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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2017.0000820902

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº


1000931-79.2015.8.26.0286, da Comarca de Itu, em que é apelante GAPLAN
ADMINSTRADORA DE BENS LTDA, é apelado NAVARRO DA COSTA
FERREIRA JUNIOR.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 29ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram
provimento ao recurso. V. U. Declarará voto o 2º Juiz., de conformidade com o voto
do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores FORTES BARBOSA


(Presidente) e NETO BARBOSA FERREIRA.

São Paulo, 26 de outubro de 2017.

Carlos Henrique Miguel Trevisan


Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº 12.647
APELAÇÃO Nº 1000931-79.2015.8.26.0286
COMARCA: ITU (1ª VARA CÍVEL)
APELANTE: GAPLAN ADMINISTRADORA DE BENS LTDA.
APELADO: NAVARRO DA COSTA FERREIRA JUNIOR
JUÍZA DE PRIMEIRO GRAU: ANDREA LEME LUCHINI

PROCESSUAL CIVIL Execução de título extrajudicial


Encaminhamento dos autos ao arquivo Posterior desconsideração
da personalidade jurídica da executada Inclusão do administrador
no polo passivo da execução Oposição de embargos à execução
Reconhecimento da prescrição intercorrente Sentença de extinção
Apelo da exequente Encaminhamento dos autos ao arquivo sem a
prévia intimação da exequente para dar andamento ao feito
Prescrição intercorrente não verificada Posicionamento consolidado
do Superior Tribunal de Justiça Sentença anulada Apelação
provida

A sentença de fls. 789/792, cujo relatório é adotado,


complementada pela decisão de fls. 804/805 proferida em sede de
embargos de declaração, acolheu os embargos à execução, julgando-os
extintos com resolução do mérito com fundamento no artigo 269, inciso
IV, do Código de Processo Civil de 1973, e, em consequência, extinta a
ação de execução, entendendo a magistrada de origem ter ocorrido a
hipótese de prescrição intercorrente. Ao final, a sentença condenou a
exequente ao pagamento das despesas processuais e de honorários
advocatícios fixados em R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais).
Apela a embargada (fls. 808/821) alegando não ter
ocorrido a hipótese de prescrição, já que, segundo afirma, nunca
abandonou a ação de execução proposta em face da empresa administrada
pelo embargante, tendo apenas tentado evitar “praticar atos processuais em
duplicidade”, e requerendo as medidas necessárias à satisfação de seu crédito
em outra ação de busca e apreensão contra a mesma empresa. Prossegue
afirmando que não “foi intimada pessoalmente para dar andamento ao processo, sob pena de
extinção da ação, requisito este necessário para comprovar a desídia e inércia da Apelante” e que
seu direito de ajuizar ação de execução prescreve somente após 20 (vinte)
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anos, pois fundada em relação jurídica de natureza pessoal. Pede, assim, a


anulação da sentença e o consequente prosseguimento do feito.
O recurso foi regularmente processado e respondido
(fls. 827/833).

É o relatório.

Cuida-se de ação de execução de título extrajudicial


ajuizada no ano de 1988 e fundada em escritura pública de confissão de
dívida com garantia hipotecária assinada pela empresa Projector
Engenharia Ltda., a qual teria deixado de pagar a importância de CZ$
20.147.318,25 (vinte milhões e cento e quarenta e sete mil e trezentos e
dezoito cruzados e vinte e cinco centavos), o que motivou a apelante a
buscar pela via judicial a satisfação de seu crédito.
Em dezembro de 2010, diante da notícia do
encerramento irregular da empresa, foi determinada a desconsideração da
personalidade jurídica da executada, expedindo-se carta precatória (fls.
443/444) com a finalidade de o administrador Navarro da Costa Ferreira
Júnior, agora apelado, ser citado e, consequentemente, incluído no polo
passivo da ação de execução, tendo a decisão sido impugnada por meio de
embargos à execução.
Consta da inicial dos embargos à execução que o
embargante é parte ilegítima para figurar no polo passivo da execução uma
vez que nunca assinou qualquer contrato com a embargada, em especial
considerando que figura como sócio na Junta Comercial apenas por ter
participado da constituição da empresa, tendo, porém, sido dela excluído
em 1988 mediante alteração contratual e societária.
Afirma também o embargante que ocorreu hipótese de
prescrição intercorrente e que não houve comprovação da prática de atos
fraudulentos suficientes a autorizar a desconsideração da personalidade
jurídica da empresa Projector.
Respeitado o entendimento da MM. Juíza de primeiro
grau, a prescrição intercorrente não está caracterizada.
Entre os anos de 1988 e 1999 a exequente diligenciou
em busca de bens, mas não obteve êxito uma vez que, dos bens que a
executada ofereceu à penhora, um era fisicamente inexistente e outro,
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gravado com cláusula de alienação fiduciária, foi dissipado.


Em decorrência da ausência de pronunciamento da
exequente, os autos foram enviados ao arquivo para aguardar provocação
(fl. 205), lá permanecendo durante 10 (dez) anos, sendo desarquivados a
pedido da exequente em 28 setembro de 2010 (fl. 207).
Verifica-se que entre os anos de 1999 e 2010, período
em que o processo esteve no arquivo, não só não houve qualquer
manifestação por parte da exequente, como também não houve qualquer
decisão ou despacho por parte do juízo, intimando-a a dar andamento ao
feito.
Desse modo, a prescrição intercorrente não está
caracterizada, considerando que não houve prévia intimação da exequente,
cuja indispensabilidade está consolidada pela jurisprudência do Egrégio
Superior Tribunal de Justiça:
EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL DECISÃO
MONOCRÁTICA DA LAVRA DESTE SIGNATÁRIO QUE DEU
PROVIMENTO AO RECLAMO DO EXEQUENTE, A FIM DE
AFASTAR A PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE RECONHECIDA
PELO TRIBUNAL 'A QUO' E DETERMINAR O RETORNO DOS
AUTOS AO JUÍZO DE ORIGEM PARA O REGULAR
PROSSEGUIMENTO DA EXECUÇÃO. IRRESIGNAÇÃO DO
EXECUTADO. (...) 2. De acordo com a consolidada jurisprudência
deste STJ, para o reconhecimento da prescrição intercorrente, é
imprescindível a intimação pessoal da parte para dar
prosseguimento ao feito e a sua posterior inércia em cumprir a
ordem contida no ato intimatório. 2.1. Hipótese em que o Tribunal
local assentou ser desnecessária a intimação pessoal do exequente
para o reconhecimento da prescrição intercorrente. Afastamento da
prescrição intercorrente que se mostrou adequado, face a ausência de
intimação pessoal do exequente para dar andamento ao feito. 3.
Agravo interno desprovido (4ª Turma, AgInt no REsp nº
1.454.054/MG, Relator Ministro Marco Buzzi,
15.12.2016)
EXECUÇÃO. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. INTIMAÇÃO.
AUSÊNCIA. APLICAÇÃO DA SÚMULA 83/STJ. 1. A jurisprudência
do STJ é firme no sentido de que, para reconhecimento da
prescrição intercorrente é imprescindível a comprovação da inércia
do exequente, bem como sua intimação pessoal para diligenciar nos
autos, o que não ocorreu na espécie. 2. Agravo interno não provido
(4ª Turma, AgInt no REsp nº 1.351.985/MG,
Relator Ministro Luis Felipe Salomão,
18.10.2016)
EXECUÇÃO. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. INÉRCIA. NÃO
OCORRÊNCIA. (...) 1. Para reconhecimento da prescrição
intercorrente, é imprescindível a comprovação da inércia do
exequente, mediante a intimação pessoal do autor para diligenciar
nos autos. (...) 3. Agravo interno a que se nega provimento. (4ª
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Turma, AgInt no AREsp nº 856.339/BA, Relatora


Ministra Maria Isabel Gallotti, 29.9.2016)
PROCESSO CIVIL. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. INTIMAÇÃO.
NECESSIDADE. 1. Para o reconhecimento da prescrição
intercorrente é imprescindível a intimação da parte para dar
andamento ao feito. 2. Agravo regimental não provido (3ª
Turma, AgRg no AgRg no AREsp nº 228.551/SP,
Relator Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva,
16.6.2015)

Ao enfrentar o tema, assim também já decidiu este


Egrégio Tribunal:
Agravo de instrumento. Ação de Cobrança. Débito condominial. Fase
de cumprimento da sentença. Decisão que rejeitou a Exceção de Pré-
Executividade. Inconformismo dos executados deduzido no Recurso.
Rejeição. Prescrição intercorrente não configurada. Embora o
processo tenha permanecido por sucessivos períodos no arquivo,
não restou demonstrado que o condomínio exequente tenha sido
intimado pessoalmente para promover o andamento do feito.
Precedentes do C. STJ. Reunião de processos que não se justifica ante
a não coincidência dos débitos discutidos nas duas Ações de
Cobrança. Decisão mantida. recurso não provido (Agravo de
Instrumento nº 2221567-16.2016.8.26.0000,
Relatora Desembargadora Daise Fajardo
Nogueira Jacot, 11.04.2017)
Agravo de instrumento. Ação de cobrança. Cumprimento de sentença.
Decisão que afastou a ocorrência de prescrição intercorrente.
Suspensão do feito pela ausência de localização de bens penhoráveis
da ré-agravante. Arquivamento provisório dos autos.
Impossibilidade de reconhecimento da prescrição intercorrente.
Período em que também o prazo prescricional fica suspenso.
Ademais, credor não intimado pessoalmente para dar regular
andamento ao feito. Precedentes do STJ. Decisão mantida. Recurso
improvido (Agravo de instrumento nº
2121219-87.2016.8.26.0000, Relator
Desembargador Francisco Occhiuto Júnior,
21.7.2016)

A isso se acrescenta que sequer foi determinada a


suspensão do andamento da execução, tendo sido promovido apenas o
encaminhamento do processo físico ao arquivo.
Ainda que assim não fosse, a permanência dos autos em
arquivo por longo prazo não configura negligência para promoção de atos
processuais.
Desse modo, tendo ocorrido o encaminhamento dos
autos ao arquivo sem a prévia intimação pessoal da exequente para dar
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andamento ao feito, inviável o reconhecimento da prescrição intercorrente,


impondo-se a anulação da sentença e o regular prosseguimento da
execução.
Ante o exposto, o voto é no sentido de se dar
provimento à apelação.

CARLOS HENRIQUE MIGUEL TREVISAN


Relator
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Apelação nº 1000931-79.2015.8.26.0286
Comarca: Itu
Apelante: Gaplan Adminstradora de Bens Ltda
Apelado: Navarro da Costa Ferreira Junior

Voto 13.309

Declaração de Voto

Ressalvo que o CPC de 2015 traz


específica regra sobre o início do fluxo do prazo
de prescrição intercorrente, que é contado a
partir do decurso do lapso de um ano de suspensão
do processo derivada da falta de localização de
bens penhoráveis (artigo 921, §4º).
Os atos processuais em relevo, no
entanto, foram praticados na vigência do CPC de
1973, tendo sido o arquivamento ordenado em 1999
e o desarquivamento requerido no ano de 2010,
quando não havia regra específica sobre a
matéria.
Esposei sempre o entendimento de que, na
vigência do CPC de 1973, bastaria a intimação da
parte por meio de seu patrono, mediante
publicação pela imprensa oficial; porém, na
espécie, a recorrente não foi intimada nem mesmo
pela imprensa acerca do envio dos autos ao
arquivo (fls.205).
Não foi efetivada intimação alguma e,
nestas circunstâncias, não há como afirmar a
prescrição intercorrente, motivo pelo qual
acompanho o relator e, também, dou provimento ao
recurso.

Fortes Barbosa
Desembargador
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Este documento é cópia do original que recebeu as seguintes assinaturas


digitais:

Pg. Pg. Categoria Nome do assinante Confirmação


inicial final

1 6 Acórdãos CARLOS HENRIQUE MIGUEL TREVISAN 7050F58


Eletrônicos

7 7 Declarações MARCELO FORTES BARBOSA FILHO 39F5434


de Votos

Para conferir o original acesse o site:


https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informando o processo
1000931-79.2015.8.26.0286 e o código de confirmação da tabela acima.

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