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Aspectos históricos da Intolerância Religiosa no Brasil

As origens da intolerância religiosa no Brasil, se confundem com a própria


chegada das embarcações portuguesas no território do Novo Mundo. Aquilo a
que nomeava-se como a “descoberta” do Brasil, se demonstra o início, a raiz
primeira, a gênese daquilo que denominamos de intolerância religiosa no
âmbito do território nacional. Expressão muito utilizada atualmente, sendo um
dos principais temas de debate e conflitos no seio da sociedade.

Ao analisarmos o contexto social no que se refere à intolerância religiosa


no Brasil, devemos buscar suas raízes e procurar nos aprofundar em saber,
compreender o “como chegamos até aqui”. Sabedores de que nossa terra foi
alvo das expedições marítimas de Portugal, o que fez com que o catolicismo se
tornasse religião oficial, e portanto, obrigatória no país, devemos continuar
“escavando” para encontrar a raiz de tal questão.

As origens de tal pensamento iniciam-se com o imperador Constantino,


em 313 D.C, que após ter visto a inscrição “In Hoc Signo Vinces”, que significa
“com este sinal vencerás” e, a partir de então, passa a colocar, seguindo a
ordem do próprio Jesus durante um sonho, uma cruz nos escudos dos
soldados. Influenciados por essa compreensão, inicia-se anos depois, as
guerras santas denominadas de “cruzadas”. Onde os países “cristãos”,
invadiam, a terra dos “infiéis”, convertendo-os a despeito de sua vontade.

A intolerância religiosa, dentro do espectro jurídico somente se inicia


com o reconhecimento da laicidade estatal, que trouxe luz ao assunto com a
redação da Constituição ade 1891. Diferente das outras Constituições que
diziam ser a religião Católica a oficial do Brasil.

Autor Hélio Silva Jr


De acordo com alguns autores como, Peter Eccles (1991, P. 135 ). “ O sistema jurídico
não conseguiu se manter neutro e garantir a não-discriminação, do novo sistema jurídico”.
Segundo o autor, Hélio Silva Jr a função da lei só favoreceu a supremacia branca, que foi o
simples fato de fortalecer a dominação branca a população negra.

A função da lei no século passado, como especial a lei penal, não andava junto com o
modelo de relações raciais da época. E o nosso padrão religioso não ajudava muito, que era
maciçamente explorado pelos senhores de engenho. O autor chama a atenção sobre uma questão
em que a lei se omitiria sobre essas descriminações sofridas pelos negros, alegando que o
modelo de escravismo estava tão bem estruturado que a lei teria se tornado perfeitamente
dispensável para o seu bom funcionamento.

No Brasil republicano, colônia e o império não se tem um único período histórico no qual a
lei, em especial a lei penal, permaneceu inerte aos modelos de relação raciais. Nossa
constituição Política do Império do Brasil de 25 de Março de 1824, com a edição do código
criminal do Império do Brasil, de 1830. Nos estivemos sob as leis das chamadas Ordenações do
Reino.

Com as Ordenações Afonsinas de (1446-1521), e as Manoelinas de (1521-1603) e as


Filipinas de (1603-1830), que influenciaram a colônia com o Direito Canônico e especialmente
o Direito Romano, que marcaram todo período colonial. Segundo Ruy Rebelo Pinho (1973,
P.19) as ordenações Afonsinas foram lei no Brasil logo após “a descoberta” de Cabral que já
tinham quase sessenta anos de vida quando chegaram aqui. Outro tópico importante são as
Ordenações Manoelinas que dirigiram nosso direito cerca de noventa anos, e durante Duzentos
anos foi a vida do Código Filipino.

No Brasil usava-se o código Filipino retirado do famoso livro ( V ) das Ordenações


Filipinas, que através dele as seguintes regras implícitas ou explícitas ao controle e subjulgação
dos africanos escravisados.

a) Criminalizava a Heresia, com punição com pesos corporais.


b) Criminalizava a negação ou a blasfêmia de Deus ou dos Santos.
c) Criminalizava a feitiçaria, punindo o feiticeiro com pena capital.
d) Punia a invasão de domicílio com finalidade de manter conjunção carnal com mulheres
virgens, viúvas honestas ou escrava branca. OBS: Caso se trata-se de mulher negra e ou
escrava visada, o crime não se configuraria.
e) Criminalizava reuniões, festas ou bailes organizados por escravos.

Houveram algumas mudanças que foram introduzidas neste cenário pela constituição
política do Império. Entre elas de 25 de Março de 1824, e pelo Código Criminal, editado seis
anos depois. A constituição determinava a organização de um Código Civil e um Código
Criminal no Art 179 XVIII. Levou-se quase Cem anos para que fosse promulgado o Código
Civil (1916), sendo que 25 anos depois da promulgação da Constituição entrava em vigor o
Código Comercial (1850). Um ponto interessante para destacar é o fato que juridicamente o
escravo como somente, uma coisa.

Segundo o autor Agostinho Marques Perdigão (1994) “ Pode-se identificar um possível


alicerce daquele proceder denominado Jeitinho brasileiro”. Para Agostinho o africano
escravizado não era considerado pessoa, titular de direito. No entanto, o direito penal, alegava
que o escravo era considerado responsável, humano, isto caso fosse como Réu; e se tivesse
uma parte do corpo mutilada a lesão era qualificada juridicamente como mero dano. Ou ainda
caso fosse um escravo arrebatado por alguém configurado estaria o crime de furto, ou de
roubo.

Então podemos dizer que o escravo sendo réu era pessoa, sendo vítima, coisa. Os senhores
de Engenho, contavam com leis municipais que asseguravam com um aparato de força
necessária para subjugar e explorar o negro escravizado. Mais do que escravizar e explorar o
africano era necessário impor-lhe uma religião, devassar a sua identidade cultural,
convencendo-o do poder de vida e de morte de que dispunham seus algozes.

Bibliografia : Metas Sobre Sistema Jurídico e Intolerância Religioso no Brasil.

Silva Jr, Hélio. Pg : 303 / Cap. 8

EUSÉBIO, Vita Constantini, 37-40.

LATTANZIO, De mortibus persecutorum, 16-17.

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