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COMO A MEDIAÇÃO DO PROFESSOR INFLUENCIA NO PROGRESSO DO

ALUNO AO USAR A BRINCADEIRA COMO FERRAMENTA DE

GUIMARÃES, Ducilene Bastos. COMO A MEDIAÇÃO DO PROFESSOR INFLUENCIA NO PROGRESSO DO ALUNO AO USAR A BRINCADEIRA COMO
APRENDIZAGEM EM SALA DE AULA

Ducilene Bastos Guimarães1


Daniela Lopes2

Resumo: O presente artigo tem o objetivo de compreender a importância da mediação do professor na

FERRAMENTA DE APRENDIZAGEM EM SALA DE AULA. REVISTA DISCENTIS. 1ª EDIÇÃO. DEZEMBRO 2012.


aprendizagem de crianças do 2° ano do ensino fundamental na escola municipal Luis Alves Barreto
em Ibipeba-Ba, usando diversos tipos de brincadeiras, em especial o jogo como ferramentas de auxilio
nesse processo, reconhecendo-as como instrumentos pedagógicos importantes no desenvolvimento
cognitivo do aluno. Essa pesquisa que se caracteriza como pesquisa participante, de abordagem
qualitativa desenvolvida com o método indutivo, observação participante usando o diálogo como
suporte nesse processo. O diagnóstico feito no período de regência foi desenvolvido em uma sala com
crianças de sete anos composta por 21 alunos no período de 09/07 a 27/07/12 durante o III estágio na
UNEB (Universidade do Estado da Bahia) do curso de pedagogia com o tema música, no qual foram
usados diversos tipos de brincadeiras em especial o jogo, que proporcionaram subsídios a este artigo.
Assim sendo, não cabe ao professor transmitir informações, mas trabalhar a partir das percepções de
mundo dos alunos fazendo com que a mediação de fato aconteça e que tenha resultados positivos a
partir de estudos baseados no pensamento freireano e fundamentados a partir de Vygotsky.

Palavras-Chave: Mediação do professor, Brincadeira, jogo, Aprendizagem.

INTRODUÇÃO

A mediação baseia-se na linguagem para permitir a criação ou recriação da relação


entre os seres, é a atitude e o comportamento do docente que se coloca como um facilitador,
estimulador ou motivador da aprendizagem, que ativamente colabora para que o aprendiz
chegue aos seus objetivos.
Mediar é ficar no meio (FERREIRA, 1999), tornando assim mais fácil, perceber as
necessidades de ambos os lados e interceder buscando um maior equilíbrio por meio da

1
Graduanda do 7° semestre do Curso de Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia - Departamento de
Ciências e Tecnologias - CAMPUS XVI - Irecê/BA.

2
Orientadora. Pedagoga. Mestranda em Educação pela Universidade da Madeira - UMA – Portugal e Professora
de Pesquisa e Estágio III do 7° semestre do Curso de Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia -
Departamento de Ciências e Tecnologias - CAMPUS XVI - Irecê/BA.

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interação, é fazer a ponte, é andar junto, e de preferência tornar o caminho mais agradável,
atrativo e prazeroso.
Fazer com que a mediação aconteça nem sempre é tão simples, mas requer do
professor a busca pelo melhor na aprendizagem dos alunos, trabalhar com crianças é partir do
universo infantil a procura do que lhe desperte interesse, e usar a brincadeira em sala de aula
como ferramenta de aprendizagem; requer do professor mediação para que a mesma não seja
vista apenas como mera diversão, mas que promova aprendizagens de maneira atraente que

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certamente terá resultado positivo.
É indispensável entender a função educativa da brincadeira enquanto promotora de
aprendizagem no indivíduo que ampliará prazerosamente seu saber, seu conhecimento e sua
compreensão de mundo (ROJAS, 2002).
Diante das inúmeras questões que merecem atenção por parte tanto da família como
dos educadores é importante destacar a maneira com as quais crianças vêm sendo educadas, o
que lhes é passado e o que realmente é fundamental na aquisição da aprendizagem.

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O motivo pelo qual suscitou o interesse pela temática decorre da inquietação em
procurar entender melhor como o professor pode mediar à aprendizagem de caráter
satisfatório usando brincadeiras como ferramenta em sala de aula, pois a ausência da
ludicidade na sala de 2° ano do ensino fundamental na Escola Municipal Luis Alves Barreto,
provocava rebeldias nas crianças, são raros os momentos de ludicidade e quando acontecem
espontaneamente geram conflitos, pois não são brincadeiras com fins educativos ou
orientadas.
A partir de então, pela necessidade da turma, elaborei e desenvolvi um projeto com o
tema música, no qual pude trabalhar na sala de aula, diversos tipos de brincadeiras. Sendo,
pois, esse um dos motivos que me levou a procurar saber de que forma, essa pesquisa poderá
contribuir construtivamente em minha formação e atuação pedagógica. Pesquisa essa,
embasada a partir de um estágio requisitado pelo curso de Pedagogia-UNEB, no qual
objetivei algumas especificidades que considero essencial na culminância do projeto, dentre
elas: Mediar a aprendizagem entre professor/aluno, aluno/aluno, aluno/professor; Conhecer,
respeitar e valorizar as diferentes culturas musicais; Criar estratégias de leitura por meio das
músicas; Discutir e refletir em sala de aula as letras das músicas; Sentir-se motivado através
da música; Cooperação com as propostas das aulas, etc.
Trabalhar atividades lúdicas em sala de aula requer do professor um olhar minucioso
do mundo e da cultura que se quer mostrar à criança. A brincadeira em si traz uma realidade
cultural, regional, pessoal, íntima, entre outras, pois,

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No brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento
habitual de sua idade, além de seu comportamento diário; no
brinquedo é como se ela fosse maior do que a realidade. [...] sendo, ele
mesmo, uma grande fonte de desenvolvimento. [...] o brinquedo
fornece ampla estrutura básica para mudanças das necessidades e da
consciência. A ação na esfera imaginativa, a criação das intenções
voluntárias e a formação dos planos da vida real e motivações
volitivas – tudo aparece no brinquedo, que se constitui, assim, no mais
alto nível de desenvolvimento pré-escolar. A criança desenvolve-se,
essencialmente, através da atividade de brinquedo. (VIGOTSKY
1992, p. 134-135):

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Segundo Cardozzo e Vieira (2007), utilizar a brincadeira na aprendizagem como
recurso, é aproveitar a motivação interna que as crianças têm, tornando a aprendizagem
escolar mais atraente, e o jogo, possibilita uma maneira das crianças interagirem entre si, de
vivenciarem situações, formularem estratégias, entre outras. Ao verificarem seus erros e
acertos, podem reformular, sem punição, seus planejamentos e as novas ações a serem
tomadas, com auxilio do professor.

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A brincadeira tem grande importância no desenvolvimento infantil, e para deixar claro
como acontece o processo de construção do conhecimento, toma-se como ponto de partida o
conceito defendido por Vygotsky (1989), da Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), que
é definido como a distância entre o nível de desenvolvimento real e o nível de
desenvolvimento potencial, o real se define através das capacidades já contempladas e o
potencial, aquelas que ainda se encontram na iminência de serem efetivadas, sendo então
essencial que os educadores saibam atuar nessa ZDP das crianças para a obtenção de saltos
qualitativos, de forma que os diversos tipos de brincadeiras, quando bem usados tem
resultados satisfatórios no desenvolvimento das crianças.
A partir da compreensão da ZDP, outros conceitos desenvolvidos pelo autor embasam
a discussão: o conceito científico, conceito cotidiano e conceito no vácuo. O conceito
cotidiano é compreendido como aquele que construímos em nossa relação com os outros. Já o
conceito científico deve ser coerente com uma cadeia de outros conceitos dentro de um
padrão. Assim, ao partirmos de um conceito espontâneo para um científico no trabalho com a
ZDP, estamos mediando uma reorganização, evitando o conceito no vácuo, que pressupõe não
valorizar a generalização, o contexto linguístico e a memória lógica. O conceito no vácuo não
promove aprendizagem, pois não trabalha com o que é significativo.

AS INTERFERENCIAS DO PROFESSOR MEDIADOR NO PROGRESSO DO ALUNO


AO USAR A BRINCADEIRA COMO FERRAMENTA DE APRENDIZAGEM

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A mediação lúdica na educação prevê a utilização de metodologias agradáveis e
adequadas às crianças, que façam com que o aprendizado aconteça dentro do seu mundo, e
que seja algo agradável sendo assim reforça aqui o valor de trazer a realidade da criança para
sala de aula usando-a como estratégia metodológica de aprendizagem.
Ao usar a brincadeira como recurso pedagógico, a criança apropria-se da realidade,
atribuindo-lhe significado. Assim, alunos com dificuldades de aprendizagem podem valer-se
da brincadeira como recurso para facilitar a compreensão dos conteúdos pedagógicos. Pois o

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brincar desenvolve na criança a autoconfiança e intimidade, por fazer parte da sua rotina
diária, sendo então a brincadeira um forte elemento no desenvolvimento cognitivo da criança
e não pode ser desconsiderado nem no meio familiar nem no escolar, mas procurar trabalhar
de maneira que facilite no aluno a compreensão em determinadas situações.
A escola deve incentivar a realização de atividades que favoreçam trocas grupais
proporcionando o desenvolvimento dos alunos. Conforme Kishimoto (2006) para Vygotsky
quando a criança brinca, cria situações imaginárias, encontra-se envolvida em uma atividade

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que exige o raciocínio, no momento que imagina que cria, que levanta questionamentos, que
resoluciona problemas, enfim, que constroi conhecimentos.
As escolas, em geral, devem estar atentas aos inúmeros benefícios que a brincadeira
traz, e o leque de opções que ela possibilita ao se trabalhar diferentes conteúdos em forma
lúdica fazendo com que tais atividades sejam privilegiadas e bem aceitas por todos, só assim,
o ato de aprender passa a ser bem mais atrativo, flexível e prazeroso. Para isso o professor
precisa ter consciência dos seus objetivos e organizar um planejamento consciente que atenda
as necessidades da turma para construção da mudança de comportamento e de realidade.
Planejar é organizar ações e a ausência do mesmo impossibilita que se atinja êxitos, como
consequência, as aulas tornam-se monótonas e bagunçadas, desencadeando o desinteresse dos
alunos, pois se o papel do professor é de provocar mudança, tampouco sem organização e
planejamento torna-se impossível o sucesso de ambos.

AS INTERFERENCIAS DO PROFESSOR MEDIADOR NO PROGRESSO DO ALUNO


AO USAR DENTRE OS DIVERSOS TIPOS DE BRINCADEIRAS O JOGO COMO
FERRAMENTA DE APRENDIZAGEM

Despertar no aluno o desejo em aprender é fazer com que ele sinta-se motivado e
realizado, e para que isso de fato venha a acontecer é mais que vital a intervenção do
professor, na busca e conquista do gosto das crianças em querer saber sempre mais, pois um

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professor que se assume mediador de sua prática, que tem consciência e procura sempre o
melhor para seus alunos, certamente conquistará o desejo dos mesmos em aprender.
Em seu artigo sobre psicomotricidade Oliveira (1997) chama atenção para muitas das
dificuldades apresentadas pelos alunos que podem ser facilmente sanadas na sala de aula,
bastando para isto, que o professor esteja mais atento e consciente de sua responsabilidade
como educador gastando mais esforço e energia para mediar o potencial motor, cognitivo e
afetivo dos alunos.

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Segundo Kishimoto (2006), definir jogo e brincadeira são tarefas difíceis, pois estes
conceitos variam de acordo com o contexto em que estão inseridos. Por exemplo, a boneca
representa um brinquedo quando uma criança brinca de mãe e filha, porém este mesmo objeto
torna-se um símbolo de divindade em certas tribos indígenas. Já o futebol enquanto há
competição formal é denominado jogo. Porém, numa maneira mais informal, denomina-se
uma brincadeira por não respeitar tanto as regras onde, a bola, objeto utilizado para
concretizar é chamada de brinquedo.

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Nas atividades mediadas pela brincadeira para a promoção da aprendizagem, no caso o
jogo, chama-se a atenção para os estímulos motivadores em que a criança precisa aprender a
ter consciência de que está sujeito tanto a ganhar como a perder no resultado final. Porém, é
preciso que o professor como mediador e facilitador da aprendizagem deixe claro para a
criança o motivo da escolha e qual é o papel de cada aluno na utilização desta estratégia,
levando a criança, compreender e internalizar a aprendizagem de maneira atraente.
O aluno deve estar envolvido na aprendizagem não só quando alcança o que deseja,
mas obter novos desafios também com pessoas mais experientes por meio da interação, pois
ao tempo em que a criança menos experiente joga com outra mais experiente forma-se um elo
de atuação na Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) de ambas. A criança em estágio de
desenvolvimento real aprende sempre coisas novas no momento que ajuda ou media a que se
encontra no desenvolvimento potencial e que precisa de pessoas mais experientes para
efetivação de algo e para alcançar o seu desenvolvimento real, pois nesse ciclo de
desenvolvimento a aprendizagem pode ser vista como troca, os dois aprendem sempre algo
novo.
Segundo Barbosa (1999), para Vygotsky, o jogo nos acompanha como um recurso que
constroi a zona de desenvolvimento proximal. Muitas vezes, as crianças conseguem fazer algo
ou resolver um problema numa situação de jogo e não conseguem fazê-lo em situações da
realidade ou aprendizagem formal, sendo esse um dos momentos de principal atuação do
professor, orientando e abrindo caminhos para que a criança se desenvolva e ande sozinha,

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pois, por meio de auxilio do mediador, ela conseguirá, a cada momento, fazer novas
descobertas que se tornarão significativas em sua vida.

CAMINHO PERCORRIDO PARA COMPREENDER A IMPORTÂNCIA DA MEDIAÇÃO


DO PROFESSOR NO PROGRESSO DO ALUNO

O desenvolvimento da pesquisa se deu no período do estágio, do dia 09/07 a 27/07/12

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com um público de crianças de sete anos de idade, 2° ano do Ensino Fundamental, no Colégio
Municipal Luís Alves Barreto – CMLAB, Ibipeba-Ba, em uma sala composta por 21 alunos;
com o objetivo de compreender a importância da mediação do professor no desenvolvimento
das crianças, usando como ferramenta de estudo, no momento, a brincadeira.
Diante do diagnóstico na semana de observação no campo da pesquisa, pude perceber,
no decorrer das aulas e do recreio, o quanto a ludicidade contribuiria na aprendizagem da
turma em questão. A execução desta pesquisa me deu suporte à produção deste artigo, o qual

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me proporciona um melhor entendimento das minhas práticas como educadora.
Quanto ao caminho metodológico para obtenção do resultado deste trabalho, foi
desenvolvida uma pesquisa participante, a qual me proporcionou contato com a realidade
estudada, em que pude conhecer e intervir.
O método utilizado para o desenvolvimento desta pesquisa foi o indutivo levando em
consideração o que traz Deslandes (1994), quando ela diz que neste método o conhecimento é
baseado na experiência, partindo da observação de casos e acontecimentos que se deseja
conhecer para então comparar a relação entre a pesquisa e a realidade. Assim sendo, estudo
casos específicos para então compreender quais as contribuições da mediação do professor
usando a brincadeira no momento, como auxilio para o desenvolvimento da criança do Ensino
Fundamental, partindo da experiência como regente do III estágio do curso de Pedagogia-
UNEB.
No que diz respeito aos instrumentos, utilizou-se de inicio a observação, em seguida a
observação participante e o diálogo. Os sujeitos da pesquisa foram professor e alunos do
Ensino Fundamental.
No primeiro momento, o estudo foi desenvolvido a partir de técnica de observação
que, de acordo Deslandes (1994), ocupa um lugar privilegiado na pesquisa educacional,
permitindo descobrir através do contato direto do observador com o objeto estudado e suas
particularidades. A observação ajuda o pesquisador a identificar e a obter provas a respeito de
objetivos sobre os quais os indivíduos não têm consciência, mas que orientam seu
comportamento seguindo o que a autora citada acima diz que esta é favorável à construção de

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conhecimentos na pesquisa e nesse olhar é importante desenvolver as considerações que se
apresentam na vida do sujeito, despontando assim, possibilidades de efetivação do
conhecimento esperado pelo pesquisador.
No segundo momento, já na prática em sala de aula a pesquisa passou à participante,
com suporte e conhecimento da turma já antecipado na observação. Fui à prática. Inserida no
campo da pesquisa, pude participar, interferir e colher as informações necessárias no
momento, para embasamento da minha pesquisa. Nessa caminhada o pesquisador coloca-se

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como sujeito, juntamente com o grupo interessado, e a serviço não do grupo, mas da prática
política daquele grupo, conforme (BRANDÃO, 1985). A pesquisa participante insere-se na
pesquisa prática. Há na pesquisa participante a possibilidade de discutir a importância do
processo de investigação tendo por perspectiva a intervenção na realidade social.
A análise da pesquisa se baseia na observação, reflexão e avaliação das práticas no
período regente do estágio, a partir de diálogos com a professora regente da turma, tendo
como objetivo obter informações que possam ser utilizadas exclusivamente para os fins da

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pesquisa, propiciando determinado conhecimento ao pesquisador.

[...] os seres humanos se constroem em diálogo, pois são


essencialmente comunicativos. Não há progresso humano sem
diálogo. Para ele, o momento do diálogo é o momento em que os
homens se encontram para transformar a realidade e progredir.
(GADOTTI 1996, P. 46)

Assim as vantagens que a pesquisa qualitativa oferece no âmbito da educação


permitem conhecer a realidade numa dimensão ampla.

A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta


de dados e o pesquisador como seu principal instrumento (...). A
pesquisa qualitativa supõe o contato do pesquisador com o ambiente e
a situação que está sendo investigada, via de regra através do trabalho
intensivo de campo. (LUDKE & ANDRÉ, 1986, P.11)

A Abordagem Qualitativa na coleta de dados Tornou-se significativa para o


desenvolvimento deste trabalho, quando através desta: possibilitou-me a interpretação dos
dados coletados a partir dos instrumentos e técnicas que utilizei contribuindo assim para
melhor entendimento das minhas dúvidas e questionamentos acerca das contribuições da
mediação do professor, usando diversos tipos de brincadeiras em especial o jogo como
ferramentas de ajuda, e que futuramente, servirão como base para estudos futuros e
consequentemente aprimoramento de minhas práticas como educadora.

ASSUMINDO PAPEL DE MEDIADOR

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A observação participante aconteceu, no período do III estágio do curso de Pedagogia-
UNEB enquanto regente da turma, estágio esse que me favoreceu uma autoavaliação das
minhas práticas como educadora; a todo o momento, novas descobertas surgiam. No decorrer
do estágio o registro tornou-se elemento fundamental de acompanhamento tanto meu como
dos alunos, quando criei o caderno “Nossas Criações” com o objetivo de que todos pudessem
registrar as nossas novas experiências e aprendizagens para quando necessário recorrermos a
ele, o mesmo foi aceito por todos com bastante entusiasmo. Procurei registrar as minhas

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dúvidas, pareceres, descobertas, sucessos; enfim, tudo sobre as minhas práticas,
proporcionando-me refletir sobre cada decisão que foi tomada, permitindo aprimoramento ao
longo da minha vida.

[...] O registro ajuda a guardar na memória fatos, acontecimentos ou


reflexões, mas também possibilita a consulta quando nos esquecemos.
Este “ter presente” o já acontecido é de especial importância na
transformação do agir, pois oferece o conhecimento de situações
arquivadas na memória, capacitando o sujeito a uma resposta mais

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profunda, mais integradora e mais amadurecida, porque menos
ingênua e mais experiente, de quem já aprendeu com a experiência.
Refletir sobre o passado (e sobre o presente) é avaliar as próprias
ações, o que auxilia na construção do novo. E o novo é a indicação do
futuro. É o planejamento. (WARSCHAUER, 1995, p. 62-63).

Em presença das brincadeiras em especial a do jogo, a aprendizagem aconteceu a todo


momento no meu período regente, pelo fato de que procurei auxiliar no desenvolvimento das
crianças sustentada na mediação, por considerar o papel do professor facilitador da
aprendizagem. Aliar a ludicidade com a mediação tornou-se uma união perfeita, pois os
mesmos me proporcionaram trabalhar com a turma, partindo de assuntos do interesse das
crianças, as quais demonstraram bastante empenho, entusiasmo e participação, internalizando
assim, significativamente o aprendizado almejado.
A 1° semana de estágio foi de coparticipação, pelo fato da escola encontrar se em
período de prova, no primeiro horário a professora revisava a prova do dia e no segundo
aplicava. Este primeiro contato em dar auxilio às crianças juntamente com a professora
regente, possibilitou-me uma aproximação com as crianças e orientação de como agir em
determinadas situações, pois as dúvidas que surgiam procurei direção da regente, tornando
melhor o meu entendimento de como lidar em sala de aula.
Na 2° semana do estágio, como regente fui a campo tranquila, pois já havia criado
com a turma um vínculo de carinho e familiaridade. Com o propósito de a partir do tema
música, incluir no mesmo uma diversidade de brincadeiras que foram essenciais na mediação
lúdica do aprendizado de todos, para conhecer, respeitar e valorizar as diferentes culturas

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musicais, lancei, juntamente com a turma, a brincadeira de “show de calouros” e o diálogo a
respeito dos diversos gostos musicais.
Nessa aula pude perceber o quanto eles se encontravam apegados aos livros didáticos
e ao caderno, pois foram vários os momentos em que perguntaram que horas a gente iria
começar a aula, o meu papel nesse momento foi de conversar com a turma deixando claro que
os nossos diálogos faziam parte da aula, que assim também aprendemos, pois estávamos
expondo nossos conhecimentos, que no diálogo eu aprenderei com eles, que (A) aprenderá a

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partir da fala de (B) e assim todos aprenderão um pouco com o outro. Concordaram e isso me
ajudou bastante a mediar com a turma nossas aprendizagens por meio da dialogicidade. Neste
dia, percebi constante envolvimento e motivação da turma com a proposta da aula e
consequentemente, a aprendizagem aconteceu de maneira satisfatória, pois o objetivo
proposto foi atingido.

A relação dialógica - comunicação e a intercomunicação entre

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sujeitos, refratários à burocratização de sua mente, abertos à
possibilidade de conhecer e de mais conhecer - é indispensável ao
conhecimento. A natureza social deste processo faz da dialogicidade
uma relação natural a ele (FREIRE, 2001 p. 80).

Nos diálogos, nas relações, nas brincadeiras em especial no jogo, foi fácil atuar na
ZDP de cada um, pois notei que ocorreu a troca de saberes entre crianças no desenvolvimento
real e outras no potencial; esse elo de aprendizagem contribui, em geral, pois aprendizados
diferentes se entrelaçaram e novas coisas foram descobertas a cada fala, gesto, brincadeira
etc.
Para criar estratégias de leitura por meio das músicas, ouvimos a canção “Os Nomes”
Bia Bedran, em seguida fizemos uma brincadeira de recriação de outra letra em cima da
música de Bia só que usando o nome de cada aluno da sala. Eu, estagiária nesse momento, fiz
papel de escriba no quadro, auxiliando em cada escolha, pois cada frase deveria ter rima; a
minha participação foi apenas de mediadora. Assim, posso afirmar que essa proposta
desenvolveu nas crianças, a reflexão baseada na criação, no prazer em participar e no
aprender significativo.
Na rodinha, pedi que cada um lesse uma estrofe da música em voz alta, assim
consegui a participação de todos tanto na criação da nova música quanto na leitura coletiva,
vale ressaltar que para os que ainda não conseguiam ler sozinhos, procurei em todas as aulas
juntar em duplas dos que já conseguiam ler com os que estavam no processo, orientei que
colocassem o dedo em cada palavra lida para que o outro acompanhasse com os olhos.
Dessa maneira foi possível desencadear entre eles a ZDP, pois juntei os que se
encontravam no desenvolvimento real com os que ainda estavam no potencial, e ao mediar a
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leitura com o outro acompanhando com o dedo, o que já conseguia ler aprimorou seu
aprendizado e o outro que foi auxiliado se desenvolveu um pouco mais e assim
sucessivamente, até que se alcançou ao desenvolvimento real, mediado pelos colegas e
professora. Consideravelmente, consegui a interação do aprendizado e sucesso no
desenvolvimento dos alunos.
Em relação à cooperação da turma com as aulas, não tive dificuldade. Foi possível e
prazeroso perceber uma aprendizagem significativa em cada um. As atividades propostas

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sempre foram aceitas com entusiasmo, pois busquei por em prática o meu papel de
mediadora, dando a todo o momento suporte, caminhos para que chegassem ao objetivo
proposto com base em Freire (1996) quando salienta ao educador que se convença que ensinar
não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua produção.
A partir da brincadeira a aprendizagem flui com grande êxito, em minha regência
trabalhei com as crianças a confecção de um jogo da memória da diversidade, com objetivo
de que cada um pudesse conhecer, respeitar e valorizar as individualidades do outro, baseado

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no poema de Tatiana Belinky. Nessa atividade, pude perceber o envolvimento da turma, o
estímulo, o vínculo de aprendizagem que fluiu entre eles foi consideravelmente essencial. A
partir desse jogo, construíram conhecimentos, desenvolveram a concentração, a reflexão e a
mediação por meio da interação tanto na confecção do jogo quanto no momento da
brincadeira, tornando o ato de aprender algo natural e gostoso.

O jogo como promotor de aprendizagem e do desenvolvimento passa


a ser considerado nas práticas escolares como aliado importante para o
ensino, já que coloca o aluno diante de situações lúdicas como o jogo
pode ser uma boa estratégia para aproximá-lo dos conteúdos culturais
a serem vinculados na escola. (KISHIMOTO 2003, p. 13)

Fundamentada ao meu olhar acadêmico, procurei aplicar aprendizagens teórico-


práticas durante as experiências adquiridas no estágio, a fim do aperfeiçoamento da minha
prática como mediadora de aprendizagens. De acordo Gonçalves (1992), para Pimenta, o
estágio pode ser compreendido como um espaço de desenvolvimento e formação que permite
ao acadêmico uma aproximação à realidade em que será desenvolvida a sua futura prática
profissional, permitindo que o mesmo possa refletir as questões ali percebidas baseadas nas
teorias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer da pesquisa, algumas considerações foram extraídas a respeito da


influência que tem o professor mediador em sala de aula no progresso de alunos críticos e

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reflexivos e do quanto a ludicidade interfere qualitativamente no desempenho dos mesmos,
possibilitando assim que o espaço escolar torne um ambiente gratificante e atraente, servindo
como estímulo para o progresso da criança e que a falta da ludicidade prejudica de forma
radical no desenvolvimento cognitivo, emocional, social e pessoal dos sujeitos.
Em suma, o professor que se assume mediador de sua prática, seguro do que faz, que
considera a aprendizagem constante e inacabada, certamente terá bons resultados em seu
trabalho. Assim sendo, na relação de ensino estabelecida na sala de aula, o professor precisa

GUIMARÃES, Ducilene Bastos. COMO A MEDIAÇÃO DO PROFESSOR INFLUENCIA NO PROGRESSO DO ALUNO AO USAR A BRINCADEIRA COMO
ter o entendimento de que ensinar não é depositar conhecimento, mas instigar no aluno a
descoberta, o prazer em aprender sempre mais. Dessa maneira, aliar mediação e ludicidade
nessa pesquisa foi atitude de sucesso, pois além de levar para sala de aula algo novo,
conquistei o prazer dos alunos em aprender.
Essa pesquisa serve de pilar na minha caminhada como educadora que se sustenta na
concepção mediadora para o bom desenvolvimento dos indivíduos, investigação essa que não
se esgota por aqui, mas que me dá suporte para novos encaminhamentos e consequentemente

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um trabalho mais aprofundado de monografia.

REFERÊNCIAS

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