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RACIONALIDADE ECONOÔ MICA E

ESTRUTURA SOCIAL – CONTRIBUIÇOÕ ES DE


PIERRE BOURDIEU E MARK
GRANOVETTER
Patrícia Roseflâine Gonçalves da Silva; graduando em Ciências Econômicas pela
Universidade Federal de Ouro Preto.

Resumo: Esse artigo objetiva analisar os pontos em comum e os desacordos existentes


entre os autores Pierre Bourdieu e Mark Granovetter (com base no artigo de Cécile
Raud-Matted), ambos contemporâneos, sobre o tema da racionalidade econômica e da
estrutura social. Essa comparação dará ênfase às contribuições de cada um desses
autores quanto ao tema da racionalidade econômica e estrutura social. Com base na
leitura crítica de alguns textos, chegamos à conclusão de que não podemos falar de uma
total concordância quanto ao tema assim como não é coerente relatar a total divergência
entre esses autores. Mas, é possível afirmar que separar totalmente os estudos da Teoria
Econômica da Sociologia é algo ineficiênte para ambos. Para Granovetter, a Sociologia
Econômica é um reforço à Teoria Econômica, introduzindo a idéia de embeddedness e
redes sociais. Enquanto que, Bourdieu afirma serem as pessoas que formam o mercado,
compreendendo, portanto, o mercado como não auto-regulável. Esses pontos serão
melhor detalhados ao longo deste trabalho.

Palavras-chave: racionalidade econômica, estrutura social, mercado, Estado,


embeddedness, campo, capital, habitus, redes sociais.

Introdução

É importante confrontar as idéias de diferentes autores quanto a racionalidade


econômica e estrutura social para melhor entender o tema e formar bases mais coerentes
e fortes sobre o assunto. Analisando os textos de Pierre Bourdieu e Mark Granovetter
podemos comparar suas opiniões, o que é útil ao meio acadêmico/científico quanto à

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formação de teorias mais específicas para se trabalhar assuntos tão complexos como
este que será objeto de nosso estudo.
Foram escolhidos dois textos para base de construção deste trabalho. Foram eles:
“As Estruturas Sociais da Economia” de Pierre Bourdieu e “A Análise Crítica da
Sociologia Econômica de Mark Granovetter: os limites de uma leitura do mercado em
termos de redes e imbricação” de Cécile Raud-Mattedi. O primeiro texto, trabalha a
idéia de habitus, campo e capital. A contribuição do segundo texto fica, principalmente,
por conta da inserção da idéia de redes sociais e seus laços.

 RACIONALIDADE ECONÔMICA E ESTRUTURA SOCIAL –


CONTRIBUIÇÕES DE PIERRE BOURDIEU E MARK GRANOVETTER

Pierre Bourdieu (1930-2002), francês, filósofo de formação e sociólogo, afirma


ser as pessoas que formam o mercado e, portanto, deve-se tratar a economia como um
fato social e não somente como resultado das escolhas estritamente racionais dos
indivíduos (homo oeconomicus). Defende que, os comportamentos podem ajustar-se à
finalidade, sem passar por cínicos ou oportunistas, na busca da maximização do lucro
individual.
Já Cécile Raud-Mattedi, autora especializada em socioeconomia, inicia seu
artigo sobre as idéias de Granovetter, autor contemporâneo e principal sobre a “nova”
sociologia econômica, relatando que, para Granovetter, o seu objetivo não é criticar a
Econômia Neoclássica mas sim reforçá-la pela perpectiva sociológica. Afirma ser
necessário acrescentar as motivações não econômicas ao tratar do comportamento do
ator econômico. Para Granovetter, como afirma Cécile, não se separa a ação econômica
da ação social, sendo a ação econômica socialmente situada e as instituições
econômicas construções sociais (embeddedness). Concordano portanto, com a idéia de
Bourdieu em ser o mercado formado além do simples interesse individual mas pela ação
todo o conjunto de fatos sociais.
Desse modo, para Granovetter, afirma Cécile, o mercado é formado pelas
relações sociais, pelas redes sociais formadas e não pela ação da força da oferta e da
procura puramente. É o mercado formado por aglomerados de firmas formando uma
estrutura social e não por firmas isoladas. Desse modo, é defendido que, o estudo das
redes sociais pode trazer respostas a problemas observados pela Teoria Econômica
como o êxito de micro e pequenas empresas e da confiança e do oportunismo.
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Granovetter defende ainda que, a circulação da informação se dá pelas redes
sociais e não pelos indicadores monetários, afirma Cécile. Assim, concordando com a
idéia de Bourdieu, os grupos econômicos não são simples aglomerados financeiros pois
existe solidariedade social entre as firmas envolvidas que estão enraizados nos laços
familiares ou éticos.
De acordo com o sociólogo Bourdieu, é possível definir habitus como
meios/recursos que reforçam a vontade do indivíduo, referindo-se, então, à maneira de
agir, à ação deste indivíduo. A partir do contexto e das experiências adquiridas ao longo
de sua vida, o indivíduo forma a sua própria história e essa será a base para suas
escolhas e ações. Indivíduos que possuem habitus diferentes terão ações diferentes.
Para Bourdieu, essa ação não será sempre racional como afirma a teria do homo
oeconomicus, no qual, os indivíduos agem sempre de modo a favorecer seus interesses
hedonistas. Assim, este autor considera que os indivíduos podem agir de certa forma
“espontaneamente”, sem visar vantagens/lucros dependendo da estrutura social que o
cerca, do contexto e dos valores/concepções adquiridas ao longo de sua socialização
primária e secundária. Dessa forma, afirma Bourdieu “(...) em muitas situações, os
agentes efectuam escolhas sistematicamente diferentes daquelas que se podem prever a
partir do modelo econômico.” (p. 22, BORDIEU).
As instituições econômicas são vistas por Granovetter, assim descreve Cécile,
como dependentes das estruturas sociais, ou seja, se forem diferentes não adiantará ter a
mesma condição política e econômica, pois também será diferente.
Esse conceito (habitus) relaciona-se à idéia de campo definido como estruturas
sociais diferentes em que os indivíduos também ocupam posições diferentes. Essas
estruturas sociais irão condicionar a formação do indivíduo que, por sua vez, remete à
concepção de capital. Para Bourdieu, diferente de Marx, não existe apenas o capital
econômico, mas, também, o capital social, simbólico, cultural, tecnológico, entre outros.
Qualquer um destes será resultado das experiências acumuladas pelo indivíduo e
determinado pelo campo no qual ele está inserido. Assim, se o contexto sofre alterações,
podem-se alterar as escolhas do indivíduo - seu habitus.
Bourdieu não separa totalmente os tipos de capitais como autônomos. Para ele,
um tipo de capital reforça o outro e, por sua vez, o capital depende do habitus.
Podemos relacionar, então, essa idéia de Bourdieu à de Granovetter o qual
completa ainda que, os fenômenos sociais se explicam com base nas motivações e nos

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comportamentos dos indivíduos. Os indivíduos ,então, não agem com autonomia e sim
“imbricados” em sistemas de relações sociais, ou seja, em redes sociais. Essa concepção
foi denominada embeddednes.
É demonstrado no artigo, ainda, a distinção que Granovetter faz entre imbricação
relacional e imbricação estrutural. A primeira refere-se as relações mais pessoais, mais
próximas do indívíduo como a família e os amigos. Já a segunda, diz-se respeito as
relações mais afastadas mantidas por laços fortes e laços fracos. Os laços fortes são os
mantidos por parentes e amigos enquanto os laços fracos são mantidos por conhecidos.
Faz-se possível, portanto, o contato com universos sociais distintos. São os laços
fracos importantes por criarem estabelecerem pontes entre as redes permitindo a
diversificação das informações.
Quanto ao Estado, é retratado na obra do sociólogo como “(...) o fim e o produto
de um lento processo de acumulação e de concentração de diferentes espécies de
capital” (p. 28, BOURDIEU). Considera que, toda sociedade é desigual devido ao poder
e à sua legitimação porque cada indivíduo possui um habitus diferente conferindo a uns
serem os dominadores e a outros os dominados. Por serem as pessoas que formam o
mercado e dependentes do habitus então, percebe-se que, para o autor, o mercado não é
auto-regulável e depende do Estado para a “induzir” a formação da oferta e da demanda
em certos casos.
Na visão de Granovetter, Cécile expõe que, o autor não atribuiu um papel
particular importante ao Estado. Mesmo assim, ressalva que, para esse autor, o papel do
Estado é fundamental quanto à análise dos grupos econômicos uma vez que as regras
administrativas e jurídicas influenciam as estruturas dos grupos econômicos.
De maneira geral, Pierre Bourdieu afirma no início de sua obra a importância do
estudo dos conceitos de habitus, campo e capital para confrontar as idéias da economia
ortodoxa quanto à predominância do homo oeconomicus. Conclui afirmando que:

“(...) se torna necessário manter na mente que o objecto real de


uma verdadeira economia das práticas não é outra coisa, em
última análise, senão a economia das condições de produção e
reprodução dos agentes e das instituições de produção e
reprodução econômica, cultural e social, o próprio objecto da
sociologia” (p.29, BOURDIEU).

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Em síntese, Cécile afirma ter Granovetter pecado em não utilizar a
influência dos valores sociais já mencionados por Max Weber e por não desenvolver
sobre as interações existentes entre a atividade econômica e o contexto político também
já estudo por Weber. Sendo, portanto, necessário aprofundar o estudo das relações entre
o Estado e a economia como o fez Bourdieu.

Conclusão: Verificou-se com o estudo em questão que, não podemos falar de uma total
concordância quanto ao tema assim como não é coerente relatar a total divergência entre
esses autores. Mas, é possível afirmar que separar totalmente os estudos da Teoria
Econômica da Sociologia é algo ineficiente para ambos.
Logo, fez-se importante confrontar as idéias de diferentes autores quanto a
racionalidade econômica e estrutura social para melhor entender o tema e formar bases
mais coerentes e fortes sobre o assunto. Analisando os textos de Pierre Bourdieu e Mark
Granovetter podemos comparar suas opiniões, o que é útil ao meio acadêmico/científico
quanto à formação de teorias mais específicas para se trabalhar assuntos tão complexos
como é o caso do estudo da racionalidade econômica e estrutura social.
Portanto, verificou-se ser importante considerar as idéias de Granovetter e aliá-
las às idéías de Bourdieu, principalmente, a influência dos valores sociais também já
trabalhadas por Max Weber. Também se constatou ser necessário desenvolver sobre as
interações existentes entre a atividade econômica e o contexto político, tomando como
base as redes sociais, aprofundando o estudo das relações entre o Estado e a economia
como o fez Bourdieu.

Referências:

 BOURDIEU, Pierre. “As Estruturas Sociais da Economia”. Campo das Letras,


2006 (pag.13 a 29).
 RAUD-MATTEDI, Cécile. “Análise crítica da Sociologia Econômica de Mark
Granovetter: os limites de uma leitura de mercado em termos de redes de imbricação”.
Política e Sociedade. n. 6, abril de 2005.

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