as pessoas que eu ima-
ginava cultas e intelectuais, na verdade, se mostraram ignorantes. Dia-
riamente, era questionada com perguntas que descontextualizavam o
que realmente sou, a exemplo de “Você vive no Amazonas?”, “Você
anda nua em sua tribo?” e até “Você come apenas peixe e mandioca?”.
Apesar do preconceito pelo qual fui cercada, o respeito coexistiu.
Encontrei pessoas que me ajudaram a enfrentar todas as dificuldades,
tanto na convivência, quanto nos próprios estudos. Entrei em conta-
to com diversas culturas e, do mesmo modo que aprendi, muitos de
meus colegas aprenderam comigo. Sem o sistema das ações afirma-
tivas, eu ainda estaria lutando por uma mudança em minha vida pelo
reconhecimento do meu povo.
Hoje sou uma médica formada e curso minha residência no Hospital
de Ipanema. Mensalmente, viajo para a minha tribo para fornecer cui-
dados, além de ensinar alguns procedimentos médicos básicos. Agra-
deço imensamente às cotas por terem mudado minha vida e acredito
que essas possam representar a mudança na vida de muitos outros

94
brasileiros.
De igual para igual
Alessandra Ehlke Mucerino
Renata de Lara Campos Coelho

Quando olhei o meu nome na lista de alunos aprovados, não acredi-


tei; precisei de alguns momentos para absorver a informação. Eu, uma
aluna de escola pública da periferia do Rio de Janeiro, tinha entrado na
faculdade de medicina. Meus pais, avós, tios e tias não poderiam estar

95
mais orgulhosos; fui a primeira pessoa da família a completar o ensino
médio e, além disso, fui a primeira a ter a oportunidade de cursar uma
universidade.
Meu pai é mecânico e minha mãe, empregada doméstica. Apesar de
não terem muito estudo, sempre me incentivaram a aprender. Quando
eu era pequena, minha mãe me levava para a escola de manhã bem
cedinho para poder pegar mais duas conduções e chegar ao trabalho
a tempo. Na hora da saída, meu pai me buscava e íamos, juntos, almo-
çar. Depois, íamos para a sua oficina e, enquanto ele consertava carros
e motos, eu fazia minhas lições de casa. De vez em quando, ele ia até
mim, olhava orgulhoso para minhas lições e dizia: “Continua estudan-
do que um dia você vai longe, minha filha”.
E fui. Hoje, sou formada em medicina pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro, graças ao sistema de cotas do governo. Nas primeiras
semanas, fiquei um pouco nervosa, com medo de que os outros estu-
dantes, provenientes de escolas particulares e com condições sociais e
financeiras melhores que as minhas, me discriminassem. Contudo, com
o passar do tempo, percebi que não. A turma foi bastante simpática e
me tratava como qualquer outra colega. Ficavam muito surpresos com
o fato de que, mesmo vindo de uma escola pública, eu tivesse algumas
das maiores notas da sala. Além da minha paixão pela profissão, meu
empenho fazia com que eu superasse algumas falhas em meu currícu-
lo escolar e seguisse adiante.
Algo que percebi ao longo da faculdade foi que, assim como eu,
os alunos cotistas, ao contrário do que alguns dizem, não desistem
da faculdade. Primeiro, porque estudamos muito para chegar até lá;
apesar de termos sido favorecidos pelo sistema de cotas, nossa nota
de corte para ingressar na universidade foi muito próxima da nota dos
não cotistas, com a diferença de apenas dois ou três pontos. Também
porque nosso futuro depende da nossa graduação; sabemos que, se
desistirmos do curso, não teremos condições de pagar outra universi-

96
dade, assim, inevitavelmente, teremos de encontrar trabalhos similares
aos de nossos pais e não ascenderemos social ou financeiramente.
Na minha opinião, o sistema de cotas deve continuar a ser implan-
tado pelo governo para que pessoas como eu tenham acesso a boas
universidades. Entretanto, o governo deve também melhorar o ensino
nas escolas públicas para que, um dia, as cotas não sejam mais neces-
sárias e possamos todos concorrer de igual para igual.
Estudo, esforço
e vontade
Felipe Nasser de Carvalho Romano
Patrícia Mutti e Mattos

No instante em que nasci, meu futuro já parecia definido. Filho de


mãe negra e empregada doméstica e de pai branco e mecânico, cresci
em um bairro pobre do Rio de Janeiro e ter uma profissão igual à de
meu pai parecia ser o único caminho viável. Antes de iniciar meus es-
tudos, eu passava horas com ele na oficina e, às vezes, o ajudava em
pequenas tarefas. Tudo mudou, porém, quando entrei na escola.
97
Era um colégio público como todos os outros; as professoras ten-
tavam ao máximo incentivar os alunos a contornar problemas estrutu-
rais, mas tanto esforço era em vão. Assim como a maioria das crianças,
eu pouco me interessava pelo conteúdo que era ensinado e até atra-
palhava as aulas com brincadeiras de mau gosto. Meu comportamento
só mudou no oitavo ano, quando uma nova professora me fez perce-
ber que os estudos poderiam me garantir um futuro diferente, afas-
tado da pobreza e marcado por conquistas profissionais. Ela criou em
mim o gosto pelos livros e até pelo hábito de estudar que, por tanto
tempo, eu havia detestado.
Durante o Ensino médio, as aulas de Biologia eram as que mais me
fascinavam e isso, somado à minha vontade de cuidar das pessoas,
influenciou minha escolha pelo curso de Medicina. Meu desejo de se-
guir essa carreira era muito grande, mas eu sabia que seria obrigado
a superar muitas dificuldades. Os recursos financeiros de minha famí-
lia eram escassos e, portanto, eu poderia cursar apenas universida-
des públicas. Essas, por sua vez, eram as mais disputadas e muitos de
meus concorrentes eram estudantes de escolas particulares e haviam
recebido um ensino muito mais completo do que o meu. Em nenhum
momento, porém, pensei em desistir do meu sonho.
Enquanto eu cursava o terceiro colegial, a Universidade Federal do
Rio de Janeiro aderiu à Lei de Cotas. “Esta é minha oportunidade”,
pensei. Inscrevi-me no vestibular, usando o critério de baixa renda fa-
miliar e mesmo sabendo que, com isso, as minhas chances de entrar na
faculdade cresceriam, nunca deixei de estudar tanto quanto meus con-
correntes. O dia da prova chegou e eu estava muito nervoso, mas sabia

98
que havia feito tudo o que podia. Felizmente, todo o meu esforço foi
recompensado e eu fui aprovado na primeira lista divulgada pela UFRJ.
Antes de as aulas se iniciarem, minha mãe alertou-me que eu po-
deria sofrer algum tipo de preconceito na faculdade, já que havia sido
beneficiado pelas cotas. De fato, alguns alunos me tratavam com des-
prezo e sempre esperavam que eu cometesse algum erro tolo. Tive
algumas dificuldades, mas consegui provar para todos que estava na
universidade por mérito, e não por mera sorte. Durante os seis anos de
curso, sempre me mantive entre os alunos mais destacados e partici-
pativos da turma e formei-me com tantas honras quanto os estudan-
tes não cotistas.
Hoje, já estou formado e trabalho em hospitais do Rio de Janeiro, e
também em ONGs que atuam em bairros carentes da cidade. O meu
sonho de ser médico foi realizado e, ao rever minha trajetória, tenho
plena consciência de que a Lei de Cotas foi fundamental para isso.
Não tenho a mínima vergonha disso, porém, pois sei que ela é justa
ao oferecer oportunidades para pessoas que por tantos anos foram
prejudicadas pela desigualdade de nosso país.
Meu maior desejo agora é continuar trabalhando em áreas mais
carentes, pois quero ser um exemplo para os jovens pobres que não
acreditam no poder transformador dos estudos. Espero poder provar
para eles que um futuro não é definido pelo nascimento, mas sim por
nossas escolhas, nosso esforço e nossa dedicação

99
Relato de
minhas memórias
Anna Beatriz Anselmi Siviero
Gabriel Bernard Venelli Medina

Começo o relato de minhas memórias a partir da morte. Não da mi-


nha, claro, pois ainda não me tornei um defunto autor, mas de minha

100
mãe. Ela não faleceu de velha, nem de câncer, nem de qualquer doença
crônica e sem cura.
Na minha terra não havia, e ainda não há, médicos suficientes para
atender a totalidade da população, mesmo sendo ela constituída ape-
nas por seiscentos e cinquenta habitantes. Minha mãe procurou-os,
durante todos os dias de sua doença, mas não os encontrou. Os con-
sultórios estavam fechados por conta de uma greve. Nesse estado, o
único amparo que encontrou foi o divino, enquanto um pequeno ga-
roto trazia chá todas as noites somente para vê-la sorrir. Após um mês
inteiro de muita tosse e febre, morreu de uma simples gripe.
Imaginem agora a raiva alimentada em meu coração por ter perdido
o amor maior de minha vida por uma causa tão fútil. Uma gripe! Com
alguns comprimidos e um simples direcionamento médico, minha mãe
estaria mais viva do que nunca hoje, pois seu orgulho transbordaria
pelos olhos. Toda a minha raiva converteu-se em um grande sonho.
Sonho esse que realizo neste dia.
Após sete anos de muito estudo, formei-me em medicina pela Uni-
versidade Federal do Rio de Janeiro, com o orgulho de ser um dos pri-
meiros negros a concluir o curso pelo sistema de cotas raciais e sociais.
Inscrevi-me nesse programa com total sentimento de justiça. Enquanto
onde nasci nunca recebi nenhum serviço público de qualidade – que
é direito de todos os cidadãos - um menino da capital, de escola par-
ticular, desfrutava de bons professores e médicos. Enquanto na minha
escola não havia nem mesmo “lecionadores” de algumas matérias, o
menino recebia diariamente acompanhamento de suas lições de casa.
Seria justo aplicar o mesmo método de seleção para nós dois, sendo
que nós tivemos nossos direitos manifestados de forma totalmente
diferenciada? Os teóricos dirão que sim, pois somos todos iguais, in-
dependentemente da classe social e da cor de pele. Os realistas não.
A adoção desse sistema mostra como o governo tornou-se um pou-
co mais realista, reconhecendo existência do racismo. Existem inúme-

101
ros meios de combatê-lo. Um deles é a adoção das cotas raciais, pois
isso possibilita maior interação entre brancos e negros. Se existe hoje
uma pessoa que realmente se preocupa comigo é meu amigo Marcos,
branco, rico e, a partir de hoje, médico também. Ele costuma me dizer
abertamente que, antes de entrar na faculdade, tinha certo receio de
se relacionar com negros. Um medo, como qualquer outro, do que lhe
era de certa forma desconhecido, pois onde estudava havia pouquís-
simos negros. Nosso contato tornou-nos em pouco tempo amigos de
infância.
Com novos amigos, um diploma na mão e uma força extraordinária,
enfim realizarei meu grande sonho. Voltarei para a minha terra. Sei que
não vou ser rico e que nunca serei um médico renomado. Isso, para
mim, não é prioridade. Pretendo apenas estender minha mão a quem
está caído, amparar quem mais precisa de ajuda, para que outros não
sofram o que eu sofri.
Uma chance
Matheus Armani Renzo
Renan Letizio Di Giulio

Meu nome é Jonathan, sou negro, cotista e hoje sou formado em


medicina numa das melhores faculdades do Brasil, a UFRJ. Sou de ori-
gem humilde, o mais velho de cinco irmãos e já passei fome. Minha
mãe cuida dos filhos e não trabalha. Meu pai é policial, ganhando nada

102
mais do que dois salários mínimos e sofrendo os riscos naturais da
profissão. Desde os dez anos sempre quis ter um emprego para ajudar
a minha família. Porém, meus pais sempre fizeram questão de que eu
estudasse para ter um futuro melhor.
Cursei a escola pública durante toda a minha vida. Nela, os profes-
sores constantemente faltavam às aulas. Muitos não eram capacitados
para lecionar e o governo fingia que não sabia o que estava aconte-
cendo. Mesmo assim, sempre me esforcei para tirar as melhores notas,
com a esperança de que, um dia, seria recompensado por isso.
Quando recebi a notícia da criação do sistema de cotas fiquei muito
feliz. Finalmente teria uma chance de concorrer com alunos de escolas
particulares por uma vaga em uma excelente faculdade. Apesar de ser
um dos melhores alunos da rede pública, o ensino era muito defasado
em relação ao das escolas privadas. Ao final do terceiro ano do Ensino
médio me inscrevi na UFRJ e fui aprovado. Minha família, que sempre
me apoiou, ficou muito feliz. Enfim, teria a oportunidade de uma vida
melhor.
Logo no começo do curso, a matéria era difícil e tinha que me es-
forçar muito mais do que na escola para conseguir boas notas. Além
disso, sofria preconceito por ser negro, sendo chamado de vários ape-
lidos preconceituosos. Cheguei a pensar em desistir da faculdade. No
momento mais difícil da minha vida, porém, os meus familiares esta-
vam lá, me apoiando, fazendo com que eu não desistisse, porque, um
dia, “chegaria a minha hora”.
Terminei o ensino superior, tenho um emprego num hospital parti-
cular do Rio de Janeiro e ganho um bom salário. Tenho um irmão que
faz engenharia naval na UERJ. Comprei uma casa para meus pais e
meus outros quatro irmãos, os quais agora estudam em escolas parti-
culares. Meu pai não precisa mais trabalhar como policial para susten-
tar a casa. E o único final que eu posso dar a esse relato é que “valeu
a pena”.

103
Vencendo barreiras
com as cotas
Bruno Tucci Ferrari Caldeira
Francisco José Begliomini Giannoccaro

Sou um vencedor. Venci a injustiça, o preconceito, a tradição elitista.

104
Venho de uma família humilde do Rio de Janeiro. Na minha casa, no
Morro do Alemão, moram sete pessoas. Sou o único com formação
superior. Mas não me considero superior aos outros. Sou apenas um
batalhador; meu fiel escudeiro, a Lei de Cotas. Formei-me em Medicina
na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no ano passado, e
hoje trabalho no SUS (Sistema Único de Saúde), ajudando pessoas que
não têm muitas oportunidades como eu tive.
Ninguém na minha família fez faculdade e por muito tempo eu
também pensei que eu também não faria. Quando estava no colégio,
achava que o meu futuro seria ser ajudante de pedreiro, como meu
pai, pois curso superior era para pessoas de classes mais altas. Todos
os meus irmãos, quando saíram da escola, logo começaram a traba-
lhar para ajudar na renda da família e eu imaginei que teria que fazer
o mesmo.
Quando ouvi falar na possibilidade de implantação de cotas na UFRJ,
não acreditei. Sempre fui um aluno dedicado, mas nunca pensei que
isso me traria algo. Quando as ações afirmativas foram confirmadas
para o vestibular do ano seguinte, muita polêmica foi gerada, mas eu
fiquei muito feliz e vi isso como uma oportunidade para mim. Quando
saiu a lista dos aprovados para o curso de medicina, houve muita emo-
ção. Foi feita muita festa na minha família.
No inicio do primeiro ano da minha faculdade, havia muito precon-
ceito quanto aos cotistas; as pessoas diziam que nós não merecíamos
estar ali, e que havíamos tirado a vaga de outras pessoas melhores
que nós. Com o tempo, consegui provar que eu era melhor que muito
aluno de escola particular, sendo que a única diferença era que eu não
havia tido as mesmas oportunidades no passado.
Hoje posso dizer que a Lei de Cotas foi uma das melhores coisas
que me aconteceu, pois ela abriu oportunidades que, de outra manei-
ra, não teriam sido abertas a mim. Espero que ela continue ajudando

105
muitas pessoas, da mesma maneira que ela me ajudou, e que possa
democratizar o acesso ao ensino superior no Brasil.
106 Debate in
English
Affirmative actions: a debate at school
“Having gone thru the experience of Affirmative Actions Project
was like a big-way-profitable ride I took into a subject, along with my
buddies from “3ª série - ensino médio” that led us into a room for
discussions that could have lasted countless classes due to the atmos-
phere we soaked up, taking everyone´s opinions into account even
though opinions being divided. But the respectful behavior towards
everyone´s view was exactly a major factor to me once and for all,
attitude of which is going to be taken for life out there in their new
world to come.”
Prof. Marcos Paulo Gerônimo

“The interdisciplinary project Affirmative Actions was very


rewarding for all the involved; students, teachers, and coordinators.

107
The partnership between the different fields of knowledge – English,

107
Geography, History, Philosophy, Portuguese and Sociology – has
resulted in the contextualization of this current issue and the positive
results have become visible in the texts of different genres, in English
and in Portuguese, produced by the students of “3ª série - ensino mé-
dio.”
Profª Marília Briza Negrini

“It was rewarding the result of the piece of work done by students
from “3ª série – ensino médio” about Affirmatives Actions/ Quotas. The
engagement and the willingness with which the students developed
the texts of different genres demonstrate the maturity of the English
language and awareness of the challenge that is to come not only in
academic life in Higher Education but also in professional life.”
Profª Semíramis Toledo
p.o.e.m
Noun

1. A verbal composition designed to convey experiences,


ideas, or emotions in a vivid and imaginative way, charac-
terized by the use of language chosen for its sound and
suggestive power and by the use of literary techniques
such as meter, metaphor, and rhyme.
2. A composition in verse rather than in prose.
3. A literary composition written with as intensity or beauty
of language more characteristic of poetry than of prose.

108 (From The American Heritage Dictionary of the English Language)

l.y.r.i.c.s
Noun

1. Of or relating to a category of poetry that expresses sub-


jective thoughts and feelings often in a songlike style or
form.
2. Relating to or constituting a poem in this category.

(From The American Heritage Dictionary of the English Language)


Never More
Bárbara de Freitas Carli
Beatriz Poloni Batista
Gabriela Ramos de Andrade Bedoni

This dream became possible to me

109
I can be whatever I want
I can do whatever I want
Now it became true
And I say “never more”

Now I am equal no matter what


It does not care if you are black
White, Black, Japanese, rich or poor
Now everybody can do the same
And I say “never more”
Everybody has the same dream
But before some could not do it
Now everything can be realized
And I say “never more”

It is the end of racism


It is the end of prejudice
It is the end of difference
It is the end of injustice
And everybody says “never more”

110
The Time Has Come
Daniella Franckevicius Miranda
Isabela Comegna dos Santos
Linda Salem Abed El Massih

For those who have been excluded

111
The chances will rise
The time for racism is over
History has taken your opportunities away
But now it is different
New times are coming
And affirmative actions will change your lives

The world will be able to unite


The day Martin talked about is around the corner
And time for prejudice is over
Affirmative actions are the way
Best chances make a better world
And we are the ones that will create them
Soul
Bruna Scramuzza Barreto
Bruno Thomé de Souza Magnoni
Rafaela Rachid Alfano

Black is the colour


The soul is the same

112
Doesn’t matter the power
Condition remains

The haste solution


Will bring injustice
For the poor education
We’ve got the first place

For the problem to end


The deeper we cave
The basic education
We do have to change
Doubt
Amanda Limãos Maia
Ana Luiza Khouri Fontana

Affirmative actions, what a riddle they are


Causing extreme reactions,

113
leading thoughts so far
Away from strand, and close to reflection
Who can understand, such
segregated action?

Good in intention, prejudicial in results


With its might intervention,
combating insults
But failing its duty, aggravating racism
Neglecting its beauty, feeding elitism
If time was determined, and an end established
Hate on the native, poor and
colored, would have vanquished
But we shall fight this moral
aggression, and surpass this shame
If we keep on asking the
question: when will we all be the same?

114
My Future Is Now
Sofia Carvalhaes Cherto Silveira
Vitor Chiodo Soler

I have no school
It´s no good

115
I have nothing to want
That´s…not…fun

I have no school
I have no school
Maybe that´s why…why
I look for butterflies
In the deep grey sky
Ooh Oooh Oh Oooh Ooh Oooh Ooh
Wishing something more in the end of the day
Won´t get me any good SAT´s grades
When my future is gone
Could I be a subject to the Pentagon?
I have no school
And wish to have no color too
I have nothing to want
That´s… not fun
Maybe when my world falls apart
I´ll be the one who gets the girl and the car
I want to go… I want to fly
Like a butterfly in the deep great sky
My future is now

116 With no pounds


Maybe when I´m gone
I´ll be a subject to the Pentagon
Circle of Life
Érica Fernandes Costa

When I was born


Down in the corner of poverty

117
They gave me no food (x2)
They only treated me like a fool

When I was a little child


Drowned in the sea of misery
They gave me no school (x2)
They only saw me as a fool

When I was a weak teenager


Docked by the sickle of criminality
They didn´t want me to be cool
They only saw me as a fool

When I was a temporary worker


Drugged by the poison of cruelty
They didn´t pay me as they should
They only saw me as a fool

Now that I am an unknown tombstone


Dropped off this path of inequality
They still don´t let me be you
They just killed me because I´m a fool

118
We Live In a World
Terrila Han Beul Kim
Victoria Messora Cicero de Souza

We live in a world
That black, white and yellow

119
Are considered different
We live in a world
That poor people don´t have the right chances to study,
To move up the ladder, to increase their knowledge

We live in a world
That racism and prejudice are around us
We are living through
Such troubled time
But wait, I can see the light coming
There is an exit
Opportunity to those who never had
Possibilities to live and not just to survive
We live in a world
That black, white and yellow
Are considered different
That poor people don´t have the right chances to study,
To move up the ladder, to increase their knowledge

120
They’re Coming
Bruna Alcolea Zavataro Kwasniewski
Madalena Pereira Bonifácio Lopes
Marina Garufi Kist

Where are the opportunities?


They took too long

121
But now I can see them
They’re coming
Where are our rights?
I fought too long
But now I see it’s worth it
They are coming

They are coming


They are coming
I was walking
Now I’m running
We can fight
We can try
Now we have the same rights

Where is our education?


We all have the same blood
And now they realized it
They are coming

They will take us to places


We’ve never been
Can’t stop now
We’re winning this battle

122
e.s.s.a.y
Noun

1. A short literary composition on a single subject,

2.
usually presenting the personal view of the author.
Something resembling such a composition:
a photojournalistic essay.
123
(From The American Heritage Dictionary of the English Language)
Quotas: a Controver-
sial Solution
Camila Carvalho Cunha
Leonardo Lombardero Sanchez

124
In 2012 the Brazilian government announced a project of quotas for
Federal universities, willing to increase the number of students from
public schools in public universities. The topic has been dividing opi-
nion, mainly because government also wants to benefit historically
marginalized racial minorities. Some people, just like me, are partially
against it.
It’s important to help those who can’t afford a private university.
If they don’t get in the public system, they will probably give up gra-
duation and will find it difficult to succeed in their career. Due to this
situation, poverty will hardly end in our country.
Quotas for racial minorities are different. In a country such as Brazil,
full of miscegenation, most of the population has already had a black
or indigenous ancestry. Therefore, the majority of the Brazilian families
have suffered with prejudice before and then the quotas project loses
its purpose, since it would have to be applied for almost every family.
Other problem would be the fact that racial minorities who need
help to graduate are already included in the quotas for those with low
budget.
The Brazilian quotas project is definitely controversial due to the
discussion it has caused between the populations. Our authorities cer-
tainly need to think about the best option on how to use it and how to
administrate our public educational system, being fair and democratic
with the whole population.

125
Real Actions
Beatriz Ji Hye Hong
Clara Varandas Abussamra
Gabriela Colacrai Arikita

It has been approved in Brazil, since 2012, by the Supreme Federal


Court, the Affirmative Actions policy. This system in which 20% of the
public universities reserve 50% of their available space to guarantee
that neither black people, nor low-income people are being excluded

126
from the society. Even though some may claim that this decision will
bring positive results, others present opposed ideas.
With the racial affirmative actions, the government looks for equa-
lity. However, at the same time, it is promoting a segregation law, se-
parating the society by color. Furthermore, the student should join the
university due to his or her merit and hard work. Creating this structure
will not help to solve the education problem, but only hide it from the
population´s sights. Investing on the fundamental education is a solu-
tion that the government could work on to help solve this puzzle from
the start rather than changing the results of the policy competence.
On the other hand, this system works as an emergency tactic, whi-
ch must be accompanied by improvements in the deficient areas. In
Brazil, the huge lack of investment on public education affects those
who do not have enough conditions to compete with private school´s
students. This system would thus give a bigger chance to the impaired.
In the case of the racial affirmative actions, it is a way to compensate
the inequity that occurs mainly because of the historical past of African
slavery. This type of initiative pretends to conquer a greater equality in
the society.
In addition, a higher entrance of lower social classes in public uni-
versities can result in a larger diversity, which is in need nowadays.
Students who can afford elevated quality of graduation represent only
a small share of the society, and even so they dominate largely the pu-
blic means of graduation. New points of view may emerge, and totally
different projects and ideas can also appear. The minority that usually
obtains the better opportunities can, by the adoption of the affirmative
actions, then, blend with those who live in poor conditions. These ones
conquer the power to influence their environment.
The majority of those who agree to think that the affirmative ac-
tions will only harm the ones that were approved by merit, must have

127
in mind that the system is only looking for social inclusion for those
who are indeed prejudiced every day for the lack of good educational
system in the country. And for the others who believe that this gover-
nmental project is indeed a start of a future progress, they must have
only faith and confidence that, this time, some real effective action will
change the course of society´s education.
A Wide Discussion
Fernanda Paula Salomão
Madalena Pereira Bonifácio Lopes

Affirmative actions are being widely discussed nowadays. They mean


positive steps taken to increase the representation of black people and
minorities in areas of employment, education and business, from whi-
ch they have been historically excluded. However, this issue generates

128
intense controversy.
On the one hand, it is a form of compensation for their past exclu-
sion from the academy and the workplace. In addition, the better the
institution a student entered, the more he was likely to graduate, to go
on to further education, and earn a good income, neutralizing unear-
ned advantages by the white.
On the contrary, it violates the public equality, which defines citi-
zenship. Moreover, the majority of those who need quotas are not able
to afford the expenses studying requires, such as books, transporta-
tion, feeding...
Furthermore, while it is a form of “paying” a past debt to these pe-
ople, it also harms the ones who invested a good amount of money in
quality education. Therefore, it is important to balance the positive and
negative aspects before making the right decision.
Democracy
and Quotas
Ângela Perrone Barbosa
Isabella Esparré Duchêne
Laura Rudella Tonidandel

Recently, the affirmative actions in public universities have genera-

129
ted considerable discussion. The quota policy for public universities,
adopted in 2013 in Brazil, is a project that provides the inclusion of
socially and economically disadvantaged social groups in federal uni-
versities. Thus, people with low income and / or declared colored will
have their chance to get into public universities increased. It is a fact,
however, that this project is against the principles of democracy.
Despite the attempts to do a ”historical repair” planned by the affir-
mative actions, the measure cannot be entirely considered fair or de-
mocratic, since it harms the population that seeks to enter universities
through meritocracy and, for this, dedicated solely to the study, not
counting on government aid.The quota, when attempting to provide
equal conditions to all, is fair. Nevertheless, when it benefits certain
groups based on their races, it becomes not completely democratic,
falling into contradiction, since its purpose should be to provide equal
opportunities for all and not give more help to a certain part of the
population.
50% of the quotas will be designated to colored people. The racial
issue of the affirmative action is harmful to democracy. The concept of
“races” among men is actually a controversial and obsolete topic no-
wadays, inappropriate for this kind of government project. Currently, it
is very difficult to define criteria for a division of “races”. This is not a
biological issue; there is no way to make a genetic mapping of all in-
dividuals to define the percentage of American Indian influence, Asian
or African descent in each. Often, someone who considers himself or
herself white has a much larger ascendance from slaves then a person
who is considered black. A situation in which two young men who
dedicated themselves in the same way to join a college will have their
future defined by their color is something that harms the meritocratic
principle of democracy. All individuals should start from the same base
and have the same or similar potential of competition.

130
Quota for students coming from public schools and those having
low monthly family income should be put into practice in Brazil. Our
educational policies do not follow the needs of our frail and backward
public education. With deficient education guaranteed by our govern-
ment, it becomes extremely difficult for a student coming from a public
school compete to join the leading Brazilian universities. This same
student, who does not have adequate preparation to face a large pu-
blic university entrance exam, is unlikely to have a household income
that can make him or her attend a private university. Thus, it becomes
impossible to graduate in an institution of higher education. Therefore,
it is important that the Government facilitates the entry of this group
of the population in public universities, because that is the only way to
significantly increase the number of young people enrolled in higher
education institutions in Brazil and hence, will also increase the income
of those families that previously found it difficult to enter the marke-
tplace due to the its demands in relation to undergraduate degrees.
Theoretically, as proposed in The American Civil Rights legislation
(Civil Rights Act), 1964, which is the main starting point of this policy,
affirmative action attempted to minimize the effects of discriminatory
practices rooted in society against some social minority groups, throu-
gh programs and policies that gave preference to individuals from such
groups in getting jobs and access to higher education. Thus, the state
tries, with the quota system, “to correct” the Brazilian historical process
that excluded socially American Indian and African descent, following
the principles of the American ideal of “affirmative action” to help so-
cial inclusion of these groups through higher levels of education. Un-
fortunately, we do not live in an utopia, and the policy of quotas is far
from bringing a real solution to the socioeconomic exclusion of some
groups in society. Instead of facilitating the entry of some groups in
public universities, the government should provide a qualified basic
education for all groups in society and, in addition, to do more social
aid programs that promote culture and economic development in the
most needed regions of Brazil. Only by doing this, our country could
really get rid of the stunning socioeconomic inequalities that has been
haunting our country since its beginnings doing it with justice and
131
following the basic principles of Democracy.
Educational
Maneuvers
Luciana Moreira Kanarek
Paula Leite Serra

Affirmative actions are an attempt to include in society the minori-

132
ties that are usually excluded and persecuted and to end the vicious
cycle of poverty and omission where the major part of the popula-
tion is in. In the USA, this was an Executive Order that was signed by
President John F. Kennedy on March 1961, almost 100 years after the
Emancipation was proclaimed by President Lincoln. Therefore, there is
a direct relation between the law and the racism that surrounded the
country after more than ten million Africans were brought to America
to be enslaved; the Jim Crow laws are one example of the many legis-
lations that legalized unreasonable violence to be committed against
African Americans and imposed the “separate but equal” movement,
in which they were segregated and submitted to inferior conditions.
After that, countries in Western Europe, Asia and South America
have adopted similar procedures, in order to benefit underrepresented
groups in areas of employment, education and business, and to repair
them for past abuse and exploration. In Brazil, though, quotas apply
both for racial and socioeconomic inequalities; in the higher level of
the educational system they are subject of a polemic discussion that
extrapolates this sphere, referring to the precarious public schooling
structure as well.
The attempt to make up for past prejudice and lack of concern and
promote justice is absolutely valid, but if the government wants to have
effective results in changing Brazilians’ future, and not only more votes
on the next election, some investments on the basic sectors of society
become necessary, once the need for quotas evidence social and eco-
nomic problems that are much deeper than just the educational issue.
Affirmative actions are a possible first step towards integration and
overcoming social challenges; in Brazil, though, they are being used as
a demagogic political maneuver that harms free enterprise and meri-
tocracy, because there is no real interest in improving its citizens’ life
and ability to fight for their rights and condemn corruption as it should
be condemned. It is essential to aware the youth, independently from

133
the color of their skin or economic condition, about the importance of
education as a transforming element, capable of building critical and
grounded thoughts that strengthen social relations and edify a plura-
list and demanding country.
A Quick Solution
for a Century-Long
Problem
Lund de Castro Lobo dos Santos
Fábio Braga Iervolino Rodriguez

134 Historically, certain groups of people are left with smaller chances
for most opportunities, and much of this type of prejudice is a con-
sequence of ethnical, religious or social differences. In the particular
case of the Brazilian history, black people have always had fewer op-
portunities in life than white people; ever since the period of slavery
this unfortunate situation has been taking place and the abolition of
slavery (in 1888) did not improve the situation much. However, more
recently, the government has decided to take steps towards improving
this situation through affirmative actions.
This concept of an affirmative action is not complicated. It consists
of recognizing that a certain group of people does have a disadvanta-
ge when competing with another group. So, the government steps in
and makes a policy through which this group of people that have been
suffering discrimination is equaled to the ones that used to have the
advantage. Essentially, the government takes an ACTION, AFFIRMING
that all people have the same juridical rights.
Affirmative actions are not unheard of. When John F. Kennedy was
running for the American presidency, some of his electoral promises
involved sorting out problems related with racism. In the United States,
this has worked. Ever since the 1960s, the Black people in America have
managed to increase their opportunities exceptionally, that is, more
and more African Americans have studied in good schools, had access
to good universities and had the chance to compete in equal terms
with their white counterparts. The American experience has proven to
be a great success; the example has been followed in a global scale.
In Brazil, the government has been adopting affirmative actions to
fulfill social and racial gaps that have been occurring for a long time.
Essentially, it designates a certain quota at federal schools that must
be filled with students that come from public schools, and specially

135
students who are black. This is a way the government determines will
compensate for the gigantic gap that exists between two sides of the
Brazilian society: the rich, white people with access to very good priva-
te schools and preparatory courses for the University exams, and the
class of poor ones, generally black that have to do extremely abysmal
public schools.
Of course, this topic creates much controversy, primarily because it
hurts the principles of meritocracy, as it does not necessarily reward
competence or skills. Plus, the inevitable question is raised: why doesn’t
the government simply improve the public education system? Even if
the answer for that question is disturbing, realities must be recognized.
Even if this is just a temporary, small-scale initiative, it is to be appre-
ciated. After all, one cannot complain about help, can one? The new
generation of college students from humble conditions shall work to
this riddle.
Improvement in
Society
Patricia Mutti e Mattos
Felipe Nasser de Carvalho Romano

United States and Brazil are countries with differences in many as-
pects, but they have a past in common and it is not a glorious one. For

136 many years, the two nations served as stage for an atrocity known as
slavery. Millions of African Americans were forced to leave their com-
munities and abandon their lifestyle in order to become slaves in huge
agricultural properties spread along South and North America. They
had no rights as captives and had to deal with complete social exclu-
sion. Unfortunately, even after the abolition of slavery, which occurred
in 1860 in USA and in 1888 in Brazil, the segregation in both countries
remained. Other groups, such as Hispanics and women, also had their
rights denied for a very long time. The changes only began to occur in
the second half of the twentieth century.
Affirmative action policies are those in which institutions and
organizations take steps to improve opportunities offered to the
groups mentioned above and that, during the history of USA, have
been publicly excluded. They focus on increasing the presence of wo-
men, African Americans and Hispanics in areas such as education and
employment. The initiatives began during the Civil Rights Movement
but, despite the fact that 50 years have passed since then, there are
still many controversies regarding such policies, especially in terms of
college admission. In Brazil, there are similar policies, but there is one
that is most important. The “Lei de Cotas” project, approved in 2012,
gives racial minorities and students from public schools the access to
50% of all slots in public universities.
The debate surrounding such policies is enormous, but it is impossi-
ble to deny that there are benefits. In United States, for example, data
from the National Center on Education Statistics shows that in only 4
years (from 2007 to 2011), the percentage of African American high
school graduates immediately enrolling in college jumped from 56 to
65%. It is a huge advance, considering that up until 1964, African Ame-
ricans faced difficulties even to frequent schools. In Brazil, similar ad-
vances will occur with the “Lei de Cotas”. This law will certainly increase

137
the opportunities given to racial minorities and poor students; after
all, studying in colleges of great notability is one of the keys to achieve
success in one career. It is also important to consider the benefits that
may occur regarding violence in Brazil. It is known that engaging in
criminal activity is not an exclusivity of the poorest segments of society,
but it is also true that the lack of education and, consequently, of a sta-
ble profession are common aspects in many criminals. Thus, with the
end of social exclusion promoted by “Lei de Cotas”, it is possible that
the Brazilian society will become more secure and peaceful.
How then, can an individual condemn laws that can promote such
improvements in societies? The affirmative action policies are not per-
fect, it is true; but they are the closest thing to equality that Brazilian
and American societies have ever come to know.
Affirmative Actions
Mariana Pereira Gomes Santos
Bruno Galvão de França Britto

Affirmative action is a policy designed to fix or counteract the effects


of the discrimination suffered in the past by minorities. It is supposed
to help include and compensate those who were excluded once, and
therefore did not get the same opportunities due to their race, reli-

138 gion, sex or nationality. This policy has been adopted in many coun-
tries around the world, and has proved to be successful in many cases,
guaranteeing the same opportunities for those who were once denied
them.
The United States of America was the first country to adopt this
public policy. In the United States, affirmative actions began as a tool
to overcome the discrimination based on factors of race, color, sex, re-
ligion and national origin during the 1960s. It was established that all
individuals were to be given the same opportunities when applying for
jobs. Throughout time, it has proven to be an effective tool for leveling
out the field that had always proved to be uneven for some.
Another country to adopt this plan was Brazil that as of last year,
established that all Brazilian federal institutions and universities would
have 50% of their slots reserved to students who attended public ins-
titutions during high school, due to financial difficulties or because of
their race. Since Brazil is a nation that has a history of slavery and so-
cial inequality, this initiative is supposed to serve as compensation to
the section of the Brazilian population that has been excluded and not
granted the same opportunities throughout time.
Although these plans have been adopted and successful in many
places, they have not been accepted by all. It is a topic that is still very
much discussed, even today. Those who opposed to the affirmative
action say that instead of guaranteeing equal rights to everybody, it in
fact creates a sense of reverse discrimination. Those who favor it, argue
that the affirmative action policy is so important due to the fact that
the past cannot be erased. Minorities have suffered discrimination and
inequality for many years, and do in fact need to finally be given the
same opportunities as everyone else.

139
c.a.r.t.o.o.n
Noun

140 1. A drawing depicting a humorous situation, often


accompanied by a caption.
2. A drawing representing current public figures or issues
symbolically and often satirically: a political catoon.

(From The American Heritage Dictionary of the English Language)


Adriano Carvalheiro
Luigi Romano Campedelli
Pedro Sant’Ana Wainer

141
Alessandra Ehlke Mucerino
Helena Fraga Dolewczynski de Araujo
Renata de Lara Campos Coelho

142
Bianca Lasmar Leone Negrão
Cristiana de Araújo Cintra Pereira
Nicole Degreas

143
Laura Santos Maia Vinagre Mocarzel
Veridiana Lopes Ribeiro Fiorotto

144
Pedro Giardi Cavalari
Christiane Silveira Mantovani
Walter Von Sohsten Xavier Lins

145
Lia Paula Poloni Batista
Flávio Pelone
Giuliana Cattozatto

146
Victoria Messora Cicero de Souza
Terrila Han Beul Kim

147
148
Presidente:
Dr. José de Oliveira Messina

Diretora-Geral Pedagógica:
Profa Silvana Leporace

Assistente de Direção:
Profa Suely Villaça da Cunha Matiskei

Coordenação de História, Sociologia e Filosofia:


Prof. Carlos Roberto Diago

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Coordenação de Geografia:
Prof. Everaldo Marino Vellardi

Coordenação de Língua Portuguesa:


Profa Maria Cleire Cordeiro

Organização de Conteúdo do Livro (Língua Portuguesa):


Profa Rita Maria de Magalhães Marques
Prof. Sergio Barbosa de Souza

Coordenação de Inglês:
Profa Marília Briza Negrini

Organização de Conteúdo do Livro (Inglês):


Prof. Marcos Paulo Geronimo
Profa Marília Briza Negrini
Prof Semiramis Fernandes Prado de Toledo
a

Coordenação de Tecnologia Educacional:


Profa Valdenice Minatel Melo de Cerqueira
Coordenação do Serviço de Orientação Educacional:
Profa Elenice Maria B. Ziziotti

Orientação Educacional (3ª série do Ensino Médio):


Profa Munira Salomão

Supervisora do Depto. de Editoração/Gráfica:


Vannia Chiodo Silva

Gerente de Marketing:
Fernando Lopo Homem de Montes

Projeto Gráfico:
Profa Verônica Martins Cannatá

Imagens da Capa:
http://www.shutterstock.com

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Digitalização dos cartoons:
Carla Bitran

Créditos Finais:
Todas as fotos, informações e depoimentos publicados neste livro cedi-
dos por terceiros somente foram utilizados após a expressa autorização
de seus proprietários. Agradecemos a gentileza de todas as pessoas e
empresas que, com sua colaboração, tornaram essa produção possível.

Distribuição:
O livro deve ser distribuído gratuitamente. Não é autorizada a co-
mercialização deste em banca, livraria, loja ou qualquer outro espaço
comercial por parte de pessoa física ou jurídica.

Reprodução:
É proibida a reprodução total ou parcial deste livro. Nenhuma pessoa
física ou jurídica está autorizada a representar, promover ou se pro-
nunciar em nome deste livro ou de seus responsáveis. Esta proibição é
válida dentro e fora do território nacional.

Tiragem: 600 Exemplares


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