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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA CODÓ

LICENCIATURA EM CIÊCIAS HUMANAS – HISTÓRIA

DISCENTE: JOSIAS DE JESUS LIMA FILHO

DOCENTE: JACIRA DA SILVA LIMA TURMA: 2016.2

SOCIOLOGIA COMTEMPORÂNEA

1) Quem foi Pierre Félix Bourdieu? Quais as principais ideias que defendeu? Quais os
principais conceitos que ele trabalhou?

Pierre Bourdieu foi um importante sociólogo do século XX. Nascido em uma típica
família campesina e em uma pequena cidade no interior da França, logo que terminou seus
estudos básicos mudou-se para a capital, onde começou a sua formação na Faculdade de
Letras, graduando-se em 1954 em Filosofia. Após formar-se e passar um tempo como
professor em Moulins, teve que prestar o serviço militar obrigatório, o que o leva a mudar-se
para a Argélia, onde, mais tarde, torna-se professor assistente na Faculdade de Letras. De
volta do país africano, em 1960 Bourdieu passa a ser assistente de Raymond Aron, à época
proeminente filósofo político da Faculdade de Letras de Paris.

Tendo sido influenciado fortemente pela teoria e ideias marxistas, Bourdieu


desenvolve seus estudos sociológicos a partir do conceito de capital. Mas, diferente de Marx,
que via apenas no capital econômico a base do poder nas sociedades capitalistas, ele
determina a existência de outros “capitais”, outras meios de obter poder e outras formas de
dominar que transcendem as estruturas econômicas. Ele desenvolve, por exemplo, o conceito
de capital cultural, isto é, toda a formação que o sujeito recebe durante sua vida e que o torna
agente dominador. No entanto, para entender todo o arcabouço sociológico criado por
Bourdieu para entender as sociedades atuais, é necessário mergulhar mais detalhadamente em
outros conceitos que juntos formam toda a estrutura de pensamento bourdiesiana.

Para Bourdieu, a sociedade é formada por várias estruturas simbólicas autônomas


(campos) que possuem uma configuração, um conjunto de regras de funcionamento e uma
hierarquia preexistente para seu funcionamento. Assim, por exemplo, no campo educacional,
o indivíduo que queira subir na hierarquia (e dominar dentro do campo) terá que seguir
determinações que independem dele e que ditam seu comportamento – para tornar-se um
professor proeminente e reconhecido, qualquer pessoa tem que seguir um conjunto de
formações em instituições oficiais que afirmarão, por meio dos certificados e diplomas, a
veracidade da capacidade do indivíduo. Todas essas prescrições anteriormente formuladas são
inscritas nas pessoas durante toda a sua vida através das experiências individuais que
compõem sua socialização, seu habitus. Um problema arduamente discutido por Bourdieu é a
naturalização com que é imposta e soa ao individuo as regras do campo que, observadas sob
outro prisma, aparentam ser altamente opressoras, constituindo-se uma violência simbólica.
Essa relação pode ser observada principalmente dentro do campo de trabalho: o trabalhador se
sujeita a condições que o violentam naturalmente, através da sujeição da sua força de
trabalho, sem entender o tipo de relação ali existente. Ele o faz, portanto, sem a consciência
real da violência e sem a capacidade cognitiva de perceber as injustiças e desigualdades que o
rodeiam, já que foi moldado através dessas regras pelo seu habitus.

A parte positiva que permeia a ideia de campo e as regras que o caracterizam diz
respeito à capacidade de transformá-lo, de fazer uma revolução. Isso é possível quando os
agentes tomam consciência das suas posições, dos limites e do seu funcionamento. Nesse
sentido é que Bourdieu defendeu pautas e mudanças. Para ele, por exemplo, fazia-se
necessário, diante do avanço da sociedade capitalista, acabar com a monetização que tendia a
cada vez mais interferir nas relações, inclusive culturais, tornando-as “compráveis”. Outra
área que ele fez questão de militar e estudar foi a educação. Para ele, a escola era nada mais
nada menos que um instrumento de perpetuação das desigualdades, na medida em que exigia
capital exclusivo, que ela mesma não conseguia dar, fazendo com que apenas as famílias mais
bem estruturadas e com capital econômico consigam subir na hierarquia social.

2) Segundo Pierre Bourdieu é possível um ato desinteressado nas relações humanas?


Justifique sua resposta.

Partindo da ideia de campo e de habitus, Bourdieu estabelece que as ações humanas,


em certo sentido, são movidas pelo interesse. Mas isso não significa que as pessoas fazem um
cálculo de probabilidades ou estabelecem prioritariamente a lucratividade econômica como
fim de todas as suas decisões. Elas apenas estão imbuídas de um habitus que a movem
naturalmente, que determina grande parte das suas escolhas sem que, no entanto, percebam
como são influenciadas. Isso é possível devido ao processo de socialização, quando as regras
dos campos são colocadas e determinadas a partir da libido social, uma impulsão coletiva
responsável por inscrever nos agentes as formas do campo ou, melhor, as regras do jogo.
Com o advento do sistema econômico capitalista baseado exclusivamente no lucro, as
relações humanas passaram, consequentemente, a ser determinadas também por esse
pressuposto. É observável, porém, que, quanto mais complexa se tornam as estruturas sociais,
mais se criam campos autônomos com interesses diversos e que, muitas vezes, não se
complementam. Com efeito, é normal que ações da área religiosa e familiar, por exemplo,
estejam aparentemente desprovidas de qualquer interesse ou lucro. Mas, assim como coloca
Bourdieu, cada campo possui um modo de ser, de modo que, “se o desinteresse é
sociologicamente possível, isso só ocorre por meio do encontro entre habitus predispostos ao
desinteresse e universos nos quais o desinteresse é recompensado”. Isso é verdade, constata
ele, sobretudo em áreas como as artes e a literatura, que com o passar dos tempos foi
elaborando seu próprio modo de funcionamento, fazendo com que sejam auto normativa e
com interesses distintos do econômico, de modo que, para obter sucesso nesses campos, a
regra é não sujeitar-se a esse fator.

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