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“a teoria feminista tem presumido que existe uma identidade definida, compreendida pela
categoria mulheres, que não só deflagra os interesses e objetivos feministas no interior de seu
próprio discurso, mas constitui o sujeito mesmo em nome de quem a representação política é
almejada.” (p. 17-18)
Segundo Butler, a representação ocupa dois lugares, a saber: 1) “serve como termo
operacional no seio de um processo político que busca estender visibilidade e legitimidade às
mulheres como sujeitos políticos” e 2) “é a função normativa de uma linguagem que revelaria
ou distorceria o que é tido como verdadeiro sobre a categoria mulheres”. (p. 18)
Citando Foucault (A História da sexualidade, volume 1), Butler afirma que: “os sistemas
jurídicos de poder produzem os sujeitos que subsequentemente passam a representar.” (p.
18)
Os sujeitos estariam não apenas condicionados às noções jurídicas de poder, mas também
seriam por elas regulados e “formados, definidos e reproduzidos de acordo com as exigências
delas.” (p. 18)
Sendo o poder jurídico não apenas representacional, mas produtivo do sujeito, “a política
tem de se preocupar com essa função dual do poder: jurídica e produtiva.” (p. 19)
Com as críticas interseccionais, tem-se que o termo “mulheres” não denota uma identidade
comum: “o gênero nem sempre se constituiu de maneira coerente ou consistente nos
diferentes contextos históricos, e porque o gênero estabelece intersecções com modalidades
raciais, classistas, sexuais e regionais de identidades discursivamente constituídas. Resulta
que se tornou impossível separar a noção de ‘gênero’ das interseções políticas e culturais em
que invariavelmente ela é produzida e mantida.” (p. 20)
Butler questiona “Seria a construção da categoria das mulheres como sujeito coerente e
estável uma regulação e reificação inconsciente das relações de gênero?”, propondo “uma
política feminista que tome a construção variável da identidade como um pré-requisito
metodológico e normativo, senão como um objetivo político”. (p. 23)