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Mini-curso: Violência e Gênero

Profa. Dra. Nilma Renildes da Silva

Departamento de Psicologia

UNESP Bauru
Plano de atividades:

Objetivo Geral: Criar condições para reflexão sobre as relações de gênero e relações permeadas pelo uso da violência por meio da perspectiva sócio-
histórica.

Horário Objetivo Atividades Conteúdo Técnica Material

Apresentar os objetivos do
mini-curso, auto-apresentação
Objetivos do mini-
09h as 10h dos participantes e levantantar Exposição Expositiva e círculo -
curso e apresentações
expectativas dos participantes
em relação ao mini-curso
Apresentar concepção de Concepção de
Expositiva, utilização Powerpoint, DVD,
homem que norteará a Exposição oral Homem na Psicologia
de trechos de filmes e músicas impressas,
10hmin as 12h discussão e discutir a questão dialogada com auxílio sócio-histórica e a
análise de letras de aparelho de som e
da mulher na história e no de recurso audiovisual discussão sobre a
música cd
modo de produção capitalista mulher
Reflexão a partir da
manipulação da
Atividade com argila e Manipulação da
Iniciar a discussão sobre argila do que os
14h as 15h reflexão e discussão argila e relatos da Argila
violência participantes pensam
sobre a violência reflexão
sobre a violência
contra a mulher
Discutir a violência na Powerpoint, DVD,
Exposição oral Conteúdos teóricos
perspectiva psicossocial e músicas impressas,
15h as 16h30min dialogada com auxílio sobre a questão da Expositiva dialogada
legislação da violência contra a aparelho de som e
de recurso audiovisual violência
mulher cd
Construir no processo
grupal um conto a
16h30 as 17h Avaliar a atividade Conto Verbal e escrita Papel e caneta
partir da discussão
apresentada
Concepção de Homem a partir da
Psicologia Sócio-Histórica O trabalho é o meio pelo qual os homens
tornaram-se humanos, ao transformarem a natureza
A concepção teórica de ser humano presente ao mesmo tempo em que se transformaram, nos
nestes apontamentos é de que este é um ser ativo, igualando como gênero humano e nos diferenciando
que produz os meios para sua sobrevivência, que vêm em nossa singularidade, pois cada um de nós, por
tecendo a sua história no decorrer das relações que meio de nossa atividade, vamos todos constituindo
estabelece com outros seres humanos, ao longo do nossa subjetividade, constituindo-nos, assim, em
processo social e histórico através do trabalho. seres únicos.
Entretanto, não podemos confundir o trabalho -
atividade vital humana - com o trabalho alienado que Outra contribuição que esta teoria oferece, ao se
é expressão da propriedade privada dos meios de analisarem os fenômenos, diz respeito à perspectiva
produção, na qual o homem está crítica, pois a realidade social, econômica e cultural
alienado e expropriado de sua expressão não é algo exterior ao homem, estranho ao seu
humanizadora. mundo psicológico. Dessa forma, o mundo social e o
psicológico caminham juntos em seu movimento. Ao
postular a crítica, pretende-se a definição de uma
ética e uma visão política sobre a realidade na qual os
fenômenos estudados se inserem. Ou seja, buscar
além da aparência do fenômeno, de sua mera
interpretação.

Foto: Marília Duka – Fonte: Museu de História Natural de Londres


Violência
A violência é desumanizadora por si só. algum ser; de força contra a espontaneidade, a
Comumente os comportamentos violentos são tidos vontade e a liberdade de alguém; de violação da
como condição humana inata não passível de natureza de alguém ou de alguma coisa valorizada
modificação, o que em última instância, culpabiliza positivamente por uma sociedade; de transgressão
apenas o indivíduo agente da violência. Nossos contra aquelas coisas e ações que alguém ou uma
estudos apontam que há uma tendência em buscar as sociedade define como justas e como um direito;
causas/motivos da violência na relação agressor- consequentemente, violência é um ato de brutalidade,
vítima, na ausência de religiosidade, na família sevícia e abuso físico e/ou psíquico contra alguém e
desorganizada e no sistema social, sem contextualizá- caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas
los como um fenômeno construído social e pela opressão, intimidação, pelo medo e pelo terror.
historicamente. Em relação às formas de violência Há violência quando, numa situação de interação, um
também é comum as pessoas pensarem apenas na ou vários atores agem de maneira direta ou indireta,
violência física. maciça ou esparsa, causando danos a uma ou várias
A violência precisa ser reconhecida na sua pessoas, em graus variáveis, seja em sua integridade
complexidade e diferentes formas: física, verbal, física, seja em sua integridade moral, em suas posses
sexual, psicológica e a negligência. Devemos refletir ou em suas participações simbólicas e culturais”
para além dos fatores de riscos apontados, como por (pg.160).
exemplo: alcoolismo, uso de drogas ilícitas, pouca Para a análise psicossocial das relações que
escolaridade, pobreza, desemprego, pais sem envolvem situações de violência, outro autor que
habilidades para tarefa de educação dos filhos, utilizamos para refletirmos sobre o fenômeno é
frustrações etc. Esses elementos não são em si MARTIN-BARÓ (1997) que propõe a ampliação da
mesmos automaticamente determinantes de reflexão e discussão analisando também o fundo
ocorrências de violência. ideológico, o contexto possibilitador, o agente da ação
Para não incorrermos à essa visão reducionista violenta, a vítima, o grau de dano, a situação em que
da violência utilizamos a definição sugerida por CHAUI se produz o ato de violência.
(1999). De acordo com esta autora a palavra violência Ressaltamos que no modo de produção capitalista a
vem do latim vis, que significa força. Portanto, a violência tornou-se um fim em si mesma vinculada ao
violência é todo “ato de força contra a natureza de caráter alienante e explorador das relações humanas.
Relação Violência e Gênero Com o desenvolvimento
das forças produtivas,
ampliando a pecuária pastoril e
a cultura da terra, modifica-se
O conceito de gênero foi desenvolvido na luta
o regime das relações
para contestar a naturalização da diferença sexual. Foi
familiares. A mulher, excluída
apropriado pela teoria e prática feminista buscando
das relações de produção, fica
explicar e transformar sistemas históricos de diferença
confinada aos trabalhos
sexual nos quais “homens” e “mulheres” são
domésticos mais
socialmente constituídos e compreendidos em uma
insignificantes. A acumulação
relação hierárquica e antagônica Mais recentemente
de riquezas vai originando e
“gênero tem sido utilizado como sinônimo de
incrementando a propriedade
mulheres, tendo uma conotação mais objetiva e
privada e suas mediações
neutra do que mulheres”.
secundárias, sendo a família
uma dessas, na qual a mulher
Na tradição marxista é fundamental ao se discutir
passa a ser subjulgada pelo
um fenômeno social discuti-lo no conjunto das
homem.
relações sociais, neste sentido, não compreendemos
as relações permeadas pelo uso da violência fora das Foto: Marília Duka – Fonte: Museu de
História Natural de Londres
possibilidades engendradas pelo gênero humano,
tampouco, as relações entre os gêneros um fenômeno O fato de a mulher estar em uma posição de
social apartado daquelas. dependência do homem na família e na sociedade,
acirrou as desigualdades e aumentou o uso da
Engels teorizou a relação econômica de violência para a manutenção destas relações. Com
propriedade como a base da opressão das mulheres isso, as mulheres vêm buscando formas de libertação
no casamento “mesmo em casa foi o homem quem e busca da verdadeira igualdade entre homens e
tomou as rédeas nas mãos; a mulher foi degradada, mulheres.
tornou-se escrava do prazer do homem e simples
instrumento de reprodução”.
A condição para atingir essa igualdade passa Lei Maria da Penha
necessariamente por uma crítica radical ao modo de
produção capitalista, ao seu sistema de O combate à violência contra a mulher é questão de
funcionamento e sua estrutura de comando, visto extrema relevância social. A sanção da Lei 11.340, de
que: 7 de agosto de 2006, trata-se da Lei Maria da Penha,
que cria mecanismos para coibir a violência doméstica
o
De acordo com Mészáros (2002): e familiar contra a mulher, nos termos do § 8 do art.
226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a
... “quer as mulheres tenham quer deixam de Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
ter o direito de votar, elas devem ser excluídas do contra as Mulheres e da Convenção Interamericana
verdadeiro poder de decisão por causa de seu papel para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a
decisivo na reprodução da família, que terá de se Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de
alinhar com os imperativos absolutos e os ditames Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera
autoritários do capital. E isso deve acontecer porque o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de
a família, por sua vez, ocupa uma posição de Execução Penal; e dá outras providências.
importância essencial na reprodução do próprio
sistema do capital: ela é seu “microcosmo” No Art. 7º da lei referida acima, são formas de
insubstituível de reprodução e consumo.” p.278 violência contra a mulher, entre outras:

I - a violência física, entendida como qualquer


Compreendemos que a luta pela emancipação da
conduta que ofenda sua integridade ou saúde
mulher trás como necessária a luta pela emancipação
corporal;
humana, no entanto, neste momento histórico, além
II - a violência psicológica, entendida como
da crítica para a desconstrução do sistema capitalista,
qualquer conduta que lhe cause dano emocional e
concomitantemente, desenvolve-se uma crítica às
diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e
relações assimétricas entre homens e mulheres, que é
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise
permeada pelo uso da violência, majoritariamente
degradar ou controlar suas ações, comportamentos,
contra a mulher. Neste sentido, legislações que
crenças e decisões, mediante ameaça,
coíbem o uso da violência nas relações intrafamiliares
constrangimento, humilhação, manipulação,
são fundamentais. Como exemplo, a Lei Maria da
isolamento, vigilância constante, perseguição
Penha.
contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, esperamos que este contribua para que as relações
exploração e limitação do direito de ir e vir ou sociais prescindam do uso da violência.
qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde
psicológica e à autodeterminação; A seguir, apresentaremos o conjunto de filmes e
III - a violência sexual, entendida como qualquer músicas utilizados como recursos didáticos neste mini-
conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a curso.
participar de relação sexual não desejada, mediante
intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a
induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer
modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar Filmes:
qualquer método contraceptivo ou que a force ao
matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição,  Título no Brasil: Pelos meus olhos
mediante coação, chantagem, suborno ou
manipulação; ou que limite ou anule o exercício de País de Origem: Espanha
seus direitos sexuais e reprodutivos;
Ano de Lançamento: 2003
IV- a violência patrimonial, entendida como
qualquer conduta que configure retenção, subtração, Direção: Icíar Bollaín
destruição parcial ou total de seus objetos,
instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens,
valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo
os destinados a satisfazer suas necessidades;  Título no Brasil: Nunca Mais
V- a violência moral, entendida como qualquer
País de Origem: EUA
conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.
Ano de Lançamento: 2002

Direção: Michael Apted


A existência desta lei não corresponde, na
realidade, que a sociedade, como um todo, se
apropriou do seu conteúdo para sua implantação
substancial. Entendemos que este material é uma
forma de contribuição para sua divulgação e
 Título no Brasil: Cidade do Silêncio Ano de Lançamento: 1962

País de Origem: EUA Direção: Jean-Luc Godard

Ano de Lançamento: 2007

Direção: Gregory Nava  Título no Brasil: Guerra do Fogo

País de Origem: França

 Título no Brasil: Para Sempre Lilya Ano de Lançamento: 1981

País de Origem: Suécia / Dinamarca Direção: Jean-Jacques Annaud

Ano de Lançamento: 2002

Direção: Lukas Moodysson  Título no Brasil: Essa não é sua vida

País de Origem: Brasil

 Título no Brasil: Em Segredo Ano de Lançamento: 1991

País de Origem: Bósnia-Herzegóvina Direção: Jorge Furtado

Ano de Lançamento: 2006

Direção: Jasmila Zbanic  Título no Brasil: 10 mil a.C

País de Origem: EUA

 Título no Brasil: Viver a vida Ano de Lançamento: 2008

País de Origem: França Direção: Roland Emmerich


Músicas: - Marisa Monte (Dança da solidão)

- Ana Carolina (Ela é Bamba) - Martinho da Vila (Disritmia)

- Chico Buarque (Com açúcar e com afeto) - Rita Lee (Agora só falta você)

- Chico Buarque (Olhos nos olhos) - Rita Lee (Minha vida)

- Bonde do Rolê (Tapinha nada) - Rita Lee (Pagu)

- Bonde do Tigrão (Fica caladinha) - Secos e Molhados (Mulher Barriguda)

- Cássia Eller (Primeiro de Julho) - Zeca Pagodinho (Vacilão)

- Chico Buarque (Mulheres de Atenas) - Pitty (Desconstruindo Amélia)

- Ivan Lins – Vitoriosa

- Maria Gadu (Sonhos Roubados) Algumas destas músicas utilizadas


demonstram a relação de dominação
- Maria Rita (Muito Pouco) da mulher, enquanto outras levam a
reflexão dessa situação e outras
- Maria Rita (Tá perdoado) refletem a superação deste tipo de
relação.
- Maria Rita (Veja bem meu bem)
Referências Bibliográficas: MARX, K. Elementos fundamentales para la
crítica de la economia política. México: Siglo
Veintiuno Editores, 1986.
BOCK, A. M. B. (Org.); GONÇALVES, M. G. M.
(Org.); FURTADO O. (Org.). Psicologia sócio-
MARX, K. Manuscritos econômico-filosóficos.
histórica. 1ª ed. São Paulo: Cortez, 2001. 224
Lisboa: Edições 70, 1989.
p. / V. 1.
MÉSZÁROS, I. Para Além do Capital. Boitempo
DIAKOV, V.; KOVALEV, S. A sociedade
Editorial. S. Paulo. 2002.
primitiva. 4ª ed. São Paulo: Global, 1989.
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ENGELS, F. Anti-Dühring. Porto: Edições
violência no cotidiano escolar e processos
Afrodite, s.d.
formativos de professores. Tese (doutorado).
Programa de Estudos Pós - Graduados em
ENGELS – A origem da família, da propriedade
Educação:Psicologia da Educação, Puc, São
privada e do estado. Coleções grandes obras do
Paulo,2006.
pensamento universal. Número 2. Ed. Escala,
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Reflexões Temáticas à Luz da Psicologia
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Psicologia Científica. In: Duarte, N. (org.)
MARTINS, L. M. Introdução aos Fundamentos
Crítica ao Fetichismo da Individualidade.
Epistemológicos da Psicologia Socioistórica. In.
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Sociedade, Educação e Subjetividade.
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Reflexões Temáticas à Luz da Psicologia
Socioistóriac. Martins.L.M.(org.) São
VÁZQUEZ, A.S. Filosofia da Práxis. Rio de
Paulo.Ed.UNESP, 2008.
janeiro: Paz e Terra, 1977.
Organização e Produção O objetivo destes apontamentos,
em construção, é constituir-se no
Caio Cesar Portella Santos
material didático pedagógico para
Caroline Cusinato
que os participantes do Mini-curso
Maria Carolina Pinto Ferraz Cabau
Violência e Gênero possam se
Nilma Renildes da Silva
apropriar dos caminhos percorridos
pelo grupo de discentes e da

Colaboradores docente que está elaborando-o. Este


constitui as reflexões e discussões
Diego Augusto dos Santos
que estes vêm realizando em seus
Jéssica Raquel Stefanutto
projetos de ensino, pesquisa e
Marília Renildes Duka de Souza
extensão universitária.

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