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Sei bem que este foco estratégico tem, essencialmente, duas razões. Primeiro, o
enorme atraso ao nível de publicações científicas internacionais (face aos congéneres
europeus e norte-americanos) patente em grande parte dos docentes do ensino
superior em Portugal – lembro-me bem de, enquanto aluno da licenciatura em
Economia na Universidade do Porto, praticamente nenhum professor ter artigos
publicados nas revistas internacionais hoje consideras relevantes. Segundo, a procura
de financiamento e prestígio, que são hoje obtidos através do número de publicações
nas já citadas revistas.
Se é certo que havia que corrigir o desfasamento já aludido, o que agora acontece,
penso ser inadequado. Quando se abrem concursos (de professor auxiliar a
catedrático) em que a componente científica tem ponderações de 60%, 70% ou até
80%, e os critérios de exclusão por falta de mérito absoluto são o número de
publicações e nunca as capacidades docentes, está a dar-se um sinal claro: as
instituições querem investigadores, não docentes.
Quem já tiver tido experiência no ensino superior sabe bem que essa tal maturidade
não é verdadeira. Para além disso, quem tiver sido aluno numa instituição de ensino
superior em Portugal sabe outra coisa: abundam os maus professores. Não será
porque não se teve em conta as suas competências pedagógicas aquando da
contratação, nem se forneceram as formações adequadas ao desenvolvimento das
mesmas?
Se é verdade que há aqueles que são bons nas duas coisas (excepções), a forma
como o sistema de incentivos está desenhado faz com que ninguém queira dar aulas:
no fim do dia, serão as publicações que determinam quem sobe, manda, avalia os
colegas e aufere mais. Assim, o acto de ensinar torna-se um estorvo, uma perda de
tempo e energia, pois todo o tempo gasto com os alunos nas aulas é tempo a menos
para investigar e progredir na carreira.
Mais uma vez, recorrendo às minhas memórias, os grandes professores que tive na
FEP não eram (e não são hoje) os mais produtivos investigadores em economia. O
acto de ensinar é nobre, não é fácil, merece reconhecimento central e formação
contínua.
Defendo, por tudo isto, que sejam criadas carreiras claramente diferenciadas:
investigadores, que se ocupariam da produção científica, integrados nos centros de
investigação e a quem competiria dar apenas poucas aulas, em formações avançadas
(principalmente de terceiro ciclo) e fazer orientações de mestrados e doutoramentos;
os docentes dariam mais aulas (principalmente primeiro e segundo ciclos), fariam
acompanhamentos tutoriais aos alunos, receberiam formação contínua ao nível da
pedagogia e teriam que inovar nos métodos de ensino e nos programa leccionados.
Ambas as carreiras teriam a mesma dignidade, o mesmo vencimento, a mesma
rapidez de progressão e o mesmo poder institucional.