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Meninges — Liquor 1.0 MENINGES O sistema nervoso central ¢ envolvido por mem= branas conjuntivas denominadas meninges, e que so ares: dura-méiter, aracnoide ¢ pia-miter. A aracnoide ¢apie-miter, que no embrigo constituem um s6 fothe- to so, por vezes, consideradas como uma formagao nica, « leptomeninge, ou meninge fina, distinta da ‘Paguimeninge, ou meninge espessa, constituida pela ciura-matet. O conhecimento de estrutura e da dispo- sisio das meninges € muito importante, nao s6 para a ‘compreenstio de seu importante papel de protero dos “centr0s nervosos, mas também porque clas podem scr ‘ometidas por processos patolégicos, como infec- ees (meningites) ou tumores (meningiomas). Além mais, o acesso cirdrgico ao sistema nervoso central avolve, necessariamente, contato com as meninges, que toma o seu conheeimento muito importante 2.0 neurocirurgigo. No Capitulo 4 item 5.0) fo- m feitas algumas consideracdes sobre as meninges sestudou-se sux disposi¢go na medula espinhal. Estas ybranas serio a seguir cstudadas com mais pro- ndiéade, deserevendo-se sua disposigio em tomo encéfalo. 4 DURA-MATER Ameninge mais superficial é a dura-méter, espessa sistente, formada por tecido conjuntivo muito rico ‘bras colagenas, contendo vasos e nerves. A dura- ser do encéfalo difere da dura-miter espinhal por formada por dois folhet0s, externo ¢ interno, dos S apenas 0 interno continua com a dura-miter espi- hal (Figura 8.1). © folheto externo adere intimamen- te aos 03503 do crdnio ¢ comporta-se como peridsteo destes oss0s. Ao contririo do periésteo de outras frcas, © folheto exter da dura-mater no tem capacidade osteogénice, o que dificulta a consolidago de fraturas no crdnio ¢ torna impossivel a regeneracdo de perdas 6sseas na abobade craniana. Esta peculiaridade, entre- tanto, é vantajosa, pois a formagao de um calo dssco na superficie intema dos ossos do erinio pode constituir szave fator de irritarzo do tecida nervoso. Em virtude da aderéncia da dura-méter aos ossos do crénio, nio existe no encéfalo um espago epidural, como na me- dula. Em certos traumas ocorre o deseolamento do for theto extemo da dura-miter da face interna do crinio ¢ a formagao de hematomas epidurais. A dura-miter, em particular seu folhewo externo, € muito vascularizada. No encéfalo, a principal artéria que irriga a dura-méter 6a antéria meningea média (Figura 8.2), ramo da arté- ria maxilar interna, A durasméter, 20 contririo das outras meninges, € ricamente inervade. Como o eneéfalo no possui terminagbes nervesas sensitivas, toda a sensibilidade intracraniana se localica na dura-aniter € nos vasos san- guineos, responsiveis, assim, pela maioria das dores de eabeca 1.1.1 Pregas da dure-mater do encéfalo m algumas areas, @ folheto intemo da dura- ~miter destaca-se do extemo para formar pregas que dividem a cavidade eraniana em compartimentos que se comunicam amplameate. As principais pregas sio as seguintes: Doraméter ———. Seio soginel superior 7 7” Coro posterior do ontel toral GronulogSo orsendides 7 fepor sberacnideo — Vert Wp Neos carers forela o cochlo spn potors Per antl do Coniinia ventriule leteral dos seios ‘Come anieriordo = i Abertura mediana ‘orto terol 7 SON venticubs Y Forame intarventrilar “~” 7 Cisterna magn: § mogr Wvertrcale ~~ _ Folheto interno do durometer Come infevce de venticula lateral “ Oxto occipital Foheto exeino Aquedute corabrol === — a da ducomévar Pioomter — Yeawicvlo terminal Flemeato seminal — FIGURA 8.1. E:quema da circulaso do liquor. a) foice do cérebro — &um septo vertical mediano b) tenda do ceredelo — projeta-se para diante ‘em forma de foice, que ocupa a fissure longitu- como um septo transversal entre os Lobos oc- dinal do cérebro, separando os dois hemisférios cipitais e © cerebelo (Figura 83). A tenda do cerebrais (Figura 8.3): cerebelo separa a fossa posterior da fossa mé- J2_NEUROANATOMIA FUNCIONAL Foice do ebro — lamina erivose de atmaide Balbo elfatério -——— ~~~ Scie intorcavernose Nerve éptico = — Conc éptico com o nerve Sptice Autiio ofgimica e vig oftimiea superior a Hiptice ‘Seio esfenoparietal — Fissua orbitel superior com 7 — on. ecilomoor fl, odeor (MI, $2 oe ‘obducene Vl] 6 ofsImico Diatrogma de sola ——f . Forame rodondo com nervo maxilar Seio cevernoso Forome oval com nerve mandibular Loje do ganglio ae: do gongtio _ Arétia meninges rig media Seto potioro _. Mecte actskes interno inferior ‘com nerves focal (VI, 5 interméti (VI 6 Sapa. “ vestbuloceclecr (Mil superior ft Scio sigmoide ~~ Corel do hipoglosso ‘com perv, : vpegss itida a cniSe Forome jugular com nervos lossoferinges (I), vage (Xe ocestéco (Xl Raiz ospinhel do nove accceério ‘Module eepinhal NS Aniiie verb Ss. ; {Scio oxcpitel Ny Xo eto Seio wonsverso) = ~~ Confusrela dos seios Seio sogitl superior —. FIGURA 8.2 Base do crénio, A durasméter foi removide do lado direito 0 mantida de lade sequerdo. dia do crénio, dividindo a covidade craniana em um compartimento superior, ou supraten torial, e outro injerior, ox infratentorial. Esta divisao € de grande importancia clinica, pois a sintomatologia das afecedes supratentoriais (sobrecudo os tumores) € muito diferente das infratentoriais. A borda anterior livre da tenda do cerebelo, denominada incisura da tenda, = CAPITULO MMENINGES- UQUOR 73. Gronularées oio cerebral superficial superior 1 | ! ; Confluéncia dos seios Seio occiital ~ Foice do cerebelo tb 1 1 J Seio cagitol superior _vPoice do cératro ee 77 Seo sogitl inferior ~~ Sain sigmeice "7 ~—Tenda do cerebelo — Seio hanover FIGURA 8.2. Proges ¢ seios da duraméter do encéfao, ajusta-se a0 mesoncéfalo. Esto relagdo tem importincia clinies, pois a incisura da tenda pode, em certas circunstinciss, lesar o mesen- céfalo ¢ 0s nervos troclear € oculomotor, que i rele se originam, ) folce do cerebelo ~ pequeno septo vertical me- iano, situado abaino da tenda do cerebelo, entre 0s dois hemisférios eercbelares (Figura 8.3). 4) diafragma da sela (Figura 8.2) ~ pequena li- mina horizontal que fecha superiormente a sela ttirciea, deicando apenas um pequeno orificio para a passagem da haste hipofiséria. Por este | NEUROANATOMIA FUNCIONAL motivo, quando se retira 0 eneéfalo de um ca- aver, esta haste geralmente s¢ rompe, ficando « hipdfise dentro da sola tirciea, O diafragma da sela isola ¢ protege a hipéfise, mes dificulta consideravelmente a cirurgia desta glinduls. 1.1.2, Cavidades da dura-mater Em determinadas reas, os dois folhetos da dura- mater do encéfalo separam-sc, delimitando cavidades. ‘Uma delas do géinglio trigeminal, que contém o ginglio trigeminal (Figura 8.2). Outras cavidades so revestida: de endo- © cavo trigeminal (de Meckel), ou loja ‘€lio ¢ contém sangue, constituinde os seias da dura. -niter, que se dispdem sobretudo ao longo da insersaio das progas da dura-méter. Os seios da dura-miter serio estudados a seguir, 1.1.3. Seios da dura-mater Sti canais venosos revestidos de endotélio e six tuados entte os dois folhetos que compdem a dura- -miter encelica. A maioria dos seios tem seccao triangular e suas paredes, embora finas, sio m: gidas que a das veias ¢ geralmente no se colabarn quando seccionadas. Alguns seios apresentam expan- oes laterais inregulares, as acunas sanguineas, mais frequentes de cada lado do seio sagital superior. O sangue proveniente das veias do encéfalo ¢ do globo ocular é drenado para os seios da dura-miter e destes para. as veias jugulares intemas. (Os seios comunicam- -se com veias da superficie externa do erinio através de veias emisscrias, que percortem forames ou cana- liculos que Ihes sio préprios, nos ossos do crinio. Os scios dispdem-se sobretudo ao longo da inserg2o das pregas da dure-miter, distinguindo-se os seios em re- lagdo com a abdbada e com a base do crinio. Os seios da abdbada sto os seguintes: 8) seio sagital superior ~ impar ¢ mediano, per- corte a margem de insereio da foice do cérebro (Figura 8.3). Termina proximo & protuberancia ccipital intema, na chamada conftuénciea dos seios, formada peta confluéncia des seios sagital superior, reto ¢ occipital e pelo inicio dos seios ‘rensversos esquerdo ¢ direito (Figura 83)! b) selo sagital inferior — situa-se na margem livre da foice do eérebro, terminando no scio reto (Figura 83); ©) seio reto — localiza-se 20 longa da linha de unigo entre a foice do cérebro € 2 tenda do ce- rebelo. Recebe, em sua extremidade anterior, © seio sagital inferior ¢ a veie cerebral magna (Figuras 8.2 ¢ 8.3), terminando na confivéncia dos scios: 4) seio transverso—€ pare dispoe-se de cada lado +0 longo da insereao da tenda do cerebelo no sso occipital, desde a confluéncia dos seios até 2 parte petrosa do osso temporal, onde pas- sa.a set denominado seio sigmoide (Figuras 8.2683): 1 A contluéncia dos seios é também conhecida como tor- ‘cular de Heréphilo. Nem sempre os seios encontram-se ‘em um s6 ponto, descrevendo-se polo menos quatro ti- os de confluéncia, = CAPITULO °) a) b) seio sigmoide — em forma de $, é uma conti- rnuapio do seio transverse até o forame jugular, onde contintia diretamente com a veia jugular intema (Figuras 8.2 ¢ 8.3). 0 seio sigmoide drena a quasc totalidade do sangue venoso da cavidade craniona; seio occipital — muito pequeao ¢ irregular, dispde-se ao longo de margem de insergio da foice do cerebelo (Figuras 8.2 ¢ 8.3) ‘yenosos da base S0 0s seguintes: Selo cavernoso (Figura 8.2) — um dos mais im- portantes seios da dura-mater,o seio cavemnoso. ume cavidade bastante grande ¢ irregular, si- tuada de cada lado do corpo do esfenvide ¢ da sela tiircica. Recebe o sangue proveniente das veias oftilmica superior (Figura 8.2) central éa retina, além de algumas veias do cérebro. Drena através dos seios petroso superior e pe- ‘troso inferior, além de comunicar-se com 0 seio cavernosa do lado oposto, através do seio inter~ cavernosa. O seio eavernoso éatravessado pela artéria cardtida intema, pelo nervo abducente «&, jG proximo a sua parede lateral, pelos nervos ‘toclear, oculomotor € pelo ramo oftélmico do nervo trigémoo (Figura 8.2). Estes elementos io separados do sangue do seio por um reves- timento endotelial, ¢ sua relagio com 0 seio cavernoso € de grande importéncia cliniea, As- sim, aneurismas ¢a car6tida interna no nivel do scio cavernose comprimem @ nervo abducente 4, em certos casos, os demais nervos que atra~ vessam 0 seio cavernoso, determinando distic- bics muito tipicos dos movimentos do globo ‘ocular, Pode haver perfuragao da carétida in- tema dentro do seio cavernoso, formando-se, assim, um curto-cireuito arteriovenoso (fistula carétido-cavemosa) que determina dilatagao e aumento da pressio no seio eavernoso. Tsto faz ‘com que se inverta a circulae3o nas veias que nele desembocam, como as veias oftélmicas, resultando em grande protrusao do globo ocu- lr, que pulsa simultaneamente com a carétida (exoftalmico palsitil). Infeogées superficiais da face (como espinhas do nariz) podem se pro- pagar a0 seio cavemnoso, tomando-se, pois, Uuacranianas, em virtude das comunicagées que cexistem eatre as veias oftdlmicas, tibutirias do seio cavemoso, ¢ yeia angular, que dena a tegido nasal; seios intercavernasos — unem 03 dois scios ca~ vernosos, envolvendo a hipéfise (Figura 8.2): MENINGES -UGUOR 7 ©) _seio esfenoparictal ~ percorre a face interior da pequena asa do esfenoide © desemboca no seio cavemoso (Figura 82): 6), seio petroso superior ~ dispde-se de cada lado, 0 longo da insergao da tenda do cerebelo, na poryao petrosa do osso temporal, Drena 9 san gue do seio cavemoso part 0 seio sigmoide, terminando préximo & continuago deste com a veia jugular interna (Figura 8.2). ©) seio petroso inferior ~ pereorre o sulco petroso inferior entre o seio cavernoso ¢ 0 forame jugu- lar, onde termina langando-se na veia jugular interna (Figura 8.2); 1) plevo basilar ~ impsr, ocupe a porgao basilar do occipital. Comunica-se com os seios petroso inferior & cavernoso, liga-se ao plexo do fore- me occipital ¢, através deste, 20 plexo venoso vertebral interno (Figura 8.2}. 1.2 ARACNOIDE Memirana muito delicads, justaposta & duracmé- ter, da qual se separa por um espaco virtual, 0 espaco subdural, contendo pequena quantidade de liquide ne~ cessitio & lubrificagdo das superficies de contato das duas membranas, A aracnoide separa-se da pia-méter pelo espaco subaraendideo (Figura 8.4), que comtém 6 liquido cerebroespinhal, ou liquor, havendo ampla comunicacao entre 0 espaco subaracnéideo do encéfa- Jo © da medula (Figura 8.1). Considgram-se também como pertencendo & aracnoide as delicadas trabécules que atravessam o espaco para se ligar pia-miter, e que sto denominadas rrabéculas araendideas (Figura 8.4). Estas trabéculas lembram, em aspecto, uma teia de ara nha, donde © nome de aracnoide, semelhamte & aranha. 1.2.1. Cisternas subaracndideas A amenoide justapde-se & durmméter ¢ ambes ‘acompenham apenas grosseiramente a superficie do encéfalo, A pia-mater, entretanto, adere intimamente a esta superficie, que ecompanha em todos 0s giros, suloos © depresses. Desse modo, a distdncia entre as duas membranas, ou seja,a profundidade do espago su- baraendideo é varidvel, sendo muito pequena no cume dos giros e grande nas areas onde parte do encéfalo se afasta da parede craniana. Formam-se assim, nessas reas, ditatacoes do espaco subaracndideo, as cisier- nas subaracndideas (Figura 8.5), que contém grande quantidade de liquor. As cistemas mais importantes sio es seguintes: 2) cisterna cerebolo-medular, ow cisterna magna ‘ocupa 0 espaco entre a face inferior do cere 7& NEUROANATOMIA FUNCIONAL belo, 0 teto do IV ventriculo e a face dorsal do bulbo (Figura 8.5), Continua caudalmente com ‘0 espago subaraendideo da medula ¢ liga-se a0 IV ventriculo através de sua abertura mediana (Figura 8.5). A cistema eerebelo-medular é, de todas, a maior e mais importante, sendo as. vezes utilizada para obtencao de liquor através das pancdes suboccipitais, em que a agullia é iniroduzida entse 0 occipital ea primeira vérte- bra cervical; b) cisterna pontina — situada ventralmente & ponte (Figura 8.5); ©) cisterna interpedumeular — localizada na fossa interpeduncular (Figura 8.5) ) cisterna quiasmética — sitvada adiante do quiasma éptico (Figura 8.5); ¢) cisterna superior ~ (cistema da veia cerebral magna) ~ situada dorsalmente ao (cto do me- seneéfalo, entre 0 cerebelo ¢ © esplénio do corpo caloso (Figura 8.5), a cisterna superior corresponde, palo menos em parte, & cisterna ambiens, termo usado sobretudo pelos clinicos: ) cisterna da fossa lateral do cerebro ~ corres ponde a depressio formada pelo sulco lateral de cada hemisfério, 1.2.2. Granulagdes aracndideas Em alguns pontos a aracnoide forma pequenos tue fos que penetram no interior dos seios da dure-méter, constituindo as gramulagées aracnéideas, mais abun- dantes no soio sagital superior (Figuras 83 ¢ 84). As granulagdes aracndideas levam pequenos prolonga- mentos do espago subaracndideo, verdadeiros diverti- caulos deste espazo, nos quais o liquor esta separado do sangue apenas pelo endoiélio do scio ¢ uma delgada camada da araenoide. Sdo, pois, estruturas admirevel- mente adaptadas & absory20 do liquor que, neste ponto, ccai no sangue. Sabe-se hoje que a passagem do liquor através da parede das granulagdes se faz por meio de grandes vaciioles, que 0 transportam de dentro para fora. No adulto e no velho, algumas granulagbes tor- ham-se muito grandes, eonstitundo os chamados cor pos de Pacciiomi, que frequentemente se calcificam & podem deixar impresses na abébada craniana, 1.3 PIAMATER A pia-mater é a mais interna das meninges, aderin- do intimameme a superficie do encéfalo (Figura 8.4) € da medula, cujos relevos ¢ depresses acompanha, descendo até 9 fundo dos sulcos cerebrais. Sua por- ‘so mais profunda recebe numerosos prolongementos dos astrécitos do tecido nervoso, constituindo assim a Gronuloge aracnéides Sein sagital superior ercide ‘ a \ 1 fl Se. \ Espogo perivascular ue a / Espace Foice do _-Expago tubdvrel Prométor suboracndideo cerebro (ditciado} FIGURA 8.8 Seceéo transversal do seio sogitel superior mosirando uma granulacdo arccnéides e « disposicfio dat meninges & espacor moningoes. MW venticulo Forome interventricular |_ Cisterna superior ~ IV verticolo Abertura medians dol¥ venticvo ~~~ Cisterna corebelo- mmedilar uiasmético : Z comnihed FIGURA 8.5, Esqvema mostrando @ disposigio dos cisternas suburacnéideas. As Greos contend liquor esido representadas on azul, = CAPITULO MENINGES -UQUOR 77, membrana pio-glial. A pio-méter dé resistencia aos ér- ‘gos nervosos, uma vez que 0 tecido nervoso é de con- isténcia muito mole. A pia-mater acompanha 0s vasos ‘que penetram no tecido nervoso a partir do espaco su- baracndideo, formando a parcde externa dos espacos perivaseulares (Figura 8.4). Nestes espagos existem prolongamentos do espago subaracnéideo, contendo liquor, que forma um manguito protetor em tomo dos vvasos, muito importante para amortecer 0 efeito da pul- sagdo das arérias ou picos de pressdo sobre 0 secido cireunvizinho. © fato de as artérias estarem imersas em liquor no espago subaracndideo também reduz o fei to da pulsago. Os espagos perivasculeres envolvem ‘03 vasos mais calibrosos até uma pequena distneia & terminam por fus4o da pia com # edventicia do vaso. As arteriolas que penetram no parénquima sto envol ‘Vidas até alguns milimetros. As pequenas arteriolas so envolvidas até o nivel eapilar por pés-vasculares dos astrécitos do tecido nervoso. 2.0 LIQUOR © liquor ov liquido cerebroespiahal € um fluido aquoso ¢ incolor que ocupa o espago subaracndiddeo ¢ as cavidades ventriculares. A funeao primordial do liquor Ede protegio mecinica do sistema nervoso central, for- mando um verdadeiro coxim liquido entre este € 0 esto- {jo dsse0. Qualquer pressio ov choque que se exerga em ‘um ponto deste coxim liquide, em virtude do principio de Pascal, ird se distribuir igualmente a todos 0s pontos.. Desse modo, o liquor constitui um eficiente mecanismo amortecedor dos choques que fiequentemente atingem © sistema nervoso central. Por outro lado, em virtude da disposi¢ao do espaco subaracndideo, que envolve todo © sistema nervoso central, este fica totalmente submerso em liquide (Figura 8.1) c, de acordo com o principio de Arquimedes, toma-se muito mais levee, de 1.500 gra- ‘mas passa a0 peso equivalente a 50 gramas flutuando no Tiquor, 0 que reduz 0 risco de traumatismos do encéfalo resultantes do contato com os ossos do cranio, 2.1 CARACTERISTICAS CITOLOGICAS E FISICO-QUIMICAS DO LIQUOR Através de pungées lombares, suboceipitais ou ventticulares, pode-se medir a presso do liquor, ou colher certa quantidade para estudo de suas caracte- risticas citologicas e fisico-quimicas. Tais estudos for- necem importantes informagdes sobre a fisiopatologia do sistema nervoso central e seus envoltorios, permi- Lindy 0 diagnéstico, as vezes bastante preciso, de mui- tas afvcgbes gue acometem o sistema nervoso centcal, como hemorragias, infecgées ete. O ostudo do liquor & especialmente valioso para 0 diagnéstico dos diversos 78 NEUROANATOMIA FUNCIONAL tipos de meningites. © liquor normal do adulto é limpi- do e incolor, apresenta de zero a quatro leucdeitos por mm’ ¢ uma pressio de 5 cm a 20 em de agua, obtida na regiao lombar com paciente em decdbito lateral. Em- bora o liquor tenha mais elorctos que o sangue, « quan- tidade de proteinas & muito menor do que a existente no plasma. O volume total do liquor é de 100 mL. a 150 mL, renovando-se completamente a cada oito horas. Os, plexos corioides produzem cerca de 500 mL. por dia através de filtragao seletiva do plasma ¢ da secreyio de elementos especificos. Existem tabelas muito minu- closas com as caracteristieas do liquor normal ¢ suas variagbes patol6gicas, permitindo a caracterizaco das diversas sindromes liquoricas. 2.2 FORMACAO, CIRCULACAO E ABSORCAO DO LIQUOR Durante muito tempo acreditou-se que o liquor seria formado somente pelos plexos corioides, estratura eno- velada formad por dobras de pia-miter, vasos sanzui- neds ¢ células ependimérias modificadas. Estudos mais, moderos, entretanto, mostraram que o liquor € proda- ido mesmo na auséncia de plexos corioides, sendo 0 epéndima das paredes ventriculares responsivel por 40% do total do liquor formado, Acrediton-se também que 0 liquor resultaria apenas de um processo de filtragao do plasma pclos plexos corivides. Entretanto, sabe-se hoje que cle & ativamonte secretado pelo epitélio ependims- rio, sobretudo dos plexos corioides, e sua composigao determinada por mecanismos de transporte especifi- cos, Sua formaao envolve transporte ativo de Na’ Cl, através das células ependimérias dos plexos corioides, acompanhado de corta quantidade de égua, necesséria & manutengio do equilibrio osmético. Entende-se, assim, porque a composicio do liquor é diferente da do plasma Como ji foi expasto anteriormente, existem plexos Corioides nos ventriculos laterais (como inferior ¢ parte central) ¢ no teto do Ill ¢ IV ventriculos (Figura 8.1). Destes, sem diivida, os ventrfculos laterais contribuem com o maior contingente liquérico, que passa a0 [Il ven- triculo pelos forames interventriculares ¢ dai ao TV ven- triculo através do aqueduto cerebral (Figuras 8.1 € 8.5) Por meio das aberturas mediane ¢ laterais do TV veatri- cculo, © liquor formado no interior dos ventrfculos ganha © espaco subaracnéidco, sendo reabsorvido, sobretudo através das granulagdes aracndideas que se projetam no interior dos seios da dura-méter, pelas quais chega A citeulacao geral sisitmica (Figuras 83 e 8.4). Como ‘essas granulagtes predominam no seio sagital superior, a circulagio do liquor no espago subaracndidco se fa. de baixo para cima, devendo, pois, atravessar 0 espago entre a incisura da tenda @ 0 mesencéfalo. No espazo st- baraendideo da modula, 0 liquor desce em diregiio cau- dal (Figura 8.1), mas apenas uma parte voita, pois hi Feabsorcao liquérica nas pequenas granulagdes aracn6i- dzas existentes nos prolongamentos da dura-méter que acompanham as rafzes dos nervos espinhais. A circulacio do liquor é extremamente lenta e so ainda discutidos os fatores que a determinam. Sem die vida, a produrdo do liquor em uma extremidade e a sua absorgio em outra ji sdo suficientes para causer sua ‘movimentaro, Outro fator é a pulsago das artérias intracranianas que, a cada sistole, aumenta a pressio iquérica, possivelmente contribuindo para empurrar 0 liquor através das granulacdes aracndidess. Além de sue fungo de protegio mecanica do en- céfilo, em torne do qual forma um coxim liquido, 0 liquor tem as seguintes fungBes: a) Manutengio de um meio quimico estivel no sistema ventricular, por meio de troca de com- ‘Ponentes quimicos com os espacos interstciais, permanecendo estivel a composieo quimica do liquor, mesmo quando ocorrem grandes al- teragdes na composi¢do quimica do plasma, b) Excreeto de produtos téxicos do metabolismo das células do tecido nervoso que passam aos espagos intersticiais de onde sio langados no liquor ¢ deste para o sangue. Pesquisas recentes (Xie etal, 2013) mostraram que o volume dos ‘espagos intersticiais aumentam 60% durante o sono facilitando a eliminagio de metabélitos \xicos acumulados durante a vigilia, ©) Yeiculo de comunicagao entre diferentes ércas do SNC. Por exemplo, horménios produzidos no hipotilamo sio liberacos no sangue, mas também no liquor podendo agir sobre regides istantes do sistema ventricular. 3.0 CORRELACOES ANATOMOCLINICAS © conhecimento das cavidades cerebrais que con- 46m liquor, assim como des meninges ¢ suas relagdes com o encéfalo, éde grande relevéneia para a comprcen- stn de uma série de condigbes patolégicas com que fre- Quentemente se Gepara 0 clinica e, de modo especial, 0 neurologista, A seguir, descreveremos algumas dessas,

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